Nascimento de S. João Baptista Missa da vigília O texto – Lc 1,5-17 5 6 7 Aconteceu nos dias de Herodes, rei da Judeia: houve um sacerdote de nome Zacarias, sua mulher, descendente de Aarão, Ambos eram justos caminhavam irrepreensíveis em todas as leis e prescrições do da classe de Abias; e o seu nome ( era) Isabel. DIANTE DE DEUS; SENHOR, Mas não tinham filhos, pois Isabel era e ambos eram estéril, avançados nos seus dias. 8 Ora aconteceu enquanto oficiava 9 conforme o costume sacerdotal, coube-lhe por sorte entrando no santuário do SENHOR. no turno da sua classe DIANTE DE DEUS, 10 11 12 13 14 15 16 17 Toda a assembleia do povo estava fora em oração, à hora do Apareceu-lhe um anjo do Senhor, Zacarias perturbou-se ao vê-lo de pé, à direita do altar do e o temor caiu sobre ele. INCENSAR INCENSO. INCENSO. O anjo do Senhor disse-lhe: «Não temas, Zacarias, a tua súplica foi ouvida. Isabel, tua esposa, vai gerar-te um filho E tu o chamarás com o nome de JOÃO. Terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. Pois ele será grande DIANTE DO SENHOR; não beberá vinho nem bebida embriagante; ficará cheio do Espírito Santo desde seio de sua mãe e muitos dos filhos de Israel reconduzirá AO SENHOR SEU DEUS. Ele caminhará À SUA FRENTE, com o espírito e a força de Elias, para reconduzir os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, e preparar AO SENHOR um povo bem disposto». Breve comentário O 1º capítulo do evangelho de Lucas, desde o primeiro versículo em que se fala do «rei da Judeia» até ao último que assinala a manifestação de João a Israel, desenvolve-se num ambiente judaico. Todo o Israel está representado: o sacerdote e o templo, o povo e o réu rei, o profeta e a sua terra. Mas todo o acento está colocado na palavra profética que avança em Israel. O texto lido na vigília da Solenidade do nascimento de S. João Baptista é uma parte do anúncio angélico do seu nascimento. Tudo se passa num ambiente de grande tranquilidade mas com sombras e luzes à mistura. Zacarias (nome que significa «Yahweh recorda») é sacerdote pertencente à oitava das 24 classes sacerdotais que oficiam no templo de Jerusalém. Ele e a sua mulher Isabel (que significa «Deus jurou»), descendente de Aarão, irmão de Moisés e primeiro sacerdote do povo hebreu, cuja mulher se chamava igualmente Isabel, são apresentados justos e irrepreensíveis e, no entanto, parecem ser objecto duma punição divina: não têm filhos porque Isabel é estéril e ambos já são avançados na idade. Dá a impressão que estamos perante a história de Abraão, isto é, num recomeçar da (nova) história. Zacarias está no exercício das suas funções, o que acontecia duas vezes por ano, durante duas semanas. Todas as manhãs havia um sorteio para marcar as funções para o resto do dia. O ofício mais solene era a oferta do incenso dentro do santuário, de manhã antes do holocausto e às três horas tarde; cada sacerdote só podia exercer esta função apenas uma vez em toda a sua vida. É precisamente nesta função que se desenrola o anúncio angélico. Enquanto comunica a Zacarias que a sua súplica para ter um filho foi ouvida, o anjo Gabriel descreve a missão do filho que Isabel irá dar à luz. Em primeiro lugar, revela o seu nome que é um programa-resumo: João significa «Yahweh concede graça» (Yo-hānan), exprimindo assim a resposta de Deus às súplicas de Zacarias. O anjo sublinha depois a alegria que o nascimento daquele menino irá representar e a sua consagração em vista à missão particular. João é apresentado como os traços tradicionais do «consagrado» (nazireu: cf. Nm 6,3), fazendo lembrar a figura de Sansão (Jz 13,4.13-14). Esta