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Um dia que entrou para a história da igreja | Conferência Geral 2015 - Igreja Adventista do Sétimo Dia
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(HTTP://WWW.REVISTAADVENTISTA.COM.BR/CONFERENCIA-GERAL-2015/CATEGORIA/NOTICIAS/) — JULY 9, 2015
Um dia que entrou para a história da igreja
Por uma diferença de 404 votos (1.381 a 977, ou 58,4% a 41,3%), Igreja Adventista decide não ordenar mulheres ao
ministério pastoral
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A expectativa em relação às decisões da assembleia mundial da Igreja Adventista nesta quarta, 8 de julho, estava no
ar. Que a agenda era um dos pontos altos da assembleia, ninguém duvidava. Afinal, o tema da ordenação de mulheres
ao ministério prometia ser um divisor entre o passado e o futuro da igreja.
Alguns diferenciais puderam ser notados desde o início: a liderança reservou um dia inteiro para tratar do assunto;
foram escalados alguns dos líderes mais experientes para coordenar as atividades; o auditório estava bem mais cheio
do que de costume; e a promessa era contabilizar o “sim” e o “não”, pelo voto secreto, no fim da tarde.
O pastor Mark Finley, respeitado evangelista, liderou os momentos iniciais de oração. Destacou que somos
apaixonados a respeito de muitas coisas, mas devemos manter o espírito de amor e a união em Cristo.
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A música instrumental “Quão Grande És Tu”, apresentada pela banda Ensamble de Metales, da Universidade de
Montemorelos, no México, deu um tom solene ao evento, sugerindo que o Deus transcendente está acima dos debates
humanos.
No devocional que tradicionalmente marca o início das atividades de cada dia da assembleia, Alain Coralie, da Divisão
Centro-Leste Africana, apresentou uma vibrante mensagem intitulada “Through Trials to Triumph”, certamente uma
das melhores do evento.
Com base em Josué 4, ele retratou o povo de Israel jornadeando pelo deserto durante 40 anos, rumo à terra prometida.
A travessia do Jordão exigia um milagre divino, mas também a preparação do povo, que deveria dar um passo de fé.
Então, destacando a importância de se manter o olhar na história, ele fez uma ponte para o adventismo e acrescentou:
“Se não soubermos por que chegamos aqui, não saberemos como chegar lá.” Segundo Alain, Deus tem sido bom para
nós como denominação e como indivíduos. Se não fosse assim, não estaríamos aqui.
“A igreja não deve esquecer sua história, mas não pode ficar presa ao passado”, acrescentou. Por definição, os
adventistas olham para o futuro. Enquanto não devemos esquecer os sofrimentos e as conquistas dos pioneiros, nós
mesmos fomos chamados para ser pioneiros, ele completou.
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Na sequência, depois de mais oração, Michael Ryan, vicepresidente da denominação que está se aposentando, assumiu o
comando dos trabalhos. Se alguns têm um estilo suave de
presidir, como Ella Simmons, que atuou no dia anterior, Ryan é
conhecido por sua firmeza. Considerando a pauta difícil, ficou
claro que ele não foi escolhido por acaso.
Ryan começou observando que em um grupo grande como o da igreja há muitas ideias diferentes, e todos deveriam
ser respeitosos em seus comentários. E que o mesmo espírito revelado em um encontro da igreja mundial em 2014
deveria ser manifestado. Para ele, o objetivo era ter o maior número possível de pessoas expressando sua opinião nos
microfones.
Documentos
Antes de prosseguir, Ryan chamou o pastor Ted Wilson, presidente reeleito da igreja, para apresentar um histórico
dos estudos sobre a ordenação de mulheres. Wilson relatou que, desde a década de 1970, a igreja vem debatendo o
assunto.
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O presidente expressou seu desejo de ver um debate aberto e honesto. E pediu para que ninguém tentasse encerrar a
discussão com uma moção (proposta), um dos recursos utilizados pelo plenário em outros momentos. Cada um
deveria votar de acordo com a sua consciência, orientada pelo estudo do assunto e guiada pelo Espírito Santo.
Novamente, foi ressaltado que, apesar das fortes convicções, o espírito de cortesia devia prevalecer.
