A HISTÓRIA DA DISCIPLINA “INGLEZ” NO ENSINO
SECUNDÁRIO BRASILEIRO: 1850 – 1951
Ricardo Westphalen de Queiroz Jucá
Universidade Tuiuti do Paraná
[email protected]
Palavras-chave: Inglês – Disciplina – Programa de Ensino
Para melhor compreendermos uma disciplina escolar, é imprescindível buscarmos a
sua historicidade, em outras palavras, investigarmos as razões de sua criação, sua inserção, a
sua permanência e/ ou exclusão em um currículo escolar. Entendendo-se o currículo escolar
como seleção dos conteúdos considerados válidos por uma sociedade, as disciplinas que
compõe fazem parte de uma cultura desta sociedade. A compreensão do processo de
transformação de determinado saber em disciplina escolar só é possível se analisado o
contexto sócio-político, cultural e educacional no qual este processo se deu. Temos que
buscar as “raízes” deste processo, mesmo que elas estejam em outros contextos, distantes no
tempo e no espaço. Conforme assinalou Chervel (1990):
O nascimento e a instauração de uma nova disciplina levaram alguns
decênios por vezes séculos.[...]Pois a disciplina ainda que pareça imune
por todos os lados; não é uma massa amorfa e inerte. Vê-se de repente
florescerem os “novos” métodos, que dão testemunho de uma insatisfação,
e dos quais o sucesso é também o questionamento, ao menos parcial, da
tradução. (CHERVEL, 1990).
O objetivo desta pesquisa, é resgatar a história da Disciplina “INGLEZ”, no ensino
Secundário Brasileiro, no período entre 1850 à 1951, tomando-se por base o ensino no
Imperial Collegio de Pedro II. Para tanto, pretendemos analisar os motivos de sua inserção
no plano de estudos da referida instituição, bem como sua permanência e as alterações de
conteúdo e metodológicas pelas quais passou no decorrer no tempo. Este estudo documental,
ainda em andamento, tem como fonte principal os Programas de Ensino adotados no referido
Colégio no período em pauta. Serão analisados os dezoito Programas de Ensino adotados no
Colégio, que correspondem as dezoito reformas curriculares efetuadas, no período. Como
afirmam Vechia e Lorenz que dentre os programas da coletânea, quinze deles foram
elaborados pra o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. Os outros três foram expedidos pelo
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Ministério da Educação para serem implementados em nível nacional. Muito embora a
maioria dos programas tenha sido desenvolvida para o Colégio Pedro II, pode-se afirmar que
representam, em certa medida, os programas do ensino secundário oficial, tendo-se em vista
que o referido Colégio era considerado modelo para outros estabelecimentos secundários do
país, para tal (VECHIA & LORENZ, 1998).
BREVE HISTÓRICO DA LÍNGUA IGLESA
Em fins do século XV e início do século XVI, muito embora do Grego e o Latim já
fossem consideradas Línguas “mortas”; o Latim era veículo de divulgação das Literaturas e
das Ciências conhecidas. As chamadas línguas vernáculas, tais como o Alemão, o Inglês e o
Francês, muito timidamente começam a ser ensinadas na escola como língua “materna”.
Devido ao desenvolvimento comercial e cultural, a Língua Francesa começa a ser aprendida
por outros povos. Mas ainda neste século, a Inglaterra. Sob o reinado da Rainha Elisabeth I,
começava a ganhar força junto ao comércio, e seus produtos passam a ser exportados. Da
necessidade em produzir rótulos e embalagens para estes produtos, a própria Inglaterra
iniciou uma organização lingüística a fim de regular a ortografia em seu país. Surgem então
as primeiras “regras gramaticais” para o ensino da língua inglesa. Além deste crescimento
comercial, houve também o cultural, pois as peças teatrais de William Shakespeare, levavam
os próprios ingleses a desejarem ler suas obras, assim como outros povos desejavam
compreender a língua que ouviam; sendo assim, a Língua Inglesa começou a ser ensinada
aos súditos e estudada pelos povos que tinham relações comerciais e culturais com a
Inglaterra.
