Corrosão em Armaduras de Concreto Thiago Ramos Pereira Resumo – Este trabalho procura expor algumas informações iniciais para avaliação de um dos problemas mais comuns em edificações: a corrosão das armaduras de concreto. Mais do que esclarecer possíveis dúvidas, ele busca suscitá-las. Palavras-chave – Armaduras, Concreto, Corrosão, Cloretos, Estrutura, Carbonatação Eletrólito, Anodo, Catodo. I. Introdução A vida útil de uma estrutura depende, dentre outros fatores, da forma como foi projetada. As características fornecidas pelo projeto e seu detalhamento, quer seja de uma edificação ou de um reservatório, tem influência importantíssima na durabilidade dessa estrutura. A mais generalizada das patologias do concreto é a corrosão das armaduras, principalmente em peças de concreto aparente. A corrosão da armadura do concreto é um processo eletroquímico onde existe um anodo e um catodo. A água presente no concreto serve de eletrólito. Qualquer diferença de potencial entre pontos podem gerar uma corrente, iniciando o processo de corrosão. II. Patologias em Edifícios As patologias ou defeitos podem ser definidos como degradações inesperadas no desempenho dos edifícios devido à falta de qualidade. Muitas vezes é difícil separar as degradações causadas por falta de qualidade das degradações normais e esperadas, relacionadas com problemas de durabilidade. III. A Corrosão em Armaduras A corrosão tem, como consequência, uma diminuição da seção de armadura e fissuração do concreto em direção paralela a esta. Eventualmente, podem surgir manchas avermelhadas produzidas pelos óxidos de ferro. As fissuras ocorrem porque os produtos da corrosão ocupam espaço maior que o aço original. As causas são variadas, entre as quais destacam-se: - insuficiência ou má qualidade do concreto do recobrimento da armadura; - presença de cloretos. A. Insuficiência do Recobrimento da Armadura O cimento hidratado possui um pH de aproximadamente 12,5. Este pH protege o aço contra a corrosão. Porém, o hidróxido de cálcio de concreto reage com o gás carbônico da atmosfera, conforme a equação Ca(OH)2 + CO2 = CaCO3 + H2 O reduzindo para 9 o pH da massa do concreto, tornando possível a corrosão da armadura. O tempo que a carbonatação leva para atingir a profundidade onde se encontra o aço depende, mantidas todas as demais condições constantes, da espessura do recobrimento e de sua permeabilidade. Esta pode ser associada à resistência mecânica do concreto (que depende do fator água /cimento) e ao grau de compactação. Dobrando a espessura do recobrimento, multiplica-se por quatro o período de tempo que a carbonatação levará para atingir a armadura. O crescimento do fator água / cimento provoca uma elevação exponencial na velocidade de carbonatação do concreto. A profundidade de carbonatação de concretos com mesma idade, feitos com fator água /cimento 0,5, podem ser 1/3 da observada em concretos com fator água /cimento 0,8. A velocidade de carbonatação depende também da umidade relativa do ar. Umidades relativas em torno de 60 a 80% favorecem em muito a carbonatação. O CEB-FIP Model Code 1990 inova ao definir um recobrimento mínimo ao qual deve ser acrescida uma tolerância de montagem, consumo mínimo de cimento e fator água /cimento máximo. Assim, para concretos expostos ao meio externo em ambientes normais, recomenda-se o recobrimento de 35mm, enquanto que a NBR 6118 especifica um magro recobrimento de 20mm, que muitas vezes é desrespeitado. A profundidade de carbonatação pode ser medida aspergindo-se sobre a superfície de concreto, imediatamente após a fratura, um indicador de pH chamado fenoftaleína. A área não carbonatada é tingida de violeta. B. A Corrosão por Cloretos Os cloretos são integrantes dos aceleradores de endurecimento mais comuns, baseados em CaCl2 . Podem estar presentes também na água de amassamento e, eventualmente, nos agregrados. Em regiões próximas ao mar ou em atmosferas industriais, só cloretos penetram no concreto durante a fase de uso. Teores de cloretos (Cl) tão baixos quanto 0,3% do peso do cimento implicam em riscos de corrosão em concretos ainda não carbonatados, pois este destrói a camada protetora da armadura. Porém, já foi observado que concentrações bem menores podem causar corrosão generalizada quando dentro da estrutura existem zonas livres de cloretos. A diferença de concentração do sal permite a formação de uma pilha por concentração diferencial. A NBR 6118 limita o teor de cloretos presentes na água de amassamento