AVALIAÇÃO DE MÉIS DO NORTE E MÉDIO NORTE DE MATO GROSSO: USO COMO BIOINDICADOR AMBIENTAL PARA METAIS PESADOS A. Lorini¹, C. Wobeto², L. Marasca³, R. L. T. Andrade4, R. M. Schneider5 1 – Instituto de Ciências Naturais, Humanas e Sociais – Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Sinop, Avenida Alexandre Ferronato, 1200 – CEP: 78.550-000 – Sinop – MT – Brasil, Telefone: (66) 9959-0620 – e-mail: ([email protected]) 2 - Instituto de Ciências Naturais, Humanas e Sociais – Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Sinop, Avenida Alexandre Ferronato, 1200 – CEP: 78.550-000 – Sinop – MT – Brasil, Telefone: (66) 9627-5765 – e-mail: ([email protected]) 3 – Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais – Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Sinop, Avenida Alexandre Ferronato, 1200 – CEP: 78.550-000 – Sinop – MT – Brasil, Telefone: (66) 9689-2645 – e-mail: ([email protected]) 4 - Instituto de Ciências Naturais, Humanas e Sociais – Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Sinop, Avenida Alexandre Ferronato, 1200 – CEP: 78.550-000 – Sinop – MT – Brasil, Telefone: (66) 9965-9281 – e-mail: ([email protected]) 5 – Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais – Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Sinop, Avenida Alexandre Ferronato, 1200 – CEP: 78.550-000 – Sinop – MT – Brasil, Telefone: (66) 9677-6588 – e-mail: ([email protected]) RESUMO – A investigação de substâncias inorgânicas em alimentos pode indicar o nível de poluição ambiental de determinadas localidades. O mel apresenta níveis de minerais que variam de 0,02% a valores próximos de 1%, podendo, dentro desta variação, serem encontrados metais pesados. Sendo assim, objetivou-se analisar 12 méis, provenientes de associações localizadas na região norte e médio norte de Mato Grosso, quanto aos níveis de cinzas e dos metais Cádmio, Chumbo, Cobre e Cromo. Os teores de cinzas foram determinados por método gravimétrico e dos metais pesados por espectrofotometria de absorção atômica. Os resultados mostraram que os teores de cinzas nos méis variaram de 0,11 a 1,32 g.100 g-1. As amostras com altos níveis de cinza foram submetido à análise de metais pesados, onde se verificou que a concentração de Cádmio nos méis não foi detectada e os teores dos demais metais apresentaram níveis seguros, não sendo encontrados indícios de contaminação. ABSTRACT - Investigation of inorganic substances in foods can indicate the level of environmental pollution certain locations. Honey has mineral levels ranging from 0.02% to values close to 1% and can, within this range, heavy metals are found. Therefore, we aimed to analyze 12 honeys, from associations located in the northern and middle region north of Mato Grosso, on the levels of ash and metals Cadmium, Lead, Copper and Chromium. Ash contents were determined by gravimetric method and heavy metals by atomic absorption spectrophotometry. The results showed that the ash content in honey varied from 0.11 to 1.32 g 100 g-1. Samples with high levels of gray were subjected to analysis of heavy metals, where was found that the Cadmium concentration in honeys was not detected and the levels of the other metals had safe levels, and is not found indications of contamination. PALAVRAS-CHAVE: Apis mellifera, cinzas, metais pesados, poluição ambiental KEYWORDS: Apis mellifera, ash, heavy metals, environmental pollution Realização Informações http://www.ufrgs.br/sbctars-eventos/ssa5 Fone: (51) 2108-3121 Organização 1. INTRODUÇÃO O Mato Grosso é o estado com maior produção de grãos, representando 23,4% da produção nacional, seguido pelo estado do Paraná (20,2%) e Rio Grande do Sul (15,0%), sendo o médio norte mato-grossense o maior polo da agricultura do estado (IBGE, 2013), consequentemente nesta região há uso extensivo de agrotóxicos e defensivos. Pereira (2010) discute que todos os produtos apícolas são muito sensíveis a contaminações ambientais e Magalhães (2010) afirma que as abelhas Apis mellifera cobrem uma área