PARCERIAS ENTRE PORTUGAL E INGLATERRA
Com Portugal os acordos e as alianças comerciais vem de longa data; mesmo após o
período da Restauração em 1640 os acordos feitos não permitiram que Portugal ficasse
afastado da Guerra de Sucessão da Espanha (1701-1713), que envolvia a França e Inglaterra
A decisão de Portugal em favor da Inglaterra, era devido a segurança das rotas marítimas e
comerciais das suas colônias. Evidentemente apesar das vantagens comerciais que Portugal
ganhava, ganhou também a desvantagem de se tornar alvo de corsários, especialmente dos
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franceses. E um alvo estritamente estratégico para tais ataques foi o Rio de Janeiro no início
do século XVIII já que pertencia à coroa lusa; sendo que dois destes foram de maior
gravidade: O comandado por Duclere, em 1710 e o de Duguay – Troin, em 1711.As
rivalidades entre França e Inglaterra acabaram por atingir os Reinos Ibéricos e as relações
diplomáticas entre Portugal e Espanha, que já eram tensas em virtude do tratado de El Pardo,
se deterioraram porque um Pacto de Família uniu os Bourbon reinantes na França e na
Espanha. Portugal vinculado economicamente à Inglaterra, e portanto, em campo oposto à
Espanha, o que dificultou e agravou a disputa sobre o controle de territórios no Sul do Brasil
e da região do Rio da Prata. E como a relação de Portugal fica cada vez mais conflitante
com a França, a França decidiu invadir Portugal, fazendo com que a Família Imperial viesse
refugiar-se no Rio de Janeiro; trazendo amplo apoio e interesses da Inglaterra também para o
Brasil.
Logo que Dom João VI chegou ao Brasil, promoveu inúmeras melhorias no campo
cultural como a criação da Biblioteca Nacional, do Teatro Nacional, do Jardim Botânico, da
Escola Superior de Medicina e Engenharia e posteriormente Direito. As iniciativas tomadas
no campo cultural e educacional beneficiavam principalmente a elite burguesa brasileira.
Pela necessidade de manter acordos comerciais, o Príncipe Regente, determina a criação de
“Aulas Régias” das chamadas das chamadas línguas “vivas”. A criação de uma Cadeira de
Língua Inglesa e outra de Língua Francesa, ocorreu em 1809 pelo Decretado de 14/07/1809
que tinha o seguinte teor:
E sendo outrossim tão geral, e notoriamente conhecida a necessidade, e
utilidade das línguas franceza e ingleza, como aquellas que entre as línguas
vivas teem o mais distinto logar, é de muito grande utilidade ao estado,
para argumento, e prosperidade da instrucção publica, que se crêe nesta
capital uma cadeira de língua franceza, e outra de ingleza. A língua
franceza sendo a mais difundida e, por assim dizer, universal, a criação de
uma cadeira desta língua é muito necessária para o desenvolvimento e
prosperidade da instrucção pública. (DOM JOÃO VI, 1809).
E em 9 de setembro de 1809, Dom João VI, nomeava o padre irlandês John Joyce
como o primeiro “professor” oficial da Corte:
Era necessário criar nesta capital uma cadeira de lingua ingleza, porque
pela sua difusão e riqueza e o número de assuntos escritos nesta língua, a
mesma convinha ao incremento e à prosperidade da instrucção pública.
(DOM JOÃO VI: 7/1809).
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Ao que parece, o ensino de Inglês ficou restrito a uma Aula Avulsa, no Rio de
Janeiro. E todo o caso, era um avanço em relação às disciplinas ensinadas até então.
O ENSINO ENTRE 1809 à 1837
Para Bastos (1969) entre 1809 à 1837 o ensino secundário vivenciava uma realidade
bastante. Além das “Aulas Avulsas” de diferentes disciplinas que foram criadas a partir de
1772, poucas iniciativas mudaram o cenário educacional brasileiro. Os “Liceus” criados na
França a partir de 1835 não passavam de uma união de várias Aulas Avulsas que passaram a
ser ensinadas em um mesmo prédio, sem qualquer organização científica ou pedagógica.
Pode-se registrar também, a existência de algumas “escolas privadas”, seminários ou nas
“escolas públicas”, que serviam de preparatório para o ingresso no ensino superior. O
conhecimento desta língua, já estava sendo critério para a entrada em alguns cursos
superiores em Portugal e na França e posteriormente no Brasil.
