IUPERJ/CEFOR Projeto de Doutorado Orientador: Prof. Dr. Fabiano Santos Aluno: Ricardo de João Braga - Dinter: : 07.22400-2 Criação e dinâmica política das instituições de política monetária e cambial no Brasil pós 1945: um jogo político racional Brasília, julho de 2008 1 RESUMO A tese aqui em projeto tem como objetivo analisar a construção das instituições de política monetária e cambial no Brasil após 1945. Busca-se compreender a formatação institucional em sua relação com as forças políticas presentes no Legislativo e Executivo federais, sua distribuição de preferências quanto ao tema, as coalizões formadas e os resultados possíveis. Um constrangimento econômico fundamental para a formação dessas preferências e coalizões é a situação de relativa autarquia ou “globalização” da economia, circuito percorrido pela economia nacional no período. De se destacar também o período de exceção política de 1964 a 1985 que permitiu profundas reconfigurações institucionais, configuradas como um choque exógeno ao sistema político devido à castração dos poderes legislativos do Congresso e a supressão de eleições para o Executivo. A forma de construção e apresentação do trabalho é a “narrativa analítica” de casos exemplares, que se distribuirão por 3 períodos definidos e distintos: período democrático e autárquico de 1945 a 1964, período de choque político exógeno de 1964 a 1985, e o período democrático com globalização econômica no pós 1985, com um subperíodo mais representativo após 1994. Espera-se encontrar como resultado distintas formatações institucionais, todas em “equilíbrio político” mas atendendo a distintas distribuições de preferências e coalizões políticas. JUSTIFICATIVA E OBJETIVO O valor da moeda no tempo e no espaço é uma questão chave nas economias capitalistas. As estruturas de juros e taxas cambiais que um país possui são fundamentais para o desempenho das atividades econômicas, sejam de natureza pública ou privada. A alocação de recursos, a distribuição de ganhos e perdas e o crescimento da economia são determinados entre outros fatores pelas curvas de juros e taxas cambiais. Apesar de profundos debates sobre as possibilidades de uma autoridade central controlar de forma efetiva juros e câmbio1, historicamente assistiu-se à constituição da autoridade monetária no seio do Estado, criando instituições centralizadas, como os Bancos 1 O quanto as políticas monetária e cambial podem interferir no valor da moeda, principalmente a sustentabilidade dos resultados no longo prazo, é algo em disputa por várias correntes teóricas na Economia, como por exemplo monetaristas, keynesianos e teóricos das expectativas racionais. 2 Centrais ou assemelhados, que retiraram de bancos privados atribuições como emissão de moeda, empréstimos de última instância e controle do câmbio (EICHENGREEN, 2002). Dentro da teoria econômica contemporânea, o debate sobre o papel da autoridade monetária apresenta-se sob a abordagem normativa − que advoga tal ou qual papel para a autoridade monetária a partir de seus pressupostos sobre o funcionamento da economia − ou sob a abordagem analítica − que busca relacionar desenhos institucionais e práticas da autoridade monetária a certos resultados reais em termos de desempenho econômico (JAYME JR. e CROCCO, 2006) (SÁ, 2006). A partir da ascendência das teorias que advogam as expectativas racionais em economia, no final dos anos 1970 e início dos 1980, tem-se a prevalência da idéia da necessidade de insulamento da autoridade monetária das influências políticas. Segundo esses teóricos, dos políticos esperam-se apenas condutas oportunistas que se deve evitar (maior crescimento no curtíssimo prazo, recessão e inflação posteriormente) (FIALHO, 1999). Para a Ciência Política, contudo, esse é um enfoque pobre, pois desconsidera a natureza pública da autoridade monetária e as manifestações políticas relacionadas a ela. Como colocam Sola, Kugelmas e Whitehead, a autoridade monetária é uma autoridade política na concepção rigorosa de Weber, pois é uma “instituição em princípio detentora de poderes que a habilitam a exercer a coerção legítima em sua jurisdição específica” (2002, p. 11). A Teoria Econômica coloca como regra para o exercício da autoridade monetária sua adequação