Reconhecendo a gravidade da decisão diante do grupo, Ryan pediu para que se formassem grupos de dois ou três a fim
de dedicar alguns momentos à oração, clamando pela orientação divina e um bom espírito. Foram vários momentos
de oração. Em geral, os participantes desse tipo de debate são pessoas bem preparadas, com opiniões fortes, e pode
ser grande a tentação de transformar o fórum do diálogo em um cenário de guerra.
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Arthur Stele, presidente da última comissão teológica de estudo da ordenação
(TOSC, na sigla em inglês), teve a oportunidade de explicar o processo de
investigação do tema. “Qualquer coisa que façamos, vamos fazer com o
objetivo de cumprir a missão”, sugeriu.
Ele relembrou que os documentos foram disponibilizados online (para acessálos, clique aqui (http://www.adventistarchives.org/ordination))
para que cada um pudesse estudá-los e tomar uma decisão consciente. A
palavra final agora estava com os representantes da igreja, mas cabia à família
adventista manter o espírito de unidade: “Numa família, não há vencedores e
perdedores. Ou todos ganham ou todos perdem.”
Para tornar o debate mais didático, Karen Porter, secretária da comissão teológica, leu as três posições e a declaração
de consenso (leia aqui (http://www.revistaadventista.com.br/conferencia-geral-2015/divisoes-nao-
poderao-autorizar-a-ordenacao-de-mulheres-ao-ministerio/)).
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A questão que deveria ser respondida foi: “É aceitável que a comissão executiva de cada divisão, caso considere
apropriado em seu território, implemente os dispositivos necessários para a ordenação das mulheres ao ministério?
Sim ou não?”
Debate
Às 11h10, Ryan novamente pediu um momento de oração. O clima no auditório, diferentemente do início da
assembleia, marcado por certa polarização entre a América do Norte e o chamado Sul Global, era de calma e paz.
Por fim, após o secretário da Associação Geral ler o documento “Teologia e a prática da ordenação ministerial”, os
delegados estavam prontos para expressar suas opiniões, alternando-se vozes em favor do “sim” e do “não”.
Dezenas de delegados de ambos os lados registraram-se para expressar seus pontos de vista. A tela mostrava a
imagem e a identificação da pessoa, bem como se estava defendendo o “sim” ou o “não”. Enquanto isso, um grupo de
membros da igreja intercedia na sala de oração.
Por exemplo, John Brunt, pastor de uma grande igreja na Califórnia, utilizou seus dois minutos para argumentar em
favor da justiça da causa da ordenação. Exemplificou que em seu staff há vários pastores e quatro pastoras, que
batizam mais do que todos os ministros.
Carlos Steger, reitor do seminário adventista da Argentina, e Frank Hasel, professor de teologia na Europa,
defenderam o “não” em nome da unidade da igreja.
Por sua vez, Lawrence Geraty, ex-presidente da Universidade de La Sierra, destacou a necessidade de missionários na
América do Norte.
A sessão da manhã terminou ao meio-dia com cerca de 80 pessoas nas filas para falar. O intervalo para o almoço
trouxe ainda mais energia para o reinício do debate, às 14h.
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Entre outros defensores do “não”, o Dr. Mario Veloso, que atuou em várias áreas da igreja, disse que desde 1973 ele
tem feito parte das comissões que tratam do assunto, e os argumentos, textos bíblicos e citações dos escritos de Ellen
White são sempre os mesmos.
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Lowell Cooper, vice-presidente da igreja que está se aposentando, evocou vários pontos, como a teologia dos dons
espirituais, para defender que a ordenação seria a expressão da necessidade da igreja em diferentes circunstâncias.
Já Colleen Zimbeva, da Divisão Sul-Africana Oceano Índico, sugeriu que as mulheres podem trabalhar sem a
ordenação.
David Poloche, da Divisão Interamericana, mencionou o tempo dos juízes, em que cada um fazia o que achava correto.
“Não vivemos mais nessa época”, disse. “Por 30 anos, a igreja tem estudado o assunto e ainda não encontrou razões
bíblicas para ordenar.” Para ele, se cada divisão fizer o que considera correto, isso não seria unidade.
Às 15h15, conforme previsto, Ryan convidou o pastor Jan Paulsen, ex-presidente da Associação Geral, para fazer um
comentário. Paulsen fez um apelo apaixonado em favor do “sim”, argumentando que o “não” poderia causar um sério
dano à unidade da igreja. Assim como os membros da África e da América do Sul confiam em seus líderes, ele
ponderou, os delegados deviam confiar que os líderes de outras regiões sabem o que é melhor para a igreja em seu
território. A fala causou certo desconforto.