Após a abdicação de D. Pedro I, O Império enfrentava inúmeros movimentos
separatistas. Para contornar a situação, o Governo Regencial, baixou o Ato Adicional de
1834 dando maior autonomia às províncias criando as Assembléias Provinciais. O Governo
cedeu maiores poderes e deveres pois cabia às mesmas legislar sobre a Instrução primária e
secundária, bem como providenciar os meios de promovê-las. A instrução pública passou a
ser, então, o reflexo da instabilidade política, da carência de recursos nas províncias e de suas
especificidades. (VECHIA, 2005). E conforme Haidar (1972), baseado e fundamentado nos
padrões europeus o Estado cria então em 1837 o primeiro colégio público para o ensino
secundário totalmente subsidiado pelo Estado: o Imperial Collegio Pedro II. Esta era uma
tentativa de organizar e padronizar o ensino no país, por servir de modelo às outras
instituições públicas ou privadas conforme o Jornal do Comércio anunciava em 25 de março
de 1837:
Faltava ao Brasil hum semelhante estabelecimento, uma escola progressiva
de educação a mocidade, como disse o ministro do império, que servisse
de typo as outras que se acham em atividade no paiz. O pae de família
folgará de receber em sua casa hum novo filho, modesto.
laboroso,instruído apto para penetrar no santuário de qualquer sciencia,
apto para comprehender a importância de alquer missão civil que seus
compatriotas lhe encarreguem, um homem que tudo apreciará porque alli
elle aprenderá a tudo respeitar, emfim, hum filho que respeitará o saber, a
idade, e não levará a pudencia e o escarneo até o altar de Deus. (DORIA,
1937).
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Pelo Decreto de 2 de dezembro de 1837, Assembléia legislativa aprovou o projeto de
fundação do Collegio de Pedro II que foi organizado com base nos estatutos dos liceus
franceses. E em 19 de novembro de 1838, Dom Pedro I, decreta a abertura do Imperial
Collegio de Pedro II, e no mesmo documento consta a LINGUA INGLEZA como disciplina
inserida no Programa de Ensino.
A DISICIPLINA “INGLEZ” NO PRORAMA DE DISCIPLINAS DE ENSINO DO
IMPERIAL COLLEGIO DE PEDRO II
O primeiro Plano de Estudos do Collegio foi estabelecido pelo Regulamento de no.8
de 31 de janeiro de 1838 e nele já constava a disciplina Língua Ingleza com duas lições na 4ª
e 4ª Aulas e com uma lição na 3ª Aula:
Para André Chervel (1990: 178-179):
A realidade, dessa nova acepção da palavra “disciplina” é trazida por uma
larga corrente de pensamento pedagógico que se manifesta, na segunda
metade do século XIX, em estreita ligação com a renovação das finalidades
do ensino secundário e do ensino primário. Ela faz par como o verbo
disciplinar, e se propaga primeiro com um sinônimo de ginástica intelectual,
novo conceito recentemente introduzido no debate.
Então convém convidar o leitor a esta viagem didática – metodológica através dos
Programas de Ensino, que para Ariclê Vechia e Karl Lorenz (1998) de um modo geral
contém informações sobre os itens de conteúdo das matérias e sua organização nas séries,
podendo ou não conter o número de lições atribuídas a cada tópico e a carga horária semanal.
Em muitos dos programas aparecem também referências a autores e livros textos utilizados.
