News A revista do Grupo LET Recursos Humanos N0 26 | Março / Abril | 2011 | Ano 5 www.grupolet.com “Papai...eu tenho uma ideia!” Como a atitude de escutar os filhos pode gerar inovação na Gestão de Pessoas – Pág. 6 Opinam sobre o tema: Roberto DaMatta, antropólogo e colunista de O Globo Eva Hirsch, Professional Certified Coach pela ICF Flávio Guimarães, Diretor de Operações da Radix Engenharia e Software e sua filha Nina, de sete anos ENTREVISTA Carmelo de Luca Neto (Frescatto) comprova que a Educação pode transformar um ambiente de trabalho – Pág. 3 ESPECIAL Afinal, por que as empresas buscam ser “Melhores para Trabalhar” – Pág.12 entrevista “Os links entre Educação e o RH” Caros leitores, esta edição fazemos diversos links entre Educação e Recursos Humanos. Em nossa matéria de capa, fomos buscar entender porque a relação, as conversas e a valorização das ideias de filhos com idades entre quatro e 11 anos, mais ou menos, podem inovar e transformar o modelo mental de muitos processos na Gestão de Pessoas. Líderes da Radix Engenharia e Software e da Fedex comprovam isso. Abalizamos o conteúdo com “craques” que sabem o que falam em seus segmentos: o antropólogo Roberto DaMatta e a coach internacional Eva Hirsch. E no bê-a-bá das práticas de liderança, investir na educação fundamental e na cidadania de seus funcionários é fator chave para o sucesso do negócio. Assim pensa o nosso entrevistado da edição, Carmelo De Luca Neto, Diretor Administrativo da Frescatto, empresa líder no segmento de pescados. Sérgio Besserman, um dos mais respeitados economistas do Brasil e fonte de consulta de veículos de todas as tendências e expertises, também nos transmite lições importantes sobre consciência ambiental e nos ajuda a entender um pouco mais sobre essa palavrinha que será cada vez mais usada no mercado: S-u-s-t-e-n-t-a-b-i-l-i-d-a-d-e. Nos faz muitíssimo bem separar cada letra. Continuando a realizar links...em um mercado onde fazer benchmark também é uma prática educativa, pesquisamos junto ao Great Place Work® Institute (GPTW) e mais seis empresas que estão entre as Melhores para Trabalhar no Brasil porque é importante ter esta qualificação e participar das competições das listas, prática existente por aqui desde 1997. Ruy Shiozawa, CEO do GPTW, nos revela informações especialíssimas sobre as vantagens de “ser uma melhor empresa para trabalhar”. NEWSLET também apresenta suas dicas de livros, a seção Onde Está Você e abre espaço para homenagear os 18 anos de um parceiro muito estratégico para nós: a G Infor. N Joaquim Lauria Diretor Executivo do Grupo Let Recursos Humanos Boa leitura! Dicas NewsLet - Livros Ser aderente à qualidade, com alta capacidade de se relacionar com pessoas de todas as tendências, rapidez de adaptação às mudanças e visão de carreira, são apenas algumas das características que qualquer executivo busca em um profissional. Os autores deste autêntico “guia para ser caçado” embasam sua argumentação com dados sólidos de pesquisas e exemplos edificantes. “Storytelling – Líderes Narradores de Histórias”, de Gislayne Avelar Matos – Qualitymark Editora “Demitido – Quando é Preciso Tirar a Camisa”, de Floriano Serra – Qualitymark Editora Discursos racionais não funcionam mais para muitos tipos de público quando se precisa de um resultado rápido e eficaz em termos de engajamento. A autora desta obra que o diga: uma profissional que se dedicou com profundidade ao estudo da utilização de contos como recurso terapêutico e educacional também no meio corporativo. Gislayne esclarece, sobretudo, como as sutilezas contidas nas lições de cada conto podem gerar contribuições nas mais diversas “ferramentas” da Gestão de Pessoas. Preservar a autoestima e a capacidade de se manter competitivo são fatores mais importantes em uma demissão do que os trâmites burocráticos. O autor oferece informações mais do que úteis, práticas e simples de serem aplicadas para que o demitido consiga administrar seus sentimentos e não cair em “armadilhas” que o deixem em estado depressivo – fator este que o afasta de uma recolocação. São palavras importantes mas que, para “sair do papel”, não podem prescindir de alta dose de determinação. “Seja o CEO da sua vida”, de Hubert Rampersad – Qualitymark Editora Desenvolver a consciência de que cada um tem e pode aprimorar sua “marca pessoal”. Buscar um auto-conhecimento para lidar com precisão com aquilo que você tem de melhor é atualmente uma moeda preciosa no mercado, bem como ligar o bem-estar pessoal ao profissional e viveversa. E isso não será possível, segundo Hubert se o profissional não estiver “se sentindo psicologicamente conectado com o que está fazendo”. ENTREVISTA Grupo LET Recursos Humanos Membro Oficial Matriz Centro Empresarial Barra Shopping Av. das Américas 4.200, Bloco 09, salas 302-A, 309-A – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 3416-9190 - CEP – 22640-102 Site: http://www.grupolet.com Escritório LET – Rio de Janeiro (RJ) – Centro - Avenida Rio Branco 120, grupo 607, sala 14, Centro, Rio de Janeiro (RJ) – tel.: (21) 2252-0780 Escritório LET – São Paulo (SP) – Vila Carrão – Rua Bonfim 121, Vila Carrão São Paulo – Tel: (11) 2227-0898. Escritório Juiz de Fora (MG) – Rua Fernando Lobo 102, sala 804, Ed. Europa Central Tower, Centro - Juiz de Fora (MG) - Brasil – Cep: 36016-230, Tel.: (32) 3211-5025 Escritório Belo Horizonte (MG) Rua São Paulo 900, Salas 806 e 807, Centro, Belo Horizonte - Cep: 30170-131 Tel.: (31) 3213-2301 Diretor Executivo: Joaquim Lauria “O Profissional Dez – Como ser um profissional procurado por dez entre dez empresários”, de Luiz Paschoal, Ana Janete Pedri e Rodrigo Lorenzo Paschoal – Qualitymark Editora 2 | Março / Abril | 2011 Expediente Diretor Adjunto: Kryssiam Lauria Revista News Publicação bimestral Março / Abril 2011 Ano 5 – Nº 26 Tiragem 1.500 exemplares Jornalista responsável (redação e edição): Alexandre Peconick (Comunicação Grupo LET) Mtb 17.889 / e-mail para [email protected] Diagramação e Arte: Murilo Lins ([email protected]) Foto da Capa: Gilvan de Souza Oportunidades: Cadastre seu currículo diretamente em nossas vagas clicando