missão consiste em caminhar à frente do Enviado de Yahweh «com o espírito e a força de Elias», isto é, na qualidade de profeta. A plenitude do Espírito já desde o seio materno apresenta João na linha do profeta Jeremias (cf. Jr 1,5) e o seu papel de reconciliado messiânico realiza a esperança anunciada por Malaquias mesmo no final do Antigo Testamento (Ml 3,24). Ele deve preparar o povo para a instauração do Reino de Deus. P. Franclim Pacheco Diocese de Aveiro Missa do dia O texto – Lc 1,55-66.80 57 58 59 Ora, para Isabel cumpriu-se o tempo de dar à luz e ela deu à luz um filho. Os VIZINHOS e parentes OUVIRAM que o Senhor tinha feito grande a sua misericórdia COM ELA e alegraram-se com ela. E aconteceu que, no oitavo dia, vieram para circuncidar o menino. CHAMAVAM-NO 60 Respondendo, sua mãe disse: 61 Disseram-lhe: com o nome do pai: Zacarias. «Não; há-de chamar-se João». «Não há ninguém da tua parentela CHAMADO com esse nome». 62 Faziam sinais ao pai dele como queria que ele se CHAMASSE. 63 Pedindo uma placa, escreveu: «João é o seu nome». E todos se admiraram. 64 65 66 80 Imediatamente abriu-se a sua boca e a língua e falava, bendizendo a Deus. O temor apoderou-se de todos os seus VIZINHOS, e por toda a montanha da Judeia se discorria sobre estas coisas. Quantos as OUVIAM, conservavam-nas no seu coração, dizendo: «QUE VIRÁ A SER ESTE MENINO?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. Ora, o menino crescia e fortalecia-se no seu espírito e estava em (lugares) desertos, até ao dia da sua manifestação a Israel. Breve comentário Conforme o anjo tinha anunciado a Zacarias, Isabel deu à luz um filho. Também os festejos tinham sido anunciados: «Terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento». Para o povo judeu a circuncisão feita no oitavo dia do nascimento era uma sinal da aliança concluída entre Yahweh e a nação. O cumprimento deste rito não era reservado aos sacerdotes pois até as mulheres, pelo menos numa época tardia (2Mc 6,60), podiam circuncidar, mas o costume devia ser o de mandar vir o encarregado local. No tempo de Jesus só no momento da circuncisão o menino recebia o nome. Pode ligar-se este uso ao facto de Deus ter mudado o nome de Abraão e de Sara com a declaração sobre a lei da circuncisão (Gn 17,5.15). Não era hábito dar ao filho o nome do pai, dado que os povos daquela zona, como muitos outros povo, diferenciavam as pessoas de um certo clã acrescentando o nome do pai (como Simão filho de Jonas; Mt 16,17). No caso de João, talvez a avançada idade do pai sugerisse um procedimento diferente. O dar o nome à criança poderia caber tanto ao pai como à mãe. O Antigo Testamento está repleto de exemplos que atestam este costume. O facto de Isabel indicar «João» como nome da criança provocou certa objecção, talvez por ser hábito nessa altura escolher um nome que já existisse na família, o que não seria o caso de «João». Zacarias, mudo desde a aparição do anjo, pediu uma placa para confirmar: «João é o seu nome». Fica assim reconhecida a autoridade da mensagem divina. Já Deus, por meio do anjo, tinha dito a Zacarias qual seria nome do seu filho: João, que significa «Yahweh concede graça» (Yo-hānan). Os momentos incompreensíveis que os vizinhos viveram, o facto de velhos terem um filho e tudo o que rodeou, causam admiração e um certo sentimento de algo mais profundo. Aquela criança era diferente das outras: Que virá a ser aquele menino? O que é que Deus quer dela? O texto termina laconicamente, não respondendo directamente à questão, mas apontando para a sua manifestação a Israel. P. Franclim Pacheco Diocese de Aveiro