Mapeamento batimétrico da plataforma continental da foz do rio Beberibe-PE
Bathymetric mapping of the continental platform of the estuary of the river Beberibe-PE1
Antônio Vicente F. Júnior2, 4, Marcelo Rollnic3, Patrícia Mesquita Pontes3,4,
Prof. Dr.Tereza Cristina M. Araújo4
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3
Programa de Pós-Graduação em Geociências, UFPE ([email protected]),
Programa de Pós-Graduação em Oceanografia, UFPE, 4Laboratório de Oceanografia Geológica – DOCEAN/UFPE.
Introdução
A plataforma continental de Pernambuco é caracterizada por uma largura média de 34 km, variando
aproximadamente de 30 km no trecho sul a 40 km de largura no extremo norte. Possui um relevo suave, com
a quebra da plataforma na faixa de 60 metros de profundidade (Araújo et al., 2004).
Coutinho (1976) estabelece a divisão da plataforma continental do Nordeste com base em estudos da
morfologia e distribuição dos diversos tipos de sedimentos, propondo uma subdivisão da plataforma em três
trechos: (i) plataforma interna, limitada pela isóbata de 20 m; (ii) plataforma média, de 20 a 40 m de
profundidade; e (iii) plataforma externa, a partir de 40 m de profundidade. Neste trabalho, destacaremos a
plataforma interna que se caracteriza por apresentar relevo suave, mostrando algumas irregularidades devido
à presença de recifes, canais e ondulações. Tal plataforma é coberta por areia terrígena, com muito pouco
cascalho e lama, bem como baixo teor de carbonato de cálcio, tendo ainda os componentes bióticos muito
retrabalhados.
Recentemente, Michelli (2002) e Camargo (2005) realizaram um estudo mais detalhado na plataforma
continental sul de Pernambuco, na qual foi mapeada a ocorrência de três linhas de arenitos de praia
submersos.
As características morfológicas do relevo submerso contribuem para o conhecimento dos processos
erosionais e progradacionais que ocorrem na costa. O presente trabalho mostra-se útil para os estudos de
erosão/sedimentação na área em estudo, visto que os municípios de Olinda e Recife encontram-se com
quadro de erosão bastante acentuado. De acordo com registros levantados por Manso et al. (1996), o
problema da erosão costeira em Olinda está relacionado com a construção e ampliação do Porto do Recife,
que modificaram as correntes litorâneas, além dos aterros de mangues, verificados na foz do rio Beberibe, o
que contribui para o processo erosivo já instalado na região.
A área-objeto de estudo está incluída na plataforma continental de Pernambuco, sendo parte da área de
influência de descarga do rio Beberibe entre os municípios de Olinda e Recife (Fig. 01).
Figura 01-Localização da área de estudo com as linhas de navegação.
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Projeto financiado pela FINEP (Projeto Monitoramento Ambiental Integrado - Avaliação dos processos de erosão
costeira nos municípios de Paulista, Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes).
Metodologia
Foi escolhida a área da foz do rio Beberibe, visto que representa todas as feições da plataforma interna de
Pernambuco. Os dados de batimetria foram coletados com a utilização de uma embarcação de pequeno porte
e o equipamento usado foi o GPSMAP 298 da Garmin.
Os perfis batimétricos foram adquiridos, preferencialmente, no sentido longitudinal (E-W) a costa, com
linhas aproximadamente de 5 km de extensão e espaçadas a cada 200 m. Foi levantado um total de 25.000
pontos, perfazendo cerca de 255 km de levantamento. Os dados foram devidamente corrigidos em relação à
referência mínima da maré.
No que se refere à geração do Modelo Digital de Terreno (MDT), os dados batimétricos coletados em campo
foram tratados no programa Surfer 8. Neste programa, foi utilizado o interpolador de triangulação, o qual
constitui um interpolador com maior vantagem de fidelidade dos dados originais e rápida velocidade de
processamento.
Foram elaborados os pontos da malha e em seguida gerou-se o mapa de contorno. A partir desse
procedimento obteve-se a superfície tridimensional e, em seguida, gerou-se a imagem do relevo. O
procedimento seguinte foi a sobreposição da imagem de satélite georreferenciada sobre a superfície em três
dimensões. Após essas etapas, foram gerados os perfis de terreno que possibilitaram a visualização de
estruturas no fundo oceânico.
Resultados e discussão
O levantamento batimétrico permitiu a construção de mapas apresentados como produtos neste estudo,
possibilitando a visualização das variações da profundidade, bem como a morfologia da plataforma
continental interna da área em estudo. Sendo assim, foi possível identificar as principais feições, como os
beachrocks, bancos arenosos, canal do rio e tipos de fundo plano e com declives acentuados, além de um
forte relevo irregular na parte norte da área estudada. Foi possível observar, de forma geral, uma queda suave
da plataforma interna na parte sul, enquanto que na parte norte os valores de profundidade variam
abruptamente com profundidade máxima de 19 metros.
Os beachrocks são uma das principais feições encontradas na plataforma interna e constituem um importante
agente de dissipação de energia parcial das ondas sobre a praia, além do que são indicadores de níveis do
mar mais baixos que o atual. Essas formações encontram-se dispostas paralelamente à linha de costa e,
geralmente, apresentam uma geometria linear, com extensão máxima em torno de 9 km e com até dezenas de
metros de largura.
Com auxílio da imagem do relevo foi possível fazer uma visualização regional da área. Nesse caso,
visualizou-se uma maior presença de beachrocks e corpos isolados na parte norte do recorte territorial
estudado, ao passo que, na parte sudoeste, destacam-se possivelmente bancos arenosos com
aproximadamente 800 m de extensão. A porção sul da área possui fundo relativamente plano e suave, com
menor presença de beachrocks e alvos isolados. Em toda a área de estudo, são observados bechrocks que são
classificados em função do seu tamanho como tacis e cabeços. Os tacis são estruturas consolidadas com
diâmetro maior que 10 m. De acordo com Guerra (1993), os cabeços são partes mais altas de um substrato
submerso e apresentam forma arredondada
O canal submarino do rio Beberibe apresenta uma extensão de 6 km até o limite norte da área de estudo com
profundidade máxima de 12 m. Ele possui direção SW-NE e sofre uma pequena deflexão em torno de 1,6 km
de comprimento.
No geral, os perfis batimétricos apresentaram uma extensão aproximada que varia de 4,5 km a 5,5 km, com
cotas variando entre 0,35 m a 19,29 m de profundidade. No perfil 1 (Fig. 02), a variação é de quase 6 metros
num percurso aproximado de 450 m, logo em seguida ocorre um aclive em torno de 670 m, com cota de 6 m
de profundidade. Em direção offshore, a declividade é mais suave, sendo interrompida a 2.488 m por um
corpo de 1,5 km de extensão. Para este perfil, a profundidade máxima encontrada é de 17,12 m, caindo para
1,62 m de profundidade na faixa próxima à linha de costa, com declividade média de 30,40%.
O perfil 40 (Fig. 03) apresenta um relevo irregular, comum a toda parte norte da área estudada, iniciando-se
com um desnível de um pouco mais de 4 m num percurso de 167 m. Em seguida, inicia-se um novo desnível
a 815 m, com profundidade de até 11 m. No sentido da costa para a plataforma rasa, observa-se um novo
aclive em torno de 1.500 m, configurando um fundo de canal em forma de “V”. A declividade média deste
perfil é de 24,41%.
Considerações finais
Os resultados obtidos no mapeamento batimétrico constituem um importante recurso para identificar e
analisar feições morfológicas submersas. O uso integrado do MDT e imagem de satélite apresenta um
recurso tanto visual quanto funcional, sendo possível visualizar em vários ângulos e representar em três
dimensões o relevo da área estudada. Finalmente, este mapeamento é uma ferramenta muito útil no que se
refere ao planejamento da coleta de sedimentos e ao levantamento sonográfico.
Perfil 01
0
-2
-4
Profundidade (m)
-6
-8
-10
-12
-14
-16
-18
0
1000
2000
3000
4000
5000
Distância (m)
Figura 02 – Perfil batimétrico transversal na parte sul da área, com relevo acidentado.
Perfil 40
0
-2
-4
Profundidade (m)
-6
-8
-10
-12
-14
-16
-18
0
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2000
3000
4000
5000
Distância (m)
Figura 03 – Perfil batimétrico transversal na parte norte da área.
Bibliografia
Araújo, T. C. M.; Seoane, J. C. S.; Coutinho, P. N. 2004. Geomorfologia da plataforma continental de
Pernambuco. In: Leça, E.E.; Neumann-Leitão, S.; Costa, M. F. (Ed.) Oceanografia – um cenário tropical,
Recife. Ed. Bagaço, p. 39-57.
Camargo, J. M. R. 2005. Mapeamento sonográfico da plataforma continental adjacente ao município de
Tamandaré-PE-Brasil. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Coutinho, P.N. 1976. Geologia marinha da plataforma continental Alagoas-Sergipe. (Tese de Livre
Docência). Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Guerra, A. T. Dicionário geológico-geomorfológico. 8 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.
Michelli, M. 2002. Mapeamento sonográfico de parte da plataforma continental sul de Pernambuco-Brasil.
(Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Manso, V. A. V. et al. 1996. Situação atual da erosão marinha no estado de Pernambuco. In: XXXIX
Congresso Brasileiro de Geologia, Salvador.
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