Licenciatura em Química – 1ºCiclo 2º Semestre do Ano Lectivo 2007/08 Monografia de Química e Sociedade Os Esteróides Androgénicos Anabolizantes Perspectiva Química e Social Realizado por: Pedro Miguel F. Silva, nº49784 Lisboa, 30 de Junho de 2008 Conteúdo Introdução ..................................................................................................................................... 2 A. Esteróides Androgénicos Anabolizantes num Contexto Social ............................................. 3 B. Química dos Esteróides Androgénicos Anabolizantes .......................................................... 6 B.1 Definição e Nomenclatura .................................................................................................. 6 B.2 Biossíntese dos EAA’s de origem Endógena e Controlo Hormonal .................................. 25 B.3 Síntese de EAA’s ................................................................................................................ 35 B.4 Mecanismos de acção dos EAA’s ...................................................................................... 39 B.5 Detecção de EAA’s no controlo anti-doping ..................................................................... 41 Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 46 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Introdução Este trabalho tem por objectivo mostrar o impacto que a química dos esteróides androgénicos anabolizantes tem na sociedade mundial. Estas substâncias, inicialmente descobertas e sintetizadas para fins puramente terapêuticos, têm vindo a ser utilizadas em doses supra-terapêuticas para promover uma melhor performance desportiva ou simplesmente para fins estéticos. Apesar dos seus “benefícios” sobre o tecido muscular e sobre o teor de gordura corporal, os EAA’s apresentam significativos riscos para a saúde dos seus utilizadores, além de porem em causa o espírito competitivo equalitário e a autosuperação dos atletas de alta competição. Os profissionais da química ocupam simultaneamente os dois lados do combate ao doping no desporto. Isto porque por um lado são solicitados por certas federações desportivas para produzirem novos compostos capazes de contornar melhor o controlo anti-dopagem, mas que por outro se dedicam ao desenvolvimento de técnicas mais sofisticadas para a detecção de novos xenobióticos candidatos a melhoradores da performance atlética. Na primeira parte deste trabalho procura-se explicar o contexto de utilização de EAA’s para fins não terapêuticos. Numa segunda parte é apresentada a química subjacente a esta classe de substâncias proibidas. Começa-se por abordar de uma forma sucinta a nomenclatura de esteróides estritamente necessária para compreendermos a construção do nome sistemático utilizado na lista de agentes anabolizantes interditos pela WADA para 2008. Seguese uma explicação pormenorizada do processo de biossíntese de hormonas androgénicas (e não só), assim como o modo como este é regulado no organismo humano. A produção de EAA’s sintéticos e de origem endógena também é abordada, sendo apresentada uma proposta de síntese de pré-hormonais utilizando como material de partida um esteróide natural proveniente das plantas. São explicados os mecanismos de acção dos EEA’s quando administrados em doses terapêuticas e supra-terapêuticas, e para este último são também identificadas as consequências fisiológicas. A detecção laboratorial por GC-MS e a utilização do parâmetro T/E para a detecção de EAA’s é também explicada no final do trabalho. 2 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social A. Esteróides Androgénicos Anabolizantes num Contexto Social A utilização de substâncias capazes de proporcionar uma melhoria do desempenho físico é um facto que atravessa a história da humanidade desde a Antiguidade. Os gregos ingeriam uma certa espécie de cogumelos, pois conhecendo as suas propriedades alucinogénicas, acreditavam que poderiam melhorar qualidades atléticas como a coragem e a força. Os gladiadores romanos utilizavam certos estimulantes para atenuar a fadiga. No Quénia e na Tanzânia, os maasai continuam a ingerir uma misteriosa bebida, que segundo dizem, os ajuda a correr mais rápido durante mais tempo, e que é preparada à base de sangue de vaca (extraído através de uma flechada na jugular), leite de cabra das montanhas a ferver, cinzas e uma mistura de ervas locais. A origem da palavra doping é desconhecida, contudo sabe-se ter aparecido pela primeira vez num dicionário inglês no ano de 1889, significando uma mistura de narcóticos utilizada em cavalos. O primeiro documento oficial a registar a palavra doping só foi assinado em 1897, quando aconteceu a também primeira desclassificação por uso de drogas. O caso aconteceu quando o dirigente inglês Choppy Warburton foi apanhado a oferecer a um ciclista um xarope com propriedades excitantes. Warburton foi afastado das suas funções sob a acusação de utilizar meios ilícitos para melhorar a performance do seu ciclista. Actualmente conhecem-se uma grande variedade que substâncias capazes de melhorar a performance desportiva dos atletas de alta competição. O facto da utilização de muitas delas poder pôr em causa o espírito competitivo e/ou a saúde física dos atletas, levou a que o Comité Olímpico Internacional (COI) em Fevereiro de 1999 organizasse em Lausanne uma conferência mundial. Desta conferência resultou um documento que permitiu a criação de uma entidade independente capaz de promover e coordenar a luta contra a dopagem no desporto a nível internacional: a agência mundial anti-doping (WADA, World Anti-doping Agency). Anualmente, e desde 2004, a WADA publica uma lista contendo todas as substâncias e métodos proibidos divididas em classes. A tabela abaixo esquematiza quais as classes proibidas ordenando-as de acordo com a frequência de ocorrências positivas detectadas em testes de despistagem no ano de 2006. Tabela A1 – Classes de substâncias e métodos proibidos e a sua frequência de ocorrências positivas em testes de despistagem anti-doping no ano de 2006. Classe de Substâncias/Métodos S1. Agentes Anabolizantes S3. Beta – 2 Agonistas S8. Canabinóides S6. Estimulantes S5. Diuréticos e Outros Agentes Mascarantes S9. Glucocorticosteróides S2. Hormonas e Substâncias Relacionadas P2. Beta-Bloqueantes S4. Agentes com Actividade Anti-Estrogénica S7. Narcóticos M2. Manipulação Química e Física TOTAL Frequência de ocorrências positivas (%) 45.4 14.6 12.8 11.3 6.7 6.5 1.0 0.6 0.6 0.4 0.1 100 3 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Desde 2006 até ao presente ano, a lista publicada pela WADA sofreu pequenas alterações, que consistiram na introdução de novas substâncias e métodos para os quais foi descoberto um modo sistemático de detecção. A lista em vigor para o ano de 2008 [1] encontra-se disponível na WEB na página da Agência Mundial em http://www.wadaama.org/en/index.ch2. A classe de substâncias banidas no desporto designada “Agentes Anabolizantes” encontrase desde os anos 90, dividida em duas subclasses: a dos “Esteróides Androgénicos Anabolizantes” (EAA’s), que inclui apenas substâncias de natureza esteroidal quer de origem endógena quer de origem exógena (ou sintéticos); e uma segunda subclasse designada de “Outros Agentes Anabolizantes” essencialmente constituída por substâncias de natureza não esteroidal como o clenbuterol, moduladores selectivos do receptor de androgénio (SARM’s), o zeranol e o zilpaterol. A tabela abaixo dá-nos uma ideia de quais os agentes anabolizantes mais frequentemente detectados em testes de despistagem. Tabela A2 – Frequência de ocorrências positivas de Agentes Anabolizantes em testes de despistagem anti-doping no ano de 2006. S1.1.a. Agentes Anabolizantes – EAA’s Exógenos Nandrolona Estanozolol Metandienona Boldenona Metiltestosterona Metenolona Mesterolona Drostanolona Trenbolona Oxandrolona Oximetolona Clostebol Desidroclorometiltestosterona Mestanolona Desoximetiltestosterona Danazol 1-Testosterona 1-Androstendiona Oximesterona Prostanozol S1.1.b. Agentes Anabolizantes – EAA’s Endógenos Testosterona Precursores de Testosterona Prasterona (DHEA) Etiocolanolona Androsterona S1.2. Outros Agentes Anabolizantes Clenbuterol TOTAL Frequência de ocorrências positivas (%)* 12.1 11.3 6.4 1.9 1.7 1.5 1.1 0.9 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.1 0.1 0.1 0.1 0.1 0.1 0.1 Frequência de ocorrências positivas (%)* 57.2 0.7 0.6 0.2 0.1 Frequência de ocorrências positivas (%)* 2.7 100 *Valores referentes ao ano de 2006, para modalidades olímpicas e não olímpicas Todas estas subclasses de agentes anabolizantes têm em comum, promover o anabolismo. Isto traduz-se essencialmente em aumentos mais rápidos e significativos de massa muscular magra e de força explosiva, úteis em muitos desportos e actividades físicas. 