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A MISSÃO OESTE DO BRASIL NO CONTEXTO EDUCACIONAL DE LAGAMAR, MG (1957-1966)
Viviane Ribeiro
Carlos Henrique de Carvalho
Centro Universitário de Patos de Minas
RESUMO
(PERIODIZAÇÃO) Trata-se de um estudo que busca compreender a presença da comunidade presbiteriana no
município de Lagamar, no período compreendido entre 1957 a 1966. (JUSTIFICATIVA) Tal presença
constituiu-se num elemento diferenciador a para História da Educação Brasileira, em particular, na região do
Alto Paranaíba; sendo que a fundação da Igreja Presbiteriana antecede a institucionalização da Igreja Católica
nesta cidade. A implantação da comunidade presbiteriana em Lagamar deu-se através da Missão Oeste do Brasil
(West Brasilian Mission), desenvolvida por missionários presbiterianos oriundos dos Estados Unidos, que,
iniciaram os trabalhos religiosos no interior de São Paulo e, posteriormente, partiram para a região entre a divisa
de Minas Gerais e o estado de Goiás. (OBJETIVO) Nesse sentido, objetivamos apreender o significado dos
ideais ético/religiosos do protestantismo, de que a educação e o trabalho, são a fonte de salvação dos homens.
Assim, os protestantes passam a vincular a cada igreja uma sala de aula, com a finalidade de tornar o indivíduo
apto para ler e interpretar as Escrituras, e também, para disseminar os valores espirituais e morais da religião
reformada. A pregação missionária tinha objetivos claros quanto ao significado da oração (ação salvífica da
palavra) e do trabalho ( construção do reino de Deus na terra), de modo a promover a reconstrução de um novo
homem, em uma nova sociedade. (METODOLOGIA) Metodologicamente, nossa pesquisa se fundamentou nos
seguintes procedimentos: levantamento bibliográfico, quanto aos fundamentos históricos do protestantismo;
levantamento histórico oral, sobre a implantação da comunidade presbiteriana e da Escola Evangélica em
Lagamar. (FONTES) Utilizamos também como fontes as Atas da Igreja Presbiteriana de Lagamar; alguns
relatórios e documentos sobre a Missão Oeste do Brasil, deixados pelos missionários norte-americanos, como
ainda os livros escritos pelos próprios protestantes. (RESULTADOS) A comunidade presbiteriana, no município
de Lagamar, ao fazer uso dos ideais ético/religiosos, passa a influenciar a estruturação do sistema escolar local, a
partir da criação da Escola Evangélica Chagas Reis; a qual inicia suas atividades em 1957, e seu término ocorre
em 1966, devido à expansão do ensino público na cidade; ou seja, a Escola Evangélica esteve em funcionamento
durante o período em que a escola pública não oferecia vagas a todas as crianças e adolescentes em idade
escolar. Por outro lado, os protestantes, através da Escola Evangélica, desenvolviam o processo de alfabetização
das crianças na comunidade, e difundiam os seus valores religiosos, seja na sua educação de princípios
evangélicos, seja na influência que exerciam na organização política e econômica do município.
(CONCLUSÃO) Diante das análises realizadas, identificamos alguns elementos que confirmam a nossa hipótese
inicial de pesquisa: o presbiterianismo difundiu os seus ideais no município de Lagamar, conseguindo promover
uma unidade espiritual, que esteve ligada a uma concepção de trabalho e educação para a salvação, como já
havia sido prescrito pelo calvinismo. Uma das características da implantação do protestianismo neste município,
é a participação efetiva dos moradores no processo de propagação da nova religião. Vale citar o nome do
pregador e fazendeiro José Américo Ferreira, que sem nenhum apoio religioso, pedagógico e financeiro das
missões, promoveu as primeiras conversões e construiu as primeiras escolas e a primeira Igreja Presbiteriana em
função da “palavra” de Deus. Enfim, podemos afirmar que a Escola Evangélica Chagas Reis teve um grande
significado pedagógico/ideológico/religioso, ao proporcionar à comunidade Lagamarense educação e
escolarização, em um período em que a educação, em âmbito nacional, se expandia; mas que ainda não era
suficiente para atender toda a população em idade escolar, inclusive na pequena ‘ Vila dos Carrapatos”.
Introdução
TRABALHO COMPLETO
A interpretação da História da Escolaridade Brasileira é hoje um dos grandes desafios
nas pesquisas sobre educação. Este trabalho fundamenta-se na necessidade de analisar mais
profundamente as especificidades locais e regionais1, contribuindo para o estudo da educação
nacional e a compreensão dos atuais sistemas de ensino:
entendemos que não se pode trabalhar com segurança a História da Educação
Nacional sem o domínio do processo nas diversas regiões, o que permite aquilatar
1-Cf. INÁCIO FILHO, Geraldo; MOURA, Geovana F. Melo. História da Educação local e regional: um olhar
atento às especificidades. Cadernos de Educação Escolar. Universidade Federal de Uberlândia. Ano 1, nº1,
janeiro/junho de 2000. p.25-32.
