Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas
Instituto COPPEAD de Administração
BERNARDO HAUCH RIBEIRO DE CASTRO
A INOVAÇÃO RADICAL E A INOVAÇÃO CONTÍNUA NAS
EMPRESAS BRASILEIRAS: FATORES DISCRIMINANTES E
ESTRATÉGIAS
Rio de Janeiro
Julho de 2011
BERNARDO HAUCH RIBEIRO DE CASTRO
A INOVAÇÃO RADICAL E A INOVAÇÃO CONTÍNUA NAS
EMPRESAS BRASILEIRAS: FATORES DISCRIMINANTES E
ESTRATÉGIAS
Tese de Doutorado apresentada ao
Programa
de
Pós-Graduação
em
Administração, Instituto COPPEAD de
Administração, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
à obtenção do título de Doutor em
Administração.
Orientador: Cesar Gonçalves Neto, PhD
Rio de Janeiro
Julho de 2011
Castro, Bernardo Hauch Ribeiro de
A inovação radical e a inovação contínua nas empresas
brasileiras: fatores discriminantes e estratégias. / Bernardo
Hauch Ribeiro de Castro. - Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD,
2011.
xxii, 313f.: il.; 28 cm.
Orientador: Cesar Gonçalves Neto
Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPEAD/ Programa de PósGraduação em Administração, 2011.
Referências Bibliográficas: f. 267-279.
1. Gestão da Inovação. 2. Inovação Tecnológica. 3.
Administração. I. Gonçalves Neto, Cesar (Orient.). II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD
de Administração. III. Título.
Bernardo Hauch Ribeiro de Castro
A INOVAÇÃO RADICAL E A INOVAÇÃO CONTÍNUA NAS EMPRESAS
BRASILEIRAS: fatores discriminantes e estratégias
Tese submetida ao corpo docente do Instituto
COPPEAD de Administração da Universidade Federal
do Rio de Janeiro como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Doutor em
Ciências (D.Sc.).
Aprovada em 22 de julho de 2011.
___________________________________________
Cesar Gonçalves Neto, Ph.D.
COPPEAD/UFRJ – Orientador e Presidente da Banca
___________________________________________
Denise Lima Fleck, Ph.D.
COPPEAD/UFRJ
___________________________________________
Cristiane Machado Quental, D.Sc.
FIOCRUZ
___________________________________________
Lia Hasenclever, D.Sc.
IE/UFRJ
___________________________________________
José Manoel Carvalho de Mello, Ph.D.
UFF
À minha querida família
AGRADECIMENTOS
Em um trabalho extenso como é uma tese de doutorado, nossa dívida de gratidão
cresce sobremaneira. São muitos os degraus, mas, felizmente, também são muitos
os apoios. Vindos de todos os lados, sem eles não seria possível nem iniciar essa
jornada.
Agradeço, em primeiro lugar, à minha família querida pela compreensão, por todo
apoio, incentivo e, principalmente, inspiração. A escolha que fazemos quando
iniciamos um doutorado acaba nos privando de um tempo que normalmente é deles,
da esposa e dos filhos. Considero que esse tempo não foi perdido – muito pelo
contrário, ele destaca o valor da educação e serve de exemplo de que é possível
sonhar e realizar.
Agradeço a meus pais pelo apoio de sempre e a meu irmão por mostrar que é
possível ir bem longe quando damos a devida importância à educação.
Agradeço ao meu orientador, Cesar Gonçalves Neto, pela paciência e dedicação
durante todos esses anos, desde o mestrado. Suas contribuições muito ajudaram no
desenho final da pesquisa e sua conduta servirá de parâmetro para a minha vida
acadêmica.
Agradeço à Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, na pessoa de vários de
seus funcionários, que foram fundamentais em diversas etapas da pesquisa, e,
especialmente, ao pessoal do Prêmio Finep de Inovação. Espero que este trabalho
consiga responder, ao menos em parte, a toda a ajuda que essa casa me forneceu.
Agradeço aos professores que fizeram parte das bancas examinadoras da tese e de
seu projeto, com contribuições bastante construtivas, e aos colegas que criticaram
as versões preliminares dos questionários.
Agradeço às empresas que se dispuseram a responder a esta pesquisa. Sem uma
adesão em massa não haveria como realizar os testes propostos.
Agradeço a meus colegas de turma pela excelente convivência e aos funcionários
do Coppead, por sua dedicação inabalável.
Por fim, é impossível esquecer que esta casa é pública, mantida em grande parte
com recursos públicos. Agradeço a oportunidade que me foi dada e espero que este
trabalho devolva à sociedade, através da geração de conhecimento, ao menos parte
do que ela investiu e investe todos os dias na educação dos brasileiros.
Muito obrigado!
RESUMO
CASTRO, Bernardo Hauch Ribeiro de. A inovação radical e a inovação contínua
nas empresas brasileiras: fatores discriminantes e estratégias. Tese de
Doutorado em Administração – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
A inovação tem surgido como um tema de crescente presença nas agendas dos
países e das empresas. Para as empresas, a inovação é perseguida como uma
forma de se diferenciar das concorrentes, ampliando sua competitividade. Para os
países, possuir uma massa de empresas inovadoras gera riqueza e
desenvolvimento para a sua população.
Ainda que vários estudos tenham identificado fatores que aumentam a propensão de
uma empresa a se tornar inovadora, poucos estudam as diferenças existentes
dentro do conjunto de empresas inovadoras. A partir de uma definição ampla do
conceito de inovação, cada vez mais empresas se enquadram como inovadoras.
Longe de constituírem um grupo homogêneo, conhecer melhor este conjunto de
empresas é uma tarefa que se torna cada vez mais relevante.
O presente estudo tem como objetivo contribuir para o entendimento de dois
conceitos relacionados à qualificação do processo de inovação: a inovação contínua
e a inovação radical.
A partir de um levantamento realizado junto a empresas que se inscreveram no
Prêmio Finep de Inovação, foi possível estudar o grupo de empresas inovadoras e
suas idiossincrasias. Os dados obtidos foram submetidos a análises estatísticas
multivariadas, trazendo resultados importantes para a definição empírica dos
conceitos.
A inovação contínua parece ser motivada por investimentos fixos em estrutura, na
destinação de um orçamento e na disponibilidade de pessoal qualificado. Inovações
ocasionais parecem ser motivadas por ímpetos pessoais, tanto de funcionários
encorajados a expor e a trabalhar suas ideias, quanto da ação dos líderes.
A inovação radical parece ser motivada pela preocupação com a concorrência, pelo
direcionamento indicado pela liderança, pelo apetite pelo risco e pelo acesso a
informações de mercado. Dificultam a inovação radical a pressão dos fornecedores e
o hábito da empresa.
Os resultados da pesquisa apresentam ainda sugestões para ação do poder público
e das estratégias de inovação empresariais a fim de se estimular a inovação
contínua e a inovação radical no Brasil. É proposto também um modelo para
classificação das empresas inovadoras.
Palavras-chave: inovação, inovação
tecnológica, estratégias de inovação.
contínua,
inovação
radical,
inovação
ABSTRACT
CASTRO, Bernardo Hauch Ribeiro de. A inovação radical e a inovação contínua
nas empresas brasileiras: fatores discriminantes e estratégias. Tese de
Doutorado em Administração – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
Innovation has emerged as a topic of increasing presence on the agendas of
countries and companies. For firms, innovation is pursued as a way to increase its
competitiveness by differentiating themselves from competitors. For countries, a
mass of innovative firms means development and generates wealth for its people.
Although several studies have identified factors that increase the propensity of a
company to become innovative, few works are focused on the differences within the
group of innovative companies. From a broad definition of the concept of innovation,
more and more companies qualify as innovative. Far from constituting a
homogeneous group, learn more about this group of firms is a task that becomes
increasingly relevant.
The present study is aimed to contribute to the understanding of two concepts related
to the frequency that firms innovate: continuous innovation and radical innovation.
From a survey carried out among companies that have applied for the Finep
Innovation Award, we studied the group of innovative companies and their
idiosyncrasies. The data were subjected to multivariate statistical analysis, bringing
important results for the empirical definition of the concepts.
Continuous innovation seems to be driven by fixed investment in structure, by the
allocation of a budget and by the availability of qualified personnel. Occasional
innovation appears to be motivated by either employees encouraged to expose their
ideas and work, as the action of leaders.
Radical innovation seems to be motivated by concern about competition, leadership
instructions, risk appetite and access to market information. Pressure from suppliers
and the company's habit hamper the radical innovation.
The survey results also present suggestions for action by public authorities and
business innovation strategies in order to stimulate continuous innovation and radical
innovation in Brazil. It’s also proposed a classification model for innovative firms.
Keywords: innovation, continuous innovation, radical innovation, technological
innovation, innovation strategies.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Mensuração do impacto da inovação
39
Quadro 2 – Fatores ligados ao sucesso ou a atrasos na inovação
61
Quadro 3 – Relação de Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia
64
Quadro 4 – Resumo das variáveis do estudo (fatores externos)
92
Quadro 5 – Resumo das variáveis do estudo (fatores internos)
105
Quadro 6 – Relação entre as variáveis ambientais do estudo e as abordagens
teóricas
123
Quadro 7 – Perguntas para classificação da estratégia de inovação
131
Quadro 8 – Esquema de classificação das estratégias de inovação
131
Quadro 9 – Variáveis e perguntas para as empresas inovadoras
132
Quadro 10 – Evolução das categorias do Prêmio Finep de Inovação
138
Quadro 11 – Vencedores do Prêmio Finep de Inovação (categorias produto e
processo)
139
Quadro 12 – Quadro-resumo da análise de variância relacionada aos fatores
externos à empresa
188
Quadro 13 – Quadro-resumo da análise de variância relacionada aos fatores
internos à empresa
189
Quadro 14 – Quadro-resumo das análises para a inovação radical
204
Quadro 15 – Quadro-resumo da análise de variância relacionada aos fatores
externos à empresa
225
Quadro 16 – Quadro-resumo da análise de variância relacionada aos fatores
internos à empresa
226
Quadro 17 – Quadro-resumo das análises do conceito de continuidade
235
Quadro 18 – Relação entre as variáveis que descrevem as empresas com
inovações radicais e as abordagens teóricas
238
Quadro 19 – Relação entre as variáveis externas que descrevem as empresas que
inovam de forma contínua e as abordagens teóricas
239
Quadro 20 – Quadro-resumo das características das empresas em cada quadrante
246
Quadro 21 – Quadro-síntese dos fatores relevantes para a inovação e para a
inovação radical e a inovação contínua
253
Quadro 22 – Quadro-resumo das hipóteses gerais
257
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelo proposto por Henderson e Clark (1990)
37
Figura 2 – Modelo proposto por Afuah e Bahram (1995)
37
Figura 3 – Evolução do total de recursos empenhados no âmbito dos Fundos
Setoriais
64
Figura 4 – Participação de cada escritório de patentes no total de pedidos
depositados no mundo
67
Figura 5 – Participação na quantidade de pedidos de patente depositados em cada
país apenas por residentes
67
Figura 6 - Dispêndios nas atividades inovativas como percentual da receita líquida
de vendas, segundo atividades selecionadas da Indústria - Brasil - 2003/2005 68
Figura 7 – Primeiros 20 países por quantidade de publicações científicas em
revistas indexadas
68
Figura 8 – Mapa das universidades federais, estaduais e dos institutos de pesquisa
no Brasil
69
Figura 9 – Modelo para os efeitos do país sobre a adaptação da empresa
78
Figura 10 – Fatores para uma capacidade de inovação sistemática
97
Figura 11 – Esquema do Modelo conceitual
109
Figura 12 – Evolução das inscrições nas edições do Prêmio Finep de Inovação 137
Figura 13 – Histograma de frequências do ‘ano da primeira venda’
152
Figura 14 – Quantidade de respostas por data
158
Figura 15 – Distribuição do grupo de inovadoras radicais por porte
165
Figura 16 – Distribuição geográfica do grupo de inovadoras radicais
165
Figura 17 – Tipo de inovação do grupo de empresas inovadoras radicais
166
Figura 18 – Distribuição setorial do grupo de inovadoras radicais
166
Figura 19 – Histórico de incubação do grupo de empresas inovadoras radicais 167
Figura 20 – Ano de fundação do grupo de empresas inovadoras radicais
167
Figura 21 – Percentual do faturamento advindo de novos produtos no grupo de
empresas inovadoras radicais
168
Figura 22 – Infraestrutura de P&D no grupo de empresas inovadoras radicais
168
Figura 23 – Distribuição de porte do grupo de inovadoras persistentes e ocasionais
208
Figura 24 – Distribuição geográfica do grupo de inovadoras persistentes e
ocasionais
209
Figura 25 – Tipo de inovação do grupo de empresas inovadoras persistentes e
ocasionais
209
Figura 26 – Distribuição setorial das inovadoras persistentes e ocasionais
210
Figura 27 – Histórico de incubação das empresas inovadoras persistentes e
ocasionais
210
Figura 28 – Ano de fundação das empresas inovadoras persistentes e ocasionais
211
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Comparativo entre a quantidade de empresas inovadoras no Brasil 29
Tabela 2 – Gastos em P&D como proporção do PIB no Brasil e em países da OCDE
30
Tabela 3 – Instituições, grupos de pesquisa e pesquisadores no Brasil
69
Tabela 4 – Estatísticas descritivas da variável ‘ano da primeira venda’
151
Tabela 5 – Quantidade de inscrições no Prêmio Finep de Inovação consideradas na
pesquisa
153
Tabela 6 – Distribuição regional das inovações inscritas
154
Tabela 7 – Classificação das inovações inscritas
155
Tabela 8 – Tempo de existência das empresas com inovações inscritas
155
Tabela 9 – Setor da atividade principal das empresas com inovações inscritas 156
Tabela 10 – Porte das empresas com inovações inscritas
156
Tabela 11 – Uso de instrumentos formais de Propriedade Intelectual sobre as
inovações inscritas
157
Tabela 12 – Porte da empresa e proteção da propriedade intelectual
157
Tabela 13 – Quantidade de respostas
158
Tabela 14 – Teste para a avaliação da não resposta
159
Tabela 15 – Distribuição regional dos respondentes
160
Tabela 16 – Setor da atividade principal das empresas dos respondentes
160
Tabela 17 – Porte das empresas dos respondentes
161
Tabela 18 – Existência de infraestrutura de P&D
161
Tabela 19 – Percentual do faturamento advindo de produtos lançados há menos de
3 anos pelos respondentes
162
Tabela 20 – Estratégias dos respondentes
162
Tabela 21 – Inovações radicais nos respondentes
163
Tabela 22 – Quantidade de inovadoras ocasionais e persistentes na amostra
163
Tabela 23 – Análise da normalidade das variáveis ligadas aos fatores externos 169
Tabela 24 – Análise da normalidade das variáveis ligadas aos fatores internos 170
Tabela 25 – Teste de homoscedasticidade de P1 e P2
171
Tabela 26 – Teste Anova para as variáveis P1 e P2
171
Tabela 27 – Teste de homoscedasticidade de P3
172
Tabela 28 – Teste Anova para a variável P3
172
Tabela 29 – Teste de homoscedasticidade de P4
173
Tabela 30 – Teste Anova para a variável P4
173
Tabela 31 – Teste de homoscedasticidade de P5, P6 e P7
173
Tabela 32 – Teste Anova para as variáveis P5, P6 e P7
174
Tabela 33 – Teste de homoscedasticidade de P8, P9, P10 e P11
174
Tabela 34 – Teste Anova para as variáveis P8, P9, P10 e P11
175
Tabela 35 – Teste de homoscedasticidade de P12
175
Tabela 36 – Teste Anova para a variável P12
176
Tabela 37 – Teste de homoscedasticidade de P13 e P14
176
Tabela 38 – Teste Anova para as variáveis P13 e P14
176
Tabela 39 – Teste de homoscedasticidade de P15 e P16
177
Tabela 40 – Teste Anova para as variáveis P15 e P16
177
Tabela 41 – Teste de homoscedasticidade de P17, P18, P19 e P20
178
Tabela 42 – Teste Anova para as variáveis P17, P18, P19 e P20
178
Tabela 43 – Teste de homoscedasticidade de P21
179
Tabela 44 – Teste Anova para a variável P21
179
Tabela 45 – Teste de homoscedasticidade de P22
180
Tabela 46 – Teste Anova para a variável P22
180
Tabela 47 – Teste de homoscedasticidade de P23 e P24
180
Tabela 48 – Teste Anova para as variáveis P23 e P24
181
Tabela 49 – Teste de homoscedasticidade de P25 e P26
181
Tabela 50 – Teste Anova para as variáveis P25 e P26
181
Tabela 51 – Teste de homoscedasticidade de P27, P28, P29 e P30
182
Tabela 52 – Teste Anova para as variáveis P27, P28, P29 e P30
182
Tabela 53 – Teste de homoscedasticidade de P31
183
Tabela 54 – Teste Anova para a variável P31
183
Tabela 55 – Teste de homoscedasticidade de P32, P33, P34 e P35
184
Tabela 56 – Teste Anova para as variáveis P32, P33, P34 e P35
184
Tabela 57 – Teste de homoscedasticidade de P36, P37, P38 e P39
185
Tabela 58 – Teste Anova para as variáveis P36, P37, P38 e P39
185
Tabela 59 – Teste de homoscedasticidade de P40, P41, P42 e P43
186
Tabela 60 – Teste Anova para as variáveis P40, P41, P42 e P43
186
Tabela 61 – Teste de homoscedasticidade de P44
187
Tabela 62 – Teste Anova para as variáveis P44
187
Tabela 63 – Teste de homoscedasticidade de P45
188
Tabela 64 – Teste Anova para as variáveis P45
188
Tabela 65 - Teste de igualdade das matrizes de covariância das variáveis P1 a P45
191
Tabela 66 – Autovalor da função discriminante
192
Tabela 67 – Lambda de Wilks
192
Tabela 68 – Matriz de confusão – 45 variáveis
192
Tabela 69 – Matriz de confusão – 20 fatores
193
Tabela 70 – Estatísticas-teste da regressão logística
194
Tabela 71 – Tabela de Classificação
194
Tabela 72 – Confronto dos resultados obtidos com a análise discriminante e a
regressão logística
195
Tabela 73 – KMO e Teste de Bartlett
197
Tabela 74 – Matriz de componentes rotacionada
197
Tabela 75 – Novos fatores
198
Tabela 76 – Análise de normalidade dos novos fatores
199
Tabela 77 - Teste de igualdade das matrizes de covariância dos fatores F1 a F7
200
Tabela 78 – Autovalor da função discriminante
201
Tabela 79 – Lambda de Wilks
201
Tabela 80 – Matriz de confusão – 7 fatores
201
Tabela 81 – Estatísticas-teste da regressão logística
202
Tabela 82 – Tabela de Classificação
203
Tabela 83 – Confronto dos resultados obtidos com a análise discriminante e a
regressão logística
203
Tabela 84 – Teste de homoscedasticidade de P1 e P2
211
Tabela 85 – Teste Anova para as variáveis P1 e P2
212
Tabela 86 – Teste de homoscedasticidade de P3
212
Tabela 87 – Teste Anova para a variável P3
212
Tabela 88 – Teste de homoscedasticidade de P4
213
Tabela 89 – Teste Anova para a variável P4
213
Tabela 90 – Teste de homoscedasticidade de P5, P6 e P7
213
Tabela 91 – Teste Anova para as variáveis P5, P6 e P7
213
Tabela 92 – Teste de homoscedasticidade de P8, P9, P10 e P11
214
Tabela 93 – Teste Anova para as variáveis P8, P9, P10 e P11
214
Tabela 94 – Teste de homoscedasticidade de P12
215
Tabela 95 – Teste Anova para a variável P12
215
Tabela 96 – Teste de homoscedasticidade de P13 e P14
215
Tabela 97 – Teste Anova para as variáveis P13 e P14
215
Tabela 98 – Teste de homoscedasticidade de P15 e P16
216
Tabela 99 – Teste Anova para as variáveis P15 e P16
216
Tabela 100 – Teste de homoscedasticidade de P17, P18, P19 e P20
216
Tabela 101 – Teste Anova para as variáveis P17, P18, P19 e P20
217
Tabela 102 – Teste de homoscedasticidade de P21
217
Tabela 103 – Teste Anova para a variável P21
218
Tabela 104 – Teste de homoscedasticidade de P22
218
Tabela 105 – Teste Anova para a variável P22
218
Tabela 106 – Teste de homoscedasticidade de P23 e P24
218
Tabela 107 – Teste Anova para as variáveis P23 e P24
219
Tabela 108 – Teste de homoscedasticidade de P25 e P26
219
Tabela 109 – Teste Anova para as variáveis P25 e P26
219
Tabela 110 – Teste de homoscedasticidade de P27, P28, P29 e P30
220
Tabela 111 – Teste Anova para as variáveis P27, P28, P29 e P30
220
Tabela 112 – Teste de homoscedasticidade de P31
220
Tabela 113 – Teste Anova para a variável P31
221
Tabela 114 – Teste de homoscedasticidade de P32, P33, P34 e P35
221
Tabela 115 – Teste Anova para as variáveis P32, P33, P34 e P35
221
Tabela 116 – Teste de homoscedasticidade de P36, P37, P38 e P39
222
Tabela 117 – Teste Anova para as variáveis P36, P37, P38 e P39
222
Tabela 118 – Teste de homoscedasticidade de P40, P41, P42 e P43
222
Tabela 119 – Teste Anova para as variáveis P40, P41, P42 e P43
223
Tabela 120 – Teste de homoscedasticidade de P44
223
Tabela 121 – Teste Anova para as variáveis P44
223
Tabela 122 – Teste de homoscedasticidade de P45
224
Tabela 123 – Teste Anova para as variáveis P45
224
Tabela 124 - Teste de igualdade das matrizes de covariância das variáveis P1 a P45
228
Tabela 125 – Autovalor da função discriminante
228
Tabela 126 – Lambda de Wilks
228
Tabela 127 – Matriz de confusão – 45 variáveis
228
Tabela 128 – Matriz de confusão – 20 fatores
229
Tabela 129 - Teste de igualdade das matrizes de covariância dos fatores F1 a F7
230
Tabela 130 – Autovalor da função discriminante
230
Tabela 131 – Lambda de Wilks
230
Tabela 132 – Matriz de confusão – 7 fatores
231
Tabela 133 – Estatísticas-teste da regressão logística
232
Tabela 134 – Tabela de Classificação
232
Tabela 135 – Estatísticas-teste da regressão logística
233
Tabela 136 – Tabela de Classificação
233
Tabela 137 – Confronto dos resultados obtidos com a análise discriminante e a
regressão logística
234
Tabela 138 – Cruzamento de perfis de inovação radical e contínua
241
Tabela 139 - Teste de igualdade das matrizes de covariância das variáveis
242
Tabela 140 – Autovalores das funções discriminantes
243
Tabela 141 – Lambda de Wilks
243
Tabela 142 – Coeficientes da função de classificação
243
Tabela 143 – Matriz de confusão – Variáveis
243
Tabela 144 – Médias das variáveis selecionadas por quadrante
244
Tabela 145 – Estratégias e quadrantes de perfil das inovadoras
248
Tabela 146 – Confronto das estratégias e da continualidade em inovação
251
Tabela 147 – Confronto das estratégias e da radicalidade em inovação
251
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABDI
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
BNDES
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAD
Computer-Aided Design (ou Desenho Assistido por Computador)
CAPES
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEFET
Centro Federal de Educação Tecnológica
cf.
Conforme
CIA
Central Intelligence Agency (ou Agência Central de Inteligência)
CNAE
Classificação Nacional de Atividades Econômicas
CNPJ
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
CNPq
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CTA
Centro Tecnológico da Aeronáutica
C&T
Ciência e Tecnologia
C,T&I
Ciência, Tecnologia e Inovação
D.P.
Desvio-padrão
EBT
Empresa de Base Tecnológica
ECIB
Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira
Finep
Financiadora de Estudos e Projetos
FNDCT
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
gl
Graus de liberdade (em estatística)
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INEP
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
INPI
Instituto Nacional da Propriedade Industrial
IPT
Instituto de Pesquisas Tecnológicas
MCT
Ministério da Ciência e Tecnologia
MDIC
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MEC
Ministério da Educação
MPEs
Micro e pequenas empresas
NTBF
New Technology-Based Firms (ou Novas Empresas de Base
Tecnológica)
OECD
Organisation for Economic Co-operation and Development (ou
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico)
p.e.
Por exemplo
PACTI
Plano de Ação Ciência, Tecnologia e Inovação
PDP
Política de Desenvolvimento Produtivo
PIA
Pesquisa Industrial Anual
PIB
Produto Interno Bruto
Pintec
Pesquisa de Inovação Tecnológica
PITCE
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
P&D
Pesquisa e Desenvolvimento
PMEs
Pequenas e médias empresas
SBA
U.S. Small Business Administration (ou Administração de Pequenos
Negócios dos Estados Unidos)
SEBRAE
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Sig.
Significância (em estatística)
SPSS
Statistical Package for the Social Sciences (software)
UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro
vs.
versus (em comparação com)
VSR
Variação, Seleção e Retenção (modelo)
WIPO
World Intellectual Property Organization (ou Organização Mundial de
Propriedade Intelectual)
SUMÁRIO
1
Introdução .......................................................................................................... 23
1.1
Objetivos ..................................................................................................... 25
1.2
Relevância do Estudo ................................................................................. 27
1.3
Delimitação do Estudo ................................................................................ 30
1.4
Organização do Estudo............................................................................... 31
2 Referencial Teórico ............................................................................................ 33
2.1
Inovação ..................................................................................................... 33
2.1.1
Inovação de Produto x Inovação de Processo ..................................... 35
2.1.2
Inovação Incremental x Radical ........................................................... 36
2.1.3
Inovação Sustentada x Disruptiva........................................................ 40
2.1.4
Inovação Contínua ............................................................................... 41
2.2
Empresas Inovadoras ................................................................................. 42
2.2.1
Categorias de empresas inovadoras ................................................... 43
2.2.2
Empresas de Base Tecnológica (EBT) ................................................ 45
2.2.3
Inovadoras Seriais (“Serial Innovators”)............................................... 47
2.3
Desempenho Inovador ................................................................................ 51
2.3.1
Sucesso empresarial ........................................................................... 52
2.3.2
Por que as empresas inovam? ............................................................ 55
2.3.3
Sucesso na inovação ........................................................................... 56
2.4
O Estudo “Wealth from Knowledge” ............................................................ 58
2.5
O Fator Ambiente ........................................................................................ 61
2.5.1
Reflexões sobre o Atual Ambiente Institucional no Brasil e sua Relação
com a Promoção da Inovação............................................................................ 62
2.5.2
A Abordagem Institucionalista.............................................................. 70
2.5.3
A Abordagem Evolucionista e os Sistemas de Inovação ..................... 75
2.5.4
Outras Influências Externas à Empresa na Propensão a Inovar.......... 82
2.5.5
Síntese das Variáveis Relacionadas ao Ambiente............................... 85
2.6
Fatores Internos .......................................................................................... 93
2.6.1
Internalização e Percepção sobre os Fatores Ambientais ................... 94
2.6.2
Visão Baseada em Recursos ............................................................... 95
2.6.3
Perspectiva das Capacitações Dinâmicas ........................................... 96
2.6.4
Modelo de Loewe e Dominiquini .......................................................... 97
2.6.5
Variáveis Relacionadas ao Ambiente Interno ...................................... 97
2.6.6
Quadro-Síntese das Variáveis Internas ............................................. 105
3 Modelo Conceitual e Construção das Hipóteses .............................................. 106
3.1
Hipóteses .................................................................................................. 109
3.1.1
Hipótese Geral 1 – Inovação Radical................................................. 110
3.1.2
Hipótese Geral 2 – Inovadoras Persistentes e Ocasionais ................ 118
3.1.3
Hipótese Geral 3 – Influência do Ambiente ........................................ 123
3.1.4
Hipóteses Gerais 4 e 5 – Análise Conjunta (Inovação Radical e
Contínua) ......................................................................................................... 124
4 Metodologia...................................................................................................... 125
4.1
Tipo de Pesquisa ...................................................................................... 125
4.2
Descrição do Estudo ................................................................................. 126
4.3
Unidade de Análise ................................................................................... 126
4.4
Método de coleta de dados ....................................................................... 127
4.4.1
Levantamento (ou survey) ................................................................. 127
4.4.2
Levantamento de dados por webpage ............................................... 129
4.5
Construção dos Questionários .................................................................. 130
Dados ............................................................................................................... 135
5.1
Seleção dos Dados ................................................................................... 135
5.2
O Uso de Prêmios como Fontes de Dados ............................................... 136
5.3
Prêmio Finep de Inovação ........................................................................ 136
5.3.1
Breve Histórico................................................................................... 136
5.3.2
Funcionamento .................................................................................. 139
5.3.3
Critérios de Julgamento – Categorias Produto e Processo................ 140
5.3.4
Estudos Anteriores Utilizando o Prêmio Finep de Inovação .............. 145
5.4
Coleta de Dados ....................................................................................... 145
5.5
Premissas para Tratamento dos Dados .................................................... 148
5.5.1
Porte das empresas ........................................................................... 148
5.5.2
Caracterização da inovação radical ................................................... 150
5.5.3
Caracterização das inovadoras persistentes e ocasionais................. 151
6 Análise e Discussão dos Resultados ............................................................... 153
6.1
Análise Descritiva dos Dados.................................................................... 153
6.1.1
Inovações e número de empresas ..................................................... 153
6.1.2
Distribuição regional .......................................................................... 154
6.1.3
Inovações de produto e de processo ................................................. 155
6.1.4
Idade das empresas .......................................................................... 155
6.1.5
Setor de atividade das empresas ....................................................... 155
6.1.6
Porte das empresas ........................................................................... 156
6.1.7
Uso de instrumentos de Propriedade Intelectual ............................... 157
6.2
Descrição dos Respondentes ................................................................... 158
6.2.1
Quantidade de respostas ................................................................... 158
6.2.2
Distribuição regional .......................................................................... 159
6.2.3
Setor de atividade das empresas ....................................................... 160
6.2.4
Porte das empresas ........................................................................... 160
6.2.5
Infraestrutura para P&D ..................................................................... 161
6.2.6
Percentual de Faturamento advindo de Produtos Novos ................... 161
6.2.7
Classificação das Estratégias ............................................................ 162
6.2.8
Inovação Radical ............................................................................... 162
6.2.9
Inovação Contínua ............................................................................. 163
6.3
Teste da Hipótese HG1 – Inovação Radical ............................................. 164
6.3.1
Análise descritiva ............................................................................... 164
6.3.2
Teste da normalidade das variáveis .................................................. 169
6.3.3
Análise de variância ........................................................................... 171
6.3.4
Análise discriminante ......................................................................... 190
6.3.5
Análise Fatorial .................................................................................. 195
6.3.6
Síntese do teste da hipótese geral HG1 ............................................ 204
6.4
Teste da Hipótese HG2 – Inovação Contínua........................................... 207
6.4.1
Análise descritiva ............................................................................... 208
6.4.2
Análise de variância ........................................................................... 211
6.4.3
Análise discriminante ......................................................................... 226
6.4.4
Síntese do teste da hipótese geral HG2 ............................................ 234
6.5
Teste da Hipótese HG3 – Influência do Ambiente .................................... 237
6.6
Teste das Hipóteses HG4 e HG5 – Análise conjunta das inovadoras
contínuas com inovações radicais ....................................................................... 240
6.6.1
Teste da hipótese geral HG4 ............................................................. 240
6.6.2
Teste da hipótese geral HG5 ............................................................. 247
5
6.7
Discussão dos Resultados ........................................................................ 252
Conclusão e Recomendações ......................................................................... 258
7.1
Sumário do Estudo.................................................................................... 258
7.2
Conclusão do Estudo ................................................................................ 259
7.2.1
Implicações Teóricas ......................................................................... 260
7.2.2
Implicações Práticas .......................................................................... 264
7.3
Limitações do Estudo ................................................................................ 265
7.4
Recomendações para Pesquisas Futuras ................................................ 266
Referências Bibliográficas ....................................................................................... 267
Apêndices ................................................................................................................ 280
7
23
1 INTRODUÇÃO
Empresas podem nascer a partir de uma inovação. A inovação é muitas vezes parte
de uma oportunidade que o empreendedor enxerga. Prover uma solução diferente o
torna inovador.
No entanto, com o sucesso de uma inovação no mercado, a empresa normalmente
cresce e passa a tirar seu sustento da comercialização dessa inovação. Conhecido
na literatura como Curva S, conceito estudado por pesquisadores como Rogers
(2003), ajuda a entender o processo de assimilação de uma inovação pelo mercado.
Uma inovação lançada é inicialmente adotada por alguns usuários. Se bem
sucedida, com o passar do tempo, outras pessoas se interessam pela inovação. O
resultado na empresa é um crescimento expressivo nas vendas, normalmente
acompanhado de investimentos para seu atendimento.
Dessa forma, a empresa tende a se focar na exploração dessa inovação, abrindo
mão de outras oportunidades. Ao obter sucesso, elas tendem a se acomodar,
mantendo o produto inovador em seu portfólio. Os demais produtos da empresa,
quando
lançados,
geralmente
remetem
ao
produto
inicial.
São
produtos
complementares ou alinhados com o novo negócio formado.
Porém, algumas empresas não são assim. Há empresas que não se satisfazem e
passam a buscar frequentemente reconstruir sua competitividade através da
inovação, lançando inovações continuamente. Há uma série de denominações
presentes na literatura para empresas que inovam constantemente. Alguns autores
(CHI RESEARCH, 2003) as classificam como dotadas de uma capacidade de
continuamente extrair riqueza de novidades; são empresas especializadas em
inovar.
Nascidas sob condições diferentes das de outras empresas, pois normalmente estão
mais próximas de universidades ou de centros industriais, conforme supõe Libaers
24
(2008), o ambiente parece interferir de forma determinante na propensão de uma
empresa se tornar uma delas.
As empresas tendem a imitar umas às outras (DIMAGGIO; POWELL, 1983) ou a
agir de forma semelhante por força do ambiente (LEWIN et al., 2004). Conforme seu
contexto e, de certa forma, como resultado dele, a empresa tende a se tornar mais
ou menos inovadora. Os fatores externos determinam algumas características das
empresas e costumam ser os focos de ação das Políticas Públicas de apoio à
inovação.
Quando um governo coloca a inovação como prioridade de sua agenda, suas
medidas têm ação direta sobre o ambiente e, consequentemente, sobre as
empresas nesse ambiente. Impostos reduzidos, financiamento público e incentivo à
pesquisa nas universidades são exemplos de como o governo age sobre o ambiente
buscando fomentar a inovação. No entanto, a ação sobre o ambiente não garante
uma resposta imediata das empresas. Os empresários precisam perceber as
medidas e enxergar alguma vantagem nas escolhas. Esse livre arbítrio presente nas
empresas cria individualidades, mesmo sob condições externas iguais.
Assim, as empresas podem, independentemente de fatores externos, adotar uma
postura mais ativa em relação à inovação. Inovar sistematicamente pode ser
motivado tanto por fatores externos quanto internos à empresa.
Empresas que inovam de forma sistemática, em função da abrangência do conceito
de inovação presente nas principais referências sobre o assunto (p.e. OECD, 2005),
compreendem tanto empresas que desenvolvem continuamente soluções de ruptura
em relação a seu próprio negócio principal quanto empresas que lancem novos
produtos com diferenças incrementais, às vezes com tecnologia adquirida de
terceiros. Há uma evidente necessidade de discernir o que compreende cada um
dos grupos.
Estabelecer atividades de inovação em caráter contínuo pode ser entendido como
um lançamento contínuo de novos produtos no mercado ou como um processo
contínuo de pesquisa e desenvolvimento voltado para a inovação.
25
O caráter contínuo das atividades de inovação pode ser influenciado por diversos
fatores, tanto internos quanto externos à empresa. Preocupamo-nos, portanto, em
entender quais fatores agem sobre as empresas que inovam de forma sistemática.
Por outro lado, o lançamento contínuo de inovações normalmente está relacionado à
inovação incremental. A inovação contínua aparece como relacionada às inovações
incrementais que sucedem a introdução de uma inovação radical (FREEMAN et al.,
1982; SCHUMPETER, 1961). Partindo-se desse conceito, a inovação contínua e a
inovação radical parecem não poder coexistir no tempo. A inovação contínua
necessariamente decorreria de um momento de ruptura no mercado provocado pela
inovação radical.
Olhando apenas a empresa inovadora, ela tem diante de si a necessidade de decidir
entre investir em uma outra novidade, assumindo os riscos e os impactos inerentes a
uma inovação radical, e investir na sedimentação e difusão da novidade já lançada,
através de processos de aperfeiçoamento contínuo, normalmente incorporando
melhorias incrementais.
O presente estudo trata dessa aparente dicotomia entre a inovação contínua e a
inovação radical. A partir da identificação de casos que conjugam as duas
características, propõe-se entender que fatores motivam as empresas a se
comportar assim.
1.1 OBJETIVOS
O presente estudo tem como objetivo geral investigar variáveis externas e internas
às empresas, de forma a entender que fatores são mais importantes para o
desenvolvimento de um perfil empresarial voltado à inovação tecnológica e quais
estão presentes de forma
mais contundente nas empresas que inovam
continuamente e nas que lançam inovações radicais.
26
Enquanto, de um lado, está presente a influência do ambiente institucional, principal
foco de atuação das políticas públicas de incentivo à inovação, influenciando as
estratégias das empresas, os fatores internos agem criando resultados distintos. É
objetivo, portanto, entender que forças atuam de forma mais expressiva sobre as
empresas.
É também objetivo caracterizar dois grupos de empresas inovadoras identificados no
referencial teórico desta pesquisa, um cuja definição se relaciona diretamente com
um perfil inovador contínuo e outro cuja definição se relaciona com a radicalidade
das inovações lançadas.
As empresas inovadoras radicais, como veremos, possuem características que as
distinguem das demais empresas, principalmente em razão das funcionalidades
radicais presentes nas inovações desenvolvidas. Já as empresas inovadoras
contínuas se diferenciam justamente pela frequência de seus lançamentos.
Assim, as perguntas da pesquisa são:
•
Que fatores são importantes para a atuação inovadora das empresas? Quais
são mais relevantes na atuação de empresas que inovam de forma contínua?
Quais são mais relevantes na atuação de empresas que lançam inovações
radicais?
•
É possível predizer a possibilidade de uma empresa inovar de forma radical?
•
É possível predizer a possibilidade de uma empresa inovar de forma
contínua?
•
Ser uma empresa inovadora contínua implica em não ser radical e viceversa?
•
É possível incentivar as empresas a inovarem de forma contínua e radical?
A intenção deste estudo, portanto, é contribuir para o entendimento dos mecanismos
de formação e estímulo às empresas inovadoras.
27
1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
A contribuição teórica do presente estudo centra-se na exploração do grupo de
empresas
inovadoras. As empresas inovadoras não compõem um grupo
homogêneo. Há nuances e questões relacionadas à importância que a empresa dá
para a inovação. Uma empresa pode perseguir repetidamente o lançamento
contínuo de inovações, enquanto que outra pode perseguir o lançamento de
inovações que representem o estado-da-arte de alguma tecnologia. A quantidade e
a qualidade são duas questões que lastream discussões a respeito do apoio público
à inovação.
Poucos são os trabalhos a partir do conceito de inovação contínua no Brasil.
Normalmente, ao invés de focarem a inovação contínua, os trabalhos realizados
tomam como base o investimento contínuo (ou ocasional) em P&D no Brasil, como
por exemplo o trabalho de Arruda et al. (2006), a partir dos dados da Pesquisa de
Inovação Tecnológica (Pintec) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Conhecer
tais empresas
pode ajudar na
sua
promoção, com possíveis
consequências importantes na aceleração da inovação no País. Partindo-se do
pressuposto que inovar com mais frequência pode resultar em mais inovações, fica
claro que ao promover empresas que inovam continuamente, espera-se um impacto
direto em indicadores que meçam, por exemplo, a quantidade de inovações
lançadas ou mesmo a participação de novos produtos no faturamento.
No entanto, quantidade de inovações, por si só, não garante um adequado reflexo
na competitividade do país. É preciso que essas inovações vislumbrem um salto
relevante em relação ao habitualmente feito pela empresa. Inovações que guardem
características radicais serão qualitativamente superiores a inovações meramente
incrementais. Assim, inovações radicais, embora mais arriscadas, podem ter mais
condições de posicionar empresas brasileiras para a competição em nível global.
28
A inovação está cada vez mais presente no discurso dos governantes e no conteúdo
das políticas públicas. Persegue-se um aumento da inovação nas empresas
brasileiras, pois isso é visto como um motor do desenvolvimento. Mais inovação
significa uma melhoria na economia, com reflexos importantes na sociedade. Dessa
forma, empresas que inovam mais e de forma mais radical são casos a serem
observados. Promover um ambiente que incentive estas empresas é um desafio
importante.
A influência do ambiente na inovação tem sido o foco de variadas pesquisas. As
mais diretamente relacionadas ao tema são os estudos sobre os Sistemas Nacionais
de Inovação (p.e. Lundvall (1992), Nelson (1993), Patel e Pavitt (1994), Freeman
(1995) e Edquist (1997)). Há certo consenso de que os sistemas promovem a
inovação. No entanto, não foram encontrados estudos empíricos na economia
brasileira sobre o quanto a inovação é influenciada por componentes do ambiente e
se, de fato, eles são suficientes para incentivar a inovação nas empresas.
Por parte das empresas, elas cada vez mais incluem o tema inovação em seu
planejamento e em suas estratégias.
Ao estudarmos as variáveis presentes no ambiente e as variáveis internas à
empresa, pretendemos entender o que influencia uma empresa a ser mais ou menos
inovadora.
Schumpeter (1961) argumenta que o desenvolvimento econômico é resultado da
introdução de inovações que alteram os paradigmas vigentes, trazendo um período
de crescimento para as nações. No entanto, é fácil notar que, a despeito das
características positivas da inovação para o desenvolvimento econômico, ela não se
encontra distribuída pelo território dos países, mas sim concentrada espacialmente e
em um pequeno número de empresas. Um estudo do IBGE (2007) estima em pouco
mais de 30 mil as empresas inovadoras no Brasil, sendo que apenas 6,2 mil
realizam atividades internas de P&D. Enquanto isso, quase 80% das inovações são
oriundas de apenas seis Estados brasileiros (MG, RJ, SP, PR, SC e RS), sendo que
35% vem apenas do Estado de São Paulo.
29
Os benefícios da inovação para as empresas são demonstrados há vários anos,
através de exemplos de empresas nascidas a partir de inovações ou de
transformações sofridas por uma empresa a partir das inovações que tem contato.
Da mesma forma, pode-se afirmar, com base no uso de diversas políticas de
promoção em vários países (OECD, 2010), que os governos têm consciência de que
as inovações são importantes e devem ser incentivadas. Se o ambiente é
supostamente propício e as empresas desejam inovar, por que isso não ocorre de
forma disseminada?
Como veremos adiante, mesmo havendo uma ampliação consistente de recursos e
de políticas voltadas à promoção da inovação nos últimos anos no Brasil, com a
criação dos Fundos Setoriais para o financiamento da inovação, de incentivos fiscais
e o lançamento de planos plurianuais dedicados ao tema, a quantidade de empresas
inovadoras não cresce de maneira uniforme, às vezes se aproximando fortemente
do ritmo de crescimento do universo das empresas industriais no Brasil. A Tabela 1
ilustra esse ponto a partir de dados do IBGE.
Tabela 1 – Comparativo entre a quantidade de empresas inovadoras no Brasil
Pintec 2000 Pintec 2003 Pintec 2005* Pintec 2008*
Período
1998-2000
2001-2003
2003-2005
2006-2008
Quantidade
de
empresas
que
22.698
28.036
30.378
38.299
+23,5%
+8,4%
+26,1%
implementaram inovações de produto
e/ou processo no período da pesquisa
Universo de empresas (indústrias
72.005
84.262
91.055
100.496
+17,0%
+8,1%
+10,4%
extrativas e de transformação)
Proporção de empresas inovadoras
31,5%
33,3%
33,4%
38,1%
Crescimento do PIB, em R$ de 2009,
4,6%
3,8%
9,1%
11,6%
no período
Fontes: BCB (2010) e IBGE (2002; 2005; 2007; 2010). Elaboração própria.
Obs: * Excluídas as empresas de serviços, por não fazerem parte das Pintec 2000 e 2003.
Observa-se que, embora o esforço do governo e das empresas tenha se mantido ao
longo dos últimos anos (vide Tabela 2), há períodos em que a quantidade de
empresas inovadoras cresce aproximadamente na mesma proporção do universo,
caracterizando-se apenas como uma manutenção do quadro. O investimento em
P&D também é bem inferior ao de países da OCDE.
30
Tabela 2 – Gastos em P&D como proporção do PIB no Brasil e em países da OCDE
Ano
2000
2001
2002
2003
2004
Brasil (%)
1,01
1,04
0,98
0,95
0 ,89
Países
da
n.d.
n.d.
n.d
2,21
2,18
OCDE (%)
Fontes: RICYT (2011) e OECD (2010). Elaboração própria.
2005
0,97
2,21
2006
0,99
2,24
2007
1,07
2,28
2008
1,09
2,34
Perseguimos, portanto, identificar que fatores (ou conjunto de fatores) são mais
relevantes no Brasil para as empresas inovadoras. Identificar tais fatores pode
ajudar na formulação de políticas públicas mais completas e, consequentemente,
mais eficazes no estímulo à inovação no Brasil.
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
O presente estudo é afeto à disciplina de Gestão da Inovação e conjuga algumas
vertentes teóricas, sendo as mais relevantes o institucionalismo, que entende o ato
de inovar como resultado de uma motivação gerada pelo ambiente em que a
empresa se insere, e a visão baseada em recursos, que entende as empresas como
repositórios de recursos, embora percorramos outras teorias, como veremos adiante.
De forma simplificada, o institucionalismo regeria a influência do ambiente sobre as
empresas, enquanto que a visão baseada em recursos diria respeito à
disponibilidade e ao uso de recursos – entendidos aqui em aspecto mais amplo –
internos às empresas. Enquanto as variáveis externas tenderiam a tornar as
empresas homogêneas, as variáveis internas seriam responsáveis por criar uma
heterogeneidade entre elas.
O conjunto de respondentes é formado por empresas brasileiras, como veremos
mais adiante. Assim, não se pode garantir que os resultados aqui apresentados
representem perfeitamente a realidade de outros países.
31
1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
Neste primeiro capítulo foram apresentados os objetivos do presente estudo, assim
como sua justificativa e sua delimitação.
No Capítulo 2 – Referencial Teórico, são apresentados os principais conceitos e
teorias relacionadas à caracterização de empresas inovadoras. Dessa forma, nos
preocupamos em definir inovação no âmbito do presente estudo, assim como seus
diversos tipos. O capítulo também discute fatores importantes na caracterização de
empresas inovadoras, além de relacionar, a partir de diversos estudos, variáveis
ligadas à inovação.
No Capítulo 3 – Modelo Conceitual e Construção das Hipóteses, justificamos a
construção de cada uma das hipóteses estruturadas para responder às perguntas da
pesquisa.
No Capítulo 4 – Metodologia, há uma classificação da pesquisa, conforme seus fins
e meios e uma descrição do formato da pesquisa. Também é detalhada a
construção dos questionários para coleta de dados.
No Capítulo 5 – Dados, há uma descrição da fonte de dados utilizada para a
pesquisa, bem como de trabalhos anteriores utilizando esta fonte e de trabalhos
similares para fins de comparação. Descreve-se também o processo de coleta e
tratamento dos dados.
O Capítulo 6 – Análise e Resultados objetiva testar as hipóteses aventadas no
Capítulo 3. O capítulo traz uma análise descritiva dos respondentes e os testes
estatísticos utilizados.
O Capítulo 7 traz a discussão sobre os resultados e as conclusões, incluindo
sugestões para estudos futuros.
32
Ao final, listamos as referências bibliográficas utilizadas e os Apêndices, que trazem,
basicamente, informações complementares sobre o processo de coleta de dados e
sobre os testes estatísticos realizados, além de uma lista das empresas
respondentes.
33
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 INOVAÇÃO
Garcia e Calantone (2002) fazem uma análise crítica sobre a quantidade de
definições que cercam o termo ‘inovação’. A partir de uma boa amostra da literatura
sobre o tema, relatam várias definições. No entanto, sua opção paira sobre a
utilizada pela Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD).
A OECD, em seu Manual de Oslo (OECD, 2005), define a inovação tecnológica de
produto e processo, abreviado por ‘Inovação TPP’ (Technological Product and
Process Innovation), como um termo que compreende produtos e processos
tecnologicamente novos lançados no mercado ou utilizados no processo de
produção e as melhorias tecnologicamente significativas em produtos e processos.
As inovações TPP envolvem uma série de atividades científicas, tecnológicas,
organizacionais, financeiras e comerciais. O escopo da definição é a empresa, ou
seja, a inovação não precisa ser algo tecnologicamente novo para o mundo, nem
para o país.
A definição, portanto, abrange dois importantes aspectos, como citam Garcia e
Calantone (2002, p.112):
“O processo ‘inovação’ compreende o desenvolvimento tecnológico de uma invenção
combinada com a sua introdução no mercado a usuários finais através de adoção e difusão; e
o processo de inovação é iterativo por natureza e assim automaticamente inclui a primeira
introdução de uma inovação e a reintrodução de uma inovação melhorada”.
Sáenz e Capote (2002, p.69-70) apresentam duas definições para inovação
tecnológica. Uma delas “a primeira utilização – incluindo a comercialização nos
casos em que se aplica – de produtos, processos, sistemas ou serviços, novos ou
melhorados”. Ou ainda, “o processo pelo qual as empresas dominam e implementam
o desenho e a produção de bens e serviços que são novos para elas,
34
independentemente de serem novos para seus competidores, nacionais ou
estrangeiros”.
São definições que carregam certa diferença, como as distinções citadas por Garcia
e Calantone (2002). Enquanto a primeira trata do ato de inovar, pontualmente, a
segunda se centra no processo, chamando a atenção para o problema do local da
inovação.
Há ainda outros autores que provêm uma definição mais geral, como Freeman e
Soete (1997), que consideram a inovação como o casamento entre uma nova
tecnologia e o mercado, e Tidd et al. (2001, p.6), que a definem como “mudança” –
“mudança nas coisas (produtos/serviços) que uma organização oferece e mudanças
nas formas pelas quais eles são criados e distribuídos”.
A inovação pode, no entanto, não ser tecnologicamente nova. Ela pode utilizar
conceitos
e
tecnologias
já
bastante
maduros.
Isso
ocorre
porque
no
desenvolvimento de uma nova tecnologia, normalmente não há como identificar
todas as suas oportunidades de mercado. É comum se utilizar uma tecnologia já
amplamente dominada para lançar um produto diferenciado, para atender a um
nicho ainda não atendido pela empresa.
Como Rocha (1996, p.45-46) observa, “o conceito de inovação é econômico, pois se
refere à apropriação comercial de invenções ou à introdução de aperfeiçoamentos
nos bens e serviços utilizados pela sociedade”. A inovação se relaciona com o
mercado e com a oferta e a demanda de bens e serviços, ou seja, com questões não
apenas de ordem técnico-científica.
Este ponto, segundo o mesmo autor (ROCHA, 1996, p.45), ainda ajuda a diferenciar
a ‘inovação’ da ‘invenção’ (ou descoberta). A invenção não embute qualquer
significado econômico, sendo somente a produção de algo inédito pelo homem. Em
outras palavras, uma invenção só se torna inovação quando ela é colocada no
mercado e acaba sendo adotada por outras pessoas.
35
No caso do presente estudo, a definição de inovação será a descrita no Manual de
Oslo (OECD, 2005).
2.1.1 Inovação de Produto x Inovação de Processo
A distinção entre inovação de produto e processo pode não ser tão simples de
identificar quanto pode parecer. Uma inovação de produto para um fabricante, por
exemplo, pode se transformar em uma inovação de processo para um cliente dessa
indústria.
Como citam Abernathy e Utterback (1988, p.27), “o que é uma inovação de produto
de uma pequena unidade baseada em tecnologia é frequentemente o equipamento
de processo adotado por uma grande unidade para melhorar a produção de alto
volume de um produto padronizado”.
Pavitt (1984, p.345), por exemplo, em um de seus artigos clássicos, define
inovações de processo como aquelas “que são utilizadas nos mesmos setores em
que foram produzidas”, enquanto que as inovações de produto são definidas como
“aquelas que são utilizadas em setores diferentes”.
Embora seja prática para utilização em grandes conjuntos de dados, optou-se por
não utilizar a definição de Pavitt (1984), mas a do Manual de Oslo, que embora
menos operacional, é a definição utilizada pelo próprio Prêmio Finep de Inovação,
fonte de dados do presente estudo, para a constituição das categorias produto e
processo, além de ser a mais próxima da que entendemos constituir suas reais
diferenças.
Segundo o Manual de Oslo (OECD, 2005, p.57) ,
“uma inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente
melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se
melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais,
softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais.”
Por outro lado,
36
“uma inovação de processo é a implementação de um método de produção ou distribuição
novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas,
equipamentos e/ou softwares. As inovações de processo podem visar reduzir custos de
produção ou de distribuição, melhorar a qualidade, ou ainda produzir ou distribuir produtos
novos ou significativamente melhorados” (OECD, 2005, p.58-59).
2.1.2 Inovação Incremental x Radical
A dicotomia inovação incremental versus radical está presente em vários trabalhos.
Freeman et al. (1982) e Schumpeter (1961) apresentam a inovação radical como
uma descontinuidade nos ciclos econômicos. Teoricamente, a introdução de uma
inovação radical provocaria um desequilíbrio no mercado. Definido o novo
paradigma, suceder-se-iam inovações incrementais.
Para Tironi e Cruz (2008), o que diferencia uma inovação incremental de uma radical
é seu grau de novidade. Quanto mais inédita, mais provável que uma inovação seja
radical. Uma inovação, portanto, posicionar-se-ia em uma escala contínua entre os
dois construtos. O grau de novidade também é a escala utilizada por Tidd et al.
(2001).
Convém, no entanto, citar dois trabalhos alinhados com o esforço de melhorar o
entendimento da diferença entre a inovação radical e a incremental.
Henderson e Clark (1990) propuseram um modelo de caracterização dos tipos de
inovação que a classifica em quatro formatos: radical, se os conceitos centrais e
suas ligações subvertem os vigentes; arquitetural, se há um reforço de conceitos
centrais com alteração apenas das ligações entre eles; incremental, se há reforço
dos conceitos centrais sem alteração nas ligações; e modular, se há substituição dos
conceitos centrais sem alteração nas ligações entre eles. A figura 1 descreve o
modelo proposto pelos autores.
37
Ligações entre
os Conceitos
centrais e os
componentes
Conceitos Centrais
Reforçados
Subvertidos
Não modificado
Inovação incremental
Inovação modular
Modificado
Inovação arquitetural
Inovação radical
Figura 1 – Modelo proposto por Henderson e Clark (1990)
Afuah e Bahram (1995) ampliaram o modelo proposto por Henderson e Clark (1990)
propondo um modelo, intitulado Hipercubo da Inovação, que considerasse também o
impacto da inovação em cada elo da cadeia de valor. O principal argumento de seu
trabalho é que uma determinada inovação pode ser “arquitetural no nível do
fabricante, pode se tornar radical para os consumidores, incremental para os
fornecedores de componentes e equipamentos e outra coisa para fornecedores de
inovações complementares críticas” (AFUAH; BAHRAM, 1995, p.51).
Figura 2 – Modelo proposto por Afuah e Bahram (1995)
Cabe ainda mencionar o trabalho de Garcia e Calantone (2002), que apresentam
uma rica revisão sobre a diversidade de termos ligados aos tipos de inovação
presente na literatura da área. A proposta dos autores é unificar a terminologia em
38
três tipos básicos de inovação: radical, realmente nova e incremental. A distinção
entre cada um dos rótulos se dá segundo três fatores: o impacto tecnológico da
inovação, seu impacto no mercado e a dimensão destes impactos, se no nível macro
ou micro.
“Inovações radicais são inovações que causam descontinuidades tecnológicas e de mercado
tanto no nível macro quanto no micro. Inovações incrementais ocorrem somente no nível
micro e causam uma descontinuidade tecnológica ou de mercado, mas não ambas.
Inovações realmente novas cobrem as combinações entre esses dois extremos.” (GARCIA;
CALANTONE, 2002, p.120)
O nível macro a que os autores se referem diz respeito a medir se a inovação é nova
em nível mundial, para o mercado ou para o setor, enquanto que o nível micro diz
respeito a uma inovação inédita para a empresa ou para o consumidor. Já a citada
descontinuidade de mercado se refere à criação de um novo mercado, nos moldes
do conceito utilizado por Kim e Mauborgne (2005), por eles intitulado de Oceano
Azul, enquanto que a descontinuidade tecnológica se refere à necessidade de “uma
mudança de paradigma no estado da ciência ou da tecnologia embarcada no
produto, novos recursos de P&D e/ou novos processos de produção para a
empresa” (GARCIA; CALANTONE, 2002, p.119).
Cabe citar os parâmetros sugeridos por Abernathy e Clark (1988) para mensuração
do impacto da inovação (Quadro 1). Os autores sugerem medir o impacto segundo
duas dimensões: uma mais técnica (“tecnologia/produção”) e uma mais comercial
(“mercado/consumidor”). Essas duas dimensões também aparecem na definição
utilizada por Rice et al. (2001, p.409), para quem “a inovação radical envolve a
aplicação de tecnologias ou combinações de tecnologias significativamente novas a
novas oportunidades de mercado”.
39
Quadro 1 – Mensuração do impacto da inovação
Domínio da Atividade
Inovadora
I. Tecnologia/Produção
Design/incorporação
de tecnologia
Sistemas
de
produção/organização
Grau de Impacto da Inovação
Melhora/aperfeiçoa o design
estabelecido
Fortalece a estrutura existente
Habilidades (força de
trabalho,
gerencial,
técnico)
Materiais/relações
com fornecedores
Estende a viabilidade
habilidades existentes
↔
↔
das
↔
Reforça as aplicações dos
materiais/fornecedores atuais
↔
Bens de capital
Amplia os bens existentes
↔
Base de conhecimento
e experiência
Constrói
e
reforça
aplicabilidade
conhecimento existente
II. Mercado/Consumidor
Relacionamento com a
base de clientes
Aplicações
aos
clientes
Canais de distribuição
e serviço
Conhecimento
cliente
do
a
do
Fortalece os laços com
clientes estabelecidos
Melhora
o
serviço
em
aplicações estabelecidas
Constrói e melhora a eficácia
da
rede
de
distribuição/organização
de
serviços estabelecida
Usa e amplia o conhecimento
e a experiência do cliente em
produtos estabelecidos
Reforça os modos/métodos de
comunicação existentes
Modos
de
comunicação com o
cliente
Fonte: Abernathy e Clark (1988, p.58)
↔
↔
↔
↔
↔
↔
Oferece um novo design/rompe
radicalmente com o design anterior
Faz a estrutura existente obsoleta,
demandando
novos
sistemas,
procedimento e organização.
Destrói o valor da expertise
existente
Substituição
de
materiais
extensiva/abre novas relações com
novos vendedores
Extensiva substituição dos bens de
capital existentes por novos tipos
de equipamentos
Estabelece ligações para novas
disciplinas científicas/destrói o valor
da base de conhecimento existente
Atrai vários novos grupos de
clientes/cria um novo
Cria um novo conjunto de
aplicações/novo
conjunto
de
necessidades do consumidor
Requer
novos
canais
de
distribuição/novo serviço, após o
apoio do marketing
Intensiva demanda de novo
conhecimento de clientes; destrói o
valor da experiência do cliente.
