X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES LEIGOS
DA REDE ESTADUAL DE MATO GROSSO: PROJETO HOMEM x
NATUREZA
Izolda Strentzke
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
[email protected]
Gladys Denise Wielewski
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
[email protected]
Resumo: Este artigo decorre de resultados parciais de uma pesquisa que está em
andamento com o objetivo de investigar a História da Educação Matemática em
Projetos de Formação de Professores Leigos em Exercício, realizado pela Secretaria
Estadual de Educação no estado de Mato Grosso nas décadas de 1980 e 1990. Como
delimitação para esse artigo, apresentamos resultados parciais de um dos projetos
denominado HOMEM x NATUREZA. A metodologia é qualitativa interpretativa, e se
respalda na análise documental: relatórios de etapas, projetos; análise exploratória de
levantamentos bibliográficos e; análise de teses, dissertações e artigos, embora haja
pouca produção referente aos projetos em estudo. O projeto HOMEM x NATUREZA
foi concebido preferencialmente para professores da zona rural de Mato Grosso. A
proposta de trabalho desse projeto tinha em sua concepção a expectativa de evidenciar a
realidade do Homem com a Natureza, usando como estratégia o planejamento
interdisciplinar. A pesquisa apontou que o Projeto HOMEM x NATUREZA se
fundamentou na teoria sócio histórica. Nessa perspectiva, a Educação Matemática foi
trabalhada de forma interdisciplinar, numa dimensão temática como prática educativa.
Palavras-chave: Educação Matemática; Formação de professores; História.
Introdução
Este artigo se refere à apresentação de resultados parciais de uma pesquisa sobre
a História da Educação Matemática que tem como foco os Projetos de Formação de
Professores Leigos em Exercício para o Magistério, que foram desenvolvidos pela
Secretaria Estadual de Educação no estado de Mato Grosso nas décadas de 1980 e 1990.
O tema que norteia este estudo é: como está evidenciada a proposta pedagógica,
relacionada à Educação Matemática no projeto em questão?
Ainda que a todo o momento sejam apresentados projetos de Formação de
Professores, um após o outro, o olhar do passado é esquecido. Entretanto, Le Goff
(2000a) coloca que o fundamental não é conhecer o passado, mas ter idéia dele para se
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
1
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
comparar aspectos do passado para se compreender o presente. Daí a importância de
registrar e interpretar a história dos projetos de Formação de Professores do Estado de
Mato Grosso como forma de, a partir do passado, compreender o presente e idealizar o
futuro.
Optamos por uma pesquisa do tipo histórica, estilo de pesquisa que vem
crescendo significativamente no Brasil. A metodologia é qualitativa interpretativa, se
respaldando na análise documental: relatórios de etapas (realização do curso nas etapas
intensivas e intermediárias), projetos; análise exploratória de levantamentos
bibliográficos e; análise de teses, dissertações e artigos, as quais são em número
reduzido no que se refere aos projetos em estudo, e nenhuma que enfatize a Educação
Matemática, evidenciando assim, uma lacuna a ser preenchida. Estabelecemos como
marco temporal, o período de 1987 a 1990, que é a duração do projeto HOMEM x
NATUREZA. Em relação aos documentos fontes elegemos por analisá-los em relação à
proposta pedagógica evidenciada de Educação Matemática.
Na investigação histórica, os materiais de memória se apresentam de duas
formas principais, segundo Le Goff (2000b. v. II, p. 103) “os monumentos, herança do
passado, e os documentos, escolha do historiador”. Nessa perspectiva, inicialmente
deve-se decidir o que se considerará como documento e o que se rejeitará. Le Goff
(2000a. v. I, p. 100) esclarece que um registro “só passa a ser documento na seqüência
de uma investigação de uma escolha” e essa escolha depende de vários aspectos como:
qualidade do documento, compilações e outros.
Nos documentos escolhidos busca-se analisá-los e compreendê-los por meio da
observação minuciosa dos textos e imagens com o objetivo de registrar as marcas
deixadas após o fato ocorrido para obter elementos que permitam compreender o que
ocorria no Brasil em se tratando de Educação Matemática na formação de professores.