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a extensão das propostas teóricas e promover as necessárias correções, quando
for o caso. Da mesma forma, não se pode promover o estudo isolado da realidade
local, desvinculado da interpretação de caráter geral, mais abrangente. Não nos
propomos, portanto, a fazer História da Educação regional: o enfoque sobre a
região do Triangulo Mineiro é apenas o ângulo que utilizamos para análise e
compreensão da História da Educação Brasileira. (GONÇALVES NETO,
2002:133)
Nesse cenário, a constituição da comunidade presbiteriana no município de Lagamar,
destacou-se pela sua participação direta na estruturação do sistema escolar local, de modo a
projetar-se como situação atípica na região do Alto Paranaíba e, mesmo em relação a Minas
Gerais, considerando a marcante presença do catolicismo e sua influência na escolaridade do
interior do estado.
A criação e implantação da Igreja Presbiteriana em Lagamar constitui-se fator de
diferenciação sócio-político-cultural, na região do Alto Paranaíba, sendo que a sua fundação
antecedeu a institucionalização da Igreja Católica no município. Além de realizar o trabalho
religioso2, os presbiterianos fundaram em Lagamar, uma escola de alfabetização, baseada em
seus princípios ético/religiosos. Nesse sentido, a pesquisa justificou-se a partir do pressuposto
de que a escolaridade em Lagamar apresentou situações diferenciadas, com relação à
estruturação do ensino confessional e/ou público, na região do Alto Paranaíba, sendo que as
escolas organizadas pelas missões protestantes se basearam nos princípios calvinistas de
trabalho e oração como forma de salvação do homem:
os planos de Calvino quanto à educação foram inspirados por sua convicção
de que a verdadeira religião e a educação estão inseparavelmente associadas. A
preservação e segurança da Fé Reformada viram ele, requeriam um povo educado
tanto quanto um ministério educado. (NICHOLS, 1981:165)
Portanto, o trabalho objetivou analisar o desenvolvimento e estruturação da
escolaridade no município de Lagamar, com base na atuação e presença da comunidade
presbiteriana, especialmente a partir da criação da Escola Evangélica Chagas Reis, que esteve
diretamente ligada ao trabalho de evangelização e educação da Missão Oeste do Brasil.
Metodologicamente, a realização da pesquisa fundamentou-se no levantamento
bibliográfico de obras referentes aos estudos teóricos sobre o protestantismo, as Missões
Protestantes no Brasil e a escolaridade nos preceitos protestantes/calvinistas, e documentos
históricos referentes ao trabalho evangélico e educativo realizado pela Missão Oeste do Brasil
na região. Foi utilizado também, o levantamento histórico oral sobre a implantação da
comunidade presbiteriana e a criação da Escola Evangelista Chagas Reis em Lagamar.
A Reforma Protestante:princípios teológicos e educação
Ao promover o movimento de reforma político-religiosa conhecido por Reforma
Protestante (século XVI), Martinho Lutero provoca uma ruptura da unidade do cristianismo,
até então considerado religião universal da humanidade.Baseado nos pressupostos religiosos
dos textos bíblicos e na filosofia religiosa de Santo Agostinho (em que o homem é
2-O evangelista João Soares Branquinho descreveu em seu livro “Dias Abençoados”, a preocupação dos
missionários protestantes e da Igreja Presbiteriana do Brasil, em levar a palavra de Deus “para os pecadores,
com a finalidade de levá-los a Jesus e salvá-los dos seus caminhos errados”. (BRANQUINHO, 1992:5). Sendo
a conversão dos infiéis a finalidade última dos missionários protestantes, conseqüentemente, tornou-se
necessário a assistência religiosa dos novos fiéis, inclusive a sua alfabetização , para a leitura das sagradas
escrituras.
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naturalmente mal, a verdade vem de Deus, e a salvação se dá através da disciplina e da
formação moral do homem sob a orientação da Igreja), Lutero chegou à conclusão de que a
“salvação se dá pela fé” e não pelas obras e sacramentos prescritos pela Igreja Romana, ou
pela compra de indulgências para o perdão dos pecados. Nesse sentido, Lutero ao publicar as
“95 Teses sobre os abusos e as pretensões da Igreja”, negou o seu poder de ser mediadora
entre o homem e Deus e, negou ainda o fato de que somente o papa pudesse interpretar as
escrituras, afirmando que elas poderiam ser interpretadas por qualquer crente sincero.
