JANAINA TEIXEIRA Jornal Laboratório elaborado pelo 3º ano do curso de Jornalismo da Univel - ano XIII - edição 60 - maio de 2014 1964 50 anos de golpe contra a Democracia Em 2014, o golpe que instaurou a Ditadura Militar no Brasil completou 50 anos. No entanto, apesar de ser parte da recente história brasileira, ainda há muitas histórias a serem reveladas sobre o período. Personagens que compuseram essa história podem, agora, revelar o que enfrentaram na época. Quais são os danos que o Regime trouxe à sociedade? A Ditadura Militar não se findou em 1985. Ela permanece viva até hoje na memória daqueles que lutaram por uma sociedade igualitária, inclusive nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. p. 10 e 11 2 OPINIÃO maio de 2014 “Pai, afasta de mim Mais que um homem, ” esse cálice um símbolo! Jhon Dwitt O dia inicia-se turbulento, mais de 70 milhões de brasileiros estão aprisionados pelo medo, pela intolerância, pelo militarismo. Um período marcado pela censura, pelo poder abusivo de uma classe diferenciada. Os meios de comunicação, que por sua essência tinham um caráter informativo, se calam, se rompem, se dissolvem. E por quê? A resposta é simples: medo da punição! Punição essa sofrida pelas principais emissoras televisivas da época, TV Excelsior e TV Tupi, que, até 1968, dominavam o meio de comunicação e a partir de então perdem seu posto para atual campeã de audiência nacional, que foi inaugurada em 1965. Seria aqui uma jogada de sorte? Ou apenas ironia do destino? Perguntas muito discutidas dentro das academias de comunicação. Mas o tempo passou, na verdade, o tempo voou, como muitos costumam dizer. Tudo aquilo se foi. Ou, será que não se foi? Será que está apenas oculto por trás de belas roupas, de belas pessoas, de belos estúdios, do senso comum? Senso comum que faz com que as pessoas acompanhem noticiários sensacionalistas, que faz com que leiam jornais e revistas, ao invés de agregar conhecimento. Estas, estão apenas interessadas em combater a concorrência. Meios esses que são seguidos pela força do nome que carregam, devido ao dinheiro adicionado para a geração de propagandas. Acredito que você, querido leitor, já deva ter parado para refletir alguma vez a respeito da comunicação em Nosso País. Se ainda não fez isso, seria aqui, por meio dessa reflexão, uma hora oportuna para começar a pensar a respeito da política nacional e dos interesses instaurados em nossos meios de comunicação. O senso comum não está presente apenas nos meios de comunicação. Quantas vezes a medicina errou? A psicologia errou? A história errou? Não foi uma, nem duas ou três vezes, e sim inúmeras. Em 1980, quando a aids passou a ser assunto popular, ocorreu um verdadeiro pânico social. Atrelado a isso, veio a associação da doença com a população homossexual, ficando assim a aids conhecida como “doença gay”, “câncer gay”, “peste gay”, entre outros termos carregados de puro preconceito e desconhecimento do fato. Com o passar do tempo, ficou claro que a doença atinge muito mais os casais conhecidos como tradicionais. No entanto, mais uma vez a marca da má interpretação gerou cicatrizes em uma sociedade formada por minorias, assim como, as marcas da ditadura, que ficaram assinaladas, naquelas pessoas que viveram tal período. O que cabe a nós, estudantes de Jornalismo, assim como dos demais cursos, é reconhecer os fatos sem que nossas vivências culturais, sociais, familiares e religiosas interfiram em nossa criticidade, ou seja, é intolerável que deixemos o senso comum, o “achismo”, a má administração e o excesso de poder, continuar marcando nossa sociedade. “Como é difícil, pai, abrir a porta”! Certa vez me disseram para dar mais valor ao que os nossos sentimentos expressam e não tanto ao que nossa boca fala... Mas eu pergunto: como se calar diante de tanta sujeira? Mesmo com os lábios selados pela censura, eu, como jornalista, tinha o dever de dizer a verdade, de dizer ao povo que, embora o governo usasse de violência ao invés de diálogo, as palavras sempre terão seu poder. Elas oferecem um significado para as coisas e, para aqueles que as escutam, representam a enunciação da verdade. Na década de 70, métodos foram desenvolvidos para dizer o que não era permitido, para dizer a verdade que o Estado queria esconder. Eu disse!!! Mesmo sem saber o que poderia acontecer comigo se alguém desconfiasse de alguma palavra, ou de alguma frase que não fosse do agrado do governo. Naqueles tempos caóticos, dizer a verdade era crime. Defender os direitos dos cidadãos contra os opressores era proibido, pois foi tirado de nós, do povo, o direito de indignar-se com as atrocidades que estavam sendo praticadas. Após os governantes descobrirem que eu estava por trás do partido comunista e por trás de muitos movimentos contrários à posição do governo, mandaram-me para o cárcere. Mas não fugi, porque cansei de me esconder, cansei de ser só mais um humilhado e jogado às traças pelos “donos do poder”. Fui preso com mais dois colegas, que amedrontados pelo rugido da morte, foram torturados e depois liberados após assinar um documento falso, imposto pelos torturadores, no qual afirmava-se que eu era o culpado. Na parte da tarde, comecei a ser torturado, recusei-me a abrir mão do direito de expressar a minha opinião e fui morto por aqueles que deveriam oferecer proteção e não espalhar terror. Morri com dignidade. Isso mesmo, eu fui MORTO, não me suicidei como disseram... Por que eu faria isso? Ainda mais em uma grade de um metro e 63 centímetros de altura, com um cinto que sequer era permitido usar naquele lugar. Lutei pela liberdade de expressão, pelo direito de questionar as barbaridades que existiam na época, e que acredito eu, ainda existam. Mas estou feliz pelo fim da ditadura, pelas alfinetadas direcionadas aos políticos nos jornais diários e por todas as representações públicas de que o gigante finalmente acordou. Aqui vos falo pelas palavras e pela mente de um colega, futuro jornalista, Jhon Dwitt. Despeço-me dizendo para vocês, jovens, que não percam a capacidade de se indignar com as coisas, pois isso nos fortalece, nos faz mais humano e mais vivos. Igualdade, justiça e liberdade são mais do que palavras... São perspectivas que devem ser defendidas com coragem e determinação É melhor morrer com dignidade do que viver sem ela. Ainda não sabe quem sou eu? Sem problemas eu digo: sou o símbolo da resistência e da luta pela liberdade, justiça e igualdade entre os brasileiros. Alguns me chamam de Vladmir Herzog, mas pode me chamar de “Vlado”. Até logo!!! CRÔNICA EDITORIAL Kássia Beltrame Expediente Univel (União Educacional de Cascavel) - Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Avenida Tito Muffato, 2317 - Bairro Santa Cruz. CEP: 85.806080 - Cascavel - Paraná. Telefone: (45) 3036-3636. Diretora: Viviane Silva. Unifatos. Jornal laboratório elaborado na disciplina de Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa III do curso de Jornalismo. Coordenadora: Letícia Rosa. Professora orientadora: Wânia Beloni. Acadêmicos (textos, fotos e diagramação): Douglas Trukane Dos Santos, Flavia Daniela Duarte dos Santos, Gabriel Ramos Pratti, Heloísa Iara Perardt Pinto, Heloize Lima dos Santos, Janaina Teixeira, Jéssica de Araujo, Jhonathan de Souza D’witt, Kássia Paloma Beltrame Oliveira, Larissa Ludwig, Leandro de Souza, Maicon Roselio dos Santos Camargo, Makelen da Cas Rotta, Marcelo Gartner Machado, Maximiliane Veiga, Rebeca Branco dos Santos, Renan Paulo Bini, Ricardo Pohl, Ricardo Silva de Oliveira, Silmara dos Santos, Thais Padilha Antunes, Walkiria Oliveira Zanatta e Wilian Clay Wachak. Projeto gráfico: Wânia Beloni. Tiragem: 1 mil exemplares. Impressão: Jornal O Paraná. E-mail para contato: [email protected] PERFIL FOTOS: MAKELEN ROTTA maio de 2014 3 “Para viver nós precisamos de bom humor” Neiva Müller, aos 55 anos, se desdobra em diferentes funções e não perde a alegria de viver Makelen Rotta Chegamos à faculdade após um dia todo de trabalho, tarefas, deveres e compromissos da graduação. Encontramos colegas e professores pelos corredores e muitas vezes reclamamos das mesmas coisas, até que nos deparamos com a “dona Neiva”. A acadêmica do 4º ano de Jornalismo da Univel, Neiva Salete de Souza Müller, passa cumprimentando todos com um sorriso enorme. Ao ver essa cena, ela faz com que os jovens ao seu redor repensem antes de reclamar à toa, pois, muitos, aos 20 anos, não fazem nem metade do que ela consegue fazer aos 55. Supercatólica, “dona Neiva” é acadêmica, microempresária, técnica em abordagem familiar, locutora de rádio e mãe de Marcela, 32, Mariana, 28, e André, 27. Além de todos esses papéis, ela ainda arruma tempo para conceder esta entrevista, pois como diz: “A gente sempre arruma tempo para tudo”. Atuante em todos estes campos de sua vida, Neiva destaca-se no quesito bom humor, encarando a realidade do ensino superior e da vida profissional sem perder esta característica. A graduação era um sonho? Sim. Quando meus filhos eram pequenos, meu sonho era fazer uma faculdade. Eu havia passado em 33º lugar em Ciências Econômicas, na