www.grupolet. com/vagas/candidato e boa sorte! Impressão: Walprint Gráfica e Editora Ltda. Endereço: Rua Frei Jaboatão 295, Bonsucesso – Rio de Janeiro – RJ E-mail: [email protected] Tel: (21) 2209-1717 especial Carmelo De Luca Neto Diretor Administrativo da Frescatto O “Pescador” de Gente E le é um dos 18 netos do “Vovô Jahu”, como era carinhosamente conhecido o fundador do Frigorífico Jahu (1945). Aos 42 anos, casado, pai de duas filhas, Carmelo De Luca Neto administra a Frescatto, marca de pescados hoje líder nacional em seu segmento, incluindo uma estrutura de captação por todo o litoral brasileiro e atuando há mais de 30 anos na importação de pescados. Mas para que os produtos sejam um sucesso, como reconhece, é preciso que a empresa cuide com carinho de seu principal ativo: suas pessoas; muitas delas moradoras de comunidades do entorno da fábrica, em Duque de Caxias (RJ). Se “cuidar” rima e nos leva a pensar em “educar”, a Frescatto faz, desde 2007, exatamente isso. Por meio do programa, que no início era o “Classe Anexa” e hoje tem o nome de “Mais Saber”, em parceria com o Sistema Firjan (SESI – Duque de caxias-RJ) ensina cidadania e disciplinas de nível fundamental aos seus funcionários, muitos dos quais (no setor operacional), analfabetos ou semi-analfabetos ao ingressar na empresa. NEWSLET – Como surgiu a demanda de se criar um programa educativo para os colaboradores da Frescatto? Carmelo De Luca Neto – Percebíamos que tínhamos funcionários com excelente potencial, mas que não sabiam ler. Alguns até nos causaram surpresa: eles sabiam que aquela palavra significa determinado peixe porque “fotografavam” a palavra com os Foto: Divulgação Frescatto Editorial Papo com o leitor Foto: Army Agency / Renan Monteiro institucional Carmelo De Luca Neto (à direita) entrega o diploma do nível fundamental a um dos funcionários da Frescatto olhos. Alfabetizar é oferecer um conforto maior a esta mão de obra. NEWSLET – E os primeiros resultados? NEWSLET – E como foi implementada esta prática educativa? Carmelo De Luca Neto – Com a formatura da primeira turma o programa ganhou maior credibilidade, e hoje é um sucesso entre colaboradores e gestores. As aulas acontecem quando eles saem do expediente. Tem de 18h às 20h e de 20h às 22h. Os docentes são da Firjan. Estamos atingindo nosso objetivo de estimular o aprender com autonomia, desenvolvendo habilidades que permitam ao aluno resolver satisfatoriamente as questões surgidas no seu dia a dia. Em 2010 tivemos uma turma com 15 formandos. Fizemos uma festa com beca. Eles trouxeram as famílias e receberam diplomas. Carmelo De Luca Neto – Em 2007 procuramos o Sistema Firjan, que por meio do SESI, implementou uma “escola” em salas aqui dentro. Eles já têm programas corporativos de educação. Era complexo convencer o funcionário que ele precisa estudar. E este método da Firjan é interessante porque você coloca pessoas que não sabem ler e escrever, dentro da mesma sala que pessoas que já estão em fase mais adiantada de alfabetização. Ao invés de gerar conflito, provoca uma saudável interação entre eles. Um ajuda o outro. No primeiro ano tivemos o período de adaptação dos alunos, com muitas expectativas e entusiasmo. NEWSLET – Em quê consiste o conteúdo das aulas? Março / Abril | 2011 | 3 FAMÍLIA LET Carmelo De Luca – Não é apenas alfabetizar. Eles recebem noções amplas de cidadania, ensino de matemática, ciências, geografia, história do Brasil e do mundo. É um colégio! E mesmo quando começa a ler, este não é o mais importante. A pessoa aprende a articular ideias, a desenvolver a capacidade de argumentação, de conscientização e de fluência também na linguagem oral. Hoje nosso programa vai até a 4ª série e prepara ao nível médio. As pessoas não são obrigadas a irem à escola. Nós fazemos campanhas internas de motivação, mostrando os benefícios gerados pelas aulas, não apenas para eles, como também para a empresa. Os trabalhos deles também são expostos. NEWSLET – Esse programa ajuda a engajar o funcionário à Frescatto? Carmelo De Luca – Muito! Eles começam a olhar o mundo de outra forma e nós começamos a olhá-los também de outra forma. É muito legal passar na sala de aula e olhar os trabalhos que eles fazem, ver a melhoria de perspectiva deles. Costumo fazer isso, com uma satisfação imensa! NEWSLET – Tem algum exemplo interessante que possa citar? Carmelo De Luca – Há um funcionário cujo apelido é “Isopor”. Ele não sabia ler e nem escrever quando começou em nossa escola. Após ter sido alfabetizado, participou de um concurso externo de redação, sendo um dos primeiros classificados. Redigiu um belíssimo texto sobre “Meio Ambiente” que foi até publicada no livro Magia da Criação, da rede SESI. NEWSLET – E qual é o retorno que este programa tem para o funcioná4 | Março / Abril | 2011 rio na melhoria de sua relação com a sociedade? Carmelo De Luca – Muito positivo. Em 2010, por exemplo, fizemos um programa em vídeo para trazer mais alunos para dentro da sala de aula no qual gravamos depoimentos daqueles que já tinham passado ou estavam passando pelo curso. Eles diziam coisas muito bonitas, como a do prazer em ler as notícias em uma banca de jornal. Outra história bacana é a da Lídia, copeira. Brincávamos que ela não sabia cozinhar direito e que só fazia sopa. Depois que ela começou a estudar conosco, virou uma “devoradora” de receitas de livros de culinária. Hoje cozinha que é uma loucura e recebe elogios de todos. “Depois que ela começou a estudar conosco, virou uma “devoradora” de receitas de livros de culinária. Hoje cozinha que é uma loucura” Carmelo De Luca Neto NEWSLET – Esse trabalho educativo melhorou também o seu nível de interatividade com os funcionários na medida em que eles passam a se comunicar melhor? Foto: Alexandre Peconick Entrevista Carmelo De Luca – Sim. É notável perceber como o programa desenvolve uma visão crítica da realidade, eleva-se a auto-estima e a autonomia dos funcionários, promovendo neles um desejo maior de construir sua história de sucesso junto a Frescatto. NEWSLET – Oferecer Educação é um benefício tão importante quanto um bom salário? Carmelo De