Ao colocar o homem em contato direto com Deus, através da leitura das Sagradas
Escrituras, pretende-se quebrar não somente a forma inflexível da Igreja Católica, como
também,
a “Reforma” põe como seu fundamento um contato mais estreito e pessoal entre
o crente e as escrituras e, por conseguinte, valoriza uma religiosamente interior e
o princípio de “livre exame” do texto sagrado, resulta essencialmente para todo
cristão a posse dos instrumentos elementares da cultura (em particular a
capacidade e de leitura) e, de maneira mais geral, para as comunidades religiosas,
a necessidade de difundir essa posse em nível popular...(CAMBI, 1999:248)
Diante da necessidade de “trazer cada homem a uma responsabilidade pessoal e uma
união vital com Cristo” (NICHOLS, 1981:154), torna-se indispensável, ao fiel, a leitura e
interpretação das Sagradas Escrituras para sua união com Cristo. Entretanto, o número de
instituições educacionais, que atendessem os pressupostos educacionais e religiosos
preconizados por Lutero, não eram suficientes. Então, Lutero passa a vincular a cada Igreja
uma sala de aula: “eram organizadas escolas onde existisse uma igreja, pois um dos grandes
interesses de Lutero era a educação dos filhos do seu povo”. (NICHOLS, 1981:156)
Daí, a supervalorização em relação à alfabetização: através da educação os homens
não só estariam aptos para ler e interpretar as escrituras, para assimilar suas responsabilidades
sociais; mas, sobretudo, para alcançar a salvação de Deus. E do mesmo modo que Lutero,
Calvino afirmava que a salvação do homem está na “palavra Divina” contida na escrituras.
Mas, para Calvino, tal salvação dependia não apenas do trabalho religioso e educativo
desenvolvido nas Igrejas Reformadas, mas inclusive do aperfeiçoamento do homem pelo seu
trabalho e vocação. Ao contrário de Lutero, Calvino afirma o princípio de salvação do
homem, mediante a um rigoroso controle do comportamento humano, através da educação e
do trabalho.3
Sendo o fiel “Chamado” ao trabalho, e a sua ascese religiosa baseada na vida
cotidiana, ocorreu com o calvinismo um processo de santificação da vida cotidiana, através da
racionalização do trabalho, possibilitando a organização de novas formas de produção
eminentemente capitalistas; com a finalidade última, de acumular riquezas para a “glória de
Deus”4.
3- Cf. LEITE, Sérgio Celani; RIBEIRO, Viviane. Predestinação e escolaridade: a comunidade presbiteriana
e a educação no município de Lagamar-MG. 2002 – 97 fl. Relatório final de pesquisa apresentado ao NIPE PIBIC do Centro Universitário de Patos de Minas, Patos de Minas.
4- Se o mundo existe apenas para a glorificação de Deus, o cristão eleito está no mundo apenas para aumentar
sua glória e para seguir seus mandamentos. Por isso, toda a atividade social e laboriosa do indivíduo é
organizada unicamente para “aumentar a glória de Deus, o trabalho, não era apenas desejado por Deus, mas
também por Ele possibilitado” (WEBER, 1994: 80). Sendo o fiel “chamado”ao trabalho, e a ascese religiosa
baseada na vida cotidiana; ocorreu, como calvinismo, um processo de santificação da vida cotidiana, que tomou
o “caráter de uma empresa comercial”(WEBER, 1994: 87); pois, Calvino, ao condenar o ócio, o descanso, a
perda de tempo e o gozo da riqueza; afirmando que o “trabalho constitui antes de mais nada, a própria
finalidade da vida”(WEBER, 1994: 113), possibilitou que se organizasse novas formas de produção baseadas na
racionalização, divisão e especialização do trabalho e, na técnica; com a finalidade última de acumular riquezas
para a “glória de Deus”.
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Portanto, a Reforma está intimamente ligada a história da racionalidade do trabalho,
principalmente através da ação dos puritanos na conquista do “Novo Mundo”, cujo lema era:
trabalho e oração. Tal prática racionalizada de organização da vida social e individual do
homem, veio a se transformar no elemento diferenciador do protestantismo, sobretudo, nos
Estados Unidos.
Então, após a guerra de Secessão (1865) os sulistas inconformados com a destruição
do país, interessaram-se pela imigração para o Brasil; e assim, as primeiras missões
protestantes iniciaram seus trabalhos em comunidades onde a Igreja Católica exercia pouca ou
nenhuma influencia, como por exemplo, as comunidades rurais.
Surge daí, o caráter educacional do trabalho missionário: para difundir a nova religião
entre a população pobre e analfabeta, os protestantes organizaram suas próprias escolas:
a escola estabelecida junto a uma Igreja Evangélica tinha objetivos definidos.
Além de ensinar as primeiras letras, também ministrava o ensino religioso da
Bíblia e do Bbreve Catecismo. Também era observada a prática do culto diário
com orações e cânticos religiosos. A escola destinava-se a suprir a ineficiência do
sistema pedagógico brasileiro e garantir instrução àquelas crianças que fossem
constrangidas por práticas católicas romanistas. (HACK; 1985:64-65)
Temos aqui, as duas características principais do trabalho missionário protestante no
Brasil: a sua preferência pelas comunidades rurais e a construção de escolas de alfabetização
destinada a crianças e adolescentes das classes populares.