4 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social A utilização dos EAA’s está predominantemente associada aos atletas de alta competição desde as décadas de 50 e 60. Contudo, estudos recentes desenvolvidos por Kanayama et al (2001) demonstraram que o leque de utilizadores tem vindo a estender-se rapidamente à população em geral, nomeadamente a utentes de ginásios e a jovens, tanto para fins desportivos como estéticos. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, segundo dados do “Youth Risk and Behavior Surveillance System” de 1995, estima-se que aproximadamente 375.000 adolescentes do sexo masculino e 175.000 do sexo feminino, de escolas públicas e privadas, fizeram uso de EAA’s pelo menos uma vez na vida. O facto da comercialização livre deste tipo de substâncias ser bastante restrita na maioria dos países mas por outro lado a sua procura ser bastante grande, faz com que frequentemente estes sejam produzidos por laboratórios em condições ilegais e com deficientes ou mesmo inexistentes critérios de qualidade. A venda via internet veio também facilitar o contorno à lei que proíbe a venda de determinadas drogas em certos países. O aparecimento de resultados positivos em testes de controlo anti-doping relativos a atletas consumidores de suplementos dietéticos de venda livre (em ervanárias, supermercados, etc.) como concentrados proteicos, incrementadores de peso e outros cocktails nutricionais, levou a comunidade médica internacional a alertar para o facto de aqueles suplementos poderem ter sido deliberadamente contaminados com substâncias dopantes, nomeadamente agentes anabolizantes, e como tal constituírem um risco para os seus consumidores. Apesar dos aparentes benefícios ao nível atlético, como iremos ver mais à frente, os EAA’s apresentam consideráveis riscos para a saúde, nomeadamente efeitos tóxicos sobre os sistemas cardiovascular, endócrino, hepático, e nervoso central. Paralelamente aos efeitos anabólicos, os esteróides androgénicos anabolizantes, como o próprio nome indica, apresentam em maior ou menor grau, importantes efeitos androgénicos quando em circulação no organismo humano. Estes consistem no aparecimento de características físicas e comportamentais masculinas, nomeadamente o aumento do tom grave na voz; o crescimento de pilosidade na face, nas axilas e na região púbica; e aumento da agressividade e virilidade. A necessidade de aprimorar os efeitos anabólicos face aos androgénicos, inicialmente para fins terapêuticos, levou ao aparecimento de derivados sintéticos da testosterona. Mais recentemente por meio de fármacos denominados moduladores selectivos do receptor de androgénio (SARM’s) foi possível potenciar unicamente os efeitos anabólicos. Estes fármacos ao actuarem especificamente sobre determinados tecidos e órgãos podem ser utilizados tanto como agonistas para a reposição de massa muscular magra e força em doentes crónicos portadores de HIV, como antagonistas no tratamento do cancro da próstata nos homens ou do hirsutismo nas mulheres. Por antecipação, a WADA, reconhecendo as potencialidades dos SARM’s como melhoradores da performace atlética adicionou-os à classe dos agentes anabolizantes na lista de 2008. O clenbuterol é o agente anabolizante não esteroidal mais frequentemente detectado em testes de controlo antidopagem. Apesar de ser utilizada na terapêutica das variantes de bronquite (asmática, crónica e enfizematosa), esta substância sintética apresenta grande reputação entre os culturistas, devido ao efeito significativo sobre a síntese proteica (de fibras musculares) e sobre o catabolismo lipídico. 5 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social B. Química dos Esteróides Androgénicos Anabolizantes B.1 Definição e Nomenclatura Analisando atentamente a lista de substâncias proibidas para o presente ano de 2008 [1], verifica-se que os Esteróides Androgénicos Anabolizantes (EAA’s) se encontram identificados quer através do seu nome trivial, quer através do seu nome sistemático, ou mesmo por ambos. Exemplo: 1-androstendiol (nome trivial), 5α-androst-1-ene-3β,17β-diol (nome sistemático) A definição de esteróides assim como a atribuição de um nome sistemático a uma dada estrutura molecular com esta natureza, foram estipuladas em 1989 através de um acordo entre a IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) e a IUB (International Union of Biochemistry)[2]. Segundo este acordo, os esteróides são definidos como compostos que apresentam na sua estrutura o núcleo ciclopentano-fenantreno ou um núcleo dele derivado, sendo a numeração dos átomos de carbono feita da seguinte forma: Figura B1 – Numeração dos átomos de carbono na estrutura do núcleo ciclopenta[a]fenantreno segundo o acordo IUPAC-IUP [1] Considerando que o núcleo se encontra disposto no plano do papel, os átomos de hidrogénio ou os grupos metilo ligados aos centros de quiralidade cujas posições são 8, 9, 10, 13 e 14 ficam normalmente orientados da seguinte forma: Figura B2 – a) Orientação típica de hidrogénios e metilos: 8β, 9α, 10β, 13β, 14α. b) A mesma estrutura, omitidos os hidrogénios estando os grupos metilos apenas representados pela ligação ao anel. 6 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Ou seja, os grupos metilo nas posições 10 e 13, assim como o hidrogénio e o grupo R respectivamente nas posições 8 e 17, encontram-se orientados para cima do plano, razão pela qual lhes é atribuída a designação β, sendo a ligação representada por uma cunha a cheio virada para cima. O grupo R pode ser por exemplo um hidroxilo (-OH), um éter (-OR’), um éster (-OCOR’) ou uma cadeia lateral alifática (R’) saturada ou não, como veremos mais à frente. Pelo contrário, os hidrogénios das posições 9 e 14 encontram-se normalmente localizados abaixo do plano do núcleo pelo que lhes é atribuída a designação α, e sendo a ligação destes aos carbonos do núcleo representada por uma cunha ou uma linha a tracejado virada para baixo. Quando a orientação não é conhecida, atribui-se ao átomo ou grupo de átomos ligados a um dado centro quiral a designação ξ, sendo a ligação representada por uma linha ondulada, como é o caso do hidrogénio ligado ao C-5 da representação ilustrada na figura B2. Caso não haja ambiguidade, os grupos metilo podem ser representados apenas pela respectiva ligação e os hidrogénios omitidos (figura B2b)). A introdução de substituintes no núcleo dá origem a formação de mais centros de quiralidade. Os substituintes localizados no mesmo lado do plano da molécula que os grupos metilo 18 e 19 dizem-se em posição cis, sendo designados substituíntes β. Caso contrário dizem-se substituintes α, estando em posição trans em relação aqueles grupos metilo. Portanto, aquando da formulação do nome sistemático de um esteróide, a definição da estereoquímica de um determinado substituinte é feita adicionando α, β ou ξ após o número do carbono do núcleo tetracíclico em que se encontra ligado. Tal como mostra a figura B3, o núcleo tetracíclico de um esteróide também pode ser desenhado em perspectiva. Figura B3 – Representação em perspectiva de um esteróide: a) 5α, b) 5β A estrutura do núcleo tetracíclico pode apresentar algumas variações e assim originar núcleos hidrocarbonados derivados, nomeadamente: Os gonanos, que não possuem os grupos metilo nos carbonos 10 e 13. Figura B4 – Núcleo gonano: a) 5α-gonano b) 5β-gonano 7 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Os estranos ou também designados oestranos, que possuem um grupo metilo no carbono 13 mas não no carbono 10. Esteróides com esta estrutura apresentam no seu nome sistemático as sílabas “estran” (se forem totalmente saturados), “estr” ou “estra” (consoante sejam mono ou poli-insaturados). Figura B5 – Núcleo estrano: a) 5α-estrano b) 5β-estrano Os androstanos, que possuem grupos metilos tanto no carbono 10 como no carbono 13. Esteróides com esta estrutura apresentam no seu nome sistemático as sílabas “androstan” (se forem totalmente saturados), “andost” ou “androsta” (consoante sejam mono ou poli-insaturados). Figura B6 – Núcleo androstano: a) 5α-andostano b) 5β-androstano Os núcleos acima mencionados têm em comum não apresentar qualquer substituição no C-17. Se os carbonos C-10 e C-13 do núcleo de ciclopentano-fenantreno se encontrarem substituídos com um grupo metilo, e se ao C-17 estiver ligada um grupo etilo, então obtém-se um novo núcleo hidrocarbonado denominado pregnano. Tal como nos núcleos anteriores, a orientação do hidrogénio (caso exista) do C-5 dá origem a duas séries de pregnanos: 5αpregnano e 5β-pregnano, respectivamente. Esteróides com esta estrutura apresentam no seu nome sistemático as sílabas “pregnan” (se forem totalmente saturados), “pregn” ou “pregna” (consoante sejam mono ou poli-insaturados). Figura B7 – Núcleo pregnano: a) 5α-pregnano b) 5β-pregnano. c) Numeração na cadeia lateral em C-17 8 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 9 Quando além de o grupo etilo se encontra também ligado ao C-17 um grupo funcional (p.e. hidroxilo), o grupo etilo em vez de estar representado no plano do papel passa a estar