No período de 1980 a 1995, grande parte dos profissionais que atuavam na
educação básica no ensino de matemática, principalmente no interior do estado de Mato
Grosso, não possuía formação para o magistério, apenas uma pequena parcela destes
profissionais possuía nível superior. Diante desse contexto, era necessário mudar a
realidade. Então, os responsáveis pela educação em Mato Grosso se mobilizaram para
melhorar o ensino no Estado. Assim, no período de 1980 a 2000, vários projetos de
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
2
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
formação de professores foram desenvolvidos pela Secretaria de Educação de Estado
em Mato Grosso. Neste artigo daremos destaque ao período de 1987 a 1990.
Diagnóstico da educação no estado de mato grosso
Em 1987, conforme o Plano Estadual de Educação – PEE (SEC, 1988) de Mato
Grosso, o Estado apresentava um contingente populacional de 1.962.547 habitantes,
com um crescimento populacional na ordem de 12% ao ano nos últimos cinco anos.
Porém a densidade demográfica estava em torno de 2,2 hab./km², apesar de a população
ter aumentado significativamente. No ano de 1988, Mato Grosso contava com 469
unidades escolares na rede estadual e 4.113 salas de aula, atendendo PEE (SEC,
1988/1990).
Nesse período o número de repetentes na 1ª série do 1º grau chegava a
aproximadamente 50% dos alunos, sendo essa proporção ainda maior no meio rural.
Essa ocorrência tem como referencial o fator migratório, o alto número de reprovação,
repetência e evasão escolar de acordo com o PEE (SEC, 1988/1990, p. 24).
O PEE (988/1990) estabelece como um dos projetos, a implantação de novas
fontes de recursos financeiros para a educação, no qual cita como metas: “diagnosticar
as reais necessidades educacionais do Estado; catalogar novas fontes de recursos; e
montar projetos de captação de recursos adicionais para a educação.” (SEC/PEE1988/1990, p. 92)
No que se refere ao programa de valorização de recursos humanos para a
educação o destaque é a
[...] busca de transformação à formação de educadores com
competência e compromisso, para que estes sejam formadores no
desenvolvimento e execução de um projeto histórico coletivo. Seu
papel é, então, o de mediador entre a cultura popular e o conhecimento
sistematizado, tendo como ponto de partida a experiência trazida à
escola pela criança, o adolescente e o adulto.
(SEC/PEE-1988/1990, p. 93)
E segue:
[...] a preocupação da Secretaria de Educação e Cultura tem-se
constituído em propiciar meios de superação da prática pedagógica
tradicionalista, através de investimentos na formação do bom
professor e na dinamização de uma política de resgate da
credibilidade da escola pública, estabelecendo metas que busquem a
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
3
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
capacitação e qualificação dos recursos humanos para a educação,
objetivando a melhoria da qualidade de ensino.
(SEC/PEE-1988/1990, p. 93)
Vale ressaltar também que nesse período ocorriam mudanças no cenário
nacional da educação, particularmente na Matemática no que se refere às tendências
metodológicas fundamentadas nas relações entre o indivíduo e o mundo, o individual e
total. Segundo D‟Ambrosio (1993), desde a década de 1970, educadores matemáticos
levantam questões essenciais no ensino da Matemática, destacando as preocupações que
se relacionam ao como se ensinar a Matemática na sala de aula.
Projeto HOMEM x NATUREZA
A formação de professores leigos para o Magistério em serviço, o projeto
HOMEM x NATUREZA foi concebido preferencialmente para professores da zona
rural, onde se concentrava o maior número de professores leigos em sala de aula.
A proposta pedagógica desse projeto foi construída por uma equipe da SEC-MT
tendo a assessoria de docentes da UNICAMP-SP, que vinham com certa freqüência para
Mato Grosso com o objetivo de discutir metodologias de trabalho interdisciplinar e de
consolidar esse projeto. Essas assessorias eram registradas na forma de relatórios dos
encontros, e o projeto teve financiamento do Polonoroeste1.
A estrutura do projeto era organizada em nove encontros, sendo cada encontro
em um município diferente. A título de exemplo, mencionamos o 5º Encontro de
Educadores do projeto HOMEM x NATUREZA, que foi realizado em Araputanga-MT,
no período de 19 de maio a 2 de junho de 1989. Nesse Encontro, 14 municípios matogrossenses enviaram seus representantes, totalizando 51 professores em nível de
Magistério. O que representa um número pequeno perto da demanda que o Estado
necessitava no ano de 1989. Esse encontro teve como pauta: Noções de Alfabetização
Matemática (construção do conhecimento matemático e proposta de aprendizagem
matemática); Conhecendo o Laboratório Vivencial de Araputanga (Mineradora Manati,
1
Polonoroeste – Programa financiado pelo Banco Mundial, os recursos eram repassados para o Estado e
administrados por um gerente local e pelas secretarias e/ou órgãos aos quais os recursos estão vinculados.