Modos de comunicação requeridos
totalmente novos
Como vimos, diversos são os fatores relacionados à inovação radical mencionados
nas pesquisas, como a descontinuidade tecnológica (FREEMAN et al., 1982;
SCHUMPETER, 1961), o grau de novidade (TIRONI; CRUZ, 2008; TIDD et al., 2001)
e a subversão de conceitos centrais (HENDERSON; CLARK, 1990). Nesta direção,
Rice et al. (2001), McDermott e O’Connor (2002) utilizam um esquema bastante
objetivo para identificação das inovações radicais. Para eles, o atendimento a uma
das três condições a seguir é suficiente para a classificação:
•
A solução técnica leva a uma redução de 30% ou mais no custo da plataforma
atual do produto; ou
40
•
A solução técnica oferece oportunidades de abrir uma linha de negócios
completamente nova tanto para a empresa quanto para o mercado; ou
•
A solução técnica leva a uma melhoria de 5 a 10 vezes em características
conhecidas de performance do produto.
O esquema utilizado por Rice et al. (2001), McDermott e O’Connor (2002) servirá de
base para a classificação das inovações presentes na base de dados da pesquisa.
2.1.3 Inovação Sustentada x Disruptiva
Ainda a respeito da radicalidade, Christensen (2000) propõe uma classificação
diferente para as inovações. Para ele, há inovações baseadas em tecnologias
sustentadas e disruptivas.
A tecnologia sustentada é a que busca melhorar a performance dos produtos. Ela
pode ser radical ou incremental, mas está voltada à melhoria de produtos já
estabelecidos no mercado.
Já a tecnologia disruptiva possui uma proposta de valor diferente para o mercado.
Ela transforma o mercado de forma semelhante à descrita por Schumpeter (1939),
na chamada “destruição criativa”. Geralmente elas possuem uma performance pior
que a dos produtos estabelecidos nos mercados principais, mas possuem
características
diferentes
que
alguns
clientes
valorizam.
Tais
tecnologias
expandiriam os nichos iniciais do negócio, transformando tais nichos no mercado
principal.
Utterback e Acee (2005) discutem a definição proposta por Christensen (2000) de
tecnologia disruptiva. Definida sobre seu custo e performance tradicional inferiores,
porém com performance auxiliar melhor, os autores citam vários casos que não se
encaixariam na definição. Eles apresentam um quadro com exemplos considerando
as três variáveis: custo, performance tradicional e performance auxiliar. A partir da
matriz 2x2x2 criada da combinação das variáveis conforme sua classificação em
inferior ou superior à tecnologia dominante, eles citam exemplos que mostram um
41
problema na definição. Para eles, há que se considerar que uma inovação disruptiva
pode surgir também de uma mudança descontínua no mercado, que abre espaço
para inovações, não necessariamente mais baratas, de performance tradicional
inferior e de performance auxiliar superior.
À parte as críticas sobre o conceito de inovação disruptiva, as tipologias propostas
por Christensen (2000) complementam o arcabouço teórico sobre a inovação radical,
lançando foco sobre a tecnologia incorporada na inovação.
2.1.4 Inovação Contínua
Carpinetti et al. (2007) trabalham uma definição de inovação contínua como
sinônimo de incremental. Presume-se que esta definição tenha aparecido em
contraposição à inovação descontínua, utilizada como sinônimo de inovação radical.
A única diferença, para eles, é que a inovação contínua incorpora necessariamente
a variável ‘tempo’. Ela envolve a constante melhoria dos produtos ou processos de
uma empresa e não uma melhoria pontual, como pode ser entendida a inovação
incremental.
Boa parte das definições presentes na literatura trata a inovação contínua como uma
evolução da melhoria contínua (CI – Continuous Improvement). Esta, por sua vez, é
definida como “o processo planejado, organizado e sistemático de mudança
incremental das práticas existentes em toda a empresa, com o objetivo de melhorar
sua performance” (RIJNDERS; BOER, 2004, p.283). Em outras palavras, para estes
autores, a inovação contínua é um processo organizacional.
Em uma linha parecida, Boer et al. (2006) definem a inovação contínua como uma
capacidade da empresa em gerenciar a inovação de forma contínua. Tal capacidade
compreenderia tanto processos de melhoria incremental, visando a explorar ao
máximo a inovação já lançada, quanto de mudança radical. A gestão dessa aparente
dualidade levaria as empresas a combinar a eficácia operacional com a flexibilidade
estratégica.
42
Há nitidamente uma grande distância entre o conceito utilizado pelos autores acima
citados (RIJNDERS; BOER, 2004; BOER et al., 2006) e a de Carpinetti et al. (2007).
Siguaw et al. (2006) também entendem a inovação contínua não como uma
capacidade, mas como o resultado de uma orientação da empresa para a inovação.
Dessa forma, inovadoras contínuas seriam empresas que continuamente inovam, ou
ainda, que inovam persistentemente.
Geroski et al. (1997) propuseram investigar “quão persistentemente as empresas
inovam”. Seu estudo foi realizado com empresas britânicas e avaliados dois quesitos
como medida de persistência: as patentes e a produção de inovações relevantes
durante um período.
Wziatek-Kubiak e Peczkowski (2010), ao estudar o caso das indústrias polonesas,
classificam as empresas em inovadoras persistentes e ocasionais. Sua divisão é
uma simplificação da apresentada por Lehtoranta (2005), que inclui, além das duas,
a categoria inovadoras intensivas. No entanto, a forma de classificação não divergia
entre os autores, sendo consideradas inovadoras ocasionais as que possuíam uma
inovação e as demais categorias, as que possuíam mais de uma.
Veremos adiante que a classificação de Wziatek-Kubiak e Peczkowski (2010) será
bastante útil para o presente estudo. Em função disso, em alguns momentos,
utilizaremos o termo “inovadora contínua” como sinônimo de “inovadora persistente”.
As não contínuas serão chamadas de “inovadoras ocasionais”.
2.2 EMPRESAS INOVADORAS
O objetivo deste capítulo é revisar as tipologias de empresas inovadoras presentes
na bibliografia a fim de identificar quais trabalham a inovação radical e a inovação
contínua. Portanto, espera-se identificar estudos anteriores que discriminem as
empresas inovadoras e colaborem para a formação do quadro conceitual do
presente estudo.
43
A definição de empresa inovadora pode ser tão simples quanto: “a empresa que
implementou ao menos uma inovação” (OECD, 2005, p.70). Esta ampla definição,
no entanto, pode restringir as possibilidades de pesquisa do tema. Tendo em vista
que um elemento comum às empresas nascentes é ter um diferencial e dada a
definição de inovação apresentada anteriormente, uma empresa nova, criada para
explorar um negócio novo, necessariamente é inovadora, segundo tais definições.
No próprio Manual de Oslo se observa um recorte que possibilita outras abordagens.
Este conceitua empresa ativamente inovadora, como “aquela que realizou atividades
de inovação durante o período de análise, incluindo as atividades em processo e
abandonadas” (OECD, 2005, p.71). Trata-se, portanto, de uma segmentação, na
tentativa de distinguir eventuais empresas que nasceram a partir de uma inovação e
basicamente sobre ela sustentaram seu crescimento, de empresas que inovam de
forma mais sistemática.
Embora a definição apresentada seja útil e aplicável ao presente trabalho, veremos
adiante que nos interessa aqui segmentar o grupo das empresas inovadoras. Assim
sendo, detalhamos a seguir algumas classificações de empresas inovadoras.
2.2.1 Categorias de empresas inovadoras
Segundo Tidd et al. (2001), as empresas pequenas tendem a ser mais
especializadas que as maiores. Empresas maiores podem ser mais diversificadas,
tanto em relação à quantidade de produtos quanto em relação às suas
competências tecnológicas.
Eles utilizam quatro categorias de classificação das pequenas empresas inovadoras.
São elas: as superstars, as novas empresas de base tecnológica (pela sigla em
inglês, NTBFs, new technology-based firms), os fornecedores especializados e as
dominadas pelo fornecedor.
44
As superstars são empresas que crescem rapidamente em decorrência da
exploração de uma grande invenção ou trajetória tecnológica. Seu principal desafio,
quanto à estratégia de inovação, é preparar a substituição da invenção original.
Embora não utilize esta terminologia, as superstars são descritas por Dosi (1982). O
autor advoga uma maior influência do ambiente na formação das empresas,
relacionando o rápido crescimento de empresas pequenas com um novo paradigma
tecnológico.
As NTBFs normalmente se concentram em setores de aplicação mais horizontal,
como a de eletrônica, a da biotecnologia e o de software. São empresas
especializadas em fornecer soluções tecnológicas a grandes empresas. Seus
desafios abrangem, segundo os autores, um trade-off entre se tornar uma superstar,
ou seja, crescer rapidamente, ou se tornar uma fornecedora especializada.
Tornar-se uma superstar é um grande desafio, pois uma das características dessas
empresas é fornecer produtos especializados a um nicho, o que dificulta sua
comercialização em outros mercados. Sua escolha estratégica neste caso aponta
para o aumento da receita e da independência via crescimento.
Manter-se uma fornecedora especializada envolve uma escolha estratégica de
maximizar o valor do negócio no longo prazo, basicamente pela acumulação de
conhecimento na empresa.
Tidd et al. (2001) ainda caracterizam dois outros grupos de empresas: as
fornecedoras especializadas e as dominadas pelo fornecedor.
As fornecedoras especializadas são geralmente pequenas empresas que fornecem
soluções de alta performance, normalmente na forma de maquinário, componentes,
instrumentos e software. Trabalham de forma muito próxima a seus clientes,
atendendo suas necessidades e, ao mesmo tempo, acumulando conhecimento a
partir das experiências dos clientes. Tidd et al. (2001, p.132) afirmam que tais
empresas possuem pouco P&D formal, embora ainda assim “sejam uma fonte
importante de desenvolvimento ativo de inovações significativas”.
45
Por fim, as empresas dominadas pelo fornecedor têm nos fornecedores a principal
fonte de recursos especializados e de tecnologia. São incapazes de desenvolver
tecnologia própria, portanto não competindo com base nessa competência. Em
outras palavras, são usuários de tecnologia e não desenvolvedores, embora, por
várias vezes, incorporem a tecnologia a seus produtos e processos.
É interessante notar que a terminologia de Tidd et al. (2001) se assemelha à
proposta por Pavitt (1984) no tocante aos dois últimos grupos citados: os
fornecedores especializados e as empresas dominadas pelo fornecedor.
A taxonomia de Pavitt (1984) tinha a intenção de ser mais ampla, na tentativa de
explicar as tipologias setoriais da mudança técnica. Ele descreve outras duas
categorias de empresas: as intensivas em escala e as baseadas em ciência. As
intensivas em escala dependem frequentemente de tecnologias de processo,
desenvolvidas internamente ou mediante aquisição externa. As baseadas em ciência
caracterizam-se pelo desenvolvimento interno de produtos, levando a uma grande
quantidade de patentes. O autor aponta que o tamanho relativo das empresas
nestas categorias normalmente é grande.
2.2.2 Empresas de Base Tecnológica (EBT)
Bollinger et al. (1983) apresentam as empresas baseadas em novas tecnologias
como pequenas empresas, com um núcleo de fundadores pequeno e bem
identificado, que são independentes (não são subsidiárias de grandes empresas) e
cuja motivação de sua criação foi justamente explorar uma ideia tecnologicamente
inovadora. Para Barbieri (1995), a definição não é totalmente adequada às
empresas de base tecnológica, tendo em vista que não há razão para a limitação do
porte da empresa, assim como a independência não é essencial para a
caracterização proposta.
Para o caso brasileiro, não há uma conceituação amplamente disseminada sobre
empresas de base tecnológica. A definição encontrada com mais frequência na
46
literatura brasileira é a proposta pela Finep (2009), qual seja, “empresas de qualquer
porte ou setor que tenham na inovação tecnológica os fundamentos de sua
estratégia competitiva”.
A Finep (2009) ainda propõe uma definição operacional para o conceito,
relacionando características que as distinguem de outras empresas. Segundo a
instituição, são empresas de base tecnológica aquelas que apresentam ao menos
duas das seguintes características:
•
“desenvolvam produtos ou processos tecnologicamente novos ou melhorias
tecnológicas significativas em produtos ou processos existentes. O termo produto
se aplica tanto a bens como a serviços;
•
obtêm pelo menos 30% (trinta por cento) de seu faturamento, considerando-se a
média mensal dos últimos doze meses, pela comercialização de produtos
protegidos por patentes ou direitos de autor, ou em processo de obtenção das
referidas proteções;
•
encontram-se em fase pré-operacional e destinam pelo menos o equivalente a
30% (trinta por cento) de suas despesas operacionais, considerando-se a média
mensal dos últimos doze meses, a atividades de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico;
•
não se enquadram como micro ou pequena empresa e destinam pelo menos 5%
(cinco por cento) de seu faturamento a atividades de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico;
•
não se enquadram como micro ou pequena empresa e destinam pelo menos
1,5% (um e meio por cento) de seu faturamento a instituições de pesquisa ou
universidades, ao desenvolvimento de projetos de pesquisa relacionados ao
desenvolvimento ou ao aperfeiçoamento de seus produtos ou processos;
•
empregam, em atividades de desenvolvimento de software, engenharia, pesquisa
e desenvolvimento tecnológico, profissionais técnicos de nível superior em
percentual igual ou superior a 20% (vinte por cento) do quantitativo total de seu
quadro de pessoal;
47
•
empregam, em atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, mestres,
doutores ou profissionais de titulação equivalente em percentual igual ou superior
a 5% (cinco por cento) do quantitativo total de seu quadro de pessoal”.
Percorrendo as características listadas acima, percebe-se uma preocupação com
duas variáveis: o esforço inovador, representado pelo investimento em P&D, e o
desempenho, seja a obtenção de receita a partir de produtos patenteados ou o mero
desenvolvimento de uma inovação.
Outros autores, como Marcovitch et al. (1986, p.4), utilizam expressões diferentes
para o conceito. As chamadas empresas de tecnologia avançada são “aquelas
criadas para fabricar produtos ou serviços que utilizam alto conteúdo tecnológico”.
Para os autores, “indústrias de tecnologia avançada, de alta tecnologia, ou de
tecnologia de ponta são denominações usadas com o mesmo fim, para caracterizar
as indústrias de base tecnológica”.
Para Fernandes et al. (2004, p.155),
“para se distinguir a pequena e média EBT brasileira das demais empresas da base produtiva
nacional seria utilizado um filtro capaz de identificar sua capacidade de inovação em produto
e seu esforço tecnológico, a partir de um conjunto de indicadores. Estes incluiriam: i) a
natureza dos produtos desenvolvidos pela própria empresa; ii) os gastos com P&D em
relação ao faturamento da empresa; iii) a existência de um departamento de P&D na
empresa, seja ele estruturado formalmente ou não; iv) a proporção de engenheiros e demais
profissionais graduados em relação ao conjunto total de funcionários da empresa (não
apenas aqueles contratados para o departamento de P&D, mas aqueles engajados em
atividades de P&D, já que em muitos casos não há um departamento de P&D estruturado); v)
relação com universidades e/ou centros de pesquisa; e vi) despesas em aquisição de novas
tecnologias relacionadas à acumulação tecnológica.”
2.2.3 Inovadoras Seriais (“Serial Innovators”)
O conceito de “inovadora serial” não possui uma definição comum aos autores que
trabalham com ele. Trata-se de um conceito relativamente novo, em que os autores
ainda procuram um consenso quanto a sua definição. Há algumas definições
correntes, que apresentaremos a seguir, como forma de embasar a definição
utilizada no presente trabalho.
48
É importante citar, em primeiro lugar, que não há uma definição específica presente
na literatura para o termo ‘inovação seriada’ (ou serial). O que se verifica com
frequência é seu uso como sinônimo de inovação contínua, como a língua
portuguesa permite.
Mathur e Kenyon (2001), embora não estudassem especificamente a inovação
seriada, mas sim estratégias de negócios, utilizam uma definição para a inovação
seriada. Eles sugerem que esta corresponde ao contínuo de inovações que
sucedem à introdução de uma grande inovação no mercado. Seu único exemplo é o
walkman, da empresa Sony, no qual o sucesso não seria decorrente da primeira
introdução, mas sim da melhoria dos modelos subsequentes e das técnicas de
produção.
Entendendo a inovação seriada como o resultado das empresas inovadoras seriais,
que definiremos mais adiante, mais do que ser uma inovação contínua, como
aparentemente sugerem Mathur e Kenyon (2001), ela está relacionada à
manutenção da empresa na fronteira tecnológica (LIBAERS, 2008).
A primeira definição presente na literatura entende a “inovadora serial” como um tipo
possível de modelo de negócios. Para os autores, ela seria “uma empresa que
entrega repetidamente produtos que trazem funcionalidades radicais ou atendem a
uma necessidade existente de uma nova maneira.” (HAUG et al., 2000, p.50).
Para Hicks e Hegde (2005a, p.704), “inovadoras seriais” são “pequenas empresas
com um registro público sustentável de sucesso no avanço técnico”.
Tal conceito passou a ser utilizado pelo U.S. Small Business Administration (SBA)1,
a partir de estudos contratados junto a pesquisadores americanos em 2003 (CHI
RESEARCH, 2003).
1
O SBA é uma agência independente do governo americano, fundada em 1953, com o objetivo de
ajudar, aconselhar, assistir e proteger os interesses dos pequenos negócios, colaborando para a
manutenção e o fortalecimento da economia norte-americana (SBA, 2009).
49
Para Hicks e Hegde (2005a), normalmente elas são resultados da especialização do
trabalho e diferem das demais empresas por serem fornecedoras de tecnologia, o
que, de fato, não as diferencia de vários outros tipos de empresas, já que o próprio
conceito de tecnologia é bastante amplo. Como exemplo, se optássemos por uma
definição focada neste ponto, qualquer fornecedor de bens de capital poderia ser
considerado, portanto, como uma inovadora serial, na medida em que pode agregar
tecnologia ao processo de uma outra empresa.
Libaers (2008) adota uma definição bastante compatível com a de Hicks e Hegde,
afirmando serem empresas pequenas e altamente inovadoras. Libaers (2008, p.5)
também define as “inovadoras não seriais” como:
“empresas inovadoras de base tecnológica, comparáveis com as inovadoras seriais em
termos de idade, tamanho, segmentos de mercado atendidos e produtos comercializados,
que podem ou não patentear suas tecnologias, mas certamente não no mesmo nível que uma
inovadora serial. Além disso, inovadoras não seriais não conseguem sustentar sua fronteira
tecnológica ao longo do tempo e, portanto, recorrem ao desenvolvimento de tecnologias mais
incrementais ou produzem imitações sem infringir as patentes nas quais as tecnologias
originais se basearam”.
A descrição adotada por Libaers faz ainda uma importante distinção entre
“inovadoras seriais” e empreendedores seriais.
Para Dornelas (2001), empreendedores seriais são pessoas com grande motivação
por empreender e acabam por não se contentar em criar apenas um negócio.
Envolvem-se em vários negócios ao mesmo tempo, às vezes colecionando alguns
fracassos. Tal definição aparece também em outros autores – por exemplo, em
Bricklin (2001), Ardichvili et al. (2003) e Skorman (2007). Portanto, trata-se de
pessoas que dispõem de determinadas características psicológicas ligadas à
obstinação em explorar uma oportunidade vislumbrada.
Há ainda outros autores, como Sim et al. (2007), que utilizam o termo “inovador
serial” para se referir a indivíduos inovadores que incorporam habilidades técnicas e,
ao mesmo tempo, conhecimento sobre o consumidor. Tal definição foge bastante da
utilizada pela maior parte dos autores.
50
Cabe destacar, portanto, que para a maior parte dos autores – e para o caso do
presente estudo –, o termo se refere a um tipo de empresa e não a um tipo de
indivíduo. A possibilidade de uma confusão entre uma empresa inovadora serial e
um indivíduo empreendedor serial levou Libaers (2008, p.4-5), a destacar a clara
distinção entre os conceitos, conforme reproduzido a seguir.
“Uma boa descrição de tais firmas foi proposta por Leigh Buchanan [...], que as rotulou
‘inovadoras seriais’. Ela faz uma clara distinção entre inovadoras seriais e empreendedores
seriais. Pequenas empresas são comumente criadas baseadas em uma grande oportunidade
de mercado que foi identificada pelo empreendedor e para a qual ele ou ela ou um sócio
desenvolve uma solução inovadora. A estratégia da empresa gira em torno da exploração da
oportunidade e a subsequente comercialização do produto ou serviço incorpora a solução
inovadora que remete a essa oportunidade de negócio. Se a comercialização falha, a
empresa se dissolve; se ela obtém sucesso, o empreendedor pode vender muito. Mesmo se a
ideia e sua solução se provarem um sucesso de mercado e a empresa não for vendida, a
próxima ideia (ou um processo para gerar mais ideias) se torna mais desafiadora, e
frequentemente a pequena empresa desaparece após a primeira ideia entrar em curso.
Independentemente do resultado, nos Estados Unidos o empreendedor é inclinado a
continuar e começar uma nova empresa, e há muitos empreendedores seriais. Inovadoras
seriais são empresas que possuem uma habilidade única de sustentar a inovação sobre a
primeira ideia enquanto mantêm ou até fortalecem sua capacidade inovadora.”
A diferença básica entre a definição proposta por Haug et al. (2000) e a de Libaers
(2008), Hicks e Hegde (2005) diz respeito ao porte das empresas. Para esses
autores, um modelo de negócio de inovação serial se aplica a empresas
estabelecidas, na tentativa de manter sua competitividade frente à entrada de startups, que poderiam ameaçar sua liderança alterando os paradigmas vigentes, de
forma semelhante ao proposto por Christensen (2000). Assim, seus fatores-chave de
sucesso compreendem o balanço entre o lançamento de novidades e certo grau de
estabilidade. São normalmente empresas bem grandes. Para Libaers (2008), Hicks e
Hegde (2005), as “inovadoras seriais” são pequenas empresas.
Para Libaers (2008), Hicks e Hegde (2005), as empresas podem ser intituladas
“inovadoras seriais” se atendem aos seguintes critérios: tem 500 ou menos
empregados, caracterizando-se como uma pequena empresa, e se mantém
pequena; possui 15 ou mais patentes em um período de 5 anos; são independentes,
ou seja, cujo capital majoritário não pertence a uma grande empresa, não é uma
joint venture e não é uma subsidiária de uma empresa grande americana ou
estrangeira; continuam em atividade; e são de vida longa, ou seja, sobreviveram a
pelo menos um ciclo econômico completo em mercados de rápida mudança.
51
Assim como o Sir Clive Sinclair, que apresentava um tipo de obsessão pela
inovação, mas que, embora tenha lançado diversas novidades em nível mundial, sua
empresa não se tornou uma companhia baseada em qualquer de seus inventos
(SINCLAIR RESEARCH, 2010), também os inovadores seriais podem compartilhar
desse modo de agir.
Christensen (2000) sintetiza muito bem esta decisão do empreendedor ao descrever
o dilema do inovador. Para ele, o dilema do inovador é justamente escolher mudar
quando acerta.
O processo de inovação normalmente é carregado de grande incerteza quanto a seu
sucesso. Ter sucesso, portanto, configura um acerto dentre eventuais tentativas
frustradas. Abrir mão de investir na inovação que está dando certo por algo que
ainda não tem mercado – uma inovação potencial – parece ser uma decisão difícil.
Christensen (2000) argumenta que não tomar essa decisão pode por em risco o
sucesso já obtido, tendo em vista que a inovação seguinte pode tornar sua inovação
obsoleta.
Partindo-se apenas da definição mais frequente de inovadoras seriais, entende-se
que esse tipo de empresa conjuga bem a inovação contínua e a inovação radical.
Embora não seja objetivo explícito do presente estudo investigar as inovadoras
seriais, sua definição se torna relevante na medida em que investigamos esses dois
fatores.
2.3 DESEMPENHO INOVADOR
Diante das classificações de uma empresa inovadora, o sucesso é mencionado por
alguns estudos, como em CHI Research (2003) e Hicks e Hegde (2005a). Também é
possível identificar a menção a um desempenho diferente na definição de Haug et
al. (2000). Uma definição de desempenho, portanto, parece ser importante para o
estudo das empresas inovadoras. Um bom desempenho é frequentemente chamado
de ‘sucesso’, cujo significado discutiremos a seguir.
52
Embora seja uma palavra de uso comum, que o dicionário registra como sinônimo
de bom resultado, êxito, triunfo (HOUAISS; VILLAR, 2001), ela não está muito bem
estabelecida como conceito.
A literatura traz uma importante contribuição sobre o sucesso empresarial. O item a
seguir traz uma breve revisão sobre autores que escreveram sobre o tema.
2.3.1 Sucesso empresarial
Uma busca pelos estudos sobre sucesso no campo da administração nos traz uma
quantidade grande de casos. Bethlem (1989), por exemplo, tenta responder à
seguinte pergunta: “há um padrão de sucesso e insucesso nas empresas
americanas?”. Para tanto, relaciona e comenta quesitos que a literatura relaciona ao
sucesso.
Para ele, indicadores tradicionais como o tamanho da empresa e seu crescimento,
não são indicadores de sucesso, visto que empresas de vários tamanhos fecham as
portas ou são adquiridas. Da mesma forma, uma maior parcela de mercado, assim
como a fabricação de produtos de grande aceitação, também não seriam garantia de
sucesso, pelos mesmos motivos.
O prestígio das ações, resultado da solidez da situação econômica e/ou a
constância de seus rendimentos, também não representam sucesso, visto que,
segundo Bethlem (1989), há empresas de sucesso com pouca valorização das
ações e vice-versa.
A P&D, apontado como garantia de sucesso, também não a é, justamente porque
nem sempre as invenções são sucessos comerciais.
A performance do setor poderia ser uma garantia de sucesso. No entanto, se isso
fosse verdade, as empresas de determinado setor teriam resultados bastante
53
semelhantes. Há casos de sucesso em setores estagnados e casos de fracasso em
setores de forte crescimento.
O autor repete a pergunta para as empresas brasileiras e, para os dados disponíveis
(tamanho, parcela de mercado, fabricação de produtos de grande aceitação,
prestígio das ações), os resultados são análogos.
Por fim, Bethlem (1989) afirma que o padrão de sucesso é condicionado pela
qualidade de seus administradores de topo.
O fato é que, na maior parte dos padrões estudados, a principal crítica é que eles
não garantem a sobrevivência e a longevidade da empresa.
O autor volta à questão em outra obra (BETHLEM, 2002) indicando quatro
componentes do sucesso empresarial: lucro, crescimento, sobrevivência e prestígio.
Para ele, as empresas que atendem a estes requisitos são chamadas de bemsucedidas.
De fato, outro estudo, conduzido por Fleck (2006), cita que o crescimento é
frequentemente utilizado como indicador de sucesso organizacional. Além dele, há
um foco também na dimensão tempo, estando relacionado à sobrevivência e ao
atendimento de seus objetivos de longo prazo. O sucesso, portanto, estaria
relacionado ao grau com que as firmas são capazes de atingir seus objetivos.
Uma outra linha, tomando a perspectiva do principal foco da empresa, o consumidor,
traz outras contribuições. Imai (1990), ao estudar o kaizen (expressão japonesa
traduzida como ‘contínuo melhoramento’), traz como grande indicador de sucesso
desses esforços a satisfação do consumidor. Para ele, este é o grande objetivo da
administração. É interessante notar que, pelas próprias características do kaizen,
que tem um importante foco no controle total da qualidade, o sucesso de uma
empresa só poderia ser medido pelo consumidor.
Há ainda outras perspectivas, como a do acionista, que enxerga o sucesso da
empresa de uma outra forma. Silva (2006), por exemplo, ao estudar a relação da
54
adoção
de
práticas
de
governança
corporativa
e
sucesso,
pressupõe
intrinsecamente que o sucesso é determinado pelo valor da empresa. De fato,
considerando-se o interesse do acionista, a valorização das ações da empresas
parece ser o melhor indicador de sucesso.
Em uma linha semelhante, para Ghoshal e Tanure (2004), tamanho e desempenho
do setor, como apontado por Bethlem (1989), não são determinantes de sucesso.
Para eles, empresas bem-sucedidas tornam-se altamente competitivas, o que é
recompensado com crescimento e lucro. Estes, por sua vez, trazem reconhecimento
e comemoração. O fim, no entanto, é criar valor.
Para outros autores, como Duarte (2004), há ainda outras perspectivas a considerar.
Através de vários casos de empreendimentos no Brasil, ele lança um foco sobre um
sucesso que extrapola os limites da empresa. Trata-se do impacto sobre a
comunidade, na forma de inclusão social.
Autores mais prescritivos citam vários indicadores de sucesso, como lucro, clientes
fiéis, equipe motivada e capacitada, tecnologia apropriada, imagem positiva,
fornecedores
parceiros,
qualidade
total,
produtividade
e
competitividade
(PAGNONCELLI; VASCONCELLOS FILHO, 1992). Enfim, o sucesso parece poder
ser mensurado de várias formas distintas.
Talvez o sucesso da empresa possa ser entendido fazendo-se um paralelo, por
exemplo, com a proposta da hierarquia de necessidades de Maslow. O sucesso
poderia ter um encadeamento, baseado nos argumentos de Bethlem (2002),
começando-se por sobreviver, ter estabilidade (lucro), crescer e ter prestígio.
As definições trazidas acima possuem apenas um porém para nosso estudo. Elas
tratam de definições ligadas ao sucesso empresarial. Embora a inovação possa
contribuir para o sucesso empresarial, ela não o determina. Da mesma forma, um
fracasso na inovação não determina o fracasso empresarial. Como citam Freeman e
Soete (1997, p.201-202):
55
“Os fracassos podem todavia contribuir para o sucesso final de uma inovação, embora os
esforços individuais tenham falhado. O mecanismo social da inovação é uma questão de
sobrevivência no mercado. A possibilidade de fracasso pelas empresas que tentam inovar
surge da incerteza técnica e da possibilidade de se menosprezar o mercado futuro e a
competição.”
Assim, para o presente estudo, a principal contribuição da revisão dos conceitos de
sucesso empresarial está no entendimento dos objetivos pelos quais as empresas
inovam e em identificar uma correspondência entre o sucesso na inovação e o
sucesso empresarial.
2.3.2 Por que as empresas inovam?
Tendo em vista que buscamos, neste estudo, trabalhar os conceitos de inovação
radical e de inovação contínua, qualificando a forma com que as empresas inovam,
convém relacionar os motivos que levam as empresas a inovar, na intenção de
contribuir para a formatação das hipóteses da pesquisa.
Ferguson (1988) argumenta que os motivos para inovar são dois: a curiosidade
humana, que levaria a uma inovação mais espontânea, e a busca por uma
recompensa financeira, que seria uma inovação induzida. Estes motivos vão ao
encontro dos modelos lineares de inovação, podendo-se fazer uma clara analogia
entre a curiosidade e o modelo technology-push e a recompensa e o modelo
demand-pull.
Normalmente, na inovação mais “espontânea”, movida pela curiosidade, haveria
uma tendência a que ela fosse mais radical. Em outras palavras, seria mais difícil
projetar financeiramente seus resultados. O sucesso, neste caso, está mais ligado à
satisfação das pessoas envolvidas.
Já na inovação “induzida”, a recompensa financeira é clara. Por conseguinte, é
razoável imaginar se tratar de inovações incrementais, onde o mercado consumidor
já está formado. O sucesso, neste outro caso, está mais ligado a um bom
desempenho comercial.
56
Sheth e Ram (1987) apresentam outros motivos para uma empresa inovar. Para
eles, há basicamente quatro motivos: os avanços tecnológicos, que levariam a
empresa a incorporar alguns deles a seus produtos; o perfil dos clientes, que tendem
a se modificar ao longo do tempo, requerendo também alterações nos produtos;
mudanças na regulação, que levariam a empresa a ter que se adaptar para
continuar no mercado; e a própria competitividade, pois pode ser uma necessidade
de mercado a diferenciação ou inovações de processo voltadas à redução do custo.
Cabe mencionar que um dos principais benefícios da inovação para as empresas,
apontado por importantes autores – por exemplo, Schumpeter (1961) –, é o
monopólio provisório sobre determinado nicho de mercado. Isso daria uma
importante vantagem competitiva às empresas inovadoras.
À parte dos motivos que levam uma empresa a inovar, inovar sistematicamente pode
ser provocado por outros fatores. Este tipo de empresa inovadora, a priori, vislumbra
mais benefícios em inovar que outras empresas.
2.3.3 Sucesso na inovação
Segundo alguns autores, a inovação por si só já pressupõe seu sucesso:
“A inovação é frequentemente vista como uma coisa boa, porque se espera que ideias novas
em desenvolvimento sejam úteis – lucrativas, construtivas ou resolvam um problema. Ideias
novas que não são percebidas como úteis não são normalmente chamadas inovações; elas
são quase sempre chamadas de ‘erros’. Objetivamente, claro, a utilidade de uma ideia só
pode ser parcialmente determinada quando os resultados dela se tornam aparentes, o que
ocorre tipicamente depois do processo de inovação estar completo e implementado. Só então
é que novas ideias podem ser caracterizadas como ‘inovações’ ou ‘erros’.” (DORNBLASER et
al., 2000, p.193)
A inovação, portanto, já seria o maior indicador de sucesso. No entanto, adotandose a definição de inovação como a primeira comercialização, a sobrevivência deste
produto no mercado poderia ser considerada como um melhor indicador de sucesso,
já que traria aspectos mais relacionados à sua adoção.
57
Para Burgelman e Sayles (1986), a inovação consistiria de duas partes: uma nova
tecnologia e um mercado real ou potencial. Assim, para uma inovação de sucesso,
seria preciso tecnologia, mercado e de alguém que fomentasse esta integração.
Freeman e Soete (1997, p.200) também concordam ao dizer que:
“A inovação é essencialmente uma atividade de duas faces. (…) De um lado, ela envolve o
reconhecimento de uma necessidade ou mais precisamente, em termos econômicos, um
mercado potencial para um novo produto ou processo. Por outro lado, ela envolve
conhecimento técnico, que pode estar geralmente disponível, mas pode também incluir
conhecimento científico e tecnológico novo, o resultado de atividade de pesquisa original.”
Para eles, a ligação entre uma necessidade de mercado e uma nova possibilidade
técnica se dá na cabeça de pessoas imaginativas. Assim, empresas que monitorem
de forma mais eficiente e sistemática as novas descobertas científicas podem
perceber primeiro as novas possibilidades. Da mesma forma, empresas que
conheçam as fontes da insatisfação dos consumidores podem mais facilmente
reconhecer mercados potenciais. Por fim, “o teste do empreendedorismo de sucesso
e da boa gerência está na capacidade de juntar essas possibilidades técnicas e de
mercado, combinando os dois fluxos de informação e novas ideias”. (FREEMAN;
SOETE, 1997, p.202)
A literatura traz algumas formas de mensuração da variável sucesso para as
inovações. Alguns autores clássicos, como Scherer (1965) e Schmookler (1962),
fizeram uso do número de patentes como indicador da atividade inovadora.
Pesquisadores da área de Economia tendem a agregar a essa medida, as variáveis
produtividade e crescimento da empresa como resultados do desempenho da
inovação (DE NEGRI et al., 2008). Observe-se que, neste caso, a produtividade era
medida pela relação entre o Valor da Transformação Industrial (segundo IBGE,
2010), o “valor da diferença entre o valor bruto da produção industrial e os custos
das operações industriais”) e o pessoal ocupado; enquanto o crescimento era
medido por uma série de variáveis, entre elas o aumento do pessoal ocupado e o
aumento da receita líquida de vendas.
Wang e Kafouros (2009, p.606) definem a performance da inovação como a
“magnitude dos retornos econômicos da inovação” e a mensuram como a proporção
da vendas de novos produtos sobre as vendas totais. Para eles, este tipo de relação
58
é mais adequado que o número de patentes ou a produtividade, pois incorpora tanto
a aceitação do mercado quanto inovações não patenteáveis.
Entendemos que este tipo de medida, proposto por Wang e Kafouros (2009), é
bastante interessante para grupos homogêneos de empresas. No nosso caso, como
será visto na descrição dos dados, há empresas de vários portes e idades. Estas
duas características – porte e idade – têm impacto direto sobre a relação “novos
produtos sobre vendas totais” proposta pelos autores, já que empresas grandes
costumam ter um portfólio mais diversificado de produtos, eventualmente com um
ritmo de inovação talvez bastante diferente em cada unidade de negócio da
empresa. Da mesma forma, empresas muito jovens tendem naturalmente a ter um
percentual de novos produtos mais elevado no portfólio.
O crescimento da empresa também não é uma medida adequada para a presente
pesquisa, por dois motivos. O primeiro é que o número de funcionários em dois
períodos não necessariamente reflete o crescimento da empresa, já que ela pode ter
feito investimentos em automação ou terceirizado parte da produção. O segundo é
de caráter operacional e envolve a apuração do crescimento do faturamento em dois
períodos. As empresas normalmente mantêm sigilo sobre informações de
faturamento, dificultando sua apuração.
O número de patentes, que já fora alvo de críticas (p.e. Freeman e Soete (1997)),
também não é adequado, por não medir a inovação e sim a invenção.
Para fins deste trabalho, quando cabível, entenderemos o sucesso como: a efetiva
introdução do produto (ou processo) no mercado, que configura a inovação; e um
elevado percentual de faturamento advindo da venda de produtos lançados há
menos de três anos.
2.4 O ESTUDO “WEALTH FROM KNOWLEDGE”
Neste estudo, grande fonte de inspiração para a presente pesquisa, Langrish et al.
(1972) preocupam-se em listar os fatores presentes nas empresas inovadoras. Tal
59
qual a presente pesquisa, seu objetivo é identificar fatores importantes para
promover ou atrasar uma dada inovação. A grande semelhança entre os dois
estudos, além da característica da amostra, é a tentativa de extrair conclusões a
partir do histórico de uma inovação. De certa forma, trata de tentar explicar o
sucesso de uma inovação a partir de fatores organizacionais.
A maior diferença entre os dois estudos é que Langrish et al. (1972) focam em
relacionar os fatores diretamente relacionados ao ambiente organizacional com a
inovação, enquanto que propomos uma ampliação do foco, com a comparação de
variáveis internas e externas à empresa. Nossa medida é indireta, na medida em
que trabalhamos a percepção das empresas sobre essas variáveis. Ainda assim, o
trabalho de Langrish et al. (1972) traz importantes contribuições, que julgamos de
citação fundamental para os fins desta pesquisa, além de constituir um relevante
ponto de partida para o levantamento das variáveis da pesquisa.
Sua amostra, constituída de 84 ganhadores do Queen’s Award (prêmio dedicado à
inovação tecnológica no Reino Unido) de 1966 e 1967, nas categorias inovação
tecnológica e inovação e exportação combinados, compõe um amplo estudo de
casos que os ajudaram a identificar uma série de fatores aparentemente importantes
para a inovação nas empresas. Tais fatores poderiam tanto promover a inovação
quanto atrasá-la.
A busca pelas fontes da inovação tecnológica levou os autores a trabalhar com seis
grupos de fatores: os papéis dos indivíduos na inovação, a questão do tamanho do
grupo de pesquisa, as interações entre diferentes organizações, os papéis da
ciência na inovação, a transferência de tecnologia e as relações da pesquisa com o
marketing.
Quanto aos papéis dos indivíduos na inovação, há três grupos trabalhados pelos
autores: os inventores independentes (aqueles que não estão ligados a nenhuma
instituição), o ambiente institucional (entendido, na concepção dos autores, como as
próprias organizações inovadoras) e os gerentes e pesquisadores criativos, que
ocupam posição de decisão nos projetos de inovação.
60
Mais que os indivíduos isoladamente, os grupos de pesquisa também se
apresentavam
como
importantes.
Questões
como
a
demarcação
das
responsabilidades no grupo, as variações em sua composição, a alocação de tempo
e as interações entre o grupo de pesquisa e o de produção são pontos que
dificultam uma avaliação de um tamanho ótimo para um grupo de pesquisa.
Um terceiro fator diz respeito às interações entre organizações, que englobam uma
grande gama de relações, como a pesquisa na universidade, no governo, o
financiamento público, o licenciamento entre empresas e o papel dos clientes.
Assim, há maior probabilidade de sucesso em situações em que há similaridade de
objetivos em vários grupos.
Quanto ao papel da ciência na inovação, os autores apontam como importante,
embora a transformação do conhecimento puro produzido pela ciência em riqueza
não seja algo trivial.
Ao lado da ciência, a tecnologia também assume papel importante para a inovação.
Assim, um outro fator listado por Langrish et al. (1972), a transferência de tecnologia,
é estudado. Sua forma pode acontecer por vias formais ou por indivíduos que
transitam pelas organizações, como ex-funcionários que se empregam em uma
concorrente.
Por último, é claro para os autores que qualquer inovação que obtenha sucesso
envolverá algum tipo de sensibilização para as necessidades do mercado.
Sobre os grupos de fatores apontados e através dos casos estudados, Langrish et
al. (1972) enumeram fatores que ajudaram ou não no sucesso da inovação. Uma
listagem resumida destes fatores é apresentada no Quadro 2.
61
Quadro 2 – Fatores ligados ao sucesso ou a atrasos na inovação
Fatores que ajudaram no sucesso
Presença de uma pessoa marcante em uma
posição de autoridade
Outros tipos de pessoas de destaque
Identificação clara de uma necessidade
Fatores que causaram atraso na inovação
Alguma outra tecnologia ainda não fora
suficientemente desenvolvida
Não havia mercado ou necessidade
O potencial não fora reconhecido pela
administração
Resistência a novas ideias
Percepção de uma potencial utilidade para a
descoberta
Boa cooperação
Escassez de recursos (capital ou mão-de-obra)
Disponibilidade de recursos
Problemas de cooperação ou de comunicação
(entre áreas, entre empresas ou com clientes)
Ajuda de fontes governamentais
Fonte: Langrish et al. (1972, p.66-72). Elaboração própria.
Nota-se que Langrish et al. (1972) abordam uma quantidade de fatores
relativamente extensa e de diferentes ordens. Permeiam os casos, fatores internos,
como a existência de pessoas-chave, e fatores externos, como o governo e a
cooperação. Outra característica interessante é a tentativa de ranquear as inovações
estudadas, de forma a mensurar o tamanho da mudança na tecnologia que sustenta
a inovação.
Ainda que tenhamos partido dos fatores listados por Langrish et al. (1972), o
presente estudo acrescenta outras variáveis encontradas na literatura. O “Wealth
from Knowledge”, assim como outras bibliografias, ajudam a compor o quadro de
variáveis que possuem impacto sobre a inovação.
2.5 O FATOR AMBIENTE
O fator ambiente, na presente pesquisa, refere-se a forças externas à empresa que,
segundo algumas abordagens teóricas, condicionam a formação das empresas e,
portanto, influenciam o tipo e o perfil da inovação lançada por estas empresas.
Como apontado por Langrish et al. (1972) em seu clássico livro “Wealth from
Knowledge”, mencionado anteriormente, há um tipo de relação biunívoca entre as
invenções e o meio social. As pressões comerciais, institucionais, sociais e outras
afins compõem um ambiente que pode estimular a inovação.
62
Aliados a tais indicativos teóricos estão as questões práticas relacionadas à
construção de um ambiente propício à inovação. Várias iniciativas têm sido adotadas
ao longo dos últimos anos e o Sistema Brasileiro de Inovação tem passado por
diversas transformações, como veremos adiante.
Assim sendo, faremos algumas reflexões sobre o atual ambiente institucional
brasileiro e, em seguida, descrevemos as principais correntes teóricas que apontam
o ambiente como foco das pesquisas e listamos as variáveis presentes na literatura.
2.5.1 Reflexões sobre o Atual Ambiente Institucional no Brasil e sua
Relação com a Promoção da Inovação
O objetivo deste tópico é refletir sobre o ambiente institucional no Brasil e sua
relação com a promoção da inovação, trazendo um breve diagnóstico da situação
atual no País. As informações aqui apresentadas contribuirão, principalmente, para a
contextualização do estudo.
Ao estudarem o sistema brasileiro de inovação, Dahlman e Frischtak (1993, p.414) o
definiram como “a rede de agentes e o conjunto de políticas e instituições que
afetam a introdução de tecnologia que é nova para a economia”. Seu diagnóstico, do
final dos anos 80, era que o Brasil insistia em políticas governamentais
desatualizadas, com uma visão de curto prazo e fraco apoio institucional, além de
haver pouca demanda das empresas. As exceções diziam respeito a instituições
públicas de excelência, como a Embrapa, o Centro Tecnológico da Aeronáutica
(CTA) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que forneciam um apoio
relevante à indústria.
De lá para cá o Brasil sofreu algumas transformações nesse campo, com a alteração
do marco regulatório e mesmo a estabilização da economia, que permitiu uma visão
de mais longo prazo, apenas para citar alguns exemplos. A mudança mais nítida se
deu no papel do governo.
63
Os mecanismos de indução governamental à inovação compreendem dois tipos: os
mecanismos técnicos e os financeiros. Como cita Wiesz (2006, p.14):
“mecanismos técnicos são aqueles que têm um impacto direto sobre a gestão da empresa.
Como exemplos de mecanismos técnicos ou não financeiros, pode-se mencionar a
infraestrutura de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) oferecida pelo Estado para gerar
conhecimento e soluções técnicas para empresas, tais como laboratórios e centros de
pesquisas provendo pesquisas tecnológicas, ensaios de caracterização, análises
laboratoriais, laudos e serviços de informação técnica.”
Já os mecanismos financeiros englobam os incentivos fiscais, os incentivos
financeiros e o uso do poder de compra do Estado.
Os incentivos fiscais à inovação foram instituídos pela Lei 11.196/2005. Já os
incentivos financeiros podem ser agrupados basicamente em financiamentos,
participação acionária (capital de risco) e subvenção econômica.
Toda uma nova legislação de apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação foi criada a
partir da década de 90, ajudando a sistematizar o apoio técnico e financeiro à
inovação. São leis que entraram em vigor neste período: o conjunto de leis dos
chamados Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, a Lei de Inovação e a Lei de
Incentivos Fiscais à Inovação e à Exportação, entre outras.
Segundo o MCT (2010),
“os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia constituem um mecanismo inovador de
estímulo ao fortalecimento do sistema de C&T nacional. Os Fundos têm como objetivo
garantir a ampliação e a estabilidade do financiamento para a área e, em simultâneo, a
criação de um novo modelo de gestão, fundado na participação de vários segmentos sociais,
no estabelecimento de estratégias de longo prazo, na definição de prioridades e com foco nos
resultados.”
Os Fundos Setoriais têm como público-alvo universidades, suas fundações e
Centros de Pesquisa do País, públicos ou privados, sem fins lucrativos, e apoiam as
seguintes ações: estudos de necessidades e prognósticos de oportunidades,
realizados, prioritariamente, sob encomenda ou por atuação induzida; projetos de
pesquisa e desenvolvimento tecnológico; bolsas de estudo para capacitação de
recursos humanos, associados aos projetos de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico; e eventos como congressos, seminários e workshops que contribuam
64
para a definição de políticas, a análise de mercados nacional e internacional, o
intercâmbio e a transferência de conhecimentos, a avaliação de tecnologias, o
estabelecimento de parcerias e alianças estratégicas e a competitividade do setor,
entre outros. Atualmente, são 16 os Fundos Setoriais, conforme apresentado no
Quadro 3.
Quadro 3 – Relação de Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia
Fundo para o Setor Aeronáutico
Fundo Setorial de Agronegócio
Fundo Setorial da Amazônia
Fundo para o Setor de Transporte Aquaviário e Construção Naval
Fundo Setorial de Biotecnologia
Fundo Setorial de Energia
Fundo Setorial Espacial
Fundo Setorial de Recursos Hídricos
Fundo Setorial de Tecnologia da Informação
Fundo de Infra-Estrutura
Fundo Setorial Mineral
Fundo Setorial de Petróleo e Gás Natural
Fundo Setorial de Saúde
Fundo Setorial de Transportes Terrestres
Fundo Verde Amarelo
Fundo Tecnológico para o Desenvolvimento das Telecomunicações
CT-Aeronáutico
CT-Agronegócio
CT-Amazônia
CT-Aquaviário
CT-Biotecnologia
CT-Energ
CT-Espacial
CT-Hidro
CT-Info
CT-Infra
CT-Mineral
CT-Petro
CT-Saúde
CT-Transportes
CT-FVA
Funttel
Por fim, o impacto dos Fundos Setoriais sobre o financiamento sobretudo da
pesquisa pública é bastante evidente na Figura 3, que apresenta uma evolução dos
R$ Milhões
recursos empenhados (ou seja, reservados para compromissos assumidos).
1200
1000
800
600
400
200
0
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Figura 3 – Evolução do total de recursos empenhados no âmbito dos Fundos Setoriais
Fonte: MCT (2010)
A Lei da Inovação complementou o arcabouço legal, a fim de trazer a pesquisa já
realizada para o meio empresarial. Ela compreende uma série de ações nesse
sentido, como a flexibilização da transferência de tecnologia das instituições de
pesquisa públicas para o setor privado, a possibilidade de pesquisadores se
65
licenciarem para a explorarem comercialmente uma inovação e a criação da figura
da subvenção econômica à inovação, que se trata de uma modalidade de apoio
financeiro não reembolsável a empresas brasileiras.
Cabe destacar também um esforço recente em explicitar políticas voltadas ao
desenvolvimento industrial. Exemplos disso são a Política Industrial, Tecnológica e
de Comércio Exterior (PITCE), lançada em 2003, o Plano de Ação 2007-2010
Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional (PACTI), lançado
em 2007, e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada em 2008.
Segundo a ABDI (2005, p.5), “a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio
Exterior [PITCE] objetiva induzir a mudança do patamar competitivo da indústria
brasileira, rumo à maior inovação e diferenciação dos produtos, almejando
competitividade internacional”. Ela compreende três planos, sendo um deles, as
linhas de ação horizontais, representado principalmente por novo arcabouço legal
(Lei 11.196/2005, já mencionada anteriormente), por programas voltados ao
desenvolvimento tecnológico, a ações para inserção externa e medidas de âmbito
fiscal. Neste plano, havia medidas ligadas ao ambiente institucional. Ele previa a
instalação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), responsável
por acompanhar a gestão da PITCE, e a criação de fóruns de articulação.
A PITCE ainda elegia alguns setores como opções estratégicas (semicondutores,
software, bens de capital e fármacos e medicamentos) e atividades portadoras de
futuro (biotecnologia, nanotecnologia e biomassa/energias renováveis). Tais setores
ou atividades deveriam ter um tratamento diferenciado dos órgãos de financiamento
e leis de incentivo específicas (DIRETRIZES, 2003).
O
Plano
de
Ação
2007-2010
Ciência,
Tecnologia
e
Inovação
para
o
Desenvolvimento Nacional agrupava uma série de iniciativas em quatro eixos: a
expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação; a
promoção da inovação tecnológica nas empresas; a pesquisa, desenvolvimento e
inovação em áreas estratégicas; e ciência, tecnologia e inovação para o
desenvolvimento social.
66
Na mesma linha da PITCE, o PACTI visava, em seu primeiro eixo, a consolidação
institucional do sistema, através da conclusão da construção de seu marco legalregulatório, principalmente na materialização da Lei de Regulamentação do Fundo
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e na criação de
fóruns de integração, como o Conselho Nacional de C&T. Visava também a
formação de recursos humanos para C,T&I e o fomento à pesquisa.
Cabe destacar que o PACTI considerava como áreas estratégicas um número maior
que os setores abordados na PITCE. Eram 13 as áreas estratégicas, que integravam
setores econômicos, áreas de conhecimento ou regiões: áreas portadoras de futuro
(biotecnologia e nanotecnologia); tecnologias da informação e comunicação;
insumos para a saúde; biocombustíveis; energia elétrica, hidrogênio e energias
renováveis; petróleo, gás e carvão mineral; agronegócio; biodiversidade e recursos
naturais; Amazônia e semi-árido; meteorologia e mudanças climáticas; programa
espacial; programa nuclear; e defesa nacional e segurança pública (MCT, 2007).
Por fim, a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) funcionava como uma
sequência à PITCE. Como política industrial, ela trazia como característica a maior
articulação com o setor privado e se imbuia de um pragmatismo expresso nas suas
macrometas: aumento da taxa de investimento, ampliação da participação das
exportações brasileiras no comércio mundial, elevação do dispêndio privado em
P&D e ampliação do número de micro e pequenas empresas exportadoras (MDIC,
2010).
Especificamente sobre o apoio a P&D, a política previa elevar os gastos do setor
privado de R$ 11,9 bilhões (em 2006), ou 0,51% do PIB, para R$ 18,2 bilhões, ou
0,65% do PIB em 2010.
A baixa participação do setor privado nos gastos em P&D no Brasil reflete-se na
quantidade de pedidos de patentes depositados no Brasil. A Figura 4 mostra a
participação brasileira na quantidade de patentes depositadas mundialmente por
residentes e não residentes, em 2006, nos escritórios de patentes de cada país.
67
Figura 4 – Participação de cada escritório de patentes no total de pedidos depositados no mundo
Fonte: WIPO (2008).
Verifica-se que o Brasil responde por apenas 1,4% das patentes mundiais, ou seja,
24.074 dentre o total de 1.764.622 em 2006. Das patentes brasileiras, 84% foram
depositadas por não residentes e apenas 16% por residentes, indicando uma
participação ainda menor de patentes oriundas de P&D interno.
Considerando-se apenas as patentes depositadas por residentes em cada país, o
total cai para 988.514 em 2006, assim como a participação brasileira. A Figura 5
mostra a participação nas patentes depositadas apenas por residentes em cada
país.
Figura 5 – Participação na quantidade de pedidos de patente depositados em cada país apenas por
residentes
Fonte: WIPO (2008).
De fato, os dispêndios em atividades inovativas ainda representavam um percentual
pequeno da receita das empresas. Segundo a Pintec (IBGE, 2007), tais gastos
tiveram uma pequena evolução entre 2003 e 2005, passando de 2,46% da receita
68
líquida de vendas para 2,77%, sendo que apenas 0,57% representavam atividades
internas de P&D. A Figura 6 reproduz os dispêndios em atividades inovativas
3,0%
2005
0,05%
Aquisição de
máquinas e
equipamentos
Treinamento
0,05%
0,36%
Projeto
industrial e
outras
preparações
técnicas
0,35%
0,57%
0,53%
Atividades
internas de
P&D
0,19%
0,08%
0,15%
Introdução das
inovações
tecnológicas no
mercado
Aquisição
externa de P&D
0,0%
Aquisição de
outros
conhecimentos
externos
0,5%
0,08%
0,07%
1,0%
0,19%
1,5%
Total
2003
1,22%
2,0%
1,34%
2,5%
2,77%
2,46%
estudadas na Pintec.
Figura 6 - Dispêndios nas atividades inovativas como percentual da receita líquida de vendas,
segundo atividades selecionadas da Indústria - Brasil - 2003/2005
Fonte: IBGE (2007).
Apesar do aparente baixo desempenho das iniciativas privadas em direção à
inovação no Brasil, a capacidade científica, ancorada principalmente em instituições
públicas, tem mostrado uma evolução. Em 2008, o País passou a figurar em 13º
lugar na classificação mundial em produção científica, com 30.451 publicações. A
Figura 7 mostra os 20 primeiros países do ranking em 2008 e sua produção em
Milhares
2007.
350
300
2007
2008
250
200
150
100
50
Suécia
Polônia
Turquia
Suiça
Taiwan
Rússia
Holanda
Austrália
Coréia do
Sul
Brasil
Índia
Espanha
Itália
Canadá
França
Inglaterra
Japão
Alemanha
China
EUA
0
Figura 7 – Primeiros 20 países por quantidade de publicações científicas em revistas indexadas
Fonte: National Science Indicators (NSI)/Thomson Reuters apud Capes (2009)
69
De fato, há uma quantidade relevante de instituições e grupos de pesquisa no Brasil,
com um crescimento constante ao longo dos anos. Conforme se pode observar na
Tabela 3, tanto o número de instituições quanto o de grupos de pesquisa e o de
pesquisadores cresceram nos últimos anos.
Tabela 3 – Instituições, grupos de pesquisa e pesquisadores no Brasil
2000
2002
Instituições
224
268
Grupos de
11.760
15.158
Pesquisa
Pesquisadores
48.781
56.891
Fonte: CNPq (2010). Elaboração própria.
2004
2006
2008
335
403
422
Crescimento
médio anual
8,2%
19.470
21.024
22.797
8,6%
77.649
90.320
104.018
9,9%
Uma amostra das instituições científicas e tecnológicas públicas no Brasil é
apresentada na Figura 8. Percebe-se uma concentração de instituições de pesquisa
públicos na Região Sudeste. De fato, segundo o CNPq (2010), ela responde por
51,2% das instituições, por 48,8% dos grupos de pesquisa e por 50,1% dos
pesquisadores no Brasil.
Figura 8 – Mapa das universidades federais, estaduais e dos institutos de pesquisa no Brasil
Fontes: INEP (2010), MCT (2010) e MEC (2010). Elaboração própria.
70
Em resumo, o que se percebe a partir dos dados apresentados nesta seção é que o
ambiente brasileiro ligado à inovação encontra-se em transformação. A capacidade
científica tem crescido de forma expressiva. No entanto, o lado privado ainda
apresenta resultados pouco expressivos. Mesmo com as mudanças no marco legal e
o lançamento de políticas públicas focadas na inovação, a evolução ainda parece
ser lenta em termos macroeconômicos.
2.5.2 A Abordagem Institucionalista
2.5.2.1 Institucionalismo e Neo-Institucionalismo
Como afirmam Lewin et al. (2004, p.134), “na teoria institucional ‘velha’, as
organizações são o resultado de uma constante mudança e adaptação à medida
que elas se deparam com novos valores, interesses e coalizões emergentes”. Para
Selznick (1957), a institucionalização significa dar valor a uma organização antes
meramente instrumental. Ela promoveria a estabilidade, fazendo as estruturas
persistirem ao longo do tempo (SCOTT, 1987).
As instituições são definidas como as regras do jogo em uma sociedade, permitindo
e proibindo ações para dar estabilidade e sentido à vida (NORTH, 1990 apud VAN
DE VEN; HARGRAVE, 2004). Sendo assim, pela própria definição, as instituições
devem ter um papel importante no processo de mudança organizacional.
Van de Ven e Hargrave (2004) produziram uma revisão não exaustiva, mas
representativa das linhas, dada a quantidade de estudos desenvolvidos nessa área,
classificando as diferentes abordagens institucionalistas em quatro grupos. Estes
grupos variam conforme o foco, em um único ator ou em múltiplos atores em um
campo interorganizacional, e o modo de mudança, seja ele reprodutivo ou
construtivo.
71
O Design Institucional responde por um modo construtivo e focado em um único
ator. A questão central é como os atores influenciam o processo de mudança, ou
seja, as instituições seriam um reflexo de decisões e ações conscientes e
intencionais.
Já a Adaptação Institucional tem como questão explicar por quê as organizações
parecem tão similares, o que é respondido pelas pressões institucionais (normas,
crenças e regras). Preocupa-se em examinar como as organizações se adaptam ao
ambiente institucional. Há uma correspondência muito nítida entre o que Van de Ven
e Hargrave (2004) estabelecem como abordagem de Adaptação Institucional e o
trabalho de Hinings e Greenwood (1988). A abordagem vê um modo de mudança
mais reprodutivo e foco em um único ator, a organização.
As outras duas abordagens são a Difusão Institucional e a Ação Coletiva. Ambas
focam em múltiplos atores em um campo interorganizacional, sendo que a Difusão
Institucional tem como foco entender como os arranjos institucionais se reproduzem,
se difundem e desaparecem no campo organizacional. Já a Ação Coletiva “foca nos
processos sociais e políticos que facilitam ou restringem o desenvolvimento de uma
inovação tecnológica ou de um movimento social, e através dos quais as instituições
surgem ou se alteram” (VAN DE VEN; HARGRAVE, 2004, p.277). Pelas próprias
questões centrais, é possível identificar que a Difusão Institucional vê um modo de
mudança mais reprodutivo, enquanto a Ação Coletiva vê um modo mais construtivo.
Segundo Lewin et al. (2004, p.134), a Teoria Institucional possui dois grandes
momentos em sua construção. Em seus primórdios, na chamada “velha” teoria,
baseada principalmente nos trabalhos de Selznick, a empresa é vista como uma
organização em constante adaptação e mudança. “A institucionalização é vista como
um processo de infusão de valores nas organizações”.
