EDGARD MICHEL-CROSATO PERFIL DA FORÇA DE TRABALHO REPRESENTADA PELO CIRURGIÃO-DENTISTA: ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS PROFISSIONAIS QUE EXERCIAM SUAS ATIVIDADES NA PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2007 São Paulo 2008 Edgard Michel-Crosato Perfil da força de trabalho representada pelo Cirurgião-Dentista: análise epidemiológica dos profissionais que exerciam suas atividades na Prefeitura Municipal de São Paulo, 2007 Tese de Livre-Docência apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, para concorrer ao título de Livre-Docente pela Disciplina de Gestão e Planejamento em Odontologia Área de Concentração: Odontologia Social São Paulo 2008 Catalogação-na-Publicação Serviço de Documentação Odontológica Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo Michel-Crosato, Edgard Perfil da força de trabalho representada pelo Cirurgião-Dentista: análise epidemiológica dos profissionais que exerciam suas atividades na Prefeitura Municipal de São Paulo, 2007. / Edgard Michel-Crosato. -- São Paulo, 2008. 113p., 30 cm. Tese (Livre-Docência na Disciplina de Gestão e Planejamento em Odontologia – Área de concentração: Odontologia Social) -- Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. 1. Orientação Profissional 2. Odontologia Social BLACK D585 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE E COMUNICADO AO AUTOR A REFERÊNCIA DA CITAÇÃO. São Paulo, 01/09/2008. Assinatura: E-mail: [email protected] FOLHA DE APROVAÇÃO Michel-Crosato E. Perfil da força de trabalho representada pelo Cirurgião-Dentista: análise epidemiológica dos profissionais que exerciam suas atividades na Prefeitura Municipal de São Paulo, 2007 [Tese de Livre-Docência]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008. São Paulo, / / . Banca Examinadora 1)Prof(a). Dr(a). ________________________________________________ Titulação:_____________________________________________________ Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________ 2) Prof(a). Dr(a).________________________________________________ Titulação: _____________________________________________________ Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________ 3)Prof(a). Dr(a). ________________________________________________ Titulação: _____________________________________________________ Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________ 4) Prof(a). Dr(a).________________________________________________ Titulação: _____________________________________________________ Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________ 5) Prof(a). Dr(a).________________________________________________ Titulação: _____________________________________________________ Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________ DEDICATÓRIA À minha esposa Maria Gabriela, Aos meus pais, Edgard e Ana Cristina, À minha filha Ana Laura À Teresa, Wagner e Rafael À Juan, Daniza, Paulo e Dani "Este trabalho, dedico a essas pessoas muito especiais, que acompanharam tudo de perto". AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Moacyr da Silva, pelo constante apoio, contribuições e principalmente por seus conselhos e orientações. Aos Profs. do Departamento de Odontologia Social: Profa. Dra. Hilda Ferreira Cardoso; Profa. Dra. Ida T.P. Calvielli; Profa. Dra. Maria Ercília Araújo; Profa. Dra. Simone Rennó Junqueira; Prof. Dr. Dalton Luis de Paula Ramos; Prof. Dr. José Leopoldo Ferreira Antunes; Prof. Dr. Rogério Nogueira de Oliveira; Prof. Dr. Rodolfo F.H. Melani; Prof. Dr. António Carlos Frias; Prof. Dr. Edgard Crosato, pela amizade e convivência. À Profa. Dra. Maria Gabriela Haye Biazevic, pela inestimável colaboração na realização deste trabalho. À Universidade de São Paulo, representada pelo Diretor da FOUSP Prof. Dr. Carlos de Paula Eduardo pela oportunidade de continuar meu aprimoramento. Aos funcionários do Departamento de Odontologia Social, Andréia, Sonia e Laura. A todos os funcionários da biblioteca da Faculdade de Odontologia da USP. A todos os Cirurgiões-Dentistas da Prefeitura Municipal de São Paulo, pela participação nessa pesquisa. A coordenação de Saúde Bucal da Prefeitura Municipal de São Paulo, na pessoa da Maria Candelária Soares, pelo apoio na realização da pesquisa. Ao Observatório de Recursos Humanos em pela participação nessa pesquisa. Ao Ministério da Saúde / Pró-Saúde pelo apoio financeiro para a realização desse trabalho. A todas as pessoas que participaram de forma direta e indireta nesse trabalho. “Sem conhecer a extensão e a natureza de nossos problemas, não será possível ao menos começar a tratar deles”. Dalai Lama Michel-Crosato E. Perfil da força de trabalho representada pelo Cirurgião-Dentista: análise epidemiológica dos profissionais que exerciam suas atividades na Prefeitura Municipal de São Paulo, 2007 [Tese de Livre-Docência]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008. RESUMO O tipo de profissional que existe em um país, em um determinado momento, é resultante do processo evolutivo da atividade, e caracteriza uma etapa de evolução da profissão. O objetivo do estudo foi verificar o perfil das atividades profissionais dos Cirurgiões-Dentistas que desenvolviam seu trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS) no Município de São Paulo em 2007. Para obter as informações constantes da proposição deste trabalho foi realizado um estudo transversal descritivo e analítico através da utilização de questionário. Foram entrevistados profissionais participantes de curso de capacitação oferecido pela prefeitura e que estavam presentes no dia do inquérito. Antes da sua aplicação, o instrumento passou por um processo de estudo piloto e pré-teste para chegar à sua versão final. A parte do questionário que mensurou a satisfação no trabalho foi adaptada para a língua portuguesa (Brasil). Também foram testadas as suas propriedades psicrométricas. Os dados foram organizados e analisados no programa STATA 10.0. A pesquisa foi encaminhada aos Comitês de Ética em Pesquisa da Prefeitura Municipal de São Paulo e da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, tendo sido aprovados. O processo de validação da escala de satisfação foi adequada, apresentando boa consistência e validade. Participaram do estudo 605 CirurgiõesDentistas que exerciam suas atividades profissionais na Prefeitura Municipal de São Paulo no ano de 2007. Em relação às características sócio-econômicas, 70,74% dos profissionais eram do gênero feminino e 29,26% do gênero masculino. Os Cirurgiões-Dentistas não estavam distribuídos de forma simétrica pelo município, e a região que continha o maior número de profissionais foi a zona sul, com 40,00% do total de profissionais. Em relação à atuação profissional, 259 (42,81%) apresentavam curso de especialização, 29 (4,79%) de mestrado e 03 (0,50%) de doutorado. Relataram trabalhar em consultório privado 381 Cirurgiões-Dentistas (62,98%). A média de horas trabalhadas por semana foi de 37,30 horas, atendendo em média 8,38 pacientes a cada turno de 4 horas. O nível de satisfação dos participantes foi 2,84 (DP=0,29), em uma escala de 0 a 5. Os valores cada bloco verificados foram: satisfação geral com o trabalho/emprego (média=2,86; DP=0,45), percepção de renda (média=2,71; DP=0,47), tempo pessoal (média=2,86; DP=0,50), tempo profissional relacionamento com (média=2,79; DP=0,84), pacientes (média=2,77; equipe (média=2,80; DP=0,40) e DP=0,53), fornecimento de assistência/atendimento (média=2,25; DP=0,60). Os profissionais que participaram do estudo eram em sua maioria mulheres, atuavam também no setor privado e possuíam uma carga de trabalho expressiva. A satisfação profissional foi boa e se mostrou associada com o atendimento concomitante no setor privado. Palavras-Chave: Odontologia; Recursos Humanos; Satisfação no Emprego Michel-Crosato E. Workforce’s Dental Surgeon profile: epidemiologic analysis of the Professional that worked at the São Paulo’s City Municipality, 2007 [Tese de LivreDocência]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008. ABSTRACT The professional pattern that is available in a country, in a certain moment, reflects the evolution of the activity, and characterizes an evolution step of the profession. The objective of the study was to verify professional activities profile among the Dental Surgeons that worked in the São Paulo’s Municipality (Public Health Care Settings) in 2007. A descriptive cross-sectional and analytic study was carried out, using a questionnaire. Dentists that participated of the continued education course offered by the Municipality and that were present at the day of the questionnaire application participated of the study. Before its application, the instrument was submitted to a pilot process and also a pre-test was performed, and then the final version was achieved. The questionnaire component that measured job satisfaction was adapted to portuguese language (Brasil). Its psicometric properties were also tested. Data were organized and analysed at STATA 10.0 package. The investigation project was submitted to the School of Dentistry (FOUSP) and to the São Paulo’s Municipality Ethical Committees, and was approved. A pesquisa foi encaminhada aos Comitês de Ética em Pesquisa da Prefeitura Municipal de São Paulo e da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, tendo sido aprovados. Satisfaction’s scale validation process was appropriate, with good consistency and validity. Participated of the study 605 Dental Surgeons that professed Professional activities in the Municipality of São Paulo in 2007. Most of the professionals were female (70.74%) and 29.26% were male. Dental Surgeons were not equally allocated through the city, and South Region had the highest number of working professionals, with 40.00% of all. With regard to professional performance, 259 (42.81%) were specialists, 29 (4.79%) had Master degree and 03 (0.50%) were PhDs. Most of the dentists (N=381, 62.89%) used to work in private settings. The mean working hours in a week were 37.30, with a mean of 8.38 patients in a 4-hour working shift. Job satisfaction level among the participants was 2.84 (SD=0.29), in a 0 to 5 scale. The series values were: general satisfaction with job/employment (mean=2.86; SD=0.45), income perception (mean=2.71, SD=0.47), personal time (mean=2.86; SD=0.50), professional time (mean=2.79; SD=0.84), team (mean=2.80; SD=0.53), patients relationship (mean=2.77; SD=0.40) and healthcare delivery (mean=2.25; SD=0.60). Most of the participants of the study were women that used to work at private healthcare setting and they had expressive work shifts. Job satisfaction was good and it was associated to concurrent attendance at private healthcare setting. Key-Words: Dentistry; Manpower; Job Satisfaction LISTA DE QUADROS Quadro 2.1 - Participação da mulher na Odontologia nos Estados Unidos e na Europa................................................................................................. 29 Quadro 2.2 - Participação da mulher na Odontologia na América Latina................ 30 Quadro 2.3 - Educação continuada no Brasil........................................................... 43 Quadro 4.1 - Locais onde ocorreram os cursos de capacitação realizados para os Quadro 4.2 - Cirurgiões-Dentistas do Município de São Paulo, 2007..................... 56 Blocos de agrupamento da escala de satisfação................................ 61 LISTA DE FIGURAS Figura 5.1 - Distribuição de Bland-Altman para as observações interobservadores......................................................................................................... 67 Figura 5.2 - Distribuição de Bland-Altman para as observações intraobservadores.......................................................................................................... 68 LISTA DE TABELAS Tabela 5.1 - Consistência interna da versão brasileira da escala de satisfação profissional. São Paulo, 2007....................................... Tabela 5.2 - Validade inter-examinadores da versão brasileira da escala de satisfação profissional. São Paulo, 2007....................................... Tabela 5.3 - 74 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo queixas de saúde. São Paulo, 2007................................................................ Tabela 5.11 - 73 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo Renda e horas trabalhadas. São Paulo, 2007....................................................... Tabela 5.10 - 72 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo atividades de educação continuada. São Paulo, 2007........................................ Tabela 5.9 - 72 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo faculdade, e cursos realizados. São Paulo, 2007.............................................. Tabela 5.8 - 71 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo idade e anos de formados. São Paulo, 2007........................................................... Tabela 5.6 - 70 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo gênero e região de residência. São Paulo, 2007..................................................... Tabela 5.6 - 69 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho. São Paulo, 2007............................................................. Tabela 5.5 - 66 Consistência externa da versão brasileira da escala de satisfação profissional. São Paulo, 2007....................................... Tabela 5.4 - 66 75 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho. São Paulo, 2007............................................................. 76 Tabela 5.12 - Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Satisfação geral), São Paulo. 2007................................ Tabela 5.13 - Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Renda). São Paulo, 2007............................................... Tabela 5.14 - 82 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Fornecimento de assistência). São Paulo, 2007................................................................................................ Tabela 5.19 - 81 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Paciente). São Paulo, 2007............................................ Tabela 5.18 - 80 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Equipe). São Paulo, 2007............................................... Tabela 5.17 - 79 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Tempo profissional). São Paulo, 2007............................ Tabela 5.16 - 78 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Tempo pessoal). São Paulo, 2007.................................. Tabela 5.15 - 77 83 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho, gênero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. São Paulo, 2007................................................................................... Tabela 5.20 - 84 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo remuneração no trabalho, gênero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. São Paulo, 2007................................................................................... Tabela 5.21 - 85 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo horas trabalhadas por semana, gênero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. 86 São Paulo, 2007. Tabela 5.22 - Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo paciente por turno de 4 horas, gênero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. São Paulo, 2007................................................................. 