a prescrições normativas de eficiência e desenvolvimento econômico, o que, em outras palavras, seria a causa de sua legitimidade. A Ciência Política, por sua vez, pode colocar a questão de outra forma, remetendo as decisões públicas à legitimidade do sistema político. Nas democracias modernas o exercício do poder deve derivar do povo e ser exercido de acordo com seus interesses. Se acrescenta-se à equação a idéia de sistema representativo, então exige-se que decisões públicas devam ser submetidas aos representantes do povo, sobremaneira aqueles presentes no Legislativo2. Constata-se então 2 Interessante aqui o trabalho de Putnam (1988) ao argumentar que a participação do Congresso nas decisões de acordos internacionais fortalece a posição do país na negociação, ao invés de enfraquecê-la, como pretendem os advogados do “insulamento” dos policy makers. Da mesma forma pode-se questionar o insulamento de decisões sobre questões monetárias e cambiais, na medida em que decisões técnicas podem se radicalizar e perder apoio institucional e político mais amplo, o que limita seu alcance. Um caso dessa natureza é a política de juros altos de Gustavo Franco em 1998, que conduziu a Economia a um ponto de ruptura manifestado na crise cambial de janeiro de 1999 e o governo recém iniciado a uma crise política. 3 um choque entre as prescrições econômicas normativas e valores políticos democráticos básicos. Surgem então as questões: os poderes políticos são alheios às decisões em política monetária e cambial? Se não, o que fazem, como e porquê? A literatura norte-americana de Ciência Política sobre a condução da política monetária é escassa, não havendo indícios sólidos de que os parlamentares atuem sobre sua execução cotidiana de forma freqüente e ostensiva (GRIER, 1991; HAVRILESKY 1987 e 1995). Para o Brasil o quadro é o mesmo, com até maior carência de literatura e os mesmos resultados3. As questões acima referidas, contudo, podem ser analisadas com proveito a partir do campo teórico que trata da criação e função de instituições, da teoria da delegação, como por exemplo os trabalhos de Mccubbins, Noll e Weingast (1987), McCubbins e Schwartz (1984) e Moe (1984). A lógica da abordagem das instituições é que a relação entre os políticos e os resultados de política pública (outcomes) – que são seu interesse efetivo – é plena em problemas de cooperação, incerteza, custos de transação e moral hazard. A solução possível para tais questões assenta-se na criação de instituições com desenhos que procuram dar uma resposta adequada aos problemas, daí a importância delas e de seu estudo. É na configuração das instituições que se definem práticas de forma abrangente, se definem custos de atuação e se criam possibilidades de influência, de fiscalização e de controle pelos atores políticos relevantes4. A partir da instituição da República no Brasil, pode-se demarcar os sistemas político e econômico em diferentes fases. Até 1930 o que prevaleceu no país em termos políticos foi um regime de discurso liberal e práticas elitistas, com uma democracia não efetiva (de pouca participação eleitoral), e uma concepção econômica liberal de não intervenção na economia – embora as necessidades da cultura do café e dos cafeicultores fossem uma grande determinante das ações públicas. A partir de 1930 têm-se no campo político um regime de exceção com Getúlio Vargas e o surgimento, na economia, das idéias de 3 Para o caso brasileiro, é também escassa a literatura que trata da relação entre o Legislativo e a condução das políticas monetária e cambial, tendo-se conhecimento apenas dos trabalhos de Sola, Kugelmas e Whitehead (2002); Santos (2003); Santos e Patrício (2002); Faucher e Armijo (2004) e Braga (2006). 4 A definição de instituição para o propósito aqui tratado é ampla, abrangendo tanto as formais quanto informais. 