orientado fora deste plano: Exemplo: etilestrenol (19-nor-17α-pregn-4-en-17β-ol) Neste exemplo considerou-se que a estrutura tetracíclica típica mais próxima é a de um pregnano. Dado existir uma única insaturação (ligação dupla) utilizou-se a sílaba “pregn”. Dado que o grupo etilo se encontra orientado para trás do plano, adiciona-se a indicação “17α-” antes da sílaba. CH3 CH3 Ignorando a presença da insaturação, um olhar mais atento à estrutura tetracíclica do etilestrenol leva-nos a concluir que esta não corresponde exactamente à estrutura típica de um pregnano, isto porque está em falta o C-19. Para designar a remoção de metilenos de cadeias laterais das estruturas tetracíclicas típicas (estranos, androstanos e pregnanos) utilizase o prefixo “nor-“ precedido pelo número do carbono removido, e seguido pela sílaba correspondente à estrutura tetracíclica. Quando se removem dois metilenos utiliza-se o prefixo “dinor-“, como acontece na norboletona. Exemplo: norboletone (13-ethyl-17-hydroxy-18,19-dinor-17-α-pregn-4-en-3-one) Tal como no exemplo anterior, dado que a estrutura do núcleo apresenta uma dupla e a orientação espacial do grupo etilo no C-17 ser a mesma, utiliza-se a mesma sílaba no nome sistemático, i.e. “17-α-pregn”. Contudo, agora considerou-se que os metilenos cujos carbonos com numerações 18 e 19, foram removidos e que ao C-13 foi adicionado um grupo etilo. Por essa razão utiliza-se o prefixo “18,19-dinor-” antes mas o mais próximo da sílaba e “13-ethyl” antes mas mais distante da sílaba. Para designar a adição de um (ou mais) grupo metileno a uma ligação C-H de um metilo ou ao lado de um grupo metileno de uma cadeia lateral, utiliza-se o prefixo “homo” (ou “dihomo-“, etc…) precedido pelo número do último carbono ao qual se fez a adição, e seguido pela sílaba correspondente à estrutura tetracíclica. Acoplado ao número do carbono à qual se fez a adição é também introduzida uma letra l (a, b, c, d, etc.) que designa o “l-ésimo” metileno adicionado. Isto é, se se introduziu um metileno na ligação C-H em que o último carbono é o C18, utiliza-se o prefixo “18a–homo-”; caso se tenha adicionado dois metilenos, utiliza-se o prefixo “18a,18b-dihomo-“, e assim sucessivamente para mais metilenos adicionados. Veja-se a gestrinona como exemplo: OH Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Exemplo: gestrinone (17β-hydroxy-18a-homo-19-nor17α-pregna-4,9,11-trien-20-yn-3-one) Neste exemplo também se considerou que a estrutura tetracíclica típica mais próxima é o pregneno. Dado existir mais de que uma insaturação utilizou-se a sílaba “pregna”. Como alterações à estrutura típica adicionou-se um metileno à ligação C-H do metilo cujo carbono é o 18, e removeu-se o metileno cujo carbono é o 19. Assim antes da sílaba é adicionado o conjunto “18a-homo-19-nor.” Para designar a presença de insaturações nas moléculas de esteróides, são utilizados os sufixos “ene” ou “en” para ligações duplas, e “yne” ou “yn” para ligações triplas. Caso haja mais de que uma insaturação do mesmo tipo adiciona-se ao sufixo o termo “di”, “tri”, etc. Estes sufixos devem ser sempre colocados imediatamente a seguir à sílaba que denota o tipo de estrutura tetracíclica. Assim sendo, na gestrinona, a presença de três ligações duplas (em C4, C-9 e C-11) e uma ligação tripla (em C-20), leva à formulação do sufixo conjunto “-4,9,11trien-20-yn”. Ligados aos carbonos das estruturas tetracíclicas hidrocarbonadas mencionadas podem estar ligados diversos substituintes. No caso dos EAA´s proibidos em 2008, para além de grupos alquilo e hidroxilo, encontramos também halogéneos, grupos alcóxido, cetonas e aldeídos. Em termos de nomenclatura, a maior parte dos substituintes pode ser designada tanto a partir de sufixos como de prefixos. Contudo, os halogéneos e os grupos alquilo e alcóxido só podem ser designados como prefixos. Quanto aos restantes substituintes, podemos ter duas situações: 1. Só há um tipo de substituinte. Então este substituinte deve ser designado como sufixo. 2. Há mais de um tipo de substituinte. Então, escolhe-se para sufixo aquele que estiver mais próximo do topo da hierarquia de preferências, e para prefixo o(s) outro(s) abaixo dele. Hierarquia de Preferências: 1º ác. carboxílico 2º lactona 3º éster 4º aldeído 5º cetona 6º álcool 7º amina Os grupos hidroxilo podem ser designados quer pelo prefixo “hydroxy-” quer pelo sufixo “-ol”. 10 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 11 Exemplos: 1) CH3 OH 1-androstendiol (5α-androst-1-ene-3β,17β-diol) A estrutura tetracíclica típica mais próxima é o 5αandrostano. Dado que o C-1 está envolvido na formação de uma ligação dupla, é utilizada a sílaba “5α-androst-1-ene”. Como neste caso há dois HO substituintes do mesmo tipo, ou seja dois grupos hidroxilos que estão orientados para cima do plano do papel, utiliza-se o sufixo conjunto “-3β,17β-diol”. CH3 H 2) Methandriol (17α-methylandrost-5-ene-3, 17β-diol) Tal como no exemplo 1, a estrutura típica mais próxima é o androstano. Contudo, neste caso a insaturação localizase no C-5 além de que no C-17 está presente um grupo metilo. Dado que os grupos metilo só podem ser definidos como prefixos, não resta alternativa aos hidroxilos senão ficarem definidos como sufixo. 3) Boldenone (17β-hydroxyandrosta-1,4-diene-3-one) De acordo com a hierarquia de preferências, é o grupo cetona que é definido como último sufixo (“-3-one”) após o sufixo que identificativo da presença de insaturações (-1,4-diene). O hidroxilo é definido com o prefixo “17β-hydroxy”. Os grupos aldeídos podem adoptar diferentes prefixos ou sufixos consoante a situação: Designação Situação sufixo “-al” ou prefixo “oxo-“ Presença do grupo –CHO onde estaria antes um grupo –CH3 sufixo “-aldehyde” Presença do grupo –CHO onde estaria antes um grupo –COOH prefixo “formyl-“ ou sufixo “carbaldehyde” Presença do grupo – C-CHO onde estaria antes um –CH, -CH2 ou –CH3 Os grupos cetona podem ser designados quer pelo prefixo “oxo-” quer pelo sufixo “one”. Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 12 H3C CH 3 OH Exemplos: 1) Formebolone (11α,17β-dihydroxy-17α-methyl-3oxoandrost-1,4-diene-2-carbaldehyde) HO O CH3 À estrutura hidrocarbonada designada pela sílaba H “androst-1,4-diene” encontram-se ligados um grupo alquilo (metilo), dois hidroxilos, uma cetona e um O aldeído. De acordo com a hierarquia de preferências, escolhemos o aldeído para sufixo com a designação de “2-carbaldehyde” uma vez que no seu lugar estaria um –CH. Dado que a ligação dupla do ciclo A se encontra conjugada com a ligação dupla do carbonilo, este substituinte fica orientado no plano do papel. Os restantes grupos são designados no nome sistemático como prefixos, isto é, os hidroxilos como “11α,17βdihydroxy-”, o grupo metilo como “17α-methyl-“ e o grupo cetona como “3-oxo”, estando este imediatamente antes da sílaba “androst-1,4-diene” pelo facto do seu carbono pertencer à estrutura tetracíclica hidrocarbonada. 2) Fluoxymesterone (9α-fluoro-11β,17β-dihydroxy-17αmethylandrost-4-ene-3-one) Neste caso, é a cetona que é designada com o sufixo, dado ter prioridade sobre o grupo hidroxilo. O flúor é obrigatoriamente designado como prefixo. Pode dar-se o caso de um dos carbonos do esqueleto tetracíclico ser substituído por um heteroátomo. Exemplo: oxandrolone (17β-hydroxy-17α-methyl-2-oxa-5αandrostan-3-one) Nos casos em que o heteroátomo se trata de um oxigénio, utiliza-se o prefixo “oxa-“ imediatamente antes à sílaba correspondente ao tipo de estrutura tetracíclica, precedido pelo número indicativo da sua posição. Quatro dos EAA listados, nomeadamente o danazol, o furazabol, o prostanozol e o stanozolol apresentam anéis heterocíclicos fundidos à estrutura hidrocarbonada tetraciclica através dos carbonos das posições 2 e 3 do anel A. Os anéis heterocíclicos assim como a numeração estipulada para cada um dos seus centros são os seguintes: 4 4 3 N 5 2 O 1 3 4 N N 5 2 O 1 3 5 N 2 N H 1 isoxazole furazan pyrazole Figura B8 – Numeração em anéis heterocíclicos. Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 13 Para se designar o tipo de anel que se encontra fundido, utiliza-se um prefixo (ou sufixo) constituído por parênteses rectos, dentro dos quais constam os números das posições do núcleo carbonado do esteróide envolvidos na fusão e uma letra. Esta letra traduz quais os centros do anel heterocíclico envolvidos na fusão: Letra a b c d Posições dos centros do anel heterocíclico envolvidos na fusão 1,2 2,3 3,4 4,5 Anexado aos parênteses adiciona-se o nome do heterociclo. Exemplo: Danazol (17α-ethynyl-17β-hydroxyandrost-4ene[2,3-d]isoxazole ou 17β-hydroxy-pregna-4-ene-20yn-[2,3-d]isoxazole ) Dentro dos parênteses, a numeração “2,3” corresponde às posições dos carbonos do anel A do esteróide que estão envolvidos na fusão, e a letra “d” indica que os N elementos do anel isoxazole envolvidos na fusão são os O que estão na posição 4 e 5. CH CH3 CH3 A tabela da página seguinte reúne todos os EAA proibidos em 2008. A partir do nome sistemático deduzi a estrutura molecular com base na referência [2]. Para os esteróides que não apresentam nome sistemático consultei a sua estrutura nas fontes mencionadas (na tabela) e a partir delas deduzi o seu nome sistemático. OH Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 14 Tabela B1 – Nomenclatura e Estrutura Molecular dos EAA proibidos pela WADA para o ano de 2008 Nome Trivial Nome sistemático EAA Exógenos Estrutura CH3 OH CH3 1-androstendiol 5α-androst-1-ene-3β,17β-diol HO H CH3 O CH3 1-androstendione 5α-androst-1-ene-3,17-dione O H Bolandiol ou 19norandrostenediol Estr-4-ene-3β,17β-diol ou 19-nor-androst-4-ene-3β,17β-diol Fonte: www.isomerdesign.com Bolasterone 17β-hydroxy-7α,17β-dimethylandrost-4-ene3-one Fonte: www.isomerdesign.com Boldenone 17β-hydroxyandrosta-1,4-diene-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Boldenone Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 15 CH3 O CH3 Boldione androsta-1,4-diene-3,17-dione O Calusterone 17β-hydroxy-7β,17α-dimethylandrost-4-ene3-one Fonte: www.isomerdesign.com Clostebol 4-chloro-17β-hydroxyandrost-4-ene-3-one Fonte: www.isomerdesign.com CH CH3 Danazol OH CH3 17α-ethynyl-17β-hydroxyandrost-4-ene[2,3d]isoxazole N O CH3 CH3 dehydrochlormethyltestosterone 4-chloro-17β-hydroxy-17α-methylandrosta1,4-dien-3-one O Cl CH3 OH Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 16 H3C CH 3 OH CH3 desoxymethyltestosterone 17α-methyl-5α-androst-2-en-17β-ol H 17β-hydroxy-2α-methylandrostan-3-one Drostanolone Fonte: www.isomerdesign.com CH3 CH3 Ethylestrenol 19-nor-17α-pregn-4-en-17β-ol fluoxymesterone 9α-fluoro-11β,17β-dihydroxy-17αmethylandrost-4-ene-3-one OH Fonte: www.isomerdesign.com HO O formebolone 11α,17β-dihydroxy-17α-methyl-3oxoandrost-1,4-diene-2-carbaldehyde H3C CH 3 OH CH3 H O CH3 furazabol CH3 17β-hydroxy-17α-methyl-5α-androstano[2,3c]-furazan N O N H CH3 OH Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 17 17β-hydroxy-18a-homo-19-nor-17α-pregna4,9,11-trien-20-yn-3-one gestrinone Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Gestrinone CH3 OH CH3 4-hydroxytestosterone 4,17β-dihydroxyandrost-4-en-3-one O OH mestanolone 17β-hydroxy-17α-methyl-5α-androstan-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Mestanolone mesterolone 1α-methyl-17β-hydroxy-5α-androstan-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Mesterolone metenolone 17β-hydroxy-1-methyl-5α-androst-1-ene-3one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Methenolone CH3 methandienone CH3 17β-hydroxy-17α-methylandrosta-1,4-dien-3one O CH3 OH Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social methandriol 18 17α-methylandrost-5-ene-3, 17β-diol Fonte: www.isomerdesign.com CH3 methasterone 2α, 17α-dimethyl-5α-androstane-3-one-17βol CH3 OH CH3 H3C O H CH3 methyldienolone CH3 OH 17β-hydroxy-17α-methylestra-4,9-dien-3-one O Methyl-1-testosterone H3C CH 3 OH H3C CH 3 OH H3C CH 3 OH CH3 17β-hydroxy-17α-methyl-5α-androst-1-en-3one O H methylnortestosterone 17β-hydroxy-17α-methylestr-4-en-3-one O methyltrienolone 17β-hydroxy-17α-methylestra-4,9,11-trien-3one O Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social methyltestosterone 19 17β-hydroxy-17α-methylandrost-4-ene-3-one Fonte: www.isomerdesign.com mibolerone 17β-hydroxy-7α,17α-dimethyl-19-norandrost-4-ene-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Mibolerone nandrolone 17β-hydroxy-estr-4-ene-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Nandrolone CH3 O 19-norandrostenedione estr-4-ene-3,17-dione O norboletone 13-ethyl-17-hydroxy-18,19-dinor-17-α-pregn4-en-3-one Fonte: www.isomerdesign.com norclostebol 4-chloro-17β-hydroxyestr-4-ene-3-one Fonte: www.isomerdesign.com Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social norethandrolone 20 17β-hydroxy-19-nor-pregn-4-ene-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Norethandrolone oxabolone 4,17β-dihydroxy-estr-4-ene-3-one Fonte: www.isomerdesign.com oxandrolone 17β-hydroxy-17α-methyl-2-oxa-5αandrostan-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Oxandrolone oxymesterone 7,17β-dihydroxy-17α-methylandrost-4-ene-3one Fonte: www.isomerdesign.com oxymetholone 17β-hydroxy-2-(hydroxymethylene)-17αmethyl-5α-androstan-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Oxymetholone CH3 O prostanozol [3,2-c]pyrazole-5α-etioallocholane-17βtetrahydropyranol CH3 N N H H O Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social quinbolone 21 17β-(cyclopent-1-enyloxy)- androsta-1,4diene-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Quinbolone stanozolol 17β-hydroxy-17α-methyl-5α-androstano[3,2c]pyrazole Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Stanozolol stenbolone 17β-hydroxy-2-methylandrost-1-ene-3-one Fonte: www.isomerdesign.com CH3 OH CH3 1-testosterone 17β-hydroxy-5α-androst-1-en-3-one O H H3C CH3 OH tetrahydrogestrinone 18a-homo-pregna-4,9,11-trien-17β-ol-3-one O trenbolone 17β-hydroxyestra-4,9,11-triene-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Trenbolone Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 22 EAA Endógenos CH3 OH androstenediol CH3 androst-5-ene-3β,17β-diol HO CH3 O androstenedione CH3 androst-4-ene-3,17-dione O CH3 OH CH3 dihydrotestosterone 17β-hydroxy-5α-androstan-3-one O H prasterone ou dehydroepiandrosterone (DHEA) 3β-hydroxyandrost-5-ene-17-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Dehydroepiandrosterone testosterone 17β-hydroxyandrost-4-ene-3-one Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Testosterone CH3 OH 5α-androstane-3α,17α-diol 17 CH3 5α-androstane-3α,17β-diol 5-adrostanediol (e isómeros) 5α-androstane-3β,17α-diol 5α-androstane-3β,17β-diol (5-androstanediol) HO 3 H H3C CH3 H3C CH3 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 23 androst-4-ene-3β,17β-diol (4-androstenediol) CH3 OH 17 CH3 androst-4-ene-3α,17α-diol 4-androstenediol (e isómeros) HO 3 androst-4-ene-3α,17β-diol H3C CH3 H3C CH3 androst-4-ene-3β,17α-diol CH3 OH androst-5-ene-3α,17α-diol 17 CH3 androst-5-ene-3α,17β-diol 5-androstenediol (isomeros) HO 3 androst-5-ene-3β,17α-diol H3C CH3 H3C CH3 CH3 O 5-androstenedione CH3 androst-5-ene-3,17-dione O CH3 OH epi-dihydrotestosterone CH3 17α-hydroxy-androstan-3-one O Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social 24 CH3 O CH3 O CH3 3α-hydroxy-5α-androstan-17-one HO H CH3 3β-hydroxy-5α-androstan-17-one HO H 19-norandrosterone Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/19-Norandrosterone 19-noretiocholanolone 3α-hydroxy-5α-estran-17-one Fonte: http://www.ebi.ac.uk/chebi/ Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social B.2 Biossíntese dos EAA’s de origem Endógena e Controlo Hormonal Os esteróides, são do ponto de vista biossintético, derivados dos triterpenos, nomeadamente do lanosterol. Nos animais, este álcool triterpenoide é convertido no colesterol num processo que envolve a perda de três grupos metilo, e a redução/formação de ligações duplas, como veremos mais adiante. O colesterol é um esteróide que, nos mamíferos além de modular a fluidez das membranas é também o percursor de uma larga gama de produtos naturais, como os ácidos biliares, os corticosteróides, a vitamina D3 e as hormonas sexuais, nomeadamente as hormonas androgénicas nas quais se incluem todas as que estão contidas na tabela B1 com a designação de EAA endógenos. Figura B9 – Estruturas moleculares: a) lanosterol (triterpenóide) b) colesterol (esteróide). Os triterpenos não são mais do que estruturas hidrocarbonadas contendo 30 átomos de carbono, resultantes da junção cauda-cauda de duas moléculas de farnesil pirofosfato (FPP). Esta molécula, por sua vez é biossintetizada através de duas unidades isoprénicas (C5) biologicamente activas designadas dimetilalil difosfato (DMAPP) e isopentil difosfato (IPP). Figura B10 – Biossíntese de FPP a partir das unidades C5 DMAPP e IPP Nos animais, estas unidades isoprénicas são sintetizadas pela via do ácido mevalónico. Nesta via, duas moléculas de acetil-coenzima A combinam-se através de uma condensação de Claisen para gerarem o acetoacetil-CoA. Este, ao reagir por uma adição aldol estereoespecífica com uma terceira molécula de acetil-CoA, dá origem ao éster β-hidroxi-β-metilglutaril-CoA (HMG-CoA). Note-se que como o acetoacetil-CoA é um substrato mais ácido que o acetil-CoA, seria de esperar que fosse ele que actuasse como nucleófilo na reacção, e não o contrário. Tal não acontece uma vez que, na verdade ao grupo acetil encontra-se ligada (através de um grupo tiol) uma enzima que torna a reacção favorável. Seguidamente, o grupo tioéster de HMG-CoA é reduzido por acção da HMG-CoA redutase e do NADPH a aldeído (por via do respectivo hemitioacetal), e este reduzido a álcool primário, sendo a molécula resultante o ácido mevalónico. Este grupo álcool é depois difosforilado, seguindo-se uma reacção de 25 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social descarboxilação-eliminação. Esta reacção é favorecida através da