ISSN 0100-7203 2012 Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia volume 34 Julho 2012 volume 34 capa 4 nº 7 ANÚNCIO Julho número 7 p. 293 - 346 Publicação mensal ISSN 0100-7203 Órgão Oficial de Divulgação Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Rev Bras Ginecol Obstet v. 34, n. 7, p. 293-346, julho 2012 Publicação indexada na Base de Dados LILACS e SciELO. Disponível eletronicamente no SciELO www.scielo.br/rbgo nas versões português e inglês Indexada na Base de Dados Medline Acesso eletrônico através da Scopus: www.scopus.com/scopus/home.url Editor Científico Jurandyr Moreira de Andrade (Ribeirão Preto/SP) Editores Associados Eliana Martorano Amaral (Campinas/SP) Geraldo Duarte (Ribeirão Preto/SP) João Luiz Pinto e Silva (Campinas/SP) José Maria Soares Junior (São Paulo/SP) Marilza Vieira Cunha Rudge (Botucatu/SP) Rosiane Mattar (São Paulo/SP) Rossana Pulcinelli Vieira Francisco (São Paulo/SP) Sophie Françoise Mauricette Derchain (Campinas/SP) Editor Executivo Daniel Guimarães Tiezzi (Ribeirão Preto/SP) Conselho Editorial Antonio Alberto Nogueira (Ribeirão Preto/SP) Antonio Jorge Salomão (São Paulo/SP) Carlos Augusto Alencar Jr. (Fortaleza/CE) Eddie Fernando Candido Murta (Uberaba/MG) Edmund Chada Baracat (São Paulo/SP) Francisco Mauad Filho (Ribeirão Preto/SP) Geraldo Duarte (Ribeirão Preto/SP) Gutemberg Leão de Almeida Filho (Rio de Janeiro/RJ) Haroldo Capurro Alzola (Montevideo, Uruguay) Iracema de Mattos Paranhos Calderon (Botucatu/SP) Ivo Behle (Porto Alegre/RS) Jesus de Paula Carvalho (São Paulo/SP) Jon Oyvind Odland (Tromso, Norway) José Carlos Peraçoli (Botucatu/SP) José Geraldo Lopes Ramos (Porto Alegre/RS) José Guilherme Cecatti (Campinas/SP) José Meirelles Filho (Cuiabá/MT) Joseph A.Spinnato, II (Cincinnati, Ohio) Krikor Boyaciyan (São Paulo/SP ) Luiz Carlos Zeferino (Campinas/SP) Luiz Gerk de Azevedo Quadros (São Paulo/SP) Luiz Henrique Gebrim (São Paulo/SP) Manoel J. B. Castello Girão (São Paulo/SP) Manuel de Jesus Simões (São Paulo/SP) Marair Gracio Ferreira Sartori (São Paulo/SP) Marcelo Zugaib (São Paulo/SP) Marcos Felipe Silva de Sá (Ribeirão Preto/SP) Maria de Lourdes Brizot (São Paulo/SP) Marilza Vieira Cunha Rudge (Botucatu/SP) Melania Maria Ramos de Amorim (Campina Grande/PB) Nilma Antas Neves (Salvador/BA) Paulo Traiman (Botucatu/SP) Ricardo Mello Marinho (Belo Horizonte/MG) Roseli Mieko Yamamoto Nomura (Santo André/SP) Ruffo de Freitas Júnior (Goiânia/GO) Rui Alberto Ferriani (Ribeirão Preto/SP) Sebastião Freitas de Medeiros (Cuiabá/MT) Selmo Geber (Belo Horizonte/MG) Sérgio Hofmeister de Almeida Martins Costa (Porto Alegre/RS) Sérgio Mancini Nicolau (São Paulo/SP) Técia Maria de Oliveira Maranhão (Natal/RN) Victor Hugo de Melo (Belo Horizonte/MG) Wagner José Gonçalves (São Paulo/SP) Wellington de Paula Martins (Ribeirão Preto/SP) SECRETÁRIA EXECUTIVA Rosane Aparecida Cunha Casula REVISORA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Maria Cristina Manduca Ferreira Órgão Oficial de Divulgação Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia RBGO – EDITORIA Av. Bandeirantes, 3900 – 8º andar – Campus Universitário 14049-900 – Ribeirão Preto/SP Fone (16) 3602-2803 – FAX (16) 3633-0946 Expediente REVISTA BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, ISSN 0100-7203, é uma publicação mensal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. A responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos é de inteira responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos, desde que mencionada a fonte. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Presidente Etelvino de Souza Trindade (DF) Diretora Administrativa Vera Lúcia Mota da Fonseca (RJ) Diretor Financeiro Francisco Eduardo Prota (SP) Diretor Científico Nilson Roberto de Melo (SP) Diretor de Defesa Profissional Hélcio Bertolozzi Soares (PR) Vice-presidente da região Norte Júlio Eduardo Gomes Pereira (AC) Vice-presidente da região Nordeste Olímpio Barbosa Moraes Filho (PE) Vice-presidente da região Centro-Oeste Paulo Roberto Dutra Leão (MT) Vice-presidente da região Sudeste Hugo Miyahira (RJ) Vice-presidente da região Sul Jorge Abi Saab Neto (SC) Assessora Especial de Diretoria Hitomi Miura Nakagava (DF) Presidência e Secretaria Executiva Avenida das Américas, 8445 – sala 711 Barra da Tijuca – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22793-081 Tel.: (21) 2487-6336 – Fax: (21) 2429-5133 www.febrasgo.org.br [email protected] [email protected] RBGO é uma revista mensal com entrega automática para os sócios da FEBRASGO. Remessa com devolução garantida em caso de erro postal. Assinaturas para pessoas jurídicas pelo fax (21) 2429-5133 TIRAGEM: 18.000 exemplares Os pedidos de separatas devem ser feitos pelo telefone: 0800 77 23023. As separatas reproduzirão fielmente o texto publicado, não podendo ser feitos acréscimos ou exclusões no mesmo. Produção Editorial ZEPPELINI EDITORIAL Rua Bela Cintra, 178 Cerqueira César – São Paulo – SP – 01415-000 PABX: (11) 2978-6686 www.zeppelini.com.br [email protected] Publicação mensal ISSN 0100-7203 Órgão Oficial de Divulgação Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Rev Bras Ginecol Obstet v. 34, n. 7, p. 293-346, julho 2012 Sumário Editorial 293 Olga Garcia Falceto Carmen Luisa Fernandes Suzi Roseli Kerber Alerta sobre a depressão pós-parto paterna Alert on paternal postpartum depression Artigos Originais 296 Líbera Helena Ribeiro Fagundes de Souza Maria Célia dos Santos Luiz Carlos Marques de Oliveira 304 Carla Vitola Gonçalves Raul Andres Mendoza-Sassi Juraci Almeida Cesar Natália Bolbadilha de Castro Ana Paula Bortolomedi 310 Alessandra Fritsch Ana Lúcia Letti Müller Maria Teresa Vieira Sanseverino Rejane Gus Kessler Patricia Martins Moura Barrios Lucas Mohr Patusco José Antonio de Azevedo Magalhães 316 Gislaine Satyko Kogure Fabiene Karine Piccki Carolina Sales Vieira Wellington de Paula Martins Rosana Maria dos Reis Padrão do consumo de álcool em gestantes atendidas em um hospital público universitário e fatores de risco associados Alcohol use pattern in pregnant women cared for in a public university hospital and associated risk factors Índice de massa corporal e ganho de peso gestacional como fatores preditores de complicações e do desfecho da gravidez Body mass index and gestational weight gain as factors predicting complications and pregnancy outcome Hidropisia fetal não imune: experiência de duas décadas num hospital universitário Nonimmune hydrops fetalis: two decades of experience in a university hospital Análise de força muscular e composição corporal de mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos Analysis of muscle strength and body composition of women with Polycystic Ovary Syndrome 323 Leonardo Augusto Lombardi Ricardo Santos Simões Carla Cristina Maganhin Cecilia Ferreira da Silva Gustavo Arantes Rosa Maciel Edmund Chada Baracat José Maria Soares Júnior 329 Patrícia Uchôa Leitão Cabral Ana Carla Gomes Canário Maria Helena Constantino Spyrides Severina Alice da Costa Uchôa Morfologia das células intersticiais de ovários policísticos de ratas: um estudo experimental Morphology of the interstitial cells of rat polycystic ovaries: an experimental study Influência dos sintomas climatéricos sobre a função sexual de mulheres de meia-idade Influence of menopausal symptoms on sexual function in middle-aged women José Eleutério Júnior Rose Luce Gomes Amaral Ana Katherine da Silveira Gonçalves 335 Luiz Francisco Baccaro Ilka de Fátima Boin Lúcia Costa-Paiva Aline Garcia Leal Celso Dario Ramos Aarão Mendes Pinto-Neto Is liver transplantation associated with decreased bone mass in climacteric women? O transplante hepático está associado a menor massa óssea em mulheres climatéricas? Resumo de Tese 343 Autora: Renata Lopes Britto Orientadora: Profa. Dra. Leila Maria Batista Araújo 344 Autora: Márcia Marly Winck Yamamoto Orientador: Prof. Dr. Sebastião Freitas de Medeiros Avaliação da influência da terapia hormonal com implantes subdérmicos de estradiol e testosterona sobre a densidade mineral óssea e o perfil lipídico Evaluation of hormone therapy influence with estradiol and testosterone implants under the bone mineral density and the lipid profile Atividade das enzimas corticoesteroidogênicas em pacientes normoandrogênicas e hiperandrogênicas com síndrome dos ovários policísticos Activities of the corticosteroidogenic enzimes in normoandrogenic and hiperandrogenic patients with polycystic ovary syndrome Agenda 345 Agenda Instruções aos Autores A Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Rev Bras Gincecol as respectivas publicações sobre o tema. Se houver interesse da revista, será enviado convite para apresentação do texto definitivo. Todos os autores devem ter publicações em periódicos regulares, indexados sobre o tema da revisão. O número de autores é limitado a quatro, dependendo do tipo de texto e da metodologia empregada. Devem ser descritos os métodos e procedimentos adotados para a obtenção do texto, que deve ter como base referências recentes, inclusive do ano em curso. Tratando-se de tema ainda sujeito a controvérsias, a revisão deve discutir as tendências e as linhas de investigação em curso. Apresentar, além do texto da revisão, resumo, abstract e conclusões. Ver a seção “Preparo do manuscrito” para informações quanto ao texto principal, página de rosto, resumo e abstract; Obstet., ISSN 0100 7203), publicação mensal de divulgação científica da Federação das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), é dirigida a obstetras, ginecologistas e profissionais de áreas afins, com o propósito de publicar contribuições originais sobre temas relevantes no campo da Ginecologia, Obstetrícia e áreas correlatas. É aberta a contribuições nacionais e internacionais. A revista aceita e publica trabalhos em português, inglês e espanhol. O material enviado para análise não pode ter sido submetido simultaneamente à publicação em outras revistas nem publicado anteriormente. Na seleção dos manuscritos para publicação, são avaliadas originalidade, relevância do tema e qualidade da metodologia utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pela revista. O material publicado passa a ser propriedade da Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e da Febrasgo, só podendo ser reproduzido, total ou parcialmente, com a anuência dessas entidades. 5. Comentários Editoriais, solicitados pelo editor; 6. Resumos de Teses apresentadas e aprovadas nos últimos 12 meses, contados da data de envio do resumo. Devem conter, aproximadamente, 300 palavras e, para serem aceitos, devem seguir as normas da revista quanto à estruturação, à forma e ao conteúdo. Incluir título em português e inglês e, no mínimo, três palavras ou expressõeschave. Não há revisão do texto dos Resumos de Teses. No arquivo enviado, informar: nome completo do autor e do orientador; membros da banca; data de apresentação e a identificação do serviço ou departamento onde a tese foi desenvolvida e apresentada. Lembramos que a publicação do resumo não impede a posterior publicação do trabalho completo em qualquer periódico. Os manuscritos submetidos à revista são analisados por pareceristas e o sigilo sobre a autoria e a identidade dos revisores é garantido durante todo o processo de edição. Os pareceres dos revisores e as instruções do editor serão enviados para os autores para que eles tomem conhecimento das alterações a serem introduzidas. Os autores devem reenviar o texto com as modificações solicitadas assim que possível, devendo justificar, na carta de encaminhamento, se for o caso, o motivo do não atendimento de alguma sugestão para modificação. Não havendo retorno do trabalho após três meses, presume-se que os autores não têm mais interesse na publicação. Os autores podem solicitar em qualquer ponto do processo de análise e edição do texto a sustação do processo e a retirada do trabalho. Os conceitos e as declarações contidos nos artigos são de responsabilidade dos autores. A revista publica contribuições nas seguintes categorias: 1. Artigos Originais, trabalhos completos prospectivos, experimentais ou retrospectivos. Manuscritos contendo resultados de pesquisa clínica ou experimental original têm prioridade para publicação. 2. Relatos de Casos, de grande interesse e bem documentados, do ponto de vista clínico e laboratorial. Os autores deverão indicar na carta de encaminhamento os aspectos novos ou inesperados em 7. Cartas dos Leitores para o Editor, versando sobre matéria editorial ou não, mas com apresentação de informações relevantes ao leitor. As cartas podem ser resumidas pela editoria, mas com manutenção dos pontos principais. No caso de críticas a trabalhos publicados, a carta é enviada aos autores para que sua resposta possa ser publicada simultaneamente. Informações gerais 1. A revista não aceita material editorial com objetivos comerciais. 2. Conflito de interesses: devem ser mencionadas as situações que podem influenciar de forma inadequada o desenvolvimento ou as conclusões do trabalho. Entre essas situações, menciona-se a participação societária nas empresas produtoras das drogas ou dos equipamentos citados ou utilizados no trabalho, assim como em concorrentes da mesma. São também consideradas fontes de conflito os auxílios recebidos, as relações de subordinação no trabalho, as consultorias etc. 3. No texto, deve ser mencionada a submissão e a aprovação do estudo por um Comitê de Ética em Pesquisa reconhecido pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). 4. Artigo que trate de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração, na seção Métodos, de que os sujeitos do estudo assinaram o termo de consentimento livre e informado. Os autores relação aos casos já publicados. O texto das seções Introdução e Discussão deve ser baseado em revisão bibliográfica atualizada. O número de referências pode ser igual ao dos trabalhos completos. 3. Técnicas e Equipamentos, para apresentação de inovações em diagnóstico, técnicas cirúrgicas e tratamentos, desde que não sejam, clara ou veladamente, propaganda de drogas ou outros produtos. Valem para essa categoria todas as normas aplicadas para trabalhos completos. 4. Artigos de Revisão, incluindo avaliação crítica e sistematizada da literatura, meta-análises ou revisões sistemáticas. A seleção dos temas e o convite aos autores têm como base planejamento estabelecido pela editoria. Contribuições espontâneas podem ser aceitas. Nesse caso, devem ser enviados inicialmente um resumo ou roteiro do texto, a lista de autores e v devem informar, também, que a pesquisa foi conduzida de acordo com a Declaração de Helsinque revisada em 2008. 5. No caso de trabalhos envolvendo experimentação animal, os autores devem indicar na seção Métodos que foram seguidas as normas contidas no CIOMS (Council for International Organization of Medical Sciences) Ethical Code for Animal Experimentation (WHO Chronicle 1985; 39(2):51-6) e os preceitos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal - COBEA (www.cobea.org.br). 6. Todos os ensaios controlados aleatórios (randomized controlled trials) e clínicos (clinical trials) submetidos à publicação devem ter o registro em uma base de dados de ensaios clínicos. Essa é uma orientação da Plataforma Internacional para Registros de Ensaios Clínicos (ICTRP) da Organização Mundial da Saúde (OMS), e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE). As instruções para o registro estão disponíveis no endereço eletrônico do ICMJE (http://www.icmje.org/clin_trialup.htm) e o registro pode ser feito na base de dados de ensaios clínicos da National Library of Medicine, disponível em http://clinicaltrials.gov/ct/gui. Preparo dos manuscritos As normas que seguem foram baseadas no formato proposto pelo ICMJE e publicado no artigo “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”, atualizado em Outubro de 2008 e disponível no endereço eletrônico: http://www.icmje.org/. Apresentação do texto 1. Os trabalhos devem ser digitados em espaço 2 em todas as seções, da página de rosto às referências bibliográficas, tabelas e legendas. Cada página deve conter aproximadamente 25 linhas em uma coluna. Usar preferencialmente o processador de texto Microsoft Word® e a fonte Times New Roman 12. Não dar destaque a trechos do texto: não sublinhar ou usar negrito. Numerar todas as páginas, iniciando pela de rosto. Não usar maiúsculas nos nomes próprios (a não ser a primeira letra) no texto ou nas referências bibliográficas. Não utilizar pontos nas siglas (DPP em vez de D.P.P.). Quando usar siglas ou abreviaturas, descrevê-las por extenso na primeira vez que mencionadas no texto. Iniciar cada seção em uma nova página: página de rosto; resumo e palavras ou expressões-chave; abstract e keywords; texto; agradecimentos; referências; tabelas individuais e legendas das figuras. 7. O número de autores de trabalhos completos e relatos de casos é limitado a sete. Trabalhos de autoria coletiva (institucionais) devem ter os responsáveis especificados. Trabalhos e estudos multicêntricos podem ter número de autores compatível com o número de centros (cada situação será avaliada pela editoria e pelos revisores). Os investigadores responsáveis pelos protocolos aplicados devem ser especificados. Todos os autores devem ter conhecimento do texto enviado para a revista. 2. 8. O conceito de coautoria é baseado na contribuição de cada um, para a concepção e planejamento do trabalho, análise e interpretação dos dados, para a redação ou revisão crítica do texto. A inclusão de nomes cuja contribuição não se enquadre nos critérios citados ou que tenham fornecido apenas suporte material não é justificável. Página de rosto 9. Os autores serão informados, por correspondência eletrônica, do recebimento dos trabalhos. Os trabalhos que estiverem de acordo com as Instruções aos Autores e se enquadram na política editorial da revista serão enviados para análise por revisores indicados pelo editor. Os originais em desacordo com os objetivos da revista ou com essas instruções são devolvidos aos autores para as adaptações necessárias antes da avaliação pelo Conselho Editorial ou recusados sem análise por revisores. 10. Junto dos arquivos originais, deve ser enviada uma carta de encaminhamento, na qual deve ficar explícita a concordância com as normas editoriais, com o processo de revisão e com a transferência de copyright para a revista. 11. Para manuscritos originais, não ultrapassar 25 páginas de texto digitado ou aproximadamente 30.000 caracteres. Limitar o número de tabelas e figuras ao necessário para apresentação dos resultados que são discutidos (como norma geral, limitar a cinco). Para manuscritos do tipo Relato de Caso, não ultrapassar 15 páginas de texto ou 18.000 caracteres (ver “Preparo do manuscrito”, “Resultados”). 12. O trabalho deve ser enviado pelo sistema de submissão online no portal SciELO. O endereço eletrônico de todos os autores deve ser fornecido. Desta forma, os coautores receberão informação sobre a submissão do vi trabalho e, assim, não será necessária a assinatura de todos na carta de encaminhamento. O endereço eletrônico para correspondência com a revista é [email protected]. O arquivo correspondente ao trabalho deve ser único e deve conter texto, referências, tabelas e figuras. Apresentar o título do trabalho em português e em inglês; nomes completos dos autores sem abreviaturas; endereços eletrônicos válidos de todos os autores (opcional, em substituição à carta de encaminhamento); nome da instituição onde o trabalho foi desenvolvido; afiliação institucional dos autores; informações sobre auxílios recebidos sob forma de bolsas de estudos, financiamento, fornecimento de drogas, reagentes ou equipamentos. Obrigatoriamente deve ser fornecido o endereço da instituição onde o trabalho foi desenvolvido, o qual é publicado na página inicial do trabalho. Devem ser indicados nome, endereço, telefone/fax e e-mail do autor para o qual a correspondência deve ser enviada. Essas informações pessoais são empregadas apenas para correspondência com a revista e somente são publicadas se houver pedido do(s) autor(es). Resumo O resumo do trabalho deve aparecer na segunda página. Para trabalhos completos, redigir um resumo estruturado, que deve ser dividido em seções identificadas: objetivo, métodos, resultados e conclusões. Deve ter aproximadamente 300 palavras. O resumo deve conter as informações relevantes, permitindo que o leitor tenha uma ideia geral do trabalho. Deve incluir descrição resumida de todos os métodos empregados e da análise estatística efetuada. Expor os resultados numéricos mais relevantes, e não apenas indicação de significância estatística. As conclusões devem ser baseadas nos resultados do trabalho e não da literatura. Evitar o uso de abreviações e símbolos. Não citar referências bibliográficas no resumo. Abaixo do texto do resumo indicar o número de registro e/ou identificação para os ensaios controlados aleatórios e ensaios clínicos (ver item 5 das “Informações Gerais”). Na mesma página do resumo, citar pelo menos três palavras ou expressões-chave que serão empregadas para compor o índice anual da revista. Devem ser baseadas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) publicado pela Bireme, que é uma tradução do Medical Subject Headings (MeSH) da National Library of Medicine e está disponível no endereço eletrônico: http://decs.bvs.br. O abstract deve ser versão fiel do texto do resumo estruturado (purpose, methods, results e conclusions). Deve ser também acompanhado da versão para o inglês das palavras ou expressões-chave (keywords). O resumo e o abstract dos Relatos de Casos e dos Artigos de Revisão e de Atualização não devem ser estruturados e são limitados a 150 palavras. Introdução Repetir, na primeira página da introdução, o título completo em português e inglês. Nessa seção, mostre a situação atual dos conhecimentos sobre o tópico em estudo, divergências e lacunas que possam eventualmente justificar o desenvolvimento do trabalho, mas sem revisão extensa da literatura. Para Relatos de Casos, apresentar um resumo dos casos já publicados, epidemiologia da condição relatada e uma justificativa para a apresentação como caso isolado. Expor claramente os objetivos do trabalho. Métodos Iniciar essa seção indicando o planejamento do trabalho: se prospectivo ou retrospectivo; ensaio clínico ou experimental; se a distribuição dos casos foi aleatória ou não etc. Descrever os critérios para seleção das pacientes ou Grupo Experimental, inclusive dos Controles. Identificar os equipamentos e reagentes empregados (fabricante, cidade e país). Se a metodologia aplicada já tiver sido empregada, indicar as referências, além da descrição resumida do método. Descrever também os métodos estatísticos empregados e as comparações para as quais cada teste foi empregado. Os trabalhos que apresentam como objetivo a avaliação da eficácia ou a tolerabilidade de tratamentos ou drogas devem, necessariamente, incluir Grupo Controle adequado. Para informações adicionais sobre o desenho de trabalhos desse tipo, consultar ICH Harmonized Tripartite Guideline - Choice of Control Group and Related Issues in Clinical Trials (http://www.hc-sc.gc.ca/hpfb-dgpsa/tpd-dpt/e10_e.html). Ver também itens 4 e 5 das “Informações Gerais”. Resultados Apresentar os resultados em sequência lógica, no texto, nas tabelas e nas figuras. Expor os resultados relevantes para o objetivo do trabalho e que são discutidos. Não repetir no texto dessa seção todos os dados das tabelas e figuras, mas descrever e enfatizar os mais importantes, sem interpretação dos mesmos (ver também “Tabelas”). Nos Relatos de Casos, as seções “Métodos” e “Resultados” são substituídas pela “Descrição do caso”, mantendo-se as demais. Discussão Devem ser realçadas as informações novas e originais obtidas na investigação. Não repetir dados e informações já mencionados nas seções “Introdução” e “Resultados”. Evitar citação de tabelas e figuras. Ressaltar a adequação dos métodos empregados na investigação. Comparar e relacionar suas observações com as de outros autores, comentando e explicando as diferenças. Explicar as implicações dos achados, suas limitações e fazer as recomendações decorrentes. Para Relatos de Casos, basear a discussão em ampla e atualizada revisão da literatura. As informações sobre os casos já publicados podem ser tabuladas e exibidas nessa seção para comparações. Agradecimentos Dirigidos a pessoas que tenham colaborado intelectualmente, mas cuja contribuição não justifica coautoria, ou para aquelas que tenham provido apoio material. Referências Todos os autores e trabalhos citados no texto devem constar dessa seção e vice-versa. Numerar as referências bibliográficas por ordem de entrada no trabalho e usar esses números para as citações no texto. Evitar número excessivo de referências, selecionando as mais relevantes para cada afirmação e dando preferência para os trabalhos mais recentes. Não empregar citações de difícil acesso, como resumos de trabalhos apresentados em congressos, teses ou publicações de circulação restrita (não indexados). Não empregar referências do tipo “observações não publicadas” e “comunicação pessoal”. Artigos aceitos para publicação podem ser citados acompanhados da expressão: “aceito e aguardando publicação” ou “in press”, indicando-se periódico, volume e ano. Trabalhos aceitos por periódicos que estejam disponíveis online, mas sem indicação de fascículos e páginas, devem ser citados como “ahead of print”. Outras publicações dos autores (autocitação) devem ser empregadas apenas se houver necessidade clara e forem relacionadas ao tema. Nesse caso, incluir entre as referências bibliográficas apenas trabalhos originais publicados em periódicos regulares (não citar capítulos ou revisões). O número de referências bibliográficas deve ser aproximadamente 35. Os autores são responsáveis pela exatidão dos dados constantes das referências bibliográficas. Para todas as referências, citar os autores até o sexto. Se houver mais de seis autores, citar os seis primeiros, seguidos da expressão et al., conforme os seguintes modelos: Formato impresso • Artigos em revistas - Ceccarelli F, Barberi S, Pontesilli A, Zancla S, Ranieri E. Ovarian carcinoma presenting with axillary lymph node metastasis: a case report. Eur J Gynaecol Oncol. 2011;32(2):237-9. - Jiang Y, Brassard P, Severini A, Goleski V, Santos M, Leamon A, et al. Type-specific prevalence of Human Papillomavirus infection among women in the Northwest Territories, Canada. J Infect Public Health. 2011;4(5-6):219-27. • Artigos com título em inglês e texto em português ou outra língua Utilizar o titulo em inglês, entre colchetes e no final da referência, indicar a língua na qual o artigo foi publicado. - Prado DS, Santos DL. [Contraception in users of the public and private sectors of health]. Rev Bras Ginecol Obstet. 2011;33(7)143-9. Portuguese. - Taketani Y, Mizuno M. [Application of anti-progesterone agents for contraception]. Rinsho Fujinka Sanka. 1988;42(11):997-1000. Japanese. • Livro - Baggish MS, Karram MM. Atlas of pelvic anatomy and gynecologic surgery. 2nd ed. Philadelphia: WB Saunders; 2006. vii • Capítulos de livro - Picciano MF. Pregnancy and lactation. In: Ziegler EE, Filer LJ, editors. Present knowledge in nutrition. Washington (DC): ILSI Press; 1996. p. 384-95. Formato eletrônico Apenas para informações estatísticas oficiais e citação de referências de periódicos não impressos. Para estatísticas oficiais, indicar a entidade responsável, o endereço eletrônico, o nome do arquivo ou entrada. Incluir o número de tela, data e hora do acesso. Termos como “serial”, “periódico”, “homepage” e “monography”, por exemplo, não são mais utilizados. Todos os documentos devem ser indicados apenas como [Internet]. Para documentos eletrônicos com o identificador DOI (Digital Object Identifier), este deve ser mencionado no final da referência, além das informações que seguem: - Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS [Internet]. Informações de Saúde. Estatísticas vitais. Mortalidade e nascidos vivos: nascidos vivos desde 1994. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2008. [citado 2007 Fev 7]. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/ deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def > Legendas Digitar as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações). Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo a cada figura, e na ordem em que foram citadas no trabalho. Abreviaturas e siglas Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto. Nas legendas das tabelas e figuras, devem ser acompanhadas de seu nome por extenso. As abreviaturas e as siglas não devem ser usadas no título dos artigos e nem no resumo. Empregar o seguinte endereço para correspondências não previstas nas instruções: Jurandyr Moreira de Andrade Editor Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia – Editoria – Avenida Bandeirantes, 3.900, 8º andar – Campus Universitário – CEP 14049-900 – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (16) 3602-2803 – Fax: (16) 3633-0946 – E-mail: [email protected]. • Monografia na Internet ou livro eletrônico - Foley KM, Gelband H, editors. Improving palliative care for cancer [Internet]. Washington: National Academy Press; 2001 [cited 2002 Jul 9]. Available from: http://www.nap.edu/books/0309074029/html/. Tabelas Apresentar as tabelas em páginas separadas, com espaço duplo e preferencialmente fonte Arial 8. A numeração deve ser sequencial, em algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto. Todas as tabelas devem ter título e todas as colunas da tabela devem ser identificadas com um cabeçalho. A legenda deve conter informações que permitam ao leitor entender o conteúdo das tabelas e figuras, mesmo sem a leitura do texto do trabalho. As linhas horizontais devem ser simples e limitadas a duas no topo e uma no final da tabela. Não empregar linhas verticais. Não usar funções de criação de tabelas, comandos de justificação, tabulações decimais ou centralizadas. Utilizar comandos de tabulação (tab) e não o espaçador para separar as colunas e, para nova linha, a tecla enter. No rodapé da tabela, deve constar legenda para abreviaturas e testes estatísticos utilizados. Figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) As figuras devem ser apresentadas em páginas separadas e numeradas sequencialmente, em algarismos arábicos, conforme a ordem de aparecimento no texto. Todas as figuras devem ter qualidade gráfica adequada e apresentar título e legenda. Para evitar problemas que comprometam o padrão da revista, o processo de digitalização de imagens (scan) deve obedecer aos seguintes parâmetros: para gráficos ou esquemas, usar 300 dpi/bitmap para traço; para ilustrações e fotos (preto e branco), usar 300 dpi/RGB ou grayscale. Em todos os casos, os arquivos devem ter extensão .tif e/ou .jpg. Também são aceitos arquivos com extensão .xls (Excel), .eps, .psd para ilustrações em curva (gráficos, desenhos e esquemas). São aceitas, no máximo, cinco figuras. Se as figuras já tiverem sido publicadas, devem vir acompanhadas de autorização por escrito do autor/editor e constando a fonte na legenda da ilustração. viii Itens para a conferência para a submissão do manuscrito Antes de enviar o manuscrito, conferir se as Instruções aos Autores foram seguidas e verificar o atendimento dos itens listados a seguir: 1. carta de encaminhamento assinada por todos os autores (escaneada e anexada como documento suplementar ou enviada pelo correio) ou informação dos endereços eletrônicos válidos de todos os autores na página de rosto; 2. citação da aprovação do projeto do trabalho por Comissão de Ética em Pesquisa, assinatura do termo de consentimento livre e informado (na seção “Métodos”) e informação sobre o atendimento das exigências para pesquisa em animais; 3. número ou código do registro do estudo, se necessário, na página de rosto (item 5 das “Informações Gerais”); 4. conflito de interesses: informar se há ou não. Se houver, explicar sem omissão de informações relevantes; 5. página de rosto com todas as informações solicitadas; 6. resumo e abstract estruturados e compatíveis com o texto do trabalho; 7. três ou mais palavras-chave relacionadas ao texto e respectivas keywords baseadas no Decs; 8. verificar se todas as tabelas e figuras estão corretamente citadas no texto e numeradas, e se as legendas permitem o entendimento das mesmas; 9. referências bibliográficas: numeradas na ordem de aparecimento e corretamente digitadas. Verificar se todos os trabalhos citados estão na lista de referências e se todos os listados estão citados no texto. Olga Garcia Falceto1 Carmen Luisa Fernandes2 Suzi Roseli Kerber3 Alerta sobre a depressão pós-parto paterna Alert on paternal postpartum depression Editorial Este editorial busca alertar sobre a importância de um quadro bastante negligenciado na clínica médica: os transtornos psiquiátricos pós-parto paternos, especialmente, a depressão. Fazemos uma breve revisão de publicações recentes, com ênfase nas de nosso grupo de pesquisa. Esse alerta é ainda mais importante para os gineco-obstetras, que concentram sua maior atenção sobre as mulheres. Nossos estudos dão suporte às recomendações atuais de incluir o pai nas consultas de pré-natal com o fim de estimular a formação de vínculos familiares saudáveis1. A depressão pós-parto (DPP) é tipicamente tratada como um problema exclusivo das mulheres e que ocorre, ao longo do primeiro ano de vida do filho, em 10 a 15% delas. Entretanto, os pais também passam por mudanças significativas após o nascimento da criança. Essas, em grande parte, se assemelham às que ocorrem com as mães. Ambos vivenciam transformações importantes no seu sentido de identidade pessoal, papéis familiares e sociais. Mudam, em especial, as relações interpessoais do casal e também as rotinas diárias2,3, principalmente do sono4. Os estudos indicam que transtornos psiquiátricos pós-parto paternos apresentam prevalência significativa (no Brasil variam entre 11,93 e 25,4%5) e impactam diretamente no apoio que o pai dá à mãe e ao bebê durante o primeiro ano pós-parto6. Nosso grupo realiza uma pesquisa longitudinal do desenvolvimento de famílias. Em sua primeira etapa, entrevistou, em suas casas, quatro meses após o nascimento, todas as famílias que tiveram filho em hospital público no ano de 1999, em um bairro de Porto Alegre. Encontramos uma frequência de suspeita de transtorno mental (medida pela escala SRQ-20) de 34,5% nas mulheres e 25,4% nos homens5. Ao contrário da grande quantidade de estudos publicados sobre os fatores ligados à depressão pós-parto materna (DPPM), pouco se sabe sobre o desenvolvimento de tais sintomas nos pais2,3,7. Estudos recentes relatam que teriam relação com diversos fatores biológicos (principalmente uma desregulação hormonal que ocorreria nos homens entre os últimos meses da gravidez da parceira e o primeiro ano do período pós-parto) e ambientais, como complicações da relação conjugal e dificuldade de formar uma ligação afetiva com o filho6. Não é infrequente que o homem demonstre mais dificuldade na formação do vínculo afetivo com o filho, comparado com a mulher, que tipicamente é socializada de forma a aprender a lidar com crianças e, além disso, apresenta taxas elevadas de ocitocina, hormônio reconhecidamente associado com a formação do vínculo mãe-criança. Há, também, a falta Correspondência Olga Garcia Falceto Rua Ramiro Barcelos, 2350 CEP: 90035-003 Porto Alegre (RS), Brasil Recebido 02/04/2012 Aceito com modificações 29/05/2012 Trabalho realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre (RS), Brasil. Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre (RS), Brasil. 2 Grupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre (RS), Brasil. 3 Psiquiatra da Infância e Adolescência – Porto Alegre (RS), Brasil. Conflito de interesses: não há. 1 Falceto OG, Fernandes CL, Kerber SR de um modelo a seguir, já que os homens acabam por não passar aos filhos conhecimentos sobre o que fazer para ser um bom pai. Esse fato está associado com uma maior ansiedade frente à difícil tarefa de cuidar de um recém-nascido. No âmbito conjugal, há potenciais complicações, como o ciúme pela dominância do papel materno na nova relação familiar e a relativa exclusão do homem da dupla mãe-filho. É também frequente que haja uma diminuição temporária do interesse sexual da parceira. O estresse da paternidade pode ser ainda complicado devido às diferenças nas tarefas destinadas a cada gênero, com a ênfase no papel do homem como provedor. No período pós-parto, aumentam as preocupações financeiras e, consequentemente, a dedicação do homem ao trabalho, o que pode diminuir ainda mais o tempo destinado ao relacionamento pai-filho. O medo de falhar nas tarefas de provedor, apoiador emocional e parceiro romântico está relacionado ao estresse psicológico paterno, levando, em muitos casos, ao desenvolvimento de sintomas depressivos. Também pode ocorrer que a criança acabe contribuindo com o problema: a falta de experiência e o menor tempo de convivência com a criança (comparado com a mãe) podem tornar suas interações menos interessantes para o filho, tendendo esse a dar-lhe um menor número de retribuições (como sorrisos e vocalizações), aumentando o estresse paterno ao longo do primeiro ano pós-parto5. Um ponto importante a ser destacado é a forte associação entre a DPP paterna e a materna2,3,5. Nosso grupo identificou essa correlação em 70% dos casos de transtorno emocional materno4. Tanto a prevalência, quanto a severidade da DPP paterna aumentam de acordo com a severidade da depressão de sua parceira3. Ainda é obscura, porém, qual a relação entre a DPP na mulher e no homem6,7, ainda que, estudando a mãe, nosso grupo tenha demonstrado associação significativa especificamente com a qualidade da relação conjugal7. A sinergia entre os sintomas depressivos da mãe e do pai pode se dar pelo estado psicológico de um dos parceiros, que acaba influenciando o do outro, seja diretamente por questões afetivas, ou indiretamente pelas consequências das rotinas diárias serem alteradas pelos problemas vivenciados. Como o homem geralmente conta prioritariamente com o apoio emocional da companheira, quando sente uma diminuição de sua atenção, seja pela alteração de seu humor, excesso de tarefas, falta de repouso e aumento dos conflitos do casal, passa a desenvolver uma atitude mais introspectiva, afasta-se da companheira e tem dificuldades no desempenho do papel paterno e em outras áreas da vida, podendo desenvolver sintomas de depressão5,7. A alta prevalência de DPP paterna tem grandes implicações também sobre o bem-estar da criança. Mães e pais com DPP demonstram menos evidências de apego emocional a seus bebês e capacidade de estimular o seu desenvolvimento. Se ambos os pais experimentarem sintomas depressivos durante o período pós-parto, a interação entre a depressão da mãe e do pai pode acarretar um risco ainda maior para o desenvolvimento da criança2. Além disso, a DPP, quando persistente, pode favorecer a ocorrência de situações de negligência e abuso infantil6. Tradicionalmente, na cultura brasileira, espera-se do pai apenas que seja provedor e ofereça apoio a sua parceira nos cuidados com o bebê, os quais seriam da esfera de responsabilidades da mãe (junto com as tarefas domésticas). Mudanças socioculturais, como a entrada da mulher no mercado de trabalho e o desenvolvimento de papéis mais equitativos para mulheres e homens na família, vêm modificando essa situação. Estudo de nosso grupo evidenciou que 33% dos pais que coabitavam com a mãe do bebê de 4 meses não participavam ativamente dos cuidados desse5. O estudo dos fatores demográficos e relacionais demonstrou associação significativa entre o envolvimento do pai nos cuidados do lactente apenas com a má qualidade da relação conjugal e com o fato da esposa não trabalhar fora do lar, o que amplia o que foi discutido. Não houve evidência de menor envolvimento se o pai estava deprimido, o que, a nosso ver, demonstra a importância do papel de pai (preservando-o mesmo na vigência de problemas emocionais) no ciclo de vida do homem e a necessidade de mais pesquisa sobre o assunto7. Para facilitar o processo de transição do homem de filho para pai, diferentes tipos de apoio fazem-se necessários. Já foi dito que o apoio mais efetivo para os homens geralmente vem de suas parceiras, mas programas educacionais na comunidade também podem ser importante forma de suporte, já que é comum a falta de uma rede social compreensiva e apoiadora para os novos pais. Pouco se estudou também o papel da família extensa nesse processo, levando em conta que há uma necessidade de mudança social para apoiar o ‘novo’ pai. Por exemplo, programas de apoio na área da saúde para evitar o desenvolvimento da DPP são tradicionalmente voltados apenas para as mães. Quando são voltados para o casal, os homens tendem a não participar (assim como ocorre na maioria das ações de saúde). Isso se deve, em grande parte, à falta de informação dos homens sobre a necessidade desse apoio. Há relatos na literatura de programas em que, quando o pai era informado da importância e convidado a participar diretamente, e não por meio da esposa, o índice de aceitação era maior7. Até o momento, a DPP paterna só foi estudada por um pequeno número de pesquisadores7-9 e, predominantemente, em países desenvolvidos. Está na hora de termos mais estudos brasileiros que ajudarão a responder muitas questões, inclusive achados contraditórios sobre o impacto do transtorno mental na família. Sabe-se que a relação mãe-filho saudável está associada com o bom desenvolvimento físico e mental da criança, mas pouco se sabe sobre essa associação 294 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):293-5 Alerta sobre a depressão pós-parto paterna com a relação pai-filho. Em nossa coorte, identificamos que já aos 4 meses havia problemas persistentes na relação de 9,5% das duplas mãe-filho e de 12% das duplas pai-filho. Para a mãe, esse achado estava significativamente relacionado com transtorno mental do pai, rede social pobre e também interrupção precoce do aleitamento (mas não com presença de transtorno mental materno). Para o pai, estava associado com relação conjugal problemática e baixo peso do bebê ao nascer, mas não com presença de transtorno mental nele10. Todos esses fatores associados são passíveis de intervenção de profissionais da saúde com potencial de boa resolutividade, em especial o tratamento dos transtornos mentais e das relações conjugais problemáticas11,12. É sabido que há consequências em longo prazo para o filho quando a relação pai-filho é conflituosa ou distante. Entre outras, pode-se citar a maior prevalência de transtornos de comportamento e maior possibilidade de envolvimento com drogas na adolescência13. Portanto, uma mudança na forma com que os serviços de saúde prestam assistência ao início da formação da família e da construção do papel de pai poderá ter grande impacto para melhorar a vida dos indivíduos, famílias e comunidades. Esperamos ter demonstrado que é necessária uma maior conscientização dos profissionais da área da saúde sobre os transtornos mentais do pai no pós-parto, devido a sua relevante prevalência, assim como sua associação com outros problemas. Deve-se buscar, desde o período pré-natal, uma integração entre profissionais de diversas especialidades (gineco-obstetras, pediatras, médicos de família e comunidade, clínicos, psiquiatras, psicólogos) para o acompanhamento não só da dupla mãe-criança, mas sim do casal e seu filho. Recomendamos, portanto, que o pai seja incluído no maior número de consultas peri-natais possível. Agradecimento À Vítor Rocco Torrez – Graduando em Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Referências 1. Buchabqui JA, Abeche AM, Nickel C. Assistência pré-natal. In: Freitas F, Martins-Costa SH, Ramos JGL, Magalhães JA, organizadores. Rotinas em obstetrícia. 6a ed. Porto Alegre: Artmed; 2011. p. 23-45. 2. Goodman JH. Paternal postpartum depression, its relationship to maternal postpartum depression, and implications for family health. J Adv Nurs. 2004;45(1):26-35. 3. Pinheiro RT, Magalhães PV, Horta BL, Pinheiro KA, da Silva RA, Pinto RH. Is paternal postpartum depression associated with maternal postpartum depression? Population-based study in Brazil. Acta Psychiatr Scand. 2006;113(3):230-2. 4. Falceto OG, Giugliani ER, Fernandes CL. Influence of parental mental health on early termination of breast-feeding: a case-control study. J Am Board Fam Pract. 2004;17(3):173-83. 5. Kerber SR, Falceto OG, Fernandes CLC. Problemas conjugais e outros fatores associados a transtornos psiquiátricos do pós-parto. Rev Bras Ginecol Obstet. 2011;33(6):281-7. 6. Kim P, Swain JE. Sad dads: paternal postpartum depression. Psychiatry (Edgmont). 2007;4(2):35-47. 7. Morgan M, Matthey S, Barnett B, Richardson C. A group programme for postnatally distressed women and their partners. J Adv Nurs. 1997;26(5):913-20. 8. Areias ME, Kumar R, Barros H, Figueiredo E. Comparative incidence of depression in women and men, during pregnancy and after childbirth. Validation of the Edinburgh Postnatal Depression Scale in Portuguese mothers. Br J Psychiatry. 1996;169(1):30-5. 9. Matthey S, Barnett B. Parent-infant classes in the early postpartum period: need and participation by fathers and mothers. Infant Ment Health J. 1999;20(3):278-90. 10.Falceto OG, Giugliani ERJ, Fernandes CLC. Problematic parent-infant relationships in two-parent families: prevalence and risk factors in a Brazilian neighborhood. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul. No prelo 2011. 11. Hollist CS, Miller RB, Falceto OG, Fernandes CL. Marital satisfaction and depression: a replication of the Marital Discord Model in a Latino sample. Fam Process. 2007;46(4):485-98. 12. Waldemar JOC. Terapia de casal. In: Cordioli AV, organizador. Psicoterapias: abordagens atuais. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2007. p. 246-62. 13. Ramos SP. What can we learn from psychoanalysis and prospective studies about chemically dependent patients? Int J Psychoanal. 2004;85(Pt 2): 467-87. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):293-5 295 Líbera Helena Ribeiro Fagundes de Souza1 Maria Célia dos Santos2 Luiz Carlos Marques de Oliveira3 Padrão do consumo de álcool em gestantes atendidas em um hospital público universitário e fatores de risco associados Alcohol use pattern in pregnant women cared for in a public university hospital and associated risk factors Artigo Original Resumo Palavras-chave Bebidas alcoólicas Alcoolismo Fatores de risco Gravidez Gestantes Cuidado pré-natal Epidemiologia Keywords Alcoholic beverages Alcoholism Risk factors Pregnancy Pregnant women Prenatal care Epidemiology OBJETIVO: Verificar em puérperas internadas em um hospital universitário da região Sudeste do Brasil o padrão de consumo alcoólico antes e durante a gravidez, e fatores de risco associados a esse uso. MÉTODOS: Foram incluídas, consecutivamente, 493 puérperas entre junho e setembro de 2009. Foram excluídas puérperas com deficiência cognitiva. Para diagnosticar uso/abuso do álcool antes da gestação foram utilizados os questionários AUDIT e CAGE e, para o consumo durante a gravidez, também o T-ACE. Outro questionário foi aplicado para coleta de dados sociodemográficos, tais como, idade, escolaridade, situação conjugal e renda familiar. Para análise estatística foi utilizado o teste do χ2 e calculou-se Odds Ratio (OR) e intervalo de confiança de 95% (IC95%). Valor p<0,05 foi considerado significante. RESULTADOS: Antes da gravidez, o CAGE foi positivo para 50/405 mulheres (12,3%) e o AUDIT identificou consumo alcoólico em 331 (67,1%), sendo de baixo risco em 233 (47,3%), de risco em 73 (14,8%) e nocivo ou provável dependência em 25 (5%). Durante a gravidez, o CAGE foi positivo para 53/405 gestantes (13,1%), o T-ACE em 84 (17%) e o AUDIT identificou uso do álcool por 114, sendo de baixo risco em 73 (14,8%), de risco em 27 (5,5%) e nocivo ou provável dependência em 14 (2,8%). O consumo de álcool foi mais frequente entre gestantes com menor escolaridade (8,8 versus 3,3%) (OR=2,8; IC95% 1,2–6,2) e mais frequente entre as que não coabitavam com companheiro (6 versus 1,7%) (OR=3,8; IC95% 1,3–11,1). Entre as gestantes que beberam, 49/114 (43%) foram aconselhadas à abstinência. CONCLUSÕES: Verificou-se preocupante consumo alcoólico durante a gestação, principalmente entre as gestantes com menor escolaridade ou que não conviviam com companheiro. Houve baixa frequência de aconselhamento visando à abstinência e o AUDIT foi o instrumento que mais frequentemente diagnosticou o uso do álcool. Abstract PURPOSE: To determine the pattern of alcohol use before and during pregnancy and associated risk factors in puerperal women hospitalized in a public university hospital in Southeastern Brazil. METHODS: Between June and September 2009, 493 puerperae were consecutively evaluated. Those with cognitive impairment were excluded from the study. The AUDIT and CAGE questionnaires were used to diagnose alcohol use/abuse before pregnancy, in addition to the T-ACE during pregnancy. Another questionnaire was applied to collect sociodemographic data, such as age, educational level, marital status, and household income. The χ2 test was used in the statistical analysis and the Odds Ratio (OR) and 95% confidence interval (95%CI) were calculated. A p-value <0.05 was considered to be significant. RESULTS: Before pregnancy, the CAGE was positive in 50/405 (12.3%) women and the AUDIT identified alcohol use in 331 (67.1%), which was of low risk in 233 (47.3%), risky in 73 (14.8%), and harmful or indicating possible alcohol dependence in 25 (5%). During pregnancy, the CAGE was positive in 53/405 (13.1%) women and the T-ACE in 84 (17%); the AUDIT identified alcohol use in 114 women, which was of low risk in 73 (14.8%), risky in 27 (5.5%), and harmful or indicating possible alcohol dependence in 14 (2.8%). During pregnancy, alcohol use was more frequent (OR=2.8; 95%CI 1.2–6.2) among women with a lower educational level (8.8 versus 3.3%) and more frequent (OR=3.8; 95%CI 1.3–11.1) among those who did not cohabit with a partner (6 versus 1.7%). Among pregnant women who drank alcohol, 49/114 (43%) were advised to stop drinking. CONCLUSIONS: Alarming alcohol use was observed during pregnancy, especially among pregnant women with a lower educational level and those who did not cohabit with a partner. There was a low frequency of counseling aimed at abstinence and the AUDIT was the instrument that most frequently diagnosed alcohol consumption. Correspondência Luiz Carlos Marques de Oliveira Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia Avenida Pará, 1.720, Bloco 2H CEP: 38405-320 Uberlândia (MG), Brasil Recebido 26/04/2012 Aceito com modificações 28/05/2012 Trabalho realizado na pós-graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Uberlândia (MG), Brasil. 1 Área Materno-infantil do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Presidente Antônio Carlos – Araguari (MG), Brasil. 2 Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Uberlândia (MG), Brasil. 3 Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Uberlândia (MG), Brasil. Conflito de interesses: não há. Padrão do consumo de álcool em gestantes atendidas em um hospital público universitário e fatores de risco associados Introdução Métodos O consumo de bebidas alcoólicas constitui um importante problema de saúde pública mundial. Na gestação tal consumo ganha maior importância, pois a ingestão alcoólica pode levar ao comprometimento tanto da saúde materna quanto do feto. Na gravidez, o álcool pode levar ao abortamento, descolamento prematuro da placenta, hipertonia uterina, trabalho de parto prematuro e aumento do o risco de infecções1. Em relação ao feto, o consumo materno associa-se à deficiência de crescimento pré e pós-natal, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, microcefalia, disfunção motora fina e dismorfismo facial, além de fenda palatina e anomalias cardíacas. O efeito tardio se manifesta por mudanças na capacidade intelectual, de aprendizagem, atenção e comportamento2. Estudos recentes3-5 mostram que não existe uma quantidade de consumo alcoólico que possa ser considerada segura durante a gravidez, e que as mulheres deveriam ser aconselhadas à abstinência alcoólica desde a concepção e durante todo o período de gravidez. As estimativas de consumo de bebida alcoólica durante o período gestacional variam entre diferentes países. No Brasil, em um estudo realizado em seis capitais de estados da federação, nos quais se avaliou gestantes atendidas em hospitais públicos, verificou-se que 34,4% delas consumiam bebidas alcoólicas6. Estas frequências foram estimadas em 12% nos Estados Unidos7 e na Suécia8, 52% na França9, 59% na Austrália10 e 60% na Rússia11. As diferenças constatadas entre países podem se dever aos programas nacionais de prevenção de etilismo na gestação e a fatores demográficos, culturais, raciais e socioeconômicos9, ou ainda, como resultado dos diferentes instrumentos utilizados para se rastrear o uso do álcool. Também se tem observado que o consumo de bebidas alcoólicas vem se tornando cada vez mais frequente entre as mulheres12. Em decorrência desses fatos, a necessidade da realização de estudos visando se conhecer os fatores de risco para o consumo alcoólico entre as mulheres, particularmente durante a gestação é evidente. Esse conhecimento possibilitaria traçar estratégias para abordagens de rotina em relação ao diagnóstico do uso do álcool, ao aconselhamento para abstinência desde o momento em que se planeja a concepção até o período de amamentação, além da capacitação dos profissionais de saúde para tais abordagens. O objetivo do presente estudo foi estimar o padrão de consumo de bebidas alcoólicas antes e após o reconhecimento da gravidez em puérperas internadas em um hospital público universitário da região Sudeste do Brasil, e identificar fatores sociodemográficos associados ao risco de se utilizar tais bebidas. Este estudo transversal foi realizado em Uberlândia, estado de Minas Gerais, região Sudeste do Brasil, distante 556 quilômetros da capital, Belo Horizonte. Sua população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 634.345 habitantes no ano de 2009. O projeto foi desenvolvido na Enfermaria de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), que é um complexo hospitalar público universitário, que atende pacientes do município e região, conveniado em 100% de seus atendimentos ao Sistema Único de Saúde (SUS). Foram incluídas, consecutivamente, puérperas que estavam no período de 12 a 24 horas após o parto. Inicialmente foi realizado um estudo piloto, durante 15 dias, para treinamento das investigadoras e padronizações na abordagem e na aplicação dos questionários utilizados neste estudo. Nessa fase, os pesquisadores abordaram em grupo cada puérpera. Posteriormente, as entrevistas individuais e em ambiente reservado foram realizadas diariamente pelas investigadoras no período de 22 de junho a 30 de setembro de 2009. Utilizou-se um instrumento estruturado para coleta de dados referentes às condições sociodemográficas, tais como, idade, cor da pele autorreferida, escolaridade, conviver ou não com companheiro, renda familiar mensal em salários-mínimos e número de consultas pré-natais realizadas. Os resultados dos dados sociodemográficos foram utilizados para identificar possíveis fatores de risco para o consumo alcoólico para os períodos anterior e posterior ao reconhecimento da gravidez. Isso foi realizado associando-os aos resultados dos questionários utilizados neste estudo para diagnóstico de consumo alcoólico. Para detecção do uso ou abuso de bebidas alcoólicas utilizaram-se os questionários Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT)13, o Tolerance, Annoyed, Cut-down and Eye-opener (T-ACE)14 e o Cut-down, Annoyed by criticism, Guilty and Eye-opener (CAGE)15. As questões do AUDIT são pontuadas de 0 a 4 e avaliam o uso de álcool e problemas relacionados ao seu consumo nos últimos 12 meses. Esse instrumento classifica o entrevistado em uma de quatro zonas de risco, de acordo com o escore obtido: até 7 pontos, indica uso de baixo risco ou abstinência; de 8 a 15 pontos, uso de risco; de 16 a 19 pontos, sugere uso nocivo e pontuação igual ou maior que 20, provável dependência. Neste estudo, optou-se por separar o grupo de abstinentes, visto que para gestantes recomenda-se total abstinência. Inicialmente, a entrevista realizada referiu-se ao consumo alcoólico no trimestre anterior ao reconhecimento da gravidez e em seguida ao período gestacional. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):296-303 297 Souza LHRF, Santos MC, Oliveira LCM O questionário T-ACE é composto por quatro questões, cuja pontuação varia de zero a dois pontos para a primeira questão e de zero a um ponto da segunda à quarta, estabelecendo-se pontuação total para o questionário que pode variar de zero a cinco pontos; resultado igual ou maior que dois é considerado positivo. O questionário CAGE é um instrumento utilizado para diagnóstico de abuso crônico do álcool ou provável dependência. Constitui-se de quatro perguntas com respostas objetivas, sim ou não, e é considerado positivo se houver duas ou mais respostas afirmativas. Primeiramente, este teste foi respondido pelas gestantes para o período anterior ao reconhecimento da gravidez e, em seguida, para o gestacional. As puérperas também foram questionadas sobre o uso de outras drogas além do álcool durante a gravidez. Não foram incluídas no estudo, 2 puérperas com deficiência cognitiva evidente, 6 que se recusaram em responder os questionários e 3 que tinham menos de 18 anos e não foi possível obter o consentimento dos pais ou responsável. Para os cálculos estatísticos, utilizou-se a análise univariada para se avaliar a relação entre as diferentes faixas etárias, o nível de escolaridade (≤ ensino fundamental ou ≥ ensino médio, completos ou incompletos), o fato de coabitar ou não com companheiro, a renda familiar (≤3 ou >3 salários-mínimos) e o número de consultas de pré-natal em relação aos resultados dos questionários AUDIT, CAGE ou T-ACE. Para esse fim, aplicou-se o teste do χ2, exceto quando o número de eventos era muito pequeno, e nestes casos utilizou-se o teste exato de Fischer. Quando esses testes mostravam significância estatística, foi calculado a Odds Ratio (OR) e o intervalo de confiança de 95%. Valor p<0,05 foi considerado significante. De cada puérpera ou de seu responsável foi obtido o consentimento por escrito para sua participação. O projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Institucional, (Parecer nº 214/09), e a pesquisa foi conduzida dentro dos padrões exigidos pela Declaração de Helsinque. Resultados Entre as 493 puérperas incluídas, predominaram as que estavam na faixa etária de 18 a 29 anos (72%), as que tinham ensino médio ou superior, completo ou incompleto (60,6%), as que coabitavam com companheiro (73%) e aquelas com renda mensal de até 3 salários-mínimos (86,4%) (Tabela 1). Entre todas, 322 (65,3%) eram brancas, 117 (23,7%) pardas, 51 (10,3%) negras e 3 (0,6%) amarelas. No trimestre anterior ao reconhecimento da gravidez, identificou-se pelo AUDIT que 331 (67,1%) mulheres consumiram bebidas alcoólicas; 233 (47,3%) 298 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):296-303 faziam consumo de baixo risco, 73 (14,8%) de risco e 25 (5,1%) uso nocivo ou eram prováveis dependentes. Consumo de baixo risco foi mais frequente (OR=1,6; IC95% 1,1–2,2) entre aquelas com escolaridade equivalente ao ensino médio ou superior — 154 (51,5%) versus 79 (40,7%). Consumo nocivo ou provável dependência foi mais frequente (OR=2,6; IC95% 1,2–6,0) entre as mulheres que não coabitavam com companheiro — 12 (9,0%) versus 13 (3,6%). As frequências de uso de baixo risco, de risco ou nocivo/provável dependência, respectivamente, foram semelhantes entre as mulheres na faixa etária de 14 a 17 anos [19 (41,3%); 6 (13%); 1 (2,2%)], de 18 a 24 anos [117 (52,7%); 38 (17,1%); 11 (5,0%)], de 25 a 29 anos [55 (41,4%); 16 (12,0%); 10 (7,5%)], de 30 a 34 anos [25 (42,4%); 11 (18,6%); 1 (1,7%)] e ≥35 anos [17 (51,5%); 2 (6,1%); 2 (6,1%)]; e entre aquelas com renda familiar ≤3 salários-mínimos [199 (46,7%); 64 (15,0%); 22 (5,2%)] ou >3 salários-mínimos [34 (50,7%); 9 (13,4); 3 (4,5%)]. As frequências de uso de baixo risco e de risco, respectivamente, foram semelhantes entre as mulheres que coabitavam [170 (47,2%); 48 (13,3%)] ou não [63 (47,4%); 25 (18,8%)] com companheiro. O consumo de risco e o consumo nocivo/provável dependência, respectivamente, foram semelhantes entre as mulheres com escolaridades ≤ ensino fundamental [32 (16,5%); 14 (7,2%)] ou com ensino médio ou superior [41 (13,7%); 11 (3,6%)]. Para o período gestacional foram identificadas, pelo questionário AUDIT, 114 (23,1%) gestantes que consumiram bebidas alcoólicas em algum momento após a confirmação da gravidez. Uso de risco foi mais frequente (OR=2,8; IC95% 1,2–6,2) entre gestantes com escolaridade até o ensino fundamental (8,8 versus 3,3%). Uso nocivo ou provável dependência foi mais frequente (OR=3,8; IC95% 1,3–11,1) entre as gestantes que não coabitavam com companheiro (6,0 versus 1,7%). Não houve outras diferenças significantes entre os padrões de ingestão alcoólica e as outras variáveis sociodemográficas estudadas (Tabela 1). Analisando-se cada item do questionário AUDIT, observou-se que entre as gestantes que consumiram álcool, 49 (43%) relataram beber de 2 a 4 vezes por mês, 18 (15,8%) de 2 a 3 vezes por semana e 7 (6,1%) quase diariamente durante todo o período gestacional. Sobre a quantidade do consumo de álcool em uma ocasião típica, 10 (8,8%) gestantes referiram beber de 5 a 6 doses, 5 (4,4%) de 7 a 9 e 10 (8,8%), 10 ou mais doses, totalizando 25 (22%) gestantes que relataram episódio de binge drinking ou abuso agudo de bebidas alcoólicas (5 ou mais doses em uma ocasião). Durante a gravidez, 13 (11,4%) gestantes tiveram a percepção de não conseguir parar de beber uma vez que tivessem iniciado, sendo que para 4 (3,5%) delas isso ocorreu menos que mensalmente, para 4 (3,5%) mensalmente, Padrão do consumo de álcool em gestantes atendidas em um hospital público universitário e fatores de risco associados Tabela 1. Frequências dos resultados obtidos pelo questionário Alcoohol Use Disorders Identification Test entre as puérperas atendidas em um hospital público universitário, após o reconhecimento da gravidez, em relação aos dados sociodemográficos (n=493) Classificação do Questionário AUDIT Abstinência Baixo risco n Risco n % % 14–18 43 93,5 2 18–25 156 70,3 43 25–30 110 82,7 13 9,8 30–35 43 72,9 11 18,6 ≥35 27 81,8 4 12,1 0 ≤Fundamental 141 72,7 28 14,4 17 ≥Médio 238 79,6 45 15 10 Sim 286 79,4 48 13,3 Não 93 69,9 25 18,8 Nocivo/PD Total n % n % n % 4,3 1 2,2 0 - 46 19,4 17 7,6 6 2,7 222 45 4 3 6 4,5 133 27 5 8,5 0 - 59 12 2 6,1 33 6,7 8,8 8 4,1 194 39,4 3,3 6 2 299 60,6 20 5,6 6 1,7 360 73 7 5,3 8 6 133 27 2,8 426 86,4 Faixa etária (anos) 9,3 Escolaridade Coabitar com companheiro Renda familiar* ≤3 328 77 62 14,6 24 5,6 12 >3 51 76,1 11 16,4 3 4,5 2 Total 379 76,9 73 14,8 27 5,5 14 3 2,8 67 493 13,6 100 AUDIT: Alcoohol Use Disorders Identification Test; n (%): número e porcentagem de pacientes; PD: provável dependência; *em salários-mínimos. 