No caso da educação, o destaque da educação se deu na década de 1980. A verba era destinada para a
construção e equipamento de escolas, treinamento de professores, financiamento de materiais didáticos.
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
4
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
Coopnoroeste e Frigoara – temas geradores) e; A Sistematização do Conhecimento finalização do encontro com a apresentação dos trabalhos desenvolvidos.
Para compreender o termo tema gerador nos apoiamos em Corazza (1992) que
explica que esse termo pode ser compreendido como o assunto central no processo de
ensino e aprendizagem, compreendendo estudos, pesquisas, análises, reflexões,
discussões e conclusões. Nesse processo, a escolha dos assuntos, problemas ou temas
geradores são realizadas por professores e alunos, porém de interesse do grupo.
E segundo Freire “o tema gerador é investigar (...), o pensar dos homens referido
à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis,” (1987, p. 98).
O importante nesse processo é que os sujeitos reflitam conjuntamente sobre o
seu mundo e sobre a sua realidade. Pois Freire (1987, p. 66) enfatiza que “o sujeito
pensante não pode pensar sozinho; não pode pensar sem a co-participação de outros
sujeitos no ato de pensar sobre o objeto. Não há um „penso‟, mas um 'pensamos‟ que
estabelece o „penso‟ e não o contrário”.
Princípios da proposta pedagógica
A proposta de trabalho do Projeto HOMEM x NATUREZA, se apresenta
vinculada a construção do conhecimento e não a de mera memorização e transmissão do
conhecimento. A perspectiva de construir o conhecimento é levando em consideração a
realidade do aluno, como consta no Relatório do 6º Encontro realizado em 1990, no
município de Jauru, pela Secretaria de Educação e Cultura – (SEC) do Estado de Mato
Grosso.
Nessa proposta pedagógica o professor tem que levar em consideração,
inicialmente a observação e a criatividade dos professores/alunos e não somente a
transmissão de conteúdos. E com base no diagnóstico da realidade do aluno trabalhar o
conhecimento científico, pois somente a partir da observação é possível problematizar e
assim, iniciar o planejamento de atividades para serem realizadas em grupo.
O projeto tinha em sua concepção a expectativa de mostrar a realidade do
Homem com a Natureza, usando como recurso o Laboratório Vivencial2, por meio da
2
Laboratório Vivencial é uma estratégia pedagógica, que apresenta uma dinâmica interdisciplinar.
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
5
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
pesquisa de campo/tema gerador/tema norteador, que eram estratégias recomendadas
pela assessoria do Projeto HOMEM x NATUREZA no relatório do 4º encontro de 1989
que se realizou no município de Barra do Bugres-MT.
Para registrar as atividades consta no Relatório do 4º Encontro (SEC, Projeto
HOMEM x NATUREZA, 1989), a recomendação do Caderno de Campo, na
perspectiva de registrar as noções fundamentais de Matemática, apresentando a
construção do conhecimento matemático e a proposta de aprendizagem matemática.
Conforme consta no Relatório do 5° Encontro da SEC do Projeto HOMEM x
NATUREZA (1989), é enfatizado que o papel do professor
[...] é de resgatar aquilo que a criança já domina em situações
concretas de sua vida e a partir daí proporcionar meios para que ela
prossiga nesse processo de construção de conhecimento, adquirindo
novas noções e conceitos, sistematizando esse conhecimento e
também adquirindo uma linguagem que permita registrar as
operações realizadas.
(SEC, Projeto HOMEM x NATUREZA. Relatório do 5º Encontro,
1989, p. 6)
A região Polonoroeste de Mato Grosso abrange os municípios de: Araputanga,
Cuiabá, Reserva do Cabaçal, Salto do Céu, Tangará da Serra, Nova Olímpia, Denise,
Barra do Bugres, Rio Branco, Mirassol D‟Oeste, Cáceres, São José dos Quatro Marcos,
Porto Esperidião, Figueirópolis, Pontes e Lacerda e Jauru. Conforme consta no relatório
do 5º Encontro (SEC, Projeto HOMEM x NATUREZA, 1989) foram capacitados
professores para viabilizar a implantação de uma proposta de educação que tivesse
como referencial a realidade, a experiência e o saber do aluno como elementos dos
processos de construção do conhecimento.