trifosforilação do grupo álcool terciário dado que o torna um melhor grupo abandonande. Uma vez formado, o IPP é isomerizado a DMAPP por uma enzima que remove o protão orientado para trás do plano da molécula (HR) localizado no C-2 e incorpora em C-4 um protão proveniente do meio reaccional. Figura B11 – Biossíntese das unidades C5 DMAPP e IPP pela via do ácido mevalónico Note-se que o DMAPP, devido ao facto de possuir um bom grupo abandonante (o grupo difosfato), pode gerar um carbocatião estabilizado por ressonância, tendo portanto carácter electrófilo. Por outro lado o IPP, que possui uma ligação dupla terminal, tem um carácter mais nucleófilo. Nos organismos, a reacção entre o DMAPP e o IPP é mediada pela enzima prenil-transferase produzindo-se uma cadeia de dez carbonos denominada geranil difosfato (GPP) como é mostrado na figura B12. Tal como na isomerização conducente às duas unidades isoprénicas, o protão que é perdido nesta reacção está orientado para trás do plano da molécula, pelo que a ligação dupla formada é trans (E). Figura B12 – Biossíntese de GPP a partir das unidades C5 DMAPP e IPP 26 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Por acção da mesma enzima, à cadeia de GPP formada pode adicionar-se uma outra unidade C5 IPP e assim obter uma cadeia de quinze carbonos denominada farnesil difosfato (FPP), em que a última ligação dupla deverá ter uma estereoquímica trans (E): Figura B13 – Biossíntese de FPP Como já foi referido, a junção de duas moléculas de FPP dá origem a uma cadeia constituída por trinta átomos de carbono designada esqualeno. A figura abaixo propõe o mecanismo que se revelou ser o correcto na formação do esqualeno após uma experiência de marcação isotópica dos carbonos C1 e C1’ de cada uma das moléculas de FPP. Figura B14 – Mecanismo proposto para a biossíntese do esqualeno a partir utilizando marcação isotópica no C-1 de cada uma das moléculas de FPP Tal como nas duas reacções de extensão de cadeia mencionadas, a saída do grupo difosfato do C1 de uma molécula de FPP leva à formação de um carbocatião estabilizado que é 27 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social logo de seguida atacado pela ligação dupla Δ2’,3’ de uma segunda molécula de FPP. Daqui resulta a formação de uma ligação C1-C2’ e de um carbocatião terciário centrado em C3’ que é neutralizado pela perda de um protão de C1 e simultânea formação de um anel ciclopropano, sendo o intermediário isolável denominado presqualeno difosfato. A perda do segundo difosfato gera agora um carbocatião primário pouco estabilizado que por via de um rearranjo de Wagner-Meerwein pode ser transformado num carbacatião terciário. A quebra da ligação C1-C2’ formada transforma o carbocatião terciário num catião alílico, que ao captar um hidreto do NADPH dá origem ao esqualeno. Na presença de uma enzima que utilize O2 e como cofactor NADPH, o esqualeno sofre primeiro uma oxidação numa das duas ligações duplas mais exteriores, formando-se um epóxido. Ao ser protonado, o epóxido abre gerando um carbocatião terciário que é atacado pela ligação dupla mais próxima da cadeia. Daqui resulta a formação de um anel de seis membros e um novo carbocatião. Este processo repete-se mais duas vezes gerando sempre um carbocatião terciário após a formacção de cada anel, até que o anel formado seja de cinco membros. Nessa altura, este anel sofre expansão através de um rearranjo de WagnerMeerwein gerando um anel de seis membros e um carbocatião secundário. Note-se que apesar de se formar um carbocatião menos estável, esta transformação é favorável pois conduz a uma redução na tenção de anel. O ataque da ligação dupla mais próxima ao carbocatião secundário dá origem novamente a um carbocatião terciário e a um anel de cinco membros. Segue-se uma sequência de migrações concertadas de hidretos e metilos que transportam a carga (da cadeia lateral ligada ao anel de cinco membros recém formado) para o carbono que iniciou esta sequência. A perda de um protão leva à neutralização da carga positiva dando origem ao lanosterol. Figura B15 – Ciclização do esqualeno a lanosterol 28 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Como foi referido no início desta secção, o colesterol é nos animais, o percursor das hormonas estroídicas como as hormonas androgénicas (testosterona e outras designadas EAA Endógenos na tabela B1), além de que é formado directamente a partir do lanosterol, um álcool triterpenoide. O processo de transformação do lanosterol em colesterol envolve num só passo a perda dos metilos ligados às posições 4 e 14, a geração de uma ligação dupla entre os carbonos 5 e 6 e a saturação das ligações duplas entre os carbonos 8 e 9, e 24 e 25. Figura B16 – Transformação do lanosterol em colesterol e numeração no lanosterol A reacção de desmetilação no C-14 é mediada por uma oxigenase do citocromo P-450, que através de duas reacções de oxidação permite obter um intermediário com uma função aldeído ligada aquele carbono. De seguida dá-se o ataque nucleófilo de uma enzima-peróxido à função aldeído formando-se um aducto de peróxido. A ligação peróxido deste aducto após cindir homoliticamente permite por um processo radicalar quebrar a ligação do C14-C30, sendo o carbono do grupo metilo eliminado como ácido fórmico e gerando-se ao mesmo tempo um radical centrado no C-14. Este radical é aniquilado pela abstracção radicalar de um hidrogénio de C-15, formando-se uma ligação dupla entre os carbonos 14 e 15, que é logo de seguida reduzida por acção do NADPH e na presença de água. Figura B17 – Desmetilação em C-14 A desmetilação de ambos os grupos metilo ligados ao C-4 ocorre sequencialmente e da mesma forma, por via de um mecanismo de descarboxilação. Inicialmente um dos grupos metilo é oxidado sucessivamente a ácido carboxílico, e o grupo álcool ligado ao C-3 é oxidado a cetona formando-se um β-ceto-ácido. Segue-se a descarboxilação da qual resulta um enolato, em que a forma tautómerica predominante é a cetona, uma vez que nesta forma o metilo que 29 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social resta ligado ao C-4 fica em posição equatorial, mais favorável. Esta cetona é depois reduzida e o processo de desmetilação repetido da mesma forma para o outro metilo. Figura B18 – Desmetilação em C-4 A redução que ocorre na cadeia lateral ligada ao anel de cinco membros é mediada por uma redutase dependente de NADPH. Nesta reacção um hidreto proveniente daquela coenzima é adicionado ao C-25, sendo que o protão captado pelo C-24 é proveniente da água. Figura B19 – Redução da ligação dupla na cadeia lateral do lanosterol A saturação da ligação dupla entre C-8 e C-9 e a formação da dupla entre C-5 e C-6 é feita por uma sequência reaccional que envolve uma isomerização alílica, uma desidrogenação e uma redução. Nesta sequência, os protões captados são provenientes da água. Figura B20 – Saturação da ligação dupla entre C-8 e C-9 e formação da dupla entre C-6 e C-5 Para que se formem as hormonas androgénicas (C19), é necessário que haja a converção do colesterol (C27) em pregnenolona (C21). Nesta converção, a redução do número de carbonos é feita através da clivagem oxidativa da cadeia lateral. Esta clivagem ocorre entre os carbonos C-22 e C-20 que são previamente hidroxilados. 30 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Figura B21 – Conversão do colesterol em pregnenolona Seguidamente, a pregnenolona é hidroxilada no C-17 e depois é feita a remoção do resto da cadeia lateral recorrendo a um processo radicalar em tudo semelhante à remoção do metilo ligado ao C-4 do lanosterol. Figura B22 – Conversão da pregnenolona no androgénio DHEA Na desidroepiandrosterona (DHEA) o grupo hidroxilo pode ser oxidado a cetona que se converte num enol conjugado, e este novamente numa cetona, sendo o produto resultante a androstenediona. Esta por sua vez pode sofrer uma redução no grupo hidroxilo ligado ao C17 e assim gerar a testosterona. Figura B23 – Conversão do DHEA em androstenediona e depois em testosterona Como se pode observar pela figura B24, a biossíntese destas e de outras hormonas androgénicas é feita a partir de vias e intermediários comuns à biossíntese dos corticosteróides, da progesterona e dos estrogénios. 