época, na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Chamaram até o número 32. Então, resolvi priorizar o estudo dos meus filhos. Hoje estou realizando um sonho. Eu amo a graduação e os meus colegas. capacitou. Além disso, tem que ter dom e carisma para ter resultado. Antes de falar sobre a doação das córneas, eu levo minha palavra, o meu apoio. Eu oro no carro para essa família. A empresa não pede para eu fazer isso, mas faço e os resultados eu vejo diariamente. É compensador. Sou grata por estar nesse trabalho e vejo-me cada dia mais motivada a continuar. Nunca é tarde para estudar? Como é o trabalho de microempresária? Não. É um tesouro que ninguém vai tirar de você. Eu sempre costumo dizer que só sou jovem há mais tempo (risos), mas ainda é tempo de buscar o conhecimento e ler. Encantame ver uma pessoa que sabe se expressar bem, que tem argumentação, conhecimento, sabedoria e respeito. Por que o curso de Jornalismo? Por conta do rádio que é algo que gosto muito e pelos programas religiosos, Jesus tá Vivo, que apresento das 9h30 às 10h30, um domingo por mês, e o Presença de Deus, das 17h30 às 18h15, algumas vezes por mês, ambos na rádio Colméia. Estou evangelizando e levando a palavra de Deus. Como é a relação com os colegas de faculdade? É muito boa. Eles me têm como uma mãe na sala de aula. Eu cresço com eles. Tenho respeito por cada um, porque me ajudam a ser melhor. Pretende trabalhar na área? Eu vou ser jornalista de Jesus (risos)! Mas eu estou nas mãos de Deus, estou feliz no meu trabalho. Como é o ofício no Hospital de Olhos? Eu trabalho no Banco de Olhos do Hospital e sou técnica de abordagem familiar. Faz oito anos que estou lá e o trabalho é você ir ao encontro da família quando perde um ente querido. Alguém tem que fazer isso e esse é um trabalho difícil, porém eu amo fazer, porque eu sei que Deus me O que dizem sobre “dona Neiva” “Simplicidade e carisma em uma alma repleta de doação”, Cezar Roberto Versa, professor. “Generosa, cordial, determinada, ‘mutantes mutativos’. Ela soube o momento que sentia necessidade em fazer uma mudança na vida. Ela se entrega às mudanças”, Sérgio Brum, professor. “Ela é um exemplo de superação. Nos passa conhecimento e faz com que absorvamos informações. É uma pessoa muito querida”, João Alves, colega de faculdade. Fazer as cestas de café da manhã é outra paixão. Faz mais de 20 anos que eu faço essas cestas e iniciei pelo prazer, pois eu amo café da manhã. Hoje, as cestas ajudam na parte financeira. Como é a Neiva como mãe? Ah! Eu vou chorar! (emocionada). Como mãe... Apaixonada pelos meus filhos (risos)! Eu os amo e admiro muito. São eles que me motivam a fazer faculdade. Ficaram muito felizes quando falei que iria estudar. A minha maior alegria é vê-los bem, vê-los felizes. Qual foi a maior dificuldade que enfrentou? A dificuldade maior foi a separação, pois a minha vocação é a família. No entanto, esta dificuldade foi um degrau para o meu crescimento e para minha maturidade. Descobri o que quero e o que não quero para minha vida. Sou uma pessoa bem resolvida nessa parte e não guardo mágoas. Uma mensagem para os leitores. Deus tem que ser o alicerce na nossa vida. Ele tem que edificar nossa casa, porque tudo isso vai passar, mas Deus não passa. As coisas materiais todas passam, mas aquilo de bom que eu fiz, em nome de Jesus, fica. Eu tenho que ser uma boa colega, porque vejo meu colega como a imagem e semelhança de Deus e tenho que tratá-lo bem. Eu tenho o desejo, até o final da minha vida, de tornar o mundo melhor, pelo menos o mundo perto de mim. “Ela é aquela pessoa que está ali para todas as horas, que posso contar sempre. Acessível, prestativa, respeitável e sabe respeitar”, Joziana Pastro, chefe de Neiva. “Para a família, minha mãe é o alicerce. Ela é guerreira e nunca nos abandonou, um exemplo de alegria”, Marina Müller Salton, filha. 4 EDUCAÇÃO maio de 2014 O que você vai ser quando crescer? As dificuldades de se organizar nos estudos para o vestibular e a indecisão de qual profissão escolher Makelen Rotta “Muitos alunos não conseguem focar em um assunto que tem certa relevância porque ainda não sabem qual caminho seguir”, Marcelo Hansen É um pouco antes do término do Ensino Médio que começam a surgir as dúvidas entre os jovens sobre qual carreira seguir. Por isso, para muitos deles, é difícil decidir para qual curso prestar vestibular. As mudanças sociais, psicológicas e biológicas já afetam por si só os indivíduos que passam por essa fase. Portanto, escolher uma profissão não é tarefa fácil. O que você vai ser quando crescer? Todos lhe perguntam ainda quando criança... Além da indecisão, a pressão da família pode deixar o jovem ainda mais em dúvida. Os cursos pré-vestibulares tornaram-se populares e atualmente os “cursinhos” são considerados a melhor opção. O professor de cursos pré-vestibulares na região Oeste e Norte do Paraná, e de sociologia na Univel, Marcelo Hansen, conta que a melhor maneira de se preparar para o concurso é ter um foco definido. “É importante também dividir cada campo de estudo e dedicar-se a cada área de conhecimento, equilibrando de uma forma a priorizar aquela disciplina que tem maior peso e compensando as dificuldades que o estudante tem em algumas áreas”, esclarece. Hansen diz que, além de assistir as aulas, o tempo mínimo de estudo por dia deve ser de três a quatro horas. “Além disso, o estudante não deve se privar da existência de dúvidas, pois é ali que ele vai se deparar com as dificuldades e vai poder, com dedicação e auxílio de um professor, lapidar e corrigir as imperfeições”, declara. A falta de maturidade para escolher uma profissão pode atrapalhar muito também. A estudante Suélen Pamela da Fonseca, 19, já fez cursinho e iniciou as atividades acadêmicas com 16 anos, quando ainda não tinha certeza qual curso pretendia fazer. “Comecei a fazer Gestão Financeira por ser somente dois anos e depois desisti porque achava que queria Agronomia, mas comecei o curso e vi que não era o que eu pretendia”, conta. Suélen diz ainda que a idade influenciou na escolha do curso. “Acredito que troquei de curso tantas vezes por não ter idade suficiente para saber o que eu realmente queria”. Agora, ela cursa Ciências Contábeis e acredita estar no caminho certo, pois espera que isso a ajude no concurso público que planeja fazer. Para a psicóloga da Univel, Caroline Buosi, os estudantes devem buscar entender que essas dúvidas fazem parte do processo que estão vivendo. “Eles têm que buscar refletir sobre isso. Não basta somente ignorar ou assumir qualquer coisa, mas é necessário parar e verificar o que está gerando maior estresse no momento e pensar sobre essas dificuldades, para ter certeza na hora de tomar uma decisão”, esclarece, dizendo também que caso o estudante perceba que não está conseguindo fazer isso sozinho, deve procurar ajuda da família, de colegas e até mesmo de um profissional da psicologia. Já, por outro lado, há aqueles estudantes que antes mesmo de terminar o Ensino Médio já estão decididos em qual graduação vão entrar. É o caso de Alef de Lima, 20, que há três anos está no cursinho pré-vestibular para entrar no curso de Medicina. O jovem estuda de manhã no colégio, na parte da tarde faz monitoria e à noite fica resolvendo exercícios ou fazendo redação. “A melhor preparação é estudando mesmo. Se não for assim não se consegue nada, foi por isso que decidi entrar no cursinho”, declara. Além disso, Alef ainda faz curso de inglês e diz que estuda todas as matérias, dando ênfase às específicas, como química e biologia. Ele conta ainda que escolheu esta profissão por influência da família. “Tenho muitos familiares no ramo e sempre quis seguir a mesma carreira”. Alef já tentou vestibular em todas as faculdades da região que possuem o curso e também em São Paulo, mas ainda não passou. “Sempre tive certeza que era esse curso que queria e estou estudando cerca de nove horas por dia”, finaliza. Eu tenho vocação para alguma coisa? A psicóloga Caroline explica que hoje em dia os testes vocacionais são chamados de orientação profissional. “Os testes ajudam a detectar quais são as habilidades, pontos fortes, expectativas, dificuldades e frustrações. Eles são utilizados como um instrumento a mais e surtem efeito”. Para ela, o teste vai dar um embasamento na linha em que a pessoa vai seguir, a partir de detectada suas facilidades. Ela esclarece também que a orientação não é feita apenas com os testes e que para detectar tudo isso o psicólogo pode utilizar vários meios. “O teste é uma forma de somar, mas não pode ser a única coisa. Ele precisa ser interpretado e não pode ser visto como um resultado isolado”, relata. EDUCAÇÃO 5 HELOÍSA PERARDT maio de 2014 FOTOS: DIVULGAÇÃO Segundo o professor Hansen, a primeira dica é definir em qual curso o estudante quer ingressar. “Não necessariamente deve ser o curso que ele vai levar para a vida toda, mas um degrau no qual vai galgar. Muitas vezes as decisões são tomadas por aquilo que você se imagina fazendo no momento, mas se depois você não quiser mais, tem todo o direito de mudar”. Depois desse foco definido, ele explica que o próximo passo são os estudos. “Criar uma disciplina de estudos e adaptá-la a sua realidade, assistir aulas e criar dúvidas é a principal dica. A partir do momento que você tem sua meta traçada, vai tê-la como referencial e com foco e determinação atingirá seus objetivos”, finaliza. Em dados... Dicas para o vestibulando “A melhor preparação é estudando mesmo. Se não for assim não se consegue nada, foi por isso que decidi entrar no cursinho”, Alef de Lima No ano passado, entre as cinco faculdades e duas universidades de Cascavel, foram oferecidas 12 mil vagas para cerca de 30 mil vestibulandos. A cidade conta com 49 cursos de diferentes áreas, entre instituições públicas e privadas. (Fonte: Jornal Hoje). 