A Missão Oeste do Brasil
No Brasil, as correntes missionárias protestantes tiveram inicio em 1859, com a
chegada do norte-americano Ashbel Green Simonton, que se instalou no Rio de Janeiro. A
partir de 1861, teve inicio a ação missionária dos sulistas norte-americanos, que arrasados
pela Guerra Civil e tomados pelos ideais da Nova Igreja Presbiteriana do Sul, vieram para o
campo de Campinas, devido ao grande número de “Crentes em Cristo”. Tem início aqui, a
Missão de Nashville, com os missionários George Nash Morton e Eduardo Lane. Além de dar
uma atenção especial aos convertidos, Morton e Lane iniciaram o trabalho de evangelização
dos nacionais. Nesse sentido, tinha a missão, o duplo propósito de evangelizar e educar5.
Com objetivos evangélicos e educacionais foram criados diversos jornais; dentre eles,
“O Evangelista” (1913), fundado por John Boyle em Bagagem (Estrela do Sul); e, fundadas
diversas escolas6 que educassem os “filhos da Igreja” e formassem os futuros líderes
religiosos.
Boyle chegou ao Brasil em 1873, de Recife transferiu-se para Campinas, onde iniciou
as pregações no interior de São Paulo, indo depois para Araguari e Bagagem, onde fixou
residência. Dali, Boyle iniciou uma série de viagens com o objetivo de pregar o evangelho,
indo até Paracatu e o sul do Estado de Goiás. Com ele iniciou-se o trabalho missionário no
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
5 - Cf. FERREIRA, Wilson de Castro. Pequena História da Missão Oeste do Brasil. Patrocínio: CEIBEL,
1996.
6- Dentre elas, citamos o Colégio Internacional, que foi fundado em Campinas, em 1870 por Eduardo Lane e
George Nash Morton (cf. FERREIRA, 1996). Ainda em 1970, o pastor Pierre Chamberlaine e sua esposa
fundaram em São Paulo a Escola Americana, mais tarde denominada Instituto Mackenzie. Em 1893, deu-se a
criação de uma escola elementar e de formação para trabalhadores rurais, no interior de Minas Gerais, pelo
Revdo. Samuel Gamom. Posteriormente, esta escola veio a se transformar na ESAL – Escola Superior de
Agronomia de Lavras. (LEITE; RIBEIRO: 2002:fl.33)
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Entretanto, com o aumento progressivo do campo de trabalho e o grande número de
fiéis convertidos, tornaram-se insuficientes os recursos financeiros e humanos para o trabalho
educativo e evangélico. Surgem aí, divergências entre os missionários; enquanto uns
priorizaram o trabalho educativo, os outros insistiam ser essencial a evangelização dos
nacionais, embora admitissem a necessidade de criação de escolas, inclusive as que
formassem o elemento leigo para o trabalho religioso. Diante de tais divergências, a Missão
de Nashville, se dividiu em duas em 1906, dando origem: a Missão Oeste do Brasil – West
Brazil Mission – cujo objetivo era a expansão do campo de evangelização, e compreendida o
grupo de missionários sediados em Campinas, Triângulo Mineiro e Sul do Estado de Goiás; e
a East Brasil Mission, cujos missionários sediados em Lavras, enfatizavam a criação de
escolas, como um poderoso meio de formação religiosa. (Cf. FERREIRA, 1996:44).
Definido o campo de trabalho da Missão Oeste do Brasil e os horizontes que queriam
alcançar, iniciou-se um minucioso trabalho de evangelização; tanto no sentido de assistência
aos convertidos, como na expansão do campo de atuação dos missionários, com a finalidade
de “levar a religião” a outros indivíduos. Assim, “era preciso tão logo quanto possível
recrutar e preparar o elemento nacional promissor que fosse surgindo para essa obra”.
(FERREIRA; 1996:30).
Ainda que a Missão Oeste do Brasil resistisse a fundação de escolas, tornou-se
imprescindível a formação de evangelistas leigos, destinados ao trabalho de evangelização, e
de professoras rurais, que contribuiriam em grande medida para o fortalecimento da fé
evangélica através da alfabetização dos novos convertidos. Então, em 1933, Eduardo Lane
fundou em Patrocínio-MG o “Instituto Bíblico” que mais tarde passou a denominar-se
Instituto Bíblico Eduardo Lane – IBEL. No IBEL, ao criar-se o curso de professora rural,
aliou-se a obra educacional ao trabalho de evangelização.
Enfim, com o crescimento do trabalho de evangelização, tem-se a criação de escolas
ao lado das Igrejas Presbiterianas com a finalidade de alfabetizar os filhos dos fieis (e dos
incrédulos). E é esse o “modelo” de evangelização e de escolaridade que vamos encontrar no
município de Lagamar – MG, em meados do século XX.
Educação e fé em Lagamar
Os primeiros documentos referentes às terras, onde hoje se situa o município de
Lagamar datam de 1931, época em que o local pertencia a Patos de Minas. Antes denominada
Fazenda Carrapato, Lagamar recebeu tal denominação, pelo fato de ter havido nas
proximidades do município uma lagoa de água salobre.
O desenvolvimento da Vila de Lagamar se deu a partir de 1938, quando ali se instalou
o Sr. Porfiro Rodrigues Rosa, que objetivava abrir uma estrada que ligasse o povoado de São
Pedro da Ponte Firme à Vazante, passando pela Fazenda Carrapato. Porfírio, com a
construção das estradas, gerou empregos, atraindo diversas famílias para o local.