3 (2,6%) semanalmente e 2 (1,8%) quase diariamente. Observou-se ainda que 11 (9,6%) deixaram de fazer alguma atividade habitual durante a gravidez devido ao consumo de álcool, e 8 (7,1%) disseram precisar beber pela manhã para recuperar-se de uma bebedeira anterior. Entre as puérperas que beberam durante a gestação, 43 (37,7%) sentiam remorso depois de beber, sendo que para 17 (14,9%) delas isso ocorreu menos que mensalmente, 12 (10,5%) mensalmente, 10 (8,8%) semanalmente e 4 (3,5%) quase diariamente. Três (2,7%) disseram que não conseguiram se lembrar do que aconteceu na noite anterior pelo fato de ter bebido, isto ocorreu em uma (0,9%) mensalmente e em duas (1,8%) gestantes semanalmente. Em decorrência da ingestão alcoólica, sete (6,1%) relataram ter ferido alguém ou ter sido ferida. Somente 49 (43%) foram criticadas pelo consumo de álcool durante a gravidez ou foram orientadas a interromper a ingestão alcoólica. O questionário CAGE foi aplicado, consecutivamente, para as 405 últimas puérperas avaliadas. Para o período anterior à gravidez, ele foi positivo para 50 (12,3%) delas, sendo mais frequente (OR=2,2; IC95% 1,2–4,0) entre aquelas com escolaridade até o ensino fundamental (17,5 versus 8,8%) e mais frequente (OR=2,1; IC95% 1,1–3,8) entre as que não coabitavam com companheiro (18,6 versus 9,9%). Não houve diferença significante na frequência de CAGE positivo em relação às outras variáveis sociodemográficas avaliadas. Para o período gestacional, o questionário CAGE foi positivo para 53 (13,1%) gestantes, sendo estes resultados mais frequentes (OR=2,1; IC95% 1,2–3,7) entre aquelas com nível de escolaridade até o ensino fundamental (18,1 versus 9,6%) e mais frequente (OR=2,0; IC95% 1,1–3,7) entre as que não coabitavam com companheiro (19,5 versus 10,6%). Não houve diferença significante nas frequências de CAGE positivo em relação à cor da pele ou renda familiar (Tabela 2). Entre as 50 puérperas com CAGE positivo para o período anterior ao diagnóstico de gravidez, 30 continuaram a ter CAGE positivo após esse diagnóstico; outras 23 que tinham CAGE negativo responderam positivamente a esse questionário para o período gestacional. Resultados positivos para o questionário T-ACE foi verificado em 84 (17%) gestantes e foi mais frequente (OR=1,9; IC95% 1,2–3,0) entre aquelas com escolaridade até o ensino fundamental (22,7 versus 13,4%). Não houve diferenças significantes em relação às faixas etárias, cor da pele, conviver ou não com companheiro ou renda familiar (Tabela 2). Todas as gestantes que, pelo AUDIT, foram identificadas como consumidoras de alto risco ou de serem prováveis dependentes também tiveram T-ACE e CAGE positivos; das que foram diagnosticadas com consumo de risco, 96,3% (26/27) tiveram T-ACE positivo e 86,9% (20/23) tiveram CAGE positivo, entre aquelas com consumo de baixo risco, 28,8% (15/52) tiveram CAGE positivo e 58,9% (43/73) tiveram T-ACE positivo, e entre as gestantes diagnosticadas como abstinentes pelo AUDIT, 1,9% (6/318) tiveram CAGE positivo e 0,3% (1/379), T-ACE positivo. Após o diagnóstico da gravidez, houve diminuição nos padrões de consumo alcoólico e aumento no Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):296-303 299 Souza LHRF, Santos MC, Oliveira LCM número de gestantes abstinentes independentemente do número de consultas pré-natais. No entanto, entre todas as gestantes, 41 (8,3%) continuaram fazendo consumo considerado de risco, nocivo ou eram prováveis dependentes (Tabela 3). CAGE positivo foi mais frequente (OR=3,8; IC95% 1,6–9,0) entre gestantes que fizeram três ou menos consultas de pré-natal (9/27; 33,3%) do que entre as que fizeram quatro ou mais consultas (44/378; 11,6%). Durante a gravidez, 90 (18,6%) de 485 puérperas fizeram consumo de outras drogas que não o álcool, entre elas, o tabaco foi consumido por 89 (18,4%), o crack por 15 (3,1%), maconha por 6 (1,2%) e cocaína por 3 (0,6%). Tabela 2. Distribuição das puérperas atendidas em um hospital público universitário de acordo com os resultados dos questionários Cut-down, Annoyed by criticism, Guilty and Eye-opener, antes ou após o reconhecimento da gravidez, e Tolerance, Annoyed, Cut – down and Eye-opener em relação aos seus dados sociodemográficos CAGE positivo T-ACE positivo AG DG n % DG n % n % ‑ 2/46 4,3 Faixa etária (anos) 14–18 4/39 10,2 0/39 18–25 20/174 11,5 30/174 17,2 48/222 21,6 25–30 13/111 11,7 12/111 10,8 16/133 12 30–35 7/48 14,6 7/48 14,6 13/59 22 ≥35 6/33 18,2 4/33 12,1 5/33 15,2 Branca 35/270 13,0 33/270 12,2 52/322 16,1 Parda 8/88 9,1 12/88 13,6 19/117 16,2 Negra 6/45 13,3 7/45 15,6 12/51 23,5 Amarela 1/2 50,0 1/2 50,0 1/3 33,3 ≤Fundamental 29/166 17,5 30/166 18,1 44/194 22,7 ≥Médio 21/239 8,8 23/239 9,6 40/299 13,4 Cor Escolaridade Coabitar com companheiro Sim 29/292 9,9 31/292 10,6 54/360 15,0 Não 21/113 18,6 22/113 19,5 30/133 22,6 ≤3 47/354 13,3 46/354 13,0 74/426 17,4 >3 3/51 5,9 4/51 13,7 10/67 14,9 50/405 12,3 53/405 13,1 84/493 17,0 Renda familiar* Total CAGE: Cut-down, Annoyed by criticism, Guilty and Eye-opener; T-ACE: Tolerance, Annoyed, Cut – down and Eye-opener; n (%) número e porcentagem de pacientes; AG: trimestre anterior ao reconhecimento da gravidez; DG: depois do reconhecimento da gravidez; *em salários-mínimos. Tabela 3. Distribuição das puérperas atendidas em um hospital público universitário de acordo com os resultados do questionário Use Disorders Identification Test, antes ou após o diagnóstico de gravidez em relação ao número de consultas de pré-natal (n=493) Classificação pelo questionário AUDIT Número de consultas de pré-natal Abstinência n 0 1–3 4–6 ≥7 Total % Baixo risco n % Risco n Nocivo/PD % n Total % n % 10 2,0 20 4,0 141 28,6 322 65,3 AG 1 10,0 7 70 0 ‑ 2 20,0 DG 4 40,0 5 50 0 ‑ 1 10,0 AG 2 10,0 11 55 1 5,0 6 30,0 DG 10 50,0 3 15 3 15,0 4 20,0 AG 53 37,6 53 37,6 29 20,6 6 4,2 DG 104 73,8 20 14,2 12 8,5 5 3,5 50,3 43 13,4 11 3,4 14 12 3,7 4 1,2 AG 106 32,9 162 DG 261 81,0 45 AG 162 32,9 233 47,3 73 14,8 25 5,0 DG 379 76,9 73 14,8 27 5,5 14 2,8 493 100 AUDIT: Alcoohol Use Disorders Identification Test; n (%): número e porcentagem de pacientes; AG: trimestre anterior ao reconhecimento da gravidez; DG: depois do reconhecimento da gravidez; PD: provável dependência. 300 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):296-303 Padrão do consumo de álcool em gestantes atendidas em um hospital público universitário e fatores de risco associados Discussão No presente estudo, a avaliação do consumo alcoólico pelo questionário AUDIT, para o trimestre anterior ao diagnóstico de gravidez, mostrou que um quinto das mulheres faziam uso de risco, nocivo ou eram prováveis dependentes. Essa frequência é maior do que aquela encontrada em mulheres não grávidas nas cidades de Juiz de Fora e Rio Pomba (MG) (12,7%)16. O consumo de baixo risco foi mais frequente entre mulheres com maior escolaridade, no entanto, resultados do AUDIT mostrando provável dependência ou CAGE positivo foram mais frequentes entre as mulheres com menor escolaridade e entre as que não coabitavam com companheiro. No estado de São Paulo também se observou, entre mulheres não grávidas, associação de consumo alcoólico abusivo com situações conjugais sem companheiro, no entanto, esse consumo associou-se com maior escolaridade17. Para o período gestacional, verificou-se pelo AUDIT que 23% das gestantes fizeram algum consumo de álcool. Entre todas as gestantes, o CAGE e T-ACE foram positivos para 13 e 17%, respectivamente. Em outros estudos realizados no Brasil, observou-se que as frequências de uso de álcool durante a gravidez variam de 7,4 a 40%18-21. Consumo alcoólico de risco, nocivo ou provável dependência e CAGE positivo foram mais frequentes entre gestantes com menores escolaridades e entre as que não coabitavam com companheiro. Entre as pacientes com T-ACE positivo, o único fator de risco identificado para o consumo alcoólico foi a menor escolaridade. Em outros estudos realizados no Brasil, observou-se que podem ser fatores de risco para o consumo alcoólico na gravidez não coabitar com companheiro, idade mais avançada, história de aborto prévio19,20, menor escolaridade, tabagismo ou uso de drogas ilícitas durante a gravidez19. Em um artigo de revisão22 baseado em estudos realizados em cinco continentes (nenhum realizado no Brasil), observou-se que os preditores mais consistentes de uso de álcool na gravidez foram o consumo de álcool antes da gravidez e ter sido abusada ou exposta a violência; fatores menos consistentes foram baixos níveis sociais ou salariais. Desemprego, situação conjugal e nível de educação foram infrequentemente preditivos do uso de álcool durante a gestação. No presente estudo, houve relatos de puérperas que foram feridas ou feriram alguém em decorrência da ingestão alcoólica. Verificou-se que 22% das gestantes consumiam 5 ou mais doses em um dia típico (padrão binge de uso de álcool). Estudos recentes mostram que a ingestão alcoólica pela gestante em padrão binge, até mesmo menos de quatro vezes durante a gestação, está associada à redução do crescimento pré-natal (peso e perímetro cefálico) e diminuição da acuidade visual23, além de asfixia neonatal24. Dois terços das gestantes deixaram de beber após o reconhecimento da gravidez, frequência maior que as observadas na Espanha (54,3%)25 ou na Rússia (33%)11, mas é menor que na Suécia (77%)8. Menos da metade das gestantes que beberam durante a gravidez relataram terem sido criticadas ou orientadas a interromper a ingestão alcoólica. Isso mostra a necessidade de intensificar-se, durante as consultas de pré-natal, à busca pelo diagnóstico do uso do álcool para posterior aconselhamento. A gravidez pode estar associada com aumento da motivação para reduzir ou eliminar os comportamentos não saudáveis, incluindo o consumo alcoólico22,26, devido ao desejo de ter um filho saudável. Devido a estigmas sociais, a grávida pode relatar um consumo alcoólico menor ou negá-lo, a fim de contornar possível repreensão e desaprovação pelo profissional de saúde. Os profissionais de saúde que atendem as gestantes devem saber utilizar as ferramentas próprias para o diagnóstico de consumo alcoólico e reconhecer seus fatores de risco sem, no entanto, se prender a estereótipos. Além disso, a atenção ao modo de beber não deve ser negligenciada em qualquer período da vida reprodutiva da mulher. Em um estudo observou-se que mulheres que estavam tentando engravidar ou com chances de engravidar consumiam álcool nos mesmos padrões de mulheres que faziam contracepção ou que não eram sexualmente ativas27. Em outro, observou-se que 16% das gestantes consumiram álcool até a confirmação da gravidez, o que ocorreu quando elas já estavam em média com 9,6 semanas de gestação18. Desta forma, muitas mulheres quando descobrem que estão grávidas, estão consumindo álcool e expondo o seu concepto à substância e, por isso, o diagnóstico do seu uso e o aconselhamento visando à sensibilização para os seus efeitos nocivos para a saúde da mãe e do filho devem ser feitos para todas as mulheres em fase reprodutiva. Entre os três instrumentos utilizados neste estudo para o diagnóstico de consumo alcoólico, o T-ACE e o CAGE têm sido mais adotados na prática diária por serem de fácil e rápida aplicação. Em um estudo para avaliar a versão brasileira do T-ACE observou-se que ele preenche adequadamente os critérios de desempenho como instrumento básico para rastreamento de consumo alcoólico durante a gravidez14. No entanto, no presente estudo, dos três questionários, o AUDIT foi o que mais frequentemente diagnosticou uso/abuso do álcool, pois consegue rastrear todos os níveis de consumo. Os questionários CAGE e T-ACE diagnosticam principalmente o uso abusivo ou provável dependência do álcool. Chamou a atenção a alta frequência com que esses dois questionários foram positivos entre as gestantes que, pelo questionário AUDIT, foram classificadas como consumidoras de baixo risco. Isso provavelmente se deve Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):296-303 301 Souza LHRF, Santos MC, Oliveira LCM ao fato de que as gestantes sabendo que não deveriam beber respondem positivamente a algumas questões daqueles questionários, tais como, ter sido incomodada ou criticada por ter bebido ou que deveriam diminuir o consumo alcoólico, mesmo tendo ingerido pequenas quantidades e poucas vezes. Comprova esse raciocínio o fato de 23 gestantes que responderam negativamente ao CAGE para o período anterior ao diagnóstico de gravidez, terem respondido positivamente para o período gestacional. Por isso, os questionários CAGE e T-ACE deveriam ser interpretados com cautela em gestantes antes de classificá-las como usuárias abusivas ou dependentes. No entanto, isso não os invalida na triagem do uso do álcool por gestantes. Em conclusão, verificou-se que cerca de dois terços das mulheres avaliadas consumiam álcool antes do reconhecimento da gravidez, ou seja, elas provavelmente estavam bebendo quando já estavam grávidas. Entre elas, aproximadamente dois terços deixaram de beber após o diagnóstico de gravidez. O consumo de bebida alcoólica foi mais frequente entre gestantes com menor escolaridade e entre as que não coabitavam com companheiro; não se encontrou relação de consumo alcoólico com a faixa etária, cor da pele ou renda familiar. O questionário AUDIT foi o instrumento que mais frequentemente diagnosticou uso de álcool entre gestantes; os questionários CAGE e T-ACE podem ter resultados positivos mesmo entre aquelas que não necessariamente fazem uso considerado abusivo para a população geral ou que sejam dependentes. Esses resultados mostram a necessidade de maior conscientização das mulheres a respeito dos riscos de beber durante o período reprodutivo e também da necessidade de, durante as consultas de pré-natal, se detectar consumo alcoólico na gestação. Acredita-se que por se ter avaliado mulheres da população geral, os resultados deste estudo deve representar o que ocorre a nível nacional. Assim, é necessário traçar estratégias curriculares nos cursos de graduação, de especialização e de educação continuada dos profissionais de saúde que cuidam de mulheres para a importância de se diagnosticar o uso de drogas lícitas e ilícitas. Referências 1. Freire TM, Machado JC, Melo EV, Melo DG. [Effects of alcohol consumption during pregnancy]. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005;27(7):376-81. Portuguese. 11.Kristjanson AF, Wilsnack SC, Zvartau E, Tsoy M, Novikov B. Alcohol use in pregnant and nonpregnant Russian women. Alcohol Clin Exp Res. 2007;31(2):299-307. 2. Ornoy A, Ergaz Z. 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Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):296-303 303 Carla Vitola Gonçalves1 Raul Andres Mendoza-Sassi1 Juraci Almeida Cesar1 Natália Bolbadilha de Castro2 Ana Paula Bortolomedi2 Índice de massa corporal e ganho de peso gestacional como fatores preditores de complicações e do desfecho da gravidez Body mass index and gestational weight gain as factors predicting complications and pregnancy outcome Artigo Original Resumo Palavras-chave OBJETIVO: Avaliar o impacto do índice de massa corporal (IMC) no início da gestação e do ganho de peso no desfecho gestacional, para que esta medida possa ser implantada e valorizada pelos serviços de saúde de pré-natal. MÉTODO: Estudo transversal de base populacional. Na pesquisa, foram incluídos todos os nascimentos ocorridos nas duas únicas maternidades do município do Rio Grande (RS), em 2007. Dentre as 2.557 puérperas entrevistadas, o cálculo do IMC só pôde ser realizado em 1.117 puérperas. A análise foi realizada no programa Stata 11. Nos desfechos hipertensão, diabetes mellitus, trabalho de parto prematuro e cesárea foi realizada regressão logística. No caso do peso ao nascer, o ajuste ocorreu pela regressão logística multinomial, tendo como categoria base o grupo de 2.500 a 4.000 g. Em todas as análises foi adotado valor p<0,05 de um teste bicaudal. RESULTADOS: Não foi observado aumento do risco de hipertensão e diabetes nas pacientes dos diferentes grupos de IMC e ganho de peso. O risco de parto pré-termo foi evidenciado no grupo com ganho de peso ≤8 kg (p<0,05). Em relação à via de parto, observa-se uma tendência, quanto maiores o IMC no início da gestação e o ganho de peso durante a gestação, maior o risco de parto cirúrgico, chegando 11% no grupo de obesas (p=0,004) e a 12% no grupo com ganho ≥17 kg (p=0,001). O peso do recém-nascido foi influenciado pelo IMC e pelo ganho de peso, sendo que quanto maiores o IMC no início da gestação e o ganho de peso gestacional, maior o risco de macrossomia. CONCLUSÕES: O monitoramento do IMC e o ganho ponderal durante a gestação é procedimento de baixo custo e de grande utilidade para o estabelecimento de intervenções nutricionais visando à redução de riscos maternos e fetais. Cuidado pré-natal Índice de massa corporal Gravidez de alto risco Parto Peso ao nascer Keywords Prenatal care Body mass index Pregnancy, high-risk Parturition Birth weight Abstract PURPOSE: To evaluate the impact of body mass index (BMI) at the beginning of pregnancy and weight gain on pregnancy outcome so that this measure can be implemented and valued by prenatal care health services. METHOD: Crosssectional population-based study of all births in the only two hospitals in Rio Grande city (Brazil), in 2007. Among the 2,557 mothers interviewed, it was possible to calculate BMI in only 1,117. The Stata 11 software was used for data analysis. Logist regression was applied to the outomes involving diabetes mellitus, premature labor and cesarean section. Regarding birth weight, data were adjusted by multinomial logistic regression using as base category the group of 2,500 to 4,000 g. The level of significance was set at p-value <0.05 in a two-tailed test. RESULTS: There was no increased risk of hypertension or diabetes in patients in the different groups of BMI and weight gain. The risk of preterm delivery was evident in the group with a weight gain ≤8 kg (p<0.05). Regarding the route of delivery, it was observed that the higher the BMI in early pregnancy (p=0.001) and the greater the weight gain during pregnancy (p=0.004), the greater the risk of surgical delivery, which reached 11% in the group of obese mothers (p=0.004) and 12% in the group with a weight gain ≥17 kg (p=0.001). The weight of the newborns was influenced by BMI and weight gain, and the higher the BMI in early pregnancy and the gestational weight gain, the greater the risk of macrosomia. CONCLUSION: The monitoring of BMI and weight gain during pregnancy is a low cost and useful procedure for the establishment of nutritional interventions aimed at reducing maternal and fetal risks. Correspondência Carla Vitola Gonçalves Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande Rua General Osório, s/n – 4º andar – Centro CEP: 96201-900 Rio Grande (RS), Brasil Recebido 04/04/2012 Aceito com modificações 06/06/2012 Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Rio Grande (RS), Brasil. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Rio Grande (RS), Brasil. 2 Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Rio Grande (RS), Brasil. Conflito de interesses: não há. 1 Índice de massa corporal e ganho de peso gestacional como fatores preditores de complicações e do desfecho da gravidez Introdução A obesidade é um dos maiores problemas de saúde publica no mundo moderno, tanto em países desenvolvidos1-3 como nos em desenvolvimento1,4. Quando comparados aos indivíduos com peso normal, os com sobrepeso mostram maior risco de desenvolver diabetes mellitus (DM), dislipidemia e hipertensão arterial (HAS), condições que favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV)2,5. Em relação ao período gestacional, o maior risco para complicações são para as gestantes obesas, que estão suscetíveis a diabetes, hipertensão, parto cirúrgico, enquanto seus filhos são mais propensos a apresentarem macrossomia, riscos de malformação fetal e maior mortalidade perinatal6-17. No entanto o baixo peso materno também aumenta os riscos de desfechos desfavoráveis para a mãe e para o concepto, entre os quais pode ser citada a restrição de crescimento intrauterino e a prematuridade6,7,18,19. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)20, o monitoramento do ganho ponderal durante a gestação é um procedimento de baixo custo e de grande utilidade para o estabelecimento de intervenções nutricionais visando à redução de riscos maternos e fetais. A orientação nutricional pode proporcionar um ganho de peso adequado, prevenindo o ganho excessivo ou diagnosticando o ganho ponderal insuficiente. O Institute of Medicine dos Estados Unidos (IOM-EUA) reconhece o peso pré-gestacional como um dos principais determinantes do ganho ponderal, recomendando que o ganho de peso ideal seja avaliado em função do estado nutricional inicial da gestante, sendo este definido de acordo com as categorias de índice de massa corporal (IMC)21. O IMC vem sendo um importante instrumento na avaliação do estado nutricional de adultos. Esse índice é calculado pela divisão do valor da massa corporal em quilogramas pelo quadrado da estatura em metros (IMC=kg/m2). Apesar de haver algumas limitações quanto ao seu uso, o IMC é largamente utilizado por vários motivos: a alta correlação com a massa corporal e indicadores de composição corporal; a capacidade de predizer riscos de patologias; e tornar dispensável o uso de dados de referência antropométricos no diagnóstico do estado nutricional. Para isto é, utiliza-se um ponto de corte fixo ao invés de um valor de distribuição populacional (por exemplo, um indivíduo com IMC >30 apresenta um determinado risco relacionado à obesidade, ou seja, trata-se de um índice simples e conveniente, para o qual há muitos bancos de dados epidemiológicos disponíveis. De qualquer modo, tirando-se os extremos da magreza e excesso de peso, observados em alguns segmentos da população (atletas e/ou trabalhadores que desenvolvem grande massa muscular), o IMC parece válido como indicador do estado nutricional para a maioria dos indivíduos20. A OMS, o IOM, The Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada (SOCG) e o Ministério da Saúde do Brasil22 recomendam ganhos de peso diferenciados de acordo com o estado nutricional pré-gestacional9,20-22. Mulheres que apresentam baixo peso devem ter um ganho ponderal de 12,5 a 18,0 kg; gestantes de peso adequado de 11,5 a 16,0 kg; mulheres com sobrepeso de 7,0 a 11,0 kg; e gestantes obesas devem apresentar ganho menor ou igual a 7,0 kg. Como o estado nutricional pré-gestacional e o ganho ponderal têm implicação direta na saúde materna-infantil, objetivamos com este estudo avaliar o impacto do IMC pré-gestacional e do ganho de peso no desfecho gestacional, para que esta medida possa ser implantada e valorizada pelos serviços de saúde que realizem pré-natal. Métodos Este estudo foi realizado no município do Rio Grande que possui cerca de 200 mil habitantes e é localizado na planície costeira Sul do estado do Rio Grande do Sul. Sua economia é bastante diversificada e o seu produto interno bruto (PIB) per capita/ano é de aproximadamente R$ 19.000,00. No quesito desenvolvimento, ocupa a 29ª posição dentre os 453 municípios do estado, com um o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,793. A sua rede de saúde é constituída por 32 unidades básicas, 2 hospitais gerais e 5 ambulatórios. Pelo menos 99% dos partos ocorrem em nível hospitalar. Apesar do coeficiente de mortalidade infantil ter declinando nos últimos anos, chegando a 16/1.000, ainda é superior à média do estado, com cerca de 13/1.00023. O delineamento utilizado para o estudo foi do tipo transversal de base populacional. Na pesquisa, foram incluídos todos os nascimentos ocorridos nas duas únicas maternidades do município (Santa Casa de Misericórdia de Rio Grande e Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio Grande – FURG) entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2007. Estes recém-nascidos deveriam ter peso igual ou superior a 500 gramas ou 20 semanas ou mais de idade gestacional, sendo que suas mães deveriam residir na área urbana ou rural do município. Dez entrevistadoras foram treinadas para atuar neste estudo. Destas, oito eram acadêmicas do Curso de Medicina da FURG e as outras eram graduadas em Serviço Social. Este treinamento consistiu da leitura do questionário e do manual de instruções, na sua aplicação entre duplas e perante o grupo de entrevistadores. O estudo piloto foi realizado nas duas maternidades da cidade com o objetivo de testar o questionário a ser utilizado, bem como avaliar o tempo necessário à realização da entrevista. Estes entrevistadores visitavam diariamente as duas maternidades da cidade, que distam não mais que cem metros Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):304-9 305 Gonçalves CV, Mendoza-Sassi RA, Cesar JA, Castro NB, Bortolomedi AP uma da outra. Todas as informações deste estudo foram coletadas com uso de questionário único pré-codificado, com as mães sendo entrevistadas na maternidade em até 24 horas após o parto. Este questionário investigou características demográficas, nível socioeconômico e assistência recebida durante a gestação e o parto. A identificação das gestantes era feita pela informação obtida diretamente junto à gestante e confirmada através do livro de registro de nascimento de cada maternidade. As parturientes residentes no município do Rio Grande recebiam explicações sobre os objetivos do estudo e convite para participar. Havendo concordância, um termo de consentimento era assinado pela gestante autorizando a realização da entrevista. Ao final de cada dia de trabalho, o entrevistador codificava os questionários por ele aplicados e, no dia seguinte, os entregava na sede do estudo onde os questionários eram revisados e entregues à digitação. Dentre as 2.557 puérperas entrevistadas, apenas 1.235 tinham informação referente ao peso no início e no final do pré-natal. Portanto, o ganho de peso durante o período gestacional foi avaliado apenas neste grupo. Quanto ao cálculo do IMC, este só foi possível ser realizado em 1.117 puérperas. Além do IMC e do ganho de peso, outras variáveis independentes como idade, cor, ter companheiro, escolaridade e renda per capita foram analisadas como fatores de confusão. Quanto ao desfecho gestacional, os dados referentes à hipertensão e o diabetes mellitus seguiram o relato da paciente. Os dados referentes a trabalho de parto prematuro, tipo de parto e o peso do recém-nascido ao nascer foram coletados do registro médico. A digitação dos questionários era duplamente realizada por digitadores independentes, em ordem inversa ao do primeiro, no programa Epi-Info 6.04. Ao término da digitação de cada lote, realizava-se comparação das digitações. A análise estatística consistiu na descrição da amostra estudada, seguido de uma análise ajustada para idade, cor, ter companheiro, escolaridade, renda e os cinco desfechos de interesse e cálculo das razões de Odds. Nos desfechos hipertensão, diabetes mellitus, trabalho de parto prematuro e cesárea (dicotômicos), o ajuste foi realizado mediante a utilização da regressão logística. No caso do peso ao nascer, categorizado em três grupos, o ajuste do modelo foi realizado utilizando-se a regressão logística multinomial, tendo como categoria base ao grupo de 2.500 a 4.000 g. A regressão foi de tipo “backward stepwise” e o critério para permanência no modelo foi de p≤0,05. Em todas as análises, foi adotado valor p<0,05 de um teste bicaudal. Os cálculos da análise ajustada foram realizados no programa Stata 11. O protocolo de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde (CEPAS) da FURG. Além disso, garantiu-se a confidencialidade dos dados, a participação voluntária e a possibilidade de deixar o estudo a qualquer momento, sem necessidade de justificativa. 