Valentín: do cinema à sala de aula
Título Original: Valentí
Valentín
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 86 minutos
Ano de Lançamento (Argentina): 2004
Direção: Alejandro Agresti
Valentín (Rodrigo Noya) é um menino de 8 anos que vive com sua avó (Carmen Maura), na
Buenos Aires de 1960. Seus pais estão separados. O pai (Alejandro Agresti) vive ocupado
trabalhando, procurando uma mãe para o filho e pouco o vê. De sua mãe só escuta críticas e
não tem notícias. Solitário, alimenta alguns sonhos: ser um astronauta, rever a sua mãe, ter
uma família. Quando conhece Letícia (Julieta Cardinali), a mais nova namorada de seu pai,
parece que tudo pode ser mais do que um sonho para Valentín.
Valentín é um grande filme tanto no aspecto formal, quanto no seu roteiro, nas suas atuações.
Levar um bom filme para sala de aula é um convite para que os alunos entrem em contato com
a sétima
arte
e,
de
quebra ― o
que
não
é pouco
―, aproveitem
para
trabalhar
questões
específicas de uma disciplina e refletir sobre a vida.
Este filme argentino tem uma particularidade muito interessante, particularmente pensando no
aluno
de
Ensino
Fundamental
Fundamental
como
no
Ensino
(embora
Médio):
o
filme
a sua
possa
ser
narrativa é
trabalhado
dirigida
tanto
pelo seu
no
Ensino
protagonista, a
história é vista através dos olhos dele, um menino de 8 anos (embora, por momentos, os seus
pensamentos elaborados delatem um certo tom mais adulto), o que deve levar a uma maior
identificação
dos
alunos
com
o
protagonista,
com
a
sua
visão
de
mundo,
com
as
suas
angústias e seus sentimentos.
Dentre
os
muitos
aproveitamentos
que
um
bom
filme
pode
nos
propiciar,
poderiam
ser
pinçados alguns, sob três prismas -- isso não implica um trabalho fragmentado, mas sim a
possibilidade
de
trabalhar
diversos
aspectos
e
aproveitar
o
material
disponível
da
melhor
maneira possível, a separação e/ou classificação é justificada por uma questão didática, mas
os assuntos são indissociáveis e todos eles configuram a obra cinematográfica.
No
aspecto lingüístico,
três
possíveis
aproveitamentos
pedagógicos
que
poderiam
ser
trabalhados são:
- a caracterização física e psicológica de pessoas, pequenas biografias e a expressão de
gostos e preferências, a partir das seqüências em que são apresentados os personagens;
- o emprego contextualizado do tratamento formal
e do tratamento informal nas relações,
desvendando as condições que determinam o uso de um ou outro tratamento, e, até mesmo, a
mudança de tratamento. Um exemplo: o tratamento usado por Valentín com o médico é, de
início, formal, mas quando o doutor vira o médico da família, um amigo seu, o tratamento passa
a ser informal.
voseo, uso do pronome vos pelo tú, consagrado no espanhol dos argentinos, e a mudança
da conjugação dos verbos no presente do indicativo e no imperativo. Exemplos: (tú) haces vs
(vos) hacés; (tú) eres vs (vos) sos / haz (tú) vs hacé (vos).
- o
No
aspecto da linguagem cinematográfica, o filme tem duas grandes ‘sacadas’ que envolvem o
espectador: por um lado, o diálogo que o personagem-narrador estabelece com o espectador,
tornando-o confidente de suas palavras, da sua vida; por outro, no início do filme, o emprego
do tempo verbal no presente, que coloca o espectador no tempo em que os acontecimentos
estão ocorrendo, quase como um personagem a mais, para depois introduzir o pretérito na
narrativa. Esse jogo temporal na construção da narrativa produz uma cumplicidade entre o
personagem-narrador
e
o
espectador,
fazendo
este
último
vivenciar
cada
momento.
Esse
trabalho realizado com o personagem-narrador e com os tempos verbais permite uma reflexão
sobre
os
elementos
personagens
da
narrativa
coadjuvantes,
a
(lembrando
ambientação
que
da
a
trama,
Buenos
os
Aires
conflitos,
dos
anos
protagonistas
60,
são
e
outros
elementos interessantes que compõem a narrativa).
formação integral do aluno, entre outros temas, poderiam se destacar duas linhas
Já visando à
de reflexão: a família e o preconceito. A primeira propicia uma reflexão sobre o conceito de
família e como esta se configura efetivamente, nem sempre dentro dos
padrões
burguês, mas pautada pelas relações humanas de carinho, convivência e respeito.
do ideal
A segunda
traz à tona o preconceito como estigmatizador brutal das pessoas em relação ora a sua origem
e religiosidade (judeu), ora a seu estilo de vida e aparência física (os ‘cabeludos’), que pode ser
aplicado
a
qualquer
situação
de
preconceito
e
motivar
uma
reflexão
sobre
como
os
preconceitos nos apresentam as pessoas previamente rotuladas.
Fora
isso,
é
sempre
muito
interessante
propor
atividades
de
produção,
é
nelas
que
os
inúmeros aproveitamentos podem ser conciliados, relacionados. A partir do filme, os alunos
podem recriar a cena de que mais gostaram; montar novos cartazes para o filme, escrever
pequenas resenhas; redigir críticas a respeito recomendando ou não o filme, para publicar no
jornal ou para pregar no mural da escola; redigir um resumo da história; apontar e descrever
personagens antagônicos; etc.
Por: Lorena Menón – Licenciada em Letras pela FESB-Bragança Paulista; pós-graduada em
Ensino de espanhol para brasileiros pela PUC-SP, Mestre em Letras pela USP, doutoranda
pela USP.
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