5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS TÍTULO DO TRABALHO: Remoção de compostos sulfurados em correntes residuais de refinaria de petróleo AUTORES: Jéssica Frontino Paulino* (IC), Júlio Carlos Afonso (PQ) ([email protected])* INSTITUIÇÃO: Departamento de Química Analítica do Instituto de Química da UFRJ. Av. Athos da Silveira Ramos, 149, Bloco A, Sala A-517. 21941-909 – Cidade Universitária - Ilha do Fundão - Rio de Janeiro. Tel: 2562-7555 Este Trabalho foi preparado para apresentação no 5° Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Petróleo e Gás- 5° PDPETRO, realizado pela a Associação Brasileira de P&D em Petróleo e Gás-ABPG, no período de 15 a 22 de outubro de 2009, em Fortaleza-CE. Esse Trabalho foi selecionado pelo Comitê Científico do evento para apresentação, seguindo as informações contidas no documento submetido pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho, como apresentado, não foi revisado pela ABPG. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões da Associação Brasileira de P&D em Petróleo e Gás. O(s) autor(es) tem conhecimento e aprovação de que este Trabalho seja publicado nos Anais do 5°PDPETRO. 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS REMOÇÃO DE COMPOSTOS SULFURADOS EM CORRENTES RESIDUAIS DE REFINARIA DE PETRÓLEO Abstract The oil refineries generate large amounts of wastewater, some of them are difficult to treat. An effluent is usually defined as any aqueous phase which has come into contact with oil, which may also contain other contaminants. Among refinery effluents we have the exhausted soda, generated in Pilot Plants of CENPES/Petrobras, where oil fractions are treated with aqueous 2-3 M sodium hydroxide (NaOH). This treatment targets the absorption of hydrogen sulfide gas (H2S) generated in hydrotreating preocesses (HDT) during removal of sulfur compounds (HDS). The exhausted soda is highly alkaline, presents a dark color, an unpleasant odor and is highly toxic. It contains several contaminants including sulfides, sulfides, mercaptans, phenols, naphthenic acids and dissolved/emulsified hydrocarbons. This work aims to establish new routes for treatment of exhausted soda, to remove the pollutants present, particularly the sulfide ion. Hydrogen peroxide (H2O2), wastewater containing heavy metal chromium (VI), sodium hypochlorite and Fenton reagent (Fe2 + + H2O2) were used as oxidizing agents, followed by neutralization of the treated effluent. Freshly prepared iron(II) and (III) hydroxides were tested for sulfide removal by precipitation. In another set of experiments, a diesel sample containing H2S was treated with these hydroxides and also aqueous sodium carbonate. The classical methods worked as expected, but the new methods gave promising results. The treated soda (with iron hydroxides) can be reused, thus reducing generation of final wastes; diesel was also successfully treated in this way. Introdução Assim como muitas outras atividades industriais, as refinarias de petróleo utilizam enormes quantidades de água para as suas atividades. Praticamente todas as operações de refino, desde a destilação primária até os tratamentos finais, requerem grandes volumes de água de processo e de resfriamento [1]. As principais fontes de poluição hídrica em uma refinaria são os efluentes de processo. Estes são usualmente definidos como qualquer água ou vapor condensado que tenha entrado em contato com óleo, estando este último sob a forma líquida ou gasosa, e que pode, portanto, conter afora óleo outros contaminantes químicos. Algumas correntes nas refinarias são tratadas individualmente, já que sua mistura com outros efluentes hídricos tende a dificultar os tratamentos. Dentre estas, há a corrente oriunda do tratamento cáustico de produtos do refino, a chamada soda gasta [2]. Tais tratamentos são normalmente obtidos