Luca – Educação é muito mais importante. O salário é finito, mas a Educação não acaba nunca. Mesmo quando a pessoa sai daqui, a Educação ela leva para o resto de sua vida. Por isso, também investimos e estimulamos a leitura e a pesquisa, através do Projeto Literatura em Movimento, no qual oferecemos aos funcionários acesso a nossa biblioteca que dispõe de diversos livros didáticos em seu acervo. NEWSLET – Como é feita a melhoria contínua do programa “Mais Saber”? Carmelo De Luca – Está sempre sendo discutida a continuidade. Não queremos parar na 4ª série. Vamos evoluir para oferecer o nível médio também. Do outro lado de nosso quadro funcional, recentemente fizemos um workshop de gestores para desenvolver as práticas de liderança. Os gestores da empresa também têm subsídios que os ajudam a financiar um curso superior ou uma pós-graduação. NEWSLET – Há alguma ferramenta de melhoria do “Mais Saber” que inclua ouvidoria aos funcionários? Carmelo De Luca – Ouvir as pessoas é uma prática que está em nossa cultura desde sempre. E x-Representante da Direção do Grupo LET na jornada do Sistema de Gestão da Qualidade e responsável pelo planejamento operacional da empresa (janeiro de 2005 a fevereiro de 2008), ele hoje, aos 32 anos, é Coordenador de Armazém do Grupo Libra, grande organização de terminais portuários do setor de Logística. Seu nome: Guilherme Vidal. Sua missão ao iniciar no Grupo Libra já em fevereiro de 2008, como Analista de Planejamento, era a de realizar estudos que viabilizassem melhorias de processos e alternativas para agregar valor ao negócio da empresa. A experiência obtida por meio da implementação da ABNT NBR ISO 9001:2000 no Grupo LET contribuiu muito para a sua formação. “Aprendi que o que não se mede, não se melhora”, confirma. Seis meses de transformações proporcionadas pelo seu trabalho foram suficientes para uma promoção a Coordenador de REDEX (Recinto Especial para Desembaraço de Exportação) quando passou a gerir uma equipe de 40 pessoas. guilherme vidal Em outubro de 2009, Guilherme foi convidado a assumir um segmento mais nobre da empresa: a Coordenação do Armazém de Importação, no Porto do Rio de Janeiro, onde se encontra até hoje. Às sete da manhã já está no trabalho, cuja dinâmica, ele garante, é bem interessante: nunca há um dia igual ao outro. “Lidar com pessoas, conflitos, é um grande desafio; mas a experiência, contudo, torna as coisas mais fáceis”, admite o jovem executivo. Experiência de quem em 2007 assumiu a função de representar a diretoria do Grupo LET no processo de criar e implementar o Sistema de Gestão da Qualidade ABNT NBR ISO 9001:2000. “Cresci muito profissionalmente ao ter que lidar diretamente com as várias pontas do processo e por ajudar a promover grande mudança cultural”, lembra. O contato diretor com o engenheiro Gilberto Sampaio, o consultor que auxiliou o Grupo LET na sistematização do trabalho foi, segundo Guilherme, extremamente proveitoso para ele em termos de conteúdo novo, como por exemplo, escrever um procedimento por meio de um fluxograma ou monitorar processos. “Isso pare- ce simples, mas existe uma técnica para fazer bem e entender o porquê de estar fazendo”, justifica. Com Joaquim Lauria, Diretor Executivo do Grupo LET, o Coordenador de Armazém do Grupo Libra revela ter agregado uma nova visão em desenvolvimento de pessoas. “Grande empreendedor, Lauria tem a capacidade de transformar a água em um bom vinho; ele aposta em talentos e mostra a todos como se faz para gerir equipes unidas com alto desempenho”, avalia. Em seu atual trabalho, Guilherme continua usando esse background aprimorando pessoas. O pulo-do-gato, segundo ele, foi o de identificar na equipe que lá já estava os talentos que poderiam ficar e melhorar ainda mais esta equipe recrutando novos talentos. “Trouxe do Grupo LET a filosofia de formar profissionais; fui aos poucos contratando gente e os capacitando em job rotations; a cada dois meses os estagiários estavam desenvolvendo um processo diferente”, conclui. Mesmo tendo se identificado com o setor de Logística, Guilherme Vidal afirma que não está fechado. “Adoro novidades”, diz. Março / Abril | 2011 | 5 CAPA/ COMPORTAMENTO DE LÍDER Foto: Serena DaMatta Foto: Gilvan de Souza CAPA/ COMPORTAMENTO DE LÍDER Roberto DaMatta sugere o filme “Quero Ser Grande” (1988), com Tom Hanks, como um exemplo ideal da contribuição que o universo da criança pode dar à gestão empresarial Flavio Guimarães com os filhos Nina, Dante e Theo, da esquerda para a direita em momento de interação e aprendizado Ajudando o papai a pensar O “fora da caixa”... mundo, corporativo ou não, pede que o ser humano seja inovador. Nas organizações, agir conforme descrição de cargos e organogramas já não é suficiente para garantir a esperada qualidade. Gestores têm percebido que os batepapos com seus filhos – em geral com idades entre quatro e 11 anos – ou a simples observação da forma como eles brincam em casa, podem proporcionar ideias e decisões muito interessantes com assertividade comprovada. 6 | Março / Abril | 2011 Na empresa o “papai” é um profissional que lidera uma grande equipe, com muita decisão para tomar e pouco tempo para aplicá-las. Ao chegar em casa, os atentos minutos que pode destinar a uma conversa com o filho podem ajudá-lo, de forma decisiva, a pensar “fora da caixa”, a enxergar melhores soluções. Flávio Guimarães, Diretor de Operações da Radix Engenharia e Software, empresa criada há exato um ano por ex-fundadores da Chemtech, tem 40 anos e três filhos: Theo de oito anos, Nina de sete e Dante de três. Ele admite que sua forma de agir profissionalmente se aprimorou muito após a experiência de se tornar pai. De alguém que se cobrava (e cobrava dos outros) excessivamente e com muita ansiedade, passou a um gestor com extrema paciência e muito mais respeito pelas individualidades. Em uma simples experiência de montar estrada de ferro com os filhos, ouvindo a frase, “não papai, a pista vai ficar mais legal se eu montá-la desse outro jeito”, Flavio diz ter melhorado, na prática, o conceito de que não se pode impor uma tarefa a ninguém. Con- versando e observando