do concreto a 500mg/l e a bibliografia internacional é controversa sobre limites. Em concreto armado, sempre que for necessário usar cloretos, é recomendável diminuir o fator água /cimento e aumentar tanto a espessura quanto a qualidade do recobrimento da armadura. O teor de cloretos pode ser facilmente avaliado através de ensaio específico realizado em amostras representativas. IV. Mecanismo de Deterioração em Estruturas de Concreto Pode-se definir corrosão como a interação destrutiva de um material com o ambiente, seja por reação química ou eletroquímica. Para que haja corrosão deve existir um eletrólito (a água está sempre presente no concreto); uma diferença de potencial (pode surgir por diferença de umidade, concentração salina, etc.); oxigênio e agentes agressivos como o cloro, que está presente nos reservatórios. Esses agentes agressivos podem atuar como catalisadores, acelerando o processo de corrosão, e a reação do íon cloreto com a armadura pode se dar como descrito abaixo: concreto completamente imersas. A umidade ótima do ar para a corrosão está entre 70 e 80%. Fe3+ + 3Cl- = FeCl3 FeCl3 + 3OH = 3Cl- + Fe(OH)3 Ou seja, o íon cloreto permanece consumindo o ferro sem se destruir, de forma muito semelhante como o que ocorre com o CFC quando destrói a camada de ozônio. Figura 2 – Formação de pilha V. Mecanismo de Transporte dos Cloretos no Concreto A. Absorção Figura 1 –Formação de pilha de corrosão em concreto armado A origem do íon de ferro se dá quando surge no concreto uma diferença de potencial entre dois pontos no aço. Formase aí uma célula eletroquímica com uma região anódica e uma região catódica ligadas pelo eletrólito, que é a água contida nos poros e capilares do concreto. Os íons de ferro com carga elétrica positiva no anodo passam para a solução enquanto os elétrons livres e com cargas negativas passam pelo aço em direção ao catodo, onde são absorvidos pelos constituintes do eletrólito (íons de cloro) e também se combinam com a água e o oxigênio livre formando os íons hidroxilas (OH- ). Esses íons se deslocam pelo eletrólito e se combinam com os íons ferrosos, transformando-os em hidróxido férrico. As reações são as seguintes: a) reação anódica Fe à Fe2+ + 2eFe2+ + 2(OH-) à Fe(OH)2 (hidróxido ferroso) 4Fe(OH)2 + 2H2 O + O2 à 4Fe(OH)3 (hidróxido férrico) b) reação catódica 2e - + O2 + 2H2O à 4(OH-) Considerando o fato de que apenas o oxigênio é consumido e a água é regenerada, sem a presença desta não há corrosão, bem como não há corrosão se não houver presença do oxigênio, o que ocorre em estruturas de A absorção de soluções ricas em íons cloro oriundos de sais dissolvidos geralmente representa o primeiro passo para a contaminação por impregnação externa de peças de concreto. A absorção depende da porosidade da superfície e de características intrínsecas do líquido, como viscosidade e tensão superficial. Pelo processo de absorção, a solução salina (cloretos) pode penetrar vários milímetros em poucas horas. B. Difusão Iônica A difusibilidade iônica acontece devida a gradientes de concentração iônica, seja entre o meio externo e o interior do concreto, seja dentro do próprio concreto. Estas diferenças nas concentrações de cloretos suscitam o movimento desses íons em busca de equilíbrio. C. Permeabilidade Um dos principais parâmetros de qualidade do concreto e representa a facilidade com que dada substância transpõe dado volume de concreto. O transporte iônico de cloretos nas estruturas de concreto, através da permeabilidade de líquidos ocasionada por pressão hidráulica, ocorre, na prática , de uma maneira muito mais restrita, se por acaso se comparar com a incidência de contaminação dada por absorção capilar. Apenas em situações especiais onde haja o acúmulo e /ou a contenção de águas, a contenção de solos, o contato direto com a ação de águas correntes e o caso de estruturas semienterradas com a presença de lençol freático, entre outras, é verificado o transporte de substâncias líquidas pela permeabilidade sob pressão. D. Migração Iônica Sendo os cloretos íons com carga elétrica negativa, é de se esperar que a ação de campos elétricos promovam uma migração iônica. No concreto a migração pode se dar pelo próprio campo gerado pela corrente elétrica do processo eletroquímico; assim como pode ser oriundo da ação de campos elétricos externos. a fissuração das peças de concreto. As fissuras obtidas se estabelecem na direção paralela à barra corroída e são classificadas como fissuras ativas