C.7.1 – Fisiologia O papel da modulação autonômica nos ajustes de temperatura em teiús (Salvator merianae) 1 Simone S. Scalione , Cléo A. C. Leite 2 1. Pós Graduando do Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP-Diadema/SP* [email protected] 2. Professor Doutor do Departamento de Ciências Fisiológicas, Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR- São Carlos/SP Palavras Chave: Bloqueio farmacológico, tônus autonômico, termorregulação. Introdução A regulação cardiovascular durante a termorregulação está sob controle do sistema nervoso autônomo (SNA) e de substância vasoativas que são liberadas da vasculatura periférica em resposta à temperatura. As mudanças no débito cardíaco são complementadas por alterações na resistência vasos sanguíneos por uma redistribuição do fluxo sanguíneo entre o núcleo e a periferia do corpo durante o aquecimento e resfriamento. Este fenômeno faz com que uma mesma temperatura corpórea esteja relacionada a frequências cardíacas distintas se o animal estiver aquecendo ou resfriando. Esse padrão é denominado histerese cardíaca. A histerese cardíaca, no entanto, pode ter influência de vários componentes: (i) respostas autonômicas cardiorregulatórias preparatórias para o aquecimento e resfriamento; (ii) ajustes autonômicos relacionados a regulação barostática em resposta a mudanças na resistência periférica sistêmica; (iii) o efeito direto da temperatura corpórea na frequência cardíaca. O objetivo desse trabalho foi avaliar se o teiú (Salvator merianae) apresenta um padrão de histerese cardíaca e verificar qual a influência dos tônus colinérgico e adrenérgico nas dinâmicas de aquecimento e resfriamento. Resultados e Discussão Foram utilizados para este estudo 4 teiús (Salvator merianae) provenientes do criatório científico, UNESP Rio Claro, SP. Para aferir o papel dos tônus colinérgico e adrenérgico nas dinâmicas de aquecimento e resfriamento, foi realizado bloqueio farmacológico colinérgico e adrenérgico através de injeções intraperitoneais de atropina e propranolol (3mg/kg). Os teiús foram mantidos em compartimento (1,50m x 60cm) onde ficaram livres para se posicionarem sob a fonte de calor (lâmpada) ou abrigo. A temperatura corporal (Tb) e frequência cardíaca (fH) foram registradas por um dispositivo de telemetria (ADInstruments) implantados na região abdominal na linha ventrolateral a frente do membro posterior, sendo que dois eletrodos foram posicionados e fixados na parede corpórea para registro eletrocardiográfico (ECG). A fH foi obtida pelo intervalo R-R do ECG utilizando um sistema de gravação digital (PowerLab, ADInstruments). Os valores da fH durante a variação da Tb foram avaliados em animais controle e com bloqueio colinérgico e adrenérgico. Os valores da fH nos diferentes valores da temperatura corporal, cujo intervalo foi de 25 a 36°C, durante aquecimento e resfriamento foram avaliados entre animais controle e animais submetidos ao bloqueio colinérgico e adrenérgico. A análise de regressão linear foi utilizada para obter a relação entre a Tb (variável independente) e fH (variável dependente) e a relação da Tb e tônus autonômico (p <0,05) durante o aquecimento e resfriamento. Para determinar a ocorrência de histerese cardíaca e avaliação do papel do controle autonômico em sua regulação foi utilizado o teste ANOVA de três vias para a determinação da ocorrência de histerese cardíaca em cada tratamento (controle, pós atropina, pós bloqueio duplo). As diferenças entre as fH de cada Tb do intervalo medido nos eventos de aquecimento e resfriamento foram comparados via teste post hoc de Tukey (p < 0,05). Todas as análises foram realizadas através do software SigmaPlot versão 13.0. A fH durante o aquecimento foi maior do que a do resfriamento em todos os tratamentos, caracterizando a histerese cardíaca, o que corrobora os trabalhos anteriores (ver Franklin & Seebacher, 2003; Seebacher & Franklin, 2001). No entanto, a magnitude da histerese cardíaca foi minimizada após o bloqueio autonômico duplo. Foi encontrada uma baixa relação entre os tônus autonômicos adrenérgico e colinérgico e a Tb, tanto no aquecimento quanto no resfriamento. No entanto, a resposta da fH ao aquecimento foi retardada após o bloqueio autonômico duplo (média de 12 minutos a mais). Da mesma forma, após o bloqueio duplo, o tempo para atingir a temperatura inicial foi mais longo, em média 22 minutos a mais. Há indicação de que a regulação da temperatura é efetuada primariamente pelo efeito do tônus adrenérgico no coração. Assim, o controle autonômico exerce alguma influência, apesar de não ser o principal mecanismo de controle da termorregulação em teiús. . Conclusões O lagarto teiú apresenta histerese cardíaca, o que evidencia sua capacidade de regular a velocidade das trocas térmicas a partir de ajustes cardiovasculares. Apesar do controle autonômico não ser o principal responsável pela histerese cardíaca, ele desempenha um papel durante a termorregulação, principalmente através da regulação adrenérgica no coração. Agradecimentos Prof. Dr. Augusto Shinya Abe (Instituto de Biociências da UNESP /Campus Rio Claro) Financiamento: CAPES _______________________________________________ Bibliografia Seebacher, F. & Franklin, C. E. (2001). Control of heart rate during thermoregulation in the heliothermic lizard Pogona barbata: importance of cholinergic and adrenergic mechanisms. The Journal of Experimental Biology. 204: 4361–4366. Franklin, C. E. & Seebacher, F. (2003). The effect of heat transfer mode on heart rate responses and hysteresis during heating and cooling in the estuarine crocodile Crocodylus porosus. The Journal of Experimental Biology. 206: 1143-1151. CEUA: 9452121113 67ª Reunião Anual da SBPC