Theo, Nina e Dante, o Diretor da Radix admira o que eles fazem com objetos aos transformá-los em brinquedos. “Isso reacende minha criatividade e me faz entender de forma mais clara como outra opinião pode ser mais completa e gerar melhor solução; o trem não precisa nem andar sobre o trilho, isso significa que não é sempre que devemos nos prender às regras de um jogo”, esclarece Flavio. Transpondo para a empresa, esta postura acelera a tendência de uma gestão participativa, com divisão de decisões e responsabilidades. Para Roberto DaMatta, maior antropólogo da América Latina e autor de coluna fixa no jornal O Globo, a criança tem em um diálogo ou em uma atitude a capacidade de quebrar o óbvio diariamente. “O sal da terra é a possibilidade de se alternar soluções, que a criança faz, por exemplo, ao usar um brinquedo de forma inusitada ou ao perguntar algo que jamais alguém imaginaria”, explica DaMatta. Consciente da exata noção de valor gerada pelo tempo passado com os filhos, Flávio Guimarães procura destinar uma prioridade a eles em sua agenda, inclusive abrindo espaço para que eles participem de atividades da empresa que integram pais e filhos ao dia a dia do trabalho e às ações sociais. Mas uma experiência marcante com o filho Theo se passou, segundo ele, em casa, diante de um comercial de veículo na TV. “Papai, compra um carro desse?!”, pediu Theo. Flavio retrucou: “Para isso eu teria que trabalhar pra caramba”. Theo fixou o olhar no pai e disparou: “Pai, você já trabalha pra caramba”. Flavio percebeu a reação do filho e reformulou seu pensamento: “Tem razão filho, papai precisa trabalhar de forma mais inteligente”. E isso se refletiu na empresa. “Passo à minha equipe que se fizemos mais trabalho em menor espaço de tempo, será mais proveitoso para o bem-estar de todos”, conta o executivo que admite: “ao ensinarmos os filhos a pensar, os ouvimos mais e reeducamos nosso próprio pensamento”. Para Roberto DaMatta, Flavio fez mais do que ouvir, ele escutou, processou a informação e interagiu. Usou a visão holística, uma competência que classifica como “imprescindível” na atualidade. “Ouvir uma criança, é como ouvir um E.T., é decifrar o inconsciente da sociedade, ou seja, aquilo que não está classificado, escrito ou nomeado, mas que traduz um sentimento genuíno, sem barreiras”, argumenta o antropólogo autor de inúmeros artigos nacionais e inMarço / Abril | 2011 | 7 CAPA/ COMPORTAMENTO DE LÍDER 8 | Março / Abril | 2011 Foto: Divulgação ternacionais que se debruçam sobre as potencialidades e soluções para o Brasil. DaMatta defende que crianças e idosos são privilegiados, os primeiros por não terem entrado no “sistema” e os segundos por já terem se livrado dele. Ele enfatiza que o valor da criança em inovar mesmo diante do que não conhece está em seu distanciamento para o problema. “A criança muitas vezes enxerga melhor o mundo do adulto porque não pensa em problemas ou porque não parte do pressuposto de que existe um problema”, afirma DaMatta. Antropólogo com Doutorado em Harvard, ele avalia que a criança tem “uma certa densidade emocional” que, em geral, o adulto recalca ou abafa. “Para o adulto o problema nos negócios, se sair do técnico, é no máximo intelectual, quando a criança consegue enxergar o lado emocional e muitas vezes a solução não pode prescindir disso”, analisa. Foi a exata experiência pela qual passou João Carlos Chachamovitz, de 44 anos, Diretor Executivo da Radix Engenharia e Software que certa vez ouviu de seu filho Eduardo Firmo, o “Firminho”, de sete anos: “pai você tem um problema, mas também tem a sua vida e brincar também é importante”. Mesmo que pareça óbvio – mas como dizia sabiamente Nelson Rodrigues “é preciso indagar sempre o óbvio, porque na verdade o óbvio ninguém vê” – esta situação passou a João Carlos a lição de que a nossa vida precisa ser muito maior do que qualquer problema que possamos ter. “Depois de ser pai, descobrimos que o ato de brincar, no bom sentido, é saudável para que sejamos mais flexíveis e melhores profissionais”, sintetiza João Carlos, que também é pai de Daniel, de três anos. Chachá, como é conhecido na empresa, reconhece que com os filhos também melhorou sua capacidade de negociar, de ceder quando é preciso e Foto: Divulgação CAPA/ COMPORTAMENTO DE LÍDER Contato marcante A relação de Eduardo Mezei (RH da Fedex) com o filho Thomas (seis anos) inspirou a criação e aplicação de práticas de Inteligência Emocional João Carlos Chachamovitz e sua equipe: muitas ideias vivenciadas no trabalho se inspiram na relação com os filhos de lidar com a proatividade inesperada, duas novas “competências” muito úteis no trabalho com sua equipe quando se monta ou planeja um projeto de engenharia. “A criança muitas vezes toma atitudes inesperadas, sem te consultar; meu filho Daniel é muito criativo, quando está muito quieto, sei que algo diferente está para acontecer; na empresa também temos que nos preparar e incentivar o inesperado, a atitude autônoma de cada um, pois isso motiva as pessoas a se sentirem como parte importante do negócio”, destaca o Diretor da Radix. “Meus filhos me ensinam a cada dia que não devemos raciocinar se- guindo padrões ou modelos prontos; há mudanças de direção constantes em qualquer forma de se lidar com pessoas, e a vantagem de entender crianças é que eles nos mostram,sem qualquer vergonha ou máscara que é preciso olhar uma prática por diversos ângulos”, ensina Chachá. Esse treinamento emocional também enriquece a produtividade de Eduardo Mezei, Gerente de RH para a América do Sul da Fedex. Aos 43 anos e pai de Thomas, de seis, ele assegura valorizar ao máximo o tempo que tem para ouvir ou mesmo surfar junto com o filho nas ondas de Ubatuba, litoral paulista. Sobre o trabalho do pai, Thomas pergunta de tudo um pouco: “O que é ser chefe?”, “O que é demitir?”, “O que é contratar?” “Ao pensar nas respostas, refaço modelos mentais, desenvolvo práticas de inteligência emocional e também me aprimoro com desafios teoricamente banais como o Thomas colocar o dedo na tomada só para testar meu limite”, conta Eduardo. O Gerente de RH da Fedex explica que