Embora algumas referências não deixem dúvidas sobre o autor ou o título do texto citado,
outras exigem um estudo mais profundo para identificar o nome do autor ou o título da obra
sugerida. Os documentos correspondem às reformas curriculares efetuadas entre 1841 e
1951, apesar de sua primeira publicação ter se dado apenas em 1850, mas reflete os
conteúdos estudados anteriormente. Assim como as reformas de ensino efetuadas na década
nesta década refletiram debates em vários países como Alemanha, Bélgica, Suíça e França
para adequar seus sistemas educacionais às exigências da economia e expansão. Como em
1851 o projeto de Couto Ferraz que autorizava o governo a reformar o ensino primário e
Secundário no Município da Corte. Nos Programas de Ensino entre 1850 por exemplo o
ensino da língua inglesa aparece juntamente com os da línguas francesa e alemã, indicados a
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serem lecionados da mesma forma. O programa indica que deveria ser ensinado através do
método Grammar Translation, método originado na Europa, puramente focado na tradução
através de diversas leituras (literatura, sonetos) como a Selecta de Blair e Historia Romana
de Goldsmith. Observa-se que do 7º ao 2º anno, Inglez era lecionado, já não incluído no 1º
anno. Por outro lado, ao Alemão já era atribuído itens gramaticais ao seu ensino. As línguas
“vivas” possuíam todas, carga horária de uma ou duas horas semanais cada. Na reforma de
1854 foram incluídas algumas medidas propostas pelo professor do Pedro II, Justiniano da
Rocha, referente ao ensino particular primário e secundário entre duas classes:
Consideravam-se estudos de 1ª classe os do 1º ao 4 ano do curso, 2ª classe
os do 5º ao 7º ano. No ensino de línguas vivas da 1ª classe estava
comprehendida a conversação nas mesmas línguas entre professor e
discípulos. E para auxílio dos estudos, mormemente dos pensionistas de 1ª
e 2ª classe, haviam sido creados seis logares de repetidores. Um para
Grego e Allemao, um para Francez e Inglez, um para Mathematica, um
para Philosophia e Rethorica, um para Latim e um para Sciencias naturaes
com encargos de preparador e conservador. (DORIA, E. 1937)
Um novo decreto (n.1556, de 1855) compatibilizava o ensino secundário ao técnico,
assim dividiu o ensino secundário em dois ciclos em um esquema 4+3 (anos) reflexo de duas
reformas efetudas na França (1847 de Salvandy e1852 de Fourtoul). No Programa de 1856
temos Inglez igualmente do 2º ao 7º anno, chamando a atenção para a aparição do 1º livro
didático para sala de aula (Grammatica Ingleza). No Programa de 1858, já pós reforma
realizada em 1857 onde se abandonou o esquema 4+3 e instituíam-se dois cursos: um geral
de 7 anos de duração que levava a obtenção do grau de Bacharel em Letras além de preparar
os alunos ao ingresso nos cursos superiores. E um curso especial de 5 anos destinado aos
interessados em ingressar nos cursos técnicos. Aqui temos a permanência do Inglez apenas
nos mesmos anos já citados, chamando a atenção para a ênfase da prática de conversação
para o Francez e mesmo para o Alemão, mas não para o Inglez, permanecendo no método de
tradução. Influenciado pelo movimento Francês que rejeitava o papel das ciências na escola
secundária (VECHIA, 2002), em 1862 temos um novo decreto supre o curso especial e
adota-se um curso único de 7 aos de duração que conferia ao aluno o título de Bacharel e o
encaminhava aos estudos superiores (aqui o Pedro II é internato e externato) o Inglez
somente aparecerá do 3º ao 5º ano, onde aparecem os primeiros livros focados em explicação
e exercícios de gramática, como Murray - Spelling Book e Clifton – Guia de Conversação.
Assim como os primeiros materiais específicos para a prática da leitura.
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As reformas efetuada de 1870, 1876, 1878 e 1881, alteraram aspectos diversos do
sistema de ensino secundário em relação a organização administrativa do Collegio, ao
sistema de avaliação e exames e aos planos de estudos No programa de 1877 e 1878 temos
leve ênfase na prática oral do Francez, já o Inglez aparecerá apenas no 5º anno juntamente
com a 1ª aparição de materiais específicos para a Leitura e Gramática, assim como a divisão
para o material para os Exames, como The Vicar of Wakefield – Goldsmith e Robinson
Crusoe – Defoe. Outro fato interessante é a aparição do 1º autor brasileiro indicada pelo
Programa: Grammatica Ingleza – Bacharel Filippe da Motta de Azevedo Correa. Além das
1as regras de lexicologia e sintaxe, versão de prosadores e poetas clássicos portugueses e
ingleses. E em 1882 notamos um aumento gradativo de regras gramaticais:
Exercícios methódicos de pronúncia, themas muito variados, leitura,
versão e analyse de trechos escolhidos de prosadores inglezes fáceis,
exercícios de conversação. [...] Sua sintaxe comparada com a portuguesa e
a origem e desenvolvimento da língua ingleza. (VECHIA & LORENZ,
1998).
E a aparição do 1º dicionário bilíngüe: Diccionario Inglez – Portuguez e Portuguez – Inglez de
Lacerda.
O INGLEZ & O INGLÊS :
O Colégio Pedro II, a partir de 1889 sofre inúmeras mudanças após a crise
institucional através da perda de seu patrono (D.PEDRO II), mudança de nome para Ginásio
Nacional, nova reforma de ensino e grande influência do Positivismo de Comte onde a lógica
e as ciências eram o maior foco. Não podemos até o momento atribuir que esta influência
também tenha sido responsável pelo aumento considerável nos conteúdos das Línguas a
partir do Programa, mas vale a reflexão ao analisarmos os Programas de 1892, 1893 e 1895 o
conteúdo:
Theoria e pratica de phonologia ingleza, conjugação dos tempos simples
dos auxiliares to have e to be, tempos simples do verbo fraco. Estudo
elementar do pronome, do substantivo e do adjectivo e suas variações
morphológicas. Verbos defectivos, tempos compostos do verbo fraco,
conjugação do indicativo, imperativo e infinitivo. Os verbos mais
communs, principaes preposições e seu emprego. Estudo demorado do
verbo, verbos irregulares e fortemente grupaddos conforme as diversas
formações do pretérito e particípio perfeito. (VECHIA & LORENZ, 1998)
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Dividido também em assuntos para a Leitura e Escrita: Pequena Grammatica, Benzabat;
além do 1ª lição sobre o Alfabeto: Pronúncia e Escrita. Já em 1898 observamos a 1ª
tentativa metodológica em aproximar o ensino metódico para o cotidiano em:
Lições seriadas, abraçando em phrases connexas a vida diária
The Graduated English Reader, J.Hewitt. (VECHIA & LORENZ, 1998)
A partir de 1911 passa a se chamar Colégio Pedro II, e entre os programas de 1912,
1915 e 1926 temos o 1º Guia de Conversação de Sadler, aulas 3 horas de duração, onde:
Uma aula da semana será dedicada à tradução de um trecho de inglez para
o portuguez de um livro indicado. Em outra aula, os alumnos farão versão
de portuguez. Na terceira aula da semana, estudar-se-á grammatica. E a
constante ênfase na conversação do Francez, onde se orientava ao
professor já lecioná-la em Francez; por outro lado ao Inglez ainda cabia o
método tradiional. (VECHIA & LORENZ, 1998).
Mas ao analisarmos os Programas de 1929, 1931, 1942 e 1943 por exemplo:
O alumno será obrigado a fazer mensalmente pelo menos um exercício de
composição em inglez. [...] E uma aula semanal reservada para a
conversação não sendo permitido o uso da língua vernácula. (VECHIA e
LORENZ, 1998).
E observamos as 1ª tentativas em lecionar INGLEZ usando apenas a língua estrangeira,
assim através de Composições semanais. Iniciava-se a mudança metodológica para o Direct
Method ou Método Indutivo ou Intuiutivo (1931), onde aproximar o aprendizado do aluno ao
seu cotidiano era “aparentemente” mais lógico:
Exercícios para a formação vocabulário, relativos aos ambiente próprio do
alumno. (a família, a casa, a escola, a cidade e etc...). O ensino será
exclusivamente pragmático, devendo o professor dirigir-se sempre em
inglez aos alumnos e obrigando-os a responder na mesma língua.
(VECHIA & LORENZ, 1998)
Neste período os Estados Unidos começam uma onda bem arquitetada de aproximar e
“agradar” os países da América Latina no intuito de novos aliados na campanha da 2ª Guerra
e posteriormente da Guerra Fria. Parcerias, acordos comerciais e empréstimos; até mesmo
figuras carismáticas como Carmem Miranda e o personagem Zé Carioca criado por Walt
Disney, foram extremamente explorados nesta manobra de “aproximação” ou “identificação”
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com da língua Inglesa com o povo brasileiro, incentivando assim o ensino em grande escala,
inclusive previsto também na legislação vigente e aconselhável, novos formatos
metodológicos usados nas recém escolas de línguas por aqui chegadas: Centro Cultural
Brasil Estados Unidos e a atual Cultura Inglesa; já eram sugeridos nos Planos de Estudo
como o emprego do multiple approach, onde recursos diversos como canto, recitação,
cinema, teatro, rádio, audição de discos, leituras suplementares, correspondência, jogos de
vocabulário poderiam e deveriam ser utilizados em sala. Incluía-se também um vasto
conhecimento em História da Literatura Inglesa trabalhados de forma textual e em exercícios
de conversação. Sugeria-se para evitar a tradução, ao professor utilizar objetos, gravuras,
gesticulações, expressão fisionômica, analogia, definição e comparação cada lição deveria
ser iniciada oralmente antes da leitura do texto. Era também desaconselhável a memorização
de listas de vocábulos os quais deveriam ser apresentados de forma contextual, e o emprego
da tradução e da versão era apenas aconselhável excepcionalmente. A gramática ainda
ensinada de maneira sistematizada, inclusive comparando-a com a gramática do português na
parte relativa a sintaxe. Estes novos programas apresentam inovações como fixação
numérica do vocabulário básico que o aluno deveria adquirir cerca de duas mil palavras; a
seleção desse vocabulário baseada na sua utilidade e frequência de acordo com os recentes
trabalhos sobre o assunto (Thorndike, Horn, Palmer, West e Francett). A aquisição metódica
de vocabulário passivo por meio de leitura suplementar intesiva, supressão do estudo de
história da literatura inglesa e a inclusão no programa da 2ª série do 2º ciclo de assuntos
científicos para a aquisição de terminologia técnica. A aliança do Brasil aos Estados Unidos
fez fortalecer ainda mais o ensino do Inglês, além de influenciar nos costumes e até mesmo
no cotidiano da própria língua portuguesa que começava a receber suas primeiras influências
do estrangeirismo; era também uma manobra estratégica de enfraquecer qualquer influência
alemã ou da língua estrangeira não aliada aqui no Brasil através dos imigrantes.
1951: O INÍCIO DO RETROCESSO NO ENSINO DE INGLÊS
E A HERANÇA ATUAL ?
O Ministro de Estado da Educação e Saúde, tendo em vista os termos da Portaria n.
966 de 2 de outubro de 1951, resolve:
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Art. 1º - Ficam aprovados os planos anexos de desenvolvimento dos
programas mínimos de Português, Francês, Inglês, Espanhol, Latim,
Grego, Geografia Geral e do Brasil, Matemática, Desenho, Física,
Química, Filosofia, História Geral e do Brasil e Economia Doméstica no
curso secundário, elaborados pela Congregação do Colégio Pedro II, de
acordo com o disposto no art. 5º da Portaria ministerial n. 966, de 2 de
outubro de 1951, publicada no Suplemento do Diário Oficial de 26 de
novembro último.
A partir deste ano, o Pedro II não detêm mais o poder de servir de modelo obrigatório
às outras instituições, e não sabemos ainda ao certo o motivo do retorno ao ensino da
Gramática Tradicional; onde a ênfase na conversação iniciava um decrescente caminho sem
volta, a carga horária retoma duas vezes semanais até mesmo para uma, as regras gramaticais
e a memorização de lista de vocábulos e verbos torna-se mais rotineira; apesar de outros
autores acreditarem o contrário devido as grandes influências Inglesa e especialmente
Americana neste período no contexto sócio-econômico(através de seus filmes, produtos e
música); mas a observação metodológica nos remete ao que chamamos de “início ao
retrocesso” que aparentemente segue até os dias atuais:
2ª Série – A conversação, a leitura a e os demais exercícios, orais ou
escritos, para a aquisição vocabulário fundamental de 500 à 600 palavras,
selecionadas de acordo com a utilidade e freqüência.
Gramática. Formação de plural dos substantivos, gêneros, caso possessivo,
pronomes pessoais e relativos, artigo, adjetivos demonstrativos, adjetivos
numerais, emprego de any, some, much, many, little e few; graus de
comparação dos adjetivos; advérbios; preposições e conjunções mais
usuais. Verbos. Esses conhecimentos básicos ainda serão ministrados pelo
método indutivo e por meio de numerosos exercícios e permitirão o
emprego em linguagem correta, do vocabulário adquirido.
3ª série – Os assuntos já sugeridos no programa da 2ª série e aqui repetidos
serão agora apresentados de modo mais desenvolvido, para que o
vocabulário seja ampliado e atinja um total de cerca de 1.200 palavras
selecionadas. A gramática, ainda ministrada pelo método indutivo, com
exercícios variados e numerosos, será convenientemente desenvolvida para
permitir, na série seguinte, seu estudo sistematizado.
4ª série – Na 4ª série, fase de transição, haverá leitura de trechos
graduados, apresentados sob forma de historietas, pequenas descrições e
narrativas. Haverá ainda leituras de trechos relativos aos países de língua
inglesa – geografia, paisagem, vida, etc.; - assuntos esses que contribuirão
não só para enriquecer o vocabulário ativo, até perfazer um total
aproximadamente de 2.000 palavras selecionadas, mas também para iniciar
a aquisição metódica de vocabulário passivo e aumentar o conhecimento
de expressões idiomáticas. Gramática: Substantivo – número, gênero,
e caso; artigo; adjetivo – formação e colocação; adjetivos
possessivos, demonstrativos, relativos, interrogativos e indefinidos e
numerais; graus de comparação; pronome – pronomes pessoais,
possessivos, reflexivos, demonstrativos, relativos, interrogativos e
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indefinidos; verbo – conjugação, formas contratas; advérbio –
formação, colocação e uso idiomático; conjugação; interjeição. O
estudo será sistematizado e com imediata aplicação em exercícios
práticos de composição e versão. (VECHIA e LORENZ, 1998)
Percebemos ao analisar e comparar tais conteúdos com o Francês que o método
Direto neste permanecia onde o foco na conversação permanecia inalterado; já no Inglês
inclusive solicitado no próprio Programa de Ensino, que o ensino fosse sistematizado, e
mesmo no 4º ano a conversação já nem era incluída; parece então remeter-nos ao ensino
ainda do século XIX justificando então, para ao menos tal reflexão o título dado nesta última
parte. Vale ressaltar que entre as décadas de 50 – 60 e 70 motivado por influências sóciopolítico-econômicas, o ensino de Inglês ganhará mais adeptos, influenciados estes também
pelas novidades introduzidas ao ensino nas áreas de psicologia e lingüística aplicados no
ensino das escolas de idiomas; mas a reflexão que motivou este recorte e estudo histórico é
compreender na História desta disciplina, a possível razão das dificuldades que esta
disciplina enfrenta na atualidade neste contexto mencionado.
CONSIDERAÇÕES E REFLEXÕES
O ensino desta disciplina completará 200 anos no Brasil, desde sua inserção; nas
últimas décadas esta disciplina tem perdido seu valor no ensino regular devido a vários
fatores como turmas numerosas, desniveladas, professores não capacitados, métodos
ultrapassados ou que não condizem com tal realidade. Novas disciplinas estão sendo criadas
ou voltando para o currículo, por isso investigamos na história de INGLÊS e quem sabe
assim possamos compreender seus objetivos e melhor ainda, lutarmos para que a disciplina
INGLÊS não receba a sua “aparente noticiada” exclusão do Programa de Ensino Regular.
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REFERÊNCIAS
BASTOS, G. A educação secundária. São Paulo: Ed. Nacional, 1969.
CHERVEL, A. A história das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa.
In: Teoria e Educação. 2. ed. Porto Alegre: Pannonica, 1990. p. 177-229.
DORIA, E. Memória do Colégio Pedro II (Centenário): 1837 – 1937. Rio de Janeiro.
NUDOM – CPII, 1937.
HAIDAR, M.L.M. O ensino secundário no império brasileiro. São Paulo. EDUSP, 1972.
LORENZ.K.M. O ensino de Ciências e o Imperial Collegio de Pedro II: 1838-1889. In.
VECHIA.A.; CAVAZOTTI.M.A. A Escola Secundária: Modelos e Planos Brasil, Séculos
XIX e XX, São Paulo, Anna Blume, 2003)
OLIVEIRA, E.L. A historiografia brasileira da literatura inglesa: uma história do ensino de
inglês no Brasil: 1809 - 1851. 1999. 193 f. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária) –
Universidade de Campinas, Campinas, SP, 1999.
VECHIA, A. O ensino secundário no século XIX: instruindo as elites, In:
STEPHANOU.M.BASTOS.M.H. Histórias e Memórias da educação no Brasil: V.II-Sec.xix.
Petrópolis, Vozes:2005
VECHIA, A; LORENZ, K. Programa de ensino da escola secundária brasileira:1850 –
1951. Curitiba. Ed. Do Autor, 1998.
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