4 intervenção estatal, com as primeiras grandes manifestações de mudança do eixo econômico do país da economia agrícola liberal para o intervencionismo e o industrialismo da substituição de importações. A partir da democratização em 1945 o Brasil passa a ter um regime político crescentemente competitivo e aberto à participação popular – podendo-se falar então em democracia −, aprofunda-se a industrialização e a intervenção do Estado é preponderante no rumo das ações, tanto políticas (com a estruturação e controle dos sindicatos, por exemplo) quanto econômicas (com a proliferação de indústrias e autarquias estatais). O processo de substituição de importações leva a economia brasileira a um modo de relacionamento com o estrangeiro típico da época, em que os mercados nacionais encontravam-se mais fechados ao comércio externo, caminhando no rumo da autarquia, e não da integração e interdependência. As relações financeiras internacionais davam-se apenas entre grandes bancos e governos, e não eram em grande número, e os investimentos diretos estrangeiros ainda eram pequenos e localizados. Embora o intervencionismo estatal, a industrialização e o processo de substituição de importações acentuem-se na economia, sem maiores mudanças de concepção ideológica, na política o ano de 1964 marca um rompimento com o desenvolvimento democrático, quando se institui o regime autoritário que só cederia espaço a uma nova fase de democratização em 1985. Desde então, a democracia avança no país com a estabilidade das regras democráticas, mas vê-se uma importante mudança na ação estatal na economia. Após 1990 as prescrições liberais começam a ganhar terreno, impondo uma agenda de reformas econômicas que visa, sobretudo, a menor intervenção estatal na atividade produtiva e o regramento das condutas fiscais e monetárias. Conjugada a esse movimento está a “globalização” dos mercados, das finanças e dos investimentos, vista numa interligação e interdependência crescente entre as economias nacionais, algo que se dá nas trocas de mercadorias como nos fluxos de capitais. Um marco dessa fase é o controle da inflação no Brasil a partir de 1994 – depois de ao menos duas décadas de tentativas frustradas – por meio de políticas de juros altos, câmbio valorizado e abertura do mercado interno. Neste trabalho pretende-se avaliar a construção e a dinâmica de funcionamento das instituições de política monetária e cambial a partir de 1945, mais especificamente a racionalidade dos desenhos institucionais dessas políticas face às forças políticas presentes 5 no Legislativo e no Executivo federais. Assumem-se para a criação e dinâmica de funcionamento das instituições de política monetária e cambial dois tipos de constrangimentos: os econômicos e os políticos. Há os constrangimentos reais que o ideário e as forças econômicos colocam para a política econômica e para os decisores (estes em sentido amplo, desde os técnicos burocratas até os políticos com cargos no Legislativo e no Executivo), e também as preferências dos políticos no Legislativo e no Executivo − e a conseqüente criação de coalizões de apoio ou veto a determinadas políticas. Os constrangimentos econômicos impostos às decisões e comportamentos em política econômica podem ser distinguidos e sintetizados para o período 1945 até hoje em dois “rótulos”: autarquia e globalização. Nas décadas seguintes a 1945 as economias nacionais trabalhavam de forma bastante mais independente umas das outras, sendo os fluxos comerciais os movimentos mais importantes no cenário econômico internacional, e as relações financeiras realizadas sobremaneira entre governos e grandes bancos (privados ou públicos). Assiste-se na América Latina, na Europa e Japão capitalistas um grande esforço de construção de economias industriais, praticadas em sistemas bastante fechados e com forte presença estatal. Câmbio e juros podiam então ser administrados com um alto grau de independência em relação ao estrangeiro e mesmo entre si. O Brasil de então foi um dos exemplos mais bem sucedidos do modelo, com alta taxa de crescimento e sucesso na construção de seu setor industrial. A “globalização” rompe com o equilíbrio anterior nas políticas monetária e cambial na medida em que a flexibilização financeira torna os fluxos de capitais muito mais importantes que anteriormente − muitas vezes sobrepondo-se aos fluxos comerciais − e a própria coordenação do sistema modifica-se, quando são agora os capitais privados que representam a grande maioria das transações internacionais e surge uma pluralidade de atores muito maior do que apenas os grandes bancos e governos (fundos de investimentos de vários