quando melhoramos a nossa capacidade de relacionamento com uma criança que sempre nos desafia é como se na empresa ganhássemos mais condições para, por exemplo, orientar o funcionário para assumir uma postura mais adequada do que aquela de colocar a desculpa do atraso no trânsito. “É preciso explicar que á culpa é dele”, diz, sem rodeios. As reflexões sobre os diálogos com o filho, também contribuíram para que Mezei implementasse na Fedex um treinamento de Inteligência Emocional que dura seis segundos. Trata-se de um exercício que melhora a capacidade de cada pessoa de reagir com eficácia a certas situações que nos pegam de surpresa. “Filhos sabem exatamente o que fazer para que queiramos voar pelo telhado; por isso não podemos usar, seja com eles ou com os fun- cionários na empresa, a atitude de agredir, isso só gera o medo e inibe a criatividade”, considera. A frase “Cada um é cada um”, dita por Thomas tem estrutura simples, mas seu forte significado marcou a capacidade do pai em se relacionar com os funcionários. Parece comum, mas também é vital a prática diária de Flávio, João Carlos e Eduardo estimularem seus filhos não apenas a experimentar, errar e aprender com os erros, como também a perguntar e muito. A convivência intensa com a famosa “fase dos porquês” de uma criança, pode ser, como acreditam Roberto DaMatta e Eva Hirsch Pontes, coach com certificação pela International Coach Federation (ICF), muito proveitosa para que o líder empresarial se renove. Segundo Eva, a criança tem um importante papel ao fazer perguntas, que é o de recuperar no adulto a curiosidade daquele que volta a reconhecer o valor do “eu não sei”. “O filho diz ao pai todos os dias que ele pode errar, descobrir e ter a coragem de sempre perguntar”, explica a coach, que tem três décadas de experiência em cargos de liderança. Traduzido para o coaching, segundo ela, a “fase dos porquês” seria um “e o quê mais?”, ou seja, a criança não se contenta com uma resposta e vai perguntando cada vez mais, porque para obter uma solução é preciso analisar muitas perspectivas. Para entender a importância desse momento de crescimento pessoal e profissional, Eva cita o livro “Learning as a way of being” (“Aprender como uma forma de ser”) de Peter Vail, como um suporte de ideias. Vail diz que o mundo muda tanto que a única forma de sobrevivência de nossa espécie é colocarmo-nos no lugar do eterno aprendiz. “Por isso, o pai deve assumir a humildade de aprender com o filho”, diz. Já Roberto DaMatta confirma que a “fase dos porquês” se aplicada ao ambiente de trabalho irá inovar, criando “zonas de indagação”, momentos fundamentais para transformar a gestão de pessoas. Imagine se uma indústria automobilística solicitar aos funcionários que respondam perguntas que lhe parecem “óbvias”: Porque somos poderosos? Por que produzimos muito? Por que o funcionário é obrigado a chegar às seis da manhã? “As perguntas das crianças ajudam os adultos a criarem asas para desmontar as engrenagens e gerar soluções por caminhos impensados”, afirma o antropólogo. “Sobre o quê vamos conversar hoje?”, questiona Firminho ao pai João Carlos. O resultado disso é um profissional maduro para perceber a importância dos sentimentos de seus colaboradores. Se o colega Flávio Guimarães ressalta, contudo, que as respostas não podem ser tão simples do tipo “é assim porque Deus quis”. Segundo experiência própria, quanto mais elementos fornecemos a eles, mais eles vão nos ajudar a construir nosso próprio raciocínio. O brilhante resultado das empresas Radix e Fedex no trabalho com suas pessoas mostra que Theo, Nina, Dante, Firminho, Daniel e Thomas são excelentes “gestores”. Março / Abril | 2011 | 9 ATUALIDADE / ALERTA afetam mercado de trabalho e dinâmica de vida O tempo do ser humano e da natureza no planeta Terra é um, enquanto o da Humanidade é outro. Diante das radicais mudanças climáticas pelas quais está passando o globo terrestre, precisamos de humildade para entender que não é a natureza que tem um problema, mas sim o ser humano. “A natureza está se lixando se vamos salvar o mico-leão dourado, pois se não salvarmos ela recria as espécies em outros cinco milhões de anos; a questão gravíssima é que nós, seres humanos estamos acabando com as espécies e toda a vida na Terra na mesma velocidade de uma das cinco grandes extinções da história da vida neste planeta; não depende mais de querermos que não aconteça; vai acontecer”, alertou o economista Sérgio Besserman Vianna, durante o Ciclo de Palestras do MBE COPPE-UFRJ realizado em fevereiro na Associação Comercial do Rio de Janeiro, enfatizando que tal afirmação não é teoria, mas fato comprovado, fruto de pesquisas em renomados meios acadêmicos, como a Universidade de Harvard. 10 | Março / Abril | 2011 Segundo Besserman, é errôneo citarmos o termo “meio ambiente”, pois não existe o “nós” e o “ao redor”. A vida é uma só. Trata-se de considerar que também somos o ambiente, pois dentro de um ser humano existem cerca de dez trilhões de “bichinhos”. “Ideias como ´a natureza está lá e nós aqui´ ou ´precisamos primeiro salvar as crianças que passam fome´ são anacrônicas, atrasadas; infelizmente esta é ainda a forma de pensar da maioria dos gestores”, lamenta o economista, que é membro do Conselho Diretor da WWF-Brasil (www.wwf.org.br) e trabalha no tema Mudanças Climáticas desde 1992, tendo sido membro da missão diplomática brasileira em duas Conferencia das Partes da ONU (Organização das Nações Unidas). Os problemas ambientais começam de forma local, com o tempo a economia cresce de forma exponencial e se apropria dos recursos naturais. Com o crescimento da população os impactos da economia na natureza passam de locais a regionais. A desertificação e perda de qualidade dos solos, o aumento do buraco na Canadá de ozônio do planeta, a escassez de água, a degra- dação dos oceanos e o aquecimento geral do planeta são desastres ambientais que, segundo Besserman só “aceitam” soluções globais. O também comentarista de Sustentabilidade da GloboNews (canal Globosat) e da Rádio CBN afirma que “precisamos criar individualmente e nas empresas uma capacidade