de 03 Km (2.826 hectares) e consequentemente entram em contato com água, solo, grãos de pólen, néctar, exsudatos de plantas e excreções de homópteros que podem estar contaminados com metais pesados oriundos da atmosfera, transformando o mel em um excelente bioindicador de poluição ambiental. O uso de bioindicadores para detecção de poluição é frequentemente usado devido ao baixo custo relacionado com esta prática. Espécies bioindicadoras são aquelas que possibilitam informar as condições ambientais de um dado local e são inúmeras as espécies que podem ser utilizadas para este fim. Ressalta-se que, muitas vezes, os seus produtos são utilizados como bioindicadores (CONTI e BOTRE, 2001). Desta forma, neste trabalho investigaram-se os teores de cinzas e de metais pesados de méis produzidos e comercializados na região do médio norte do estado de Mato Grosso. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram coletados 500 g de méis nas embalagens próprias para comércio a varejo de três apicultores de quatro associações, três localizadas em cidades do médio norte de Mato Grosso, identificadas como A1 (Sinop e Santa Carmen), A2 (Sorriso e Vera) e A3 (Ipiranga do Norte e Nova Ubiratã); e uma associação de Porto dos Gaúchos (A4), da região norte de MT. Os teores de cinzas foram determinados por método gravimétrico (CAC, 1990). Foram analisados os níveis de metais pesados (Pb, Cr, Cu e Cd) através de metodologia descrita por Epifânio (2012), com modificações. As cinzas das amostras foram digeridas em 05 mL de solução nitroperclórica (3:1). Realizou-se a leitura em espectrofotômetro de absorção atômica (Varian, modelo AA140) nos comprimentos de onda de 324,8; 357,9; 228,8 e 283,3 nm, respectivamente para o Cu, Cr, Cd e Pb utilizando soluções padrões para realização das curvas de calibração (concentrações de 0 a 2 mg.L-1). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os teores de cinzas e seus respectivos desvios padrões dos méis analisados estão descritos na Tabela 1. Tabela 1 – Teores médios de cinzas (g.100 g-1) e desvios padrão dos méis de 4 associações de apicultores do norte de Mato Grosso Méis Cinzas Méis Cinzas Méis Cinzas Méis Cinzas A1P11 0,67± 0,09 A2P1 A1P2 0,14± 0,04 A2P2 A1P3 0,64± 0,15 A2P3 1 Associação 1, Produtor 1 Realização 1,32± 0,54 0,14± 0,03 0,17± 0,08 A3P1 A3P2 A3P3 0,19± 0,02 0,19± 0,01 0,70± 0,09 Informações http://www.ufrgs.br/sbctars-eventos/ssa5 Fone: (51) 2108-3121 A4P1 A4P2 A4P3 0,49± 0,19 0,27± 0,11 0,11± 0,03 Organização Observa-se que os teores de cinzas dos méis A1P1, A1P3, A2P1, A3P3 e A4P1 estão acima ou próximos ao limite permitido, ou seja, 0,6 g.100g-1 para mel floral e de 1,2 g.100g-1 para mel de melato (BRASIL, 2000). Logo, constata-se que estes méis sofreram contaminação que pode ser relativa ao manejo da fumaça na colheita no apiário, resíduos minerais na casa de extração do mel (ARAÚJO et al. 2006) ou até mesmo adquirido dos materiais oriundos das espécies botânicas coletadas pelas abelhas para a produção do mel, indicando possível contaminação ambiental (MAGALHÃES, 2010). Percebe-se que não existe uma homogeneidade nos méis de uma mesma associação, evidenciando que as práticas apícolas são diferentes, uma vez que as casas de mel são individuais e não existem casas de mel de uso coletivo na associação, Desta forma, os méis que apresentaram maiores níveis de cinzas foram submetidos às análises de metais pesados, e seus teores médios são apresentados na Tabela 2. Tabela 2 – Níveis de metais pesados e desvios padrões nos méis com altos teores de cinzas Méis Cobre (mg.kg-1) Chumbo (mg.kg-1) Cromo (mg.Kg-1) Cádmio (mg.kg-1) 0,19 ± 0,05 0,113 ±0,01 0,22 ±0,01 ND2 A1P11 0,16 ±0,05 0,103 ± 0,006 0,16 ± 0,05 ND A1P3 0,23 ± 0,08 0,102 ± 0,007 0,30 ± 0,02 ND A2P1 0,14 ± 0,03 0,093 ± 0,006 0,23 ± 0,01 ND A3P3 0,17 ± 0,03 0,09 ± 0,006 0,28 ± 0,02 ND A4P1 1 2 Associação 1, Produtor 1; Não detectado Observa-se que os teores de cobre estão abaixo do estabelecido como níveis de tolerância pela Legislação da Anvisa (<10 