tipos, colocações diretas de “papéis” junto a investidores privados estrangeiros, investimentos diretos estrangeiros em ações e outros ativos reais etc.). Grosso modo, abandona-se uma situação de maior liberdade decisória em política econômica e passa-se a enfatizar a “responsabilidade” nas condutas, responsabilidade essa medida e tutelada pelas forças impessoais do mercado que são capazes de punir e recompensar economias nacionais (BLUESTEIN, 2002). No Brasil, o Plano Real foi a aceitação da nova dinâmica 6 internacional, na qual o país ingressou com força, pois conseguiu sucesso no combate à inflação por meio do recurso ao mercado internacional (âncora cambial), depois sofreu uma grande crise de natureza financeira em janeiro de 1999 (desvalorização cambial) e atualmente beneficia-se de um período de bonança e prosperidade, alinhado à tendência da economia mundial, impulsionada em boa parte pela inserção do Brasil no mercado internacional de commodities e utilizando financiamento externo (para o mercado de capitais e até a dívida pública interna). Em termos políticos, o período 1945 a 1964 configura-se como uma democracia em expansão no Brasil. Nestes anos a dinâmica política marcou-se por um Congresso com poderes legislativos relevantes e dominado sobremaneira por uma conjunção de forças de centro ou centro-esquerda expressas pelo PSD e pelo PTB. Industriais e operários estavam representados no Congresso, mas também exportadores e a classe média. A administração altamente intervencionista das múltiplas e complexas taxas cambiais − manipuladas de forma a fomentar a industrialização, carrear recursos para o Erário e, por vezes, combater a inflação −, e os vários malogros nos planos antiinflacionários relacionam-se fortemente à política e ao desenho institucional. Assistiu-se, como em 1952-1953 e em 1958-1959 desentendimentos profundos entre o Ministério da Fazenda e o Banco do Brasil sobre a contenção do crédito, culminando em reformas ministeriais. Também, toda tentativa de modificar a política cambial confrontava interesses de exportadores, importadores, industriais e operários. A par dessas forças todas havia ainda as exigências dos organismos financeiros internacionais (únicos financiadores do cronicamente problemático balanço de pagamentos). A partir de 1964, com o “expurgo” de boa parte da classe política, a supressão de eleições e a submissão da economia a um comando mais centralizado, teve-se uma ampla reestruturação institucional da economia brasileira. Pode-se falar num choque exógeno ao sistema político, o qual antes vetava determinadas alterações políticas mais profundas. Dessas mudanças importa aqui a criação de uma nova estrutura de política monetária e cambial com a Lei 4.595/64, que instituiu o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central. Para o objeto de estudo aqui apresentado, vale ressaltar a trajetória do CMN, o qual teve no seu início uma composição eminentemente estatal e voltada para o combate à inflação, e posteriormente foi-se ampliando o número de membros até haver ampla 7 representação, como banqueiros, industriais, agricultores e até sindicalistas (VIANNA, 1987) (CODATO, 1997). A política de câmbio e juros emanada do CMN − após a estabilização inicial conseguida pelo PAEG − foi “acomodatícia”. A forma de administração da moeda, sintetizada na expressão “acomodatícia”, reflete um jogo de forças onde os grupos organizados protegiam-se das perdas aumentado preços, que eram distribuídas aos menos organizados por meio da inflação (crescente no período). A partir de 1994, com o Plano Real, o Brasil sofreu um choque na condução dessas políticas. O CMN passou de mais de trinta membros para 3, todos da alta cúpula da equipe econômica (Ministros da Fazenda e Planejamento e Presidente do BACEN). A política de câmbio deixou de desvalorizar a moeda nacional de forma constante e discricionária − o que antes protegia os exportadores e os produtores nacionais − e passou a ser utilizada para combater a inflação por meio da entrada de produtos estrangeiros baratos. Indústrias e sindicatos viram-se então tolhidos do mecanismo de repasse automático de preços, desestruturando-se o jogo anterior (FRANCO, 2000) (LOPES, 2003). Na política logo formou-se e