Para Selznick (1948), o ambiente institucional se projeta sobre a organização,
forçando mudanças em sua liderança e política. A esse processo de ajuste da
organização para permitir sua sobrevivência no ambiente, o autor chamou de
cooptação.
72
Outros autores enxergam a configuração das empresas como uma imposição do
ambiente. Demers (2007) cita duas correntes mais expressivas relacionadas à
adaptação ao ambiente: a Ecologia Populacional e o Neo-Institucionalismo.
A Ecologia Populacional vê as empresas como naturalmente diferentes. Elas
nascem segundo suas características próprias e são expostas à “lei da selva”. Esta
seleciona as formas mais adequadas, que sobrevivem. Como as empresas vão se
formando ao longo do tempo, as empresas estabelecidas acabam imbuídas de uma
inércia que dificulta a mudança. Individualmente as empresas não mudam, o que
muda é o conjunto de empresas (chamado de população), já que o ambiente as
seleciona.
O Neo-Institucionalismo tem como principal conceito o isomorfismo. Segundo alguns
autores (DEMERS, 2007; LEWIN et al., 2004), as organizações estariam submetidas
a processos sociais que as levariam a imitar algumas práticas uma das outras. Isto
seria motivado não por um objetivo de eficiência, mas pelo ganho de legitimidade. As
empresas, portanto, mudariam gradualmente imitando uma às outras. Exemplo disso
é a adoção de práticas como o TQM (sigla em inglês para Gestão da Qualidade
Total) e a reengenharia por várias empresas, o que acaba modelando a forma de
agir, assim como a adoção de modelos de gestão difundidos por consultores e
escolas de negócio.
A imitação tende a criar arquétipos de organizações, conforme a denominação
proposta por Hinnings e Greenwood (1988).
Um estudo aprofundado sobre o isomorfismo realizado por DiMaggio e Powell (1983)
sugere três mecanismos de mudança isomórfica institucional: o isomorfismo
coercitivo, ditado pelas influências políticas e pelo problema da legitimidade; o
isomorfismo mimético, resultante de respostas padronizadas frente a incertezas; e o
isomorfismo normativo, associado à profissionalização.
O isomorfismo coercitivo é a resposta a pressões realizadas por outras empresas
das quais elas dependem ou a pressões das expectativas culturais. Um bom
exemplo é dado por DiMaggio e Powell (1983, p.150):
73
“Fabricantes adotam novas tecnologias de controle de poluição para se adequar às normas
ambientais; organizações sem fins lucrativos mantêm uma contabilidade e empregam
contadores para atender aos requisitos das leis tributárias; e organizações empregam
medidas de ação afirmativa para prevenir alegações de discriminação.”
O isomorfismo mimético ilustra a imitação sob um cenário de incerteza. Em um
ambiente incerto, as organizações tendem a imitar outras organizações. Os
mecanismos de imitação podem ser disparados pela transferência de um empregado
entre empresas ou promovida por firmas de consultoria ou associações
empresariais. Conforme Alchian (1950 apud DIMAGGIO; POWELL, 1983), até a
inovação pode resultar dessa imitação:
“Enquanto há certamente aqueles que inovam conscientemente, há aqueles que, em suas
tentativas imperfeitas de imitar os outros, inovam inconscientemente pela aquisição
involuntária de alguns atributos únicos inesperados ou não solicitados que, sob as
circunstâncias prevalecentes, se provam parcialmente responsáveis pelo sucesso. Outros,
por sua vez, tentarão copiar tal singularidade, e o processo inovação-imitação continua.”
Segundo DiMaggio e Powell (1983, p.152), “as organizações tendem a imitar
organizações similares em seu campo que elas percebam como mais legitimadas ou
bem sucedidas”.
Por fim, o isomorfismo normativo baseia-se na formação dos profissionais e em suas
redes de relacionamento. Ao selecionar empregados com experiência em empresas
similares, com formação e redes semelhantes, as empresas acabam por se
submeter a uma modelagem parecida.
Uma
diferença
dos
neo-institucionalistas
em relação
aos
institucionalistas
tradicionais é que o foco se amplia para os primeiros, partindo de uma unidade de
pesquisa que é a organização para uma unidade que é o campo, ou seja, incluindo
não só o ambiente institucional diretamente ligado à organização, mas outros
ambientes institucionais, como o governo, por exemplo. A principal questão teórica é
entender por que as organizações agem de forma parecida, adotam soluções
parecidas e se estruturam de forma semelhante.
74
2.5.2.2 Instituições e Forças Institucionais
Scott (1995) cita que a ação da institucionalização sobre as organizações pode ser
representada como forças institucionais. Estas podem ser agrupadas em três
categorias: normativa, regulatória e cognitiva.
As forças normativas ajudariam a definir que comportamentos e valores seriam
esperados de indivíduos ou de organizações, na medida em que as pessoas tendem
a replicar o que seus antecessores fizeram, mesmo que isso não tenha uma
justificativa racional.
As forças regulatórias referir-se-iam a leis e ao poder político que regulam a ação
dos indivíduos e das organizações. A mais evidente dessas forças é justamente o
governo. Para Steiner (1975), a influência dos governos nos negócios pode assumir
várias dimensões: o governo determina as regras do jogo, pode ser o maior
comprador e estimular determinados negócios, pode conceder subsídios, competir
com os negócios através de estatais; ele arquiteta o crescimento econômico, é
financiador de negócios, protege vários interesses contra a exploração (leis
protegendo os consumidores, os investidores, os empregados, os competidores e o
meio ambiente) e redistribui recursos para satisfazer carências sociais.
Já a força cognitiva referir-se-ia à influência que se desenvolve ao longo do tempo,
através de interações sociais entre participantes. Depende fortemente da cultura da
sociedade e concentra-se no valor percebido pelos empreendedores e no papel das
redes de relacionamento social.
As forças normativa, regulatória e cognitiva agiriam sobre as organizações levandoas a adotar posturas semelhantes, de forma semelhante ao que Van de Ven e
Hargrave (2004) chamaram de Adaptação Institucional.
Para o caso específico do presente estudo, segundo a abordagem institucionalista,
utiliza-se como premissa que a existência de empresas inovadoras com perfis
semelhantes pode ser explicada pela ação do ambiente, que condiciona condutas
parecidas entre empresas.
75
2.5.3 A Abordagem Evolucionista e os Sistemas de Inovação
A ‘economia evolucionista’ constrói-se sobre a teoria comportamental e incorpora as
idéias de Schumpeter, no qual as empresas tentam superar as outras com base na
inovação e em novas invenções, melhorando sua ligação com o ambiente em
constante mudança.
De um modo geral, por esta abordagem, há duas formas de conformação das
empresas. A variação pode surgir de pequenas variações nas rotinas, que acabam
por se estabelecer (genealogia), ou de uma abordagem mais ecologista, com estas
variações sendo selecionadas em um nível macro, ou seja, as organizações que
contêm as “melhores” variações são selecionadas pelo ambiente. O mecanismo
básico é retratado no modelo VSR (variação, seleção e retenção). As organizações
se adaptam e são selecionadas (BAUM; RAO, 2004).
A bibliografia considerada como das mais importantes para a abordagem
evolucionista é a obra de Nelson e Winter (1982) – “An evolutionary theory of
economic change” –, que fala sobre o papel da inovação como fonte de mudança
econômica. Segundo Demers (2007), a teoria vê o sucesso da inovação como algo
totalmente fora do controle do gerente.
Edquist (1997) vê os Sistemas Nacionais de Inovação e algumas outras abordagens
de sistemas como compatíveis com a teoria evolucionista. As mudanças
tecnológicas são processos evolucionistas.
2.5.3.1 Sistemas Nacionais de Inovação
Embora o presente trabalho não estude especificamente os Sistemas Nacionais de
Inovação, viu-se a necessidade de trazer conceitos presentes nesta abordagem,
tendo em vista que ela trata explicitamente do ambiente. A maior parte dos trabalhos
sobre os Sistemas Nacionais de Inovação, incluindo os seminais – por exemplo,
76
Lundvall (1992), Nelson (1993), Patel e Pavitt (1994), Freeman (1995) e Edquist
(1997) –, foca as condições nacionais, medindo seu resultado por indicadores
consolidados, como o número de patentes, orçamento público para pesquisa, nível
educacional da população, porte das empresas etc. A preocupação central do
presente trabalho não se limita ao impacto das condições, mas inclui, ao lado de
outras variáveis, a forma com que tais condições influenciam as empresas.
Patel e Pavitt (1994, p.79) definem um Sistema Nacional de Inovação como “as
instituições nacionais, suas estruturas de incentivos e suas competências, que
determinam a taxa e a direção da aprendizagem tecnológica (ou do volume e
composição das atividades geradoras de mudança) em um país”.
Já Lundvall (1992, p.12) o define em um sentido mais amplo, como “todas as partes
e aspectos da estrutura econômica e o set-up institucional que afetam a
aprendizagem”.
Para Nelson e Rosenberg (1993), o conceito de sistema é o do conjunto de atores
institucionais que juntos são os principais responsáveis por influenciar a performance
inovadora.
Para muitos autores, as instituições são elementos centrais nos Sistemas Nacionais
de Inovação.
Para Patel e Pavitt (1994), as instituições incluem: as empresas, especialmente as
inovadoras; as universidades e institutos de pesquisa e treinamento; e os governos,
pois financiam, promovem e regulam as atividades.
Já a estrutura de incentivos diz respeito a incentivos governamentais à pesquisa
básica, ao balanço entre o monopólio temporário da inovação e as pressões
competitivas, e de características locais, como disponibilidade de mão-de-obra,
demanda e competição.
77
Alinhado a eles, para Nelson e Rosenberg (1993), as instituições incluem as
empresas, os laboratórios de pesquisa industrial, as universidades, os governos
(incluindo laboratórios públicos) e fornecedores.
Em um estudo a respeito da experiência brasileira no apoio ao avanço técnico,
Dahlman e Frischtak (1993) relacionam o sistema de inovação não só como uma
rede de agentes, mas também como o conjunto de políticas, instituições e incentivos
que afetam a introdução de uma tecnologia nova para a economia.
Como o próprio nome indica, os Sistemas Nacionais de Inovação consideram as
condições locais que facilitam a inovação. Há ainda pesquisas que avaliam
diretamente as condições nacionais sobre outros enfoques, como veremos a seguir.
2.5.3.2 Efeito das Condições Nacionais sobre a Empresa
Porter (1990, p.19) já afirmava que o papel do local é muito forte na competitividade
– e, consequentemente, no desempenho – das empresas. “Diferenças nas
estruturas
econômicas, valores, culturas, instituições
e histórias
nacionais
contribuem profundamente para o sucesso competitivo”.
Lewin e Kim (2004) propõem um modelo representativo dos efeitos do país sobre a
adaptação da empresa. Para eles, seis são os fatores institucionais: condições de
fundação, papel do governo, sistema legal, mercado de capitais, sistema
educacional e cultura. Tais fatores teriam impacto direto sobre as práticas de gestão
e sobre a inovação na empresa, conforme ilustra a figura 9.
As condições de fundação, citadas por Lewin e Kim (2004), são elementos que
influenciam o comportamento das empresas. Os autores entendem que essas
condições são compostas pelos contextos histórico, geográfico e político em que a
empresa foi fundada.
Tais contextos funcionam como restrições ou como incentivos e acabam por
determinar a estrutura das organizações. A existência de sindicatos, situações de
78
guerra, a preferência do fundador e até a disponibilidade inicial de capital podem
condicionar a forma como as empresas agirão no futuro.
Fatores Institucionais:
-Condições de fundação
-Papel do governo
-Sistema legal
-Mercado de capitais
-Sistema educacional
-Cultura
Adaptação
organizacional,
mudança e inovação
Práticas de Gestão:
-Estrutura de governança
-Autoridade e controle
-Relação de emprego
-Paradigma estratégico
Figura 9 – Modelo para os efeitos do país sobre a adaptação da empresa.
Fonte: Lewin e Kim (2004, p.325).
O papel do governo varia de acordo com o país, mas, exceto em situações de
completo livre mercado, ele influencia as atividades econômicas normalmente pela
construção de estruturas institucionais e legais para garantir o desenvolvimento e a
qualidade de vida de sua população. Como afirma Castells (1999), embora o Estado
não tenha a capacidade de inovar, pois não é seu papel, ele pode criar condições
que incentivem a inovação nas empresas – estas, sim, loci da inovação.
Ainda para Lewis e Kim (2004), o sistema legal define como os negócios são
realizados. Fazem parte do sistema legal as leis comerciais, as ligadas à
propriedade intelectual e as ligadas a contratos. A desconfiança no sistema legal
pode levar as empresas a também agirem de forma mais cautelosa, por entenderem
o ambiente como incerto.
O nível de desenvolvimento do mercado de capitais é um elemento que pode afetar
o comportamento das empresas. Na medida em que haja financiamento neste
formato, a empresa necessariamente incorpora indicadores de desempenho que
podem condicionar suas ações futuras. Embora esta relação varie bastante de país
para país, a pressão exercida por acionistas é uma força a ser considerada.
79
O sistema educacional é um fator presente em algumas abordagens. Nos Sistemas
Nacionais de Inovação, ele é citado como importante em vários trabalhos
(LUNDVALL, 1992; NELSON, 1993; PATEL, PAVITT, 1994; FREEMAN, 1995;
EDQUIST, 1997). Para Lewin e Kim (2004), o sistema educacional afeta a forma de
conduta dos gerentes e dos trabalhadores, tanto no dia-a-dia quanto em ações de
longo prazo. O desenvolvimento de ferramentas de gestão e o treinamento nelas
interferem no conjunto das empresas, tornando-as, em alguns aspectos, mais
parecidas.
A cultura está relacionada à história de um país e influencia as práticas gerenciais
das empresas nele localizadas. Embora as diferenças culturais sejam mais
perceptíveis entre países, em um país continental como o Brasil é natural achar
comportamentos bastante díspares entre regiões e em função da cultura familiar dos
fundadores.
Segundo Hofstede (1997, p.5), a cultura é um fenômeno compartilhado pelas
pessoas que vivem ou viveram no mesmo ambiente social. A cultura é algo
constantemente aprendido pelas pessoas. Sua definição de cultura é a
“programação coletiva da mente que distingue os membros de um grupo de outro”.
Loewe e Dominiquini (2006) apontam a importância de cultura colaborativa e
incentivos para recompensar o desafio ao status quo. Para Christensen e Overdolf
(2000), os valores permeiam a instituição na forma do estabelecimento de
prioridades e, portanto, influenciam diretamente a capacitação da organização para
lidar com mudanças radicais.
DiMaggio e Powell (1983), Scott (1995), Freeman e Soete (1997), Lewin e Kim
(2004) também apontam a variável cultura como importante na definição do
ambiente.
80
2.5.3.3 Sistema Social da Indústria
Uma outra abordagem, proposta por Van de Ven e Garud (1989), é a do Sistema
Social da Indústria. Eles, ao pesquisar o surgimento de novas indústrias e o papel
das firmas individuais nessa criação, sugerem uma estrutura do sistema social da
indústria formada por três subsistemas: o subsistema instrumental, o de busca de
recursos e o institucional. O modelo apresentado pelos autores tenta responder
como
uma
inovação
leva
ao
aparecimento
de
cadeias
de
suprimentos
completamente novas.
O subsistema instrumental incorpora a definição econômica de indústria. Para a
empresa, traduz-se na possibilidade de tomada de decisão do tipo fazer ou comprar
(“make or buy”). Algumas inovações podem apenas se viabilizar se a empresa
incorporar outras atividades integrando-se verticalmente. Por outro lado, a existência
de determinado tipo de indústria pode condicionar o tipo de solução.
Williamson (1985) argumenta que tais decisões são condicionadas pelos custos de
transação, que representam o quanto custa à firma submeter-se às incertezas do
ambiente e ao oportunismo dos agentes e investir em ativos específicos à transação.
Atrelado ao instrumental, o subsistema de busca de recursos está relacionado à
viabilização das atividades proprietárias da empresa. Três são os tipos de recurso: o
conhecimento científico e tecnológico, o financiamento e recursos humanos
competentes. O conhecimento científico e tecnológico envolve sua produção através
da pesquisa e sua difusão. O financiamento engloba o apoio à pesquisa, capital de
risco e outros instrumentos financeiros. Recursos humanos competentes dependem
de treinamento.
O subsistema institucional inclui a governança ou as regras da ação coletiva,
formada pelas normas, costumes e leis. A governança facilita ou inibe o surgimento
de novas tecnologias e indústrias. O subsistema também inclui a legitimidade,
através da criação de confiança. Ela pode se materializar através da obtenção de
licenças ou certificados, existência de conselhos etc.
81
Há dois níveis de inter-relações entre subsistemas e o comportamento individual das
empresas na indústria. Um deles trata das ligações entre subsistemas. Algumas
atividades situam-se em mais de um subsistema.
A alocação de recursos para pesquisa, em uma perspectiva technology-push, é vista
como inerente ao subsistema de busca de recursos, já que a pesquisa é um recurso
em si. Em uma perspectiva demand-pull, ela é vista como inerente ao subsistema
instrumental, já que a pesquisa não é central, mas apenas um insumo provido
muitas vezes por terceiros.
A criação e adoção de padrões industriais, ao mesmo tempo em que eleva a
confiança e reduz os custos de fabricação, inibem outras rotas tecnológicas. Assim
sendo, uma novidade, que inicialmente faz parte do subsistema de busca de
recursos, ao se tornar um padrão definido, por exemplo, por agências reguladoras
ou por associações, passa a fazer parte do subsistema institucional. Torna-se uma
regra que regula a ação coletiva.
A dinâmica entre subsistema pode ser ainda mais fluida, considerando-se que a
aplicação comercial do conhecimento básico pode circular entre uma perspectiva
technology-push e uma demand-pull, tendo em vista sua complementaridade
(MOWERY; ROSENBERG, 1979).
Um segundo nível de inter-relação no sistema social da indústria está presente nas
ligações entre firmas individuais. Tendo em vista que uma firma isoladamente pode
desempenhar apenas um conjunto limitado de papéis, ela naturalmente depende de
outros atores. Dentro de cada subsistema, a empresa tende a fazer suas escolhas
estratégicas e delegar os demais pontos a outras organizações.
As ligações entre firmas são bastante complexas, tendo em vista que podem ter
elementos
cooperativos
(fornecedores, consumidores,
distribuidores
ou
até
competidores, quando estes forem fornecedores complementares para os mesmos
clientes) e competitivos em cada relação e que pode haver laços múltiplos
interfirmas (trocas de recursos entre empresas, participação em fóruns e comitês,
contratação de pessoal de concorrentes, amizade etc.).
82
2.5.4 Outras Influências Externas à Empresa na Propensão a Inovar
A influência de fatores externos à empresa na propensão a inovar aparece em
trabalhos de diversos autores. Um deles, Rosenberg (1976), ao estudar a forma
como as demandas tecnológicas surgem, apontou que alguns mecanismos de
indução compreendem fatores externos. Para ele, o desenvolvimento de melhores
motores, por exemplo, levaria ao desenvolvimento de melhores freios. Em outras
palavras, a inovação em um determinado segmento pode estimular outra em
segmento diverso. Da mesma forma, fala também de fatores sociais e políticos,
citando como exemplo o estímulo à mecanização levantado por constantes greves
de empregados e a quebra de fornecimento ocorrida em situações extremas, como
uma guerra.
Libaers (2008), ao estudar as inovadoras seriais, aponta que dois fatores
importantes na propensão a seu surgimento são a localização e a existência de
parcerias. Mais especificamente, ele estuda o papel e o impacto das aglomerações
industriais e do contexto espacial na performance dessas empresas.
Feldman (1993, p.417) afirma que “o processo de introdução de novos produtos no
mercado é facilitado pela localização. Inovações de produto tendem fortemente a se
aglomerar em estados que contenham concentrações de atividade inovadora”.
Com uma perspectiva alinhada à de Feldman, Malerba (2002, p.260), em seus
estudos sobre Sistemas Setoriais de Inovação, cita que “as fronteiras geográficas
são um elemento importante a ser considerado na maior parte das análises de
sistemas setoriais. [...] Frequentemente um sistema setorial é altamente localizado e
define a especialização de todo o local”.
Da mesma forma, abordando a questão da localidade, a OECD (2005, p.48)
menciona que “a presença, por exemplo, de instituições locais de pesquisa pública,
grandes empresas dinâmicas, aglomerações de indústrias, capital de risco e um
forte ambiente empresarial podem influenciar o desempenho inovador das regiões”.
83
Em outras palavras, a presença das instituições gera um círculo virtuoso de
promoção da inovação.
Há autores (p.e. IBRAHIM et al., 2006) que afirmam haver, inclusive, uma influência
de clusters localizados na criatividade de inventores.
Embora Audretsch (2003) levante dúvidas sobre a importância da localização, tendo
em vista a relativização das distâncias provocada pelo fenômeno da globalização e
do desenvolvimento de meios de comunicação mais eficazes, ele cita que não é o
fato de haver concentração de trabalho especializado, fornecedores e informação
que distingue um cluster. Para ele, uma variedade de instituições que oferecem
serviços técnicos, financeiros e de relacionamento não estaria disponível para
empresas isoladas. São justamente as aglomerações regionais de empresas que
tornam o ambiente propício ao desenvolvimento de serviços auxiliares.
Também para Freeman e Soete (1997, p.311), a proximidade geográfica tem grande
importância. Eles afirmam que “a proximidade geográfica e cultural de usuários
avançados e uma rede de relacionamentos usuário-produtor institucionalizada
(mesmo que frequentemente informal) são uma fonte importante de capacidade de
atualização”.
Conclui-se, considerando-se também a afirmação da OECD (2005, p.48), que
“diferenças regionais nos níveis de atividade de inovação podem ser substanciais”,
que o local é fator a considerar no presente estudo.
Alguns autores (MALERBA, 2002; PAVITT, 1984; TIDD et al., 2001) levantam a
existência de diferenças substanciais em relação aos setores econômicos em que
atuam as
empresas
inovadoras.
Libaers
(2008)
também
menciona
esse
comportamento em seu estudo sobre as inovadoras seriais.
Pavitt (1984) sugere que as diferenças entre os setores são responsáveis pelo
crescimento de algumas empresas e pela manutenção de empresas em um porte
pequeno. Assim, a longevidade de pequenas empresas seria o resultado de
determinadas
condições
setoriais.
Para
ele,
as
mudanças
técnicas
são
84
condicionadas pelos setores, pois boa parte do conhecimento tecnológico é
facilmente reproduzível e específico ao setor.
Malerba (2002, p.250) define um sistema setorial de inovação e produção como um
“conjunto de produtos novos e estabelecidos para usos específicos e o conjunto de
agentes interagindo no mercado e fora dele para a criação, produção e venda
desses produtos”. Para ele, os sistemas setoriais teriam bases de conhecimento
específico e demandariam tecnologia de forma a que o conjunto de empresas em
um determinado setor tenderia a evoluir de forma similar.
Assim sendo, além do local, o setor aparece como variável importante do ambiente
em que as empresas se encontram.
Fontana et al. (2005) realizaram uma análise empírica dos determinantes da
cooperação em pesquisa entre empresas e organizações de pesquisa públicas. Para
eles, a propensão a estabelecer um acordo de cooperação depende do tamanho
absoluto da empresa – medido pelo número de empregados – e do seu grau de
abertura para o meio externo. Para eles, ainda, normalmente grandes empresas e
start-ups possuem uma probabilidade mais alta de se beneficiar da pesquisa
acadêmica.
Resultado parecido foi achado por Cohen et al. (2002), que acharam que “a
influência da pesquisa pública no P&D industrial é desproporcionalmente maior para
empresas maiores e start-ups”. Tidd et al. (2001), no entanto, citam que empresas
menores diferem das maiores em termos de acesso a recursos, por exemplo, o que
acaba motivando-as a desenvolver mais parcerias. Além disso, Mohnen e Hoareau
(2002) tentaram descobrir os fatores que encorajavam as empresas a procurar
informação em universidades e laboratórios públicos ou colaborar com essas
instituições em um estudo com informações da segunda Community Innovation
Surveys (CIS-2) para a França, a Alemanha, a Irlanda e a Espanha. Um dos
resultados mostrou que a colaboração informal em inovação é uma característica de
grandes empresas, de empresas que patenteiam ou das que recebem apoio do
governo para inovar.
85
Gonçalves Neto (1986), em seu estudo sobre a industria química britânica,
encontrou uma significativa relação entre tamanho de empresa e intensidade de
colaboração em pesquisa com universidades. Segundo o autor, isto talvez não
significasse que pequenas empresas não quisessem colaborar com universidades,
mas sim que as universidades talvez não tivessem ainda prestado muita atenção às
reais necessidades das empresas de menor porte ou às melhores formas de se
colaborar com tais empresas.
As parcerias para inovação parecem exercer importante influência sobre o processo
de inovação, como já haviam alertado Langrish et al. (1972) e Johnson (1973).
Libaers (2008) também levanta como hipótese que as parcerias seriam
fundamentais para a existência de inovadoras seriais.
Conclui-se, portanto, que embora nem sempre sejam citadas de forma direta na
bibliografia que serve de sustentação teórica do presente estudo, as variáveis local,
setor e parcerias devem ser consideradas como elementos do ambiente.
2.5.5 Síntese das Variáveis Relacionadas ao Ambiente
A partir da revisão discutida neste capítulo, identificou-se uma série de variáveis
ambientais que influenciam na propensão a inovar das empresas.
Legislação
Vários autores (STEINER, 1975; DIMAGGIO; POWELL, 1983; VAN DE VEN;
GARUD, 1989; PATEL; PAVITT, 1994; SCOTT, 1995; LEWIN; KIM, 2004) citam a
importância da legislação na propensão a inovar.
O marco legal de propriedade intelectual especificamente chama a atenção por estar
diretamente relacionado às atividades de P&D. As chamadas forças regulatórias
(SCOTT, 1995) de uma forma geral são entendidas como importantes limitantes dos
investimentos.
86
Disponibilidade de Financiamento
A questão do crédito ao inovador está presente desde a obra de Schumpeter (1961).
Como confirma Duggan (1996, p.506), “a provisão do tipo e quantidade corretos de
financiamento é um elemento-chave no processo de inovação tanto para grandes
quanto pequenas empresas”.
Langrish et al. (1972) apontam a disponibilidade de recursos como condicionante do
sucesso, assim como menciona financiamentos do governo como possíveis
promotores da inovação. Van de Ven e Garud (1989) também indicam que o
financiamento faz parte dos recursos necessários à empresa para inovar. Outros
autores (PATEL; PAVITT, 1994; LEWIN; KIM, 2004) também apontam esta
importância. O financiamento, portanto, parece ser de fundamental importância no
processo de inovação de empresas de qualquer porte.
Educação e Treinamento
O nível educacional é frequentemente apontado como requisito para o surgimento
de empresas mais tecnologicamente avançadas e é largamente utilizado nas
pesquisas sobre os Sistemas Nacionais de Inovação (vide, por exemplo, Nelson
(1993)). Outros autores (DIMAGGIO; POWELL, 1983; VAN DE VEN; GARUD, 1989;
FREEMAN; SOETE, 1997; LEWIN; KIM, 2004) também apontam a importância
desse quesito, visto que há uma clara distinção entre tais níveis na população de
países desenvolvidos se comparados com os de países em desenvolvimento.
A presença ou a ausência de pessoal treinado pode, portanto, interferir na
propensão a empresa inovar.
Nível de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva
Há duas formas pelas quais outros integrantes da cadeia produtiva podem incentivar
a inovação na empresa. A primeira delas é exercendo uma pressão para que a
empresa mude. Ao alterar o projeto de determinado produto, a empresa pode levar
os fornecedores a também transformar seus produtos (ROSENBERG, 1976;
87
NELSON; ROSENBERG, 1993). É um poder que a empresa pode possuir
(PORTER, 1990), embora seja importante frisar que a pressão não necessariamente
significa uma imposição do capitão do canal. Ela pode ser ocasionada por uma mera
alteração na demanda.
A segunda forma se dá como um suporte, deliberado ou não. A existência de
fornecedores de bens de capital bem estruturados na cadeia pode facilitar a difusão
de determinada inovação. A inovação beneficia-se da existência de fornecedores
capacitados, evitando uma excessiva verticalização. Tornam-se, portanto, um
instrumento importante a considerar (VAN DE VEN; GARUD, 1989).
Patel e Pavitt (1994) apontam a importância da demanda (clientes), assim como
Langrish et al. (1972). Os clientes determinam a necessidade de introdução de uma
inovação e, consequentemente, seu sucesso.
É interessante notar também que o estímulo pode partir do mecanismo de rivalidade
apontado no Modelo das Cinco Forças (PORTER, 1979), já que o lançamento de
inovações tende a provocar uma reação da concorrência. Na mesma linha, e pelo
mesmo motivo, Utterback e Suárez (1993) colocam a inovação como intimamente
relacionada à competição e à estrutura da indústria.
Produtos substitutos e novos entrantes (PORTER, 1979) podem ser considerados
também como parte da concorrência. Os novos entrantes configuram uma
concorrência potencial, enquanto que os produtos substitutos incorporam uma visão
mais ampla da concorrência real.
Governo
Castells (1999) afirma que, embora o Estado não tenha a capacidade de inovar, pois
não é seu papel, ele pode criar condições que incentivem a inovação nas empresas.
Além dos incentivos, Porter (1990) cita ainda questões relacionadas à regulação,
impostos e grau de abertura da economia como fatores institucionais que
condicionam o comportamento das empresas. Para Patel e Pavitt (1994), os
governos são importantes, pois financiam, promovem e regulam as atividades das
88
empresas. Os governos também são, normalmente, os responsáveis pelo
financiamento da pesquisa básica nos países.
Outros autores, como Langrish et al. (1972), Steiner (1975), Rosenberg (1976),
Dahlman e Frischtak (1993), Nelson e Rosenberg (1993), Scott (1995), Lewin e Kim
(2004), também apontam a participação do governo como de grande importância.
Localização
A variável localização geográfica é estudada por Libaers (2008) e, segundo ele, não
parece estar relacionada diretamente a empresas altamente inovadoras. Isso
curiosamente contraria vários estudos sobre clusters tecnológicos, como, por
exemplo, os já citados Feldman (1993), Ibrahim et al. (2006) e Malerba (2002). Para
eles, a localização das empresas influencia sua propensão a inovar.
Parcerias
A existência de parcerias externas para a inovação é mencionada por Libaers (2008)
e parece estar relacionada diretamente a empresas que inovam de forma
sistemática. Johnson (1973) já mencionava em seus trabalhos a importância das
parcerias como insumo para o desenvolvimento de pesquisa. Langrish et al. (1972)
relacionava algumas possibilidades para interação, como universidades, governo,
licenciamento de outras empresas e clientes.
Acesso a Informações Científicas e Tecnológicas
O acesso a informações científicas e tecnológicas é mais claramente citado na obra
de Van de Ven e Garud (1989), na qual a difusão dessas afirmações é tão
importante quanto sua produção.
O acesso a informações contidas em patentes, por exemplo, é responsável pela
possibilidade de desenvolvimento de medicamentos genéricos.
89
Segundo Freeman e Soete (1997), tais informações envolvem sua busca em revistas
e artigos técnicos e científicos, assim como a participação em feiras, congressos e
eventos técnicos. O acesso pode ser bastante facilitado se a empresa empregar
funcionários treinados nas linguagens em que se apresentam tais informações. Um
doutor em agronomia, por exemplo, pode permitir a uma empresa agrícola acessar e
entender pesquisas avançadas realizadas por outras empresas ou por centros de
pesquisa pelo mundo.
Da mesma forma, Langrish et al. (1972, p.70) ainda citam que um dos fatores que
mais atrasam as inovações é que alguma outra tecnologia pode ainda não ter sido
suficientemente desenvolvida. Para eles, “em muitos casos uma inovação era
possível mas não poderia ser desenvolvida com sucesso até que outra tecnologia
fosse alcançada”.
Cultura e Costumes Nacionais
Loewe e Dominiquini (2006) apontam a importância de cultura colaborativa e
incentivos para recompensar o desafio ao status quo. Para Christensen e Overdolf
(2000), os valores permeiam a instituição na forma do estabelecimento de
prioridades e, portanto, influenciam diretamente a capacitação da organização para
lidar com mudanças radicais.
DiMaggio e Powell (1983), Scott (1995), Freeman e Soete (1997), Hofstede (1997),
Lewin e Kim (2004) apontam a variável cultura como importante na definição do
ambiente e do perfil da empresa.
Já os costumes fazem parte das regras da ação coletiva (VAN DE VEN; GARUD,
1989) e representam a tendência a replicar comportamentos passados. Pode-se
entender como um tipo de inércia comportamental que afetaria as empresas.
Empresas inovadoras, portanto, tenderiam a se manter inovadoras; enquanto que as
não inovadoras tenderiam a continuar na mesma situação.
90
Redes de Relacionamento
Baseado nas categorias levantadas por Langrish et al. (1972), observa-se que as
fontes de ideias podem configurar relacionamentos informais, não considerados
como parcerias. Ideias podem surgir a partir da integração de um novo funcionário,
com experiências diversas, da literatura técnica, de concorrentes, de amigos e
familiares, de consultorias, entre vários outras fontes. Entender sua origem pode dar
uma importante contribuição sobre os relacionamentos das empresas inovadoras.
Legitimidade
A legitimidade pode ser entendida como a criação de confiança e reputação frente
aos stakeholders da empresa (VAN DE VEN; GARUD, 1989). Empresas, na busca
de uma boa imagem, podem fazer uso da adoção de práticas de governança
corporativa, licenciamento e utilização de selos, a associação a empresas já de
renome, propaganda e marketing e a construção de uma marca, normalmente
associada ao desempenho de seus produtos.
Como também citado por DiMaggio e Powell (1983), Lewin et al. (2004) e Demers
(2007), a legitimidade em si e sua busca são atributos importantes para o sucesso
de uma empresa e, portanto, podem influenciar o desempenho de uma inovação.
Condições de Fundação
Lewin e Kim (2004) levantam a necessidade de considerar as condições de
fundação como elementos que influenciam o comportamento das empresas. Por
condições de fundação, os autores entendem os contextos histórico, geográfico e
político em que a empresa foi fundada. Embora alguns autores defendam que, ainda
que as condições de fundação influenciem a sobrevivência das empresas, elas são
transitórias, consideramos importante sua avaliação no presente estudo, pois alguns
de seus impactos são permanentes (GEROSKI et al., 2010).
91
Tendo em vista que o local já é considerado como variável no presente estudo,
trabalharemos as condições de fundação apenas quanto aos contextos histórico e
político.
Setor
Como já ilustrado nos trabalhos citados de Malerba (2002), Pavitt (1984) e Tidd et al.
(2001), há diferenças entre setores na propensão a inovar. Pertencer a determinado
setor implica em dar maior ou menor ênfase a aspectos relacionados à inovação
tecnológica.
Governança
Segundo Lewin e Kim (2004), o nível de desenvolvimento do mercado de capitais é
um elemento que pode afetar o comportamento das empresas, pois a empresa com
acionistas terceiros naturalmente sofre pressão deste grupo para adotar determinado
comportamento.
Assim sendo, parece haver uma diferença entre empresas geridas pela família
fundadora ou por executivos profissionais na percepção de pressões externas. O
segundo grupo seria muito mais susceptível a tais pressões, já que seu desempenho
é monitorado pelos acionistas.
As componentes a avaliar, portanto, incluiriam o formato societário da empresa e o
nível de profissionalização de sua gestão.
O Quadro 4 resume as variáveis apresentadas. Note-se que a variável “Parcerias” foi
considerada como componente da variável “Redes de Relacionamento”.
92
Quadro 4 – Resumo das variáveis do estudo (fatores externos)
Variável
Legislação
•
•
Disponibilidade
Financiamento
Educação
Treinamento
Componentes
Legislação
em
geral
Propriedade
intelectual
Recursos
financeiros
Disponibilidade de
pessoal treinado
de
•
e
•
Nível
de
Desenvolvimento da
Cadeia Produtiva
•
Fornecedores
•
Clientes
•
Concorrência
(existente,
novos
entrantes
e
substitutos)
Compras
governamentais
Políticas públicas
Apoio à pesquisa
Incentivos
Localização
Governo
•
Localização
•
•
•
•
Acesso
a
Informações
Científicas
e
Tecnológicas
Cultura e Costumes
nacionais
Redes
de
Relacionamento
•
Disponibilidade
informações
científicas
tecnológicas
Cultura
•
•
Costumes
Parcerias com ICTs
•
Laços interfirmas
•
Outros
laços
relacionais
Legitimidade
•
Legitimidade
•
Condições
fundação
Setor
Governança
de •
•
•
•
•
Fonte: Elaboração própria.
de
Contexto histórico
Contexto político
Setor
Formato societário
Profissionalização
da gestão
Autores
Steiner (1975), DiMaggio e Powell (1983), Van de
Ven e Garud (1989), Patel e Pavitt (1994), Scott
(1995), Lewin e Kim (2004)
Van de Ven e Garud (1989), Patel e Pavitt (1994),
Duggan (1996), Lewin e Kim (2004)
DiMaggio e Powell (1983), Van de Ven e Garud
(1989), Nelson (1993), Freeman e Soete (1997),
Lewin e Kim (2004)
Rosenberg (1976), Van de Ven e Garud (1989),
Nelson e Rosenberg (1993)
Langrish et al. (1972), Van de Ven e Garud (1989),
Patel e Pavitt (1994)
Porter (1990)
Langrish et al. (1972), Steiner (1975), Rosenberg
(1976), Porter (1990), Dahlman e Frischtak (1993),
Nelson e Rosenberg (1993), Patel e Pavitt (1994),
Scott (1995), Castells (1999), Lewin e Kim (2004)
Porter (1990), Feldman (1993), Freeman e Soete
(1997), Malerba (2002), Audretsch (2003), Ibrahim
et al. (2006), Libaers (2008)
Van de Ven e Garud (1989), Freeman e Soete
(1997)
e
DiMaggio e Powell (1983), Scott (1995), Freeman e
Soete (1997), Christensen e Overdolf (2000), Lewin
e Kim (2004), Loewe e Dominiquini (2006)
Van de Ven e Garud (1989), Scott (1995)
Langrish et al. (1972), Gonçalves Neto (1986),
Nelson e Rosenberg (1993), Tidd et al. (2001),
Cohen et al. (2002), Fontana et al. (2005), Libaers
(2008)
Langrish et al. (1972), Van de Ven e Garud (1989),
Freeman e Soete (1997)
Langrish et al. (1972), Scott (1995)
DiMaggio e Powell (1983), Van de Ven e Garud
(1989), Lewin et al. (2004), Demers (2007)
Lewin e Kim (2004), Geroski et al. (2010).
Pavitt (1984), Tidd et al.(2001), Malerba (2002)
Lewin e Kim (2004)
93
2.6 FATORES INTERNOS
Como visto, há fatores externos à empresa que são importantes para assegurar um
ambiente propício à inovação. Como já demonstramos anteriormente, há diferenças
nos ambientes que de fato se refletem na conduta das empresas. É neste ponto que
se baseiam os estudos relacionados a Sistemas Nacionais de Inovação. Porém,
como alerta Nelson (1991), não é possível resumir as diferenças apenas ao
ambiente.
Nelson (1991, p.72) muito bem sintetizou a necessidade de se observar as
diferenças entre as empresas. Para ele,
“Os estudantes de administração de empresas, em particular aqueles que trabalham na área
de estratégia, tratam as diferenças entre empresas como algo trivial. Os economistas tendem
a minimizar essas diferenças ou a argumentar que elas são o resultado não a causa das
diferenças gerais na economia. Em boa parte, a diferença nos pontos de vista são
consequência de diferenças nos interesses básicos – o estudante de administração está
preocupado com o destino das empresas individualmente, enquanto que os economistas
estão interessados na performance econômica de uma indústria ou de uma nação. Mas eu
argumento que a falta de interesse dos economistas nas diferenças entre empresas decorre
também de uma visão teórica particular sobre a atividade econômica e sobre o papel e o
comportamento das empresas. Se alguém tomar a visão da atividade econômica como
evolucionária ao invés da neoclássica, então as diferenças entre empresas importam muito
em relação a fatores que tradicionalmente são a preocupação central dos economistas. A
competição pode ser vista não apenas sobre incentivos e pressões para a manutenção de
preços em linha com os mínimos custos viáveis, mas, muito mais importante, sobre explorar
novas formas potencialmente melhores de fazer as coisas.(...) A diversidade de empresas é
um aspecto essencial dos processos que criam o progresso econômico.”
Seu argumento traz a necessidade de avaliar a possibilidade de que os fatores
externos isoladamente não possam explicar o desempenho das empresas. Assim,
não é possível omitir autores que apontam fatores internos à empresa como também
importantes e às vezes decisivos sobre seu desempenho inovador. De fato, é
razoável imaginar que duas empresas sujeitas ao mesmo ambiente, no mesmo
setor, podem agir de forma completamente diferente em relação à inovação. As
características que as tornam diferentes uma das outras, que chamaremos aqui de
“fatores internos”, constituem o foco deste item.
Tomamos como ponto de partida para uma revisão desses fatores, os trabalhos de
Langrish et al. (1972), Freeman e Soete (1997), Tidd et al. (2001) e Loewe e
94
Dominiquini (2006), além de outros trabalhos mais pontuais sobre cada um dos
construtos.
Também fazemos uma introdução sobre algumas das teorias que trazem pontos
importantes sobre a contribuição dos fatores internos sobre a inovação, como a
Visão Baseada em Recursos e a Perspectiva das Capacitações Dinâmicas.
2.6.1 Internalização e Percepção sobre os Fatores Ambientais
Ainda que, em alguns casos, as variáveis relacionadas ao ambiente tenham
influência direta sobre as organizações, ao reconhecermos que duas empresas
sujeitas às mesmas condições podem ser diferentes, estamos acrescentando um
fator relacionado à internalização das informações externas. Essa internalização não
ocorre de forma perfeita por vários motivos.
Para Stiglitz (2000, p.1441), sua origem vem do “reconhecimento que a informação é
imperfeita, que obtê-la pode custar caro, que nela há assimetrias importantes e que
a extensão dessas assimetrias é afetada pelas ações das firmas e dos indivíduos”.
Embora a preocupação de Stiglitz (2000, p.1469) estivesse mais focada nos
mercados financeiros, ao reconhecer que uma questão central é “como a economia
se adapta à informação nova, cria conhecimento novo e como esse conhecimento é
disseminado, absorvido e utilizado”, o autor mostra que a economia como um todo
estaria sujeita à informação que é disponibilizada. A forma como cada organização
transforma a informação e a utiliza pode gerar impactos em seu perfil. A esse
mecanismo de transformação e internalização das informações daremos o nome de
percepção.
Quando, por exemplo, uma nova política ou mesmo novos instrumentos para
promoção da inovação são divulgados pelo governo, há uma transmissão de
informações ao público. Estas podem ser compreendidas totalmente, parcialmente
ou não serem compreendidas. A percepção, portanto, assume um papel importante
95
na eficácia das políticas, tendo em vista que o comportamento das empresas pode
diferir da intenção do legislador e do agente público.
Embora se possa perceber um padrão em diversos fatores ambientais (uma linha de
financiamento, por exemplo, terá regras aplicáveis a todos; a legislação é comum a
todos; etc.), a informação passa por diversos filtros antes de atingir o interessado.
Antes de tudo, deve haver a exposição a esta informação. Se ela não atinge a
empresa de alguma forma, não há como ela influenciá-la. Os problemas nessa
exposição podem vir da inexistência de um receptor qualificado (tão claro quanto é
preciso saber a língua inglesa para ler um texto escrito em inglês, há fatores cujo
entendimento só é possível com uma compatibilidade dos níveis de repertório do
emissor e do receptor), de problemas na transmissão dessa informação ou do
emissor.
Assim, além de a informação estar sujeita a uma série de ruídos, que não trataremos
no presente estudo, ela está sujeita também a determinados filtros, como a
percepção ou a mesmo a falta dela. Portanto, ao medir a influência dos fatores
externos, estaremos avaliando, na verdade, como – e se – a empresa percebe esses
fatores.
2.6.2 Visão Baseada em Recursos
Em seu artigo seminal, Barney (1991, p.101) introduz a Visão Baseada em Recursos
(VBR, ou RBV em sua versão inglês). Para ele, “os recursos das empresas incluem
todos os ativos, capacidades, processos organizacionais, atributos da empresa,
informação, conhecimento etc. controlados por uma empresa e que a habilite a
conceber e implementar estratégias para melhorar sua eficácia e sua eficiência”.
Porém, ele argumenta que nem todos são relevantes para as empresas, apenas os
recursos valiosos, raros e não perfeitamente imitáveis ou substituíveis. Os recursos,
portanto, ajudariam a entender a heterogeneidade entre as empresas.
96
Críticos desta visão alertam que, embora importantes, não são os recursos que
determinam as diferenças entre as empresas, mas sua aplicação (GRANT, 1991),
que é entendida como uma capacidade da empresa.
2.6.3 Perspectiva das Capacitações Dinâmicas
Há uma ligação entre a Perspectiva das Capacitações Dinâmicas e a Visão Baseada
em Recursos, que apresentam algumas similaridades presentes até nas próprias
definições. Um meta-estudo realizado por Acedo et al. (2006) demonstra essas
várias ligações.
Para Teece et al. (1997, p.516), as capacitações dinâmicas são “habilidades da
empresa de integrar, construir e reconfigurar suas competências internas e externas
para atender ambientes de rápida mudança”.
Por esta perspectiva, a empresa inovadora busca competir pela evolução de suas
competências, que lhe darão suporte ao desenvolvimento de produtos e serviços
diferenciados. O desenvolvimento de competências centrais (cf. PRAHALAD;
HAMEL, 1990) difíceis de replicação por seus concorrentes faria parte da gestão
estratégica da empresa. Em resumo, a perspectiva das capacitações dinâmicas se
preocupa com a identificação de capacidades específicas da empresa que são
potenciais fontes de vantagem competitiva e com a explicação de como as
combinações de competências e recursos podem ser desenvolvidas, empregadas e
protegidas.
As capacitações dinâmicas incluiriam desde competências internas, referentes aos
recursos tangíveis e intangíveis e processos a eles relacionados, quanto externas,
referentes à sua interação com o meio via formação de redes e acesso a informação
externa (ARNOLD, 1998).
97
2.6.4 Modelo de Loewe e Dominiquini
Loewe e Dominiquini (2006) apresentam um modelo para aumentar a eficácia em
inovação a partir da transposição de problemas internos à empresa. Para eles, “para
se tornar um inovador serial de sucesso, é necessária uma abordagem sistêmica
direcionada a quatro fatores que causam a ineficácia na inovação” (p.25). A Figura
10 apresenta os fatores descritos pelos autores.
Liderança e
Organização
Eficácia
na
Inovação
Processos e
Ferramentas
Cultura e
Valores
Pessoas e
Habilidades
Figura 10 – Fatores para uma capacidade de inovação sistemática
Fonte: Loewe e Dominiquini, 2006, p.25.
Os fatores ‘liderança e organização’, ‘cultura e valores’, ‘pessoas e habilidades’ e
‘processos e ferramentas’ e suas inter-relações seriam responsáveis pela maior
eficácia no processo de inovação. Para eles, um foco na melhoria desses fatores
levariam a empresa a não se deparar com alguns dos maiores obstáculos à
inovação: o foco no curto prazo; a falta de tempo, recursos ou pessoal; a expectativa
muito otimista dos líderes sobre o tempo para se atingir os resultados desejados; o
fato de os incentivos para a administração não estarem estruturados para
recompensar a inovação; a falta de um processo de inovação sistemático; e a crença
de que o risco é inerente à inovação.
2.6.5 Variáveis Relacionadas ao Ambiente Interno
A partir da revisão discutida neste capítulo, identificou-se uma série de variáveis
internas que influenciam na propensão a inovar das empresas.
98
Liderança
Para o desenvolvimento de uma capacidade de inovação sistêmica, Loewe e
Dominiquini (2006) apontam a importância de líderes visionários e alinhamento da
organização sobre uma definição comum de inovação. Morris (2006, p.11) sentencia
de forma mais enfática: “não há inovação sem liderança”.
Embora não mencionem a palavra liderança, Langrish et al. (1972, p.15-16), de certa
forma, também a consideram um fator importante ao citar o papel dos
administradores e dos pesquisadores criativos. Para eles, tais
indivíduos
desempenham um papel-chave, seja por “ocuparem uma posição de alguma
autoridade na organização inovadora”, seja por caracterizarem-se como dotados “de
grande criatividade em termos de pesquisa e desenvolvimento”, assumindo,
portanto, uma liderança técnica.
Tidd et al. (2001) seguem na mesma linha, considerando que essas pessoas-chave
por vezes têm seu nome associado a inovações famosas. Os autores citam os
exemplos de James Dyson, inventor de um revolucionário limpador a vácuo, e de
Edwin Land, do processo fotográfico da Polaroid, mas é possível enumerar outros
casos ainda mais conhecidos, como Steve Jobs e Bill Gates. Para os autores, além
da liderança técnica, há o patrocinador, que é uma pessoa com poder, influência,
capacidade de promover o projeto internamente e que acredita no projeto, e o
chamado “technological gatekeeper” (ou porteiro tecnológico na tradução literal), que
são responsáveis por fazer fluir a informação, criando oportunidades através de seu
networking.
Maidique (1988, 565-566) também faz um estudo sobre os papéis dos indivíduos na
inovação tecnológica. Para ele, “a inovação de sucesso requer uma combinação
especial de papéis empreendedor, gerencial e tecnológico”, enquanto que, em um
estudo mais voltado à inovação radical, McDermott e O’Connor (2002, p.432)
sugerem que
99
“onde faltam sistemas de apoio, processo e infraestrutura para gestão sistemática da
inovação radical na empresa, seu sucesso e direção são dependentes de indivíduos fortes e
persistentes e, portanto, a importância de campeões individuais para a inovação radical é
aumentada”.
Loewe e Dominiquini (2006) sugerem avaliar a liderança segundo a capacidade de
comunicar, a iniciativa, suas decisões e as pressões sobre ele exercidas.
Organização Interna
Embora haja uma grande literatura sobre arquétipos estruturais, destacando-se
principalmente os trabalhos de Mintzberg (2003), não é objetivo da presente
pesquisa discorrer sobre esses tipos. A concentração estará em aspectos mais
gerais apresentados na literatura dedicada à inovação tecnológica, em especial,
questões relacionadas à formalização e à disponibilidade de recursos.
Veja-Jurado et al. (2008) citam a competência organizacional, relacionada ao estilo
da administração, aos sistemas de comunicação e às equipes, como determinantes
da inovação. Terziovski (2010, p.897), em estudo sobre as pequenas e médias
empresas industriais, afirma que a estrutura formal condiciona positivamente a
performance dessas empresas. Para ele,
“A formalização é, portanto, importante para que as pequenas e médias empresas industriais
melhorem sua performance. (...) A estratégia de inovação e a estrutura formal são fatoreschave da inovação que levam a alta performance das pequenas e médias empresas”.
Tidd et al. (2001, p.317-318) afirmam ainda que:
“Independentemente de quão bem desenvolvidos são os sistemas para definir e desenvolver
produtos e processos inovadores, é improvável que eles tenham sucesso a menos que
envolvidos em um contexto organizacional favorável. Atingir isso não é fácil; envolve criar
estruturas e processos organizacionais que permitam que a mudança tecnológica prospere”.
De fato, há alguns estudos empíricos que apontam que a organização de
departamentos (ou setores) dedicados a pesquisa e desenvolvimento (CASTRO,
2008) ou de espaços dedicados à criatividade (MOULTRIE, 2007) tem impacto no
desempenho inovador das empresas.
100
Há, portanto, autores que sugerem que um grau de formalização dos processos de
inovação é benéfico para as empresas, resultando em um desempenho inovador
melhor. A existência de recursos financeiros e humanos também é apontada como
importante, assim como questões relacionadas ao tamanho da equipe de pesquisa
(LANGRISH et al., 1972).
Processos e Ferramentas
Como Loewe e Dominiquini (2006, p.26) argumentam,
“Fala-se para as pessoas inovarem, mas as empresas não fornecem os processos e
ferramentas que eles precisam para ter sucesso. Outras empresas vão para o outro extremo
implementando processos rigorosos que retiram a essência de possíveis inovações ao invés
de nutrir as boas ideias transformando-as em melhores”.
Os autores apontam que os processos eficientes normalmente possuem como
características: “permitir a divergência”, “sintetizar as ideias individuais em
plataformas maiores antes de selecioná-las para desenvolvimento”, “utilizar
experimentos para testar pressupostos críticos e refinar o modelo de negócio antes
da definição final” e “ajustar o critério de avaliação por todo o processo para refletir o
estágio de desenvolvimento da inovação” (LOEWE, DOMINIQUINI, 2006, p.26-27).
Para o desenvolvimento de uma capacidade de inovação sistêmica, Loewe e
Dominiquini (2006) apontam a importância de se ter processos estruturados para
tornar possível a geração de ideias, sua elaboração e a gestão de seu portfólio.
Veja-Jurado et al. (2008) também citam a competência tecnológica como
determinante da inovação.
Para Christensen e Overdolf (2000), os processos são padrões de interação, de
coordenação, de comunicação e de processo decisório que os empregados usam
para transformar recursos em produtos e serviços de maior valor. Para eles, muitas
das empresas falham justamente em desenvolver processos capazes de criar
produtos de sucesso e de inovar sistematicamente.
101
Já Tidd et al. (2001, p.48) afirmam categoricamente que “nosso argumento nesse
livro [Managing Innovation] é que a bem-sucedida gestão da inovação significa
basicamente construir e aperfeiçoar rotinas eficazes”. Assim sendo, o processo
assume um papel extremamente importante no resultado.
Em outras palavras, sugere-se que empresas que adotem metodologias para a
gestão da inovação, controle dos processos e promovam a comunicação e a
interação entre grupos, tendem a ter um melhor desempenho em inovação. Segundo
os parâmetros sugeridos por Loewe e Dominiquini (2006), avalia-se os processos
segundo a eficiência, a usabilidade e a disponibilidade.
Cultura e Valores das Empresas
Ainda que já tenhamos apresentado os conceitos relativos a cultura anteriormente
neste trabalho, há uma diferença entre o que observaremos nos dois momentos.
Quando considerada como um fator externo, a preocupação é entender a influência
da cultura local sobre a empresa, enquanto que, neste momento, a preocupação se
volta a entender a cultura inerente às organizações. Ainda que haja um reflexo das
culturas nacionais sobre as empresas, como apontado por Hofstede (1997), as
empresas também desenvolvem a própria cultura e valores.
Pontos importantes destacados por Loewe e Dominiquini (2006) incluem a cultura
colaborativa e os incentivos à criatividade. Outros fatores inerentes à empresa são a
resistência a novas ideias ou a forte ligação às antigas (LANGRISH et al., 1972).
É interessante notar que o aprendizado organizacional pode ajudar a construir a
cultura da empresa. O reconhecimento público pode ser também um sinal de uma
cultura estabelecida.
Pessoas e Habilidades
Ainda que Langrish et al. (1972) tenham apontado a existência de pessoas-chave,
tais como gerentes e pesquisadores, como importante para o processo de inovação,
o que já discutimos anteriormente neste capítulo, no item sobre Liderança, para o
102
desenvolvimento de uma capacidade de inovação sistêmica, há autores (LOEWE,
DOMINIQUINI, 2006) que relatam a importância de uma massa crítica de pessoas
que entendam a inovação e suas ferramentas de desenvolvimento.
Na mesma linha, Veja-Jurado et al. (2008) citam o conhecimento e as habilidades
acumulados pela força de trabalho como determinantes da inovação. O treinamento
e o desenvolvimento de pessoas, portanto, tomam grande importância, na medida
em que estudos mostram a relação entre esses investimentos e a capacidade de
inovar (TIDD et al., 2001, p.328). Ainda segundo estes autores, isso são
“complementos
essenciais
para
capacitar
as
pessoas
a
assumir
mais
responsabilidades e demonstrar mais iniciativa”. Para eles, a criatividade depende
de algumas habilidades e de confiança para empregá-las.
Por fim, segundo a OECD (2005, p.53),
“Muitos conhecimentos sobre inovação estão incorporados nas pessoas e em suas
habilidades, e habilidades apropriadas são necessárias para se fazer um uso inteligente das
fontes de conhecimento externas ou codificadas. O papel do capital humano na inovação é
importante tanto para a empresa quanto em nível agregado”.
Os temas de interesse, portanto, incluiriam “quais esforços as firmas fazem para
investir no capital humano de seus empregados”, entendido como o treinamento e o
ganho de experiência através da vivência e da troca de informações, e o que é
disponibilizado pelo ambiente (qualidade do sistema educacional, disponibilidade de
pessoal qualificado, e “quão adaptativa é a força de trabalho em termos da estrutura
do mercado de trabalho e da mobilidade entre as regiões e setores”).
Assim sendo, dois componentes que parecem ajudar a construir a capacidade das
pessoas são a formação, tanto formal quanto adquirida em treinamentos, e a
experiência.
Além destes, mecanismos de promoção da inovação através de estímulos à
criatividade dos funcionários parecem ser importantes.
103
Alocação Interna de Recursos Financeiros
Além dos recursos humanos, o que discutimos amplamente nos tópicos anteriores,
autores apontam a importância de recursos financeiros. Embora tenhamos discutido
este ponto nos fatores externos, fica claro que lá trabalhamos apenas com a
disponibilidade de fontes de financiamento, enquanto que neste momento discutimos
o uso efetivo em projetos de inovação. A falta de recursos financeiros é apontada
por Langrish et al. (1972) como uma causa importante de atrasos na inovação. Da
mesma forma, os autores indicam que a disponibilidade de recursos é fundamental
para as empresas terem sucesso na inovação.
Percepção de Demanda ou Uso Possível
Conforme citam Langrish et al. (1972), a clara identificação de uma necessidade é
importante razão de sucesso em alguns casos; da mesma forma ocorrendo com a
percepção de um uso potencial para uma descoberta. De forma bastante direta, a
OECD (2005, p.53) afirma que “se as empresas não acreditam que haja demanda
suficiente para novos produtos em seu mercado, elas podem decidir não inovar ou
adiar suas atividades de inovação”.
Estratégia
Embora classificada neste momento como uma variável interna e ainda que sujeita
ao efeito discricionário das empresas, a estratégia está claramente ligada ao
ambiente. Para Porter (1996, p.68), “estratégia é a criação de um posicionamento
único e valioso, envolvendo um conjunto diferente de atividades”, posicionamento
este que “frequentemente surge motivado por mudanças na indústria” (p.78). Pode
ser entendido, portanto, como uma resposta da empresa ao ambiente que se impõe.
Conforme mencionam Freeman e Soete (1997), determinada empresa pode ter uma
estratégia visando a liderança técnica do mercado, enquanto outra pode ter pouco
foco na capacitação técnica. A estratégia escolhida depende tanto do ambiente no
qual a empresa se insere quanto de seus recursos e suas capacidades, sendo,
muitas vezes vista como o elo entre o dois.
104
Os autores listam seis tipos de estratégia ponderando a importância de diversas
funções científicas e técnicas a serem desempenhadas dentro da empresa. São
elas: ofensiva, defensiva, imitativa, dependente, tradicional ou oportunista.
Em resumo, a estratégia ofensiva visa a liderança técnica do mercado e se baseia
em pontos como o relacionamento próximo ao ambiente de C&T, a independência
deste setor dentro da empresa e a agilidade na exploração de novas oportunidades.
Já a estratégia defensiva tem como características uma grande preocupação com
pesquisa, às vezes até tão intensa quanto a de empresas com estratégias ofensivas.
A diferença básica está no tempo e na natureza das inovações. Empresas que
adotam essa estratégia mostram certa aversão ao risco de ser a primeira a inovar e
primam por aprender com os erros iniciais dos concorrentes.
A estratégia imitativa se diferencia da defensiva por buscar copiar a inovação, ter
uma licença de uso ou reproduzi-la, ou seja, se baseia em seguir os líderes. São
estratégias utilizadas por empresas que possuem vantagens competitivas frente às
empresas inovadoras, que podem variar deste de um mercado cativo até vantagens
de custo. Observa-se frequentemente em mercados maduros e em países em
desenvolvimento.