política global de mudança de atitude”. O próprio mercado de trabalho, no mundo inteiro já exige, em diversos setores, um profissional que possua conhecimento profundo sobre os impactos das mudanças climáticas. Isso se explica, segundo ele, porque a transição para economias de baixo teor de carbono (que incluem a diminuição da demanda por eletricidade, o uso de energias alternativas – como eólica, nuclear e biocombustíveis –, a reciclagem das práticas agrícolas, entre outras práticas) será uma das mais aceleradas transformações tecnológicas de toda a História. O que significa? Haverá grandes mudanças de preços relativos, hábitos de consumo e concepção de produtos, que vão impactar cada vez mais diretamente nos negócios e empreendimentos. “No Brasil esse processo anda devagar, mas mesmo assim, uma grande empresa provavelmente torceria o nariz para um candidato a cargo executivo que seja ignorante sobre o tema ambiental”, reforça Besserman, informando que há um evidente crescimento da demanda por profissionais habilitados a análises de impacto ambiental que incluam mudanças climáticas nos cenários. Diante disso, é possível prever uma forte demanda por avaliações de impacto setoriais e regionais de mudanças climáticas. “Para ser competitivo será preciso dominar o método científico, qualidade raríssima hoje em dia”, prevê o economista que preside a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana Foto: Alexandre Peconick Agressões globais ao ambiente Fotos: Site Sxc.hu ATUALIDADE / ALERTA O economista Sérgio Besserman Vianna: da cidadehá do´almoço Rio de Janeiro. “Nunca grátis´” Formador de opinião consagrado, Besserman assegura que cada um de nós está imerso em um momento decisivo de nossa participação no planeta e que, para “sermos decisivos”, devemos nos conectar com tudo o que acontece, do Egito à Austrália, passando pela Rússia, do Mercosul à Europa, passando pela América Latina e África. E precisaremos tomar decisões objetivas em um intervalo de tempo cada vez menor. “Nunca há almoço grátis”, metaforiza o economista ao explicar que a vida não é assim. “Quando se encontra o ´amor de sua vida´, isso significa que você abriu mão de alguma coisa para ficar com esse amor, então diante da explosão de tecnologia que afeta o ambiente assumimos que não há almoço grátis”, exemplifica. Besserman defende ainda o fato de que o tempo de evitar a mudança climática já passou . O que pode ser feito, de acordo com ele, é diminuirmos a velocidade de aumento da temperatura global. “Estamos caminhando para um aumento de 6º a 7º C, o que é um pesadelo; se mudarmos positivamente a uma velocidade extraordinária, teremos alguma chance de só esquentarmos o planeta em até 2º C”, informa ele. Sabemos que teremos 250 milhões de refugiados ambientais até 2050. O solo congelado da Sibéria está aquecendo e vai liberar grande quantidade de gás metano, subindo o nível do mar em cerca de um metro e meio. Um perigo! Mas há coisas que não sabemos. Quem vai decidir o quanto cada um desses fenômenos descritos irá variar – acontecer eles vão – será o ser humano. O problema é que a briga para frear emissão de gases poluentes e atitudes que “esquentam o planeta”, envolve não apenas trilhões de dólares, mas questões políticas e sociais. “É importante entender que esse problema não é só do governo, mas muito das empresas privadas e também, individualmente, de profissionais, de pessoas”, destaca Besserman, irmão mais velho do falecido humorista Bussunda (Cláudio Besserman) ao citar o exemplo das mulheres do mundo inteiro que, quando “tiverem mais acesso à informação e educação, terão menos filhos, o que impactará diretamente na questão ambiental”. Não há mais saídas fáceis, mas o Brasil, segundo ele, já possui uma matriz energética muito “limpa”. Porém, ele ressalta que “nossa logística ainda é porca e que se corrigirmos isso ganharemos muito em produtividade”. Questionado sobre os atuais avanços na responsabilidade social das empresas, Besserman disse que “são importantes, mas decorrem mais de mentes estratégicas isoladas do que de uma reação em cadeira a uma nova mentalidade”. Como reorganizar o mundo de um jeito sustentável? Não sabemos. Sustentável por quanto tempo? Não temos esta noção de tempo. Não conseguimos sequer, como acredita o economista, definir o que é “desenvolvimento”. Em teoria, “desenvolver: desfazer o que está envolvido”. O ideal é que o desenvolvimento sustentável inclua espíritos mais livres, com pessoas criando mais. Março / Abril | 2011 | 11 ESPECIAL / CLIMA ORGANIZACIONAL Melhor para quê?! Fotos: Divulgação Foto: Divulgação Chemtech Hermine Schreiner e a equipe da Pormade Portas, empresa de União da Vitória, no Paraná O valor em se sentir desafiado está no sorriso de cada colaborador da Chemtech, empresa cujo nome aparece com frequência em todas as listas de Melhores Empresas para Trabalhar (Brasil e Rio) E mpresas no País inteiro disputam, há 14 anos, a primazia em figurar na lista de Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil. Mas o que há por trás disso? Que vantagens há para uma organização, de qualquer segmento de negócio, em ser considerada uma “Melhor para Trabalhar”? Atrair e reter talentos, desenvolver mais inovação, conquistar mais e melhores clientes e fornecedores. A evolução das empresas que figuram nas listas com freqüência, como Caterpillar do Brasil, Chemtech, KimberlyClark Brasil, entre outras, indica que é tudo isso e muito mais. Segundo Ruy Shiozawa, CEO do Great Place to Work® Institute (GPTW), há uma saudável competição 12 | Março / Abril | 2011 Ruy Shiozawa, CEO do Great Place to Work® Institute entre as empresas, na qual o sucesso de uma não representa o fracasso de outra, mas um movimento que estimula a melhoria do ambiente de trabalho de todas. O GPTW indica as melhores empresas por meio do resultado de uma meticulosa pesquisa que mede diversas “dimensões” comportamentais relacionadas ao ambiente de trabalho. “Uma tendência muito forte que estamos observando, particularmente no Brasil (nota da redação: a pesquisa é realizada em 46 países), é que muitas empresas consideradas excelentes