fazendo-se um contato líquido-líquido ou gás-líquido entre a fase aquosa e a orgânica [3]. A soda exausta é uma corrente fortemente alcalina (pH normalmente acima de 13), que possui coloração escura, odor desagradável e elevada toxicidade. É composta por vários contaminantes, incluindo sulfetos, sulfitos, tióis, fenóis, ácidos naftênicos e hidrocarbonetos emulsificados. O odor e a natureza reativa da soda exausta impedem o seu encaminhamento direto ao tratamento biológico, mesmo após neutralização e diluição. Assim, um pré-tratamento desta corrente é essencial para minimizar o seu impacto no sistema de tratamento de efluentes industriais [4]. O efluente que é objeto de estudo deste trabalho é a solução alcalina que é utilizada para absorver o H2S que é gerado na reação de hidrodessulfurização durante o hidrotratamento. Hidrotratamento é um 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS termo que engloba uma variedade de processos de hidrogenação catalítica, promovem a remoção de heteroátomos como enxofre, nitrogênio e oxigênio. A remoção de enxofre das várias frações de combustíveis é comumente referida sob o nome de hidrodessulfurização (HDS) [5]. Durante uma reação de HDS é gerado H2S que deve ser removido para que os produtos obtidos atendam as especificações de qualidade exigidas. A reação envolvida no tratamento é: H2S + NaOH → Na2S Em soluções aquosas o sulfeto (S2-) é prontamente hidrolisado. Então a espécie presente passa a ser HS-: H2O + S2- ↔ HS- + OHO tratamento da soda exausta possui duas etapas: oxidação e neutralização. As soluções de soda cáustica exausta devem passar por este tipo de tratamento, antes da etapa de neutralização [3]. A neutralização direta liberaria para a atmosfera gás sulfídrico. A etapa de oxidação tem por finalidade oxidar sulfeto de sódio (Na2S) a sulfato de sódio (Na2SO4), que é uma espécie menos prejudicial ao meio ambiente. Na literatura existem alguns métodos de tratamento da soda exausta que incluem: oxidação química, oxidação biológica [7] e precipitação. Os métodos mais comumente empregados para remoção de sulfetos dessas soluções são a oxidações químicas. O peróxido de hidrogênio é um forte agente oxidante e, no passado, foi muito usado no tratamento de efluentes. O processo Fenton, que envolve uma mistura de íons ferrosos e peróxido de hidrogênio, possui um grande poder oxidante devido à geração de radicais hidroxilas •OH na temperatura ambiente [8]. Os radicais hidroxila têm alto potencial de oxidação. Metodologia 1) Amostras de trabalho 1.1) Soda exausta do tratamento de frações de diesel e QAV, fornecida pelo CENPES/Petrobras, contendo cerca de 23 g L-1 de sulfeto. 1.2) Fração de óleo diesel, obtida através do CENPES/Petrobras, contendo 953 ppm de H2S e 21 ppm de NH3. 2) Foram empregados quatro tratamentos utilizando como agentes oxidantes: peróxido de hidrogênio (30 % m/m), água sanitária comercial (2,0 a 2,5 % p/p de hipoclorito de sódio), reagente de Fenton (Fe2+ + H2O2), em uma proporção de 1:5 m/m em H2SO4 1,0 mol L-1, e um rejeito de laboratório contendo cromo(VI). 2.1) As reações foram realizadas à temperatura de 25 ºC. Os oxidantes foram adicionados lentamente. A homogeneização do meio reacional foi feita por agitador magnético, em torno de 100 rpm. Ao final do tratamento, o efluente foi neutralizado até pH próximo de 7,0. 3) A soda exausta foi tratada com hidróxido de ferro(III) (Fe(OH)3) recém-preparado (reação de solução de FeCl3 0,2 M com NaOH 6 M). A soda gasta foi percolada lentamente através deste precipitado, até que o Fe(OH)3 já não fosse mais capaz de absorver sulfeto. Isso é verificado visualmente pela mudança da coloração do sólido, marrom-alaranjado para preto. 