A estratégia dependente é entendida como uma estratégia de um departamento ou
subsidiária de uma grande empresa. As empresas normalmente assumem um papel
de subordinação em relação a firmas mais fortes e só modificam produtos sob
solicitação do cliente, o qual, por muitas vezes, é a própria firma mais forte. É o caso
de empresas de fabricação de componentes de algum produto.
A estratégia tradicional é adotada em mercados com baixa concorrência e sem
demanda identificada por inovações nos produtos. Empresas que adotam essa
estratégia possuem pouca capacidade técnica ou científica para iniciar projetos de
longo alcance e dificuldade em responder a mudanças tecnológicas.
105
Por fim, a estratégia oportunista é uma estratégia de nicho, ou seja, de empresas
que agem em oportunidades identificadas no mercado e que não exigem grande
capacidade de pesquisa ou de projeto.
2.6.6 Quadro-Síntese das Variáveis Internas
É interessante observar que, embora classificadas como internas, algumas das
variáveis podem ser consideradas como reflexos da ação do ambiente, ainda que
sujeitas ao efeito discricionário das empresas. É o caso da Estratégia, por exemplo.
O Quadro 5 resume as variáveis apresentadas.
Quadro 5 – Resumo das variáveis do estudo (fatores internos)
Variável
Liderança
•
•
•
Organização interna
Processos
ferramentas
e
Pessoas
habilidades
e
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Cultura e valores
das empresas
Alocação interna de
recursos financeiros
Percepção
de
demanda
•
•
•
•
•
•
•
Estratégia
•
Fonte: Elaboração própria.
Componentes
Técnica e gerencial
Discurso e ação
Avaliação e recompensa
dos líderes
Comunicação
Alocação de recursos
Formalização
Eficiência
Usabilidade
Disponibilidade
Formação e experiência
Gestão da inovação
Mecanismos de controle e
recompensas
Disseminação
de
conhecimentos
Aprendizado
organizacional
Disseminação de valores
Reconhecimento público
Cultura colaborativa
Alocação de recursos
financeiros
Identificação
de
uma
demanda
Identificação de um uso
possível
Tipo de estratégia
Autores
Langrish et al. (1972), Maidique (1988), Tidd
et al. (2001), McDermott e O’Connor (2002),
Loewe e Dominiquini (2006), Morris (2006).
Langrish et al. (1972), Tidd et al. (2001),
Moultrie (2007), Castro (2008), Veja-Jurado
et al. (2008), Terziovski (2010).
Christensen e Overdolf (2000), Tidd et al.
(2001), Loewe e Dominiquini (2006), VejaJurado et al. (2008).
Langrish et al. (1972), Tidd et al. (2001),
OECD (2005), Loewe e Dominiquini (2006),
Veja-Jurado et al. (2008).
Langrish et al. (1972), Hofstede (1997),
Loewe e Dominiquini (2006).
Langrish et al. (1972).
Langrish et al. (1972), OECD (2005).
Porter (1996), Freeman e Soete (1997).
106
3 MODELO CONCEITUAL E CONSTRUÇÃO DAS HIPÓTESES
O presente estudo tem como objetivo geral investigar a influência dos ambientes
interno e externo no desenvolvimento de um perfil empresarial voltado à inovação
tecnológica.
A pesquisa utiliza como ponto de partida os fatores estudados por Langrish et al.
(1972) em seu clássico trabalho “Wealth from Knowledge”, já apresentado
anteriormente. A esses foram agregados outros fatores mencionados na bibliografia
revista no presente estudo.
De uma forma geral, a maior parte dos aspectos estudados aparece como
características de empresas inovadoras quando comparadas com empresas não
inovadoras. O intuito da presente pesquisa não é reforçar estas diferenças, mas sim
explorar o grupo das empresas inovadoras em função da frequência com que
inovam e da radicalidade dessa inovação.
A amostra de empresas inovadoras é dividida, portanto, duas vezes. Na primeira
delas, o grupo é dividido em inovadoras radicais, ou seja, aquelas que apresentaram
inovações radicais no período da pesquisa, e as não radicais. Na segunda, divide-se
em inovadoras persistentes e ocasionais. O intuito das divisões é estudar que
fatores relacionados à inovação são mais importantes para as empresas em cada
um dos grupos.
Para as empresas que inovaram de forma radical, o argumento central de sua
relevância, tem inspiração nos estudos de Christensen (2000), que verifica um
dilema para o inovador. Para o autor, a empresa precisa recorrentemente decidir
sobre a alocação de recursos na empresa entre priorizar a pesquisa e o
desenvolvimento, que levaram a empresa ao ponto em que ela está, ou priorizar a
exploração da inovação já lançada. A decisão mais comum seria a de colher os
louros do lançamento, preocupando-se com a atualização do produto e o esperado
107
retorno financeiro. Porém, esta decisão, que é crítica em algumas empresas, onde a
escassez de recursos realmente as leva a essa encruzilhada, pode comprometer
sua competitividade futura, deixando-a vulnerável à entrada de empresas com
soluções de ruptura com o padrão vigente.
Priorizar a exploração da inovação já lançada leva a empresa a focar a inovação
incremental. Empresas que, a despeito do sucesso de determinada inovação,
continuam priorizando o trabalho de P&D, tendem a ter resultados mais radicais. As
empresas inovadoras radicais, portanto, diferenciam-se das inovadoras não radicais
pela decisão que tomaram frente ao dilema do inovador. Assim sendo, é razoável
supor que as empresas que continuam investindo em P&D buscando a inovação
radical estariam mais preparadas para enfrentar a concorrência, que teria
dificuldades em ameaçá-las de fato, já que, por definição, elas estariam em
constante mudança.
O estudo de mecanismos de promoção das inovadoras radicais traz como maior
contribuição a possibilidade de replicá-las, não só agregando valor à economia
nacional, como uma outra empresa inovadora também o faria, mas tornando-a mais
competitiva e menos vulnerável.
Já em relação à continuidade da inovação, a intenção do estudo é entender que
fatores influenciam a empresa a constantemente lançar novos produtos. É fato que a
quantidade de lançamentos varia mesmo que comparando empresas de um mesmo
setor. Inovar de forma mais persistente significa lançar constantemente inovações. O
critério tecnológico, mais presente na inovação radical, não aparece de forma
explícita na inovação contínua, embora ele possa também estar presente.
Como ponto de partida, os fatores que discriminam a inovação foram selecionados
considerando sua esfera de ação, se são fatores ambientais, externos à empresa,
ou fatores internos, ligados a características individuais das empresas.
A hipótese da influência de fatores ambientais é encontrada nos trabalhos
relacionados à inovação contínua (CHI RESEARCH, 2003; HICKS; HEGDE, 2005;
LIBAERS, 2008) e apontam dois principais fatores para sua ocorrência: a localização
108
geográfica e a existência de parcerias externas para a inovação. Ambos os fatores
citados são externos ou dizem respeito ao relacionamento com agentes externos à
empresa. Assim, o surgimento desse tipo de empresa inovadora aparentemente não
é uma obra do acaso. Tal surgimento só se torna possível pela existência de um
ambiente propício.
Definir o que é um ambiente propício é uma tarefa bastante complexa, tendo em
vista que o que é favorável a uma empresa pode não ser para outra. A partir dessa
noção de que sua definição é algo relativo, ser ou não propício torna-se uma
questão menor; o ambiente deve ser percebido como propício. Assim, preocupamonos também com o que se passa dentro das organizações, por iniciativa dos
empreendedores.
Os autores que trabalham com a inovação contínua costumam conceituá-la como
uma capacidade organizacional, por ser tratada como uma evolução do processo de
melhoria contínua (RIJNDERS; BOER, 2004; CARPINETTI et al., 2007). Assim
sendo, os fatores internos tornam-se mais presentes na bibliografia. No entanto, não
há qualquer indício de que fatores externos não exerçam influência sobre a inovação
contínua. Ao contrário, alguns autores (p.e. CARPINETTI et al., 2007) estudam a
aplicação desse mesmo conceito a clusters de empresas.
Por fim, é importante destacar que a amostra é composta apenas por empresas
inovadoras, ou seja, não é objetivo desta pesquisa diferenciar empresas inovadoras
de não inovadoras. Entende-se que esta diferenciação já foi estudada com
profundidade em vários trabalhos, a exemplo dos apresentados no capítulo de
referencial teórico.
Um modelo que resume o intuito do presente estudo está apresentado na figura 11.
109
Ambiente
Fatores Internos
Inovadoras
Radicalidade
Continuidade
Não-Inovadoras
(fora do escopo desta pesquisa)
Figura 11 – Esquema do modelo conceitual
Fonte: Elaboração própria.
3.1 HIPÓTESES
Com o intuito de responder às perguntas da pesquisa, foram estruturadas cinco
hipóteses gerais. O objetivo central é caracterizar as empresas inovadoras segundo
a radicalidade de suas inovações e a continuidade no processo de inovação. A
primeira hipótese geral (HG1) diz respeito à inovação radical. A segunda (HG2), à
inovação contínua, e a terceira (HG3), ao ambiente institucional, enquanto que as
hipóteses gerais HG4 e HG5 dizem respeito à relação entre os conceitos testados
nas hipóteses gerais HG1 e HG2.
HG1: Não há diferenças significativas entre os fatores que motivam a inovação
radical e a incremental nas empresas brasileiras.
HG2: Não há diferenças significativas entre os fatores que motivam as inovadoras
persistentes e as inovadoras ocasionais.
HG3: Não há forças institucionais que limitem as empresas a inovar de forma radical
e contínua.
110
HG4: Os conceitos de radicalidade e continuidade em inovação são mutuamente
excludentes.
HG5: A inovação contínua e a inovação radical decorrem de estratégias de inovação
iguais.
Os testes das hipóteses gerais HG1 e HG2 obedecem a uma lógica semelhante.
Cada uma das variáveis levantadas foi testada de forma a se entender as diferenças
que compõem as categorias de empresas. O teste das hipóteses gerais HG3, HG4 e
HG5 foi realizado de forma distinta. Para o teste da hipótese geral HG3, as variáveis
foram analisadas segundo um modelo construído a partir dos trabalhos de Van de
Ven e Garud (1989) e de Scott (1995). Para o teste das hipóteses gerais HG4 e
HG5, foi realizada uma comparação dos quadrantes formados pelo cruzamento dos
dois conceitos (radicalidade e continuidade).
3.1.1 Hipótese Geral 1 – Inovação Radical
A fim de ilustrar de forma mais didática ao leitor, optou-se por segmentar as
hipóteses derivadas de cada hipótese geral, quanto às variáveis ambientais e
internas, o que se espera facilite sua ligação com o referencial teórico apresentado
anteriormente.
Serão testadas treze hipóteses relacionadas ao impacto sobre o perfil inovador das
empresas de cada uma das variáveis ligadas ao ambiente, listadas a partir da
revisão bibliográfica realizada, e outras sete hipóteses focadas nas variáveis
internas. Perfaz-se, portanto, um total de 20 hipóteses por perfil.
Cada uma das hipóteses derivadas foca em um fator construído a partir da revisão
bibliográfica. Esta construção dos fatores tem o objetivo de facilitar seu estudo, visto
que o referencial teórico assim o divide quando distingue inovadoras de não
inovadoras. No caso deste estudo, como não há necessariamente uma relação
prévia direta com os fatores construídos para as hipóteses, é bastante razoável
supor a possibilidade de ter novos fatores que reagrupem as variáveis de outra
111
forma, quando estivermos focados em cada um dos perfis. Como veremos adiante,
estes novos fatores também serão investigados.
3.1.1.1 Hipóteses derivadas H1.1 a H1.13
As hipóteses derivadas da HG1, H1.1 a H1.13, focam a relação entre os fatores
teóricos ligados ao ambiente e a radicalidade das inovações. A seguir, listamos as
hipóteses mencionadas, com uma breve discussão de sua construção, com base no
referencial teórico apresentado anteriormente.
H1.1: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção da legislação como promotora da inovação nas
empresas brasileiras.
Como mencionado anteriormente, vários autores (STEINER, 1975; DIMAGGIO;
POWELL, 1983; VAN DE VEN; GARUD, 1989; PATEL; PAVITT, 1994; SCOTT,
1995; LEWIN; KIM, 2004) apontam que há influência do marco legal sobre a
formação das empresas. Exemplos dessa influência são as diferenças presentes nos
requisitos para abertura e fechamento de empresas e no regime de propriedade
intelectual.
H1.2: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção da disponibilidade de financiamento como promotor da
inovação nas empresas brasileiras.
A necessidade de recursos financeiros para o investimento em uma inovação é claro
e presente na obra de vários autores (VAN DE VEN; GARUD, 1989; PATEL;
PAVITT, 1994; DUGGAN, 1996; LEWIN; KIM, 2004). Comercializar uma novidade
sempre requer investimento, o que torna o financiamento um instrumento importante
para o empresário.
H1.3: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção do nível de educação e do treinamento de pessoal
como promotores da inovação nas empresas brasileiras.
112
A educação é defendida como um dos grandes pilares dos Sistemas Nacionais de
Inovação (NELSON, 1993). Como indicam outros autores (DIMAGGIO; POWELL,
1983; VAN DE VEN; GARUD, 1989; FREEMAN; SOETE, 1997; LEWIN; KIM, 2004),
ela é decisiva na determinação da quantidade de empresas tecnologicamente
inovadoras.
H1.4: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção do nível de desenvolvimento da cadeia produtiva como
promotor da inovação nas empresas brasileiras.
A cadeia produtiva é enxergada como uma grande motivadora da inovação nas
empresas. No modelo demand-pull, a inovação só existe como resposta a uma
demanda do mercado (SCHMOOKLER, 1966). Da mesma forma, outros elos da
cadeia, como os fornecedores também podem exercer pressão sobre as empresas.
Imagine, por exemplo, uma empresa descontinuando o fornecimento de um insumo
crítico a outra empresa. Caso a decisão seja irreversível, a empresa cliente se veria
na posição de tomar uma decisão estratégica que pode envolver inovar.
H1.5: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção da ação do governo como promotor da inovação nas
empresas brasileiras.
Vários autores (LANGRISH et al., 1972; STEINER, 1975; ROSENBERG, 1976;
DAHLMAN; FRISCHTAK, 1993; NELSON; ROSENBERG, 1993; PATEL; PAVITT,
1994; SCOTT, 1995; CASTELLS, 1999; LEWIN; KIM, 2004) apontam a ação do
governo como importante no incentivo à inovação. Por ser uma atividade que possui
uma relação risco-retorno alta, os governos tendem a criar mecanismos que
mitiguem os riscos inerentes ao processo, de forma a incentivar as empresas a
inovar.
H1.6: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção da influência da localização como promotora da
inovação nas empresas brasileiras.
113
Libaers (2008) tinha como hipótese que uma das características que distinguem as
empresas que inovam constantemente é justamente sua localização, normalmente
próxima a universidades ou em arranjos produtivos locais. Da mesma forma,
Feldman (1993), Ibrahim et al. (2006) e Malerba (2002) indicam que a localização é
um fator importante na formação da empresa.
H1.7: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção do acesso a informações científicas e tecnológicas
como promotor da inovação nas empresas brasileiras.
Como já anteriormente citado, para Van de Ven e Garud (1989) a difusão das
informações científicas e tecnológicas tende a ser, por vezes, tão importante quanto
sua produção. Em alguns casos, o acesso distingue as estratégias de inovação de
empresas, como sugerem Freeman e Soete (1997).
H1.8: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção da cultura e dos costumes nacionais como promotores
da inovação nas empresas brasileiras.
Há uma extensa bibliografia relacionando a cultura às práticas gerenciais da
empresa. DiMaggio e Powell (1983), Scott (1995), Freeman e Soete (1997),
Hofstede (1997), Lewin e Kim (2004) apontam a variável cultura como importante na
definição do ambiente e do perfil da empresa. Assim, é possível que a cultura
influencie a tendência a empresa possuir um foco maior ou menor sobre a inovação.
Da mesma forma, os costumes fazem parte das regras da ação coletiva (VAN DE
VEN; GARUD, 1989) e representam a tendência a replicar comportamentos
passados. Empresas inovadoras, portanto, tenderiam a se manter inovadoras;
enquanto que as não inovadoras tenderiam a continuar na mesma situação.
H1.9: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e não
radicais, quanto à percepção das redes de relacionamento como promotoras da
inovação nas empresas brasileiras.
114
A força cognitiva que age sobre as empresas, apresentada por Scott (1995), referese à influência das interações sociais. Assume-se, portanto, que é importante o
papel das redes de relacionamento social.
Da mesma forma, Langrish et al. (1972) aponta a importância das parceiras e de
relacionamento informais como fontes de ideias.
H1.10: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto à percepção da necessidade de legitimidade como promotora
da inovação nas empresas brasileiras.
A legitimidade pode ser entendida como a criação de confiança e reputação frente
aos stakeholders da empresa (VAN DE VEN; GARUD, 1989). É possível que o ato
de inovar seja entendido como uma forma de se legitimar. Uma empresa inovadora
pode buscar a inovação apenas como o intuito de assegurar uma imagem
condizente com esta condição.
H1.11: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto à percepção das condições de fundação como promotoras da
inovação nas empresas brasileiras.
Como apontam Lewin e Kim (2004), as condições de fundação, entendidas como
os contextos histórico, geográfico e político em que a empresa foi fundada, podem
influenciar o comportamento das empresas de forma bastante marcante.
Tendo em vista que o local já é considerado como variável no presente estudo,
trabalharemos as condições de fundação aqui apenas quanto aos contextos
histórico e político.
H1.12: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto à percepção do setor como promotor da inovação nas
empresas brasileiras.
115
Vários autores (MALERBA, 2002; PAVITT, 1984; TIDD et al., 2001) apontam
diferenças entre setores quanto à propensão a inovar. Dependendo da dinâmica do
setor em que está inserida, uma empresa pode ser mais ou menos propensa a
inovar.
H1.13: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto à governança como promotora da inovação nas empresas
brasileiras.
Para Lewin e Kim (2004), o comportamento das empresas pode ser influenciado
pelo nível de desenvolvimento do mercado de capitais, já que algumas empresas
com acionistas podem ser compelidas a adotar práticas de governança corporativa
ou outras que levem a empresa a empregar tempo e dinheiro em atividades diversas
ao ato de inovar, eventualmente alterando seu perfil e exposição ao risco que a
atividade inovadora pode exigir.
Testando as hipóteses H1.1 a H1.13, o estudo tem o objetivo de verificar que fatores
externos exercem maior ou menor influência sobre a radicalidade da inovação.
3.1.1.2 Hipóteses derivadas H1.14 a H1.20
Outras sete hipóteses serão testadas a fim de verificar a relação entre cada uma das
variáveis internas relacionadas a partir da revisão bibliográfica realizada e a
radicalidade na inovação das empresas brasileiras. A seguir, listamos as hipóteses
mencionadas, com uma breve discussão de sua construção, com base no referencial
teórico apresentado anteriormente.
H1.14: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto à liderança como promotora da inovação nas empresas
brasileiras.
A liderança é apontada por vários autores (LOEWE, DOMINIQUINI, 2006; MORRIS,
2006) como central para a inovação nas empresas. Há ainda outros autores
116
(LANGRISH et al., 1972; MAIDIQUE, 1988; TIDD et al., 2001) que apontam a
importância de pessoas-chave, na prática líderes, para o sucesso de uma inovação.
H1.15: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto à organização interna como importante para a inovação nas
empresas brasileiras.
Vários autores (TIDD et al., 2001; MOULTRIE, 2007; CASTRO, 2008; VEJAJURADO et al., 2008; TERZIOVSKI, 2010) sugerem que há influência da
organização interna sobre o sucesso da inovação. Embora pareça lógico concluir
que estruturas organizadas tendem a ter mais sucesso na entrega de um projeto,
advoga-se, por outro lado, que ambientes mais livres tendem a estimular a
criatividade, o que gera um impacto positivo sobre a inovação.
H1.16: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto aos processos e ferramentas internos como importantes para a
inovação nas empresas brasileiras.
Se, por um lado, as pessoas são as grandes responsáveis pela inovação nas
empresas, ao analisá-las em nível organizacional, os processos e ferramentas
ganham importância, por permitir que as pessoas não ajam isoladamente, mas em
conjunto numa organização. Christensen, Overdolf (2000), Tidd et al. (2001), Loewe
e Dominiquini (2006) são alguns dos autores que estudaram a influência dos
processos organizacionais sobre a inovação.
H1.17: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto às pessoas e às habilidades como importantes para a inovação
nas empresas brasileiras.
Além da importância dos líderes, cuja verificação compõe outra hipótese desta
pesquisa, as pessoas envolvidas na inovação, de uma forma geral, desempenham
um importante papel para seu sucesso. Autores como Tidd et al. (2001), OECD
(2005), Loewe, Dominiquini (2006) e Veja-Jurado et al. (2008) citam a importância do
capital humano para a inovação, independentemente de um papel de liderança.
117
H1.18: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto a cultura e aos valores das empresas brasileiras como
promotores da inovação.
Mais que um fator externo, a cultura inerente às organizações, assim como seus
valores, são pontos que influenciam a propensão de uma empresa a inovar,
conforme apontam autores como Loewe e Dominiquini (2006). Componentes dessa
cultura, como a resistência a novas ideias ou a forte ligação a ideias anteriores
(LANGRISH et al., 1972) e o aprendizado obtido pelas experiências anteriores,
corroboram essa importância. Por fim, uma cultura interna bem estabelecida pode
ser percebida pelos clientes, constituindo fator de reconhecimento público.
H1.19: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto à alocação interna de recursos financeiros para a inovação nas
empresas brasileiras.
Dois são os recursos básicos de uma empresa e que, portanto, desempenham papel
importante na inovação: os recursos financeiros e os humanos, sendo que este
último já foi extensivamente discutido anteriormente. No tocante aos recursos
financeiros, para o teste desta hipótese, não constituem preocupação com sua
disponibilidade, mas com sua efetiva alocação pela administração. De fato, Langrish
et al. (1972) já apontavam que tal alocação era crítica para o sucesso e aceleravam
ou atrasam a conclusão dos projetos.
H1.20: Não há diferenças significativas entre empresas com inovações radicais e
não radicais, quanto à percepção da demanda pelo novo produto/processo como
importante para a inovação nas empresas brasileiras.
Identificar uma necessidade ou um uso potencial é um fator de motivação que
influencia o andamento dos projetos de inovação, conforme afirmam Langrish et al.
(1972) e OECD (2005).
118
Testando as hipóteses H1.14 a H1.20, o estudo tem o objetivo de verificar que
características internas exercem maior ou menor influência sobre a radicalidade da
inovação.
3.1.2 Hipótese Geral 2 – Inovadoras Persistentes e Ocasionais
De forma análoga ao apresentado na seção 3.1.1, todas as variáveis serão testadas
quanto a sua relevância para o perfil contínuo da inovação nas empresas brasileiras.
A fim de evitar repetições, tendo em vista que a argumentação para a construção
das hipóteses H1.1 a H1.20 aplica-se de forma semelhante para a construção das
hipóteses H2.1 a H2.20, entende-se que sua repetição neste capítulo não se faz
necessária. Portanto, para qualquer informação adicional sobre a construção das
hipóteses, sugere-se consultar a hipótese análoga na seção 3.1.1.
Serão testadas treze hipóteses relacionadas ao impacto sobre o perfil inovador das
empresas de cada uma das variáveis ligadas ao ambiente, listadas a partir da
revisão bibliográfica realizada, e outras sete hipóteses focadas nas variáveis
internas. Perfaz-se, portanto, um total de 20 hipóteses por perfil. A seção 3.1.2.1 a
seguir lista as hipóteses derivadas da Hipótese Geral 2.
3.1.2.1 Hipóteses derivadas H2.1 a H2.20
As hipóteses derivadas da HG2, H2.1 a H2.20, focam a relação entre os fatores
teóricos e o perfil inovador relacionado à continuidade. Eles foram construídos de
forma análoga às hipóteses H1.1 a H1.20, apresentadas nas seções 3.1.1.1 e
3.1.1.2. A seguir, apenas listamos as hipóteses mencionadas, sendo, para uma
discussão sobre sua construção, peço ver as seções 3.1.1, 2.5 e 2.6.
Legislação
H2.1: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção da legislação como promotora da inovação nas
empresas brasileiras.
119
Disponibilidade de Financiamento
H2.2: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção da disponibilidade de financiamento como promotor
da inovação nas empresas brasileiras.
Educação e Treinamento
H2.3: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção do nível de educação e do treinamento de pessoal
como promotores da inovação nas empresas brasileiras.
Nível de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva
H2.4: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção do nível de desenvolvimento da cadeia produtiva
como promotor da inovação nas empresas brasileiras.
Governo
H2.5: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção da ação do governo como promotor da inovação
nas empresas brasileiras.
Localização
H2.6: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção da influência da localização como promotora da
inovação nas empresas brasileiras.
120
Acesso a Informações Científicas e Tecnológicas
H2.7: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção do acesso a informações científicas e tecnológicas
como promotor da inovação nas empresas brasileiras.
Cultura e Costumes Nacionais
H2.8: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção da cultura e dos costumes nacionais como
promotores da inovação nas empresas brasileiras.
Redes de Relacionamento
H2.9: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção das redes de relacionamento como promotoras da
inovação nas empresas brasileiras.
Legitimidade
H2.10: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção da necessidade de legitimidade como promotora da
inovação nas empresas brasileiras.
Condições de Fundação
H2.11: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção das condições de fundação como promotoras da
inovação nas empresas brasileiras.
121
Setor
H2.12: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção do setor como promotor da inovação nas empresas
brasileiras.
Governança
H2.13: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à governança como promotora da inovação nas empresas
brasileiras.
Liderança
H2.14: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à liderança como promotora da inovação nas empresas
brasileiras.
Organização Interna
H2.15: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à organização interna como importante para a inovação nas
empresas brasileiras.
Processos e Ferramentas Internos
H2.16: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto aos processos e ferramentas internos como importantes para a
inovação nas empresas brasileiras.
122
Pessoas e Habilidades
H2.17: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto às pessoas e às habilidades como importantes para a inovação
nas empresas brasileiras.
Cultura e Valores das Empresas
H2.18: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto a cultura e aos valores das empresas brasileiras como
promotores da inovação.
Alocação Interna de Recursos Financeiros
H2.19: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à alocação interna de recursos financeiros para a inovação nas
empresas brasileiras.
Percepção da Demanda
H2.20: Não há diferenças significativas entre empresas inovadoras persistentes e
ocasionais, quanto à percepção da demanda pelo novo produto/processo como
importante para a inovação nas empresas brasileiras.
Testando as hipóteses H2.1 a H2.13, o estudo tem o objetivo de verificar que fatores
externos exercem maior ou menor influência sobre o perfil ligado à continuidade na
inovação. Enquanto que, testando as hipóteses H2.14 a H2.20, o estudo tem o
objetivo de verificar que características internas exercem maior ou menor influência
sobre o perfil ligado à continuidade na inovação.
123
3.1.3 Hipótese Geral 3 – Influência do Ambiente
Para o teste da hipótese geral HG3, as variáveis externas resultantes dos testes das
hipóteses gerais HG1 e HG2, serão avaliadas segundo o modelo construído a partir
dos trabalhos de Van de Ven e Garud (1989) e Scott (1995).
A relação entre as variáveis externas discutidas no capítulo 2.5 e resumidas na
seção 2.5.5 e as abordagens teóricas propostas por Scott (1995), sobre as forças
institucionais, e por Van de Ven e Garud (1989), sobre o sistema social da indústria,
discutidas respectivamente nas seções 2.5.2 e 2.5.3 é apresentada o Quadro 6. Ele
constitui o modelo que servirá de base para o teste da hipótese geral HG3.
Quadro 6 – Relação entre as variáveis ambientais do estudo e as abordagens teóricas
Sistema social da indústria*
Forças Regulatórias
Subsistema • Legislação/Propriedade
Instrumental
Intelectual
Subsistema
Institucional
• Legislação em geral
• Governo/Políticas
Públicas
Forças Institucionais**
Forças Normativas
Forças Cognitivas
• Nível
de • Redes
de
desenvolvimento
da
relacionamento
cadeia produtiva
• Nível
de
desenvolvimento
da
• Setor
cadeia produtiva
• Costumes
• Legitimidade
• Localização
• Cultura
• Condições de fundação
• Governança
Subsistema • Disponibilidade
de • Educação
de
Busca
financiamento
treinamento
de
• Governo/apoio
à
Recursos
pesquisa,
compras
governamentais,
incentivos
Notas: * Apresentado por Van de Ven e Garud (1989).
** Apresentado por Scott (1995).
Fonte: Elaboração própria.
e • Acesso a Informações
científicas
e
tecnológicas
• Redes
de
Relacionamento/
Parcerias com ICTs
O objetivo é identificar que variáveis ambientais podem limitar as empresas a inovar
de forma radical e contínua, identificando possibilidades de ação do poder público na
promoção de um ambiente que favoreça as empresas inovadoras.
124
3.1.4 Hipóteses Gerais 4 e 5 – Análise Conjunta (Inovação Radical e
Contínua)
As hipóteses gerais HG4 e HG5 estão focadas na relação entre os dois conceitos
(continuidade e radicalidade). Tendo em vista que, como vimos anteriormente, a
teoria leva a crer que haja uma dicotomia entre a inovação contínua e inovação
radical, propõe-se testar esta hipótese empiricamente, a partir do estudo de seus
fatores discriminantes. Da mesma forma, propõe-se verificar as estratégias de
inovação presentes nas empresas com cada uma das combinações dos perfis
quanto à radicalidade e a continuidade das inovações. A hipótese geral HG4 tem por
objetivo fazer a mencionada distinção empírica dos conceitos, enquanto que a
hipótese geral HG5 verifica a questão das estratégias de inovação. A análise das
hipóteses gerais HG4 e HG5, portanto, se baseia parcialmente nos resultados das
hipóteses gerais HG1 e HG2.
125
4 METODOLOGIA
4.1 TIPO DE PESQUISA
Quanto aos fins, a pesquisa realizada pode ser classificada como descritiva e
explicativa. Descritiva, pois busca caracterizar um determinado grupo de empresas
inovadoras quanto a traços ou atributos específicos. Explicativa, pois se propõe
também a esclarecer quais fatores contribuem para a inovação radical e para a
inovação contínua.
Para Vergara (1997, p.45), “a pesquisa descritiva expõe características de
determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também esclarecer
correlações entre variáveis e definir sua natureza.”
Já a pesquisa explicativa, segundo a mesma autora (VERGARA, 1997, p.45), “tem
como principal objetivo tornar algo inteligível, justificar-lhe os motivos. Visa, portanto,
esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para a ocorrência de
determinado fenômeno.”
Embora o estudo tenha também características que o classificariam como
exploratório, tendo em vista que o assunto é pouco explorado, especificamente na
intersecção da inovação radical com a inovação contínua, acredita-se que a grande
e diversa literatura sobre empresas inovadoras nos habilite a partir de construtos já
identificados, buscando uma explicação mais detalhada para o fenômeno.
Quanto aos meios, utilizou-se a pesquisa documental, com base nas fichas de
inscrição das empresas para o Prêmio Finep de Inovação, e a pesquisa de campo,
com a aplicação de questionários para a obtenção de dados complementares para
as análises. Estas etapas são descritas de forma mais detalhada adiante.
126
4.2 DESCRIÇÃO DO ESTUDO
O presente estudo visa identificar a influência de diversos fatores sobre as empresas
inovadoras. Para tanto, foram coletados dados tanto das fichas de inscrição no
Prêmio Finep de Inovação quanto diretamente das empresas inscritas, em relação a
cada uma das inovações, tendo em vista que empresas diversificadas podem ter
comportamentos diferentes dependendo da inovação que pretendem lançar.
É utilizada uma abordagem quantitativa, mais adequada a uma pesquisa de fins
descritivos e explicativos. A intenção foi utilizar técnicas estatísticas diversas para
segmentar o grupo de empresas inovadoras. De forma a tornar a análise mais
robusta, optou-se por cruzar diversas técnicas, como veremos mais adiante.
Em resumo, o primeiro passo foi coletar as informações contidas nas fichas de
inscrição do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica. Em seguida, foram produzidos
e lançados questionários a cada um dos inscritos no Prêmio Finep de Inovação. As
respostas a esses questionários foram tabuladas, tratadas e agregadas às
informações já disponíveis nas fichas. Por fim, foram testadas as hipóteses citadas
com base nos dados levantados.
4.3 UNIDADE DE ANÁLISE
A unidade de análise básica para o presente estudo são as inovações incritas pelas
empresas. Assim sendo, uma empresa pode ter respondido mais de um
questionário, se tiver realizado mais de uma inscrição no Prêmio Finep de Inovação.
A escolha dessa unidade básica vem da possibilidade de que os fatores exerçam
diferentes motivações nas empresas diversificadas. Uma linha de produtos pode ter
um forte estímulo governamental, enquanto que outra não. Da mesma forma, as
empresas podem agir e adotar estratégias diferentes para cada uma das inovações
em desenvolvimento. Das 731 empresas que inscreveram inovações, 143
inscreveram mais de uma inovação no Prêmio.
127
Tendo em vista o número considerável de inovações que podem ser de segmentos,
de locais, de filiais ou voltados a públicos diferentes, optamos por utilizar uma
unidade de análise que não perdesse esse potencial interessante de respostas.
Assim sendo, a unidade de análise a ser utilizada é a inovação, embora algumas
perguntas às empresas remetam ao contexto de cada inovação em análise.
Portanto, sempre que manifestarmos um resultado relativo a uma empresa, a
estaremos tratando dentro do contexto da inovação estudada. Por fim, é importante
ressaltar que a possibilidade de recebimento de mais de um questionário foi
informada aos respondentes.
4.4 MÉTODO DE COLETA DE DADOS
4.4.1 Levantamento (ou survey)
Segundo Gil (1987, p.76), a característica de um levantamento (ou survey) é a
interrogação direta a pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Neste caso,
deseja-se conhecer o comportamento da empresa e para isso interroga-se pessoas
diretamente relacionadas ao desenvolvimento da inovação inscrita no Prêmio Finep.
Esta pessoa estava identificada na inscrição da empresa, assim como seus
contatos. Nos casos em que não havia endereço de e-mail explícito na inscrição, foi
realizado um contato com a empresa solicitando o encaminhamento da mensagem.
Gil (1987, p.77-78) aponta como vantagens dos levantamentos: o conhecimento
direto da realidade, por levantar dados diretamente nas empresas, livre de
interpretações de intermediários; economia e rapidez, podendo-se levantar dados
em diferentes regiões do país com custo reduzido e simultaneamente; e a
quantificação, o que permite que se tratem estatisticamente os dados colhidos.
As limitações apontadas pelo autor são: a ênfase nos aspectos perceptivos, ou seja,
sendo a percepção subjetiva, os dados colhidos dependerão das pessoas que
responderem aos questionários; pouca profundidade no estudo da estrutura e dos
128
processos sociais; e a limitada apreensão do processo de mudança, ou seja, como o
levantamento proporciona uma imagem estática do fenômeno estudado, não há
como apontar tendências, a menos que a pesquisa seja replicada no futuro.
A fim de reduzir os problemas relacionados à profundidade no estudo dos processos
sociais, um enfoque maior foi dado à empresa, nas suas decisões, sem medir
diretamente fatores interpessoais e institucionais.
Entende-se que, como os respondentes eram normalmente os responsáveis pela
inovação, trabalhando, direta ou indiretamente, nas áreas de P&D das empresas,
muito provavelmente compartilhavam de um mesmo entendimento sobre as
perguntas apresentadas nos questionários. Além disso, a fim de se mitigar os efeitos
relacionados a essa limitação, houve uma preocupação em padronizar as questões,
adequando a linguagem utilizada e realizando um teste prévio à aplicação.
O teste do questionário foi conduzido em setembro de 2010, com sua aplicação a
especialistas na área de conhecimento do presente estudo. Foram verificadas
questões relacionadas à clareza, à objetividade, à extensão, ao tempo de resposta,
à existência de termos técnicos, à facilidade de compreensão, à coerência, à
existência de eventuais erros e à validade das escalas de medição. A partir de
então, foram realizados alguns ajustes no questionário.
Sobre a validade das escalas, elas se referem a quanto o processo de medição está
isento de erros amostrais e não amostrais. Erros amostrais ocorrem em virtude do
tamanho e do processo de seleção da amostra, enquanto os erros não amostrais
são aqueles que ocorrem durante a realização da pesquisa e não são classificados
como erros amostrais, como, por exemplo, não respostas.
Gil (1987, p.137) aponta dois procedimentos como os mais utilizados para verificar a
validade das escalas de medição: a opinião de um júri, ou seja, a validade é
confirmada a partir da opinião de um grupo de pessoas tidas como especialistas no
campo dentro do qual se aplica a escala; e grupos conhecidos, ou seja, a validade é
obtida a partir de opiniões ou atitudes manifestadas por grupos opostos. A escolha
pela aplicação a especialistas foi decorrente desta orientação.
129
Assim, de acordo com o objetivo da presente pesquisa e as considerações dos
autores a respeito do método, considerou-se o levantamento (ou survey) como
adequado para este tipo de pesquisa.
4.4.2 Levantamento de dados por webpage
O questionário foi disponibilizado em página na Internet, a partir de outubro de 2010.
A opção pela disponibilização na Internet foi decorrente da amplitude da localização
das empresas, do menor custo, da rapidez na apuração das respostas e da
possibilidade de adaptação ao respondente. Sua versão online foi elaborada com o
auxílio da ferramenta “Google docs” e foram utilizados recursos que permitiam o
salto automático de algumas questões em função das respostas anteriores.
A ferramenta fornecia um link para acesso direto ao questionário, que foi enviado
para cada uma das empresas. A fim de aumentar a taxa de resposta, foi enviado um
e-mail prévio, para apresentação da pesquisa e do pesquisador. A partir desta
mensagem, foi possível checar a base de e-mails e alertar sobre o link no e-mail
seguinte, para evitar que pudesse ser entendido como “vírus de computador”. O
Apêndice A mostra o texto enviado às empresas.
Em seguida, foram enviados e-mails individuais, relacionados a cada uma das
inovações inscritas. Para a aumentar a segurança e facilitar o preenchimento pelo
entrevistado, tomou-se o cuidado de fazer referência ao e-mail anterior e citar a
inovação inscrita. O Apêndice B mostra o texto enviado às empresas.
As respostas foram controladas a partir do preenchimento do campo “Empresa” e do
campo “Inovação”. Quinzenalmente, os e-mails foram reenviados para as empresas
que não haviam respondido. Além disso, foram prestados vários esclarecimentos por
e-mail, de pessoas que queriam informações adicionais sobre a pesquisa. O
pesquisador ressaltou, na comunicação com as empresas, que houve um cuidado
com questões “sensíveis”, que nenhum segredo técnico da inovação seria
perguntado, que não haveria divulgação individual das respostas e que o envio das
130
respostas só se dava ao final do questionário, sendo permitido, portanto, que o
respondente avaliasse a conveniência de respondê-la. Uma das empresas solicitou
uma versão em processador de texto, pois relatou problemas no acesso ao
questionário, bloqueado pelo administrador do sistema da empresa. A versão foi
produzida e respondida, sendo os dados considerados na amostra.
4.5 CONSTRUÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS
O presente estudo visa verificar a influência das características internas das
empresas e da percepção do ambiente institucional sobre o perfil das empresas
brasileiras inovadoras. Foi desenvolvido, portanto, um questionário para coleta de
dados.
Este questionário, voltado às empresas inovadoras, é constituído de quatro partes. A
primeira colhe dados sobre o perfil da empresa. Foram relacionadas oito perguntas:
atual número de funcionários, número de patentes nos últimos 5 anos, principal
acionista, ano de entrada em atividade, se se encontra em atividade e eventual data
de encerramento, se houve mudança de local, se está em uma incubadora e o setor
de atuação.
A segunda seção colhe dados sobre o desempenho inovador do produto/processo
objeto da inscrição no Prêmio Finep de Inovação. Visa medir o quanto a inovação
teve sucesso. Foram relacionadas quatro perguntas: o setor de aplicação da
inovação, a data da introdução no mercado, se a inovação continua a ser
comercializada (ou utilizada, no caso de processos), com a eventual data em que foi
descontinuada e os motivos, e o percentual do faturamento advindo de novos
produtos.
A terceira parte visa classificar a estratégia utilizada pela empresa para a inovação,
conforme a tipologia sugerida por Freeman e Soete (1997). Propõe-se uma
classificação direta, a partir da resposta a seis perguntas atreladas às definições de
cada um dos tipos de estratégia. O Quadro 7 ilustra essas perguntas, com respostas
131
binárias (sim ou não), e o Quadro 8 ilustra a classificação conforme as respostas
apresentadas.
Quadro 7 – Perguntas para classificação da estratégia de inovação
Variável
Qa
Qb
Qc
Qd
Qe
Qf
Controle
Pergunta
Nossa empresa é líder na principal tecnologia envolvida nesta inovação.
Há empresas com tecnologias concorrentes, diferentes da nossa, mas desenvolvidas
há mais tempo.
Há empresas com tecnologias idênticas à nossa, mas desenvolvidas há mais tempo.
A tecnologia utilizada nessa inovação foi fornecida por nossa matriz.
A tecnologia utilizada nessa inovação é de domínio público.
A tecnologia utilizada nessa inovação foi desenvolvida rapidamente para atender a
um nicho identificado de mercado.
Qual o principal acionista da empresa?
Quadro 8 – Esquema de classificação das estratégias de inovação
Perguntas do Quadro 7
Qd
Qe
-
Qa
-
Qb
N
Qc
N
Qf
N
-
N
N
N
-
N
S
-
N
S
N
N
N
-
N
-
N
-
S
N
N
-
N
S
-
S
-
N
S
N
-
N
N
-
-
-
S
N
N
-
-
-
-
S
-
-
-
-
S
-
S
-
-
-
S
N
S
-
N
-
N
N
N
S
N
S
N
S
S
S
Controle
Estratégia
Outro
Multinacional ou
de grande
empresa
brasileira
-
Ofensiva
Outro
Multinacional ou
de grande
empresa
brasileira
-
Defensiva
Outro
Multinacional ou
de grande
empresa
brasileira
Multinacional ou
de grande
empresa
brasileira
Outro
Multinacional ou
de grande
empresa
brasileira
Imitativa
Dependente
Tradicional
-
Outro
-
Oportunista
A quarta e última seção avalia a percepção sobre o ambiente e características
internas que, segundo a bibliografia, promovem a inovação nas empresas. São
perguntas construídas com base nas variáveis a serem medidas na pesquisa e que
constituirão a base para o tratamento estatístico das respostas. Foram relacionadas
44 perguntas. Em cada uma, o respondente deveria se posicionar segundo uma
escala de cinco níveis, como uma escala de Likert: discordo fortemente, discordo,
132
sou indiferente, concordo e concordo fortemente. A escolha deste tipo de escala
levou em conta a objetividade do levantamento, de forma a permitir o tratamento
posterior (GIL, 1987, p.142-143). O Apêndice C traz o questionário utilizado.
Às 44 variáveis, foi acrescentada uma variável dummy relativa ao formato societário.
Uma variável dummy é resultante da codificação de respostas binárias. No caso,
Ltda. ou S/A. Totalizou-se, portanto, 45 variáveis tratadas estatisticamente nos
capítulos seguintes.
O Quadro 9 a seguir relaciona as variáveis levantadas na revisão bibliográfica e lista
as perguntas a elas direcionadas que compõem o instrumento de pesquisa.
Quadro 9 – Variáveis e perguntas para as empresas inovadoras
Variável/Componente
Legislação/Geral
Legislação/Propriedade
Intelectual
Financiamento
Educação e Treinamento
Nível de Desenvolvimento da
Cadeia
Produtiva/Fornecedores
Nível de Desenvolvimento da
Cadeia
Produtiva/Concorrência
Nível de Desenvolvimento da
Cadeia Produtiva/Clientes
Governo/Compras
governamentais
Governo/Políticas públicas
Governo/Apoio à pesquisa
Governo/Incentivos
Local
Acesso
a
Informações
Científicas e Tecnológicas
Pergunta
P1: Um importante motivo para o desenvolvimento desta inovação
foi a adaptação à legislação.
P2: Acredito que a garantia dos direitos de patente sobre o novo
produto/processo foi um importante fator na decisão de desenvolver
o novo produto/processo.
P3: Acredito que a existência de financiamento para o
desenvolvimento de novos produtos/processos foi determinante na
decisão da empresa em desenvolvê-los.
P4: Acredito que a disponibilidade de pessoal treinado foi
determinante na decisão da empresa em investir no
desenvolvimento do novo produto/processo.
P5: Acredito que o incentivo dos fornecedores da empresa foi
fundamental para a decisão da empresa de investir no novo
produto/processo.
P6: Se nossa empresa não tivesse a concorrência que tem, não
cogitaríamos lançar este novo produto/processo.
P7: Acredito que os clientes da empresa foram fundamentais na
concepção do novo produto/processo.
P8: Um importante motivo para o desenvolvimento desta inovação
foi se adequar a requisitos de compras do governo (licitações etc.).
P9: Vejo relação entre o trabalho do Ministério de Ciência e
Tecnologia (e de suas agências CNPq e Finep) e o sucesso de
minha inovação.
P10: A assessoria de uma universidade (ou de institutos de
pesquisa) públicos foi determinante para o sucesso no
desenvolvimento do novo produto/processo.
P11: Acredito que os incentivos à inovação na legislação foram
determinantes na decisão de desenvolver
este novo
produto/processo.
P12: Se minha empresa estivesse em outra cidade, provavelmente
eu teria mais sucesso com esta inovação que obtive.
P13: Foi complicado obter informações TÉCNICAS, fora da
empresa, para o desenvolvimento desta inovação.
P14: Foi complicado obter informações DE MERCADO para o
desenvolvimento desta inovação.
133
Variável/Componente
Cultura
Costumes
Redes
Relacionamento/ICTs
de
Redes
de
Relacionamento/Laços
interfirmas
Redes
de
Relacionamento/Outros laços
relacionais
Redes
de
Relacionamento/Outros laços
relacionais
Legitimidade
Condições de fundação
Setor
Governança/Formato
da
sociedade (dummy)
Governança/Profissionalização
da gestão
Liderança/ação
Liderança/avaliação
Liderança/comunicação
Liderança/alocação
funcionários
Organização
Processos
Ferramentas/metas
Processos
Ferramentas/eficiência
de
e
e
Processos
e
Ferramentas/usabilidade
Processos
e
Ferramentas/disponibilidade
Pessoas
e
Habilidades/treinamento
Pessoas
Habilidades/estímulo
e
Pessoas
e
Habilidades/reconhecimento
Pergunta
P15: A cultura de nosso país leva as empresas a inovar.
P16: O desenvolvimento do novo produto/processo foi provocado
mais pelo costume da empresa que pela identificação de uma nova
oportunidade de mercado.
P17: As parcerias com universidades ou outras instituições de
pesquisa foram imprescindíveis para o desenvolvimento desta
inovação.
P18: A participação em associações comerciais foi importante
durante o desenvolvimento e o lançamento do novo
produto/processo.
P19: Pessoas que fazem parte da rede de relacionamento da
equipe envolvida no desenvolvimento ou no lançamento do novo
produto/processo possuíram papel fundamental para o seu sucesso.
P20: Empregados vindos da concorrência foram importante fonte de
informação para este desenvolvimento.
P21: Empresas reconhecidas como não inovadoras dificilmente
terão sucesso com uma inovação no mercado.
P22: O momento mais importante de uma empresa é sua fundação,
pois neste momento são feitas definições que moldam a
"personalidade" da empresa.
P23: Procuro desenvolver as inovações sempre focando em setores
mais dinâmicos, mesmo que minha empresa não atue neles.
P24: A inovação não faz parte da realidade de meu setor.
P25: Classificação do formato da sociedade.
P26: Meus concorrentes que profissionalizaram a gestão acabaram
inovando mais.
P27: A direção da empresa gasta tempo agindo – e não apenas
falando – sobre inovação.
P28: A direção da empresa é avaliada apropriadamente e/ou
recompensada pela sua performance em inovação.
P29: A direção da empresa efetivamente comunica-se com toda a
organização a respeito das atividades, sucessos e fracassos de
inovação.
P30: A direção da empresa consistentemente provê funcionários
necessários aos esforços de inovação da empresa.
P31: A existência de um departamento (ou setor) voltado para a
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) é fundamental para as
empresas se tornarem mais inovadoras.
P32: Em nossa empresa, há definição de objetivos e medidas para
acompanhar o processo de inovação.
P33: Nosso processo de inovação/desenvolvimento de novos
produto (ou processos) é eficiente, ou seja, resulta em novas
oportunidades de crescimento para a empresa.
P34: É fácil entender ou utilizar nosso processo de
inovação/desenvolvimento de novos produtos.
P35: Há ferramentas e tecnologias disponíveis imediatamente na
empresa para nos ajudar a inovar de forma mais eficiente.
P36: Ter treinamento em criatividade, inovação e/ou em outras
técnicas de solução de problemas é fundamental para se ter
sucesso na inovação.
P37: Em nossa empresa, as pessoas têm financiamento, espaço e
tempo para desenvolver ideias e oportunidades promissoras que
ajudem a empresa a inovar.
P38: As pessoas são reconhecidas e recompensadas
apropriadamente por ajudar nossa empresa a inovar.
134
Variável/Componente
Pessoas
e
Habilidades/aprendizado
Cultura e Valores/estímulo à
criatividade
Cultura
e
Valores/difusão
interna
Cultura e Valores/legitimidade
Cultura colaborativa
Alocação
de
recursos
financeiros
Percepção da demanda
Pergunta
P39: Nós efetivamente transferimos conhecimento, habilidades e
ideias pelos departamentos da empresa.
P40: Nossa organização sabe como aprender a partir dos erros e
encoraja que se assuma riscos calculados.
P41: A estratégia de nossa empresa é compreendida por todos na
organização.
P42: Nossa empresa é reconhecida pelo mercado como inovadora.
P43: Todos na empresa são encorajados a participar de nossos
esforços de inovação.
P44: A direção da empresa consistentemente aplica os recursos
necessários para financiar os esforços de inovação da empresa.
P45: A percepção de uma demanda potencial foi determinante para
a decisão de desenvolver esse novo produto/processo.
Como a quantidade de perguntas com escalas de Likert era elevado (44), optou-se
por
segmentá-las
em
duas
partes,
intercalando-as
com
perguntas
para
caracterização da inovação, a fim de evitar o “efeito halo” e a tendência do
respondente em marcar a mesma resposta nas questões remanescentes. O
questionário utilizado na pesquisa é apresentado no Apêndice C.
135
5 DADOS
5.1 SELEÇÃO DOS DADOS
A amostra selecionada para o presente estudo foi baseada em um mecanismo
independente e externo à pesquisa, o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica. São
utilizadas como principal base de dados as inovações inscritas nesse prêmio, no
período de 2004 a 2006, nas categorias produto e processo. Foram utilizadas as
informações constantes nas fichas de inscrição, bem como encaminhado formulário
específico para a obtenção de outros dados.
A escolha dessa base de dados foi motivada pelo fato de que o foco de estudo desta
pesquisa são características das empresas inovadoras. Faz-se necessário uma
amostra que contenha empresas inovadoras que inovem de forma sistemática e
outras que não, assim como é necessário uma amostra que contenham empresa
que inovam de forma radical e outras que não. Acreditamos que, para o caso do
Brasil, a maior premiação dedicada à inovação seria a fonte ideal de dados para a
presente pesquisa.
Embora existam outras, como veremos adiante, a escolha das categorias Produto e
Processo se deu pelo fato de que elas se referem a inovações específicas, o que
permite, por exemplo, a classificação conforme sua radicalidade. Além disso, estas
categorias possuem um número elevado de inscrições, permitindo aumentar a
chance de se ter uma amostra estatisticamente significativa.
A escolha do período de 2004 a 2006 se deu por quatro motivos. O primeiro era que
seria necessário verificar se a empresa continuava em funcionamento pelo menos
três anos após sua inscrição. O segundo diz respeito à tradição das categorias, que
permitiria menor variabilidade nas fichas de inscrição, que são atualizadas ao longo
dos anos. O terceiro é relativo à disponibilidade de informação. O último diz respeito
a se ter uma quantidade de inscrições em número suficiente que permita uma
amostra estatisticamente significativa.
136
Todos os casos avaliados referem-se a inovações de empresas (ou instituições
semelhantes, como cooperativas) brasileiras. Eventuais casos de instituições sem
fins lucrativos, tais como universidades, centros de pesquisa e organizações não
governamentais, foram excluídas da amostra.
5.2 O USO DE PRÊMIOS COMO FONTES DE DADOS
O uso de dados sobre prêmios dedicados à inovação não é novo. Um prêmio inglês
intitulado “Queen’s Award” foi a base do trabalho, por exemplo, de Langrish e de
Tether. Langrish et al. (1972) discutem diversas características ligadas à inovação,
enquanto Tether (1998) e Tether e Massini (1998) discutem respectivamente o papel
do tamanho da empresa e a criação de empregos.
A principal diferença entre o “Queen’s Award” e o Prêmio Finep de Inovação
Tecnológica é que o primeiro não possui um número de vencedores prédeterminado. Assim, no prêmio inglês, é possível trabalhar estatisticamente apenas
os casos vencedores. Para o caso brasileiro, trabalharemos com o total inscrito,
utilizando como pressuposto que uma empresa que se inscreve no prêmio
necessariamente se considera inovadora.
A justificativa de escolha das categorias de produto e processo foi motivada pelo fato
de serem as mais antigas e tradicionais do prêmio, existindo desde sua criação, em
1998, até 2007.
5.3 PRÊMIO FINEP DE INOVAÇÃO
5.3.1 Breve Histórico
O prêmio foi criado em 1998 para disseminar a importância da inovação tecnológica
para o desenvolvimento do País. Na primeira edição, ele foi restrito à Região Sul, na
forma de um teste piloto para a versão nacional. Houve sete premiados nas
137
categorias ‘Produto’ e ‘Processo’, sendo dois na primeira e cinco na segunda
Número de Inscritos
categoria.
732
679
677
291
318
307
286
508
355
335
279
196
25
1998
48
1999
200
192
196
110
83
65
94
95
116
110
116
115
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Total
Produto
Processo
Figura 12 – Evolução das inscrições nas edições do Prêmio Finep de Inovação
Fonte: Finep (2008). Elaboração própria.
As categorias ‘Produto’ e ‘Processo’ admitiam a inscrição de empresas brasileiras de
qualquer porte.
Em 1999, o prêmio continuou restrito à Região Sul e continha apenas as categorias
‘Produto’ e ‘Processo’. Foram 17 premiados.
Em 2000, o prêmio passou a ser nacional e o número de inscrições cresceu
bastante, de 48 para 279 (vide Figura 12). As categorias continuaram sendo apenas
de produto e processo. A sistemática adotada, que funcionou nas edições seguintes,
foi a de uma competição em duas etapas, uma regional e uma nacional.
A partir de 2001, as categorias começam a sofrer mudanças. São incluídas, nesse
ano, as categorias empresariais (Pequena, Média e Grande Empresa). Em 2002, as
categorias ‘Média Empresa’ e ‘Grande Empresa’ são agrupadas e é incluída a
categoria ‘Instituição de Pesquisa’. O Quadro 10 apresenta uma evolução das
categorias ao longo dos anos.
138
Quadro 10 – Evolução das categorias do Prêmio Finep de Inovação
Categorias
19982000
X
X
2001
2002
2003
Ano
2004
2005
2006
Produto
X
X
X
X
X
Processo
X
X
X
X
X
Micro e Pequena Empresa
X
X
X
X
X
Média Empresa
X
Grande Empresa
X
Média e Grande Empresa
X
X
X
X
Instituição de Ciência e
X*
X*
X*
X
Tecnologia
Inovação Social
X
Inventor Inovador
X
* Antes de 2005, a categoria se chamava Instituição de Pesquisa.
** Em 2008, a categoria Inovação Social passou a se chamar Tecnologia Social.
Fonte: Finep (2008). Elaboração própria.
2007
2008
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X**
X
X
X
X
Em 2005, a categoria ‘Instituição de Pesquisa’ passa a se chamar categoria
‘Instituição de Ciência e Tecnologia’ e é incluída a categoria ‘Inovação Social’, que
visava premiar instituições que desenvolvessem inovações sociais ou os grupos
beneficiados por elas. Entendia-se a inovação social como “a utilização de
tecnologias que permitam promover a inclusão social, geração de trabalho, renda e
melhoras nas condições de vida” (FINEP, 2005b). Além disso, também fora incluída
a categoria ‘Inventor Inovador’, como uma categoria especial, pois não previa a
inscrição espontânea de propostas – uma comissão especial selecionava o inventor
inovador que detivesse uma patente concedida no Brasil cujo produto/processo
estivesse no mercado.
Em 2008, o prêmio sofreu outras modificações. A categoria ‘Média e Grande
Empresa’ foi novamente desmembrada, sendo que a nova categoria ‘Grande
Empresa’ passou a ser uma categoria especial, assim como a categoria ‘Inventor
Inovador’. A nova categoria passou a ser escolhida dentre as empresas brasileiras
financiadas pela Finep, representadas pelo conjunto de suas ações inovadoras nos
últimos três anos. Além disso, a categoria ‘Inovação Social’ passou a se chamar
‘Tecnologia Social’ e as categorias ‘Produto’ e ‘Processo’ deixaram de existir.
A Quadro 11 a seguir mostra o histórico das empresas premiadas nas categorias
produto e processo.
139
Quadro 11 – Vencedores do Prêmio Finep de Inovação (categorias produto e processo)
Ano
1998*
Categoria
Produto
Cerâmica Portobello (SC)
Soprano (RS)
Processo
Fritasul (SC)
Multibrás (SC)
Oxford (SC)
Souza Cruz (RS)
White Martins (RS)
Lactec (PR)
Petrobrás - Repar (PR)
Laktron Metalúrgica (PR)
Epagri (SC)
Pax Informática Industrial (SC)
Multibrás (SC)
Weg Motores (SC)
1999*
Souza Cruz (RS)
Alto QI Tecnologia em Informação Ltda. (SC)
Renner Herman (RS)
Cerâmica Portobello (SC)
Lupatech (RS)
Contronic Sistemas Automáticos (RS)
IMC/Labsolda (SC)
Simbios Biotecnologia (RS)
2000 Nano Endoluminal Ltda (SC)
Biobrás S/A (MG)
Empresa Brasileira de Compressores S/A 2001
OPP Química (BA)
Embraco (SC)
2002 Tigre (SC)
Cenpes (RJ)
2003 Eberle S/A (RS)
Sabó Indústria e Comércio Ltda. (SP)
2004 Mecat Filtrações Industriais Ltda. (GO)
Endoview do Brasil Ltda. (PE)
2005 Bosch (SP)
Braskem S/A (RS)
2006 Pele Nova Biotecnologia S/A (MS)
Vinibrasil Vinho do Brasil S/A (PE)
Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer)
Companhia de Saneamento do Paraná
2007
(SP)
(Sanepar) (PR)
Obs: * Nos anos de 1998 e 1999, o prêmio admitia mais de um vencedor nacional.
Fonte: Finep (2008).
5.3.2 Funcionamento
Segundo o site do Prêmio Finep de Inovação (FINEP, 2008), ele
“foi criado para premiar esforços inovadores realizados por empresas, instituições de ciência
e tecnologia e organizações sociais brasileiras, desenvolvidos no Brasil e aplicados no País e
no exterior”.
A definição de inovação tecnológica adotada pelo Prêmio Finep é claramente
definida nos próprios regulamentos de cada ano. “São inovações tecnológicas as
implantações de produtos e processos tecnologicamente novos e com substanciais
melhorias tecnológicas. Uma inovação é considerada implantada se estiver
introduzida no mercado ou usada no processo de produção.” (FINEP, 2004b)
Ele é composto de duas etapas: uma regional e uma nacional. Na primeira etapa, as
empresas se inscrevem para concorrer em cada uma das regiões do Brasil. As
propostas concorrem entre si e são definidos os três primeiros colocados de cada
140
região. O primeiro colocado de cada região é indicado para concorrer à etapa
nacional do prêmio. Dos cinco indicados, um é escolhido vencedor.