6 CIDADANIA maio de 2014 Cascavel é referência nacional no Programa Família Acolhedora Douglas Trukane Com 79 inscritos e 152 acolhidos, o projeto ampara provisoriamente os jovens e crianças afastados da família por medida de proteção Liberdade, proteção, respeito e dignidade. Esses são alguns direitos da criança e do adolescente assegurados no capítulo dois do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Porém, muitas vezes, esses direitos são transgredidos pela própria família de origem, impossibilitando a convivência saudável, necessária para que se possa crescer e viver de maneira digna em sociedade. Com o objetivo de minimizar os efeitos negativos que muitas vezes as crianças enfrentam dentro de casa, o programa Família Acolhedora presta o amparo provisório aos jovens e crianças de 0 a 18 anos que ainda estão em formação. Segundo a conselheira do conselho tutelar da região Leste, Mônica Andressa Silveira, os principais casos que levam a família à perda dos filhos são as drogas, violência física e sexual e o próprio abando intelectual. Para analisar e julgar esses casos, o Família Acolhedora funciona juntamente com a Vara da Infância. “O programa tem que funcionar junto ao judiciário, porque toda criança ou adolescente que entra no programa tem uma determinação judicial de proteção. Então, no período em que a situação está sendo julgada, nós encaminhamos a criança para uma família”, comenta Neusa Cerutti, assistente social e coordenadora do programa em Cascavel. Para se tornar uma família acolhedora é preciso passar por alguns testes de avaliação social, mental e psicológica, ter idade entre 25 e 55 anos, não possuir antecedentes criminais e, acima de tudo, estar disposto a acolher e estar ciente que os cuidados oferecidos ao menor de idade são provisórios. O município oferece auxílio às famílias acolhedoras. Além de uma bolsa no valor de um salário mínimo, aqueles que acolhem também contam com o apoio de uma equipe formada por quatro psicólogos, quatro assistentes sociais, educadores sociais e motoristas, que trabalham visando proporcionar à criança acolhida uma adaptação melhor. Atualmente, o Família Acolhedora de Cascavel é referência nacional e conta com 79 famílias voluntárias e 152 acolhidos. Dessa forma, o projeto tem retirado dos abrigos jovens que não têm antecedentes criminais e que não tiveram seus vínculos familiares rompidos. Na visão de Neusa Cerutti, o programa tem dado certo porque ao contrário do que acontece nos abrigos institucionais, no acolhimento familiar a criança tem sua individualidade e particularidade respeitada. “A instituição é necessária em muitos casos, porém é ultrapassada”, explica. Neusa lembra, ainda, que no ano de 2005, uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diagnosticou a situação dos abrigos responsáveis por crianças e adolescentes no Brasil. Com isso, descobriu-se alguns fatores que influenciaram a mudança na legislação referente à política da criança e adolescente no Brasil, mostrando que o abrigo institucional está antiquado. “A criança fica no abrigo e lá acaba se tornando um número a mais. Ela usa roupa coletiva e não tem sua individualidade respeitada. Diante desses fatos, provouse que o Família Acolhedora é uma modalidade de acolhimento melhor”, esclarece Cerutti. Apesar de funcionar, é preciso ter em mente que o programa não é a melhor solução para os problemas familiares enfrentados pelas crianças e adolescentes. “Acima de qualquer programa de acolhimento nada substitui a importância da família”, conclui Neusa. Um exemplo de dignidade rograma? p o iu rg u s o d n Qua 02, Cascavel em 20 iu em O programa surg e com o ração diferente gu nfi co a um m tado mas co 6 foi regulamen 0 0 2 Em s. re La ulado nome Casas 2013 foi reform em e al ip ic un m i pela le Acolhedora. do para Família ra te al e m no o e contam as acolhedoras íli m fa as , te en Atualm ínimo. de um salário m com uma bolsa À procura por alguém que pudesse mostrar o acolhimento além das palavras, me encontro com Dona Judith de Adrade. A sombra de um caramanchão, a bancária aposentada de 66 anos revela que tem uma relação de amor com os três acolhidos: “Eu dou bronca quando tem que dar, mas também dou carinho e nunca deixo faltar nada. Minha família são eles. A diferença é que eles não têm meu sobrenome”. Atualmente, os três levam uma vida normal, mas nem sempre foi assim. Antes de serem destituídas da guarda dos pais biológicos, as crianças estavam em situação de risco, sofriam agressões físicas, entre outras atrocidades. Além disso, vieram de uma família do Paraguai que seguia uma religião em que se adora os espíritos da mata, com o oferecimento de álcool como culto. Judith conta que depois do acolhimento elas passaram a seguir o cristianismo como prática de fé. Além da Bíblia, a acolhedora incentiva a leitura de outros livros, visando transmitir os princípios cristãos. Distante da antiga vida, atualmente as crianças estudam no período da manhã, fazem parte do grupo de escoteiros de Cascavel e da escola dominical na igreja que Judith frequenta. “Hoje eles sabem o que é Páscoa, Natal e aniversário. Sabem ler e escrever. Sabem andar de lotação pela cidade. Hoje eles são pessoas capazes”, conta emocionada Judith que há seis anos participa do programa Família Acolhedora e há cinco cuida das crianças. SAÚDE maio de 2014 Se você tivesse aids, como seria a sua vida? 7 “Antes nos escondíamos para morrer. Hoje nos mostramos para viver” Thaís Antunes DIVULGAÇÃO Em uma manhã normal de 2004, depois de mandar seus filhos para a aula, dona Lourdes Cotienschi, 51, teve uma grande surpresa. “O que vai fazer hoje?”, perguntou o marido. “Apenas lavar roupa”, respondeu. “Preciso te levar a um lugar que algumas pessoas querem falar com você”. Dona Lourdes foi levada pelo marido até o Cedip. Lourdes já conhecia a realidade da doença, pois já tinha dois cunhados e uma sobrinha que portavam o vírus. Ela já sabia que lá eram feitos trabalhos apenas que envolviam aids. Dentro de uma sala com uma enfermeira, uma psicóloga e uma coordenadora viu seu esposo se acanhar e se esconder dentro de muita vergonha. Ouviu a frase que poderia mudar a sua vida: “o seu marido é portador do vírus HIV”. Depois de fazer duas vezes os exames, foi confirmado que ela tinha contraído o vírus, pelo marido. “Escolhi esconder da minha família e dos meus filhos, pois ouvia e via a minha família ter preconceito com os meus cunhados e sobrinha”, conta a dona de casa. O marido de Lourdes ficou muito doente e depois de um tempo não teve mais como esconder que ele tinha aids. “A reação da minha família foi totalmente diferente do que eu imaginava. Eles me ajudaram a cuidar do meu esposo e a contar aos meus filhos, na época de 11 e 15 anos, que os pais tinham a doença”, comenta Lourdes, lembrando que os filhos não têm a doença. Ela explica que em 2007 decidiu dar seu testemunho em um evento em homenagem a pessoas que morreram em decorrência da aids e que foi a partir disso que não se escondeu mais. “Muita gente se esconde, em Cascavel. Apenas três pessoas falam abertamente que possuem a doença”. Hoje, Lourdes tem um grupo de apoio para pessoas que são soropositivas. O paciente passa por um acompanhamento psicológico para atravessar um período de aceitação, pois “quando a pessoa recebe uma notícia dessas, todos os planos da vida dela caem por terra. No entanto, a vida segue normalmente, nada muda”, comenta a psicóloga do Centro, Eliane Giacomelli, explicando que tenta trabalhar com a ideia de que a aids não vai mudar o caráter da pessoa, nem seu modo de ser. Todos os anos o Cedip faz, além das campanhas pontuais, campanhas mensais, palestras em escolas e empresas e projetos em parceria com instituições de ensino superior. “Mas esse trabalho ainda tem sido pouco”, enfatiza Eliane. Lourdes Cotienschi aconselha: “Ninguém tem aids escrito na testa. Namorem e se divirtam, mas se protejam. Usem o preservativo porque é a única maneira de prevenção. Antes nos escondíamos para morrer. Hoje nos mostramos para viver”. O psicológico Uma história de vida de brasileiros são infectados, conforme dado da 18ª Conferência Internacional da AIDS. Segundo o Cedip (Centro Especializado em Doenças Infectoparasitárias) de Cascavel, em 2013, foram registrados 1427 casos no município. A doença teve seu início em 1977, nos EUA, Haiti e África Central. Em 1982 foi classificada como síndrome. No mesmo ano, o primeiro caso foi