convidam seus clientes e fornecedores a se engajar neste processo”, revela Ruy. Ele confirma: uma empresa que acredita nos resultados advindos de um bom ambiente de trabalho, sabe que também receberá melhores serviços e produtos se o seu fornecedor também tiver a mesma crença. Com o crescimento da economia brasileira no cenário mundial, aumentou nas empresas brasileiras a conscientização de que investir no ambiente de trabalho é a moeda básica para a sua própria sustentabilidade. “A grande característica que vivemos no Brasil está no fato de que não somos mais o país do futuro, mas sim do presente; nossos pais e avós passaram a vida buscando ver o Brasil nesta situação e agora precisamos fazer a nossa parte; a conclusão óbvia é que não podemos (profissionais e empresas) desperdiçar esta oportunidade de forma alguma”, conclama o CEO do GPTW. Ruy defende que, a partir de 2011, quem (empresa) quiser ser “Melhor para Trabalhar” não poderá mais jogar a culpa no governo pelo baixo desempenho das organizações diante da inflação, da situação econômica ou da falta de liberdade. Por outro lado, não significa que o jogo está ganho antes de entrar em campo. “Pelos dados que extraímos de nossas pesquisas no mundo todo – apenas em 2010 foram quase 6.000 empresas pesquisadas, envolvendo cerca de 10 milhões de trabalhadores, em 46 países – os resultados são contundentes: as empresas que de fato tratam suas equipes de forma especial, ou seja, as Melhores Empresas para Trabalhar, são as mais produtivas e rentáveis, têm índices de rotatividade menores, me- lhores indicadores de satisfação de clientes e são empresas éticas, com forte engajamento social ao seu entorno geográfico”, informa Ruy. Em outras palavras, para realmente aproveitar a conjuntura favorável, as empresas precisam se concentrar em desenvolver fortes relações de confiança entre seus profissionais. “Os resultados com certeza irão aparecer”, assegura Ruy. Ao mesmo tempo, outras empresas, que ainda insistem em dar destaque às pessoas apenas no discurso, estão desperdiçando oportunidades. “Um dos erros clássicos de gestão é achar que se sabe onde estão os problemas e começar a trabalhar para resolvê-los”, aponta o executivo do Great Place to Work® Institute. Segundo ele, o “achismo” pode levar os gestores a despender um grande esforço no alvo errado. As pesquisas do Great Place to Work® Institute mostram a cada empresa uma fotografia muito precisa do que acontece no dia-a-dia delas. É muito importante também poder comparar esta fotografia com o mercado como um todo, com outras empresas do setor e com o mercado internacional. Segundo experts em pesquisas, isso permite aos gestores calibrar suas energias naquilo que realmente importa e que está impactando a performance das equipes. Ainda segundo o Instituto, as “Melhores Empresas para Trabalhar” são aquelas que se destacam pelas práticas culturais que incorporam à sua missão e trazem impactos fortes sobre a satisfação das equipes e nível de confiança, independente do valor financeiro destas ações. “Na maioria das vezes estamos falando em o líder dizer ´muito obrigado´ ou ´parabéns´ à sua equipe e não ao pacote de benefícios que a empresa oferece; isso significa construir fortes relações de confiança”, esclarece o CEO do GPTW. Muito da eficácia da pesquisa se explica pelo fato dela ser totalmente confidencial; o que possibilita que aos colaboradores da empresa se Março / Abril | 2011 | 13 ESPECIAL / CLIMA ORGANIZACIONAL Fernanda Abrantes, da Kimberly-Clark Brasil Fernando Viriato de Medeiros, da Accor O ambiente de trabalho na Serasa Experian em São Paulo (SP) Funcionários de uma das linhas de produção da Caterpillar Brasil expressarem livremente, sem receios interpretações errôneas. É enriquecedor o fato da pesquisa poder apontar duas tendências contrárias. O que significa isso? Primeiro: indica problemas que estão ocorrendo, mas que a liderança da empresa não havia percebido a gravidade. Segundo: mostra o contrário, ou seja, ajuda os gestores da empresa a perceber que determinadas práticas - que a empresa tem, mas não dá tanta atenção -, são extremamente bem sucedidas e trazem um grande estímulo às pessoas. 6 empresas colocadas entre as 100 melhores do Brasil da lista de 2010 divulgada pelo Great Place to Work Institute respondem: Por quê vocês consideram importante ser uma “Melhor Empresa para Trabalhar”? Fernanda Abrantes, Gerente de Talent Management da KimberlyClark Brasil “As estratégias de gestão de pessoas fazem parte dos negócios da Kimberly-Clark. O ranking avalia, entre 14 | Março / Abril | 2011 outros pontos, o ambiente de trabalho e as atividades para a preparação e retenção dos melhores profissionais. Essa também é uma preocupação da Companhia, por isso a sinergia. O caráter de justiça na tomada de decisões e o engajamento foram os mais bem avaliados na pesquisa por nossos colaboradores. Em 2008, obtivemos a 11º colocação. Em 2009, a KimberlyClark Brasil ficou em terceiro lugar. A segunda colocação em 2010 foi o reconhecimento externo do investimento da empresa em ações internas efetivas e a evolução na área de gestão.” Daniella Gallo, Gerente Geral de RH da Chemtech. “Somos uma empresa de capital intelectual cujo maior patrimônio são as pessoas. Enxergamos nossos funcionários como parceiros. Sem isto, não conseguiríamos atingir a excelência em nosso negócio. A Chemtech surgiu como uma empresa que preza por fazer suas pessoas se sentirem realmente desafiadas, valorizadas e recompensadas, para que possam desenvolver completamente seu po- Fotos: Divulgação Fotos: Divulgação ESPECIAL / CLIMA ORGANIZACIONAL tencial e crescer junto com a empresa. Diferente das demais empresas de engenharia, não demite a equipe a cada término de projeto, mas mantém um time consistente e crescendo de forma sustentável. A empresa tem, como duas de suas prioridades, aprimorar a educação e o bem-estar de seus funcionários. Na Chemtech os funcionários têm horário flexível e podem, desta forma, conciliar a vida profissional e pessoal.” Suely Agostinho, Diretora de Recursos Humanos e Corporativos da Caterpillar Brasil “Buscamos