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS 4) Foram testadas rotas alternativas para remoção de H2S na fração de diesel fornecida pelo CENPES/Petrobras. Os novos agentes de remoção utilizados nos ensaios foram: solução alternativa de carbonato de sódio (Na2CO3 1,5 mol L-1) e Fe(OH)3 recém-preparado. Também foi testada a capacidade de remoção do gás sulfídrico (H2S) pela soda gasta, após seu tratamento com Fe(OH)3. 4.1) As extrações líquido-líquido com as soluções de Na2CO3 e NaOH, foram conduzidas à temperatura ambiente, em funil de separação e com uma razão fase aquosa/fase orgânica (FA/FO) igual a 1, e tempo de contato entre as fases de 3 minutos. 4.2) Foi preparado Fe(OH)3 que, após filtração foi misturado a alíquotas de óleo diesel. A mistura foi agitada manualmente, o óleo diesel foi separado facilmente após a decantação do precipitado. Resultados e Discussão O tratamento com peróxido de hidrogênio (H2O2) se mostrou mais eficiente que o tratamento empregando hipoclorito de sódio (NaOCl). A solução de NaOCl utilizada no experimento foi a mesma utilizada para uso doméstico, contendo apenas 2,0-2,5 % de NaOCl. Um aumento na concentração deverá se mostrar bastante favorável à remoção de sulfetos, além de minimizar significativamente a geração de efluentes finais. O hipoclorito de sódio pode ter alguma vantagem sobre H2O2 principalmente por razões econômicas. As reações envolvidas no processo estão descritas abaixo: para H2O2: HS- + 4H2O2 → 4H2O + SO42- + H+ para NaOCl: HS- + 4NaOCl → 4NaCl + SO42- + H+ O uso do reagente de Fenton foi muito eficiente no tratamento da soda gasta. O processo Fenton se mostrou eficiente não só na remoção de sulfetos, mas também no que diz respeito à quantidade de efluente tratado, que foi muito superior que os tratamentos acima citados. Os radicais hidroxila •OH gerados processo Fenton têm alto potencial de oxidação. O radical hidroxila (•OH) é um poderoso oxidante e seu Eº (potencial redox) excede inclusive o do H2O2 e, também o do NaClO (que é um oxidante mais fraco), e só é menor que o do F2. Fe2+ + H2O2 → Fe3+ + OH- + •OH O tratamento da soda exausta empregando o rejeito de laboratório também foi eficiente na remoção de sulfeto, e ao mesmo tempo houve a neutralização do efluente. O resíduo em questão foi uma solução contendo K2Cr2O7 e H2SO4. Este tipo de tratamento foi aplicado para verificar a possibilidade de a soda gasta ser utilizada como insumo no tratamento de outras corrente residuais. Entretanto, estas devem conter componentes que interajam com aqueles presentes no efluente em estudo: efluentes oxidantes e/ou com características ácidas, permitindo assim economia de reagentes e de insumos, particularmente água. Esses processos oxidativos empregados promoveram a diminuição da toxidez do efluente devido remoção de sulfetos, por sua oxidação a sulfato, uma espécie menos prejudicial ao meio ambiente. Mas esses agentes oxidantes também podem promover a destruição eficiente da matéria orgânica 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS presente. Sendo assim, as características iniciais da soda gasta - coloração escura, odor desagradável e elevada toxicidade - não são mais observadas após os tratamentos. O inconveniente dos tratamentos apresentados acima é geração de um efluente muito salino, devido a altas concentrações de Na2SO4. Para minimizar a geração desse efluente salino foram estudadas rotas que empregam a precipitação para remoção do sulfeto, principal poluente. Dessa maneira, melhora-se a qualidade final do efluente, e também surge a possibilidade de posterior reuso da soda gasta. Com o tratamento empregando hidróxido de ferro(III) esperava-se obter a remoção de sulfeto da soda, recuperando ou mantendo a sua alcalinidade, para que dessa forma, essa ela pudesse voltar ao processo produtivo. O ferro(III) é reduzido a ferro(II) que precipita formando FeS, liberando hidroxila no meio. O sulfeto foi removido, mas houve uma ligeira perda de alcalinidade. Os fatores que levaram a