A VEGETAÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL EM FUNÇÃO DOS MODELOS FITOCLIMÁTICOS DE MARTONE E THORNTHWAITE & HARE E DA CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DE KOEPPEN Galileo Adeli Buriol 1 , Valduíno Estefanel 2 , Álvaro Chagas de Chagas 3 . RESUMO Relacionou-se a vegetação natural do Estado do Rio Grande do Sul com as disponibilidades climáticas. Utilizaram-se dois modelos fitoclimáticos, um baseado na temperatura do ar e precipitação pluviométrica e o outro no balanço hídrico do solo. Utilizou-se, também, uma classificação climática baseada na temperatura do ar e precipitação pluviométrica. Tanto nos modelos fitoclimáticos como na classificação climática os resultados foram, que o Estado deveria ter vegetação natural do tipo floresta. Assim, considerando que em torno de 46,26% da vegetação natural do Estado é do tipo campestre, conclui-se que outros fatores, além do clima, interferem e/ou interferiram na formação da vegetação natural do Rio Grande do Sul. Palavras-Chave: Fitogeografia, modelo fitoclimático. ABSTRACT The Rio Grande do Sul state natural vegetation was related with the available climatic data. It were used two phytoclimate models, one based on air temperature and rain and another on soil water balance. It was used, also, a climate classification based on air temperature and rain. In the phytoclimate model as in the climatic classification the results were, for all state, natural vegetation as forest. Therefore, considering that 46.26% of the state natural vegetation are grasslands, we concluded that other factors, besides climate, intervene and/or had intervened in the formation of natural vegetation in Rio Grande do Sul state. 1 Área de Ciências Naturais e Tecnológicas, Curso de Engenharia Ambiental, UNIFRA. Bolsista do CNPq. [email protected] 2 Área de Ciências Naturais e Tecnológicas, Curso de Engenharia Ambiental, UNIFRA. [email protected] 3 Aluno de iniciação cientifica, Curso de Geografia, UNIFRA. [email protected] 1 INTRODUÇÃO Os principais fatores de formação dos diferentes tipos de vegetação são de origem climática e edáfica. Dos elementos do clima a radiação solar, a temperatura e a umidade do ar, a precipitação pluviométrica, a evaporação da água e o vento são os de maior importância. A influência do solo é determinada pela sua natureza física, químicas, biológica e pela sua profundidade. Estes dois fatores agem simultaneamente: o clima determina a formação vegetal e o solo suas variações locais (RAMBO, 1956). Entretanto, autores como Veloso (1962) e Marchiori (2002; 2004) afirmam que o tipo de vegetação natural não se constitui, necessariamente, expressão do clima local e/ou regional, podendo ocorrer diferentes formações vegetais em uma mesma região de características climáticas semelhantes, em função das diferenças edáficas, como deficiência hídrica e condições de fertilidade. Uma das maneiras de sintetizar a influência dos elementos climáticos sobre a distribuição geográfica da vegetação natural sobre a superfície da Terra é o uso de modelos fitoclimáticos. Entre estes se destacam os de Lang (1915), Martone (1926), Koeppen (1944), Holdridge (1978), Gaussen (1954), Thornthwaite & Hare (1955), Budyko (1956), Walther & Lieth (1961) e Odum (1988). Existem ainda classificações climáticas nas quais os diferentes tipos climáticos são associados às distintas formações vegetais ou às características hídricas do solo. No Estado do Rio Grande do Sul as condições climáticas são favoráveis à formação de vegetação natural do tipo floresta subtropical e temperada. Entretanto, em torno de 46,26% da vegetação natural é de campo. O mais contraditório é que, em uma mesma região, com características climáticas consideradas homogêneas, existem áreas com florestas e com vegetação campestre intercaladas. Segundo Rambo (1994), isto ocorre, principalmente, em função de que, a pesar das disponibilidades climáticas atuais no Estado serem de vegetação arbórea, as condições de solo impedem a sua formação em grande parte do seu território. Desta forma se todo o solo fosse apto para vegetação do tipo floresta esta formação ocuparia, ao menos em um futuro remoto, toda a área do Estado, pois, no caso da cobertura vegetal natural, as condições climáticas mantem a primazia. Entretanto, autores como Klein (1975), Marchiori (2002; 2004) e também o próprio Rambo (1994), atribuem a existência no Estado da vegetação natural de florestas e campos, lado a lado, em regiões com disponibilidades climáticas semelhantes, solos com mesmas características físicas e químicas e profundidade e de conformação geomorfológica análoga, principalmente, à vigência de um clima anterior mais seco, semi-árido. Mesmo sabendo-se que, nas condições climáticas atuais, a vegetação natural potencial do Estado do Rio Grande do Sul é de floresta, mas que, em função das condições de clima árido e semi-árido no 2 passado, em torno de 46,26% da sua área é formada por campos, é importante estudá-la por meio dos diferentes modelos fitoclimáticos considerados de aplicação e validade universal ou, ainda, por meio das classificações climáticas baseadas na distribuição geográfica da