11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas GRÃO DE MILHETO E GLICEROL COMO FONTES ALTERNATIVAS DE ENERGIA NA TERMINAÇÃO EM CONFINAMENTO DE TOURINHOS: DESEMPENHO PRODUTIVO E AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL Djacir Luiz Batista Santos 1; Fabrícia Rocha Chaves Miotto 2 1 Aluno do Curso de Zootecnia; Campus de Araguaína; e-mail: [email protected], PIBIC/UFT Orientadora Curso de Zootecnia; Campus de Araguaína; e-mail: fabriciarchaves@ mail.uft.edu.br 2 RESUMO: Objetivou-se com este trabalho determinar a influência de fontes energéticas alternativas para alimentação de bovinos sobre o desempenho produtivo e o comportamento ingestivo. Foram utilizados 24 bovinos machos inteiros, sendo 12 mestiços de origem leiteira e 12 animais nelores confinados por 84 dias recendo as dietas com relação volumoso:concentrado de 10:90. Os animais foram distribuídos em três tratamentos (dietas): 1º – fornecimento de concentrado padrão à base de milho e farelo de soja; 2º – inclusão de 12% de glicerol na dieta total (base na matéria seca - MS), o substituindo o milho; 3º – inclusão de milheto na dieta total, substituição total do milho e do farelo de soja. O delineamento experimental utilizado foi um arranjo fatorial 2x3. Os animais nelore tiveram seu consumo matéria seca (CMS) reduzido quando alimentados com as dietas padrão e milheto, não havendo modificação no CMS dos animais mestiços. Os animais mestiços apresentaram maior ganho de peso médio diário (GMD) que os animais nelore (1,3 x 0,99 Kg/dia). As dietas experimentais não influenciaram o GMD (1,15kg/dia), peso da carcaça quente (427,5 kg), rendimento da carcaça quente (54,12%) e espessura de gordura subcutânea (2,91 mm). As dietas experimentais não influenciaram a distribuição das atividades diárias, porém em comparação aos animais nelore, os mestiços passaram mais tempo ruminando (309,73 x 206,11 minutos/dia), e menos tempo se alimentando (116,35 x 152.36 minutos/dia). As dietas experimentais atuaram de forma diferente sobre as características de ruminação dos diferentes grupos genéticos. Palavras-chave: biocombustíveis, fibra em detergente neutro, ganho de peso, glicerina bruta, ruminação, subprodutos INTRODUÇÃO O estudo de novos alimentos e de sua influência na produção animal e interferência no comportamento destes é uma ferramenta eficaz na definição de estratégias adequadas de manejo e da alimentação animal. O milheto (Pennisetum americanum (L.)) se constitui em uma forrageira anual de verão de alto valor nutritivo que pode ser utilizada tanto para a produção de grãos quanto de forragens. O teor de amido do grão de milheto é 10 pontos percentuais inferior ao do grão de milho, por outro 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas lado, o teor de proteína bruta do milheto (14 - 16%) é bem superior ao do milho (8 - 9%) (RIBEIRO et al., 2004). Outro alimento alternativo com potencial para o uso na alimentação de ruminantes é a glicerina bruta, subproduto proveniente da produção de biodiesel, sendo estudado como fonte energética alternativa para alimentação de ruminantes. A glicerina apresenta consideráveis valores energéticos, contribuindo para manutenção do conteúdo energético das dietas. Objetivou-se com este trabalho determinar a influência das fontes energéticas alternativas milheto e glicerol sobre o desempenho produtivo e o comportamento ingestivo de bovinos mestiços leiteiros e nelore terminados em confinamento. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 24 bovinos machos inteiros, com idade média de um ano e quatro meses, sendo 12 mestiços de origem leiteira, e 12 animais da raça nelores. Os animais foram distribuídos em três tratamentos. Tratamento 1 – fornecimento de concentrado padrão à base de milho e farelo de soja; Tratamento 2 – inclusão de 12% de glicerol na dieta total (com base na matéria seca- MS), o qual substituiu principalmente o milho; Tratamento 3 – inclusão de milheto na dieta total, substituição total do milho e do farelo de soja (Tabela 1). As dietas padrão, glicerol e milheto apresentaram, respectivamente, 79,5; 76.9 e 81% de MS; 14,2; 15,5 e 12,9% de proteína bruta e 17,3; 17,3 e 16,8% de