REVISTA ÂMBITO JURÍDICO ®
A import?ia da monitoria na forma? de futuros professores universit?os
Resumo: O presente trabalho tem como finalidade abordar a importância da experiência adquirida na participação dos acadêmicos interessados na
docência do ensino superior nos programas de monitoria oferecidos pelas Instituições de Ensino Superior no Brasil. Será traçado um panorama das
atribuições desempenhadas pelo aluno monitor, enfocando a assistência aos alunos e a importância dos conhecimentos adquiridos junto ao professor
orientador. Serão expostas as diretrizes da Lei Federal n.º 5540, de 28 de novembro, de 1968, que fixa normas de funcionamento do ensino superior
e institui, em seu artigo 41, a regulamentação da função de monitor e sua importância curricular para os acadêmicos envolvidos nesses programas.
Como referenciais teóricos serão utilizadas três obras que tratam da discussão dos métodos de ensino pedagógico contemporâneo. A primeira obra
foi escrita por Paulo Freire, intitulada “Pedagogia da Autonomia”, a segunda, foi escrita por Edgar Morin, intitulada “Os Sete Saberes necessários à
Educação do Futuro” e a terceira, foi escrita por dois autores, a saber, Gilberto Dimenstein e Rubem Alves, intitulada “Fomos Maus Alunos”. Ao final
do trabalho traçaremos uma síntese das obras citadas, que terá por finalidade provocar o interesse da comunidade acadêmica pela procura dos
programas de monitoria, visando a promover e a despertar a vocação docente e, com isso, contribuirmos para o aperfeiçoamento da futura
comunidade docente de nosso País.
Palavras-chave: Monitoria. Docência. Ensino.
1 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
A importância da Monitoria nas disciplinas do ensino superior extrapola o caráter de obtenção de um título. Sua importância vai mais além, seja no
aspecto pessoal de ganho intelectual do Monitor, seja na contribuição dada aos alunos monitorados e, principalmente, na relação de troca de
conhecimentos, durante o programa, entre professor orientador e aluno monitor.
O aluno monitor experimenta em seu trabalho docente, de forma amadora, as primeiras alegrias e dissabores da profissão de professor universitário
durante o programa de monitoria. O fato de estar em contato direto com alunos na condição, também de acadêmico, propicia situações inusitadas,
que vão desde a alegria de contribuir pedagogicamente com o aprendizado de alguns até a momentânea desilusão, em situações em que a conduta
de alguns alunos mostra-se inconveniente e desestimuladora. O privilégio oferecido aos aprovados nos programas de monitoria torna-se de
fundamental importância para a descoberta da vocação docente, evitando, assim, que no futuro, possa tornar-se um profissional descontente com a
carreira escolhida.
As tarefas desempenhadas pelo aluno monitor consistem em dar apoio aos alunos da disciplina a qual está monitorando, dar plantão nas
dependências da faculdade, apoiar na elaboração e na resolução de questionários, ajudar na compreensão da bibliografia básica da disciplina,
orientar quanto às dúvidas das matérias ministradas em aula, aulas de revisão - com supervisão direta do professor orientador, ajudar na correção de
provas e demais situações em que o professor orientador necessitar de auxílio.
As aulas de revisão ministradas pelo aluno monitor com a supervisão do professor orientador são de fundamental importância para exercitar o aluno
monitor à capacidade de concentração, argumentação e domínio do grupo. A elaboração de estudos e pesquisas, com o objetivo de esclarecer as
dúvidas e os questionamentos dos alunos monitorados, acaba por contribuir, de forma determinante, para a formação do espírito de pesquisador,
condição fundamental àquele que pretende seguir a carreira da docência no ensino superior.
2 REGULAMENTAÇÃO DA MONITORIA NO BRASIL
A regulamentação da função de aluno monitor, no Brasil, deu-se pela Lei Federal n.º 5.540, de 28 de novembro de 1968, que fixa normas de
funcionamento do ensino superior e institui em seu artigo 41 a monitoria acadêmica,
“Art. 41. As universidades deverão criar as funções de monitor para alunos do curso de graduação que se submeterem a provas específicas, nas
quais demonstrem capacidade de desempenho em atividades técnico-didáticas de determinada disciplina.