essa perda de alcalinidade ainda não foram bem compreendidos. A reação que descreve esse tratamento está representada abaixo: 2Fe(OH)3 + 3NaSH → 2FeS↓ + S↓ + 3NaOH + 3H2O Nos ensaios para remoção de H2S dissolvido no óleo diesel, a soda tratada com hidróxido de ferro(III), mesmo com a alcalinidade reduzida, pôde ser reaproveitada. Com o crescente consumo de água, e o subseqüente aumento do custo da água industrial, o emprego de processos de reciclo e o reuso da água podem se tornar operações viáveis. A utilização de hidróxido de ferro(III) recém-preparado em contato direto com o óleo diesel, se mostrou eficiente na remoção de H2S. Esse tratamento possibilita a minimização na geração de efluentes hídricos. O tratamento empregado foi baseado na reação abaixo: 2Fe(OH)3 + 3H2S → 2FeS↓ + S↓ + 3H2O Uma nova proposta para absorção de H2S é utilizar uma corrente de Na2CO3 em substituição ao NaOH. O Na2CO3 é uma base mais fraca que o NaOH, portanto, quando as reações atingirem o equilíbrio, nem todo Na2CO3 será consumido. Os produtos da reação são bicarbonato de sódio (NaHCO3) e bissulfeto de sódio (NaHS): H2S + Na2CO3 ↔ NaHCO3 + NaHS O tratamento dessa solução quando ela se esgota, pode seguir os mesmos procedimentos descritos para tratamento da solução gasta de NaOH. O NaOH é extremamente cáustico e muito reativo, o Na2CO3 é uma espécie menos agressiva quando comparada ao NaOH. Apesar de ser uma base mais fraca, é possível utilizá-lo como agente na remoção de H2S dissolvido no óleo diesel. Conclusões Através dos tratamentos aplicados neste trabalho foi possível a remoção de sulfetos da soda exausta. Essa etapa de oxidação é essencial, pois como já foi visto, esse efluente possui uma alta concentração de sulfeto, que é uma espécie extremamente tóxica, e não deve ser lançada diretamente no corpo receptor. Após a oxidação essa água residual pode ser normalmente descartada pelo Separador de Água e Óleo (SAO), nas Plantas Piloto do Cenpes/Petrobras. O tratamento com peróxido de hidrogênio é muito eficaz, e é o tratamento que é normalmente empregado nas Plantas Piloto. Em grandes refinarias, onde há uma grande geração deste tipo de efluente, normalmente usa-se Oxidação a Ar Úmido. Entretanto, a oxidação com hipoclorito de sódio pode ser muito eficiente, se este for utilizado em concentrações maiores que a empregada neste trabalho (2,0 – 2,5 %). Neste estudo também se verificou a eficiência no emprego do reagente de 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS Fenton, que tem um forte poder oxidante. Alguns estudos futuros podem otimizar a utilização deste processo, que pode tratar eficazmente esse tipo de efluente. A soda gasta pode ser utilizada para tratar outros resíduos que tenham características oxidantes e/ou ácidas. Isso possibilita uma grande economia em insumos e reagentes. Através da remoção de sulfetos com agentes precipitantes como ferro, a soda gasta pode novamente ser introduzida no processo, e dessa forma remover H2S dissolvido no diesel, até que mais uma vez se esgote. Da mesma forma, o Fe(OH)3 recém-preparado, pode ser introduzido diretamente no óleo diesel para remover todo H2S. Essas medidas reduzem em grande parte o consumo da água envolvida no processo, assim como minimizam a quantidade de efluentes hídricos gerados. A extração de H2S pela solução alcalina de Na2CO3 é a proposta de um método alternativo ao emprego da soda. É uma solução menos agressiva, e mesmo sendo uma base mais fraca também tem a capacidade de remover o H2S dissolvido no óleo diesel. Agradecimentos À Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) pela oportunidade de participar do Programa de Químico do Petróleo (PRH-01) e pela bolsa de iniciação científica concedida. Ao CENPES/Petrobras pela cessão das amostras de soda exausta e de diesel. 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