Em dezembro de 1938, o povoado foi elevado à categoria de distrito (Lei 148 de
17/12/1938) com o nome de Lagamar; passando assim, a pertencer ao município de
Presidente Olegário. Sua emancipação ocorreu em 30 de dezembro de 1962, pela Lei 2764.
Para a instalação do município, foi nomeado intendente o Sr. José Américo Ferreira, até que
se realizassem as eleições para eleger oficialmente um prefeito. O Sr. José Américo Ferreira
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era um fazendeiro influente na região e foi o fundador da comunidade presbiteriana em
Lagamar7.
Como vimos anteriormente, o trabalho religioso no Triângulo Mineiro e no Alto
Paranaíba, tem início com John Boyle. No entanto, sua atuação neste campo, incluindo
Lagamar, foi efêmera; devido à sua morte. O Revdo. Wilson Castro Ferreira (1996) identifica
duas fases na história da penetração do protestantismo no interior do Brasil, sendo a primeira
marcada pela chegada de John Boyle à região em 1884. Esta primeira fase não chegou ao ano
de 1900, sendo interrompida pela morte de um grande número de missionários pela febre
amarela, inclusive a de John Boyle. Houve, então, um intervalo de mais ou menos 20 anos,
em que o trabalho religioso no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ficou por conta da
população recentemente convertida. A segunda fase do trabalho missionário tem início em
1923 com a chegada de novos missionários norte-americanos na cidade de Patrocínio, que
retomaram o trabalho religioso na região.
Contudo, durante a fase de interregno, os crentes no município de Lagamar se uniram
para ler a Bíblia e orar. Mas a consolidação da comunidade presbiteriana no município de
Lagamar só ocorre após a conversão do fazendeiro José Américo Ferreira. Sobre a sua
conversão, temos divergentes relatos – alguns fantásticos; que giram em torno do fato de que,
após cometer um crime, o Sr. José Américo recebeu o Novo Testamento e se arrependeu de
seus pecados, recebendo a salvação de “Nosso Senhor Jesus Cristo”. (Cf. RIBEIRO, 2002:3233)
Após a conversão do Sr. José Américo Ferreira a “Religião Protestante” Torna-se mais
difundida e conhecida no município de Lagamar, inclusive no meio rural. Neste mesmo
período de expansão do evangelho, surgem as perseguições religiosas comandadas pelo
prefeito de Presidente Olegário, o Dr. Adelardo Baeta Neves e o Padre João Bento, que
impediram a construção da Igreja Presbiteriana nos terrenos da Vila de Lagamar. Segundo nos
relata os senhores Brás Américo, e Geraldo Américo – irmãos do Sr. José Américo -, ele teria
comprado um terreno um pouco acima do loteamento da vila, e ali construiu a primeira Igreja
Presbiteriana de Lagamar (1930).
Gostaríamos de informar que nessa época o trabalho religioso no município de
Lagamar, não contava com recursos financeiros da missão oeste do Brasil. E, além de
construir a igreja na vila, o Sr. José Américo também construiu igrejas no meio rural; nas
localidades de Vendinha, São Brás e Conceição (município de Coromandel). E cuidou ainda,
da pregação do evangelho, da construção e manutenção de escolas rurais, da contratação e
pagamento de evangelistas e professoras rurais.
O Sr. João José da Silva, filho do Sr. José Américo, fala das intenções do pai ao criar
escolas no meio rural:
...não exista professora e o pessoal tinha aquela vontade assim de aprender,
então... ele desejava que a escola, que o povo aprendesse, então fazia força de
trazer um conhecimento para o povo no interior (...) só pra aprender a ler... ler e
escrever (...), é... desenvolvesse intelectualmente... adquirisse conhecimento.
(Entrevista concedida pelo Sr. João José da Silva em setembro de 2001 – cf.
RIBEIRO; 2002: fl. 37)
Acreditamos, que o Sr. José Américo Ferreira passa a fundar tais escolas rurais para
possibilitar a disseminação da religião protestante na comunidade, principalmente no que diz
respeito à leitura da Bíblia. Mas, por outro lado, desconhecemos até que ponto ele conhecia as
7- Cf. RIBEIRO, Viviane. Do ideário protestantes à finalidade do trabalho: os presbiterianos nos contexto
educacional de Lagamar-MG (1957-1966). 2002. 56f. Monografia apresentada para conclusão do curso
Pedagogia do Centro Universitário de Patos de Minas, Patos de Minas.