a excelência de nossas operações e para tal estimulamos em nossos funcionários a cultura do empreendedorismo, fazendo com que se sintam donos do negócio e vejam a empresa não somente como um local de trabalho, mas como a sua segunda casa, na qual devem investir seus esforços para prosperarem e serem felizes. Criamos clima interno de camaradagem, respeito e trabalho em equipe, responsável pela retenção de talentos na empresa e pelo relacio- namento bem próximo entre líderes e funcionários. Acreditamos que investir nas pessoas resulta em excelência de processos, produtos e serviços. O reconhecimento da lista energiza o nosso time a enfrentar os desafios que exigirão nossa concentração e nosso foco para garantir a sustentabilidade de nossos negócios hoje e para as futuras gerações.” é uma forma de manter as pessoas competitivas. A equidade, a igualdade nas condições de trabalho, a comunicação transparente e aberta, o foco na educação e desenvolvimento do “Ser Serasa Experian” fazem parte da filosofia de trabalho da Serasa Experian. O resultado desses fatores, somados, é o alto desempenho dos nossos profissionais.” Milton Pereira, Diretor de Desenvolvimento Humano da Serasa Experian “Porque investir no desenvolvimento das pessoas, pensando nas dimensões profissionais e pessoais, respeitando os valores da ética, de cuidar de gente, da excelência e do empreendedorismo; alimenta o ciclo de fazer as pessoas se sentirem felizes trabalhando na Serasa Experian. E quando elas se sentem felizes, o que aprimora a exigência da empresa por melhorias contínuas e inovação, isso alimenta um outro ciclo: o da boa produtividade. A empresa atua na busca constante do alinhamento de suas práticas de gestão às melhores práticas de mercado, porque essa Hermine Luiza Schreiner – Diretora de Recursos Humanos da Pormade Portas “Os seres humanos dão aquilo que recebem. Esse é o principal motivo de buscarmos ser uma melhor empresa para trabalhar. Queremos que as pessoas se desenvolvam e cresçam aqui, e mais, queremos que elas permaneçam na Pormade. Mas para isso, precisamos que elas sejam felizes aqui. Essa felicidade no local de trabalho se constrói e se mantem, quando a empresa proporciona ações e projetos que valorizam as pessoas como um todo, não como seres isolados. Vários projetos são desenvolvidos com esse propósito, entre eles pode- mos evidenciar: Aprender a Crescer, Aprender a Fazer, Aprender a Empreender, Inclusão Digital, Ensino Regular e Programa de Subsidio ao Estudo. Pessoas com valores alinhados aos da organização, profissionais com atitudes positivas, éticos e que primam pelo respeito aos seus colegas.” Fernando Viriato de Medeiros, Diretor de RH da Accor Hospitality Latin America “Porque ser um ótimo lugar para se trabalhar tem a ver com a performance do negócio como um todo. Isto significa que há uma forte relação entre clima e motivação e a qualidade de gestão dos negócios e nossos resultados. Nossa atividade oferece aos profissionais que se juntam a nós a possibilidade de aprender e se desenvolver em uma profissão ligada ao mundo da hospitalidade. Nossas práticas estão fortemente embasadas na formação e desenvolvimento dos colaboradores. São elas, as pessoas e as práticas, que suportam o crescimento das nossas marcas em hotelaria: Sofitel, Pullman, Novotel, Mercure, íbis e F1.” Março / Abril | 2011 | 15 Aconteceu A equipe GI de dança agitou o salão Descontração e integração entre convidados Da esquerda para a direita: Graziela de Souza, Equipe G Infor; Marcelo Santos do Grupo LET Recursos Humanos; Sueli de Miranda e Gerson Perez Miranda, Diretores da G Infor Clientes e parceiros da G Infor tiveram seus rostos caricaturados em camisas G Infor faz 18 anos e celebra reconhecimento do mercado M uita criatividade, integração e descontração marcaram a festa comemorativa aos 18 anos da G Infor, dia 18 de fevereiro, que reuniu cerca de 400 pessoas na sede da empresa, localizada no bairro de Santana, Grande São Paulo. Organização parceira do Grupo LET quanto ao fornecimento dos sistemas de folha de pagamento, a G Infor muito tem contribuído ao mercado de RH em termos de novas tecnologias e inovação de processos. A “maioridade” foi celebrada por colaboradores, parceiros e amigos, dentro desse espírito de fazer sempre muito mais do que o comum. Após a recepção com champanhe, os convidados passavam por três salas com caricaturistas, onde ganhavam o seu rosto estampados nelas. Durante a festa, em meio a DJ e iluminação especial, a Equipe GI 16 | Março / Abril | 2011 de dança realizou uma apresentação que encantou a todos, comprovando o prazer que todos têm de estar juntos. “Para nós é um momento muito especial, pois chegamos até aqui com muita dedicação, amor pelo que fazemos, por isso o reconhecimento que recebemos do mercado é algo que nos orgulha e que nos faz ver que o nosso esforço ao longo destes anos está valendo a pena”, destaca Sueli de Miranda Penha, Diretora Comercial da G Infor. O gesto de brindar com os colaboradores, parceiros e clientes mereceu um evento organizado em cada detalhe, incluindo vários ambientes temáticos, decorados com uma moderna concepção de paisagismo. Marcelo Santos, Coordenador do Departamento de Pessoal da matriz-Rio do Grupo LET Recursos Humanos, marcou sua presença no evento. “A alegria dos diretores e funcionários contagiou os clientes nos passando a ideia de que a G Infor é uma segunda família de todos, fechados em um único propósito de elevar sempre o nome desta empresa para o topo de qualquer competição no mercado”, afirmou Marcelo. Para Sueli, o momento de uma celebração corporativa é gratificante para que se perceba que o relacionamento com clientes e parceiros vai além do trabalho. “A nossa parceria, cumplicidade, é tão grande que nos sentimos recebendo verdadeiros amigos”, enfatiza. Os 18 anos da G Infor também projetam com clareza o futuro desta organização: atingir a premiação Top of Mind. “Em 2011 investiremos pesado em publicidade, pois temos sistemas de folha de pagamento que atendem a qualquer tipo de empresa no mercado”, revela Gerson Perez de Miranda, Diretor Técnico da G Infor.