87 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABO Associação Brasileira de Odontologia ADA Americam Dental Associaton APCD Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas CFO Conselho Federal de Odontologia CONEP Conselho Nacional de ética em Pesquisa CRO-PE Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco CRO-SP Conselho Regional de Odontologia de São Paulo DP Desvio Padrão DF Distrito Federal DORT Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho EUA Estados Unidos da América FOA-UNESP Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista. FOB-USP Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo FOL Faculdade de Odontologia de Lins FOUSP Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo IBGE Instituto Nacional de Geografia e Estatística IPEM Instituto de Previdência Municipal de São Paulo INEP Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa Educacionais LER Lesões por Esforços Repetitivos Mín. Valor mínimo Max. Valor máximo OPAS Organização Pan-Americana da Saúde PSF Programa de Saúde da Família SESI Serviço Social da Indústria SNS Sistema Nacional de Saúde SUS Sistema Único de Saúde UFBa Universidade Federal da Bahia UFPe Universidade Federal de Pernambuco UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNIB Universidade Ibirapuera UNIP Universidade Paulista UNISA Universidade de Santo Amaro USP Universidade de São Paulo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...............................................................................................20 2 REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................24 2.1 A participação feminina na Odontologia........................................24 2.2 Motivações para escolher a Odontologia como profissão...........31 2.3 Atuação profissional.........................................................................34 2.4 Educação continuada.......................................................................40 2.5 Riscos Ocupacionais........................................................................43 2.6 Satisfação profissional.....................................................................46 2.7 Validação de questionários..............................................................51 3 PROPOSIÇÃO...............................................................................................54 4 MÉTODO........................................................................................................55 4.1 Tipo de estudo...................................................................................55 4.2 População de estudo........................................................................55 4.3 Coleta de dados................................................................................56 4.4 O instrumento de coleta de dados..................................................57 4.5 Pré-teste e Estudo Piloto..................................................................58 4.6 Diretrizes para o processo de adaptação trans-cultural...............58 4.7 Método da aplicação do questionário.............................................60 4.8 Avaliação das propriedades psicométricas...................................60 4.9 A escala de satisfação......................................................................61 4.10 Digitação e análise dos dados.......................................................62 4.11 Considerações éticas.....................................................................62 5 RESULTADOS...............................................................................................64 5.1 Descrição da amostra.......................................................................64 5.2 Validação do instrumento de coleta................................................64 5.2.1 Descrição da amostra..............................................................65 5.2.2 Propriedades psicométricas.....................................................65 5.2.3 Satisfação profissional.............................................................69 5.3 Distribuição sócio-demográfica.......................................................70 5.4 Educação continuada.......................................................................72 5.5 Atuação profissional e renda auferida............................................74 5.6 Queixas de Saúde.............................................................................74 5.7 Satisfação no trabalho......................................................................75 5.8 Fatores associados...........................................................................84 6 DISCUSSÃO...................................................................................................88 6.1. Descrição da amostra......................................................................88 6.2 Distribuição sócio-demográfica.......................................................89 6.3 Educação Continuada.......................................................................90 6.4 Atuação profissional e renda auferida............................................91 6.5 Riscos ocupacionais.........................................................................92 6.6 Validação do instrumento de coleta................................................93 6.7 Satisfação profissional.....................................................................94 6.8 Fatores associados...........................................................................95 7 CONCLUSÃO.................................................................................................98 REFERÊNCIAS.................................................................................................99 ANEXOS..........................................................................................................107 20 1 INTRODUÇÃO A Odontologia tem passado por modificações no modelo de prática desde a década de 1980, e vários fatores têm contribuído para essas alterações. Dentre elas, destaca-se a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), a sua inclusão no Programa de Saúde da Família (PSF), a popularização dos sistemas de Odontologia de grupo, a abertura de novos cursos, a maior oferta de profissionais no mercado de trabalho, bem como a mudança do poder aquisitivo da população. Todas essas características acabaram por modificar a relação paciente-profissional. Tais fatores, além de alterar o perfil da atividade odontológica, têm feito com que o mercado de trabalho e o campo de atuação também mudem, implicando alterações na força de trabalho daqueles que se dedicam a essa profissão (MICHEL-CROSATO et al., 2003). Um fator importante do atual campo profissional é o aumento indiscriminado da oferta de cursos de graduação, fato que gerou o crescimento da disponibilidade de profissionais no mercado de trabalho, sem no entanto haver planejamento sobre a capacidade do mercado de trabalho de absorver tal incremento de profissionais. Em 2008, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) divulgou relatório que apontava a existência de 221.164 cirurgiões-dentistas no país (CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2008), com uma proporção de um profissional para cada grupo de 848 habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INSTITUTO NACIONAL DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2008). Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a relação média de um profissional para 1500 habitantes (JUNQUEIRA, 2006). 21 Paradoxalmente, a grande maioria da população não tem acesso a tratamento odontológico (BELARDINELLI; RANGEL, 1999) e a distribuição dos profissionais não é uniforme, já que os cirurgiões-dentistas elegem os grandes centros urbanos para o exercício de suas atividades (NICKEL; LIMA; SILVA, 2008; SIMONETTI, 1980; VACARIUC, 1985). A conseqüência desse excesso de oferta e diminuição da procura dos serviços odontológicos privados foi o surgimento de novas formas de prestação de serviços por parte dos Cirurgiões-Dentistas. Apesar do objetivo do egresso do curso de Odontologia continuar sendo montar o seu consultório particular, na maioria das vezes, isso demora para acontecer, ou mesmo esse objetivo não se concretiza, em função dos custos de montagem e de manutenção. Assim, quando o profissional ingressa no mercado de trabalho, procura novas alternativas para o exercício profissional. Vários estudos têm sido realizados para verificar as características de atendimento dos serviços de saúde bucal; em geral, eles apontam para a tendência do Cirurgião-Dentista procurar empregos privados e públicos e trabalhar por porcentagem (BRENNAM; SPENCER; SZUSTER, 2000; CORDÓN, 1991; COSTA, 1988; JUNQUEIRA, 2006; MADEIRA; PERRI DE CARVALHO, 1980; NEWTON; THOROGOOD; GIBBONS, 2000; POURAT et al., 2007; SALIBA et al., 2002). Devido às mudanças nas sociedades modernas, a força de trabalho feminina começou ser requerida no incremento da renda financeira das famílias (GIDDENS, 2005). A participação da mulher como força de trabalho tem aumentado consideravelmente nas diferentes atividades humanas. Esse processo de feminilização da força de trabalho na área odontológica é um achado constante nos dados bibliográficos, e apontam que houve no Brasil um aumento no número de mulheres que exercem a profissão, o que também foi constatado nos Estados 22 Unidos da América (EUA) e Europa (HJALMERS, 2006; MCEWEN; SEWARD, 1988; MICHEL-CROSATO et al., 2003; PARAJARA, 2000; PERRI DE CARVALHO, 1995a,b; SALIBA et al., 2002; SERPA, 1991). Outro fator que tem se destacado nesse campo profissional é a avaliação da satisfação profissional do Cirurgião-Dentista. Ayers et al. (2008) destacam que há necessidade de um contínuo acompanhamento da força de trabalho e da satisfação profissional e das tendências sociais do exercício da Odontologia. Essa avaliação se dedicaria a estudar vários domínios: a satisfação geral com o trabalho / emprego, a percepção sobre a renda, o tempo dedicado às atividades pessoais, o tempo dedicado às atividades profissionais, a relação com a equipe de trabalho, o atendimento odontológico (HARRIS et al., 2008; HJALMERS, 2006; HJALMERS; SÖDERFELDT; AXTELIUS, 2006; JEONG et al., 2006). Tendo em vista que o maior conhecimento da realidade da profissão em nosso país é de suma importância, foi objetivo desse estudo verificar se essas alterações estão de fato modificando o exercício profissional; buscou-se estudar o perfil dos Cirurgiões-Dentistas que atuam no serviço público, o tipo de serviço oferecido, a remuneração profissional, o número de horas trabalhadas e a satisfação profissional. Para obter as informações necessárias para a execução desta pesquisa, realizou-se um estudo transversal com Cirurgiões-Dentistas que exerciam suas atividades profissionais na Prefeitura Municipal de São Paulo no ano de 2007 e que participavam de um curso de capacitação oferecido pela própria prefeitura. A coleta de dados foi realizada utilizando-se um instrumento que continha perguntas fechadas e abertas e que antes da sua aplicação, passou por um processo de estudo piloto e pré-teste para chegar à sua versão final. A parte do questionário que 23 mensurou a satisfação no trabalho, por se tratar de uma escala internacional, foi adaptada para a língua portuguesa do Brasil; além disso, foram testadas as propriedades psicométricas do instrumento. O presente documento foi estruturado em diferentes capítulos. Na Revisão de Literatura, para facilitar o entendimento dos leitores, os estudos foram agrupados por assunto e, em cada grupo, os trabalhos foram citados em ordem cronológica. Os objetivos foram apresentados na Proposição. No capítulo de Materiais e Método apresentou-se o delineamento do estudo, a forma da coleta de dados, o instrumento de coleta, o processo de adaptação trans-cultural do instrumento, os testes das propriedades psicométricas do questionário, a descrição das formas de análise estatística e as considerações éticas. Nos tópicos Resultados, Discussão e Conclusões, os dados da pesquisa foram, respectivamente, apresentados, discutidos e sintetizados. 24 2 REVISÃO DE LITERATURA Existem vários trabalhos que visam examinar o perfil da força de trabalho da área odontológica, tanto na literatura estrangeira quanto na literatura de nosso país. Assim, para facilitar o entendimento dos leitores, tais estudos foram agrupados por assunto e local onde as pesquisas foram realizadas. 2.1 A participação feminina na Odontologia O perfil da força de trabalho em Odontologia vem mudando em todo o mundo. Dolan e Lewis (1987) realçam que vem ocorrendo um processo de feminilização da força de trabalho que se dedica à Odontologia. Os autores relataram que o perfil dos recém-graduados em cursos de Odontologia nos Estados Unidos da América (EUA) mudou drasticamente. Segundo eles, o número de mulheres que ingressavam na carreira odontológica aumentou significativamente. Em 1960, 1,00% da força de trabalho em Odontologia nos EUA, era representada pelo sexo feminino. Em 1986, 27,00% dos alunos do último ano das faculdades de Odontologia eram mulheres. Em pesquisa realizada no Estado de Washington (EUA) em 2005 por Del AGUILA et al. (2005), 12,00% dos profissionais que se dedicavam à Odontologia eram do gênero feminino. 25 A American Dental Association (ADA) estimou que, para ano de 2020, a participação da mulher nos EUA estaria próxima dos 30,00% (AMERICAN DENTAL ASSOCIATION, 2001). Em pesquisa realizada para verificar o perfil dos ortodontistas dos EUA, Blasius e Pae (2005) verificaram que a participação das mulheres era de 50,00% em relação ao total de Ortodontistas. Em pesquisa realizada por Janus, Hunt e Unger (2007), que teve como objetivo verificar o perfil dos serviços de prótese realizados por clínicos gerais no Estado da Virginia (EUA), a porcentagem de mulheres na profissão foi de 25,00%. Ao avaliarem a força de trabalho e a demanda por tratamento para a cárie dentária na cidade de Quebec (Canadá) entre 1985-1988, Brodeur et al. (1990) relataram que, em 1971, 55,60% dos profissionais registrados no Register of The Board of The Dentist of The Province of Quebec eram do gênero feminino. Em 1985, esse percentual diminuiu para 50,60% do total de registrados, voltando a subir em 1988, quando atingiu o patamar de 51,70%. Estudo realizado por Muirhead e Locker (2007) entre estudantes de odontologia canadenses encontrou que a participação feminina foi de 58,00%. McEwen e Seward (1988) relataram a mesma tendência citada anteriormente, em países europeus. Em estudo para verificar a contribuição da mulher na Inglaterra e no País de Gales, constataram que houve crescimento da participação feminina. Os autores relataram que em 1956, a porcentagem de mulheres que ingressavam na profissão era de 13,70%; a porcentagem de mulheres registradas no órgão de classe local, o Dentists Register, era de apenas 7,70% do total de profissionais inscritos. Dez anos depois, em 1966, o número de mulheres que ingressaram em cursos de Odontologia tinha subido para 16,30%, e aquelas 26 registradas no órgão de classe representavam 10,70% do total de profissionais. Em 1976, essas porcentagens já estavam em 24,90% e 15,10%, respectivamente. E, em 1986, tais índices eram de 34,60% e 21,20%, respectivamente. Matthews e Scully (1993), em estudo que objetivou verificar o perfil dos profissionais da Inglaterra com relação ao gênero, encontraram uma relação homens/mulheres bem mais modesta: no biênio 1985/1986 havia 1,37 homem para 1 mulher e, no biênio 1990/1991, havia 1,02 homem para 1 mulher. Harris et al. (2008) apontaram, em estudo realizado na Inglaterra, que a participação da mulher na Odontologia foi de 36,00%. Em estudo realizado na Bulgária (KATROVA, 2004), o autor relatou que a participação das mulheres na profissão era de 72,57%. Na Suécia, em pesquisa realizada por Kronström et al. (1997) observou-se uma participação feminina de 42,00%. Na America Latina existem poucos estudos que relatam o número de Cirurgiões-Dentistas nos diversos países. Em estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) entre profissionais da saúde, relatou que na Argentina 56,00% dos trabalhadores eram mulheres; na Bolívia, o número era 60,70%, na Costa Rica 53,90%, na Colômbia 69,50%, em Cuba 72,50% e no México 66,30% (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2004). Em relatório apresentado para a Organização Pan-Americana da Saúde (AMARANTE, 2006), verificou-se que no Uruguai, em 1998, na região de Montevidéu, a participação feminina era 55,00% e no interior do país, 66,00%. Em 2005, essa participação já era de 71,00% considerando todo o país. No Brasil, vários estudos têm se dedicado ao tema. Perri de Carvalho (1995a,b) realizou uma pesquisa na região da alta noroeste do Estado de São 27 Paulo. O autor aplicou, em sala de aula, um questionário aos alunos do oitavo semestre da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e da Faculdade de Odontologia de Lins (FOL). Nessas