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idéias calvinistas de educação e trabalho. O próprio Revdo. Wilson de Castro Ferreira admite
que a situação de Lagamar era um pouco “diferente”, pois o Sr. José Américo era um homem
de muita influência e, mesmo sem o apoio financeiro (e religioso) da Missão iniciou a
pregação do evangelho, a conversão de amigos, moradores da região e da própria família; e,
do cuidado com a alfabetização destes. (cf. RIBEIRO; 2002: fl.37)
Contudo, com a ampliação da comunidade presbiteriana e o crescente interesse das
missões pela região, iniciou-se um processo de formalização do trabalho religioso em
Lagamar: a Igreja tornou-se congregação em 19488. Devido ao grande número de fieis,
iniciou-se em 1954/1995 a construção de um novo templo situado no centro da vila de
Lagamar. E desta mesma feita, construiu-se nos fundos da igreja as salas de aula da Escola
Evangélica. Destaca-se, neste momento, a centralização do trabalho religioso e educacional na
própria igreja; com a vinda definitiva do evangelista João Branquinho e, da supervisão
pedagógica da escola, realizada pela missionária norte-americana. Martha Little.
Quanto à criação da Escola Evangélica, no Distrito de Lagamar, não se sabe ao certo
em que ano começou a funcionar; ao analisar as atas e documentos existentes na Igreja
Presbiteriana de Lagamar, só encontramos referências sobre a Escola Evangélica a partir de
Julho de 19579. Sobre a criação de escolas vinculadas ao trabalho religioso protestante,
defende o Revdo Wilson Castro Ferreira:
...eu tive muito contato com a missão e sempre estimulei a missão a fundar
escolas... porque o campo da missão abrangia sempre a zona rural, onde não
havia escolas. Eu ficava impaciente com as crianças... inteligentes... vivas e sem
escolas e a missão então resolveu... criou em Patrocínio, no Instituto Bíblico, um
curso de professores rurais. Muito bom curso. (...) e então eles começaram a
colocar professoras em vários lugares. (Entrevista concedida pelo Revdo. Wilson
Castro Ferreira em maio de 2001 – Cf.RIBEIRO;2002: fl.39)
Partindo dessa formação vocacional e religiosa, as professoras além de lecionar,
participavam do trabalho religioso desenvolvido na igreja e imprimiam os princípios
evangélicos ao trabalho educativo:
... era um princípio da missão manter professoras evangélicas. Mesmo porque o
princípio era evangelizar as crianças, dar assistência espiritual às crianças...
Embora a escola tivesse professoras que ensinasse muito bem, como de fato todos
os alunos foram bem sucedidos... Todos eles que saíram para outras escolas
tiveram... e... uma boa antecedência de escola. Foram aprovados em todas...
tiveram interesse... todos foram aprovados. (Entrevista concedida pelo Sr. Valdir
Gonçalves de Lima em junho de 2001- Cf. RIBEIRO, 2002: fl.40)
Reforçando o preceito de “dar assistência espiritual” às crianças dentro da própria
escola, apresentamos o depoimento da professora Exdras Gonçalves Portes:“... então essas
escolas eram mesmo pra ajudar, era um auxílio... aqueles lugares pobres, aquelas regiões
pobres, e até pra evangelizar... as pessoas dentro da própria escola pra ajudar a Igreja”
(Entrevista concedida pela professora Exdras Gonçalves Portes em Agosto de 2001. Cf.
RIBEIRO; 2002:fl.40)
8- Cf. Estatuto da Congregação Presbiteriana de Lagamar-MG,1948.
9- Cf. Atas da Assembléia Geral e da Mesa Administrativa da Congregação Presbiterial de Lagmar-Pilar, Ata
nº20: p.23.1948/1957. Não encontramos em Lagamar, nem no IBEL em Patrocínio, nenhum livro de ata ou
qualquer outra documentação – como diários e cadernos de planejamento – específicos da Escola Evangélica em
Lagamar. Segundo o Revdo. Wilson Castro Ferreira, toda a documentação referente ao trabalho missionário
norte-americano no Brasil, se encontra em Montreat nos Estados Unidos.
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Confirma-se através da fala da professora Exdras, a máxima protestante de unir o
trabalho educacional a ação religiosa, por intermédio da alfabetização (ao possibilitar a leitura
das Sagradas Escrituras) e da divulgação dos preceitos religiosos do protestantismo (ao
disseminar os seus idéias espirituais e morais).
A Missão Oeste do Brasil, além de formar agentes especiais de educação, mantinha a
Escola Evangélica, pagando os professores, fornecendo-lhes moradia e alimentação, enviando
material didático, cuidando da manutenção do prédio e, sobretudo supervisionando
pedagogicamente o trabalho docente:
“... a missão dava uma assistência financeira a todas as igrejas. Depois é que iam
desligando. A missão ia se desligando da igreja... e a igreja se mantinha por conta
própria. “(Entrevista concedida pelo Sr. Valdir Gonçalves de Lima em junho de
2001 - cf. RIBEIRO,2002:fl.41)
Sendo a Escola Evangélica inicialmente mantida pela Missão Oeste do Brasil, os pais
não pagavam mensalidades. No entanto, no ano de 1962, a Igreja e a Escola Evangélica foram
organizadas pelo Revdo. Graciano Chagas Reis, que assumia o trabalho religioso em
Lagamar. Observamos, que a partir deste momento, a igreja passa a se manter sozinha. E por
falta de recursos, neste mesmo ano de 1962, a Escola Evangélica passa a cobrar uma pequena
mensalidade dos alunos, pelo menos daqueles que pudessem contribuir10. Em 1965/66 o
funcionamento da escola passou a depender unicamente do pagamento de mensalidades por
parte dos alunos; chegou-se mesmo a pedir a cooperação de todos os fieis, com filhos em
idade escolar, que matriculassem os mesmo na escola evangélica.