31 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Figura B24 – Biossíntese de hormonas esteroídicas no Ser Humano As hormonas corticosteróides são segregadas pelas cápsulas suprarrenais, e estruturalmente são caracterizadas por possuírem um esqueleto C21 de pregnano, uma cadeia lateral 17β-COCH2OH, um grupo cetona na posição 4, e uma ligação dupla entre o C-4 e o C-5. Nesta classe de hormonas incluem-se as glucocorticosteróides (como o cortisol) e as mineralocorticosteróides (como a aldosterona e a corticosterona, entre outras). As primeiras desempenham um papel importante na estimulação do metabolismo proteico e na neoglucogénese ao nível do fígado, diferenciando-se estruturalmente das segundas por possuírem os grupos hidroxilo 11β e 17α. Os mineralocorticosteróides assumem um papel activo na reabsorção de sódio e cloro ao nível dos rins. As hormonas androgénicas, das quais a mais abundante é a testosterona, são responsáveis pelo desenvolvimento de caracteres sexuais primários (no feto) e dos caracteres sexuais secundários (durante a puberdade). Estes últimos são o resultado de dois efeitos fisiológicos incutidos por aquela hormona: o efeito androgénico e o efeito anabólico. Os efeitos androgénicos manifestam-se pelo alargamento da laringe, o que causa o aumento do tom grave na voz; pelo crescimento de pilosidade na face, nas axilas e na região púbica; pelo aumento da actividade das glândulas sebáceas, conducente ao aparecimento de acne; e por efeitos ao nível do SNC (libido e aumento da agressividade). Os efeitos anabólicos correspondem ao aumento do tecido muscular e ósseo registado nessa etapa da vida. No indivíduo adulto, os androgénios são essenciais para a manutenção da função reprodutiva e das estruturas óssea e muscular, desempenhando também um papel importante ao nível da função cognitiva e na sensação de bem-estar. 32 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Nos indivíduos do sexo masculino a testosterona é produzida 95% nos testículos e 5% nas supra-renais a partir o colesterol, sendo que por cada 30 moléculas desta hormona biossintetizadas forma-se uma molécula do seu isómero, a epitestosterona. Na urina de um adulto do sexo masculino, a concentração destas duas hormonas é praticamente igual, pelo que se pode inferir que a razão testosterona/epitestosterona (T/E) seja aproximadamente 1. Estruturalmente, os androgénios são constituídos por um esqueleto C19 de androstano, e tal como as hormonas corticosteróides podem apresentar um grupo cetona α,β-insaturada, derivado do intermediário biossintético comum, a progesterona. Alguns androgénios em vez do grupo cetona na posição 3 e da ligação dupla no anel A apresentam um 3β-hidroxilo e uma dupla no anel B. Estes androgénios derivam do intermediário mais próximo do colesterol, a pregnenolona que é o percursor de todas as hormonas esteroídicas. Nos indivíduos do sexo feminino, as hormonas estrogénicas (como o estradiol e a estrona) são segregadas ao nível dos ovários e das glândulas adrenais, a partir de androgénios “fracos” (como a androstenediona) por acção da aromatase. Esta enzima ao remover o grupo metilo 19, transforma o anel A do esqueleto androstano num anel aromático. O controle da segregação destas e de outras hormonas no organismo humano é assegurado pelo sistema nervoso central, através do sistema hipotálamo-hipófise. Quando a concentração no sangue de uma dada hormona dependente deste sistema (p.e. a testosterona, ver figura B26) é insuficiente para desempenhar as funções a que está destinada, o hipotálamo é estimulado a produzir proteínas denominadas factores de libertação (por retroalimentação positiva). Estas proteínas induzem na hipófise (ou glândula pituitária) a libertação de estimulinas na corrente sanguínea que ao atingirem determinadas glândulas, promovem a biossíntese da hormona em défice. Por outro lado, quando a concentração no sangue da hormona controlada é adequada, o hipotálamo e a hipófise deixam de produzir hormonas já que detectaram que não é necessária mais estimulação das glândulasalvo (retroalimentação negativa). A figura B25 esquematiza quais as hormonas que estão sob o controlo do sistema hipotálamo-hipofise. Figura B25 – Controlo do sistema hipotálamo-hipófise na secreção de hormonas pelo organismo Humano 33 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social A hormona adrenocorticotrópica (ACTH) é uma das hormonas produzidas pela hipófise como resultado da estimulação desta pelo factor de libertação da corticotropina (CRF). A sua função é estimular a produção dos corticosteróides pelas glândulas supra-renais. As hormonas luteinizante (LH) e foliculoestimulante (FSH) são produzidas por indivíduos de ambos os sexos como resultado da estimulação pelo factor de libertação da gonadotropina (GnRH). Nas mulheres, estimulam a produção de estrogénios e de progesterona e a libertação mensal de um óvulo a partir dos ovários (ovulação). Nos homens, a LH estimula a produção de testosterona, e a FSH a produção de esperma, ambas nos testículos. Figura B26 – Controlo do sistema hipotálamo-hipófise da secreção de LH, FSH e testosterona 34 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social B.3 Síntese de EAA’s Como foi referido na secção anterior, a testosterona é a principal hormona androgénica segregada no organismo humano, conferindo simultaneamente efeitos androgénicos e anabólicos. Alterações efectuadas (figura B27) na estrutura molecular desta hormona endógena deram origem a uma grande variedade de compostos análogos com uma actividade anabólica melhorada face à co-existente androgénica (tabela B3). Alguns destes compostos, apesar de não se encontrarem legalizados em Portugal, são muitas vezes adquiridos pela internet. Outros, que derivam da biossíntese da testosterona, e por isso serem considerados de origem endógena, são comercializados com a designação de suplementos nutricionais, como é o caso do desidroepiandrosterona (DHEA), do androstenediol, da androstenediona, 19-norandrostenediona, 1-testosterona, boldenona, e prostanozolol (tabela B2). Tabela B2 – Nomes comerciais de alguns EAA proibidos pela WADA para o ano de 2008 Nome do EAA (trivial) Bolasterona Boldenona Calusterona Clorodeshidrometiltestosterona Clostebol Danazol* Desoximetiltestosterona Fluoximesterona Furazabol Mestanolona Mesterolona* Metandienona Metandriol Metenolona Metiltestosterona Nandrolona* Norboletona Noretandrolona Oxandrolona Oximesterona Oximetolona Estanozolol Estembolona Testosterona Tetrahidrogestrinona 7 Trenbolona Gestrinona Desidroepiandrosterona** Androstenediol** Nome comercial (exemplos) Myagen; Methosarb Boldane;Equipoise Methosarb; Riedemil Oral-Turanibol Steranabol; Test-Anabol Danastrol Madol Ultandren; Halotestin Frazalon; Miotolon Andoron; Notandron Proviron; Mestoranum Dianabol; Danabol Diandren; Crestabolic Primobolan; Nibal Android; Metandren Deca-Durabolin; Anabolicus Genabol Nilevar Anavar; Lonavar Oranabol; Theranabol Anapolon; Adroyd Stromba; Winstrol Anatrofin; Stenobolone Primoteston; Testogel “The Clear” Finajet; Parabolan Dimetriose DHEA Andro Fuel (Twinlab) *Esteróides comercializados legalmente em Portugal (o nome pelo qual são comercializados encontra-se a verde) **Esteróides comercializados sob a designação de produtos naturais 35 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Tabela B3 – Razão anabólica:androgénica dos EAA mais frequentemente utilizados no desporto Nome do EAA (trivial) Nandrolona Estanozolol Oxandrolona Metandienona Fluoximesterona Testosterona; metiltestosterona Razão anabólica:androgénica 30:1 10:1 10:1 3:1 2:1 1:1 Figura B27 – Modificações estruturais nos anéis A e B da testosterona capazes de aumentar a sua actividade anabólica A substituição com grupos alquilo (metilo ou etilo) no C-17 permite aumentar a actividade do esteróide sobretudo quando este é administrado via oral devido ao impedimento estereoquímico exercido sobre o grupo hidroxilo. Este efeito protege o grupo hidroxilo de sofrer mais rapidamente reacções de conjugação com ácido glucurónico ou de formação de sulfato. Estas reacções metabólicas, têm por objectivo inactivar farmacologicamente substâncias estranhas ao organismo (xenobióticos), sendo que a introdução de grupos hidrofílicos favorece a sua excretabilidade através da urina. São exemplos de análogos 17α-alquilados a metiltestosterona, a noretandrolona, a fluoximesterona, o danasol, a oxandrolona e o estanozolol. A adição de um grupo metilo no C1 também permite obter melhoras na actividade oral dos esteróides, como a metenolona e a mesterolona. Nas administrações por via parentérica, isto é por via que não inclua o tracto gastrointestinal (p.e. injecções intramusculares) é essencial que a absorção (e assim a acção) do xenobiótico seja mais prolongada, não se limitando apenas aos locais vizinhos da administração. Como tal, efectua-se a esterificação do grupo 17β-hidroxilo utilizando um ácido, obtendo-se assim um composto análogo com maior lipofilicidade. Na formulação do 36 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social análogo esterificado utiliza-se um óleo que permita a sua solubilização. A velocidade de absorção está então dependente quer do tamanho da cadeia lateral do ácido utilizado quer do coeficiente de partição entre o óleo e o plasma. A hidrólise do grupo éster para regenerar o composto activo hidroxilado é feita na corrente sanguínea através da acção de enzimas esterases. Exemplos de análogos normalmente administrados como ésteres são a nandrolona (na forma de decanoato) a testosterona (na forma de propionato ou enantato) e a metenolona (na forma de enantato). Os três EAA de origem endógena (DHEA, androstenediona e testosterona) cuja biossíntese foi mencionada na secção anterior, assim como outros de origem exógena (p.e. o metandriol, a metiltestosterona, e a metanedienona) podem ser obtidos de uma forma semisintética a partir da dioscina, uma saponina esteroidal proveniente de uma família de plantas denominada Dioscoreaceae. A dioscina, por hidrólise ácida origina a diosgenina, que como se pode ver pela figura apresenta um espirocetal no C-22. Figura B28 – Formação da diosgenina por hidrólise ácida da dioscina A remoção da porção espirocetal é feita por um processo denominado degradação de Marker. Este processo envolve um tratamento inicial da diosgenina com anidrido acético que leva à formação de um diacetato (por acetilação dos hidroxilos ligados ao C-26 e C-3) à abertura do espirocetal, e à formação de uma ligação dupla no anel E (entre os carbonos C-20 e C-22. Seguidamente, esta ligação é selectivamente oxidada gerando-se um produto intermediário com uma cadeia lateral ligada ao C-16 do anel E através de um grupo éster. Este grupo é facilmente hidrolisado a álcool, e o álcool desidratado, dando origem a um produto com uma cetona α,β-insaturada, que por ataque nucleófilo com hidroxilamina é transformada numa oxima. Na presença de um cloreto de sulfonilo em piridina, a oxima sofre um rearranjo de Beckmann dando origem a uma amida. A hidrólise da amida dá origem a uma enamina, que por tautomerização gera uma imina, a qual por sua vez é hidrolizada a cetona. Finalmente, por hidrólise do éster ligado ao C-3, é possível obter a desidroepiandrosterona (DHEA). Como se pode observar pela figura, a androstenediona e a testosterona podem ser obtidas com um bom rendimento, a partir do DHEA, utilizando levedura. A introdução do grupo metilo no C-17 para produzir metandriol, metiltestosterona e metanedienona é feita por ataque nucleófilo ao carbonilo do DHEA com reagente de Grignard. 37 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Figura B29 – Processo de síntese conducente a alguns EAA de origem endógena (DHEA, androstenediona e testosterona) e de origem exógena (metandriol, metiltestosterona e metandienona) 38 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social B.4 Mecanismos de acção dos EAA’s Em doses terapêuticas, tanto a testosterona como outros EAA´s sintéticos dela derivados actuam sobre o organismo humano, ligando-se a receptores de androgénios presentes no citoplasma das células. O complexo receptor-esteróide formado é então translocado para o núcleo onde se liga ao DNA, permitindo a transcrição do RNA mensageiro. Este por sua vez determina a síntese das proteínas necessárias para a manifestação dos efeitos androgénicos e anabólicos dos esteróides. Seguem-se alguns exemplos da utilização terapêutica de EAA’s no tratamento de doenças crónicas. Hipogonadismo – Preparações farmacêuticas contendo ésteres de testosterona (propionato, cipionato e enantato), metiltestosterona e fluoximesterona são utilizados para aumentar a secreção endógena de androgénios em homens hipogonadais. Distúrbios ginecológicos – Alguns EAA’s, como o danazol, são utilizados no tratamento da endometriose. Por vezes os EAA’s podem ser administrados em combinação com estrogénios em terapias de reposição hormonal. Infertilidade – A administração de testosterona pode ser utilizada para bloquear a actividade gonadal em homens durante terapias antineoplásicas. Puberdade tardia – O enantato de testosterona é utilizado, por via intramuscular, em jovens em puberdade tardia e de baixa estatura. Osteoporose – São utilizados EAA’s isoladamente ou em combinação com estrogénios. Artrite reumatóide – Utilizam-se ésteres de testosterona como o undecilato de testosterona com o objectivo de reduzir o nível sérico do factor reumatóide (IgM). Para administrações de EAA’s em doses supra-terapêuticas são propostos diversos modelos de actuação. Um desses modelos, proposto por Mottram e George (em 2000) e Karila (em 2003), sugere que, em concentrações elevadas, os EAA’s competem com os glucocorticosteróides pelos receptores de glucocorticosteróides, comportando-se como antagonistas competitivos. Daqui resulta uma supressão da resposta desencadeada por aqueles receptores ou seja a supressão do catabolismo proteico. Esta redução no catabolismo proteico provoca um efeito miotrofico sobre a musculatura estriada esquelética, sendo a razão pela qual são utilizadas doses supra-fisiológicas de esteróides derivados da testosterona. Contudo, a estas doses estão também associados efeitos tóxicos. Efeitos tóxicos sobre o sistema cardiovascular: - Enfarte do miocárdio, derivado da elevada expressão de Tromoxano A2 (e consequente aumento de agregação plaquetária); - Hipertensão arterial, provavelmente devido ao aumento da retenção de líquidos ou do volume plasmático; - Hiperlipidemia, derivado da redução dos níveis de HDL e aumento dos níveis de LDL, o que provoca um aumento da razão LDL/HDL que é tida como um 39 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social parâmetro que determina o risco de aparecimento de doenças vasculares, como a arteriosclerose. Efeitos tóxicos sobre o sistema endócrino: - Diabetes; - Hipogonadismo masculino. A utilização prolongada e em doses suprafisiológicas de EAA provoca por retro alimentação negativa uma redução significativa na actividade do sistema hipotálamo-hipófise na produção de LH e FSH. Esta redução mantém-se até quatro meses após a descontinuação da administração. Como resultado, neste período observa-se uma diminuição do volume de esperma, no número e motilidade de espermatozóides, e da libido. - Ginecomastia (desenvolvimento do tecido mamário). Durante a administração há uma sobre expressão da enzima aromatase, responsável pela transformação dos androgénios em estrogénios (figura B24). Essa expressão mantém-se mesmo após a descontinuação da administração de EAA’s, transformando a pouca testosterona agora produzida naturalmente (devido ao hipogonadismo) em estradiol, que por sua vez proporciona o desenvolvimento do tecido mamário. - Redução dos níveis séricos de tiroxina. Efeitos tóxicos sobre o sistema hepático: - Elevação dos níveis séricos das aminotransferases ALT e AST; - Tumores hepáticos. Efeitos sobre o comportamento: - Sintomas maníaco-depressivos; - Agressividade, criminalidade violenta e suicídio; - Dependência. 40 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social B.5 Detecção de EAA’s no controlo anti-doping Actualmente, a técnica por excelência que é utilizada na detecção e quantificação de EAA’s em amostras biológicas é a cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (GC-MS). Enquanto através da cromatografia se efectua a separação dos vários componentes presentes na matriz biológica, pela espectrometria de massa é possível obter informações sobre as características estruturais de cada componente, por meio da abundância de cada ião (m/z) seu gerado. Figura B30 – Processos de separação cromatográfica e detecção por espectrometria de massa A urina é na grande maioria dos casos, a matriz utilizada para a verificação de EAA’s, visto que é obtida por um método de colheita não invasivo quando comparada com o sangue, além de permitir a obtenção de um grande volume de amostra. Contudo há que ter em conta que a maioria dos esteróides é extensamente metabolizada, sofrendo conjugação com os ácidos glucurónico e sulfúrico. Assim, o desenvolvimento de protocolos de análise deve ser precedido de estudos de metabolização, para caracterizar quais os metabolitos unirários passíveis de serem reveladores de abuso de EAA’s. A tabela da página seguinte mostra alguns dos esteróides mais utilizados e os seus metabolitos excretados na urina. 41 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Tabela B4 – EAA de utilização mais frequente e os seus metabolitos excretados na urina. Esteróides Nantrolona Estanozolol Metiltestosterona Metenolona Oxandrolona Noretandrolona Fluoximesterolona Principais substâncias excretadas na urina (esteróide inalterado e/ou metabolito(s) 19-androsterona; 19-noretiocolanolona; 19-norepiandrosterona. 3’-hidroxiestanozolol; 3’-hidroxi-17-epiestanozolol; 4β-hidroxiestanozolol; 16β-hidroziestanozolol; 16α-hidroxiestanozolol. 17α-metil-5α-androstano-3α,17β-diol; 17β-metil-5α-androstano-3α,17α-diol; 17α-metil-5β-androstano-3α,17β-diol; 17β-metil-5β-androstano-3α,17α-diol. Metenolona; 3α-hidroxi-1-metileno-5α-androstano-17-ona. Oxandrolona; 17-epioxandrolona. 17α-etil-5β-estrano-3α,17β-diol 9α-fluoro-17α-metil-androst-4-eno-3α,6β,11β-triol; 6β-hidroxifluoximesterona; 9α-fluoro-17α-metil-5β-androstano-3α,6β,11β-triol. Antes de analisada, a amostra urinária tem de ser devidamente preparada por forma a que seja garantida a maior exactidão da determinação. Habitualmente é empregue o seguinte procedimento: 1- Extracção em fase sólida – para remover compostos inorgânicos que possam inibir a actuação de enzimas utilizadas adiante. Esta extracção é feita através de resina XAD-2 ou de colunas C18. 2- Extracção líquido-líquido – para remover esteróides não conjugados, utilizando como solvente orgânico, o dietil éter ou o t-butil metil éter. 3- Hidrólise enzimática de esteróides (ou seus metabolitos) conjugados ao ácido glucurónico, utilizando a enzima β-glucuronidase de Escherichia coli. 4- Extracção líquido-líquido- para extrair os esteróides para uma fase orgânica seca, sendo o solvente orgânico igual ao que foi utilizado na última extracção. 5- Derivação, que tem como objectivo aumentar a estabilidade térmica e a volatilidade dos esteróides que serão analisados no passo seguinte pela técnica de GC-MS, fazendo reagir os grupos hidroxilos com um agente de derivação. O agente mais utilizado é o nmetil-n-trimetilsililtrifluoroacetamida (MSTFA), que tem a vantagem de poder ser utilizado como solvente e assim ser introduzido directamente no aparelho de GC-MS. Contudo, o uso somente de MSTFA não é efectivo na silinização de esteróides que apresentem grupos hidroxilo ligados ao C-17, pelo que se torna necessário adicionar à 42 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social solução iodeto de amónio e um estabilizador (como o etanotiol). O estabilizador não é mais do que um agente redutor que evita a formação de iodeto por acção da luz. 6- Injecção da amostra no aparelho de GC-MS. Cada metabolito ou esteróide inalterado presente na urina (após ser derivado) apresenta um ou mais iões característicos m/z. Assim a sua presença pode ser monitorizada isoladamente operando o espectrómetro de massa no modo SIM (single ion monitoring). A razão testosterona/epitestosterona (T/E) é um parâmetro que desde 1983 é utilizado para detectar a utilização de testosterona, e mais recentemente alguns dos seus percursores e derivados sintéticos, na urina de atletas. O valor de T/E é medido com base na concentração dos metabolitos de fase II da testosterona e da epitestosterona excretados, que são respectivamente, o glucuronato de testosterona e o glucuronato de epitestosterona. Apesar da sua ampla utilização, este parâmetro revelou ser afectado por diversos factores dando origem ao aparecimento de falsos positivos e falsos negativos. Antes de mais convém recordar que o valor de T/E esperado obter da urina de um indivíduo adulto é 1. A WADA declara que valores acima de 4 podem ser indicativos de utilização daqueles esteroides, contudo deverão ser realizados novos testes de despistagem para se terem certezas. Os factores que poderão contribuir para variações do valor de T/E são os seguintes: Factores de Origem Endógena: - Idade; - Doenças endocrinológicas; - Origem étnica; - Ciclo menstrual; - Gravidez; - Ciclo circadiano; - Exercício físico. Factores de Origem Exógena: - Utilização de contraceptivos orais; - Utilização de Cetoconazole (agente anti-fúngico); - Consumo de etanol; - Utilização de esteroides androgénicos anabolizantes; Dado o âmbito do presente trabalho, irei referir-me apenas à utilização de EAA’s como a única causa de alterações nos valores de T/E detectados em numa análise de urina por GC-MS. Como foi referido anteriormente, o DHEA, a androstenediona e o androstenediol são precursores naturais da testosterona e apesar de constarem da lista de substâncias banidas, encontram-se comercializados sob a designação de suplementos nutricionais. Estes próhormonais de administração oral são bastante solicitados por atletas que desejam aumentar força e tamanho muscular. Contudo, estudos científicos levados a cabo por Brown et al (2006) demonstram que a sua eficácia é limitada devido essencialmente ao extenso metabolismo de 43 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social primeira passagem, exercido sobretudo pelas enzimas hepáticas. O facto destes esteróides serem rapidamente excretados através dos rins obriga a que a sua detecção seja efectuada poucas horas depois da administração. A detecção consta na maioria das vezes num aumento da razão T/E devido ao um ligeiro aumento da testosterona total, mantendo-se a epitestosterona inalterada. Como nos indivíduos do sexo feminino a testosterona endógena plasmática corresponde a aproximadamente 1/10 da que é encontrada nos indivíduos do sexo masculino, um aumento ainda que ligeiro daquela hormona (proveniente da conversão de um pró-hormonal) causa um aumento significativo da testosterona total, e por extensão do valor da razão T/E. Após a descontinuação da administração de EAA’s em doses supra-terapêuticas regista-se, como vimos, um estado temporário de hipogonadismo em indivíduos do sexo masculino e feminino, resultado da supressão da produção de testosterona ao nível dos testículos e ovários, respectivamente. Este estado de hipogonadismo é identificado por uma diminuição de excreção de testosterona e por alterações na excreção de epiestosterona. A produção e excreção de epitestosterona é extensivamente suprimida quando o EAA utilizado apresenta fraca capacidade de ligação a receptores de androgénio (ou seja razão anabólica/androgénica superior a 2). Neste caso assiste-se a uma diminuição da razão T/E. Caso o EAA apresente boa afinidade pelos receptores de androgénios, a produção e excreção daquele esteróide permanece constante, da qual resulta um aumento do parâmetro T/E. Apesar da epitestosterona não apresentar qualquer actividade anabolizante, quando administrada juntamente com a testosterona permite manipular a razão T/E, levando ao aparecimento de falsos negativos. Devido ao facto de após a glucuronização (metabolismo de fase II) 1% da testosterona e 30% da epitestosterona serem excetados, a administração de testosterona e epitestosterona numa proporção de 30:1 não provoca qualquer alteração no valor do parâmetro T/E. Por esta razão a epitestosterona é considerada um agente mascarante esteroidal, fazendo parte da lista de substâncias proibidas pela WADA. A norte americana BALCO (Bay Area Laboratory Co-operative), esteve recentemente envolvida em escândalos relacionados com o fornecimento de preparados farmacêuticos à base de esteróides a atletas olímpicos. Um desses preparados, o “The Cream”, contém precisamente epitestosterona e testosterona sendo administrado transdermicamente. Exemplo: Detecção do Estanozolol (17β-hydroxy-17α-methyl-5α-androstano[3,2-c]pyrazole) Como se pode ver pela tabela B4, o estanozolol é um dos EAA’s de origem exógena mais utilizados e que sofre uma extensa metabolização. Os seus metabolitos mais importantes (16αe 16β-hidroxiestanozolol ou 16-OHStan, 3’hidroxiestanozolol ou 3’-OHStan, e 4β-hidroxiestanozolol ou 4βOHStan) encontrados na fracção conjugada da urina, são durante a preparação da amostra hidrolisados através de uma preparação de enzimas β-glucuronidase e sulfatase. Na figura seguinte, mostra-se na parte superior (A) o traçado de um cromatograma de corrente iónica total relativo a uma amostra de urina complexa de um atleta, contendo metabolitos do estanozolol. Na parte inferior encontra-se representado os traçados SIM 44 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social (single ion monitoring) correspondentes a dois iões característicos (pré-seleccionados) dos metabolitos 3’-OHStan e 4β-OHStan. Estes foram previamente derivados pela acção de iodotrimetilsilano e N-metil-N-trimetilsilil-trifluoroacetamida, para produzir os correspondentes derivados trimetilsililados. Para o 3’-OHStan encontramos os iões característicos de m/z 559,30 e 544,30, enquanto para o 4β-OHStan temos os iões de m/z 560,70 e 545,70. Apesar de a urina ser a matriz normalmente usada para a detecção de doping por estanozolol, o facto de o atleta poder receber a droga várias semanas antes da competição, pode ter como consequência que a sua detecção nesse meio possa já ser muito difícil, ou mesmo impossível, na altura em que é testado. Em contrapartida, os pêlos e o cabelo pigmentado revelam-se uma matriz mais permanente para a detecção deste esteróide. Isto porque o anel pirazole do estanozolol estabelece com o pigmento polimérico e polianiónico do cabelo, a melanina, uma associação estabilizadora com carácter iónico. Figura B31 – Detecção de metabolitos do estanozolol: (A) cromatograma de corrente iónica total de uma amostra de urina. (B) traçados SIM para o 3’-OHStan e 4β-OHStan. 45 Esteróides Androgénicos Anabolizantes – Perspectiva Química e Social Referências Bibliográficas [1] World Anti-Doping Agency (2008); The World Anti-Doping Code – The 2008 Prohibited List International Standard. September 22, 2007. [2] IUPAC-IUB Joint Commission on Biochemical Nomenclature; Nomenclature of Steroids – Recommendations 1989; Pure & Appl. Chem., Vol 61, No. 10, pp. 1783-1822 (1989). [3] CAMPOS, D.; Detecção de esteróides androgênicos anabólicos por GC/MS em urina de esportistas e alterações séricas bioquímicas e hormonais; 2004, São Paulo. [4] KICMAN, AT; Pharmacology of anabolic steroids; British Journal of Pharmacology (2008) 154, 502521. 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