Entretanto, o debate continuou. Samuel Larmie, da Divisão Centro-Oeste Africana, partidário do “não”, argumentou
que a verdade é uma e a igreja é uma. O que não é bom para uma parte do mundo não é bom para outra parte.
Charles Sandefur, da Associação Geral, defendendo o “sim”, disse que no concílio de Jerusalém, sem equipamentos e
grandes comissões de estudo, mas guiados pelo Espírito Santo, os primeiros cristãos se reuniram e em um dia
resolveram a questão da circuncisão, liberando os gentios da prática.
Segundo a contagem dos jornalistas da Adventist Review, 40 delegados – 20 a favor e 20 contra – conseguiram
expressar sua posição nos microfones. E a discussão foi interrompida 35 vezes por delegados que desejavam fazer
alguma objeção sobre determinado aspecto do procedimento.
Às 16h15, o pastor Ted Wilson, num pronunciamento pré-agendado, disse que todos sabiam sua posição (“não”), que
ele considera bíblica, e fez um apelo em favor da unidade.
Votação
Finalmente, o horário de encerramento do debate, marcado para as 16h30, estava chegando. Alguns pediram mais
tempo, mas o dirigente da reunião não concedeu, pois isso não estava previsto no regulamento.
(http://www.revistaadventista.com.br/conferenciageral-2015/wpcontent/uploads/sites/2/2015/07/votacao-ordenacaode-mulheres-assembleia-mundial-8.jpg)Feitos os
preparativos, os delegados foram instruídos a retirar a cédula de
votação, registrando sua presença pela leitura do código de barras
do crachá e depositando em seguida o voto numa das urnas. Os
anos de estudos e debates agora se resumiriam a “sim” ou “não”
(escritos em cinco línguas na cédula), de acordo com o
entendimento e a consciência de cada um.
Segundo o secretário associado Myron Iseminger, o sistema de voto secreto foi preparado com antecedência, caso o
equipamento eletrônico não funcionasse como esperado. E, de fato, não funcionou.
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(http://www.revistaadventista.com.br/conferencia-geral2015/wp-content/uploads/sites/2/2015/07/info-votacaoordenacao-mulheres.jpg)Ao som de hinos antigos, a contagem dos
votos, mais uma vez, deixou a igreja na posição em que estava. Dos 2.363
delegados presentes, 977 (41,3%) votaram “sim” e 1.381 (58,4%) votaram
“não”, além de cinco abstenções, o que encerrou, espera-se, cinco anos de
debates vigorosos e, às vezes, acalorados sobre um tema polêmico, em que
pastores e teólogos respeitados se posicionam de ambos os lados.
(http://www.revistaadventista.com.br/conferencia-geral-2015/wpcontent/uploads/sites/2/2015/07/votacao-ordenacao-de-mulheres-assembleia-mundial-15.jpg)
Essa decisão não significa que as mulheres não vão ocupar posições de destaque na igreja, pois desde o início de sua
história isso tem ocorrido, a começar por Ellen White.
O pastor Ted Wilson fez novo apelo por unidade e foco total na missão, orando pela cura e a unidade que vêm “pelo
poder do Espírito Santo”. A audiência cantou o hino “Oh! Que Esperança”, e assim mais um capítulo da epopeia da
(não) ordenação de mulheres chegou ao fim. “Agora é o momento de unificar [a igreja] sob a bandeira ensanguentada
de Jesus Cristo e seu poder”, ele disse para um Alamodome ainda lotado.
Alguém pode achar que tudo isso representou muito esforço para um resultado (in)esperado. Contudo, é assim que a
igreja trabalha. Tomar uma decisão rapidamente poderia ser mais fácil, mas o resultado talvez se mostrasse menos
duradouro. Em suas idas e vindas, argumentos e contra-argumentos, o povo de Deus prossegue em sua trajetória. No
mínimo, o processo serviu de base para uma decisão consciente, além de ser um exercício didático de como “fazer”
igreja. Michael Ryan confessou sua satisfação pelo “espírito dócil” e o decoro demonstrados na reunião.
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