306 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):304-9 Resultados Das 1.235 puérperas incluídas, 53,6% apresentavam idade entre 20 e 29 anos; 65,9% eram de cor branca; 82,9% tinham companheiro; 46,9% referiam ter 4 anos ou menos de estudo e 74,4% relatavam renda familiar superior ou igual a 1 salário-mínimo. Em relação ao pré-natal, a cobertura encontrada foi de 100% nesse grupo. Quanto aos dados referentes ao peso, 63,1% das puérperas referiam ter peso entre 51 e 70 kg no início da gestação, com uma média de 63,6 kg. Ao final do pré-natal, 51,4% das puérperas estavam com peso de igual ou superior a 71 kg, com média de 73 kg. O ganho de peso durante a gestação foi de até 12 kg em 70,9% das gestantes. Entre as 1.117 entrevistadas, das quais foi possível calcular o IMC no início da gestação, 55,9% estavam incluídas nos valores entre 18,5 e 24,9 (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição da amostra e cálculo do índice de massa corporal do início da gestação e do ganho de peso gestacional para avaliação do risco gestacional de hipertensão, diabetes, parto pré-termo, realização de cesárea e baixo peso ao nascer em estudo de base populacional n % 19 ou menos 278 22,5 20 a 29 662 53,6 30 ou mais 295 23,9 Branca 814 65,9 Não branca 421 34,1 9 ou mais 173 14,0 5a8 483 39,1 4 ou menos 579 46,9 <1 salário-mínimo 316 25,6 ≥1 salário-mínimo 919 74,4 Idade (anos) Cor da pele Escolaridade (anos) Renda per capita Peso no início da gestação (kg) Média±desvio padrão 63,6±13,3 Peso no final da gestação (kg) Média±desvio padrão 73,1± 13,9 Ganho de peso na gestação (kg) 8 ou menos 560 45,3 9 a 12 316 25,6 13 a 16 215 17,4 17 ou mais 144 11,7 Média±desvio padrão 9,4±5,6 IMC no início da gestação (kg/m2) 1.117 18,4 ou menos 42 3,9 18,5 a 24,9 595 55,9 25 a 29,9 289 23,2 30 ou mais 138 13,0 Média±desvio padrão 24,7±4,7 IMC: Índice de massa corporal (peso/altura2). Índice de massa corporal e ganho de peso gestacional como fatores preditores de complicações e do desfecho da gravidez Tabela 2. Análise ajustada do risco gestacional para hipertensão, diabetes, parto pré-termo, realização de cesárea e baixo peso ao nascer em relação ao índice de massa corporal no início do pré-natal em estudo de base populacional IMC (início da gestação) 18,4 ou menos Odds Ratio 18,5 a 24,9 Odds Ratio (IC95%) 25 a 29,9 Odds Ratio (IC95%) 30 ou mais Odds Ratio (IC95%) Valor p 1,0 1,1 (1,0–1,1) 0,9 (0,9–1,0) 1,0 (0,9–1,2) 0,003* – 1,0 0,9 (0,9–1,0) 0,9 (0,9–1,0) 0,1* Parto pré-termo 1,0 0,9 (0,9–1,1) 0,9 (0,9–1,1) 0,9 (0,9–1,1) 0,9* Parto cesárea 1,0 1,0 (0,9–1,1) 1,1 (0,9–1,2) 1,1 (0,9–1,2) 0,004** Hipertensão Diabetes Peso ao nascer*** (g) ≤2500 1,0 0,6 (0,2–1,3) 0,5 (0,2–1,3) 0,5 (0,2–1,3) 0,007*** ≥4.000 1,0 1,7 (0,2–13,1) 3,4 (0,4–26,1) 6,7 (0,9–52,5) 0,001*** IMC: índice de massa corporal; IC95%: intervalo de confiança de 95%. *Teste de heterogeneidade; **teste de tendência linear; ***regressão logística multinominal ordinal com categoria de base de 2.500 a 4.000 g. Tabela 3. Análise ajustada do risco gestacional para hipertensão, diabetes, parto pré-termo, realização de cesárea e baixo peso ao nascer em relação ao ganho de peso na gestação em estudo de base populacional Ganho de peso na gestação (kg) 8 ou menos Odds Ratio 9 a 12 Odds Ratio (IC95%) 13 a 16 Odds Ratio (IC95%) 17 ou mais Odds Ratio (IC95%) Valor p Hipertensão/diabetes 1,0 1,0 (0,9–1,0) 1,0 (0,9–1,1) 0,9 (0,9–1,0) 0,7* Parto pré-termo 1,0 0,9 (0,9–1,0) 0,9 (0,9–1,0) 0,9 (0,9–1,0) 0,2* Parto cesárea 1,0 0,9 (0,9–1,0) 0,9 (0,9–1,0) 0,9 (0,9–1,0) 0,05* Peso ao nascer*** (g) 1,0 1,1 (1,0–1,1) 1,1 (1,0–1,2) 1,1 (1,1–1,2) <0,001** 1,0 0,6 (0,4–1,0) 0,4 (0,2–0,9) 0,4 (0,1–0,8) 0,01*** 1,0 1,3 (0,7–2,4) 1,1 (0,6–2,3) 1,7 (0,8–3,4) 0,03*** ≤2.500 ≥4.000 IC95%: intervalo de confiança de 95%. *Teste de heterogeneidade; **teste de tendência linear; ***regressão logística multinominal com categoria de base de 2.500 a 4.000 g. Em relação ao risco gestacional e o valor do IMC no início da gestação, podemos observar que o grupo com IMC entre 18,5 e 24,9 apresentou maior risco de ter hipertensão quando comparado aos os outros grupos. Quanto ao risco de parto cesárea observou-se que quanto maior o IMC no início da gestação, maior o risco de parto cirúrgico, sendo maior no grupo de IMC≥30 (p=0,004). Outra variável influenciada pelo IMC gestacional foi o peso do recém-nascido, quando fica evidente que quanto maior o IMC no início da gestação, menor o risco de baixo peso ao nascer (p=0,007) e maior o risco de macrossomia (p=0,001). Não foi observado aumento na incidência de diabetes e risco de trabalho de parto pré-termo nas pacientes dos diferentes grupos de IMC (Tabela 2). Na Tabela 3 tem-se o desfecho gestacional em relação ao ganho de peso na gestação e pode-se observar que tanto o desenvolvimento de hipertensão como o de diabetes não apresentaram associação significante com ganho ponderal. No entanto, o risco de trabalho de parto prematuro foi maior no grupo de mulheres que apresentavam um ganho de peso ≤8 kg (p<0,05). Em relação à via de parto, observa-se que quanto maior o ganho de peso durante a gestação, maior o risco de parto cirúrgico, sendo maior no grupo com ganho ≥17 kg (p=0,001). O peso do recém-nascido também foi influenciado pelo ganho de peso materno, sendo evidenciado que quanto maior o ganho de peso gestacional, menor o risco de baixo peso ao nascer (p=0,01) e maior o risco de macrossomia, principalmente no grupo com ganho ≥17 kg (p=0,03). Discussão O sobrepeso e a obesidade apresentam uma prevalência elevada em todo o mundo23. Um estudo retrospectivo realizado com mulheres inglesas demonstrou um aumento nas taxas de obesidade de 9,9%, em 1990, para 16% em 2004, com projeção para 22% em 201024. Admite-se que 19 a 38% das gestações ocorrem em mulheres com sobrepeso ou obesas25. No presente estudo pode-se observar que 23,2% das gestantes apresentavam sobrepeso no início da gestação e 13% eram obesas. No Brasil, resultados semelhantes foram encontrados em estudo realizado pelo Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (NUPENS/USP), no qual 27% apresentavam-se com sobrepeso/obesidade26. Outro parâmetro avaliado por este estudo foi o ganho de peso gestacional, sendo em média de 9,4 kg, com um ganho excessivo de peso presente em 29,1% das gestantes. Estudos brasileiros com gestantes da rede básica de saúde Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):304-9 307 Gonçalves CV, Mendoza-Sassi RA, Cesar JA, Castro NB, Bortolomedi AP encontraram uma incidência de ganho ponderal excessivo de 29% e insuficiente de 36,5 a 38%25,27-29. A inadequação do estado antropométrico materno, tanto pré-gestacional como gestacional, constitui um problema de saúde pública inquestionável, pois favorece o desenvolvimento de intercorrências gestacionais e influencia nas condições de saúde materna e do concepto, no período pós-parto7,14,15. Estudo de caso-controle realizado no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) verificou que sobrepeso/obesidade durante a gravidez estão associados à hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia e hipertensão arterial crônica, e que o risco de pré-eclâmpsia duplica para cada 5 a 7 kg/m2 de aumento no IMC no início da gestação17. Da mesma forma, vários estudos associam o ganho de peso excessivo na gestação a um maior risco de desenvolver hipertensão, diabete, parto cirúrgico e obesidade9,20-22. A literatura associa sobrepeso/obesidade pré-gestacional e ganho ponderal excessivo na gestação com o risco de desenvolvimento de hipertensão e diabete, mas esta associação não foi encontrada neste estudo. Estes achados podem estar associados ao não diagnóstico destas morbidades entre as gestantes estudadas visto que a hipertensão e a hemorragia ainda são as principais causa de óbito materno no Brasil30,31. Estudo anterior realizado no município do Rio Grande observou que, apesar da cobertura pré-natal ser de 95,8% e a média de consultas ser de 7,4 consultas/gestante, quando se avalia a qualidade da atenção prestada, apenas 26,8% tem seu pré-natal classificado como adequado32. Outro parâmetro do desfecho gestacional avaliado neste estudo foi a presença de parto pré-termo. O IMC pré-gestacional não influenciou no risco de trabalho de parto pré-termo, mas observou-se associação entre ganho ponderal e prematuridade. Foi observado que as gestantes com um ganho de peso ≤8 kg durante a gestação apresentaram maior risco de parto pré-termo. No Brasil, a partir da década de 1990, ocorreu o aumento da frequência de prematuridade que passou de 5%, em 1994, para 6,5% em 200418. Entre os fatores de risco associados ao parto prematuro, estão o baixo peso materno pré-gestacional e o insuficiente ganho de peso materno10,18,19,33. A prevalência de cesariana na população estudada foi de 53,2%, sendo muito superior aos 15% preconizado pela OMS. O Brasil apresenta uma das maiores taxas mundiais de parto cesárea, segundo o Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC), a taxa de cesariana no país aumentou de 39%, em 1994, para 44% em 200534. Em nosso estudo, a via de parto apresentou relação direta com IMC pré-gestacional e o ganho de peso durante a gestação. As mulheres com sobrepeso/ obesidade e com ganho ponderal >9 kg apresentaram um maior risco de ter o parto por via cirúrgica. Vários 308 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):304-9 autores correlacionam sobrepeso/obesidade gestacional com o risco aumentado de parto cesárea entre as principais indicações para este procedimento está a desproporção céfalo-pélvica (DCP), síndromes hipertensivas e diabetes6,10,14,15,19,35. Estudo realizado por Seligman et al.15 demonstrou que as mulheres obesas tiveram uma maior taxa de indicação de cesariana, e que todas as indicações relatadas, exceto apresentação anômala, foram superiores em pacientes obesas quando comparada com gestantes eutróficas. Para estes pesquisadores, as mulheres obesas são mais suscetíveis ao trabalho de parto prolongado, devido a seus maiores tecidos moles pélvicos, resultando em um canal de parto estreito. Assim, a cesariana acaba sendo recomendada nessas mulheres, a fim de prevenir estresse fetal. Quanto ao peso do recém-nascido ao nascer, foi constatado, em nosso estudo, que mulheres que iniciam a gestação desnutridas ou que apresentam ganho de peso insuficiente, tem risco mais elevado de terem recém-nascidos com peso inferior a 2.500 g. Em contrapartida, os fetos de mulheres com sobrepeso/obesidade no início da gestação ou com maior ganho de peso tendem a macrossomia. Vários estudos associam desnutrição materna a uma maior prevalência de restrição de crescimento intrauterino e baixo peso ao nascer (PIG), sendo a desnutrição crônica mais importante que o ganho ponderal insuficiente durante o período gestacional gestacional12,13. Por outro lado, a obesidade tem um impacto significativo sobre o metabolismo dos macronutrientes, alterando a síntese de aminoácidos, resultando em uma possível interferência no desenvolvimento do concepto. Desta forma, a obesidade materna e o ganho de peso excessivo podem estar associados à macrossomia e/ou obesidade futura para a criança8,13,28,36. Estudo realizado no Rio de Janeiro, com 230 gestantes, revelou que mulheres com ganho de peso excessivo na gestação apresentam 5,83 vezes mais chances de dar à luz uma criança com macrossomia28. Podemos concluir que tanto o sobrepeso/obesidade pré-gestacional como o ganho de peso insuficiente ou excessivo durante a gestação têm implicações diretas sobre o risco gestacional e o seu desfecho. Além disso, estudos associam o ganho de peso excessivo na gestação a um maior risco de desenvolver sobrepeso/obesidade nos próximos 15 anos35,37. Os médicos clínicos ou pré-natalistas devem estar preparados para orientar as mulheres da importância da redução do peso antes do início da gravidez e também de como evitar o excesso de ganho de peso na gestação. Para que isto seja realizado, a avaliação do IMC deve ser feita tanto nas consultas clínicas, como na primeira consulta de pré-natal. 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Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):304-9 309 Alessandra Fritsch1 Ana Lúcia Letti Müller1 Maria Teresa Vieira Sanseverino2 Rejane Gus Kessler3 Patricia Martins Moura Barrios4 Lucas Mohr Patusco5 José Antonio de Azevedo Magalhães6 Hidropisia fetal não imune: experiência de duas décadas num hospital universitário Nonimmune hydrops fetalis: two decades of experience in a university hospital Artigo Original Resumo Palavras-chave Hidropisia fetal/diagnóstico Hidropsia fetal/etiologia Hidropsia fetal/ultrassonografia Ultrassonografia pré-natal Complicações na gravidez Diagnóstico pré-natal Feto/anatomia & histologia Keywords Hydrops fetalis/diagnosis Hydrops fetalis/etiology Hydrops fetalis/ultrasonography Ultrasonography, prenatal Pregnancy complications Prenatal diagnosis Fetus/anatomy & histology OBJETIVO: Identificar a etiologia da hidropisia fetal não imune em gestantes diagnosticadas e encaminhadas para acompanhamento pré-natal. MÉTODOS: Estudo retrospectivo com análise dos casos de hidropisia fetal não imune que foram acompanhados entre março de 1992 e dezembro de 2011. Os casos tiveram confirmação diagnóstica pela presença de edema de subcutâneo fetal (≥5 mm) com derrame em pelo menos uma cavidade serosa por meio da ultrassonografia obstétrica, e a investigação etiológica foi realizada com pesquisa citogenética (cariótipo), infecciosa (sífilis, parvovírus B19, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, adenovírus e herpes simples), hematológica e metabólica (erros inatos), além de com ecocardiografia fetal. Foram excluídas as gestações gemelares. A análise estatística foi efetuada pelo teste do χ2 para aderência (software R 2.11.1). RESULTADOS: Foram incluídas 116 pacientes com hidropisia fetal não imune, sendo que 91 casos (78,5%) tiveram a etiologia elucidada e 25 casos (21,5%) foram classificados como causa idiopática. A etiologia cromossômica foi a que apresentou maior número de casos, totalizando 26 (22,4%), seguida da etiologia linfática com 15 casos (12,9%, sendo 11 casos de higroma cístico), da etiologia cardiovascular e da infecciosa com 14 casos cada (12,1%). Os demais casos tiveram etiologia torácica em 6,9% (oito casos), síndromes malformativas em 4,3% (cinco casos), tumores extratorácicos em 3,4% (quatro casos), metabólica em 1,7% (dois casos), hematológica, gastrintestinal e geniturinária em 0,9% cada (um caso cada). No período pós-natal, foram seguidos 104 casos por até 40 dias de vida, 12 casos tiveram morte fetal intrauterina. A sobrevida desses 104 recém-nascidos foi de 23,1% (24 sobreviveram). CONCLUSÃO: a etiologia da hidropisia diagnosticada na gestação deve tentar ser esclarecida, uma vez que está associada a um amplo espectro de doenças. É especialmente importante para determinar se uma condição potencialmente tratável está presente e para identificar doenças com risco de recorrência em futuras gestações para aconselhamento pré-concepcional adequado. Abstract PURPOSE: To identify the etiology of nonimmune hydrops fetalis cases in pregnant women diagnosed and referred for prenatal care. METHODS: Retrospective analysis of cases with nonimmune hydrops fetalis that were monitored between March 1992 and December 2011. Diagnosis was confirmed by the presence of fetal subcutaneous edema (≥5 mm) with effusion in at least one serous cavity using obstetric ultrasound, and etiological investigation was conducted with cytogenetic (karyotype), infectious (syphilis, parvovirus B19, toxoplasmosis, rubella, cytomegalovirus, adenovirus and herpes simplex), hematologic and metabolic (inborn errors) analysis and fetal echocardiography. Twin pregnancies were excluded. Statistical analysis was performed using the χ2 test for adhesion (software R 2.11.1). RESULTS: We included 116 patients with nonimmune hydrops fetalis; the etiology was elucidated in 91 cases (78.5%), while 25 cases (21.5%) were classified as idiopathic. Most cases had a chromosomal etiology, for a total of 26 cases (22.4%), followed by lymphatic etiology with 15 cases (12.9% with 11 cases of cystic hygroma), and cardiovascular and infectious etiology with 14 cases each (12.1%). In the remaining cases, the etiology was thoracic in 6.9% (eight cases), malformation syndromes in 4.3% (five cases), extrathoracic tumors in 3.4% (four cases), metabolic in 1.7% (two cases), and hematologic, gastrointestinal and genitourinary in 0.9% (one case each). During the postnatal period, 104 cases were followed up until the 40th day of life, and 12 cases had intrauterine fetal death. The survival rate of these 104 newborns was 23.1% (24 survived). CONCLUSION: An attempt should be made to clarify the etiology of hydrops diagnosed during pregnancy since the condition is associated with a wide spectrum of diseases. It is especially important to determine whether a potentially treatable condition is present and to identify disease at risk for recurrence in future pregnancies for adequate pre-conception counseling. Correspondência Alessandra Fritsch Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Rua Ramiro Barcelos, 2.350/1.125 – Rio Branco CEP: 90035-903 Porto Alegre (RS), Brasil Recebido 12/03/2012 Aceito com modificações 13/06/2012 Trabalho realizado no Setor de Medicina Fetal do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HCPA – Porto Alegre (RS), Brasil; Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre (RS), Brasil. 1 Centro Obstétrico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HCPA – Porto Alegre (RS), Brasil. 2 Serviço de Genética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HCPA – Porto Alegre (RS), Brasil. 3 Laboratório de Citogenética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HCPA – Porto Alegre (RS), Brasil. 4 Serviço de Cardiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HCPA – Porto Alegre (RS), Brasil. 5 Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre (RS), Brasil. 6 Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre (RS), Brasil; Setor de Medicina Fetal do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HCPA – Porto Alegre (RS), Brasil. Conflitos de interesse: não há. Hidropisia fetal não imune: experiência de duas décadas num hospital universitário Introdução Métodos A hidropisia fetal é o acúmulo anormal de líquido no espaço extravascular, nas partes moles e nas cavidades corporais do feto1,2. Embora alguns autores tenham definido hidropisia como a presença de edema de subcutâneo, com ou sem derrames nas serosas, e outros tenham baseado o diagnóstico na coleção anormal de líquido num único espaço corporal, a definição mais comumente aceita de hidropisia é edema com derrame em pelo menos uma cavidade corporal ou derrames em mais de um espaço corporal3,4. Mesmo sendo numerosos os desequilíbrios funcionais e as malformações anatômicas que levam ao desenvolvimento da hidropisia, esse achado no feto geralmente pode ser atribuído a algumas condições: anemia severa, disfunção hemodinâmica, hipoproteinemia e displasia linfática4. Muitas vezes, a hidropisia fetal pode ser ocasionada pela combinação dessas quatro condições. A hidropisia fetal não imune (HFNI) compreende um subgrupo de etiologia diversa daquela causada pela isoimunização do antígeno eritrocitário como, por exemplo, Rh (D), Kell etc. Essas hidropisias são indistinguíveis ao exame ultrassonográfico ou no exame clínico. O diagnóstico diferencial é feito por pesquisa de anticorpos eritrocitários no soro materno com um teste de Coombs indireto3. Com uso generalizado de imunoglobulina Rh (D), a prevalência de isoimunização Rh foi reduzida drasticamente. Como resultado, a HFNI agora representa quase 90% dos casos de hidropisia descritos na literatura mundial1,5,6. De maneira geral, as causas mais comuns de HFNI são alterações gênicas e cromossômicas, malformações cardíacas, distúrbios hematológicos, infecções congênitas e a transfusão feto-fetal em gestações gemelares. Também estão associadas com fetos hidrópicos as malformações pulmonares, gastrintestinais, renais e alguns tumores. Ainda, muitos casos permanecem como causa desconhecida, sendo chamados de idiopáticos1. Quanto às manifestações clínicas, gestantes com feto hidrópico podem ter altura uterina aumentada para a idade gestacional, porém até 35% dos fetos hidrópicos são descobertos inesperadamente durante a ultrassonografia do pré-natal. O diagnóstico da hidropisia é baseado na ultrassonografia, seguido de exames séricos maternos e análise cromossômica fetal e reação em cadeia da polimerase (PCR) para infecções no líquido amniótico1,7. Nos casos de morte perinatal, é de suma importância a realização da necropsia e o exame anatomopatológico da placenta3. O objetivo principal do presente estudo foi descrever as causas de HFNI e o fluxograma de investigação diagnóstica utilizado nas últimas duas décadas em um hospital de referência terciária do Sul do Brasil. Foi estudada também a taxa de sobrevivência pós-natal até 40 dias de vida. Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo entre março de 1992 e novembro de 2011, incluindo gestantes com achado ultrassonográfico de hidropisia fetal e teste de Coombs indireto negativo (caracterizando causa não imunológica), encaminhadas ao Setor de Medicina Fetal. O critério diagnóstico confirmatório utilizado para definir HFNI foi a presença de edema de subcutâneo fetal (≥5 mm) com derrame em pelo menos uma cavidade serosa por meio da ultrassonografia obstétrica morfológica, realizada pelo mesmo examinador. Foram excluídas as gestações gemelares. Para as pacientes incluídas no trabalho, foi aplicado o termo de consentimento livre e informado para utilização dos dados em prontuário sob a responsabilidade dos pesquisadores. De acordo com o protocolo utilizado na época da inclusão, foi oferecida a realização de amniocentese ou biópsia de vilosidades coriônicas conforme indicação clínica, para coleta de material com o intuito de realizar pesquisa citogenética (cariótipo), infecciosa (sífilis, parvovírus B19, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, adenovírus e herpes simples), hematológica e metabólica (erros inatos). Nos casos em que não foi realizada a amniocentese ou biópsia de vilo, a pesquisa foi feita somente no sangue materno e na coleta de material genético pós-natal. As pesquisas de parvovírus B19 e erros inatos do metabolismo no líquido amniótico só começaram a ser feitas a partir de 1998. As pacientes foram encaminhadas à ecocardiografia fetal após a 18ª semana de gestação. Todos os casos foram seguidos na rotina do pré-natal de alto risco (Figura 1). As gestantes foram aconselhadas a procurar o hospital em caso de trabalho de parto ou outras intercorrências. Nos casos de óbito fetal ou neonatal, foi sugerida a realização de necrópsia. Todos os casos de hidropisia fetal tiveram sua etiologia definida e separada por categorias de acordo com a classificação utilizada pela Fundação de Medicina Fetal de Londres8, com o objetivo de sistematizar o diagnóstico fetal (Quadro 1). Em alguns casos, existia mais do que uma causa que explicasse a hidropisia fetal, sendo considerado o achado principal na categorização da etiologia. Os dados foram digitados no banco de dados do programa Excel, posteriormente sendo analisados por meio do teste do χ2 para aderência, com o software R 2.11.1 (R Development Core Team (2010) - R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0, URL http://www.R-project.org). Os dados foram expressos em porcentagens. Este estudo foi aprovado pela comissão de pesquisa e ética em saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), sob o número 02-005. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):310-5 311 Fritsch A, Müller AL, Sanseverino MTV, Kessler RG, Barrios PMM, Patusco LM, Magalhães JAA Ultrassonografia obstétrica morfológica fetal Consulta com geneticista Coleta de sangue materno para realização de: • Estudo hematológico: hemograma, leucograma e plaquetas • Exames de Storch: sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes Biópsia de vilo corial (11-14 semanas) ou amniocentese (a partir da 15ª semana): • PCR para infecções: parvovirose b19, toxoplasmose, rubéola, herpes, citomegalovírus e adenovírus cariótipo • Erros inatos do metabolismo: mucopolissacaridoses i e ii, sialidose, niemann-pick etc. Ecocardiograma fetal com doplerfluxometria a cores (a partir da 18ª semana) Acompanhamento psicológico e pré-natal Ultrassonografia obstétrica (a cada 2-3 semanas) Coleta de sangue de cordão para exames e ecocardiograma (nascidos vivos) Necropsia e amostra de tecido para estudo genético (morte fetal) Exame anatomopatológico da placenta (todos) Figura 1. Fluxograma da investigação e acompanhamento da hidropisia fetal não imune no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Resultados Foram diagnosticados e incluídos 116 casos de HFNI. Destes, 91 (78,5%) tiveram a etiologia esclarecida e em 25 casos (21,5%) não foi possível identificar uma causa predominante ou que pudesse explicar o quadro grave de HFNI. As etiologias da HFNI estão descritas na Tabela 1. A etiologia cromossômica foi a que apresentou maior número de casos, totalizando 26 (22,4%). Destes, a patologia mais encontrada foi a síndrome de Turner, com nove casos. Nos casos classificados como de etiologia cromossômica, havia fetos com e sem cardiopatia, como pequenas comunicações interventriculares. 