O Prêmio Finep de Inovação funciona em várias categorias que funcionam de forma
independente, ou seja, há um vencedor nacional para cada categoria.
A seleção das propostas é feita por comissões julgadoras em cada região. As
comissões são formadas por profissionais de renome na área de ciência e tecnologia
e de comunicação, por empresários e por representantes de entidades do setor
tecnológico. A Finep também faz parte do corpo de jurados.
A seleção toma por base os critérios de julgamentos, que constituem a informação
fornecida pela empresa nas fichas de inscrição.
5.3.3 Critérios de Julgamento – Categorias Produto e Processo
Os critérios utilizados para julgamento das propostas encaminhadas, nas edições de
2002 a 2007, para as categorias produto e processo, abordavam basicamente três
grupos:
• Relevância da Inovação ou do Desenvolvimento Tecnológico;
• Impacto na Competitividade da Empresa; e
• Impactos Sociais e Ambientais.
Cada um dos grupos possuía uma série de quesitos que a empresa deveria
responder. Tais quesitos variavam ligeiramente de ano para ano, mais com o intuito
de aprimoramento do questionário do que de alterar as mensurações realizadas.
Em 2002, não havia quesitos específicos para avaliação dos três grupos. Na sua
inscrição, a empresa era orientada a fornecer uma série dados (FINEP, 2002b):
•
Sobre a empresa:
o razão social e CNPJ;
o nome(s)
do(s)
responsável(eis)
projeto(s)/instituição;
legal, substituto(s)
e
cargo(s):
141
o nome dos participantes da equipe;
o endereço completo, telefone, e-mail e fax;
o histórico das atividades da empresa/instituição desde a sua fundação,
destacando os fatos mais relevantes;
o setores
de
atividade/áreas
de
atuação,
competências
básicas/vantagens competitivas, principais clientes;
o setor
de
atividade
onde
revela
maior
vantagem
comparativa/competitiva;
o unidades industriais existentes e localização ou laboratórios e
localização descrevendo sua infra-estrutura;
o principais
produtos/serviços
da
empresa/instituição
e
seu
posicionamento no mercado;
o atendimento às exigências da legislação de proteção ambiental,
trabalhista e fiscal;
o quantidade de empregados da administração, produção, planejamento,
finanças, marketing e demais funções de apoio da empresa;
o faturamento bruto;
o lucro líquido por faturamento bruto.
•
Sobre a proposta:
o descrever o objetivo e estágio atual do projeto de inovação, suas
aplicações mais importantes e respectivas diferenças, vantagens e
desvantagens em relação a produtos e/ou processos similares, a
intensidade e origem da inovação tecnológica associada aos projetos
(pioneirismo em âmbito nacional ou internacional) e resultados
mercadológicos;
o definir e caracterizar tecnicamente o produto/processo, informando a
sua utilidade e os respectivos usuários;
o dimensionar o mercado de atuação da empresa, informando a sua
participação em termos percentuais e financeiros, discriminando o
faturamento e a demanda por produto/processo, por região, no País e
no exterior;
o relacionar os principais concorrentes, destacando suas forças e
fraquezas e a participação no mercado por linha de produto;
142
o indicar os principais fatores de competitividade em relação à
concorrência (tecnologia, preço, marca, qualidade, serviços, etc.);
o discriminar os principais clientes e fornecedores, informando o tipo de
relacionamento;
o descrever as formas de comercialização adotadas;
o apresentar resultados sociais do projeto (redução de custos, benefícios
à população, geração de emprego, impacto ambiental etc.);
o apresentar resultados econômicos do(s) projeto(s) (aumento de
exportação, aumento do faturamento bruto por empregado, aumento
da participação no mercado etc.);
o informar a integração com as Universidades e Centros Tecnológicos
(e/ou outros parceiros) para divulgação/criação/execução do projeto;
o informar a inserção do(s) projeto(s) (sic) em sistemas regionais de
inovação tecnológica e/ou cadeias produtivas e sua importância
estratégica;
o informar sobre o grau de proteção da tecnologia (sigilo, marca, patente,
modelo de utilidade, registrados e/ou concedidos, discriminando,
quando for o caso, as datas dos registros e o tempo de validade da
proteção).
De 2003 a 2005, as informações a fornecer passaram a estar segmentadas por
grupo. O primeiro grupo, ‘Relevância da Inovação ou do Desenvolvimento
Tecnológico’, era medido em função da resposta a seis quesitos:
• Data do início da comercialização do produto ou introdução do processo;
• Caracterização e aplicações mais importantes e respectivas diferenças,
vantagens desvantagens em relação a produto/processo similar;
• Intensidade da inovação tecnológica (pioneirismo em âmbito nacional ou
internacional);
• Estágio de proteção de tecnologia (propriedade intelectual);
• Reconhecimentos alcançados pelo processo/produto (premiações, selos
qualificatórios, etc.); e
143
• Identificar se o produto, software, processo ou técnica, é resultado de
adaptação (licença), ou de desenvolvimento local relacionando a estrutura de
desenvolvimento (pessoal, laboratórios, CAD, design, etc.).
O segundo grupo, ‘Impacto na Competitividade da Empresa’, era medido em função
da resposta a três quesitos:
• Mercado de atuação do produto ou processo em termos percentuais e
financeiros, no Brasil e no exterior;
• Impacto no faturamento, exportação, custos diretos e indiretos; e
• Percentual de participação do produto/processo no faturamento da empresa.
O último grupo, ‘Impactos Sociais e Ambientais’, era medido em função da resposta
a três quesitos:
• Benefícios à sociedade;
• Benefícios aos funcionários;
• Integração com universidades e centros tecnológicos; e
• Inserção na cadeia produtiva e sua importância estratégica.
Em 2006, houve uma modificação nos quesitos, desmembrando as informações das
categorias ‘Produto’ e ‘Processo’, antes exatamente iguais. Para a categoria
‘Produto’, os critérios para avaliação da ‘Relevância da inovação ou do
desenvolvimento tecnológico’ continuaram os mesmos, com uma única diferença: o
quesito ‘Identificar se o produto, software, processo ou técnica, é resultado de
adaptação (licença), ou de desenvolvimento local relacionando a estrutura de
desenvolvimento (pessoal, laboratórios, CAD, design, etc.)’ foi substituído pelo
quesito ‘tempo de vida do produto e atual estágio da inovação’.
No segundo grupo, ‘Impacto na Competitividade da Empresa’ foi acrescida a
expressão ‘(últimos 12 meses)’ nos dois primeiros quesitos e da palavra ‘atual’ no
terceiro:
144
• Mercado de atuação do produto em termos percentuais e financeiros, no
Brasil e no exterior (últimos 12 meses);
• Impacto no faturamento e impactos na exportação (últimos 12 meses); e
• Percentual de participação do produto no faturamento atual da empresa.
No terceiro grupo, ‘Impactos Sociais e Ambientais’, foi suprimido o quesito
‘benefícios aos funcionários’:
• Benefícios à sociedade com o lançamento do novo produto;
• Integração com universidades e centros tecnológicos no desenvolvimento do
produto; e
• Inserção na cadeia produtiva e sua importância estratégica.
Para a categoria ‘Processo’, os quesitos foram, no primeiro grupo, ‘Relevância da
Inovação ou do Desenvolvimento Tecnológico’:
• Data da introdução ou melhoria do processo na empresa que a desenvolveu
ou em outras empresas;
• Intensidade da inovação tecnológica (pioneirismo em âmbito nacional ou
internacional);
• Estágio de proteção de tecnologia (propriedade intelectual); e
• Caracterização da nova rota tecnológica utilizada.
Para o segundo grupo, ‘Impacto conquistados na Competitividade da Empresa’:
• Caracterizar a redução de custos ou aumento da produtividade com o novo
processo ou a melhoria do atual processo; e
• Impactos no faturamento da empresa decorrentes da transferência de
tecnologia desenvolvida no processo.
Para o terceiro grupo, ‘Impactos Sociais e Ambientais’, os quesitos se mantiveram
análogos aos da categoria ‘Produto’.
Na edição de 2007, última a conter as categorias Produto e Processo, o regulamento
mencionava apenas três critérios para ambas: relevância da inovação ou do
desenvolvimento tecnológico; impactos no grau de competitividade da empresa;
145
impactos sociais e ambientais (FINEP, 2007b). Não havia descrição dos critérios no
regulamento como nos anos anteriores.
5.3.4 Estudos Anteriores Utilizando o Prêmio Finep de Inovação
Há relativamente poucos estudos anteriores identificados que utilizaram como fonte
de dados o Prêmio Finep. A maior parte dos trabalhos que mencionam o Prêmio
trata de estudos de casos de empresas que venceram alguma de suas categorias,
como é o caso, por exemplo, de Ruthes et al. (2006) e Stefanovitz e Nagano (2006).
A informação da premiação é mencionada nos trabalhos, mas não é efetivamente
utilizada na pesquisa.
Identificou-se também um estudo mais descritivo do Prêmio, que não tinha a
intenção de utilizá-lo propriamente como fonte de dados (cf. NUNES, 2004).
Como fonte de coleta de dados, o estudo identificou apenas três trabalhos. Um deles
faz uma análise quantitativa relacionando o tamanho de empresa e a utilização de
parceiras nas inovações inscritas no Prêmio Finep 2004, utilizando-se de
metodologia em alguns pontos semelhante à utilizada no presente estudo (cf.
CASTRO; GONÇALVES NETO, 2008).
O outro estudo investiga os mecanismos de aprendizagem presentes nos
vencedores do Prêmio Finep entre 2000 e 2006 (cf. LOIOLA; PORTO, 2008).
Por fim, o trabalho de Rossino (2006) fazia uma análise retrospectiva do Prêmio e de
seus vencedores, terminando por sugerir ações de melhoria em seu desempenho.
5.4 COLETA DE DADOS
A primeira fonte de dados sobre as propostas participantes do prêmio foram as
próprias fichas de inscrição. Os campos disponíveis para preenchimento nas fichas
146
eram campos de resposta aberta, sendo possível que as empresas respondessem
de diferentes formas à mesma pergunta. Além disso, a resposta aos campos era
opcional. Sendo assim, o primeiro passo foi verificar a consistência dos dados e sua
disponibilidade.
Na medida do possível, as respostas às questões das fichas foram transformadas
em dados objetivos, a fim de se avaliar a possibilidade de uma análise estatística
futura. Dessa forma, os seguintes dados foram extraídos das fichas, com base nas
respostas às questões:
• Região;
• Categoria a que se inscreveu;
• Setor de atividade da empresa;
• Cidade e UF;
• Data de fundação da empresa;
• Número de funcionários;
• Data do início da comercialização do produto ou introdução do processo;
• Proteção da propriedade intelectual e tipo;
• Percentual do faturamento bruto que a inovação representa;
• Faturamento bruto da empresa; e
• Existência de colaboração para o desenvolvimento da inovação, seja com
universidades, centros de pesquisa ou outras empresas.
Das fichas disponíveis para as categorias produto e processo, foram consideradas
apenas aquelas apresentadas por empresas ou cooperativas, dado que informações
como comercialização do produto e faturamento estariam prejudicadas em outros
tipos de organização, tais como institutos de pesquisa públicos e entidades do
Sistema S (por exemplo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas - SEBRAE, o Serviço
Nacional de Aprendizagem do Comércio - SENAC).
147
A fim de garantir uma maior uniformidade, o campo que classificava a inovação em
produto ou processo, uma autoclassificação da empresa no momento da inscrição,
foi refeita, conforme a definição presente no Manual de Oslo (cf. OECD, 2005).
O conjunto de dados disponíveis nas fichas de inscrição do Prêmio Finep foi
transformado no seguinte conjunto de informações relevantes para a presente
pesquisa:
•
Classificação da inovação em produto ou processo;
•
Tempo de existência da empresa (calculado a partir da diferença entre o ano
da edição do Prêmio Finep a que concorreu e a data de fundação informada);
•
Tempo desde que a inovação foi introduzida no mercado (calculado a partir
da diferença entre o ano da edição do Prêmio Finep a que concorreu e o ano
de introdução informado);
•
Tipo de proteção da propriedade intelectual, classificada em três níveis (sem
proteção; com proteção
concedida
ou
requerida
junto
aos
órgãos
competentes; e só com direitos sobre marca, autoria ou domínio web);
•
Percentual de participação do produto no faturamento da empresa ou de
redução de custo anual, no caso de processo;
•
Faturamento anual;
•
Número de funcionários;
•
Unidade federativa;
•
Existência de colaboração para o desenvolvimento da inovação, classificada
de forma binária, e a quantidade de colaborações;
•
Para os casos com colaboração para o desenvolvimento da inovação, foi
classificado o(s) colaborador(es) em: universidades; institutos de pesquisa;
outras empresas; outras empresas no exterior; universidades ou institutos de
pesquisa no exterior; sistema S (SENAI e SEBRAE) e associações; e outros;
•
O setor de atuação da empresa.
Embora as fichas de inscrição contivessem perguntas que permitiriam coletar mais
informações, parte delas foi desconsiderada, principalmente em função de um
número insuficiente de respostas.
148
As informações foram complementadas por meio de um questionário enviado às
empresas, conforme descrito anteriormente.
5.5 PREMISSAS PARA TRATAMENTO DOS DADOS
5.5.1 Porte das empresas
Tendo em vista que fazemos referência ao porte das empresas estudadas, convém
definir os critérios utilizados para tanto.
Segundo Karlsson e Olsson (1998), a maior parte dos autores utiliza como critério de
porte das empresas o emprego. Grandes empresas seriam as que empregam um
número maior ou igual a 500 funcionários. A distinção entre pequenas e médias é
mais complicada, variando entre até 50 ou 100 funcionários. Já o SEBRAE (2008)
possui um tipo de estratificação, utilizada na maior parte de seus estudos, que define
faixas de empregados, mas que varia em função da classificação da empresa em
indústria ou comércio e serviços.
O SEBRAE (2008) classifica o porte de empresas industriais como: microempresas,
se possuírem até 19 empregados; pequenas empresas, se possuírem entre 20 e 99
empregados; médias empresas, se possuírem entre 100 e 499 empregados; e
grandes empresas, se possuírem mais de 499 empregados. Já para o setor de
comércio e serviços, os valores de referência são substancialmente menores. São
microempresas as empresas com até 9 empregados, pequenas as de 10 a 49
empregados, médias as de 50 a 99 empregados e grandes as com mais de 99
empregados.
Há outras formas de avaliar o tamanho de uma empresa, como o uso do receita de
vendas. No Brasil, algumas instituições públicas (BNDES, 2009; FINEP, 2009)
utilizam uma classificação de porte atrelada ao faturamento. Para fins de apuração
149
de impostos, a classificação também costuma estar referenciada no faturamento da
empresa.
Um inconveniente em utilizar uma classificação atrelada ao faturamento é que se
torna difícil sua comparação com empresas em outros países, sujeitas a outras
moedas correntes. Além disso, com a variação dos preços, uma definição de porte
pelo faturamento necessitaria ser atualizada periodicamente, o que traria uma outra
dificuldade no tratamento dos dados.
A exemplo de Karlsson e Olsson (1998), Hicks e Hegde (2005) também classificam
pequenas empresas como as que possuem menos de 500 empregados.
Esta classificação traz a vantagem de tornar comparáveis as pesquisas sobre o
tema, além de atender à recomendação do Manual de Oslo a respeito da forma de
mensuração do tamanho da empresa (cf. OECD, 2005, p.81). O problema maior é a
aplicabilidade à realidade brasileira. Não é possível afirmar que, dadas as diferenças
entre os países, haja correspondência entre o conceito de cada porte de empresa.
A Pesquisa de Inovação Tecnológica – Pintec (IBGE, 2007), uma referência para
estudos mais abrangentes sobre a inovação, opta por não rotular o porte das
empresas respondentes. No caso, há resultados tabulados por faixa de pessoal
ocupado. São cinco faixas: de 10 a 49; de 50 a 99; de 100 a 249; de 250 a 499; e
com 500 ou mais pessoas ocupadas.
Há um problema na utilização da classificação por faixas de pessoal ocupado
sugerido na Pintec, que está relacionado à existência de uma quantidade relevante
de empresas com menos de 10 empregados dentre as inscritas, como veremos na
descrição da amostra mais adiante.
Assim sendo, quando necessário mencionar o porte, optamos por utilizar a
classificação do Sebrae (2008), mais adequada à realidade brasileira e à amostra
que trabalharemos.
150
5.5.2 Caracterização da inovação radical
Como vimos anteriormente, diversos são os fatores relacionados à inovação radical
mencionados nas pesquisas, como a descontinuidade tecnológica (FREEMAN et al.,
1982; SCHUMPETER, 1961), o grau de novidade (TIRONI; CRUZ, 2008; TIDD et al.,
2001) e a subversão de conceitos centrais (HENDERSON; CLARK, 1990).
Nesta direção, Rice et al. (2001), McDermott e O’Connor (2002) utilizam um
esquema bastante objetivo para identificação das inovações radicais, que servirá de
base para a classificação das inovações presentes na base de dados da pesquisa.
Para eles, o atendimento a uma das três condições a seguir é suficiente para a
classificação:
•
A solução técnica leva a uma redução de 30% ou mais no custo da plataforma
atual do produto; ou
•
A solução técnica oferece oportunidades de abrir uma linha de negócios
completamente nova tanto para a empresa quanto para o mercado; ou
•
A solução técnica leva a uma melhoria de 5 a 10 vezes em características
conhecidas de performance do produto.
Na nossa pesquisa, propusemos uma pequena alteração no critério proposto, a fim
de melhor estratificar as inovações radicais. Foram consideradas inovações radicais
apenas as que atenderam a, no mínimo, duas das condições citadas acima.
A alteração proposta busca mitigar a possibilidade de se ter inovações incrementais
que atinjam os resultados listados e aumentava a probabilidade de se ter inovações
com impacto na empresa e no mercado. A fim de ilustrar essa possibilidade, um
exemplo simples é o de produzir pequenas porções de um produto já conhecido,
com o objetivo de atender a um novo segmento, como o infantil ou de pessoas
solteiras. A modificação provavelmente abrirá uma nova linha de negócios para a
empresa e talvez para o mercado, embora não se possa classificar a inovação como
radical, assumindo as definições abordadas neste estudo. A adoção de dois dos
critérios dificulta uma possível miopia na classificação das inovações radicais.
151
5.5.3 Caracterização das inovadoras persistentes e ocasionais
A exemplo do proposto por Lehtoranta (2005), Wziatek-Kubiak e Peczkowski (2010)
e partindo-se do ponto em que a amostra desta pesquisa é formada exclusivamente
por empresas inovadoras, caracterizaremos as inovadoras ocasionais como aquelas
que participaram de apenas uma edição do Prêmio Finep de Inovação, dentre as de
2004, 2005 e 2006. As inovadoras persistentes serão caracterizadas como as que
inscreveram inovações diferentes em mais de uma edição.
Esta forma de classificação é uma proxy da persistência, tendo em vista que as
empresas: poderiam inovar e não se inscrever no Prêmio Finep; e poderiam
inscrever inovações desenvolvidas e lançadas em períodos bastante distintos,
apenas coincidindo a data de inscrição no Prêmio Finep.
Quanto à primeira consideração, levou-se em conta que, por se tratar de um prêmio,
em que são divulgadas algumas informações sobre as inscrições, as empresas
provavelmente inscreveriam as inovações mais relevantes. Assim sendo, uma
inovação não inscrita, provavelmente seria de pouco significado para a empresa, já
que ela optara por inscrever outras.
Quanto à segunda consideração, há concentração elevada de inovações lançadas
no período de 2002 a 2006, que representa 69,8% das respostas válidas. Embora
haja casos de inovações lançadas há mais tempo, há também casos de inovações
que não haviam sido comercializadas no momento da inscrição. A Tabela 4 mostra
as estatísticas descritivas quanto ao ano da primeira venda da inovação, nos casos
em que a informação foi disponibilizada pela empresa. O histograma das frequências
pode ser visto na Figura 13.
Tabela 4 – Estatísticas descritivas da variável ‘ano da primeira venda’
N
116
Média
2004,16
D.P.
3,835
Percentil 25
2003
Mediana
2005
Percentil 75
2006
152
40
Frequency
30
20
10
Mean =2004,16
Std. Dev. =3,835
N =116
0
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010
ano_venda
Figura 13 – Histograma de frequências do ‘ano da primeira venda’
Entende-se, no entanto, que tais considerações minimizam, mas não excluem os
erros tipo I e II. O erro do tipo I seria, por exemplo, uma empresa que desenvolveu e
lançou inovações no ano de 2004, portanto caracterizável, segundo nosso critério,
como uma inovadora ocasional, mas que inscreveu uma inovação em cada edição
do Prêmio Finep, em 2004, 2005 e 2006. O erro do tipo II seria, por exemplo, uma
empresa que desenvolveu e lançou inovações nos anos de 2004, 2005 e 2006,
portanto caracterizável, segundo nosso critério, como uma inovadora persistente,
mas que inscreveu todos na edição de 2006. Ela seria classificada como ocasional,
da mesma forma que uma empresa que tenha desenvolvido e lançado inovações
associadas entre si, no mesmo ano. Não há como checar com precisão os erros,
pois as informações sobre as demais inscrições não estavam disponíveis para
comparação. Estima-se, porém, que os erros tipo I e II representem poucos casos da
amostra e tenham pouco impacto sobre a análise, tendo em vista que um teste de
comparação dos grupos de inovadoras persistentes e ocasionais pela Anova obteve
resultado não significativo (p=0,559).
Por fim, entende-se que a classificação utilizada é útil e traz alguns dados relevantes
para o estudo da inovação contínua. Em estudos futuros, sugere-se utilizar bases de
dados que permitam mensurar de forma mais adequada a continuidade da atividade
inovadoras, como, por exemplo, a Pintec. Embora ela não traga o conceito utilizado
no presente estudo – a Pintec identifica apenas atividades internas de P&D
contínuas ou ocasionais –, a coleta de dados em diversos anos dá uma perspectiva
transversal que pode ser útil para a identificação da inovação contínua.
153
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
6.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS
Como já afirmado anteriormente, a amostra foi composta pelas inovações inscritas
no Prêmio Finep de Inovação, no período de 2004 a 2006, nas categorias produto e
processo. A Tabela 5 relaciona o universo de inscrições que trabalhamos.
Tabela 5 – Quantidade de inscrições no Prêmio Finep de Inovação consideradas na pesquisa
Categoria
Produto
Processo
Total
2004
291
116
407
Ano
2005
318
110
428
2006
307
116
423
TOTAL
916
342
1258
6.1.1 Inovações e número de empresas
Nas edições do Prêmio Finep de Inovação de 2004 a 2006, foram 1.864 inscrições,
sendo 916 na categoria Produto, 342 na categoria Processo e 606 em outras
categorias.
Das 1.258 inscrições nas categorias Produto e Processo, que utilizaremos como
base para a nossa pesquisa, foram disponibilizadas 1.245 fichas de inscrição
representadas pela totalidade das fichas de 2005 e 2006 e por parte das inscrições
de 2004.
Procedemos, então, à tabulação e tratamento prévio dos dados. Foram suprimidas
as inscrições realizadas por universidades e instituições sem fins lucrativos, tendo
em vista que, nestes casos, não seria possível coletar dados que aferissem a
performance dos produtos no mercado. Somavam 113.
Foram também eliminadas as inscrições repetidas. Tendo em vista que não havia
restrição no regulamento à inscrição de uma mesma inovação por várias edições do
154
Prêmio Finep de Inovação, era possível encontrar uma mesma inovação inscrita em
dois ou até em três edições anuais. Somavam 106.
Feitas as eliminações, a amostra refere-se a 1.026 inovações, de 731 empresas
diferentes.
6.1.2 Distribuição regional
Há uma predominância de inscrições nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil,
representando, 67,3% das inscrições. A Tabela 6 a seguir lista a participação de
cada Estado nas inscrições.
Tabela 6 – Distribuição regional das inovações inscritas
Região
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
(N=731)
Estado
Acre
Amazonas
Amapá
Pará
Rondônia
Roraima
Tocantins
Alagoas
Bahia
Ceará
Maranhão
Paraíba
Pernambuco
Piauí
Rio Grande do Norte
Sergipe
Distrito Federal
Goiás
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Espírito Santo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Participação
Estadual
0,4%
1,6%
0,3%
2,1%
0,4%
0,0%
0,1%
0,4%
2,3%
3,1%
0,0%
3,3%
3,6%
0,0%
1,6%
0,4%
1,2%
4,7%
4,1%
2,9%
7,8%
8,6%
7,9%
15,0%
7,5%
10,5%
10,0%
Participação
Regional
4,9%
14,7%
12,9%
39,3%
28,0%
155
6.1.3 Inovações de produto e de processo
A fim de garantir uma maior uniformidade, o campo que classificava a inovação em
produto ou processo, uma autoclassificação da empresa no momento da inscrição,
foi refeita, conforme a definição presente no Manual de Oslo (OECD, 2005) já
apresentada anteriormente no presente estudo. O resultado está descrito na
Tabela 7.
Tabela 7 – Classificação das inovações inscritas
Produto
Processo
Total
Classificação inicial
(autoclassificação)
756
270
1026
Inovações
Reclassificadas
40
43
83
Classificação
Final
759
267
1026
Participação
74,0%
26,0%
100%
6.1.4 Idade das empresas
Supondo que as empresas continuam em atividade, suas idades (diferença entre a
data de fundação até 2010) são apresentadas na Tabela 8. Percebe-se um grande
equilíbrio entre empresas jovens (com menos de 10 anos desde a fundação),
empresas maduras (com mais de 20 anos) e empresas com idade intermediária
(entre 10 e 20 anos desde a fundação).
Tabela 8 – Tempo de existência das empresas com inovações inscritas
Anos de Existência
0-9
10-19
20 ou mais
Não informado
Total
Quant. de empresas
226
248
206
51
731
%
30,9%
33,9%
28,2%
7,0%
100,0%
6.1.5 Setor de atividade das empresas
Em relação ao setor de atividade das empresas inovadoras, embora a ficha de
inscrição solicitasse a classificação pelo CNAE (Classificação Nacional de Atividades
Econômicas), nem sempre as respostas estavam preenchidas. Assim, as
informações faltantes foram completadas, mediante visita aos sites na Internet de
156
algumas empresas e pela linha de produtos fornecida na própria ficha. Optou-se por
reclassificar os setores, conforme a atividade mais significativa. Em momento
posterior, os setores foram agrupados, resultando nos setores listados na Tabela 9.
Verificou-se uma concentração das inovações em empresas de software e
telecomunicações (27,9%), seguido do setor de equipamentos eletro-eletrônicos e
componentes (15,7%).
Tabela 9 – Setor da atividade principal das empresas com inovações inscritas
Setor
Quant.
%
Software e telecomunicações
204
27,9%
Equipamentos Eletro-eletrônicos e Componentes
115
15,7%
Metal-mecânico e Máquinas Agrícolas
81
11,1%
Construção Civil e Engenharia
56
7,7%
Farmacêutico e Cosméticos
30
4,1%
Alimentos e Bebidas
29
4,0%
Comércio, Serviços e Consultoria
26
3,6%
Química e Petroquímica
25
3,4%
Mineração, Metalurgia e Siderurgia
24
3,3%
Agropecuária, Pesca e Extrativismo Vegetal
21
2,9%
Automobilística e Autopeças
18
2,5%
Energia
15
2,1%
Têxtil, Calçados e Confecções
15
2,1%
Papel, Celulose, Madeira e Gráficas
8
1,1%
Outros*
64
8,8%
TOTAL
731
100,0%
* A categoria ‘Outros’ compreende: Bancos, empresas de Biotecnologia, Educação, Instrumentos
musicais, Jóias, Reciclagem, Saneamento, Saúde, Material bélico, Borracha, Armazenagem,
Artesanato e Utensílios plásticos.
6.1.6 Porte das empresas
Quanto ao porte, seguindo a classificação utilizada pelo Sebrae (2008), temos uma
preponderância de micro e pequenas empresas (66,9%), conforme se pode observar
na Tabela 10.
Tabela 10 – Porte das empresas com inovações inscritas
Porte
Micro
Pequena
Média
Grande
Não informado
Total
Quant. de empresas
294
195
71
107
64
731
%
40,2%
26,7%
9,7%
14,6%
8,8%
100%
157
6.1.7 Uso de instrumentos de Propriedade Intelectual
Uma das perguntas das fichas de inscrição dizia respeito à propriedade intelectual
das inovações apresentadas. As empresas posicionavam-se quanto à existência de
patentes ou outros tipos de proteção da propriedade intelectual. Pela análise das
respostas, verifica-se que, embora boa parte das empresas tenha patenteado suas
inovações ou registrado o código do software, algumas não o fizeram. Algumas das
que não protegeram formalmente suas inovações alegaram um dos seguintes
motivos: foi guardado sigilo industrial sobre a novidade, não era possível patentear
(tecnologia de domínio público), considerava o processo caro ou não havia
considerado essa necessidade até o momento da inscrição.
A Tabela 11 apresenta a existência de um instrumento de propriedade intelectual
sobre a inovação inscrita no Prêmio Finep de Inovação, enquanto que a Tabela 12
mostra um cruzamento da utilização de instrumentos de propriedade intelectual e o
porte das empresas com inscrições no Prêmio.
Tabela 11 – Uso de instrumentos formais de Propriedade Intelectual sobre as inovações inscritas
Tipo de Uso
Não patenteou
Utilizou apenas registro da
marca e/ou direitos autorais
Utilizou patentes, modelos de
utilidade e outros mecanismos
Não informado
Total
Quant. de empresas
387
%
37,7%
62
6,0%
530
51,7%
47
1026
4,6%
100,0%
Tabela 12 – Porte da empresa e proteção da propriedade intelectual
Proteção da
Propriedade Intelectual
Não patenteou
Utilizou apenas registro
da marca e/ou direitos
autorais
Utilizou patentes,
modelos de utilidade e
outros mecanismos
Não informado
Total
Porte da Empresa
Micro
Pequena
Média
Grande
95
74
30
55
Não
informado
20
25
20
2
2
2
51
167
92
35
46
41
381
7
294
9
195
4
71
4
107
1
64
25
731
Total
274
158
6.2 DESCRIÇÃO DOS RESPONDENTES
6.2.1 Quantidade de respostas
Dos 1026 questionários enviados, 122 foram respondidos, o que representa uma
taxa de resposta de 11,9%. Considerando que 103 empresas responderam, sobre a
amostra de 731, a taxa de resposta subiria para 14,1%.
Um e-mail prévio (vide Apêndice A), avisando sobre a pesquisa, foi enviado no dia
6/10/2010 e e-mails direcionados às empresas (vide Apêndice B) foram enviados a
partir do dia 7/10/2010.
Vários questionários foram reenviados por problemas na lista de e-mails (a quase
totalidade referente a funcionários que não mais trabalhavam na empresa). Houve
também reenvios periódicos, por um mês, às empresas que ainda não haviam
respondido ao questionário. A Tabela 13 mostra a quantidade de respostas e a
Figura 14, um perfil das datas de resposta. Uma listagem das empresas que
responderam ao questionário encontra-se no Apêndice D.
Tabela 13 – Quantidade de respostas
Questionários enviados
Voltaram por problemas no e-mail
Reenvios
Total de respostas
Taxa de resposta
1.026
121
560
122
11,9%
20
15
10
5
Figura 14 – Quantidade de respostas por data
28/12/10
26/12/10
24/12/10
22/12/10
20/12/10
18/12/10
16/12/10
14/12/10
12/12/10
8/12/10
10/12/10
6/12/10
4/12/10
2/12/10
30/11/10
28/11/10
26/11/10
24/11/10
22/11/10
20/11/10
18/11/10
16/11/10
14/11/10
12/11/10
8/11/10
10/11/10
6/11/10
4/11/10
2/11/10
31/10/10
29/10/10
27/10/10
25/10/10
23/10/10
21/10/10
19/10/10
17/10/10
15/10/10
13/10/10
9/10/10
11/10/10
0
7/10/10
Quantidade de Respostas
25
159
As inovações de produto representaram 81,1% das respostas, enquanto as de
processo responderam pela parcela remanescente.
A fim de se assegurar que os respondentes representavam adequadamente o grupo
avaliado, de empresas inscritas no Prêmio Finep de Inovação, e observar algum viés
de não resposta, foi realizado um teste estatístico utilizando como variável de
controle o ano de fundação da empresa, variável disponível para os dois grupos, o
de empresas que responderam ao questionário e o total de empresas inscritas no
Prêmio.
Tabela 14 – Teste para a avaliação da não resposta
Teste de
Levene para
a igualdade
de variâncias
Teste-t para a igualdade de médias
Variável
F
Sig.
t
gl
Sig.
(2tailed)
Ano de
fundação
0,473
0,492
0,266
1166
0,790
Diferenças
das médias
Diferença
no erro
padrão
0,62529
2,35280
Intervalo de
confiança de 95% da
diferença
Inferior
Superior
-3,99091
5,24148
Conforme apresentado na Tabela 14, o teste de Levene demonstra que não se pode
rejeitar a hipótese de igualdade das variâncias, assumindo-se, portanto, que as
variâncias são iguais. Já o teste-t mostra que não se pode rejeitar a hipótese de
diferença das médias. Assim sendo, sugere-se que as inscrições no Prêmio Finep
são adequadamente representadas pela amostra de respondentes.
6.2.2 Distribuição regional
Há uma predominância de respostas de empresas nas Regiões Sudeste e Sul do
Brasil, representando 74,6% das respostas. A Tabela 15 a seguir mostra a
distribuição regional dos respondentes.
160
Tabela 15 – Distribuição regional dos respondentes
Região
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Total
Quantidade de respostas
6
15
10
52
39
122
Participação percentual
4,9%
12,3%
8,2%
42,6%
32,0%
100,0%
6.2.3 Setor de atividade das empresas
Em relação ao setor de atividade das empresas inovadoras, verificou-se uma
concentração das inovações em empresas de software e telecomunicações (27,0%),
seguido do setor de equipamentos eletro-eletrônicos e componentes (19,7%). A
Tabela 16 mostra essa composição.
Tabela 16 – Setor da atividade principal das empresas dos respondentes
Setor
Quant.
%
Software e telecomunicações
33
27,0%
Equipamentos Eletro-eletrônicos e Componentes
24
19,7%
Metal-mecânico, Automotivo e Máquinas Agrícolas
19
15,6%
Química, Farmacêutica e Papel e Celulose
13
10,7%
Mineração, Metalurgia e Siderurgia
7
5,7%
Alimentos, Bebidas e Agropecuária
5
4,1%
Comércio, Serviços e Consultoria
5
4,1%
Construção Civil e Engenharia
5
4,1%
Têxtil, Calçados e Confecções
5
4,1%
Outros*
6
4,9%
TOTAL
122
100,0%
* A categoria ‘Outros’ compreende: empresas de Energia, Jóias, Saneamento, Saúde e Utilidades
Domésticas.
6.2.4 Porte das empresas
Quanto ao porte, seguindo a classificação utilizada pelo Sebrae (2008), temos uma
preponderância de micro, pequenas e médias empresas (68,0%), conforme se pode
observar na Tabela 17. Embora, em média, tenha havido um crescimento das
empresas, algumas delas se mantiveram no mesmo porte e outras reduziram o seu
quadro de pessoal.
161
Tabela 17 – Porte das empresas dos respondentes
Porte
Micro
Pequena
Média
Grande
Total
Em 2006
53
26
9
34
122
%
43,4%
21,3%
7,4%
27,9%
100%
Em 2009
41
38
4
39
122
%
33,6%
31,1%
3,3%
32,0%
100%
Das empresas que responderam ao questionário, 24,2% pertencem ou pertenceram
a uma incubadora.
6.2.5 Infraestrutura para P&D
A fim de verificar a existência de uma estrutura voltada para pesquisa e
desenvolvimento nas empresas respondentes, foram verificadas duas questões: se a
empresa alocou uma equipe interna para o desenvolvimento da inovação inscrita no
Prêmio Finep e se o seu desenvolvimento contou com um orçamento formalizado,
independentemente da origem dos recursos utilizados. A Tabela 18 ilustra as
respostas obtidas.
Tabela 18 – Existência de infraestrutura de P&D
Não possui orçamento
de P&D formalizado
Possui orçamento de
P&D formalizado
Total
Não alocou equipe
interna para
desenvolvimento
14
(11,5%)
Alocou equipe interna
para desenvolvimento
Total
42
56
(34,4%)
(45,9%)
2
64
66
(1,6%)
(52,5%)
(54,1%)
16
106
122
(13,1%)
(86,9%)
(100,0%)
Percebe-se uma concentração de empresas que alocaram recursos e pessoal no
desenvolvimento da inovação inscrita no Prêmio Finep, o que é de se esperar, tendo
em vista que a amostra é formada por empresas inovadoras.
6.2.6 Percentual de Faturamento advindo de Produtos Novos
Para caracterização do percentual do faturamento advindo de novos produtos das
empresas, foram considerados novos os produtos lançados há menos de três anos,
162
período de tempo usualmente utilizado por pesquisas como a Pintec (IBGE, 2002;
2005; 2007; 2010).
A Tabela 19 nos mostra que há um predomínio de respostas nos percentuais mais
baixos. Pouco mais da metade dos casos se refere a participações inferiores a 40%.
Tabela 19 – Percentual de faturamento advindo de produtos lançados há menos de 3 anos pelos
respondentes
Quantidade de respostas
42
24
19
17
16
4
122
0% a 20%
21% a 40%
41% a 60%
61% a 80%
81% a 100%
Não respondida
Total
Participação percentual
34,4%
19,7%
15,6%
13,9%
13,1%
3,3%
100,0%
6.2.7 Classificação das Estratégias
Conforme descrito anteriormente, as estratégias de cada uma das empresas, em
relação a cada uma das inovações inscritas no Prêmio Finep, foram classificadas de
acordo com a tipologia proposta por Freeman e Soete (1997). Para tanto, foram
realizadas algumas perguntas, relacionadas no item 4.5. O resultado da
classificação é apresentado na Tabela 20 a seguir.
Tabela 20 – Estratégias dos respondentes
Estratégia
Ofensiva
Defensiva
Imitativa
Dependente
Tradicional
Oportunista
Total
Quantidade de respostas
33
17
18
2
21
31
122
Participação percentual
27,0%
13,9%
14,8%
1,6%
17,2%
25,4%
100,0%
6.2.8 Inovação Radical
Baseado no proposto por Rice et al. (2001), McDermott e O’Connor (2002),
identificamos, dentre as respostas obtidas, as que se referiam a inovações radicais.
163
O critério, bastante objetivo, foi verificado sobre a declaração dos respondentes. A
Tabela 21 a seguir mostra o atendimento aos critérios definidos pelos autores. O
atendimento a pelo menos dois deles já configura a inovação como radical.
Tabela 21 – Inovações radicais nos respondentes
Critério
Quantidade de
respostas
74
Participação
percentual
60,7%
A inovação fez parte de uma linha de negócios completamente
nova tanto para a empresa quanto para o mercado.
Com a inovação, houve redução de 30% ou mais no custo da
23
18,9%
plataforma de um produto já comercializado pela empresa.
A inovação levou a uma melhoria de 5 a 10 vezes em
53
43,4%
características conhecidas de performance de um produto já
comercializado.
Nenhuma delas.
19
15,6%
Atendimento a todas elas.
10
8,2%
Atendimento a, ao menos, duas delas.
36
29,5%
Total
122
100,0%
obs: uma inovação poderia atender a mais de um critério, podendo a soma das respostas ser superior
a 100%.
Conforme o critério definido no presente estudo, foram identificadas 36 inovações
radicais.
6.2.9 Inovação Contínua
Conforme descrito anteriormente, as empresas foram classificadas em inovadoras
persistentes ou ocasionais, de acordo com suas inscrições no Prêmio Finep de
Inovação. A quantidade de cada um dos tipos na amostra é apresentada na
Tabela 22 a seguir.
Tabela 22 – Quantidade de inovadoras ocasionais e persistentes na amostra
Tipo
Ocasional
Persistente
Total
Frequência
66
56
122
%
54,1
45,9
100,0
164
6.3 TESTE DA HIPÓTESE HG1 – INOVAÇÃO RADICAL
Para o teste da hipótese HG1, foram verificadas cada uma das hipóteses derivadas,
H1.1 a H1.20. Para tanto, foram realizadas quatro análises multivariadas.
Inicialmente, foi realizada uma análise de variância. Seu objetivo é entender que
variáveis apresentam diferenças significativas entre os grupos de empresas que
inovaram de forma radical e as demais empresas.
Em seguida, foi realizada uma análise discriminante, a fim de confirmar os achados
na análise de variância e medir a importância de cada variável para a composição do
perfil. Como a premissa de normalidade das variáveis não foi atendida, como
veremos adiante, seguindo recomendação de Hair et al. (1998), foi realizada uma
regressão logística para fins de confirmação dos resultados da análise discriminante.
Por fim, foi realizada uma análise fatorial, com o objetivo de entender se os fatores
inicialmente propostos na teoria são válidos também para a amostra selecionada. A
partir dos fatores construídos, foram refeitas a análise discriminante e a regressão
logística.
Todos os testes estatísticos foram realizados com o auxílio do software SPSS –
Statistical Package for Social Sciences, versão 15.0. As variáveis P12, P13, P14 e
P24 tiveram sua escala invertida (Pinvertida = 6 – P), a fim de se ajustar à direção de
influência que a teoria apontava.
6.3.1 Análise descritiva
A partir da divisão dos respondentes em inovadores radicais ou não, foram avaliados
alguns dados preliminares sobre os grupos, a fim de melhor caracterizá-los. Foram
avaliados o porte, a distribuição regional, o tipo de inovação inscrita no Prêmio Finep
de Inovação, o setor, o histórico de incubação e o ano de fundação.
165
Quanto ao porte, observa-se que as inovadoras radicais são, em média, menores
que as não radicais. Enquanto que, nas não radicais, o percentual de empresas
médias e grandes atinge 44,2%, são apenas 13,9% nas radicais. A Figura 15 traz
essa distribuição, conforme a classificação do Sebrae (2008).
Figura 15 – Distribuição do grupo de inovadoras radicais por porte
Quanto à região geográfica, as respostas decorrentes de inovadoras radicais
concentravam-se majoritariamente no Sudeste, com mais de metade das
observações, enquanto que, para as não radicais, havia uma distribuição um pouco
mais equilibrada entre as regiões Sul e Sudeste. A Figura 16 mostra essa
distribuição geográfica.
Figura 16 – Distribuição geográfica do grupo de inovadoras radicais
166
Os resultados para o tipo de inovação, de produto ou de processo, foram
extremamente semelhantes entre os grupos, como se pode ver na Figura 17.
Figura 17 – Tipo de inovação do grupo de empresas inovadoras radicais
Quanto aos setores, as inovadoras radicais concentravam-se em Software,
Telecomunicações e Equipamentos Eletro-eletrônicos, enquanto que as não radicais
estavam mais presentes no setor de Software e Telecomunicações e em Outros
setores (principalmente têxtil, agropecuária, alimentos e metalurgia). A Figura 18
mostra essa distribuição.
Obs: alguns setores foram agrupados na categoria “Outros” para preservar a identidade dos respondentes.
Figura 18 – Distribuição setorial do grupo de inovadoras radicais
167
Algumas empresas afirmaram ter passado por um processo de incubação no
passado. O percentual de inovadoras radicais que passaram por uma incubadora de
empresas era ligeiramente inferiores ao das não radicais, como se verifica na Figura
19.
Figura 19 – Histórico de incubação do grupo de empresas inovadoras radicais
O ano de fundação também foi alvo de comparação entre as duas categorias de
empresas, com resultados semelhantes, como se vê na Figura 20. Verifica-se
apenas que há mais empresas antigas no grupo das não radicais.
Figura 20 – Ano de fundação do grupo de empresas inovadoras radicais
168
As empresas com inovações radicais apresentam um percentual do faturamento
advindo de produtos lançados há menos de três anos maior que as empresas sem
inovações radicais, como mostra a Figura 21.
Figura 21 – Percentual do faturamento advindo de novos produtos no grupo de empresas inovadoras
radicais
Quanto à infraestrutura de P&D, não parece haver diferenças significativas entre
empresas com inovações radicais e as demais inovadoras. A Figura 22 traz uma
comparação de dois quesitos relacionados a este fator: a existência de uma equipe
interna e de um orçamento dedicados a P&D.
Figura 22 – Infraestrutura de P&D no grupo de empresas inovadoras radicais
169
6.3.2 Teste da normalidade das variáveis
Para a utilização de testes multivariados, é necessário um exame cuidadoso dos
dados, a fim de verificar sua adequação e o atendimento de premissas. Para a
operacionalização dos 20 fatores descritos na revisão bibliográfica, foram levantadas
45 variáveis. São 13 fatores ligados a fatores externos à empresa e 7 ligados a
fatores internos. Os fatores externos somavam 26 variáveis, enquanto os internos
somavam 19. A primeira preocupação, a fim de possibilitar uma análise
discriminante, foi a de apurar a normalidade das variáveis, através dos testes de
Kolmogorov-Smirnov e de Shapiro-Wilk. A Tabela 23 mostra os resultados da
análise. No Apêndice E, é possível visualizar histogramas para cada uma das
variáveis.
Tabela 23 – Análise da normalidade das variáveis ligadas aos fatores externos
Fator
Legislação
Financiamento
Educação
Nível da
cadeia
produtiva
Governo
Local
Informações
Cultura
Redes
Legitimidade
Condições de
Fundação
Setor
Governança
(N=103)
-0,838
-1,398
-1,364
-0,123
-1,306
-1,298
1,177
1,153
-1,380
-1,035
-0,875
-1,015
-0,909
-1,025
-1,130
-1,320
-1,294
-0,828
-0,764
5,798
-0,824
KolmogorovSmirnov
Est.
Sig.
0,307 0,000
0,176 0,000
0,226 0,000
0,237 0,000
0,181 0,000
0,212 0,000
0,289 0,000
0,365 0,000
0,283 0,000
0,223 0,000
0,291 0,000
0,253 0,000
0,152 0,000
0,164 0,000
0,202 0,000
0,192 0,000
0,207 0,000
0,293 0,000
0,203 0,000
0,457 0,000
0,173 0,000
Est.
0,785
0,856
0,824
0,805
0,876
0,841
0,766
0,693
0,799
0,829
0,765
0,830
0,912
0,908
0,894
0,878
0,860
0,796
0,862
0,535
0,912
Sig.
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,382
-0,928
0,233
0,000
0,888
0,000
0,135
1,386
0,881
-0,559
-0,982
0,388
-1,249
-0,294
0,211
0,342
0,442
0,234
0,000
0,000
0,000
0,000
0,901
0,658
0,576
0,890
0,000
0,000
0,000
0,000
Variável
Média
D.P.
Assimetria
Curtose
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
P12
P13
P14
P15
P16
P17
P18
P19
P20
P21
2,17
2,83
2,59
3,88
2,70
2,51
4,18
1,74
2,46
2,40
2,25
3,63
3,09
2,93
2,69
3,14
2,57
2,18
3,68
1,36
2,84
1,373
1,524
1,556
1,270
1,385
1,448
1,036
1,129
1,545
1,437
1,513
1,400
1,245
1,285
1,268
1,442
1,411
1,363
1,246
0,765
1,118
0,740
0,183
0,406
-0,977
0,130
0,406
-1,297
1,454
0,449
0,603
0,807
0,537
0,075
-0,101
0,196
-0,183
0,286
0,724
-0,575
2,364
0,013
P22
2,57
1,226
P23
P24
P25
P26
2,99
4,09
2,20
3,48
1,159
1,415
1,844
1,119
Shapiro-Wilk
170
A assimetria está relacionada ao formato da curva de distribuição de frequências.
Em uma curva simétrica, a média, a mediana e a moda são iguais. As assimétricas
podem ter um deslocamento para qualquer um dos lados. Já a curtose mostra o
quanto a curva é achatada ou alongada em relação à curva-padrão. Apesar de
algumas variáveis poderem ser consideradas simétricas (P5, P13, P14, P21 e P23),
e alguns histogramas sugerirem uma distribuição normal, os testes estatísticos
mostram que nenhuma das variáveis pode ser considerada como tendo uma
distribuição normal (p<0,05). Os testes utilizados comparam a distribuição observada
com uma distribuição normal teórica. Os mesmos testes foram realizados com as
variáveis dos fatores internos. A Tabela 24 mostra os resultados desta análise.
Tabela 24 – Análise da normalidade das variáveis ligadas aos fatores internos
Fator
2,303
0,076
-0,624
3,332
KolmogorovSmirnov
Est.
Sig.
0,257 0,000
0,237 0,000
0,243 0,000
0,330 0,000
Est.
0,763
0,872
0,827
0,763
Sig.
0,000
0,000
0,000
0,000
-1,515
2,715
0,360
0,000
0,699
0,000
1,067
0,799
0,965
1,008
0,954
1,018
0,904
0,880
0,837
0,882
0,879
0,760
-0,946
-1,753
-0,995
-1,060
-0,801
-1,207
-0,618
-0,674
-0,661
-0,545
-1,521
-0,443
0,564
4,771
0,764
0,866
0,458
0,788
0,496
0,244
0,422
0,094
1,974
-0,695
0,260
0,271
0,255
0,336
0,239
0,366
0,254
0,225
0,220
0,234
0,361
0,240
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,845
0,714
0,827
0,813
0,849
0,759
0,865
0,842
0,827
0,858
0,701
0,814
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
4,15
0,901
-1,442
2,460
0,310
0,000
0,752
0,000
4,52
0,827
-2,203
5,648
0,387
0,000
0,622
0,000
Variável
Média
D.P.
Assimetria
Curtose
Liderança
P27
P28
P29
P30
4,22
3,71
4,09
4,01
0,907
1,081
0,898
0,846
-1,426
-0,722
-0,589
-1,406
Organização
interna
P31
4,46
0,777
P32
P33
P34
P35
P36
P37
P38
P39
P40
P41
P42
P43
3,83
4,34
4,03
3,70
3,95
3,50
3,79
4,03
4,08
3,92
4,41
4,17
P44
P45
Processos
Pessoas
Cultura
Alocação de
recursos
Percepção de
demanda
(N=103)
Shapiro-Wilk
Assim como as variáveis ligadas aos fatores externos, os testes estatísticos mostram
que nenhuma das variáveis dos fatores internos pode ser considerada como tendo
uma distribuição normal. Como veremos mais adiante, como não foi possível atestar
a normalidade das variáveis, outros cuidados foram tomados para assegurar
resultados confiáveis.
171
6.3.3 Análise de variância
A fim de identificar diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de
empresas radicais e não radicais, foi realizada uma análise de variância
considerando cada uma das variáveis. O teste utilizado foi a Anova, que é
considerado um teste robusto quanto a violação de premissas como a normalidade
das variáveis (Hair et al., 1998). Na Anova, o teste estatístico toma como hipótese
nula de que não há diferenças estatisticamente significativas entre os grupos.
Legislação
A percepção da legislação foi avaliada com base no posicionamento em relação a
duas afirmações: “um importante motivo para o desenvolvimento desta inovação foi
a adaptação à legislação” (P1) e “acredito que a garantia dos direitos de patente
sobre o novo produto/processo foi um importante fator na decisão de desenvolver o
novo produto/processo” (P2).
Tabela 25 – Teste de homoscedasticidade de P1 e P2
Variável
Estatística de
Levene
0,072
0,072
P1
P2
gl1
gl2
Sig.
1
1
120
120
0,789
0,790
Conforme se verifica na Tabela 25, ambas as variáveis não apresentam
heteroscedasticidade, ou seja, a matriz variância-covariância não é homogênea
entre os dois grupos (radicais e não radicais), o que é uma das premissas para a
utilização do Anova. A seguir, a Tabela 26 mostra os resultados do teste para as
duas variáveis.
Tabela 26 – Teste Anova para as variáveis P1 e P2
Variável
P1
P2
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
N
Média
86
36
122
86
36
122
2,30
2,19
2,27
2,85
2,94
2,88
Desviopadrão
1,480
1,489
1,477
1,561
1,603
1,567
F
Sig.
0,134
0,715
0,094
0,760
172
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator legislação impacta as inovadoras de forma homogênea. Não é possível
rejeitar a hipótese nula.
Disponibilidade de Financiamento
A percepção da disponibilidade de financiamento foi avaliada com base no
posicionamento em relação a uma afirmação: “acredito que a existência de
financiamento
para
o
desenvolvimento
de
novos
produtos/processos
foi
determinante na decisão da empresa em desenvolvê-los” (P3).
Tabela 27 – Teste de homoscedasticidade de P3
Variável
Estatística de
Levene
2,427
P3
gl1
gl2
Sig.
1
120
0,122
Conforme se verifica na Tabela 27, a variável não apresenta heteroscedasticidade. A
seguir, a Tabela 28 mostra os resultados do teste.
Tabela 28 – Teste Anova para a variável P3
Variável
P3
Não radical
Radical
Total
N
Média
86
36
122
2,57
2,44
2,53
Desviopadrão
1,591
1,403
1,533
F
Sig.
0,168
0,682
Com base nos resultados, sugere-se que não há diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator financiamento não as influencia de forma diferente. Não se pode rejeitar a
hipótese nula.
Educação e Treinamento
A percepção o nível de educação e do treinamento de pessoal foram avaliadas com
base no posicionamento em relação a uma afirmação: “Acredito que a
173
disponibilidade de pessoal treinado foi determinante na decisão da empresa em
investir no desenvolvimento do novo produto/processo” (P4).
Tabela 29 – Teste de homoscedasticidade de P4
Variável
Estatística de
Levene
7,004
P4
gl1
gl2
Sig.
1
120
0,009
Conforme se verifica na Tabela 29, a variável apresenta heteroscedasticidade, o que
fere uma das premissas do teste Anova. Assim sendo, não é possível rejeitar a
hipótese nula.
Tabela 30 – Teste Anova para a variável P4
Variável
P4
Não radical
Radical
Total
N
Média
86
36
122
3,98
3,61
3,87
Desviopadrão
1,208
1,479
1,298
F
Sig.
2,030
0,157
Nível de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva
A percepção do nível de desenvolvimento da cadeira produtiva foi avaliada com
base no posicionamento em relação a três afirmações: “acredito que o incentivo dos
fornecedores da empresa foi fundamental para a decisão da empresa de investir no
novo produto/processo” (P5), “se nossa empresa não tivesse a concorrência que
tem, não cogitaríamos lançar este novo produto/processo” (P6) e “acredito que os
clientes da empresa foram fundamentais na concepção do novo produto/processo”
(P7).
Tabela 31 – Teste de homoscedasticidade de P5, P6 e P7
Variável
Estatística de
Levene
0,000
0,360
0,003
P5
P6
P7
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
120
120
120
0,986
0,550
0,954
31,
as
variáveis
não
apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 32 mostra os resultados do teste para as
três variáveis.
174
Tabela 32 – Teste Anova para as variáveis P5, P6 e P7
Variável
P5
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
P6
P7
N
Média
86
36
122
86
36
122
86
36
122
2,81
2,25
2,65
2,31
2,81
2,46
4,12
4,06
4,10
Desviopadrão
1,359
1,360
1,378
1,357
1,470
1,403
1,152
1,120
1,138
F
Sig.
4,367
0,039
3,170
0,078
0,072
0,789
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais para a variável P7. A variável
P5 apresentou diferenças a um nível de 5% de significância, enquanto que a P6, a
um nível de 10%. Provavelmente, o fator cadeia produtiva impacta as inovadoras de
forma não homogênea. Porém, neste primeiro momento, não é possível rejeitar a
hipótese nula.
Ação do Governo
A percepção da ação do governo foi avaliada com base no posicionamento em
relação a quatro afirmações: “um importante motivo para o desenvolvimento desta
inovação foi se adequar a requisitos de compras do governo (licitações etc.)” (P8),
“vejo relação entre o trabalho do Ministério de Ciência e Tecnologia (e de suas
agências CNPq e Finep) e o sucesso desta inovação” (P9), “a assessoria de uma
universidade (ou de institutos de pesquisa) públicos foi determinante para o sucesso
no desenvolvimento do novo produto/processo” (P10) e “acredito que os incentivos à
inovação na legislação foram determinantes na decisão de desenvolver este novo
produto/processo” (P11).
Tabela 33 – Teste de homoscedasticidade de P8, P9, P10 e P11
Variável
P8
P9
P10
P11
Estatística de
Levene
0,137
3,808
0,001
0,106
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
120
120
120
120
0,712
0,053
0,976
0,746
175
Conforme
se
verifica
na
Tabela
33,
as
variáveis
não
apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 34 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 34 – Teste Anova para as variáveis P8, P9, P10 e P11
Variável
P8
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
P9
P10
P11
Com base nos
N
Média
86
36
122
86
36
122
86
36
122
86
36
122
1,69
1,81
1,72
2,58
2,08
2,43
2,45
2,25
2,39
2,27
2,11
2,22
Desviopadrão
1,087
1,167
1,108
1,560
1,422
1,532
1,461
1,500
1,469
1,475
1,563
1,497
resultados, foram identificadas
F
Sig.
0,294
0,589
2,720
0,102
0,485
0,488
0,275
0,601
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais apenas para a variável P9
(p<0,10), sugerindo que, talvez, o fator governo tenha impacto sobre as inovadoras
de forma heterogênea. No entanto, pelo resultado negativo das outras variáveis, não
é possível rejeitar a hipótese nula.
Localização
A percepção da influência da localização da empresa foi avaliada com base no
posicionamento em relação a uma afirmação: “se minha empresa estivesse em outra
cidade, provavelmente eu teria mais sucesso com esta inovação do que obtive”
(P12). Esta variável teve sua escala invertida.
Tabela 35 – Teste de homoscedasticidade de P12
Variável
P12
Estatística de
Levene
0,658
gl1
gl2
Sig.
1
120
0,419
Conforme se verifica na Tabela 35, a variável não apresenta heteroscedasticidade. A
seguir, a Tabela 36 mostra os resultados do teste.
176
Tabela 36 – Teste Anova para a variável P12
Variável
P12
Não radical
Radical
Total
N
Média
86
36
122
3,72
3,39
3,62
Desviopadrão
1,352
1,498
1,399
F
Sig.
1,436
0,233
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator local não impacta as inovadoras de forma heterogênea. Não é possível
rejeitar a hipótese nula.
Acesso a Informações Científicas e Tecnológicas
A percepção da legislação foi avaliada com base no posicionamento em relação a
duas afirmações: “foi complicado obter informações TÉCNICAS, fora da empresa,
para o desenvolvimento desta inovação” (P13) e “foi complicado obter informações
DE MERCADO para o desenvolvimento desta inovação” (P14). Estas variáveis
tiveram suas escalas invertidas.
Tabela 37 – Teste de homoscedasticidade de P13 e P14
Variável
Estatística de
Levene
0,019
1,059
P13
P14
gl1
gl2
Sig.
1
1
120
120
0,890
0,306
Conforme se verifica na Tabela 37, ambas as variáveis não apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 38 mostra os resultados do teste para as
duas variáveis.
Tabela 38 – Teste Anova para as variáveis P13 e P14
Variável
P13
P14
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
N
Média
86
36
122
86
36
122
3,03
2,92
3,00
2,78
3,17
2,89
Desviopadrão
1,222
1,273
1,233
1,323
1,183
1,291
F
Sig.
0,232
0,631
2,313
0,131
177
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator informações impacta as inovadoras de forma homogênea. Apenas a variável
P14 apresenta diferenças, porém a um nível de significância de 15%. Não é possível
rejeitar a hipótese nula.
Cultura e Costumes Nacionais
A percepção da cultura e dos costumes foi avaliada com base no posicionamento
em relação a duas afirmações: “a cultura de nosso país leva as empresas a inovar”
(P15) e “o desenvolvimento do novo produto/processo foi provocado mais pelo
costume da empresa em sempre inovar que pela identificação de uma nova
oportunidade de mercado” (P16).
Tabela 39 – Teste de homoscedasticidade de P15 e P16
Variável
Estatística de
Levene
0,646
0,011
P15
P16
gl1
gl2
Sig.