Vale ressaltar que o Revdo. Graciano Chagas Reis, organizador da Igreja Presbiteriana
e da Escola Evangélica, faleceu neste mesmo ano em Lagamar. Para homenageá-lo, a
comunidade presbiteriana local mudou o nome da Escola Evangélica da Missão Oeste para
Escola Evangélica Chagas Reis. Na escola, haviam turmas de 1ª à 4ª série, e mais tarde passou
a funcionar o 5º ano, uma espécie de curso admissional para o antigo curso ginasial.
Para unificar o trabalho educativo/religioso que era desenvolvido na escola, além da
formação dos docentes pelo curso de formação de professores rurais do IBEL, a supervisora
Martha Little desenvolveu um rigoroso trabalho de controle destas escolas. Nesse sentido, as
orientações para o desenvolvimento do trabalho pedagógico nas escolas evangélicas vinham
de Patrocínio através da referida supervisora. Segundo a professora Exdras Gonçalves Portes,
o planejamento era o mesmo para todas as escolas; as professoras confeccionavam o material
didático-pedagógico sob a orientação de Dona Martha Little, que ficava até uma semana
inteira na escola, dando assistência pedagógica às professoras e, observando se a prática
coincidia com as suas orientações. O trabalho de supervisão das escolas evangélicas visava
garante a unidade e o caráter evangélico do trabalho educativo. Para o Revdo. Wilson Castro
Ferreira, a linha filosófica destas escolas: “tinha naturalmente um fundamento evangélico...
um embasamento de caráter evangélico... inclusive uma linha devocional”.(Entrevista
concedida pelo Revdo. Wilson Castro Ferreira em maio de 2001 - cf. RIBEIRO. 2002: fl.43).
Assim, o Revdo. Wilson acredita que a prática pedagógica dos professores se baseou na
técnica e no pragmatismo, sendo esta a linha pedagógica americana. De acordo com o Sr.
Valdir Gonçalves de Lima, a missão não seguiu nenhum método ou linha especial de
ensino; o programa curricular era o mesmo do estado, apenas o princípio era evangélico.
Entretanto, esta influência metodológica americana, não ocorreu exclusivamente nos colégios
evangélicos, mas no sistema de ensino público em geral, através da linha de pensamento
Escolanovista, difundida no Brasil pelos pioneiros da Educação Nova.
10- Cf. Atas do Conselho da Igreja Presbiteriana de Lagamar, 1954. Livro II: Ata nº 24.p.3v; e Livro Auxiliar,
1996. Ata nº10.p.7.
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Se por um lado a proposta da “Escola Nova” se fez presente através de inovações
metodológicas, adotadas para a alfabetização de crianças e o processo de ensino em geral. Por
outro lado, observamos que esta proposta de “Pedagogia Ativa”, continuou mantendo os
alunos submissos e silenciados: o ato de ensinar continua sendo o expositivo; e o ato de
aprender, o passivo.
A escola evangélica Chagas Reis atendia crianças de todos os credos, desde que se
respeitasse o seu princípio evangélico. No início da aula era realizado um pequeno culto, com
a presença de todos os alunos. O culto consistia na leitura de um pequeno texto da Bíblia, o
comentário era realizado pelo pastor (ou pelas professoras) e havia o canto de hinos.
Após o culto, os alunos se diriam para as salas de aula:
todo mundo assentava em silêncio e começava a dar aula... mas a hora que
começava a dar aula, quem quisesse participar tinha oportunidade, desde que
levantasse a mão e ninguém falasse... falasse um de cada vez e ninguém
atropelasse o colega (...), eu fui uma professora rígida. (...) Eu me coloco como
uma professora muito rígida, não de maldade... de judiação, de palmatória... de
varada, isso não. Mas... quando eu falava, tudo que eu falava era uma ordem.
(Entrevista concedida pela professora Martha dos Reis Caixeta em novembro de
2001 - cf. RIBEIRO, 2002: fl.46)
Observamos, que havia uma relação entre a religiosidade e a disciplina em sala de
aula. Como preconizava Calvino, através do controle do comportamento pessoal: pela
educação, oração e trabalho, o homem obteria a salvação.
Ainda que a escola evangélica se deparasse com vários problemas, em relação aos
recursos materiais e humanos; ela contribuiu, por quase uma década, com a alfabetização e a
orientação religiosa das crianças e adolescentes da cidade de Lagamar. Durante todo o seu
período de funcionamento, a escola não contou com a ajuda financeira por parte do estado ou
dos municípios de Presidente Olegário e Lagamar. Também, não conseguiu obter o devido
reconhecimento pelo trabalho social e educacional que realizou na comunidade lagamarense.