312 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):310-5 As desordens linfáticas foram a segunda causa mais encontrada (15 casos – 12,9%, com 11 casos de higroma cístico e 4 casos de quilotórax). Com relação aos casos de higroma cístico isolado aqui classificados, todos tinham cariótipo normal e o higroma se apresentava na região cervical. Em seguida, as causas mais encontradas foram as alterações cardiovasculares e as infecções, com 14 casos cada (12,1%). Todos os fetos incluídos nessas categorias apresentavam cariótipo normal. Das causas cardiovasculares, a mais encontrada foi defeito do septo atrioventricular desbalanceado com quatro casos e atresia pulmonar com hipoplasia do ventrículo direito com três casos. Das causas infecciosas, o agente mais encontrado foi o parvovírus do tipo B19, com seis casos. Salientamos que, antes do Hidropisia fetal não imune: experiência de duas décadas num hospital universitário Quadro 1. Categorias empregadas para classificação da etiologia da hidropisia fetal e definições. Cromossômicas: anormalidades cromossômicas Síndromes malformativas: grupos de malformações estruturais, síndromes não cromossômicas Tabela 1. Etiologia dos casos de hidropisia fetal não imune do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Etiologia Hematológicas: causas de perdas eritrocitárias excessivas, de diminuição na produção de eritócitos, aplasia de células vermelhas Torácicas: desordens que causaram aumento na pressão venosa sistêmica por alteração do retorno venoso ou drenagem linfática 9 34,6 Trissomia 21 8 30,8 Trissomia 18 5 19,2 Trissomia 13 2 7,7 Translocação 46,XX,t(9:16)(q34;p12) 1 3,8 1 3,8 Deleção 46,XX,del(13)(?q21) Linfática Linfáticas: desordens congênitas linfáticas, como o higroma cístico isolado e o quilotórax (confirmado pela análise laboratorial do líquido do derrame) % categoria 26 (22,4) Síndrome de Turner Cardiovasculares: anormalidades estruturais, arritmias cardíacas e miocardiopatias Gastrintestinais: incluem atresia duodenal, atresia jejunoileal, volvo, ânus imperfurado, peritonite meconial e outras desordens n (% total) Cromossômica Infecciosas: pesquisas de infecção positivas Tumores extratorácicos Diagnóstico 15 (12,9) Higroma cístico 11 73,3 Quilotórax 4 26,7 Cardiovascular 14 (12,1) Defeito septal AV desbalanceado 4 28,6 Geniturinárias: malformações renais e urogenitais, síndrome de Prune Atresia pulmonar + hipoplasia do VD 4 28,6 Belly e outras desordens Atresia pulmonar + hipoplasia do VD 3 21,4 Metabólicas: alterações bioquímicas ou moleculares Etiologia idiopática: sem causa aparente Modificado de Santo et al.8 ano de 1998, não se dispunha de PCR para parvovírus B19, podendo haver, assim, uma subestimativa no número de casos. Também foram diagnosticados fetos hidrópicos devido à infecção intraútero por toxoplasmose (três casos), citomegalovírus (três casos), herpes simples e sífilis (um caso cada). Dentre as demais etiologias, vale destacar que a doença adenomatosa cística pulmonar (etiologia torácica) foi encontrada em cinco casos, sendo dois casos do tipo I (formados por macrocistos de 3 a 10 cm de diâmetro), um caso do tipo II (formado por múltiplos cistos de 0,5 a 2 cm) e dois casos do tipo III (formados por diminutos cistos ou tipo sólido). É importante ressaltar que, em alguns casos, existia mais do que uma causa que explicasse a hidropisia fetal, sendo considerado o achado principal na categorização da etiologia. Além disso, até 1998 alguns casos de parvovirose B19 e de erros inatos do metabolismo podem ter sido classificados como idiopáticos. Na Figura 1, apresentamos o fluxograma seguido no Setor de Medicina Fetal para investigação da HFNI e acompanhamento. No período pós-natal, foram seguidos 104 casos por até 40 dias de vida (12 casos tiveram morte fetal intrauterina). A sobrevida desses 104 bebês foi de 23,1% (24 sobreviveram e tiveram alta hospitalar nesse período). Entre os sobreviventes, a maioria foi de etiologia infecciosa; nos demais, a sobrevivência se relacionou mais com a gravidade da hidropisia do que com a patologia responsável. Na análise estatística por meio do teste do χ2 para aderência, confirmou-se que as frequências das etiologias cromossômica e idiopática encontravam-se estatisticamente Hipoplasia do VE 2 14,3 Defeito septal ventricular 1 7,1 Ventrículo único 1 7,1 Fechamento precoce do ducto arterioso 1 7,1 Distúrbio do ritmo cardíaco 1 7,1 Calcificação arterial infantil 1 7,1 Infecciosa 14 (12,1) Parvovírus B19 6 42,9 Toxoplasmose 3 21,4 Citomegalovírus 3 21,4 Herpes simples 1 7,1 1 7,1 Sífilis Torácica 8 (6,9) Doença adenomatosa cística pulmonar 5 62,5 Hérnia diafragmática 3 37,5 Síndrome malformativa 5 (4,3) Displasia esquelética 3 60,0 Artrogripose múltipla congênita 1 20,0 1 20,0 Síndrome do pterígio múltiplo letal Tumorextratorácico 4 (3,4) Teratoma cervical 2 50,0 Tumor cístico submandibular 1 25,0 1 25,0 Corioangioma Metabólica 2 (1,7) Mucolipidose II 1 50,0 Sialidose 1 50,0 Hematológica Anemia de Blackfan-Diamond 1 (0,9) 100,0 Gastrintestinal Obstrução intestinal 1 (0,9) 100,0 Geniturinária Idiopática Total de casos Síndrome de Prune-Belly 1 (0,9) 100,0 25 (21,5) 100,0 116 (100,0) 100,0 AV: atrioventricular; VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):310-5 313 Fritsch A, Müller AL, Sanseverino MTV, Kessler RG, Barrios PMM, Patusco LM, Magalhães JAA maiores que frequências das demais etiologias (diferença entre as frequências com p<0,001). Discussão A pesquisa das causas da HFNI é primordial para a determinação da gravidade da doença e do prognóstico gestacional. Diante da multiplicidade de etiologias possíveis, deve-se tentar a sistematização do diagnóstico. É especialmente importante para determinar se uma condição potencialmente tratável está presente e para esclarecimento adequado à família sobre o prognóstico da gestação atual e risco de recorrência em gestações futuras8. Em uma meta-análise realizada em 19899, foram revisados 1.414 casos de fetos hidrópicos, com o objetivo principal de eliminar os casos idiopáticos. Foi elaborado um detalhado protocolo de investigação: fetal, pós-natal e dados histopatológicos. Devido ao grande número de casos dessa meta-análise, diretrizes foram criadas para diagnóstico e manejo pré-natal da hidropisia fetal. O estudo também já havia mostrado, de maneira geral, que 63% dos casos de hidropisia tiveram como etiologia cinco processos principais: cardiovascular, cromossômico, torácico (com o linfático incluído), gemelidade e fatores anemiantes. Mesmo assim, 22% dos casos ainda permaneceram indeterminados e esses casos geralmente têm um pior prognóstico. Essa meta-análise tem sido um dos artigos mais utilizados nos protocolos de etiologia da hidropisia1. Uma revisão sistemática da literatura realizada em 2009 sobre HFNI incluiu 51 artigos descrevendo um total de 5.437 casos. Esses pacientes foram subclassificados em 14 categorias diagnósticas, com os seguintes resultados: cardiovasculares (21,7%), hematológicas (10,4%), cromossômicas (13,4%), síndromes (4,4%), displasia linfática (5,7%), erros inatos do metabolismo (1,1%), infecções (6,7%), torácicas (6,0%), malformações urinárias (2,3%), tumores extratorácicos (0,7%), transfusão feto-fetal (5,6%), gastrintestinais (0,5%), outros (3,7%) e idiopática (17,8%)1. Os casos de HFNI do nosso serviço também foram subclassificados de forma semelhante e as quatro causas mais comuns se confirmaram; porém a causa cardiovascular apareceu nessa revisão com maior frequência. De maneira geral, tivemos uma grande incidência de casos de etiologia comprovadamente genética (31%), acima do que o relatado na literatura6,9, o que pode ser explicado pelo fato de o Serviço de Genética Médica do HCPA ser centro de referência e de diagnóstico na América Latina. Constatamos também que 11 pacientes (73,3% dos casos de etiologia linfática) apresentaram higroma cístico como achado ecográfico isolado e com cariótipo normal. O higroma cístico está comumente associado à cromossomopatia e, quando isso ocorreu, os casos foram classificados como de etiologia cromossômica. 314 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):310-5 A porcentagem de alterações cardiovasculares na literatura é de aproximadamente 20%1,8,9. Em nossa amostra, foi a terceira patologia mais encontrada, juntamente das infecções, com 14 casos cada (12,1%). Avaliando-se todos os achados ecocardiográficos fetais, observa-se que alguns fetos apresentaram patologias cardíacas estruturais que podem ter contribuído para o desenvolvimento de hidropisia fetal. Tem-se demonstrado que a disfunção miocárdica e a descompensação cardíaca são causas primárias da hidropisia nos fetos com defeitos cardíacos congênitos, da mesma forma que as arritmias cardíacas3,9-12. A maioria dos casos de etiologia infecciosa que diagnosticamos foi relacionada ao parvovírus B19 (42,9% dos casos infecciosos). A infecção por parvovírus na gestação é importante de ser diagnosticada, pois é uma das poucas causas de HFNI que é passível de tratamento intrauterino. Geralmente, apresenta um prognóstico melhor do que as demais etiologias13. Todas as infecções congênitas foram tratadas de acordo com os protocolos assistenciais. Em relação aos casos de etiologia desconhecida (21,5%), tivemos incidência semelhante a da literatura, na qual as taxas variam de 17 a 60% dos casos1,5,9. Ainda há dificuldade de investigação completa desses fetos hidrópicos, porque muitos vão ao óbito antes da coleta de material ou da realização de exames fundamentais, como a ecocardiografia fetal. Infelizmente, em alguns casos de morte fetal/neonatal, a necropsia não foi realizada por desejo familiar, influenciando também a incidência desses casos quando não haviam sido esclarecidos. É interessante ressaltar que, com a inclusão de um protocolo específico para detecção de erros inatos do metabolismo (EIM) na HFNI, dois casos foram identificados em nossa série: mucolipidose II e sialidose. Por mais que essas sejam causas relativamente raras de HFNI, são particularmente importantes devido ao alto risco de recorrência, tendo a maioria delas um padrão autossômico recessivo e que muitos casos inexplicáveis podem ser secundários a doenças metabólicas. Um estudo realizado no HCPA diagnosticou 15% de EIM em uma amostra de 33 pacientes com HFNI, incluindo casos do próprio hospital e casos externos com material encaminhado direto ao laboratório14. A introdução de técnicas de imunoistoquímica específicas para diagnóstico de displasias linfáticas também deverá diminuir os casos de etiologia idiopática, podendo ser aplicadas em protocolos de necrópsia15. A HFNI está associada a uma alta taxa de mortalidade perinatal de 50 a 98%5,16,17. Apesar dos avanços no diagnóstico e terapia fetal, a taxa de mortalidade não mudou muito nos últimos 15 anos. Em nosso estudo, 23,1% sobreviveram até 40 dias após o nascimento. É importante salientar que, em uma grande revisão de dados, foi encontrada uma taxa de mortalidade neonatal Hidropisia fetal não imune: experiência de duas décadas num hospital universitário mais alta nos recém-nascidos hidrópicos com anomalias congênitas18. Tem sido evidenciado também que a idade gestacional de início da hidropisia parece ser inversamente proporcional à mortalidade intrauterina e neonatal. Em geral, os fetos com hidropisia transitória apresentam um melhor prognóstico neonatal e sobrevivem sem disfunções significativas ou consequências em longo prazo19. Os piores prognósticos têm sido associados à prematuridade e à anemia fetal, além da gravidade da categoria etiológica20. Em nosso estudo, os sobreviventes foram aqueles em que a hidropisia se apresentou com menor gravidade. A investigação etiológica da hidropisia deve ser realizada, uma vez que está associada a um amplo espectro de doenças. É especialmente importante para determinar se uma condição potencialmente tratável está presente e para identificar doenças com risco de recorrência em futuras gestações (aconselhamento pré-concepcional). O encaminhamento de pacientes com HFNI a centros de atendimento de alta complexidade parece ser a melhor conduta no momento. Nestes, o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar, composta de obstetra, ultrassonografista experiente, geneticista, psicólogo e neonatologista, pode levar a um melhor entendimento das causas e à busca por novos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Agradecimentos A Elisiane Cirolini, médica-residente do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do HCPA, quarto ano em 2010, ênfase em Medicina Fetal; e a Maira Graeff Burin, bioquímica responsável pelo Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo. Referências 1. 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Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):310-5 315 Gislaine Satyko Kogure1 Fabiene Karine Piccki1 Carolina Sales Vieira2 Wellington de Paula Martins2 Rosana Maria dos Reis2 Análise de força muscular e composição corporal de mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos Analysis of muscle strength and body composition of women with Polycystic Ovary Syndrome Artigo Original Resumo Palavras-chave Síndrome do ovário policístico Composição corporal Força muscular Resistência à insulina Hiperandrogenismo Keywords Polycystic ovary syndrome Body composition Muscle strength Insulin reistance Hyperandrogenism OBJETIVOS: Comparar os parâmetros metabólicos, a composição corporal e a força muscular de mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) em relação a mulheres com ciclos menstruais ovulatórios. MÉTODOS: Estudo caso-controle com 27 mulheres com SOP e 28 mulheres controles com ciclos ovulatórios, com idade entre 18 e 37 anos, índice de massa corpórea entre 18 e 39,9 kg/m², que não praticassem atividade física regular. Níveis séricos de testosterona, androstenediona, prolactina, globulina carreadora dos hormônios sexuais (SHBG), insulina e glicemia foram avaliados. Índice de andrógeno livre (FAI) e resistência à insulina (por HOMA) foram calculados. As voluntárias submetidas à avaliação de composição corporal por dobras cutâneas e absorciometria de raio X de dupla energia (DEXA) e testes de força muscular máxima de 1-RM em três exercícios após procedimento de familiarização e de força isométrica de preensão manual. RESULTADOS: Os níveis de testosterona foram mais elevados no grupo SOP em relação ao CO (68,0±20,2 versus 58,2±12,8 ng/dL; p=0,02), assim como o FAI (282,5±223,8 versus 127,0±77,2; p=0,01), a insulina (8,4±7,0 versus 4,0±2,7 uIU/mL; p=0,01), e o HOMA (2,3±2,3 versus1,0±0,8; p=0,01). O SBHG foi inferior no grupo SOP comparado ao controle (52,5±43,3 versus 65,1±27,4 nmol/L; p=0,04). Não foram observadas diferenças significativas na composição corporal com os métodos propostos entre os grupos. O grupo SOP apresentou maior força muscular no teste de 1-RM nos exercícios supino reto (31,2±4,75 versus 27,8±3,6 kg; p=0,04) e cadeira extensora (27,9±6,2 versus 23,4±4,2 kg; p=0,01), assim como nos testes de força isométrica de preensão manual (5079,6±1035,7 versus 4477,3±69,6 kgf/m²; p=0,04). Ser portadora de SOP foi um preditor independente de aumento de força muscular nos exercícios supino reto (estimativa (E)=2,7) (p=0,04) e cadeira extensora (E=3,5) (p=0,04). Assim como o IMC no exercício de força isométrica de preensão manual do membro dominante (E=72,2) (p<0,01), supino reto (E=0,2) (p=0,02) e rosca direta (E=0,3) (p<0,01). Nenhuma associação foi encontrada entre HOMA-IR e força muscular. CONCLUSÕES: Mulheres com SOP apresentam maior força muscular, sem diferença na composição corporal. A RI não esteve associada ao desempenho da força muscular. Possivelmente, a força muscular pode estar relacionada aos níveis elevados de androgênios nessas mulheres. Abstract PURPOSE: To compare the metabolic parameters, body composition and muscle strength of women with Polycystic Ovary Syndrome (PCOS) to those of women with ovulatory menstrual cycles. METHODS: A case-control study was conducted on 27 women with PCOS and 28 control women with ovulatory cycles, aged 18 to 27 years with a body mass index of 18 to 39.9 kg/m², who did not practice regular physical activity. Serum testosterone, androstenedione, prolactin, sex hormone-binding globulin (SHBG), insulin and glycemia levels were determined. Free androgen index (FAI) and resistance to insulin (by HOMA) were calculated. The volunteers were submitted to evaluation of body composition based on skin folds and DEXA and to 1-RM maximum muscle strength tests in three exercises after familiarization procedures and handgrip isometric force was determined. RESULTS: Testosterone levels were higher in the PCOS group than in the Control Group (68.07±20.18 versus 58.20±12.82 ng/dL; p=0.02), as also were the FAI (282.51±223.86 versus 127.08±77.19; Correspondência Rosana Maria dos Reis Setor de Reprodução Humana, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3.900 – Monte Alegre CEP: 14049-900 Ribeirão Preto (SP), Brasil Recebido 18/05/2012 Aceito com modificações 21/06/2012 Setor de Reprodução Humana, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil. 1 Programa de Pós-Graduação em Biologia da Reprodução do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil. 2 Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil. Fonte de Financiamento: Em Agradecimentos a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP – Processo 10/08800-8 e Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia – INCT/CNPq – Hormônios e Saúde da Mulher. Conflito de interesses: não há. Análise de força muscular e composição corporal de mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos p=0.01), insulin (8.41±7.06 versus 4.05±2.73 µIU/mL; p=0.01), and HOMA (2.3±2.32 versus 1.06±0.79; p=0.01), and SBHG levels were lower (52.51±43.27 versus 65.45±27.43 nmol/L; p=0.04). No significant differences in body composition were observed between groups using the proposed methods. The PCOS group showed greater muscle strength in the 1-RM test in the bench press (31.2±4.75 versus 27.79±3.63 kg; p=0.02), and leg extension exercises (27.9±6.23 versus 23.47±4.21 kg; p=0.02) as well as handgrip isometric force (5079.61±1035.77 versus 4477.38±69.66 kgf/m², p=0.04). PCOS was an independent predictor of increase muscle strength in bench press exercises (estimate (E)=2.7) (p=0.04) and leg extension (E=3.5) (p=0.04), and BMI in the exercise of isometric handgrip (E=72.2) (p<0.01), bench press (E=0.2) (p=0.02) and arm curl (E=0.3) (p<0.01). No association was found between HOMA-IR and muscle strength. CONCLUSIONS: Women with POS showed greater muscle strength, with no difference in body composition, and IR was not associated with muscle strength performance. Muscle strength may be possibly related to high levels of androgens in these women. Introdução A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma condição clínica heterogênea caracterizada por hirsutismo, irregularidade menstrual, infertilidade e alterações endócrinas como o hiperandrogenismo, afetando cerca de 7 a 14% das mulheres em idade reprodutiva 1,2. Metade das mulheres portadoras de SOP apresentam resistência insulínica (RI) independente do peso e do índice de massa corpórea (IMC), levando a uma predisposição para diabetes tipo 2. Embora recente metanálise tenha mostrado que a SOP seja considerada um fator de risco para o diabetes mellitus tipo 2, a magnitude desse risco é ainda incerta pela falta de uniformidade nos métodos de detecção do diabetes mellitus tipo 2 nessas pacientes³. A RI e a hiperinsulinemia interferem diretamente na esteroidogênese ovariana, com aumento da produção de androgênios contribuindo com o quadro de anovulação crônica 4. O hiperandrogenismo prevalente nessas mulheres contribui para a adiposidade visceral e pode ampliar os fenótipos metabólicos adversos da SOP através do agravamento da deposição de gordura corporal, predominantemente abdominal, fato que tem sido observado independente da obesidade5. A incidência de obesidade tem variado de acordo com a etnia nas portadoras de SOP, sendo nos EUA de 24% de sobrepeso e 42% de obesidade6. Além da gordura na região abdominal, os andrógenos promovem um intenso efeito fisiológico na composição corporal (CC), sendo a testosterona considerada um hormônio fundamental, utilizado como marcador fisiológico para aferir o estado anabólico do corpo e da força muscular (FM)7,8. Apesar da influência dos andrógenos, a FM também é relacionada a outros elementos internos e externos. Entre os elementos externos enquadram-se: hora do dia, método de treinamento, motivação, nutrição, doping, entre outros fatores. Já entre os elementos internos destacam-se: a secção transversa da fibra muscular, o número de fibras musculares, a coordenação, a velocidade de contração e o tipo de fibra muscular, além do gênero e a idade9. Estudo da CC em mulheres com SOP mostra que não apenas a distribuição e a quantificação de massa muscular são influenciadas pelo hiperandrogenismo, mas também a quantidade e a distribuição da gordura corporal10. Supondo que o excesso de androgênios e insulina prevalentes nas mulheres com SOP promovam alterações na CC e na FM, o objetivo deste estudo foi comparar os parâmetros metabólicos, a CC e a FM de mulheres com SOP em relação a mulheres com ciclos menstruais ovulatórios. Métodos Foi realizado um estudo caso-controle no período de fevereiro de 2010 a julho de 2012, com voluntárias recrutadas nos ambulatórios do Setor de Reprodução Humana do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), nas Unidades Básicas de Saúde da cidade, com recrutamento por anúncio público no maior jornal de circulação local, e selecionadas independentes da raça, classe social ou paridade. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital das Clínicas da FMRP-USP e o termo de consentimento livre e esclarecido e um questionário de prontidão para a prática de atividade física (PAR-Q)11 foram obtidos de todas as voluntárias antes da inclusão na pesquisa. A amostra foi constituída por 55 voluntárias divididas em dois grupos: SOP (n=27) e Controle (CO) (n=28), com faixa etária entre 18 e 37 anos, com IMC entre 18 e 39,9 kg/m², que não praticavam atividade física regular e orientada. O grupo SOP teve o diagnóstico estabelecido com base nos critérios de Rotterdam2, com presença de pelo menos dois de três fatores: oligo ou anovulação, caracterizado por oligomenorreia ou amenorreia; sinais clínicos de excesso de androgênio (hirsutismo e/ou presença de acne) e/ou elevação dos níveis séricos de testosterona; e achados ultrassonográficos de morfologia policística dos ovários (presença de 12 ou mais folículos em cada ovário medindo entre 2 e 9 mm de diâmetro e/ou aumento de volume ovariano >10 mL). O CO foi composto por mulheres sem doenças conhecidas, com ciclos menstruais com intervalo de 24 a 32±3 dias e duração de 3 a 7 dias. Os critérios de exclusão para ambos os grupos foram: diagnóstico prévio de hiperplasia adrenal congênita não Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):316-22 317 Kogure GS, Piccki FK, Vieira CS, Martins WP, Reis RM clássica, disfunção de tireoide e hiperprolactinemia, presença de doença sistêmica que contraindicasse a prática de atividade física, utilização de medicamentos que pudessem interferir no eixo hipotálamo-hipófise ovariano, fumantes, gestantes e não aprovadas no questionário PAR-Q11. Todas as voluntárias foram avaliadas com os seguintes exames anteriores à avaliação da força muscular: ultrassonografia pélvica, coleta da amostra de sangue, exame de absorciometria de raio X de dupla energia (DEXA) e avaliação da CC pelo método antropométrico de dobras cutâneas (DC). Protocolos de avaliação clínica e laboratorial Foi realizada dosagem sérica de glicose, insulina, prolactina, testosterona, androstenediona, globulina carreadora dos hormônios sexuais (SHBG) e lipidograma. Foram calculados o índice de homeostasis model assessment – insulin resistance (HOMA-IR) e o índice de androgênios livres (FAI). A glicemia avaliada pelo método glicose oxidase; os níveis de prolactina pelo método de quimioluminescência; testosterona e androstenediona pelo método de radioimunoensaio e SHBG pelo método Enzyme-Linked Immuno Sorbent Assay (ELISA). O colesterol total (CT), os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL) e triglicérides (TG) foram dosados pelo método enzimático com o uso do aparelho BT 3000 plus (Wiener lab®, Rosario, Argentina). A concentração sérica de lipoproteína de baixa densidade (LDL) foi calculada a partir da fórmula de Friedewald: LDL=CT-(HDL+TG/5), uma vez que não havia dosagem de TG superior a 400 mg/dL nas amostras das pacientes incluídas12. O índice de androgênio livre (FAI) foi calculado pela fórmula: testosterona total (nmol/L)/ SHBG (nmol/L) x 100. Para a obtenção da testosterona total em nmol/L foi multiplicado o valor obtido em ng/dL pelo fator de conversão 0,034713. Para o cálculo do índice HOMA-IR foi utilizada a fórmula [(glicemia de jejum em mg/dL x 0,05551) x insulina de jejum em μU/mL]/22,5. Foi considerada resistência à insulina valor de HOMA-IR>2,71 nmol x μU/L14. A ultrassonografia pélvica transvaginal foi realizada com o aparelho Voluson 730 Expert machine (GE Medical Systems, ZIPF, Áustria). Foram avaliados o volume ovariano e o número/tamanho dos folículos presentes nesses órgãos. Para o cálculo do volume ovariano foi utilizada a fórmula do elipsoide prolato (profundidade x largura x comprimento x 0,5)15. A composição corporal foi avaliada por absorciometria de corpo inteiro usando-se um modelo de nova geração (Hologic QDR 4500W®; Bedford: MA, USA). Este exame foi realizado procedendo à varredura total do corpo do paciente, por meio da técnica DEXA com exposição a dois diferentes níveis de energia, 70 e 140 kilovolts16, e por dobras cutâneas (DC) com um compasso da marca Sanny 318 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):16-22 (Adipômetro Científico Sanny – Campo de medição de 0 a 78 mm). Empregamos a equação preditiva generalizada de 3 DC de JacKson e Pollock – (suprailíaca, coxa e triciptal) para mulheres17, e do valor absoluto das dobras (VA-DC) que corresponde à somatória das DC de diferentes partes do corpo: tronco (subescapular e suprailíaca), membro superior (triciptal) e membro inferior (coxa). Procedimento de familiarização e adaptação para o teste de uma repetição máxima As voluntárias inexperientes foram submetidas à aprendizagem dos exercícios durante duas semanas ou seis sessões de adaptação (gestos técnicos, postura, respiração e demais variáveis), quando foram orientadas a realizar três séries de dez repetições com repouso passivo de dois minutos entre as séries. Nas três primeiras sessões, os exercícios foram realizados sem sobrecarga, ao passo que nas últimas três sessões as voluntárias foram encorajadas a realizar os exercícios com a sobrecarga que acreditaram ser mais conveniente. Esta metodologia foi utilizada por Raso et al.18, em estudo com idosas experientes e sedentárias em exercício de cadeira extensora ou até o início de um breve desconforto19. Teste de uma repetição máxima (força dinâmica máxima O teste de uma repetição máxima (1-RM) foi empregado como medida não invasiva de força muscular e foi realizado na Sala de Musculação do Centro de Educação Física, Esportes e Recreação (CEFER) da USP. Os exercícios determinados para o teste foram: cadeira extensora para membro inferior, supino reto para tronco e rosca bíceps direta para membro superior. O protocolo do teste foi aplicado após sessões de familiarização. O parâmetro para estipular a sobrecarga inicial das participantes para a realização do teste 1-RM foi baseado na sobrecarga utilizada para realizar as 3 séries de 10 repetições durante o período de aprendizagem e adaptação. Foi adotado arbitrariamente o critério de duplicar a sobrecarga, ou seja, se a voluntária realizou as 3 séries de 10 repetições com 30 kg, a sobrecarga inicial para a execução do 1-RM foi de 60 kg19. Foram realizados exercícios de alongamento para os grupamentos musculares específicos e, imediatamente após, uma série de oito repetições no exercício com a sobrecarga utilizada no processo de adaptação e uma série de três repetições com um aumento de 10% na sobrecarga com um intervalo de um minuto entre elas. O teste de cada exercício foi iniciado aumentando-se gradativamente a sobrecarga (aumento nunca superior a 10%) até a avaliada conseguir realizar uma repetição com o máximo de peso possível. O intervalo de descanso entre cada tentativa (1-RM) foi de três minutos e o número de Análise de força muscular e composição corporal de mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos tentativas para determinação da carga máxima foi de três, seguindo as descrições de Matuszak et al.19. Teste de força isométrica de preensão manual A força de preensão manual foi obtida com dinamômetro de bulbo manual Sammons Preston – Made in USA (calibrado em libras por polegadas quadradas, mede entre 10 e 30 psi), respeitando-se o protocolo de Heyward20. As voluntárias permaneceram em pé com os dois braços estendidos e antebraço em rotação neutra. Durante a preensão manual, o braço permanecia estendido e imóvel, havendo somente a flexão das articulações interfalangeanas e metacarpofalangeanas. Foram efetuadas três medidas para cada mão de forma alternada com intervalo de um minuto entre cada medida. Foram computados os maiores valores entre as três medidas realizadas em cada braço. As medidas foram registradas de forma alternada entre as mãos, começando sempre pelo lado direito. O período de recuperação entre as medidas foi de aproximadamente um minuto20. Foi utilizado para a análise da força isométrica de pressão manual (FI) o valor referente ao membro dominante. Análise estatística Como nem todas as variáveis apresentavam distribuição normal, optou-se por utilizar o teste de Mann-Whitney para as comparação entre os grupos, que são amostras não pareadas, com os resultados expressos em média e desvio padrão (DP), e o nível de significância adotado foi de 5%. Além disso, para saber quais variáveis estavam associadas às diversas forças testadas (variáveis respostas), foi feita uma regressão linear múltipla com as seguintes variáveis preditoras ou covariáveis: SOP (variável qualitativa), IMC, idade e HOMA (variáveis quantitativas). Essas variáveis foram analisadas através do software SAS® 9.0 (SAS Institute Inc., North Carolina University, NC, EUA)21. Resultados Foram excluídas do estudo sete voluntárias do grupo SOP e nove do grupo CO, por não terem aderido ao período de familiarização dos exercícios físicos para a realização da avaliação da força muscular. As voluntárias do grupo SOP (n=20) tinham média de idade de 27,8±5,0 anos e IMC de 28,7±4,4 kg/m², e no grupo CO (n=19), de 27,9±5,2 anos e 27,1±5,1 kg/m², respectivamente, não havendo diferença entre os grupos. Os níveis de testosterona foram mais elevados no grupo SOP do que no grupo CO (68,0±20,2 versus 58,2±12,8 ng/dL; p=0,02), assim como o FAI (282,5±223,8 versus 127,0±77,2; p=0,01). Observamos níveis mais elevados de insulina no grupo SOP (SOP: 8,4±7,0 µIU/mL versus CO: 4,0±2,7 µIU/mL; p=0,01) e de HOMA-IR (SOP: 2,3±2,3 versus CO: 1,1±0,8; p=0,01) (Tabela 1). Os níveis de SHBG foram inferiores no grupo SOP (52,5±43,3 nmol/L) em relação ao grupo CO (65,1±27,4 nmol/L) (p=0,04). Os níveis de glicemia não foram diferentes entre os grupos. Os valores de TG foram mais elevados no grupo SOP (146,2±82,8 mg/dL) em relação ao CO (105,5±66,9 mg/dL) (p=0,04). O CT, o HDL e o LDL não apresentaram diferenças entre os grupos estudados. Na análise da CC, o percentil de gordura mostrou-se elevado em ambos os grupos através da análise de DC (SOP: 31,4%±7,8 versus CO:29,9%±7,7) e DEXA (SOP: 37,9%±4,8 versus CO:36,6%±7,2), sem diferença entre ambos, assim como as demais variáveis na análise da CC (Tabela 2). Tabela 1. Características laboratoriais das mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos e Grupo Controle SOP CO média±DP média±DP Prolactina (ng/mL) 17,0±16,6 14,2±10,9 NS Testosterona (ng/dL) 68,0±20,2 58,2±12,8 0,02 108,4±37,4 81,5±24,5 NS 52,5±43,3 65,1±27,4 0,04 FAI 282,5±223,8 127,0±77,2 0,01 Glicemia (mg/dL) 104,8±17,9 103,3±19,6 NS Insulina (µIU/mL) 8,4±7,0 4,0±2,7 0,01 Variável Androstenediona (ng/dL) SHBG (nmol/L) HOMA-IR Valor p 2,3±2,3 1,6±0,8 0,01 Colesterol total (mg/dL) 209,7±48,1 211,5±46,1 NS LDL colesterol (mg/dL) 127,3±35,6 131,6±37,2 NS HDL colesterol (mg/dL) 53,2±12,2 58,7±10,9 NS 146,2±82,8 105,5±66,9 0,04 Triglicérides (mg/dL) SOP: Síndrome dos Ovários Policísticos; CO: Controle; DP: desvio padrão; SHBG: Globulina ligadora de hormônios sexuais; FAI: índice de androgênios livres; HOMA-IR: homeostasis model assessment – insulin resistance; LDL: lipoproteína de baixa densidade; HDL: lipoproteína de alta densidade; valores p<0,05 considerados estatisticamente significativos; NS: não significativo. Tabela 2. Comparação da composição corporal por dobras cutâneas e absorciometria de raios X de dupla energia nas mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos e Controle Variável SOP CO média±DP média±DP Valor p %G – DC 31,4±7,8 29,9±7,7 NS %MLG – DC 68,5±7,8 70,0±7,7 NS 112,8±35,1 100,2±35,9 NS MG/alt (kg/m²) – DEXA 10,5±3,0 10,1±4,1 NS MM/alt (kg/m²) – DEXA 16,7±2,6 16,4±2,3 NS %G – DEXA 37,9±4,8 36,6±7,2 NS VA – DC SOP: Síndrome dos Ovários Policísticos; CO: Controle; DP: desvio padrão; DC: dobras cutâneas; %G: percentual de gordura; MLG: massa livre de gordura; VA: valor absoluto; DEXA: absorciometria de raios X de dupla energia; MG/alt.: índice de adiposidade (razão da massa gorda pela altura); MM/alt: índice de massa magra (razão da massa magra pela altura); p<0,05: valores considerados estatisticamente significativos; NS: não significativo. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):316-22 319 Kogure GS, Piccki FK, Vieira CS, Martins WP, Reis RM Tabela 3. Valores médios e desvio padrão dos testes de força dinâmica máxima e de força isométrica de preensão manual nas mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos e Controle Variável SOP CO média±DP média±DP Valor p Supino reto (kg) 31,2±4,7 27,8±3,6 0,04 Cadeira extensora (kg) 27,9±6,2 23,4±4,2 0,01 Rosca direta (kg) 19,0±3,4 16,8±3,56 0,05 5079,6±1035,7 4477,3±691,6 0,04 Preensão manual (kgf/m²) SOP: Síndrome dos Ovários Policísticos; CO: Controle; DP: desvio padrão; p<0,05: valores considerados estatisticamente significativos. Quanto aos testes de FM observou-se que grupo SOP apresentou níveis elevados de FDM em relação ao grupo CO nos exercícios supino reto (31,2±4,7 versus 27,8±3,6 kg; p=0,04) e cadeira extensora (27,9±6,2 versus 23,4±4,2 kg; p=0,01). A FI de preensão manual do membro dominante foi também mais elevada no grupo SOP (5079,6±1035,7 versus 4477,4±691,6 kgf/m²; p=0,04). No exercício rosca direta não foi observada essa diferença entre os grupos (SOP: 19±3,4 versus CO: 16,8±3,5 kg; p=0,05) (Tabela 3). A análise multivariada da força muscular obtida nos exercícios supino reto, cadeia extensora, rosca direta e força isométrica de preensão manual do membro dominante mostrou que ser portadora SOP é um preditor independente de aumento de força nos exercícios supino reto (estimativa (E)=2,7) (p=0,04) e cadeira extensora (E=3,5) (p=0,04). O IMC foi também um preditor independente de FM no teste de FI de preensão manual do membro dominante (E=72,2) (p<0,01), nos exercícios supino reto (E=0,2) (p=0,02) e rosca direta (E=0,3) (p<0,01). Nenhuma associação foi encontrada entre HOMA-IR e FM. Discussão Neste estudo, as mulheres com SOP apresentaram níveis elevados de testosterona e FAI, confirmando os dados da literatura22, assim como diminuição da sensibilidade à insulina, com quadro de RI23. Os andrógenos, especialmente a testosterona, possuem importantes funções fisiológicas na composição corporal, influenciando positivamente o aumento de massa magra, massa óssea e força muscular7,8 em mulheres24, assim como a insulina, pois os seus efeitos anabólicos e os efeitos metabólicos da resistência à insulina são parcialmente dependentes da massa muscular25. Mulheres com SOP apresentaram níveis de FDM mais elevados em relação a mulheres com ciclos ovulatórios, nos exercícios supino reto e extensão das pernas, pelos quais se avaliou, respectivamente, a força do músculo peitoral maior para região do tronco e a força dos músculos extensores do joelho para membros inferiores. Não encontramos outros estudos que tenham avaliado a FM das mulheres portadoras de SOP com uso do teste de força 320 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):16-22 dinâmica de 1-RM em exercícios. São poucos os estudos relacionados à FM em mulheres com SOP. Observamos entre as mulheres com SOP níveis mais elevados de FI de preensão manual do membro dominante em relação às mulheres controle. Esses dados são discordantes dos achados de Soyupek et al.26, que, usando um dinamômetro Jammar, avaliaram este mesmo grupo muscular em 37 mulheres com SOP e 32 mulheres saudáveis, pareadas por idade, e não encontraram diferença na força. A FM dos músculos extensores do joelho da perna dominante de um grupo de 10 mulheres com SOP e 16 mulheres controles pareadas por idade, peso e nível de atividade física, foi avaliada com um dinamômetro isocinético, e não foram encontradas diferenças entre os grupos, e os autores relataram que essa ausência de resultados significativos se deu possivelmente pela semelhança do perfil metabólico e da RI entre os grupos analisados27. Na interpretação dos nossos resultados, apesar de as mulheres com SOP apresentarem níveis mais elevados de insulina e de HOMA-IR, a RI não se apresentou como preditor independente para o desempenho de FM. Por outro lado, ser portadora de SOP esteve associado a um maior desempenho de força nos exercícios para tronco e membro inferior. Da mesma maneira, o IMC também esteve associado aos exercícios de força nos membros superiores, tronco e FI de preensão manual. Podemos sugerir que, pelo fato de a SOP ser uma anovulação crônica hiperandrogênica, o excesso de androgênios possa ser responsável pelo aumento da FM nessas mulheres. Uma das limitações de nosso estudo foi não termos analisado os níveis de atividade física habitual relacionada ao trabalho e ao tempo de lazer. Utilizamos no processo de seleção das voluntárias a ausência de atividade física regular e orientada. Entretanto, os achados de avaliação de FM em mulheres com SOP, pela metodologia utilizada nesta pesquisa são inéditos, uma vez que este tema ainda não foi explorado na literatura, sendo esta a principal contribuição deste estudo. Não observamos alteração na CC em relação à massa de gordura e massa livre de gordura pelos métodos empregados nesta análise. Dados similares foram encontrados por outros autores ao compararem mulheres hígidas e mulheres com SOP com pesos corporais correlatos, com uso do DEXA, em que a quantidade de gordura corporal total e do tronco foram similares28. No entanto, quando esta análise foi realizada levando-se em consideração o IMC, observou-se que mulheres com SOP com sobrepeso e peso normal apresentavam quantidade mais elevadas de gordura na região abdominal. Outros estudos, utilizando diversos instrumentos de avaliação e amostras, identificaram que 50 a 60% das mulheres com SOP apresentam elevada prevalência de obesidade de caráter central22, independente do IMC29. A avaliação da distribuição da gordura corporal, com o Análise de força muscular e composição corporal de mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos método de DC, também mostrou que mulheres com SOP apresentam valores maiores de massa de gordura no tronco e braços, achados esses atribuídos à RI e a testosterona livre prevalentes30. Em mulheres com hiperandrogenismo, com e sem SOP, foram encontrados aumento da massa de gordura e sua distribuição, principalmente na região abdominal, e aumento na massa livre de gordura, que ocasionou aumento da massa muscular nas mulheres com SOP, achado este também atribuído à hiperinsulinemia12,31. A avaliação do hiperandrogenismo e da hiperinsulinemia correlacionada com a CC e FM na SOP pode ser útil para ampliarmos os conhecimentos sobre a relação das características físicas como resultado das alterações metabólicas da doença, podendo auxiliar em respostas futuras quanto às implicações do hiperandrogenismo. Isto vem de encontro com a metanálise conduzida pela Sociedade de Excesso de Androgênios e SOP, que observou que o manejo no estilo de vida com a prática de atividade física para a perda de peso em pacientes com SOP deveria ser utilizada como terapia primária para tratamento de complicações metabólicas32. Concluiu-se, neste estudo, que as mulheres com SOP apresentam maior FM, em diferença na CC. A RI não esteve associada ao desempenho da FM. Possivelmente, a FM pode estar relacionada ao hiperandrogenismo nas mulheres com SOP. Referências 1. March WA, Moore VM, Willson KJ, Phillips DI, Norman RJ, Davies MJ. 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Leonardo Augusto Lombardi1 Ricardo Santos Simões2 Carla Cristina Maganhin3 Cecilia Ferreira da Silva2 Gustavo Arantes Rosa Maciel2 Edmund Chada Baracat2 José Maria Soares Júnior3 Morfologia das células intersticiais de ovários policísticos de ratas: um estudo experimental Morphology of the interstitial cells of rat polycystic ovaries: an experimental study Artigo Original Resumo Palavras-chave Síndrome do ovário policístico Cistos ovarianos Ovário Folículo ovariano Rato Keywords Polycystic ovary syndrome Ovarian cysts Ovary Ovarian follicle Rats OBJETIVOS: Avaliar a histomorfometria das células intersticiais dos ovários, bem como analisar a concentração sanguínea de esteroides sexuais de ratas portadoras de ovários policísticos induzidos pela luz contínua. MÉTODOS: Vinte ratas foram divididas em dois grupos: ratas na fase de estro (GCtrl ) e ratas portadoras de ovários policísticos induzidos pela iluminação contínua (GOP). Os animais do GCtrl permaneceram com período de luz das 7:00 às 19:00 horas, e os animais do GOP, com iluminação contínua (400 Lux), durante um período de 60 dias. Ao final desse período todos os animais foram anestesiados, foi coletado o sangue, para determinação dos níveis séricos de estradiol (E2), progesterona (P4) e testosterona (T), seguido da retirada dos ovários que foram fixados em formol a 10% e processados para inclusão em parafina. Cortes histológicos com 5 µm corados pela hematoxilina e eosina foram utilizados para análise histomorfométrica. As análises morfológicas, contagem de cistos, determinação da concentração e do volume nuclear das células intersticiais foram realizadas com o auxílio de microscópio de luz adaptado a uma câmera de alta resolução (AxioCam), cujas imagens foram transmitidas e analisadas em computador com software AxioVision Rel 4.8 (Carl Zeiss). Os dados obtidos foram submetidos ao teste t de Student (p<0,05). RESULTADOS: A morfologia mostrou a presença de cistos nos ovários pertencentes ao Grupo OP e de corpos lúteos no GCtrl, mostrando ainda evidências da origem das células intersticiais a partir das células da teca interna desses cistos. Com relação aos níveis hormonais o GOP apresentou níveis séricos de estradiol (pg/mL) aumentados em relação ao GCtrl (GOP=124,9±4,2>GCtrl=73,2±6,5; p<0,05), o mesmo ocorrendo com os níveis de testosterona (pg/mL) (GOP=116,9±4,6>GCtrl=80,6±3,9; p<0,05). Entretanto os níveis de progesterona (ng/mL) foram mais elevados no GCtrl em relação ao GOP (GCtrl=16,3±2,0>GOP=4,2±1,5; p<0,05). A morfometria mostrou haver aumento significante do volume nuclear no grupo GOP (GOP=102,1±5,2>GCtrl=63,6±16,5; p<0,05), assim como da área ocupada (%) pelas células intersticiais (GOP=24,4±6,9>GCtrl=6,9±3,2; p<0,05) em relação aos animais do GCtrl. CONCLUSÃO: As células intersticiais do ovário policístico da rata provavelmente provêm dos cistos ovarianos devido à degeneração das células da granulosa e diferenciação das células da teca interna. As elevações dos níveis séricos de testosterona e de estradiol provavelmente provêm do aumento significativo da atividade celular e da área ocupada pelas células intersticiais. Abstract PURPOSES: To evaluate the histomorphometry of ovarian interstitial cells, as well as the blood sex steroid concentrations of female rats with polycystic ovaries induced by continuous light. METHODS: Twenty female rats were divided into two groups: Control Group – in the estrous phase (CtrlG), and a group of rats with polycystic ovaries induced by continuous illumination (POG). CtrlG animals were maintained on a light period from 07:00 a.m. to 07:00 p.m., and POG animals with continuous illumination (400 Lux) for 60 days. After this period all animals were anesthetized and blood was collected for the determination of serum estradiol (E2), progesterone (P4), and testosterone (T), followed by removal of the ovaries that were fixed in 10% formalin and processed for paraffin embedding. Five-µm histological sections were stained with hematoxylin and eosin and used for histomorphometric analysis. Morphological analyses, cyst count, determination of Correspondência José Maria Soares Júnior Rua Napoleão de Barros 715 – 7º andar – Vila Clementino CEP: 04024-002 São Paulo (SP), Brasil Recebido 21/05/2012 Aceito com modificações 25/06/2012 Trabalho realizado nos Departamentos de Morfologia e Genética da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – UNIFESP – São Paulo (SP), e Obstetrícia e Ginecologia, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil. 1 Departamento de Morfologia e Genética da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. 2 Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil. 3 Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. Conflito de interesses: não há. Lombardi LA, Simões RS, Maganhin CC, Silva CF, Maciel GAR, Baracat EC, Soares Júnior JM concentration and of the nuclear volume of interstitial cells were performed with the aid of a light microscope adapted to a high resolution camera (AxioCam), whose images were transmitted to and analyzed by the computer using AxioVision Rel 4.8 software (Carl Zeiss). Data were analyzed statistically by the Student’s t-test (p<0.05). RESULTS: Morphological analysis showed the presence of ovarian cysts in POG animals and corpora lutea in CtrlG animals, as well as evidence of the origin of interstitial cells from the internal theca of these cysts. POG animals presented increased serum estradiol levels (pg/mL) compared to CtrlG animals (POG=124.9±4.2>CtrlG=73.2±6.5, p<0.05), the same occurring with testosterone levels (pg/mL) (POG=116.9±4.6>CtrlG=80.6±3.9, p<0.05). However, progesterone levels (ng/mL) were higher in CtrlG than in POG animals (CtrlG=16.3±2.0>POG=4.2±1.5, p<0.05). Morphometry showed a significant increase in nuclear volume in POG animals (POG=102.1±5.2>CtrlG=63.6±16.5, p<0.05), as well as in the area occupied (%) by interstitial cells (POG=24.4±6.9>CtrlG=6.9±3.2, p<0.05) compared to CtrlG animals. CONCLUSION: The interstitial cells of the rat polycystic ovary probably originate from ovarian cysts due to the degeneration of granulosa cells and differentiation of the internal theca cells. The elevations of serum testosterone and estradiol were probably due to the significant increase in cell activity and in the area occupied by interstitial cells. Introdução Entre as inúmeras causas de infertilidade, destaca-se, por sua frequência, a síndrome dos ovários policísticos (SOP) que atinge aproximadamente 5 a 10% das mulheres durante a vida reprodutiva1,2. O hiperandrogenismo é uma das características mais notáveis dessa síndrome, que resulta em acne, hirsutismo e disfunção ovulatória2,3. A maioria dos autores refere que o ovário e a adrenal de mulheres portadoras da SOP sejam a fonte mais importante dos androgênios e talvez os responsáveis pela anovulação e sintomas do hiperandrogenismo cutâneo2. Alguns autores referem que a biossíntese dos androgênios, em mulheres com SOP, estaria relacionada com a via das MAP quinases (MAPK), pois uma diminuição da fosforilação das quinases reguladas pela sinalização extracelular (MEK1/2 e ERK1/2) nas células da teca interna induziria a elevação dos androgênios plasmáticos4,5. No sentido de se estudar a SOP, inúmeros modelos experimentais em animais foram desenvolvidos; entre eles, a exposição de ratas à luz continua6. Nessas condições, as ratas entram em estado de estro permanente, ocorrendo ausência de ovulação com a presença de cistos ovarianos, assim como um aumento dos androgênios circulantes e da resistência insulínica7. Alguns autores referem a presença de grande número de células intersticiais nesses ovários8. Em ratas normais ou em estro permanente é referido que os androgênios provêm da interação das células tecais e intersticiais (T-I), sendo estas últimas provavelmente oriundas da teca interna8,9. Neste trabalho, interessamonos em investigar as células intersticias presentes nos ovários de ratas em estro permanente. Assim, nosso objetivo foi avaliar a histomorfometria das células intersticiais, bem como analisar a concentração de esteroides sexuais em ratas portadoras de ovários policísticos induzidos pela luz contínua. Métodos Desenvolvemos um estudo experimental prospectivo. Foram utilizadas ratas (Rattus norvegicus albinus) adultas, virgens, pesando aproximadamente 250 g, fornecidas pelo 324 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):323-8 Centro de Desenvolvimento de Modelos de Experimentação (CEDEME) da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP/EPM (Parecer nº 1724/10), seguindo as diretrizes do Conselho Canadense para os Cuidados dos animais10. Após um período de adaptação de sete dias ao novo ambiente, todos os animais foram submetidos à coleta diária de secreção vaginal, durante sete dias consecutivos, visando à avaliação da função ovariana. O resultado dos exames permitiu a observação das sequências regulares dos ciclos estrais, demonstrando atividade normal das gônadas. Somente as ratas com ciclos estrais regulares foram incluídas no estudo. Assim, 20 ratas foram divididas ao acaso em 2 grupos, contendo cada um 10 animais: GCtrl – animais na fase de estro fisiológico normal e GOP – animais portadores de ovários policísticos. Para a obtenção dos ovários policísticos os animais foram alocados em caixas de madeira, mantidas em biotério sob iluminação artificial contínua por meio de lâmpadas (Philips, modelo luz dia, 40 W) que fornecem cerca de 400 Lux na região ocupada pelas ratas durante um período de 60 dias consecutivos. Já os animais do GCtrl permaneceram sob as mesmas condições normais de biotério, no entanto, com período de luz das 7:00 às 19:00 horas. Após o período de 60 dias, foram realizados novamente exames colpocitológicos por um período de sete dias, com o intuito de analisar as fases do ciclo estral. Para tanto, com o auxílio de hastes de algodão foram colhidas amostras do epitélio vaginal que foram mergulhadas em solução de álcool-éter e posteriormente coradas pelo método de Shorr-Harris. Assim, dos animais pertencentes ao GCtrl somente foram utilizadas as ratas que estavam ciclando; nas submetidas à luz contínua foram utilizadas apenas as que se apresentavam durante todo o período em estro permanente. Após esse período os animais foram anestesiados com 15 mg/kg de xilazina (Rompun®, SP, Brasil) associados a 30 mg/kg de ketamina (Ketalar®, SP, Brasil) via intraperitoneal, e colocados em posição dorsal, sendo feita punção cardíaca para a retirada de sangue. Após a Morfologia das células intersticiais de ovários policísticos de ratas: um estudo experimental coleta, as amostras foram imediatamente centrifugadas a 4°C (1500 x g) por 10 minutos e o sobrenadante congelado a -20°C para posterior análise por radioimunoensaio (RIA), dos níveis séricos de estradiol (E2), progesterona (P4) e testosterona (T). Em seguida, foi feita tricotomia na região abdominal e realizada incisão abdominal longitudinal na linha média, sendo retirados os ovários que foram imediatamente mergulhados em formaldeído a 10% (tampão-fosfato 10 mM, pH 7,4) para posterior processamento histológico de inclusão em parafina. Dos blocos foram obtidos cortes de 5 µm que foram corados pela hematoxilina e eosina (HE). Os níveis séricos de estradiol (E2), progesterona (P4) e testosterona (T) foram determinados usando seus respectivos kits (ICN Biomedicals Inc., Costa Mesa, CA, USA). Os limites de detecção para a determinação de E2, P4 e T foram, em média, 0,1 pg/mL, 0,15 ng/mL e 0,15 pg/mL, respectivamente. A reatividade cruzada com outros esteroides para os ensaios foi menor do que 0,01%, sendo os ensaios realizados em duplicata. As análises morfológicas e quantitativas foram realizadas no Serviço de Histologia da UNIFESP/EPM. Para a descrição morfológica utilizamos microscópio de luz (AxioLab, Carl Zeiss) com objetivas variando de 4 a 100x e oculares de 10x. Para a obtenção dos dados morfométricos, imagens foram capturadas através de uma câmera de alta resolução (AxioCam–MCR da Carl Zeiss) adaptada a microscópio de luz (AxioLab, Carl Zeiss) com objetiva de 40x, que foram transmitidas a computador com software AxioVision Rel 4.8 (Carl Zeiss). Para a avaliação dos volumes nucleares das células intersticiais foram obtidas 5 imagens de cada ovário, de cada animal, perfazendo um total de 100 imagens por grupo. Foram marcados o menor e o maior diâmetro de 10 núcleos por imagem, para avaliação da atividade celular, sendo os valores aplicados na seguinte fórmula: v=a 2.b/1,91 onde a=menor diâmetro, b=maior diâmetro e 1,91 uma constante. Para a determinação da área ocupada pelas células intersticiais foi utilizado o mesmo equipamento, com objetiva de 10x. Inicialmente foi delimitada a área ovariana total e a área ocupada pelas células intersticiais em três lâminas em cada ovário, por animal, sendo os dados expressos em percentagem de área de ocupação das células intersticiais. Neste mesmo aumento foram contados os cistos ovarianos e os corpos lúteos presentes em três cortes por ovário, por animal. Ao final da retirada dos ovários, os animais foram sacrificados pelo aprofundamento do plano anestésico e descartados segundo as normas vigentes na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM). Os valores das dosagens hormonais e os dados morfométricos obtidos foram analisados pelo teste t de Student, não pareado. Fixou-se em 5% (p<0,05) o nível para rejeição da hipótese de nulidade, assinalando-se com asterisco os valores significantes. Resultados Dosagens hormonais Os resultados das dosagens hormonais (estradiol, progesterona e testosterona) estão resumidos na Tabela 1. Com relação à determinação hormonal o GOP apresentou níveis séricos de estradiol (pg/mL) significativamente aumentados em relação ao GCtrl (GOP=124,9±4,2>73,2±6,5*; p<0,05), o mesmo ocorrendo com os níveis de testosterona (pg/mL) (GOP=116,9±4,6>GCtrl=80,6±3,9*; p<0,05). Entretanto, os níveis de progesterona (ng/mL) foram significantemente maiores no GCtrl (GCtrl=16,3±2,0>GOP=4,2±1,5*; p<0.05). Morfológicos Na fase de estro fisiológico (GCtrl): os ovários estão revestidos por um epitélio cúbico ou pavimento simples e no seu interior identificamos a presença de inúmeros folículos ovarianos em vários estágios do desenvolvimento, células intersticiais e corpos lúteos (Figura 1A). As células intersticiais apresentam-se como células poliédricas, com núcleo central e esférico. Os cortes de ovários policísticos (GOP): apresentam basicamente a mesma estrutura da observada no GCtrl, no entanto, observa-se a presença de inúmeros cistos ovarianos e não se observam corpos lúteos (Figura 1B). Notamos neste grupo a presença de inúmeros cistos ovarianos, íntegros ou infiltrados por leucócitos, sendo o contato das células da granulosa com a teca interna pregueada (Figura 2A). Os cistos ovarianos puderam ser caracterizados em três tipos básicos: íntegros – que estão formados pelo ovócito, antro folicular volumoso e Tabela 1. Médias e desvios padrão dos níveis séricos de estradiol, progesterona e testosterona total, assim como dos parâmetros morfométricos avaliados nos ovários nos dois grupos de estudo Grupos Ctrl OP Estradiol (pg/mL) 73,2±6,5 124,9±4,2* Progesterona (ng/mL) 16,3±2,0 4,2±1,5* Testosterona (pg/mL) 80,6±3,9 116,9±4,6* Área ocupada pelas células intersticiais (%) 6,9±3,2 24,4±6,9* Volume nuclear das células intersticiais (µm3) 63,6±16,5 102,1±5,2* Cistos (nº/lâmina) Ausentes 3,0±0,1* Corpos lúteos (nº/lâmina) 4,1±1,2 Ausentes* Ctrl: estro fisiológico; OP: ovários policísticos; *p<0,05. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):323-8 325 Lombardi LA, Simões RS, Maganhin CC, Silva CF, Maciel GAR, Baracat EC, Soares Júnior JM inúmeras camadas de células da granulosa; rodeados por células poliédricas, a teca interna (Figura 2A). O segundo tipo é parecido com o primeiro, no entanto, as células da granulosa encontram-se infiltradas por leucócitos, e o terceiro tipo é caracterizado por um intenso processo de infiltração leucocitária e descamação das células da granulosa (Figuras 2A e B). Nota-se, ainda, no estroma ovariano, a presença de arranjos de células da teca interna formando estruturas esféricas com aspecto epitelioide, onde se identificam núcleos volumosos com nucléolos evidentes, características das células intersticiais (Figura 2C). Morfométricos Os resultados morfométricos estão expressos na Tabela 1. Notar que a área ocupada pelas células intersticiais em porcentagem no ovário de ratas mostrou-se Figura 1. Fotomicrografias mostrando cortes de ovários de ratas em estro fisiológico (GCtrl) e portadoras de ovários policísticos (GOP). Observar em GCtrl a presença de corpos lúteos (CL) e folículos antrais (FA). Em GOP, notar inúmeros cistos ovarianos (C). 40x. HE. A B C D Figura 2. Fotomicrografias mostrando cortes de ovários de ratas com ovários policísticos. Em A, notar cisto (C) ovariano mostrando dobras da junção entre as células da granulosa (CG) e da teca interna (setas). Em B, observar cisto (C) com desprendimento das células da granulosa (setas). Em C, notar células da granulosa desprendidas (*), infiltração leucocitária (setas) e o limite com a teca interna (pontas de seta). Em D, notar agrupamento de células intersticiais formando uma estrutura folicular (CI). A, B=200x e C e D=400x. HE. 326 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):323-8 Morfologia das células intersticiais de ovários policísticos de ratas: um estudo experimental significativamente maior no GOP do que no GCtrl (GOP=24,4±6,9>GCtrl=6,9±3,2*; p<0,05), o mesmo ocorrendo com os volumes nucleares das células intersticiais que também se mostraram maiores no GOP (GOP =102,1±5,2>GCtrl=63,6±16,5*; p<0,05). Com relação ao número de cistos, estes só estavam presentes no GCtrl (GOP=3,0±0,1/ovário), sendo encontrados corpos lúteos só no GCtrl (GCtrl=4,1±1,2/ovário). Discussão A síndrome dos ovários policísticos tem sido considerada, até hoje, como uma das entidades mais controversas em Endocrinologia Ginecológica, pois inclui amplo espectro de sintomas e sinais clínicos2. Extensas revisões da literatura referem enorme gama de alterações em genes relacionados às várias vias de transdução de sinal relacionadas com a esteroidogênese, ação dos hormônios esteroides, ação e regulação das gonadotrofinas, ação e secreção da insulina, homeostase e inflamação crônica, o que mostra ser a SOP uma síndrome multicomplexa, que apresenta inúmeras variáveis11. A relevância dos modelos de roedores para a compreensão dos distúrbios do ovário em mulheres com SOP é muito importante, mas os resultados destes experimentos são limitados pelo fato de o ciclo ovulatório em roedores ser poliovulatório, enquanto em mulheres, em geral, é mono-ovulatório, ou seja, um óvulo por ciclo12. Dentre os modelos experimentais existentes em roedores, optamos pelo da luz contínua para realizar o presente estudo, por este não ser um método invasivo; dessa forma, para a obtenção dos ovários policísticos submetemos ratas à iluminação contínua de 400 Lux, por um período de 60 dias consecutivos13. Nossos dados morfológicos mostraram nos ovários de todos os animais submetidos à luz contínua a presença de cistos, alguns íntegros, outros em degeneração, grande quantidade de células intersticiais e ausência de corpos lúteos. A presença de cistos ovarianos associada à ausência de ovulação representa um dos fenótipos descritos no ovário de mulheres portadoras de SOP, baseados nos critérios da ESHRE/ASRM3 e da AE-PCOS Society14. Com relação às células intersticiais, estas são bem mais evidentes nos animais portadores de cistos, sendo que a morfometria mostrou maior área ovariana ocupada por estas células, ocorrendo ainda aumento significativo do seu volume nuclear, indicando maior atividade de síntese. Em ratas as células intersticiais são especializadas na produção de androgênios, sendo provavelmente, segundo alguns autores, oriundas de células que se desprenderam da teca interna ou mesmo oriundas de folículos atrésicos, perpetuando o estado hiperandrogênico, o que está de acordo com os dados morfológicos e as dosagens hormonais por nós encontrados8. Com relação à origem das células intersticiais, acreditamos serem oriundas da teca interna dos cistos ovarianos, visto termos identificado processos degenerativos das células da granulosa, enquanto as da teca interna mostravam-se íntegras, reagrupando-se formando estruturas vesiculares, e que, posteriormente, formavam os cordões de células intersticiais na maioria dos cistos. Com relação aos níveis hormonais, em um folículo antral normal as células da teca interna, quando completamente diferenciadas, apresentam características ultraestruturais de células produtoras de esteroides e sintetizam androstenediona, a qual é transportada para as células da granulosa. Estas últimas, sob influência do hormônio folículo estimulante (FSH), sintetizam a enzima aromatase, que transforma a androstenediona em estrogênios15. Nossos resultados mostraram aumento significativo nos níveis séricos de androgênios e de estradiol no GCtrl, o que pode ser explicado pela presença dos folículos antrais e dos cistos ovarianos, assim como da conversão periférica dos androgênios em estradiol. Já os baixos níveis de progesterona, por nós detectado, devem estar relacionados à ausência de corpos lúteos no GOP. Assim, acreditamos que o aumento da área de ocupação do estroma ovariano pelas células instersticiais se dá por conta da ausência da ovulação, da formação de cistos ovarianos e sua subsequente degeneração, com despreendimento das células tecais. Uma possível explicação para a ausência da ovulação nesses animais é que os processos fisiológicos e comportamentais que exibem ritmicidade circadiana são controlados por relógios endógenos presentes nos neurônios do núcleo supraquiasmático do encéfalo (NSQ) e em algumas células de tecidos periféricos 16. Estes relógios celulares são acionados por alterações moleculares, que alteram a expressão rítmica de genes com periodicidade de cerca de 24 horas16 . Os neurônios do NSQ recebem informações diárias sobre luz e escuridão do ambiente através de uma via neuronal monossináptica originária de um subconjunto de células ganglionares sensíveis à luz presentes na retina17. Dessa forma, o relógico biológico presente no NSQ desempenha papel importante na regulação do ciclo reprodutivo no sexo feminino, visto que projeções neuronais destes centros para os neurônios que secretam GnRH têm sido descritas em ratos18,19. Assim, a luz contínua deve bloquear a liberação desse hormônio e promover as alterações histofisiológicas nos ovários. Resumindo, nossos resultados mostram que ovários de ratas submetidas à luz contínua são portadoras de cistos ovarianos, apresentam alterações nos níveis Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):323-8 327 Lombardi LA, Simões RS, Maganhin CC, Silva CF, Maciel GAR, Baracat EC, Soares Júnior JM séricos de estradiol, testosterona e de progesterona, além de grande quantidade de células intersticiais, bem ativas, provavelmente oriundas da teca interna dos cistos ovarianos. Agradecimentos À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de mestrado para Leonardo Augusto Lombardi. Referências 1. 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Hum Reprod. 2004;19(1):41-7. Nelson-Degrave VL, Wickenheisser JK, Hendricks KL, Asano T, Fujishiro M, Legro RS, et al. Alterations in mitogen-activated protein kinase kinase and extracellular regulated kinase signaling in theca cells contributed to excessive androgen production in polycystic ovary syndrome. Mol Endocrinol. 2005;19(2):379-90. Tosi F, Negri C, Perrone F, Dorizzi R, Castello R, Bonora E, et al. Hyperinsulinemia amplifies GnRH agonist stimulated ovarian steroid secretion in women with polycystic ovary syndrome. J Clin Endocrinol Metab. 2012;97(5):1712-9. Salvetti NR, Panzani CG, Gimeno EJ, Neme LG, Alfaro NS, Ortega HH. An imbalance between apoptosis and proliferation contributes to follicular persistence in polycystic ovaries in rats. Reprod Biol Endocrinol. 2009;7:68. 7. Sara L, Antal P, Masszi G, Buday A, Horvath EM, Hamar P, et al. Arteriolar insulin resistance in a rat model of polycystic ovary syndrome. Fertil Steril. 2012;97(2):462-8. 8. 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Aplicou-se um questionário referente às características sociodemográficas, clínicas e comportamentais das mulheres. A função sexual foi avaliada pelo Female Sexual Function Index (FSFI), enquanto os sintomas do climatério pelo Menopause Rating Scale (MRS). RESULTADOS: No grupo estudado, 67% das mulheres apresentaram risco de disfunção sexual (FSFI≤26,5). Todos os domínios do FSFI (desejo, excitação, lubrificação, orgasmo, satisfação e dor) apresentaram escores mais baixos nas mulheres com risco de disfunção sexual (p<0,001). Os domínos excitação, orgasmo e dor foram os que mais contribuíram para os baixos escores do FSFI. Os sintomas somatovegetativos, urogenitais e psicológicos do MRS apresentaram-se mais elevados nas mulheres com risco de disfunção sexual, sendo significativos para todas as comparações (p<0,001). A análise de regressão logística revelou que as chances de mulheres com riscos de disfunção sexual apresentarem fogachos, humor depressivo, problemas sexuais e ressecamento vaginal foram, respectivamente, 2,1 (IC95% 1,2–3,5); 2,4 (IC95% 1,5–4,1); 2,3 (IC95% 1,4–3,8) e 2,2 (IC95% 1,3–3,6) vezes maior, quando comparadas àquelas sem risco. CONCLUSÃO: Os sintomas climatéricos parecem influenciar a função sexual de mulheres na meia-idade. Abstract PURPOSE: To evaluate the influence of climacteric symptoms on the sexual function in middle-aged women. METHODS: A cross-sectional population study was conducted on a sample of 370 middle-aged women, aged 40 to 65 years-old, cared for at the Basic Health Units in Natal, in the state of Rio Grande do Norte, Brazil. We used a questionnaire containing questions on sociodemographic, clinical, and behavioral characteristics. Sexual function was evaluated by the Female Sexual Function Index (FSFI), while the menopause symptoms by the Menopause Rating Scale (MRS). RESULTS: In the studied group, 67% of the women reported risk for sexual dysfunction (FSFI≤26.5). All FSFI domains (desire, arousal, lubrication, orgasm, satisfaction, and pain) were lower in women with risk for sexual dysfunction (p<0.001). The arousal, orgasm, and pain domains were most likely to contribute to lower FSFI scores. All somatovegetative, urogenital, and psychological MRS symptoms were more elevated in women with risk for sexual dysfunction, being significant for all comparisons (p<0.001). Logistic regression analysis revealed that the likelihood of women with risks of sexual dysfunction to present hot flushes, depression, sexual problems, and vaginal dryness was, respectively, 2.1 (95%CI 1.2–3.5); 2.4 (95%CI 1.5–4.1); 2.3 (95%CI 1.4–3.8), and 2.2 (95%CI 1.3–3.6) times higher, respectively, compared to those without any risk. CONCLUSION: Climacteric symptoms seem to influence the sexual function in middle-aged women. Correspondência Ana Katherine da Silveira Gonçalves Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Avenida General Gustavo Cordeiro de Farias s/n CEP: 59010-180 Natal (RN), Brasil Recebido 20/06/2012 Aceito com modificações 18/07/2012 Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal (RN), Brasil. 1 Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal (RN), Brasil. 2 Departamento de Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal (RN), Brasil. 3 Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal (RN), Brasil. 4 Departamento Materno-infantil da Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil. 5 Departamento de Tocoginecologia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil. 6 Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal (RN), Brasil. Conflito de interesses: não há. Cabral PUL, Canário ACG, Spyrides MHC, Uchôa SAC, Eleutério Júnior J, Amaral RLG, Gonçalves AKS Introdução Na mulher, o climatério é caracterizado pelo estado fisiológico do hipoestrogenismo progressivo, tendo como marco a interrupção definitiva dos ciclos menstruais (menopausa)1. Tal período se inicia por volta dos 40 anos, estendendo-se até os 65 anos, sendo frequentemente acompanhado por sintomas característicos e por dificuldades nos aspectos emocional e social1,2. Durante este período, a maioria das mulheres refere sintomas vasomotores, psicológicos e urogenitais nos anos que seguem à menopausa3. O hipoestrogenismo no climatério está diretamente relacionado com alguns sintomas, tais como: ondas de calor, sudorese noturna, secura vaginal, enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico, dispareunia, insônia, alterações de humor e depressão2,3. Estudos evidenciam ainda que, neste período, as mulheres são mais propensas a relatarem também ansiedade e depressão, devido à redução da secreção de endorfinas cerebrais decorrentes das diminuições hormonais4. O impacto dos sintomas do climatério sobre a qualidade de vida da mulher parece estar relacionado à prevalência de disfunção sexual na meia-idade3,5. Nos Estados Unidos, um estudo epidemiológico demonstrou que, no climatério, ocorre aumento significativo das disfunções sexuais, principalmente, do desejo sexual hipoativo, da disfunção de orgasmo e da dispareunia, e que 43% das mulheres americanas nesta fase da vida têm algum tipo de disfunção sexual6. Confirmando esses achados, um estudo prévio com mulheres brasileiras constatou que cerca de 60% delas referiram diminuição da atividade sexual após a menopausa2. Durante o climatério, o hipoestrogenismo torna o epitélio do trato genital mais delgado e frágil. Na vulva, ocorre decréscimo na secreção das glândulas sudoríparas, sebáceas e atrofia das glândulas de Bartholin, o que propicia a secura e o estreitamento da vagina, com redução de sua rugosidade e elasticidade. A menor capacidade de lubrificação frente à estimulação sexual pode causar a dispareunia, caracterizada por dor na relação sexual, fato que prejudicará o funcionamento sexual da mulher7,8. O decréscimo gradativo nos níveis hormonais, associado ao processo de envelhecimento feminino, favorece ao desinteresse e à diminuição da frequência de atividade sexual, porém fatores não hormonais, relacionados com o estado emocional, com a qualidade de relacionamento e com o ambiente, também estão envolvidos na diminuição da libido e da função sexual de mulheres nesta fase da vida2. O hipoestrogenismo promove ainda a redução do colágeno cutâneo e alterações na distribuição de gordura, causando mudanças na configuração corporal, o que, por sua vez, afetaria a autoimagem feminina, favorecendo 330 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):329-34 a uma menor autoestima e, indiretamente, a perda do desejo sexual9,10. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência dos sintomas do climatério sobre a função sexual de mulheres de meia-idade. Métodos Realizou-se um estudo descritivo transversal de base populacional, que compreendeu 370 mulheres, entre 40 a 65 anos, atendidas nas Unidades Básicas de Saúde de cada distrito sanitário (Norte, Sul, Leste e Oeste) da cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. A coleta de dados foi realizada de junho a setembro de 2011. A população de mulheres atendidas nos setores de ginecologia das Unidades Básicas de Saúde dos distritos foi de 20.801 mulheres, segundo a Secretaria Municipal de Saúde da Cidade. O cálculo da amostra estratificada por distrito sanitário teve por base um nível de confiança de 95%, com poder do teste de 80%, erro de estimativa de 0,05 e considerou-se a proporção de mulheres classificadas por meio do WHOQOL-Bref11, com qualidade de vida adequada (indicador ≥26), proveniente da amostra do estudo-piloto. A distribuição da amostra estratificada por distrito ocorreu da seguinte forma: distrito Norte – 2.271 consultas, com amostra estratificada de 43 mulheres; distrito Sul – 8.602 consultas, com amostra de 158 mulheres; distrito Leste – 5.528 consultas, com 102 mulheres e distrito Oeste – 3.579 consultas, com amostra de 63 mulheres. Como critério de inclusão, foram consideradas mulheres aparentemente saudáveis, consideradas de meia-idade pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 40 a 65 anos, as quais não estivessem fazendo uso de reposição hormonal. A recusa explícita, a incapacidade da mulher em participar do estudo e qualquer fator que impedisse a entrevista (por exemplo: falta de tempo, doença ou analfabetismo) foram considerados critérios de exclusão. Também foram excluídas mulheres com doenças psiquiátricas e usuárias de medicamentos que apresentam interferência na sexualidade (tratamento hormonal, antidepressivos, ansiolíticos e neurolépticos). As mulheres elegíveis que se encontravam esperando atendimento médico foram selecionadas aleatoriamente e convidadas individualmente a participar do estudo. Após o esclarecimento sobre os objetivos, as responsabilidades e os procedimentos, as voluntárias, que desejaram participar, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Inicialmente, aplicou-se o questionário a respeito das características sociodemográficas, clínicas e comportamentais, entre elas: idade, cor, estado civil, escolaridade, renda familiar (segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), índice de massa corpórea, fumo, Influência dos sintomas climatéricos sobre a função sexual de mulheres de meia-idade menopausa e histerectomia. O diagnóstico de menopausa foi confirmado a partir de dados clínicos (amenorreia de pelo menos 12 meses), gonodatrofina elevada (hormônio folículo estimulante – FSH>35 mIU/mL) e baixos níveis de estrógenos (<20 ng/dL). Em seguida, as mulheres responderam aos instrumentos de avaliação da função sexual e dos sintomas climatéricos. A avaliação da função sexual foi realizada utilizando-se o Female Sexual Function Index (FSFI), por ser um instrumento de alto padrão e recomendado para uso generalizado na população feminina12. O FSFI foi traduzido e validado para utilização em português e consta de um breve autorrelato, que avalia as dimensões-chave da função sexual na mulher, nas últimas quatro semanas13. É composto por 19 questões que informam sobre 5 domínios da resposta sexual: desejo, excitação, lubrificação, orgasmo, satisfação e dor ou desconforto. As pontuações individuais são obtidas pela soma dos itens que compreendem cada domínio (escore simples), que são multiplicadas pelo fator desse domínio e fornecem o escore ponderado. Sendo assim, quanto maior a pontuação, menor o risco de disfunção sexual para um determinado domínio. A pontuação final (escore total: mínimo de 2 e máximo de 36) é obtida pela soma dos escores ponderados de cada domínio, sendo considerados como risco de disfunção sexual os valores iguais ou menores que 26,5 pontos13. Os sintomas climatéricos foram avaliados por meio da Menopause Rating Scale (MRS), que é um instrumento validado e reconhecido para uso no Brasil, composto de 11 questões distribuídas em 3 domínios: sintomas somatovegetativo (fogachos, desconforto no coração, problemas com sono e musculares e articulares), psicológicos (humor depressivo, irritabilidade, ansiedade, exaustão física e mental) e urogenitais (problemas de bexiga e sexuais e ressecamento vaginal). Cada sintoma pode ser classificado pela sua ausência e/ou intensidade em: 0=ausência, 1=leve, 2=moderado, 3=severo e 4=muito severo. A pontuação por domínios é realizada por meio do somatório dos referidos sintomas. Quanto maior a pontuação obtida, mais severa a sintomatologia e pior a qualidade de vida da mulher14. Inicialmente, desenvolveu-se a análise exploratória dos dados, apresentando a descrição da amostra quanto aos aspectos sociodemográficos, clínicos e comportamentais das mulheres estudadas. As médias e os erros padrão dos domínios do FSFI e do MRS foram calculados segundo a categorização de risco de disfunção sexual em positivo (FSFI≤26,5) e negativo, seguida da análise de variância (ANOVA) para a comparação entre as médias. Os sintomas do climatério foram categorizados em uma escala ordinal, considerando seus estágios. Utilizou-se o teste do χ2 de Pearson para avaliar a associação entre a intensidade de cada um dos sintomas, segundo o risco de disfunção sexual. Para verificar a associação entre os sintomas climatéricos sobre a disfunção sexual, desenvolveu-se a regressão logística. Com base nos coeficientes estimados pela regressão logística, calcularam-se as razões de chances e seus respectivos intervalos de confiança de 95%. Considerouse o nível de significância de 5% para todos os testes. O programa estatístico utilizado foi o Minitab, versão 16. Este estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), número 130/11. Resultados A maioria das mulheres incluídas era de cor branca (72,7%), casada (61,6%), com Ensino Médio completo (47,8%), possuía renda familiar média (58,9%) e estava em torno dos 50 anos (Tabela 1). A média dos escores do FSFI das mulheres com risco de disfunção sexual foi significativamente inferior (12,71) às daquelas sem risco de disfunção sexual (30,6), com p<0,001. Analisando individualmente os domínios que compõem o FSFI, constatou-se que os maiores contribuintes Tabela 1. Características sociodemográficas, comportamentais e clínicas das mulheres estudadas (n=370) Fatores n % 40–45 112 30,3 46–55 153 41,3 56–65 105 28,4 Branca 269 72,7 Não branca 101 27,3 Faixa etária Raça Estado civil Casada 228 61,6 Divorciada/separada 81 21,9 Solteira 61 16,5 Fundamental 109 29,5 Médio 177 47,8 84 22,7 Baixa 44 11,9 Média 218 58,9 Alta 108 29,2 Peso normal ou baixo 149 40,3 Sobrepeso 142 38,4 Obeso 76 20,5 Fumante 24 6,5 168 45,5 63 17,0 248 67,0 Escolaridade Superior Renda familiar Índice de massa corpóreo Menopausa Histerectomia Risco de disfunção sexual (FSFI≤26,55) FSFI: Female Sexual Function Index. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):329-34 331 Cabral PUL, Canário ACG, Spyrides MHC, Uchôa SAC, Eleutério Júnior J, Amaral RLG, Gonçalves AKS para os baixos escores apresentados nas mulheres com risco para disfunção foram excitação (1,6), orgasmo (1,9) e dor (2,0), como observado na Tabela 2. Os escores dos domínios do MRS mostraram-se mais elevados no grupo de mulheres com risco de disfunção sexual (16,6), quando comparados àquelas sem risco de disfunção sexual (8,9), indicando assim maior intensidade de sintomas no grupo com risco de disfunção sexual. Essas diferenças foram significativas para todos os domínios (psicológico, somatovegetativo e urogenital) do MRS, sendo o domínio psicológico o que obteve a maior média (6,92), seguido do somatovegetativo (5,77) e, por último, o urogenital (3,90), como visto na Tabela 3. Quando analisados isoladamente, observou-se que os escores de todos os sintomas do MRS se mostraram significativamente mais elevados nas mulheres com risco de disfunção sexual (p<0,001). Tabela 2. Domínios do Female Sexual Function Index e os escores de risco da população estudada (n=370) Domínios do FSFI Desejo Risco de disfunção sexual (FSFI≤26,5) Positivo Média (SE) Negativo Média (SE) Valor p* 2,6 (0,07) 4,35 (0,08) <0,001 Excitação 1,6 (0,1) 4,79 (0,06) <0,001 Lubrificação 2,0 (0,1) 5,30 (0,07) <0,001 Orgasmo 1,9 (0,1) 5,38 (0,06) <0,001 Satisfação 2,4 (0,1) 5,57 (0,05) <0,001 Dor 2,0 (0,1) 5,20 (0,1) <0,001 12,7 (0,5) 30,6 (0,2) <0,001 Escore total do FSFI FSFI: Female Sexual Function Index; *ANOVA: teste de Snedecor; SE: erro padrão. Tabela 3. Domínios do Menopause Rating Scale e os escores de risco da população estudada (n=370) Domínios do MRS Risco de disfunção sexual (FSFI≤26,5) Valor p* Positivo Média (SE) Negativo Média (SE) Psicológico 6,92 (0,2) 4,03 (0,3) <0,001 Somatovegetativo 5,77 (0,2) 3,21 (0,2) <0,001 Urogenital 3,90 (0,1) 1,71 (0,1) <0,001 Escore total do MRS 16,6 (0,5) 8,9 (0,6) <0,001 FSFI: Female Sexual Function Index; *ANOVA: teste de Snedecor; SE: erro padrão; MRS: Menopause Rating Scale. Tabela 4. Sintomas climatéricos associados ao risco de disfunção sexual (FSFI≤26,5) nas mulheres estudadas Sintomas Odds Ratio (IC95%) Valor p Fogachos 2,1 (1,2–3,5) 0,003 Humor depressivo 2,4 (1,5–4,1) 0,000 Disfunção sexual 2,3 (1,4–3,8) 0,001 Ressecamento vaginal 2,2 (1,3–3,6) 0,002 IC: intervalo de confiança de 95%. FSFI: Female Sexual Function Index. 332 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):329-34 Avaliando todos os sintomas do climatério simultaneamente, por meio da análise de regressão logística, verificou-se que a mulher com risco de disfunção sexual (FSFI≤26,5) possuía mais chance de apresentar fogachos (2,13), humor depressivo (2,49), problemas sexuais (2,32) e ressecamento vaginal (2,23), quando comparada àquela sem risco (Tabela 4). Discussão Poucos estudos no Brasil avaliaram a sexualidade de mulheres de meia-idade. Nesta fase, os sintomas do climatério associados à disfunção sexual exercem impacto negativo na qualidade de vida de tais mulheres4,15,16. Neste estudo, 65% das mulheres incluídas apresentaram risco de disfunção sexual (FSFI≤26,5). Outros estudos apresentaram resultados semelhantes com taxas de disfunção sexual entre 51 a 75%, em mulheres na meia-idade3-5,17,18. Em mulheres australianas, observou-se o efeito negativo da idade sobre a frequência, a interesse de atividade sexual e a resposta sexual9. Valadares et al.17, estudando mulheres brasileiras, constataram a presença significativa de disfunção sexual naquelas com idade igual ou superior a 50 anos, confirmando que a disfunção sexual é um problema frequente em mulheres mais velhas. Nas mulheres, a maturidade vem acompanhada de sintomas climatéricos que podem atuar favorecendo o surgimento da disfunção sexual ou acentuando o distúrbio preexistente. Observou-se, neste estudo, uma relação significativa e inversamente proporcional entre os sintomas do climatério (MRS) e a função sexual (FSFI), na qual mulheres com sintomatologia climatérica revelaram mais riscos de disfunção sexual. Estudo prévio com mulheres brasileiras constatou diminuição da atividade sexual após a menopausa e associação entre sintomatologia climatérica e disfunção sexual2. Estudo recente realizado com mulheres equatorianas de meia-idade também mostrou relação inversa entre a intensidade dos sintomas de fogachos e a função sexual15. É reconhecido que os sintomas climatéricos influenciam a qualidade de vida das mulheres e, sendo a satisfação sexual um importante marcador de bem-estar, ao afetar a sexualidade, comprometem indiretamente a qualidade de vida das mulheres. Neste estudo, a análise de regressão logística evidenciou que as mulheres com riscos de disfunção sexual apresentaram mais fogachos, humor depressivo, problemas sexuais e ressecamento vaginal do que aquelas sem risco de disfunção, o que fatalmente tem efeito de reciprocidade, uma vez que parece que tais desconfortos levam à redução da libido e à satisfação sexual. Reconhecendo a influência dos sintomas climatéricos na sexualidade das mulheres Influência dos sintomas climatéricos sobre a função sexual de mulheres de meia-idade de meia-idade, estudo recente com mulheres italianas na menopausa constatou uma correlação significativa entre a dor durante e após a relação sexual com o desejo, o orgasmo e a satisfação sexual19. Outro importante estudo multicêntrico envolvendo 7.243 mulheres na América Latina verificou que o fator de risco mais importante associado à disfunção sexual foi a diminuição da lubrificação sexual e dor durante a relação, que aumenta com o progredir da idade da mulher3. No presente estudo, as mulheres com risco de disfunção sexual apresentavam mais sintomas climatéricos referentes aos domínios somatovegetativos, urogenitais e psicológicos do MRS em relação àquelas que não apresentavam risco de disfunção sexual, sugerindo que os sintomas climatéricos exercem um efeito significativo na função sexual das mulheres nesta faixa etária. Os sintomas do domínio psicológico do MRS (humor depressivo, irritabilidade, ansiedade e esgotamento físico e mental) foram os mais associados à disfunção sexual nas mulheres estudadas, sugerindo que neste grupo o estado psicológico talvez seja seu maior determinante nas mulheres estudadas. Chedraui et al.5 também encontraram uma correlação inversa entre os escores do MRS e do FSFI, porém, neste estudo, o domínio urogenital foi o mais comprometido em mulheres latino-americanas sexualmente ativas. Por outro lado, de forma semelhante à presente pesquisa, outros estudos também demonstraram correlação significativa entre o estado psicológico de depressão, melancolia, tristeza e ansiedade com a disfunção sexual nesta faixa etária2. Mezones-Holguin et al.20, estudando mulheres peruanas, também demonstraram, empregando o FSFI, que a disfunção sexual estava significativamente associada com a depressão20. Acredita-se que, da mesma forma que acontece com as mulheres peruanas, o nível educacional secundário e o baixo nível socioeconômico das mulheres estudadas nesta amostra do Nordeste do Brasil impossibilitam que elas tenham acesso ao suporte psicológico necessário neste difícil período de suas vidas. A despeito dos achados interessantes, os resultados deste estudo devem ser interpretados à luz de suas limitações. A disfunção sexual foi medida apenas por autorrelato. A falta de um diagnóstico clínico específico, o qual avalie as condições orgânicas da mulher, que possam estar influenciando a função sexual (por exemplo, atrofia urogenital), pode ser relevante. Sendo assim, o estudo não nos permite afirmar se o risco de disfunção sexual apresentado com o uso do instrumento FSFI seria uma consequência dos sintomas do climatério ou seria influenciado pelas demais variáveis sociodemográficas presentes no estudo. Desenhos de pesquisa alternativos (longitudinais ou qualitativos) podem oferecer novos horizontes sobre os processos psicológicos subjacentes relacionados à sexualidade de mulheres na menopausa. Referências 1. Utian WH. The International Menopause Society menopause-related terminology definitions. Climateric. 1999;2(4):284-6. e psicossociais da senescência sexual. Ciências Cognição. 2004;1:54-75. 2. De Lorenzi DRS, Saciloto B. Frequência da atividade sexual em mulheres menopausadas. Rev Assoc Med Bras. 2006;52(4): 256-60. 9. 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Luiz Francisco Baccaro1 Ilka de Fátima Boin2 Lúcia Costa-Paiva1 Aline Garcia Leal3 Celso Dario Ramos3 Aarão Mendes Pinto-Neto1 Is liver transplantation associated with decreased bone mass in climacteric women? O transplante hepático está associado a menor massa óssea em mulheres climatéricas? Original Article Abstract Keywords Osteoporosis Liver transplantation Menopause Palavras-chave Osteoporose Transplante de fígado Menopausa PURPOSE: To evaluate whether climacteric women undergoing liver transplantation had higher prevalence of decreased bone mass than those without any liver disease. METHODS: A cross-sectional study with 48 women receiving follow-up care at a university hospital in Southeastern Brazil, from February 4th 2009 to January 5th 2011, was conducted. Of these women, 24 were 35 years or older and had undergone liver transplantation at least one year before study entry. The remaining 24 women had no liver disease and their ages and menstrual patterns were similar to those of transplanted patients. Laboratorial tests (follicle-stimulating hormone and estradiol) and bone density measurements of the lumbar spine and femur (equipment Hologic, Discovery WI) were performed. Statistical analysis was carried out by Fisher’s exact test, simple Odds Ratio (OR), and multiple logistic regression. RESULTS: Mean age of the women included in the study was 52.8 (±10.7) years-old, 27.1% were premenopausal and 72.9% were peri/postmenopausal. Approximately 14.6% of these women exhibited osteoporosis and 35.4% had low bone mass. The following items were associated with decreased bone mass: being postmenopausal (OR=71.4; 95%CI 3.8–1,339.7; p<0.0001), current age over 49 years-old (OR=11.4; 95%CI 2.9–44.0; p=0.0002), and serum estradiol levels lower than 44.5 pg/mL (OR=18.3; 95%CI 3.4–97.0; p<0.0001). Having a history of liver transplantation was not associated with decreased bone mass (OR=1.4; 95%CI 0.4–4.3; p=0.56). CONCLUSION: Liver transplantation was not associated with decreased bone mass in this group of climacteric women. Resumo OBJETIVO: Avaliar se mulheres climatéricas submetidas a transplante de fígado tiveram maior prevalência de massa óssea diminuída do que aquelas sem antecedente de doença hepática. MÉTODOS: Estudo de corte transversal, com 48 mulheres em acompanhamento ambulatorial em um hospital universitário na região Sudeste do Brasil, no período de 04 de fevereiro de 2009 a 05 de janeiro de 2011. Foram incluídas 24 mulheres submetidas a transplante hepático há pelo menos um ano, com idades igual ou superior a 35 anos, e 24 sem antecedente de doença hepática, com idade (± três anos) e padrão menstrual semelhante ao das transplantadas. As mulheres foram submetidas a exames laboratoriais (hormônio folículo estimulante e estradiol) e à densitometria óssea de coluna lombar e fêmur, com equipamento Hologic, Discovery WI. A análise estatística foi realizada por meio do teste exato de Fisher, por Odds Ratio (OR) simples e pela regressão logística múltipla. RESULTADOS: A média etária das mulheres incluídas no estudo foi de 52,8 (±10,7) anos, sendo que 27,1% estavam na pré-menopausa e 72,9%, na peri/pós-menopausa. Aproximadamente 14,6% dessas mulheres apresentaram osteoporose e 35,4%, baixa massa óssea. Os seguintes itens foram associados com massa óssea diminuída: estar na pós-menopausa (OR=71,4; IC95% 3,8–1.339,7; p<0,0001), idade atual maior que 49 anos (OR=11,4; IC95% 2,9–44,0; p=0,0002) e nível de estradiol sérico menor que 44,5 pg/mL (OR=18,3; IC95% 3,4–97,0; p<0,0001). Ter antecedente de transplante hepático não se associou à massa óssea diminuída (OR=1,4; IC95% 0,4–4,3; p=0,5). CONCLUSÃO: O transplante hepático não se associou à massa óssea diminuída nesse grupo de mulheres climatéricas. Correspondence Luiz Francisco Baccaro Department of Tocogynecology, Universidade Estadual de Campinas Avenida Alexander Fleming 101 – Cidade Universitária Zeferino Vaz Zip code: 13083-881 Campinas (SP), Brazil Received 06/26/2012 Accepted with modifications 07/20/2012 Study carried out at the Department of Tocogynecology, Woman Hospital Professor Doutor José Aristodemo Pinotti – CAISMUNICAMP – Campinas (SP), Brazil. 1 Department of Tocogynecology, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brazil. 2 Departament of Surgery, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brazil. 3 Departament of Radiology, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brazil. Conflicts of interest: none. Baccaro LF, Boin IF, Paiva LC, Leal AG, Ramos CD, Pinto-Neto AM Introduction Osteoporosis is considered an important complication after liver transplantation 1. The majority of patients who had liver transplantation develop accelerated bone mineral density (BMD) loss in the first three to six months following transplantation leading to increased fracture risk, owing to preexisting chronic liver disease associated with postsurgical administration of high doses of immunosuppressant agents 2. Other factors, such as malnutrition, hypogonadism, vitamin D deficiency and physical inactivity, common in patients with end-stage liver disease, may also contribute to loss of bone mineral density3. Furthermore, cholestatic diseases, such as primary biliary cirrhosis and sclerosing cholangitis, have also been described as risk factors for decreased bone mass due to possible malabsorption of calcium and vitamin D and interference of hyperbilirubinemia in the osteoblast function 4. In contrast, a more recent study suggested that the introduction of boneprotective therapy and the reduction in the total dose of glucocorticoids used for immunosupression might lead to decreased incidence of fractures in patients undergoing liver transplantation5. Women currently represent approximately onethird of patients who undergo liver transplantation. Primary biliary cirrhosis, cirrhosis following viral hepatitis, and autoimmune hepatitis are the main indications for liver transplantation in women6. Alcoholism and hepatitis C are also important indications in Brazil7. Climacteric women have a marked reduction in the serum estrogen levels, which is associated with decreased bone mass after menopause. A previous study including women with a history of liver transplantation aged >35 years-old demonstrated that menopausal status, older current age, and older age at the time of transplantation were associated with a decreased bone mass. The same study pointed that the longer the period after transplantation, the higher the bone mass of transplant recipients1. In contrast, a previous study identified that age and severity of liver disease, however not menopausal status, were the main risk factors for the development of osteoporosis in women with primary biliary cirrhosis, who were not liver-transplanted recipients8. In the last few years, liver transplantation has become an efficient form of treatment for patients with severe liver disease. Advances in several aspects of medical transplantology have led to an increased survival of end-stage liver disease patients9. A larger number of women undergoing liver transplantation will therefore reach climacteric age. Most studies 336 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):335-42 concerning hypogonadism after liver transplantation were based on male populations 10. With the purpose of evaluating whether climacteric women undergoing liver transplantation had higher prevalence of decreased bone mass than those without history of liver disease, we conducted a study of women receiving outpatient treatment at a university hospital in Southeastern Brazil. Methods Cross-sectional study with women undergoing liver transplantation receiving treatment follow-up in the Liver Transplantation Outpatient Unit of the Hospital das Clínicas at University of Campinas (UNICAMP) Medical School, and those without liver disease receiving follow-up treatment in the Menopause Outpatient Unit of the Professor Doutor José Aristodemo Pinotti Women’s Integrated Healthcare Center (CAISM) of the UNICAMP Medical School, from February 4th 2009 to January 5th 2011. All women aged 35 years or older and who had undergone a liver transplantation at least one year before enrollment were included in the study. For each liver-transplant patient, a woman matched for age (three years, plus or minus) and for menstrual cycle pattern was selected for comparison. Women were considered postmenopausal when experiencing amenorrhea for at least 12 months or when folliclestimulating hormone (FSH) was higher than 23 mUI/mL. Women were regarded as perimenopausal when presented menstrual irregularity (with no anatomical cause). Women presenting regular menstrual cycles were considered premenopausal11. We did not include patients who were in debilitating clinical conditions, those with personal history of bilateral oophorectomy or using hormone therapy for menopausal symptoms or contraception in the three months preceding the study. Thirty-three liver-transplant patients met the inclusion criteria. Of these, five did not respond to telephone contact and four declined to participate. The final number of transplant recipients participating in the study was 24. For each liver- transplant patient, one woman without liver disease was selected, who was matched for age (three years, plus or minus) and menstrual cycle patterns. The final number of women included in the study was 48. Women had interviews in the Menopause Outpatient Facility at the CAISM of UNICAMP. Interviews were always performed by the same researcher in order to collect the following data: age; skin color; formal education; marital status; date of transplantation; period after transplantation; disease that caused liver failure; type of immunosuppressant drug currently Is liver transplantation associated with decreased bone mass in climacteric women? in use; presence of arterial hypertension or diabetes mellitus; history of smoking; date of menarche; date of the last menstruation; menstrual cycle pattern; and sexual activity. Weight (kg), height (meters), and arterial blood pressure (mmHg) were also measured. After the interview, blood samples were taken for laboratorial tests (FSH and serum estradiol), and BMD measurements at the lumbar spine and femur were performed. All patients signed a free written informed consent prior to the interview. The study was approved by the Research Ethics Committee of UNICAMP, under number 721/2008, and funded by Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), under number 2008/09726-6. Bone mineral density Bone mineral density measurements at the lumbar spine (L1–L4), total femur, and femoral neck were made using a dual energy X-ray absorptiometry scan (Hologic, Discovery, WI). The variation coefficient of the device was 0.45%. Bone mineral density measurements were expressed in grams per square centimeter (g/cm2) and as T- and Z-scores. For BMD measurements, we used T-score value for postmenopausal and perimenopausal women. For premenopausal women, a Z-score was used12. T-score values lower or equivalent to -2.5 were classified as osteoporosis. The ones between -1 and -2.5 standard deviations were considered as low bone mass. Bone mass was considered normal for T-score values above or equal to-1 standard deviation13. Z-score values higher than -2 standard deviations were considered to be within the expected range for age, and Z-score values equal or lower than -2 standard deviations were considered below the expected range for age12. For statistical analysis, values of T-score below -1 standard deviation and those of Z-score lower or equal to -2 standard deviations were considered as decreased bone mass. Values of T-score above or equal to -1 standard deviation and values of Z-score above -2 standard deviations were considered as normal bone mass12,13. Biochemistry and hormone measurements After an overnight fast, blood samples were taken on the day of the interview from 7 to 10 o’clock A.M. The samples were stored in a freezer at -20ºC until processing. FSH measurement was obtained by chemiluminescence (Advia, Centauro-Siemens), with 0.3 mUI/mL as the minimum concentration detected. Concentrations higher than 23 mUI/mL were regarded as postmenopausal. Serum estradiol measurement was also obtained by chemiluminescence (Centauro-Siemens), and 7.0 pg/mL was the minimum concentration detected. Statistical analysis Data were assessed by mean, standard deviation, and median. For laboratory or time-interval measurements, the median was used as the cutoff point, and analysis was performed with categories above and below the median, using Fisher’s exact test, simple Odds Ratio (OR), and multiple logistic regression analysis with stepwise variable selection. The significance level was set at 5% and SAS version 9.1.3 was the software used for analysis. Results The clinical social and demographic data of women included in this study are shown in Table 1. The mean age was 52.8±10.7 years-old (median 49.9, range 35.0–72.2). Among the patients, 6 (12.5%) were 35 to 40 years-old, 6 (12.5%) were 40 to 45 years-old, 12 (25%) were 45 to 50 years-old, 2 (4.2%) were 50 to 55 years-old, 7 (14.6%) were 55 to 60 years-old, 6 (12.5%) were 60 to 65 years-old, 8 (16,7%) were 65 to 70 years-old, and 1 (2.1%) was 70 to 75 years-old. The mean patient age at liver transplantation was 46.0±12.3 years-old (median 43.4, range 25.7–63.9). The mean time since transplantation was 6.1±3.3 years (median 5.8, range 1–12.5). The mean body mass index was 27.6±4.7 (median 27.0, range 18.8–40.9). Of the 48 women, 13 (27.1%) were premenopausal, 5 (10.4%) were perimenopausal and 30 (62.5%) were postmenopausal. Corticosteroid was used as an immunosuppressant agent by 8 women (16.7 %) and 40 (83.3%) were not taking corticosteroid. Among the 48 women included in the study, 24 had decreased bone mass (50%). Of these, seven (14.6%) had osteoporosis diagnosed by BMD measurement (with five (10.4%) at one or more measured sites and two (4.2%) at the lumbar spine, femoral neck and total femur), and 17 had low bone mass at one or more sites measured (35.4%). Of the 24 liver-transplant recipients, 13 (54.2%) had decreased bone mass, five (20.8%) had osteoporosis diagnosed by BMD measurement at one or more sites measured, and 8 (33.3%) had low bone mass at one or more sites measured. Of the 24 women without liver disease, 11 (45.8%) had decreased bone mass, 2 (8.3%) with osteoporosis diagnosed by BMD measurement at one or more sites measured and 9 (37.5%) with low bone mass at one or more sites measured (Table 1). Being postmenopausal (OR=71.4; 95%CI 3.8–1339.7; p<0.0001) was significantly associated with decreased bone mass. The age of woman at the time of the interview was significantly correlated, and age over 49 was highly associated with decreased bone mass (OR=11.4; 95%CI 2.9–44.0; p=0.0002). Serum estradiol levels lower than 44.5 pg/mL were also associated with decreased bone mass (OR=18.3; 95%CI 3.4–97.0; p<0.0001). Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):335-42 337 Baccaro LF, Boin IF, Paiva LC, Leal AG, Ramos CD, Pinto-Neto AM Table 1. Clinical and social demographic data and bone mineral density, according to the World Health Organization criteria (n=48) Liver Transplantation Premenopausal n Color Control Peri/postmenopausal % n % Premenopausal Peri/postmenopausal n % n % White 7 100.0 13 76.5 2 33.3 11 61.1 Non-white 0 0.0 4 23.5 4 66.7 7 38.9 Schooling 0–7 years 4 57.1 10 58.8 4 66.7 14 77.8 8–12 years 2 28.6 5 29.4 2 33.3 4 22.2 >12 years 1 14.3 2 11.8 0 0.0 0 0.0 85.7 8 47.1 4 66.7 14 77.8 0 0.0 11 61.1 0 0.0 2 11.1 5 83.3 11 61.1 0 0.0 0 0.0 Marital Status With partner Hypertension Yes Diabetes Mellitus Yes Sexual Activity Yes Immunosupression With corticosteroids 6 1 14.3 3 0 0.0 5 7 29.4 100.0 9 4 17.6 52.9 57.1 4 23.5 Parity 0 2 28.6 1 5.9 1 16.7 2 11.1 1 4 57.1 5 29.4 3 50.0 2 11.1 ≥2 1 14.3 11 64.7 2 33.3 14 77.8 Smoking Yes 1 14.3 0 0.0 1 16.7 2 11.1 Femoral neck Osteoporosis 0 0.0 3 17.6 0 0.0 2 11.1 Low bone mass 0 0.0 9 52.9 0 0.0 4 22.2 Normal 7 100.0 5 29.4 6 100.0 12 66.7 Total femur Osteoporosis 0 0.0 2 11.8 0 0.0 0 0.0 Low bone mass 0 0.0 7 41.2 0 0.0 3 16.7 Normal 7 100.0 8 47.1 6 100.0 15 83.3 Lumbar spine (L1–L4) Osteoporosis 0 0.0 4 23.5 0 0.0 1 5.6 Low bone mass 0 0.0 5 29.4 0 0.0 8 44.4 Normal 7 100.0 8 47.1 6 100.0 9 50.0 Osteoporosis: T-score ≤ -2.5 standard-deviations; Low bone mass: T-score values between -1 and -2.5 standard-deviations; Normal: T-score > -1 standard-deviation. There was no statistically significant difference in bone mass values between the group with history of liver transplantation and the one without it (OR=1.4; 95%CI 0.4–4.3; p=0.5). All liver transplant recipients were taking immunosuppressant medication. Of these women, 8 (16.7%) used tacrolimus and mycophenolate, 4 (8.3%) used tacrolimus alone, 3 (6.25%) used cyclosporine alone, 3 (6.25%) used tacrolimus and prednisone, 1 (2.1%) used cyclosporine and prednisone, 1 (2,1%) used cyclosporine and mycophenolate, 2 (4.2%) used tacrolimus, prednisone and mycophenolate, 1 (2.1%) used cyclosporine, prednisone and mycophenolate, and 1 (2.1%) used tacrolimus, prednisone and azathioprine. None of the 338 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):335-42 study participants without liver disease used any type of immunosuppressant drug. Owing to a small sample, the diverse combinations of immunosuppressant agents and the fact that glucocorticoids are most strongly linked to decreased bone mass, we chose to subdivide these women into two groups. One of them was composed of steroid users (83.3%), and the other did not use them (16.7%). There was no significant difference between both groups concerning bone mass (OR=0.2; 95%CI 0.05–1.5; p=0.2). The associations between bone mass and skin color, marital status, arterial hypertension, diabetes mellitus, smoking, age at menarche, sexual activity, body mass index, and parity were not significant (Table 2). Is liver transplantation associated with decreased bone mass in climacteric women? Table 2. Factors associated with decreased bone mass (n=48) Bone mass Decreased n Normal % n p-value OR Group 0.56 Control 11 45.8 13 54.2 1.0 Liver transplantation 13 54.2 11 45.8 1.4 ≤49 years-old 5 20.8 18 75.0 >49 years-old 19 79.2 6 25.0 Age Non-white 0.4–4.3 <0.01 Color White 95%CI % 1.0 11.4 2.9–44.0 2.7 0.7–9.7 0.11 19 79.2 14 58.3 5 20.8 10 41.7 Marital status 1.0 0.22 With partner 14 58.3 18 75.0 1.0 Without partner 10 41.7 6 25.0 2.1 0.6–7.3 Yes 8 33.3 7 29.2 1.2 0.3–4.1 No 16 66.7 17 70.8 1.0 Yes 5 20.8 2 8.3 No 19 79.2 22 91.7 Hypertension 0.75 Diabetes mellitus 0.41* Menopausal status Premenopausal Perimenopausal 2.8 0.5–16.6 1.0 <0.01* 0 0.0 13 54.2 1.0 2 8.3 3 12.5 19.2 0.7–500.4 22 91.7 8 33.3 71.4 3.8–1339.7 ≤13 years 13 54.2 15 62.5 >13 years 11 45.8 9 37.5 Menopausal Menarche 0.55 Sexual activity 1.0 1.4 0.4–4.4 0.7 0.2–2.2 0.06 Yes 13 54.2 15 62.5 No 11 45.8 9 37.5 Body mass index 1.0 0.24 ≤27 14 58.3 10 41.7 1.0 >27 10 41.7 14 58.3 0.5 22 91.7 18 75.0 1.0 2 8.3 6 25.0 0.2 2 8.3 4 16.7 1.0 1 6 25.0 8 33.3 1.3 0.2–8.7 ≥2 16 66.7 12 50.0 2.3 0.4–13.1 3.4–97.0 Immunosupression Without corticosteroids With corticosteroids 0.24* Parity 0 0.1–1.6 0.05–1.5 0.54* Estradiol <0.01 <44.5 pg/mL 22 91.7 9 37.5 18.3 ≥44.5 pg/mL 2 8.3 15 62.5 1.0 Yes 1 4.2 3 12.5 1.0 No 23 95.8 21 87.5 3.2 Smoking 0.6* 0.3–34.0 Decreased bone mass: T-score <-1 standard deviations or Z-score ≤-2 standard deviations. *Fisher’s exact test. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):335-42 339 Baccaro LF, Boin IF, Paiva LC, Leal AG, Ramos CD, Pinto-Neto AM Discussion The aim of this study was to assess whether climacteric women undergoing liver transplantation had higher prevalence of decreased bone mass than those without it. The prevalence rate of decreased bone mass (54.2%) and osteoporosis (20.8%) in women with a history of liver transplantation in the present study was slightly lower than the rate reported previously in the literature, which is around 65.5% of decreased bone mass14 and 25 to 50% of osteoporosis diagnosed by BMD measurement15,16. In the group of women without liver disease, the prevalence of decreased bone mass (45.8%) was similar to that previously estimated, which is between 37 and 50% of the cases17. There were no significant differences between the rates of decreased bone mass in women with a search history of liver transplantation and those without a search history. Previous data have shown that loss of bone mass occurs especially in the first three to six months following liver transplantation18-20. Studies of bone histology have shown that bone loss ceases approximately six months after liver transplantation. Bone formation tends to increase later, especially at the lumbar spine, leading to restoration of bone mass up to two years after surgery 9. A previous study 1 showed a clear tendency towards increased bone mass at the lumbar spine, as time since transplantation increased. The same study observed a less intense correlation between bone mass at the femoral neck and time since transplantation. Previous studies showed that restoration of bone mass was slower at the femoral neck than at the lumbar spine. It is likely that cortical bone requires more time to recover than the trabecular one14,18. The mean time since transplantation in the present study was 6.1±3.3 years. We believe that a high mean time elapsed since surgery was the major factor associated with the lack of a significant difference in bone mass, between liver transplant patients and the nontransplant ones. The relationship between menopausal status and bone mass in patients with chronic liver disease is not fully understood. A study with subjects who had received a liver transplant observed correlations between menopausal status and chronological age. However, the authors did not observe a significant influence of menopausal status on bone mass18. A study including nontransplant patients with primary biliary cirrhosis concluded that menopausal status was not an independent risk factor for osteoporosis, however independent factors were chronological age, severity of liver disease, advanced histologic stage, and low body mass index8. A more recent study with only women undergoing liver 340 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):335-42 transplantation found an inverse correlation between BMD and length of amenorrhea expressed in months after the last menstruation, i.e., the longer the time since onset of menopause, the lower the BMD1. Decreased bone mass was not observed in any premenopausal women, regardless of receiving or not a liver transplant. In perimenopausal and postmenopausal women with history of liver transplantation, decreased bone mass was found in 76.5% of the cases, and osteoporosis was diagnosed in 29.4% of them. The prevalence of osteoporosis in climacteric transplant recipients in the present study was lower than the result reported by a previous study, which described osteoporosis in 50% of patients undergoing liver transplantation in the postmenopause. However, it is worth mentioning that in this study approximately 94% of climacteric transplant recipients were taking glucocorticoids16. In contrast, only 23.5% of them were using corticosteroids in the present study. In control perimenopausal and postmenopausal women, decreased bone mass was present in 61.1%, and osteoporosis was diagnosed by BMD measurement in 11.1% of women. We observed a significant association between postmenopausal status, serum estradiol levels lower than 44.5 pg/mL, and decreased bone mass. Such data have led us to believe that menopausal status is indeed one of the main factors associated with higher prevalence of decreased bone mass, both in liver transplant patients and in women without a history of liver disease. A noteworthy result observed in the present study was that there was no decreased bone mass in any of the premenopausal women undergoing transplantation. This finding is in agreement with previously reported data in the literature, which indicates that gain in bone mass during the first two years after transplantation was significantly higher in premenopausal women compared to that observed in perimenopausal and postmenopausal patients, probably due to high estrogen levels in these women19. The deleterious effect of glucocorticoids on bone mass has already been previously demonstrated21-29. In the present study, the current use of corticosteroid as an immunosuppressant did not affect bone mass in liver transplant recipients, probably due to time elapsed since the transplant. Similar results were also obtained in previous studies14,18,19. A likely explanation for this finding could be that high-dose steroid therapy is administered especially in the first months following transplantation, causing a higher loss of bone mass in the first months after the procedure26. In the following years, the trend will be to decrease the total dose of glucocorticoids used, mainly because of its combination with tacrolimus28,30, resulting in a less significant influence on bone mass. The effects of reduced total dose of glucocorticoids could already be Is liver transplantation associated with decreased bone mass in climacteric women? observed in a recent study that found decreased incidence of fractures in patients undergoing liver transplantation, in the period from 1998 to 20085. We highlight that this study assessed women with positive history of liver transplantation aged 35 years or older and a Control Group with negative history of liver disease, matched for age and menstrual cycle pattern. The number of subjects included in each subgroup was small, which can reduce the strength of statistical results and cannot be generalized to other groups of liver transplant recipients or other populations. However, we believe that a comparison of a group of women with history of liver transplantation and a group of women with healthy livers is of great importance to better comprehend hypogonadism following transplantation and its interference in bone mass. The present study showed that menopausal status, older current age, and lower serum estradiol levels were the major factors associated with decreased bone mass in the female group evaluated. There was no difference in BMD between the group with history of liver transplantation and the Control Group, probably due to a high mean time period after transplantation in the transplant recipient group. This topic has still not been thoroughly studied and fully understood. We believe that reported data may help to understand the behavior of bone mass in women undergoing liver transplantation. Further studies are necessary, since the number of transplantations performed continues to grow. Acknowledgements We thank Sirlei Siani Moraes for the statistical analysis. This work was supported by Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), process 2008/09726-6. References 1. Baccaro LF, Boin IF, Pedro AO, Costa-Paiva L, Leal AG, Ramos CD, et al. Decrease in bone mass in women after liver transplantation: associated factors. Transplant Proc. 2011;43(4):1351-6. 11. Birkhauser MH, Barlow DH, Notelovitz M, Rees MC. Management handbook: health plan for the adult woman. London: Taylor & Francis; 2005. 2. Hommann M, Kammerer D, Lehmann G, Kornberg A, Kupper B, Daffner W, et al. Prevention of early loss of bone mineral density after liver transplantation by prostaglandin E1. Transplant Proc. 2007;39(2):540-3. 12. Baim S, Binkley N, Bilezikian JP, Kendler DL, Hans DB, Lewiecki EM, et al. Official Positions of the International Society for Clinical Densitometry and executive summary of the 2007 ISCD Position Development Conference. 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Guañabens N, Parés A, Ros I, Caballeria L, Pons F, Vidal S, et al. Severity of cholestasis and advanced histological stage but not menopausal status are the major risk factors for osteoporosis in primary biliary cirrhosis. J Hepatol. 2005;42(4):573-7. 17. Sokhi RP, Anantharaju A, Kondaveeti R, Creech SD, Islam KK, Van Thiel DH. Bone mineral density among cirrhotic patients awaiting liver transplantation. Liver Transpl. 2004;10(5):648-53. 9. Lim KB, Schiano TD. Long-term outcome after liver transplantation. Mt Sinai J Med. 2012;79(2):169-89. 10. Compston JE. Osteoporosis after liver transplantation. Liver Transpl. 2003;9(4):321-30. 18. Monegal A, Navasa M, Guañabens N, Peris P, Pons F, Martinez de Osaba MJ, et al. Bone disease after liver transplantation: a long-term prospective study of bone mass changes, hormonal status and histomorphometric characteristics. Osteoporos Int. 2001;12(6):484-92. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(7):335-42 341 Baccaro LF, Boin IF, Paiva LC, Leal AG, Ramos CD, Pinto-Neto AM 19. Guichelaar MM, Kendall R, Malinchoc M, Hay JE. Bone mineral densitiy before and after OLT: long-term follow-up and predictive factors. Liver Transpl. 2006;12(9):1390-402. 25.Morris HA, Need AG, O’Loughlin PD, Horowitz M, Bridges A, Nordin BE. Malabsortion of calcium in corticosteroid-induced osteoporosis. Calcif Tissue Int. 1990;46(5):305-8. 20. Hay JE. Osteoporosis in liver diseases and after liver transplantation. J Hepatol. 2003;38(6):856-65. 26. Sambrook P, Birmingham J, Kempler S, Kelly P, Eberl S, Pocock N, et al. Corticosteroid effects on proximal femur bone loss. J Bone Miner Res. 1990;5(12):1211-6. 21.Torregrosa JV, Campistol JM, Montesinos M, Fenollosa B, Pons F, Martinez de Osaba MJ, et al. Factors involved in the loss of bone mineral density after renal transplantation. Transplant Proc. 1995;27(4):2224-5. 22.Goldstein MF, Fallon JJ Jr, Harning R. 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Leila Maria Batista Araújo Avaliação da influência da terapia hormonal com implantes subdérmicos de estradiol e testosterona sobre a densidade mineral óssea e o perfil lipídico Evaluation of hormone therapy influence with estradiol and testosterone implants under the bone mineral density and the lipid profile Resumo de Tese Palavras-chave Pós Menopausa Terapia Hormonal Densidade mineral óssea Implantes subdérmicos Testosterona Osteoporose Perfil lipídico Androgênios Keywords Postmenopause Estrogen replacement therapy Bone density Drug implants Osteoporosis Lipids Androgens Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Medicina e Saúde – Universidade Federal da Bahia, para obtenção do título de Doutor, em 21 de março 2012. INTRODUÇÃO: O uso de androgênios associado à terapia hormonal estrogênica clássica tem sido cada vez mais frequente. Entretanto, os efeitos desta combinação sobre a densidade mineral óssea e perfil lipídico demonstrados em poucos estudos disponíveis na literatura ainda são bastante controversos. OBJETIVO: Avaliar a densidade mineral óssea e o perfil lipídico de mulheres na pós menopausa usando a terapia hormonal com implantes de estradiol e testosterona. DESENHO DO ESTUDO: Coorte Prospectivo. Casuística, Material e Métodos: Foram seguidas 122 mulheres do Ambulatório de Implantes do CEPARH. Na primeira fase do estudo 61 pacientes foram separadas em 2 grupos, usuárias de implantes de estradiol e testosterona e não usuárias de terapia hormonal. Todas as pacientes fizeram densitometria mineral óssea no início e após 1 ano. Na segunda fase do estudo 122 pacientes foram separadas em 3 grupos, não usuárias de terapia hormonal, iniciando o uso da terapia hormonal e com uso prévio de implantes de estradiol e testosterona. Todas as pacientes fizeram dosagens séricas de colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol, triglicerídeos e glicemia em jejum, realizadas no início e após 1 ano. RESULTADOS: A densidade mineral óssea média no grupo de pacientes usuárias de implantes teve acréscimo de 1,87% na coluna lombar, e 3,80% no colo de fêmur e nas não usuárias, decréscimo de 5,92%, na coluna lombar e de 5,06% no colo de fêmur, estatisticamente significante com p<0,05. Na segunda fase do estudo o grupo de pacientes iniciando o uso de implantes apresentou redução do colesterol total estatisticamente significativa. No grupo de pacientes que mantiveram o uso de implantes a redução do LDL-colesterol foi estatisticamente significativa, e entre as pacientes sem terapia hormonal não houve mudança no perfil lipídico. CONCLUSÃO: As pacientes usuárias de implantes de estradiol e testosterona apresentaram ganho de massa óssea enquanto as não usuárias perderam massa óssea após 1 ano de acompanhamento. O uso de implantes de estradiol e testosterona mostrou uma redução no colesterol total no início da terapia hormonal e redução no LDL-colesterol entre as pacientes que já usavam esta terapia hormonal. Autora: Márcia Marly Winck Yamamoto Orientador: Prof. Dr. Sebastião Freitas de Medeiros Atividade das enzimas corticoesteroidogênicas em pacientes normoandrogênicas e hiperandrogênicas com síndrome dos ovários policísticos Activities of the corticosteroidogenic enzimes in normoandrogenic and hiperandrogenic patients with polycystic ovary syndrome Resumo de Tese Palavras-chave Síndrome dos ovários policísticos esteroidogênese hiperadrogenismo Keywords Polycystic ovary syndrome Steroidogenesis Hyperandrogenism Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Área de Concentração Reprodução Humana e Climatério, linha de pesquisa Endocrinologia e Climatério – Universidade Federal de Mato Grosso – Faculdade de Medicina, em 29 de junho de 2012. OBJETIVO: Avaliar a atividade das enzimas corticoesteroidogênicas em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP). MÉTODOS: Estudo de coorte, incluindo 122 pacientes com SOP; 81 apresentavam hiperandrogenismo bioquímico e 41 tinham níveis de androgênios normais. Atividade das enzimas corticoesteroidogênicas, examinadas pela razão produto/precursor, foram comparadas entre pacientes normoandrogênicas e hiperandrogênicas, tanto em condições basais como após estimulação adrenal com cortrosina. RESULTADOS: Duas pacientes, uma de cada grupo, foram excluídas por hiperplasia congênita de supra renal não clássica. Não se observou diferença na idade ou variáveis antropométricas entre pacientes com normo ou hiperandrogênicas. Pacientes hiperandrogênicas tiveram níveis elevados de colesterol total e insulina, maior produção de insulina pelas células β pancreáticas e níveis baixos de colesterol ligado a lipoproteína de alta densidade, quando comparadas com as normoandrogênicas. Atividades da 17α-hidroxilase e 17,20 liase foram equivalentes na via Δ5 em ambos os grupos de pacientes com SOP. Na via Δ4, em condições basais, pacientes hiperandrogênicas tiveram maior atividade da 17α-hidroxilase e 17,20 liase (p=0,005 e p=0,04, respectivamente). Pacientes hiperandrogênicas apresentaram diminuição da atividade da 21α-hidroxilase e 11β-hidroxilase (p≤0,001) e aumento da 3β-hidroxiesteroide desidrogenase (3β-HSD) na conversão de DHEA em androstenediona (A). Atividades da aromatase e 17β-hidroxiesteroide desidrogenase (17β-HSD) foram diminuídas no grupo de SOP com hiperandrogenismo. Após estimulação com cortrosina, atividade da 17,20 liase persistiu aumentada na via Δ4 (p<0,001). CONCLUSÕES: Na via Δ5, as atividades da 17α-hidroxilase e 17,20 liase foram equivalentes em ambos os grupos de pacientes mas, na via Δ4, a atividade da 17,20 liase foi maior no grupo com hiperadrogenismo. 3β-HSD foi mais ativa na conversão de DHEA para A, enquanto 21α-hidroxilase e 11β-hidroxilase, foram menos ativas em pacientes hiperandrogênicas. Após estimulação com cortrosina, somente atividade da 17,20 liase persistiu elevada na via Δ4. 2012 AGOSTO de 23 a 24 de agosto de 2012 25ª Jornada de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Norte Local: Hotel Pestana Natal Realização: SOGORN Tel.: 84 32215523 Fax: 84 32215523 [email protected] www.sogorn.com.br de 30 de agosto a 1º de setembro XVII Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia Local: Transamerica Expo Center Realização e Secretaria Executiva SOGESP Eventos: (11) 3884-7100 Fax: (11) 3887-3293 Contato: Fábio Veras [email protected] www.sogesp.org.br OUTUBRO de 25 a 27 de outubro 2012 19º Congresso Baiano de Obstetrícia e Ginecologia Local: Bahia Pestana Hotel Realização: SOGIBA Organização: AMB Eventos Tel.: (71) 2107-9684 [email protected] www.sogiba.com.br NOVEMBRO de 8 a 10 de novembro 5° Congresso SOGIMIG de G. O. / Regionais Sudoeste e Centro–Sul – Juiz de Fora/MG Realização: SOGIMIG Tel./Fax: (31) 3222-6599 www.sogimig.org.br