1
1
101
120
0,424
0,915
Conforme se verifica na Tabela 39, ambas as variáveis não apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 40 mostra os resultados do teste para as
duas variáveis.
Tabela 40 – Teste Anova para as variáveis P15 e P16
Variável
P15
P16
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
N
Média
72
31
103
86
36
122
2,71
2,65
2,69
3,23
2,89
3,13
Desviopadrão
1,238
1,355
1,268
1,403
1,430
1,414
F
Sig.
0,053
0,818
1,505
0,222
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator cultura e costumes impacta as inovadoras de forma homogênea. Não é
possível rejeitar a hipótese nula.
178
Redes de Relacionamento
A percepção sobre as redes de relacionamento foi avaliada com base no
posicionamento em relação a quatro afirmações: “as parcerias com universidades ou
outras instituições de pesquisa foram imprescindíveis para o desenvolvimento desta
inovação” (P17), “a participação em associações comerciais foi importante durante o
desenvolvimento e o lançamento do novo produto/processo” (P18), “pessoas que
fazem parte da rede de relacionamento da equipe envolvida no desenvolvimento ou
no lançamento do novo produto/processo possuíram papel fundamental para o seu
sucesso” (P19) e “empregados vindos da concorrência foram importante fonte de
informação para este desenvolvimento” (P20).
Tabela 41 – Teste de homoscedasticidade de P17, P18, P19 e P20
Variável
Estatística de
Levene
0,315
0,154
0,014
0,428
P17
P18
P19
P20
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
120
120
120
120
0,576
0,696
0,905
0,514
41,
as
variáveis
não
apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 42 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 42 – Teste Anova para as variáveis P17, P18, P19 e P20
Variável
P17
P18
P19
P20
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
N
Média
86
36
122
86
36
122
86
36
122
86
36
122
2,58
2,42
2,53
2,13
2,14
2,13
3,69
3,78
3,71
1,38
1,42
1,39
Desviopadrão
1,435
1,381
1,415
1,344
1,355
1,342
1,277
1,174
1,243
0,738
0,937
0,798
F
Sig.
0,342
0,560
0,002
0,967
0,137
0,712
0,043
0,836
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
179
o fator redes de relacionamento impacta as inovadoras de forma homogênea. Não é
possível rejeitar a hipótese nula.
Legitimidade
A percepção da influência da necessidade de legitimidade foi avaliada com base no
posicionamento em relação a uma afirmação: “empresas reconhecidas pelo mercado
como não inovadoras dificilmente terão sucesso com uma inovação no mercado”
(P21).
Tabela 43 – Teste de homoscedasticidade de P21
Variável
Estatística de
Levene
0,568
P21
gl1
gl2
Sig.
1
101
0,453
Conforme se verifica na Tabela 43, a variável não apresenta heteroscedasticidade. A
seguir, a Tabela 44 mostra os resultados do teste.
Tabela 44 – Teste Anova para a variável P21
Variável
P21
Não radical
Radical
Total
Com base nos
N
Média
72
31
103
2,72
3,13
2,84
Desviopadrão
1,141
1,024
1,118
resultados, foram identificadas
F
Sig.
2,923
0,090
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator legitimidade impacta as inovadoras de forma heterogênea, embora a um nível
de significância de 10%. É possível rejeitar a hipótese nula.
Condições de Fundação
A percepção da influência das condições de fundação foi avaliada com base no
posicionamento em relação a uma afirmação: “o momento mais importante de uma
empresa é sua fundação, pois neste momento são feitas definições que moldam a
‘personalidade’ da empresa” (P22).
180
Tabela 45 – Teste de homoscedasticidade de P22
Variável
Estatística de
Levene
0,001
P22
gl1
gl2
Sig.
1
101
0,978
Conforme se verifica na Tabela 45, a variável não apresenta heteroscedasticidade, o
que fere uma das premissas do teste Anova. Ainda assim, a seguir, a Tabela 45
mostra os resultados do teste.
Tabela 46 – Teste Anova para a variável P22
Variável
P22
Não radical
Radical
Total
N
Média
72
31
103
2,49
2,77
2,57
Desviopadrão
1,233
1,016
1,226
F
Sig.
1,200
0,276
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator condições de fundação impacta as inovadoras de forma homogênea. Não é
possível rejeitar a hipótese nula.
Setor
A percepção do setor foi avaliada com base no posicionamento em relação a duas
afirmações: “procuro desenvolver as inovações sempre focando em setores mais
dinâmicos, mesmo que minha empresa não atue neles” (P23) e “a inovação não faz
parte da realidade de meu setor” (P24). Esta variável (P24) teve sua escala invertida.
Tabela 47 – Teste de homoscedasticidade de P23 e P24
Variável
P23
P24
Estatística de
Levene
1,607
0,586
gl1
gl2
Sig.
1
1
101
101
0,208
0,446
Conforme se verifica na Tabela 47, ambas as variáveis não apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 48 mostra os resultados do teste para as
duas variáveis.
181
Tabela 48 – Teste Anova para as variáveis P23 e P24
Variável
P23
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
P24
Com base nos
N
Média
72
31
103
72
31
103
2,81
3,42
2,99
3,94
4,44
4,09
Desviopadrão
1,070
1,259
1,159
1,555
0,958
1,415
resultados, foram identificadas
F
Sig.
6,401
0,013
2,476
0,119
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator setor impacta as inovadoras de forma homogênea. A P23 a um nível de
significância de 5% e a P24, a 15%. Rejeita-se a hipótese nula.
Governança
A percepção do nível de desenvolvimento do mercado de capitais foi avaliada com
base na classificação em sociedade limitada ou anônima (P25) e no posicionamento
em relação a afirmação: “meus concorrentes que profissionalizaram a gestão
acabaram inovando mais” (P26).
Tabela 49 – Teste de homoscedasticidade de P25 e P26
Variável
Estatística de
Levene
0,033
1,948
P25
P26
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
120
101
0,855
0,166
49,
as
variáveis
não
apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 50 mostra os resultados do teste para as
duas variáveis.
Tabela 50 – Teste Anova para as variáveis P25 e P26
Variável
P25
P26
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
N
Média
86
36
122
72
31
103
2,26
2,22
2,25
3,50
3,42
3,48
Desviopadrão
1,867
1,869
1,860
1,175
0,992
1,119
F
Sig.
0,008
0,928
0,112
0,738
182
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator nível de desenvolvimento do mercado de capitais impacta as inovadoras de
forma homogênea. Não é possível rejeitar a hipótese nula.
Liderança
A liderança foi avaliada com base no posicionamento em relação a quatro
afirmações: “a direção da empresa gasta tempo agindo – e não apenas falando –
sobre inovação” (P27), “a direção da empresa é avaliada apropriadamente e/ou
recompensada pela sua performance em inovação” (P28), “a direção da empresa
efetivamente comunica-se com toda a organização a respeito das atividades,
sucessos e fracassos de inovação” (P29) e “a direção da empresa consistentemente
provê funcionários necessários aos esforços de inovação da empresa” (P30).
Tabela 51 – Teste de homoscedasticidade de P27, P28, P29 e P30
Variável
Estatística de
Levene
0,047
0,038
0,520
0,116
P27
P28
P29
P30
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
101
101
101
101
0,829
0,847
0,472
0,734
51,
as
variáveis
não
apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 52 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 52 – Teste Anova para as variáveis P27, P28, P29 e P30
Variável
P27
P28
P29
P30
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
N
Média
72
31
103
72
31
103
72
31
103
72
31
103
4,10
4,52
4,22
3,64
3,87
3,71
3,96
4,39
4,09
3,96
4,13
4,01
Desviopadrão
0,922
0,811
0,907
1,052
1,147
1,081
0,863
0,919
0,898
0,879
0,763
0,846
F
Sig.
4,797
0,031
0,998
0,320
5,143
0,025
0,881
0,350
183
Com base nos
resultados, foram identificadas
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, para as variáveis P27 e P29,
fornecendo indícios que o fator liderança impacta as inovadoras de forma
heterogênea. No entanto, não é possível rejeitar a hipótese nula.
Organização Interna
A organização interna foi avaliada com base no posicionamento em relação a uma
afirmação: “a existência de um departamento (ou setor) voltado para a Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) é fundamental para as empresas se tornarem mais
inovadoras” (P31).
Tabela 53 – Teste de homoscedasticidade de P31
Variável
P31
Estatística de
Levene
0,120
gl1
gl2
Sig.
1
101
0,730
Conforme se verifica na Tabela 53, a variável não apresenta heteroscedasticidade. A
seguir, a Tabela 54 mostra os resultados do teste para as variáveis.
Tabela 54 – Teste Anova para a variável P31
Variável
P31
Não radical
Radical
Total
N
Média
72
31
103
4,44
4,48
4,46
Desviopadrão
0,803
0,724
0,777
F
Sig.
0,055
0,815
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator organização interna impacta as inovadoras de forma homogênea. Não é
possível rejeitar a hipótese nula.
Processos e Ferramentas Internos
Os processos e ferramentas internos foram avaliados com base no posicionamento
em relação a quatro afirmações: “em nossa empresa, há definição de objetivos e
184
medidas para acompanhar o processo de inovação” (P32), “nosso processo de
inovação/desenvolvimento de novos produto (ou processos) é eficiente, ou seja,
resulta em novas oportunidades de crescimento para a empresa” (P33), “é fácil
entender ou utilizar nosso processo de inovação/desenvolvimento de novos
produtos” (P34) e “há ferramentas e tecnologias disponíveis imediatamente na
empresa para nos ajudar a inovar de forma mais eficiente” (P35).
Tabela 55 – Teste de homoscedasticidade de P32, P33, P34 e P35
Variável
Estatística de
Levene
1,116
0,054
0,160
0,155
P32
P33
P34
P35
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
101
101
101
101
0,293
0,816
0,690
0,695
55,
as
variáveis
não
apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 56 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 56 – Teste Anova para as variáveis P32, P33, P34 e P35
Variável
P32
P33
P34
P35
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Com base nos
N
Média
72
31
103
72
31
103
72
31
103
72
31
103
3,78
3,97
3,83
4,24
4,58
4,34
3,94
4,23
4,03
3,67
3,77
3,70
Desviopadrão
1,091
1,016
1,067
0,813
0,720
0,799
0,997
0,920
0,965
1,021
0,990
1,008
resultados, foram identificadas
F
Sig.
0,684
0,410
4,155
0,044
1,859
0,176
0,245
0,622
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais apenas quanto à variável P33,
enquanto que não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas para
as demais variáveis. Portanto, não é possível rejeitar a hipótese nula.
185
Pessoas e Habilidades
As pessoas e as habilidades foram avaliadas com base no posicionamento em
relação a quatro afirmações: “ter treinamento em criatividade, inovação e/ou em
outras técnicas de solução de problemas é fundamental para se ter sucesso na
inovação” (P36), “em nossa empresa, as pessoas têm financiamento, espaço e
tempo para desenvolver ideias e oportunidades promissoras que ajudem a empresa
a inovar” (P37), “as pessoas são reconhecidas e recompensadas apropriadamente
por ajudar nossa empresa a inovar” (P38) e “nós efetivamente transferimos
conhecimento, habilidades e ideias pelos departamentos da empresa” (P39).
Tabela 57 – Teste de homoscedasticidade de P36, P37, P38 e P39
Variável
P36
P37
P38
P39
Estatística de
Levene
4,198
0,049
0,030
0,016
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
101
101
101
101
0,043
0,826
0,864
0,899
Conforme se verifica na Tabela 57, as variáveis P37, P38 e P39 não apresentam
heteroscedasticidade, enquanto a P36 apresenta. A seguir, a Tabela 58 mostra os
resultados do teste para as variáveis.
Tabela 58 – Teste Anova para as variáveis P36, P37, P38 e P39
Variável
P36
P37
P38
P39
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
N
Média
72
31
103
72
31
103
72
31
103
72
31
103
3,93
4,00
3,95
3,51
3,48
3,50
3,76
3,84
3,79
3,99
4,13
4,03
Desviopadrão
1,025
0,775
0,954
0,993
1,092
1,018
0,911
0,898
0,904
0,880
0,885
0,880
F
Sig.
0,114
0,736
0,019
0,892
0,147
0,702
0,570
0,452
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
186
o fator pessoas e habilidades impacta as inovadoras de forma homogênea. Portanto,
não é possível rejeitar a hipótese nula.
Cultura e Valores das Empresas
Aspectos ligados à cultura e aos valores das empresas foram avaliados com base no
posicionamento em relação a quatro afirmações: “nossa organização sabe como
aprender a partir dos erros e encoraja que se assuma riscos calculados” (P40), “a
estratégia de nossa empresa é compreendida por todos na organização” (P41),
“nossa empresa é reconhecida pelo mercado como inovadora” (P42) e “todos na
empresa são encorajados a participar de nossos esforços de inovação” (P43).
Tabela 59 – Teste de homoscedasticidade de P40, P41, P42 e P43
Variável
Estatística de
Levene
0,248
0,032
0,059
0,450
P40
P41
P42
P43
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
101
101
101
101
0,620
0,858
0,809
0,504
59,
as
variáveis
não
apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 60 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 60 – Teste Anova para as variáveis P40, P41, P42 e P43
Variável
P40
P41
P42
P43
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
Não radical
Radical
Total
N
Média
72
31
103
72
31
103
72
31
103
72
31
103
3,93
4,42
4,08
3,86
4,06
3,92
4,33
4,58
4,41
4,11
4,32
4,17
Desviopadrão
0,861
0,672
0,837
0,877
0,892
0,882
0,805
1,025
0,879
0,742
0,791
0,760
F
Sig.
7,899
0,006
1,154
0,285
1,726
0,192
1,691
0,196
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
187
o fator cultura e valores impacta as inovadoras de forma homogênea. Apenas a
variável P40 apresenta diferenças estatisticamente significativas. Portanto, não é
possível rejeitar a hipótese nula.
Alocação Interna de Recursos Financeiros
A alocação interna de recursos financeiros para a inovação foi avaliada com base no
posicionamento em relação à afirmação: “a direção da empresa consistentemente
aplica os recursos necessários para financiar os esforços de inovação da empresa”
(P44).
Tabela 61 – Teste de homoscedasticidade de P44
Variável
Estatística de
Levene
1,226
P44
gl1
gl2
Sig.
1
101
0,271
Conforme se verifica na Tabela 61, a variável não apresenta heteroscedasticidade. A
seguir, a Tabela 62 mostra os resultados do teste para a variável.
Tabela 62 – Teste Anova para as variáveis P44
Variável
P44
Não radical
Radical
Total
Com base nos
N
Média
72
31
103
4,11
4,23
4,15
Desviopadrão
0,815
1,087
0,901
resultados, foram identificadas
F
Sig.
0,349
0,556
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, indicando que, provavelmente,
o fator alocação de recursos impacta as inovadoras de forma heterogênea. Portanto,
não é possível rejeitar a hipótese nula.
Percepção de Demanda
A percepção da demanda foi avaliada com base no posicionamento em relação à
afirmação: “a percepção de uma demanda potencial foi determinante para a decisão
de desenvolver esse novo produto/processo” (P45).
188
Tabela 63 – Teste de homoscedasticidade de P45
Variável
Estatística de
Levene
9,105
P45
gl1
gl2
Sig.
1
120
0,003
Conforme se verifica na Tabela 63, a variável apresenta heteroscedasticidade.
Portanto, não é possível rejeitar a hipótese nula. A seguir, a Tabela 64 mostra as
estatísticas descritivas para a variável.
Tabela 64 – Teste Anova para as variáveis P45
Variável
P45
Não radical
Radical
Total
N
Média
86
36
122
4,37
4,72
4,48
Desviopadrão
0,995
0,615
0,911
F
Sig.
3,836
0,052
6.3.3.1 Síntese da análise de variância
Numa primeira avaliação de fatores apontados na bibliografia como relacionados às
empresas inovadoras, poucas variáveis externas às empresas apresentaram
diferenças estatisticamente significativas entre as empresas com inovações radicais
e as demais. Como se pode verificar no Quadro 12 a seguir, apenas as variáveis
ligadas ao nível de desenvolvimento da cadeia produtiva, à ação do governo, à
disponibilidade de informações de mercado, à legitimidade e ao setor apresentaram
diferenças entre os grupos. Em alguns quesitos das duas primeiras, as inovadoras
não radicais tiveram pontuação maior que as radicais, divergindo do esperado,
enquanto que nas demais, a pontuação foi menor.
Quadro 12 – Quadro-resumo da análise de variância relacionada aos fatores externos à empresa
Fator
Legislação
Disponibilidade de financiamento
Educação e treinamento
Nível de desenvolvimento da cadeia
produtiva
Ação do governo
Localização
Variável
P1 – Geral
P2 – Propriedade intelectual
P3
P4
P5 – Fornecedores
P6 – Concorrência
P7 – Clientes
P8 – Compras governamentais
P9 – MCT e agências
P10 – ICT’s públicas
P11 – Incentivos
P12
Resultado do teste
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Rejeitada**
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada**
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
189
Fator
Informações
científicas
tecnológicas
Cultura e costumes nacionais
e
Redes de relacionamento
Legitimidade
Condições de fundação
Setor
Governança
Variável
P13 – Técnicas
P14 – De mercado
P15 – Cultura
P16 – Costumes
P17 – Universidades
P18 – Associações comerciais
P19 – Pessoas
P20 – Concorrência
P21
P22
P23 – Diversificação
P24 – Setor
P25 – Formato da sociedade
P26 – Profissionalização da gestão
Resultado do teste
Falha em rejeitar
Rejeitada***
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada**
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Rejeitada***
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
* a um nível de significância de 5%.
** a um nível de significância de 10%.
*** a um nível de significância de 15%.
Avaliando as variáveis internas às empresas, descritas anteriormente, algumas
variáveis apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de
inovadoras radicais e o de não radicais. Como se pode verificar no Quadro 13 a
seguir, variáveis ligadas à liderança (ação da direção e comunicação), à eficiência
dos processos e à cultura de assunção de riscos apresentaram diferenças entre os
grupos. Em todas, as inovadoras radicais tiveram pontuação maior que as não
radicais, concordando com as afirmativas propostas no questionário.
Quadro 13 – Quadro-resumo das hipóteses relacionadas a fatores internos à empresa
Fator
Liderança
Organização interna
Processos e ferramentas internas
Pessoas e habilidades
Cultura e valores
Variável
P27 – Ação da direção
P28 – Avaliação da direção
P29 – Comunicação
P30 – Alocação de funcionários
P31
P32 – Acompanhamento dos
processos de inovação
P33 – Eficiência
P34 – Facilidade de uso
P35 – Disponibilidade
P36 – Treinamento em criatividade
P37 – Financiamento, espaço e
tempo
P38
–
Reconhecimento
e
recompensa
P39
–
Transferência
de
conhecimentos
P40 – Assunção de riscos
P41 – Compreensão da estratégia
P42
– Reconhecimento
pelo
mercado
Resultado do teste
Rejeitada*
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
190
Fator
Alocação de recursos financeiros
Percepção de demanda
* a um nível de significância de 5%.
Variável
P43
–
Encorajamento
funcionários
P44
P45
dos
Resultado do teste
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
6.3.4 Análise discriminante
Foi realizada uma análise discriminante a fim de complementar os resultados da
análise de variância e medir a importância de cada variável para a composição do
perfil das empresas inovadoras. Como a premissa de normalidade das variáveis não
foi atendida, como veremos adiante, seguindo recomendação de Hair et al. (1998),
foi realizada também uma regressão logística para fins de confirmação dos
resultados da análise discriminante, descrita na seção 6.3.4.1.
A análise discriminante foi escolhida tendo em vista que se quer, com base nos
fatores internos e externos, determinar se existem diferenças estatisticamente
significativas entre os dois grupos previamente definidos e identificar a importância
relativa de cada fator na predição da categoria que pertence determinada empresa,
se inovadora radical ou não.
A variável dependente utilizada é o perfil da empresa (inovadora radical ou não), ou
seja, uma variável categórica, e as variáveis independentes são os fatores internos e
externos. O perfil da empresa, portanto, seria função dessas variáveis. Recomendase que haja ao menos 5 observações por variável independente (HAIR et al., 1998),
ou seja, 225 observações. A pesquisa obteve 103 observações completas. Um
segundo critério apontado é que cada um dos grupos (inovadoras radicais ou não)
deveria conter ao menos 20 observações e que fosse ao menos um ponto maior que
o número de variáveis para cada grupo. O menor dos grupos continha 31
observações, atendendo a este critério.
A fim de contornar o problema do tamanho da amostra citado acima, optou-se por
fazer uma segunda análise discriminante utilizando-se de 20 fatores compostos
pelas médias aritméticas de seus componentes. Tais componentes são as variáveis
apresentadas nos Quadros 12 e 13. Assim, o fator “Liderança”, por exemplo, é
191
composto pelas variáveis “ação da direção”, “avaliação da direção”, “comunicação” e
“alocação de funcionários”. Com 20 variáveis, é atendida a recomendação de Hair et
al. (1998) e se pode comparar os resultados obtidos, a fim de se ter uma
confirmação da análise inicial.
Para as análises discriminantes, foi utilizado o método stepwise, que insere as
variáveis uma a uma, obtendo resultados mais conservadores, pois reduzem o
impacto de eventuais problemas de multicolinearidade das variáveis independentes
na função discriminante. A medida estatística utilizada no método citado foi o
Mahalanobis D2, baseado na “distância Euclidiana quadrada”, que ajusta as
variâncias desiguais.
Sobre as premissas da análise, o teste de igualdade das médias grupais mostrou
lambdas de Wilks relativamente altos, embora algumas variáveis tenham mostrado
diferenças estatisticamente significativas (para a tabela deste teste, vide o Apêndice
F). O teste de igualdade de M de Box apresentou um resultado que rejeita a
hipótese de igualdade das matrizes de covariância das variáveis independentes,
conforme exposto na Tabela 65 a seguir. Assim sendo, será realizada uma
regressão logística a fim de confirmar os resultados obtidos nesta análise
discriminante, como sugerido por Hair et al. (1998).
Tabela 65 - Teste de igualdade das matrizes de covariância das variáveis P1 a P45
M de Box
F
Aprox.
gl1
gl2
Sig.
32,245
1,411
21
13097,078
,000
Em seguida, é apresentado o autovalor da função discriminante obtida, que é uma
medida do quanto ela realmente diferencia os dois grupos (Tabela 66). É
apresentado também um teste do lambda de Wilks, cuja hipótese nula é que,
considerando todas as variáveis independentes simultaneamente, não há diferença
significativa entre os grupos (Tabela 67). Outras informações sobre a análise estão
disponíveis no Apêndice F.
192
Tabela 66 – Autovalor da função discriminante
Função
Autovalor
1
0,479
% da
Variância
100,0
Correlação
canônica
0,569
% Acumulado
100,0
Tabela 67 – Lambda de Wilks
Teste da função
1
Lambda
de Wilks
0,676
Quiquadrado
38,340
gl
Sig.
6
0,000
A análise discriminante mostra um resultado cuja função se baseia em apenas seis
variáveis, com alto poder de explicação. São as variáveis P5, P6, P14, P16, P23 e
P40, com coeficientes discriminantes de, respectivamente, -0,609, 0,543, 0,415,
-0,587, 0,485 e 0,453.
a
Tabela 68 – Matriz de confusão – 45 variáveis
Classificação
Original
Classificação Prevista
Não
Radical
Radical
Contagem Não Radicais
68
4
Radicais
15
16
%
Não Radicais
94,4
5,6
Radicais
48,4
51,6
a. 81,6% dos casos foram corretamente classificados.
Total
72
31
100,0
100,0
A função discriminante resultante consegue classificar as observações com boa
precisão, de 81,6% no total (vide Tabela 68). Comparando com as probabilidades
calculadas previamente em função dos tamanhos dos grupos, de 30,1% de ser
classificado como uma inovadora radical e de 69,9% de ser classificado como uma
não radical, o modelo chega, respectivamente, a 51,6% e 94,4%.
Quando avaliado pelo método que entra com todas variáveis simultaneamente, a
precisão do modelo chega a 87,1% de acerto na classificação das inovadoras
radicais e de 93,1% nas não radicais, totalizando um acerto global de 91,3%.
Quando utilizamos as 20 variáveis compostas, formadas pelas médias aritméticas
das variáveis P1 a P45, conforme o fator correspondente (vide Quadros 12 e 13),
obtemos resultados bastante distintos dos anteriores. As variáveis que explicam a
função são a P27-30 (liderança) e a P45 (percepção da demanda), guardando pouca
semelhança com o resultado anterior, a partir das variáveis isoladamente. A Tabela
193
69 a seguir mostra também que a precisão do modelo com 20 fatores é
relativamente baixa.
a
Tabela 69 – Matriz de confusão – 20 fatores
Classificação
Original
Classificação Prevista
Não
Radicais
radicais
Contagem Não radicais
67
5
Radicais
28
3
%
Não radicais
93,1
6,9
Radicais
90,3
9,7
a. 68,0% dos casos foram corretamente classificados.
Total
72
31
100,0
100,0
O modelo tem precisão de 68,0%, acertando 93,1% dos casos de não radicais e
apenas 9,7% dos casos de radicais. Outras informações sobre a análise estão
disponíveis no Apêndice G.
6.3.4.1 Regressão Logística
Tendo em vista que não se pôde assegurar a normalidade das variáveis, optou-se
por realizar uma regressão logística, de forma a dar maior confiabilidade aos
resultados da análise discriminante.
A regressão logística não se baseia nas mesmas premissas da análise
discriminante. É uma técnica mais robusta e, portanto, menos sujeita a violações das
premissas, principalmente as relacionadas à normalidade multivariada e de
igualdade das matrizes variância-covariância.
A variável dependente continua sendo a categoria da empresa, se radical ou não,
assim como as variáveis independentes. O método utilizado foi o stepwise (forward),
que, em sucessivas iterações, acrescenta as variáveis uma a uma.
O modelo chegou a variáveis coincidentes às apontadas na análise discriminante
(P5, P6, P14, P16, P23 e P40).
As estatísticas-teste foram: os testes dos coeficientes do modelo; a variação do valor
de -2LL (valor do logaritmo da verossimilhança), que apresenta a probabilidade de
194
que o modelo seja uma boa representação dos dados; o pseudo R2, que mede a
variabilidade explicada pelo modelo, analogamente ao R2 da regressão linear,
medidos pelas estatísticas de Cox & Snell e de Nagelkerke; e a estatística de
Hosmer & Lemeshow, que mede a correspondência entre os valores previstos e os
reais para a variável dependente. A Tabela 70 traz as estatísticas citadas.
Tabela 70 – Estatísticas-teste da regressão logística
Teste dos Coeficientes
do Modelo
Quigl
Sig.
quadrado
37,479
6
0,000
2
-2LL
Pseudo
2
R
R de
Cox &
Snell
R de
Nagelkerke
88,528
0,441
0,305
0,432
2
Teste de Homer e
Lemeshow
Quigl
Sig.
quadrado
6,595
8
0,581
O teste dos coeficientes do modelo verifica se tais coeficientes são estatisticamente
diferentes de zero. No caso, o modelo passa neste teste. No modelo de 7 variáveis,
houve redução do valor -2LL, enquanto o teste de Homer e Lemeshow mostrou não
significância, ou seja, que não há diferenças entre os valores observados e
previstos.
a
Tabela 71 – Tabela de Classificação
Classificação
Original
Contagem
%
Não radicais
Radicais
Não radicais
Radicais
Classificação Prevista
Não
Radicais
radicais
67
5
14
17
93,1
6,9
45,2
54,8
Total
72
31
100,0
100,0
a. 81,6% dos casos foram corretamente classificados.
O percentual obtido, de 81,6% (vide Tabela 71), é bom se comparado ao valor
esperado de 69,9%, caso houvesse uma classificação aleatória dos casos. É, por
coincidência, igual ao valor obtido na análise discriminante.
Detalhes sobre os resultados obtidos constam do Apêndice H.
6.3.4.2 Síntese da análise discriminante e da regressão logística
Tanto a análise discriminante, quanto a regressão logística, resultaram em fatores
semelhantes como representativos da diferença entre inovadoras radicais e não
195
radicais.
As
variáveis
produtiva/fornecedores),
P5
P6
(nível
(nível
de
de
desenvolvimento
desenvolvimento
da
cadeia
da
cadeia
produtiva/concorrentes), P14 (acesso a informações de mercado), P16 (costumes),
P23 (setor/diversificação) e P40 (cultura e valores/assunção de riscos) apareceram
em algumas das análises, contribuindo para um alto acerto na previsão da categoria
do respondente.
A Tabela 72 sintetiza as matrizes de classificação das análises discriminantes e da
regressão logística, mostrando os percentuais de explicação obtidos em cada
análise e as variáveis selecionadas.
Tabela 72 – Confronto dos resultados obtidos com a análise discriminante e a regressão logística
Previsão
inicial
% de acerto das
radicais
% de acerto das
não radicais
% de acerto
geral
Variáveis
selecionadas
Regressão
Logística
Analise Discriminante
Com 45 variáveis
(método Enter)
Com 45
variáveis
(método
Stepwise)
Com 20
variáveis
compostas
(método
Stepwise)
Com 45
variáveis
(método
Stepwise)
30,1%
87,1%
51,6%
9,7%
54,8%
69,9%
93,1%
94,4%
93,1%
93,1%
57,9%
91,3%
81,6%
68,0%
81,6%
---
Todas
P5, P6, P14,
P16, P23 e
P40
P27-30 e P45
P5, P6, P14,
P16, P23 e P40
Percebe-se que o pior resultado está justamente quando se agrupa as variáveis
segundo os fatores observados no referencial bibliográfico. Em função disso, optouse por realizar uma análise fatorial a fim de testar o agrupamento proposto na
bibliografia consultada.
6.3.5 Análise Fatorial
Foi realizada uma análise das variáveis, tanto externas quanto internas às
empresas, a fim de verificar se as variáveis identificadas durante a revisão
bibliográfica são adequadamente representadas pelos fatores sugeridos. Para este
caso, a análise fatorial, em que um dos objetivos é justamente a redução do número
196
de variáveis e outro é a verificação dos agrupamentos sugeridos inicialmente, foi
considerada a técnica mais adequada.
A análise fatorial é uma técnica que verifica a interdependência das variáveis, a fim
de definir uma estrutura entre elas. É ideal quando se tem um número elevado de
variáveis, em que se pode supor uma correlação entre algumas delas. As variáveis
são agrupadas e transformadas em fatores, cujas componentes são altamente
interrelacionadas.
A recomendação de tamanho de amostra é que ela não tenha menos de 50
observações, sendo preferível mais de 100. No caso da presente pesquisa, são 103
casos. O método de extração das variáveis utilizado foi o de Componentes
Principais, mais adequado aos objetivos desta análise, e o de rotação dos fatores foi
o Varimax, que é considerado superior para se atingir uma estrutura de fatores
simplificada (HAIR et al., 1998).
Como sugerido por Hair et al. (1998), as Medidas de Adequação da Amostra (MSA,
na sigla em inglês) de cada uma das variáveis deveria ser maior que 0,50, sendo
que valores inferiores foram retirados da amostra, um a um, começando pelo menor.
As variáveis retiradas nesta etapa foram, em ordem: P26 (0,286), P31 (0,313), P24
(0,364), P13 (0,391), P45 (0,384), P14 (0,370), P7 (0,362), P4 (0,406), P21 (0,399) e
P36 (0,488).
Em seguida, foram analisadas as comunalidades das variáveis. Nenhuma das
comunalidades era inferior a 0,500. Variavam entre 0,569 e 0,846.
A análise resultou em dez fatores com autovalores maiores que um, sendo que oito
deles totalizavam cargas fatoriais maiores que 60%. Assim sendo, restringimos o
número de fatores a oito. Com a restrição, excluímos as variáveis P23 e P8 por
apresentarem baixas comunalidades, respectivamente de 0,356 e 0,479. As cargas
fatoriais foram recalculadas, sendo imposta nova restrição para sete fatores. Foram
excluídas, por baixa comunalidade, as variáveis P15 (0,413), P2 (0,468) e P6
(0,468).
197
O resultado da Medida de Adequação da Amostra (MSA) de Kaiser-Meyer-Olkin
apresentava um valor acima de 0,500 e do teste de Bartlett, abaixo de 0,05 (vide
Tabela 73).
Tabela 73 – KMO e Teste de Bartlett
Medida de Adequação da Amostra (MSA) de Kaiser-MeyerOlkin
Qui-quadrado aprox.
Teste de Esfericidade de
gl
Bartlett
Sig.
0,756
1556,411
435
0,000
O resultado da Análise Fatorial, composta de 7 fatores derivados das 30 variáveis
remanescentes, é apresentado a seguir, na Tabela 74. Outros dados sobre a análise
fatorial podem ser encontrados no Apêndice I.
Tabela 74 – Matriz de componentes rotacionada
1
0,817
0,722
0,634
0,624
0,585
0,492
2
3
Componente
4
P39
P29
P40
P41
P43
P32
P37
0,776
P35
0,756
P30
0,714
P34
0,540
P33
0,530
P38
0,478
P9
0,823
P10
0,746
P11
0,712
P1
0,704
P17
0,684
P3
0,670
P19
0,750
P18
0,589
P20
0,572
P16
0,463
P5
0,435
0,440
P42
P28
P22
P25
P12
0,403
P27
0,409
P44
0,487
Método de extração: Análise dos componentes principais
Método de rotação: Varimax com normalização Kaiser
Rotação convergiu em 16 iterações.
Apresentadas apenas as cargas fatoriais maiores que 0,40.
5
6
-0,447
7
0,421
0,421
0,777
0,611
0,569
0,440
-0,808
0,518
0,712
0,611
198
Os 7 fatores explicam 65,5% da variância total da amostra e serão utilizados como
substitutos dos fatores iniciais. Tendo em vista que o método Varimax, utilizado na
análise, produz componentes ortogonais, garante-se, portanto, que não haja
interdependência das variáveis.
Os novos fatores são apresentados na Tabela 75 e sua validade é testada. Percebese que, para os todos os fatores, qualquer item retirado resulta em um Alfa de
Cronbach menor ou igual, o que indica que há consistência interna dos fatores.
Tabela 75 – Novos fatores
Novo
Fator
F1
F2
F3
F4
F5
F6
F7
Componentes
P1 – Legislação
P3 – Disponibilidade de financiamento
P9 - MCT e agências
P10 – ICT’s públicas
P11 – Incentivos públicos
P17 – Redes/universidades
P29 – Liderança/Comunicação
P32 – Processos/Acompanhamento
P39 – Pessoas/Transf.Conhecimentos
P40 – Cultura/Assunção de riscos
P41 – Cultura/Compreensão da
estratégia
P43 – Cultura/Encorajamento
P30 – Liderança/Alocação de
funcionários
P33 – Processos/Eficiência
P34 – Processos/Facilidade
P35 – Processos/Disponibilidade
P37 – Pessoas/Espaço
P38 – Pessoas/Reconhecimento
P5 – Cadeia/Fornecedores
P16 – Cultura/Costumes
P18 – Redes/Assoc.comerciais
P19 – Redes/Pessoais
P20 – Redes/Concorrência
P12 – Localização*
P25 – Governança/sociedade
P22 – Condições de fundação
P28 – Liderança/avaliação
P42 – Cultura/Reconhecimento
P27 – Liderança/ação
P44 – Alocação de recursos financeiros
* variável com escala invertida.
Descrição
Alfa de
Cronbach
baseado nos
itens
padronizados
Foco nos
incentivos
públicos
0,833
Foco na
comunicação
0,851
Alfa de
Cronbach
se o item
for retirado
0,833
0,810
0,784
0,804
0,794
0,809
0,821
0,843
0,793
0,821
0,819
0,825
0,777
Foco na
eficiência
0,827
Foco nas redes
de
relacionamento
0,613
Foco em fatores
estruturais
0,426
Foco na
imagem
0,598
Foco em
recursos
0,666
0,798
0,830
0,772
0,780
0,818
0,556
0,602
0,478
0,506
0,543
n/a
n/a
0,557
0,463
0,438
n/a
n/a
199
Dos novos fatores, F1, F2, F3, F4 e F7 representam de forma adequada suas
componentes, tendo em vista que o Alfa de Cronbach situou-se acima de 0,60. Os
demais fatores, F5 e F6, ficaram bastante próximos do valor-limite.
Ao verificar a normalidade dos fatores F1 a F7, conclui-se que se pode considerar
como aproximadamente normais os fatores F2, F4 e F7. A Tabela 76 traz as
análises estatísticas que subsidiaram a afirmação.
Tabela 76 – Análise de normalidade dos novos fatores
Fator
F1
F2
F3
F4
F5
F6
F7
(N=103)
Média
D.P.
Assimetria
Curtose
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
0,402
-0,503
-1,555
-0,246
-0,675
-1,365
-0,564
-0,733
-0,396
3,418
-0,566
0,386
3,246
1,426
KolmogorovSmirnov
Est.
Sig.
0,098
0,016
0,083
0,079
0,141
0,000
0,061
0,200
0,097
0,018
0,109
0,004
0,053
0,200
Shapiro-Wilk
Est.
0,961
0,964
0,882
0,984
0,964
0,911
0,977
Sig.
0,004
0,007
0,000
0,266
0,006
0,000
0,070
A reorganização das variáveis pelos fatores, de forma razoavelmente diferente da
proposta inicialmente nesta pesquisa, era esperada, tendo em vista que a
bibliografia levantada não traz os fatores construídos de forma exata. Os autores
listados na revisão bibliográfica, na maior parte das vezes, focam as variáveis, não
os fatores. Assim sendo, a reorganização das variáveis constitui já um resultado,
embora parcial, da pesquisa. Sugere-se, para pesquisas futuras, que os novos
fatores sejam testados junto a uma amostra que contenha empresas não
inovadoras.
Por fim, é importante frisar que os escores resultantes da análise fatorial serão
utilizados como variáveis nas etapas seguintes, em especial na análise
discriminante, e visam a reforçar a análise a partir das variáveis isoladas, dado que
consideram eventuais correlações.
200
6.3.5.1 Análise discriminante a partir dos fatores
A variável dependente utilizada é o perfil da empresa (inovadora radical ou não), ou
seja, uma variável categórica, e as variáveis independentes são os sete fatores
obtidos a partir da Análise Fatorial.
Recomenda-se que haja ao menos 5 observações por variável independente (HAIR
et al., 1998), ou seja, 35 observações. A pesquisa obteve 103 observações.
Para as análises discriminantes, foi utilizado o método stepwise, que insere as
variáveis uma a uma, obtendo resultados mais conservadores, pois reduzem o
impacto de eventuais problemas de multicolinearidade das variáveis independentes
na função discriminante. Para as medidas utilizadas no método citado, foi utilizado o
Mahalanobis D2.
Sobre as premissas da análise, o teste de igualdade das médias grupais mostrou
lambdas de Wilks relativamente altos. O teste de igualdade de M de Box apresentou
um resultado que não rejeita a hipótese de igualdade das matrizes de covariância
das variáveis independentes, conforme exposto na Tabela 77 a seguir. Ainda assim,
será realizada uma regressão logística a fim de confirmar os resultados obtidos
nesta análise discriminante, como sugerido por Hair et al. (1998).
Tabela 77 - Teste de igualdade das matrizes de covariância dos fatores F1 a F7
M de Box
F
Aprox.
gl1
gl2
Sig.
0,539
0,532
1
19182,757
0,466
Em seguida, é apresentado o autovalor da função discriminante obtida, que é uma
medida do quanto ela realmente diferencia os dois grupos (Tabela 78). É
apresentado também um teste do lambda de Wilks, cuja hipótese nula é que,
considerando todas as variáveis independentes simultaneamente, não há diferença
significativa entre os grupos (Tabela 79).
201
Tabela 78 – Autovalor da função discriminante
Função
Autovalor
1
0,057
% da
Variância
100,0
Correlação
canônica
0,233
% Acumulado
100,0
Tabela 79 – Lambda de Wilks
Teste da função
1
Lambda
de Wilks
0,946
Quiquadrado
5,616
gl
Sig.
1
0,018
A análise discriminante mostra um resultado cuja função se baseia em um fator, o F2
(Foco na comunicação).
a
Tabela 80 – Matriz de confusão – 7 fatores
Classificação
Original
Classificação Prevista
Não
Radical
Radical
Contagem Não Radicais
71
1
Radicais
31
0
%
Não Radicais
98,6
1,4
Radicais
100,0
0,0
a. 68,9% dos casos foram corretamente classificados.
Total
72
31
100,0
100,0
A função discriminante resultante não consegue classificar as observações com boa
precisão, embora o percentual seja alto, de 68,9% no total (vide Tabela 80).
Comparando com as probabilidades calculadas previamente em função dos
tamanhos dos grupos, de 30,1% de ser classificado como uma inovadora radical e
de 69,9% de ser classificado como uma não radical, o modelo chega,
respectivamente, a 0,0% e 98,6%.
Quando avaliado pelo método que entra com todas variáveis simultaneamente, a
precisão do modelo chega a 93,1% de acerto na classificação das inovadoras
radicais e de 32,3% nas não radicais, totalizando um acerto global de 74,8%.
Outras informações sobre esta análise estão disponíveis no Apêndice J.
202
6.3.5.2 Regressão Logística
Tendo em vista que não se pôde assegurar a normalidade de todos os fatores,
optou-se por realizar uma regressão logística, de forma a dar maior confiabilidade
aos resultados da análise discriminante.
Como dito anteriormente, a regressão logística não se baseia nas mesmas
premissas da análise discriminante. É uma técnica mais robusta e, portanto, menos
sujeita a violações das premissas, principalmente as relacionadas à normalidade
multivariada e de igualdade das matrizes variância-covariância.
A variável dependente continua sendo a categoria da empresa, se radical ou não,
enquanto que as variáveis independentes são os fatores obtidos. O método utilizado
foi o Stepwise (forward).
As estatísticas-teste foram: os testes dos coeficientes do modelo; a variação do valor
de -2LL (valor do logaritmo da verossimilhança), que apresenta a probabilidade de
que o modelo seja uma boa representação dos dados; o pseudo R2, que mede a
variabilidade explicada pelo modelo, analogamente ao R2 da regressão linear,
medidos pelas estatísticas de Cox & Snell e de Nagelkerke; e a estatística de
Hosmer & Lemeshow, que mede a correspondência entre os valores previstos e os
reais para a variável dependente. A Tabela 81 traz as estatísticas citadas.
Tabela 81 – Estatísticas-teste da regressão logística
Teste dos Coeficientes
do Modelo
Quigl
Sig.
quadrado
5,961
1
0,015
2
-2LL
120,046
R de
Cox &
Snell
R de
Nagelkerke
0,056
0,080
2
Teste de Homer e Lemeshow
Quiquadrado
5,385
gl
Sig.
8
0,716
O teste dos coeficientes do modelo verifica se tais coeficientes são estatisticamente
diferentes de zero. No caso, o modelo passa neste teste. Houve redução do valor
-2LL, embora ele continue alto. Os R2 foram baixos, enquanto o teste de Homer e
Lemeshow mostrou significância, ou seja, que há diferenças entre os valores
observados e previstos.
203
O único fator selecionado na análise foi o F2, como na análise discriminante.
a
Tabela 82 – Tabela de Classificação
Classificação
Original
Contagem
%
Não Radicais
Radicais
Não Radicais
Radicais
Classificação Prevista
Não
Radical
Radical
71
1
31
0
98,6
1,4
100,0
0,0
Total
72
31
100,0
100,0
a. 68,9% dos casos foram corretamente classificados.
O percentual obtido, de 68,9% (vide Tabela 82), não é bom, ainda que comparado
ao valor esperado de 57,9%, caso houvesse uma classificação aleatória dos caso,
por conta do fracasso na classificação das radicais.
Detalhes sobre os resultados obtidos constam do Apêndice K.
6.3.5.3 Síntese da análise discriminante e da regressão logística
Tanto a análise discriminante, quanto a regressão logística, resultaram em
percentuais de acerto superiores à previsão inicial, indicando que os fatores podem
explicar a diferença entre os grupos.
A Tabela 83 sintetiza o resultado das análises realizadas, mostrando os percentuais
de explicação obtidos em cada análise e as variáveis selecionadas.
Tabela 83 – Confronto dos resultados obtidos com a análise discriminante e a regressão logística
Previsão
inicial
% de acerto das radicais
% de acerto das não radicais
% de acerto geral
Fatores selecionados
30,1%
69,9%
57,9%
---
Analise Discriminante
Com 7 fatores
(método
Enter)
32,3%
93,1%
74,8%
Todos
Com 7 fatores
(método
Stepwise)
0,0%
98,6%
68,9%
F2
Regressão
Logística
Com 7 fatores
(método
Stepwise)
0,0%
98,6%
68,9%
F2
204
6.3.6 Síntese do teste da hipótese geral HG1
HG1: Não há diferenças significativas entre os fatores que motivam a inovação
radical e a incremental nas empresas brasileiras.
Com o objetivo de testar a hipótese geral HG1, confrontamos os resultados obtidos a
partir das análises realizadas neste capítulo 6.3. O Quadro 14 apresenta as variáveis
significativas para cada um dos testes, com a direção de sua influência (positiva “+”
ou negativa “–“), quando cabível. Em seguida, são discutidos os resultados obtidos.
Quadro 14 – Quadro-resumo das análises para a inovação radical
Variável
P1
Legislação/Geral
P2
Legislação/Propriedade
intelectual
P3
Disponibilidade
financiamento
P4
Educação e treinamento
P5
Cadeia/Fornecedores
P6
Cadeia/Concorrência
P7
Cadeia/Clientes
P8
Governo/Licitações
P9
Governo/MCT e agências
P10
Governo/ICT’s públicas
P11
Governo/Incentivos
P12
Localização
P13
Informações técnicas
P14
Informações de mercado
P15
Cultura
P16
Costumes
Anova
Análise
Discriminante
(45 variáveis)
Análise
Discriminante
(20 fatores)
Regressão
Logística
(45
variáveis)
de
–
–
+
+
+
+
–
–
Regressão
Logística
(7 fatores)
205
Variável
P17
Redes/Universidades
P18
Redes/Associações
comerciais
P19
Redes/Pessoas
P20
Redes/Concorrência
P21
Legitimidade
P22
Condições de fundação
P23
Setor/Diversificação
P24
Setor
P25
Governança/Formato
da
sociedade
P26
Governança/Profissionalização
da gestão
P27
Liderança/Ação da direção
P28
Liderança/Avaliação
da
direção
P29
Liderança/Comunicação
P30
Liderança/Alocação
de
funcionários
P31
Organização interna
P32
Processos/Acompanhamento
P33
Processos/Eficiência
P34
Processos/Facilidade de uso
P35
Processos/Disponibilidade
P36
Pessoas/Treinamento
em
criatividade
P37
Pessoas/Financiamento,
espaço e tempo
P38
Pessoas/Reconhecimento
e
recompensa
P39
Pessoas/Transferência
de
conhecimentos
Anova
Análise
Discriminante
(45 variáveis)
Análise
Discriminante
(20 fatores)
Regressão
Logística
(45
variáveis)
Regressão
Logística
(7 fatores)
+
+
+
+
+
+
+
+
+
206
Variável
P40
Cultura/Assunção de riscos
P41
Cultura/Compreensão
da
estratégia
P42
Cultura/Reconhecimento pelo
mercado
P43
Cultura/Encorajamento
dos
funcionários
P44
Alocação
de
recursos
financeiros
P45
Percepção da demanda
Anova
Análise
Discriminante
(45 variáveis)
Análise
Discriminante
(20 fatores)
+
Regressão
Logística
(45
variáveis)
+
Regressão
Logística
(7 fatores)
+
+
+
+
Há uma variável que aparece em quatro dos cinco testes estatísticos, contribuindo
de forma positiva para um perfil inovador radical: a P40 (cultura e valores/assunção
de riscos).
Há ainda cinco variáveis que aparecem em três das análises. São as variáveis P5
(nível de desenvolvimento da cadeia produtiva/fornecedores), P6 (nível de
desenvolvimento da cadeia produtiva/concorrência), P14 (acesso a informações de
mercado), P23 (setor/diversificação) e P29 (liderança/comunicação).
Dentre elas, a variável P5 aparece consistentemente com coeficientes negativos nas
análises, o que significa que sua contribuição para a explicação dos grupos de
inovadoras radicais e não radicais ocorre de forma inversamente proporcional.
Este primeiro ponto, relacionado à variável P5, é interessante, pois sugere que a
ação de fornecedores leva a um desenvolvimento mais incremental. De certa forma,
a inovação radical pode gerar um impacto sobre a cadeia de fornecedores, como
mencionamos na revisão bibliográfica (AFUAH; BAHRAM, 1995). Portanto, é natural
que os fornecedores vejam a inovação radical como uma ameaça. Alterações
radicais na empresa-cliente podem alijar o fornecedor do negócio. Por exemplo: se
substituo as janelas de vidro por acrílico, os fabricantes de vidro perdem um cliente.
207
Não surpreendente, uma cultura que estimule a assunção de riscos leva a resultados
mais radicais, como traduz a forte presença da variável P40. Da mesma forma, um
pensamento mais amplo, menos restrito ao setor cativo da empresa, como mede a
variável P23, e uma liderança que se comunique bem (variável P29) também
favorecem a inovação radical.
Por fim, aparece a variável P6, que denota uma preocupação com o ambiente
concorrencial, e a variável P14, relacionada à disponibilidade de informações de
mercado.
Portanto, tendo em vista que há algumas variáveis que distinguem as empresas com
inovações radicais das demais inovadoras, podemos rejeitar a hipótese geral HG1.
6.4 TESTE DA HIPÓTESE HG2 – INOVAÇÃO CONTÍNUA
De forma análoga ao exposto no capítulo 6.3, para o teste da hipótese geral HG2,
foram verificadas cada uma de suas hipóteses derivadas, H2.1 a H2.20. Foram
realizadas quatro análises multivariadas.
Inicialmente, foi realizada uma análise de variância. Seu objetivo é entender que
variáveis apresentam diferenças significativas entre os grupos de inovadoras
persistentes e ocasionais.
Em seguida, foi realizada uma análise discriminante, a fim de confirmar os achados
na análise de variância e medir a importância de cada variável para a composição do
perfil. Como a premissa de normalidade das variáveis não foi atendida, conforme se
verifica na seção 6.3.2 – que também se aplica aqui, pois as variáveis não mudam –,
seguindo recomendação de Hair et al. (1998), foi realizada uma regressão logística
para fins de confirmação dos resultados da análise discriminante.
Por fim, foram utilizados os fatores gerados na análise fatorial, com o objetivo de
entender se os fatores inicialmente propostos na teoria são válidos também para a
208
amostra selecionada. A partir dos fatores construídos, foram refeitas a análise
discriminante e a regressão logística.
Todos os testes estatísticos, foram realizados com auxílio do software SPSS –
Statistical Package for Social Sciences, versão 15.0.
6.4.1 Análise descritiva
A partir da divisão realizada no item 6.2.9, que repartiu os respondentes em
inovadoras persistentes ou ocasionais, foram avaliados alguns dados preliminares
sobre os grupos, a fim de melhor caracterizá-los. Foram avaliados o porte, a
distribuição regional, o tipo de inovação, o setor, o histórico de incubação e o ano de
fundação.
Quanto ao porte, as inovadoras persistentes possuem um porte maior que as
ocasionais, sendo que as grandes empresas respondem por quase metade do grupo
de inovadoras persistentes. A Figura 23 mostra a distribuição pelo porte, conforme a
classificação do Sebrae (2008).
Ocasional
Persistente
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Micro
Pequena
Média
Grande
Figura 23 – Distribuição de porte do grupo de inovadoras persistentes e ocasionais
Quanto à região geográfica, as respostas decorrentes de inovadoras persistentes e
das ocasionais eram bastante similares, com uma concentração nas Regiões
Sudeste e Sul. A Figura 24 mostra essa distribuição geográfica.
209
Ocasional
Persistente
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
N
NE
CO
SE
S
Figura 24 – Distribuição geográfica do grupo de inovadoras persistentes e ocasionais
Os resultados para o tipo de inovação, de produto ou de processo, foram
extremamente semelhantes entre os grupos, como se pode ver na Figura 25.
Ocasional
Persistente
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Produto
Processo
Figura 25 – Tipo de inovação do grupo de empresas inovadoras persistentes e ocasionais
Quanto aos setores, há também uma concentração similar pelos setores, com
exceção do setor químico, em que as inovadoras persistentes estão mais presentes.
A Figura 26 mostra essa distribuição.
210
Ocasional
Persistente
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Software e
Equipam entos
telecom unicações eletro-eletrônicos
e componentes
Metal-m ecânico,
autom otivo e
m áquinas
agrícolas
Química,
farm acêutica e
papel e celulose
Outros
Obs: alguns setores foram agrupados na categoria “Outros” para preservar a identidade dos respondentes.
Figura 26 – Distribuição setorial das inovadoras persistentes e ocasionais
Algumas empresas afirmaram ter passado por um processo de incubação no
passado. O percentual de inovadoras persistentes que passaram por uma
incubadora de empresas era praticamente idêntico ao das ocasionais, como se
verifica na Figura 27.
Ocasional
Persistente
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Incubada
Não incubada
Figura 27 – Histórico de incubação das empresas inovadoras persistentes e ocasionais
O ano de fundação também foi alvo de comparação entre as duas categorias de
empresas, com resultados distintos, como se vê na Figura 28. Verifica-se que as
empresas inovadoras ocasionais são, em média, mais novas que as persistentes.
211
Ocasional
Persistente
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
2001~2010
1991~2000
1981~1990
Antes de 1981
Figura 28 – Ano de fundação das empresas inovadoras persistentes e ocasionais
6.4.2 Análise de variância
Cada uma das variáveis levantadas anteriormente foi testada, a fim de identificar
diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de empresas inovadoras
persistentes e ocasionais. A metodologia utilizada é análoga à da seção 6.3.3, sendo
que detalhes sobre as variáveis também estão disponíveis naquela seção.
Os testes de normalidade das variáveis foram relatados anteriormente, na Seção
6.3.2. O teste utilizado foi a Anova, que é considerado um teste robusto quanto a
violação de premissas como a normalidade das variáveis (Hair et al., 1998). Na
Anova, o teste estatístico toma como hipótese nula de que não há diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos.
Legislação
Tabela 84 – Teste de homoscedasticidade de P1 e P2
Variável
Estatística de
Levene
2,342
1,896
P1
P2
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
120
120
0,129
0,171
84,
ambas
as
variáveis
apresentam
homoscedasticidade, ou seja, a matriz variância-covariância é homogênea entre os
212
dois grupos (inovadoras persistentes e ocasionais), o que é uma das premissas para
a utilização do Anova. A seguir, a Tabela 85 mostra os resultados do teste para as
duas variáveis.
Tabela 85 – Teste Anova para as variáveis P1 e P2
Variável
P1
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
P2
N
Média
66
56
122
66
56
122
2,39
2,13
2,27
2,92
2,82
2,88
Desviopadrão
1,538
1,402
1,477
1,522
1,630
1,567
F
Sig.
1,004
0,318
0,129
0,720
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas
entre
inovadoras
persistentes
e
ocasionais,
indicando
que,
provavelmente, o fator legislação impacta as inovadoras de forma homogênea. Não
é possível rejeitar a hipótese nula.
Disponibilidade de Financiamento
Tabela 86 – Teste de homoscedasticidade de P3
Variável
Estatística de
Levene
4,003
P3
gl1
gl2
Sig.
1
120
0,048
Conforme se verifica na Tabela 86, a variável não apresenta homoscedasticidade, o
que fere uma das premissas do teste Anova. Assim sendo, não é possível rejeitar a
hipótese nula.
Tabela 87 – Teste Anova para a variável P3
Variável
P3
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
66
56
122
2,76
2,27
2,53
Desviopadrão
1,599
1,421
1,533
F
Sig.
3,146
0,079
213
Educação e Treinamento
Tabela 88 – Teste de homoscedasticidade de P4
Variável
Estatística de
Levene
7,384
P4
gl1
gl2
Sig.
1
120
0,008
Conforme se verifica na Tabela 88, a variável não apresenta homoscedasticidade, o
que fere uma das premissas do teste Anova. Assim sendo, não é possível rejeitar a
hipótese nula.
Tabela 89 – Teste Anova para a variável P4
Variável
P4
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
66
56
122
3,68
4,09
3,87
Desviopadrão
1,394
1,149
1,298
F
Sig.
3,035
0,084
Nível de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva
Tabela 90 – Teste de homoscedasticidade de P5, P6 e P7
Variável
P5
P6
P7
Estatística de
Levene
1,763
0,157
0,113
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
120
120
120
0,187
0,693
0,737
Conforme se verifica na Tabela 90, as variáveis apresentam homoscedasticidade. A
seguir, a Tabela 91 mostra os resultados do teste para as três variáveis.
Tabela 91 – Teste Anova para as variáveis P5, P6 e P7
Variável
P5
P6
P7
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
66
56
122
66
56
122
66
56
122
2,56
2,75
2,65
2,47
2,45
2,46
4,24
3,93
4,10
Desviopadrão
1,426
1,325
1,378
1,427
1,387
1,403
1,138
1,126
1,138
F
Sig.
0,570
0,452
0,008
0,928
2,328
0,130
214
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras persistentes e ocasionais, exceto quanto à variável
P7, porém a um nível de significância de 15%. No entanto, provavelmente, o fator
cadeia produtiva impacta as inovadoras de forma homogênea. Neste primeiro
momento, não é possível rejeitar a hipótese nula.
Governo
Tabela 92 – Teste de homoscedasticidade de P8, P9, P10 e P11
Variável
P8
P9
P10
P11
Estatística de
Levene
9,066
0,702
2,570
0,236
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
120
120
120
120
0,003
0,404
0,112
0,628
Conforme se verifica na Tabela 92, as variáveis P9, P10 e P11 apresentam
homoscedasticidade. A seguir, a Tabela 93 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 93 – Teste Anova para as variáveis P8, P9, P10 e P11
Variável
P8
P9
P10
P11
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
66
56
122
66
56
122
66
56
122
66
56
122
1,83
1,59
1,72
2,48
2,38
2,43
2,36
2,43
2,39
2,18
2,27
2,22
Desviopadrão
1,260
0,890
1,108
1,581
1,484
1,532
1,546
1,386
1,469
1,508
1,495
1,497
F
Sig.
1,476
0,227
0,155
0,695
0,059
0,809
0,099
0,753
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras persistentes e ocasionais, sugerindo que o fator
governo tenha impacto sobre as inovadoras de forma homogênea. Não é possível
rejeitar a hipótese nula.
215
Localização.
Tabela 94 – Teste de homoscedasticidade de P12
Variável
Estatística de
Levene
8,609
P12
gl1
gl2
Sig.
1
120
0,004
Conforme se verifica na Tabela 94, a variável não apresenta homoscedasticidade, o
que fere uma das premissas do teste Anova. Assim sendo, não é possível rejeitar a
hipótese nula.
Tabela 95 – Teste Anova para a variável P12
Variável
P12
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
66
56
122
2,42
2,32
2,38
Desviopadrão
1,530
1,237
1,399
F
Sig.
0,163
0,687
Acesso a Informações Científicas e Tecnológicas
Tabela 96 – Teste de homoscedasticidade de P13 e P14
Variável
Estatística de
Levene
3,848
0,428
P13
P14
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
120
120
0,052
0,514
96,
ambas
as
variáveis
apresentam
homoscedasticidade. A seguir, a Tabela 97 mostra os resultados do teste para as
duas variáveis.
Tabela 97 – Teste Anova para as variáveis P13 e P14
Variável
P13
P14
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
66
56
122
66
56
122
3,03
2,96
3,00
2,98
3,25
3,11
Desviopadrão
1,336
1,111
1,233
1,324
1,225
1,291
F
Sig.
0,086
0,770
1,281
0,260
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas
entre
inovadoras
persistentes
e
ocasionais,
indicando
que,
216
provavelmente, o fator informações impacta as inovadoras de forma homogênea.
Não é possível rejeitar a hipótese nula.