solidificou-se uma aliança de centro-direita (PFL e PSDB principalmente, depois também o PMDB) que auferiu os ganhos políticos do programa de estabilização. Ainda, no campo externo, a pregação dos organismos internacionais e a prática de uma série de países, apontando para o ideário “neo”-liberal, fortaleciam a posição política que abraçava a prática econômica iniciada com FHC em 1994. Os imperativos econômicos de independência e responsabilidade das políticas monetária foram então abraçados pela ideologia da coalizão que tomava o governo. Espera-se encontrar uma grande diferença no desenho institucional e no funcionamento das instituições de política monetária e cambial entre os períodos aqui definidos. De fato, políticas cambial e monetária encontram-se mais independentes no período de autarquia econômica, trabalhando mesmo em direções opostas em alguns momentos, como quando os programas antiinflacionários exigiam contenção de crédito na área monetária e a política cambial atuava para fomentar largos setores industriais com incentivos para a compra de maquinário. Já na globalização, principalmente com a abertura financeira, a interdependência entre políticas cambial e monetária é enorme, como pôde-se constatar de forma exemplar na estruturação do Plano Real. A âncora cambial combatia os 8 preços com auxílio dos altos juros − que eram, ao mesmo tempo, a causa de sustentação dessa mesma âncora. O período não democrático de 1964 a 1985 é importante na medida em que manteve os constrangimentos econômicos do período anterior mas, principalmente em seu início, suprimiu as forças políticas anteriormente presentes no Legislativo. Essa situação configura como um choque exógeno ao sistema político, e criou um novo equilíbrio de forças políticas com um jogo distributivo que contava com a inflação. Como uma hipótese ainda preliminar, pode-se supor que o desenho institucional tornou as políticas monetária e cambial mais distantes da manipulação política no pós 1994 em comparação aos períodos anteriores. Ainda, isso não ocorreu pela imposição do Executivo sobre o Legislativo. De fato, pode-se supor que as preferências dos legisladores modificaram-se. No período 1945-1994 as preferências poderiam ser pelos ganhos distributivos das políticas monetária e cambial. Contudo, diante da escassez crescente desses ganhos (com a inflação crescente, próxima à hiperinflação), passaram a ser mais atrativos os ganhos políticos do combate à inflação. Nesse sentido, o Plano Real, assim como os outros planos de estabilização, contou com o apoio político inicial da coalizão de governo no Congresso, mas inovou ao utilizar a mudança dessas preferências para construir um círculo virtuoso: as preferências pelo combate à inflação permitiam mudanças que ajudavam a combater a inflação, havia ganhos políticos, e isso mais solidificava as preferências por uma inflação baixa. Para a confecção da pesquisa e sua apresentação optar-se-á por uma abordagem esquemática do objeto e de suas relações, baseado na teoria política formal (HINICH e MUNGER, 1997) e teoria dos jogos (DUTTA, 2000). Esta opção permitirá construir argumentos mais claros e testáveis das relações entre o Executivo e o Legislativo na construção das instituições de política monetária e cambial. Além disso, permite que se evite apresentar uma longa “história” dos fenômenos econômicos e políticos do período, a qual embora seja pertinente e válida, atende a outros objetivos do que os aqui pretendidos. METODOLOGIA Para os três períodos definidos acima serão escolhidos casos exemplares para estudo. Abaixo apresenta-se um rol de possíveis casos, os quais serão definitivamente 9 definidos apenas após uma análise preliminar suficiente ainda não realizada. Todavia, pretende-se trabalhar com no máximo 6. Para o período 1945-1963 poderiam ser apresentados os seguintes casos: - Lei do Mercado Livre, de janeiro de 1953 (Lei 1.807) que criou o mercado livre de câmbio e transferiu para este o movimento de capitais. - A malograda reforma cambial do Ministro Whitaker (1955), que o Presidente Café Filho enviou ao Congresso por não se sentir seguro em simplificar o câmbio (quando perderia recursos orçamentários e um poderoso meio de direcionar a industrialização). - Lei 3.244, de