confirmado no Brasil. Em Cascavel, a doença surgiu em 1985. Durante os trinta anos de epidemia, a doença passou por mudanças genéticas e sociais. Em seus primeiros anos, a aids, com esse nome devido a uma sigla em inglês para a expressão Acquired Immunodeficiecy Syndrome, tinha apenas o óbito como diagnóstico. Hoje, isso mudou, pois muitas pessoas com o vírus levam sua vida adiante. O que não mudou, no entanto, foi o preconceito. Antigamente acreditava-se que os grupos infectados eram apenas os chamados de 5hs: hemofílicos, homossexuais, usuários de heroína, haitianos e hookers (profissionais do sexo). Muitas pessoas, ainda, acreditam nisso. Referência Nacional O Cedip é referência nacional quando se fala em AIDS, HIV e DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Na unidade de Cascavel há ambulatórios de HIV, aids, hepatite, violência sexual e ginecologia, além do CTA o Centro de Testagem e Aconselhamento. No CTA são feitos todas as quintas-feiras testes rápidos de AIDS. “Toda pessoa que vem fazer o teste é preparada para receber o resultado positivo ou negativo antes do teste”, diz a coordenadora e enfermeira do Centro, Josana Dranka. O resultado do teste rápido sai em meia hora, porém a pessoa pode optar pelo teste convencional que demora de cinco a dez dias para ficar pronto. Depois que o exame fica pronto e o resultado é positivo o paciente é encaminhado a uma issãtranosmitido TraOnvísrum s pode ser o com sangue, tanto pelo contat materno, mas as como pelo leite muns são pelo formas mais co o vaginais, por mei sêmen ou fluídos ginal e anal com de sexo oral, va o inadas, sem o us pessoas contam a uem tem algum da camisinha. Q , sífilis, cancro DST como herpes se tem cerca de mole e donovano r ances de adquiri 18 vezes mais ch HIV. consulta e a realizações de novos exames para verificar como o corpo está reagindo ao vírus. Além disso, é feito encaminhamento ao psicólogo. Se der negativo, o paciente é orientado a refazer o exame depois de mais um mês para a confirmação. Todo resultado é dado em particular. O município de Cascavel realiza de dois a três mil exames de HIV por mês. Josana diz que “o vírus demora um mês para aparecer no exame”. Os principais sintomas normalmente aparecem de três a dez anos e são eles: febre alta sem motivo, aumento de glândulas no pescoço e embaixo do braço e pneumonia. Depois de identificado o vírus no organismo, de realizado alguns exames e de ser feito o diagnóstico do médico, o governo libera o retroviral. Quando “o paciente começa a tomar o remédio ele não deve parar com a medicação”, explica a enfermeira. “O pior preconceito é o auto preconceito” A Organização Mundial de Saúd e, com o apoio da ONU (Organização da s Nações Unidas) , em assembleia no an o de 1987, decidiu qu eo dia 1º de dezem bro seria considerad o o Dia Mundial da Luta Contra AID S. No Brasil, a data pa ssou a ser usada em 1988. Dia Mundial Imagine que um dia você fique muito doente, que de repente seu corpo não tenha forças o suficiente para combater os vírus e bactérias com que nos deparamos todos os dias. O médico pede a você vários exames, um deles te chama mais atenção e te deixa apreensivo. Uma semana depois, já com os resultados, o doutor te chama para uma conversa em particular. Você e sua família que já estão nervosos se preocupam cada vez mais. Na sala estão você, o médico e um psicólogo. Então, a única pergunta que vem a sua mente é: “Estou tão doente assim?”. O psicólogo, com um semblante pesado pergunta: “Se você tivesse aids, como seria a sua vida?”. O mundo para de rodar naquele instante. Você não consegue pensar, é uma pergunta difícil e impactante. E se o médico dissesse: “Você tem aids”? A cada dez pessoas, três não sabem que estão infectadas pelo vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). Em São Paulo o vírus mata nove pessoas por dia, segundo a Secretaria de Saúde da cidade. Todos os anos, mais de 2,7 milhões Famosivooss soropumoasexittensa Há s famosas de lista pessoa a doença que assumiram r feliz, sem medo de se uza, entre elas: Caz Freddie , Renato Russo ia Magno e Mercury, Cláud de Abreu. Caio Fernando ECONOMIA maio de 2014 DIVULGAÇÃO 8 Falta de planejamento financeiro é o principal motivo da falência de pequenas empresas A cada dois dias, uma empresa fecha as portas Larissa Ludwig Qualificação Para resolver os problemas ligados ao setor financeiro de muitas empresas, associações promovem oficinas e cursos profissionalizantes que ensinam os empresários a lidar com o dinheiro da empresa. O gerente da Amic (Associação de Micro e Pequenas Empresas de Cascavel), Renato Antonio Silveira, comenta que o principal erro é misturar o dinheiro pessoal com o da empresa. “Por mais que o empresário tenha talento e saiba como trabalhar com tal ramo, ele também precisa dominar as práticas financeiras. Ele precisa separar o dinheiro pessoal do dinheiro da empresa e muitas vezes isso não ocorre, o que é um grande perigo, pois quando o empresário percebe, ele já gastou o dinheiro da empresa, o pessoal e ainda está devendo”, comenta Renato. Cursos de capacitação são oferecidos no mínimo de três em três meses pelas associações, para que cada vez mais empresários possam conhecer as maneiras de se resolver os problemas que aparecem no dia a dia de uma empresa. O presidente da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), José Torres Sobrinho, afirma que é importantíssimo oferecer esse tipo de conhecimento aos empresários. “Se nós não oferecermos quem irá? Eles necessitam desse tipo de aprendizado para que possam manter a empresa no mercado. Negligência com a parte financeira é um dos principais motivos que levam uma empresa à falência”, comenta Torres. “É preciso primeiro um projeto, sem isso, já é um sinal que tudo pode dar errado” Um bom exemplo Qual é a principal forma de uma microempresa não fechar as portas? Essa pergunta é feita por milhares de microempreendedores individuais do mundo todo. A resposta é fácil e está ao alcance de todos. É preciso organizar as contas e não misturar o dinheiro pessoal com o da empresa. É necessário gestão. Dados fornecidos pelo programa Empresa Fácil, desenvolvido pela Semdec (Secretaria de Desenvolvimento Econômico) e pela Sefin (Secretaria de Finanças), e instituído pela lei nº 5.409/2009, apontam que nos últimos quatro anos 4.894 novos CNPJs (Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas) foram emitidos. Outros 476 cadastros estão em andamento e 228 migraram para outra categoria. Além disso, uma média de 15% das empresas fecharam as portas, correspondente a 724 cadastros baixados. A cada dois dias, uma empresa fecha as portas em Cascavel. A coordenadora do Programa Empresa Fácil, Janete Weschenfelder, considera esse número altíssimo e o resultado tem relação com a falta de planejamento. “Essa média é alta se formos pensar que se trata de empresas que fecharam as portas. É preciso primeiro um projeto, sem isso, já é um sinal que tudo pode dar errado. A população em geral acha que é fácil manter uma empresa, diante da concorrência, e não é. É preciso ter muito conhecimento do setor desejado e, acima de tudo, é necessário ter gestão. As pessoas não planejam quanto vão gastar, qual a despesa mensal da empresa, e quando percebem, estão gastando mais do que ganham”, avalia Janete. Apesar de todas as dificuldades iniciais, a empresa que fabrica móveis sob medida de Josemar de Araújo Lopes, conseguiu se estabelecer no mercado cascavelense. “No início foi muito difícil, pois eu não tinha clientela formada e não sabia nada sobre como administrar uma empresa. Fiquei uns meses na informalidade e depois decidi formalizar meu negócio e, sem dúvidas, foi a melhor decisão que já tomei, porque muitas oportunidades apareceram. Eu fiz cursos e aprimorei meus conhecimentos. Hoje está sobrando trabalho”, relata. Agora, a meta de Josemar é conseguir fazer com que os produtos cheguem a outros municípios. “Aqui em Cascavel já tenho um bom número de pedidos, passam de 100 por mês. Quero contratar mais funcionários e expandir as vendas para outras cidades”, diz o empresário. Quem pode abrir uma microempresa? Qualquer pessoa que tem interesse em se formalizar pode procurar pelo programa, porém é preciso ter uma renda igual ou inferior a R$ 60 mil e não possuir, ser sócio ou administrador de outra empresa. Quais as garantias? A formalização permite a abertura de conta bancária, pedido de empréstimos, emissão de notas fiscais, crédito especial com taxas de juros menores, acesso a licitações públicas e capacitações gratuitas. VARIEDADES maio de 2014 9 “Sonhos são possíveis!” ICA FOTO: JÉSS ARAÚJO Mães se reúnem e lutam em prol da inclusão de autistas na sociedade A palavra “mãe”, segundo qualquer dicionário, é definida como: “Mulher ou fêmea que deu à luz um ser”. No entanto, no sentido figurado, ela pode ser aquela que se dedica aos filhos. Um grupo de 13 mães, cada uma com sua família e com profissões distintas, se reúne com frequência e demonstra que ser uma genitora é muito mais do que uma definição superficial e aparente. Essas mães têm algo em comum: todas têm filhos autistas. Apesar