Nesse sentido,
[...] os educadores tem que ter claro que não é sua função transformar
os alunos em exímios matemáticos. Devem sim, possibilitar ao aluno
enxergar a matemática como uma das formas para, em primeiro
lugar, ajudá-lo nas situações práticas de vida e, em segundo
proporcionar uma melhor compreensão do que ocorre ao seu redor, e
assim chegar até a fazer previsão para mudanças nessa realidade.
(SEC- Projeto HOMEM x NATUREZA. Relatório do 5º Encontro,
1989, p. 15).
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
6
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
Assim, a partir da realidade do aluno, os temas geradores auxiliam na
aprendizagem e análise crítica de sua própria realidade e da comunidade. Nessa
perspectiva, a construção do conhecimento tem como coração da proposta pedagógica o
Laboratório Vivencial e a Etnociência, e como referencial o espaço e tempo, observar os
obstáculos e problematizá-los na perspectiva interdisciplinar. Essa é a concepção de
conhecimento presente nos relatórios do Projeto HOMEM x NATUREZA (1989/1990).
T
E
M
P
O
- Laboratório vivencial
-Etnociência
O
B
S
T
Á
C
U
L
O
S
E
S
P
A
Ç
O
INTERDISCIPLINARIDADE
Figura 1. Construção do Conhecimento
Fonte: SEC- Projeto HOMEM x NATUREZA. Relatório do 4º Encontro, 1989, p. 7.
O fato dos relatórios do projeto enfocarem temas norteadores nos remete a
possibilidade de além de conhecer, alterar o mundo que nos cerca, e que vivemos na
perspectiva de que seja possível mudar esse ambiente. Segundo Freire (1992, p.330) é
possível “através da problematização do homem-mundo ou do homem em suas relações
com o mundo e com os homens, possibilitar que estes aprofundem sua tomada de
consciência da realidade na qual e com a qual estão”.
Conforme consta no Relatório do 4º Encontro do Projeto HOMEM x
NATUREZA (1989, p. 8) “o laboratório vivencial somos nós e tudo que está ocorrendo
a nossa volta num determinado tempo e espaço.
Dessa forma, podemos destacar que a metodologia utilizada no projeto HOMEM
x NATUREZA, já foi desenvolvida pioneiramente no estado a partir de 1987 com o
Projeto Inajá, no meio rural. Neste aspecto Camargo enfatiza que a prática
[...] teve como estratégia principal o LABORATÓRIO VIVENCIAL –
ou seja, a vizinhança do observador que percebe essa realidade a partir
de seus referenciais e onde estão acontecendo fenômenos naturais e
sociais. Estes devem ser observados e experimentados a partir dos
conceitos de referencial, escala, representação e percepção.
(CAMARGO, 1992, p 84)
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
7
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
No que se refere à importância de se atingir a realidade escolar no contexto rural
e indígena, usando como estratégias a observação e a experimentação, o Relatório Final
do Projeto Inajá (1990, p.21) enfatiza que houve um rompimento com o ensino
convencional ao se investir “na prática do ensino integrado, sem programas e conteúdos
pré-fixados. Parece-nos necessário situar a ciência nesse contexto global, para que ela
possa ser acessível e utilizada em vários níveis e em várias situações pelos cursistas...”
(apud CAMARGO, 1992, p.83 e 84).
O que nos remete a destacar que:
No laboratório vivencial, existe uma infinidade de dados, mas dentre
eles haverá um que provocará maior interesse que os outros que é
denominado Tema Instantâneo de Motivação – TIM, que será agente
de temas geradores de discussão e conseqüente construção do
conhecimento no contexto local do Laboratório Vivencial.
(SEC, Projeto HOMEM x NATUREZA. Relatório do 4º Encontro,
1989, p. 9)
O TIM somente provocará interesse se estiver vinculado a realidade do
pesquisador. Porém, para que o TIM venha realmente contribuir na construção do
conhecimento devem ser consideradas as experiências dos professores/alunos, pois
essas vivências são moldadas no decorrer das transformações históricas, sociais e
econômicas. A prática do Laboratório Vivencial não pode ignorar este contexto.
