ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DO GELO EM ESTABELECIMENTOS DE ALIMENTAÇÃO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS DE PE Gerlane Dantas da Silva 1, Alinne Araujo Demetrio 2, Juliana Alexandra Takeda Agnani 3, Neide Kazue Sakugawa Shinohara 4, Leonardo Pereira de Siqueira 5. INTRODUÇÃO da pesquisa de microrganismos indicadores. A Resolução RDC nº. 274 que aprova o "regulamento técnico para águas envasadas e gelo” define o gelo para consumo humano como a água em estado sólido. [1] O gelo é um alimento como outro qualquer que ingerimos, portanto exige os mesmos cuidados que cercam a produção de quaisquer alimentos e pode afetar diretamente a saúde dos consumidores. [2,3] A água, matéria prima exclusiva do gelo, quando não potável, pode causar várias doenças ao ser humano. Daí a grande importância da qualidade do gelo, traduzida na adoção de rigorosas práticas higiênicas em sua fabricação, manuseio, embalagem, conservação e distribuição. [2] No Brasil, as infecções e/ou intoxicações veiculadas pela água ou alimentos contaminados, podem se converter em um grave problema de Saúde Pública. A água tem importância fundamental na disseminação de agentes causadores de gastrenterites, podendo ser fonte de contaminação para alimentos de forma indireta, pelo uso de águas poluídas com matéria fecal em sua lavagem, ou de forma direta, pelo consumo em sua forma líquida ou sólida. [3] Segundo a Portaria n° 518 de 2004, sobre a Portabilidade de águas, do Ministério da Saúde/ANVISA, a água é considerada potável para consumo humano quando estar em conformidade com o padrão microbiológico: ausência de coliformes totais e termotolerantes (Escherichia coli) em 100mL de amostra de água. Na mesma legislação é recomendada a contagem de bactérias heterotróficas, onde a mesma não deve exceder a 500 Unidades Formadoras de Colônia por mililitro (UFC/mL). [4] Neste trabalho, objetivou-se determinar a qualidade microbiológica de amostras de gelo consumido em Unidades de Alimentação no entorno das Universidades Federais da cidade de Recife/PE, através Material e métodos As coletadas foram realizadas no mês de setembro de 2009, em vinte unidades de alimentação, localizadas no entorno da Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE e da Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. O procedimento de coleta seguiu o protocolo conforme o Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater [5]. Os recipientes para a coleta foram lavados, secos e posteriormente os frascos foram esterilizados em autoclave. As amostras foram transportadas em caixa isotérmica até o Laboratório de Alimentos do Departamento de Tecnologia Rural/UFRPE e analisadas após a fusão do gelo. Para pesquisa de coliformes, foi realizado um ensaio qualitativo com o Teste Presença-ausência. [6] O ensaio presuntivo para coliformes consistiu no enriquecimento seletivo de 100ml da amostras em 50 mL de Caldo PA incubados a 35°C/24h-48h. Em seguida, para pesquisa de coliformes totais, uma alçada de cada amostra enriquecida foi inoculada em tubos contendo Caldo Lactosado Verde Brilhante Bile 2% e incubadas a 35°C/24h-48h. As amostras eram consideradas positivas, quando evidenciados turvação do meio e o aprisionamento de gás nos tubos de duhran. Para a pesquisa de coliformes termotolerantes, alçadas das amotras positivas no Caldo PA foram inoculadas em tubos de ensaio contendo o Caldo EC e incubadas a 45°C/24h-48h. As amostras foram consideradas positivas quando evidenciada a produção de gás nos tubos de duhran. [7] O Teste Presença-Ausência (PA) é um teste qualitativo, se baseia na capacidade das bactérias do grupo coliforme em fermentar a Lactose, produzindo ácidos e gases que irão ser evidenciados nesse procedimento. ________________ 1. Discente do 5° Período Curso de Bacharelado em Gastronomia e Segurança Alimentar da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 2. Discente do 6° Período do Curso de Bacharelado em Gastronomia e Segurança Alimentar da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 3. Discente do 5° Período do Curso de Bacharelado em Gastronomia e Segurança Alimentar da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 4. Docente do Departamento de Tecnologia Rural, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 5. Docente do Departamento de Tecnologia Rural, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] A contagem de heterotróficos realizou-se inoculandose 1ml da amostra, pelo método de semeadura em profundidade (Pour Plate), em meio padrão PCA em placas de petri, em seguida incubadas a 35°C por 24h em estufa bacteriológica. [5] A