de eles terem idades diversas, de três a 20 anos, e de terem autismo em graus variados, para essas 13 mulheres, conviver e trocar experiências é fundamental. A história começou na escola e no consultório médico, onde algumas delas se encontravam quando levavam os filhos. Os encontros começaram a ser frequentes e laços de amizade se estabeleceram entre as seis mães. Elas se reuniam para bater um papo sobre como aprender a lidar com o autismo. Com o tempo, o grupo começou a crescer e, hoje, as 13 mães se reúnem quinzenalmente na casa de Juliana Kleis, que também faz parte do grupo. O assunto principal dos encontros das mães é a inclusão dos autistas na sociedade e o principal objetivo delas é criar uma Associação para Autistas em Cascavel. Magna Bertusso com seu filho Bruno “Precisamos ainda do apoio do poder público e da sociedade para que nossos projetos possam se concretizar e a inclusão, finalmente, se tornar realidade no município, mas sabe de uma coisa? Sonhos são possíveis!”, enfatiza a mãe Magna Bertusso, integrante do grupo. Berenice Piana, autora de uma lei que dá direitos aos autistas, é uma grande amiga do grupo e grande inspiração para essas mães. Como mora no Rio de Janeiro, não participa dos encontros, mas mantém contato regular, sempre orientando, informando e auxiliando no que é necessário. Berenice também é mãe de um autista e é um ícone da luta dos direitos da pessoa autista no Brasil, por isso a lei 12.764/12 se chama Lei Berenice Piana. “Minha torcida é azul e esse azul é do autismo. Minha torcida é pelos autistas”, enfatiza Berenice em rede social. As mães cascavelenses que acabaram de descobrir que o filho é autista podem contar com o apoio do grupo para troca de informações. “Falamos também sobre o que precisam saber em relação ao direito da pessoa autista, sobre pesquisas mais recentes, novos estudos, escolas, tratamentos médicos tradicionais ou alternativos”, explica Magna sobre como o grupo pode ajudar. Superproteção A superproteção pode dificultar, pois assim como qualquer criança, os autistas também precisam caminhar sozinhos para aprender a viver. “Eu confesso que cheguei a subornar crianças de cinco anos com presentes e doces, para que não maltratassem minha filha, exagero, não é ?”, confessa a mãe superprotetora, Patricia Silva Novais. Sobre isso, Roberta Haude completa: “Ficamos cegos e surdos. Os pais nunca poderão viver a vida dos filhos, então devemos deixá-los viver, cair, levantar. A vida é um quebra-cabeça, portanto, todos têm seu espaço na sociedade. A pessoa autista sempre se encaixará. É só deixar o preconceito de lado”, afirma. O que é o autismo DIVUL G AÇÃO Jéssica Araujo É uma disfunção global do desenvolvimento. Alteração que afeta a capacidade de comunicação, de estabelecer relacionamentos e de comportamento. Alguns apresentam inteligência e fala intactas, outras apresentam sérios problemas no desenvolvimento da linguagem. Em questão ao comportamento, alguns são fechados e distantes, outros presos a rígidos e restritos padrões de comportamento. Certos adultos com autismo são capazes de ter sucesso na carreira profissional. Porém, os problemas de comunicação e socialização causam dificuldades, então, adultos com autismo continuarão a precisar de encorajamento na sua luta para vida independente. Os principais problemas são: a) A exclusão social decorrente da falta de informação. O que leva a comportamentos preconceituosos e discriminatórios por parte da sociedade e não raras vezes, da própria família, e o único modo de reverter essa situação, ainda é por meio de campanhas, conscientização e informação como principais meios de combater o preconceito; b) Na área da educação, pois há a necessidade de recursos humanos especializados, como professores de apoio, além da adequada adaptação do conteúdo escolar, e métodos pedagógicos mais arrojados, respeitando-se a individualidade de cada aluno autista com seus interesses específicos e o aproveitamento ideal de suas aptidões e/ou habilidades singulares; c) Na saúde, pois falta atendimento prioritário, maior acesso às especialidades médicas, exames e medicamentos que se façam necessários para melhor qualidade de vida da pessoa autista, o acesso facilitado aos especialistas, especialmente para aqueles que dependem do SUS (Sistema Único de Saúde), ainda é um grande desafio; d) Ainda no âmbito de políticas públicas, urge a capacitação de pessoas autistas para o trabalho, pois ao contrário do que se pensa, todos os autistas podem contribuir para a sociedade de modo útil, desde que, essa mesma sociedade, dêlhes a oportunidade; e) O combate às violências é outro tema que merece atenção especial, não raras vezes o autista é vítima de violência, que vão desde o bulliyng escolar até outras formas de violência, como violência física, verbal e outras. Fonte: Magna Bertusso, integrante do grupo. ESPECIAL maio de 2014 FOTOS: ACERVO FOLHA 10 Protestantes clamam liberdade de expressão em frente a Teatro municipal de São Paulo, em 1968 “Aqueles que não amam a Revolução, pelo menos devem temê-la!” Heloísa Perardt e Renan Bini Comparando o Regime ao divino, a frase é pronunciada pelo general Guedes, um dos primeiros líderes do golpe de 1964 e resume de maneira exímia a morte da Democracia durante a Ditadura Militar Em 2014, o golpe que instaurou a Ditadura Militar no Brasil completou 50 anos. No entanto, apesar de ser parte da recente história brasileira, pouco ainda se sabe sobre o período. Milhares de pessoas foram presas, torturadas e tiveram suas vidas ceifadas inescrupulosamente. E quais são os danos que o Regime trouxe à sociedade? Talvez nunca sejam identificados por completo. Estes vão além dos corpos que foram mutilados e estão desaparecidos até hoje. Para aqueles que vivenciaram a época, além dos inocentes, morreram democracia, liberdade de expressão e visão crítica da população brasileira. A Ditadura Militar não se findou em 1985. Ela permanece viva até hoje na memória daqueles que lutaram por uma sociedade igualitária. Para Alberto Fávero, ex-militante da cidade de Nova Aurora, a mesma geração que derramou seu sangue pela pátria viu as novas gerações crescerem sem um ideal, sem criticidade e sem conhecer o real sentido de democracia. As consequências do período aplicam-se em todo o território nacional, e não só nos grandes centros como acredita a maior parte da população brasileira. A partir desses fatos, observando a infinidade de informações e diferentes perspectivas, concordamos que é inviável abordar o tema em apenas uma edição do Unifatos. Nessa perspectiva, nós faremos uma série com duas reportagens interpretativas com o objetivo de mostrar parte do que aconteceu nos anos de chumbo não apenas nos grandes centros, mas também em cidades Se o Golpe Militar não tivesse acontecido, o País poderia ter se tornado comunista? “ Janelucy Penharvel, historiadora e professora da Univel Nem de longe! Haviam apenas tendências para reformar o Brasil. O medo do Comunismo nos Norte Americanos e na classe tradicional brasileira surgiu a partir do investimento da URSS na América Latina, mas historicamente, não houve crescimento do movimento comunista no Brasil. ” “ Aluízio Palmar, jornalista e ex-militante interioranas, inclusive nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. A ideia de produção desta pauta surgiu após a nossa participação na Audiência Pública da Comissão Estadual da Verdade, realizada nos dias 20 e 21 de março na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), no Campus de Cascavel. Nela, foram ouvidos relatos de exmilitantes, de familiares e de vítimas que, na época, nem sabiam o motivo de estarem sendo torturadas. A Comissão da Verdade do estado do Paraná foi criada pela lei 1730062, em 27 de novembro de 2012. Ela tem por finalidade apurar graves violações dos direitos humanos, ocorridos nos anos de chumbo. É uma forma de dar voz a quem precisa falar sobre as opressões que passaram e ao mesmo tempo, dar oportunidade aos demais de ouvir, conhecer e se informar em relação a essa parte da história brasileira. De acordo com a advogada, integrante do Comitê de Refugiados do Paraná e também membro da Comissão Estadual da Verdade Ivete Caribé Rocha, o evento é um dos mais importantes do estado do Paraná, pela militância e pelo grau de envolvimento da estrutura de repressão aqui no Oeste do Paraná. “Nossa função principal é fazer o levantamento dessas graves violações, transformá-las num relatório final, e trazer isso para a sociedade, porque a maioria, mesmo as pessoas que viveram naquela época, não tem conhecimento da profundidade do que ocorreu”, afirma Ivete. Dificilmente. A correlação de forças nunca esteve favorável às lutas pelo socialismo e pelo comunismo no Brasil. Os poderes econômico e capitalista e o poder dos EUA no subcontinente americano sempre foram muito forte. ” “ A Ditadura só me trouxe desastres. Até hoje eu sofro as suas consequências. A elite da minha região me marca até hoje. Por exemplo, minhas filhas fizeram um concurso para o Estado, mas o governador, que ‘pendia’ para o outro lado, optou por chamar alguns do emergencial e cancelou o concurso para não colocar minhas filhas no serviço. A comunidade de Três Passos-RS, até hoje sofre as consequências. Em 1964, a minha casa foi a primeira casa a ser invadida no Rio Grande do Sul. Depois que prenderam meu pai, nós passamos a ser comunistas. Então éramos afrontados de todas as formas. ” Valdetar Dorneles, ex-militante da Operação Três Passos, primeiro movimento armado contra o Regime ESPECIAL maio de 2014 1964 11 50 anos de um golpe contra a Democracia parte 1 O general e presidente do Brasil, Ernesto Geisel (Arena), recebe cumprimentos em forma de continência militar, no Rio de Janeiro Entenda a Ditadura Após o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, a nação vivenciou um período de instabilidade política, que foi fortemente questionado e pressionado pela oposição e as Forças Armadas. Descontentes com a situação, políticos e militares ameaçavam se rebelar e tomar o poder a qualquer hora. Após a renúncia do presidente Jânio Quadros, quem assumiu foi seu vice-presidente Jango, que na época representava a esquerda brasileira. A sucessão não foi bem vista pelos militares, pelas classes dominantes e pelos EUA. Para assumir a presidência, João Goulart teve que aceitar o regime parlamentarista. Com o apoio das classes mais abastadas da sociedade, Jango apresentou ao Congresso projetos em que defendia a extensão do voto a analfabetos, a reforma agrária e pretendia ampliar a intervenção do Estado na economia. Temendo a possibilidade de comunismo, e com total apoio norte-americano, em 31 de março de 1964, os militares instauraram o Regime que se estendeu no país por um período de 21 anos. O primeiro militar a assumir o poder durante a Ditadura foi o general Humberto Castello Branco, que ficou na presidência até 1967. Foram cortadas as relações diplomáticas com Cuba e os EUA passaram a apoiar o governo brasileiro, inclusive economicamente. Em seu governo, Branco também extinguiu os partidos políticos e impôs eleições indiretas para presidente. Durante o mandato do presidente Costa e Silva, o povo ficou descontente com os efeitos negativos da Ditadura Militar e tomou conta das ruas. Sem controle sobre as manifestações, o general decretou o AI-5 (ato que suspendia liberdades democráticas e direitos constitucionais, permitindo que a polícia efetuasse investigações, perseguições e prisões de cidadãos sem necessidade de mandado judicial). Por motivos de saúde, o presidente Costa e Silva se afastou e o general Emílio Garrastazu Médici assumiu a presidência. Os cinco anos de governo de Médici foram marcados pelo "milagre econômico" e também pelo período de maior repressão política da história. Dentre as mídias (redações de jornal impresso, rádio e TV), algumas redações receberam equipes de censores que ficavam ali apenas para julgar o que poderia ou não ser publicado, outros veículos eram obrigados a enviar antecipadamente o que pretendiam publicar para a Divisão de Censura do Departamento de Polícia Federal. De acordo com a historiadora, especialista e professora da Univel, Janelucy Penharvel, em termos gerais culturais, a Ditadura Militar foi um período de “Castração da Cultura Brasileira”. Para ela, apesar de uma época de pequenas melhorias econômicas, nada pode ser considerado positivo no Regime, já que nós brasileiros pagamos muito caro por isso. Quem compartilha dessa opinião é o exProcurador Geral de Justiça do Ministério Público do Paraná, Olympio de Sá Sotto Maior Neto. Para ele, nada pode ser positivo em um momento em que não se vivenciam o Estado de direito democrático. “Esse falso progresso, que se traduziu em concentração de riquezas nas mãos de poucas pessoas, todos esses pseudo-avanços, na verdade desaparecem para os interesses de uma sociedade democrática quando há Heranordoçcoamsa historiadora, especialistaadea prpeoflaesDsoitaradudara Guerra Fria BRASIL EUA - CAPITALISMO URSS - COMUNISMO Guerra Fria é como denominamos o confronto econômico, ideológico e político entre as duas superpotências: EUA e URSS. O período exerceu influência direta e indireta sobre toda a ordem mundial até então estabelecida, inclusive no Golpe Militar de 1964 no Brasil. Os EUA não permitiriam que mais um país do continente (além de Cuba) se tornasse comunista, assim financiou o Golpe liderado por militares com a garantia de que estes não fossem contra os interesses americanos. MONTAGEM: RENAN BINI De ac or herança deix dura Penharvel, a pi cy lu ne período de dita Ja , el iv Un a. “Logo após o ic ra Militar lít du po o ita tã D a es tar, e aí vo a Militar foi a qu do en nd re escolha de vo estava ap ica do povo na lít Varguista, o po po ão aç ip ic m a part veio e acabou co hoje na , afirma. s” te gativo se reflete ne o seus governan ct pe as tro ra, ou ensino de Para a professo ou tecnicista. O rn to se ira ile as positivistas ucação br e extremamente -s am educação. “A ed ar rn to , ia a, a e sociolog cultural e polític história, filosofi e de educação ad tid en id a . ta os la e nós perdem econômico”, re blico atraso social e um do Ministério Pú a em iç st do Ju tin de fle re al er G r to do fa ra o rocu nça é Segundo o ex-P Neto, a pior hera or ai M al. tto rm So no coisa pio de Sá tida como uma r se do Paraná, Olym os an m as o hu uc s direitos eios e daqui a po de a violação do s justificam os m guém fin al ar os e ur rt qu to de o, r exempl po , “O raciocínio el ív ss po é dúvidas se a. pessoas terem absurdo”, afirm um crime é um r ente no período sa es am nf at co ex i ra fo pa e qu m bé m to a ta desenvolvimen Olympio destac falso discurso do poucas o de e s qu r ão ta m ili s M riquezas na da Ditadura de ão aç tr en id sent o de aior conc Neto’ da vida, no s determinou a m fin el ‘D s do s di-lo, o Brasil discurso para depois divi lo pessoas. “Com bo o r ze fa io ais”, declara. necessár gualdades soci si que primeiro é de s da al di ão mun se tornou campe violações permanentes dos direitos humanos”, afirma. A repressão, a tortura, a violência e a ausência de liberdades civis e públicas tornaram a manutenção da Ditadura Militar insustentável. Em 1974, o general Geisel assumiu a presidência do país e prometeu dar início à redemocratização do país de forma lenta, gradual e segura. O governo do general João Baptista de Oliveira Figueiredo deu continuidade ao processo de abertura política. Ao longo de seu mandato, a Ditadura perdeu legitimidade social e sofreu desgaste político. No entanto, por meio de atos terroristas, setores das Forças Armadas tentaram barrar o processo de redemocratização a fim de desestabilizar o governo e amedrontar a sociedade. A Lei de Anistia, que resgatava a cidadania de cassados, clandestinos e exilados políticos, foi sancionada e cerca de 4.600 pessoas se beneficiaram. Após a lei, ocorreu no Brasil uma da série de manifestações populares que pediam eleições diretas para presidente da república. Diversos artistas aderiram à campanha, no entanto, a proposta foi derrotada no Congresso e as eleições para presidente de 1985 foram indiretas. Com a derrota da emenda por eleições diretas, Tancredo Neves surgiu como nome forte à sucessão presidencial. Tancredo recebeu a maioria dos votos no Congresso e venceu o concorrente, Paulo Maluf. Na véspera da posse, Tancredo foi internado às pressas. No dia 15 de março, quem assumiu a presidência foi o vice, José Sarney, efetivado no cargo após a morte do titular. 12 CARTÃO POSTAL maio de 2014 A terra do sol espera por você! O Parque Municipal de Boa Vista da Aparecida é um dos principais pontos turísticos da região Oeste do Paraná Maximiliane Veiga Mochila nas costas. É hora de enfrentar mais de 90 km de estrada para apreciar a beleza do Parque Municipal de Boa Vista da Aparecida. A primeira parada foi em Capitão Leônidas Marques para tomar aquele café da avó e descansar. Mas há também a possibilidade de ir direto de Cascavel para Boa Vista, são 72 km pela PR-180, com uma rodovia bem conservada. Falar de um local com uma vista tão admirável e serena faz com que o lugar seja retratado com toda leveza e tranquilidade que merece, o que justifica um texto mais adjetivado, fora dos padrões enquadrados do jornalismo tradicional. São sete da manhã de um domingo gelado e a equipe já está de pé. É hora de enfrentar o frio e continuar a viagem até a chamada terra do sol. Aos trancos e barrancos chegamos até o pequeno município de 7.818 habitantes que se tornou um dos mais visitados da região Oeste do Paraná na temporada de verão. A cidade de Boa Vista da Aparecida é banhada pelas águas do Rio Iguaçu e dispõe de diversas opções para aqueles que pretendem visitá-la. Além da praia artificial, o Parque Municipal, que é o nosso destino, também disponibiliza camping, quiosques e churrasqueiras em meio ao bosque, para aqueles que querem passar alguns dias acampados. Também conta com restaurante panorâmico, vestiários e banheiros, rampa e píer para embarcações e trilha ecológica com 1,2 mil metros de extensão, tudo isso em uma área de 17 alqueires. Não é cobrada nenhuma taxa para ter acesso ao parque, porém é de responsabilidade dos visitantes manter a ordem e seguir as placas de atenção. João Miguel de Souza veio de Minas Gerais visitar a família e fez questão de conhecer o parque. “Conheci várias praias artificiais durante minha vida, por todo o Brasil. Não podia deixar de conhecer a de Aparecidinha também”, comenta o comerciante. “Adorei o local. Hoje vamos acampar por aqui mesmo e comer aquele churrasquinho”. O sol brilha forte e nos proporciona um lindo dia. O lago, de uma água azul que faz brilhar os olhos, dá vida ao ambiente que alegra famílias nos momentos de lazer. Além da gruta de Nossa Senhora dos Navegantes, o parque dispõe também de um barracão para realizar a festa da santa que ocorre todos os anos. A trilha dentro da mata nativa, com seu cheiro de mato e o barulho do canto dos pássaros, traz paz para aqueles que a procuram na natureza. Dona Miguelina Schuatz faz caminhada no parque sempre que pode e ressalta a importância do ambiente para a população. “Gosto de caminhar pela trilha, pois me traz a presença de Deus. Quando estou com algum problema venho para cá descansar. Todo mundo deveria fazer isso às vezes. É muito bom”, enfatiza. No entanto, não são apenas os mais velhos que frequentam a praia. Os jovens também se divertem no Parque Municipal. “Viemos jogar vôlei hoje, aproveitamos que está meio frio e a praia não está lotada. Normalmente isso aqui enche e fica difícil”, conta Juliane Dias, que chamou os amigos e o namorado para jogar. “Aqui nos sentimos mais livres, porque dá para gritar, brincar e se divertir. Sem contar no clima que é muito bom”. O sol já está se pondo e nós vamos junto com ele. Valeu a pena os quilômetros percorridos para visitar essa maravilha. E se você estiver sem opção de lazer para algum final de semana, vai a dica: a terra do sol está esperando por você! FOTOS: MAICON ROSELIO O parque municipal se tornou um dos mais visitados da região na temporada de verão “Adorei o local. Hoje vamos acampar por aqui mesmo e comer aquele churrasquinho” A Gruta de Nossa Senhora dos Navegantes é um dos atrativos do parque A trilha ecológica de mata nativa tem mais de um quilômetro de extensão CULTURA maio de 2014 Palco Aberto: a arte FOTOS: JANAINA TEIXEIRA nas ruas de Cascavel Tico Bonito se apresentando na Praça Wilson Joffre 13 Jovens se reúnem para aperfeiçoar apresentações ao ar livre O inquilibrista em sua hábil arte de equilibrar Silmara Santos No artigo 5° da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no IX inciso, afirma-se que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Porém, pouco se vê nas ruas de Cascavel manifestações culturais. Mas o que é considerada uma manifestação cultural? Artistas de rua como malabaristas, equilibristas, palhaços, mímicos, dentre outros são diariamente vistos em frente aos semáforos da cidade. Há quem pense que eles sejam andarilhos. Há quem diga que são vagabundos, mas o que poucos sabem é que muitos lutam para sustentar suas famílias com o dinheiro do “chapéu”, ou seja, das apresentações feitas ao ar livre, da qual a população pode pagar ou não e o quanto desejar. Um dos artistas que se apresenta nas ruas de Cascavel e que sustenta sua família por meio desse ofício é o palhaço Leonides Quadra, 30, popularmente conhecido como Tico Bonito. Em tom de brincadeira, ele diz ser “doutorando pela faculdade de Artes de Lisboavida” e conta que arca com as despesas de uma casa, com o dinheiro das apresentações. “Há quem diga que é perda de tempo realizar apresentações que não servem de nada”, diz Tico Bonito. Contrariando esse pensamento, o artista nos revela que mais do que palhaçada, a arte faz com que se pense sobre as situações da vida, o que incomoda algumas pessoas. Na cidade, além de artistas que se apresentam sozinhos, há também um grupo de artistas do qual Tico é um dos integrantes, o chamado Palco Aberto, criado pelo então ator Jean Cezar Salustiano, 22, empresário, ator e palhaço. “O projeto é uma forma de pesquisar e aprimorar novos números cômicos. Quem gostar e tiver alguma habilidade pode se apresentar”, explica Tico, lembrando que não há um critério específico para as apresentações. “O importante é levar um pouco de cultura para quem se interessa”, salienta. Outro artista que se apresenta nas ruas de Cascavel é o ator e palhaço Christopher de Paula Lima,25, estudante de Artes, da Univel. Para ele, o Palco Aberto não é sistematizado, mas é importante. “É muito difícil ir para a rua sozinho, então, assim, damos suporte um para o outro. Em grupos, podemos testar e aperfeiçoar os números de palhaço. No entanto, vejo que todos que participam buscam trabalho solo. Para mim, o Palco Aberto é uma forma de poder rever os amigos, de se divertir e jogar com estes, arriscar ideias novas”, esclarece Christopher. Adriano dos Santos Brandão, 24, responsável pelo espetáculo Inquilibrismo, do qual equilibra cadeiras, escadas, dentre outros objetos do cotidiano, conta um pouco mais sobre sua percepção. “A arte para mim é uma ferramenta de expressão e evolução, onde há possibilidade de colocar para fora sentimentos que estão presos dentro de você por algum motivo, de revê-los, filtrá-los, o que faz com que você acabe se conhecendo mais, percebendo suas emoções, o que contribui, inclusive, nas relações humanas”, avalia o equilibrista. Projeto Valores Humanos e Culturais na Univel Os alunos da Univel que possuem habilidades artísticas podem mostrar seu talento este ano, durante os intervalos noturnos da faculdade. O Projeto Valores Humanos: um olhar diferente para a vida teve início em 2013, sob coordenação da professora Deise Rosa e colaboração da professora Karin Betiati. A proposta foi a exposição de frases e imagens fotográficas, feitas por profissionais e alunos, para ilustrar exemplos de valores humanos. “Este ano a proposta do é trabalhar com música, dança, arte e atividades sociais”, afirma a coordenadora do projeto. A intenção é de que futuramente o projeto se torne um Festival de Talentos da Univel. O objetivo é fazer com que os alunos mostrem suas habilidades artísticas e tenham a oportunidade de conquistar eventos fora da instituição. “Após resgatados esses alunos, queremos levar os ‘dons artísticos da Univel’ para fora da instituição, como hospitais, escolas, creches e outros lugares, pois uma ‘pitada’ de arte pode transformar vidas”, enfatiza Deise, que acredita no projeto e na esperança de apreciação.“Nós nos surpreendemos com a quantidade de alunos interessados. Muitos nos procuraram dos mais diversificados cursos, com diversos talentos diferentes”. As apresentações dos alunos inscritos ocorrerão uma vez por semana. Quem ainda tiver interesse em se inscrever é só entrar em contato com a professora Deise pelo telefone (45) 9978.5006. 14 ESPORTE Reforma milionária no estádio de Cascavel maio de 2014 Do Colosso de Scanagatta ao Olímpico de Edgar Para muitos ele não tem utilidade alguma e o batizam de “elefante branco” ou simplesmente “elefantão”. Para os saudosistas da era romântica do futebol local e ao mesmo tempo “esperançosos”, num futuro muito próximo, o Olímpico Regional Arnaldo Busatto voltará à cena do futebol paranaense e quem sabe até brasileiro. A proposta da diretoria do Futebol Clube Cascavel é, já em 2015, disputar a primeira divisão do futebol estadual e depois buscar vaga nas competições “organizadas” pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Exemplos bem sucedidos motivam os cartolas cascavelenses como a ascensão da Chapecoense (da cidade de ChapecóSC e menor que Cascavel) à Série A do Brasileirão e a recente decisão entre Maringá e Londrina na nova versão do Clássico do Café. A reforma da maior praça esportiva da região Oeste do Paraná também parece um combustível para este projeto. A Prefeitura de Cascavel abriu recentemente um edital de licitação no valor de quase R$ 6 milhões para fazer ampla revitalização. No entanto, o secretário municipal de Esportes, Wanderley Faust, afirma que a reforma fazia parte da proposta de colocar Cascavel entre as subsedes da Copa do Mundo, mas como a cidade ficou de fora restou apenas o projeto e os recursos. Faust comenta que foi o que sobrou da ideia de incluir a cidade na lista da Fifa (Federação Internacional de Futebol): “Agora, vamos fazer as obras do mesmo jeito, já que o recurso está liberado”, comenta o secretário. Ainda conforme Faust, o dinheiro vem do Governo Federal com 10% de contrapartida da Prefeitura. O projeto prevê a reforma na infraestrutura, revitalização interna e externa, substituição do gramado (que já foi um dos melhores do país), implantação de elevador para acesso às cabines de imprensa que também serão reformadas considerando a acessibilidade. Além de tudo isso, um telão de LED (Light Emitting Diode) será instalado no alto da arquibancada a esquerda das cabines, as 2.500 cadeiras serão substituídas por um padrão moderno e confortável e a cobertura será trocada. No ano passado, uma comissão da secretaria foi até o Rio de Janeiro ver a conclusão das obras de reforma do Maracanã. O modelo dos vestiários será adotado na arena cascavelense. “Claro que não será igual, mas foi importante conhecê-los para termos noção do que é necessário para adequarmos os quatro vestiários do nosso estádio à modernidade e comodidade de atletas e organizadores de eventos esportivos”, justificou. O secretário reconhece que o Olímpico está abandonado. Para ele a falta de um time profissional forte o torna inviável. E não é só isso. O local poderia ser usado para outros eventos, mas, com o abandono, nem isso pode receber. “Acho que nem passa pela vistoria do Corpo de Bombeiros”, lamenta o secretário, ao lembrar que após o incêndio da Boate Kiss de Santa Maria (RS) as exigências ficaram mais rigorosas em todo o país. O custo mensal de manutenção do Olímpico é baixo, não passando dos R$ 5 mil. “Despesa mesmo só com a luz já que é utilizado uma ou duas vezes na semana e o valor da água é irrisório”, finaliza. Serão reformados ainda os doze banheiros e as oito lanchonetes. Novos sanitários e bares também deverão ser construídos para atender o público. Atualmente, a capacidade oficial é para 28.125 pessoas. A lotação máxima ocorreu justamente na inauguração em 10 de novembro de 1982, quando o São Paulo Futebol Clube venceu o Cascavel Esporte Clube por 1 a 0, placar visto por mais de 45 mil torcedores. “Na época ficava até gente de pé. Não havia cadeiras, mas hoje as medidas mudaram. Veja: o Maracanã recebeu 200 mil pessoas na Copa de 50 e hoje não comporta mais que 80 mil”, recorda. As propostas estão sendo recebidas e a abertura dos envelopes está marcada para 8 de maio, às 14h. O prazo máximo para execução das obras será de 180 dias e o contrato com vigência de um ano. Três gigantes e uma história Leandro Souza Diante do crescimento do opositor MDB (Movimento Democrático Brasileiro), hoje PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), o governo militar resolveu prorrogar os mandatos dos prefeitos da época dando aos que foram eleitos em 1976 mais dois anos, esticando o mandato para seis, e cujo tamanho foi também estabelecido aos eleitos de 1982. Ernesto Geisel era o presidente da república e autorizou a construção de centenas de obras Brasil afora para frear o crescimento da oposição. Em Londrina, a CBD (Confederação Brasileiro de Desportos), antiga CBF (Confederação Brasileira de Futebol), exigiu a construção de um novo estádio na cidade para que o LEC (Londrina Esporte Clube) pudesse disputar o campeonato nacional de 1976. A Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido do governo que logo seria rebatizado de PSD (Partido Democrático Social), andava mal das pernas no segundo maior município do Paraná, governado por José Richa, filiado ao MDB. Então, após oito meses de obras, os 42 anéis de concreto do Estádio do Café estavam aptos a receber 50 mil torcedores e o LEC tinha um estádio que o habilitava a ser um dos 54 clubes do Brasileirão daquele ano. A expansão política do futebol promoveu a construção ou ampliação em massa de estádios por todo o país. Pequenas cópias ou arremedos do Maracanã, com arquibancadas ovais e inúteis pistas de atletismo separando o público do campo de jogo. Cada capital do Norte, Nordeste e Centro-Oeste ergueu sua nova praça. Cada grande cidade do interior do Paraná também. Dois meses depois da abertura do Café, Maringá entregou o reformado Willie Davids, já condizente com o conceito da época. Em 1978 e com mais dois anos de mandato, o prefeito Jacy Scanagatta (Arena) autorizou Dilvo Grolli, hoje presidente da Coopavel (Cooperativa Agroindustrial de Cascavel), então presidente do Codevel (Companhia de Desenvolvimento de Cascavel), a assumir a construção do estádio municipal. Juntamente com o arquiteto da prefeitura na época, Nilson Gomes Vieira, Grolli foi a Ribeirão Preto (SP) conhecer o estádio Santa Cruz que serviu de modelo e inspiração para o Olímpico. Um dos arquitetos da construção do Maracanã também veio a Cascavel assessorar a equipe local na construção do “Colosso do Oeste”, nome provisório do estádio que serviu de bandeira para a gestão Jacy Miguel Scanagatta (prefeito) e Assis Gurgacz (vice). inDICA maio de 2014 15 A magia do Spohrverso Gabriel Pratti Considerado por muitos o primeiro best-seller brasileiro de ficção/fantasia, A Batalha do Apocalipse, escrito pelo carioca Eduardo Spohr, é uma leitura quase indescritível. São aproximadamente 586 páginas de uma jornada que o autor, em seu blog, considera como “densa”. Apaixonado por história e religião, o jornalista, influenciado por nomes como J. R. R. Tolkien (O Senhor dos Anéis), o diretor Gregory Widen (Anjos Rebeldes e Highlander), e quadrinhos do selo Vertigo (divisão adulta da DC Comics), criou uma obra-prima. Pesquisou textos como o indiano Mahabhara e a própria Bíblia. A Batalha do Apocalipse, com o subtítulo Da queda dos anjos ao crepúsculo do mundo, narra a intrigante jornada do general Ablon, um anjo renegado, que foi expulso do Céu, comandado pelo tirano Arcanjo Miguel, que recebeu as rédeas do paraíso do Criador, enquanto Este descansava. Spohr nos transporta a locais essenciais da história, como Constantinopla, Egito Antigo e até mesmo para o Rio de Janeiro do século 21, em um universo de planos, seres e acontecimentos divinos, espirituais, astrais e humanos. Guardadas as devidas proporções, A Batalha do Apocalipse dá início ao “Senhor dos Anéis” de Eduardo, que como um bom nerd, é fã de carteirinha do universo criado por Tolkien. Personagens, castas, dimensões. Tudo foi inteligentemente arquitetado, chamado de Spohrverso. Primeiramente publicado pelo site Jovem Nerd em 2007, republicado em 2009 pela NerdBooks, ABdA finalmente alcançou uma editora de grande porte em 2010, a Verus. Com apenas três semanas de lançamento, o livro já atingia a oitava posição entre os mais vendidos no Brasil, do gênero ficção. A edição especial contém capítulos extras, ilustrações e organogramas. Obra do gênero fantasia, A Batalha do Apocalipse se torna completamente real nos questionamentos humanos e existenciais. Dotados de filosofia crítica, Ablon e a necromante Shamira assistem a guerras e crises que o ser humano provoca e questionam o porquê de tudo aquilo. Fazem pensar e questionar o nosso papel, como no seguinte trecho, na página 125 da obra: “a necromante estava sempre informada sobre as novas tecnologias e usava isso a seu favor. Frequentava, abertamente, lugares públicos os mais variados, desde faculdades a danceterias, com objetivo puramente didático. Cada vez mais se surpreendia com a capacidade mutável do homem, com sua habilidade de criar, inovar e se adaptar às situações mais inusitadas. Chegou mesmo à conclusão de que, não importava quanto vivesse, sempre se espantaria com a mente inconstante e a alma apaixonada dos seres humanos”. A Batalha do Apocalipse foi o estopim que lançou a onda de livros fantásticos no cenário brasileiro e ajudou a dar destaque para autores como Raphael Draccon (Dragões do Éter), Affonso Solano (O Espadachim de Carvão) e Leonel Caldela (O Código Élfico). É uma leitura obrigatória para os fãs de ficção/ fantasia, contendo elementos históricos, religiosos e filosóficos sobre a guerra entre Céu e Inferno. Um autor brasileiro, influenciado por Tolkien, criou o seu próprio “Senhor dos Anéis” FOTOS: DIVULG AÇÃ O “Chegou mesmo à conclusão de que, não importava quanto vivesse, sempre se espantaria com a mente inconstante e a alma apaixonada dos seres humanos”. de Stephan St ölting A casta dos Malakim, seres cuja mente é imortal e possuem o maior conhecimento do mundo. Arte de André Ramos * Em 2011 foi lançado na Holanda com o título Engelen van de Apocalyps. Curiosidades Enredo Depois da criação do mundo, o Criador entrou em um sono profundo. Deixou o mando dos Céus aos cuidados do Arcanjo Miguel, enquanto este era auxiliado pelos outros Arcanjos. Porém, o Criador não contava com a tirania que corrompia o coração de Miguel e, em uma tentativa de reversão, os anjos organizaram um levante. A guerra entre Anjos e Arcanjos foi ruim para ambos os lados. Muitos foram mortos e outros, caídos, expulsos do Paraíso. Entre eles o general Ablon, um querubim que recorreu ao mundo dos humanos como exílio. Durante sua jornada, o general conhece a necromante Shamira, uma feiticeira, que o ajuda a transpassar os maiores desafios que o Julgamento Final possui. Após um tempo de recuperação, Lúcifer, a Estrela da Manhã, agora o líder do Inferno, prepara um segundo ataque aos Céus. A guerra está para começar e o Apocalipse será o palco. Cabe a Ablon escolher qual lado defenderá na batalha definitiva. Arte da capa, * O autor é professor em um curso de Estrutura Literária. O protagonista Ablon, um general querubim, por André Ramos * Autor e roteirista, José Louzeiro, diz que “não há na literatura em língua portuguesa conhecida nada que se pareça com A Batalha do Apocalipse”. CLICK maio de 2014 9º Expotec FOTOS: KÁSSIA BELTRAME E JHON DWITT 16 Mais de 5 mil pessoas, entre elas estudantes e moradores da cidade, visitaram a feira na Univel. O sargento Josiel, o cabo Maximiliano, o soldado Boertoluzi e o cabo Krais Franciele e Lenon, do 2º ano de Logística Henrique Fischer, do curso de Gestão Comercial Viviane e Helaine, do 4º ano de Direito Raul Sostor, monitor de Gastronomia Diovani e Regiane, do 3º ano de Pedagogia