Parágrafo único. As funções de monitor deverão ser remuneradas e consideradas título para posterior ingresso em carreira de magistério superior.”
Em seu parágrafo único, o referido artigo dispõe que, o exercício da atividade de monitoria, além de ser de caráter remunerado, deverá ser
considerado como título para o ingresso na carreira de magistério superior. A função de monitoria além dos benefícios intelectuais obtidos pelo aluno
monitor também será considerada em seu currículo acadêmico, valendo pontos para o ingresso em curso de mestrado.
3 A FILOSOFIA DE ENSINO DE PAULO FREIRE
Pedagogia da Autonomia foi a última obra publicada em vida pelo educador Paulo Freire. Ela apresenta propostas pedagógicas que valorizam a
autonomia dos educandos, aproveita o acervo empírico cultural de cada indivíduo na construção do conhecimento.
Na obra, Paulo Freire aborda a postura ética que deve ser prioridade para todos os educadores, estimulando-os a criarem em seus alunos o senso
crítico sobre os acontecimentos que norteiam suas vidas. Paulo Freire enfatiza princípios como a simplicidade, o respeito, a ética em geral e o bom
senso, já, que na sua visão, o capitalismo leva a sociedade a um consumismo exacerbado e a uma alienação coletiva, por intermédio, principalmente,
dos veículos de comunicação de massa. O fracasso educacional deve-se em particular à técnica de ensino ultrapassada e sem conexão com o
contexto social e econômico do aluno, mantendo-se, assim, o status quo, pois a escola ainda é um dos mais importantes aparelhos ideológicos do
Estado.
Paulo Freire enfatiza a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa, sem a qual a teoria pode tornar-se apenas discurso e a prática
uma produção alienada, sem questionamentos. Defende ainda que a teoria deve ser adequada à prática cotidiana do professor, que passa a ser um
modelo influenciador a seus educandos, ressaltando que, na verdadeira formação docente, devem estar presentes a prática da criticidade e a
valorização das emoções. O autor enfatiza em seus pensamentos que o professor deve ensinar a pensar certo. Paulo Freire sem dúvida alguma, foi
um dos mais célebres educadores deste País. Em memorável passagem de sua obra, preleciona o mestre:
“Às vezes, nos meus silêncios em que aparentemente me perco, desligado, flutuando quase, penso na importância singular que vem sendo para
mulheres e homens sermos ou nos termos tornado, como constata François Jacob, “seres programados, mas, para aprender”. É que o processo de
aprender, em que historicamente descobrimos que era possível ensinar como tarefa não apenas embutida no aprender, mais perfilada em si, com
relação a aprender, é um processo que pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente, que pode torná-lo mais e mais criador. O que quero
dizer é o seguinte: quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto mais se constrói e desenvolve o que venho chamando de
“curiosidade epistemológica” sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do objeto.” (FREIRE, 2007,p. 24).
O educador como ser histórico, político, pensante, crítico e emotivo não pode se indiferente. Deve procurar mostrar o que pensa, indicar diferentes
caminhos sem passar conclusões acabadas e prontas, para que o educando construa, assim, a sua autonomia. O educador deve saber escutar, pois
é somente escutando crítica e pacientemente, que se é capaz de falar com as pessoas e, conseqüentemente, com os alunos.
4 OS SETE SABERES DE EDGAR MORIM
A obra “Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro”, de autoria do sociólogo, educador e pensador Edgar Morin, conhecido também como o
pai da teoria da complexidade que é explicado em quatro livros da série O Método. A obra “Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro”, foi
fruto de pesquisa requerida pela Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO), com a finalidade de criar um
conjunto de princípios e ajudar a repensar no sistema de ensino para o próximo milênio.
A obra não critica o ensino fundamental, médio ou universitário, sua proposta é apontar as dificuldades em todas essas fases da educação.
O primeiro saber, apontado por Morin, diz respeito ao conhecimento e à importância de distingui-lo do erro e da ilusão. Nessa análise, deverão ser
levadas em consideração as diferenças históricas, culturais. Vejamos o que diz o mestre:
“Erro e ilusão parasitam a mente humana desde o aparecimento do Homo sapiens.Quando consideramos o passado, inclusive o recente, sentimos
que foi dominado por inúmeros erros e ilusões. Marx e Engels enunciaram justamente em Aideologia alemã que os homens sempre elaboraram
falsas concepções de si próprios, do que fazem, do que devem fazer, do mundo onde vivem. Mas nem Marx nem Engels escaparam destes erros”.
(MORIN, 2006, p. 19)
Os outros seis saberes apontados por Morin têm sempre a preocupação com o ser que conhece, com a ética e com o respeito à condição cultural a
que o sujeito, que é apresentado ao conhecimento, é submetido.
No segundo saber o “Conhecimento Pertinente”, Morin demonstra preocupação com a utilização do conhecimento adquirido, ou seja, o que é
aprendido deve ser colocado realmente em prática e ser útil para aquele que aprende.
No terceiro saber apontado por Morin, “A Identidade Humana”, enfatiza a condição humana como sendo o fundamento da sociedade organizada,
porém, ressalta a individualidade de cada membro. Questiona os programas curriculares que não levam em consideração as particularidades de cada
pessoa, de cada região, de cada situação econômica na elaboração dos programas curriculares.
No quarto saber, “A Compreensão Humana”, Morin fala sobre questões relacionadas, A era planetária, O legado do século XX a Identidade e a
consciência terrena, tudo isso voltado à adaptação pedagógica do próximo milênio.
No quinto saber, “A Incerteza”, Morin acredita que devemos ser ensinados a interagir com as incertezas, com o inesperado, quando nossos planos ou
conhecimentos nos levam a lugares e a situações não previstas.
No sexto saber, “Ensinar a compreensão”, Morin propõe a reflexão sobre as duas formas de compreensão, a compreensão intelectual e a
compreensão humana subjetiva. Ressalta a separação do egocentrismo e do etnocentricismo, bem como a ética da compreensão, como pontos
fundamentais na formação intelectual dos cidadãos.
E, por fim, no sétimo e último saber, “A ética do gênero humano” Morin enfatiza questões de ordem ética, com foco na ética em sociedade ressalta a
importância do ensino da verdadeira democracia e os princípios de igualdade e isonomia entre homens e mulheres e seu futuro num contexto
mundial e educacional.
Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro tem a finalidade de promover parâmetros para uma educação voltada para o mundo globalizado
e para a evolução dos povos, visando a conscientizar, governos e autoridades mundiais responsáveis pela formulação dos programas educacionais
que a educação do futuro tem que se voltar para a educação ética dos povos. Assim preleciona Edgar Morin em prólogo de sua obra.
“Há sete saberes “fundamentais” que a educação do futuro deveria tratar em toda sociedade e em toda cultura, sem exclusividade nem rejeição,
segundo modelos e regras próprias a cada sociedade e a cada cultura.uHhhhhh Acrescentemos que o saber cientifico sobre o qual esse texto se
apóia para situar a condição humana não só é provisório, mas também desemboca em profundos mistérios referentes ao Universo , à Vida, ao
nascimento do ser humano. Aqui abre um indecidível, no qual intervêm opções filosóficas e crenças religiosas através de culturas e civilizações”.
(Morin, 2006, p. 13)
5 OS GLORIOSOS DIÁLOGOS DE GILBERTO DIMENSTEIN E RUBEM ALVES
A obra “Fomos Maus Alunos” escrita em forma de diálogo travado entre seus dois autores o jornalista Gilberto Dimenstein e o educador Rubem
Alves, conta suas trajetórias como estudantes. Ao logo de todo o livro, os escritores narram como era traumática suas vidas no período em que foram
estudantes e o desgaste que sofriam todas as manhãs quando tinham que se levantar e ir ao colégio. Os diálogos são formulados em linguagem
clara de forma que o leitor possa contemplar de forma abstrata as situações vividas pelos autores.
A obra tem como intenção formular crítica ao sistema de ensino, que não vem sendo reformulado há anos pelo Ministério da Educação. Os autores
demonstram como a pouca correspondência entre as matérias lecionadas em sala de aula e a vida cotidiana podem ser desestimulantes para alguns
alunos. A falta de estímulo por parte dos programas curriculares é, sobre o ponto de vista dos autores, o principal fator contribuinte no fracasso
escolar. Os autores fazem crítica também ao sistema de ensino universitário, dando ênfase ao fato de a teoria ser mais importante nos cursos de
graduação do que a verdadeira prática do conteúdo aprendido em sala. Tecem comentários sobre a forma equivocada como os livros são utilizados
por alguns professores e alunos, ou seja, não como uma fonte de consulta mas, como um grande texto a ser decorado. Vejamos o que prelecionam
os autores em seu diálogo:
“Gilberto – Em função do livro, popularizado por Gutemberg, cria-se a escola. E a escola foi moldada do jeito que ela é em virtude do livro, porque
havia um conjunto de conhecimentos para ser dado. O professor, então, ia lá e lia o livro. E até hoje não se sabe usar o livro. O que o professor diz
quando vai dar a prova? Ele diz: Agora fechem o livro. É engraçado. As pessoas dizem: Vamos aprender como usar o computador em sala de aula.
Eu digo assim: Eu topo. Mas vamos ver antes como se usa o livro em sala de aula, que já tem 500 anos. Porque o livro foi feito para você consultar.
O livro não foi feito para você memorizar.
Rubem – Claro!” (DIMENSTEIN, ALVES, 2005, p. 57).
A obra é, sem dúvida, um verdadeiro retrato da realidade vivida por todos os estudantes deste País, seja em qualquer época. Mesmo os “melhores
alunos” já devem, em algum momento de suas vidas, terem vivido situações como as narradas no texto. O que é certo é que, mesmo os taxados
“maus alunos ou alunos medianos” como foram Gilberto Dimenstein e Rubem Alves, não os impediu de se tornarem, profissionais brilhantes e
consagrados. Vale ressaltar que os autores doaram todos os direitos do livro “Fomos Maus Alunos” para a Fundação Síndrome de Down.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste ensaio, foram traçadas idéias básicas a respeito da experiência da monitoria acadêmica e sua importância na formação de futuros
professores universitários. As experiências vividas na monitoria acadêmica são marcas que ficarão impressas no intelecto de quem tenha o privilégio
de vivenciar essa realidade. O currículo de graduação que é composto de ensino, pesquisa e extensão, engloba a monitoria na categoria de
pesquisa.
Os ensinamentos adquiridos junto ao professor orientador e aos alunos monitorados integram-se à carga intelectual e social do aluno monitor,
revelando-lhe novos horizontes e perspectivas acadêmicas. Acreditamos que o laboratório vivido na monitoria serve para despertar vocações ou para
prevenir erros futuros.
Os textos utilizados como apoio foram de fundamental importância para nos dar uma visão crítica do ensino em nosso País e nos ajudar a repensar
nos aprimoramentos da educação para os próximos anos, pois quando estivermos atuando, já profissionalmente, poderemos colaborar para a
mudança desse quadro de insatisfação dos alunos, contribuir para que o conhecimento seja transmitido e recebido de forma prazerosa aos
envolvidos no processo de ensino aprendizagem.
Referências BRASIL. Senado Federal, Lei Federal n.º 5540, de 28 de novembro de 1968. DIMENSTEIN, Gilberto; ALVES, Rubem.Fomos Maus
Alunos. 7ª ed., São Paulo: Papirus, 2005. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 35ª ed.; São Paulo:
Paz e Terra, 2007. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. 11ª ed., São Paulo: Cortez Editora, 2006.
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