contagem de bactérias heterotróficas é amplamente utilizada como indicador da qualidade da água para consumo humano. A contagem destes microrganismos é geralmente realizada em placas contendo meios não seletivos ricos em nutrientes que permitam a multiplicação de uma ampla faixa de microrganismos. [8] Resultados e discussão Podemos observar (Fig. 1) que 90% das amostras de gelo coletadas apresentaram coliformes totais, estando essas em não conformidade com a legislação vigente. Ainda na Figura 1 observa-se que 50% das amostras analisadas, apresentaram-se positivas para coliformes termotolerantes. No entanto em outro estudo, observou em 50 amostras de gelo estudadas a presença de 20 isolados potencialmente patogênicos de E. coli, indicando que o gelo pode ser um veículo importante de transmissão de enteropatógenos, e especialmente de algumas categorias de E. coli. [9,3] A presença dessas bactérias, esta representada quase na sua totalidade por Escherichia coli, o que é extremamente preocupante, haja vista que esse microrganismo pode acometer desde uma simples gastroenterite ou evoluir até casos letais principalmente em crianças, idosos, gestantes e imunodeprimidos. [6] A Figura 2 expõe a distribuição percentual de heterotróficos nas amostras de gelo coletadas. Foi observado que 60% destas apresentaram contagem para bactérias heterotróficas superior a 500 UFC/mL, excedendo a recomendação do Ministério da Saúde. Apesar da maioria das bactérias heterotróficas não ser patogênica, pode representar riscos a saúde, como também deteriorar a qualidade da água, provocando o aparecimento de odores e sabores desagradáveis. [10,8] Podemos concluir que 90% das amostras de gelo examinadas apresentavam-se em desacordo com a Portaria n° 518 de 2004/MS, sendo então consideradas impróprias para o consumo humano. Agradecimentos Os autores agradecem ao DTR/UFRPE por disponibilizar o Laboratório de Alimentos e aos comerciantes que cederam as amostram para realização desta pesquisa. Referências [1] BRASIL, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA RDC nº. 274, de 22 de setembro de 2005. Aprova o "REGULAMENTO TÉCNICO PARA ÁGUAS ENVASADAS E GELO". Disponível em: <http://www.bioagri.com.br/site/img_site/arquivos_legislacao/ 10_9f33ba5189b33c3957701cd52ab6e1e6.pdf>. Acesso em: 16 de setembro de 2009. [2] FREIRE, A.J.; ASSUNÇÃO, G. M; ARAÚJO J.C.; BARIN, C. S. Análise físico-química e microbiológica de gelo comercializado em postos de combustível. Disponível em: http://www.furb.br/temp_sbqsul/_app/_FILE_RESUMO_CD/4 78.pdf. Acesso em 19/09/2009. [3] SERRANO, N. F.G.; SOUSA, C.P. Incidência de coliformes, staphylococcus coagulase positivo e pseudomonas spp. em gelo produzido e comercializado na cidade de são carlos – sp. Disponível em: <http://www.cori.unicamp.br/jornadas/completos/UFSCAR/C A2008.doc>. Acesso em 20/09/2009. [4] Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria n°. 518. 25 de Março de 2004. [5] AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (USA). Standart Methods For The Examination of Water and Wastewater. 19ª ed, United Book Press, Inc. Baltimore, Maryland, 1995. [6] SIQUEIRA, L. P.; SHINOHARA, N. K. S.; LIMA, R. M. T.; PAIVA, J. E.; CARVALHO, I. T. Avaliação microbiológica da água de consumo empregada em unidades de alimentação. Revista Ciência e Saúde Coletiva. On-line. 2007. [7] FEITOSA A, SILVA JL, MOURA GJB, CALAZANS GMT.Avaliação da qualidade da água potável em escolas da rede pública em Recife-PE/Brasil. Higiene Alimentar, v. 20, p.80-2, 2006. [8] DOMINGUES, V.O.; TAVARES, G.D.; STÜKER, F.; MICHELOT, T.M.; REETZ, L.G. B.; BERTONCHELI, C.M.; HÖRN, R. Contagem de bactérias heterotróficas na água para consumo humano: comparação entre duas metodologias. Centro de Ciências da Saúde, Santa Maria. vol 33, n 1: p 1519, 2007. [9] FALCÃO, D. P.; VALENTINI, S. R.; LEITE, C. Q. F. Pathogenic or potentially pathogenic bacteria as contaminants of fresh water from different sources in Araraquara, Brazil. Wat. Res. 27:1737-1741, 2004. [10] Fundação Nacional da Saúde (Funasa) Ministério da Saúde. Manual prático de análise de água. 1ª Edição, Brasília 2004. 90% 100% 80% 50% 60% 40% 20% 0% Coliformes totais Coliformes Termotolerantes Figura 1. Distribuição percentual de coliormes em amostras de gelo coletadas em estabelecimentos de alimentação localizados no entorno das universidades federais de PE. 40% ≤ 500 UFC/mL 60% >500 UFC/mL Figura 2. Distribuição percentual de heterotróficos, segundo recomendação do Ministério da Saúde, em amostras de gelo coletadas em estabelecimentos de alimentação localizados no entorno das universidades federais de PE