O funcionamento da Escola Evangélica Chagas Reis ocorreu no período de 1957 a
1966; sobre o seu fechamento, temos o desinteresse da missão pelas escolas de alfabetização,
diante da progressiva oferta do ensino público. Houve, então, a tentativa do Sr. Valdir
Gonçalves de Lima de transformar a Escola Evangélica em escola pública. Entretanto, a
missão não consentiu, resolvendo que a escola só seria reaberta caso houvesse falta de vagas
nos grupos escolares da cidade e, um número de alunos suficientes para tal (Ata do Conselho
da Igreja Presbiteriana de Lagamar-MG,1967:ata nº 35, p.1)
A escola evangélica Chagas Reis, como qualquer outra escola da mesma natureza teve
como ideário, o pressuposto moral/religioso, estando à base de seu trabalho educativo, voltado
para a salvação dos fieis e a organização da sociedade nos moldes protestantes. Confirma-se,
então, a máxima calvinista que objetivou, a partir da escolarização, promover a evangelização
dos povos e, ao mesmo tempo, difundir seus valores morais e espirituais.
Considerações Finais
O princípio luterano-calvinista de se “construir uma escola ao lado de cada igreja”
objetivou, através da educação, promover a salvação do homem e disseminar os ideais
protestantes em toda a sociedade, a fim de transformá-la.O trabalho missionário no Brasil,
desenvolvido pelos protestantes norte-americanos, que inspirados pela máxima calvinista de
trabalho e oração, pretendia a construção de uma nova sociedade, perante a formação de um
novo homem.
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Os primeiros missionários se instalaram no Rio de Janeiro, na cidade de São Paulo e
no interior do estado paulista. Os trabalhos religiosos se iniciaram em Campinas, expandindo
posteriormente para o Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e sul de Goiás, com o trabalho do
pioneiro John Boyle. Assim, criou-se em 1.933 o “Instituto Bíblico Eduardo Lane” (IBEL),
em Patrocínio, constituindo-se em um núcleo administrador do campo missionário, formador
de elementos leigos para o trabalho evangélico e educativo, através dos cursos para formação
de evangelistas e professores rurais.
Embora a Missão Oeste do Brasil se caracterizasse pelo seu caráter exclusivamente
evangelizador, acabou priorizando a construção de escolas para alfabetizar os filhos dos fiéis.
No caso específico de Lagamar, o trabalho religioso que num primeiro momento foi iniciado
pela visita esporádica de alguns missionários foi, posteriormente, retomado e intensificado
pelo Sr José Américo, que após a sua conversão, viu na religião protestante a possibilidade de
modificar e “modernizar” a comunidade local.
Portanto, o Sr José Américo Ferreira foi o responsável pelo desenvolvimento da
comunidade presbiteriana em Lagamar, durante o período em que as Missões estiveram
ausentes deste campo. E por conta própria, em favor da “nova” religião, passou a criar escolas
no meio rural, alfabetizando crianças e adolescentes, inclusive os filhos de pais “incrédulos”,
indo de encontro aos ideais luterano-calvinistas de se “construir uma escola ao lado de cada
igreja”, permitindo que os fiéis interpretassem, por si mesmos, as sagradas escrituras.
Com o aumento de fiéis, a Missão Oeste do Brasil, retoma a direção dos trabalhos
religiosos em Lagamar, enviando o evangelista João Soares Branquinho, que passa a
reorientar o trabalho religioso no município. Assim, a Escola Evangélica Chagas Reis, iniciou
suas atividades em meados de 1957, se diferenciando das escolas rurais, por ser reconhecida,
mantida e supervisionada pela Missão Oeste do Brasil.
As professoras, formadas pelo curso de Professores Rurais no IBEL, em Patrocínio, ao
mesmo tempo em que seguiam os princípios curriculares e pedagógicos da escola oficial,
conferiam ao ensino, da escola em questão, os princípios evangélicos, seja através do miniculto realizado no início das aulas ou através do rígido controle disciplinar.
Ainda que existissem indícios de uma prática pedagógica inspirada na Escola Nova,
observa-se que a tendência pedagógica predominante na Escola Evangélica Chagas Reis foi a
Tradicional, baseada na exposição oral do professor e na memorização e repetição por parte
do aluno.
Enfim, podemos afirmar que a Escola Evangélica Chagas Reis, teve um grande
significado pedagógico e ideológico/religioso, ao proporcionar à comunidade lagamarense,
educação e escolarização, em um período em que a educação, em âmbito nacional, se
expandia, mas que ainda não era o suficiente para atender a toda a população em idade
escolar, na pequena “Vila dos Carrapatos”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FONTES PRIMÁRIAS
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Lagamar – Pilar ,1948/1959.
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Atas do Conselho da Igreja Presbiteriana de Lagamar – MG.Volume II , 1967.
Estatuto da Congregação Presbiteriana de Lagamar – MG, 1948.
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A Missão Oeste no Brasil no contexto educacional de Lagamar