agosto de 1957. Esta lei configurou uma nova reforma cambial. Objetivava simplificar o sistema de faixas do câmbio diminuindo seu número e introduzir sistema de proteção específica para produtos de mesma categoria (diminuir a discricionariedade dos gestores do câmbio). Sua regulamentação, no que o mais importante era a passagem das exportações para o mercado livre, foi ocorrendo ao longo do tempo, com destaque para as instruções da Superintendência da Moeda e do Crédito −SUMOC de nºs 167, 181 e 192, todas de 1959. - Lei 4.131, de 1962. Considerou que os reinvestimentos não configurariam base de capital para remessa de lucros e dividendos ao exterior. É uma reversão da tendência anterior de favorecer a entrada dos capitais estrangeiros produtivos. Ainda, durante o período houve uma discussão nos meios especializados sobre a necessidade de fortalecer a autoridade monetária para melhor combater a inflação, o que implicaria em fortalecer o Ministério da Fazenda e a Superintendência da Moeda e do Crédito – SUMOC às expensas do Banco do Brasil. Isso de fato veio a ocorrer em 1964, com a Lei 4.595. Ainda não se identificou um caso de relação concreta entre Legislativo e Executivo em relação a este ponto, mas se encontrado será um caso relevante para estudo. Para o período 1964-1985 - Aprovação da Lei nº 4.595/64, que dispõe sobre a Política e as Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias e criou o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil. Trata-se de uma mudança profunda nas instituições de política monetária e cambial, patrocinada pelo regime militar e que veio como resposta a um longo processo 10 de discussão, não definida no período democrático, sobre a necessidade de criação de um Banco Central clássico (PAIVA ABREU, 1992). - Expansão da composição do CMN, que vai desde a sua criação até 1994 (VIANNA, 1987) (CODATO, 1997). Para o período pós-1985 - Medidas Provisórias que criaram a URV e o Real (MPs 434 e 542, de 1994, respectivamente), transformadas nas Leis nº 8.880/94 e 9.069/95. - Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Obriga o Presidente do Banco Central a prestar contas ao Congresso Nacional regularmente. - Medida Provisória nº 207, de agosto de 2004, (Lei 11.036/04) que concede status de Ministro ao Presidente do Banco Central. - Concessão de independência ao Banco Central. Proposta que freqüentou a mídia durante todo o governo Fernando Henrique Cardoso até a edição da Medida Provisória nº 207 citada acima. Além disso, a criação do Comitê de Política Monetária, em junho de 1996, e do Sistema de Metas de Inflação, em 1999, foram fundamentais para a estruturação do funcionamento da autoridade monetária após 1994. Ainda não é possível constatar uma relação com o Congresso nesses casos, mas podem se tornar casos relevantes. A análise dos casos será feita a partir de fontes secundárias, sobretudo análises do funcionamento das instituições envolvidas (os objetivos e as conseqüências das inovações que as instituições sofreram). A composição das forças políticas e suas posições nos casos serão construídas a partir de fontes secundárias (sobretudo quanto aos perfis partidários e composição do Congresso), mas também poder-se-á recorrer a fontes primárias para conhecer das discussões internas ao Parlamento, como os Anais do Congresso. A abordagem dos casos será feita na linha das narrativas analíticas encontradas na obra de Bates, Greif, Levi, Rosenthal e Weingast (1998), que a partir dos pressupostos da teoria da escolha racional formatam um modelo dedutivo das relações entre os agentes envolvidos e a partir dele torna-se possível cotejar as predições dedutivas com os achados efetivos. 