Cultura e Costumes Nacionais
Tabela 98 – Teste de homoscedasticidade de P15 e P16
Variável
Estatística de
Levene
0,693
0,064
P15
P16
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
101
120
0,407
0,800
98,
ambas
as
variáveis
apresentam
homoscedasticidade. A seguir, a Tabela 99 mostra os resultados do teste para as
duas variáveis.
Tabela 99 – Teste Anova para as variáveis P15 e P16
Variável
P15
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
P16
N
Média
56
47
103
66
56
122
2,63
2,77
2,69
3,11
3,16
3,13
Desviopadrão
1,259
1,289
1,268
1,426
1,411
1,414
F
Sig.
0,314
0,577
0,045
0,833
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas
entre
inovadoras
persistentes
e
ocasionais,
indicando
que,
provavelmente, o fator cultura e costumes impacta as inovadoras de forma
homogênea. Não é possível rejeitar a hipótese nula.
Redes de Relacionamento
Tabela 100 – Teste de homoscedasticidade de P17, P18, P19 e P20
Variável
P17
P18
P19
P20
Estatística de
Levene
5,243
3,295
0,113
12,877
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
120
120
120
120
0,024
0,072
0,737
0,000
217
Conforme se verifica na Tabela 100, as variáveis P17 e P20 apresentam
heteroscedasticidade. A seguir, a Tabela 101 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 101 – Teste Anova para as variáveis P17, P18, P19 e P20
Variável
P17
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
P18
P19
P20
N
Média
66
56
122
66
56
122
66
56
122
66
56
122
2,59
2,46
2,53
2,20
2,05
2,13
3,88
3,52
3,71
1,50
1,27
1,39
Desviopadrão
1,509
1,307
1,415
1,406
1,271
1,342
1,234
1,236
1,243
0,949
0,556
0,798
F
Sig.
0,241
0,624
0,344
0,559
2,588
0,110
2,595
0,110
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras persistentes e ocasionais (exceto para a variável P19,
porém a um nível de significância de 15%), indicando que, provavelmente, o fator
redes de relacionamento impacta as inovadoras de forma homogênea. Não é
possível rejeitar a hipótese nula.
Legitimidade
Tabela 102 – Teste de homoscedasticidade de P21
Variável
P21
Estatística de
Levene
4,549
gl1
gl2
Sig.
1
101
0,035
Conforme se verifica na Tabela 102, a variável não apresenta homoscedasticidade,
o que fere uma das premissas do teste Anova. Assim sendo, não é possível rejeitar
a hipótese nula.
218
Tabela 103 – Teste Anova para a variável P21
Variável
P21
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
56
47
103
2,70
3,02
2,84
Desviopadrão
1,190
1,011
1,118
F
Sig.
2,182
0,143
Condições de Fundação
Tabela 104 – Teste de homoscedasticidade de P22
Variável
Estatística de
Levene
0,089
P22
gl1
gl2
Sig.
1
101
0,766
Conforme se verifica na Tabela 104, a variável não apresenta heteroscedasticidade.
A seguir, a Tabela 105 mostra os resultados do teste.
Tabela 105 – Teste Anova para a variável P22
Variável
P22
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
56
47
103
2,61
2,53
2,57
Desviopadrão
1,201
1,266
1,226
F
Sig.
0,095
0,758
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas
entre
inovadoras
persistentes
e
ocasionais,
indicando
que,
provavelmente, o fator condições de fundação impacta as inovadoras de forma
homogênea. Não é possível rejeitar a hipótese nula.
Setor
Tabela 106 – Teste de homoscedasticidade de P23 e P24
Variável
P23
P24
Estatística de
Levene
6,173
1,474
gl1
gl2
Sig.
1
1
101
101
0,015
0,228
Conforme se verifica na Tabela 106, a variável apresentam heteroscedasticidade. A
seguir, a Tabela 107 mostra os resultados do teste para as duas variáveis.
219
Tabela 107 – Teste Anova para as variáveis P23 e P24
Variável
P23
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
P24
N
Média
56
47
103
56
47
103
3,20
2,74
2,99
1,80
2,04
1,91
Desviopadrão
1,271
0,966
1,159
1,313
1,532
1,415
F
Sig.
3,997
0,048
0,727
0,396
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas
entre
inovadoras
persistentes
e
ocasionais,
indicando
que,
provavelmente, o fator setor impacta as inovadoras de forma homogênea. Não é
possível rejeitar a hipótese nula.
Governança
Tabela 108 – Teste de homoscedasticidade de P25 e P26
Variável
Estatística de
Levene
16,525
0,117
P25
P26
gl1
gl2
Sig.
1
1
120
101
0,000
0,733
Conforme se verifica na Tabela 108, a variável P25 apresenta heteroscedasticidade.
A seguir, a Tabela 109 mostra os resultados do teste para as duas variáveis.
Tabela 109 – Teste Anova para as variáveis P25 e P26
Variável
P25
P26
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
66
56
122
56
47
103
1,91
2,64
2,25
3,50
3,45
3,48
Desviopadrão
1,689
1,986
1,860
1,095
1,157
1,119
F
Sig.
4,865
0,029
0,057
0,811
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas
entre
inovadoras
persistentes
e
ocasionais,
indicando
que,
provavelmente, o fator nível de desenvolvimento do mercado de capitais impacta as
inovadoras de forma homogênea. Não é possível rejeitar a hipótese nula.
220
Liderança
Tabela 110 – Teste de homoscedasticidade de P27, P28, P29 e P30
Variável
Estatística de
Levene
0,798
0,116
1,520
0,739
P27
P28
P29
P30
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
101
101
101
101
0,374
0,734
0,221
0,392
Conforme se verifica na Tabela 110, as variáveis apresentam homoscedasticidade.
A seguir, a Tabela 111 mostra os resultados do teste para as variáveis.
Tabela 111 – Teste Anova para as variáveis P27, P28, P29 e P30
Variável
P27
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
P28
P29
P30
Com base nos
N
Média
56
47
103
56
47
103
56
47
103
56
47
103
4,43
3,98
4,22
3,89
3,49
3,71
4,25
3,89
4,09
4,14
3,85
4,01
Desviopadrão
0,710
1,053
0,907
1,123
0,997
1,081
0,919
0,840
0,898
0,699
0,978
0,846
resultados, foram identificadas
F
Sig.
6,637
0,011
3,651
0,059
4,151
0,044
3,103
0,081
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras persistentes e ocasionais, sendo a P27 e a P29 a um
nível de significância de 5% e a P28 e a P30, a um nível de 10%, indicando que,
provavelmente, o fator liderança impacta as inovadoras de forma heterogênea.
Portanto, é possível rejeitar a hipótese nula.
Organização Interna
Tabela 112 – Teste de homoscedasticidade de P31
Variável
P31
Estatística de
Levene
4,410
gl1
gl2
Sig.
1
101
0,038
221
Conforme se verifica na Tabela 112, a variável apresenta heteroscedasticidade, o
que impede a realização do teste Anova. Assim sendo, não é possível rejeitar a
hipótese nula.
Tabela 113 – Teste Anova para a variável P31
Variável
P31
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
56
47
103
4,29
4,66
4,46
Desviopadrão
0,847
0,635
0,777
F
Sig.
6,222
0,014
Processos e Ferramentas Internos
Tabela 114 – Teste de homoscedasticidade de P32, P33, P34 e P35
Variável
P32
P33
P34
P35
Estatística de
Levene
0,066
0,001
0,895
0,017
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
101
101
101
101
0,797
0,980
0,346
0,898
Conforme se verifica na Tabela 114, as variáveis apresentam homoscedasticidade.
A seguir, a Tabela 115 mostra os resultados do teste para as variáveis.
Tabela 115 – Teste Anova para as variáveis P32, P33, P34 e P35
Variável
P32
P33
P34
P35
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
56
47
103
56
47
103
56
47
103
56
47
103
3,93
3,72
3,83
4,38
4,30
4,34
4,05
4,00
4,03
3,68
3,72
3,70
Desviopadrão
1,093
1,036
1,067
0,776
0,832
0,799
0,840
1,103
0,965
0,993
1,036
1,008
F
Sig.
0,944
0,334
0,236
0,628
0,078
0,780
0,050
0,823
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras persistentes e ocasionais. Portanto, não é possível
rejeitar a hipótese nula.
222
Pessoas e Habilidades
Tabela 116 – Teste de homoscedasticidade de P36, P37, P38 e P39
Variável
Estatística de
Levene
0,038
0,791
0,001
0,285
P36
P37
P38
P39
Conforme
se
verifica
na
Tabela
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
101
101
101
101
0,846
0,376
0,980
0,594
116,
todas
as
variáveis
apresentam
homoscedasticidade. A seguir, a Tabela 117 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 117 – Teste Anova para as variáveis P36, P37, P38 e P39
Variável
P36
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
P37
P38
P39
N
Média
56
47
103
56
47
103
56
47
103
56
47
103
3,91
4,00
3,95
3,57
3,43
3,50
3,96
3,57
3,79
4,11
3,94
4,03
Desviopadrão
0,940
0,978
0,954
0,970
1,078
1,018
0,894
0,878
0,904
0,888
0,870
0,880
F
Sig.
0,222
0,638
0,522
0,472
4,938
0,028
0,965
0,328
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas entre inovadoras radicais e não radicais, exceto pela variável P38,
indicando que, provavelmente, o fator pessoas e habilidades impacta as inovadoras
de forma homogênea. Portanto, não é possível rejeitar a hipótese nula.
Cultura e Valores das Empresas
Tabela 118 – Teste de homoscedasticidade de P40, P41, P42 e P43
Variável
P40
P41
P42
P43
Estatística de
Levene
6,940
0,140
0,485
0,352
gl1
gl2
Sig.
1
1
1
1
101
101
101
101
0,010
0,709
0,488
0,554
223
Conforme se verifica na Tabela 118, exceto a variável P40, as demais apresentam
homoscedasticidade. A seguir, a Tabela 119 mostra os resultados do teste para as
variáveis.
Tabela 119 – Teste Anova para as variáveis P40, P41, P42 e P43
Variável
P40
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
Ocasional
Persistente
Total
P41
P42
P43
N
Média
56
47
103
56
47
103
56
47
103
56
47
103
4,25
3,87
4,08
4,00
3,83
3,92
4,48
4,32
4,41
4,36
3,96
4,17
Desviopadrão
0,667
0,969
0,837
0,894
0,868
0,882
0,874
0,887
0,879
0,724
0,751
0,760
F
Sig.
5,435
0,022
0,951
0,332
0,877
0,351
7,528
0,007
Com base nos resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente
significativas
entre
inovadoras
persistentes
e
ocasionais,
indicando
que,
provavelmente, o fator cultura e valores impacta as inovadoras de forma
homogênea.
Apenas
a
variável
P43
apresenta
diferença
estatisticamente
significativa. Portanto, não é possível rejeitar a hipótese nula.
Alocação Interna de Recursos Financeiros
Tabela 120 – Teste de homoscedasticidade de P44
Variável
P44
Estatística de
Levene
0,151
gl1
gl2
Sig.
1
101
0,698
Conforme se verifica na Tabela 120, a variável não apresenta heteroscedasticidade.
A seguir, a Tabela 121 mostra os resultados do teste para a variável.
Tabela 121 – Teste Anova para as variáveis P44
Variável
P44
Ocasional
Persistente
Total
N
Média
56
47
103
4,29
3,98
4,15
Desviopadrão
0,847
0,944
0,901
F
Sig.
3,025
0,085
224
Com base nos
resultados, foram identificadas
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras persistentes e ocasionais, embora a um nível de
significância de 10%, indicando que, provavelmente, o fator alocação de recursos
impacta as inovadoras de forma heterogênea. Portanto, é possível rejeitar a hipótese
nula.
Percepção da Demanda
Tabela 122 – Teste de homoscedasticidade de P45
Variável
Estatística de
Levene
2,978
P45
gl1
gl2
Sig.
1
120
0,087
Conforme se verifica na Tabela 122, a variável não apresenta heteroscedasticidade.
A seguir, a Tabela 123 mostra os resultados do teste para a variável.
Tabela 123 – Teste Anova para as variáveis P45
Variável
P45
Ocasional
Persistente
Total
Com base nos
N
Média
66
56
122
4,59
4,34
4,48
Desviopadrão
0,841
0,978
0,911
resultados, foram identificadas
F
Sig.
2,337
0,129
diferenças
estatisticamente
significativas entre inovadoras persistentes e ocasionais, embora a um nível de
significância de 15%, indicando que, provavelmente, o fator percepção de demanda
impacta as inovadoras de forma heterogênea. Portanto, é possível rejeitar a hipótese
nula.
6.4.2.1 Síntese da análise de variância
Numa primeira avaliação de fatores apontados na bibliografia como relacionados às
empresas inovadoras, poucas variáveis externas às empresas apresentaram
diferenças estatisticamente significativas entre as inovadoras persistentes e as
ocasionais. Como se pode verificar no Quadro 15 a seguir, apenas as variáveis
ligadas aos clientes, à concorrência e à profissionalização da gestão apresentaram
225
diferenças entre os grupos. Curiosamente, nas três, as inovadoras ocasionais
tiveram pontuação maior que as persistentes.
Quadro 15 – Quadro-resumo das hipóteses relacionadas a fatores externos à empresa
Fator
Legislação
Disponibilidade de financiamento
Educação e treinamento
Nível de desenvolvimento da cadeia
produtiva
Governo
Localização
Informações
científicas
tecnológicas
Cultura e costumes nacionais
e
Redes de relacionamento
Legitimidade
Condições de fundação
Setor
Governança
Variável
P1 – Geral
P2 – Propriedade intelectual
P3
P4
P5 – Fornecedores
P6 – Concorrência
P7 – Clientes
P8 – Compras governamentais
P9 – MCT e agências
P10 – ICT’s públicas
P11 – Incentivos
P12
P13 – Técnicas
P14 – De mercado
P15 – Cultura
P16 – Costumes
P17 – Universidades
P18 – Associações comerciais
P19 – Pessoas
P20 – Concorrência
P21
P22
P23 – Diversificação
P24 – Setor
P25 – Formato da sociedade
P26 – Profissionalização da gestão
Resultado do teste
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
* a um nível de significância de 15%.
Avaliando as variáveis internas às empresas, descritas anteriormente, algumas
variáveis apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de
inovadoras persistentes e ocasionais. Como se pode verificar no Quadro 16 a seguir,
variáveis ligadas à liderança, à disponibilidade de ferramentas internas, ao
reconhecimento e recompensa das pessoas, ao encorajamento de funcionários, à
alocação de recursos financeiros e à percepção de demanda apresentaram
diferenças entre os grupos.
226
Quadro 16 – Quadro-resumo das hipóteses relacionadas a fatores internos à empresa
Fator
Liderança
Organização interna
Processos e ferramentas
internas
Pessoas e habilidades
Cultura e valores
Variável
P27 – Ação da direção
P28 – Avaliação da direção
P29 – Comunicação
P30 – Alocação de funcionários
P31
P32 – Acompanhamento dos processos de
inovação
P33 – Eficiência
P34 – Facilidade de uso
P35 – Disponibilidade
P36 – Treinamento em criatividade
P37 – Financiamento, espaço e tempo
P38 – Reconhecimento e recompensa
P39 – Transferência de conhecimentos
P40 – Assunção de riscos
P41 – Compreensão da estratégia
P42 – Reconhecimento pelo mercado
P43 – Encorajamento dos funcionários
P44
Alocação de recursos
financeiros
Percepção de demanda
P45
* a um nível de significância de 5%.
** a um nível de significância de 10%.
*** a um nível de significância de 15%.
Resultado do teste
Rejeitada*
Rejeitada**
Rejeitada*
Rejeitada**
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Falha em rejeitar
Rejeitada*
Rejeitada**
Rejeitada***
Curiosamente, exceto pela variável ligada à disponibilidade de ferramentas internas,
em todas as outras, as inovadoras ocasionais tiveram pontuação maior que as
persistentes. Uma possível explicação para este resultado vem do fato de que
atividades recorrentes normalmente são candidatas naturais a sistematização,
justificando a influência da disponibilidade de ferramentas internas para as
inovadoras persistentes. Por outro lado, a inovação ocasional é mais dependente da
ação dos líderes e de incentivos para que os funcionários dividam seu tempo entre
os trabalhos habituais e a inovação.
6.4.3 Análise discriminante
Para o teste desta hipótese, foi escolhida a análise discriminante, tendo em vista que
se quer, com base nos fatores internos e externos, determinar se existem diferenças
estatisticamente significativas entre os dois grupos previamente definidos e
identificar a importância relativa de cada fator na predição da categoria que pertence
227
determinada empresa, se inovadora persistente ou ocasional. A análise foi realizada
de forma análoga à apresentada na seção 6.3.4.
A variável dependente utilizada é o perfil da empresa (inovadora persistente ou
ocasional), ou seja, uma variável categórica, e as variáveis independentes são os
fatores internos e externos. O perfil da empresa, portanto, seria função dessas
variáveis. Recomenda-se que haja ao menos 5 observações por variável
independente (HAIR et al., 1998), ou seja, 225 observações. A pesquisa obteve 103
observações. Um segundo critério apontado é que cada um dos grupos (inovadoras
persistentes ou ocasionais) deveria conter ao menos 20 observações e que fosse ao
menos um ponto maior que o número de variáveis para cada grupo. O menor dos
grupos continha 32 observações, atendendo a este critério.
A fim de contornar o problema do tamanho da amostra citado acima, optou-se por
fazer uma segunda análise discriminante utilizando-se de 20 fatores compostos
pelas médias aritméticas de seus componentes. A distribuição utilizada é a mesma
apresentada nos Quadros 4 e 5. Com 20 variáveis, é atendida a recomendação de
Hair et al. (1998) e pode-se comparar os resultados obtidos, a fim de ter uma
confirmação da análise inicial.
Para as análises discriminantes, foi utilizado o método stepwise, que insere as
variáveis uma a uma, obtendo resultados mais conservadores, pois reduzem o
impacto de eventuais problemas de multicolinearidade das variáveis independentes
na função discriminante. Para a medida utilizadas no método citado, foi utilizado o
Mahalanobis D2, baseado na “distância Euclidiana quadrada”, que ajusta as
variâncias desiguais.
Sobre as premissas da análise, o teste de igualdade das médias grupais mostrou
lambdas de Wilks relativamente altos, embora algumas variáveis tenham mostrado
diferenças estatisticamente significativas (para a tabela deste teste, vide o Apêndice
L). O teste de igualdade de M de Box apresentou um resultado que não permite
rejeitar a hipótese de igualdade das matrizes de covariância das variáveis
independentes, conforme exposto na Tabela 124 a seguir, o que permite que
prossigamos com a análise. Assim sendo, será realizada uma regressão logística a
228
fim de confirmar os resultados obtidos nesta análise discriminante, como sugerido
por Hair et al. (1998).
Tabela 124 - Teste de igualdade das matrizes de covariância das variáveis P1 a P45
M de Box
F
Aprox.
gl1
gl2
Sig.
11,996
1,934
6
68041,51
0
,071
Em seguida, é apresentado o autovalor da função discriminante obtida, que é uma
medida do quanto ela realmente diferencia os dois grupos (Tabela 125). É
apresentado também um teste do lambda de Wilks, cuja hipótese nula é que,
considerando todas as variáveis independentes simultaneamente, não há diferença
significativa entre os grupos (Tabela 126).
Tabela 125 – Autovalor da função discriminante
Função
Autovalor
1
0,214
% da
Variância
100,0
% Acumulado
100,0
Correlação
canônica
0,420
Tabela 126 – Lambda de Wilks
Teste da função
1
Lambda
de Wilks
0,824
Quiquadrado
19,312
gl
Sig.
3
0,000
A análise discriminante mostra um resultado cuja função se baseia em apenas três
variáveis, com alto poder de explicação. São as variáveis P4, P31 e P43, com
coeficientes discriminantes de, respectivamente, 0,610, 0,510 e -0,644.
a
Tabela 127 – Matriz de confusão – 45 variáveis
Classificação
Original
Classificação Prevista
Ocasionais Persistentes
Contagem
Ocasionais
43
13
Persistentes
20
27
%
Ocasionais
76,8
23,2
Persistentes
42,6
57,4
a. 68,0% dos casos foram corretamente classificados.
Total
56
47
100,0
100,0
229
A função discriminante resultante consegue classificar as observações com boa
precisão, de 68,0% no total (vide Tabela 127). Comparando com as probabilidades
calculadas previamente em função dos tamanhos dos grupos, de 45,6% de ser
classificado como uma inovadora persistente e de 54,4% de ser classificado como
uma ocasional, o modelo chega, respectivamente, a 57,4% e 76,8%.
Quando avaliado pelo método que entra com todas variáveis simultaneamente, a
precisão do modelo chega a 76,6% de acerto na classificação das inovadoras
persistentes e de 82,1% nas ocasionais, totalizando um acerto global de 79,6%.
Quando utilizamos as 20 variáveis compostas, formadas pelas médias aritméticas
das variáveis P1 a P45, conforme o fator correspondente (vide Quadros 4 e 5),
obtemos resultados bastante semelhantes aos anteriores. As variáveis que explicam
a função são a P4, P31 e o conjunto P27 a P30, praticamente idênticas ao resultado
anterior, com exceção da P43, que fora substituída pelo conjunto de variáveis citado.
Os resultados dos testes são bastante semelhantes também, com as previsões do
modelo apresentadas na Tabela 128 a seguir.
Tabela 128 – Matriz de confusão – 20 fatoresa
Classificação
Original
Classificação Prevista
Ocasionais Persistentes
Contagem
Ocasionais
41
15
Persistentes
19
28
%
Ocasionais
73,2
26,8
Persistentes
40,1
59,6
a. 67,0% dos casos foram corretamente classificados.
Total
56
47
100,0
100,0
O modelo tem precisão de 67,0%, acertando 73,2% dos casos de inovadoras
ocasionais e 59,6% dos casos de persistentes.
Em seguida, a análise discriminante foi repetida, porém utilizando como variáveis
independentes os sete fatores obtidos a partir da Análise Fatorial apresentada na
Seção 6.3.5.
Para as análises discriminantes, foi utilizado o método stepwise, que insere as
variáveis uma a uma, obtendo resultados mais conservadores, pois reduzem o
230
impacto de eventuais problemas de multicolinearidade das variáveis independentes
na função discriminante. Para as medidas utilizadas no método citado, foi utilizado o
Lambda de Wilks.
Sobre as premissas da análise, o teste de igualdade das médias grupais mostrou
lambdas de Wilks relativamente baixos. O teste de igualdade de M de Box
apresentou um resultado que reitera a hipótese de igualdade das matrizes de
covariância das variáveis independentes, conforme exposto na Tabela 129 a seguir.
Tabela 129 - Teste de igualdade das matrizes de covariância dos fatores F1 a F7
M de Box
Aprox.
gl1
gl2
F
Sig.
1,032
1,021
1
29960,12
3
,312
Em seguida, é apresentado o autovalor da função discriminante obtida, que é uma
medida do quanto ela realmente diferencia os dois grupos (Tabela 130). É
apresentado também um teste do lambda de Wilks, cuja hipótese nula é que,
considerando todas as variáveis independentes simultaneamente, não há diferença
significativa entre os grupos (Tabela 131).
Tabela 130 – Autovalor da função discriminante
Função
Autovalor
1
0,045
% da
Variância
100,0
%
Acumulado
100,0
Correlação
canônica
0,207
Tabela 131 – Lambda de Wilks
Teste da função
1
Lambda
de Wilks
0,957
Quiquadrado
4,389
gl
Sig.
1
0,036
A análise discriminante mostra um resultado cuja função se baseia apenas no fator
F7.
231
a
Tabela 132 – Matriz de confusão – 7 fatores
Classificação
Original
Classificação Prevista
Ocasionais Persistentes
Contagem Ocasionais
42
14
Persistentes
28
19
%
Ocasionais
75,0
25,0
Persistentes
59,6
40,4
a. 59,2% dos casos foram corretamente classificados.
Total
56
47
100,0
100,0
A função discriminante resultante não consegue classificar as observações com
razoável precisão. Classifica corretamente 59,2% do total (vide Tabela 132).
Comparando com as probabilidades calculadas previamente em função dos
tamanhos dos grupos, de 45,6% de ser classificado como uma inovadora persistente
e de 54,4% de ser classificado como uma ocasional, o modelo chega,
respectivamente, a 40,4% e
75,0%. Assim, a precisão para classificação das
inovadoras ocasionais é boa, enquanto que para a classificação das persistentes é
ruim, inferior a uma classificação feita de forma aleatória.
6.4.3.1 Regressão Logística
Tendo em vista que não se pôde assegurar a normalidade das variáveis, optou-se
por realizar uma regressão logística, de forma a dar maior confiabilidade aos
resultados da análise discriminante.
Como dito anteriormente, a regressão logística não se baseia nas mesmas
premissas da análise discriminante. É uma técnica mais robusta e, portanto, menos
sujeita a violações das premissas, principalmente as relacionadas à normalidade
multivariada e de igualdade das matrizes variância-covariância.
A variável dependente continua sendo a categoria da empresa, se inovadora
persistente ou ocasional, assim como as variáveis independentes. O método
utilizado foi o stepwise (forward), que, em sucessivas iterações, acrescenta as
variáveis uma a uma.
O modelo chegou às mesmas variáveis apontadas na análise discriminante (P4, P31
e P43). As estatísticas-teste foram: os testes dos coeficientes do modelo; a variação
232
do valor de -2LL (valor do logaritmo da verossimilhança), que apresenta a
probabilidade de que o modelo seja uma boa representação dos dados; o pseudo
R2, que mede a variabilidade explicada pelo modelo, analogamente ao R2 da
regressão linear, medidos pelas estatísticas de Cox & Snell e de Nagelkerke; e a
estatística de Hosmer & Lemeshow, que mede a correspondência entre os valores
previstos e os reais para a variável dependente. A Tabela 133 traz as estatísticas
citadas.
Tabela 133 – Estatísticas-teste da regressão logística
Teste dos Coeficientes
do Modelo
Quigl
Sig.
quadrado
20,215
3
0,000
2
-2LL
Pseudo
2
R
R de
Cox &
Snell
R2 de
Nagelkerke
121,786
0,095
0,178
0,238
Teste de Homer e
Lemeshow
Quigl
Sig.
quadrado
21,847
7
0,003
O teste dos coeficientes do modelo verifica se tais coeficientes são estatisticamente
diferentes de zero. No caso, o modelo passa neste teste. Houve redução do valor
-2LL, enquanto o teste de Homer e Lemeshow mostrou-se significativo, ou seja, que
há diferenças entre os valores observados e previstos.
Tabela 134 – Tabela de Classificação
Classificação
Original
a
Classificação Prevista
Ocasionais Persistentes
Contagem
Ocasionais
43
13
Persistentes
21
26
%
Ocasionais
76,8
23,2
Persistentes
44,7
55,3
a. 67,0% dos casos foram corretamente classificados.
Total
56
47
100,0
100,0
O percentual obtido, de 67,0% (vide Tabela 134), é bom se comparado ao valor
esperado de 45,1%, caso houvesse uma classificação aleatória dos casos. É
também semelhante ao valor obtido na análise discriminante, de 68,0%.
Detalhes sobre os resultados obtidos constam do Apêndice M.
A regressão logística foi refeita utilizando como variáveis independentes os fatores
obtidos na Análise Fatorial da Seção 6.3.5. A Tabela 135 traz as estatísticas-teste da
regressão.
233
Tabela 135 – Estatísticas-teste da regressão logística
Teste dos Coeficientes
do Modelo
Quigl
Sig.
quadrado
4,510
1
0,034
2
-2LL
137,491
2
R de
Cox &
Snell
R de
Nagelke
rke
0,043
0,057
Teste de Homer e Lemeshow
Quiquadrado
4,393
gl
Sig.
8
0,820
O teste dos coeficientes do modelo verifica se tais coeficientes são estatisticamente
diferentes de zero. No caso, o modelo passa neste teste. O teste de Homer e
Lemeshow mostrou não significância, ou seja, que não há diferenças entre os
valores observados e previstos. A regressão logística chegou a apenas um fator, o
F7, o mesmo obtido na análise discriminante.
Tabela 136 – Tabela de Classificação
Classificação
Original
a
Classificação Prevista
Ocasionais Persistentes
Contagem
Ocasionais
42
14
Persistentes
28
19
%
Ocasionais
75,0
25,0
Persistentes
59,6
40,4
a. 59,2% dos casos foram corretamente classificados.
Total
56
47
100,0
100,0
O percentual obtido, de 59,2% (vide Tabela 136), é razoável se comparado ao valor
esperado de 50,4%, caso houvesse uma classificação aleatória dos casos. É
também idêntico ao valor obtido na análise discriminante, de 59,2%.
Detalhes sobre os resultados obtidos constam do Apêndice N.
6.4.3.2 Síntese da análise discriminante e da regressão logística
Tanto a análise discriminante, quanto a regressão logística, resultaram nos mesmos
fatores e variáveis como representativos da diferença entre inovadoras persistentes
e ocasionais. Resultaram ainda em percentuais de acerto superiores a previsão
inicial, indicando que eles podem explicar a diferença entre os grupos.
As variáveis P4 (educação e treinamento), P31 (organização interna), P43
(encorajamento dos funcionários), o conjunto P27-30 (liderança) e o fator F7 (foco
em recursos) representaram percentuais que variaram entre 59,2% e 79,6% de
234
acerto na previsão da categoria do respondente, número maior que os 50,4%
previstos em uma eventual classificação aleatória.
A Tabela 137 sintetiza o resultado das análises realizadas, mostrando os
percentuais de explicação obtidos em cada análise e as variáveis e fatores
selecionados.
Tabela 137 – Confronto dos resultados obtidos com a análise discriminante e a regressão logística
Previsão
inicial
% de acerto
das
persistentes
% de acerto
das
ocasionais
% de acerto
geral
Variáveis /
Fatores
selecionados
Análise Discriminante
Regressão Logística
Com 45
variáveis
(método
Enter)
Com 45
variáveis
(método
Stepwise)
Com 20
variáveis
compostas
(método
Stepwise)
Com 7
fatores
(método
Stepwise
)
Com 45
variáveis
(método
Stepwise)
Com 7
fatores
(método
Stepwise
)
45,6%
76,6%
57,4%
59,6%
40,4%
55,3%
40,4%
54,4%
82,1%
76,8%
73,2%
75,0%
76,8%
75,0%
50,4%
79,6%
68,0%
67,0%
59,2%
67,0%
59,2%
---
Todas
P4, P31 e
P43
P4, P31 e
P27-30
F7
P4, P31 e
P43
F7
6.4.4 Síntese do teste da hipótese geral HG2
HG2: Não há diferenças significativas entre os fatores que motivam as inovadoras
persistentes e as inovadoras ocasionais.
Com o objetivo de testar a hipótese geral HG2, confrontamos os resultados obtidos a
partir das análises realizadas neste capítulo 6.4. O Quadro 17 apresenta as variáveis
significativas para cada um dos testes, com a direção de sua influência (positiva “+”
ou negativa “–“), quando cabível. Em seguida, são discutidos os resultados obtidos.
235
Quadro 17 – Quadro-resumo das análises do conceito de continuidade
Variável
P1
Legislação/Geral
P2
Legislação/Propriedade
intelectual
P3
Disponibilidade
financiamento
P4
Educação e treinamento
P5
Cadeia/Fornecedores
P6
Cadeia/Concorrência
P7
Cadeia/Clientes
P8
Governo/Licitações
P9
Governo/MCT e agências
P10
Governo/ICT’s públicas
P11
Governo/Incentivos
P12
Localização
P13
Informações técnicas
P14
Informações de mercado
P15
Cultura
P16
Costumes
P17
Redes/Universidades
P18
Redes/Associações
comerciais
P19
Redes/Pessoas
P20
Redes/Concorrência
P21
Legitimidade
P22
Condições de fundação
P23
Setor/Diversificação
P24
Setor
P25
Governança/Formato
Anova
Análise
Discriminante
(45 variáveis)
Análise
Discriminante
(20 fatores)
Regressão
Logística
(45
variáveis)
de
da
+
+
+
Análise
Discriminante
(7 fatores)
236
Variável
sociedade
P26
Governança/Profissionalização
da gestão
P27
Liderança/Ação da direção
P28
Liderança/Avaliação
da
direção
P29
Liderança/Comunicação
P30
Liderança/Alocação
de
funcionários
P31
Organização interna
P32
Processos/Acompanhamento
P33
Processos/Eficiência
P34
Processos/Facilidade de uso
P35
Processos/Disponibilidade
P36
Pessoas/Treinamento
em
criatividade
P37
Pessoas/Financiamento,
espaço e tempo
P38
Pessoas/Reconhecimento
e
recompensa
P39
Pessoas/Transferência
de
conhecimentos
P40
Cultura/Assunção de riscos
P41
Cultura/Compreensão
da
estratégia
P42
Cultura/Reconhecimento pelo
mercado
P43
Cultura/Encorajamento
dos
funcionários
P44
Alocação
de
recursos
financeiros
P45
Percepção da demanda
Anova
Análise
Discriminante
(45 variáveis)
Análise
Discriminante
(20 fatores)
Regressão
Logística
(45
variáveis)
Análise
Discriminante
(7 fatores)
–
–
–
–
+
+
–
+
–
+
+
237
Há 8 variáveis que aparecem em mais de uma análise. São as variáveis P4
(Educação
e
treinamento),
(Liderança/avaliação
(Liderança/alocação
da
de
P27
direção),
funcionários),
(Liderança/ação
P29
P31
da
direção),
P28
(Liderança/Comunicação),
P30
(Organização
interna),
P43
(Cultura/encorajamento dos funcionários) e P44 (Alocação de recursos financeiros).
Dentre elas, a variável P43 e o conjunto P27-30 aparecem com coeficientes
negativos nas análises, o que significa que sua contribuição para a explicação dos
grupos de inovadoras persistentes e ocasionais ocorre de forma inversamente
proporcional. As variáveis têm uma correlação moderada (coeficiente de Pearson =
0,542, p<0,01). Tais variáveis estão relacionadas à liderança e ao encorajamento
dos funcionários. Supõe-se, portanto, que a ação da liderança e o encorajamento
dos funcionários privilegiam a inovação ocasional. Nas inovadoras persistentes,
talvez tais construtos sejam dispensáveis, substituídos por uma organização voltada
para a inovação.
De fato, corroboram para este entendimento as variáveis P4, P31 e a P44,
relacionadas à existência de uma estrutura, com orçamento, para as atividades de
P&D e à disponibilidade de pessoal treinado. O surgimento de tais variáveis era
esperado e coerente com o referencial teórico, já que atividades persistentes de
inovação exigem algum tipo de estrutura fixa, seja esta estrutura entendida como
pessoal dedicado, orçamento ou mesmo um departamento na empresa.
Portanto, tendo em vista que há algumas variáveis que distinguem as inovadoras
persistentes das ocasionais, podemos rejeitar a hipótese geral HG2.
6.5 TESTE DA HIPÓTESE HG3 – INFLUÊNCIA DO AMBIENTE
HG3: Não há forças institucionais que limitem as empresas a inovar de forma radical
e contínua.
Como vimos pelos testes das hipóteses HG1 e HG2, empresas inovadoras
contínuas dependem tanto de fatores internos quanto externos. Da mesma forma,
238
empresas com inovações radicais também dependem destes dois conjuntos de
fatores. No entanto, a partir da abordagem institucionalista, que faz parte da revisão
bibliográfica do presente estudo, é intuito lançar luz sobre como é possível construir
um ambiente propício ao surgimento de empresas inovadoras.
Assim, reconstruímos o Quadro 6 apresentado anteriormente, de forma a apenas
ilustrar as variáveis ambientais que descrevem as empresas com inovações radicais
e as empresas que inovam continuamente. O resultado do primeiro caso é objeto do
Quadro 18, enquanto que o segundo, é objeto do Quadro 19.
Sistema social da
indústria
Quadro 18 – Relação entre as variáveis que descrevem as empresas com inovações radicais e as
abordagens teóricas
Forças Institucionais
Forças Regulatórias
Forças Normativas
Forças Cognitivas
Subsistema
• Nível
de • Nível
de
Instrumental
desenvolvimento
da
desenvolvimento
da
cadeia produtiva (P5 e
cadeia produtiva (P5 e
P6)
P6)
• Setor (P23)
Subsistema
• Costumes (P16)
Institucional
Subsistema
• Acesso a Informações
de
Busca
científicas
e
de
tecnológicas (P14)
Recursos
Notas: Adaptado a partir dos estudos de Van de Ven e Garud (1989) e de Scott (1995).
Fonte: Elaboração própria.
É importante destacar que a ausência de variáveis na coluna “forças regulatórias”
não indica que elas não sejam importantes. Indica apenas que não há diferenças
estatisticamente significativas entre o grupo das empresas com inovações radicais e
as sem inovações radicais em relação às variáveis incluídas nas forças regulatórias.
Essas forças incluem basicamente as leis e o poder político. Verificamos que, em
relação às variáveis que compunham esta força (P1, P2, P3, P8, P9, P10 e P11), as
médias eram relativamente baixas, indicando que as empresas não viam relação
entre os incentivos legais e planos de governo com suas inovações.
Quanto às forças normativas, que diz respeito basicamente ao comportamento
esperado da empresa, vemos que muito da postura é condicionada pelo ambiente,
em especial por fornecedores, pela concorrência e pela própria iniciativa. A analogia
239
à decisão citada por Van de Ven e Garud (1989), portanto, percorreria escolher entre
desenvolver sua própria solução inovadora ou comprar pacotes de outras empresas.
No caso das empresas com inovações radicais, um ambiente de colaboração com
fornecedores e de competição com os concorrentes pode ter estimulado uma
solução caseira. Se fosse possível resumir a influência dessa força sobre as
empresas que inovaram radicalmente em única frase, seria: “espera-se que eu
desenvolva isso internamente”.
No mesmo sentido, sobre as forças cognitivas, que referem-se basicamente às
interações sociais da empresa, observa-se que as decisões de fato se apóiam na
colaboração dos fornecedores e na preocupação com a concorrência, fazendo a
empresa buscar a capacitação tecnológica se inspirando nestes dois grupos: o que a
concorrência está fazendo a esse respeito e no que meu fornecedor pode me ajudar.
Para empresas que inovam continuamente, a influência do ambiente parece ser
ainda mais rarefeita. Com exceção da variável P4 (educação e treinamento), não há
variáveis externas que influenciem especificamente a inovação persistente em
detrimento da ocasional, como vemos no Quadro 19.
Sistema
social da
indústria*
Quadro 19 – Relação entre as variáveis externas que descrevem as empresas que inovam de forma
contínua e as abordagens teóricas
Forças Institucionais**
Forças
Forças
Forças
Regulatórias
Normativas
Cognitivas
Subsistema Instrumental
Subsistema Institucional
Subsistema de Busca de
• Educação
e
Recursos
treinamento (P4)
Notas: Adaptado a partir dos estudos de Van de Ven e Garud (1989) e de Scott (1995).
Fonte: Elaboração própria.
Quanto às forças regulatórias, o verificado no caso da inovação radical aplica-se
exatamente da mesma forma para o caso da inovação contínua. As empresas, de
um modo geral, não viam relação entre as variáveis nessa força e suas inovações.
As forças cognitivas também não apareceram, indicando que a influência das
interações sociais não é diferente entre as empresas.
240
Por outro lado, para as forças normativas, surge a única variável presente nesta
análise. Na medida em que as empresas esperam entregar inovações de forma
contínua, sua dependência de pessoal adequado cresce, quando comparado a
empresas que inovam apenas ocasionalmente.
Resumidamente, a fim de incentivar empresas que inovem de forma contínua,
cresce a importância de se ter investimentos contínuos em educação e treinamento.
Por outro lado, incentivar que as empresas inovem de forma radical é uma tarefa
mais difícil para o poder público, pois suas condicionantes fogem de sua esfera de
ação direta. O governo pode agir sobre o ambiente de modo a facilitar as interações
dentro das cadeias produtivas, mas não tem como forçar que isso aconteça. Os
resultados indicam apenas que uma ação sobre a disponibilidade de informações
científicias e tecnológicas, feita normalmente a partir de investimentos públicos em
universidades e centros de pesquisa, pode ser positiva.
6.6 TESTE DAS HIPÓTESES HG4 E HG5 – ANÁLISE CONJUNTA
DAS INOVADORAS CONTÍNUAS COM INOVAÇÕES RADICAIS
6.6.1 Teste da hipótese geral HG4
HG4: Os conceitos de radicalidade e continuidade em inovação são mutuamente
excludentes.
Como vimos no referencial bibliográfico deste estudo, os conceitos de inovação
contínua e inovação radical são distintos. O primeiro se concentra no lançamento de
inovações continuamente, onde, embora haja, como vimos, uma vertente teórica que
a entenda como incremental, não há essa limitação na definição utilizada. O
segundo se concentra no grau de novidade da inovação. Uma empresa, portanto,
pode ter posicionamentos distintos em relação a cada um dos perfis.
241
Assim sendo, propõe-se avaliar o perfil inovador das empresas segundo o
cruzamento dos dois conceitos (inovação contínua e inovação radical), a fim de
identificar eventuais diferenças ou semelhanças entre os conceitos. O resultado,
com a divisão dos respondentes pelos quadrantes, é apresentado na Tabela 138 a
seguir.
Tabela 138 – Cruzamento de perfis de inovação radical e contínua
Continuidade
da Inovação
Radicalidade da inovação
Total
Não Radical
Radical
Persistente
38
9
47
Ocasional
34
22
56
72
31
103
Total
É de se esperar que, para cada um dos quadrantes, haja motivadores específicos.
Empresas com diferentes perfis tendem a ter características internas e a responder
ao ambiente de forma diferente. Assim sendo, foi realizada uma análise
discriminante,
contendo
como
variável
dependente
os
quatro
quadrantes
identificados. O objetivo da análise foi extrair uma aproximação das variáveis com
maior impacto na composição dos quadrantes.
Sobre as premissas da análise, o teste de igualdade das médias grupais não
mostrou significância estatística, exceto para oito variáveis, P2, P5, P23, P27, P29,
P31, P40 e P43, a um nível de significância de 5%, e outras quatro variáveis, P4,
P14, P21 e P38, porém a um nível de significância de 10%. O teste de igualdade de
M de Box apresentou um resultado que não permite rejeitar a hipótese de igualdade
das matrizes de covariância das variáveis independentes, conforme exposto na
Tabela 139 a seguir.
242
Tabela 139 - Teste de igualdade das matrizes de covariância das variáveis
M de Box
F
Aprox.
gl1
gl2
Sig.
170,397
1,612
84
3325,262
0,000
Em seguida, é apresentado o autovalor da função discriminante obtida, que é uma
medida do quanto ela realmente diferencia os quatro grupos (Tabela 140). É
apresentado também um teste do lambda de Wilks, cuja hipótese nula é que,
considerando todas as variáveis independentes simultaneamente, não há diferença
significativa entre os grupos (Tabela 141).
Tabela 140 – Autovalores das funções discriminantes
% da
%
Correlação
Variância
Acumulado
canônica
1
0,499(a)
55,1
55,1
0,577
2
0,292(a)
32,3
87,4
0,475
3
0,114(a)
12,6
100,0
0,320
(a) As 3 primeiras funções discriminantes foram usadas na análise.
Função
Autovalor
Tabela 141 – Lambda de Wilks
Teste da função
1 até 3
2 até 3
3
Lambda
de Wilks
0,464
0,695
0,898
Quiquadrado
74,183
35,138
10,408
gl
Sig.
21
12
5
,000
,000
,064
A análise discriminante mostra um resultado cujas funções se baseiam em sete
variáveis, listadas na Tabela 142 a seguir, acompanhados dos respectivos
coeficientes da função de classificação.
Tabela 142 – Coeficientes da função de classificação
Quadrantes
1
2
3
P4
1,024
1,188
0,768
P5
1,445
0,404
1,297
P6
0,920
1,223
0,642
P16
-1,596
-1,532
-1,272
P23
2,550
2,426
2,435
P31
9,812
9,068
8,534
P40
5,224
6,575
5,997
(Constante)
-40,394
-42,909
-36,534
Funções discriminantes lineares de Fisher
4
0,321
0,993
1,431
-2,330
3,453
9,999
6,566
-45,518
243
As sete variáveis selecionadas puderam classificar 59,2% das observações nos
quadrantes corretos, conforme se pode ver na Tabela 143 a seguir.
a
Tabela 143 – Matriz de confusão – Variáveis
Contagem
Classificação Original
Quadrantes
%
Persistente
/ Não
Radical
Classificação Prevista
Ocasional
Persistente
Ocasional /
/ Não
/ Radical
Radical
Radical
Persistente / Não
23
1
8
Radical
Persistente / Radical
3
4
1
Ocasional / Não Radical
11
1
20
Ocasional / Radical
3
1
4
Persistente / Não
60,5
2,6
21,1
Radical
Persistente / Radical
33,3
44,4
11,1
Ocasional / Não Radical
32,4
2,9
58,8
Ocasional / Radical
13,6
4,5
18,2
a. 59,2% dos casos foram corretamente classificados.
Total
6
38
1
2
14
9
34
22
15,8
100,0
11,1
5,9
63,6
100,0
100,0
100,0
Percebe-se na tabela apresentada uma boa precisão para a classificação dos
quadrantes, superior em mais de 25% à probabilidade calculada sobre o tamanho
dos grupos (60,5% para o quadrante “persistente/não radical”, 44,4% para o
“persistente/radical”, 58,8% para o “ocasional/não radical” e 63,6% para o
“ocasional/radical”), conforme recomendado por Hair et al. (1998). Outras
informações sobre a análise estão disponíveis no Apêndice O.
É interessante notar que, optando por uma flexibilização da regra de entrada das
variáveis, considerando um critério de significância de 10% ao invés dos 5%
habituais, obtém-se um acréscimo relevante no poder discriminatório. O acerto na
classificação subiria de 59,2% para 66,0%. Tal possibilidade, de flexibilização do
critério, é discutida por Hair et al. (1998) para os casos em que haja três ou mais
grupos, como é o nosso caso. O conjunto de variáveis discriminantes, neste caso,
altera-se para: P4, P5, P6, P14, P16, P23, P31, P38 e P40. No entanto, optamos por
manter o critério em 5%, a fim de não perder qualidade na análise.
A Tabela 144 traz a média das variáveis selecionadas na análise discriminante.
244
Tabela 144 – Médias das variáveis selecionadas por quadrante
Variável
P4 – Educação e
treinamento
P5 – Cadeia
produtiva/fornecedores
P6 – Cadeia
produtiva/concorrência
P16 – Costumes
P23 –
Setor/diversificação
P31 – Organização
interna
P40 –
Cultura/assunção de
riscos
Persistente /
Não Radical
Persistente /
Radical
Ocasional /
Não Radical
Ocasional /
Radical
Total
4,24
4,22
3,71
3,41
3,88
3,11
1,67
2,76
2,32
2,70
2,50
2,89
2,15
2,95
2,51
3,08
3,44
3,47
2,59
3,14
2,74
2,78
2,88
3,68
2,99
4,71
4,44
4,15
4,50
4,46
3,71
4,56
4,18
4,36
4,08
Observa-se que o primeiro quadrante, de empresas inovadoras persistentes e sem
inovações radicais, caracteriza-se por uma maior pontuação nas variáveis de
educação e treinamento, de incentivo dos fornecedores e de organização interna.
Também os que possuem a postura mais conservadora (menos disposição a
assunção de riscos). São grandes empresas, com cerca de 32 anos de existência,
com mais patentes que a média e de setores variados. É também o quadrante com
maior presença de inovações de processo (22,2%). Empresas neste quadrante
provavelmente investem consistentemente na melhoria incremental de seus
produtos e processos, procurando manter uma posição de mercado já conquistada.
No quadrante “persistente/radical”, há uma pontuação maior nas variáveis educação
e treinamento, cadeia produtiva/fornecedores, costumes e cultura/assunção de
riscos. São empresas medianas, com cerca de 14 anos de existência e uma
proporção maior de empresas que participaram de incubadoras. A maior parte é do
setor do software. Empresas neste quadrante são provavelmente mais próximas do
meio científico, estão acostumadas a inovar e não são avessas ao risco. Como
resultado, são as que possuem o maior percentual do faturamento advindo da venda
de novos produtos.
No quadrante “ocasional/não radical”, há uma pontuação maior apenas na variável
costumes. Um dado interessante é que elas obtiveram a menor pontuação quanto à
necessidade de um departamento (ou setor) voltado para P&D, enquanto que, ao
mesmo tempo, eram as que mais dedicaram orçamento e equipe interna ao
245
desenvolvimento da inovação inscrita no Prêmio Finep de Inovação (63,4%). Uma
hipótese possível é que as empresas neste quadrante podem trabalhar por projetos,
em grupos de trabalho, e não atrelados a uma estrutura formal. Fica evidente que,
se o trabalho de pesquisa e desenvolvimento é ocasional e, provavelmente, em
função do grau de novidade, não requer muito conhecimento acumulado, a estrutura
formal perde sua importância.
As empresas neste quadrante têm, em média, 15 anos de existência e concentramse no setor de software e telecom, seguido do metal-mecânico. É o quadrante no
qual há maior presença de empresas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
(29,3% dos respondentes neste quadrante).
Por
fim,
o
quadrante
“ocasional/radical”
possui
destaque
nos
quesitos
relacionamento com a concorrência e na propensão à diversificação. É formado por
empresas, em média, menores que as dos outros quadrantes, com cerca de 11 anos
de existência. A maior parte não passou por incubadoras e há uma concentração no
segmento de equipamentos elétricos. É provável que, por serem menores, mais
jovens e atuarem em um segmento transversal, ou seja, cujo produto tem
possibilidade de aplicável em vários setores, as empresas procurem oportunidades a
serem exploradas, buscando assumir um espaço no mercado. São empresas
emergentes.
O Quadro 20 a seguir traz um resumo dos respondentes em cada quadrante.
246
Quadro 20 – Quadro-resumo das características das empresas em cada quadrante
Radicalidade da inovação
Continuidade da Inovação
Persistente
Não Radical
Radical
Tradicionais
Seriais
Descrição:
Grandes empresas, mais antigas (32
anos de existência), com mais patentes
nos últimos anos, de setores variados,
maior presença de inovação de
processo.
Descrição:
Empresas medianas, com 14 anos de
existência, maior percentual do
faturamento advindo de novos
produtos, presença mais relevante de
incubadas.
Fatores Discriminantes:
• Disponibilidade de pessoal treinado
• Incentivo de fornecedores
• Cultura de assunção de riscos
Fatores Discriminantes:
• Disponibilidade de pessoal treinado
• Pressão da concorrência
• Inovam por costume
• Cultura de assunção de riscos
36,9% da amostra
Ocasional
9,0% da amostra
Por Projeto
Emergentes
Descrição:
Empresas de vários portes, com 15
anos de existência, concentração nos
setores de software/telecom e metalmecânico, maior percentual de
empresas das regiões N, NE e CO.
Descrição:
Empresas menores, mais novas (11
anos de existência), não incubadas,
concentradas no setor de
equipamentos eletro-eletrônicos,
menor presença de inovação de
processo.
Fatores Discriminantes:
• Inovam por costume
• Entendem que ter organização
interna para P&D não é fundamental
• Provavelmente trabalham por
projetos
Fatores Discriminantes:
• Pressão da concorrência
• Foco em outros setores
(diversificação)
20,5% da amostra
33,6% da amostra
A partir das características listadas, foram sugeridos rótulos que representassem os
quadrantes.
O primeiro deles, intitulado inovadoras “tradicionais”, diz respeito a empresas que,
de um modo geral, inovam para manter sua competitividade, normalmente alterando
seus processos ou incorporando novidades incrementais em seus produtos.
O segundo, intitulado inovadoras
“seriais”, são as
que consistentemente
reconstroem sua competitividade através da inovação. Embora não atendam aos
247
requisitos apontados por Hicks, Hegde (2005) e Libaers (2008), mencionados na
seção 2.2.3, coadunam com a definição de “inovadoras seriais”, de empresas
altamente e continuamente inovadoras. Embora não se restrinja a micro e pequenas
empresas, o percentual de empresas deste porte no quadrante é elevado (63,6%).
São empresas que inovam continuamente (alto percentual do faturamento advindo
de novos produtos) e com proximidade de universidades e centros de pesquisa,
como propunha Libaers (2008).
O terceiro, intitulado inovadoras “por projeto”, concentra empresas que, ao contrário
do primeiro quadrante, não possue um trabalho sistemático de identificação de
oportunidades
de
melhoria,
formando
grupos
para
atender
necessidades
específicas.
O quarto quadrante, intitulado inovadoras “emergentes”, são as que, por força de
suas características, buscam se estabelecer no mercado. São possivelmente
empresas com estratégia oportunista. Esta hipótese poderá ser confirmada na
próxima seção deste trabalho, onde relacionamos o perfil das empresas com as
estratégias adotadas.
Percebe-se, portanto, que o cruzamento dos conceitos de continuidade e de
radicalidade produz quadrantes distintos entre si. Assim sendo, podemos confirmar a
hipótese geral HG4, qual seja, que “há uma dicotomia entre os conceitos de
continuidade e radicalidade”.
6.6.2 Teste da hipótese geral HG5
HG5: A inovação contínua e a inovação radical decorrem de estratégias de inovação
iguais.
O objetivo do teste da hipótese geral HG5 é identificar se empresas com perfis
diferentes adotam estratégias de inovação diferentes e, em caso positivo, que
estratégias são adotadas.
248
Cruzando os quadrantes com as classificações das estratégias, segundo a proposta
por Freeman e Soete (1997) e operacionalizada conforme critérios disponíveis no
Capítulo 4.5, obtemos o resultado apresentado na Tabela 145 a seguir.
Dependente
Tradicional
Oportunista
Total
Total
Imitativa
Persistente /
Não radical
Persistente /
Radical
Ocasional /
Não radical
Ocasional /
Radical
Defensiva
Quadrante
Ofensiva
Tabela 145 – Estratégias e quadrantes de perfil das inovadoras
13
(28,9%)
6
(54,5%)
9
(22,0%)
5
(20,0%)
33
(27,0%)
6
(13,3%)
1
(9,1%)
5
(12,2%)
5
(20,0%)
17
(13,9%)
7
(15,6%)
1
(9,1%)
6
(14,6%)
4
(16,0%)
18
(14,8%)
0
(0,0%)
0
(0,0%)
2
(4,9%)
0
(0,0%)
2
(1,6%)
9
(20,0%)
1
(9,1%)
8
(19,5%)
3
(12,0%)
21
(17,2%)
10
(22,2%)
2
(18,2%)
11
(26,8%)
8
(32,0%)
31
(25,4%)
45
(100%)
11
(100%)
41
(100%)
25
(100%)
122
(100%)
Pela descrição do quadrante “persistente/não radical”, a divisão esperada deveria
trazer, como mais preponderantes, casos classificados como de estratégia
defensiva, em que se tem pesquisa e desenvolvimento (de fato, este grupo é que
possui a maior média de patentes nos últimos cinco anos e onde quase todas as
empresas - 86,0% - dispõem de uma equipe interna dedicada a P&D), mas há certa
aversão ao risco. Esperava-se também alguns casos classificados na estratégia
ofensiva e na estratégia tradicional, dependendo do setor da empresa.
Embora poucos casos tenham efetivamente sido classificados na estratégia
defensiva, como vimos na Tabela 145, a quantidade de casos nas estratégias
ofensiva e tradicional apresentam coerência com o esperado. Por outro lado, vemos
muitos casos de estratégias oportunistas, o que pode levar a crer que, no caso
específico destas empresas, ajustes incrementais criam soluções para mercados
não explorados. Embora a inovação seja incremental do ponto de vista da empresa,
ela pode ser radical do ponto de vista do cliente, como sugerem Afuah e Bahram
(1995).
249
A distribuição do quadrante “persistente/radical” pelas estratégias é prejudicada pelo
número de casos. No entanto, ainda assim percebe-se uma forte concentração na
estratégia ofensiva, como já era esperado. Este grupo é justamente o que reúne as
características mais próximas dessa estratégia, como o apetite por risco, a
proximidade do meio acadêmico (maior número de empresas que pertencem ou
pertenceram a incubadoras tecnológicas) e com maior percentual do faturamento
advindo de novos produtos.
O quadrante “ocasional/não radical” é o que congrega todos os casos classificados
na estratégia dependente, embora sejam poucos, o que seria de se supor, visto que
a base de dados é uma premiação para a inovação. Neste tipo de estratégia, as
empresas normalmente assumem um papel de subordinação em relação a firmas
mais fortes e só modificam produtos sob solicitação do cliente, o qual, por muitas
vezes, é a própria firma mais forte.
É, de fato, coerente com os estudos de Freeman e Soete (1997), que indicavam que
empresas com essa estratégia consideravam o controle de qualidade de engenharia
de produção como a função técnica mais importante. Quando a empresa decide
fazer algum desenvolvimento, o faz de forma oportunista, o que explica a presença
de casos neste tipo de estratégia. Pelo mesmo motivo, o quadrante também
concentra boa parte de estratégias do tipo “tradicional”.
De certa forma, não havia uma forte expectativa prévia em relação as estratégias
nesse quadrante, embora fosse sugerido que houvesse alguma presença de
empresas nas estratégias oportunista e dependente. De fato, como vimos, os casos
de estratégias dependentes estavam justamente neste quadrante. Na solicitação de
um cliente, as empresas formavam um grupo para atendê-lo.
A estratégia oportunista também aparece com um percentual mais elevado que as
demais estratégias (26,8%), embora sua liderança não seja grande. Surpreende a
presença de casos de estratégia ofensiva, o que não era esperado.
A
descrição
do
grupo
deixa
transparecer
que
as
empresas
trabalham
ocasionalmente no desenvolvimento de inovações e, quando o fazem, não trazem
250
elementos radicais. A classificação proposta por Freeman e Soete (1997) não
parece ser muito adequada para este tipo específico de empresa, já que as funções
técnicas e científicas aparecem de forma dispersa nas empresas.
Para o quadrante “ocasional/radical”, a expectativa era de se observar muitos casos
classificados como de estratégia oportunista. De fato, é o que possui,
percentualmente, o maior número de casos classificados como de estratégia
oportunista (32,0%). Este tipo de estratégia normalmente é de nicho, ou seja, de
empresas que agem em oportunidades identificadas no mercado e que não exijam
grande capacidade de pesquisa ou de projeto.
Os casos nesse quadrante estão coerentes com esta classificação, pois são, em
geral, micro e pequenas empresas, relativamente novas, onde o principal acionista
participa do dia-a-dia operacional da empresa (92,0%). São, na sua maioria,
empresas de equipamentos eletro-eletrônicos. Da mesma forma que o quadrante
anterior, também causa surpresa a quantidade de casos nas estratégias ofensiva e
defensiva, principalmente por conta da necessidade de um trabalho mais sistemático
em P&D, o que provavelmente resultaria em mais inovações, o que não se pôde
verificar nesse quadrante.
De uma forma geral, é interessante notar que um dos pontos fundamentais listados
por Freeman e Soete (1997), a rapidez na exploração de novas oportunidades, cria
uma zona cinzenta entre a estratégia ofensiva e a oportunista, talvez justificando a
quantidade elevada de classificações nestas duas estratégias. Juntas, elas
respondem por 52,4% das estratégias identificadas na amostra.
Olhando separadamente o conceito de continuidade, temos a seguinte distribuição
de estratégias, apresentada na Tabela 146.
251
Dependente
Tradicional
Oportunista
Total
Total
Imitativa
Persistente
Defensiva
Ocasional
Ofensiva
Tabela 146 – Confronto das estratégias e da continuidade em inovação
14
(21,2%)
19
(33,9%)
33
(27,0%)
10
(15,2%)
7
(12,5%)
17
(13,9%)
10
(15,2%)
8
(14,3%)
18
(14,8%)
2
(3,0%)
0
(0,0%)
2
(1,6%)
11
(16,7%)
10
(17,9%)
21
(17,2%)
19
(28,8%)
11
(21,4%)
31
(25,4%)
66
(100%)
56
(100%)
122
(100%)
Há uma ligeira concentração de estratégias oportunistas nas inovadoras ocasionais,
enquanto há uma ligeira concentração de estratégias ofensivas nas inovadoras
persistentes.