E essa estratégia nos remete a uma educação problematizadora que segundo
Paulo Freire (1987, p.71) é “de caráter autenticamente reflexivo, implica um ato
permanente de exposição da realidade [...] procura a imersão das consciências da qual
resulta a sua inserção crítica na realidade”.
Nesse aspecto, a proposta do Laboratório Vivencial contempla a aprendizagem
não apenas como acúmulo do conhecimento, mas sim como processo interdisciplinar.
Conforme Fazenda (1999), isso caracteriza uma atitude interdisciplinar ousada em
busca da pesquisa para conseguir transformar a insegurança num exercício do pensar.
A interdisciplinaridade segundo Fazenda (1998) é um ponto de vista capaz de
exercer uma reflexão aprofundada e crítica [...] permitindo a consolidação da
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
8
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
autocrítica, o desenvolvimento da pesquisa e da inovação. Objetivando possibilitar a
crítica e a compreensão dos confrontos da vida cotidiana.
Essas tendências pedagógicas estão, conforme relatórios, enfatizadas no Projeto
HOMEM x NATUREZA (1989/1990), programa de formação de professores, em
serviço, para o Magistério, preferencialmente para professores de escolas rurais.
Os relatórios dos encontros do projeto HOMEM x NATUREZA enfatizam a
expectativa de deixar o estilo de educação bancária para traz e buscar um novo olhar da
educação, uma educação que se apresente problematizadora, colaborativa, crítica e
dialógica, na perspectiva de assegurar uma educação emancipatória conforme
classificação de Paulo Freire, que assegure uma mudança social na vida do educando e
da sociedade.
Considerações
A pesquisa apontou que a proposta pedagógica do Projeto HOMEM x
NATUREZA se fundamentou na teoria sócio histórica, que considera o objetivo da
educação atrelado às necessidades da sociedade. Nessa perspectiva, a Educação
Matemática foi trabalhada de forma interdisciplinar, numa dimensão temática como
prática educativa.
Ainda constatou-se que a expectativa dos idealizadores do Projeto HOMEM x
NATUREZA foi de que por meio da estratégia do Laboratório Vivencial e a
Etnociência os professores/alunos desenvolveriam uma educação emancipatória voltada
para a relação reflexão e ação, ou seja, para prática-teoria-prática.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil/1988. Capitulo III. Da
Educação, da Cultura e do Desporto. Seção I. Da Educação. Art. 206, inciso V.
Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/cf88_01.htm>. Acessado em: 17
out. 2009
CAMARGO, D. P. MUNDOS ENTRECRUZADOS. Projeto Inajá: uma experiência
com professores leigos no Médio Araguaia-MT (1987 – 1990). 1992. 301f. Tese de
Doutorado (Doutorado em educação)-Faculdade de Educação, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas.
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
9
X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
CORAZZA, S. M. Tema gerador: concepções e práticas. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1992.
D'AMBROSIO, U. Etnomatemática: um programa. A Educação Matemática em
Revista, Blumenau: Sociedade Brasileira de Educação Matemática, 1993, ano 1, n.1.
FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa. 3ªed..
Campinas, Papirus, 1998.
FAZENDA, I. C. A.. Interdisciplinaridade: Um projeto em parceria. São Paulo, Loyola,
1999.
FREIRE, P.. Extensão ou comunicação. 10ª ed.. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, P.. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed.. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
LE GOFF, J.. História e Memória. I História. Tradução Ruy Oliveira. Edições 70.
Portugal: Lisboa, 2000a.
LE GOFF, J. História e Memória. II Memória. Tradução Ruy Oliveira. Edições 70.
Portugal: Lisboa, 2000b.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA (SEC). Plano Estadual de
Educação(PEE). Mato Grosso, 1988.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA (SEC). Projeto HOMEM x
NATUREZA. Relatório do 4º Encontro. Mato Grosso, Barra do Bugres, 1989.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA (SEC). Projeto HOMEM x
NATUREZA. Relatório do 5º Encontro. Mato Grosso, Araputanga, 1989.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA (SEC). Projeto HOMEM x
NATUREZA. Relatório do 6° Encontro. Mato Grosso, Jauru, 1990.
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática
Relato de Experiência
10
Download

projeto homem