mg.kg-1) (BRASIL, 1998); os níveis de Chumbo também se verificam abaixo do limite estabelecido por Legislação do Mercosul (<0,3 mg.kg-1) (MERCOSUL, 2011). Além disso, também se observaram níveis menores deste metal pesado do que relatado em outro estudo que avaliou os méis de Apis mellifera de 08 estado brasileiros, no qual a variação foi de 0,2 a 0,44 mg.kg-1 (PEREIRA, 2010). Portanto, com os níveis de metais pesados analisados são seguros, não há evidências de poluição ambiental nas localidades por estes metais, podendo, os altos teores de cinzas, estarem relacionados com a manipulação e beneficiamento ao invés do material de partida recolhido pelas abelhas. Sendo assim, recomenda-se a implantação das boas práticas apícolas na região norte e médio norte mato-grossense. Além disso, estudos posteriores serão realizados incluindo as análises de pólen apícola, pois segundo Magalhães (2010) o pólen foi considerado melhor bioindicador ambiental que o mel, por se constituir predominantemente de grãos de pólen, refletindo a contaminação ambiental externa. 4. CONCLUSÕES Conclui-se que, mesmo alguns méis apresentando altos teores de cinzas, todos apresentaram níveis seguros de metais pesados (Cu, Pb, Cr e Cd), revelando que não há poluição ambiental provenientes destes metais pesados investigados nas localidades de produção de méis no norte e médio norte do estado de Mato Grosso. Realização Informações http://www.ufrgs.br/sbctars-eventos/ssa5 Fone: (51) 2108-3121 Organização 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, D. R.; SILVA, R. H. D.; SOUSA, J. S. Avaliação da qualidade físico-química do mel comercializado na cidade de Catro, CE. Revista de Biologia e Ciência da Terra. Campina Grande, v.6, n.1, p. 51-55, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 685, de 27 de agosto de 1998. Aprova o Regulamento Técnico: "Princípios Gerais para o Estabelecimento de Níveis Máximos de Contaminantes Químicos em Alimentos" e seu Anexo: "Limites máximos de tolerância para contaminantes inorgânicos". Diário Oficial da União. Brasília, 27 de agosto de 1998. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instrução Normativa 11, de 20 de outubro de 2000, Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel. Disponível em: http://www.engetecno.com.br/port/legislacao/mel_mel_rtfiq.htm. Acesso em: 22 de novembro de 2014. CODEX ALIMENTARIUS COMMISSION. Official methods of analysis. Vol. 3, Supl. 2, Ed. 1990. CONTI, M. R.; BOTRE, F. Honey bees and their products as potential bioindicators of heavy metals contamination. Environmental Monitoring and Assesstment. Vol. 69, p. 267-282, 2001. EPIFÂNIO, A. F. R. P. Determinação de metais pesados em mel nacional por espectrometria de absorção atômica. Dissertação (mestrado em Segurança Alimentar), 2012, 63 p. Universidade Técnica de Lisboa. Faculdade de Medicina Veterinária. Lisboa, 2012. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Levantamento sistemático da produção agrícola. Rio de Janeiro, v. 26, n. 1, p. 1-83, jan. 2013. MAGALHÃES, M. S. Mel e pólen de abelhas Apis mellifera como bioindicadores de poluição ambiental por metais pesados. Dissertação (mestrado em Ecologia de Biomas Tropicais), 2010, 68 p. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto, 2010. MERCOSUL. Resolução 12/11. Regulamento técnico Mercosul sobre limites máximos de contaminantes inorgânicos em alimentos. Assunção, 17 de julho de 2011. PEREIRA, L. L. Análise físico-química de amostras de méis de Apis mellifera e meliponídeos. Dissertação (Mestrado em Entomologia), 2010. 84 p. Escola Superior de Agricultura “Luiz d Queiroz” – Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2010. VEIGA, M. M; SILVA, D. M.; VEIGA, L. B. E.; FARIA, M. V. C. Análise da contaminação dos sistemas hídricos por agrotóxicos numa pequena comunidade rural do Sudeste do Brasil. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, p. 2391-2399, 2006. Realização Informações http://www.ufrgs.br/sbctars-eventos/ssa5 Fone: (51) 2108-3121 Organização