Isso corrobora a descrição das estratégias propostas por Freeman e Soete (1997),
onde a estratégia oportunista é, de fato, ocasional, dependente de uma oportunidade
de mercado identificada, enquanto que a estratégia ofensiva é realizada de forma
persistente, com investimentos contínuos em P&D.
Olhando separadamente o grau de novidade da inovação, temos a seguinte
distribuição de estratégias, apresentada na Tabela 147.
Dependente
Tradicional
Oportunista
Total
Total
Imitativa
Não radical
Defensiva
Radical
Ofensiva
Tabela 147 – Confronto das estratégias e da radicalidade da inovação
11
(30,6%)
22
(25,6%)
33
(27,0%)
6
(16,7%)
11
(12,8%)
17
(13,9%)
5
(13,9%)
13
(15,1%)
18
(14,8%)
0
(0,0%)
2
(2,3%)
2
(1,6%)
4
(11,1%)
17
(19,8%)
21
(17,2%)
10
(27,8%)
21
(24,4%)
31
(25,4%)
36
(100%)
86
(100%)
122
(100%)
Os dados mostram uma concentração das empresas com inovações radicais nas
estratégias ofensiva e oportunista, que somam 58,4% dos casos. A terceira posição
252
é ocupada pela estratégia defensiva, que, assim como a ofensiva, também possui
forte dedicação à P&D, porém com menor aversão ao risco.
No caso das empresas sem inovações radicais, embora haja também uma
concentração nas estratégias ofensiva e oportunista, ela é menor que no primeiro
caso (50,0%). Há casos de empresas com estratégia dependente e as estratégias
imitativa e tradicional aparecem de forma mais representativa, sendo que a última
ocupa a terceira colocação.
Embora os resultados ainda estejam sujeitos a validação estatística, de difícil
realização no presente caso, o estudo sugere que há diferenças nas estratégias de
inovação adotadas pelas empresas, o que leva a resultados diferentes em termos de
continuidade e do grau de novidade das inovações produzidas.
Assim, quanto à hipótese geral HG5, qual seja,
HG5: A inovação contínua e a inovação radical decorrem de estratégias de inovação
diferentes.
Não podemos afirmar com precisão que diferentes estratégias de inovação resultam
em diferentes perfis empresariais quanto à produção contínua e a radicalidade das
inovações. No entanto, a pesquisa traz indicativos de que essa diferença existe.
6.7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Ainda que a revisão bibliográfica realizada tenha indicado uma série de fatores que
influenciam as empresas inovadoras de uma forma geral, apenas alguns desses
fatores estão relacionados à inovação radical e à inovação contínua. De fato,
embora haja diferenças teóricas e empíricas entre as inovadoras contínuas e as
inovadoras radicais, elas não são excludentes. A intersecção existe.
O Quadro 21 a seguir mostra um resumo das variáveis levantadas inicialmente e as
que influenciam a inovação radical e a inovação contínua.
253
Quadro 21 – Quadro-síntese dos fatores relevantes para a inovação e para a inovação radical e a
inovação contínua
Inovadoras
Inovação Radical
(+)
(+)
Acesso a informações científicas e tecnológicas Acesso a informações de mercado
Alocação de recursos financeiros
Cadeia produtiva/Concorrência
Condições de fundação
Cultura e valores/Assunção de riscos
Cultura e costumes nacionais
Liderança/Ação da direção
Cultura e valores das empresas
Liderança/Comunicação
Disponibilidade de financiamento
Setor/Diversificação
Educação e Treinamento
Governança
(–)
Governo
Cadeia produtiva/Fornecedores
Legislação
Costumes
Legitimidade
Liderança
Inovação Contínua
Localização
(+)
Nível de desenvolvimento da cadeia produtiva
Alocação interna de recursos
Organização interna
Educação e treinamento
Percepção da demanda
Organização interna
Pessoas e habilidades
Processos e ferramentas
(–)
Redes de Relacionamento
Cultura e valores/Encorajamento dos funcionários
Setor
Liderança
Nota-se que apenas um dos fatores está presente como discriminante nas duas
listas, ainda assim, com uma sobreposição que cerca toda a variável: a liderança.
Interessantemente, ela tem efeitos opostos sobre cada um dos grupos. Enquanto ela
é positiva para a inovação radical, ela é negativa para a inovação contínua.
O resultado aponta que uma inovadora ocasional requer mais a presença de uma
liderança que a persistente, o que é, de certa forma, razoável. Empresas que
trabalham a inovação de forma persistente provavelmente dispõem de processos
mais ajustados para as tarefas, talvez dispensando alguns papéis relacionados à
liderança. Nas inovadoras ocasionais, em que provavelmente pouca coisa está
parametrizada, a presença da liderança passa a ser fundamental para se atingir um
resultado satisfatório. De forma análoga, uma inovação radical é mais difícil de ser
traduzida ao corpo funcional que a desenvolverá, o que corrobora o papel da
liderança em seu desenvolvimento.
Os demais fatores não são compartilhados pelas empresas com inovações radicais
e as com inovações contínuas.
254
O fator ‘acesso a informações de mercado’ influencia positivamente as empresas
com inovações radicais. Uma inovação que crie um novo mercado necessariamente
não terá como antever com absoluta certeza o sucesso de sua introdução. Assim, o
acesso a informações de mercado, ao reduzir essa incerteza, ganha importância
para a inovação radical. Este tipo de argumentação está presente, por exemplo, no
trabalho de Freeman e Soete (1997), que indicam que essas informações são
críticas para empresas com estratégias de inovação mais ativas.
O fator ‘cadeia produtiva/concorrência’ também influencia positivamente as
empresas com inovações radicais. Como indicam Porter (1979), Utterback e Suárez
(1993), a competição é um dos grandes estímulos para o inovador. Inovações
radicais, que embutem uma maior dificuldade em serem copiadas, normalmente
constituem a meta perseguida pelas empresas. De forma análoga ao Oceano Azul
de Kim e Mauborgne (2005), uma inovação radical diferencia as empresas,
afastando-as dos concorrentes. Este mesmo tipo de argumentação cabe para o fator
‘setor/diversificação’, onde as empresas buscam oportunidades para inovar mesmo
que fora de seu setor.
O fator ‘cultura e valores/assunção de riscos’ influencia positivamente as empresas
com inovações radicais. O Manual de Oslo (OECD, 2005, p.32) menciona que uma
das principais competências organizacionais é a “disposição para o risco e [a]
capacidade de gerenciá-lo”. Na mesma direção, Keizer et al. (2002, p.213) afirmam
que
“a essência da inovação de produto é criar ou estabelecer algo novo. Como este processo
necessariamente envolve risco, as empresas inovadoras devem ter uma estratégia não que
evite o risco, mas de rápido diagnóstico e gestão do risco”.
Evitar o risco evita também que a empresa inove. É de se esperar também que,
quanto mais inédita a inovação, mais presente o risco. Lidar com esse risco inerente
ao processo é fundamental para quem pretende inovar de forma radical.
Ainda sobre as empresas com inovações radicais, dois fatores contribuem
negativamente para a inovação radical, ou seja, promovem de forma mais clara a
inovação incremental. São eles, a ‘cadeia produtiva/fornecedores’ e os ‘costumes’.
255
De fato, a inovação radical pode trazer alterações importantes na cadeia de
fornecedores. Como mencionam Afuah e Bahram (1995), a inovação pode ser
radical apenas ao nível do fornecedor, talvez alijando-o da cadeia. Dessa forma, é
razoável supor que, quando possível, os fornecedores exerçam algum tipo de
pressão para manutenção do status quo. Essa pressão por não fazer grandes
alterações em produtos ou processos pode partir também de fontes internas da
empresa. Trabalhar com uma novidade requer uma movimentação do corpo
funcional a fim de se qualificar e reaprender sobre as novas bases. Essa relação do
homem com a máquina está presente em vários trabalhos, sendo talvez importante
citar o de Marx (1996), que aborda aspectos dessa relação.
O fator ‘organização interna’ tem efeito positivo sobre a continuidade da inovação.
Essa argumentação corresponde ao citado por Tidd et al. (2001), que afirma que
inovar vai além do desenvolvimento de produtos e processos, depende de um
contexto organizacional favorável, com suas estruturas e seus processos. Para
empresas que persistentemente inovam, a existência de uma organização voltada a
este fim é até intuitiva, embora não seja simples, como indica Van Looy et al. (2005).
Para eles, as “atividades de inovação, pelas suas características próprias,
apresentam requisitos duais e paradoxais em termos de interação” (VAN LOOY et
al., 2005, p.209). Assim, a organização enfrenta um desafio diante da necessidade
de desenvolver dois tipos de atividades essencias, sobrecarregando seus custos.
Uma delas é a exploração (do inglês, exploration), no sentido de pesquisar, e a
outra, a exploração (do inglês, exploitation, ou traduzido por alguns autores como
explotação), no sentido de auferir ganhos do que já foi desenvolvido. March (1991)
explora muito bem este dilema, que leva as empresas a decidir entre o curto e o
longo prazos.
De forma complementar, segundo a mesma lógica, a ‘alocação interna de recursos’
também é fundamental para a inovação contínua, corroborando o mencionado por
Langrish et al. (1972).
256
Desta forma, para as empresas que pretendem inovar persistentemente e se
manterem lucrativas, a organização interna e a alocação interna de recursos tornamse muito importantes.
Além de recursos financeiros, a disponibilidade de recursos humanos também
influencia positivamente a inovação contínua. Como citado pela OECD (2005, p.53),
“muitos conhecimentos sobre inovação estão incorporados nas pessoas e em suas
habilidades”. No entanto, curiosamente, uma cultura de encorajamento das
iniciativas individuais aparece como um fator negativo. Em outras palavras, o fator é
mais importante para as inovadoras ocasionais. Uma hipótese é que quem inova
continuamente já tem essa motivação incorporada na organização, precindindo de
mecanismos de encorajamento. Empresas que não estão acostumadas a inovar
dependem de algum tipo de estímulo a iniciativas individuais.
Resumindo, as inovadoras persistentes parecem ser dependentes de uma estrutura
interna, organizada e dotada de profissionais treinados e recursos. A existência de
uma estrutura parece condicionar a empresa a continuar inovando. Para as
empresas que inovam ocasionalmente, o papel das lideranças e o encorajamento
das iniciativas individuais ganham grande importância. Estes pontos indicam que
podemos rejeitar a hipótese HG2.
Já no caso das empresas com inovações radicais, as iniciativas parecem estar
pautadas pela relação da empresa com seus concorrentes, por uma cultura que
privilegie o apetite por risco, do acesso a informações de mercado e pela ação da
liderança. Empresas sem inovações radicais parecem ser tolhidas por força dos
fornecedores ou por questões internas. Estes pontos indicam que podemos rejeitar a
hipótese geral HG1.
A partir de uma análise das variáveis ambientais levantadas neste estudo, a
hipótese geral HG3 teve o intuito de examiná-las sobre a ótica da teoria
institucionalista. De forma bastante prática, o intuito foi verificar possibilidades de
ação do poder público sobre o ambiente, a fim de estimular a inovação contínua e a
inovação radical.
257
Os resultados mostraram que investimentos em educação e treinamento influenciam
positivamente a inovação contínua, enquanto que investimentos em pesquisa
pública podem ter influência sobre a inovação radical. Uma melhoria na estrutura de
incentivos públicos que englobasse essas dimensões poderia ter impacto sobre todo
o conjunto de empresas inovadoras.
Como vimos no teste da hipótese geral HG4, as empresas podem conjugar
características que a levem à inovação radical e contínua, enquanto que, na
hipótese geral HG5, como vimos na seção 6.6.2, a presente pesquisa mostra
indícios de que as estratégias diferem quando comparamos empresas inovadoras
contínuas e as com inovações radicais.
O Quadro 22 mostra um resumo dos resultados dos testes das hipóteses gerais. As
hipóteses gerais HG1 e HG2 se basearam no teste de hipóteses derivadas,
enquanto que as hipóteses gerais HG3, HG4 e HG5 usaram outro tipo de
argumentação.
Quadro 22 – Quadro-resumo das hipóteses gerais
Hipóteses
Gerais
HG1
HG2
HG3
HG4
HG5
Descrição
Não há diferenças significativas entre os fatores que motivam a
inovação radical e a incremental nas empresas brasileiras.
Não há diferenças significativas entre os fatores que motivam as
inovadoras persistentes e as inovadoras ocasionais.
Não há forças institucionais que limitem as empresas a inovar de
forma radical e contínua.
Os conceitos de radicalidade e continuidade em inovação são
mutuamente excludentes.
A inovação contínua e a inovação radical decorrem de estratégias de
inovação iguais.
Resultado
Rejeitada
Rejeitada
Rejeitada
Rejeitada
Indicativos de
rejeição
258
7 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
Este capítulo tem como objetivo apresentar as conclusões oriundas dos testes
estatísticos e da discussão dos resultados realizados. Ele se constitui de um breve
sumário do estudo, apresentando seus objetivos e a metodologia utilizada, da
apresentação das conclusões do estudo e de recomendações para pesquisa futura.
7.1 SUMÁRIO DO ESTUDO
O presente estudo teve como objetivo geral investigar variáveis externas e internas
às empresas, de forma a entender que fatores são mais importantes para o
desenvolvimento de um perfil empresarial voltado à inovação tecnológica e quais
estão presentes de forma
mais contundente nas empresas que inovam
continuamente e nas que inovam de forma radical.
Um levantamento abrangente listou os fatores presentes na bibliografia voltada ao
tema ‘inovação’, a fim de servir de ponto de partida para o estudo dos fatores que
condicionam os casos especiais citados acima. Foi proposto um modelo integrativo
que considerasse todas as variáveis selecionadas.
A partir de uma base de dados composta exclusivamente por empresas inovadoras,
o grupo foi segmentado de acordo com o seu perfil para que se realizassem diversas
análises multivariadas. Os testes realizados incluíram análises de variância, análises
discriminantes, regressões logísticas e análise fatorial. As regressões logísticas
foram realizadas de modo a confirmar os resultados das análises discriminantes,
tendo em vista se tratar de um teste mais robusto quanto ao não atendimento de
algumas premissas.
Os testes estatísticos trouxeram como resultado uma gama de fatores que
influenciavam a inovação contínua e a inovação radical. Todos os testes foram
confrontados para a seleção destes fatores.
259
Os resultados trouxeram suporte empírico para a rejeição de quatro das cinco
hipóteses gerais e indícios de rejeição da última hipótese geral.
O estudo pôde mostrar ainda que há fatores que levam as empresas a terem dois
focos simultâneos: a inovação radical e a inovação contínua. Assim, as estratégias
de inovação escolhidas tendem a seguir cada um dos focos definidos.
Há também um indicativo de possibilidades de ação do poder público para a
promoção de um ambiente favorável a empresas inovadoras.
7.2 CONCLUSÃO DO ESTUDO
Por meio de pesquisa empírica, o presente estudo procurou ampliar o conhecimento
sobre o universo das empresas inovadoras. Longe de ser um grupo homogêneo, as
empresas inovadoras diferem entre si em relação a vários quesitos. Investigamos
dois deles, a continuidade e a radicalidade.
A continuidade pode ser entendida como a frequência com que a empresa introduz
novidades no mercado. É uma medida relacionada ao ritmo de lançamento de novos
produtos e de incorporação de novos processos. Já a radicalidade refere-se ao grau
de novidade das inovações lançadas.
Embora houvesse uma suposta relação teórica entre os conceitos, na medida em
que a inovação contínua é frequentemente confundida com a inovação incremental,
o estudo empírico mostrou que os conceitos são diferentes, motivados por fatores
distintos.
A inovação contínua parece ser motivada por investimentos fixos em estrutura, na
destinação de um orçamento e na disponibilidade de pessoal qualificado. Inovações
ocasionais parecem ser motivadas por ímpetos pessoais, tanto de funcionários
encorajados a expor e a trabalhar suas ideias, quanto da ação dos líderes.
260
A inovação radical parece ser motivada pela preocupação com a concorrência, pelo
apetite pelo risco, pelo conhecimento do mercado e pelo papel da liderança. Já a
inovação incremental parece sofrer ação da pressão dos fornecedores e dos
costumes da empresa.
Embora tenhamos segmentado os fatores relacionados à inovação em externos e
internos, o que se verifica na prática é que os perfis inovadores são o resultado de
uma composição de fatores. Em relação à inovação contínua, os fatores internos são
os mais preponderantes, significando que isso está praticamente circunscrito à
decisão da empresa em investir em se tornar uma inovadora persistente. Já em
relação à inovação radical, há um equilíbrio entre fatores internos e externos, sendo
que as empresas com esse perfil provavelmente percebem ou fazer usufruto de
algum benefício presente no ambiente.
Há indicativos de que as estratégias de inovação que resultam em inovações
contínuas e radicais são diferentes, sendo que a combinação de posições diferentes
em relação a cada um dos tipos de inovação resulta em empresas distintas.
Empresas inovadoras tradicionais são empresas já estabelecidas, que mantém sua
competitividade inovando em processo ou através de inovações incrementais de
produto. Empresas inovadoras por projeto são empresas que não possuem ou não
valorizam uma estrutura interna de P&D, formando grupos quando necessitam atuar
em algum nicho identificado ou problema a resolver. Empresas inovadoras
emergentes são empresas menores, que buscam alternativas de crescimento pela
atuação em outros setores. Empresas inovadoras seriais são empresas que inovam
continuamente de forma radical.
7.2.1 Implicações Teóricas
O principal objetivo da pesquisa foi contribuir para o entendimento dos conceitos de
continuidade e radicalidade das inovações utilizando-se de um método quantitativo.
Dentro do grupo de empresas inovadoras, a pesquisa se preocupou em avaliar a
inovação contínua e a inovação radical.
261
Os resultados dos testes das hipóteses gerais confirmaram que:
•
há diferenças significativas entre os fatores que motivam as inovadoras
radicais e as incrementais, ou seja, que há fatores que influenciam a
radicalidade das inovações;
•
há diferenças significativas entre os fatores que motivam as inovadoras
persistentes e as inovadoras ocasionais, ou seja, que há fatores que
influenciam a continuidade das inovações;
•
há forças institucionais que moldam o ambiente limitando as empresas a
inovar de forma contínua e radical;
•
os conceitos de radicalidade e continuidade não são mutuamente
excludentes, havendo empresas que conjugam as duas características; e
•
há indícios de que a inovação contínua e a inovação radical decorrem de
estratégias de inovação distintas.
Da análise de cada um dos fatores relacionados no estudo, sobre aqueles que
responderam adequadamente aos testes estatísticos, podemos concluir que:
•
A alocação interna de recursos para atividades de inovação é um fator
presente em inovadoras persistentes. Em outras palavras, a conclusão óbvia
é que não há inovação sem que a empresa se dedique a ela investindo
recursos para sua realização de forma sistemática. É uma conclusão coerente
com o referencial teórico apresentado, principalmente de Langrish et al.
(1972).
•
Na mesma direção, a disponibilidade de pessoal qualificado e o investimento
em organização interna têm impactos positivos para as inovadoras
persistentes, indicando que uma estrutura voltada à inovação é fundamental
para as empresas que busquem inovar de forma contínua. Os achados
corroboram o trabalho de Tidd et al. (2001), que afirmam ser necessário um
contexto organizacional favorável para o sucesso da inovação.
•
Uma cultura que encoraje os funcionários a expor suas ideias influencia de
forma negativa a forma persistente de inovar e, consequentemente, de forma
positiva a inovação ocasional. Em ambientes menos estruturados, onde o
objetivo de inovar não se encontra explícito, a dependência da iniciativa de
funcionários criativos cresce.
262
•
A liderança exerce uma força importante em cenários de incerteza, como os
que são mais frequentes na inovação radical. Em cenários onde o trabalho se
torna contínuo, a liderança pode ter um impacto negativo sobre as empresas.
A conclusão sobre o papel da liderança corresponde, em parte, ao que
McDermott e O’Connor (2002) já haviam sugerido. Para eles, a liderança é
mais importante em ambientes desestruturados.
•
O nível da concorrência e a tendência à diversificação são apontados como
fatores importantes na motivação das empresas a investirem na inovação
radical. É interesante notar que a rivalidade entre as empresas, como
destacado no modelo de Porter (1979), leva as empresas a inovar de forma
radical, tentando provavelmente reduzir a interface competitiva, ou seja,
focando os novos produtos para mercados ainda não explorados, os Oceanos
Azuis de Kim e Mauborgne (2005).
•
O acesso a informações de mercado é apontado como um fator importante
para a inovação radical. De fato, corroborando Nonaka (2001, p.27), que
afirma que “numa economia onde a única certeza é a incerteza, apenas o
conhecimento é fonte segura de vantagem competitiva”, entende-se que, em
projetos de inovação radical, onde a incerteza é grande, o posicionamento do
inovador estará tanto melhor quanto mais informações ele detiver.
•
A inovação radical, por definição, é mais arriscada que a inovação
incremental. O presente estudo apenas reforça este ponto, ao indicar que a
tolerância ao risco é uma das características das empresas com inovações
radicais.
•
Os costumes da empresa podem dificultar o lançamento da inovação radical.
Como já levantado por Langrish et al. (1972), há fatores que prejudicam a
inovação, tais como a resistência a novas ideias ou forte ligação às antigas.
Quanto mais radical a inovação, mais diferente a ideia e, portanto, mais
sujeita a resistências internas ela estará.
•
Os fornecedores também exercem papel que prejudica a inovação radical.
Provavelmente por não enxergarem vantagens no fato de seu cliente inovar
de forma radical, os fornecedores estão mais fortemente atrelados à inovação
incremental. Rosenberg (1976), Nelson e Rosenberg (1993) já alertavam
sobre a necessidade dos fornecedores de fazer adaptações quando há
263
modificações relevantes no cliente. É, portanto, natural a resistência a
inovações radicais. No entanto, em casos em que os fornecedores não
possuem poder de barganha relevante, essa resistência não é de conclusão
imediata. No futuro, investigar esse tipo de relação pode traz mais luz sobre a
influência dos fornecedores sobre a inovação.
O estudo indica que há empresas que conseguem sustentar sua capacitade
inovadora ao estabelecer uma frequência de inovação com lançamentos na fronteira
tecnológica. Os resultados complementam o que Hicks e Hegde (2005) e Libaers
(2008) intitulam de “inovadoras seriais” ao enumerar outras categorias de empresas
inovadoras. As inovadoras seriais são as que aliam frequência e intensidade em seu
desempenho inovador. São empresas com características semelhantes às
apontadas pelos autores, à exceção da quantidade de patentes. Por essa
conjugação de frequência e intensidade não ser trivial, o grupo de empresas
identificadas é pequeno frente aos demais grupos.
As demais categorias englobam as empresas inovadoras tradicionais, utilizando-se
aqui um rótulo com definição diferente do preconizado por Freeman e Soete (1997),
que são empresas que inovam persistentemente, mas de forma incremental. São
empresas estabelecidas, cuja reformulação constante de produtos e processos faz
parte de seu negócio.
As empresas inovadoras por projeto são as que provavelmente trabalham por
projeto, formando equipes para a solução de problemas específicos. Uma estrutura
fixa de P&D não é relevante. Eventualmente, a solução que a equipe desenvolve
pode ser tecnologicamente diferente, ou seja, uma inovação.
As empresas inovadoras emergentes inovam por necessidade. Ao contrário das
inovadoras tradicionais, elas não estão estabelecidas e buscam justamente seu
espaço. O porte menor dificulta a frequência das inovações, tornando-as mais
ocasionais. Porém, ao buscarem diferenciação e diversificação, elas se apoiam
normalmente em inovações radicais para atingir seus objetivos.
264
Este modelo, baseado na frequência e na intensidade da inovação, traz um
diferencial em relação a outros modelo de categorização de empresas inovadoras.
Enquanto Tidd et al. (2001) se preocupam com a tipificação de pequenas empresas
e Pavitt (1984) se preocupe com as características setoriais e com aspectos ligados
à cadeia produtiva, nosso modelo se restringe a empresas inovadoras. Assim, ele
pode ser útil a pesquisas futuras que tenham foco nesse grupo de empresas.
7.2.2 Implicações Práticas
Acredita-se que o estudo se insere em duas categorias de implicações práticas. A
primeira, voltada aos empreendedores e empresários, que podem utilizar as
conclusões da pesquisa como suporte para um direcionamento de seus negócios.
Assim, empresas que tenham a inovação como objetivo podem avaliar que fatores
observar para transformá-la em algo mais contínuo e radical.
A segunda categoria está relacionada às políticas públicas. É notório que uma
empresa que inove de forma persistente contribuirá para a melhoria dos indicadores
nacionais de inovação, tendo em vista que esse tipo de medição está presente em
pesquisas importantes como a Pintec do IBGE. Mais que melhorar as estatísticas
nacionais, uma empresa inovadora tem impactos importantes sobre a economia.
Nossa pesquisa mostra que investimentos contínuos em educação e treinamento
são fundamentais para o incentivo a esse tipo de empresa.
Por outro lado, empresas com inovações radicais podem contribuir de forma mais
direta para a competitividade do país. Seus produtos e processos tendem a estar
alinhados com a fronteira do conhecimento, o que possibilita sua inserção em
mercados mais exigentes.
Embora a maior parte dos fatores que motivam as empresas a inovar continuamente
sejam internos, mais dependentes da própria empresa, há alguns fatores externos,
cuja empresa não tem, individualmente, grande poder de influência. É o caso de
agentes da cadeia produtiva e de acesso a informações de mercado, que são vistos
como relevantes para a inovação radical, e da educação, que é vista como relevante
265
para as inovadoras persistentes. O estudo sugere que essas questões podem ser
alvo de ações específicas do Poder Público.
7.3 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
A utilização de questionários disponibilizados em webpage não permite um
acompanhamento das respostas e nem uma uniformidade no entendimento das
perguntas. Como cita Gil (1987, p.77-78), sendo a percepção do questionário
subjetiva, os dados colhidos dependem das pessoas que os responderem. Não há
como garantir que o entendimento das perguntas representou exatamente a
intenção do pesquisador.
Além disso, uma outra limitação refere-se ao fato de não se poder afirmar com
absoluta certeza que as respostas obtidas sobre a amostra representem
perfeitamente o comportamento do universo das empresas. Para mitigar esse risco,
foram utilizados vários testes estatísticos.
Como cita Gil (1987, p.77-78), este tipo de estudo leva ainda a uma limitada
apreensão do processo de mudança. Como o levantamento proporciona uma
imagem estática do fenômeno estudado, não há como apontar tendências, a menos
que a pesquisa seja replicada no futuro.
As empresas da amostra eram brasileiras. Assim sendo, não é possível assumir que
os resultados sejam verdadeiros para empresas em outros países.
Por fim, como os testes foram realizados de forma diretamente relacionada à
inovação inscrita no Prêmio Finep, é possível que este retrato mostre uma situação
que não represente exatamente o modus operandi das empresas selecionadas. As
inovações podem ter sido inscritas justamente por fugirem das características
habituais das novidades lançadas pela empresa. Neste caso, utilizamos como
premissa que as inovações inscritas representam bem a forma de ação das
empresas. Como o Prêmio Finep de Inovação acaba também por ter uma
266
componente de promoção das empresas ganhadoras, é razoável supor que as
inovações inscritas estejam alinhadas com a estratégia da empresa.
7.4 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
Por se tratar de uma pesquisa de caráter descritivo/explicativo, ela pode se tornar o
ponto de partida de uma série de outras pesquisas. Cada uma das variáveis
levantadas constituem-se em um foco para pesquisas futuras. Um estudo mais
minucioso das variáveis pode ajudar na sua operacionalização, a fim de ampliar sua
contribuição prática.
Um ponto não abordado pela presente pesquisa diz respeito ao estudo das
empresas não inovadoras. Nosso ponto de partida foram os inúmeros estudos
realizados sobre variáveis que distinguiam empresas inovadoras das não
inovadoras. No entanto, podem ser sugeridos modelos integradores que organizem
os vários fatores que influenciam a inovação.
Recomenda-se também que a relação perfil e estratégia seja validada com amostras
maiores. A presente pesquisa trouxe alguns resultados relevantes para esse
entendimento, porém acredita-se que uma investigação mais direcionada pode
trazer importantes contribuições para o entendimento da dinâmica entre a estratégia
e a constituição de um perfil inovador.
Por fim, sugere-se que a pesquisa seja reproduzida no futuro, a fim de se ter uma
melhor ideia da dinâmica desses conceitos, bem como se sugere trabalhar
individualmente os setores, o que foi impossível neste estudo, tendo em vista o
tamanho da amostra.
267
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Analyses, n.420, 2010.
280
APÊNDICES
281
APÊNDICE A – E-mail encaminhado previamente às empresas
Assunto: Pesquisa sobre Empresas Inovadoras
Prezado Senhor,
Você está sendo contatado, pois sua empresa se inscreveu no Prêmio Finep de
Inovação nos últimos anos. A UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro está
conduzindo uma pesquisa sobre vários aspectos que influenciaram a inovação que
sua empresa inscreveu no Prêmio. Gostaríamos de poder contar com sua
participação nesta pesquisa. Ela é muito importante.
Para tanto, encaminharemos nos próximos dias, um e-mail com um link. Ele
permitirá acessar um questionário de preenchimento rápido e fácil. Todas as
respostas são anônimas e não serão divulgadas individualmente.
Se sua empresa se inscreveu mais de uma vez no período de 2004 a 2006,
provavelmente você receberá mais de um questionário. Pedimos a gentileza de
responder a todos. A partir da segunda resposta, boa parte do questionário será
suprimido, tornando o preenchimento mais simples.
Não é necessário responder a este e-mail. Porém, qualquer dúvida ou informação
adicional
pode
ser
solicitada
encaminhando
um
e-mail
para
[email protected].
Agradecemos antecipadamente. Sua participação é muito importante!
Atenciosamente,
Bernardo Hauch Ribeiro de Castro, MSc.
Doutorando - COPPEAD/UFRJ
[email protected]
Site: http://www.coppead.ufrj.br
PS: O questionário a ser acessado através do link mencionado foi criado com o uso
da ferramenta "Google Docs", não havendo possibilidade de infecção por vírus e
sendo compatível com a maior parte dos computadores e redes.
282
APÊNDICE B – E-mail encaminhado às empresas
Prezado <<nome>>,
<<nome da empresa>>
Conforme mencionamos no e-mail de 6/10/2010, você está sendo contatado, pois se
inscreveu no Prêmio Finep de Inovação nos últimos anos. A UFRJ – Universidade
Federal do Rio de Janeiro está conduzindo uma pesquisa sobre vários aspectos que
influenciaram a inovação que sua empresa inscreveu no Prêmio. Gostaríamos de
poder contar com sua participação nesta pesquisa. Ela é muito importante.
Inovação inscrita: <<título da inovação>>
Ano: <<ano de inscrição no Prêmio>>
Categoria: <<produto ou processo>>
Para tanto, solicitamos que acesse o link a seguir e responda às questões. O
preenchimento não lhe tomará muito tempo e será de grande utilidade para a
pesquisa.
https://spreadsheets.google.com/viewform?formkey=dFc5VFNYbHE3RzJaNHcwZlV
FcmpYU0E6MQ
Lembramos que as respostas são anônimas.
Agradecemos mais uma vez sua colaboração e colocamo-nos à disposição para
quaisquer
dúvidas
ou
informações
adicionais
pelo
e-mail
[email protected].
Atenciosamente,
Bernardo Hauch Ribeiro de Castro, MSc.
Doutorando – COPPEAD/UFRJ
[email protected]
Site: http://www.coppead.ufrj.br
PS: O questionário a ser acessado através do link mencionado foi criado com o uso
da ferramenta "Google Docs", não havendo possibilidade de infecção por vírus e
sendo compatível com a maior parte dos computadores e redes.
283
APÊNDICE C – Questionário
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285
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290
291
292
293
294
APÊNDICE D – Empresas respondentes
Abirush Automação e Sistemas S/A
Albras Alumínio Brasileiro S/A
Altanova Ltda.
Ar Engenharia Térmica Ltda.
Armazeem Mato Grosso - Estilo e desenvolvimento em moda artesanal
Azanonatec / Zanona & Rodrigues Ltda.
Beach Park Hotéis e Turismo S/A
Beckhauser & Cia Ltda.
Bematech Indústria e Comércio de Equipamentos Eletrônicos S/A
Braskem S/A
ByJG.com.br / JG Vieira de Rezende Magalhães
Califórnia Biotecnologia Agrícola Ltda - BioCampo
Cecrisa Revestimentos Cerâmicos S/A
Cedan - Cerâmica Dantas ltda
Centertel Ltda
Central Laminações Ltda.
Ci&T Software S/A
Cianet Ind e Com S/A
Clorovale Diamantes Ind e Com S/A
Colhefort Industria de Maquinas Agricolas Ltda. / Agromaq Máquinas Agrícolas Ltda.
Colorminas Colorifício e Mineração Ltda.
Columbia Tecnologia em Petróleo e Serviços Ltda.
Companhia de Informática do Paraná S/A - Celepar
Companhia de Saneamento do Paraná - Sanepar
Compuletra Ltda.
Contronic Sistemas Automáticos Ltda.
CoProcess Industrial Ltda.
Cristalia Produtos Químicos e Farmacêuticos Ltda.
Daiken Indústria Eletrônica Ltda.
Datalab do Brasil Ltda.
Dersehn do Brasil Ltda.
E.Fares Abdala Neto - ME
Ecoban Agroindustrial Ltda.
Edtuner Electronics do Brasil Ind e Com. Ltda Me
Embria Technologies
Enersud Indústria e Soluções Energéticas Ltda.
Exatron Industria Eletronica Ltda.
Excegen Genética S/A
Fiberwork Comunicações Ópticas Ltda.
Fundação Aplicações de Tecnologias Criticas - Atech
Grameyer Equipamentos Eletrônicos Ltda.
Grupo HT4B / LHR Consultoria de Empresas Ltda.
Hp Equip. e Inst. Bio Medicos Ind. e Com. Ltda
HT Print do Brasil Ltda.
Icase Tecnologia da Informação Ltda.
Itaiacoca S/A Mineração Indústria e Comércio
ITO Clínica - Ronco & Apneia do Sono
Ivia Serviços de Informática
295
Jaoudi Mendonça Industria e Comércio de Biojóias Ltda ME / Rita Prossi
Junqueira Compressores e Máquinas Ltda.
Karsten S/A
Klabin S/A
Leader Brasil Ltda.
Light Infocon Tecnologia S/A
M&D Monitoração e Diagnose Ltda.
Magneti Marelli Powertrain
Metalurgica Barros Ltda.
MidiaVox Ltda.
Módulo Security Solutions S/A
Movitec Compressores
Neger Tecnologia e Sistemas Ltda.
Neokoros Brasil Ltda
New Ink Informática Ltda.
Nickney Editora Ltda.
Nomade Máquinas Ltda.
NovoCell S/A
Oniria / LDGames Produtora de Softwares LTDA
Optimedia Tecnologia em Informática Ltda.
P&C Música e Informática / Acacia Maria Picoli-ME
Persona Representação e Serviços de Informática Ltda.
PhDsoft / Engesoftware Tecnologia Ltda.
Plano Bê Desenvolvimento de Sistemas Ltda.
Positivo Informática S/A
Prosyst Desenvolvimento de Sistemas Ltda.
PS Soluções Indústria, Comércio, Representações e Consultoria Ltda.
QuiZZ Soluções Interativas / Supertec Serviços de Informática e Rep Ltda. ME
Randon S/A Implementos e Participações
Santal Equipamentos S/A Comércio e Indústria
Scientia Laboratórios Ltda.
Seccional Brasil S/A
Sideral Indústria e Comércio Ltda.
Siemens Ltda.
Silvestre Labs Química e Farmacêutica Ltda.
Sirius Produção Indústria e Comércio Ltda.
Standart 2000 Ltda.
Suspensys Sistemas Automotivos Ltda.
Tech4B Technology for Business
TECNICER / ALOCER
Tecno Plating Manutenção de Máquinas Industriais Ltda.
Teknikao Ind. e Com. Ltda.
Treetech Sistemas Digitais Ltda.
Tupy S/A
V2COM / KBS Empreendimentos e Participações Ltda.
Vá A Pé - Calçados Ergonômicos / Margot Gonçalves FI
Vallée S/A
Veros Produtos Químicos
Vinibrasil - Vinhos do Brasil S/A
Way TV Belo Horizonte S/A
296
Weg Equipamentos S/A
Weg Tintas Ltda.
WiNGS Telecom
WK Energia / Energetika Cer
ZMT Comunicações e Tecnologia Ltda.
297
APÊNDICE E – Histogramas das respostas
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1
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APÊNDICE F – Análise discriminante (45 variáveis / radicalidade)
Tests of Equality of Group Means
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Wilks'
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,998
,993
,993
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1,000
,996
,960
,999
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,940
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,955
,990
,952
,997
,991
,993
,999
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,982
,998
,999
1,000
,999
,994
,927
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,984
F
df1
df2
Sig.
,023
,030
,003
,769
1,570
8,028
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,046
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,247
,682
,726
,217
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,071
,013
,000
,357
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,998
5,143
,349
,881
,684
,055
4,155
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,245
,114
,019
,147
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,991
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,025
,556
,350
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,815
,044
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,006
,285
,192
,196
Log Determinants
Log
Determinant
0
6
1,716
1
6
1,212
Pooled within-groups
6
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The ranks and natural logarithms of determinants printed are those of the group covariance matrices.
Radical_Final
Rank
301
Functions at Group Centroids
Function
Radical_Final
1
0
-,450
1
1,044
Unstandardized canonical discriminant functions evaluated at group means
Classification Function Coefficients
Radical_Final
0
1
P5
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,600
P6
P14_inv
,457
1,686
1,025
2,176
P16
-,121
-,732
P23
P40
1,497
5,376
2,138
6,213
(Constant)
-17,573
-23,304
Fisher's linear discriminant functions
302
APÊNDICE G – Análise discriminante (20 fatores / radicalidade)
Tests of Equality of Group Means
P_1E2
P3
P4
P_5e6e7
P_8e9e10e11
P12_inv
P_15e16
P_13e14
P_17a20
P21
P22
P_23e24
P_25e26
P_27a30
P_32a35
P_36a39
P_40a43
P31
P44
P45
Wilks'
Lambda
1,000
,992
,985
,992
,990
,993
,990
,991
,999
,972
,988
,999
,999
,954
,978
,998
,955
,999
,997
,960
F
df1
,004
,769
1,570
,786
1,051
,726
1,053
,895
,096
2,923
1,200
,128
,085
4,896
2,220
,210
4,751
,055
,349
4,181
df2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Sig.
,950
,383
,213
,377
,308
,396
,307
,346
,757
,090
,276
,722
,771
,029
,139
,648
,032
,815
,556
,043
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
101
Test Results
Box's M
24,274
Approx.
7,872
df1
3
df2
68054,728
Sig.
,000
Tests null hypothesis of equal population covariance matrices.
F
Eigenvalues
Canonical
Function
Eigenvalue
% of Variance
Cumulative %
Correlation
1
,090(a)
100,0
100,0
,288
a First 1 canonical discriminant functions were used in the analysis.
Wilks' Lambda
Test of Function(s)
1
Wilks'
Lambda
,917
Chi-square
8,654
df
2
Sig.
,013
Standardized Canonical Discriminant Function Coefficients
P_27a30
P45
Function
1
,736
,681
303
APÊNDICE H – Regressão logística (45 variáveis / radicalidade)
Variables in the Equation
Step 0
Constant
B
-,843
S.E.
,215
Wald
15,388
df
1
Sig.
,000
Exp(B)
,431
Omnibus Tests of Model Coefficients
Step 1
Step 2
Step 3
Step 4
Step 5
Step 6
Step
Block
Model
Step
Block
Model
Step
Block
Model
Step
Block
Model
Step
Block
Model
Step
Block
Model
Chi-square
7,883
7,883
7,883
8,235
16,119
16,119
6,710
22,829
22,829
4,218
27,047
27,047
5,004
32,050
32,050
5,429
37,479
37,479
df
1
1
1
1
2
2
1
3
3
1
4
4
1
5
5
1
6
6
Sig.
,005
,005
,005
,004
,000
,000
,010
,000
,000
,040
,000
,000
,025
,000
,000
,020
,000
,000
Model Summary
-2 Log
Cox & Snell Nagelkerke R
Step
likelihood
R Square
Square
1
118,124(a)
,074
,104
2
109,888(a)
,145
,205
3
103,178(b)
,199
,282
4
98,960(b)
,231
,327
5
93,957(b)
,267
,379
6
88,528(b)
,305
,432
a Estimation terminated at iteration number 4 because parameter estimates changed by less than ,001.
b Estimation terminated at iteration number 5 because parameter estimates changed by less than ,001.
Hosmer and Lemeshow Test
Step
1
2
3
4
5
6
Chi-square
1,143
6,244
16,138
4,710
14,665
6,595
df
3
7
8
8
8
8
Sig.
,767
,512
,040
,788
,066
,581
304
Variables in the Equation
B
FI05
-,462
Constant
,323
FI05
-,642
FI06
,473
Constant
-,461
Step
FI05
-,702
3(c)
FI06
,454
FE04
,546
Constant
-1,966
Step
FI05
-,673
4(d)
FI06
,469
P14_inv
,407
FE04
,566
Constant
-3,354
Step
FI05
-,663
5(e)
FI06
,543
P14_inv
,468
FI15
-,439
FE04
,686
Constant
-2,740
Step
FI05
-,647
6(f)
FI06
,519
P14_inv
,437
FI15
-,600
FE04
,590
FE21
,869
Constant
-5,427
a Variable(s) entered on step 1: FI05.
b Variable(s) entered on step 2: FI06.
c Variable(s) entered on step 3: FE04.
d Variable(s) entered on step 4: P14_inv.
e Variable(s) entered on step 5: FI15.
f Variable(s) entered on step 6: FE21.
Step
1(a)
Step
2(b)
S.E.
,173
,464
,200
,172
,554
,207
,180
,218
,841
,209
,184
,204
,219
1,150
,211
,199
,214
,205
,238
1,169
,214
,205
,221
,225
,243
,398
1,793
Wald
7,160
,486
10,275
7,520
,693
11,527
6,383
6,261
5,460
10,368
6,533
3,963
6,699
8,497
9,878
7,451
4,787
4,575
8,308
5,490
9,180
6,439
3,907
7,095
5,917
4,765
9,160
df
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Sig.
,007
,486
,001
,006
,405
,001
,012
,012
,019
,001
,011
,046
,010
,004
,002
,006
,029
,032
,004
,019
,002
,011
,048
,008
,015
,029
,002
Exp(B)
,630
1,382
,526
1,604
,630
,495
1,575
1,726
,140
,510
1,599
1,502
1,762
,035
,515
1,721
1,597
,645
1,986
,065
,523
1,681
1,548
,549
1,804
2,385
,004
305
APÊNDICE I – Análise fatorial
Communalities
Initial
Extraction
P25
1,000
,660
P1
1,000
,563
P3
1,000
,736
P5
1,000
,529
P9
1,000
,721
P10
1,000
,751
P11
1,000
,736
P12
1,000
,541
P16
1,000
,600
P17
1,000
,748
P18
1,000
,524
P19
1,000
,753
P20
1,000
,564
P22
1,000
,613
P27
1,000
,741
P28
1,000
,573
P29
1,000
,638
P44
1,000
,695
P30
1,000
,818
P32
1,000
,631
P33
1,000
,541
P34
1,000
,639
P35
1,000
,657
P37
1,000
,758
P38
1,000
,622
P39
1,000
,758
P40
1,000
,675
P41
1,000
,555
P42
1,000
,698
P43
1,000
,614
Extraction Method: Principal Component Analysis.
Scree Plot
8
Eigenvalue
6
4
2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Component Number
306
Matrizes de Anti-imagem
P25
P1
P3
P5
P9
P10
P11
P12
P16
P17
P18
P19
P20
P22
P27
P28
P29
P44
P30
P25
0,497
0,032
0,028
0,128
-0,025
0,036
-0,073
0,093
0,036
-0,055
0,113
-0,058
-0,091
0,076
-0,022
0,000
0,056
0,125
-0,013
P1
0,032
0,521
-0,011
-0,040 -0,036
0,007
-0,078
-0,025
-0,003 -0,084
-0,058
0,072
-0,069
0,000
0,003
-0,027
-0,008
P3
0,028
-0,011
0,304
-0,036 -0,133
0,049
-0,106
-0,044
0,045
-0,040
0,091
-0,004
-0,075 -0,027
-0,059 -0,024
0,010
P5
0,128
-0,040 -0,036
0,501
-0,057
-0,015 -0,030
0,015
0,011
0,050
-0,072 -0,024
-0,123
0,069
-0,029 -0,012 -0,004
0,087
0,025
-0,057
0,330
0,052
-0,102
Correlação Anti-imagem
Covariância Anti-imagem
P9
-0,025
-0,036 -0,133
0,019
P34
P35
P37
P38
P39
P40
P41
P42
-0,098
0,128
0,018
0,079
-0,048
-0,064
-0,028 -0,014
0,008
-0,041 -0,028
-0,044
0,045
-0,036
0,016
0,039
-0,075
0,027
0,035
0,019
-0,014
-0,063
0,085
0,009
-0,122
0,086
0,022
0,054
-0,100
-0,025
-0,006
-0,010
-0,067 -0,020
0,006
0,043
0,005
-0,004 -0,005
-0,071
0,021
0,008
-0,092
0,081
-0,033 -0,023
-0,034
0,001
0,005
0,011
-0,054
0,041
0,062
-0,078
0,038
0,065
-0,034 -0,001
0,016
0,036
0,007
0,049
-0,015 -0,072
0,260
-0,079
0,081
-0,039 -0,171
0,066
0,054
-0,047 -0,001
-0,011 -0,015 -0,062
-0,054
0,059
-0,057 -0,005
0,005
-0,073
-0,010
0,034
0,034
-0,040
0,025
P11
-0,073
-0,078 -0,106
-0,030 -0,029
-0,079
0,268
-0,071
0,034
0,063
-0,076 -0,057
-0,005 -0,033
0,018
0,004
0,027
-0,041 -0,021
0,027
-0,097
0,040
0,012
0,055
-0,030 -0,011
0,052
-0,045
0,017
P12
0,093
-0,025 -0,044
0,015
0,081
-0,071
0,588
-0,082 -0,092
-0,025 -0,028
0,002
-0,056
-0,006 -0,014
0,053
0,019
-0,028
0,104
-0,053 -0,014
0,086
-0,024 -0,030
-0,043
0,030
0,034
0,010
-0,028 -0,035
0,045
0,064
P33
P10
0,081
-0,072 -0,029
0,063
P32
-0,020 -0,016
0,036
-0,003
0,011
-0,033
-0,039
0,034
-0,082
0,564
0,068
-0,001 -0,067
-0,080
0,011
0,113
0,099
0,030
-0,006
-0,024 -0,016
0,026
-0,074
P17
-0,055
-0,084 -0,040
0,050
-0,023
-0,171
0,063
-0,092
0,068
0,269
-0,098
0,001
0,023
0,069
-0,018 -0,039
0,017
0,027
0,020
0,028
-0,046
0,069
0,021
0,018
-0,014 -0,058
0,011
-0,035
0,036
P18
0,113
-0,058
0,091
-0,072 -0,034
0,066
-0,076
-0,025
-0,001 -0,098
0,469
-0,125
-0,061 -0,071
0,041
0,050
0,065
-0,075
-0,096
0,060
-0,042
0,030
-0,054
0,063
0,050
0,039
0,001
-0,079
P19
-0,058
0,072
-0,004
-0,024
0,001
0,054
-0,057
-0,028
-0,067
0,439
-0,098
-0,064 -0,115 -0,098
-0,054
0,105
-0,028 -0,064
0,084
0,049
0,007
-0,073
-0,068
0,059
P20
-0,091
-0,069 -0,075
-0,123
0,052
-0,047 -0,005
0,002
-0,080
0,023
-0,061 -0,098
0,543
0,042
0,052
0,067
0,025
0,003
-0,033
-0,003
0,093
-0,096 -0,004
0,077
-0,077
0,028
-0,051
0,046
0,085
P22
0,076
0,063
-0,027
0,069
-0,102
-0,001 -0,033
-0,056
0,011
0,069
-0,071
0,042
0,525
0,071
-0,081 -0,049
0,000
0,041
0,005
-0,045
0,087
-0,021
-0,028
-0,022 -0,070
-0,025 -0,003
-0,057
P27
-0,022
0,000
-0,059
-0,029
0,064
-0,011
0,018
-0,006
0,113
-0,018
0,340
-0,036 -0,107
-0,044 -0,085
-0,086
0,020
-0,020
0,030
0,053
-0,034
0,023
0,005
0,033
-0,002
P28
0,000
0,003
-0,024
-0,012
0,019
-0,015
0,004
-0,014
-0,072 -0,039
0,034
-0,115
0,067
-0,081
-0,036
0,494
0,016
0,090
-0,018
-0,022 -0,011
-0,048 -0,002
-0,103
-0,080
0,083
-0,003
0,033
-0,119
P29
0,056
-0,027
0,010
-0,004
0,005
-0,062
0,027
0,053
0,010
0,017
0,050
-0,098
0,025
-0,049
-0,107
0,016
0,404
0,062
-0,055
0,026
0,032
-0,044
0,021
0,011
0,018
-0,107
0,054
-0,079
-0,046
P44
0,125
-0,008 -0,004
0,087
0,011
-0,054 -0,041
0,019
-0,028
0,027
0,065
-0,054
0,003
0,000
-0,044
0,090
0,062
0,379
-0,092
-0,052
0,051
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0,059
-0,231
-0,431
-0,044
-0,105
0,041
-0,377
0,082
0,002
-0,191 -0,069
-0,006
-0,008 -0,307
0,092
-0,100
0,031
0,774
-0,407
0,003
0,039
-0,093 -0,076
-0,164
0,255
0,011
-0,191 -0,407
0,673
-0,084
-0,235
0,240
0,002
-0,131
0,142
-0,024 -0,431
-0,069
0,003
-0,084
0,811
-0,265
-0,112 -0,011
0,295
-0,266
-0,216
-0,100 -0,044
-0,006
0,039
-0,235 -0,265
0,756
-0,271 -0,146
-0,136
0,101
0,085
0,066
-0,008 -0,093
0,240
-0,271
0,855
0,000
-0,022 -0,044
-0,025
0,853
-0,222 -0,012
0,041
-0,168
-0,059
-0,105
0,047
-0,072
0,056
-0,005
0,122
-0,038
-0,072
-0,039 -0,205
0,135
-0,203
0,071
-0,177
0,074
0,217
-0,309
-0,010
0,041
-0,089 -0,011
-0,146
0,000
P40
0,203
-0,110
0,064
0,139
0,049
-0,141
0,180
-0,101
0,062
0,038
0,102
-0,185
-0,125 -0,062
0,014
-0,008
0,153
0,090
-0,377
0,092
-0,164
0,002
0,295
-0,136
-0,022 -0,222
0,772
-0,502
P41
-0,109
0,099
-0,041
-0,225 -0,016
0,078
-0,139
0,062
-0,157 -0,107
0,003
0,142
0,099
-0,007
0,090
0,075
-0,199
0,059
0,082
-0,100
0,255
-0,131 -0,266
0,101
-0,044 -0,012
-0,502
0,761
P42
-0,134
-0,072 -0,168
-0,051 -0,025
0,123
0,047
0,065
0,084
0,102
-0,169
0,094
0,169
-0,116
-0,004 -0,250 -0,106
-0,231
0,254
0,031
0,011
0,142
-0,216
0,085
-0,025
0,041
-0,168
0,096
0,683
P43
-0,092
0,072
0,110
0,052
-0,002
0,022
-0,033 -0,011
-0,126
0,138
-0,158
0,088
-0,142
-0,118
0,099
0,085
-0,208
0,040
0,109
0,019
-0,167 -0,222
0,033
-0,252
-0,372
-0,037
0,022
Sublinhadas: Measures of Sampling Adequacy(MSA)
0,000
-0,116
-0,307 -0,076
-0,112
-0,089
0,254
0,096
307
Total Variance Explained
Component
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
Total
7,279
4,119
2,251
1,915
1,494
1,324
1,268
1,035
,892
,820
,771
,743
,692
,557
,542
,488
,472
,453
,418
,355
,339
,304
,258
,247
,232
,202
,185
,134
,113
,098
Initial Eigenvalues
Extraction Sums of Squared Loadings
% of Variance
Cumulative %
Total
% of Variance
Cumulative %
24,263
24,263
7,279
24,263
24,263
13,730
37,993
4,119
13,730
37,993
7,504
45,497
2,251
7,504
45,497
6,384
51,881
1,915
6,384
51,881
4,981
56,862
1,494
4,981
56,862
4,413
61,275
1,324
4,413
61,275
4,228
65,503
1,268
4,228
65,503
3,449
68,952
2,973
71,925
2,733
74,658
2,569
77,227
2,475
79,702
2,308
82,010
1,856
83,866
1,807
85,673
1,625
87,298
1,572
88,870
1,511
90,382
1,392
91,774
1,184
92,958
1,129
94,087
1,014
95,102
,859
95,960
,825
96,785
,774
97,559
,674
98,233
,616
98,850
,445
99,295
,378
99,673
,327
100,000
Extraction Method: Principal Component Analysis.
Rotation Sums of Squared Loadings
Total
% of Variance
Cumulative %
3,747
12,489
12,489
3,727
12,423
24,911
3,685
12,283
37,195
2,325
7,750
44,945
2,183
7,276
52,220
2,106
7,021
59,241
1,878
6,262
65,503
308
APÊNDICE J – Análise discriminante (7 fatores / radicalidade)
Tests of Equality of Group Means
F2
F3
F1
F4
F6
F5
F7
Wilks'
Lambda
,946
,999
,987
,991
,995
1,000
,978
F
df1
df2
Sig.
5,804
,101
1,373
,878
,500
,038
2,229
1
1
1
1
1
1
1
101
101
101
101
101
101
101
,018
,752
,244
,351
,481
,845
,139
Log Determinants
Log
Determinant
0
1
,017
1
1
-,213
Pooled within-groups
1
-,046
The ranks and natural logarithms of determinants printed are those of the group covariance matrices.
Radical_Final
Rank
Variables Entered/Removed(a,b,c,d)
Entered
Min. D Squared
Between
Statistic
Exact F
Statistic
Groups
Step
Statistic
df2
Sig.
Statistic
df1
df2
Sig.
1
F2
,268
0 and 1
5,804
1
101,000
,018
At each step, the variable that maximizes the Mahalanobis distance between the two closest groups is entered.
a Maximum number of steps is 14.
b Minimum partial F to enter is 3.84.
c Maximum partial F to remove is 2.71.
d F level, tolerance, or VIN insufficient for further computation.
309
APÊNDICE K – Regressão logística (7 fatores / radicalidade)
Omnibus Tests of Model Coefficients
Step 1
Step
Block
Model
Chi-square
5,961
5,961
5,961
df
1
1
1
Sig.
,015
,015
,015
Model Summary
-2 Log
Cox & Snell Nagelkerke R
Step
likelihood
R Square
Square
1
120,046(a)
,056
,080
a Estimation terminated at iteration number 4 because parameter estimates changed by less than ,001.
Variables in the Equation
Step
1(a)
F2
Constant
B
,570
-,908
S.E.
Wald
df
,248
5,292
1
,228
15,860
1
a Variable(s) entered on step 1: F2.
Hosmer and Lemeshow Test
Step
1
Chi-square
5,385
df
8
Sig.
,716
Sig.
,021
,000
Exp(B)
1,769
,404
310
APÊNDICE L – Análise discriminante (45 variáveis / continuidade)
Tests of Equality of Group Means
P25
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
P12
P13
P14
P16
P17
P18
P19
P20
P45
P15
P21
P22
P23
P24
P26
P27
P28
P29
P44
P30
P32
P31
P33
P34
P35
P36
P37
P38
P39
P40
P41
P42
P43
Wilks'
Lambda
,970
,987
,995
,976
,935
,993
,998
,994
,980
,995
,999
,998
,997
1,000
,975
1,000
,996
,999
,976
,985
1,000
,995
,972
1,000
,952
,991
1,000
,932
,964
,960
,971
,970
,990
,945
,997
,999
,998
,998
,997
,952
,990
,949
,988
,990
,923
F
3,055
1,281
,479
2,488
6,929
,729
,250
,621
2,032
,462
,080
,231
,270
,006
2,567
,029
,416
,094
2,419
1,481
,001
,507
2,847
,029
5,003
,857
,037
7,249
3,780
4,115
2,969
3,105
,979
5,861
,334
,076
,170
,218
,323
5,076
,960
5,398
1,252
1,027
8,396
df1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
df2
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
Sig.
,084
,260
,490
,118
,010
,395
,618
,433
,157
,498
,777
,632
,604
,938
,112
,866
,520
,760
,123
,226
,981
,478
,095
,864
,028
,357
,847
,008
,055
,045
,088
,081
,325
,017
,564
,783
,681
,642
,571
,026
,330
,022
,266
,313
,005
311
APÊNDICE M – Regressão logística (45 variáveis / continuidade)
Omnibus Tests of Model Coefficients
Step 1
Step 2
Step 3
Step
Block
Model
Step
Block
Model
Step
Block
Model
Chi-square
8,083
8,083
8,083
8,117
16,199
16,199
4,449
20,649
20,649
df
1
1
1
1
2
2
1
3
3
Sig.
,004
,004
,004
,004
,000
,000
,035
,000
,000
Model Summary
-2 Log
Cox & Snell Nagelkerke R
Step
likelihood
R Square
Square
1
132,337(a)
,076
,102
2
124,221(a)
,147
,196
3
119,771(a)
,183
,245
a Estimation terminated at iteration number 4 because parameter estimates changed by less than ,001.
Hosmer and Lemeshow Test
Step
1
2
3
Chi-square
,069
10,239
18,650
df
1
6
6
Sig.
,793
,115
,005
312
APÊNDICE N – Regressão logística ( 7 fatores / continuidade)
Omnibus Tests of Model Coefficients
Step 1
Step
Block
Model
Chi-square
6,589
6,589
6,589
gl
1
1
1
Sig.
,010
,010
,010
Model Summary
-2 Log
Cox & Snell Nagelkerke R
Step
likelihood
R Square
Square
1
133,831(a)
,063
,084
a Estimation terminated at iteration number 4 because parameter estimates changed by less than ,001.
Hosmer and Lemeshow Test
Step
1
Chi-square
9,181
gl
8
Sig.
,327
313
APÊNDICE O – Análise discriminante (análise conjunta)
Log Determinants
Log
Determinant
1
7
-,876
2
7
-10,394
3
7
1,186
4
7
-,161
Pooled within-groups
7
,915
The ranks and natural logarithms of determinants printed are those of the group covariance matrices.
Quadrante rad cont
Rank
Variables Entered/Removed(a,b,c,d)
Entered
Min. D Squared
Between
Statistic
Exact F
Statistic
Groups
Step
Statistic
df2
Sig.
Statistic
df1
df2
Sig.
1
P5
,065
1 and 3
1,168
1
99,000
,283
2
P31
,255
2 and 4
,805
2
98,000
,450
3
P23
,681
1 and 3
3,994
3
97,000
,010
4
P40
1,018
3 and 4
3,295
4
96,000
,014
5
P16
1,066
2 and 3
1,456
5
95,000
,212
6
P6
1,391
1 and 3
3,951
6
94,000
,001
7
P4
1,476
1 and 3
3,554
7
93,000
,002
At each step, the variable that maximizes the Mahalanobis distance between the two closest groups is entered.
a Maximum number of steps is 90.
b Maximum significance of F to enter is .05.
c Minimum significance of F to remove is .10.
d F level, tolerance, or VIN insufficient for further computation.
Standardized Canonical Discriminant Function Coefficients
P4
P5
P6
P16
P23
P31
P40
1
-,391
-,378
,544
-,701
,588
,294
,505
Function
2
,069
,329
,290
-,476
,248
,797
-,497
3
,676
-,746
,361
,115
-,366
,170
,055
Functions at Group Centroids
Function
1
2
3
1
-,472
,580
,072
2
,364
-,623
,981
3
-,382
-,594
-,226
4
1,257
,171
-,176
Unstandardized canonical discriminant functions evaluated at group means
Quadrante rad cont
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