instituições, houve predominância de alunas mulheres: na FOL, a proporção de mulheres foi de 59,40%, e na FOA-UNESP esse percentual foi de 60,70%. O mesmo questionário foi aplicado a Cirurgiões-Dentistas de dez cidades nas cercanias de Lins e de Araçatuba; dos 10,00% de profissionais que responderam à pesquisa, 31,85% eram do gênero feminino. Complementando as informações por ele levantadas, o autor informou que, segundo os registros do Conselho Regional de Odontologia, São Paulo (CROSP), havia 894 Cirurgiões-Dentistas naquela região, dos quais 54,47% eram homens e 45,53% eram mulheres. Em matéria publicada em 1991, Serpa relata que, em 1967, na Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FOA-UNESP), havia apenas três mulheres dentre os alunos que cursavam o último ano. Nesse artigo, a autora reproduziu um estudo realizado no Instituto Metodista de Ensino Superior, localizado em São Bernardo do Campo-SP, que registrou que em 1985, havia 55,55% de mulheres matriculadas no primeiro ano do curso de Odontologia. Em 1990, esse percentual chegava a 89,25%. Ainda segundo a autora, outras instituições de ensino superior apresentavam um quadro semelhante, recebendo, anualmente, maior número de novos alunos do gênero feminino que do sexo masculino. Parajara (2000), em reportagem publicada pela Revista da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD) relatou que, dos 51.525 CirurgiõesDentistas que possuíam registro no CROSP em 1999, 51,00% eram mulheres, e, 28 dentre os profissionais que ainda estavam com inscrição provisória, a presença feminina era ainda mais marcante, atingindo cerca de 67,00%. Em pesquisa realizada em Araçatuba, com o objetivo de analisar a demanda do gênero feminino nos cursos de Odontologia, Saliba et al. (2002) relataram que em relação à Faculdade de Odontologia Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, observou-se que entre 1961-1970, 18,88% dos graduandos eram mulheres. No período de 1971-1980, a proporçäo foi 41,43%, de 1981-1990 foi 51,10% e de 1991-2000 foi de 59,95%. Os autores concluíram que houve um aumento do número de mulheres na Odontologia, e aconselharam as instituições de ensino e às entidades de classes que permanecessem atentas para avaliar as conseqüências decorrentes desse perfil no mercado de trabalho futuro. Em estudo realizado com egressos da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, Michel-Crosato et al. (2003) relataram que a participação feminina foi de 55,25%. Em pesquisa para verificar a prevalência de distúrbios osteomusculares entre Cirurgiões-Dentistas no Meio-Oeste Catarinense, MichelCrosato, Kotiliarenko e Biazevic (2006) relataram que a participação feminina foi de 48,00%. Nesse tópico procuramos abordar a participação feminina no exercício da profissão de Cirurgião-Dentista. Os quadros 2.1 e 2.2 apresentam uma síntese desses estudos. 29 País/Continente Características / Região Cirurgiões-Dentistas (EUA) Formandos (EUA) Cirurgiões-Dentistas Washington (EUA) Ortodontistas (EUA) Estados Unidos (EUA) / Canadá Cirurgiões-Dentistas Virgínia (EUA) Cirurgiões-Dentistas (EUA) Cirurgiões-Dentistas Quebec (Canadá) Cirurgiões-Dentistas (Quebec, Canadá) Estudantes (Canadá) Formandos (Inglaterra) Cirurgiões-Dentistas (Inglaterra) Formandos (Inglaterra) Cirurgiões-Dentistas Europa (Inglaterra) Cirurgiões-Dentistas (Inglaterra) Cirurgiões-Dentistas (Inglaterra) Cirurgiões-Dentistas (Suécia) Cirurgiões-Dentistas (Bulgária) Ano Estudo Mulheres (%) 1960 Dolan e Lewis (1987) 1,00 1986 Dolan e Lewis (1987) 27,00 2005 Del Aguila MA (2005) 12,00 2005 Blasius e Pae (2005) 50,00 2007 Janus, Runt e Unger (2007) 25,00 2020 ADA (2001) 30,00 1971 Brodeur et al (1990) 55,60 1988 Brodeur et al (1990) 51,70 2007 1965 1965 1986 1986 Muirhead e Locker (2007) McEwen e Seward (1988) McEwen e Seward (1988) McEwen e Seward (1988) McEwen e Seward (1988) 58,00 13,70 7,70 34,6 21,2 1993 Mattews e Scully (1988) 50,00 2008 Harris et al. (2008) 36,00 1997 Kronström et al. (1997) 42,00 2004 Katrova (2004) 72,57 Quadro 2.1. Participação da mulher na Odontologia nos Estados Unidos e na Europa. 30 País/Continente Características / Região Ano Estudo Mulheres (%) 1960 Dolan e Lewis (1987) 1,00 1998 Amarante (2006) 55,00 1998 Amarante (2006) 66,00 2005 Amarante (2006) 71,00 2004 OPAS (2004) 56,00 2004 OPAS (2004) 60,70 2004 OPAS (2004) 53,90 2004 OPAS (2004) 69,50 2004 OPAS (2004) 72,50 2004 OPAS (2004) 66,30 1961 Serpa (1991) 3,00 2000 Serpa (1991) 89,25 2005 Parajara (1991) 51,00 Saliba et al. (2002) 59,95 2003 CFO (2003) 57,50 Cirurgiões-Dentistas 1990- Michel-Crosato et al. (Estado de São Paulo) 1998 (2003) Formandos (Inglaterra) Cirurgiões-Dentistas (Montevidéu, Uruguai) Cirurgiões-Dentistas (Uruguai, Interior) Cirurgiões-Dentistas (Uruguai) Profissionais de Saúde América Latina (Argentina*) Profissionais de Saúde (Bolívia*) Profissionais de Saúde (Costa Rica*) Profissionais de Saúde (Colômbia*) Profissionais de Saúde (Cuba*) Profissionais de Saúde (México*) Cirurgiões-Dentistas (Araçatuba, CROSP) Formandos (São Bernardo do Campo-SP) Cirurgiões-Dentistas (São Paulo, CROSP) Brasil Cirurgiões-Dentistas 1991- (Araçatuba-SP) 2000 Cirurgiões Dentistas (Brasil) Cirurgiões-Dentistas (Santa Catarina) 2005 Michel-Crosato, Kotiliarenko e Biazevic (2006) Quadro 2.2. Participação da mulher na Odontologia na América Latina. 55,25 48,00 31 2.2 Motivações para escolher a Odontologia como profissão Outro aspecto importante com relação à profissão odontológica correspondem aos motivos que levam os jovens a eleger a Odontologia como profissão. Vários foram os fatores relatados, e esses se alteram à medida que as características da profissão mudam. Em 1973, Arbenz et al. (1973) realizaram um trabalho para verificar os motivos da escolha da profissão odontológica. Foram entrevistados 125 alunos do curso de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP); relataram que o principal fator para a escolha da ciência odontológica foi a aptidão às ciências médicas. Almeida Júnior et al. (1984) realizaram estudo no qual aplicaram questionários a 150 estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBa). Os resultados apresentam que a maioria dos sujeitos de pesquisa escolheu a profissão por gostar de ciências médicas e, principalmente, de Odontologia. Os autores também apontaram que alguns estudantes escolheram a Odontologia por ambição sócio-econômica, ou por influência familiar. Os autores apresentaram que a história familiar poderia ter influência na escolha da profissão, já que 43,30% dos entrevistados relataram ter parentes que eram Cirurgiões-Dentistas. Em estudo que entrevistou todos os Cirurgiões-Dentistas inscritos no Conselho de Odontologia do Estado de São Paulo, Costa (1988) relatou que um entre cada quatro profissionais indicou a perspectiva de ganhos financeiros e de 32 prestígio social como motivadora da escolha. Sua pesquisa foi conduzida com Cirurgiões-Dentistas da Grande São Paulo. Com o objetivo de analisar as características do ensino e da prática odontológica, Perri de Carvalho (1995a,b) realizou uma pesquisa na região da Alta Noroeste do Estado de São Paulo. O autor aplicou, em sala de aula, um questionário aos alunos do oitavo semestre da Faculdade de Odontologia da Universidade Julio de Mesquita Filho (FOA-UNESP) e da Faculdade de Odontologia de Lins (FOL). O mesmo questionário foi aplicado a Cirurgiões-Dentistas de dez cidades nas cercanias de Lins e de Araçatuba; tais questionários foram entregues diretamente aos profissionais. Os questionários respondidos apontaram que a opção pela Odontologia prendia-se às possibilidades de ganhos financeiros para as três categorias estudadas. Em estudo realizado por Gietzelt (1997), entre os estudantes de Odontologia de primeiro ano, foi encontrado que as principais motivações por escolher a Odontologia como carreira foram a aptidão para a saúde e possibilidade de ter vários empregos. Carvalho, Perri de Carvalho e Sampaio (1997) realizaram um estudo para verificar as motivações e as expectativas que alunos de faculdades de Odontologia do Município de São Paulo nutriam com relação ao curso e ao exercício profissional. Os autores aplicaram, a uma população de 179 estudantes da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) e de cursos de Odontologia da Universidade Paulista (UNIP) e da Universidade de Santo Amaro (UNISA), questionário no qual indagavam as razões da escolha profissional. Obtiveram os seguintes resultados: vocação - 37,20% (UNIP), 39,40% (UNISA) e 23,40% (USP); possibilidade de auferir bons rendimentos - 54,30% (UNIP), 11,40% (UNISA) e 33 34,30% (USP). Em estudo realizado na Irlanda, Hallissey, Hannigan e Ray (2000) verificaram por que os estudantes escolheram a ocupação de Cirurgião-Dentista. Foram entrevistados 150 estudantes universitários durante o ano letivo de 19981999. Os graduandos escolheram a Odontologia principalmente devido a uma percepção positiva de condições de trabalho, seguida pelas motivações de poder ajudar as pessoas. Em estudo realizado por Michel-Crosato et al. (2003), referente à questão sobre os motivos de escolha da Odontologia como profissão, os autores relataram que 170 (53,12%) a escolheram pelo fato de esta ser uma profissão liberal; 118 (36,875) por terem tido contato com outros dentistas; 103 (32,18%) pela flexibilidade de horário; e 101 (31,00%) por vocação. Em pesquisa que tinha como objetivo verificar a motivação de estudantes do curso de Odontologia e de Medicina na Universidade de Manchester (Grã-Bretanha), Crossley e Mubarik (2002) relataram que os estudantes de Medicina manifestaram uma atitude mais profissional na qual o desafio intelectual constituiu fator motivador central para a escolha da profissão. Gallagher et al. (2007) realizaram um estudo qualitativo para verificar os motivos que levavam os jovens a escolher a Odontologia. Os autores concluíram em seu estudo que os graduandos escolheram a profissão por remunerações lucrativas e por ser uma profissão da área de saúde. 34 2.3 Atuação profissional Ainda dentro do escopo do presente estudo, outro fator importante são as possibilidades de atuação profissional do Cirurgião-Dentista. Esse aspecto tem sido objeto de muitos estudos, que visam avaliar as oportunidades de colocação do profissional no mercado de trabalho. Em levantamento sobre as características de atendimento dos serviços de saúde bucal da cidade de Bauru (SP), Moraes (1971) relatou que 53,09% dos Cirurgiões-Dentistas trabalhavam somente em consultórios odontológicos, e 46,91% atuavam em autarquias, em serviços de assistência odontológica e na Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP). Em estudo realizado no oeste do Estado de São Paulo para verificar as necessidades e as tendências da Odontologia e do exercício dessa profissão, Madeira e Perri de Carvalho (1980) destacaram a possibilidade de alocar os recémformados, pelo período de um ano, e mediante remuneração, em consultórios odontológicos especialmente montados pelo governo em cidades carentes. Em trabalho realizado para verificar as opções de trabalho e a distribuição dos Cirurgiões-Dentistas no território nacional, Vacariuc (1985) constatou que as atividades que apresentavam maiores índices de preferência eram o consultório próprio, o emprego junto a terceiros e a dedicação à docência. Para analisar o perfil de atuação de egressos de cursos de Odontologia nos Estados Unidos, Dolan e Lewis (1987) enviaram questionários para uma população de 4.470 profissionais escolhidos aleatoriamente em um universo de 14.228 Cirurgiões-Dentistas graduados nos anos de 1979, 1980 e 1981. Os autores 35 relataram que 36,10% das mulheres, e 24,50% dos homens, trabalhavam em clínicas privadas. E comentaram ainda sobre a concordância existente, na literatura médica e na literatura odontológica, sobre a maior incidência de profissionais do sexo feminino atuando com vínculo empregatício em empresas de Odontologia de grupo, em empregos públicos e em instituições privadas. No já citado estudo realizado em 1988 por Costa, o autor constatou que, nos 1.020 questionários respondidos, houve predominância de atuação em consultórios próprios, e que a porcentagem de homens que não possuíam vínculo empregatício (66,00%) era maior do que a de mulheres (51,00%). Em estudo sobre a atuação de Cirurgiões-Dentistas do Distrito Federal (DF), Cordón (1991) observou que a maioria dos profissionais da área trabalhava em consultórios individuais e particulares (64,00%) na condição de clínicos gerais; que 20,60%, além do consultório, também tinham um emprego público; e que somente 3,3% tinham como única fonte de renda o serviço público. A pesquisa supra citada também revelou que 25,60% dos CirurgiõesDentistas tinham vínculo empregatício com os serviços públicos federais ou distritais e que 32,50% trabalhavam em mais de um local, privado ou público. Pinto (1993), relatou que em 1989, havia 40.581 postos de trabalho ocupados por Cirurgiões-Dentistas, com maior concentração nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil. Em sua dissertação de mestrado, Silva (1994) encontrou que a maioria dos profissionais formados em Odontologia que mantinham emprego em Araraquara estava vinculada ao setor público; o autor explicou que, com a municipalização dos serviços de saúde, a prefeitura ampliou seus serviços, abrindo maiores oportunidades de emprego aos Cirurgiões-Dentistas. O Serviço Social da Indústria 36 (SESI), a UNESP, as empresas privadas e os sindicatos ofereciam poucos empregos a tais profissionais naquela cidade. Na já mencionada pesquisa realizada por Perri de Carvalho (1995a,b), o autor relatou que, na população de alunos estudada, as expectativas de atuação profissional à época da formatura diferiram entre os alunos da FOA-UNESP e da FOL. Na FOA-UNESP, 29,00% dos graduandos planejavam possuir consultórios próprios, 36,00% pretendiam trabalhar em clínicas privadas; 52,00% previam trabalhar em consultórios cedidos ou alugados; 56,00% queriam continuar estudando; 54,00% objetivavam trabalhar em sindicatos ou associações. As expectativas dos alunos da FOL apresentaram percentuais um pouco diferentes: 40,00% tinham a previsão de possuir consultórios próprios, e 27,00% queriam trabalhar em clínicas privadas; 49,00% tinham a expectativa de atuar em consultórios cedidos ou alugados; 54,00% pretendiam continuar estudando; 64,00% objetivavam trabalhar em sindicatos ou associações. Em estudo realizado na África do Sul com a finalidade de verificar os padrões de trabalho de Cirurgiões-Dentistas de ambos os gêneros, Wet, Truter e Ligthelm (1997) verificaram que 89,90% dos entrevistados do sexo masculino trabalhavam em clínicas privadas; as profissionais do sexo feminino que trabalhavam dessa forma eram 70,00% do total da amostra. Para verificar as diferenças de perfil da força de trabalho na Suécia, Kronström et al. (1997) enviaram questionários a uma população – escolhida aleatoriamente - de 2.100 Cirurgiões-Dentistas daquele país. Os resultados apontaram que 50,00% dos profissionais trabalhavam em clínicas privadas e 50,00% estavam vinculados aos serviços públicos. Entre os homens, 63,00% trabalhavam em clínicas privadas, enquanto que apenas 32,00% das mulheres o faziam. 37 Pesquisa realizada para verificar o padrão dos diagnósticos e as características dos pacientes de serviços odontológicos na Austrália apontou que, dos 7.493 profissionais registrados no Dentist Register, 16,50% eram mulheres. De todos os profissionais, 79,60% trabalhavam no setor privado (BRENNAN; SPENCER; SZUSTER, 2000). Aspectos atinentes aos ganhos financeiros e ao tempo dedicado à Odontologia têm sido avaliados por diversos estudiosos. E alguns desses pesquisadores ainda se debruçaram sobre as possíveis diferenças - relacionadas a esses fatores – que podem ocorrer em conseqüência do sexo do profissional. Em estudo que analisou algumas características dos Cirurgiões-Dentistas graduados na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Parahyba Neto, Bijella e Morais, (1983) verificaram que, com exceção das clínicas empresariais, em todas as outras atividades desenvolvidas, os profissionais do sexo masculino apresentavam média de horas semanais de trabalho superior àquelas registradas para o sexo feminino. Dos profissionais que trabalhavam somente em consultórios particulares, os do sexo masculino cumpriam uma média semanal de 39 horas, e os do sexo feminino atuavam por 30 horas. Entre aqueles que mantinham vínculo empregatício, os homens também trabalhavam média semanal de 39 horas, e as mulheres apenas 34 horas. Dolan e Lewis (1987) empreenderam pesquisa para verificar o perfil profissional dos recém-graduados em cursos de Odontologia dos Estados Unidos. Os autores relataram que as mulheres ganharam menos que os homens na prática privada, administrativa ou na docência, mesmo realizando as mesmas atividades e dedicando-se o mesmo número de horas ao serviço. 