vegetação. No presente trabalho objetivou-se estudar o ajuste de dois modelos fitoclimáticos (MARTONE, 1926; THORNTHWAITE & HARE, 1955) e de uma classificação climática (KOEPPEN,1948) à distribuição geográfica da vegetação natural do Estado do Rio Grande do Sul. MATERIAL E MÉTODOS Para o cálculo do índice de Martone (1926), baseado nas condições termo-pluviométricas, utilizou-se a equação: IM=P/(T+10), (1) em que IM é o índice de Martone (1926) e P e T, respectivamente, a precipitação pluviométrica média anual (mm) e a temperatura média anual (ºC). No modelo de Thornthwaite & Hare (1955), baseado no balanço hídrico do solo, foram utilizados o índice de umidade (Im) e índice de eficiência térmica (ET), obtidos por meio do cálculo do balanço hídrico segundo Thornthwaite (1948), considerando o armazenamento de água disponível no solo igual a 100 mm. O índice de umidade (Im) foi calculado com o uso da equação: Im=Ih-0,6Ia, (2) em que Ih é o índice hídrico e Ia o índice de aridez: Ih=100(Exc/ETP), (3) Ia=100(Def//ETP), (4) sendo ETP a evapotranspiração potencial média anual (mm); Exc o excesso hídrico do solo médio anual (mm) e; Def a deficiência hídrica do solo média anual (mm). O valor do índice de eficiência térmica (ET) é igual a evapotranspiração potencial média anual (mm). Para os cálculos dos modelos de Martone (1926) e Thornthowaite & Hare (1955) e para o enquadramento das estações meteorológicas utilizadas na classificação climática de Koeppen (1948), foram utilizados os dados de temperaturas médias mensais e anuais e das médias dos totais mensais e anuais de precipitações pluviométricas de 42 estações meteorológicas, período de observações 19311970 (INSTITUTO DE PESQUISAS AGRONÔMICAS, 1989). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas Figuras 1 e 2 tem-se o enquadramento das diferentes estações meteorológicas, respectivamente, nos modelos de Martone (1926) e de Thornthwaite & Hare (1955). No primeiro caso, Figura 1, a maioria dos locais se enquadra na zona climática úmida. Os locais de maior precipitação 0 6 24 20 Semi deser to Sub Úmi do úmi do Hi per úmi do 18 16 14 12 10 8 Eficiência Térmica (ETp, mm). Semi deser toár i do 22 E 143 Polar D 285 Tundra C1 428 c1' Taiga 570 B 855 B 998 Selva Bosque 713 B Pradaria Alta 3 20 Pradaria baixa 1 Estepe 5 Deser to Deser to ár i do extr emo B 1140 A' 6 4 1283 -60-60E -40D -20C 2 0 0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 C 0 20 B 40 B 60 B 80 B Índice Hídrico (Im) 100 A A A A A 200 120 140 160 180 200 A P r ec i pi t a ç ã o ( mm) Figura 1 - Distribuição das diferentes estações meteorológicas do Estado Rio Grande do Sul no modelo fitoclimático de Martone (1926). Figura 2 - Distribuição das diferentes estações meteorológicas do Estado do Rio Grande do Sul no modelo fitoclimático de Thornthwaite & Hare (1955). pluviométrica como, São Francisco de Paula, Soledade e Palmeira das Missões, localizam-se na zona hiper úmida. No caso do modelo de Thornthowaite & Hare (1955), Figura 2, a maioria das estações meteorológicas localiza-se na zona de vegetação tipo bosque e, naquelas onde mais chove na zona de selva higrófila. Na Figura 3 observa-se que, segundo a classificação climática de Koeppen (1948), o clima para todo o Estado é do tipo Cf, temperado úmido sem estação seca, com temperatura média do mês mais quente inferior a 22,0 °C, Cfb, na Região climática da Serra do Nordeste e nas partes de maior altitude do Planalto e Serra do Sudeste e com temperatura média do mês mais quente superior a 22,0 °C, Cfa, no restante da área do Estado. Isto representa condições climáticas de vegetação natural tipo floresta subtropical. Os resultados obtidos nos modelos fitoclimáticos e na classificação climática não expressam a realidade da distribuição geográfica da vegetação natural atual do Estado, onde existem muitas regiões com vegetação natural arbustiva e/ou de pradaria e, principalmente, de formação campestre. 4 Conclui-se que existem outros fatores que condicionam e/ou condicionaram a atual formação vegetal do Estado do Rio Grande do Sul, como sugerem Klein (1975), Marchiori (2002; 2004) e Rambo (1956). Desta forma é muito importante intensificar os estudos na busca destes fatores, principalmente, na relação da vegetação natural com as características dos principais tipos de solos existentes no Estado e com as condições climáticas do passado. Figura 3 - Clima do Estado do Rio Grande do Sul segundo a classificação climática de Koeppen (1948). CONCLUSÕES As disponibilidades climáticas do Estado do Rio Grande do Sul é de vegetação natural tipo floresta. Aproximadamente metade da área do Estado, apesar das condições climáticas atuais serem de floresta, a vegetação natural é do tipo campestre. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUDYKO, M. I. Atlas tieplobogo balansa zemnogo shara.( Atlas do balanço calórico do globo terrestre). 69 mapas e textos, Moscou. 1963. GAUSSEN, H. L’indice xérothermique. Bull. Assoc. Géogr. Français, Paris, 10-16, 1952. HOLDRIDGE,L .R. Ecologia basada en zonas de vida. San José, IICA, 1978, 216p. 5 INSTITUTO DE PESQUISAS AGRONÔMICAS. 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