progressivas, isto porque têm aberturas que vão aumentando com o decorrer do processo corrosivo. Esta evolução das fissuras implica posterior lascamento do concreto. VI. Teorias sobre efeito dos íons cloretos As seguintes teorias explicam os efeitos dos íons cloreto sobre a corrosão do aço: - Teoria do Filme de Óxido: os íons penetram no filme de óxido passivante sobre o aço, através de poros ou defeitos, mais facilmente do que penetram outros íons, por exemplo o sulfato (SO4 2-). Alternadamente os cloretos podem dispersar-se coloidalmente no filme de óxido, tornando mais fácil a sua penetração. - Teoria da Adsorção: os íons Cl- são adsorvidos na superfície metálica em competição com o oxigênio dissolvido ou com íons hidroxila. O cloreto promove a hidratação dos íons metálicos, facilitando a sua dissolução. - Teoria do Complexo Transitório: os íons Cl- competem com os íons hidroxila (OH- ) para produção de íons ferrosos pela corrosão. Forma-se então um complexo solúvel de cloreto de ferro. Este pode difundir-se a partir das áreas anódicas destruindo a camada protetora de Fe(OH)2 e permitindo a continuação do processo corrosivo. A certa distância do eletrodo o complexo é rompido, precipita o hidróxido de ferro e o íon cloreto fica livre para transportar mais íons ferrosos da área anódica. Uma vez que a corrosão não é estancada, mais íons de ferro continuam a migrar dentro do concreto, a partir do ponto de corrosão, e reagem também com o oxigênio para formar óxidos mais altos que induzem a um volume quatro vezes maior, causando tensões internas e fissuras no concreto. Figura 3 – Esforços produzidos que levam à fissuração e destacamento do concreto, devidos à corrosão de armaduras Em peças submetidas à flexocompressão, como os pilares por exemplo, o destacamento do concreto pode significar importante perda da seção do elemento estrutural. A transferência de carga para as armaduras, em geral já dessolidarizadas do concreto pela corrosão, resulta na deformação ou flambagem das barras longitudinais das peças estruturais. VII. Produtos de Corrosão A natureza dos produtos finais da corrosão de armaduras depende de diversos fatores tais como temperaturas e, principalmente, teor de cloretos. Basicamente, no final do processo, os produtos encontrados são a goetita (αFeOOH), a lepidocrocita (γ - (8FeOOH, FeOCl)) e a magnetita (Fe3 O4 ). Destes, a goetita e a lepidocrocita são expansivos, enquanto a magnetita não envolve um aumento de volume tão grande na formação da “ferrugem”. VIII. Efeitos da Corrosão e Sintomatologia Típica nas Estruturas de Concreto Os produtos da corrosão são uma gama variada de óxido e hidróxido de ferro que passam a ocupar, no interior do concreto, volumes de 3 a 10 vezes superiores ao volume original do aço da armadura, podendo causar tensões internas maiores que 15MPa. À medida que a corrosão vai se processando, esses produtos expansivos vão se acumulando cada vez mais ao redor das armaduras, criando verdadeiras “crostas” no seu entorno. Tal fato produz esforços no concreto na direção radial das barras, os quais geram tensões de tração que culminam com Figura 4 – Pilar com destacamento e perda de seção de concreto Em algumas edificações é usada uma “jaqueta” que impede os agentes corrosivos de chegar à estrutura armada do concreto. Figura 5 – a)Pilar com destacamento e perda de seção de concreto b) Pilar protegido por “jaqueta” IX. Conclusão Pode-se afirmar que a corrosão de armaduras deteriora as estruturas de concreto sob duas óticas, de ação simultânea; uma delas diz respeito à perda de seção das barras e seus efeitos, e a outra se refere ao comportamento mecânico de fissuração do concreto e suas conseqüências. Ambos os processos ocorrendo sem que haja uma intervenção na estrutura, fatalmente implicarão desfecho indesejável que é o colapso dessa estrutura. A avaliação de corrosão de armaduras de concreto exige conhecimento específico e ensaios laboratoriais. Porém, algumas providências, iniciais, simples como determinação do recobrimento das armaduras e profundidade de carbonatação, fornecem informações fundamentais no estudo das causas da corrosão. X. Referências Bibliográficas [1] Oswaldo Cascudo, “O Controle da Armaduras em Concreto”, Editora UFPR. [2] Helene P. R., “Corrosão em Armaduras Armado”, Editora Pini, IPT – Instituto Tecnológicas de São Paulo. [3] Kropp J., “Performance and concrete criterion of its durability”, Chapman – Hall. Corrosão de para Concreto de Pesquisas criteria as a