11 Em termos de técnicas de apresentação e análise, deverão ser utilizados recursos da teoria política formal, como apresentação de distribuição de preferências, e também da teoria dos jogos, como esquemas de ação, reação e equilíbrio entre agentes. CRONOGRAMA E OBJETIVOS DOS CAPÍTULOS Apresenta-se no quadro 1 o cronograma de atividades a ser desenvolvidas. Quadro 1: Cronograma de atividades. Até julho de 2008 Finalização do Projeto de Pesquisa, levantamento bibliográfico e início da elaboração do capítulo teórico. Agosto de 2008 a Janeiro de 2009 Redação do capítulo teórico. Fevereiro de 2009 Seminário de Tese (apresentação do capítulo teórico). Março a Maio de 2009 Redação do capítulo sobre o período 19451964. Junho a Agosto de 2009 Redação do capítulo sobre o período 19641985. Agosto de 2009 Qualificação. Setembro a Novembro de 2009 Redação do capítulo sobre o período pós1985. Dezembro de 2009 a Fevereiro de 2010 Redação do capítulo de metodologia. Março e Abril de 2010 Redação Final. Maio de 2010 Defesa da Tese. BIBLIOGRAFIA CITADA: BATES, Robert, GREIF, Avner, LEVI, Margaret, ROSENTHAL Jean Laureant e WEINGAST, Barry. 1998. Analytical Narratives. Princeton, Princeton University Press. BLUSTEIN, Paul. 2002. Vexame: Os Bastidores do FMI na Crise que Abalou o Sistema Financeiro Mundial. 2ª ed. Rio de Janeiro, São Paulo. Editora Record. 12 BRAGA, Ricardo de João. 2006. A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal frente à Política de Câmbio Administrado (Janeiro de 1995 a Janeiro de 1999). Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Brasília, Universidade de Brasília. CODATO, Adriano Nervo. 1997. Sistema estatal e política econômica no Brasil pós 64. São Paulo, Hucitec. 367 p. DUTTA, Prajit K. 2000. Strategies and Games: Theory and Practice. Cambridge, MIT Press. EICHENGREEN, Barry. 2002. A Globalização do Capital: Uma História do Sistema Monetário Internacional. 1ª Ed. 1ª reimpressão. São Paulo, Editora 34. FAUCHER, P. e ARMIJO, L. E. 2004. Crises cambiais e Estrutura Decisória: A Política de Recuperação Econômica na Argentina e no Brasil. DADOS, Rio de Janeiro, Vol. 47, no 2, pp. 297 a 334. FIALHO, Tânia Marta Maia. 1999. Ciclos Políticos: uma Resenha. Revista de Economia Política, vol. 19, n° 2 (74), abr/jun. p. 131-149. FRANCO, Gustavo H. B. 2000. O Desafio Brasileiro: Ensaios sobre Desenvolvimento, Globalização e Moeda. 2ª ed. São Paulo, Editora 34. GRIER, Kevin. 1991. Congressional Influence on US monetary policy: an empirical test. Journal of Monetary Economics, 28. 201-220. HAVRILESKY, Thomas, 1987. A paritsanship theory of fiscal and monetary regimes. Journal of Money, Credit and Banking 19, 308-325. 1995. The Pressures on Amercican Monetary Policy. 2. ed. Norwell, Massachusetts, Kluwer Academic Press. HINICH, Melvin J. e MUNGER, Michael C. 1997. Analytical Politics. Cambridge University Press. JAYME JR., Frederico G.; CROCCO, Marco Aurélio. 2006. Independência do Banco Central: Incompatibilidade entre Teoria e Prática. In: AVRITZER, Leonardo; ANASTAZIA, Fátima (org.) 2006. Reforma Política no Brasil. Belo Horizonte, Editora UFMG. LOPES, Francisco L. 2003. Notes on the Brazilian Crisis: 1997-99. Revista de Economia Política, vol. 23, n° 3 (91), julho-setembro/2003. pp. 35-62. 13 MCCUBBINS, M., NOLL R., WEINGAST B. 1987. Administrative procedures as instruments of political control. J. Law. Econ. Organ. 3:243-77. MCCUBBINS M, SCHWARTZ T. 1984. Congressional oversight overlooked: police patrols versus fire alarms. Am. J. Polit. Sci. 28:165-79. MOE, Terry M.1984. The New Economics of Organization. American Journal of Political Science, Vol. 28, N° 4. (Nov. 1984), 739-777. PAIVA ABREU, Marcelo de (org.). 1992. A Ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana, 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus. PUTNAM, R. 1988. Diplomacy and Domestic Politics: The Logic of Two-Level Games. International Organization, vol. 42, nº 3, pp. 427-460. SÁ, William Ricardo de. 2006. Autonomia/Independência dos Bancos Centrais. In: AVRITZER, Leonardo; ANASTAZIA, Fátima (org.) 2006. Reforma Política no Brasil. Belo Horizonte, Editora UFMG. SANTOS, Fabiano. 2003. O Poder Legislativo no Presidencialismo de Coalizão. Belo Horizonte, Editora UFMG. Rio de Janeiro, IUPERJ. SANTOS, Fabiano, PATRÍCIO, Inês. 2002. Moeda e Poder Legislativo no Brasil: prestação de contas de bancos centrais no presidencialismo de coalizão. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 17, n° 49. Junho. SOLA, Lourdes, KUGELMAS, Eduardo e WHITEHEAD, Laurence (orgs.). 2002. Banco Central – autoridade política e democratização – um equilíbrio delicado. Rio de Janeiro, Editora FGV. VIANNA, Maria Lucia Teixeira Werneck. 1987. A Administração do Milagre: o Conselho Monetario Nacional - 1964-1974. Petropolis, Vozes. 180 p. 14