Atividade
O ponto de vista é que é o
ponto da questão
Aprendizagens Interculturais
Secção II - Para os alunos mais velhos
Adelina Gouveia
Lúcia Vidal Soares
Paulo Feytor Pinto
São José Côrte-Real
PROJETO:
Estratégias e materiais
de ensino-aprendizagem
para Português Língua
Não Materna (PLNM)
Ilustração: Nikita, Agrupamento de Escolas de Carcavelos
Atividade - O ponto de vista é que é o ponto da questão
GUIÃO PARA O PROFESSOR
Público-alvo
8.º - 10.º ano, nível B1 ou superior.
Competências
Leitura de artigos historiográficos para obter informação.
Organização e utilização de materiais para aprendizagem
autodirigida.
Pesquisa e utilização de vocabulário vasto sobre assuntos variados
Conhecimentos
Socioculturais: história, identidade nacional, povos, religiões.
Interculturais: semelhanças e das diferenças do Outro.
Materiais/Recursos
Textos (anexo 1)
Questionário (anexo 2)
Respostas ao questionário (anexo 3)
Grelha Vocabulário (anexo 4)
Grelha Conteúdo (anexo 5)
Manuais de História e de Geografia
Internet
Familiares e amigos dos alunos
Descrição da atividade
A atividade centra-se na leitura e interpretação de dois textos sobre
a batalha de Alcácer Quibir, um português, outro marroquino.
Depois de uma primeira leitura em voz alta, pelo professor, e da
interpretação genérica dos textos, são propostas aos alunos seis
tarefas para realizarem em pares. A realização das tarefas pode ser
mais ou menos conduzida pelo professor e o seu desenvolvimento e
resultado depende do grupo de alunos e das suas competências
linguísticas em português e na língua materna. A intenção é destacar
semelhanças e diferenças entre os factos relatados nos dois textos –
“o ponto de vista é que é o ponto da questão” como cantava o
compositor brasileiro Raul Seixas, 1945-1989 – e também aprender
as especificidades do texto histórico.
Produtos
Régua cronológica multinacional 1400-1600.
Glossário de (ou mapa com) topónimos históricos desaparecidos.
Glossário de vocabulário próprio dos textos históricos.
Articulação interdisciplinar
História e Geografia.
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ANEXO 1
TEXTOS
Dos Beni-Ouattas aos Saadianos
A Batalha do Oued El Makhazin, dita dos Três Reis, e o seu alcance (1578)
As causas e as consequências desta batalha ultrapassam o âmbito da história
marroquina. No entanto, com esta vitória sobre os Portugueses, Marrocos obteve importantes
ganhos materiais e sobretudo um grande prestígio no estrangeiro.
Tudo começou quando o rei el Moutaouwakkil, expulso de Marrocos pelo seu irmão
Abd el Malik, tentou reconquistar o seu trono. Mas o rei destronado foi pedir ajuda a um país
cristão, Portugal. Com isso, explorava o desejo dos portugueses, sob o seu rei Dom Sébastien
(1557-1578), de retomar uma política ativa em África, por oposição ao reinado de Jean III
(1521-1557) que tinha abandonado Ceuta, Tânger e El Ksar es Sghir para se virar para o Brasil.
Explorava sobretudo os sentimentos místicos de Sébastien que acreditava ser o cavaleiro da fé
católica contra protestantes e muçulmanos.
A batalha desenrolou-se essencialmente na região de El Ksar el Kbir, Larache e Arzila,
entre o oued Loukkos e o seu afluente, o oued el Makhazin. O combate mostrou o poderio do
exército saadiano animado pelo espírito de guerra santa, reforçado pelo facto de lutar contra
um soberano destituído, aliado a cristãos, mas também mostrou a inexperiência do exército
português. No entanto, a derrota das tropas de Dom Sébastien foi conseguida tanto pela
cavalaria de Abd el Malik como pela natureza, com a subida da maré. Três reis morreram na
batalha: Dom Sébastien, el Moutaouwakkil e ainda Abd el Malik.
A batalha foi negativa para Portugal, que, com a morte de Sébastien, foi anexado pela
Espanha de Philippe II, e beneficiou Marrocos, tanto no plano da política nacional, com a
ascensão do irmão de Abd el Malik, Ahmed, imediatamente apelidado «el Mansour», «o
Vitorioso», como no plano internacional. As potências europeias respeitam o novo monarca
que supunham particularmente rico devido aos despojos e resgates da batalha. Ele era «o
Dourado», «ed Dhahbi». Embaixadores foram enviados à sua capital, Marrakech, navios
chegaram aos seus portos, até lhe foram feitos pedidos de empréstimo. Marrocos aproveitou
as circunstâncias favoráveis para tentar desenvolver relações comerciais. Iniciava-se assim o
grande novo reinado de Ahmed el Mansour (1578-1603).
Tradução e adaptação de Jean Brignon, Abdelaziz Amine & Brahim Boutaleb (1994).
Histoire du Maroc. Casablanca: Librairie Nationale. pp. 209-210
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Da União Ibérica à Restauração
Em 1574, D. Sebastião visitou Marrocos pela primeira vez. De regresso a Portugal,
preparou ativamente nova expedição, tentando sem sucesso obter auxílio de seu tio Filipe II, a
quem foi visitar em Guadalupe (1576). Depois, e como pretexto para intervir, prometeu ajuda
ao ex-sultão da Berbéria, Mulay Muhammad Al-Mutawakkil, que fora destronado (1575) por
seu irmão Mulay ‘Abd al-Malik. O governador de Arzila – que os Portugueses tinham
abandonado em 1550 –, partidário do Mulay Muhammad, abriu as portas da cidade ao
monarca português, em vez de a entregar ao novo sultão (1577). Isto foi julgado um sinal
altamente favorável.
Apesar de todas as pressas do rei, só no verão de 1578 foi possível aprontar um
exército invasor e, mesmo assim, consideravelmente fraco e em mau estado de disciplina e
organização. Além das forças portuguesas, havia corpos de mercenários alemães, espanhóis e
italianos. Desembarcando em Arzila, o exército marchou para sul, sob o comando pessoal do
rei. Perto de El-Ksar-el-Kebir (Alcácer Quibir), as forças portuguesas (15 500 infantes e 1 500
cavaleiros, além de algumas centenas mais de encarregados dos abastecimentos, criados,
mulheres, escravos, etc.), com uns quantos partidários de Mulay Muhammad, foram
completamente derrotadas pelo exército do sultão Mulay ‘Abd al-Malik (8 000 infantes e 41
000 cavaleiros, além das tropas irregulares) na batalha mais desastrosa da história portuguesa.
D. Sebastião foi morto e com ele a nata da aristocracia e do exército do País (uns 7 000). Os
restantes foram feitos prisioneiros. Menos de cem pessoas conseguiram escapar. Calcula-se
que a aventura custou ao todo mais de 1 000 000 de cruzados, cerca de metade das receitas
do Estado.
A morte de D. Sebastião abriu caminho à União Ibérica. O cardeal D. Henrique subiu ao
trono, com os seus 66 anos alquebrados em saúde e energia. Vários candidatos se
propuseram, assim, à herança da Coroa portuguesa.
A.H. de Oliveira Marques (1977). Breve História de Portugal.
Lisboa: Editorial Presença. pp. 284-285
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ANEXO 2
QUESTIONÁRIO
1.
A seguir, apresentam-se sete grupos de palavras retiradas dos dois textos sobre a batalha
de 1578. O que há em comum entre as palavras de cada um dos grupos?

monarca, rei, soberano, sultão, trono

cavalaria, cavaleiro, exército, infante, mercenário, prisioneiro, tropa

anexar, batalha, derrota, guerra, querela

cruzado, despojo, empréstimo, ganho material, receita, resgate

católico, cristão, muçulmano, protestante

alemão, espanhol, europeu, ibérico, italiano, marroquino, otomano, português,
turco
2.
A partir da consulta do manual de História e do teu conhecimento da língua portuguesa,
acrescenta três novas palavras a três dos grupos acima apresentados.
3.
Faz a cronologia dos factos sobre a História de Portugal referidos nos dois textos a partir
das datas a seguir apresentadas: 1521 – 1550 – 1557 – 1574 – 1576 – 1577 – 1578.
4.
Os textos de História apresentam muitas vezes nomes de países, regiões ou cidades –
topónimos – que já não são utilizados atualmente, mas que o eram na época tratada no
texto. Isso mesmo acontece nos dois textos sobre a batalha de 1578. A Berbéria do texto
português é Marrocos do texto marroquino. De igual modo, a Espanha já foi só Castela e
Portugal começou por ser só o condado Portucalense. No tempo dos romanos, Portugal
era a Lusitânia e a Hispânia era toda a Península Ibérica. A partir dos manuais de História e
Geografia, faz um levantamento de topónimos históricos desaparecidos, tanto de
Portugal como do teu país de origem.
5.
Após a releitura dos dois textos, preenche as duas grelhas distribuídas pelo(a) professor(a)
(anexo 5).
6.
Faz uma régua cronológica com os principais factos – reinados, conquistas, cultura – da
História de Portugal (Dinastia de Avis e Expansão Marítima, 1385-1580) e da História do
país de origem de um colega da turma, durante o período correspondente
(aproximadamente 1400-1600).
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ANEXO 3
RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO
1.
Vocabulário do registo «histórico». O objetivo é o enriquecimento do vocabulário próprio
dos textos sobre história. Para lá chegar, os alunos podem recorrer ao contexto em que as
palavras são utilizadas, ao contexto em que estão agrupadas ou ao dicionário. Poder-se-á
chegar a um hiperónimo para cada conjunto. Por exemplo:

chefes de estados (monarca, rei, soberano, sultão, trono)

militares (cavalaria, cavaleiro, exército, infante, mercenário, tropa)

confrontos (batalha, derrota, guerra, querela)

bens materiais (cruzado, despojo, empréstimo, ganho material, receita, resgate)

religiões (católico, cristão, muçulmano, protestante)

nacionalidades (alemão, espanhol, europeu, ibérico, italiano, marroquino,
otomano, português, turco)
2.
Vocabulário do registo «histórico». O objetivo é aprofundar a tarefa anterior reforçando
o seu caráter interdisciplinar. No final, cada grupo alargado de palavras pode ser
coletivamente registado no quadro, para copiar. Se os alunos forem alfabetizados na sua
língua materna, poderão fazer um glossário bilingue. Se não o forem, poderão apresentar
oralmente a palavra equivalente na sua língua materna. Em qualquer dos casos, os alunos
poderão não saber a tradução. Por isso, a elaboração de glossários multilingues pode
obrigar ao recurso a dicionários bilingues, reforçando assim o conhecimento do português
e também da língua materna.
3.
Cronologia da história de Portugal. O objetivo é desenvolver a competência de leitura
para recolha de informação em textos expositivos-informativos especializados.
(1521)
início do reinado de D. João III; abandono do N. África,
investimento no Brasil
(1550)
Portugal abandona Arzila
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4.
(1557)
início do reinado de D. Sebastião
(1574)
D. Sebastião visita Marrocos
(1576)
D. Sebastião visita Filipe II
(1577)
Arzila ocupada por Portugal
(1578)
batalha e morte de D. Sebastião
Vocabulário do registo «histórico»: topónimos desaparecidos. O objetivo é integrar
factos sobre a realidade histórica e linguística portuguesa no contexto de vários países
com factos idênticos. Com uma abordagem intercultural, reforçar-se-á o caráter
interdisciplinar das aprendizagens linguísticas. Quanto mais recuado for o período
histórico, mais provável é encontrarem-se topónimos desaparecidos. Por fim, tanto no
glossário como no eventual mapa dever-se-ão apresentar os topónimos desaparecidos e
os equivalentes atuais. Incluindo os topónimos apresentados no questionário, esboça-se
um glossário possível:
5.
Berbéria
Marrocos
Leninegrado
São Petersburgo
Castela
Espanha
Lusitânia
Portugal
Dácia
Roménia
Nova Lisboa
Huambo
Guiné Portuguesa
Guiné-Bissau
Pequena Rússia
Ucrânia
Hispânia
Península Ibérica
Pérsia
Irão
Kishinev
Chisinau
Ulissipo
Lisboa
Comparar pontos de vista. O objetivo é realçar as diferenças de pontos de vista através
de palavras utilizadas e dos factos relatados sobre um mesmo acontecimento histórico e
desenvolver a competência de leitura aprofundada de textos expositivos-informativos
especializados. As grelhas, vazias e preenchidas, estão em anexo (4 e 5).
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6.
Régua cronológica. O objetivo é a integração da batalha de 1578 no seu contexto
histórico nacional e internacional desenvolvendo estratégias de organização e
sistematização da informação. Em seguida, sugerem-se alguns factos que poderão
constituir os elementos relativos a Portugal. Eles poderão ser fornecidos aos alunos,
parcialmente (só datas) ou na totalidade.
1385
D. João I
1433
1438
D. Duarte
D. Afonso V
1481
1495
D. João II
D. Manuel
1415
1419
1431
1460
1471
1482
1496
1498
Ceuta
Madeira
Açores
Cabo Verde
Arzila
Angola
Expulsão de judeus
e muçulmanos
Índia
1521
D. João III
1557
D. Sebastião
1500
1502
1513
1536
1540
1572
1578
1580
Brasil
Auto da Visitação
China
Gramática da
Língua Portuguesa
Japão
Os Lusíadas
Alcácer Quibir
União Ibérica
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ANEXO 4
GRELHA: VOCABULÁRIO
Designação portuguesa
Designação marroquina
Designação portuguesa
Designação marroquina
sultão
Berbéria
D. Sebastião
Filipe
Muhammad Al-Mutawakkil
Mulay ‘Abd al-Malik
El-Ksar-el-Kebir, Alcácer Quibir
rei
Marrocos
Dom Sébastien
Philippe
el Moutaouwakkil
Abd el Malik
El Ksar el Kbir
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ANEXO 5
GRELHA: CONTEÚDO
Ponto de vista português
Ponto de vista comum
Ponto de vista marroquino
Ponto de vista português
Pontos de vista comum
Ponto de vista marroquino
Títulos dos textos
Antecedentes
Descrição da
batalha
Consequências
Títulos dos textos
«Da União Ibérica à
Restauração»
«Dos Beni-Ouattas aos
Saadianos
A Batalha do Oued El
Makhazin, dita dos Três Reis, e
o seu alcance (1578)»
Antecedentes
D. Sebastião visita Marrocos
D. Sebastião visita Filipe II
D. Sebastião promete ajuda
ao sultão Mulay Muhammad
Al-Mutawakkil destronado
pelo irmão.
Arzila acolhe os portugueses
em vez de receber o novo
sultão.
Exército fraco, em mau
estado de disciplina e
organização
O irmão do sultão destrona
Mutawakkil.
D. Sebastião ajuda
Mutawakkil.
Descrição da
batalha
Local: sul de Arzila.
Exército de portugueses,
com alemães, espanhóis,
italianos e partidários de
Mulay Muhammad Al-
O exército português é pior Local: El Ksar el Kbir, Larache e
do que marroquino.
Arzila/entre oued Loukos e
oued el Makhazin.
O exército marroquino é mais
forte do que o português e
tem o espírito de guerra
Al-Mutawakkil é expulso de
Marrocos pelo irmão Abd el
Malik e tenta, depois,
recuperar o trono. Pede ajuda
aos portugueses.
D. Sebastião tem o desejo de
ter uma política ativa em
África.
D. Sebastião acha que é
cavaleiro da fé católica contra
os muçulmanos.
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Consequências
Mutawakkil.
Batalha desastrosa.
Santa.
A vitória também se deve à
subida da maré.
Morreram três reis: D.
Sebastião, el Moutaouwakkil e
Abd el Malik.
D. Sebastião foi morto.
Morre D. Sebastião.
Morre uma parte importante Portugal une-se Espanha.
da aristocracia portuguesa e
do exército de Portugal.
Há muitos prisioneiros de
guerra.
Houve prejuízo financeiro.
A morte do rei D. Sebastião
conduz à União Ibérica.
Lucro financeiro.
Grande prestígio
internacional.
Portugal for anexado a
Espanha.
Marrocos desenvolveu
relações comerciais
importantes por causa do
prestígio que ganhou.
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