fibra em detergente neutro. O delineamento experimental utilizado foi um arranjo fatorial 2x3, dois grupos genético e três dietas, com quatro repetições. Tabela 1 – Proporção de ingredientes nas dietas experimentais Item Dietas (% matéria seca) Padrão Glicerol Milheto Silagem de capim elefante 10,00 10,00 10,00 Milho moído médio 77,76 63,16 - Farelo de soja a 45% 9,60 12,50 - Glicerol - 12,00 - Milheto - - 87,36 Núcleo * 2,64 2,34 2,64 * Núcleo contendo ureia, calcário, sal mineral sem cloreto de sódio, monensina sódica e cloreto de sódio (o cloreto de sódio não foi adicionado ao concentrado com glicerol). Os animais foram submetidos a período de adaptação de 14 dias, e o período experimental correspondeu a 84 dias de confinamento. A quantidade de alimento sólido ajustada para permitir 10% de sobra. O fornecimento de ração era realizado uma vez ao dia às 10 horas da manhã. Eram amostrados semanalmente a silagem, os concentrados experimentais e as sobras dos alimentos 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas fornecidos de cada animal para posteriores realização das análises bromatológicas. Os animais foram submetidos a três observações comportamentais de 24 horas: nos dias 1º de outubro; 13 de novembro e 4 de dezembro de 2011. Durante as avaliações comportamentais os animais eram observados quanto ao tempo de despendiam em alimentação, ruminação, ócio e outras atividades. As observações eram feitas a cada cinco minutos. Também foi avaliada a taxa de ruminação, em que era observado o tempo e frequência de mastigadas do bolo alimentar durante o processo de ruminação. O comportamento de ruminação foi realizado durante três dias consecutivos nos quais os animais eram observados durante três períodos do dia (manhã – 06 às 08 horas; tarde – 13 às 15 horas; e, noite - 20 às 22 horas). Para cada animal foi marcado três bolos ruminais por período. As variáveis foram avaliadas estatisticamente por análise de variância, testando-se a interação entre os efeitos de grupo genético e fonte de energia. Quando não houve interação o efeito das fontes energéticas sobre as médias das variáveis foi avaliado pelo teste de Tukey, e os grupos genéticos pelo teste F, ambos a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os animais Nelore consumiram menor quantidade de MS em comparação aos animais mestiços quando submetidos às dietas padrão e milheto, p<0,05 (Tabela 2). No entanto, a dieta contendo glicerol proporcionou mesmo nível de consumo para os dois grupos. A composição genética taurina nos animais mestiços pode ter contribuído para seu maior consumo de MS. Segundo HUNTER & SIEBERT (1985), animais taurinos ingerem mais alimento e utilizam este alimento com mais eficiência quando este é de melhor qualidade. A dieta contendo glicerol pode ter proporcionado maior consumo aos animais nelore tanto pela sua boa palatabilidade, como pela redução dos teores de amido da dieta, reduzindo a capacidade da dieta provocar queda do pH ruminal. A redução do pH do rúmem pode promover quadros de acidose, aos quais os animais zebuínos são mais sensíveis, havendo a consequente redução do consumo de MS. Tabela 2 – Consumo de matéria seca de tourinhos nelore ou mestiços terminados em confinamento alimentados com dietas contendo diferentes fontes energéticas Grupo genético Nelore Mestiço Média Padrão 5,6 bB 8,39 aA 7,0 Fontes de energia Glicerol 7,24 aA 7,84 aA 7,54 Milheto 5,51bB 7,28 aA 6,4 Média 6,12 7,84 Médias seguidas por letras distintas (maiúsculas na linha e minúsculas na coluna) diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,05). 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas Não houve efeito do grupo genético ou a fonte energética sobre o peso final dos animais (p>0,05), Tabela 3. Foi observado maior ganho de peso diário para os animais mestiços, que é explicado pelo maior consumo de MS. Não foi verificado efeito da fonte energética sobre o ganho médio diário dos animais (p>0,05), o que demonstra que o uso do milheto e do glicerol pode ser interessante na substituição de alimentos convencionais, já que não prejudicam o desempenho animal e geralmente têm custo inferior. O peso da carcaça quente, rendimento de carcaça quente e espessura de gordura subcutânea não foram influenciados pelos tratamentos (p>0,05). Tabela 3- Desempenho produtivo de tourinhos nelore ou mestiços terminados em confinamento com dietas contendo diferentes fontes de energia (FE) Variáveis PF, kg GMD, kg/dia PCQ, kg RCQ, % EGS, mm FE Grupo Genético (GG) Padrão Glicerol Milheto Nelore Mestiço 428,88 434,50 419,0 420,75 434,17 1,11 1,18 1,15 0,99 B 1,30 A 236,25 232,44 225,81 232,0 231,0 55,13 53,51 53,91 55,14 53,23 3,10 2,64 3,0 3,12 2,71 p-Valor Dieta GG FE x GG 0,745 0,428 0,753 0,822 0,002 0,77 0,67 0,92 0,27 0,47 0,10 0,14 0,263 0,113 0,084 CV (%) 9,48 18,43 10,1 5,0 19,71 PF – peso final; GMD – ganho médio diário; PCQ – peso da carcaça quente; RCQ – rendimento de carcaça quente; EGS – espessura de gordura subcutânea. O tempo diário disponibilizado para a realização das atividades comportamentais avaliadas não sofreu efeito das fontes de energia utilizadas (p>0,05), com médias de 134,4; 257,7; 734,1 e 313,8 minutos por dia, respectivamente, para as atividades de alimentação ruminação, ócio e outras atividades. Este resultado demonstra que os alimentos milheto e glicerol podem substituir os ingredientes convencionais milho e soja sem alterar o comportamento diário dos animais. Porém os animais nelore ficaram mais tempo em ócio e menos tempo em ruminação do que os mestiços (p<0,05), Tabela 4, o maior tempo diário de ruminação dos animais mestiços pode ser efeito do seu maior consumo de MS. Também foi verificado que os animais nelore passaram mais tempo se alimentando quando comparados aos mestiços. Certamente este resultado reflete o tempo que estes animais passam selecionando o alimento volumoso, buscando consumir maior quantidade de fibra. Tabelas 4 – Atividades comportamentais de bovinos machos nelore ou mestiços terminados em confinamento Grupo genético Nelore Mestiços Média *p<0,05. Ócio* 762,92 705,28 734,10 Atividades, minutos por dia Ruminação* Alimentação* 206,11 152,36 309,31 116,39 257,71 134,38 Outras atividades 318,61 309,03 313,82 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas A dieta com glicerol reduziu o número de bolos ruminais dos animais mestiços (p<0,05), Tabela 5, e proporcionou menor número de mastigações por bolos ruminais nos animais nelore, não havendo modificação na dieta com milheto. Os animais nelore alimentados com as dietas experimentais glicerol e milheto tiveram menor tempo de mastigação por bolo ruminal do que aqueles alimentados com a dieta padrão (p<0,05), não havendo efeito das fontes de energia para os animais mestiços. Verificou-se que as fontes energéticas influenciaram a eficiência de ruminação dos animais nelore, sem alterarem esta variável para os animais mestiços. O glicerol e o milheto proporcionara maior quantidade de MS ruminada por hora (p<0,05). Tabelas 5 – Variáveis de ruminação de bovinos machos nelore ou mestiços terminados em confinamento com diferentes fontes energéticas Grupo genético Nelore Mestiço Média Nelore Mestiço Média Nelore Mestiço Média Nelore Mestiço Média Número de bolos ruminais por dia 231,39 aA 310,26 aA 295,44 aA 277,59 aA 200,46 bA 225,61 aA 51,46 48,17 41,37 Número de mastigações por bolo ruminal 51,17 aA 38,04 bA 38,8 aA 51,75 aA 58,29 aA 43,94 aA 51,46 48,17 41,37 Tempo de mastigação por bolo ruminal, segundos 56,08 aA 40,83 aB 41,17 aB 46,25 aA 52,25 aA 43,42 aA 51,17 A 46,54 42,29 Eficiência de ruminação, kg MS/hora 1,59 aA 2,17 bA 1,71 bA 2,52 aA 3,25 aA 2,77a A 2,06 2,71 2,24 Médias 279,03 234,55 42,67 51,33 46,03 47,31 1,82 2,85 Médias seguidas por letras distintas (maiúsculas na linha e minúsculas na coluna) diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,05); * P>0,05. LITERATURA CITADA HUNTER, R.A. & SIEBERT, B.D. Utilization of low-quality roughage by Bos taurus and Bos indicus cattle. 1. Rumen digeston. British Journal Nutrition, v.53, n.3, p.637-648, 1985. RIBEIRO, C.V.M.; PIRES, A.V.; SUSIN, I. et al. Substituição do grão de milho pelo de milheto (Pennisetum americanum) na ração de vacas em lactação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.5, p.1351-1359, 2004. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT.