Conteúdo do Site – EF 86 / JUNHO 2011
ENTREVISTA – pg 04
A astrônoma Sueli Viegas dá dicas para responder, em linguagem direta e acessível,
algumas das grandes dúvidas das crianças (e dos adultos também) sobre astronomia:
Quantas estrelas existem? Por que e como há tantas estrelas?
Sueli - O número de estrelas que podem ser vistas a olho nu depende tanto do olho
humano quanto do local onde a pessoa se encontra. Aproximadamente, pode-se dizer
que numa região fora das cidades, você poderia ver cerca de 2000 estrelas enquanto
numa cidade muito iluminada e poluída, esse número cai para uma a duas dezenas.
Essas estrelas fazem parte da Via Láctea, nossa galáxia, que é um conglomerado de
estrelas, gás e poeira mantidos juntos pelo efeito da força gravitacional, e onde se
encontra o nosso sistema solar. Estima-se que nossa galáxia contenha cerca de 200 a
400 bilhões de estrelas. Por outro lado, avalia-se que há centenas de bilhões de
galáxias no universo, o que eleva o número de estrelas a bilhões de bilhões no
universo. Nuvens frias de gás e poeira, atualmente vistas em galáxias, são verdadeiros
berçários de estrelas. As primeiras estrelas se formaram nos primeiros 500 mil anos
após o Big Bang, quando o Universo era muito menor e preenchido por átomos de
hidrogênio e hélio. Essas estrelas se juntaram em galáxias que tiveram condições
favoráveis para formação de novas estrelas – um processo que, em muitas delas,
continua até hoje, 14 bilhões de anos depois.
Como surgiu o universo?
Sueli - Após o avanço no conhecimento científico do século 20, os cientistas têm
acumulado provas observacionais de que o universo se originou há cerca de 14 bilhões
de anos, quando era muito concentrado, muito quente e preenchido apenas por pura
energia. Como descrevi no primeiro livro da coleção, o universo era muito, muito
menor que um grão de areia. A partir daí, começou a se expandir e resfriar, o que
favoreceu o aparecimento da matéria (átomos de hidrogênio e hélio) e a subsequente
formação de estrelas e galáxias.
O que são buracos negros?
Sueli - As pessoas convivem com a força gravitacional terrestre e sabem que subir uma
escada ou uma montanha requer energia, porque a força gravitacional puxa em
direção ao centro da Terra. A mesma coisa acontece com um foguete: quanto mais
alto deve subir, maior a velocidade que deve ter na partida. Agora, imagine uma região
em que a concentração de matéria é tão grande que a velocidade requerida para sair
de lá tivesse de ser maior que a velocidade da luz (300.000 quilômetros por segundo),
isto é, nem a luz poderia sair de lá. Essa região é um buraco negro. Buracos negros
podem ser criados quando uma estrela de grande massa (cerca de oito a dez vezes a
massa do Sol) chega ao final de sua evolução. Com o Sol, que é uma estrela de baixa
massa, isso não acontecerá. Para ter uma ideia, para que Sol fosse um buraco negro,
teria de se contrair até ficar com um raio de 3 quilômetros. E a Terra deveria ser
espremida numa esfera de 1 cm de raio!
O universo tem fim? Ele vai se expandir para sempre?
Sueli - Observações feitas até o presente indicam que o universo está expandindo de
forma acelerada e deve continuar.
Por que só vemos estrelas de noite? Por que não vemos muitas estrelas em grandes
cidades?
Sueli - O Sol é a estrela mais próxima da Terra e por isso aparece de forma muito mais
brilhante do que as demais estrelas que estão bem mais distantes. Portanto, durante o
dia, a luz do Sol ofusca as outras estrelas, e estas não podem ser vistas. Quando o Sol
se esconde no horizonte, as estrelas começam a ser visíveis novamente. A Lua cheia,
embora com brilho menor que do Sol, também ilumina o céu noturno, e as estrelas
parecem mais fracas. Isso também acontece com a luz das cidades. O efeito é o mesmo
das luzinhas de uma árvore de Natal, que no escuro parecem muito brilhantes, mas ao
se acender a luz da sala, perdem o brilho e o encanto.
O que vai acontecer quando o sol parar de brilhar?
Sueli - Como qualquer outra estrela, o Sol está evoluindo. Ele se formou há 4,5 bilhões
de anos e sua luz é resultado das reações nucleares que ocorrem no seu interior e
produzem energia que escapa na forma de luz. Isso vai continuar assim por mais uns
5,5 bilhões de anos, quando o Sol vai se expandir e se transformar em uma estrela
gigante e vermelha, que engolfará a Terra. Sua expansão provoca a perda das suas
camadas mais externas, e o gás forma uma nebulosa – lindos objetos, como muitas
mostradas pelo telescópio espacial Hubble. Essas nebulosas se dissipam, sobrando
apenas a estrela que perdeu as camadas externas e que é, então, uma estrela anã.
Nessa fase, o Sol não terá mais uma fonte de energia e somente continuará brilhando
até se resfriar completamente e ficar escuro. Esse é um efeito semelhante ao de uma
panela colocada no fogão, que fica quente enquanto a chama estiver acesa (fonte de
energia). Quando a chama é desligada, a panela vai esfriando até ficar na mesma
temperatura do ambiente.
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