ENTREVISTA
CARINA BARCELOS
FOTOGRAFIA
ANTÓNIO ARAÚJO
ANTÓNIO ARMINDO COUTO
Coleções com História
Depois de quatro décadas sem atividade, o Núcleo Filatélico de Angra do Heroísmo elegeu
novamente órgãos sociais. Em conversa com DI-Revista, o presidente da direção, António Armindo
Couto, falou da missão de transmitir o gosto pelo colecionismo aos mais jovens e da necessidade
primária de encontrar um espaço físico que acolha o grupo.
A ilha Terceira tem uma forte tradição em filatelia e colecionismo. O primeiro
núcleo filatélico dos Açores nasce em Angra do Heroísmo. Depois de 40 anos
inativo, esse núcleo é agora reativado.
Nos Açores é o de Angra do Heroísmo. Foi fundado no dia 10 de junho de 1952. Os estatutos
foram aprovados no dia 8 de julho desse mesmo ano. Desenvolveu a sua atividade até
dezembro de 1971. Nós sabemos isso pelo aparecimento de um subscrito filatélico, aquando
da Cimeira dos Açores Nixon-Pompidou. A partir de aí temos conhecimento que alguns sócios
do núcleo se juntavam nos "Montanheiros", mas um ano, dois anos depois desapareceu.
Agora há uns ano para cá um grupo de filatelistas e outros colecionadores decidiram fazer
renascer o núcleo. Isto é um processo que já tem alguns anos. Foi uma dificuldade arranjar
os 16 sócios para se constituir a lista, mas finalmente tudo se conseguiu. A 18 de setembro
deste ano, o núcleo filatélico renasceu com a eleição dos seus órgãos sociais. E cá estamos
nós para levar avante uma missão que nós achamos extremamente interessante, porque
colecionar é cultura. Através do colecionismo nós podemos muito bem divulgar a história e a
cultura da nossa Região e é essa a missão, principalmente das camadas mais jovens.
Essa reativação foi impulsionada pela Primeira Mostra Filatélica "As Pérolas do
Atlântico", que teve lugar em Angra, há cerca de um ano.
Foi aí que nos espetaram a agulha a dizer vocês vão para a frente. E nesse mesmo dia, a 13
de novembro de 2009, foi quase constituída a comissão organizadora. E eu tinha prometido
a esse grupo pequenino, de cinco ou seis pessoas, que dentro de um ano iria reativar esse
núcleo e estamos a funcionar.
Este núcleo é de filatelia, como o nome indica, no entanto aceitam outros
colecionadores.
É Núcleo Filatélico, respeitando quem o fundou, mas já está decidido e já está deliberado
que nós aceitamos no nosso seio toda a forma de colecionismo, desde que não ofenda a
moral pública. Desde caixas de fósforos, a canetas, lápis... Há pessoas que fazem coleções
de tudo. Até de conchas do mar as pessoas fazem coleções. São todos muito bem vindos. As
conchas também podem ser reproduzidas em selos. A pessoa pode juntar à própria concha
uma temática de selos.
Esta nova direção já têm vários projetos pensados?
Já temos uma data de projetos em curso. Recentemente estivemos com a senhora diretora
do Museu de Angra, para haver uma parceria. Uma das dificuldade do grupo é não ter
instalações. O museu é um lugar bom. Vamos ver se nos podem dispensar uma sala para
que possamos fazer exposições e mostras de colecionismo, tanto permanentes como
eventuais. O nosso público alvo serão as escolas, do ensino básico ao secundário, porque é
neles que reside a continuação do colecionismo, no que diz respeito à filatelia e à
numismática. Há imensas formas de fazer coleção. Não são só estas duas. Caixas de
fósforos, isqueiros, pins, dedais, medalhas... Há um mundo de coisas. Só que cada uma
dessas temáticas, cada uma destas modalidades é uma fonte de cultura.
Um dos vossos objetivos é levar o colecionismo às escolas.
Às escolas e ao público em geral, porque nós queremos que as pessoas aprendem a história
e cultura através destas peças.
O colecionismo pode servir como incentivo para os mais novos? Os alunos podem
aprender melhor através de uma exposição de selos ou moedas do que fechados na
sala de aulas?
O colecionismo é uma maneira apaixonante de aprender a história, ou de ter outras
simpatias. Por exemplo, na filatelia, fazer a temática de animais selvagens, a temática de
trajes, a temática de uniformes, de quadros, de pinturas... A pessoa depois consegue,
através do colecionismo, expandir o seu gosto. Uma pessoa que gosta de gatos vai à procura
de peças de gatos. É assim que se começa a criar o bichinho pelo gosto do colecionismo.
O Núcleo Filatélico de Angra do Heroísmo está representado também na internet
(sites.google.com/site/nfnah2009). No site é possível encontrar várias temáticas
ilustradas por coleções, como a história da aviação, a história da censura ou a
história postal açoriana.
O site é mantido por mim e de facto temos alguns temas. Um deles é a história do correio
aéreo dos Açores, que desenvolvi em memória ao octogésimo aniversário do primeiro voo do
Campo da Achada, em Angra. A essa história nós juntámos as peças filatélicas, a provar isso.
Os voos da Horta, as inaugurações da TAP nos Açores, os voos de ligação para Boston. Há
pouco tempo coloquei no site uma peça muito engraçada na história da aviação, sobre o voo
inaugural entre a Horta e a Guiné portuguesa, um voo de ligação. Isto é história postal. E só
se consegue fazer esta história postal com peças comemorativas que nos confirmem isso.
Para além de divulgarem as coleções que já têm, também desenvolvem outro tipo
de atividades. Recentemente foram obliterados com carimbo de Angra três selos
comemorativos do 80º aniversário do primeiro voo dos Açores, na freguesia dos
Altares. Estão pensadas outras iniciativas deste género?
Temos agora projetado para março/abril uma temática sobre a Revolta dos Açores. Entre
março e abril de 1931 deu-se a Revolta dos Açores. São factos históricos. Agora vamos
tentar reunir peças da época, para podermos fazer uma temática sobre esta matéria.
E poderão também surgir novos selos?
Há muitas maneiras de fazer selos, mas tem de haver concordância. Eu quando registo uma
efeméride, um facto histórico, as peças que eu apresento ao público têm de ter concordância
entre si. Agora no dia 19 de dezembro faz anos que Vitorino Nemésio nasceu. Não há nada
mais bonito que homenagear um escritor terceirense, neste caso, com um selo dele. Há que
tentar trazer os vultos da cultura, as efemérides, a arquitetura açoriana ao conhecimento do
público. Essa é uma missão muito engraçada. E depois é preciso chamar a juventude e
entusiasmá-los para estas coisas, para a sua história, porque são eles que garantem o
futuro. Para mim não é melhor maneira de transmitir a história da nossa cultura através de
peças vivas.
Também é um objetivo do Núcleo Filatélico de Angra do Heroísmo atrair novos
sócios.
Obviamente. Nós tínhamos 16, neste momento já contamos com 33. Uma das coisas que
nós vamos fazer, já em dezembro ou em janeiro, é abrir o núcleo filatélico aos jovens. Todo
o jovem que queira ser associado do núcleo filatélico, até aos 17 anos, inclusive, não paga
cota. Mas o nosso objetivo agora é arranjar um espaço, porque nós não nos podemos reunir
num vão de escada. Temos que ter um open space, onde possamos expor.
É o próximo passo do Núcleo Filatélico?
Sim. Já temos alguns contactos feitos. Estamos à espera de algumas respostas.
Como é que ganhou esse gosto pelo colecionismo?
Foi com o meu avô. Eu já sou colecionador de filatelia e numismática há 45 anos, juntando
temáticas daqui e dali. E assim foi.
Qual é a peça mais antiga que possui?
As peças mais antigas que eu tenho são peças numismáticas de 1582, de D. António Prior do
Crato. Moedas batidas na cidade de Angra, aquando dos Filipes de Espanha. Eu convido as
pessoas a visitarem o site do Núcleo Filatélico, porque as peças estão lá. Uma outra das
nossas paixões é a notafilia. Os Açores têm notas do tempo da monarquia lindas. Temos
selos dos Açores lindos. E então moedas... O Calvário de D. António, a Cruz de Santiago, o
Maluco da ilha Terceira de 1829... Os Açores, e em particular a ilha Terceira, são
extremamente ricos em história. A ilha Terceira foi por duas vezes Império do Reino, uma
com D. António Prior do Crato e outra com D. Pedro IV. Angra esteve nas rotas do mundo.
Angra fazia a ligação com o Brasil e com a Índia. Angra merece ser mesmo património.
Acha que é esse peso histórico que desperta o interesse pelo colecionismo na ilha
Terceira?
Nós temos muitos colecionadores. O que nós verificamos é que a camada jovem ainda não
está virada para aí. A nossa missão é despertá-los para isto, porque eles é que são o futuro
do colecionismo e de guardar o registo histórico.
Apesar dos lucros que o colecionismo pode trazer, um colecionador cultiva um
apego tão grande pelas peças que depois se torna difícil querer vendê-las.
Para quem compra e para quem é um apaixonado pelo colecionismo, vender uma peça
daquelas é como perder um braço. Eu não me estou a ver a vender uma moeda de 1582
batida em Angra, mesmo que valha muito dinheiro.
Existem outros núcleos filatélicos nos Açores? Há possibilidade de surgirem
encontros entre vários núcleos?
Que eu tenha conhecimento existem nos Açores mais dois. Havia um que era o Milhafre, em
São Miguel, mas nunca mais ouvi notícias dele, porque o seu fundador faleceu há dois anos.
E existe outro que é o Ilhéu, que está sedeado na escola secundária da Horta. Já
comunicamos a nossa existência, mas ainda não recebemos feedback destes núcleos. Era
extremamente útil nós termos parcerias com estas pessoas.
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