38 O trabalho publicado por Cordón em 1991 apontou que, em geral, 68,00% dos dentistas trabalhavam até 40 horas, e 30,00% trabalhavam mais de 40 horas semanais. Na avaliação realizada segundo sexo, foi observado que os homens dedicavam maior tempo ao consultório. Quanto aos rendimentos, o autor relatou também que 62,60% dos profissionais haviam tido, no ano de 1990, receitas mensais superiores a dez salários mínimos, e 24,40% haviam recebido, mensalmente, mais de 30 salários mínimos. Pesquisa realizada com Cirurgiões-Dentistas na África do Sul apontou que 41% dos profissionais trabalhavam entre 41 e 50 horas semanais, e 13,00% trabalhavam mais de 50,00 horas semanais (RUDOLPH; BRAND; GILBERT, 1995). As publicações de Perri de Carvalho (1995a,b) ressaltaram que outros fatores, além do tipo de atividade desenvolvida pelo Cirurgião-Dentista, influenciaria seus rendimentos; o mercado de trabalho também deveria ser considerado em estudos voltados ao assunto. Wet, Truter e Ligthelm (1997) verificaram que, em 80% dos entrevistados, o sexo masculino respondia pela principal fonte de renda da família, ao passo que apenas 19,6% das profissionais do sexo feminino que atuavam em Odontologia se inseriam nessa situação. O trabalho de Kronström et al. (1997) apontou para os seguintes índices de horas semanalmente dedicadas ao exercício profissional: entre os homens, 26-30 horas (7,00%), 31-35 horas (26,00%), 36-40 horas (48,00%), mais de 40 horas (10,00%); entre as mulheres, 26-30 horas (27,00%), 31-35 horas (25,00%), 36-40 horas (30,00%), mais de 40 horas (2,00%). Os autores comentaram que aproximadamente 53,00% dos Cirurgiões-Dentistas consideravam a sua demanda de pacientes suficiente; 12,00% dos homens e 20,00% das mulheres afirmavam ter 39 uma grande demanda; 30,00% dos homens e 21,00% das mulheres relataram ter poucos pacientes novos; e 6,00% dos homens e 4,00% das mulheres consideravam baixa a sua demanda. Em estudo realizado para verificar o perfil do egresso do curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), Michel-Crosato et al. (2003), relataram que, em relação ao número de horas que o profissional dedicava à Odontologia no primeiro ano após a formatura, 159 (49,16%) trabalhavam de 8 a 12 horas por dia, e 30 (9,46%) trabalhavam mais de 12 horas por dia, o que resultou em um somatório de 189 (59,62%) Cirurgiões-Dentistas atuando além de 8 horas diárias. Em estudo realizado no Meio-Oeste Catarinense, onde participaram da pesquisa 153 profissionais, mais da metade dos Cirurgiões-Dentistas, ou seja, 86 (52,59%) relataram trabalhar mais do que 40 horas semanais e de atender mais de cinco pacientes por turno de 4 horas; apenas 10% relatou atuar sem pessoal auxiliar. Com relação à posição ergonômica de trabalho, as localizações que correspondem a 9, 10, 11 e 12 horas foram as preferidas por cerca de 56,86% dos profissionais e 80% relatou trabalhar exclusivamente na posição sentado. Na questão da renda, 56,21% dos respondentes recebiam até R$ 5.000,00 por mês, sendo que 31,37% relatou valores superiores e 12,42% preferiu não revelar a renda. A renda familiar de 49,67% dos profissionais correspondeu a valores que não superaram os R$ 10.000,00 e 31,37% deles não informou a condição (MICHEL-CROSATO; KOTILIARENKO; BIAZEVIC, 2006). 40 2.4 Educação continuada Diferentes autores empreenderam estudos voltados às áreas ou especialidades que o Cirurgião-Dentista atua em sua prática. Também os cursos de pós-graduação (atualização, especialização, mestrado e doutorado) têm sido avaliados e discutidos na literatura. Discutindo a crise no atendimento odontológico, Simonetti (1980) relatou que os especialistas seriam importantes para o progresso da ciência odontológica, mas ponderou que a linha de raciocínio que supervaloriza a realização de cursos de especialização prejudicaria a formação profissional. Tal postura levaria o indivíduo a uma visão limitada da prática odontológica, que lhe tornaria difícil a adequação a novas situações. Dos 167 profissionais que responderam aos questionários enviados por Parahyba Neto, Bijella e Morais (1983), em que se analisaram algumas características dos profissionais formados pela Faculdade de Odontologia da UFPE, apenas 48 (28,74%) exerciam alguma especialidade e, destes, somente 28 estavam registrados como especialistas no Conselho Regional de Odontologia do Estado de Pernambuco (CRO-PE). Entre as especialidades exercidas pela população estudada, as mais freqüentes foram: para o gênero feminino, odontopediatria, endodontia e periodontia (que, somadas, representaram 80,95% das especialidades exercidas por esse sexo); para o gênero masculino, endodontia, prótese e cirurgia (totalizando 70,37% das especialidades exercidas pelos homens). Para os autores, o elevado índice de profissionais que não exerciam especialidades (71,26%) poderia estar associado ao baixo poder aquisitivo da população atendida, ou ainda ao fato 41 de que o clínico geral estaria apto a atender às necessidades odontológicas básicas da comunidade; esse percentual sugeriria a inexistência de um mercado de trabalho favorável para os especialistas na região estudada. O estudo realizado por Almeida Júnior et al. (1984) com graduandos da Faculdade de Odontologia da UFBa relatou que os alunos que pretendiam fazer outro curso após a obtenção do título de Cirurgião-Dentista citaram com maior freqüência: medicina, psicologia e farmácia, demonstrando a preferência dessa população pelas ciências biomédicas. Vacariuc (1985) apontou que as opções de especialidades mais procuradas em seu estudo, que foram: odontopediatria, endodontia, prótese dental, ortodontia e dentística. A autora relatou ainda que existe preferência do gênero feminino em especializar-se em odontopediatria, e dos homens, por cirurgia. Costa (1988) realizou um estudo com profissionais da Grande São Paulo e em relação às especialidades odontológicas praticadas em consultórios pela população estudada, que foram: dentística, endodontia, odontopediatria, prótese, periodontia, cirurgia, semiologia e ortodontia, nessa ordem de freqüência. Todavia, quando consideradas apenas as profissionais mulheres, essa ordem se alterou para: dentística, prótese, endodontia, periodontia, cirurgia, odontopediatria, semiologia e ortodontia. O autor ainda destacou que apenas 25,00% dos Cirurgiões-Dentistas que responderam à pesquisa eram especialistas, e que a maioria destes não se dedicava apenas à especialidade estudada. Cordón (1991) constatou que 55,80% dos profissionais de sua amostra não haviam freqüentado cursos de educação continuada. Entre aqueles que haviam freqüentado, 18,70% tinham feito cursos de aperfeiçoamento; 23,60% concluíram cursos de especialização; e apenas 1,90% haviam feito cursos de mestrado, 42 doutorado ou pós-doutorado. Quase todos os cursos de aperfeiçoamento freqüentados pelos participantes haviam tido duração inferior a 40 horas. Na população avaliada por Silva (1994), a porcentagem total de especialistas foi de 48,50%, e a maioria (59,50%) dos profissionais havia concluído os cursos de especialização nos 10 anos anteriores à pesquisa. O autor destacou dois fatores como responsáveis pelo grande número de especialidades na cidade estudada (Araraquara-SP): a ênfase que os docentes dos cursos de graduação em Odontologia dão ao conhecimento técnico e à especialização e a atuação da sede regional da Associação Paulista dos Cirurgiões-Dentistas (APCD), que oferecia cursos de diferentes áreas. Os resultados desse estudo demonstraram a seguinte distribuição de profissionais por área de atuação odontológica: dentística, 72,00%; odontologia preventiva, 64,00%; odontopediatria, 58,80%; cirurgia, 29,40%; prótese, 26,50%; endodontia, 20,60%; periodontia, 11,80%; e ortodontia, 6,00%. O site do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa Educacionais (2000) relatou os resultados e a análise dos dados recolhidos pelo questionário-pesquisa aplicado aos graduandos de cursos Odontologia pelo Exame Nacional de Cursos (“Provão”). Das 14 especialidades arroladas, a que teve o maior índice de adesões foi a dentística restauradora, que obteve manifestação de interesse por parte de 59,9% dos pesquisados. Os estudantes revelaram ainda um desejo bastante acentuado pela continuidade dos estudos: 77,2% pretendiam fazer cursos de aperfeiçoamento e de especialização, e 20% pretendiam fazer cursos de mestrado e de doutorado. Michel-Crosato, Kotiliarenko e Biazevic (2006) apontaram em seu estudo realizado no Meio-Oeste Catarinense, que 76,00% do total de 153 CirurgiõesDentistas relataram ser especialistas e 26,00% eram clínicos gerais. 43 O quadro 2.3 apresenta a síntese dos trabalhos de educação continuada realizados no Brasil. País/Continente Caracteristicas / Região Cirurgiões-Dentistas (Pernambuco) Cirurgiões-Dentistas (São Paulo-SP) Cirurgiões-Dentistas (Brasília-DF) Brasil Cirurgiões Dentistas (Piracicaba-SP) Cirurgiões-Dentistas (Brasil) Cirurgiões-Dentistas (Santa Catarina) Ano 1983 Estudo Parahyba Neto, Bijela e Morais (1983) Especialistas (%) 28,74 1988 Costa (1988) 25,00 1991 Cordón (1991) 44,20 1994 Silva (1994) 48,50 2000 INEP (2000) 77,02 2005 Kotiliarenko e Biazevic Michel-Crosato, 76,00 (2006) Quadro 2.3. Educação continuada no Brasil. 2.5 Riscos Ocupacionais A preocupação com problemas de saúde decorrentes do exercício profissional também está presente na área odontológica. A literatura contempla estudos voltados a essa matéria, como o de Eccles (1970), que postulou que, como o Cirurgião-Dentista desenvolveria os procedimentos no paciente consciente, e que este está freqüentemente apreensivo, seu trabalho seria permeado por um clima de tensão, o que poderia levá-lo a situações de grande estresse. 44 Para Nogueira (1983), os riscos ocupacionais poderiam ser divididos em dois grupos: os acidentes de trabalho - eventos caracterizados pelo curto período de tempo decorrido entre a ação do agente nocivo e o aparecimento da lesão, e as doenças profissionais - eventos caracterizados por maior período de tempo transcorrido a ação do efeito nocivo e o aparecimento da doença. As doenças profissionais poderiam ser causadas por agentes mecânicos, físicos, e biológicos, e a melhor maneira de preveni-las seria a adoção de medidas preventivas já conhecidas. Os Cirurgiões-Dentistas modernos, como verdadeiros profissionais da saúde, teriam a obrigação de conhecer, cumprir e divulgar as normas ergonômicas e sanitárias que beneficiam os seus clientes, a população, os seus familiares e a eles próprios (GENOVESE; LOPES, 1991). Augustson e Morken (1996) citaram as queixas mais comuns entre os profissionais da área de Odontologia: dores nas costas (49,00%), desconforto no pescoço (47,00%), desconforto no ombro e dores no pulso (21,00%), dentre outras. Para Poi, Reis e Poi (1999), seria necessário que o Cirurgião-Dentista fosse visualizado em sua totalidade. A partir dessa visão, postularam os autores, o profissional deveria dedicar algum tempo para preservar a sua saúde. Os profissionais de Odontologia não deverim se limitar a cuidar da saúde alheia. Além da competição profissional cada vez mais acirrada, o Cirurgião-Dentista teria de lidar com muitos problemas específicos, tais como varizes, lesões por esforços repetitivos (LER), dores na coluna e estresse. Os cuidados com o bemestar deveriam começar desde cedo e, preferencialmente, deveriam integrar o dia-adia da prática em consultório (LUSVARGHI, 1999). 45 Midorikawa et al. (1998) realizaram estudo para observar a incidência de lesões por esforços repetitivos (LER) e de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) em Cirurgiões-Dentistas, constatando que 66,9% dos profissionais que apresentavam tais manifestações eram do gênero feminino. Alexopoulos Stathi e Charizani (2004) verificaram ser elevada a prevalência de queixas músculo-esqueléticas em 430 Cirurgiões-Dentistas gregos que realizaram a pesquisa mediante a aplicação de um questionário. Os resultados da pesquisa mostraram que 62,00% relataram ao menos uma queixa dolorosa, 30,00% sofriam do problema cronicamente, 16,00% tinham tido relatos de ausência de dor e 32,00% declararam ter procurado assistência médica em decorrência dos problemas. Estudando a dor decorrente da atividade profissional dos CirurgiõesDentistas de Porto Alegre–RS, Loges (2004) constatou que metade dos profissionais entrevistados referiu sintomas de lombalgia e um quarto da amostra, cervicalgia, 41,00% queixas de dores de cabeça, 20,00% problemas nos ombros, 13,00% nos cotovelos e 25,00% relataram sintomas nas mãos e punhos. A prevalência dos distúrbios músculo-esqueléticos se mostrou acentuada para o gênero feminino. Os achados indicaram que os dentistas homens apresentaram maior consumo de bebidas alcoólicas e contraturas no ombro direito, enquanto as mulheres fizeram mais uso de medicamentos e referiram mais dor espontânea no ombro direito durante o trabalho. Michel-Crosato, Kotiliarenko e Biazevic (2006) realizaram um estudo no Meio-Oeste Catarinense, onde participaram da pesquisa 153 profissionais. Do total de Cirurgiões-Dentistas pesquisados, 93,00% relataram dores músculo-esqueléticas em pelo menos uma parte do corpo no último ano em decorrência da atividade 46 profissional, com predominância para os indivíduos do gênero feminino. A região mais prevalente com sintomatologia foi a coluna cervical (69,93%). O risco de dor para os indivíduos que apresentavam a probabilidade positiva para transtornos psiquiátricos menores foi cerca de quatro vezes maior. Puderam concluir que a prevalência dos distúrbios osteomusculares foi alta e que esteve associada a algumas características ocupacionais e sócio-econômicas. 2.6 Satisfação profissional A prática de uma profissão não pode ser considerada somente como o resultado das aptidões e habilidades de sua força de trabalho. Ela irá resultar da confluência de fatores psicológicos e sociais que exercem marcada influência sobre o comportamento do homem no exercício de sua profissão e condicionam a compatibilização do profissional com seu trabalho. Seu nível de ajustamento do profissional nos leva à chamada satisfação profissional (KOTLIANRENKO, 2005). Verificando os fatores que contribuem com satisfação profissional do Cirurgião-Dentista e com a sua qualidade de vida, Logan et al. (1997) realizaram estudo e constataram que, embora a maioria dos profissionais entrevistados estivesse satisfeito com sua carreira, estavam igualmente insatisfeitos com seu nível de estresse, com o ambiente de trabalho e com o tempo pessoal disponível. Para Nicolielo e Bastos (2002), a satisfação profissional constitui um tema muito importante e atualmente vem sendo descrita como o estado emocional positivo resultante do prazer que se tem com as experiências do trabalho, estando fortemente relacionada a fatores como desempenho profissional, qualidade de vida, saúde física e mental e com a auto-estima do trabalhador. Os autores 47 relataram que haveria uma relação estabelecida entre o tempo de atuação no mercado de trabalho e a satisfação profissional, estando os profissionais recémformados mais insatisfeitos. Soria Bordin e Costa Filho (2002) afirmaram que o setor odontológico estaria atravessando uma fase paradoxal, caracterizada pelo excesso de profissionais no mercado de trabalho e pelo grande contingente populacional carente de tratamentos odontológicos. Com isso, haveria necessidade crescente de serem aprimoradas suas habilidades gerenciais, a fim de possibilitar a melhor organização do setor. Funk et al. (2004) avaliaram o perfil do Cirurgião-Dentista formado pela Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo (RS) no período de 1965 a 1999. Os resultados mostraram que a maioria dos profissionais se sentiam satisfeitos com a prática da Odontologia, mas deixaram transparecer a insatisfação com os aspectos financeiros da profissão. Um estudo foi realizado em Medunsa, África do Sul, por Harris e Zwane (2005), que teve por objetivo verificar as expectativas e percepções com relação à satisfação na carreira com graduados de 2003 do curso de Odontologia, encontrou que o respeito profissional e o estresse foram os fatores que mais impactaram na satisfação com o trabalho. Gorter et al. (2006) realizaram um estudo que analisou a prática odontológica alemã. O objetivo do trabalho foi desenvolver um instrumento que medisse os recursos de trabalho entre dentistas e avaliasse a sua importância relativa. Um questionário foi enviado a 848 dentistas generalistas para que pudessem monitorar e registrar suas experiências de trabalho. Os autores 48 concluíram que a infra-estrutura de trabalho se mostrou correlacionada com a satisfação no trabalho. Em 2006, Hjalmers realizou um estudo com Cirurgiãs-Dentistas suecas e que teve como objetivo verificar quais eram os problemas que sofriam decorrentes do seu exercício profissional. Os dois artigos publicados sobre o estudo Hjalmers (2006) e Hjalmers, Söderfeldt e Axtelius (2006) relataram que essas profissionais sofriam com muitos problemas relacionados às suas condições psicossociais de trabalho, e que existiam grandes discrepâncias entre sua percepção de situação ideal de trabalho e a sua realidade. Em pesquisa em Cirurgiões-Dentistas da região do Meio-Oeste Catarinense (MICHEL-CROSATO; KOTILIARENKO; BIAZEVIC, 2006), observouse que 83,10% estavam entre satisfeitos ou muito satisfeitos com a profissão. Estudo realizado na Coréia do Sul por Jeong et al. (2006) investigou o nível e distribuição da satisfação profissional, e explorou fatores ambientais do trabalho associados com satisfação dos Cirurgiões-Dentistas coreanos. Foi selecionada amostra aleatória e estratificada 1.029 dentistas dentre 10.357 dentistas registrados na Associação Odontológica Coreana. Aplicou-se um questionário auto-administrado postado pelo correio. A taxa de resposta foi de 62,20%. A média de satisfação profissional geral entre os participantes foi de 3,20 em 5 pontos. Em termos de fatores do ambiente de trabalho, o aspecto mais satisfatório foi o relacionamento com os pacientes (3,70) e o menos satisfatório foi o tempo pessoal (2,80). O estudo sugeriu que o relacionamento com pacientes, a percepção de renda, o tempo pessoal, a equipe e o treinamento especializado foram fatores importantes do ambiente de trabalho para a satisfação profissional. Os autores realçaram que os achados deste estudo seriam úteis para planejar ações efetivas e assim poder 49 contribuir para aumentar o nível de satisfação profissional entre os dentistas sulcoreanos. Bengmark , Nilner e Rohlin (2007) descreveram algumas características dos graduados das cinco primeiras turmas do programa odontológico de Malmö (Suécia). De 166 profissionais graduados entre 1995-1999 convidados a participar do estudo, 128 responderam à pesquisa (taxa de resposta de 77,00%). O questionário continha questões sobre características do participante, educação fundamental e situação profissional. Quanto à situação atual, a maioria dos participantes estava trabalhando como dentista em período integral e acreditava que seu curso tinha fornecido uma boa base para o exercício da profissão. Verificou-se que a satisfação dos participantes com sua situação profissional esteve correlacionada com o quanto eles eram capazes de influenciar sua situação de trabalho. Quanto ao gênero, houve diferenças com relação ao interesse por atividades de pesquisa: 64,00% das mulheres graduadas e 42,00% dos homens estariam interessados. Concluiu-se também que os participantes da pesquisa estavam satisfeitos com sua situação profissional e a maioria gostaria de prosseguir seus estudos na pós-graduação. Berthelsen, Hjalmers e Söderfeldt (2008) avaliaram de que maneira Cirurgiões-Dentistas dinamarqueses generalistas de clínicas particulares percebiam o apoio de colegas e relacionaram o apoio percebido a fatores contextuais demográficos e relacionados ao trabalho. A variável mais importante relacionada à percepção de apoio entre dentistas foi o porte da clínica. Mulheres perceberam maior apoio emocional (por exemplo, discutindo com suas colegas sobre pacientes problemáticos) que seus colegas homens; por outro lado, não foi encontrada diferença de gênero para a percepção de apoio prático, como ajudar um ao outro no caso de atraso nos horários. 50 Em 2008, Harris et al. (2008) enviaram um questionário a 684 dentistas ingleses, contendo 83 afirmações sobre atitudes relacionadas ao trabalho, o que avaliaria a satisfação geral e questões relativas à carga de trabalho. Dentistas generalistas do Sistema Nacional de Saúde (SNS), trabalhando integralmente neste Sistema, tinham a menor probabilidade de estarem satisfeitos com seu trabalho, seguidos de dentistas do serviço particular do SNS e dentistas trabalhando conjuntamente no SNS e clínicas privadas. Dentistas particulares eram os mais satisfeitos. Foram encontradas diferenças entre os todos os grupos com relação à satisfação geral e a facetas de satisfação profissional relacionadas à restrição à capacidade de oferecer assistência de qualidade, controle do trabalho e desenvolvimento de habilidades técnicas. Em estudo publicado em 2008, Ayers et al. descreveram as práticas de trabalho e a satisfação profissional de dentistas neozelandeses de ambos os gêneros. A pesquisa foi realizada em âmbito nacional, por meio de questionários postados por correio a todos os dentistas com o certificado anual de exercício da profissão. As mulheres trabalhavam menos horas por semana e sua principal razão para o trabalho de meio-período foi cuidar dos filhos, enquanto que para os homens, o motivo foi escolha pessoal. Uma proporção maior de mulheres que homens eram assalariadas ou sócias de clínicas em vez de possuir seu próprio consultório. Os homens eram mais ativos com relação à educação continuada e houve diferença significativa entre as médias de pontuação de satisfação na carreira para homens e mulheres (p<0,001). Observou-se também que mais mulheres que homens interromperam por um tempo suas atividades profissionais, geralmente para criar os filhos e que dois terços das profissionais contra um terço deles planejaram se aposentar antes dos 60 anos. 51 Puriene et al. (2007) avaliaram, utilizando um questionário, o nível de satisfação profissional entre dentistas lituanos, pesquisando a satisfação com diferentes fatores ambientais do trabalho e relacionando-os à satisfação profissional. As características de trabalho que causaram mais insatisfação profissional foram seguro social e renda. As características de implicaram maior satisfação foram as de relacionamento com pacientes e com outros profissionais. No geral, observou-se que os dentistas lituanos vivenciavam grande satisfação profissional e os estudos de pós-graduação e a possibilidade ilimitada de desenvolvimento profissional tiveram impacto mais positivo para a satisfação profissional que fatores ambientais. Estudo de Gorter et al. (2008) na Alemanha teve como objetivo determinar o nível de envolvimento entre dentistas e investigar quais recursos de trabalho odontológico se correlacionam com o envolvimento ao trabalho. Um total de 632 Cirurgiões-Dentistas com idade média de 44 anos respondeu à pesquisa, sendo a amostra constituída 75,00% por homens e 25,00% por mulheres. Os autores relataram que os dentistas mostraram médias elevadas com relação ao envolvimento com o trabalho e o cuidado com o paciente, e o orgulho com a profissão foram fatores determinantes para a satisfação profissional. 2.7 Validação de questionários O uso de questionários auto-administrados em saúde tem sido aceito com maior freqüência na avaliação de eventos relacionados à saúde (DEYO, 1998), 52 sendo recomendados pela Organização Mundial da Saúde como úteis para analisar a eficácia dos estudos de tratamentos de saúde (EHRLICH; KHALTAEV, 1999). Qualquer questionário deve possuir como fundamentos técnicos algumas propriedades psicométricas, confiabilidade e validade, bem avaliadas especialmente quando usadas para discriminar entre fatores causais esperados (BEURSKENS et al., 1995; KIRSCHNER; GUYATT, 1985; STRATTFORD et al., 1994). A validade pode ser definida como o grau em que os resultados de um estudo são prováveis de serem verdadeiros, ou seja, o grau em que uma medida realmente mede ou detecta o que se propõe a medir (AMATUZZI et al., 2006). Em um estudo epidemiológico, podem existir dois tipos de validade: interna (o grau em que os resultados de um estudo estão corretos para a amostra de indivíduos que estão sendo estudados) e externa (grau pelo qual os resultados de uma observação mantêm-se verdadeiros em outras populações diferentes da de onde provém a amostra) (STEIN, 1998). A confiabilidade ou reprodutibilidade é a consistência de resultados quando a medição ou o exame é repetido (STEIN, 1998), ou seja, o grau em que repetidas medidas de uma característica são concordantes (AMATUZZI et al., 2006). Alguns estudos têm sido destinados a examinar as características psicométricas dos instrumentos de pesquisa, especialmente quando da validação para versões de idiomas diferentes do original, pois a simples tradução para a língua da população na qual será aplicado o questionário não revela, necessariamente, as características preconizadas pelo questionário em sua versão original (OPPENHEIM, 1993). A maioria dessas investigações tem estado concentrada na confiabilidade (consistência interna e confiança teste-reteste) e na validade dos questionários 53 (BOSCAINOS et al., 2003; GROTLE; BROX; VOLLESTAD, 2003; GUILLEMIN; BOMBARDIER; BEATON, 1993). Entre os estudos para avaliar a satisfação profissional, destaca-se o estudo de Jeong et al. (2006), onde se testaram as propriedades psicométricas de uma escala de satisfação profissional. 54 3 PROPOSIÇÃO O presente estudo visou verificar a constituição da força de trabalho representada pelos Cirurgiões-Dentistas que desenvolviam suas atividades no Sistema Único de Saúde (SUS) do Município de São Paulo no ano de 2007, levantando, nessa população, os seguintes aspectos: o tipo de atividade desenvolvida; o tempo de dedicação à profissão; a renda auferida; as áreas de atuação ou especialidades a que se dedicavam; os cursos realizados após a graduação; as possíveis queixas relativas à saúde decorrentes da atuação profissional, e a satisfação profissional. Outra proposição do estudo foi realizar a adaptação trans-cultural da versão brasileira da escala de satisfação profissional. 55 4 MÉTODO 4.1 Tipo de estudo Para obter as informações constantes da proposição deste trabalho foi realizado um estudo transversal descritivo e analítico através da utilização de questionário. 4.2 População de estudo Cirurgiões-Dentistas que exerciam suas atividades profissionais na Prefeitura Municipal de São Paulo no ano de 2007 e que participavam de um curso de capacitação oferecido pela prefeitura, e que estavam presentes no dia da coleta de dados. 56 4.3 Coleta de dados Para realizar a coleta de informações foi utilizado um instrumento que apresentava perguntas fechadas e abertas, agrupadas por assuntos (Anexo A). O questionário foi aplicado nas salas de aula do curso de capacitação executado pela Prefeitura Municipal de São Paulo. A capacitação aconteceu em várias regiões de São Paulo (Quadro 4.1), abrangendo profissionais que trabalhavam em todas as áreas da capital. A coleta dos dados era realizada ou no início ou no término das aulas, nos períodos matutino ou vespertino. Antes do início, uma explicação sobre a pesquisa era dada, convidando-se os Cirurgiões-Dentistas a participar. Local Zona Endereço Instituto de Previdência Municipal de São Paulo (IPREM) Norte Av. Zachi Narchi, 536. Universidade Ibirapuera (UNIB) Sul Av. Interlagos, 1329. Supervisão Técnica de Saúde de Ermelino Matarazzo Leste Av. São Miguel, 5977. Faculdade Santa Marcelina Leste R. Cachoeira de Utupanema, 60. Universidade de São Paulo (USP) Leste Av. Arlindo Betio, 1000. FOUSP – Faculdade de Odontologia Centro Oeste Av. Prof. Lineu Prestes, 2227. Faculdade Anhembi-Morumbi Sudeste R. Dr. Almeida Lima, 1134 Quadro 4.1 Locais onde ocorreram os cursos de capacitação realizados para os Cirurgiões-Dentistas do Município de São Paulo, 2007. 57 4.4 O Instrumento de coleta de dados O instrumento (Anexo A) de coleta de dados foi elaborado em blocos. O primeiro apresenta a caracterização da amostra com questionamentos sobre gênero, idade e região de residência. A segunda parte se refere à formação profissional, abordando temas como o tipo de instituição em que realizou a graduação, instituição, tempo de formado (em anos), se possui título de especialista, área da especialidade, se possui mestrado, doutorado e pós-doutorado e as respectivas áreas, se costuma participar de congressos, se tem acesso a revistas científicas, se é membro de sociedades da área. O terceiro agrupamento se refere ao mercado de trabalho e à atuação profissional. Os temas abordados foram: situação profissional, atuação em serviços privados e públicos, atende convênios, realiza atividade docente, qual remuneração média mensal, tempo de dedicação, posição de trabalho e queixas de saúde. O quarto bloco deu destaque à participação da mulher na odontologia, enfocando principalmente as diferenças atuações entre a atuação de homens e mulheres. O quinto e ultimo bloco apresenta o indicador de satisfação profissional. 58 4.5 Pré-teste e Estudo Piloto O instrumento, antes da sua aplicação, passou por um processo de estudo piloto e pré-teste para chegar a sua versão final. A parte do questionário que mensura a satisfação no trabalho, por se tratar de uma escala internacional, foi adaptada para a língua portuguesa do Brasil. Também foram testadas as propriedades psicrométricas do instrumento. 4.6 Diretrizes para o processo de adaptação trans-cultural As diretrizes seguidas nessa pesquisa foram propostas por Beaton et al. (2000) e Wild et al. (2005), e são relatadas a seguir: Etapa 1: Preparação: organização da pesquisa. Etapa 2: Primeira tradução: a primeira tradução do questionário diretamente de sua versão original em inglês para a língua portuguesa falada no Brasil foi realizada por um tradutor juramentado sem conhecimento odontológico, sem vínculo acadêmico e desconhecedor do propósito e do conteúdo do estudo. Também realizou a primeira tradução um profissional da área de Odontologia, com vínculo acadêmico e conhecedor do estudo. Etapa 3: Concordância entre as traduções: as duas traduções foram comparadas e sintetizadas em uma única versão brasileira, e em seguida foi realizada a tradução de volta à língua inglesa (back translation). 59 Etapa 4: Tradução de volta ao inglês (back translation): foi realizada por dois professores de Inglês, nativos e sem qualquer conhecimento do questionário original e odontológico. Etapa 5: Revisão da back translation; com o intuito de eliminar qualquer ambigüidade e assegurar a equivalência conceitual da tradução, os autores realizaram a revisão da back translation. O autor do questionário original pode ser envolvido para resolver alguma dúvida. Etapa 6: Harmonização; o Comitê de Especialistas foi composto por dois professores brasileiros da Língua Inglesa, um professor-doutor de Língua Portuguesa e o autor do trabalho, os quais realizaram uma versão pré-final. Foram avaliadas quatro equivalências: a) semântica: análise do significado das palavras, quando existia mais de um significado e das dificuldades gramaticais da tradução; b) idiomática: análise de algum termo coloquial, quando necessária a adaptação ao vocabulário brasileiro; c) experiencial: análise das situações do questionário original com o cotidiano brasileiro e, d) conceitual: análise dos exemplos citados no questionário original com o cotidiano brasileiro. Etapa 7. Questionário cognitivo: os questionários foram entregues para 8 pacientes nativos (brasileiros) e que configuravam características dos participantes do estudo (idade, sexo, raça, gênero). Etapa 8. Revisão do questionário cognitivo: os resultados dos questionários cognitivos foram revisados pelo autor do projeto e a tradução foi finalizada. Etapa 9. Revisão: com o objetivo de assegurar a tradução e conferir mínimos detalhes que poderiam ter sido esquecidos durante o processo. Etapa 10. Versão Final. 60 4.7 Método da aplicação do questionário Etapa 1: a escala de validação foi fornecida para cada entrevistado pelo avaliador sorteado, e o tempo de preenchimento foi cronometrado. Os avaliadores foram: o autor e outro profissional, ambos Cirurgiões-Dentistas. Todos os entrevistados assinaram Termo de Consentimento Informado. Etapa 2: a escala de satisfação foi aplicada por um segundo avaliador, com o tempo de preenchimento cronometrado. Etapa 3: na semana seguinte a escala foi preenchida novamente. 4.8 Avaliação das propriedades psicrométricas A confiabilidade foi verificada pela aplicação da escala de satisfação em dois momentos pelo mesmo avaliador (confiabilidade interna); e pelos dois avaliadores (confiabilidade externa), nas Etapas 1 e 2 e Etapa 1 e 3, respectivamente. Para tal, utilizou-se o teste de Bland-Altmann. Para verificar a consistência do indicador, utilizou-se o teste de “Cronbach's alpha”. 61 4.9 A escala de satisfação A escala testada no presente estudo foi elaborada a partir do modelo proposto por Jeong et al. (2006). O instrumento de coleta apresenta 29 perguntas, distribuídas em 9 blocos (Quadro 2) (Anexo A). Para conseguir o escore de satisfação em cada bloco principal, calculou-se a média aritmética de dos itens de cada bloco. As perguntas de números 1,6,8,9,10,11,13,16,20,23,26 e 29 tiveram seu escore invertido (5=0,4=2,3=3,2=1,1=0), em função das características próprias do instrumento. Blocos Satisfação geral com o trabalho / emprego Percepção de renda Tempo pessoal Tempo Profissional Equipe Relacionamento com pacientes Fornecimento de assistência / atendimento Quadro 4.2 Blocos de agrupamento da escala de satisfação Perguntas 5,6,9,12,14,17,20 2,10,21,23,25 7,15,29 1,4,22,26 8,18,19 11,16,24,27 3,13,28 62 4.10 Digitação e análise dos dados Os dados digitados e analisados no programa STATA 10.0. Testou-se as propriedades psicrométricas do instrumento, conforme métodos descritos no item 4.8. Com o instrumento devidamente testado e aplicado, o primeiro passo da análise foi apresentar os dados de forma descritiva. Para desempenhar essa função, foram realizadas distribuições de freqüências, além de medidas de tendência central e de dispersão. Também foram indicados os valores mínimos (Mín.) e máximos (Máx.). Para verificar a associação entre satisfação profissional e as características do trabalho com variáveis sócio-demográficas, realizou-se o teste de normalidade de Skewness e kurtosis; como a distribuição foi classificada como paramétrica, foi realizado teste t para verificar as diferenças entre os grupos. O nível de significância será de 5% em todos os testes realizados. 4.11 Considerações éticas Ao receberem o convite para participar, além da explicação dada pessoalmente pelo pesquisador, os Cirurgiões-Dentistas recebiam uma carta explicativa, para esclarecê-los sobre o propósito do estudo. Em seguida, eles eram 63 convidados a participar, pedindo-se sua autorização para a realização da pesquisa, e procedendo-se ao preenchimento em duas vias do termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo B), conforme preconiza a Resolução 196 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). O projeto de pesquisa foi encaminhado aos Comitês de Ética em Pesquisa da Prefeitura Municipal de São Paulo e da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, tendo sido aprovados (Anexos C e D). 64 5 RESULTADOS 5.1 Descrição da Amostra Participaram do estudo 605 Cirurgiões-Dentistas que exerciam suas atividades profissionais na Prefeitura Municipal de São Paulo no ano de 2007 e que participavam do curso de capacitação oferecido pela prefeitura, estando presentes no dia da coleta de dados. 5.2 Validação do instrumento de coleta O instrumento, antes da sua aplicação, passou por um processo de estudo piloto e pré-teste para chegar à sua versão final (Anexo A). A parte do questionário que mensura a satisfação no trabalho por se tratar de uma escala internacional, essa foi adaptada para a língua portuguesa (Brasil). Também foram testadas as propriedades psicrométricas do instrumento. 65 5.2.1 Descrição da amostra Participaram do estágio de validação do instrumento 50 profissionais. A média de idade dos participantes foi de 43,44 anos (desvio-padrão=8,53) e 72,00% (n36) dos entrevistados eram do gênero feminino. A média de anos em que os participantes exerciam a odontologia foi de 19,56 anos com desvio-padrão (DP) = 8,57. 5.2.2 Propriedades psicométricas A consistência interna do instrumento foi adequada (Cronbach-a=0,834). Os valores individuais de cada bloco foram: satisfação geral com o trabalho/emprego (Cronbach-a=0,692), percepção de renda (Cronbach-a=0,827), tempo pessoal (Cronbach-a =0,863) tempo profissional (Cronbach-a=0,674), equipe (Cronbacha=0,800), relacionamento com pacientes (Cronbach-a=0,627) e fornecimento de assistência / atendimento (Cronbach-a-0,560) (Tabela 5.1). 66 Tabela 5.1 Consistência interna da versão brasileira da escala de satisfação profissional. São Paulo, 2007 Cronbach's Blocos alpha Satisfação geral com o trabalho / emprego 0,692 Percepção de renda 0,827 Tempo pessoal 0,863 Tempo profissional 0,674 Equipe 0,800 Relacionamento com pacientes 0,627 Fornecimento de assistência / atendimento 0,560 Todos os blocos 0,834 Tabela 5.2 Validade inter-examinadores da versão brasileira da escala de satisfação profissional. São Paulo, 2007 Diferença das Pitmans´s Pitmans´s Blocos médias Test (r) Test (p) Satisfação geral com o 0,040 -0,840 0,564 Percepção de renda 0,032 0,085 0,559 Tempo pessoal 0,013 -0,135 0,358 Tempo profissional 0,040 -0,069 0,637 Equipe 0,080 -0,226 0,134 0,087 -0,359 0,025 0,080 -0,110 0,453 0,051 -0,147 0,324 trabalho / emprego Relacionamento com pacientes Fornecimento de assistência / atendimento Todos os blocos 67 Com relação à validade externa (teste e re-teste), os resultados obtidos na correlação inter-examinadores foi excelente, indicador Pitman´s test r=-0,147, p= 0,324), e diferença de médias igual a 0,051 (Tabela 5.2). A figura 5.1 mostra graficamente a verificação da discrepância entre a soma das respostas dadas pelos profissionais no mesmo dia da entrevista com entrevistadores diferentes, por meio do gráfico de Bland-Altman. Diferença Difference .344827 -.144261 2.34483 3.37931 Average Média Figura 5.1 Distribuição de Bland-Altman para as observações inter-observadores 68 Com relação à análise da validade interna, os resultados obtidos na correlação intra-examinadores foi excelente, com indicador Pitman´s test r=-0,153, p=0,306 e diferença de médias de 0,075 (Tabela 5.3). Os resultados da distribuição de Bland-Altman são apresentados a seguir (Figura 5.2). Difference Diferença .344828 -.11809 2.34483 3.32759 Média Average Figura 5.2 Distribuição de Bland-Altman para as observações intra-observadores 69 Tabela 5.3 Consistência externa da versão brasileira da escala de satisfação profissional. São Paulo, 2007 Diferença das Pitmans´s Pitmans´s Blocos médias Test (r) Test (p) Satisfação geral com o 0,080 -0,387 0,116 Percepção de renda 0,092 -0,013 0,926 Tempo pessoal 0,080 -0,224 0,358 Tempo profissional 0,085 -0,070 0,632 Equipe 0,020 -0,039 0,778 0,092 -0,401 0,114 0,053 -0,167 0,260 0,075 -0,153 0,306 trabalho / emprego Relacionamento com pacientes Fornecimento de assistência / atendimento Todos os blocos 5.2.3 Satisfação profissional O nível de satisfação dos participantes foi 2,86 (DP=0,20) de uma escala de 0-5. Os valores cada bloco verificados foram: satisfação geral com o trabalho/emprego (média=2,94 DP=0,33), percepção de renda (média=2,77, DP=0,33), tempo pessoal (média=2,82, DP=0,46), tempo profissional (média=2,78, DP=0,35), equipe (média=2,76, DP=0,43), relacionamento com pacientes 70 (média=2,79 DP=0,30) e fornecimento de assistência/atendimento (média=3,20, DP=0,46) (Tabela 5.4). Tabela 5.4 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho. São Paulo, 2007 Desvio Blocos Média Mín/Máx Padrão Satisfação geral com o 2,94 0,33 2,29/3,57 Percepção de renda 2,77 0,43 1,16/3,60 Tempo pessoal 2,82 0,46 2,00/4,00 Tempo profissional 2,78 0,35 2,00/3,50 Equipe 2,76 0,43 1,33/3,66 2,79 0,30 2,25/3,50 3,20 0,46 2,33/4,00 2,86 0,20 2,34/3,41 trabalho / emprego Relacionamento com pacientes Fornecimento de assistência / atendimento Todos os blocos 5.3 Distribuição sócio-demográfica Participaram do estudo 605 Cirurgiões-Dentistas que exerciam suas atividades profissionais na Prefeitura Municipal de São Paulo no ano de 2007. Em relação às características sócio-demográficas dos participantes, 70,74% (N=428) 71 eram do gênero feminino e 29,26% (N=177) do gênero masculino. Os profissionais não estavam distribuídos de forma simétrica pelo município e a região que continha o maior número de profissionais foi à zona sul, com 40,00% do total de profissionais (Tabela 5.5). Tabela 5.5 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo gênero e região de residência. São Paulo, 2007 Variáveis n % Gênero Feminino 428 70,74 Masculino 177 29,26 Norte 83 13,72 Sul 242 40,00 Leste 86 14,21 Oeste 134 22,15 Centro 12 1,98 Outros municípios 48 7,93 Região de Residência A idade média dos participantes foi 43,33 anos. O profissional com menor idade foi de 25 anos e a de maior, 67,00 anos. A média de anos de formado foi de 19,49, variando de 1 a 45 anos (Tabela 5.6). 72 Tabela 5.6 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo idade e anos de formados. São Paulo, 2007 DesvioVariáveis Média Mín/Máx Padrão Idade 43,33 8,85 25,00/67,00 Anos de formado 19,49 8,75 1,00/45,00 5.4 Educação continuada: Tabela 5.7 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo faculdade, e cursos realizados. São Paulo, 2007 Variáveis n % Estudou em Faculdade: Particular 313 51,74 Público 292 48,26 Sim 259 42,81 Não 346 57,19 Sim 29 4,79 Não 576 95,21 Sim 3 0,50 Não 602 99,50 Freqüentou curso de especialização: Freqüentou curso de mestrado: Freqüentou curso de doutorado: 73 Em relação a atividades de educação continuada, 259 (42,81%) apresentavam curso de especialização, 29 (4,79%) de mestrado e 03 (0,50%) de doutorado (Tabela 5.7). Tabela 5.8 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo atividades de educação continuada. São Paulo, 2007 Variáveis n % Participou de congresso no último ano Sim 503 83,14 Não 102 16,86 Sim 483 79,83 Não 122 20,17 Sim 130 21,49 Não 475 78,51 Sim 381 62,98 Não 224 37,02 Faz leitura de revistas científicas: Participa de Sociedades Odontológicas Trabalha também no setor privado Relataram ter participado de congresso odontológico no ano anterior ao inquérito, 503 Cirurgiões-Dentistas (84,14%) e 483 (79,83%) relataram realizar leitura de revista cientifica de maneira constante (Tabela 5.8). 74 5.5 Atuação profissional e renda auferida Em relação à atuação profissional, do total de Cirurgiões-Dentistas, relataram trabalhar em consultório privado 381 Cirurgiões-Dentistas (62,98%). A média de horas trabalhadas por semana foi de 37,30 horas, atendendo, em média 8,38 pacientes a cada turno de 4 horas (Tabela 5.9). Tabela 5.9 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo renda e horas trabalhadas. São Paulo, 2007 DesvioVariáveis Média Mín/Máx Padrão Renda pessoal 4.394,00 4.007,00 1.000,00/75.000,00 Horas por semana 37,30 14,95 5,00/80,00 Pacientes por turno 8,38 5,36 3,00/6,00 5.6 Queixas de saúde Em relação às queixas de saúde, 76,98% apresentavam dor nas costas, 61,02% apresentavam dor nos ombros, 61,27% apresentavam dor nas mãos e relataram apresentar 52,23% dor nos braços (Tabela 5.10). 75 Tabela 5.10 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo atividades de queixas de saúde. São Paulo, 2007 Variáveis n % Dor nas costas Sim 418 76,98 Não 125 23,02 Sim 258 52,23 Não 236 47,77 Sim 418 61,02 Não 198 38,98 Sim 318 61,27 Não 201 38,73 Dor no braço Dor no ombro Dor nas mãos 5.7 Satisfação no trabalho O nível de satisfação dos participantes foi 2,84 (DP=0,29), de uma escala de 0-5. Os valores cada bloco verificados foram: satisfação geral com o trabalho/emprego (média=2,86 DP=0,45), percepção de renda (média=2,71, DP=0,47), tempo pessoal (média=2,86, DP=0,50), tempo profissional (média=2,79, DP=0,84), equipe (média=2,80, DP=0,53), relacionamento com pacientes 76 (média=2,77 DP=0,40) e fornecimento de assistência/atendimento (média=2,25, DP=0,60) (Tabela 5.11). Tabela 5.11. Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho. São Paulo, 2007 DesvioBlocos Média Mín/Máx Padrão Satisfação geral com o 2,86 0,45 0,00-4,00 Percepção de renda 2,71 0,47 0,00-3,36 Tempo pessoal 2,86 0,50 0,00-4,00 Tempo profissional 2,79 0,84 0,00-3,75 Equipe 2,80 0,53 0,00-4,00 2,77 0,40 0,00-4,00 2,25 0,60 0,00-4,67 2,84 0,29 0,00-3,41 trabalho / emprego Relacionamento com pacientes Fornecimento de assistência / atendimento Todos os blocos 77 A tabela 5.12 apresenta os itens para a formação do indicador de satisfação do bloco1 - satisfação geral com o emprego. Esse indicador consiste na média aritmética de todos os itens. Tabela 5.12 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Satisfação geral). São Paulo, 2007 Satisfação geral com o DesvioMédia Mín/Máx trabalho / emprego Padrão 5. A odontologia preenche minhas atuais aspirações 2,37 1,03 1,00/5,00 2,76 1,17 1,00/5,00 3,16 1,05 1,00/5,00 2,70 1,26 1,00/5,00 3,46 1,03 1,00/5,00 2,49 1,08 1,00/5,00 3,42 1,09 1,00/5,00 com a carreira 6. Gostaria de deixar o meu emprego/trabalho para fazer outra coisa 9. Eu pareço mais satisfeito/a com meu trabalho/emprego do que realmente estou 12. Sabendo o que eu sei hoje, eu teria tomado a mesma decisão de fazer odontologia novamente 14. A odontologia é a área onde eu posso oferecer minha melhor contribuição 17. Em geral, estou extremamente satisfeito com minha carreira 20. Sinto-me limitado em minha posição / meu cargo atual 78 A tabela 5.13 apresenta os itens para a formação do indicador de satisfação do bloco 2 – percepção de renda. Tabela 5.13 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Renda). São Paulo, 2007 Desvio Média Min/Max Percepção de renda Padrão 2. Minha renda permite que eu sustente minha 2,10 1,07 1,00/5,00 3,28 1,08 1,00/5,00 2,29 1,10 1,00/5,00 3,10 1,00 1,00/5,00 2,92 0,93 1,00/5,00 família muito bem. 10. Comparado a outros dentistas meus ganhos totais são muito menores do que eu gostaria. 21. A renda que recebo de minha prática é, na maior parte das vezes, satisfatória para minhas necessidades. 23. Minha renda não é, nem de perto, tão alta quanto a de outros dentistas. 25. Minha renda pode ser comparada favoravelmente à de outros dentistas. 79 A tabela 5.14 apresenta os itens para a formação do indicador de satisfação do bloco 3 – tempo pessoal. Tabela 5.14 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Tempo pessoal). São Paulo, 2007 DesvioMédia Mín/Máx Tempo pessoal Padrão 7. Tenho tempo suficiente disponível para minha vida 2,80 1,15 1,00/5,00 2,77 1,14 1,00/5,00 3,11 1,21 1,00/5,00 pessoal. 15. Tenho tempo suficiente para atividades de lazer. 29. Tempo pouquíssimo tempo disponível para atividades de lazer. 80 A tabela 5.15 apresenta os itens para a formação do indicador de satisfação do bloco 4 – tempo profissional. Tabela 5.15 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Tempo profissional). São Paulo, 2007 DesvioMédia Mín/Máx Tempo profissional Padrão 1. Tenho pouquíssimo tempo para me manter atualizado a respeito dos 2,91 1,14 1,00/5,00 2,81 0,96 1,00/5,00 2,60 0,98 1,00/5,00 2,98 1,09 1,00/5,00 avanços na área de odontologia. 4. Tenho tempo suficiente para melhorar minhas habilidades clínicas. 22. Tenho tempo suficiente para contratos profissionais com colegas. 26. Tenho oportunidades muito limitadas para discutir casos difíceis com colegas 81 A tabela 5.16 apresenta os itens para a formação do indicador de satisfação do bloco 5 – equipe. Tabela 5.16 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Equipe). São Paulo, 2007 DesvioMédia Mín/Máx Equipe Padrão 8. A qualidade de meu pessoal auxiliar deixa a 3,43 1,19 1,00/5,00 2,24 0,91 1,00/5,00 2,92 1,07 1,00/5,00 desejar. 18. A performance de meus auxiliares é excelente. 19. A equipe da clínica trabalha bem junto. 82 A tabela 5.17 apresenta os itens para a formação do indicador de satisfação do bloco 6 – Paciente. Tabela 5.17. Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Paciente). São Paulo. 2007. DesvioMédia Mín/Máx Paciente Padrão 11. Relacionar-me com pacientes, para mim, é 1,89 0,84 1,00/5,00 1,82 0,71 1,00/4,00 3,33 0,81 2,00/5,00 4,13 0,56 2,00/5,00 muito frustrante. 16. Eu não gosto de interagir com meus pacientes. 24. A qualidade da assistência interpessoal que eu ofereço é muito alta. 27. Eu gosto de ajudar meus pacientes. 83 A tabela 5.18 apresenta os itens para a formação do indicador de satisfação do bloco 7 – fornecimento de assistência. Tabela 5.18 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho (Fornecimento de assistência). São Paulo, 2007 DesvioFornecimento de Média Mín/Máx Assistência Padrão 3. Eu estou tecnicamente preparado para lidar com os problemas odontológicos de 3,72 0,83 1,00/5,00 2,56 1,12 1,00/5,00 3,57 0,92 1,00/5,00 meus pacientes. 13. Eu perco oportunidades de fornecer assistência/atendimento de qualidade. 28. Eu satisfação tenho com muita a qualidade técnica de meu trabalho. 84 5.8 Fatores associados A Tabela 5.19 apresenta os dados da satisfação profissional e sua possível relação com o gênero, tipo de Faculdade em que se formou, se fazia também atendimento privado e idade. Observou-se que o atendimento privado esteve relacionado com modificações na satisfação dos Cirurgiões-Dentistas. Profissionais que exercem atividades privados mostraram indicadores mais altos (maior satisfação no trabalho). Tabela 5.19 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo satisfação no trabalho, gênero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. São Paulo, 2007 Média DesvioVariável Categoria P (Satisfação) Padrão Feminino 2,85 0,32 Masculino 2,86 0,23 Particular 2,83 0,35 Pública 2,86 0,21 Atendimento Sim 2,89 0,20 Privado Não 2,78 0,40 Até 40 anos 2,87 0,20 Mais de 40 anos 2,84 0,33 0,63 Gênero 0,01 Tipo Faculdade 0,01* 0,16 Idade 85 Tabela 5.20 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo remuneração no trabalho, gênero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. São Paulo, 2007 Média DesvioVariável Categoria P (Remuneração) Padrão Feminino 4.071,37 4.192,09 Masculino 5.308,99 3.275,18 Particular 4.625,94 4954,68 Pública 4.1148,88 2625,13 Atendimento Sim 5.009,26 4.863,98 Privado Não 3.425,35 1.615,41 Até 40 anos 3.678,65 2.059,10 Mais de 40 anos 4.729,20 4.253,12 0,01* Gênero 0,16 Tipo Faculdade 0,01* 0,01* Idade A relação entre a renda auferida foi associada ao gênero (p=0,01), ao atendimento privado (p=0,01) e à idade (p=0,01) (Tabela 5.20). 86 Tabela 5.21. Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo horas trabalhadas por semana, remuneração no trabalho, gênero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. São Paulo, 2007 Média DesvioVariável Categoria (Horas por P Padrão semana) Feminino 35,85 13,80 0,02* Gênero Masculino 40,85 16,98 Particular 38,06 16,57 0,20 Tipo Faculdade Atendimento Pública 36,51 13,04 Sim 41,55 14,46 0,01* Privado Não 30,20 12,94 Até 40 anos 39,38 14,15 Idade 0,02* Mais de 40 anos 36,27 15,24 A relação entre a renda auferida foi associada ao gênero (p=0,01), ao atendimento privado (p=0,01) e à idade (p=0,01) (Tabela 5.20). 87 Tabela 5.22 Distribuição dos Cirurgiões-Dentistas segundo número de paciente por turno de 4 horas, gênero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. São Paulo, 2007 Média DesvioVariável Categoria (Horas por P Padrão semana) Feminino 8,63 5,94 0,07 Gênero Tipo de Masculino 7,76 3,47 Particular 8,47 3,93 0,70 Faculdade Atendimento Pública 8,30 6,56 Sim 8,52 6,30 0,41 Privado Não 8,15 3,24 Até 40 anos 8,14 3,08 Idade 0,45 Mais de 40 anos 8,50 6,15 O número de pacientes por turno de 4 horas não foi associado a nenhuma variável estudada (Tabela 5.22). . 88 6 DISCUSSÃO 6.1 Descrição da Amostra A Odontologia tem passado por modificações estruturais. Uma opção importante para os profissionais desempenharem suas funções é atuação no serviço público. Chaves e Vieira da Silva (2007) comentam a respeito do encolhimento da prática privada da Odontologia no país nos seus moldes tradicionais e da expansão de planos privados com baixa remuneração. Os autores reforçam que tal fenômeno já ocorreu na área da Medicina com a expansão da atenção médica suplementar, cabendo ainda investigar como se situam os agentes pertencentes a esse campo profissional. A amostra desse estudo focalizou o profissional que atuava no serviço público do Município de São Paulo de ambos os gêneros, e poderiam exercer atividade privada ao estar também vinculados a convênios. Dessa forma, a população de referência desse estudo se assemelhou aos profissionais que atuam no setor público de grandes cidades. 89 6.2 Distribuição sócio-demográfica Nossos resultados confirmaram os estudos nacionais e internacionais sobre a distribuição sócio-demográfica de Cirurgiões-Dentistas, que relatam que o número de mulheres que trabalham em Odontologia no Brasil é superior ao de homens. Em nosso estudo, do total de profissionais que responderam aos questionários, 70,74% eram mulheres, confirmando tendência observada em diversos estudos nacionais e internacionais (HJALMERS, 2006; MCEWEN; SEWARD, 1988; MICHEL-CROSATO et al., 2003; MICHEL-CROSATO; KOTILIARENKO; BIAZEVIC, 2006; PARAJARA, 2000; PERRI DE CARVALHO, 1995a,b; SALIBA et al., 2002; SERPA, 1991). Estudos conduzidos em outros países relataram que os profissionais do gênero masculino tendem a optar pelo trabalho em clínicas privadas, enquanto as mulheres preferem atuar com vínculo empregatício (DOLAN; LEWIS, 1987; KRONSTRÖM et al., 1997; WET; TRUTER; LIGTHELM, 1997). Também no Brasil, Costa (1988) constatou que 66,00% do total de profissionais do genero masculino de sua amostra não possuíam vínculo empregatício, enquanto que as profissionais do gênero feminino com essa freqüência foi de 51,00%. Em nossa pesquisa, como se tratou de uma amostra em que todos os profissionais participavam do serviço público do Município de São Paulo, provavelmente esse fator contribuiu para que a participação feminina fosse maior do que a encontrada em outros estudos nacionais (MICHEL-CROSATO et al., 2003; MICHELCROSATO; KOTILIARENKO; BIAZEVIC, 2006). 90 6.3 Educação continuada Com relação à especialização, do total de participantes de nossa pesquisa, 42,81% dos profissionais eram especialistas e 57,19%, clínicos gerais. Em outros estudos, a participação do Cirurgião-Dentista que realizou pelo menos um curso de especialização variou de 18,00% a 76,00%. Parahyba Neto, Bijella e Moraes (1993) constataram que 28,74% dos profissionais exerciam alguma especialidade. Frente à expectativa dos formandos, analisando os dados recolhidos no questionário pesquisa do exame nacional de cursos (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS, 2000), foi observado que 77,20% dos profissionais relatou que pretendia realizar cursos de aperfeiçoamento e especialização, diferentemente de nosso estudo, que encontrou proporção menor de pessoas com esse interesse. Cordón (1991) relatou que 55,80% dos Cirurgiões-Dentistas por ele pesquisados não costumavam procurar por cursos de educação continuada, apresentando dados mais compatíveis com nossa pesquisa. Com relação a outras atividades complementares, tais como participar de congressos, ser sócio de sociedades odontológicas, observou-se que a participação foi alta, reforçando o estudo de Michel-Crosato et al. (2003), que encontrou que 46,87% dos profissionais manifestaram mencionando modalidades anteriormente citadas. esse interesse, 91 6.4 Atuação profissional e renda auferida Alguns trabalhos relataram que a maioria dos Cirurgiões-Dentistas dedicava-se apenas ao consultório odontológico privado. Segundo Cordón (1991), 64% dos profissionais atuava nessa prática. Em nosso estudo, apesar dos profissionais apresentarem vínculo empregatício, 62,98% também relataram trabalhar no setor privado. Com relação ao número de horas dedicadas à Odontologia, Cordón (1991) relatou que, em geral, 68,00% dos Cirurgiões-Dentistas trabalhavam até 40 horas semanais; Parahyba Neto, Bijella e Moraes (1983) verificaram que os profissionais apresentam uma média semanal de 35,5 horas semanais de atividades; Rudolph, Brand e Gilbert (1995) registraram que 41,00% dos profissionais trabalhavam entre 41 e 50 horas e 13% trabalhavam mais de 50 horas semanais; e, finalmente, Kronström et al. (1997) encontraram percentuais de 48,00% e 30,00% para 36-40 horas semanais, respectivamente, entre profissionais do gênero masculino e do gênero feminino. Nossos resultados apontaram que os profissionais trabalhavam em média 37,30 horas por semana. Com relação à remuneração, observou-se média de R$ 4.394,00. Esses valores foram próximos dos relatados em pesquisa realizada em Santa Catarina (MICHEL-CROSATO; KOTILIARENKO; BIAZEVIC, 2006) onde os autores relatam que 56,21% dos respondentes recebiam até R$ 5.000,00 por mês. 92 6.5 Riscos ocupacionais Quanto às queixas relacionadas a problemas de saúde apresentadas pelos profissionais, nossos entrevistados relataram, com maior freqüência, dores nas costas (76,98%), dores nas mãos, (61,27%), no ombro (61,02%) e no braço (52,23%). Tais resultados confirmam os achados de Augustson e Morken (1996) e de Michel-Crosato et al. (2003) que registraram, como queixas de saúde mais comuns, as dores nas costas, o desconforto no pescoço, o desconforto no ombro e as dores no pulso. Silva (1994) observou que dores na coluna vertebral, fadiga muscular, varizes, dores de cabeça e escoliose de rotação poderiam ser prevenidas com a adoção de uma postura ergonômica eficiente. Essa questão relacionada às doenças profissionais vem sendo objeto de inúmeros estudos e, no que concerne ao profissional da Odontologia, haveria necessidade de um aprofundamento maior. Também Genovese e Lopes (1991) comentaram que o Cirurgião-Dentista tem a obrigação de conhecer, cumprir e divulgar normas ergonômicas, e Lusvarghi (1999) ressaltou que o profissional da área da saúde não deve cuidar apenas da saúde dos outros, mas também deve se preocupar com a sua própria saúde. Para Eccles (1970), um dos fatores que podem levar o Cirurgião-Dentista ao estresse é a forma como se dá sua relação com o paciente, pois este permanece consciente e apreensivo durante os procedimentos clínicos realizados pelo Cirurgião-Dentista. Além disso, o autor menciona outras causas que poderiam 93 deflagrar situações estressantes, tais como a alta competitividade do mercado de trabalho e a responsabilidade profissional. 6.6 Validação do instrumento de coleta Nossa pesquisa possui algumas limitações, considerando que abrangeu-se apenas uma região específica do país, região essa que apresenta uma diversidade cultural vasta e valores sociais variados. Apesar disto, a literatura nacional é pobre na realização de estudos com métodos semelhantes aos realizados nesse estudo (PIRES; FERRAZ; ABREU, 2006) A versão final da pesquisa de satisfação de Cirurgiões-Dentistas apresentou uma aplicação acessível e adaptada ao idioma. O questionário foi apropriado para a realização do estudo epidemiológico que teve como objetivo a verificação da satisfação profissional de Cirurgiões-Dentistas brasileiros. Existem diversos testes estatísticos que verificam as propriedades psicométricas de instrumentos de coleta de dados. Alguns deles são considerados menos eficazes nesse campo de pesquisa de validação. O método de Bland-Altman tem emergido como uma análise estatística válida para realização de estudos de confiança e de validação de questionários (RANKIN; STOKES, 1998). O método de Bland-Altman apresenta vantagens, em comparação ao Índice de Correlação Intra-Classe: a representação visual, a identificação fácil de valores discrepantes e a visualização das diferenças da média (BLAND; ALTMAN, 1986; RANKIN; STOKES, 1998). Tanto a consistência quanto a confiabilidade (interna e 94 externa) podem ser consideradas satisfatórias. O Cronbach-a da versão brasileira foi 0,834 e coeficiente dos sete fatores variados, entre 0,560 e 0,863. Estudos realizados na Coréia do Sul e na Turquia apresentaram coeficientes semelhantes. O coeficiente no estudo turco foi 0,806 e na versão coreana, para sete fatores, variou de 0,710 a 9,00 (JEONG et al. 2006; SUR et al. 2004). 6.7 Satisfação profissional Nosso estudo mostrou que o indicador de satisfação no trabalho foi de 2,86, resultado semelhante do relatado na pesquisa realizada na Coréia do Sul (JEONG et al., 2006), que foi de 3,20 em uma escala de 1 a 5. Outros estudos apresentaram valores mais altos, tais como estudo realizado na Lituânia, com valor médio 4,06 (PURIENE et al., 2007), e o estudo realizado entre ortodontistas canadenses, onde o indicador médio foi 4,00 (ROTH et al., 2003). Satisfação no trabalho é um assunto de suma importância, porque afeta a produtividade profissional e contribui com a qualidade das tarefas que são realizadas (SUR et al., 2004). Todos os eixos da escala de satisfação (satisfação geral com o trabalho/emprego, tempo pessoal, tempo profissional, equipe, paciente e fornecimento de assistência/ atendimento) apresentaram impactos semelhantes na satisfação com o trabalho. Embora existam relatos diferentes que motivam o profissional a escolher a Odontologia como profissão, em vários estudos os graduandos escolheram a profissão pelo fato de esta ser uma profissão liberal; pela 95 flexibilidade de horário; pela possibilidade de auferir remuneração alta; e pela possibilidade de trabalhar com horário flexível (MICHEL-CROSATO et al., 2003; CROSSLEY; MUBARIK, 2002; GALLAGHER et al., 2007). Portanto um fator específico, como a remuneração, não impactou tanto na satisfação profissional, como poderia ser esperado. Outro fator importante da satisfação profissional é a imagem da profissão e seu desenvolvimento. Em estudo realizado por Moimaz, Saliba e Blanco (2003), com o objetivo de analisar o exercício da Odontologia por profissionais do sexo feminino, foi observado que, embora 78,00% consideravam-se satisfeitas com a profissão, apenas 41,80% dos entrevistados incentivariam seus filhos a cursarem Odontologia. As principais queixas apontadas foram: a baixa remuneração que a profissão lhes proporcionava e a saturação do mercado de trabalho. A limitação do presente estudo se trata de ter um delineamento transversal e ter sido conduzido apenas entre profissionais do serviço público. Novos estudos devem ser conduzidos em outros grupos de profissionais, assim como realização de estudos longitudinais. Ainda devem ser feitos estudos qualitativos para aprofundar o conhecimento sobre a satisfação do Cirurgiões-Dentistas. 5. 8 Fatores associados Estudos conduzidos em outros países observaram que os profissionais do gênero masculino tendem a optar pelo trabalho em clínicas privadas, enquanto as mulheres preferem atuar com vínculo empregatício (DOLAN; LEWIS, 1987; 96 KRONSTRÖM et al., 1997; WET TRUTER; LIGTHELM, 1997). Também no Brasil, Costa (1988) constatou que 66% do total de profissionais do gênero masculino de sua amostra não possuíam vínculo empregatício, enquanto que 51,00% das profissionais do gênero feminino o possuíam. No presente estudo, os homens paticiparam mais de atividades privadas simultaneamente à atuação no serviço público do que as mulheres. Um dado que merece ser destacado foi a diferença de horas trabalhadas por homens e mulheres. As mulheres apresentaram uma média de 35,85 horas e os homens, uma média de 40,50 horas. Os achados reforçam os estudos realizados na área (KRONSTRÖM et al., 1997, MICHEL-CROSATO et al., 2003; MICHELCROSATO; KOTILIARENKO; BIAZEVIC, 2006). O número de pacientes atendidos por turno de trabalho mostrou o mesmo perfil das horas de trabalho. O tipo de faculdade cursada (pública ou privada) não interferiu no tempo de trabalho, diferente do relatado por Silva (1994). A idade do profissional tamém influenciou as horas dedicadas à profissão e com relação ao número de pacientes atendidos por turno de trabalho. Profissionais com mais de 40 anos de idade apresentaram uma maior dedicação à Odontologia, achado que foi descrito por Michel-Crosato et al. (2003). Também a remuneração profissional variou em função do gênero. Em estudo para verificar o perfil profissional dos recém-graduados pelos cursos de Odontologia dos Estados Unidos, Dolan e Lewis (1987) relatam que as mulheres ganhavam menos, mesmo desempenhando as mesmas atividades e cumprindo a mesma jornada de trabalho que os homens. No nosso estudo, a remuneração dos homens foi de R$ 5.308,99 e a das mulheres, R$ 4.071,37. 97 Em relação à satisfação profissional, apenas a atuação no setor privado se mostrou associada ao indicador de satisfação. O gênero, tipo de faculdade e idade não interferiram na satisfação dos Cirurgiões-Dentistas, diferentemente dos outros estudos realizados (HARRIS et al. 2008, HJALMERS, 2006; HJALMERS; SÖDERFELDT; AXTELIUS, 2006; JEONG et al., 2006). O mercado de trabalho odontológico não pode ser considerado promissor. Vários fatores, tais como o número excessivo de profissionais, a abertura indiscriminada de novas faculdades, e a má-distribuição dos profissionais no território nacional contribuem para esse panorama. Entretanto, e a apesar dessas dificuldades, os profissionais, principalmente aqueles graduados há mais tempo, começaram a relatar boa satisfação profissional considerando satisfatórias as condições profissionais, tais como o retorno financeiro, as horas dedicadas à Odontologia, a relação com o paciente, com a equipe de trabalho e outros aspectos a que se dedicou essa pesquisa. Fica evidente que é muito importante verificar as condições de satisfação de trabalho dos Cirurgiões-Dentistas para que, no futuro, possam ser implementadas medidas que melhorem a satisfação no trabalho, melhorado assim o rendimento do profissional e a saúde bucal dos pacientes. 98 7 CONCLUSÃO Pudemos concluir, mediante os dados apresentados nesse estudo, que os profissionais que participaram do estudo eram em sua maioria mulheres, atuavam também no setor privado e possuíam uma carga de trabalho expressiva. A satisfação profissional foi alta e se mostrou associada com o atendimento concomitante no setor privado. A renda se mostrou associada ao gênero, ao exercício conjunto no setor privado e à maior idade dos profissionais. Todos os eixos da escala de satisfação (satisfação geral com o trabalho/emprego, tempo pessoal, tempo profissional, equipe, paciente e fornecimento de assistência/ atendimento) apresentaram impactos semelhantes na satisfação no trabalho. Em relação ao processo da adaptação trans-cultural do questionário de satisfação, este foi adequado, tendo apresentado bons indicadores de consistência e confiabilidade. 99 REFERÊNCIAS Alexopoulos EC, Stathi IC, Charizani F. Prevalence of musculoskeletal disorders in dentists. BMC Musculoskeletal Disorders 2004;5:16. Almeida Junior E, Almeida RCA, Cabral OLJ, Silva MGC. A escolha da profissão odontológica. Motivação consciente. Odontol Mod 1984;11(11):21-6. Amarante V. Recursos humanos en el sector salud en el Uruguay. Organização PanAmericana da Saúde; 2006. Amatuzzi MLL, Barreto MCC, Litroc J, Leme LEG. Linguagem Metodológica, Parte 1. Acta Ortop Bras 2006;14:53-6. American Dental Association. Current dental terminology, 3dr ed. Code on dental procedures and nomenclature. Chicago: American Dental Association; 2001. Arbenz GO, Abramowicz M, Abramowicz M, Silva M. Motivos conscientes na escolha da profissão odontológica. Rev Fac Odont S Paulo 1973;11(1):101-10. Augustson B, Morken T. Musculoskeletal problems among dental health personnel. Survey of the public dental health services in Holand. Tidsskr Nor Laegeforen 1996;16(23):2776-80. Ayers KM, Thomson WM, Rich AM, Newton JT. Gender differences in dentists' working practices and job satisfaction. J Dent 2008;36(5)343-50. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine 2000; 25:3186-91. Belardinelli VH, Rangel AL. Odontologia sem máscaras: uma nova face da interação profissional – paciente. São Paulo: Santos; 1999. Bengmark D, Nilner M, Rohlin M. Graduates' characteristics and professional situation: a follow-up of five classes graduated from the Malmö model. Swed Dent J 2007;31(3):129-35. 100 Berthelsen H, Hjalmers K, Söderfeldt B. Perceived social support in relation to work among Danish general dental practitioners in private practices. Eur J Oral Sci 2008;116(2):157-63. Beurskens AJ, De Vet HC, Köke AJ, Vander HGJ, Knipschild PG. Measuring the functional status of patients with low back pain. Assessment of the quality of four disease-specific questionnaires. Spine 1995;20:1017-28. Bland JM, Altman DG. Statistical methods for assessing agreement between two methods of clinical measurement. Lancet 1986;1:307-10. Blasius JJ, Pae EK. Work-pattern differences between male and female orthodontists. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2005;128:283-91. Boscainos PJ, Sapkas G, Stilianessi E, Prouskas K, Papadadis AS. Greek versions of the Oswestry and Roland-Morris Disability Questionnaires. Clin Orthop 2003;411:40-53. Brennan DS, Spencer AJ, Szuster FS. Service provision patterns by main diagnoses and characteristics of patients. Community Dent Oral Epidemiol 2000;28:225-32. Brodeur JM, Naccache H, Simard, PL, Lusier, J.P. Quebec dental manpower and demand for care from 1985-1988. J Can Dent Assoc 1990;56(8):773-6. Carvalho DR, Perri de Carvalho AC, Sampaio E. Motivação e expectativas para o curso e para o exercício da odontologia. Rev Assoc Paul Cirurg Dent 1997;51(4):345-9. Chaves SCL, Vieira-da-Silva LM. Oral health care and health decentralization in Brazil: two case studies in Bahia State. Cad. Saúde Pública 2007;23(5)1119-31. Conselho Federal de Odontologia Número de profissional da Odontologia. Disponível em:URL: http//www.cfo.org.br[2008 set. 10]. Cordón J. Estudos sobre a força de trabalho em saúde bucal: características do cirurgião-dentista no Distrito Federal. Divulgação Saúde em Debate 1991;6(10):1926. Costa B. Do ensino a prática odontológica: mito ou realidade na Grande São Paulo [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 1988. 101 Crossley ML, Mubarik A. A comparative investigation of dental and medical student's motivation towards career choice. Br Dent 2002;193(8):471-3. del Aguila MA, Leggott PJ, Robertson PB, Porterfield DL, Felber GD. Practice patterns among male and female general dentists in a Washington state population. J Am Dent Assoc 2005;136:790-6. Deyo R. Low-back pain. Sci Am 1998;279:48-53. Dolan TA, Lewis CE. Gender trends in the career patterns of recent dental graduates. J Dent Ed 1987;51(11):639-645. Eccles JD. Skin conductance changes in dentists and pacients during conservation treatment. Dent Practit Dent Rec 1970;21:43-8. Ehrlic GE, Khaltaev NG. Lowback pain initiative. Genebra: World Health Organization; 1999. Funk P do P, Flôres M D, Garbin CAH, Mateus S M, Mendonça JL. Perfil do profissional formado pela Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo.RS: da formaçäo à realidade profissional. Rev. Fac. Odontol. Univ. Passo Fundo 2004; 9(2):105-9. Gallagher JE, Clarke W, Eaton KA, Wilson NH. Dentistry – a professional contained career in healthcare. A qualitative study of Vocational Dental Practitioners' professional expectations BMC Oral Health 2007;7(16):1-11. Genovese JV, Lopes A. Doenças profissionais do cirurgião-dentista. São Paulo: Pancast ; 1991. 111 p. Giddens A, 2002, Sociologia, Domdeler Livraria Virtual, ES, R$ 48,00. Mundo Em Descontrole Anthony Giddens, 2005. Gietzelt D. Social profile of first-year dentistry students at the University of Sydney. Aus Dent J 1997;42: 259–66. Gorter RC, Te Brake JH, Eijkman MA, Hoogstraten J. Job resources in Dutch dental practice. Int Dent J 2006;56(1):22-8. Gorter RC, Te Brake HJ, Hoogstraten J, Eijkman MA. Positive engagement and job resources in dental practice. Community Dent Oral Epidemiol 2008;36(1):47-54. 102 Grotle M, Brox J, Vollestad NK. Cross-cultural adaptation of the Norwegian versions of the Roland-Morris Disability Questionnaire and the Oswestry Disability Index. J Rehabil Med 2003;35:241-7. Guillemin F, Bombardier C, Beaton D. Cross-cultural adaptation of health related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol 1993;46:1417-32. Hallissey J, Hannigan A, Ray N. Reasons for choosing dentistry as a career--a survey of dental students attending a dental school in Ireland during 1998-99. Eur J Dent Educ. 2000 May;4(2):77-81. Harris MJ, Zwane NP. Expectations and perceptions of professional satisfaction in a cohort of Medunsa dental graduates in compulsory community service. SADJ 2005; 60(10):438-42. Harris RV, Ashcroft A, Burnside G, Dancer JM, Smith D, Grieveson B. Facets of job satisfaction of dental practitioners working in different organisational settings in England. Br Dent J 2008;204(1):16-7. Hjalmers K. Good work for dentists--ideal and reality for female unpromoted general practice dentists in a region of Sweden. Swed Dent J 2006;182(10):136. Hjalmers K, Söderfeldt B, Axtelius B. Moral values and career: factors shaping the image of healthy work for female dentists. Acta Odontol Scand 2006; 64(5):255-61. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Número da população brasileira. Disponível em: URL:http//www.cfo.org.br [2008 set 10]. Instituto Nacional De Estudo E Pesquisa Educacionais (INEP). Odontologia é mercado promissor para estudante. Disponível em URL: http//www.inep.gov.br. [2008 set 10]. Janus CE, Hunt RJ, Unger JW. Durvey of prosthodontic service provided by general dentists in Virginia. J Prosthet Dent 2007;97:287-91. Jeong SH, Chung JK, Choi YH, Sohn W, Song KB. Factors related to job satisfaction among South Korean dentists. Community Dent Oral Epidemiol 2006;34(6):460-6. Junqueira CHZ. Proposta de modelo de planejamento estratégico para serviços profissionais – um estudo de caso em serviços odontológicos [Dissertação de Mestrado] Escola Politécnica da USP; 2006 103 Katrova, LG. Gender Impact on the Socioprofessional Identification of Women Dentists in Bulgaria. J Dent Educ 2004;68:19-22. Kirschner B, Guyatt A. A methodological framework for assessing health indices. J Chronic Dis 1985;38:27-36. Kotiliarenko A. prevalência de distúrbios osteomusculares dos Cirurgiões-Dentistas do Meio Oeste Catarinense, 2005. [Dissertação de Mestrado] Mestrado em Saúde Coletiva UNOESC; 2005 Kronström M, Palmqvist S, Eriksson T, Söderfeldt B, Carlsson GE. Pratice profile differences among Swedish dentists. Acta Odontol Scand 1997;55(5):265-9. Logan HL, Muller PJ, Berst MR, Yeaneyd W. Contributors to dentist´s job satisfation and quality of life. J Am Coll Dent 1997;64(4):39-43 Loges K. Estudo Epidemiológico e das Condições de Trabalho e Fatores de Risco dos Dentistas de Porto Alegre [Dissertação de Mestrado] Escola de Engenharia da UFRGS; 2004. Lusvarghi L. Cuide-se bem: profissional saudável não tem idade. Rev Assoc Paul Cirurg Dent 1999;53(2):89-100. Madeira MC, Perri De Carvalho AC. Necessidades e tendências da odontologia nas faculdades e no exercício da profissão. A proposta de uma enquete. Rev Assoc Paul Cir Dent 1980; 34(4):284-93. Matthews RW, Scully C. Recent trends in university entry for dentists in the UK. Br Dent J 1993;175:217-9. McEwen EM, Seward MH. The contribution of women to dentistry in the 1980s. Br Dent J 1988;5(11):339-41. Michel-Crosato E, Calvielli ITP, Biazevic MGH, Crosato E. Perfil da força de trabalho representada pelos egressos da FOUSP (1990-1998). RPG Rev Pós Grad 2003; 10(3): 217-223. Michel-Crosato E, Kotiliarenko A, Biazevic MGH. Prevalência de distúrbios osteomusculares em cirurgiões dentistas. Odontologia e Sociedade. 2006;8(1):89. 104 Midorikawa ET, Yokoi SS, Maruyama NT, Módolo VM, Araújo ME. Um estudo das LERs (lesões por esforço repetitivos) em cirurgiões-dentistas. RPG 1998;5(4):297-8. Moimaz SAS, Saliba NA, Blanco MRB. The women workforce in Dentistry in Araçatuba - SP. J Appl Oral Sci 2003;11(4):301-5. Moraes E. Levantamento de recursos de atendimento dental em Bauru. Estomatol & Cultura 1971:7(5):68-80. Muirhead V, Locker D. Canadian dental students' perceptions of stress. J Can Dent Assoc 2007;73(4):323. Newton JT, Thorogood N, Gibbons DE. The work patterns of male and female dental practitioners in the United Kingdom. Int Dent J 2000; 50(2):61-8. Nickel DA, Lima FG, Silva BB. Modelos assistenciais em saúde bucal no Brasil. Cad. Saúde Pública 2008;24(2):241-6. Nicolielo J, Bastos JR de M. Satisfaçäo profissional do cirurgião dentista conforme tempo de formado Rev Fac. Odontol. Bauru 2002;10(2):69-74. Nogueira PN. Riscos ocupacionais de dentistas e sua prevenção. Rev Bras Saúde Ocup 1983;41(11):16-24. Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) La contribuición visible de la mujer en el trabajo em saúde. Washinton: Organização Pan-Americana da Saúde; 2004. Oppenheim AM. Questionnaire design, interviewing and attitude measurement. London: Pinter; 1993. Parahyba Neto H, Bijella VT, Moraes N. Análise de algumas características dos profissionais formados pela faculdade de odontologia de Pernanbuco. Rev Bras Odont, 1983;40(4):15-26. Parajara F. A caminho da igualdade. Rev Assoc Paul Cirurg Dent 2000;54(1):11-9. Perri De Carvalho AC. Educação & saúde em odontologia: ensino da prática, prática no ensino. São Paulo: Santos; 1995s. Perri De Carvalho AC. O ensino e o exercício da odontologia na Alta Noroeste do Estado de São Paulo. São Paulo: Nupes/USP; 1995b. 105 Pinto VG. A odontologia brasileira às vesperas do ano 2000: diagnóstico e caminhos a seguir. São Paulo: Santos, 1993. 189 p. Pires CPAB, Ferraz MB, Abreu MHNG. Translation into Brazilian portuguese, cultural adaptation and validation of the oral health impact profile (ohip-49). Braz Oral Res 2006;20(3):263-8. Poi WR, Reis LAS, Poi ICL. Cuide bem dos seus punhos e dedos. Rev Assoc Paul Cirurg Dent 1999;53(2):117-21. Pourat N, Roby DH, Wyn R, Marcus M. Characteristics of dentists providing dental care to publicly insured patients. J Public Health Dent 2007;67(4):208-16. Puriene A, Petrauskiene J, Janulyte V, Balciuniene I. Factors related to job satisfaction among Lithuanian dentists. Stomatologija 2007; 9(4):109-13. Rankin G, Stokes M. Reliability of assessment tools in rehabilitation: an illustration of appropriate statistical analyses Clinical Rehabilitation 1998;12:187-99. Roth SF, Heo G, Varnhagen C, Glover KE, Major PW. Job satisfaction among Canadian orthodontists. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2003;123:695-700. Rudolph MJ, Brand AA, Gilbert L. Private dental practitioners in South Africa a professional profile. Journal of the Dental Association of South Africa 1995;50:9-12. Saliba NA, Moimaz SAS, Vilela RM, Blanco MB. Mulher na odontologia: uma análise quantitativa. Rev bras Odontol 2002;59(6):400-2. Serpa D. O assédio feminino à profissão. Rev Assoc Paul Cirurg Dent 1991;1(1):124. Silva SRC. Características dos cirurgiões-dentistas com vínculo empregatício, em empresas públicas e/ou privadas no município de Araraquara – SP. [Dissertação de Mestrado] Faculdade da Saúde Pública da USP; 194. 69p. Simonetti LS. A crise no atendimento odontológico. Rev Paul Odontol 1980;3(2):349. Soria ML, Bordin R, Costa Filho LC. Different forms of payment systems for dental services and their impact on care. Cad Saúde Pública,2002;18(6):1551-9. 106 Stein, A. Noções básicas de epidemiologia. Jornal AMRIGS 1998 Dezembro. Strattford PW, Binkley J, Solomon P, Gill C, Finch E. Assessing change overtime in patients with low back pain. Phys Ther 1994;74:528-33. Sur H, Hayran O, Mumcu G, Soylemez D, Atli H, Yildirim C. Factors Affecting Dental Job Satisfaction: A Cross-Sectional Survey in Turkey Eval Health Prof 2004; 27(2):152-64. Vacariuc S. Opções de trabalho e distribuição dos cirurgiões-dentistas no território nacional. Rev Paul Odontol 1985;7(2):37-46. Wet E, Truter M, Ligthelm AJ. Working patterns of male and female dentists South Africa. J Dental Assoc South Africa 1997;52(1):15-7. Wild D, Grove A, Martin M, Eremenco S, McElroy S, Verjee-Lorenz A, et al. Principles of Good Practice for the Translation and Cultural Adaptation Process for Patient-Reported Outcomes (PRO) Measures: Report of the ISPOR Task Force for Translation and Cultural Adaptation. Value in Health 2005;8:94-104 107 ANEXOS 108 Anexo A 109 110 Anexo B 111 Anexo C 112 113 Anexo D This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF.