UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA KLEBER COSTA CORRÊA INTEGRAÇÃO DE GERAÇÃO EÓLICA NA REDE ELÉTRICA: DESAFIOS DO BRASIL Palhoça 2013 KLEBER COSTA CORRÊA INTEGRAÇÃO DE GERAÇÃO EÓLICA NA REDE ELÉTRICA: DESAFIOS DO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Elétrica Telemática da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Prof. João Luiz Alkaim, Dr. Palhoça 2013 KLEBER COSTA CORRÊA INTEGRAÇÃO DE GERAÇÃO EÓLICA NA REDE ELÉTRICA: DESAFIOS DO BRASIL Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Engenheiro Eletricista e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Engenharia Elétrica Telemática da Universidade do Sul de Santa Catarina. Palhoça, 28 de junho de 2013. ______________________________________________________ Professor e orientador João Luiz Alkaim, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________________ Professor Paulo Roberto May, MSc. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________________ Rafael Takasaki Carvalho, M. Eng. Eletrosul Centrais Elétricas S. A Dedico este trabalho a minha família, em especial aos meus pais, Kleber e Cristina, minhas irmãs, Amanda e Liana, minha sogra Roseli e a minha amada esposa Bruna, pois sem eles tudo seria mais difícil e nada faria sentido. Todo meu esforço é, acima de tudo, por vocês. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que de forma direta ou indireta tem contribuído para o meu desenvolvimento profissional nestes intensos anos. A busca constante pela qualificação me fez enfrentar uma segunda graduação, um grande desafio que neste momento estou em vias de concluir. AGRADEÇO: A minha família: meu pai Arlindo Kleber, minha mãe Maria Cristina, minhas irmãs Amanda e Liana e minha sogra Roseli, pelo exemplo, pelos ensinamentos e pelo irrestrito suporte em todas as fases da minha vida. Aos amigos do DES/Eletrosul, companheiros de jornada, que colaboraram imensamente com meu desenvolvimento e me ajudam a enfrentar os desafios diários: Makely, João, Mário, Vanderson, Celso, Ruy, Charles, Bruno e Adilson. Em especial agradeço a Makely, pelo exemplo de dedicação, por ter me incentivado a ingressar e auxiliado no decorrer do curso, ao João, por ter sido meu primeiro e mais importante mestre, quem me apresentou o setor elétrico e que compartilha diariamente seu grande conhecimento, e ao Adilson pela confiança, pelo exemplo, pelo irrestrito apoio e até mesmo pelas varias caronas para a “sua terra”. Ao Rafael Boechat da Eólicas do Sul/Eletrosul, a quem também tenho grande admiração, por ter auxiliado com informações dos parques. Aos amigos do DPS/Eletrosul Luiz Fábio, Ariene, Miguel e ao Breno do DOS/Eletrosul, que colaboraram diretamente com este trabalho, seja no intercambio de ideias ou compartilhamento de materiais e, particularmente a Ariene (minha “co-orientadora”) e ao Miguel, que colaboraram até mesmo na revisão deste trabalho. Ao Rafael Takasaki, grande profissional do setor, meu muito obrigado por ter prontamente aceito fazer parte e engrandecer ainda mais a banca deste TCC. A todos os mestres da UNISUL, em especial ao professor João Luiz Alkaim pela paciência, confiança, valiosos ensinamentos e empenho ao me orientar no desenvolvimento deste trabalho, ao professor Paulo May pelos inúmeros e relevantes debates sobre o setor elétrico, e a professora Sheila Travessa pela dedicação em nos auxiliar nesta fase importante de conclusão da nossa vida acadêmica. Aos amigos que fiz na UNISUL, entre eles: Piva, Ricardo, Jorge, Ederson, Nilto, Kledir, Tanga e Robson, companheiros nas longas e cansativas jornadas diárias e também eventualmente das “geladinhas” depois das aulas. Aos amigos da “metrópole” Biguaçu. Aos amigos da Banda Kyron e Saga por proporcionarem momentos de descontração e lazer, importantes para manter a mente no lugar. Aos casais do dito “G8”, que não poderia deixar de lembrar pelos inúmeros encontros e pelo mútuo apoio. Aos amigos Lilo, Bilu, Joninha, Du, Leonardo e tantos outros que procuram lutar por uma cidade melhor. Aos “amarelos” da Equipe A_A, a quem personalizo nos amigos Dudu, Oscar, Perera e Rafael, exemplos em suas profissões, na vida e, incansáveis em manter vivo o que criamos a mais de dez anos atrás, e que hoje é uma verdadeira fábrica de talentos. Por fim agradeço a minha esposa, companheira e melhor amiga Bruna, que vivenciou comigo o desafio de encarar mais uma jornada, as inúmeras madrugadas acordado, até mesmo suportando a eventual ausência. Agradeço imensamente pela compreensão, apoio e contribuição, sem a qual certamente não teria forças para enfrentar mais este desafio. Meu amor e admiração por você não cabem em palavras. . “Nunca desista de seus objetivos mesmo que esses pareçam impossíveis, a próxima tentativa pode ser a vitoriosa.” (ALBERT EINSTEIN). RESUMO Neste trabalho busca-se fazer uma abordagem sobre os impactos da integração da geração eólica na rede elétrica, e os desafios do Brasil sob aspectos técnicos e também sobre o ponto de vista regulatório. Primeiramente, é apresentada a estrutura do Setor Elétrico Brasileiro e os conceitos básicos da Energia Eólica e seus componentes. Em seguida, são apresentados os desafios, técnicos e regulatórios, da integração da geração eólica no sistema elétrico brasileiro. Ao final do trabalho é apresentado um estudo de caso, retratando a experiência da Eletrosul neste tema, referente a integração dos parques eólicos Geribatu e Chuí, localizados no estado do Rio Grande do Sul, que se encontram atualmente em implantação. Palavras-chave: Energia Eólica, Sistema Elétrico Brasileiro, Política Energética do Brasil, Integração de Parques Eólicos. ABSTRACT This work aims to make an approach on the impacts of integrating wind power in the power grid, and the challenges of Brazil in technical aspects and also on the regulatory perspective. First is presented the structure of the Brazilian Electricity Sector and the basics of wind energy and its components. Then, is shown the challenges, technical and regulatory, about the integration of wind generation in the Brazilian electric power grid. At the end of this work it is presented a case study depicting the experience of Eletrosul on this topic, regarding the integration of wind farms Geribatu and Chui, located in the state of Rio Grande do Sul, which are currently under execution. Keywords: Wind Energy, the Brazilian Electric Power Grid, Energy Policy in Brazil, Integration of Wind Farms. . LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Empreendimentos eólicos habilitados pela EPE desde 2009, agregados por município .................................................................................................................................. 21 Figura 2 – Fluxograma do desenvolvimento do trabalho ......................................................... 26 Figura 3 – Distribuição das empresas subsidiárias regionais da Eletrobras no território brasileiro no final da década de 1980 ....................................................................................... 30 Figura 4 – Principais instituições do setor elétrico ................................................................... 41 Figura 5 – Mapa do SIN – Integração Eletroenergética no Brasil............................................ 44 Figura 6 – Relação dos Procedimentos de Rede com as macrofunções finalísticas do ONS e com os resultados da operação ................................................................................................. 45 Figura 7 – Mapa do SIN - Sistema de Transmissão Brasileiro Horizonte 2013 ...................... 51 Figura 8 – Fluxograma das diretrizes para elaboração dos relatórios técnicos R1 referentes às novas instalações de transmissão da Rede Básica .................................................................... 54 Figura 9 – Processo de consolidação de obras de transmissão ................................................. 58 Figura 10 – Prazos médios de elaboração dos editais de Leilão e Outorga de empreendimentos de Transmissão ......................................................................................................................... 59 Figura 11 – Visão geral do modelo de contratação .................................................................. 60 Figura 12 – Eventos de contratação de energia no ACR .......................................................... 61 Figura 13 – Contratação de energia nova no ACR: etapas ....................................................... 62 Figura 14 – Possibilidade de contratação no ACR ................................................................... 64 Figura 15 – Visão sintética das partes do aerogerador ............................................................. 67 Figura 16 – Esquema geral de funcionamento de um aerogerador .......................................... 68 Figura 17 – Partes de um aerogerador ...................................................................................... 69 Figura 18 – Nacele em fábrica .................................................................................................. 71 Figura 19 – Topologias usuais de rotores eólicos: (a) Turbina de eixo vertical (b) Turbina de eixo horizontal .......................................................................................................................... 72 Figura 20 – Rotor do tipo Savonius .......................................................................................... 73 Figura 21 – Rotor Darrieus ....................................................................................................... 73 Figura 22 – Aerogerador com rotor tripás ................................................................................ 74 Figura 23 – Esquema elétrico de um gerador com velocidade constante ................................. 77 Figura 24 – Esquema elétrico de um gerador com velocidade variável que usa uma conversora de frequência para o controle da frequência da geração elétrica .............................................. 78 Figura 25 – Mapa de possibilidades da conversão de energia mecânica em energia elétrica .. 79 Figura 26 – Configuração do aerogerador com gerador de indução, rotor a gaiola ................. 80 Figura 27 – Configuração do aerogerador com gerador de indução com controle de resistência externa de rotor ......................................................................................................................... 81 Figura 28 – Configuração do aerogerador com gerador de indução duplamente alimentado (DFIG) ...................................................................................................................................... 82 Figura 29 – Configuração do aerogerador com gerador síncrono com conversor pleno (“Full Converter”) ............................................................................................................................... 83 Figura 30 – Aerogeradores disponíveis comercialmente para geração de energia elétrica, segundo nomenclatura da ANEEL ........................................................................................... 86 Figura 31 – Evolução dos aerogeradores desde 1985 até 2005 ................................................ 87 Figura 32 – Fases do projeto elétrico de parques eólicos ......................................................... 89 Figura 33 – Início Montagem Aerogerador 01/Parque 1 .......................................................... 90 Figura 34 – Detalhe montagem conjunto cubo e pás do aerogerador ...................................... 91 Figura 35 – Montagem Aerogerador 03/Parque I..................................................................... 91 Figura 36 – Subestação Coletora Cerro Chato 34,5/230 kV .................................................... 92 Figura 37 – Complexo eólico Cerro Chato – Eletrosul – localizado em Sant’Ana do Livramento/RS ......................................................................................................................... 92 Figura 38 – Diagrama unifilar simplificado das diversas opções de conexão de um parque eólico ........................................................................................................................................ 94 Figura 39 – Sistemas coletores e de conexão típicos ............................................................... 95 Figura 40 – Tipos de conexão na rede básica frente ao critério de avaliação do seu desempenho quanto à qualidade de energia ............................................................................. 96 Figura 41 – Diagrama simplificado das atividades envolvidas no acesso de agente gerador 101 Figura 42 – Processamento das fontes alternativas no Brasil ................................................. 103 Figura 43 – Potencial eólico estimado para vento médio anual igual ou superior a 7,0 m/s.. 113 Figura 44 - Complementaridade entre a geração hidrelétrica e eólica ................................... 114 Figura 45 – Classificação dos diferentes fenômenos de qualidade de energia ....................... 117 Figura 46 – Oscilação da potência ativa de um aerogerador de velocidade fixa, tipo A, de 500 kW .......................................................................................................................................... 117 Figura 47 – Impacto da distribuição geográfica e da adição de aerogeradores na produção de energia agregada ..................................................................................................................... 121 Figura 48 – Distorção de corrente causada por resistência não linear.................................... 124 Figura 49 – Representação da série de Fourier de uma onda distorcida ................................ 125 Figura 50 – Suportabilidade a subtensões - Tensões nos terminais dos aerogeradores ......... 132 Figura 51 – Interligações regionais de energia no Brasil ....................................................... 138 Figura 52 – Empreendimentos eólicos habilitados pela EPE desde 2009, agregados por município ................................................................................................................................ 139 Figura 53 – Processo de cadastramento e habilitação de empreendimentos .......................... 142 Figura 54 – Diagrama ICG e IEG ........................................................................................... 144 Figura 55 – Principais marcos associados à implantação de instalações de geração e transmissão – leilões A-3 e LER (prazos médios) .................................................................. 147 Figura 56 – Diferença entre as tarifas de uso do sistema de transmissão antes e depois do leilão ....................................................................................................................................... 151 Figura 57 – Mapa do Estado do Rio Grande do Sul indicando a localização dos parques .... 155 Figura 58 – Planta de localização dos Parques Geribatu I à X ............................................... 157 Figura 59 – Aerogerador GAMESA ....................................................................................... 157 Figura 60 – Parque Eólico Geribatu VII – Acesso finalizado ................................................ 158 Figura 61 – Aerogerador IMPSA ........................................................................................... 159 Figura 62 – Diagrama do sistema do litoral sul do Rio Grande do Sul – configuração 2013 160 Figura 63 – Mapa eletrogeográfico da região em estudo ....................................................... 162 Figura 64 – Diagrama unifilar dos empreendimentos do Lote A – Leilão 005/2012 ............. 163 Figura 65 – Sistema de integração dos parques eólicos Geribatu e Chuí ............................... 164 Figura 66 – Esquemático do Complexo Eólico e ponto de conexão dos filtros passivos ...... 167 Figura 67 – Compensador síncrono rotativo ± 100 MVAr, fabricação WEG ........................ 171 Figura 68 – Esquema de conexão das SE S.V.Palmar e SE Marmeleiro – R.G. do Sul ........ 172 Figura 69 – Alternativa considerada nos estudos de integração da Eletrosul ........................ 174 Figura 70 – Cronograma para realização dos leilões de transmissão ..................................... 175 Figura 71 – Processo de Leilão da Rede Básica ..................................................................... 176 Figura 72 – Estação ecológica do Taim ................................................................................. 177 Figura 73 – Interface entre os cronogramas de transmissão e geração da integração dos parques eólicos Geribatu e Chuí ............................................................................................. 177 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Valores de capacidade instalada em dezembro de 2011, incluindo as usinas já em operação comercial nos sistemas isolados ................................................................................ 20 Gráfico 2 – Evolução da capacidade e do consumo de energia elétrica no SIN: 1974-2001 ... 34 Gráfico 3 – Evolução da capacidade e do consumo de energia elétrica no SIN: 1989-2011 ... 40 Gráfico 4 – Evolução da capacidade instalada hidrotérmica do SIN (MW) ............................ 48 Gráfico 5 – Brasil: distribuição capacidade instalada em geração por fonte............................ 50 Gráfico 6 – Evolução da participação regional na capacidade instalada do SIN ..................... 50 Gráfico 7 – Curva de potência típica de um aerogerador com controle tipo estol ................... 70 Gráfico 8 – Forma típica de uma curva de potência de um aerogerador com controle de passo .................................................................................................................................................. 70 Gráfico 9 – Share mundial da energia eólica anual instalada, para diferentes tecnologias de aerogeradores ............................................................................................................................ 85 Gráfico 10 – Ranking dos 10 maiores fabricantes de aerogeradores do mundo em 2012 ....... 87 Gráfico 11 – A complementaridade entre as principais fontes ................................................. 97 Gráfico 12 – Potencial hidráulico do Brasil ........................................................................... 102 Gráfico 13 – Preço médio de venda por fonte (com correção pelo IPCA de novembro/2012) ................................................................................................................................................ 107 Gráfico 14 – Capacidade eólica instalada até 2012 e contratada através de leilões até 2017 108 Gráfico 15 – Capacidade eólica instalada anualmente no mundo .......................................... 109 Gráfico 16 – Capacidade eólica instalada acumulada no mundo ........................................... 109 Gráfico 17 – Top 10 - Nova capacidade instalada mundial em 2012..................................... 110 Gráfico 18 – Top 10 - Capacidade instalada mundial em 2012 ............................................. 111 Gráfico 19 – Capacidade eólica instalada anualmente por região do mundo ......................... 112 Gráfico 20 – Evolução da capacidade instalada até 2021 por fonte ....................................... 114 Gráfico 21 – Variação da Rcc em função da Potência instalada em Santa Vitória do Palmar – configuração 2014 .................................................................................................................. 169 Gráfico 22 – Variação da Rcc em função da Potência instalada em Santa Vitória do Palmar – configuração 2015 .................................................................................................................. 169 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Empreendimentos Eólicos do Brasil ....................................................................... 22 Tabela 2 – Conclusões da Comissão de Análise do Sistema Hidrotérmico de Energia Elétrica .................................................................................................................................................. 36 Tabela 3 – Comparativo dos Modelos do Setor Elétrico Brasileiro ......................................... 39 Tabela 4 – Módulos dos Procedimentos de Rede ..................................................................... 45 Tabela 5 – Brasil: capacidade instalada em geração por fonte ................................................. 49 Tabela 6 – Estudos de planejamento energético ....................................................................... 52 Tabela 7 – Interface EPE-ONS - Principais etapas no planejamento ....................................... 55 Tabela 8 – Comparativo das configurações de conexão a rede dos geradores geralmente aplicados aos aerogeradores ..................................................................................................... 84 Tabela 9 – Classificação da tensão da rede pelo nível e pela função ....................................... 93 Tabela 10 – Contratos do PROINFA ...................................................................................... 105 Tabela 11 – Dados das centrais do PROINFA – Dezembro de 2011 ..................................... 105 Tabela 12 – Empreendimentos Eólicos do Brasil ................................................................... 112 Tabela 13 – Análises e classificação das redes em função de diferentes condições da potência de curto-circuito ...................................................................................................................... 118 Tabela 14 – Principais distúrbios ocasionados por aerogeradores na rede elétrica e suas principais causas ..................................................................................................................... 119 Tabela 15 – Requisitos técnicos gerais no Brasil para conexão ao sistema de potência ........ 128 Tabela 16 – Limites de desequilíbrio de tensão ..................................................................... 129 Tabela 17 – Limites de flutuação de tensão ........................................................................... 131 Tabela 18 – Fatores de Transferência (FT) ............................................................................ 131 Tabela 19 – Limites globais inferiores em porcentagem da tensão fundamental ................... 133 Tabela 20 – Limites individuais em porcentagem da tensão fundamental ............................. 133 Tabela 21 – Consequências dos efeitos da integração de uma usina eólica ao sistema elétrico ................................................................................................................................................ 136 Tabela 22 – Principais etapas de um empreendimento de transmissão .................................. 148 Tabela 23 – Cronograma simplificado empreendimento de transmissão ............................... 149 Tabela 24 – Localização e potência instalada dos empreendimentos eólicos em estudo ....... 153 Tabela 25 – Estudos elétricos para solicitação dos complexos eólicos Geribatu e Chuí ....... 165 Tabela 26 – Montantes de energia eólica considerados no estudo da EPE ............................ 168 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACL – Ambiente de Contratação Livre ACR – Ambiente de Contratação Regulada ANA – Agência Nacional de Águas ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica APE – Autoprodutor de Energia AT – Alta Tensão BIG – Banco de Informações de Geração BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento BT – Baixa Tensão CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica CCI – Contrato de Compartilhamento das Instalações CCT – Conexão ao Sistema de Transmissão CE – Compensador Estático CEEE – Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul CEPEL – Centro de Pesquisas de Energia Elétrica CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco CMSE – Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico CNPE – Conselho Nacional de Política Energética CRESESB – Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito CS – Compensador Síncrono CUST – Contrato de Uso do Sistema de Transmissão DFIG – Double Fed Induction Generator DIT – Demais Instalações de Transmissão DNAE – Departamento Nacional de Águas e Energia DNAEE – Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral EAT – Extra–alta–tensão EIA – Estudo de Impacto Ambiental EOL – Central Eólica EPC – Engineering – Procurement – Construction EPE – Empresa de Pesquisa Energética EUA – Estados Unidos da América FACTS – Flexible AC Transmission System FAR – Fontes Alternativas de Energia FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler – RS FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FND – Fundo Nacional de Desestatização GCE – Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica GCPS – Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Elétricos GWEC – Global Wind Energy Council IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICG – Instalações de Transmissão de Interesse Exclusivo de Centrais de Geração para Conexão Compartilhada ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IEC – International Electrotechnical Commission IEG – Instalações de Transmissão de Interesse Exclusivo e Caráter Individual IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional LEN – Leilão de Energia Nova LER – Leilão de Energia de Reserva LI – Licença Ambiental de Instalação LO – Licença Ambiental de Operação LP – Licença Ambiental Prévia LT – Linha de Transmissão MAE – Mercado Atacadista de Energia Elétrica MME – Ministério de Minas e Energia MT – Média Tensão MUST – Montante de Uso do Sistema de Transmissão O&M – Operação e Manutenção ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico P&D – Pesquisa e Desenvolvimento PAC – Ponto de Acoplamento Comum PAR – Plano de Ampliações e Reforços PCH – Pequenas Centrais Hidrelétricas PDE – Plano Decenal de Energia PDET – Plano Decenal de Expansão da Transmissão PDRAE – Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado PEN – Planejamento Anual da Operação Energética PET – Plano de Expansão da Transmissão PIA – Potência Injetada PIE – Produção Independente de Energia PMO – Programas Mensais de Operação PND – Programa Nacional de Desestatização PNE – Plano Nacional de Energia PR – Procedimentos de Rede PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica RAP – Receita Anual Permitida RB – Rede Básica Rcc – Relação de Curto Circuito REA – Resolução Autorizativa da ANEEL RE-SEB – Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro REN21 – Renewable Energy Policy Network for the 21st Century RIMA – Relatório de Impacto Ambiental SE – Subestação de energia SEB – Setor Elétrico Brasileiro SIN – Sistema Interligado Nacional SM – Submódulos dos Procedimentos de Rede SPE – Sociedade de Propósito Específico TCU – Tribunal de Contas da União TSLE – Transmissora Sul Litorânea de Energia TUSD – Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição TUST – Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão UAT – Ultra–alta-tensão SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 20 1.1 MOTIVAÇÃO ..............................................................................................................................23 1.2 JUSTIFICATIVA .........................................................................................................................24 1.3 OBJETIVOS .................................................................................................................................25 1.3.1 Objetivo Geral ..........................................................................................................................25 1.3.2 Objetivos Específicos ...............................................................................................................25 1.4 METODOLOGIA DA PESQUISA ..............................................................................................25 1.5 LIMITAÇÃO DO TRABALHO...................................................................................................26 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................................27 2 O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO ....................................................................................... 28 2.1 MODELOS ANTECESSORES ....................................................................................................28 2.1.1 A crise econômica e a reforma do setor de 1990 ...................................................................30 2.1.2 A crise de racionamento de 2001 ............................................................................................34 2.2 NOVO MODELO DO SETOR ELÉTRICO ................................................................................37 2.3 AGENTES ECONÔMICOS E INSTITUCIONAIS DO SETOR ................................................40 2.3.1 Agentes Institucionais ..............................................................................................................41 2.3.1.1 Sistema Interligado Nacional (SIN) ....................................................................................... 43 2.3.1.2 Procedimentos de Rede .......................................................................................................... 44 2.3.2 Agentes Econômicos.................................................................................................................46 2.4 PLANEJAMENTO DO SISTEMA ELÉTRICO ..........................................................................47 2.4.1 Características do Sistema Elétrico Brasileiro ......................................................................48 2.4.1.1 Sistema de Geração ................................................................................................................ 48 2.4.1.2 Sistema de Transmissão ......................................................................................................... 51 2.4.2 Planejamento da Expansão .....................................................................................................52 2.4.2.1 Planejamento da Expansão da Transmissão ........................................................................... 53 2.4.2.2 Interfaces EPE-ONS ............................................................................................................... 55 2.5 PROCESSO DE EXPANSÃO DO SISTEMA E A COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ............................................................................................................................................56 2.5.1 Processo de Outorga de Concessão de instalações de Transmissão ....................................56 2.5.2 Ambientes de Contratação ......................................................................................................59 2.5.2.1 Ambiente de Contratação Regulada ....................................................................................... 60 3 ENERGIA EÓLICA ..................................................................................................................... 65 3.1 AEROGERADORES....................................................................................................................66 3.1.1 Componentes de um Aerogerador ..........................................................................................68 3.1.2 Turbinas Eólicas ......................................................................................................................71 3.1.3 Geradores .................................................................................................................................74 3.1.3.1 Gerador de Indução (Assíncrono) .......................................................................................... 75 3.1.3.2 Gerador Síncrono ................................................................................................................... 75 3.1.4 Topologias dos Aerogeradores: Controle de Frequência .....................................................76 3.1.4.1 Aerogeradores de Velocidade Constante ............................................................................... 76 3.1.4.2 Aerogeradores de Velocidade Variável .................................................................................. 77 3.1.5 Estado da Arte dos Geradores: Conexão com a Rede ..........................................................78 3.1.5.1 Tipo A: Gerador de indução, rotor a gaiola ........................................................................... 79 3.1.5.2 Tipo B: Gerador de indução com controle de resistência externa de rotor ............................ 80 3.1.5.3 Tipo C: Gerador de indução duplamente alimentado (DFIG) ............................................... 81 3.1.5.4 Tipo D: Gerador síncrono com conversor pleno (“Full Converter”) ..................................... 82 3.1.5.5 Considerações gerais .............................................................................................................. 83 3.1.6 Aerogeradores Comerciais ......................................................................................................85 3.2 PARQUES EÓLICOS ..................................................................................................................88 3.3 CONEXÃO DA USINA EÓLICA ...............................................................................................93 3.3.1 Tipos de Conexões ....................................................................................................................93 3.3.2 Esquema Elétrico de um Parque Eólico.................................................................................95 3.3.3 Características da Produção de Energia de Fonte Eólica ....................................................97 3.3.4 Parecer de Acesso.....................................................................................................................98 3.4 A EXPANSÃO DA FONTE EÓLICA NO BRASIL .................................................................101 3.4.1 Energias Renováveis: Marcos Regulatórios do setor..........................................................102 3.4.1.1 PROINFA ............................................................................................................................. 104 3.4.1.2 Comercialização de Energia Incentivada ............................................................................. 106 3.4.1.3 Leilões para Fontes Alternativas de Energia ........................................................................ 106 3.4.2 Brasil: um dos grandes em energia eólica ............................................................................108 4 INTEGRAÇÃO DA GERAÇÃO EÓLICA – DESAFIOS DO SEB ....................................... 116 4.1 INTEGRAÇÃO DA GERAÇÃO EÓLICA: DESAFIOS SOB ASPECTOS TÉCNICOS.........116 4.1.1 Principais distúrbios causados por aerogeradores na rede elétrica ..................................119 4.1.1.1 Flutuação de Tensão ............................................................................................................. 120 4.1.1.2 Cintilações ou Flickers ......................................................................................................... 121 4.1.1.3 Harmônicos .......................................................................................................................... 123 4.1.1.4 Energia reativa...................................................................................................................... 127 4.1.2 Requisitos atuais exigidos pelo ONS.....................................................................................128 4.1.3 Conexão de aerogeradores ao sistema elétrico de potência – Desafios do Brasil .............135 4.2 INTEGRAÇÃO DA GERAÇÃO EÓLICA: DESAFIOS SOB ASPECTOS REGULATÓRIOS 140 4.2.1 Os Leilões de Energia e as ICGs ...........................................................................................140 4.2.2 Dificuldade de compatibilização entre os cronogramas de transmissão e geração para os leilões A-3 e LER ................................................................................................................................146 4.2.3 Diferença entre o sistema de transmissão antes e depois do leilão ....................................150 4.2.4 Novas tendências do governo ................................................................................................151 5 ESTUDO DE CASO – INTEGRAÇÃO DOS COMPLEXOS EÓLICOS GERIBATU E CHUÍ .................................................................................................................................................. 153 5.1 PARQUES EÓLICOS GERIBATU E CHUÍ .............................................................................154 5.1.1 Complexo Geribatu – 258 MW .............................................................................................156 5.1.2 Complexo Chuí – 144 MW ....................................................................................................158 5.2 SISTEMA DE TRANSMISSÃO ................................................................................................159 5.2.1 Rede Básica .............................................................................................................................160 5.2.2 Conexão dos Parques a Rede ................................................................................................163 5.3 INTEGRAÇÃO DOS PARQUES – ASPECTOS TÉCNICOS ..................................................165 5.3.1 Solicitação de Acesso..............................................................................................................165 5.3.2 Compensador Síncrono – SE Marmeleiro ...........................................................................167 5.4 INTEGRAÇÃO DOS PARQUES – ASPECTOS REGULATÓRIOS .......................................171 5.4.1 Diferença entre o sistema de transmissão antes e depois do leilão ....................................172 5.4.2 Dificuldade de compatibilização entre os cronogramas de transmissão e geração ..........174 6 CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 180 6.1 TRABALHOS FUTUROS .........................................................................................................183 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 184 ANEXOS ............................................................................................................................................ 190 ANEXO A - PROCEDIMENTOS DE REDE SUBMÓDULO 3.6 ................................................ 191 ANEXO B – PORTARIA MME NO 132, DE 25 DE ABRIL DE 2013 ........................................ 197 ANEXO C – RESULTADO DO 12O LEILÃO DE ENERGIA NOVA ........................................ 205 ANEXO D – FICHA TÉCNICA AEROGERADOR GAMESA G97 ........................................... 206 ANEXO E – FICHA TÉCNICA AEROGERADOR IMPSA IWP 100 ........................................ 207 ANEXO F – VOTO ANEEL ............................................................................................................ 208 20 1 INTRODUÇÃO O Setor Elétrico Brasileiro (SEB) passou por significativas transformações na ultimas décadas, passando de um modelo puramente estatal para um modelo misto. Após os “traumas” dos efeitos da crise do apagão de 2001, o governo federal entre 2003 e 2004 lançou as bases de um novo modelo onde em termos institucionais foram criadas uma série de novas entidades no setor, e entre seus objetivos principais estão: a garantia da segurança do suprimento de energia elétrica e a promoção da modicidade tarifária através da convivência de agentes privados e públicos no setor (ONS, 2013). De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), a capacidade instalada total do sistema elétrico brasileiro em 31/12/2011 era de cerca de 117 mil MW. A participação por fonte é apresentada no Gráfico 1. Gráfico 1 – Valores de capacidade instalada em dezembro de 2011, incluindo as usinas já em operação comercial nos sistemas isolados UTE; 17,2 GW; 15% BIO; 7,8 GW; 7% HIDRO; 83,6 GW; 72% PCH; 4,6 GW; 4% NUCLEAR; 2,0 GW; 2% EOL; 1,4 GW; 1% Fonte: ONS, 2011. A capacidade instalada das energias renováveis na matriz brasileira totaliza aproximadamente 84%, sendo que a capacidade instalada hidráulica representou 72% do total, onde a geração hidráulica foi de 91% do total. Porém, devido à dificuldade por restrições ambientais/sociais na concepção de novas Usinas Hidrelétricas com reservatórios, e também aos incentivos do governo brasileiro como o Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), é cada vez maior a participação de novas fontes renováveis na 21 matriz brasileira, ainda que como fontes complementares e não estruturantes. Nestes bons ventos do mercado, uma fonte tem se destacado: a Energia Eólica. Dados do Plano Decenal de Energia (PDE) 2021 informam que a capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional entre 2012 e 2021 deverá crescer no período 56%, saltando de 117 mil MW para 182 mil MW. Um dos destaques do novo ciclo de planejamento é o forte crescimento da fonte eólica, cuja capacidade instalada chegará, pelas projeções, a 16 mil MW ao final do horizonte, o que representaria cerca de 8,5% da matriz brasileira, frente aos 1,4 mil MW (1,2%) do ano de 2011 (EPE, 2012). A instituição e estruturação dos Leilões de Energia tem contribuído signitivamente para este crescimento, as tarifas em R$/MWh de venda das fontes de energia eólica tem apresentado valores surpreendente baixos, atingindo a tarifa de R$ 88/MWh no ultimo Leilão de Energia A-3 realizado em dezembro de 2012. A perspectiva de expansão de Geração Eólica no Brasil possui uma particularidade em função de sua distribuição espacial, a Figura 1 apresenta a localização dos empreendimentos eólicos habilitados na EPE desde 2009. Figura 1 – Empreendimentos eólicos habilitados pela EPE desde 2009, agregados por município Fonte: EPE, 2013. 22 Dados atualizados do Banco de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), apresentados na Tabela 1, representam a distribuição e a situação da implantação dos empreendimentos eólicos no país por região (ANEEL, 2013). Tabela 1 – Empreendimentos Eólicos do Brasil Região EOL em Operação Qtde PI (MW) EOL em Construção Qtde PI (MW) EOL Outorgadas 1998 - 2013 (*) Qtde PI (MW) TOTAL Qtde PI (MW) N/CO NE S SE 0 60 30 2 0 1.317 699 28 0 72 14 0 0 1.797 334 0 0 170 29 0 0 4.662 632 0 0 302 73 2 0 7.776 1.665 28 TOTAL 92 2.044 86 2.131 199 5.294 377 9.469 Fonte: ANEEL, 2013. (*) Não iniciaram sua construção Porém acontecimentos recentes no mercado brasileiro acenderam um sinal vermelho na expansão da energia eólica no Brasil: atrasos no sistema de transmissão impediram 622 MW eólicos de gerar energia para o sistema elétrico brasileiro. Na avaliação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estes atrasos são "a dor do sucesso" da fonte. Não bastassem estes atrasos, em 2013 outros 1,4 mil MW de geração eólica devem ficar prontos e impedidos de gerar energia ao sistema, agravando ainda mais essa situação. Isso porque os sistemas de transmissão responsáveis por escoar a energia de 50 usinas apresentam atraso na construção, que podem chegar a 17 meses. Esses projetos eólicos foram viabilizados em dois leilões realizados em 2010, o de energia reserva e o de fontes alternativas. Portanto, dos 2,1 GW de potência licitados, cerca de 70% correm o risco de não injetar energia no sistema ainda em 2013. Os parques estão localizados nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia (FREIRE, 2013). Este problema reflete a fragilidade regulatória do setor, as Centrais de Conexão Compartilhada (ICGs), que funcionam como estações coletoras conectando os parques ao Sistema Interligado Nacional (SIN), foram criadas com o objetivo de agilizar e possibilitar o acesso à Rede Básica do SIN de centrais de geração a partir de fonte eólica, biomassa ou pequenas centrais hidrelétricas, visando assegurar as condições para expansão racional das instalações de transmissão (ANEEL, Resolução Normativa N° 320/2008). Dados aos entraves, porém, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já fala em descartar o uso de ICGs para novas usinas, ou optar por privilegiar os empreendimentos que já possuem estrutura de 23 transmissão (FREIRE, 2013). Desta forma é latente a necessidade de revisão nos aspectos regulatórios pelas entidades do setor. Além disso, a integração à rede elétrica destas novas tecnologias, como é o caso da geração eólica, representa um grande desafio, visto que o requisito de operar os sistemas de transmissão de forma confiável e segura é cada vez mais exigido. Investigações mostram que para uma participação de até 20% de fonte eólica em um sistema, não deve haver dificuldade na integração e operação, desde que esta geração esteja uniformemente distribuída (HOLTTINEN, 2007). Porém, a localização dos parques eólicos no Brasil, conforme apresentado anteriormente, concentrados em sua maioria nas extremidades do sistema em pontos considerados eletricamente fracos (com baixos valores de potência de curto circuito), implicam na necessidade de reforços na rede, para mitigar os indesejados efeitos da fonte eólica, entre eles: aspectos relacionados à qualidade de energia (Flicker, afundamento de tensão, componentes harmônicas), estabilidade de tensão e estabilidade transitória. Ao mesmo tempo, a avaliação dos impactos da inserção de geração eólica no sistema elétrico sob os aspectos de regime permanente, dinâmico e qualidade de energia envolve aspectos específicos em função de cada tipo de aerogerador e das características de cada ponto de conexão. Desta forma, com a inserção de quantitativos expressivos de geração eólica no sistema, como os que começam a acontecer no país, estima-se que esta influência passe a produzir impactos no desempenho dinâmico global do SIN no que se refere às suas interligações (RAMOS, 2012). Estas questões, regulatórias e técnicas, representam grandes desafios para a integração da Geração Eólica produzida no Brasil. 1.1 MOTIVAÇÃO Existe uma grande euforia no mercado do Setor Elétrico Brasileiro frente à expansão da energia eólica e, por outro lado, fortes criticas a outras fontes de geração. Porém é preciso apresentar as consequências da integração da geração eólica no SIN para que o país esteja preparado para enfrentar os desafios regulatórios e técnicos deste expressivo volume de energia. 24 Adicionalmente, a Eletrosul Centrais Elétricas S.A., empresa em que o autor atua na área de Transmissão, se consolidou como maior estatal em geração eólica em 2011. Além dos parques já em operação comercial localizados em Sant’ana do Livramento – RS – com 90 MW de potência instalada, a empresa esta construindo mais 21 parques eólicos no Rio Grande do Sul, com capacidade instalada de 480 MW, caminhando para sua visão de “Em 2020, ser o maior sistema empresarial global de energia limpa, com rentabilidade comparável às das melhores empresas do setor elétrico” (ELETROSUL, 2013). Estas são as razões que motivam o autor a abordar o tema neste trabalho. 1.2 JUSTIFICATIVA A conexão talvez seja um dos maiores desafios atuais para a energia eólica no Brasil, segundo o secretário geral do Global Wind Energy Council (GWEC), Steve Sawyer. De acordo com ele, a fonte teve um crescimento rápido no país e os parques ficam localizados em regiões onde conexão é inexistente (SAWYER, 2012). O avanço da fonte eólica no Brasil não tem sido acompanhada por um equivalente planejamento e reforço no sistema de transmissão, os parques estão sendo instalados conforme menor preço de venda, em locais onde há maior disponibilidade de vento, incentivos fiscais ou políticos. O PDE 2021 aponta a necessidade do estudo e acompanhamento das implicações técnicas envolvidas na sua inserção na matriz elétrica, especialmente a partir da entrada em operação dos blocos contratados nos leilões de energia. Deste modo, a compreensão e discussão destes desafios são de fundamental importância para que o setor possa enfrenta-los adequadamente. 25 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral Apresentar o impacto, técnico e regulatório, da Geração Eólica no Sistema de Transmissão Brasileiro, e como estes impactos podem ocasionar restrições e ameaças ao crescimento da fonte no país. 1.3.2 Objetivos Específicos - Compreender os impactos sob os aspectos técnicos da integração da Geração Eólica: Qualidade de energia, estabilidade de tensão e estabilidade transitória. - Compreender os desafios da integração da Geração Eólica sob o ponto de vista regulatório: Dificuldade de compatibilização entre os cronogramas de Transmissão e Geração, Diferença entre o sistema de transmissão antes e depois do leilão de Geração, e a experiência com as Instalações de Transmissão de Interesse Exclusivo de Centrais de Geração para Conexão Compartilhada (ICG). - Compreender como o Novo Modelo do Setor Elétrico contribuiu para expansão da Geração Eólica no Brasil, e suas interfaces com os desafios do sistema na integração da fonte. 1.4 METODOLOGIA DA PESQUISA Neste trabalho será analisado o estado da arte referente a conexões de parques eólicos no Brasil, também serão realizadas pesquisas em noticias da imprensa especializada e agentes do mercado, dando caráter pratico ao trabalho. 26 Será apresentado ao final um Estudo de Caso que abordará parte das dificuldades encontradas pela Eletrosul referentes ao tema, na implantação dos parques eólicos Chuí e Geribatu. Desta maneira o trabalho será desenvolvido conforme fluxograma apresentado na Figura 2. Figura 2 – Fluxograma do desenvolvimento do trabalho Fonte: Autor. 1.5 LIMITAÇÃO DO TRABALHO Este trabalho limita-se a apresentar e avaliar as dificuldades da integração dos Parques Eólicos no Sistema Elétrico Brasileiro, sob aspectos técnicos e também sobre o ponto de vista regulatório. Não serão abordados a conexão de outras fontes de geração de energias renováveis. Sob o ponto de vista técnico, não é objetivo detalhar o funcionamento de um aerogerador, a forma de geração de energia ou a implantação de parques eólicos. Tampouco é objetivo, face à complexidade de cada tema, se aprofundar em cada efeito da integração de parques eólicos, tendo em vista que aprofundar-se em cada item deste já representaria um trabalho em si. 27 Também não é enfoque deste trabalho realizar a modelagem, estudos dinâmicos e de estabilidade do sistema. 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO O trabalho está estruturado da seguinte forma: • Capítulo 1: Introdução; • Capítulo 2: O Setor Elétrico Brasileiro; • Capítulo 3: Energia Eólica; • Capítulo 4: Integração da Geração Eólica – Desafios do SEB • Capítulo 5: Estudo de Caso – Integração dos Complexos Eólicos Geribatu e Chuí; • Capítulo 6: Conclusões. 28 2 O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO O ano era 2001, o Brasil vinha crescendo a taxas de 4% ao ano, a indústria começava a consolidar-se no país e se confirmava que o Brasil era realmente um país em desenvolvimento, porém um fato viria a frear este caminho, além de ser primordial no resultado das eleições presidenciais vindouras: o APAGÃO. A crise energética estava ligada principalmente à falta de planejamento no setor e à ausência de investimentos em geração e distribuição de energia, e resultou num custo direto ao país de cerca de R$ 45 bilhões (TCU, 2009). Este foi o principal acontecimento que culminou na concepção do Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro, vigente desde 2004. A constituição do modelo vigente do setor pode ser mais bem compreendida sobre uma perspectiva histórica, da década de 1930 até a crise de 2001, destacando-se (TOMALSQUIM, 2011): Domínio estatal do setor, no período de 1930 a 1990; Abertura do setor a iniciativa privada, frente à crise financeira setorial e contexto político-econômico mundial; A reforma dos anos 1990 e a transição entre modelo estatal e misto. As deficiências que culminaram na crise de abastecimento de 2001. O Novo Modelo do setor elétrico proporcionou as bases para o desenvolvimento da fonte eólica no Brasil. 2.1 MODELOS ANTECESSORES Até meados da década de 1940, a indústria elétrica brasileira foi organizada majoritariamente pelo capital privado e estrangeiro, sob a forma de sistemas independentes e isolados. Formou-se no Brasil um verdadeiro arquipélago de “ilhas elétricas” com uma regulação incipiente do governo brasileiro. Destacavam-se neste setor duas grandes companhias: a canadense Light e a norte-americana Amforp (PINTO Jr, 2007). Em 1934 foi publicada a Constituição e juntamente o Código de Águas. A União passou a centralizar a outorga de todas as fases da indústria de energia elétrica: geração, 29 transmissão e distribuição. A partir deste momento o Estado passou a ser empreendedor, e o setor foi organizado da seguinte maneira: basicamente a União se responsabilizou pela construção das grandes usinas e pelos sistemas de transmissão e os estados-membros, com algumas exceções, ficaram responsáveis pela distribuição. Frente aos grandes desafios, em 1945 houve a criação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), que representou a primeira intervenção do estado na produção e transmissão de energia, posteriormente foram surgindo as primeiras companhias estaduais, como em 1943 a CEEE pelo governo do Rio Grande do Sul e a CEMIG em 1952 pelo governo de Minas Gerais. Em 1957 o governo federal criou a Central Elétrica de Furnas. A expansão do setor produtivo estatal favoreceu a criação do Ministério de Minas e Energia (MME), em 1960, como órbita específica da administração federal, encarregada de todos os estudos e assuntos relativos à energia e à produção mineral (GOMES, 2012). A criação da Eletrobrás, em 1962, que centralizou o planejamento e o financiamento do setor, consolidou o domínio do Estado na expansão da oferta no setor elétrico. Esse modelo foi muito bem sucedido, aumentando a oferta de energia elétrica a taxas de quase 9% ao ano no período 1955-1960 e acima de 8% ao ano no período 1960-1965 (LEITE, 2007). Em 1965 foi promulgada a Lei no 4.904, que transformou a antiga Divisão de Águas do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) no Departamento Nacional de Águas e Energia (DNAE), que foi denominado três anos mais tarde pelo Decreto no 63.951, Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE). Ainda em 1968 a Eletrobras passou a contar com uma terceira subsidiária de âmbito regional, a Centrais Elétricas do Sul do Brasil (Eletrosul) e, em 1973 foi criada a Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte). A lei no 5.899, conhecida como Lei de Itaipu, sancionada em 5 de julho de 1973, reforçou consideravelmente as funções da Eletrobras, como coordenadora do planejamento e operadora do sistema brasileiro, além disso a lei estabeleceu que, em principio, somente a holding, por intermédio de suas subsidiárias, poderia responder pela construção e respectiva operação de centrais elétricas de interesse supraestadual e de sistemas de transmissão em alta e extra alta tensão destinados a integração estadual (TOMALSQUIM, 2011). A lei dividiu o país em quatro regiões geoelétricas, correspondentes aos espaços de atuação da: Eletrosul – região Sul, Eletronorte – região Norte e parte dos estados do Mato Grosso e Goiás, Chesf – região Nordeste e Furnas – região Sudeste, Distrito Federal e parte dos estados do Mato Grosso e Goiás. Após a criação do Estado do Tocantins, entre outras adequações do governo federal no decorrer dos anos, o 30 mapa da Figura 3 apresenta a divisão das áreas de atuação das subsidiárias do grupo Eletrobras no final da década de 1980. Figura 3 – Distribuição das empresas subsidiárias regionais da Eletrobras no território brasileiro no final da década de 1980 Fonte: Autor (2013). Assim ficaram estabelecidas as bases do modelo do setor que perdurou por três décadas, de um lado o DNAEE como órgão regulador e fiscalizador e de outro a Eletrobras como planejadora e executora da política federal de energia elétrica. 2.1.1 A crise econômica e a reforma do setor de 1990 As transformações ocorridas no mundo na década de 1970, como as crises do petróleo em 1973 e 1979, e a posterior elevação das taxas de juros no mercado externo no início de 1980, contribuíram para que o processo de crescimento econômico iniciado no Brasil se revertesse (LORENZO, 2002). O modelo estatal do setor elétrico começou a apresentar seus primeiros sinais de fraqueza ainda no fim da década de 1970, quando a União passou a usar as tarifas de energia como instrumento de política monetária, a fim de conter a inflação. Na década seguinte, de 1980, em função do agravamento da dívida externa brasileira surgiu a grande crise do setor 31 elétrico, que motivou o fim do Imposto Único e a manipulação das tarifas, que interromperam o fluxo de financiamento do setor, e foi agravada pelas ineficiências oriundas da remuneração garantida das concessionárias (TOMALSQUIM, 2011). Houve ainda nesta época uma tendência global da revisão do papel do Estado na economia, tratava-se do inicio da adoção em diversos países de uma política neoliberal, que defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia. Segundo esta concepção, o Estado passaria a ter uma função exclusiva de regulador da atividade econômica, e a iniciativa privada assumiria as atividades empresariais. Estes fatores culminaram na ampla reforma do setor elétrico realizada na década de 1990, antes mesmo de estar definido um novo marco regulatório setorial o governo deu início ao processo de desestatização de empresas de energia elétrica. Através da Lei no 8.031 de 1990, o governo instituiu o Programa Nacional de Desestatização (PND) e criou o Fundo Nacional de Desestatização (FND). Entre os objetivos fundamentais descritos na lei estavam: I - reordenar a posição estratégica do Estado na economia, transferindo à iniciativa privada atividades indevidamente exploradas pelo setor público; II - contribuir para a redução da dívida pública, concorrendo para o saneamento das finanças do setor público; III - permitir a retomada de investimentos nas empresas e atividades que vierem a ser transferidas à iniciativa privada; O PND foi a base para as privatizações no setor elétrico, que teriam inicio somente em 1995. Antes das privatizações outras leis foram formuladas que veremos a seguir. O setor público teve limitado os acessos a financiamentos, as empresas somente poderiam obter financiamentos em empreendimentos realizados em parceria com a iniciativa privada. A Lei no 8.631 de 1993, dispôs sobre a fixação dos níveis das tarifas para o serviço público de energia elétrica e extinguiu o regime de remuneração garantida, ela também tornou obrigatório os contratos de suprimento de energia entre geradores e distribuidores (MAY, 1999). Em 1994 e 1995 foram elaboradas outras importantes leis para o setor elétrico, entre elas a Lei no 8.987, a chamada Lei das Concessões, que regulamentou o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos através do serviço pelo preço, com reajustes e revisões tarifárias, e a Lei no 9.074 que implantou a figura do Produtor Independente de Energia (PIE) e do Consumidor Livre. 32 Ainda em 1995, através de um emblemático documento chamado de Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), o governo lançou as bases do projeto governamental brasileiro de reestruturação do aparato estatal. Na redação do item 6.5 do documento, são listados os seguintes objetivos para as Empresas Estatais: Objetivos para a Produção para o Mercado: Dar continuidade ao processo de privatização através do Conselho de Desestatização. Reorganizar e fortalecer os órgãos de regulação dos monopólios naturais que forem privatizados. Implantar contratos de gestão nas empresas que não puderem ser privatizadas. Em 1996, dando prosseguimento a reestruturação do setor, o governo criou a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), uma autarquia sob regime especial vinculada ao MME, com atribuição para regular e fiscalizar as atividades inerentes ao setor elétrico. Antes mesmo de criar a ANEEL, o MME contratou o consórcio Coopers & Lybrand para realização de estudos visando à reestruturação do setor elétrico brasileiro, dentro de um projeto intitulado Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro (RE-SEB). Paralelo a estas medidas, foram iniciadas as privatizações no setor elétrico, com a privatização das distribuidoras estaduais de energia, tais como a Light, CEEE, CPFL, Cerj, Enersul, etc. Os estudos realizados pelo RE-SEB promoveram um novo desenho institucional para o setor, e foram substanciados na Lei no 9.648 e no Decreto no 2.655, de 1998, sendo introduzidos basicamente as seguintes modificações no setor: Estabelecimento de “contratos iniciais” de compra e venda de energia para transição de modelos. Desverticalização, criando a independência dos negócios, dos segmentos de geração, transmissão e distribuição das empresas. Separação do segmento físico e comercial da energia elétrica, constituindo assim o segmento da comercialização; Estabelecimento de condições para o livre acesso a rede de transmissão, proporcionando a livre comercialização da energia elétrica entre geradores e distribuidores de diferentes pontos da rede; Adotado o regime de concorrência nos segmentos de comercialização e geração; 33 Criação do Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE), responsável por disciplinar e operacionalizar a compra e venda de energia livremente negociada; Criação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por coordenar e controlar, de forma independente, a operação da geração e da transmissão no âmbito do Sistema Interligado Nacional (SIN). Em meio a todas essas modificações a lei autorizou a reestruturação da Eletrobrás e suas subsidiárias, esta reestruturação começou com a cisão da Eletrosul, em 23 de dezembro de 1997, em duas empresas: a Gerasul (que continha os ativos de geração) e a Eletrosul (que continha os ativos de transmissão). Em 15 de setembro de 1998, a Gerasul foi privatizada, sendo adquirida pela Tractebel Energia (Grupo Suez). Foram privatizados assim os ativos de geração da antiga Eletrosul que totalizavam 3.719 MW em operação e 2.800 MW em construção. O valor recebido pelo governo brasileiro foi de aproximadamente R$ 900 milhões (US$ 810 milhões). Segundo (ALKAIM, 2003): Na estatal ocorreu a desestruturação dos quadros e nas privatizadas a tentativa de recomposição do pessoal, inclusive com terceirização de serviços. Mas em todas estas transformações houve perda de rico material humano, que detinha parte do conhecimento da área, bem como mudança de padrão comportamental. Muitos profissionais que trabalhavam nas equipes de planejamento das estatais foram forçados, ou aproveitaram, para integrar os Planos de Demissão incentivada que ocorreram na época, e aproveitaram a oportunidade para compor os quadros do ONS. Isso de certa forma enfraqueceu o planejamento setorial. Iniciou-se assim a implantação do projeto RE-SEB, porém antes mesmo de terminado o processo de transição, o setor passou por uma grave crise de racionamento. A insegurança regulatória, aliada a decisão do Estado de reduzir a participação estatal no setor, freou os investimentos na ampliação da capacidade instalada de geração de energia do país, que não acompanhou o crescimento do consumo. No Gráfico 2 é possível observar que a evolução da capacidade instalada a partir de 1993 (~3% a.a) não acompanha a evolução do consumo de energia elétrica (~5% a.a) no mesmo período, graficamente é possível observar a defasagem das curvas de crescimento. 34 Gráfico 2 – Evolução da capacidade e do consumo de energia elétrica no SIN: 1974-2001 Capacidade e Consumo no SIN (%) - Ano Base: 1989 180% 160% 140% 120% 100% 80% 60% 40% 20% 0% 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Capacidade Consumo Fonte: (EPE, Balanço Energético Nacional 2006: Ano Base 1974 - 2005, 2006) 2.1.2 A crise de racionamento de 2001 Um grande blecaute atingiu onze unidades federativas do Brasil e o Paraguai na noite de quinta-feira, 11 de março de 1999, estendendo-se pela madrugada do dia seguinte, que também atingiu o Paraguai, este foi o segundo maior apagão da história do país, as causas são incertas, mas podem ser atribuídas muito em função da falta de reforços na rede, este “apagão” antecedeu o racionamento e aumentou a sensação do problema. O mês era abril e o ano 2001, após um período de meteorologia desfavorável o nível dos reservatórios era de aproximadamente 32% da capacidade de armazenamento, e o risco de déficit superava 15%, dez pontos percentuais acima do nível de risco aceitável (5%), desta forma, receoso que o cenário de 1999 se repetisse, era evidente a necessidade da adoção de medidas preventivas urgentes para evitar uma crise de abastecimento. Três foram as principais vertentes para esta crise (CANESIN, 2001): 35 Geração: Defasagem existente entre o aumento da demanda e o incremento da oferta de energia; Transmissão: Inexistência de boa rede de interligação entre os sistemas de energia elétrica no Brasil, impedindo que o excedente de produção de certas regiões, como a Sul, pudesse ser aproveitado por outras regiões; Consumo: Intensificação do consumo de energia elétrica em todos os setores da sociedade, embora o país ainda o fosse 82o em consumo de energia elétrica por habitante e cerca de 20 milhões de domicílios brasileiros não tivessem acesso à energia. Desta forma foi criada pela Medida Provisória nº 2.147 de 15 de maio de 2001, a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica – GCE, responsável por “propor e implementar medidas de natureza emergencial decorrentes da atual situação hidrológica crítica para compatibilizar a demanda e a oferta de energia elétrica, de forma a evitar interrupções intempestivas ou imprevistas do suprimento de energia elétrica”, conforme redação dada pela Medida Provisória nº 2.198-5, de 24 de agosto de 2001. A crise energética que assolava o Brasil, a imposição de um programa de racionamento devido à redução da oferta de energia elétrica, aliada à probabilidade de ocorrência de blecautes, gerava grande inquietação por parte da sociedade e do mercado. Em 1o de junho de 2001, o governo foi obrigado a decretar o racionamento de energia no país (excetuando a região Sul). A GCE conduziu, além da gestão do racionamento, as políticas e programas setoriais, tais como (TOMALSQUIM, 2011): Programa estrutural e emergencial de aumento da oferta de energia; Programa de conservação e uso eficiente de energia; Revitalização do modelo do setor elétrico; Medidas para atenuar os efeitos econômicos e sociais do racionamento. Dentre as medidas do racionamento, destacaram-se a fixação de cotas de consumo pelo governo por grupo de consumidores, o aumento tarifário, os bônus para consumidores com consumo abaixo da meta e os cortes programados de energia. O racionamento de consumo de energia elétrica vigorou entre 01 de junho de 2001 e 28 de fevereiro de 2002, para os consumidores atendidos pelos Sistemas Interligados das Regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste; e entre 01 de julho de 2001 e 31 de dezembro 36 de 2001, para os consumidores dos Estados do Pará e do Tocantins e da parte do Estado do Maranhão atendida pelo Sistema Interligado Norte. Através do Decreto Presidencial de 22 de maio de 2001, foi criado a Comissão de Análise do Sistema Hidrotérmico de Energia Elétrica, cujo objetivo era avaliar a política de produção energética, bem como identificar as causas estruturais e conjunturais do desequilíbrio entre a demanda e a oferta de energia. As principais conclusões deste relatório são elencadas a seguir (ANA, 2001): Tabela 2 – Conclusões da Comissão de Análise do Sistema Hidrotérmico de Energia Elétrica Fator Avaliado Causa Existiu desequilíbrio entre oferta e demanda na partida da implementação do novo modelo para o Setor. A não implementação de obras de geração correspondeu por quase dois terços da energia não aportada, sendo o fator predominante para a ocorrência da crise de suprimento. As energias asseguradas que respaldaram os contratos iniciais foram superdimensionadas, resultando numa sinalização equivocada para a Fatores físicos e regulatórios contratação de nova geração. Houve falhas no processo de transição do modelo anterior – que identificou a necessidade de novos investimentos nos estudos de planejamento de expansão – para o novo modelo setorial. No novo ambiente, as Distribuidoras não tiveram razões para promover a expansão porque os Contratos Iniciais cobriram 100% do consumo previsto, sem que existisse respaldo físico adequado. Por sua vez, as Geradoras, embora expostas a perdas financeiras, tampouco investiram. Nenhuma instituição esteve encarregada de verificar a “lógica” global do processo e exercer a coordenação, entre as esferas de Fatores institucionais e normativos governo, na implementação da política energética, especialmente na transição para o novo modelo e no enfrentamento de crises. A regulação não se caracterizou por regras estáveis, claras e concisas de forma a criar um ambiente de credibilidade que tivesse propiciado o investimento contemplando, ao mesmo tempo, o 37 interesse do consumidor. Faltou a percepção dos agentes, públicos e privados, de que os contratos seriam honrados. A legislação existente algumas vezes era vaga e conflitante. Nem sempre definia com clareza as atribuições de cada instituição e nem alocava responsabilidades específicas na gestão do Setor. Fonte: (ANA, 2001). Além disso, a privatização e a restrição ao investimento das Empresas Estatais fez a reestruturação do setor anteceder a desregulamentação. Adicionalmente a escassez de oferta, agravada pela ausência de investimentos na expansão da geração, inviabilizou a competição nas atividades de geração e comercialização, ou seja, abalou os próprios fundamentos do modelo estava sendo implantado (TOMALSQUIM, 2011). As consequências da crise do racionamento, que ficou conhecida popularmente como APAGÃO, foram muito além do prejuízo direto calculado em R$ 45 bilhões. A atividade econômica teve redução significativa, a taxa de crescimento da economia caiu de 4,3% no ano de 2000 para 1,3% em 2001, e com ela vieram os problemas como desemprego, redução da competitividade do produto nacional, diminuição do ritmo arrecadatório, entre outros, a conclusão é que a população brasileira sofreu com o racionamento de energia (TCU, 2009). Após as motivações apresentadas ficou latente não só ao governo, mas a sociedade brasileira, a necessidade de uma reestruturação do modelo setorial, que de fato veio a ocorrer nos anos seguintes. 2.2 NOVO MODELO DO SETOR ELÉTRICO O racionamento de 2001 mostrou a necessidade da revisão do modelo institucional do setor. Desta forma durante os anos de 2003 e 2004 o governo federal lançou as bases de um novo modelo para o Setor Elétrico Brasileiro, sustentado pelas Leis nº 10.847 e 10.848, de 15 de março de 2004; e pelo Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004. O novo modelo do setor elétrico visa atingir três objetivos principais: Garantir a segurança do suprimento de energia elétrica; Promover a modicidade tarifária; 38 Promover a inserção social no Setor Elétrico Brasileiro, em particular pelos programas de universalização de atendimento. Modicidade da tarifa é uma tarifa acessível para todos os cidadãos, isto é, para que com o salário mínimo consiga se pagar energia, água, telefone, alimentação. Coisas fundamentais para o bem estar do indivíduo, ou seja, o menor custo possível para o consumidor. As bases do Novo Modelo são (MME, Modelo Institucional do Setor Elétrico, 2003): A competição na geração com a licitação da energia pelo critério de menor tarifa; A coexistência de dois ambientes de contratação de energia, um regulado (Ambiente de Contratação Regulada – ACR), protegendo o consumidor cativo, e outro livre (Ambiente de Contratação Livre – ACL), estimulando a iniciativa dos consumidores livres; A instituição de um pool de contratação regulada de energia a ser comprada pelos concessionários de distribuição; Garantir o equilíbrio entre a oferta e a demanda por energia, de forma que o consumidor não seja onerado pela falta ou pelo excesso de energia. Recuperação da função de planejamento do Estado e sua capacidade de formular a política de energia para o país; A criação de novos agentes institucionais, além da alteração e reforços nos papeis de alguns agentes existentes. Entre os novos agentes institucionais foram criados a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), pelo Decreto no 5.184 de 2004, que representa a retomada do planejamento setorial. A criação pelo Decreto no 5.177 de 2004 da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) que sucedeu ao Mercado Atacadista de Energia (MAE) que entre outras atividades assumiu o papel de administrar os contratos de compra de energia para atendimento aos consumidores regulados e livres. E finalmente, através do Decreto no 5.195 de 2004, a criação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) instituído no âmbito do MME, com a função de avaliar permanentemente a segurança de suprimento. A Tabela 3 apresenta um quadro comparativo contendo um resumo das principais mudanças ocorridas nos Modelos do Setor Elétrico Brasileiro. 39 Tabela 3 – Comparativo dos Modelos do Setor Elétrico Brasileiro Modelo de Livre Mercado (1995 a Modelo Antigo (até 1995) 2003) Novo Modelo (2004) Financiamento através de recursos públicos Financiamento através de recursos públicos e privados Financiamento através de recursos públicos e privados Empresas verticalizadas Empresas divididas por atividade: geração, transmissão, distribuição e comercialização Empresas divididas por atividade: geração, transmissão, distribuição, comercialização, importação e exportação. Empresas predominantemente Estatais Abertura e ênfase na privatização das Empresas Convivência entre Empresas Estatais e Privadas Competição na geração e comercialização Consumidores Livres e Cativos Competição na geração e comercialização Consumidores Livres e Cativos Tarifas reguladas em todos os segmentos Preços livremente negociados na geração e comercialização No ambiente livre: Preços livremente negociados na geração e comercialização. No ambiente regulado: leilão e licitação pela menor tarifa Mercado Regulado Mercado Livre Convivência entre Mercados Livre e Regulado Planejamento Determinativo - Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Elétricos (GCPS) Planejamento Indicativo pelo Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão dos Sistemas Eétricos (CCPE) Planejamento pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) Contratação: 100% do Mercado Contratação : 85% do mercado (até agosto/2003) e 95% mercado (até dez./2004) Contratação: 100% do mercado + reserva Sobras/déficits do balanço energético rateados entre compradores Sobras/déficits do balanço energético liquidados no MAE Sobras/déficits do balanço energético liquidados na CCEE. Mecanismo de Compensação de Sobras e Déficits (MCSD) para as Distribuidoras. Monopólios - Competição inexistente Consumidores Cativos Fonte: (CCEE, Setor Elérico, 2013). O Gráfico 3 apresenta a evolução da capacidade e do consumo de energia elétrica no período 1989 até 2011, mostrando que o Novo Modelo proporcionou a retomada do crescimento da capacidade instalada do setor, que acompanha desde então o crescimento do consumo de energia. 40 Gráfico 3 – Evolução da capacidade e do consumo de energia elétrica no SIN: 1989-2011 Capacidade e Consumo no SIN (%) - Ano Base: 1989 250% 230% 210% 190% 170% 150% 130% 110% 90% 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Capacidade Consumo Fonte: (EPE, 2012). Desta forma o Novo Modelo do setor elétrico buscou reforçar duas vertentes: a reestruturação da competição na geração e a retomada do planejamento no setor, estes são dois pontos cruciais no tocante a evolução da fonte eólica no Brasil, que será exposta em capitulo específico. O significado e o detalhamento das modificações trazidas pelo Novo Modelo serão abordados mais profundamente nos tópicos a seguir. 2.3 AGENTES ECONÔMICOS E INSTITUCIONAIS DO SETOR Atuam no setor elétrico brasileiro diversos agentes, com objetivos, prerrogativas e atribuições distintos. 41 2.3.1 Agentes Institucionais Os Agentes institucionais são os que detêm competências e atribuições relacionadas às atividades políticas, regulatórias, fiscalizatórias, de planejamento e viabilização do funcionamento setorial. A Figura 4 apresenta os agentes institucionais e suas relações. Figura 4 – Principais instituições do setor elétrico Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). De acordo com o Submódulo 1.1 dos Procedimentos de Rede (ONS, 2013), o Conselho Nacional de Política Energética – CNPE é o órgão de assessoramento do Presidente da República para a formulação de políticas nacionais e diretrizes de energia voltadas, entre seus objetivos, para o aproveitamento racional dos recursos energéticos do país, a revisão periódica da matriz energética e o estabelecimento de diretrizes para programas específicos. É órgão interministerial presidido pelo Ministro de Minas e Energia – MME. O MME encarrega-se da formulação, do planejamento e da implementação de ações do governo federal no âmbito da política energética nacional. Também é responsável por monitorar a segurança do suprimento do setor elétrico brasileiro e por definir ações 42 preventivas para restauração da segurança de suprimento no caso de desequilíbrios conjunturais entre oferta e demanda de energia (MME, 2013). A Empresa de Pesquisa Energética – EPE é uma empresa pública federal dotada de personalidade jurídica de direito privado e vinculada ao MME. Tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético. Elabora os planos de expansão da geração e transmissão da energia elétrica. O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE é constituído no âmbito do MME e está sob sua coordenação direta, com a função precípua de acompanhar e avaliar permanentemente a continuidade e a segurança do suprimento eletroenergético em todo o território nacional. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, sob regulação e fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, que tem a finalidade de viabilizar a comercialização de energia elétrica no SIN e de administrar os contratos de compra e venda de energia elétrica, sua contabilização e liquidação. A ANEEL é uma autarquia sob regime especial, vinculada ao MME, que tem a finalidade de regular e fiscalizar a produção, a transmissão, a distribuição e comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal. As alterações promovidas em 2004 pelo atual modelo do setor estabeleceram como responsabilidade da ANEEL, direta ou indiretamente, a promoção de licitações na modalidade de leilão para a contratação de energia elétrica pelos agentes de distribuição do Sistema Interligado Nacional - SIN. Desde então, a ANEEL tem delegado a operacionalização desses leilões à CCEE (CCEE, 2013). O Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, por sua vez, é uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, autorizado a executar as atividades de coordenação e controle da operação da geração e da transmissão de energia elétrica, no âmbito do SIN. O ONS tem como objetivos principais o atendimento dos requisitos de carga, a otimização de custos e a garantia de confiabilidade do sistema. Outra responsabilidade da instituição é a definição das condições de acesso à malha de transmissão em alta-tensão do país (ONS, 2013). Os agentes relacionados com a operação do SIN não constam na figura anterior, porém se relacionam direta ou indiretamente com todas as instituições apresentadas. Ao abordar o ONS e o setor elétrico, é importante a definição de dois importantes tópicos: o Sistema Interligado Nacional – SIN e os Procedimentos de Rede. 43 2.3.1.1 Sistema Interligado Nacional (SIN) O SIN é constituído pelas instalações responsáveis pelo suprimento de energia elétrica a todos os sistemas regionais do país, interligados eletricamente. Este sistema é composto de um sistema hidrotérmico, em sua maioria usinas hidrelétricas, normalmente localizadas longe dos centros de carga, e por extensa malha de transmissão, que abrange as empresas das regiões geoelétricas Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Ao realizar as atividades de coordenação e controle da operação da geração e da transmissão de energia elétrica do SIN, o ONS busca o ótimo sistêmico, compatibilizando a otimização energética com a segurança elétrica e com a continuidade do suprimento energético (ONS, 2013). A Figura 5 apresenta o Mapa do SIN, onde pode ser notado seu tamanho e características que permitem considerá-lo único em âmbito mundial. Apenas 3,4% da capacidade de produção de eletricidade do país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados principalmente na região amazônica (ONS, 2013). 44 Figura 5 – Mapa do SIN – Integração Eletroenergética no Brasil Fonte: (ONS, Operador Nacional do Sistema Elétrico, 2013). 2.3.1.2 Procedimentos de Rede O ONS tem como atribuições legais o desempenho de atribuições com neutralidade, transparência, integridade, representatividade, flexibilidade e razoabilidade, e os resultados de seus estudos devem ser reprodutíveis pelos agentes. Para atender estes quesitos, foram elaborados pelo ONS com a participação dos agentes e aprovados pela ANEEL um conjunto de normas e regulamentos do setor, visando 45 orientar os requisitos básicos do sistema elétrico brasileiro. Este conjunto de documentos é intitulado Procedimentos de Rede (PR). A Figura 6 ilustra a conjugação dos Procedimentos de Rede com as macrofunções finalísticas e com os resultados da operação. Também apresenta o funcionamento das atualizações dos Procedimentos de Rede decorrentes dos resultados da operação, da regulamentação vigente e da melhoria dos produtos e processos do ONS. Figura 6 – Relação dos Procedimentos de Rede com as macrofunções finalísticas do ONS e com os resultados da operação Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). Os Procedimentos de Rede são divididos em módulos, cada um abrangendo um tema específico, cada módulo contendo seus submódulos, desta forma os 26 módulos dos Procedimentos de Rede englobam os seguintes temas: Tabela 4 – Módulos dos Procedimentos de Rede Módulo 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Descrição Módulos funcionais dos Procedimentos de Rede Requisitos mínimos para instalações e gerenciamento de indicadores de desempenho da rede básica e de seus componentes Acesso aos sistemas de transmissão Ampliações e reforços Consolidação da previsão de carga Planejamento e programação da operação elétrica Planejamento da operação energética Programação diária da operação eletroenergética Recursos hídricos e meteorologia Manual de Procedimentos da Operação Proteção e controle 46 12 13 14 15 16 21 22 25 26 24 1 18 19 20 23 Medição para faturamento Telecomunicações Administração dos serviços ancilares Administração de serviços e encargos de transmissão Acompanhamento de manutenção Estudos para reforço da segurança operacional elétrica, controle sistêmico e integração de instalações Análise de ocorrências e perturbações Apuração dos dados, relatórios da operação do Sistema Interligado Nacional e indicadores de desempenho Modalidade de operação de usinas Módulo multifuncional dos Procedimentos de Rede Processo de integração de instalações Módulos complementares dos Procedimentos de Rede O Operador Nacional do Sistema Elétrico e os Procedimentos de Rede Sistemas e modelos computacionais Identificação, tratamento e penalidades para as não-conformidades Glossário de termos técnicos Critérios para estudos Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). Os submódulos de principal interesse nesse trabalho são os submódulos 3.6, que entre outros temas apresenta os requisitos técnicos mínimos para a conexão de Parques Eólicos à Rede Básica, e o submódulo 23.3, que aborda as diretrizes e critérios para estudos elétricos. Os requisitos destes submódulos serão apresentados e debatidos posteriormente, no Capitulo 4. 2.3.2 Agentes Econômicos Os agentes econômicos são os que detêm concessão, permissão ou autorização para a exploração de atividade econômica de geração, transmissão, distribuição ou comercialização de energia elétrica e aqueles que são consumidores de energia. Desse modo estes agentes atuam com título da União, sob constante regulação e fiscalização do Estado. Neste trabalho serão abordados os Agentes de Geração e Transmissão. A atividade de geração é considerada competitiva, para o consumidor não importa necessariamente saber se a energia consumida veio do sudeste ou se veio de poucos 47 quilômetros do ponto de consumo. Os Agentes de Geração podem vender energia tanto no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) quanto no Ambiente de Contratação Livre (ACL). Existem três regimes aplicados a geração: Serviço Público, Autoprodução ou Produtor Independente de Energia. Basicamente o Regime de Serviço Público aplica-se às concessões e aos demais atos de outorga do Poder Concedente, o Regime de Autoprodução refere-se aos geradores de energia que recebem concessão ou autorização para produzirem para consumo próprio. O Regime de Produção Independente trata dos geradores que possuem concessão ou autorização para produzir energia elétrica destinada ao comércio de toda ou parte dela por sua conta e risco. A atividade de transmissão, em contraponto a geração, é considerada um monopólio natural, desta forma é uma atividade fortemente regulada pela ANEEL. Os Agentes de Transmissão são agentes concessionários, que celebram contratos de concessão de serviço público com o Estado. A receita é proveniente basicamente de encargos de uso do sistema pagos pelos usuários (distribuidores, consumidores livre, geradores, etc), este conjunto de encargos é calculado pela ANEEL e forma a Receita Anual Permitida (RAP) dos transmissores. 2.4 PLANEJAMENTO DO SISTEMA ELÉTRICO O planejamento no setor elétrico envolve a determinação da estratégia de expansão que permita atender futuras demandas de energia elétrica. Esta expansão deve minimizar os custos da ampliação do sistema, mantendo a segurança da operação. Os órgãos responsáveis pela atividade de planejamento do setor são a EPE e o ONS, embora cada órgão tenha suas atividades bem delimitadas no novo modelo, existe uma complementaridade de atividades que motivam a troca de informações entre estes órgãos. A ANEEL, após a consolidação do MME, cabe a implementação e operacionalização do planejamento do setor elétrico. 48 2.4.1 Características do Sistema Elétrico Brasileiro Nesta seção serão apresentadas e discutidas no âmbito do SIN, a estrutural atual e as perspectivas de expansão planejada, para os sistemas de geração e transmissão. 2.4.1.1 Sistema de Geração Dados do Plano Decenal de Energia 2021, publicado pela EPE, informam que a capacidade instalada no SIN entre 2012 e 2021 deverá crescer 56% no período, passando de 116,5 GW para 182,4 GW. Um dos destaques deste ciclo de planejamento é o forte crescimento da fonte eólica, cuja capacidade instalada chegará, pelas projeções, a 16 mil MW ao final do horizonte, ultrapassando a capacidade da geração à biomassa, que terá 13 mil MW (EPE, 2013). O Gráfico 4 apresenta a evolução por fonte até 2021, com destaque para a manutenção do perfil fortemente renovável da matriz elétrica brasileira. Gráfico 4 – Evolução da capacidade instalada hidrotérmica do SIN (MW) Fonte: (EPE, Plano Decenal de Energia - PDE 2021, 2013). 49 A Tabela 5 resume a matriz elétrica brasileira em junho de 2013, e no Gráfico 5 é possível observar a predominância da geração hidrelétrica no sistema brasileiro. Tabela 5 – Brasil: capacidade instalada em geração por fonte Capacidade Instalada Tipo Total % N.° de Usinas 1.066 84.902.641 64,48 Natural 110 11.664.349 8,86 Processo 39 1.683.663 1,28 1.018 3.460.418 2,63 34 3.968.647 3,01 369 8.922.312 6,78 Licor Negro 14 1.257.182 0,95 Madeira 46 411.435 0,31 Biogás 19 74.388 0,06 Casca de Arroz 9 36.433 0,03 2 1.990.000 12 95 % N.° de Usinas 1.066 84.902.641 64,48 149 13.348.012 10,14 1.052 7.429.065 5,64 457 10.701.750 8,13 1,51 2 1.990.000 1,51 3.024.465 2,3 12 3.024.465 2,3 2.092.541 1,59 95 2.092.541 1,59 Paraguai 5.650.000 5,46 Argentina 2.250.000 2,17 Venezuela 200.000 0,19 8.170.000 6,2 Uruguai 70.000 0,07 Total 2.848 131.670.434 Fonte: (ANEEL, Banco de Informações Gerenciais, 2013). 100 2.848 131.670.434 10 Hidro Gás Óleo Diesel Petróleo Biomassa Nuclear Carvão Mineral Eólica Importação Óleo Residual Bagaço de Cana Carvão Mineral (kW) (kW) 50 Gráfico 5 – Brasil: distribuição capacidade instalada em geração por fonte 2,3% 1,6% 1,5% 6,2% 8,1% 5,6% 10,1% 64,5% Hidro Gás Petróleo Biomassa Nuclear Carvão Mineral Eólica Importação Fonte: (ANEEL, Banco de Informações Gerenciais, 2013). O país contará com um acréscimo de 31,7 mil MW de geração hidrelétrica. A região Norte é onde ocorrerá a maior expansão hidrelétrica, devido à entrada em operação de grandes empreendimentos, com destaque para a usina hidrelétrica de Belo Monte. Gráfico 6 – Evolução da participação regional na capacidade instalada do SIN Fonte: (EPE, Plano Decenal de Energia - PDE 2021, 2013). Dos 65.910 MW a serem acrescentados ao parque de geração até 2021, 61% já se encontra contratado através dos Leilões de Energia realizados pelo governo até 2011. A 51 parcela ainda a ser contratada, de acordo com o planejamento, virá principalmente de fontes renováveis (como hídrica e eólica). 2.4.1.2 Sistema de Transmissão A estrutura do SIN, conforme apresentado em capitulo anterior, é extensa e complexa. A Figura 7 apresenta a rede de transmissão horizonte 2013, em tensão acima de 230 kV, que em dezembro de 2011 totalizavam 101.237 km de extensão. Figura 7 – Mapa do SIN - Sistema de Transmissão Brasileiro Horizonte 2013 Fonte: (ONS, Operador Nacional do Sistema Elétrico, 2013). 52 A malha de transmissão de energia do país deverá se expandir em 47,7 mil km nos próximos 10 anos, atingindo uma extensão de 150,5 mil km em 2021. O maior acréscimo ocorrerá na rede de 500 kV, cuja extensão, ao final da década, será de 61,7 mil km. O modelo do segmento de transmissão propiciou um aumento significativo do sistema físico de transmissão, que apresentou um crescimento de aproximadamente 40 mil km de extensão das linhas da rede básica, representando um crescimento de cerca de 65% no período, desta forma a extensão das LTs da rede básica, de aproximadamente 65 mil km em 1999, atingiu a marca de 100 mil km em junho de 2011 (GOMES, 2012). 2.4.2 Planejamento da Expansão O planejamento da expansão tem por objetivo prever os comportamentos da demanda no longo prazo para poder adequar o crescimento da capacidade instalada em vista a manutenção da segurança do sistema elétrico. Pela concepção da matriz elétrica brasileira, com forte presença da matriz hidrelétrica, a metodologia envolve compromissos entre o uso imediato ou futuro do estoque da água. Desta forma o processo de planejamento envolve um processo de alta complexidade processual e computacional. O planejamento da expansão é capitaneado pela EPE, através das diretrizes do MME, e conta com forte interface com o ONS, responsável pelo planejamento da operação. Este processo de planejamento consiste essencialmente na concepção dos seguintes estudos resumidos na Tabela 6: Tabela 6 – Estudos de planejamento energético Tipo Horizonte Estudos Principais Longo prazo Plano Nacional de Energia Planejamento da (N + 30 anos) (PNE) Expansão Médio prazo Plano Decenal de Energia (N + 10 anos) (PDE) Planejamento da Médio prazo Operação (N + 5 anos) Planejamento Anual da Operação Energética (PEN) Periodicidade Aperiódico Anual Anual com revisões quadrimestrais Estudos de Apoio Critérios e metodologias Avaliação de recursos energéticos Estudos de prospecção tecnológica Estudos de inventário e viabilidade Critérios e metodologias Plano de ampliações e reforços (PAR) 53 Curto prazo Programas Mensais de (N + 1 ano) Operação (PMO) Semanal Estudos de séries hidrológicas Análise de desempenho operacional Fonte: (EPE, Empresa de Pesquisa Energética, 2013) As diretrizes do planejamento da expansão alimentam os planejamentos da operação, dando um caráter cíclico ao processo de planejamento. No PNE, com horizonte de 30 anos, a EPE realiza estudos de estratégias de expansão de fontes de energia e da rede elétrica, bem como prospecção tecnológica de geração e transmissão, esta em grandes distâncias. Considerando estratégias de longo prazo do PNE, no PDE, com horizonte de 10 anos, são estabelecidas alternativas de expansão ao parque gerador e das interligações regionais, incluindo reforços nos sistemas receptores. Todos estes documentos são públicos e estão disponíveis no portal da EPE www.epe.gov.br e do ONS www.ons.org.br. 2.4.2.1 Planejamento da Expansão da Transmissão O planejamento do sistema de transmissão consiste na busca das melhores alternativas de expansão da rede, com foco na modicidade tarifária, que possibilitem o escoamento da geração, o atendimento à carga e o livre acesso dos agentes do mercado à rede. Com base nas diretrizes do PNE e do PDE, são elaborados uma série de estudos pela EPE de alternativas e detalhamento de expansão do sistema de transmissão. Estes documentos são concebidos normalmente de forma regional e são intitulados de relatórios R1 – Estudos de viabilidade técnico-econômicos, que incluem analise técnica, socioambiental e econômica dos empreendimentos em expansão no setor. 54 Figura 8 – Fluxograma das diretrizes para elaboração dos relatórios técnicos R1 referentes às novas instalações de transmissão da Rede Básica Confirmar Empreendimento no PET Fonte: (EPE, 2005). Entre os empreendimentos contidos neste plano, os que estão no horizonte de cinco anos compõe o Programa de Expansão da Transmissão (PET), publicado anualmente pela EPE, contemplando o programa de obras elaborado a partir de estudos desenvolvidos pela EPE, em conjunto com os agentes do setor, através de Grupos de Estudos de Transmissão Regionais. Neste documento são apresentados todos os reforços e melhorias necessários ao sistema de transmissão para atendimento a expansão da rede básica do sistema elétrico brasileiro (EPE, 2013). Paralelamente, ONS em conjunto dos agentes, elabora o Plano de Ampliações e Reforços (PAR), com horizonte de três anos, onde são indicadas as adequações necessárias nas instalações de transmissão existentes com vistas a manter a operação do sistema elétrico segura e confiável, utilizando como referência as obras recomendadas nos estudos de planejamento. Estes dois documentos, PET e PAR, são as bases para o planejamento da expansão do sistema de transmissão do país. 55 2.4.2.2 Interfaces EPE-ONS As interfaces EPE-ONS nas etapas do processo de planejamento estão resumidas na Tabela 7. Tabela 7 – Interface EPE-ONS - Principais etapas no planejamento Planejamento da Expansão (EPE) Planejamento da Operação (ONS) Projeção do Mercado e Previsão da Carga Própria Projeções de mercado e carga no curto, Elaboração conjunta com a EPE das médio e longo prazos projeções de carga no primeiro quinquênio Planejamento da Geração Planejamento Anual da Operação Energética Plano Nacional de Energia (PNE): Horizonte (PEN): com revisões quadrimestrais, analisa de 30 anos, define as linhas mestras de as condições de atendimento do sistema no desenvolvimento do sistema horizonte quinquenal Plano Decenal de Energia (PDE): plano Programas Mensais de Operação (PMO): indicativo da geração para os próximos dez revisões semanais determina condições de anos, considera diretrizes do PNE e define atendimento, riscos de déficit, custos empreendimentos hidrelétricos e outros para marginais de operação no horizonte de curto os leilões de energia nova prazo Planejamento da Transmissão Plano Nacional de Energia (PNE): Horizonte de 30 anos, define as linhas mestras de desenvolvimento do sistema Plano Decenal de Energia (PDE): plano de Plano de Ampliações e Reforços (PAR): expansão da transmissão para próximos dez propões ajustes nas especificações das anos instalações de transmissão, a partir de Plano de Expansão da Transmissão (PET): aspectos conjunturais e de requisitos especifica com detalhes, num horizonte de específicos da operação do sistema, de modo cinco anos, as instalações de transmissão a reforçar e dar maior segurança operativa (linhas e subestações) a serem incluídas no programa de licitação da transmissão Restrições Ambientais e de Uso Múltiplo da água Articulação institucional com ANA (Lei no Projeto de hidrelétricas: considera restrições 9.984): define condições de operação de de uso múltiplo (SNGRH), regras operativas reservatórios; fornece regras operativas de de reservatórios e bacias (estabelecidas pela reservatórios e bacias hidrográficas com uso ANA e ONS) múltiplo de água Determinação e Revisão das Energias Asseguradas O MME, via EPE, define a energia Fornece informações sobre restrições de assegurada de novos aproveitamentos e transmissão e uso múltiplo da água, revisa a energia assegurada das usinas essenciais para o cálculo e a revisão dos existentes. Os valores de energia assegurada certificados de energia assegurada são usados pela CCEE na contabilização 56 comercial e pela EPE na análise das condições de suprimento Fonte: (TOMALSQUIM, 2011). 2.5 PROCESSO DE EXPANSÃO DO SISTEMA E A COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Concomitantemente as funções de planejamento e a partir da consolidação dos documentos apresentados, são adotadas as providências para execução das contratações que viabilizarão as obras de expansão do sistema elétrico. Estas atividades são de responsabilidade do MME e da ANEEL, que no âmbito da geração delegou a CCEE a execução dos leilões de energia. 2.5.1 Processo de Outorga de Concessão de instalações de Transmissão De acordo com o estabelecido na Lei no 9.074 de 1995, é atribuição do MME a responsabilidade de definir as instalações de transmissão que compõe a Rede Básica. A Resolução Normativa nº 67, de 8 de junho de 2004, emitida pela ANEEL estabeleceu critério para a composição de Rede Básica e das Demais Instalações de Transmissão (DITs): Art. 3° Integram a Rede Básica do Sistema Interligado Nacional - SIN as Instalações de Transmissão, definidas conforme inciso II do artigo anterior, que atendam aos seguintes critérios: I – linhas de transmissão, barramentos, transformadores de potência e equipamentos de subestação em tensão igual ou superior a 230 kV; e II – transformadores de potência com tensão primária igual ou superior a 230 kV e tensões secundária e terciária inferiores a 230 kV, bem como as respectivas conexões e demais equipamentos ligados ao terciário, a partir de 1° de julho de 2004. Art. 3°-A Não integram a Rede Básica e são classificadas como instalações de transmissão de energia elétrica destinadas a interligações internacionais aquelas definidas conforme art. 21 do Decreto nº 7.246, de 28 de julho de 2010. Art. 4° Não integram a Rede Básica e são classificadas como Demais Instalações de Transmissão, as Instalações de Transmissão que atendam aos seguintes critérios: 57 I – linhas de transmissão, barramentos, transformadores de potência e equipamentos de subestação, em qualquer tensão, quando de uso de centrais geradoras, em caráter exclusivo ou compartilhado, ou de consumidores livres, em caráter exclusivo; II – instalações e equipamentos associados, em qualquer tensão, quando de uso exclusivo para importação e/ou exportação de energia elétrica e não definidos como instalações de transmissão de energia elétrica destinadas a interligações internacionais; e III – linhas de transmissão, barramentos, transformadores de potência e equipamentos de subestação, em tensão inferior a 230 kV, localizados ou não em subestações integrantes da Rede Básica. Na prática compete ao MME a responsabilidade pela definição das novas obras de transmissão que comporão a expansão do sistema de transmissão. Isto acontece através da consolidação das obras indicadas pelo planejamento (EPE), através do PET, e pela operação (ONS), através do PAR. Desta consolidação resulta o Relatório de Consolidação de Obras, que é composto por três documentos: Consolidação de Obras dos Reforços de Pequeno Porte; Consolidação de Obras das Demais Instalações de Transmissão; Consolidação de Obras de Rede Básica. Deste modo, o setor elétrico brasileiro tem uma referência comum, com caráter determinativo, onde constam os empreendimentos que serão licitados, na modalidade de leilão, e do conjunto das obras que serão objetos de Resoluções Autorizativas (REAs) emitidas pela ANEEL. A Figura 9 apresenta resumidamente o processo de consolidação de obras de transmissão. 58 Figura 9 – Processo de consolidação de obras de transmissão Fonte: Autor. Para realização dos leilões das instalações de transmissão necessárias para expansão do sistema são elaborados em complemento aos relatórios “R1” anteriormente abordados, os seguintes relatórios: Relatório “R2” - Estudos de detalhamento da alternativa de referência; Relatório “R3” - Caracterização e análise socioambiental do corredor ou área selecionado para o empreendimento; Relatório “R4” - Caracterização da Rede Existente. A estruturação destes documentos é regulamentada pelo documento “Diretrizes para elaboração dos relatórios técnicos referentes às novas instalações da rede básica” publicado pela EPE (EPE, 2005). Estes documentos irão compor o edital do Leilão de Transmissão, vence o leilão a transmissora que oferecer a menor RAP para execução do empreendimento e assina um contrato de concessão por 30 anos. A Figura 10 apresenta o prazo médio de elaboração destes documentos e do processo de outorga de empreendimentos de Transmissão. 59 Figura 10 – Prazos médios de elaboração dos editais de Leilão e Outorga de empreendimentos de Transmissão Fonte: (MME, Consolidação de Obras 2013, 2013). Quando se trata de uma ampliação ou reforço em uma linha ou subestação com concessão definida, procede-se a autorização, onde compete a ANEEL, em interação com os agentes proprietários, o estabelecimento da RAP com base em seus custos modulares e do prazo para execução do empreendimento. 2.5.2 Ambientes de Contratação Para garantir a expansão da oferta, o governo instituiu a contratação obrigatória, antecipada e integral da demanda projetada dos distribuidores, e segmentou o mercado de demanda em dois ambientes: o Ambiente de Contratação Regulada (ACR) que compreende a contratação de energia para o atendimento aos consumidores regulados (consumo cativo dos distribuidores) por meio de contratos regulados com o objetivo de assegurar a modicidade tarifária e, o Ambiente de Contratação Livre (ACL) que compreende a contratação de energia para o atendimento aos consumidores livres, por intermédio de contratos livremente negociados. A Figura 11 apresenta uma visão geral do modelo de contratação. 60 Figura 11 – Visão geral do modelo de contratação Fonte: (MME, Modelo Institucional do Setor Elétrico, 2003). Ao permitir a efetiva competição no segmento de geração, o novo modelo possibilita que, por meio das licitações, sejam estabelecidos, no mercado, contratos de longo prazo entre quaisquer geradores e quaisquer distribuidores. Com isso, é fortalecido o mercado de energia elétrica, que passou a funcionar de forma mais aberta. Referente à viabilização de empreendimentos eólicos, este trabalho irá abordar os empreendimentos contratados através dos leilões de energia do ambiente regulado. 2.5.2.1 Ambiente de Contratação Regulada O novo modelo estabeleceu que as concessionárias (responsáveis pelo atendimento de mais de 60 milhões de unidades consumidoras), as permissionárias, e as autorizadas do serviço público de distribuição de energia do SIN devem garantir, por meio de licitação na modalidade de leilões, o atendimento à totalidade de seu mercado no ACR. À ANEEL cabe a regulação das licitações para contratação de energia elétrica e a realização do 61 leilão diretamente ou por intermédio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Os leilões de energia ocorrem com periodicidade anual e são subdivididos em duas categorias principais: os leilões de energia existente e os leilões de energia nova. Esta distinção existe principalmente com relação à expectativa quanto à diferença de preços, pois empreendimentos novos precisam amortizar os investimentos da construção da usina, enquanto de empreendimentos existentes em geral se limitam a custos de operação e manutenção. Desta forma caso estas fontes competissem num mesmo leilão poderia haver desigualdade na competição e ser comprometida a expansão do sistema. O Novo Modelo instituiu também um critério pelo ano de inicio de entrega de energia, cinco a três anos antes (A-5 e A-3) são realizados os leilões para contratar energia nova, essa escolha de formatação leva em consideração os prazos médios de construção de usinas hidrelétricas de grande porte (5 anos) e de usinas termelétricas (3 anos). A Figura 12 resume os eventos de contratação e o prazo de realização dos certames. Figura 12 – Eventos de contratação de energia no ACR Fonte: Autor (2013). Antes da realização dos leilões, as distribuidoras registram inicialmente a quantidade de energia que necessitam contratar. As demandas individuais são agregadas constituindo-se o pool comprador de energia elétrica. Desta forma, todas as distribuidoras são representadas por esse pool de energia que irá, por sua vez, adquirir em leilão o somatório das quantidades solicitadas de energia por cada distribuidora. Os custos advindos da compra de energia elétrica em leilão são representados por um único custo médio ponderado de aquisição 62 que é único para cada participante do pool. Desta maneira, as distribuidoras desembolsarão uma quantia equivalente à quantidade de energia solicitada, multiplicada pelo preço médio de aquisição do pool de energia (MARTINS, 2008). Este mecanismo socializa os ganhos de comercialização entre as distribuidoras garantindo, por exemplo, que todas as distribuidoras, independentemente da região de atuação ou da escala, se deparem exatamente com os mesmos custos de contratação por unidade de energia. Sendo assim, todo o processo competitivo do leilão é transferido para o lado da oferta. Os empreendedores com seus respectivos projetos de geração são classificados em ordem crescente de acordo com o preço a que estão dispostos a fornecer energia no futuro. Cabe ressaltar que normalmente este procedimento é feito separadamente, de acordo com a fonte de energia do empreendimento (MARTINS, 2008). Os estudos do PDE são a principal referencia para potenciais investidores em projetos de geração, nele são ordenados os aproveitamentos hidrelétricos disponíveis no país, no caso das demais fontes, cabe ao investidor preparar e submeter sua proposta de investimento à EPE, que cadastra e habilita tecnicamente os projetos para participar em cada leilão. Figura 13 – Contratação de energia nova no ACR: etapas Fonte: (TOMALSQUIM, 2011). 63 Em termos metodológicos, o Brasil adotou os leilões com o critério de menor preço, ou seja, as empresas vencedoras são as que oferecem energia pelo menor valor. Esta sistemática vem sendo bem-sucedida durante anos, sendo marcada pela concorrência. O fator que distingue a quantidade de energia a ser demandada a partir da fonte é um parâmetro estabelecido pelo MME, que fixa uma fração de energia elétrica mínima a ser demandada de fontes de geração termelétrica e em fontes advindas de energia alternativa (solar, eólica, dentre outras), com o intuito de diversificar a matriz energética nacional no longo prazo de tal maneira a atingir os objetivos de diversificação estabelecidos no PDE. Para os geradores, os leilões de energia nova representam uma oportunidade de venda garantida de energia, assegurada pelos contratos futuros de longo prazo, antes mesmo que o empreendimento tenha saído do papel. Isto implica em uma redução dos riscos e incertezas associadas ao projeto e, contribui, consequentemente, para a redução dos custos de geração de energia elétrica, uma vez que os investidores exigirão uma taxa interna de retorno proporcionalmente mais baixa para a construção do projeto (MARTINS, 2008). Desta maneira, as distribuidoras, via o pool comprador, podem cobrir a maior parte de suas necessidades de contratação de energia nova. Adicionalmente o governo adota modalidades de leilões específicas como os Leilões de Fontes Alternativas onde são negociados empreendimentos exclusivamente de fontes alternativas, sendo estes de energia eólica, PCHs, bagaço de cana, etc, e os Leilões de Energia de Reserva, um mecanismo de contratação da energia criado para aumentar a segurança no fornecimento de energia elétrica do SIN, com energia proveniente de usinas especialmente contratadas para esta finalidade, neste caso as fontes e a demanda a serem contratadas são definidas pelo próprio governo(CCEE, Setor Elérico, 2013). A Figura 14 resume as possibilidades de contratação no ACR. 64 Figura 14 – Possibilidade de contratação no ACR Fonte: ANEEL. 65 3 ENERGIA EÓLICA No mundo prevalece a utilização das fontes convencionais de energia, de origem não renovável, que possuem tecnologia e aplicação difundida. Porém frente às políticas globais de desenvolvimento sustentável, é crescente o movimento global pela maior participação na matriz de geração de fontes renováveis de energia. Energia renovável é a originada de recursos naturalmente reabastecidos como sol, vento, chuva, marés e energia geotérmica. Estimativas do Renewable Energy Policy Network for the 21st Century – REN21 dão conta que aproximadamente 20,3% da energia consumida no mundo no ano de 2011 foram oriundas de fontes renováveis. As energias renováveis representaram neste mesmo ano cerca de metade da nova potência instalada no mundo, estimada em 208 GW, sendo que dentre as renováveis as eólicas representaram 30%. No final de 2011 a potência total de renováveis no mundo excedeu os 1.360 GW, um crescimento de 8% em relação a 2010 (REN21, 2012). Dentre as fontes de energia renovável destaca-se nos últimos anos no Brasil a Energia Eólica, que é aquela gerada pelo vento. Esta energia já era utilizada na antiguidade, para mover moinhos, bombeamento de águas, movimentar embarcações, etc, porém sua aplicação na geração de energia foi iniciada somente no final do século XIX e com maior dedicação e escala comercial posterior à crise de petróleo na década de 1970 (SHEPHERD, 1990). Atualmente a fonte vem crescendo face sua concepção limpa, valores atrativos e a relativa facilidade de implantação frente, por exemplo, aos grandes impactos sociais e ambientais dos reservatórios das usinas hidrelétricas. A energia eólica deriva da conversão da energia cinética do vento em energia mecânica através de um rotor e posteriormente em energia elétrica através de um gerador. O vento é uma variável aleatória, desta forma seu emprego como energia exige a utilização de uma analise probabilística. Assim, em função do vento não ter um caráter determinístico e da impossibilidade do seu armazenamento, esta fonte deve ser encarada como complementar as demais que compõe a matriz de energia (CUSTÓDIO, 2009). Segundo o Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito, os componentes de um sistema eólico são fundamentalmente os seguintes (CEPEL, 2013): 66 Vento: Disponibilidade energética do local destinado à instalação do sistema eólico. Rotor: Responsável por transformar a energia cinética do vento em energia mecânica de rotação. Transmissão e Caixa Multiplicadora: Responsável por transmitir a energia mecânica entregue pelo eixo do rotor até a carga. Alguns geradores não utilizam este componente; neste caso, o eixo do rotor é acoplado diretamente à carga. Gerador Elétrico: Responsável pela conversão da energia mecânica em energia elétrica. Mecanismo de Controle: Responsável pela orientação do rotor, controle de velocidade, controle da carga, etc. Torre: Responsável por sustentar e posicionar o rotor na altura conveniente. Sistema de Armazenamento: Responsável por armazenar a energia para produção de energia firme a partir de uma fonte intermitente. Transformador: Responsável pelo acoplamento elétrico entre o aerogerador e a rede elétrica. É importante observar que o rendimento global do sistema eólico relaciona a potência disponível do vento com a gerada pelo sistema, esta relação é dada pelo Máximo de Betz ou Coeficiente de Betz, onde se calcula que teoricamente no máximo 59,3% da potência disponível do vento pode ser transformada em energia pela turbina eólica. Na prática, o rendimento aerodinâmico das pás e as perdas de cada componente, impactam e reduzem ainda mais este percentual (CEPEL, 2013). Neste capítulo serão abordadas principalmente as tecnologias utilizadas nos aerogeradores, já que sua concepção quando da integração a rede impacta diretamente nos efeitos da energia eólica no sistema elétrico. 3.1 AEROGERADORES Os aerogeradores são os principais componentes de um sistema eólico. O aerogerador é um conversor de energia, sendo o equipamento responsável pela produção de energia elétrica a partir da energia cinética do vento. Os seus principais componentes são a turbina eólica e o gerador elétrico, a Figura 15 apresenta uma visão sintética das partes do aerogerador. 67 Figura 15 – Visão sintética das partes do aerogerador Fonte: (WOBBEN, 2013). A turbina eólica, acionada pelo vento produz uma rotação, em torno do eixo do rotor da turbina eólica, convertendo a energia cinética do vento em energia mecânica, em alguns modelos de aerogeradores existe um multiplicador mecânico que compatibiliza a rotação da turbina eólica com a rotação do gerador. Posteriormente a turbina eólica ao girar o eixo do gerador elétrico, converte a energia mecânica em energia elétrica por eletromagnetismo. Existem dois tipos de geradores, os síncronos e os assíncronos. A tensão trifásica fornecida por um aerogerador com potência inferior a 1 MW situa-se entre 400 e 690 V, as máquinas com potências maiores geram tensões aproximadas de 2.400 V. Em ambos os casos um transformador elevador compatibiliza a tensão com a rede de distribuição do parque, normalmente operando em 34,5 kV (PAVINATTO, 2005). A Figura 16 apresenta um esquema geral do funcionamento de um aerogerador. 68 Figura 16 – Esquema geral de funcionamento de um aerogerador Fonte: (PAVINATTO, 2005). A seguir serão detalhados os demais componentes de um aerogerador e os seus princípios de funcionamento elétrico. 3.1.1 Componentes de um Aerogerador Um aerogerador é composto por diversos componentes e sistemas, os componentes mais usuais de um aerogerador com turbina de eixo horizontal conforme apresentados na Figura 17 são: (1) pás do rotor; (2) cubo do rotor; (3) estrutura que suporta os principais componentes do aerogerador; (4) rolamento do eixo de baixa velocidade; (5) eixo de baixa velocidade; (6) caixa de velocidade; (7) disco de travão, que assegura a imobilização do equipamento quando vento sopra fora do vento de operação da turbina; (8) acoplamento mecânico; (9) gerador; (10) permuta de calor para arrefecimento da caixa de velocidade; (11) ventiladores para arrefecimento do gerador; (12) anemômetros e cata-ventos para medir velocidade e direção do vento para fins de controle; (13) sistema de supervisão e controle; (14) sistema hidráulico que controla a pressão do sistema de travamento do rotor e o 69 mecanismo de rotação da turbina; (15) mecanismo de rotação da turbina; (16) rolamento do mecanismo de rotação; (17) nacele; (18) torre; (19) sistema de controle e ajuste das pás. Figura 17 – Partes de um aerogerador Fonte: (NORDEX, 2009). As pás são perfis aerodinâmicos responsáveis pela interação com o vento, são feitas de fibra de vidro reforçadas com epóxi e/ou madeira. Em função da velocidade do vento que atua na turbina, quando a velocidade da turbina excede a nominal, uma importante função das pás é atuar no controle de potência e velocidade. Existem três tipos de controle utilizados: controle por estol (stall control) ativo e passivo e, controle de passo (pitch control) (CUSTÓDIO, 2009). O controle por estol passivo reage à velocidade do vento, as pás do rotor são fixas e não podem ser reguladas no seu sentido longitudinal. Já o controle por passo as pás podem ser reguladas para cima em ângulos que variam de 0o a 90o limitando a potência capturada do vento, o controle por estol ativo atua da mesma forma, porém as pás são reguladas para baixo (ACKERMANN, 2005). 70 Gráfico 7 – Curva de potência típica de um aerogerador com controle tipo estol Fonte: (CEPEL, 2013). Gráfico 8 – Forma típica de uma curva de potência de um aerogerador com controle de passo Fonte: (CEPEL, 2013). A Nacele é a carcaça montada sobre a torre, onde se situam o gerador, caixa de acoplamento, sistemas de controle e demais equipamentos que ficam posicionados no alto da torre. Seu tamanho e desenho variam conforme modelo, fabricante, concepção, disposição dos equipamentos, etc. 71 Figura 18 – Nacele em fábrica Fonte: (GAMESA, 2013). A torre tem a função de posicionar a turbina na altura conveniente em função do vento e da determinação do projeto, pode ser construída em anéis tubulares de concreto ou, em estrutura metálica cônica ou treliçada. As alturas podem ser superiores a 100 metros em alguns casos. A seguir são detalhados dois importantes componentes do aerogerador: a turbina eólica e o gerador. 3.1.2 Turbinas Eólicas A turbina eólica é composta pelo cubo do rotor (“hub”) e pás, conforme informado anteriormente é o componente que converte a energia cinética em energia mecânica. Existem dois tipos básicos de rotores: os de eixo vertical e os de eixo horizontal (Figura 19). Diferindo em seu custo relativo de produção, eficiência, e na velocidade do vento em que têm sua maior eficiência. 72 Figura 19 – Topologias usuais de rotores eólicos: (a) Turbina de eixo vertical (b) Turbina de eixo horizontal Fonte: (BIANCHI, 2007). Os rotores de eixo vertical não possuem mecanismos direcionais e são geralmente mais baratos que os de eixo horizontal, têm a vantagem de o gerador ficar no solo, mas seu desempenho é inferior. As turbinas Savonius e Darrieus são exemplos deste tipo de concepção (CUSTÓDIO, 2009). O rotor do tipo Savonius é movido principalmente pela força de arrasto do ar, sendo usado em bombeamento e moagem. 73 Figura 20 – Rotor do tipo Savonius Fonte: Flickr, Toshihiro Oimatsu, 2006. O rotor do tipo Darrieus é utilizado na geração de energia elétrica, funciona através de força de sustentação tendo assim uma eficiência melhor que a do rotor savonius, nesta maquina o gerador é instalado no solo facilitando sua manutenção (CUSTÓDIO, 2009). Figura 21 – Rotor Darrieus Fonte: (HEMAMI, 2012). Os rotores de eixo horizontal são os mais conhecidos e mais utilizados, devido sua maior eficiência que compensam seu maior custo. Nestes rotores o aerogerador fica 74 perpendicular à direção do vento capturando assim o máximo de sua energia. Os rotores de eixo horizontal possuem configurações com diferentes tipos e quantidades de pás, sendo os rotores tripás tradicionalmente utilizados para geração de energia em grande escala. Os rotores com duas pás são mais eficientes, porém são instáveis e sujeitos a turbulências, diferente dos rotores de 3 pás que apresentam comportamento mais estável, possibilitando a construção de aerogeradores com mais de 100 metros de altura e capacidade de geração de energia que podem ser superiores a 6 MW. Nestes equipamentos o gerador fica localizado dentro da nacele, no alto da torre. Figura 22 – Aerogerador com rotor tripás Fonte: (ELETROSUL, 2013). 3.1.3 Geradores Geradores são equipamentos que convertem a energia mecânica de rotação em energia elétrica, através dos princípios do eletromagnetismo. Este é um problema tecnologicamente dominado e existem diversos fabricantes de geradores elétricos no mercado. 75 Porém em função principalmente das variações de velocidade do vento e exigências de frequência e tensão constantes na energia a ser integrada a rede, os geradores utilizados no sistema de conversão eólica são um problema a ser observado (CEPEL, 2008). Existem diversos tipos de geradores, porém os comumente aplicados em aerogeradores são os geradores de indução (ou assíncrono) ou os geradores síncronos. 3.1.3.1 Gerador de Indução (Assíncrono) Aerogeradores tradicionalmente utilizavam geradores assíncronos em sua concepção, eles têm construção simples e barata e dispensam dispositivos de sincronismo (CEPEL, 2008). Esta máquina de indução opera como gerador quando ligada a rede de alimentação e operada a uma velocidade superior a velocidade síncrona, desta forma a tensão gerada tem a mesma amplitude e frequência da tensão da rede que o gerador está ligado. Portanto a frequência da rede determina a rotação do gerador e, assim da turbina. Sua desvantagem são as altas correntes de partida e sua demanda por potência reativa (CUSTÓDIO, 2009). 3.1.3.2 Gerador Síncrono Os geradores síncronos são utilizados em usinas elétricas em geral, o nome síncrono se deve ao fato da máquina operar com uma velocidade de rotação constante sincronizada com a frequência da tensão elétrica alternada aplicada aos seus terminais, ou seja, devido ao movimento igual de rotação, entre o campo girante e o rotor é chamado de máquina síncrona. Desta forma o gerador produz energia elétrica a uma frequência constante. No caso de aerogeradores, a turbina tem a rotação variável em função da velocidade do vento, o que exige alternativas tecnológicas como o uso de conversores para adequação da energia gerada. 76 Tradicionalmente se utilizavam geradores de indução em maquinas eólicas, mais baratos e de concepção simplificada. Porém a medida que a energia eólica tem se desenvolvido, a utilização de geradores síncronos tem se ampliado e é uma tendência em aerogeradores de grande porte, já que produzem uma energia elétrica de melhor qualidade, permitindo controle da frequência, da tensão e das potências ativa e reativa (CUSTÓDIO, 2009). 3.1.4 Topologias dos Aerogeradores: Controle de Frequência A energia elétrica gerada por um aerogerador deve ser na frequência padronizada da rede, no caso brasileiro a frequência padronizada é de 60 Hz. Como a frequência de geração varia com a rotação do gerador, e esta varia com relação à rotação da turbina afetada por uma variável sem controle: o vento, o controle de frequência exige soluções complexas (CUSTÓDIO, 2009). Os aerogeradores podem ser divididos em dois tipos quanto a sua topologia: os operados com velocidade constante e os operados com velocidade variável. 3.1.4.1 Aerogeradores de Velocidade Constante No inicio dos anos 1990 o padrão de aerogeradores instalados no mundo eram os de velocidade constante, em conjunto com o controle por estol eles possuem uma longa e bem sucedida história na geração eólica. Trata-se da maneira mais simples de operar um aerogerador, utiliza-se um gerador assíncrono conectado diretamente a rede, com o sincronismo do motor de indução, o rotor opera com velocidade praticamente constante porque o sistema elétrico mais forte, mantém a frequência do gerador, e assim a velocidade do rotor. Devido a esta operação em velocidade constante, as variações no torque da turbina (vento) são transformadas em variações de potencia entregues a rede elétrica (ACKERMANN, 2005). 77 Este aerogeradores tem vantagem de serem simples, baratos, confiáveis e terem sua tecnologia comprovada. Devido a esta rígida vinculação a rede elétrica, as flutuações de potência atingem valores maiores que os aerogeradores com velocidade variável e acabam por restringir a potência máxima que pode ser injetada em pontos da rede. Figura 23 – Esquema elétrico de um gerador com velocidade constante Fonte: (CEPEL, 2008). 3.1.4.2 Aerogeradores de Velocidade Variável Atualmente os aerogeradores de velocidade variável são os dominantes no aerogeradores da classe megawatt (acima de 1 MW). Estes aerogeradores são projetos para aproveitar a maior aerodinâmica possível do vento, através do controle por passo, estas maquinas mantém assim o torque constante e as flutuações do vento são absorvidas pela variação da velocidade do gerador. Esta concepção pode utilizar geradores síncronos ou assíncronos, e utilizam conversores de frequência na sua conexão a rede. O conversor controla a velocidade do gerador, assim as variações do vento são absorvidas por mudanças na velocidade do rotor do gerador. 78 Os aerogeradores de velocidade variável são mais complexos que os de velocidade constante, porém apresentam uma série de vantagens como uma maior extração de energia do vento, melhor qualidade de energia, flutuações de potência pequenas, menor nível de emissão de ruído. Figura 24 – Esquema elétrico de um gerador com velocidade variável que usa uma conversora de frequência para o controle da frequência da geração elétrica Fonte: (CEPEL, 2008). 3.1.5 Estado da Arte dos Geradores: Conexão com a Rede Conforme visto anteriormente, enquanto as turbinas guardam semelhanças entre si: basicamente todas operam com controle de alinhamento da nacele com a direção do vento e dispõe de controle do ângulo das pás por controle de passo (pitch control), os geradores podem ser de tipos relativamente diferentes em sua concepção, desempenho e controle (RAMOS, 2011). A Figura 25 apresenta um mapa de possibilidades de conversão da energia mecânica em energia elétrica. 79 Figura 25 – Mapa de possibilidades da conversão de energia mecânica em energia elétrica Fonte : (HANSEN L. H., 2001). As principais concepções de aerogeradores em operação ou em instalação no sistema brasileiro serão apresentados nos próximos tópicos. 3.1.5.1 Tipo A: Gerador de indução, rotor a gaiola Esta é a concepção tradicional dos aerogeradores aplicado por muitos fabricantes na década de 1980 e 1990, a turbina eólica é conectada através de um gerador de indução (assíncrono) diretamente a rede, com regulação de potência mecânica por estol, eles são operados em velocidade constante. Neste tipo de gerador as flutuações do vento são convertidas em flutuações de potência fornecidas a rede, no caso de redes fracas isto pode produzir flutuações de tensão no ponto de conexão. Em função destas flutuações esta máquina consome reativos do sistema. 80 Posteriormente foi adicionado um banco de capacitores para compensação da potência reativa e um soft-starter para suavização da corrente de in-rush na conexão do aerogerador a rede elétrica. Sem o soft-starter as altas correntes de in-rush poderiam causar graves distúrbios de tensão em redes fracas (ACKERMANN, 2005). Esta concepção não possui controle das principais grandezas elétricas. Figura 26 – Configuração do aerogerador com gerador de indução, rotor a gaiola Fonte: (ACKERMANN, 2005). 3.1.5.2 Tipo B: Gerador de indução com controle de resistência externa de rotor Esta configuração utiliza gerador de indução com rotor bobinado e possui velocidade variável limitada com a resistência do rotor variável (tecnologia OptiSlip), o gerador é conectado diretamente a rede. Na concepção adotada pela fabricante Vestas em meados dos anos 1990, o gerador bobinado é ligado diretamente a rede e utiliza um banco de capacitores para compensação de reativos. A tecnologia OptiSlip permite que o gerador tenha um escorregamento variável numa faixa estreita, resultando em menores flutuações de torques e na potência de saída (CUSTÓDIO, 2009). Esta alternativa permite uma melhoria do desempenho do gerador para diferentes velocidades da turbina, contudo tem uma faixa estreita de variação de velocidade, entre 0 a 10% acima da velocidade síncrona dependendo do valor da resistência externa, e o controle de potência ativa e reativa é deficiente (ACKERMANN, 2005). Esta concepção não possui controle das principais grandezas elétricas. 81 Figura 27 – Configuração do aerogerador com gerador de indução com controle de resistência externa de rotor Fonte: (ACKERMANN, 2005). 3.1.5.3 Tipo C: Gerador de indução duplamente alimentado (DFIG) Esta alternativa utiliza um gerador de indução duplamente alimentado (DFIG), ou seja, com dois enrolamentos que apresentam velocidades síncronas diferentes. Corresponde a um aerogerador de velocidade variável limitada com um gerador de indução com rotor bobinado e um conversor de frequência conectado entre o circuito do rotor e a rede elétrica. O enrolamento do estator é conectado diretamente a rede (ACKERMANN, 2005). Esta concepção proporciona uma ampla faixa de controle de velocidade, em comparação as alternativas anteriores. O conversor de frequência realiza a compensação de potência reativa, produzindo ou consumindo reativos, proporcionando controle de potência ativa e reativa. Estes geradores apresentam maior dificuldade técnica de integração à rede porque, durante situações de falta, o conversor de potência é submetido a grandes sobrecorrentes e o elo CC do conversor a elevada sobretensão, necessitando de avançados sistemas de proteção (LEÃO, 2009). Esta configuração é atrativa do ponto de vista econômico e técnico, considerando a produção de harmônicos, pois o conversor de frequência tem somente por volta de 30% da potência do gerador e o estator, que supre a maior parte da potência está ligado diretamente à rede (ACKERMANN, 2005). Sua operação é similar a de um gerador síncrono. 82 Figura 28 – Configuração do aerogerador com gerador de indução duplamente alimentado (DFIG) Fonte: (ACKERMANN, 2005). 3.1.5.4 Tipo D: Gerador síncrono com conversor pleno (“Full Converter”) Esta concepção corresponde a um aerogerador com velocidade variável que utiliza geradores síncronos associados com conversores de frequência que fazem a conexão do gerador com a rede elétrica. Este conversor de frequência eletrônica é formado por um conjunto de retificar e inversor. Os geradores síncronos produzem uma energia elétrica de melhor qualidade, permitindo controle da frequência, da tensão e das potências ativa e reativa, além de possibilitarem ao uso de aerogeradores sem caixa de engrenagem pois é possível construir geradores síncronos com maior numero de polos, resultando numa máquina de baixa rotação compatível com as baixas velocidades das turbinas eólicas. Esta é uma tendência tecnologia adotada atualmente em aerogeradores de grande porte, porém esta alternativa apresenta um custo inicial elevado e necessita de filtros para filtrar as correntes harmônicas produzidas pelo seu conversor, assim como aerogeradores DFIG (CUSTÓDIO, 2009). 83 Figura 29 – Configuração do aerogerador com gerador síncrono com conversor pleno (“Full Converter”) Fonte: (ACKERMANN, 2005). 3.1.5.5 Considerações gerais Nos aerogeradores do tipo A e B, como em qualquer gerador de indução, o processo transitório de remagnetização deste tipo de aerogerador, após a eliminação de curtoscircuitos no sistema, demanda elevados montantes de potência reativa. Em sistemas fracos, com baixa potência de curto-circuito, esta solicitação de reativos pode comprometer o restabelecimento das tensões podendo até mesmo levar o sistema ao colapso (RAMOS, 2011). Devido aos baixos valores de escorregamento, geradores assíncronos conectados diretamente à rede elétrica, operando com velocidade quase constante, geram flutuações mais significativas do que geradores síncronos em velocidade variável, conectados à rede via conversores de frequência (CEPEL, 2008). Os aerogeradores Tipo C (DFIG) são capazes de controlar a potência ativa e reativa através do controle da excitação de campo realizado pelo conversor conectado ao rotor, assim não consomem potência reativa. Desta forma, estes aerogeradores apresentam recursos de controle capazes de garantir um desempenho satisfatório durante e pós-defeitos e atender com facilidade aos requisitos de suportabilidade a afundamentos momentâneos de tensão (RAMOS, 2011), denominado pelo ONS como “fault ride-through” cujo requisito é apresentado no capítulo 4.1.2 deste trabalho. Nos aerogeradores tipo D, a máquina síncrona física é isolada da rede através do conversor/inversor, reduzindo a influência do seu desempenho sobre o aerogerador conectado a rede. Os aerogeradores Tipo D também são capazes de gerar/absorver potência reativa, além de dispor de grandes recursos de controle o que garante um desempenho adequado nas 84 condições de defeitos da rede atendendo facilmente os requisitos “fault ride-through” (RAMOS, 2011). Porém os aerogeradores tipo C e D, por utilizarem de eletrônica de potencia geram harmônicos na rede, implicando na possível utilização de filtros no sistema. Estas configurações cobrem boa parte dos modelos de aerogeradores encontrados no mercado brasileiro, a Tabela 8 por fim apresenta um quadro comparativo resumindo os aspectos apresentados neste capítulo. Tabela 8 – Comparativo das configurações de conexão a rede dos geradores geralmente aplicados aos aerogeradores Item Tipo A Tipo B Tipo C Tipo D Gerador Indução, rotor a gaiola Indução, rotor bobinado com controle de resistência externa de rotor Indução, duplamente alimentado (DFIG) Síncrono com conversor pleno Conversor Eletrônico Soft-starter Componentes passivos Conversor de Frequência Retificador e conversor de frequência Transmissão Mecânica Multiplicador de velocidades Multiplicador de velocidades Multiplicador de velocidades Direta caso gerador multipolar Controle de Potência Mecânica Estol Passo Passo Passo Velocidade de Rotação Constante Variável com limitações Variável Variável Principais grandezas elétricas controladas Nenhuma Nenhuma Potência ativa e reativa Potência ativa e reativa Desvantagens Consumo de reativos; Maior Flutuação na potência (Flicker) Consumo de reativos; Maior Flutuação na potência (Flicker) Harmônicos Harmônicos Fonte: (HANSEN L. H., 2001). O Gráfico 9 apresenta a incidência de cada tipo de aerogerador vendido no mundo no período 1995 a 2009, graficamente é possível observar como o conceito DFIG (tipo C) passou a ser mais comercializado em detrimento as tecnologias tradicionais e antigas (tipo A e B), que vem ano a ano sendo menos instaladas frente à evolução global dos requisitos de qualidade e desempenho. 85 Gráfico 9 – Share mundial da energia eólica anual instalada, para diferentes tecnologias de aerogeradores 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 tipo A Tipo B Tipo C Tipo D Fonte: (HANSEN A. D., 2012). 3.1.6 Aerogeradores Comerciais A equação que permite calcular a potência extraída de um aerogerador é (ABB, 2011): Onde: P é a potência disponível no vento [W]. ρ é a densidade do ar [kg/m3]. A é área de secção transversal que as pás varrem [m2]. V é a velocidade do vento livre antes da turbina [m/s]. Cp é o coeficiente de potência. ηmec é o rendimento das peças mecânicas. ηg é o rendimento do gerador. 86 A faixa de potência de aerogeradores comercial é bastante vasta, em função da diversidade do seu uso. Os aerogeradores utilizados em parques eólicos possuem normalmente potência da ordem de megawatts. Figura 30 – Aerogeradores disponíveis comercialmente para geração de energia elétrica, segundo nomenclatura da ANEEL Fonte: (CEPEL, 2008). A Figura 31 apresenta a evolução dos tamanhos e potências dos aerogeradores, a sua utilização varia basicamente pela evolução tecnológica da fabricação e da disponibilidade de infraestrutura para montagem e o transporte do aerogerador (CUSTÓDIO, 2009). 87 Figura 31 – Evolução dos aerogeradores desde 1985 até 2005 Fonte: (CEPEL, 2008). O Gráfico 10 apresenta o ranking elaborado pela BTM Consult, que lista os 10 maiores fabricantes de aerogeradores, no ano de 2012. Gráfico 10 – Ranking dos 10 maiores fabricantes de aerogeradores do mundo em 2012 Fonte: (BTM, 2013). 88 3.2 PARQUES EÓLICOS Parques eólicos são usinas eólicas destinadas a produção de energia a partir dos ventos. Trata-se de um conjunto de aerogeradores associados em paralelo, através de linhas de conexão subterrâneas ou aéreas e conectadas ao sistema elétrico para fins de transmissão da energia gerada pelo parque. Esta integração do parque pode ocorrer em diferentes níveis de tensão, caso a potência do parque seja pequena este pode conectar-se diretamente ao sistema de distribuição, parques maiores podem exigir a construção de subestações coletoras e linhas de transmissão para conexão ao sistema elétrico de potência. A concepção de um parque eólico basicamente se inicia com a obtenção de dados e elaboração do projeto elétrico. A Figura 32 apresenta as principais fases de um projeto elétrico de um parque eólico. 89 Figura 32 – Fases do projeto elétrico de parques eólicos Fonte: (ROSAS, 2003). Posteriormente, apresentando de forma resumida, terão sequência as demais etapas do empreendimento, como: o licenciamento ambiental, construção dos acessos, construção das fundações dos aerogeradores, transporte e instalação dos aerogeradores, construção do sistema de transmissão, operação e manutenção do parque eólico. Na sequência é apresentado relatório fotográfico da implantação dos parques do Complexo Eólico Cerro Chato, de propriedade da Eletrosul Centrais Elétricas em parceria com a empresa Wobben. O complexo é localizado em Sant'Ana do Livramento, Rio Grande do Sul, na divisa com Rivera, no Uruguai. O empreendimento foi classificado no leilão de 90 geração de energia eólica, em dezembro de 2009, para a exploração comercial de três usinas, totalizando 90 MW, tendo o ultimo aerogerador entrado em operação comercial em janeiro/2012. Este foi o primeiro empreendimento eólico da Eletrosul e o primeiro concluído após a retomada da geração comercial pela empresa. Figura 33 – Início Montagem Aerogerador 01/Parque 1 Fonte: Eletrosul, 2011. 91 Figura 34 – Detalhe montagem conjunto cubo e pás do aerogerador Fonte: Eletrosul, 2011. Figura 35 – Montagem Aerogerador 03/Parque I Fonte: Eletrosul, 2011. 92 Figura 36 – Subestação Coletora Cerro Chato 34,5/230 kV Fonte: Autor, 2012. Figura 37 – Complexo eólico Cerro Chato – Eletrosul – localizado em Sant’Ana do Livramento/RS Fonte: Eletrosul, 2011. 93 3.3 CONEXÃO DA USINA EÓLICA A conexão da usina eólica é um dos principais parâmetros em um projeto de um parque eólico. A depender da forma e do ponto de conexão ao sistema de transmissão, o projeto pode ser inviabilizado, já que a construção de subestações, grandes extensões de linha de transmissão ou ainda a eventual necessidade de grandes reforços na rede podem encarecer o projeto demasiadamente. Na concepção do projeto devem ser analisadas as alternativas de conexão e possíveis restrições elétricas, desta forma deve-se conhecer profundamente o sistema elétrico a qual o parque será conectado (CUSTÓDIO, 2009). 3.3.1 Tipos de Conexões Os parques eólicos podem ser conectados em diferentes níveis de tensões, e as conexões são realizadas a principio em função da rede disponível na região de localização do parque. A rede elétrica pode ser classificada pelo seu nível de tensão e pela sua função na rede, conforme apresentado na Tabela 9. Tabela 9 – Classificação da tensão da rede pelo nível e pela função Tensão Nível de Tensão Função da Rede Distribuição: Responsáveis pelo Menor que 1 kV Baixa Tensão (BT) transporte de energia em distâncias e potências pequenas (alguns MW), no Brasil atendem diretamente Entre 1 kV e 34,5 kV Média Tensão (MT) consumidores ou transportam energia para pequenas cidades e comunidades. Subtransmissão: Responsáveis pelo Entre 34,5 kV e 138 kV Alta Tensão (AT) transporte de energia em distâncias e potências menores (dezenas de MW), 94 no Brasil realizam transporte regional para atendimento de cidades de médio porte. Transmissão: Responsáveis pelo Entre 230 kV e 750 kV Extra-alta-tensão (EAT) transporte de energia em longas distâncias e potências maiores (geralmente 200 MW ou mais), no Acima de 750 kV Ultra-alta-tensão (UAT) Brasil realizam as interligações regionais. Fonte: (CUSTÓDIO, 2009). Em função destas classificações a Figura 38 apresenta um diagrama unifilar simplificado das diversas opções de conexão de um parque eólico. Figura 38 – Diagrama unifilar simplificado das diversas opções de conexão de um parque eólico >= 230 kV Transmissão Rede Parque Eólico 34,5 kV – 69 kV – 138 kV Subtransmissão Parque Eólico 13,8 kV - 23,1 kV Carga Parque Eólico Fonte: (CUSTÓDIO, 2009). Distribuição Rede 95 Este trabalho abordará os impactos de parques eólicos conectados ao sistema de transmissão, na fronteira com a rede básica brasileira. Os sistemas interligados à rede utilizam um grande número de aerogeradores e não necessitam de sistemas de armazenamento de energia, pois toda a geração é entregue diretamente à rede. 3.3.2 Esquema Elétrico de um Parque Eólico O diagrama apresentado na Figura 39 mostra um sistema coletor típico de conexão de um parque eólico. Os aerogeradores (E) geram energia em tensões inferiores a 1 kV (LV), e através de um transformador elevador localizado na saída do aerogerador elevam a tensão para média tensão (MV), em geral 34,5 kV, se conectando ao sistema coletor composto por um circuito subterrâneo ou aéreo interligando diversos aerogeradores. Posteriormente estes circuitos em MT são conectados a um barramento dedicado localizado numa subestação coletora, que através de um transformador eleva a tensão para a tensão de transmissão (alta tensão) e conexão ao sistema elétrico, usualmente 138 kV ou 230 kV (HV) quando este ponto for a fronteira com a Rede Básica. Figura 39 – Sistemas coletores e de conexão típicos Fonte: (RAMOS, 2011). Desta forma existem basicamente duas configurações possíveis de conexão a Rede Básica no Brasil, ilustrados na Figura 40. No Caso 1 um conjunto de parques compartilha instalações particulares (subestação coletora) ou se conectam diretamente a rede básica, e no Caso 2 os parques eólicos se conectam a uma instalação de transmissão de 96 Interesse Exclusivo de Centrais de Conexão Compartilhada (ICGs) que são instalações não integrantes da Rede Básica, destinadas ao acesso de centrais de geração em caráter compartilhado à Rede Básica. No caso em que centrais de geração eólica, tenham obtido junto a ANEEL autorização para compartilhamento de suas instalações de interesse restrito com outras centrais geradoras eólicas, estas centrais serão caracterizadas como uma única instalação individual no que diz respeito à avaliação do seu desempenho quanto à qualidade de energia, e deverão atender ao Critério de Agregação contido no Submódulo 2.8 dos procedimentos de rede. Figura 40 – Tipos de conexão na rede básica frente ao critério de avaliação do seu desempenho quanto à qualidade de energia Fonte: (MEDEIROS, 2012). Ponto de Conexão e Ponto de Acoplamento Comum (PAC) são instalações dedicadas ao atendimento de um ou mais usuários, com a finalidade de interligar seu sistema ao sistema da transmissora ou à Rede Básica. Sendo assim, são caracterizados pelos pontos de conexão do sistema de transmissão com os agentes geradores, distribuidores e consumidores livres. 97 3.3.3 Características da Produção de Energia de Fonte Eólica Conforme já visto anteriormente a potência elétrica gerada por um parque eólico varia em função da velocidade do vento, que não é constante e é uma variável aleatória. Estas variações ocasionam dificuldades no controle de tensão e frequência, e desta forma ao sistema interligado. As usinas podem inclusive não produzir energia em períodos de pouco vento, por isso elas não tem energia garantida, devendo ser despachadas quando há disponibilidade. No Brasil, em função da maior disponibilidade de vento no período seco (Gráfico 11), pode-se aproveitar da geração eólica para economizar a água dos reservatórios mantendo estes num nível adequado. SIN - Complementaridade entre as fontes 2015 (Base Gráfico 11 – A complementaridade entre Ano as principais fontesPEN 2011) 1,80 Safra da cana-de-açucar 1,60 p.u. (MWmês/MWano) 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 Período seco do SIN JAN FEV MAR ABR MAI PCT JUN EOL JUL AGO SET OUT NOV DEZ UHEs Fonte: (CHIPP, 2011). Estas características impõem a energia eólica um caráter de complementaridade energética, não sendo possível um sistema abastecido somente por essa fonte. O nível de participação da geração eólica na matriz energética é alvo de constantes discussões acadêmicas, o nível de potência de curto-circuito da rede é determinante no patamar de participação da fonte eólica, já existem aplicações de 30% da matriz no norte da Alemanha, portanto este nível de participação se mostra possível em redes bem malhadas (CUSTÓDIO, 2009). 98 3.3.4 Parecer de Acesso Conforme apresentado no capitulo anterior, compete ao ONS a definição das condições do livre acesso à malha de transmissão em alta-tensão do país. No processo de acesso à Rede Básica ou às DIT se envolvem, o ONS, a transmissora proprietária das instalações de transmissão a serem fisicamente acessadas e o acessante, neste caso o empreendedor do parque eólico (agente de geração). O processo de acesso é detalhado no Submódulo 3.1 dos Procedimentos de Rede, e é composto basicamente pela (GOMES, 2012): Consulta de Acesso: etapa obrigatória somente em leilões, onde o ONS esclarece ao acessante todos os procedimentos para solicitação de acesso e informações da rede elétrica existente; Solicitação de Acesso: etapa obrigatória, mediante a qual é feita pelo ONS a análise técnica do acesso frente ao desempenho elétrico do sistema considerando nele inserida a instalação do acessante (parque eólico) e os atendimentos aos requisitos mínimos do item 8 do Submódulo 3.6 dos Procedimentos de Rede (a serem detalhados no capitulo 4); Parecer de Acesso: documento emitido pelo ONS que detalha as condições do acesso. Celebração dos Contratos: Contrato de Uso do Sistema de Transmissão (CUST) com o ONS, e de Conexão ao Sistema de Transmissão (CCT) com a concessionária proprietária das instalações a serem acessadas. Abordaremos neste trabalho as informações necessárias para a Solicitação de Acesso, documento a ser elaborado pelo empreendedor para o ONS, referente ao interesse em acesso as instalações de transmissão da Rede Básica ou DITs. Ao ONS podem solicitar acesso ao sistema de transmissão os acessantes de central geradora eólica, desde que atendido o estabelecido nos submódulos 3.3, 3.4 e 3.6 dos PR e desde que tenham estejam devidamente autorizados pelo Poder Concedente, representado pelo MME e/ou ANEEL, através de autorização via Portaria do MME ou Resolução Autorizativa ANEEL, dela constando as informações básicas tais como, localização geográfica, número de unidades geradoras, capacidade instalada total, instalações 99 de transmissão de interesse restrito (incluindo subestação elevadora e linhas de transmissão), forma de conexão no sistema elétrico e ponto de conexão no sistema (ONS, 2013). Para solicitação de acesso permanente a rede, caso este implique a necessidade de ampliações e reforços sistêmicos, a solicitação deve ser feita com antecedência mínima de três anos em relação à data de entrada em operação do empreendimento. O Parecer de Acesso é emitido em até um ano contado da data do protocolo caso envolva ampliação do sistema de transmissão e 120 dias no caso de serem necessários somente reforços. Para os demais casos a solicitação deve ser feita ao ONS com antecedência de um ano e o Parecer de Acesso é emitido em até 30 dias. Devem integrar a solicitação de acesso todos os dados/informações sobre o empreendimento, e os estudos de interação ao sistema elétrico. Não existe um padrão para este documento, porém no caso de parques eólicos os principais estudos de integração ao sistema elétrico são: Estudos de Regime Permanente: Avaliar o desempenho do sistema antes e após a implantação dos parques, com base no critério N-1 (perda de um elemento da rede), sendo observados principalmente os níveis de tensão das subestações, bem como os carregamentos nas linhas e transformadores da área de influência destes parques. Estudos de Curto-Circuito: Avaliar se a contribuição de corrente dos aerogeradores impactam as correntes de curto-circuito trifásicas e monofásicas máximas nos barramentos das subestações da região de interesse; Estudos de Variação de Tensão: Avaliar as variações de tensão no barramento de conexão provocadas pela desconexão total de todos os parques eólicos. É avaliado também o montante de potência reativa fornecida pelos parques. Estudos de Estabilidade Eletromecânica: Avaliar o comportamento das usinas diante da ocorrência de perturbações no sistema, onde o principal ponto a ser verificado é a manutenção do sincronismo das máquinas. Estudos de Qualidade de Energia: Avaliar a qualidade de energia injetada na rede, sob aspecto de comportamento harmônico e de efeitos de flutuação de tensão (flicker). 100 Estes estudos devem seguir as diretrizes do Submódulo 3.6, “Requisitos Técnicos Mínimos para a Conexão à Rede Básica” e do Submódulo 23.3, “Diretrizes e Critérios para Estudos Elétricos”, dos Procedimentos de Rede do ONS. Formalizada a solicitação de acesso, inicia-se o processo de análise da documentação. Nesta etapa compete ao ONS, conforme estabelecido no Submódulo 3.3 (ONS, 2013): (a) avaliar a viabilidade técnica da solicitação de acesso, fornecendo ao interessado todas as informações pertinentes; (b) identificar a necessidade de ampliações, reforços e melhorias para a viabilização técnica do acesso; (c) identificar a necessidade de realização de estudos específicos de qualidade de energia elétrica – QEE (d) fornecer ao acessante, quando for o caso, as orientações para realização dos estudos específicos de qualidade de energia elétrica – QEE; (e) identificar a necessidade de realização de estudos específicos ao acesso; e (f) informar os agentes potencialmente afetados pelo acesso. Concluída esta etapa é emitido o Parecer de Acesso pelo ONS e o agente acessante pode proceder com a assinatura de contratos para consolidar o processo de acesso ao sistema de transmissão. No caso de geradores este documento estabelecerá a modalidade de operação da usina (Centralmente despachada e programada pelo ONS; Centralmente programada pelo ONS; Sem relacionamento operacional com o ONS) em conformidade ao estabelecido no módulo 26 dos PR. A Figura 41 apresenta um diagrama simplificado das atividades envolvidas no acesso de agente gerador. 101 Figura 41 – Diagrama simplificado das atividades envolvidas no acesso de agente gerador Fonte: (GOMES, 2012). 3.4 A EXPANSÃO DA FONTE EÓLICA NO BRASIL Conforme apresentado no capitulo 2 deste trabalho, na ultima década o setor elétrico brasileiro passou por grandes reformas, com a criação de um Novo Modelo, com a criação de novas instituições e revisão de atribuição de outras. Entre os objetivos deste modelo estavam a garantia da segurança do suprimento de energia, a modicidade tarifária e a recuperação da função de planejamento no setor. Esta seção abordará o desenvolvimento e a adoção de políticas econômicas para incentivar o uso de fontes alternativas no setor. Desta forma, para entendermos a razão da expansão da fonte eólica no Brasil nos últimos anos, é necessário compreender as evoluções do Novo Modelo do setor elétrico, principalmente referente aos marcos regulatórios do setor, 102 a institucionalização dos leilões de energia para fontes alternativas, além dos aspectos conjunturais da economia global. 3.4.1 Energias Renováveis: Marcos Regulatórios do setor Marco regulatório é um conjunto de normas, leis e diretrizes que regulam o funcionamento dos setores nos quais agentes privados prestam serviços de utilidade pública. A regulação é sempre feita por um organismo independente com condições de defender os interesses dos cidadãos, do governo e das empresas concessionárias que obtiveram o direito de explorar o setor (IPEA, 2013). O marco regulatório é responsável pela criação de um ambiente que concilie a saúde econômico-financeira das empresas com as exigências e as expectativas do mercado consumidor. Além de estabelecer as regras para o funcionamento do setor, o marco regulatório contempla a fiscalização do cumprimento das normas, e o estabelecimento de indicadores de qualidade. A criação de um marco regulatório claro e bem concebido é fundamental para estimular a confiança de investidores e consumidores e para o bom andamento de um setor. No caso de Energia Elétrica o organismo responsável por estas atividades é a ANEEL. Dados da EPE (Gráfico 12) indicam que o potencial hidroelétrico restante no Brasil é de 174 GW, porém estas usinas estão localizadas distantes dos centros de carga, além do grande impacto social e ambiental que enfrentarão para sua implantação. Gráfico 12 – Potencial hidráulico do Brasil Fonte: (EPE, 2007). 103 A matriz elétrica brasileira, abordada em outro capitulo, é uma matriz tipicamente renovável, baseada em usina hidrelétricas de grandes reservatórios. Desta forma o país faz uma distinção entre fontes renováveis tradicionais e fontes alternativas de energia, vide Figura 42. São classificadas como fontes alternativas de energia no Brasil: centrais eólicas, biomassa, fotovoltaica, e as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) (MELO E. S., 2012). Figura 42 – Processamento das fontes alternativas no Brasil Fonte: (MELO E. S., 2012). O Brasil tem um grande potencial para as energias alternativas, porém a exemplo de países como a Alemanha, China e Estados Unidos, para desenvolver estas fontes é necessário criar programas de incentivo e regulamentação especifica para o setor. Algumas das principais Leis e Decretos vinculadas as Energias Alternativas são listadas abaixo: Decreto 6.460 (Regulamenta as ICGs) - Maio/2008; Decreto 6048 (Leilão exclusivo para FAR) - Fev/2007. Lei 11.488 (Potência Injetada; PIA) - Jun/2007; Lei 10.848 (Geração Distribuída como opção para distribuição de energia) - Mar/2004; Lei 10.762 (Alterações no PROINFA e demais incentivos) - Nov/2003; Lei 10.438 (Principais incentivos às FAR - PROINFA) - Abr/2002; Lei 9.991 (Dispõe sobre realização de investimentos em P&D; Isenção FAR) - Jul/2000; Lei 9.648 (Outros incentivos para PCHs) - Mai/1998; 104 Decreto 2.335 (Constitui a ANEEL) - Out/1997; Lei 9.427 (Institui a ANEEL; 1º Incentivo: AHE de PIE de 1-10 MW) Dez/1996; Lei 9.074 (Concessão de Serviços de Energia Elétrica) - Jul/1995; Lei 8.987 (Concessão de Serviços Públicos) - Fev/1995; Constituição Federal (art. 175) - Out/1988; Desta forma, uma decisão importante e pioneira para a introdução das fontes alternativas no Brasil foi a implantação em 2003 do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA). Outras iniciativas estabeleceram grupos de regras específicas para a comercialização de energia incentivada e a realização de leilões para fontes alternativas de energia (MELO E. S., 2012). A seguir abordaremos com mais detalhes estas iniciativas. 3.4.1.1 PROINFA Considerado o maior programa do mundo de incentivo às fontes alternativas de energia elétrica, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (PROINFA) foi criado pelo governo federal e é administrado pela Eletrobras (ELETROBRAS, 2013). Segundo o MME o intuito do programa é “promover a diversificação da Matriz Energética Brasileira, buscando alternativas para aumentar a segurança no abastecimento de energia elétrica, além de permitir a valorização das características e potencialidades regionais e locais”. Para comercializar a energia do PROINFA, foi estipulada uma tarifa para cada fonte, para contratos com 20 anos de duração. Os valores ofertados e efetivamente contratados estão resumidos na Tabela 10. No momento da contratação havia mais ofertas de eólica que biomassa, a pouca oferta da biomassa foi consequência do baixo preço teto do governo (MELO E. S., 2012). 105 Tabela 10 – Contratos do PROINFA Fonte: (MELO E. S., 2012). O programa enfrentou diversos problemas durante sua implantação que provocaram atrasos em seu cronograma, apesar disso o programa já tinha em dezembro/2011 119 usinas em operação comercial. O status dos projetos, em dezembro/2011, é apresentado na Tabela 11. Tabela 11 – Dados das centrais do PROINFA – Dezembro de 2011 Fonte: (MELO E. S., 2012). A inserção da energia eólica na matriz energética brasileira teve inicio praticamente com a partir do ano de 2005 com o PROINFA. Até então, não havia na engenharia brasileira experiência de projetos, estudos e de operação de usinas eólicas à exceção de alguns parques de pequeno porte já em operação (RAMOS, 2011). O ineditismo do programa e o cenário da época explicam as tarifas acima dos 250 R$/MWh, bem superiores aos valores contratados nos últimos leilões de fontes alternativas como veremos na sequência. 106 3.4.1.2 Comercialização de Energia Incentivada A Lei no 9.427, de 1996, instituiu descontos em tarifas de transmissão para fontes não convencionais de energia, as chamadas fontes incentivadas, para torná-las competitivas com relação às fontes tradicionais de energia elétrica. A pequena central hidrelétrica, a geração de energia solar fotovoltaica, a biomassa e a energia eólica são classificadas como fontes incentivadas de energia, caso o potencial para o sistema elétrico não exceder 30 MW. O incentivo ao parque eólico se caracteriza com um desconto de 50% na Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) e Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (TUST) para empreendimentos de geração de até 30 MW, normatizado pela Resolução Normativa da ANEEL n° 77, de 2004. É pratica comum no mercado o fracionamento de projetos com grandes potências em parques modulados de até 30 MW, para fazer jus a este e outros benefícios, como o enquadramento das empresas na apuração pelo regime de lucro presumido, que só é facultado a pessoa jurídica cujo faturamento anual não ultrapasse R$ 78 milhões. A preferência pelo lucro presumido se dá em virtude da sua forma de apuração, uma vez que as alíquotas de IRPJ (25%) e CSLL (9%) incidem sobre receitas com base em percentual de presunção variável (1,6% a 32% do faturamento, dependendo da atividade da pessoa jurídica) (FECOMÉRCIOMG, 2013). No caso específico do setor de energia, em razão na natureza do negócio é extremamente vantajosa essa forma de apuração. 3.4.1.3 Leilões para Fontes Alternativas de Energia Os leilões de energia são o ponto principal da expansão da geração de energia no setor elétrico do Brasil. Neste sentido a União promove leilões abertos para todos os tipos de centrais e outros específicos para as fontes alternativas, sobretudo as pequenas hidrelétricas, de biomassa e eólicas (MELO E. S., 2012). Desde a implantação do atual modelo do setor, os leilões têm se consolidado de forma eficiente para promover a expansão da geração, com foco na inclusão de fontes alternativas e renováveis na matriz elétrica brasileira, viabilizando especialmente a geração de 107 energia eólica. Os primeiros passos da fonte foram através do PROINFA, onde vendiam a produção para a Eletrobras por preços subsidiados, que hoje superam os 300 R$/MWh (VIANA, 2013). Em 2009, foi promovido um leilão de reserva para contratar a produção e permitir a construção de novos empreendimentos eólicos, objetivando impulsionar o setor. O resultado foi um preço médio de venda de 148,39 R$/MWh, à época, o que representou deságio de 21,49% frente ao preço teto de 189 por R$/MWh. Nos anos seguintes, as eólicas passaram a competir tanto na modalidade “reserva”, onde o governo contrata um estoque de geração de energia elétrica além do montante necessário para atender à demanda dos consumidores, quanto nos leilões A-3 e A-5. As tarifas oferecidas pelos empreendimentos da fonte caíram sucessivamente, até o recorde estabelecido no final de 2012. As tarifas das usinas eólicas ficaram entre 87,50 e 88,68 R$/MWh, e superaram de longe o menor preço já registrado até então, de 99,54 R$/MWh no leilão de reserva de 2011. Assim, por meio dos leilões, a fonte se inseriu de forma competitiva na expansão da geração (VIANA, 2013). Porém o mercado sinalizou que os patamares de preços do leilão de 2012 não refletem a realidade da fonte, segundo a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) Elbia Melo “a forte competição nos últimos certames, e especialmente em 2011, levou os preços a patamares mínimos, com remuneração bem reduzida, de modo que preços inferiores a R$ 100,00 por MWh não podem ser capazes de remunerar adequadamente a indústria” (MELO E. , 2013). O Gráfico 13 apresenta um quadro comparativo das tarifas de energia, mostrando que a energia eólica apresenta uma das tarifas mais competitivas do setor. Gráfico 13 – Preço médio de venda por fonte (com correção pelo IPCA de novembro/2012) 108 Fonte: (CCEE, 2012). Em entrevista coletiva concedida ao final dos Leilões de Fontes Alternativas de Energia Elétrica de 2010 (A-3 e Reserva), realizados em agosto de 2010, o presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, afirmou que os resultados dos certames propiciaram uma quebra de paradigmas no setor elétrico brasileiro. Primeiro, em função de a fonte eólica ter se constituído na mais barata entre as negociadas. Segundo, pelo preço competitivo da grande quantidade de energia contratada proveniente de fontes alternativas. A observação do presidente da EPE viria a se reforçar nos anos seguintes, o Gráfico 14 apresenta a evolução capacidade eólica instalada até 2012 e contratada através dos leilões até 2017. Gráfico 14 – Capacidade eólica instalada até 2012 e contratada através de leilões até 2017 Fonte: (GWEC, 2013). 3.4.2 Brasil: um dos grandes em energia eólica A energia eólica é uma das que mais crescem no mundo, dados apresentados no Gráfico 15 e no Gráfico 16 demonstram a velocidade de crescimento da fonte que praticamente duplicou de tamanho em capacidade instalada no mundo num horizonte de quatro anos (2009 – 2012) (GWEC, 2013). 109 Gráfico 15 – Capacidade eólica instalada anualmente no mundo Fonte: (GWEC, 2013). Gráfico 16 – Capacidade eólica instalada acumulada no mundo Fonte: (GWEC, 2013). O Brasil está entre os dez países que mais expandiram a capacidade instalada de energia eólica em 2012, segundo levantamento do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC) apresentado no Gráfico 17 o país atingiu a 8a posição no ranking global do ano passado. Países que tradicionalmente investem na política de incentivos e na forte regulamentação, como China, EUA e Alemanha, seguem ampliando seus parques geradores. 110 Gráfico 17 – Top 10 - Nova capacidade instalada mundial em 2012 Fonte: (GWEC, 2013). Os empreendimentos que entraram em operação em 2012 agregaram mais 1.077 MW ao parque gerador brasileiro, um crescimento superior a 75% em relação a 2011 e posicionando o Brasil na 15a posição mundial. Os dez países com as maiores capacidades são apresentados no Gráfico 18. A expectativa em função da energia já contratada (cerca de 7,5 GW devem entrar em operação em 2013) é que no próximo ano o Brasil já deva figurar entre os dez países com maior capacidade instalada mundial. 111 Gráfico 18 – Top 10 - Capacidade instalada mundial em 2012 Fonte: (GWEC, 2013). O país é disparado o maior mercado eólico da America Latina, que conforme apresenta o Gráfico 19 ainda é pequeno em relação às demais regiões do mundo, mas vem apresentando crescimentos significativos. O Brasil responde por mais de 70% da geração da América Latina, cuja capacidade instalada é de cerca de 3,5 GW. Para se ter ideia o segundo país latino americano que mais investiu na energia eólica foi a Argentina, com 167 MW de potência instalada até 2012, o que corresponde a cerca de 7% da potência instalada no Brasil. 112 Gráfico 19 – Capacidade eólica instalada anualmente por região do mundo Fonte: (GWEC, 2013). Dados atualizados do Banco de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), apresentados na Tabela 12, representam a distribuição e a situação da implantação dos empreendimentos eólicos no país por região (ANEEL, 2013). Tabela 12 – Empreendimentos Eólicos do Brasil Região EOL em Operação Qtde PI (MW) EOL em Construção Qtde PI (MW) EOL Outorgadas 1998 - 2013 (*) Qtde PI (MW) TOTAL Qtde PI (MW) N/CO NE S SE 0 60 30 2 0 1.317 699 28 0 72 14 0 0 1.797 334 0 0 170 29 0 0 4.662 632 0 0 302 73 2 0 7.776 1.665 28 TOTAL 92 2.044 86 2.131 199 5.294 377 9.469 Fonte: ANEEL, 2013. (*) Não iniciaram sua construção De acordo com as estimativas do governo, o potencial de energia eólica do Brasil é de 143,5 GW, estimado para 50 metros de altura do rotor, como ilustrado na Figura 43, cabe ressaltar que esta estimativa é bastante conservadora e precisa ser revista (MELO E. S., 2012). Um novo inventário indica potencial superior a 300 GW (CHIPP, 2012). 113 Figura 43 – Potencial eólico estimado para vento médio anual igual ou superior a 7,0 m/s Fonte: (CEPEL, 2001). Como já observado, no Brasil, a energia eólica pode ser utilizada como complemento da fonte hidrelétrica. Na verdade, os períodos de maior disponibilidade dessa fonte coincidem com uma menor geração de energia hidrelétrica e vice versa, conforme apresentado na Figura 44. 114 Figura 44 - Complementaridade entre a geração hidrelétrica e eólica Fonte: (ANEEL, 2005). Dados do Plano Decenal de Energia (PDE) 2021 informam que a capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional entre 2012 e 2021 deverá crescer 56% no período, saltando de 117 GW para 182 GW. Um dos destaques do novo ciclo de planejamento é o forte crescimento da fonte eólica, cuja capacidade instalada chegará, pelas projeções, a 16 GW ao final do horizonte, o que representaria cerca de 8,5% da matriz brasileira, frente aos 1,4 GW (1,2%) do ano de 2011 (EPE, 2012). Gráfico 20 – Evolução da capacidade instalada até 2021 por fonte .Fonte: (EPE, 2013). . Frente aos resultados apresentados é possível afirmar que o Brasil está envidando esforços no desenvolvimento da matriz através de fontes renováveis de energia. O desenvolvimento da fonte no país ainda deriva de outras razões como a crise financeira na Europa, taxa de cambio favorável, acesso a linhas de financiamento do BNDES e até mesmo o acidente nuclear na usina de Fukushima no Japão que fez os países repensarem suas 115 matrizes energéticas. Desta forma a indústria eólica no país começa a se consolidar, tornando o Brasil o país líder na America Latina em energia eólica. Porém acontecimentos recentes no mercado brasileiro acenderam um sinal vermelho na expansão da energia eólica no Brasil: Atrasos no sistema de transmissão impediram 622 MW eólicos de gerar energia para o sistema elétrico brasileiro. Na avaliação da EPE, estes atrasos são "a dor do sucesso" da fonte. Além disso, com o crescimento da participação da energia eólica na matriz Brasileira os efeitos da qualidade de energia eólica gerada na rede começam a levantar o debate no setor elétrico nacional, aliado ao fato dos parques estarem sendo instalados em pontos onde o sistema elétrico é considerado fraco, com baixa potência de curto circuito. Estes são alguns dos desafios da integração da geração eólica no sistema elétrico brasileiro, que serão debatidos nos próximos capítulos. 116 4 INTEGRAÇÃO DA GERAÇÃO EÓLICA – DESAFIOS DO SEB O crescimento da fonte eólica no Brasil veio acompanhado de outras questões. Seria necessário criar um ambiente adequado para o expressivo aumento de potencia eólica conectado ao sistema elétrico brasileiro, já que a geração eólica traz consigo desafios em função da qualidade da energia, boa parte em função da característica intermitente do vento e dos pontos de conexão dos parques, além dos desafios regulatórios para proporcionar o adequado crescimento e integração da fonte no país. A discussão sobre as fontes eólicas ganharam ainda mais fôlego no início do ano de 2013, quando diante de baixos níveis de reservatórios nas hidrelétricas, o país passou pelo risco de novos racionamentos e diversos parques eólicos no nordeste estavam prontos para gerar 622 MW no sistema, porém a linha de transmissão que escoaria a energia dos parques não ficou pronta no prazo contratual, seguindo ainda atrasada. Desta forma, as questões técnicas e regulatórias representam grandes desafios para a expansão e integração da geração eólica produzida no Brasil e serão abordadas neste capitulo. 4.1 INTEGRAÇÃO DA GERAÇÃO EÓLICA: DESAFIOS SOB ASPECTOS TÉCNICOS Na teoria, nos sistemas elétricos de potência, a forma de onda da tensão e da corrente são uma senoide com magnitude constante e com frequência de 60 Hz (Brasil). Porém, na prática, em qualquer sistema elétrico, produção, transporte e o consumo de energia elétrica apresentam desvios no nível de tensão e na forma de onda. O tamanho destes desvios que determinam a qualidade da energia produzida, estando no Brasil os limites normatizados pelo ONS (CUSTÓDIO, 2009). Podem haver diferentes interpretações do conceito de qualidade de energia, a depender da perspectiva: fabricantes, agencias reguladoras, consumidores, etc (DUGAN, 2004). Segundo (LARSSON, 2005) os fenômenos de qualidade de energia podem ser classificados segundo o apresentado na Figura 45. 117 Figura 45 – Classificação dos diferentes fenômenos de qualidade de energia Qualidade de Energia Tensão Frequência Interrupções Variações de Tensão Flicker Harmônicos Transitórios Fonte: (LARSSON, 2005) No caso da energia eólica, estes efeitos são mais severos devido à característica variável da velocidade do vento. A produção de potência nos aerogeradores é variável, conforme apresentado na Figura 46, podendo causar variações de tensão, especialmente em redes fracas. A concepção dos aerogeradores, quando ao seu tipo de conexão do gerador a rede (apresentado na seção 3.1.5), também tem influência direta nos distúrbios na rede elétrica. Figura 46 – Oscilação da potência ativa de um aerogerador de velocidade fixa, tipo A, de 500 kW Fonte: (ACKERMANN, 2005). 118 A relação de curto-circuito rcc é a razão entre a potência de curto-circuito mínima no ponto de interconexão e a potência entregue pela central eólica à rede receptora nesse ponto. Esta relação de curto-circuito é calculada pela seguinte equação: Onde: rcc = relação de curto circuito [adimensional]; Scc = potência de curto-circuito no ponto de interligação [MVA]; Scentraleolica = potência da central eólica [MVA]. Através da relação de curto-circuito rcc é possível indicar as análises relevantes para integração das centrais eólicas, conforme apresentado na Tabela 13. Tabela 13 – Análises e classificação das redes em função de diferentes condições da potência de curto-circuito Relação de curto-circuito Análises fundamentais Classificação da rede (*) rcc ≥ 20 Perfil da tensão do ramal Obs: não deverão existir problemas de conexão elétrica Forte 10 ≥ rcc < 20 Análises estáticas do nível de tensão no ramal de ligação e no ramal que serve a central eólica Moderada rcc < 10 Analises dinâmicas da tensão nos ramais Fraca Fonte: (ROSAS, 2003). (*) Classificação de referência inferida pelo Autor, pois não há definição numérica do conceito de rede forte ou fraca. Desta forma, redes elétricas chamadas de fracas, são redes com baixa potência de curto-circuito Scc, e consequentemente baixas relações de curto circuito rcc. Este conceito será importante para compreender os desafios do Brasil na integração de geração eólica. 119 4.1.1 Principais distúrbios causados por aerogeradores na rede elétrica Os principais distúrbios ocasionados por aerogeradores na rede elétrica e as suas principais causas, são resumidas na Tabela 14. Estas interferências definem a qualidade de energia produzida pelo aerogerador (CEPEL, 2008). Tabela 14 – Principais distúrbios ocasionados por aerogeradores na rede elétrica e suas principais causas Distúrbios Causa Sobretensão Valor médio da potência entregue Flutuações (flicker) Operações de chaveamento Efeito de sombra da torre Erro no passo da pá Erro de direcionamento Rajada de vento Flutuações da velocidade do vento Picos e afundamentos de tensão Operações de chaveamento Harmônicos Conversores de frequência Controladores tiristorizados Consumo de potência reativa Componentes indutivos Gerador assíncrono de tensão e cintilação Fonte: (CUSTÓDIO, 2009). A seguir serão descritos resumidamente os principais parâmetros da qualidade da energia elétrica gerada por um aerogerador, para posteriormente serem identificados suas consequências quando conectados ao sistema de transmissão. 120 4.1.1.1 Flutuação de Tensão Flutuação de tensão é a variação aleatória, repetitiva ou esporádica do valor eficaz da tensão. Variações lentas do vento, cíclicas diárias, causam mudanças no fluxo de potência em regime permanente. A variabilidade da velocidade dos ventos causa variações na potência gerada e consequentemente variação da tensão, podendo impactar no carregamento do sistema. Tais problemas podem ser relevantes, principalmente nos casos de parques de grande porte conectados em sistemas fracos. Em redes fracas ainda pode ocorrer um grande afundamento de tensão, causado por longas linhas sobrecarregadas, demanda de energia reativa por consumidores ou demanda de energia reativa por aerogeradores (CUSTÓDIO, 2009). Quanto mais o carregamento do sistema se aproxima do limite, mais sensíveis estarão as tensões do sistema para variações de potência, e se agravam à medida que o carregamento do sistema se eleva até o ponto de colapso total, o que pode ser crítico principalmente para usinas com aerogeradores do tipo A e B (RAMOS, 2011). Flutuações de tensão são amenizadas em função da distribuição geográfica e da adição de aerogeradores na produção de energia agregada, conforme apresentado na Figura 47. 121 Figura 47 – Impacto da distribuição geográfica e da adição de aerogeradores na produção de energia agregada Fonte: (ACKERMANN, 2005). 4.1.1.2 Cintilações ou Flickers Flicker é um termo de origem inglesa que é usado para indicar flutuações de tensão visíveis a olho nu (ROSAS, 2003). Flickers, ou cintilação de tensão, são variações rápidas de tensão em frequências baixas, menores que 35 Hz, devendo ser considerada crítica quando atingir valores de oscilações da ordem de 8,8 Hz (CUSTÓDIO, 2009). Trata-se da avaliação dos níveis de perturbação causados na tensão que se refletem em variação de luminosidade das lâmpadas, seus valores podem ser medidos através de um equipamento chamado flickmeter. No Brasil, os limites são normatizados pelos Procedimentos de Rede (RAMOS, 2011). A ocorrência deste fenômeno pode ter origem em diversas causas, as principais são: sombreamento de torre, gradiente de vento, controle de velocidade por passo e estol, variação natural do vento incidente e operações de chaveamento. 122 Os fatores de distúrbio flicker são separados em valores médios de curto tempo, Pst (intervalos de dez minutos) e valores médios de longa duração Plt (intervalo de duas horas), o flicker diminui a medida que os valores tendem a 1. A fórmula para calculo do flicker produzido por um aerogerador em operação continua é: e Onde: Pst = flicker de curta duração [adimensional]; Plt = flicker de longa duração [adimensional]; c = coeficiente de flicker [adimensional]; Sref = potência aparente do aerogerador [MVA]; Sk = potência de curto-circuito no ponto de conexão [MVA]. O coeficiente de flicker c é característico da máquina e informado pelo fabricante do aerogerador. Este coeficiente fornece a relação entre a Sk e Sref necessária para que Pst seja 1. Para avaliação do flicker produzido por um parque eólico, utilizam-se as expressões abaixo: e Onde: Pst = flicker de curta duração do parque eólico [adimensional]; Plt = flicker de longa duração do parque eólico [adimensional]; Pst,i = flicker de curta duração do aerogerador [adimensional]; Plt,i = flicker de longa duração do aerogerador [adimensional]; n = número de aerogeradores no parque eólico [adimensional]. 123 Os impactos são medidos pelos níveis de flicker na região de influência da usina resultantes das variações de tensão decorrentes da operação em regime permanente das usinas eólicas, das correntes de “inrush” e de manobras internas dos aerogeradores. Para mitigar os efeitos do flicker pode-se conectar a usina num ponto de conexão forte, utilizar um aerogerador com velocidade variável ou utilizar aerogeradores conectados à rede por meio de conversores de frequência. Aerogeradores ligados diretamente à rede, como os do tipo A e B, em principio são mais propensos a apresentar este fenômeno (RAMOS, 2011). 4.1.1.3 Harmônicos Os harmônicos são distorções de tensão ou corrente com frequências que são múltiplos inteiros da onda fundamental. A distorção harmônica é causada por equipamentos não lineares no sistema de potência, no caso dos parques eólicos os harmônicos de tensão são causados pelos sistemas inversores eletrônicos, unidades de controle dos tiristores e capacitores. Em um equipamento não linear a corrente não é proporcional à tensão aplicada. A Figura 48 apresenta o gráfico da corrente distorcida resultado do efeito da aplicação de uma tensão perfeitamente senoidal em um resistor não linear (DUGAN, 2004). 124 Figura 48 – Distorção de corrente causada por resistência não linear Fonte: (DUGAN, 2004). Conforme o postulado de Fourier, qualquer função contínua e periódica pode ser representada pela soma de uma componente contínua de uma senóide principal na frequência elementar (no caso da rede elétrica brasileira 60 Hz), e senóides nas frequências que são múltiplos inteiros da fundamental (h = 1, 2, 3...). Desta forma quando uma forma de onda distorcida apresenta comportamento igual durante pelo menos dois ciclos pode ser representa por ondas senoidais puras (DUGAN, 2004). A Série de Fourier, utilizada em sistemas físicos lineares, permite representar e analisar as componentes harmônicas separadamente de uma onda distorcida (DE CARLI, 2012). A Figura 49 apresenta a representação da Série de Fourier de uma onda distorcida. 125 Figura 49 – Representação da série de Fourier de uma onda distorcida Fonte: (DUGAN, 2004). Os aerogeradores equipados com conversores eletrônicos de frequência (ou potência), devido à sua não linearidade, ocasionam emissão de componentes harmônicas de corrente, que podem em algumas condições, implicar em tensões harmônicas elevadas, pois sempre que existirem harmônicos de corrente, haverá harmônicos de tensão em função da impedância do sistema. Quanto maior a impedância, maior a tensão harmônica em função da corrente harmônica, quando uma rede é dita fraca, significa que ela é de baixa potencia, portanto de alta impedância (ROCHA, 2006). A distorção harmônica total de corrente deve ser calculada de acordo com a equação: Onde, Ih é a corrente harmônica eficaz da ordem harmônica h e In é a corrente nominal do aerogerador. A distorção de tensão harmônica individual é dada por: [%] 126 Já distorção de tensão harmônica total procura quantificar o conteúdo harmônico total e é dado por: [%] Onde: Vh : tensão harmônica da ordem h [V]; V1: tensão à frequência fundamental [V]. De acordo com a norma IEC, a distorção harmônica total de tensão, incluindo todos os harmônicos até a 50ª ordem, deve ser inferior a 5%. Harmônicos causam uma série de efeitos indesejados, como por exemplo perdas adicionais, sobrecarga de capacitores para compensação de potencia reativa e distorções nas medições de energia elétrica (CUSTÓDIO, 2009). Aerogeradores tipos A e B são conectados diretamente a rede, portanto não injetam correntes harmônicas no sistema. Nos aerogeradores tipo C (DFIG), as correntes do conversor conectado ao estator apresentam conteúdo harmônico, da mesma forma nos aerogeradores tipo D (“Full Converter”), a corrente total do aerogerador é resultado dos chaveamentos dos conversores e apresenta conteúdo harmônico (RAMOS, 2011). Os impactos da injeção de harmônico dependem não apenas do perfil de injeção informados pelo fabricante, mas também das impedâncias do sistema vista dos pontos de injeção em diversas configurações e condições operativas do sistema. Quando verificado através de estudos que um parque eólico provoca distorções acima dos limites permitidos, para mitigar os efeitos dos harmônicos, são aplicadas as instalações de filtros junto ao parque (DE CARLI, 2012). 127 4.1.1.4 Energia reativa Nos aerogeradores tipo A e B, cuja turbina é acoplada a um gerador assíncrono, a demanda de energia reativa do gerador é parcialmente compensado pelo banco capacitores de auto-exitação, neste caso o fator de potência é, em geral, superior a 0,96 (CUSTÓDIO, 2009). Nos aerogeradores de velocidade variável, tipo C e D, conectados a rede através de conversores de frequência, têm a energia reativa controlada pelo inversor, assim o fator de potencia é próximo a 1, logo não consumindo energia reativa do sistema (CUSTÓDIO, 2009). A estabilidade transitória (ou estabilidade angular do rotor) refere-se à capacidade da máquina síncrona, conectada a um sistema de potência, permanecer em sincronismo após ter sido submetida a um distúrbio. Este conceito não está bem definido para máquinas assíncronas, amplamente utilizadas em concepções tradicionais de aerogeradores. Neste caso, uma variável capaz de refletir o desempenho dinâmico destes geradores é a velocidade do rotor, a qual sofre consideráveis aumentos durante faltas, podendo não retornar a valores permissíveis (PAVAN, 2006). Portanto, os aerogeradores que consomem energia reativa podem afetar os níveis de tensão em regime permanente do sistema, o que eventualmente pode causar colapso no sistema durante perturbações na rede. Na prática, estes aerogeradores são desconectados antes que isto ocorra, porém com o aumento da inserção de geradores eólicos em sistemas elétricos, é importante mantêlos em operação durante determinadas faltas, de forma a fornecer suporte à rede durante um período energético crítico (PAVAN, 2006). Desta forma, os procedimentos de rede limitam as faixas de fator de potência no ponto de conexão, afim de que a interligação da usina não degrade o perfil de tensão da rede além de estabelecerem que os aerogeradores devam continuar operando para determinados limites de afundamento de tensão. 128 4.1.2 Requisitos atuais exigidos pelo ONS No Brasil os requisitos técnicos mínimos para conexão de centrais eólicas no sistema de transmissão (Rede Básica), são estabelecidos pelo ONS, através dos Procedimentos de Rede. A Tabela 15 apresenta os requisitos técnicos gerais do país para conexão ao sistema de potência, conforme o item 8 do Submódulo 3.6 “Requisitos técnicos mínimos para conexão de centrais eólicas na Rede Básica” dos Procedimentos de Rede (ANEXO A). Tabela 15 – Requisitos técnicos gerais no Brasil para conexão ao sistema de potência Requisito 1. Operação em regime de frequência não nominal 2. Geração/absorção de reativos 3. Operação em regime de tensão não nominal Descrição (a) Operação entre 56,5 e 63 Hz sem atuação dos relés de subfrequência e sobrefrequência instantâneos. (b) Operação abaixo de 58,5 Hz por até 10 segundos. (c) Operação entre 58,5 e 61,5 Hz sem atuação dos relés de subfrequência e sobrefrequência temporizados. (d) Operação acima de 61,5 Hz por até 10 segundos (1). No ponto de conexão, a central geradora eólica deve propiciar os recursos necessários para, em potência ativa nominal e quando solicitado pelo ONS, operar com fator de potência indutivo ou capacitivo dentro da faixa especificada abaixo: (a) mínimo de 0,95 capacitivo; (b) mínimo de 0,95 indutivo. No ponto de conexão da central geradora: (a) Operação entre 0,90 e 1,10 p.u. da tensão nominal sem atuação dos relés de subtensão e sobretensão temporizados. (b) Operação entre 0,85 e 0,90 p.u. da tensão nominal por até 5 segundos. Benefício Evitar o desligamento dos geradores quando de déficit de geração, antes que o esquema de alívio de carga atue completamente ou em condições de sobrefrequência controláveis. Participação efetiva no controle da tensão, aumentando as margens de estabilidade de tensão. Evitar o desligamento da usina quando há variações de tensão no sistema. 4. Participação em SEP Possibilidade de desconexão automática ou de redução de geração mediante controle de passo e/ou de stall das pás. Minimizar consequências de perturbações no sistema, incluindo sobrefrequência no caso de ilhamento. 5. Potência ativa de saída Para tensões no ponto de conexão entre 0,90 e 1,10 pu, para a central geradora eólica não será admitida redução na sua potência de saída, na faixa de frequências entre 58,5 e 60,0 Hz. Para frequências na faixa entre 57 e 58,5 Hz é admitida redução na potência de saída de até 10%. Esses requisitos Garantir a disponibilidade de potência das centrais de geração eólica em situações de subfrequência de modo a evitar/minimizar os cortes de carga por atuação do ERAC. 129 aplicam-se em condições de operação de regime permanente, quase estáticas (2). Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). Notas: (1) A temporização da proteção de desligamento por sobrefrequência é definida com base em avaliação do desempenho dinâmico, para garantir a segurança operativa do SIN. (2) As condições de operação quase-estáticas são caracterizadas por gradientes de frequência ≤ 0,5% /min e de tensão ≤ 5% /min. Adicionalmente os procedimentos de rede normatizam outros requisitos mínimos, tais como (ONS, Procedimentos de Rede, 2013): Variações de tensão em regime permanente: As centrais de geração eólica não devem produzir variação de tensão superior a 5% no ponto de conexão no caso de manobra parcial ou total, tempestiva ou não, do parque gerador. Desequilibro de tensão: O acessante deve manter suas cargas balanceadas de tal forma que o desequilíbrio da tensão decorrente da operação de seus equipamentos, bem como outros efeitos internos às suas instalações, não provoque no ponto de conexão à rede básica ou ao barramento de transformador de fronteira a superação do limite individual para o indicador Fator de Desequilíbrio de Tensão k, que exprime a relação entre as componentes de sequência negativa (V2) e sequência positiva (V1) da tensão, expresso em termos percentuais da componente de sequência positiva: O valor do indicador a ser comparado com o valor limite, identificado como KS95%, é assim obtido: (a) determina-se o valor que foi superado em apenas 5% dos registros obtidos no período de 1 dia (24 horas), considerando os valores dos indicadores integralizados em intervalos de 10 (dez) minutos, ao longo de 7 (sete) dias consecutivos; e (b) o valor do indicador corresponde ao maior entre os sete valores obtidos anteriormente, em base diária. Os limites são estabelecidos conforme apresentado na Tabela 16. Tabela 16 – Limites de desequilíbrio de tensão Indicador Limite Global Limite Individual KS95% 2% 1,5% Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). 130 Flutuação de tensão (flicker): O acessante deve adotar todas as medidas necessárias para que a flutuação de tensão decorrente da operação de seus equipamentos, bem como outros efeitos em suas instalações, não provoque no respectivo ponto de conexão à rede básica ou ao barramento de transformador de fronteira, superação dos limites individuais para os indicadores de severidade de cintilação PstD95% - Indicador de Severidade de Cintilação de Curta Duração Diário e PltS95% - Indicador de Severidade de Cintilação de Longa Duração Semanal, conforme determinação da norma IEC 61000-4-15. O indicador Pst representa a severidade dos níveis de cintilação associados à flutuação de tensão verificada num período contínuo de 10 (dez) minutos e é calculado a partir dos níveis instantâneos de sensação de cintilação, medidos conforme a seguinte expressão: Onde: Pi = nível de sensação de cintilação que foi ultrapassado durante i% do tempo, resultante do histograma de classificação por níveis, calculado conforme estabelecido na Publicação IEC-61000-4-15. O indicador Plt () representa a severidade dos níveis de cintilação causados pela flutuação de tensão verificada num período contínuo de 2 (duas) horas e é calculado a partir dos registros de Pst conforme a seguinte expressão: Os indicadores de severidade de cintilação, aqui adotados como representativos da flutuação de tensão em barramentos da rede básica e em barramentos dos transformadores de fronteira, são: (a) PstD95%: valor do indicador Pst que foi superado em apenas 5% dos registros obtidos no período de 1 (um) dia (24 horas); (b) PltS95%: valor do indicador Plt que foi superado em apenas 5% dos registros obtidos no período de uma semana, ou seja, de 7 (sete) dias completos e consecutivos. 131 Os limites para estes indicadores são estabelecidos pela Tabela 17. A Tabela 18 define os valores dos Fatores de Transferência (FT). Tabela 17 – Limites de flutuação de tensão Indicador PstD95% PltS95% Limite global inferior FT Limite global superior FT Limite individual Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013) Tabela 18 – Fatores de Transferência (FT) Tensão FT Barramento de tensão nominal ≥ 230 kV 0,65 69 kV ≤ Barramento de tensão nominal < 230 kV Barramento de tensão nominal < 69 kV 0,8 1,0 Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). Suportabilidade a subtensões decorrentes de faltas na rede básica (fault ridethrough): Os aerogeradores não devem se desconectar em casos de afundamentos de tensão. Caso haja afundamento de tensão em uma ou mais fases no ponto de conexão da central de geração eólica na rede básica, a central deve continuar operando se a tensão nos seus terminais permanecer acima da curva indicada na Figura 50. Isso é um fator importante para aumentar a margem de segurança de operação do sistema, minimizando o risco de colapso, tendo em vista que o aerogerador conectado e sincronizado será benéfico a recuperação da tensão. 132 Figura 50 – Suportabilidade a subtensões - Tensões nos terminais dos aerogeradores Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). Distorção harmônica: O acessante deve assegurar que a operação de seus equipamentos, bem como outros efeitos em suas instalações, não causem distorções harmônicas no ponto de conexão à rede básica ou ao barramento de transformador de fronteira em níveis superiores aos limites individuais estabelecidos para os indicadores de distorção de tensão harmônica individual e total definidos. Os valores dos indicadores – tanto o indicador total (DTHTS95%) quanto os indicadores por harmônicos – a serem comparados com os valores limites são assim obtidos: (a) determina-se o valor que foi superado em apenas 5% dos registros obtidos no período de 1 dia (24 horas), considerando os valores dos indicadores integralizados em intervalos de 10 (dez) minutos, ao longo de 7 (sete) dias consecutivos; e (b) o valor do indicador corresponde ao maior entre os sete valores obtidos, anteriormente, em base diária. Os limites globais inferiores correspondentes aos indicadores de tensão harmônica individuais de ordem 2 a 50, bem como o indicador DTHTS95% são apresentados na Tabela 19. 133 Tabela 19 – Limites globais inferiores em porcentagem da tensão fundamental V ≥ 69 kV V < 69 kV Ímpares Valor Ordem (%) 3, 5, 7 Pares Valor Ordem (%) 5% 3, 5, 7 2, 4, 6 9, 11, 13 Ímpares Valor Ordem (%) 9, 11, 13 ≥8 2% 2% 3% 2, 4, 6 1% ≥8 0,5% 1,5% 1% 15 a 25 2% 15 a 25 1% ≥ 27 1% ≥ 27 0,5% DTHTS95% = 6% Pares Valor Ordem (%) DTHTS95% = 3% Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). Os limites globais superiores são determinados pela multiplicação dos limites globais inferiores por um fator igual a 4/3. Por exemplo, os limites globais superiores relativos aos indicadores DTHTS95% para V < 69 kV e V ≥ 69 kV são, respectivamente, 8% e 4%. Os limites globais inferiores e superiores são utilizados no gerenciamento do desempenho da rede básica com relação às distorções de tensão. Quando uma barra apresenta distorção abaixo do limite global inferior, ela é considerada adequada, quando este valor esta entre os limites globais inferiores e superiores, a barra é considerada em observação, finalmente, quando a distorção da barra supera os limites globais superiores, medidas corretivas devem ser adotadas (DE CARLI, 2012). Os limites individuais de tensões harmônicas de ordem 2 a 50, bem como o indicador DTHTS95% são apresentados na Tabela 20. Tabela 20 – Limites individuais em porcentagem da tensão fundamental 13,8 kV ≤ V < 69 kV Ímpares Pares Valor Valor Ordem Ordem (%) (%) 3 a 25 1,5% todos 0,6% ≥ 27 0,7% DTHTS95% = 3% Fonte: (ONS, Procedimentos de Rede, 2013). V ≥ 69 kV Ímpares Valor Ordem (%) 3 a 25 0,6% Pares Valor Ordem (%) todos ≥ 27 0,4% DTHTS95% = 1,5% 0,3% 134 Os limites individuais representam os limites que são impostos a cada usina eólica ou conjunto de usinas em caso de conexão compartilhada de interesse restrito. As definições de distorção harmônica é um requisito que necessita de amadurecimento, já que em outros países este é um requisito pouco exigido, e tem implicado na necessidade de instalação de filtros de harmônicas em muitos parques eólicos no país. Através das definições do Submódulo 3.6 dos Procedimentos de Rede, a qualidade de energia elétrica eólica produzida e fornecida no Brasil apresenta padrões de qualidade adequados (CUSTÓDIO, 2009). Adicionalmente, frente ao crescimento da fonte eólica na matriz brasileira, o ONS já vem adotando medidas para integração da geração eólica tais como (CHIPP, 2012): Desenvolver modelos de previsão de geração (até 72 horas antes) a partir do acompanhamento dos dados históricos, das previsões das condições climáticas e dos dados topográficos; Estabelecer estratégias de reserva de potência, para fazer frente ao caráter intermitente do vento e as imprecisões da previsão (particularmente para variações bruscas de vento); Acompanhamento de desempenho dinâmico do conjunto de parques eólicos conectados a um mesmo barramento da rede elétrica, em função do eventual valor baixo de relação de curto-circuito; Estabelecimento de requisitos de supervisão de forma a “enxergar” a geração eólica em montante adequado; Avaliação de centros de despacho regionais para concentrar a operação e relacionamento de um conjunto destas fontes com o operador do sistema; Monitoração de valores de indicadores de qualidade de energia elétrica, principalmente os indicadores de distorção harmônica e flutuação de tensão. 135 4.1.3 Conexão de aerogeradores ao sistema elétrico de potência – Desafios do Brasil Para uma bem sucedida integração da energia eólica, agentes de geração, fabricantes de aerogeradores, agentes de regulação e operadores do sistema enfrentam desafios para mitigar os impactos na rede (LEÃO, 2009). Conforme observado nas seções 4.1.1 e 4.1.2, na conexão de aerogeradores ao sistema elétrico devem-se observar os efeitos da injeção dessa potência, alguns importantes fenômenos são o colapso de tensão e problemas na qualidade de tensão, perdas elétricas na rede, regulação de tensão e despacho de potência (CUSTÓDIO, 2009). Estes problemas somente são preocupantes se o sistema elétrico da região de conexão da usina apresentar baixa potência de curto circuito, se comparado ao acréscimo de potência dos aerogeradores. Para solucionar o problema de estabilidade de tensão podem ser adotadas algumas medidas como: Reforço no sistema com instalação de linhas de transmissão e cabos; Instalação de compensação reativa: compensadores síncronos, capacitores, e compensadores estáticos; Conexão ao sistema usando corrente continua. A regulação de tensão depende da capacidade do sistema, a compensação reativa pode ser uma solução neste caso. A escolha da solução leva em consideração os custos da alternativa. A construção de novas linhas de transmissão, por exemplo, além de aumentarem o nível de curto circuito diminuem as perdas elétricas. Já o despacho de potência é dificultado pela característica aleatória do vento, porém este problema só é critico em níveis de penetração acima de 20% da capacidade de geração do sistema elétrico, conforme visto na seção 3.4, apesar da expansão da fonte eólica no Brasil ela é considerada uma fonte complementar, o controle de frequência e a regulação de frequência são feitas pelas usinas convencionais, despachadas pelo ONS (CUSTÓDIO, 2009). Em função dos efeitos da integração da energia eólica ao sistema elétrico, dos requisitos do ONS e das diferentes topologias de aerogeradores, a Tabela 21 resume as 136 principais consequências que devem nortear as ações do agente de geração (proprietário do parque eólico), e dos demais agentes do sistema como a ANEEL, ONS e EPE. Tabela 21 – Consequências dos efeitos da integração de uma usina eólica ao sistema elétrico Efeito Tipo A Aerogerador Tipo B Tipo C Tipo D Flutuações de Potencia gerada Pior Pior Melhor Melhor Harmônicos Não Não Sim Sim Flicker Consumo de Energia Reativa Consequência Carregamento do sistema. Conexão da usina em ponto forte Instalação de Filtros, se necessário. Cintilação luminosa. Maior Maior Menor Menor Conexão da usina em incidência incidência incidência Incidência ponto forte Podem levar ao colapso da rede. Eventual Sim Sim Não Não necessidade de compensação. Conexão da usina em ponto forte Fator de potencia no ponto de conexão 0,95 capacitivo e 0,95 indutivo Pior Pior Melhor Melhor Se necessário instalação de compensação, através de Banco de Capacitores, Reatores, etc. Suportabilidade a subtensões durante faltas Pior Pior Melhor Melhor Desconexão dos aerogeradores Fonte: Autor. Analisando as particularidades do Brasil, a participação eólica na matriz energética prevista para 2015 é de cerca de 6,6% (EPE, Plano Decenal de Energia - PDE 2021, 2013), o que é relativamente pequeno. Por se tratarem de parques novos, a tecnologia empregada nos aerogeradores é moderna. Os ventos no Brasil são mais constantes, com poucas ocorrências de rajadas e existe uma complementaridade com a energia hidrelétrica. Desta forma, referente ao efeito flicker, ele não representa atualmente problema nas conexões de parques eólicos. Em geral o efeito é local, ou seja, não há propagação para outros barramentos do SIN (MEDEIROS, 2012). É de responsabilidade dos acessantes a mitigação de problemas relacionados com a penetração de harmônicos e com o fator de potência, que devem atender aos requisitos dos 137 procedimentos de rede e prever equipamentos adicionais no seu projeto quando identificado nos estudos elétricos de conexão do parque eólico. Alusivo ao comportamento dinâmico das unidades geradoras em situações de perturbações no sistema elétrico reflete a importância do dispositivo “Ride Through the Fault”, para evitar que os aerogeradores se desconectem do sistema na ocorrência de uma falta. Este é um requisito do procedimento de rede, e é uma concepção que depende basicamente do tipo de aerogerador utilizado no parque eólico e dos seus mecanismos de controle. Portanto avaliando os aspectos levantados, o grande desafio sob ponto de vista técnico para a integração da geração eólica no Brasil é a localização geográfica dos parques eólicos, pois em sua grande maioria eles estão localizados em pontos onde a rede elétrica é fraca, com baixa potência de curto circuito, o que implica na necessidade de implantação de reforços na rede (CHIPP, 2011). No caso especifico do Brasil, os órgãos de planejamento e operação do sistema elétrico (EPE e ONS) adotaram à época do PROINFA, quando não se conhecia muito dos aerogeradores, que a potência da usina eólica não ultrapassasse a 8% da potência de curto circuito à rede, o que equivalia a uma rcc limite de 12,5 (CUSTÓDIO, 2009). Apesar deste valor ainda não estar oficializado em nenhum documento de critérios de expansão do sistema, a EPE vem adotando atualmente valores bem menos conservadores em seus estudos, rcc de 2,5, ou seja, 40% da potência de curto circuito. A Figura 51 apresenta um diagrama simplificado, contendo as interligações regionais, as principais usinas em construção no Brasil e a incidência da geração eólica no SIN. 138 Figura 51 – Interligações regionais de energia no Brasil Fonte: (ONS, 2013). Atualmente, há um portfólio de projetos eólicos habilitados tecnicamente pela EPE de cerca de 600 empreendimentos, cuja potência total é superior a 16 GW. Destes 450 projetos são localizados na região nordeste (cerca de 12 GW) e 150 na região sul (cerca de 4,3 GW), isto indica que a expansão no país tem espaço e continuará acontecendo nestas regiões. A Figura 52 ilustra a distribuição destes projetos. 139 Figura 52 – Empreendimentos eólicos habilitados pela EPE desde 2009, agregados por município Fonte: (EPE, 2013). Comparando o mapa da Figura 52, com o mapa do Sistema de Transmissão Brasileiro, (apresentado neste trabalho na Figura 7 localizada na página 51), nitidamente é possível observar que os projetos eólicos brasileiros estão localizados em locais onde a rede elétrica é fraca, com baixa potência de curto circuito (por ser pouco malhada e estar nas extremidades do sistema), ou em locais onde até mesmo a rede é inexistente. Por fim, atualmente muitas das usinas eólicas em operação no sistema são de porte tal que seu impacto sobre o sistema se limita à área do sistema em que ele se conecta. Com a instalação de usinas de grande porte e em quantitativos expressivos, como previstos a partir de 2014, estima-se que esta influência passe a produzir impactos no desempenho dinâmico global do SIN no que se refere às suas interligações (RAMOS, 2011). Questões como estas representam certamente grandes desafios técnicos para o futuro próximo do Brasil, que terá de investir no reforço do sistema de transmissão, principalmente na construção de novas linhas ou recapacitação de existentes, além da inclusão 140 de equipamentos para compensação de reativos e/ou aumento da potência de curto-circuito, como compensadores síncronos, estáticos, reatores e capacitores. 4.2 INTEGRAÇÃO DA GERAÇÃO EÓLICA: DESAFIOS SOB ASPECTOS REGULATÓRIOS O debate referente ao problema regulatório para conexão da geração eólica no Brasil se intensificou depois dos atrasos no sistema de transmissão dos parques no nordeste constatados no ultimo ano, segundo a ANEEL o atraso na entrada em operação de linhas de transmissão destinadas a escoar energia de 28 parques eólicos que estão prontos no Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia, com potência instalada de 622 MW, tem gerado prejuízo mensal de R$ 33 milhões (ANEEL, 2013). O desafio da integração da energia eólica ao sistema de transmissão Brasileiro, sob o ponto de vista regulatório, é composto hoje basicamente por três temas (CHIPP, 2011): Os Leilões de Energia e as Instalações de Transmissão de Interesse Exclusivo de Centras de Geração para Conexão Compartilhada (ICGs); Dificuldade de compatibilização entre os cronogramas de transmissão e geração para os leilões A-3 e LER; Diferença entre o sistema de transmissão antes e depois do leilão de geração. Na sequência serão conceituados e discutidos o panorama atual destes temas. 4.2.1 Os Leilões de Energia e as ICGs A portaria do MME no 328, de 29 de julho de 2005, posteriormente atualizada pela portaria no 21, de 18 de janeiro de 2008, instituiu o processo de Registro na ANEEL e posterior Habilitação Técnica pela EPE de projetos de novos empreendimentos de geração de energia elétrica e de ampliação ou repotenciação, restrita ao acréscimo da capacidade 141 instalada, com relação à promoção dos leilões de energia proveniente de novos empreendimentos. Esta portaria condiciona que todos os projetos e novos empreendimentos de geração, inclusive ampliação e repotenciação de empreendimentos existentes e importação de energia elétrica, deverão estar registrados na ANEEL para que possam posteriormente se habilitar tecnicamente para participar dos leilões de energia nova do ACR. Os empreendedores que pretenderem propor a inclusão destes projetos registrados na ANEEL nos leilões de compra de energia proveniente de novos empreendimentos de geração devem requerer o cadastro para obtenção da Habilitação Técnica dos respectivos empreendimentos à EPE. Este processo de habilitação técnica é realizado sempre quando da divulgação de um edital de leilão de contratação de geração, sendo a entrega dos documentos de habilitação com um prazo de três meses de antecedência a data de realização do certame. Com esse propósito, os empreendedores deverão protocolar na EPE, dentre outros documentos, o parecer ou documento equivalente referente a consulta de acesso das centrais geradoras à Rede Básica, às DIT, ou às redes de distribuição, para os casos de conexão no sistema de transmissão da Rede Básica ou das DIT, com entrada em operação do empreendimento de geração em prazo inferior ou igual a 03 (três) anos, o referido parecer ou documento equivalente deverá ser emitido pelo ONS. A emissão destes documentos tem sido feita de forma individual, empreendimento por empreendimento, já que não se sabe quem será efetivamente vencedor do leilão, vendendo energia. Cabe resaltar que os aerogeradores que vem sendo utilizados no Brasil têm potencia nominal de 2 MW, e eles são agrupados em conjuntos que constituem uma central geradora eólica com capacidade instalada ligeiramente inferior a 30 MW, para fins de usufruir de benefícios tarifários. Desta forma, um parque, por exemplo, de 150 MW localizado num único sitio é dividido em cinco ou seis centrais, e para cada parque é emitido um documento de acesso, sempre considerando o mesmo ponto de conexão no sistema de transmissão (GOMES, 2012). Caso o empreendimento venha a ser contratado no leilão de energia, após a emissão do ato de outorga, deve ser dado inicio a seu efetivo processo de acesso no ONS, conforme já explanado no item 3.3.4 deste trabalho. No referido parecer de acesso, deve ser ratificado ou não o ponto de conexão solicitado antes da realização do leilão e definidas as instalações de conexão definitivas. 142 Quando mais de um empreendimento de geração se sagra vencedor do leilão com conexão no mesmo ponto, os referidos estudos de integração devem ser feitos de forma conjunta, tendo em vista a influência entre eles e o impacto no sistema de transmissão. Isto pode inclusive impactar na mudança do ponto de conexão solicitado. Quando a conexão é feita através de ICG, estas avaliações são realizadas pelo ONS. Vale observar que, referente à divisão das centrais anteriormente mencionadas, elas não são conectadas no ponto de conexão individualmente, elas se conectam a uma única subestação coletora que compartilha esta transformação e a linha de transmissão até o ponto de conexão, o que implica na necessidade de atualização e regularização da autorização pela ANEEL. O fluxograma deste processo de cadastramento e habilitação é ilustrado na Figura 53. Figura 53 – Processo de cadastramento e habilitação de empreendimentos Fonte: (EPE, 2009). 143 Posteriormente houve uma mudança no ciclo deste processo, referente ao momento da realização da chamada pública para ICG, que será abordado posteriormente nesta seção. Antes será apresentado o conceito de ICG. As incertezas que antecederam as análises da conexão de usinas a biomassa no estado do Mato Grosso do Sul fizeram com que o MME e a ANEEL procedessem ao aprimoramento da regulamentação do setor elétrico com o Decreto nº 6.460/2008, que instituiu a Instalação de Transmissão de Interesse Exclusivo de Centrais de Geração para Conexão Compartilhada (ICG). As ICG são instalações de conexão para acesso de centrais de geração, mas de propriedade da concessionária de transmissão. A ANEEL publicou a Resolução Normativa nº 320/2008, que estabeleceu os critérios para classificação das ICG, e regulamentou a realização de Chamada Pública, com vistas a subsidiar o planejamento setorial, ao apurar compromissos firmes dos empreendedores de geração interessados em participar de uma ICG, caracterizados por intermédio do aporte de garantias financeiras. A modalidade de ICG é uma importante alternativa de acesso ao sistema elétrico quando se verifica cumulativamente a demanda por conexão de um número expressivo de geradores em regiões geográficas atendidas por malhas de transmissão com baixa capilaridade e/ou por sistemas de distribuição sem capacidade para incorporar volumes significativos de potência e energia. O conceito de ICG está relacionado às instalações de transmissão não integrantes da Rede Básica destinadas ao acesso de centrais de geração em caráter compartilhado à Rede Básica. As ICGs são definidas por Chamada Pública realizada pela ANEEL e são licitadas em conjunto com as instalações de Rede Básica para duas ou mais centrais geradoras. Uma subestação Coletora é uma instalação de Rede Básica vinculada à conexão de centrais geradoras em caráter compartilhado. Esse tipo de conexão permite minimizar o custo total dos investimentos no sistema de transmissão incentivando a expansão das fontes alternativas na matriz energética brasileira. Outra definição importante estabelecida pela ANEEL são as instalações de transmissão de Interesse Exclusivo e Caráter Individual (IEG). Essa definição refere-se às instalações de uso individual das usinas destinadas à interligação do empreendimento às ICGs. A Figura 54 apresenta os conceitos anteriormente definidos para as ICGs, IEGs e Subestações coletoras. 144 Figura 54 – Diagrama ICG e IEG Fonte: (EPE, 2013). O custo de uma ICG deve ser arrecadado pelos geradores usuários de forma proporcional à potência injetada. Nesse exemplo, cada gerador conectado ao terminal de baixa tensão do transformador paga uma parcela da receita desse equipamento proporcional ao seu Montante de Uso do Sistema de Transmissão (MUST). A partir do diagrama mostrado na Figura 54 é possível exemplificar a arrecadação de cada um dos geradores conectados à subestação coletora, onde: Gerador G1 = TUST + Encargo de Conexão, relativo à parcela de uso do TR (transformador). Geradores G3 e G4 = TUST + Encargo de Conexão, relativo à parcela de uso do TR (transformador) e à parcela de uso da LT (linha de transmissão). Importante observar que o custo das instalações de transmissão de Interesse Exclusivo e Caráter Individual (IEG) deverá ser assumido pelos empreendedores agentes de geração, não estando incluído nos Encargos de Conexão, conforme o exemplificado anteriormente. Para os agentes geradores, esta forma de pagamento é um atrativo, visto que o agente deixa de fazer o investimento no curto prazo, cuja responsabilidade passa a ser da transmissora vencedora da licitação da ICG. Em 14 de agosto de 2008 foi realizado o leilão de energia de reserva n o 001/2008, para contratação de usinas termelétricas de biomassa e PCHs, cujo fluxo seguiu o apresentado anteriormente na Figura 53, ou seja, a Chamada Pública de ICG, para cadastramento para fins de inscrições de potenciais interessados em compartilhar as ICGs, aconteceram antes da 145 realização do leilão de energia. Desta forma as ICGs foram dimensionadas pela EPE e implantadas mediante licitação (leilão de transmissão). Definidos os geradores interessados, a licitação para as ICG de Mato Grosso do Sul e do sul de Goiás foi realizada em 24 de novembro de 2008, por meio do Leilão de Transmissão no 008/2008. Neste caso surgiram problemas associados principalmente à desistência de alguns agentes geradores quanto à efetiva implantação e conexão de suas usinas, deixando ociosas as instalações de transmissão previamente licitadas. Também houve problemas de atrasos e dificuldades das implantações dos sistemas de transmissão, pelos mais diversos motivos. Este não casamento de cronogramas geram diversos transtornos, envolvendo inclusive prejuízos para ambas às partes. Desta forma, o estabelecimento de ICGs ou das instalações de rede básica necessárias para integração da usina licitada, associados aos leilões de energia subsequentes ao citado, foi feito na ordem inversa, ou seja, foram realizados os leilões de energia precedendo os correspondentes leilões de transmissão, desta forma a chamada pública para interessados em compartilhar as instalações de ICG passou a ocorrer em até sessenta dias após a realização do leilão de energia, prazo suficiente para a EPE realizar os estudos e simulações para dimensionamento das ICGs. Este processo aconteceu de 2009 a 2012, e as ICGs dimensionadas pela EPE foram destinadas especificamente para o acesso de centrais geradoras eólicas no Nordeste do país e se restringiram a subestações transformadoras 230/69 kV. Porém, os mesmos problemas ocorridos anteriormente voltaram a acontecer. Como consequência notou-se novamente um descompasso entre a entrega para operação das ICGs e as usinas que delas farão uso. Por exemplo, em 2009, no primeiro leilão exclusivo para a energia eólica, foram contratados 1.841 MW de potência instalada. Deste montante, 622 MW estão entregues para operação, todavia impossibilitados de gerar devido às respectivas ICGs ainda não estarem concluídas, os prejuízos foram apontados durante audiência da Comissão de Minas e Energia, em 12 de junho na Câmara, quando os parlamentares acusaram o governo e a cúpula do setor energético de causarem um prejuízo de R$ 770 milhões aos cofres públicos, pelo pagamento feito a usinas eólicas que ficaram prontas no prazo, mas não têm linhas de transmissão para despachar energia (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013). Estes atrasos tiveram ampla repercussão em todos os veículos da imprensa e do setor elétrico, e o problema tende a se agravar, pois ainda existem discrepâncias entre os cronogramas de conclusão de novas usinas e suas respectivas ICGs. 146 Estes fatos foram resultado de uma visão segmentada no processo de planejamento da expansão e que repercutirão de forma negativa na operação do SIN, seja nos aspectos econômicos, seja naquelas relacionados à segurança, confiabilidade e ao meio ambiente (DESTER, 2013). Desta forma ficou latente para o governo e para o setor elétrico brasileiro o necessário aprimoramento do processo de tratamento das ICGs. Em sequência serão um pouco mais exploradas a incompatibilidade de cronogramas e as diferenças dos sistemas de transmissão anteriores e posteriores ao leilão de geração. 4.2.2 Dificuldade de compatibilização entre os cronogramas de transmissão e geração para os leilões A-3 e LER Conforme apresentado anteriormente, houve um descompasso entre os cronogramas de transmissão e de geração, referente as ICGs que atenderiam os parques eólicos do nordeste, e mais atrasos deverão se confirmar referente ao sistema de transmissão de outros parques eólicos, que não necessariamente foram classificados como ICGs. A compreensão deste problema esta relacionada basicamente com o período de tempo entre a data do leilão de geração e data da entrega da energia, que é insuficiente para a adequação do sistema de transmissão. Lembrando que estes leilões A-3 e de energia de reserva tipicamente tem três anos de prazo para que as usinas entrem em operação comercial, e ultimamente ocorrendo inclusive com prazos inferiores a três anos, o que tem sido um agravante. As principais etapas a serem cumpridas para possibilitar a implantação do sistema de transmissão, posterior a realização do leilão de geração, estão listadas abaixo: Chamada pública para candidatos a ICG (eólicas e biomassa); Planejamento do sistema de transmissão para escoamento da geração vencedora do leilão; Preparação do edital de licitação da transmissão; Realização do leilão de transmissão; Assinatura do contrato de concessão da transmissão; 147 Licenciamento ambiental; Implantação das obras; Comissionamento e entrada em operação comercial. A Figura 55 de autoria do ONS apresenta os principais marcos, e seus respectivos prazos médios, associados à implantação de instalações de geração e transmissão, referente aos leilões A-3 e de energia de reserva. Figura 55 – Principais marcos associados à implantação de instalações de geração e transmissão – leilões A-3 e LER (prazos médios) Fonte: (CHIPP, Energia Eólica e a Operação do Sistema Elétrico - Experiências do Brasil e Portugal no Setor Elétrico, 2011). Sendo assim, com base nos prazos elencados na Figura 55, teremos apenas 20 e 24 meses, respectivamente, para implantação das ampliações e reforços necessários para que o sistema de transmissão esteja pronto juntamente com o inicio da operação comercial dos parques (D + 3 anos). Levando em conta os prazos médios atuais de licenciamento ambiental (17 meses para obtenção da Licença de Instalação que autoriza a mobilização para inicio das obras) dificilmente estes prazos serão atingidos. As etapas referentes aos leilões de transmissão já foram detalhados na seção 2.5.1 (página 56), explorando um pouco mais estas datas, o cronograma e o prazo de implantação um empreendimento de transmissão inicia com a assinatura do contrato de concessão. O prazo 148 de execução do empreendimento varia de acordo com uma série de variáveis, seja pelo nível de tensão e consequente complexidade do empreendimento, restrições ambientais e/ou fundiárias, por condições climáticas desfavoráveis, variáveis geológicas desconhecidas previamente, etc. As principais etapas de um empreendimento de transmissão são descritas na Tabela 22. Tabela 22 – Principais etapas de um empreendimento de transmissão ETAPA PROJETO BÁSICO ASSINATURA DE CONTRATOS REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA LICENCIAMENTO AMBIENTAL PROJETO EXECUTIVO MATERIAIS EQUIPAMENTOS PRINCIPAIS DEMAIS EQUIPAMENTOS PAINES DE PROTEÇÃO, CONTROLE E AUTOMAÇÃO DESCRIÇÃO/PRINCIPAIS ATIVIDADES PRAZO MÉDIO (*) (meses) Elaboração e análise dos projetos básicos do empreendimento, a serem entregues para aprovação do ONS/ANEEL Assinatura dos contratos de EPC - Estudos, projetos e construção, CCT - Acordo Operativo, CCI - Acordo Operativo e CPST, quando aplicáveis. Aquisições, desapropriações, indenizações ou recomposições de propriedades e de serviços públicos que interfiram com a área das instalações, declaração de utilidade pública quando necessário. Engloba as atividades de Termo de Referência, Estudo de Impacto Ambiental, Licença Prévia, Licença de Instalação, Autorização de Supressão de Vegetação e Licença de Operação (ao final). Interação com diversas entidades, como IBAMA, órgãos estaduais, IPHAN, ICMbio, etc. Elaboração e análise dos projetos executivos civis, eletromecânicos, elétricos e "como construído". Compreende a aquisição, fabricação, inspeção, ensaios e transporte das estruturas, cabos condutores, ferragens, isoladores, e demais materiais eletromecânicos. Compreende a aquisição, fabricação, inspeção, ensaios e transporte referente aos autotransformadores, transformadores, reatores, capacitores, compensadores, válvulas tiristorizadas, filtros CA/CC. Compreende a aquisição, fabricação, inspeção, ensaios e transporte dos equipamentos de manobra como: disjuntores, chaves seccionadoras, transformadores de instrumentos, para raios, cubículos blindados, etc. Compreende as aquisições, fabricação, inspeção e ensaios do Sistema de Proteção, Controle e Supervisão e de Telecomunicações. Compreende a mão de obra, equipamentos e materiais de consumo referente ao canteiro de obras, terraplanagens, fundações, drenagem, edificações e demais obras de infraestrutura. Compreende a mão de obra, equipamentos e materiais de instalação MONTAGEM e consumo necessárias à montagem e completa instalação dos ELETROMECÂNICA equipamentos. Compreende a aceitação, incluindo ensaios e inspeções dos ENSAIOS DE equipamentos e instalações no campo, que permitirão a sua operação COMISSIONAMENTO comercial. OPERAÇÃO Energização e entrega para operação comercial do empreendimento. COMERCIAL Fonte: Autor. (*) Cronograma estimado considerando uma Linha de Transmissão genérica de 230 kV de 100 respectivos terminais de linhas, em região de relativa complexidade ambiental (caso comum das ICGs). OBRAS CIVIS 2 3 6 18 6 10 12 8 10 8 6 2 0 km com 149 Ao englobarmos estas etapas em um cronograma simplificado, com as respectivas correlações das atividades é possível determinar o prazo total estimado do empreendimento, neste caso de 30 meses após a assinatura do contrato de concessão. Tabela 23 – Cronograma simplificado empreendimento de transmissão Fonte: Autor. No caso das linhas em atraso no nordeste (Lotes A e C do Leilão de Transmissão o n 006/2010), o prazo para conclusão das obras estipulados pela ANEEL no edital do Leilão eram de 18 meses, a partir da assinatura do contrato de concessão. A empresa vencedora do certame, que ocorreu em 03 de setembro de 2010 referente aos lotes A e C, foi a Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF, sendo o contrato de concessão assinado em 23 de novembro de 2010. Desta forma as instalações deveriam entrar em operação comercial em 23 de maio de 2012, o que atenderia o prazo das usinas, que tinham prazo até julho de 2012 para entrar em operação comercial, embora seja comum em obras de usinas eólicas a antecipação do prazo de três anos. Na prática, o atraso para a operação do Lote A já chega a 15 meses, já que a previsão para a conclusão da obra é 31 de novembro deste ano, segundo informações fornecidas pela própria CHESF à ANEEL. Em relação ao lote C, o projeto tem um cronograma atraso em 14 meses, com conclusão prevista para 31 de outubro próximo. A CHESF alega para todos os projetos demora na liberação de licença e a falta de informação dos projetos licitados, que a obrigaram a realizar mais estudos (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013). Independente das motivações e responsabilidades, fica latente pelos atrasos que o prazo estipulado pela ANEEL no edital do leilão de ICGs era inexequível, prazos de 18 meses não são comuns na implantação de linhas de transmissão, e a agencia certamente utilizou este 150 prazo para tentar viabilizar, pelo menos em papel, o cumprimento do cronograma das usinas eólicas. 4.2.3 Diferença entre o sistema de transmissão antes e depois do leilão Cabe à EPE, em um primeiro momento, especificar apenas os reforços referenciais de Rede Básica para a viabilização dos montantes cadastrados no leilão de geração, que estarão condicionados aos resultados do referido certame. Estas informações servem de subsídio à ANEEL para o cálculo das tarifas de transmissão de cada empreendimento habilitado pela EPE para participar do leilão. Estes valores são então publicados concomitantemente com o edital do leilão de compra de energia, e subsidiam o lance dos empreendedores de geração no certame. A dificuldade dos agentes geradores é que existe uma diferença da quantidade de usinas habilitadas e vencedoras, e certamente ocorrerão adequações nos projetos no momento da implantação dos parques. Portanto os agentes geradores não têm como prever com a exatidão necessária antecipadamente a sua configuração de conexão, uma vez que a chamada pública de ICGs é realizada após o leilão. Esta incerteza que influencia no preço da energia a ser ofertado, e acarreta em riscos ao empreendedor, pois a rede de transmissão de uso exclusivo precisa ser dimensionada, e é normal ocorrerem após a chamada publica a alteração da localização geográfica da ICG, configurações das subestações e até mesmo alteração na tensão de conexão. Isto pode ocasionar posteriormente ao agente gerador um acréscimo de trechos de linha de transmissão, equipamentos de pátio adicionais, obras civis, etc. Outro ponto é o tratamento dado à TUST, que utiliza da tarifa referida à conexão no sistema existente pré–leilão fixa durante 10 anos. Isto minimiza risco do empreendedor, mas onera os demais usuários da transmissão, conforme ilustra a Figura 56, pois podem acontecer reforços na rede básica no decorrer do período pós-leilão de geração, e desta forma o empreendedor continuaria pagando a TUSTa que é menor que o valor que deveria ser efetivamente pago (TUSTb), sendo a diferença paga pelo demais usuários do SIN. O efeito contrário também acontece, ou seja, a 151 alteração de premissas na rede calculada a época do leilão pode prejudicar o empreendedor, que pagará uma tarifa mais cara. Figura 56 – Diferença entre as tarifas de uso do sistema de transmissão antes e depois do leilão Fonte: (CHIPP, Energia Eólica e a Operação do Sistema Elétrico - Experiências do Brasil e Portugal no Setor Elétrico, 2011) 4.2.4 Novas tendências do governo Face às consequências apresentadas nas seções anteriores e a grande repercussão destes, o governo já iniciou no primeiro semestre de 2013 algumas modificações significativas nos leilões de energia. O governo continua a estudar soluções para os gargalos na transmissão que têm prejudicado a expansão da geração no país. Entre eles, as centrais de conexão responsáveis pela ligação parques eólicos ao sistema interligado (ICGs), vão deixar de existir nos próximos leilões A-3. Assim se resolveriam parte dos problemas de atraso do sistema de transmissão, e eventuais alternativas com ICG seriam utilizadas somente nos leilões A-5. Foram divulgadas em meados de maio deste ano as regras do Leilão de Reserva 2013, que ocorrerá em 23 de agosto de 2013, e será exclusivo para a fonte eólica. Este certame introduz a consideração da capacidade de escoamento da Rede Básica e de fronteira a regra que atrela a contratação de parques eólicos à garantia de conexão na rede de transmissão 152 eliminando o risco de os empreendimentos ficarem prontos e não terem como escoar a produção. Conforme Portaria MME nº 132, de 25 de abril de 2013, em seu art.5º, §4º (ANEXO B): Na configuração do sistema de que trata o §2º será considerada a expansão da Rede Básica e de fronteira já contratada, com entrada em operação até 1º de janeiro de 2015, conforme homologado pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE na reunião ordinária do mês de março de 2013. O governo está fazendo também ajustes para aprimorar o planejamento da transmissão, como por exemplo, a detecção das regiões que têm potencial para energia eólica, biomassa ou de PCH, por meio dos empreendimentos que foram habilitados para leilões passados, mas que não venderam energia, e que devem estar presentes nos próximos leilões. A ideia é identificar as regiões que tem mais potencial e prover maior capacidade de transmissão antecipadamente para que as usinas se conectem. A EPE encaminhou em junho deste ano ao MME os estudos de expansão da Rede Básica de transmissão que permitirão a contratação de parques eólicos nos próximos leilões de comercialização de energia elétrica. Os estados que receberão as obras de reforço são o Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Rio Grande do Sul. Elaborados com base no cadastro de projetos eólicos que participaram dos antigos certames, esses estudos de expansão contemplam cerca de R$ 2,5 bilhões em novos investimentos. Está prevista, nos quatro estados, a construção de 1.765 quilômetros de linhas de transmissão em 500 kV, além de quatro novas subestações. Essa expansão na malha permitirá viabilizar a contratação de aproximadamente 6.000 MW de parques eólicos (EPE, 2013). A expectativa da EPE é que as linhas de transmissão e subestações reunidas nesses estudos de expansão sejam licitadas ainda este ano, entrando em operação a partir de 2016. Desta forma o país parece estar dando a devida atenção para mitigar os desafios regulatórios que o Brasil tem enfrentado nos últimos anos na integração da geração eólica. Segundo o governo os novos ajustes poderão ser percebidos em menor em escala já nos leilões deste ano, sendo intensificados até 2015. Porém, em face da experiência ainda recente do país na área, ainda existirão muitos desafios a serem enfrentados na consolidação do setor, como a realização de leilões regionais de emergia, revisão do critério de leilão em menor preço por critério associado ao ponto de conexão, entre outros. 153 5 ESTUDO DE CASO – INTEGRAÇÃO DOS COMPLEXOS EÓLICOS GERIBATU E CHUÍ O leilão de energia 002/2011 (A-3), realizado em 17 de agosto de 2011 contratou energia das novas centrais geradoras eólicas a se instalarem na região de Santa Vitória do Palmar e Chuí, no extremo litoral sul do Rio Grande do Sul. O montante total previsto é de 402 MW distribuídos em 16 centrais geradoras, sendo 1o de março de 2014 a data contratual para entrada em operação destes empreendimentos. Na Tabela 24 é apresentada a localização geográfica e a potência instalada para cada central geradora eólica. Tabela 24 – Localização e potência instalada dos empreendimentos eólicos em estudo Fonte: (ELETROSUL, 2013). 154 Estes parques eólicos são de propriedade da holding Eólicas do Sul, Sociedade de Propósito Especifico (SPE) cuja composição acionária é formada pelo fundo de investimentos FIP Rio Bravo (51%) e pela Eletrosul Centrais Elétricas (49%). É interessante observar nas informações da Tabela 24, que se optou pela divisão dos complexos eólicos em diversos parques com potência instalada de até 30 MW, além da composição de uma SPE para implantação dos empreendimentos, em função dos benefícios fiscais e tributários abordados na seção 3.4.1.2. Este estudo de caso objetiva apresentar alguns aspectos na implantação destes empreendimentos que ilustram os desafios técnicos e regulatórios enfrentados atualmente na integração dos parques eólicos no Brasil, e apresentados anteriormente no capitulo 4. 5.1 PARQUES EÓLICOS GERIBATU E CHUÍ Os parques eólicos Geribatu e Chuí formam juntos potencia instalada de 402 MW, sendo que o complexo de Geribatu é o maior complexo eólico em implantação na América Latina, o que consolida a Eletrosul como maior estatal no segmento eólico do Brasil. O conjunto dos parques tem um investimento total previsto de R$ 1,55 bilhões de reais. Estes empreendimentos foram classificados no 12o Leilão de Energia Nova (A-3) 002/2011, realizado em 17 de agosto de 2011, e representam parcela significativa (38%) do total de empreendimentos eólicos contratados naquele certame, que totalizaram 1.067,7 MW (ANEXO C). Os parques estão localizados no extremo sul do Rio Grande do Sul, conforme apresentado pelo mapa da Figura 57. 155 Figura 57 – Mapa do Estado do Rio Grande do Sul indicando a localização dos parques Fonte: Eólicas do Sul/Eletrosul. Para a fase de implantação dos parques eólicos estão previstas sucintamente as seguintes atividades: Instalação e utilização do canteiro de obras; Abertura de estradas e caminhos (limpeza do terreno, remoção da vegetação herbácea, remoção e depósito de terra, escavação, aterros e compactação), construção do sistema de drenagem (construção de valetas de drenagem) e em algumas situações execução das bases dos acessos com materiais de jazidas naturais (saibro); Readequação das estradas e acessos (alargamento da faixa de rodagem para 6,00 m, retificação, regularização e reforços de pavimentos e obras de drenagem quando necessário); Transporte de materiais diversos para construção (concreto, saibro, entre outros); Depósito temporário de materiais resultantes de escavações (saibro, rocha, solo orgânico); Abertura de valas para instalação dos cabos elétricos de interligação entre os aerogeradores e a subestação e prédio de comando; 156 Escavação para a construção das fundações das torres dos aerogeradores; Concretagem das fundações das torres dos aerogeradores; Construção de plataformas provisórias para montagem dos aerogeradores; Transporte e montagem dos aerogeradores; Construção da subestação e da casa de comando; Transporte e montagem dos equipamentos da subestação e da casa de comando; Instalação de linha elétrica para entrega da energia produzida pelo Parque Eólico na rede receptora; Recuperação paisagística das zonas afetadas Na sequência serão abordados detalhes técnicos de cada parque individualmente. 5.1.1 Complexo Geribatu – 258 MW O Complexo Eólico Geribatu é localizado em Santa Vitória do Palmar (RS). No total serão instalados 129 aerogeradores, com potência de 2 MW cada, totalizando 258 MW de capacidade instalada e garantia física de 108,9 MW médios. Com investimento total previsto de R$ 983,8 milhões o Complexo Eólico Geribatu é formado por 10 usinas eólicas (Geribatu I a Geribatu X), apresentados na Figura 58. 157 Figura 58 – Planta de localização dos Parques Geribatu I à X Fonte: Eólicas do Sul. Os aerogeradores a serem implantados nos parques eólicos de Geribatu são de tecnologia de velocidade variável e gerador de indução duplamente alimentado (DFIG), assim conforme classificação apresentada no item 3.1.5 (pagina 78) do TIPO C, com potência de 2,0 MW, fornecidas pela fabricante espanhola GAMESA (modelo G97 – ANEXO D). Este aerogerador possui controle de potência de passo (pitch). As torres dos aerogeradores serão concebidas em aço cilíndrico. Figura 59 – Aerogerador GAMESA Fonte: (GAMESA, 2013). Ao longo de 2012 foram realizadas atividades como processos de atendimento às condicionantes de validade da licença ambiental, negociações fundiárias com os proprietários das áreas onde os parques serão implantados, sondagens e levantamento topográfico nos 158 parques e implantação inicial do canteiro de obras. As obras civis com os serviços de acessos tiveram início no mês de dezembro. Figura 60 – Parque Eólico Geribatu VII – Acesso finalizado Fonte: Eólicas do Sul. 5.1.2 Complexo Chuí – 144 MW O Complexo Eólico Chuí, é formado pelas Centrais Geradoras Eólicas Chuí I, Chuí II, Chuí IV, Chuí V, Minuano I e Minuano II. Parar atingir potência total de 144 MW, com garantia física de 59,85 MW médios, serão instalados 72 aerogeradores com potência de 2 MW cada. O empreendimento está localizado na cidade de Chuí (RS), com investimento total previsto de R$ 565,3 milhões. Os aerogeradores a serem implantados nos parques eólicos de Chuí são de tecnologia de velocidade variável e gerador síncrono atrás de conversores (“Full Converter”), assim conforme classificação apresentada no item 3.1.5 do TIPO D, com potência de 2,0 MW, fornecidas pela fabricante argentina IMPSA (modelo IWP-100 – ANEXO E). Este aerogerador possui controle de potência de passo (pitch). As torres dos aerogeradores serão concebidas em aço cilíndrico. 159 Figura 61 – Aerogerador IMPSA Fonte: (IMPSA, 2013). Durante o ano de 2012, as atividades realizadas para iniciar a implantação se resumem as de licenciamento ambiental e negociações fundiárias com os proprietários das áreas onde os parques serão implantados. 5.2 SISTEMA DE TRANSMISSÃO O sistema de transmissão que fará a integração dos complexos eólicos de Geribatu e Chuí pode ser subdividido em dois elementos principais. O primeiro é composto pelo sistema de transmissão da Rede Básica, inexistente atualmente na região, que foi licitado pela ANEEL posteriormente a venda da energia dos parques para possibilitar o escoamento do potencial eólico da região, sendo de responsabilidade da Transmissora Sul Litorânea de Energia (TSLE), SPE constituída pela Eletrosul (51%) e a Companhia Estadual de Geração e Transmissão de Energia Elétrica (CEEE-GT) (49%). O segundo é o sistema de conexão dos parques, que se interligará a Rede Básica, sendo este de responsabilidade do empreendedor proprietário dos complexos, no caso as Eólicas do Sul. Na sequencia serão detalhados estes dois elementos do sistema de transmissão. 160 5.2.1 Rede Básica Após os resultados dos leilões de energia de energia de 2011, iniciaram-se pela EPE os estudos para avaliar a conexão das usinas eólicas do Estado do Rio Grande do Sul contratados nos leilões de energia realizados até 2011, e validar os estudos realizados antes do leilão. Este estudo deu origem ao documento Nº EPE-DEE-RE-117/2011-rev0, relatório R1, que também teve como segundo objetivo uma análise prospectiva para integração do potencial eólico até o ano de 2020 frente aos projetos cadastrados até então na EPE (EPE, 2012). O litoral sul do estado do Rio Grande do Sul apresenta um potencial eólico significativo, e grande potencial de geração dessa região encontra-se nos municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí. O atendimento atual a essa região é efetuado por meio de linhas de distribuição em 138 kV, que apresentam capacidade de transmissão incompatível com o potencial eólico local e até mesmo com os montantes já comercializados nos últimos leilões. A Figura 62 apresenta o diagrama do sistema na configuração atual. Figura 62 – Diagrama do sistema do litoral sul do Rio Grande do Sul – configuração 2013 Fonte: (EPE, 2012). 161 Para agravar a situação, a região envolve ainda grandes dificuldades relacionadas à obtenção de licenças ambientais para a travessia de novas linhas devido à presença de ecossistemas de grande expressão, como é o caso da Reserva do Taim. O órgão licenciador do Rio Grande do Sul, a FEPAM, deixou claro nas negociações com a ANEEL e com a EPE que só haveria liberação de faixa de passagem para a implantação de uma única torre na área da Estação Ecológica do Taim (EPE, 2012). Nesse sentido, foi definido que a nova linha, que conectaria os municípios de Santa Vitória do Palmar e Rio Grande, seria em 525 kV e que as atuais linhas de 138 kV que suprem a região seriam desmobilizadas. Além disso, no sentido de garantir a travessia de uma nova linha de transmissão na região no futuro, foi solicitado que a nova linha fosse executada em torre de circuito duplo, na região da Estação Ecológica do Taim, condicionando a implantação do segundo circuito à entrada de novas usinas eólicas da região. Essa linha constitui um novo elemento de Rede Básica, pois envolve não só o escoamento da energia das usinas eólicas locais, mas também atender ao mercado da distribuidora CEEE-D. Cabe notar então que as subestações previstas, Santa Vitória do Palmar e Marmeleiro, não se enquadram como ICG pelo fato de envolverem a conexão simultânea dos geradores eólicos e da distribuidora em função da desmobilização da sua linha de distribuição. Com base nas análises efetuadas neste estudo, recomendou-se a implantação dos empreendimentos que compuseram o Lote A do Leilão de Transmissão da ANEEL n o 005/2012, realizado em 06 de junho de 2012, quase 10 meses após o leilão A-3. Este lote era composto por três novas subestações em 525 kV e por 487 quilômetros de novas linhas de transmissão nesta mesma tensão, conforme empreendimentos listados abaixo: Ampliação da SE Nova Santa Rita 525 kV; Implantação da SE Povo Novo 525/230 kV, 672 MVA (4 unidades monofásicas de 224 MVA); Implantação da SE Marmeleiro 525 kV - Compensador Síncrono ±200 MVAr Implantação da SE Santa Vitória do Palmar 525/138 kV, 75 MVA (1 unidade trifásica); Implantação da LT Nova Santa Rita - Povo Novo, Circuito Simples, em 525 kV, com 281 km; 162 Implantação da LT Povo Novo - Marmeleiro, Circuito Simples, em 525 kV, com 154 km; Implantação da LT Marmeleiro - Santa Vitória do Palmar, Circuito Simples, em 525 kV, com 52 km; Seccionamento da LT 230 kV Camaquã 3 - Quinta na SE Povo Novo em Circuito Duplo. A Figura 63 e a Figura 64 apresentam respectivamente o mapa eletrogeográfica da região com a configuração proposta, e o diagrama unifilar simplificado destes empreendimentos. Figura 63 – Mapa eletrogeográfico da região em estudo Fonte: (ANEEL, Edital do Leilão de Transmissão 005/2012 - Lote A, 2012). 163 Figura 64 – Diagrama unifilar dos empreendimentos do Lote A – Leilão 005/2012 Fonte: (ANEEL, Edital do Leilão de Transmissão 005/2012 - Lote A, 2012). O prazo estipulado no edital da ANEEL para implantação destes empreendimentos era de 24 meses a partir da assinatura do contrato de concessão que ocorreu em 27 de agosto de 2012, quase 6 meses depois do compromisso de entrega de energia pelos parques. A Eletrosul ciente da importância estratégica destes empreendimentos para possibilitar o escoamento da energia produzida pelos seus parques que estavam em implantação, da elevada complexidade do sistema e principalmente da dificuldade para execução do empreendimento no prazo estipulado pela ANEEL, envidou todos os esforços e, em parceria com a Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE), através do Consórcio BAL arremataram o Lote A. Os empreendimentos totalizam R$ 710 milhões em investimentos. Posteriormente foi constituída a SPE Transmissora Sul Litorânea de Energia (TSLE), detentora do Contrato de Concessão ANEEL 020/2012, responsável pela implantação dos empreendimentos. 5.2.2 Conexão dos Parques a Rede A conexão dos complexos eólicos Geribatu e Chuí a Rede Básica se dará através de duas subcoletoras 138/34,5 kV denominadas de SE Subcoletora Geribatu e SE Subcoletora Chuí. A rede de média tensão é subterrânea e interliga os circuitos dos aerogeradores em 34,5 kV, posteriormente a tensão é elevada pelos transformadores das Subcoletoras, a SE 164 Subcoletora Geribatu terá uma capacidade de transformação de 300 MVA, através de dois transformadores elevadores 34,5/138 kV. Já a SE Subcoletora Chuí terá capacidade de transformação 34,5/138 kV de 190 MVA, além de abrigar uma unidade reserva de 190 MVA que atenderá ambas subcoletoras. A Subcoletora Geribatu irá se conectar na nova SE Santa Vitória do Palmar através de uma linha de 138 kV (com dois condutores por fase) de 12,7 km, enquanto que a Subcoletora Chuí se conectará na SE Santa Vitória do Palmar através de uma linha de 138 kV (um condutor por fase) de 23,4 km. Na SE Santa Vitória do Palmar haverá uma transformação 525/138 kV com capacidade de 495 MVA, a qual será compartilhada entre todos os empreendimentos. O diagrama da Figura 65 ilustra a configuração de conexão dos parques eólicos de Geribatu e Chuí. Figura 65 – Sistema de integração dos parques eólicos Geribatu e Chuí Fonte: (ELETROSUL, 2013) 165 5.3 INTEGRAÇÃO DOS PARQUES – ASPECTOS TÉCNICOS Nesta seção serão abordados os aspectos técnicos, levantados na seção 4.1, na integração dos parques eólicos de Geribatu e Chuí. 5.3.1 Solicitação de Acesso Em 28/01/2013, foi encaminhada a solicitação de acesso das centrais geradoras eólicas dos complexos Chuí e Geribatu ao Sistema Interligado Nacional – SIN para o ONS. O horizonte de estudo abrangido foi até o verão de 2015/2016. Tais estudos contemplam as análises de regime permanente, curto-circuito, variação de tensão, estabilidade eletromecânica e qualidade de energia e têm o intuito de verificar os impactos da conexão destes novos parques eólicos na rede elétrica. As principais conclusões dos estudos elétricos são apresentadas na Tabela 25 (ELETROSUL, 2013): Tabela 25 – Estudos elétricos para solicitação dos complexos eólicos Geribatu e Chuí ESTUDO Regime Permanente Curto-Circuito CONCLUSÃO CONSEQUÊNCIA As análises foram desenvolvidas para duas situações: - Sem os parques eólicos: despacho nulo nos parques de Geribatu e Chuí, e também despacho nulo nos parques de Cassino e C. Senandes. - Com os parques eólicos: despacho máximo nos parques de Geribatu e Chuí, e também despacho Não se aplica máximo nos parques de Cassino e C. Senandes. Para o período abrangido, não foram encontradas violações nos níveis de tensão das subestações, bem como nos carregamentos de linhas e transformadores, considerando ou não a presença dos parques eólicos a serem implantados na região de estudo, em todos os cenários analisados. As solicitações de curto-circuito nos barramentos Não se aplica das subestações da região, após a conexão dos parques 166 eólicos de Geribatu e Chuí, são inferiores a capacidade de interrupção dos disjuntores de menor capacidade das subestações, e portanto, não foram verificados indicativos de superação de equipamentos nas subestações da área em estudo. A desconexão total e simultânea de todos os parques eólicos conectados no barramento de 525 kV da SE Santa Vitória do Palmar (Complexo Geribatu + Complexo Chuí = 402 MW) não provoca variações de tensão superiores a 5% na Rede Básica, quando os parques estão operando com fator de potência unitário no ponto de conexão O sistema apresenta-se estável diante de todas as contingências simuladas, bem como apresenta bom comportamento com relação ao amortecimento nas respostas sustentadas, para todos os cenários analisados. Verificou-se ainda que todos critérios relativos às tensões nas barras (sobretensões dinâmicas, tensão pós-distúrbio e oscilações de tensão), bem como os critérios referentes à variação de frequência nas máquinas, foram atendidos. Os estudos estão em andamento, análises preliminares indicam que os índices de emissão de cintilação (flicker) em operação contínua atendem aos requisitos dos Procedimentos de Rede. Referente a distorção harmônica, a operação conjunta dos empreendimento causa a principio distorções de tensão no ponto de conexão superiores aos limites exigidos em algumas faixas de frequência. Variação de Tensão Estabilidade Eletromecânica Qualidade de Energia Não se aplica Não se aplica Possível necessidade de instalação de filtros. Fonte: (ELETROSUL, 2013). As análises preliminares do nível de distorção harmônica apontam a necessidade da instalação de filtros para a integração dos complexos eólicos Chuí e Geribatu. Estes podem ser filtros passivos a serem instalados no setor de 138 kV da SE Santa Vitória do Palmar (conforme indicado na Figura 66) ou, ativos a serem instalados nas barras de baixa tensão dos aerogeradores. O projeto visa manter as distorções harmônicas de tensão no Ponto de Acoplamento Comum (PAC) dos parques dentro dos limites individuais de tensões harmônicas definidos nos Procedimentos de Rede considerando as informações disponibilizadas pelos fabricantes dos aerogeradores até o momento. Observa-se que a instalação de filtros tem sido comum na conexão de parques eólicos no Brasil. Estão sendo estudadas três alternativas: 167 Configuração 1: 3 Filtros passivos de sintonia simples para a 2ª, 3ª e 4ª ordens e 1 Filtro amortecido (passa-alta) sintonizado na 5ª harmônica; Configuração 2: 1 Filtro passivo Tipo C sintonizado na 2ª ordem harmônica e 1 Filtro de sintonia simples sintonizado na 4ª ordem harmônica; Configuração 3: Filtros ativos instalados nas barras de baixa tensão dos aerogeradores, entre os inversores e o transformador elevador. Figura 66 – Esquemático do Complexo Eólico e ponto de conexão dos filtros passivos Fonte: (ELETROSUL, 2013). Os demais estudos de integração no sistema elétrico dos parques eólicos de Geribatu e Chuí apresentaram resultados satisfatórios. 5.3.2 Compensador Síncrono – SE Marmeleiro A EPE quando realizou os estudos para avaliar a conexão das usinas eólicas do estado do Rio Grande do Sul, citados anteriormente (Nº EPE-DEE-RE-117/2011-rev0, relatório R1), no ano de 2014, já composto pela LT 525 kV Povo Novo – Nova Santa Rita, foram observados problemas de flutuação de tensão na região sul do estado. Essa flutuação ocorria tanto devido aos cenários de geração eólica considerados quanto às contingências nos sistemas de 230 kV e 525 kV, as análises evidenciaram a necessidade de uma compensação variável no sistema, sendo escolhida a SE Marmeleiro para localização deste equipamento. 168 Restava a dúvida se esta compensação seria através de um Compensador Estático ou Compensador Síncrono, ambos equipamentos geram ou absorvem reativos do sistema, mantendo a tensão em níveis aceitáveis. Segundo o estudo, tem sido crescente a utilização de conversoras de potência nas novas centrais eólicas. E para que haja um desempenho adequado desses equipamentos e, consequentemente, do controle das máquinas, é importante avaliar a Relação de Curto Circuito no ponto de conexão das novas usinas. A EPE definiu a Relação de Curto Circuito (Rcc) como “a razão entre a Potência de Curto Circuito Trifásico e a Potência Total das centrais eólicas”. Há condições favoráveis ao desempenho do sistema de controle das conversoras, quando esta relação apresentar valores superiores a 2,5 (EPE, 2012). Assim foram realizadas análises da Rcc comparativas entre a instalação de um Compensador Estático (que não eleva a potência de curto circuito) e a instalação de um Compensador Síncrono, em relação às potências de parque eólicos já contratados na região do Litoral Sul (402 MW), e enxergando horizonte e projetos já cadastrados na EPE até 2020, apresentados na Tabela 26, representando uma potência no ano de 2020 de 1724 MW. Tabela 26 – Montantes de energia eólica considerados no estudo da EPE Fonte: (EPE, 2012). Foi realizada então uma análise de sensibilidade da variação da Rcc na SE Santa Vitória do Palmar, em função da potência instalada das usinas eólicas na região, demonstrada no Gráfico 21. 169 Gráfico 21 – Variação da Rcc em função da Potência instalada em Santa Vitória do Palmar – configuração 2014 Fonte: (EPE, 2012). Observa-se que para o caso de 2014, a Rcc na SE Santa Vitória do Palmar encontra-se acima do recomendável em ambos os casos. No entanto, com o aumento da geração eólica local nos anos de 2015 e 2020, a presença do Compensador Síncrono torna-se importante para garantir a manutenção da Rcc acima do valor recomendado. Para o ano de 2015, considerando um reforço no sistema com o lançamento do segundo circuito da LT 525 kV Santa Vitória do Palmar – Marmeleiro – Povo Novo – Nova Santa Rita, foi realizada uma nova análise de sensibilidade do sistema. Gráfico 22 – Variação da Rcc em função da Potência instalada em Santa Vitória do Palmar – configuração 2015 Fonte: (EPE, 2012). 170 Portanto conclui-se que a utilização do compensador síncrono na região em estudo tornava-se mais interessante, uma vez que este ajuda a melhorar o nível de curtocircuito da região, que originalmente é baixo, e não é adequado para a conexão das usinas eólicas. Conforme as simulações do Gráfico 22, ao alcançar cerca de 1500 MW de potência instalada sem comprometer o valor da Rcc, é possível atender aos cenários previstos para a expansão da geração eólica nessa região até o ano de 2020. Desta forma as análises de regime permanente, de dinâmica e de curto circuito indicaram a necessidade de implantação de um compensador síncrono (-200/+200 MVAr) na SE Marmeleiro para o atendimento aos critérios de desempenho e de Relação de Curto Circuito mínima admissível. O custo estimado, após consultas a fabricantes, foi de R$ 155 milhões, que é cerca de 2,5 vezes o valor de um estático de mesmo porte (EPE, 2012). No entanto a inclusão deste equipamento no Lote A do Leilão de Transmissão trouxe uma complexidade adicional ao processo, os compensadores síncronos são máquinas em desuso no sistema elétrico brasileiro, os últimos fornecimentos aconteceram a mais de 20 anos, portanto havia pouca experiência com a engenharia de projeto das transmissoras ou a engenharia dos fabricantes tradicionais de FACTS instalados no Brasil (Siemens, ABB, Alstom, Toshiba, etc). A alternativa encontrada, que viabilizou uma proposta financeira para participação no leilão veio através da empresa brasileira WEG, que conta em seu portfólio com geradores síncronos para usinas. A WEG apresentou proposta técnica comercial a Eletrosul, em atendimento ao Edital e procedimentos de rede, através do fornecimento de dois compensadores síncronos de ± 100 MVAr interligados em paralelo. Desta forma, a WEG esta fabricando o primeiro compensador síncrono rotativo de grande porte do país, tornando-se uma alternativa nacional para este tipo de fornecimento. Com 11 metros de comprimento, 7 de altura e 310 toneladas, é a maior máquina engenheirada já desenvolvida pela companhia. O equipamento passou a fazer parte do catálogo da WEG e é ilustrado na Figura 67. 171 Figura 67 – Compensador síncrono rotativo ± 100 MVAr, fabricação WEG Fonte: (WEG, 2013). Portanto, a aplicação dos compensadores síncronos representou um grande desafio técnico a engenharia da Eletrosul e a integração dos complexos eólicos de Geribatu e Chuí. 5.4 INTEGRAÇÃO DOS PARQUES – ASPECTOS REGULATÓRIOS Nesta seção serão abordados os aspectos técnicos, levantados na seção 4.2, na integração dos parques eólicos de Geribatu e Chuí. 172 5.4.1 Diferença entre o sistema de transmissão antes e depois do leilão Conforme já informado, o leilão de energia 002/2011 (A-3) ocorreu em 17 de agosto de 2011, praticamente um ano antes do leilão de transmissão 005/2012. Ou seja, quando da elaboração dos estudos que subsidiaram a venda de energia dos parques Geribatu (a época ainda com o nome de Verace) e Chuí o ponto exato de conexão dos parques com a rede básica era uma incógnita para a engenharia da Eletrosul. Era anexo ao edital do leilão A-3, documento da EPE que realizava a análise de integração das usinas cadastradas no leilão A-3 e no leilão de energia de reserva. Este relatório apontava algumas informações para a integração do expressivo potencial eólico do litoral sul do Rio Grande do Sul, ilustrado pela Figura 68 (EPE, 2011). A região sudeste do estado do Rio Grande do Sul apresenta um potencial eólico de grande magnitude notadamente nos municípios de Chuí, Santa Vitória do Palmar e Rio Grande. Essa região é sensível do ponto de vista ambiental e apresenta desafios para a integração dos potenciais eólicos ali existentes por ser detentora de ecossistemas de grande expressão no contexto ambiental do extremo sul do Brasil. (...) Dessa forma, em função dos resultados dos leilões, a EPE analisará a possibilidade de implantação de uma nova linha de transmissão, em 500kV, para atender ao mercado local e as usinas eólicas. O traçado deverá ser o mesmo da linha de 138 kV existente com o seu desmonte após a entrada em operação da nova linha de transmissão. Figura 68 – Esquema de conexão das SE S.V.Palmar e SE Marmeleiro – R.G. do Sul Fonte: (EPE, 2011). 173 Desta forma havia o indicativo de um sistema em 525 kV para aquela região, que seria confirmado em função do potencial que fosse comercializado nos leilões de energia. Com base nestas informações, a engenharia da Eletrosul adotou as seguintes premissas nos estudos de integração dos parques: O sistema atual não comporta o escoamento do potencial eólico previsto para a região; Após leilão, a EPE irá avaliar a implantação de uma nova linha de transmissão em 525 kV para atender ao mercado local e as usinas eólicas; O traçado da linha de 525 kV deverá ser o mesmo da linha de 138 kV existente, com o seu desmonte após a entrada em operação da nova LT; A subestação prevista para Santa Vitória do Palmar não se enquadra como ICG, pelo fato de envolver a conexão simultânea dos geradores eólicos e da distribuidora; Ponto de conexão estabelecido: SE Santa Vitória do Palmar 525 kV. Haviam outras questões importantes que impactariam na solução, como a localização geográfica da SE Santa Vitória do Palmar 525 kV, já que esta distância teria impacto no comprimento das linhas de transmissão que conectariam as SEs Subcoletoras Geribatu e Chuí a SE Santa Vitoria do Palmar, e a depender das análises de perdas / econômicas poderiam inclusive alterar a tensão de alta dos transformadores das SEs Subcoletoras, basicamente as alternativas estudadas eram: 34,5/138 kV ou 34,5/230 kV. Após interação com os técnicos da EPE foi obtida uma localização de referência, e desta forma foi estudas diversas soluções para integração do parque, entre elas a apresentada na Figura 69. 174 Figura 69 – Alternativa considerada nos estudos de integração da Eletrosul Fonte: Autor. Evidente, que em função das incertezas, havia um componente de risco que impactava no preço da energia a ser comercializada, que não era possível de ser mitigada. Ao comparar o diagrama estudado com o efetivamente implantado, ilustrado na Figura 65 (página 164), não houve diferenças significativas, que consistiram na necessidade da implantação de um disjuntor central no arranjo em disjuntor e meio na conexão de alta do banco de transformador 525 kV da SE Santa Vitória do Palmar, que foi compensado pela redução do comprimento das linhas de conexão em 138 kV. Esta situação ilustra o risco e a fragilidade regulatória da questão, caso apenas três parques fossem vendidos, a ANEEL implantaria o sistema em 525 kV? Havia uma certa segurança naquele leilão de que seria comercializado um volume expressivo de usinas, o que mitigava o risco. Estas incertezas certamente contaminam os preços da energia ofertada pelos agentes nos leilões de geração. 5.4.2 Dificuldade de compatibilização entre os cronogramas de transmissão e geração Os complexos eólicos Geribatu e Chuí foram outorgados em 2011 em decorrência da comercialização da energia delas proveniente no Leilão A-3 nº 02/2011-ANEEL, realizado 175 em 17 de agosto de 2011, com início de suprimento previsto para 1º de março de 2014. Ou seja, havia um prazo aproximado de 31 meses para que os parques estivessem conectados ao sistema e iniciassem a produção de energia. A partir deste momento iniciava-se o trâmite para viabilizar o leilão de transmissão para contratação do sistema de 525 kV que interligaria a região do litoral Sul do Rio Grande do sul a rede básica. Porém existe um fluxo a ser seguido no planejamento e concepção de um leilão de transmissão, este processo é explicado em detalhes na seção 2.4.2.1 - Planejamento da Expansão da Transmissão, este fluxo de planejamento em sua etapa finalística é padronizado e ocorre semestralmente, conforme apresentado na Figura 70. Figura 70 – Cronograma para realização dos leilões de transmissão . Fonte: (MME, Consolidação de Obras 2013, 2013). Ou seja, interpretando o fluxo acima, seria necessário que a EPE consolidasse os estudos R1 que subsidiariam o documento de consolidação de obras do MME, a partir desta data, iniciaria outro fluxo, apresentado na Figura 71, para que a ANEEL solicitasse as empresas envolvidas que elaborassem os demais estudos: R2, R3 e R4 e posteriormente o edital do leilão. 176 Figura 71 – Processo de Leilão da Rede Básica Fonte: (MME, Consolidação de Obras 2013, 2013). Este processo da concepção e publicação do estudo de planejamento, até a realização do leilão tipicamente leva 12 meses. Adicionalmente um prazo típico para um empreendimento de 525 kV adotado pela ANEEL aquele tempo, era de 24 meses para operação comercial do empreendimento a partir do contrato de concessão. Devido aos constantes atrasos, principalmente em função das dificuldades no licenciamento ambiental das linhas de transmissão, estes cronogramas foram revistos, e no leilão de transmissão 001/2013, por exemplo, os prazos médios da ANEEL eram mais realistas, de 36 meses. O cenário estava lançado já antes mesmo do leilão de geração: seria muito difícil a ANEEL viabilizar o leilão de transmissão para acontecer num prazo de até 5 meses depois do leilão de geração, para que então os cronogramas de conclusão do sistema de transmissão e de suprimento do parque eólico ficassem “casados”. Além disso haveria um outro problema, o prazo de 24 meses para execução de aproximadamente 500 quilômetros de linha de transmissão em 525 kV, com a implantação de três subestações novas, incluindo o fornecimento de um equipamento especial e “novo” no setor, um compensador síncrono de ± 200 MVAr, numa região onde esta localizada uma das maiores unidades de conservação da América do Sul, e onde as constantes chuvas praticamente inviabilizam obras no verão. 177 Figura 72 – Estação ecológica do Taim Fonte: (ELETROSUL, 2013). Na prática, a Figura 73, apresenta os principais marcos que ocorreram na interface entre os cronogramas de transmissão (Rede Básica) e geração, dos parques eólicos Geribatu e Chuí. Figura 73 – Interface entre os cronogramas de transmissão e geração da integração dos parques eólicos Geribatu e Chuí Fonte: Autor. 178 Estava desenhada assim a mesma situação que tem ocorrido no nordeste brasileiro neste momento, existe contratualmente uma defasem de aproximadamente 6 meses no cronograma, ou seja, os parques estariam prontos antes do sistema de transmissão. Esta defasagem poderia na prática ser ainda maior, conforme apresentado o prazo de 24 meses para implantação deste sistema é extremamente agressivo, e a depender da Transmissora que houvesse ganhado o Leilão de Transmissão ele certamente estaria comprometido. A Eletrosul é a empresa referencia em cumprimento de cronogramas na ANEEL, e é famosa no setor por sua agilidade. Nesta situação não foi diferente, visualizando estes problemas, antecipou as tratativas e atividades de licenciamento ambiental, antes mesmo da publicação do Relatório R1 pela EPE, e fez todos os esforços para sagrar-se vencedora do Leilão de Transmissão 005/2012, de forma assim a mitigar os atrasos no sistema de transmissão. Ainda assim, em 22/01/13, foi enviada a carta da Holding Eólicas do Sul, à ANEEL requerendo a postergação da entrada em operação comercial dos dezesseis (16) Parques eólicos dos complexos Geribatu e Chuí, e da data de início de suprimento estabelecida nos respectivos CCEAR, concatenando os citados eventos com a data prevista para a entrada em operação dos reforços de transmissão (Contrato de Concessão 020/12). Foi requerida, ainda, a concessão de prazo adicional de dois meses para entrada em operação comercial das centrais eólicas, a contar da data de disponibilização das instalações de transmissão (27/08/14), e a manutenção do prazo de suprimento previsto nos CCEAR, contado a partir de 27/08/14, ou da entrada em operação das centrais, o que ocorrer primeiro Este processo já foi analisado pela ANEEL, e encontra-se agora pautado para aprovação na reunião de diretoria do dia 22 de junho, na análise do processo pela ANEEL constam as seguintes observações (ANEEL, 2013) (ANEXO F): 7. A SCG avaliou que, conforme já ocorrido em outros casos, o Leilão de Transmissão ocorreu em data incompatível com a necessidade de início de operação comercial das centrais geradoras eólicas em questão. Ainda que a data de início de suprimento estabelecida nos respectivos CCEARs seja 1º/03/2014, o sistema de transmissão associado aos empreendimentos de geração não estará disponível antes de 27/8/2014, nos termos do Contrato de Concessão de Transmissão n° 20/2012, celebrado em 27 de agosto de 2012. 8. Assim, no melhor dos cenários, em que as centrais geradoras e a transmissora honrem os prazos estabelecidos em seus respectivos contratos, as geradoras não terão como escoar a sua energia no período que compreende 1º de março de 2014 e 27 de agosto de 2014, razão pela qual as geradoras requerem a concatenação das datas de suprimento de seus CCEAR com a data de início de operação comercial da SE Santa Vitória do Palmar. 9. Em vista disso, a SCG, com a avaliação também favorável da SFG, recomenda que a alteração solicitada seja aprovada, uma vez haver precedentes aprovados por 179 esta Diretoria Colegiada, notadamente as alterações promovidas por meio dos Despachos nº 2.832, nº 2.834, nº 2.833, de 11 de julho de 2011, e com a Resolução Autorizativa nº 3.094, de 30 de agosto de 2011, referentes aos casos da EOL Asa Branca I, da EOL Asa Branca II, da EOL Asa Branca III e da EOL Eurus IV. Desta forma, em função da defasagem do cronograma de geração das centrais eólicas, o prazo para inicio do suprimento de energia dos complexos Geribatu e Chuí foi postergado pela ANEEL para 26/10/2014. 180 6 CONCLUSÃO O país busca uma matriz energética cada vez mais limpa. A defesa pelas fontes alternativas não prevê exatamente uma competição com as hidrelétricas, mas um complemento à matriz energética do país. O objetivo é que os períodos de baixa nos reservatórios das hidrelétricas sejam compensados com a safra da cana na região Sudeste e os ventos fortes do Nordeste e do Sul. Estes fatores necessitam de um setor organizado e bem regulamentado, e o novo modelo do setor elétrico, apresentado no capitulo 2, trouxe a segurança necessária para a expansão e desenvolvimento das energias renováveis no Brasil. Este modelo teve como principais transformações a implementação da legítima competição na geração, através da instituição dos Ambientes de Contratação Regulada (ACR) e Ambiente de Contratação Livre (ACL), e a retomada da função de planejamento pelo Estado, através da criação da Empresa de Pesquisa energética – EPE. Os leilões de energia e a visão de longo prazo viabilizaram a expansão da fonte eólica no país. A implementação de parques eólicos envolvem uma série de fatores a serem estudados e considerados, entre eles destaca-se a concepção de aerogeradores utilizados. Foram apresentadas quatro configurações típicas, com aerogeradores de velocidade constante e variável, utilizando geradores assíncronos ou síncronos. A opção pela configuração tem influencia direta nos efeitos na rede elétrica. O Brasil tem enfrentado diversos desafios na integração da geração eólica, em função principalmente da precocidade da fonte no país. As experiências do setor começaram a crescer somente com o PROINFA que é datado de 2004, ou seja, a menos de dez anos. Podemos caracterizar este período como de maturação e aprendizado, muitos ainda são os pontos que devem ser enfrentados conjuntamente por todos os agentes do Setor Elétrico Brasileiro. Neste trabalho foram abordados alguns dos principais desafios do Brasil na integração da geração eólica, sejam sobre aspectos técnicos, onde se constatou que os parques eólicos estão sendo instalados em pontos onde a rede elétrica é fraca, conforme apresentado na Figura 52, e desta forma mais sujeita as intermitências do vento e das características dos equipamentos instalados, e, sob aspectos regulatórios, onde foram abordados os problemas ocorridos com as ICGs, o descasamento dos cronogramas de transmissão e geração que fazem com que parques eólicos já concluídos no país não tenham rede disponível para injetar sua 181 potência na rede, além das diferenças entre os sistemas de transmissão antes e depois dos leilões de geração. Em função dos efeitos da integração da energia eólica ao sistema elétrico, dos requisitos do ONS e das diferentes topologias de aerogeradores, a Tabela 21 resumiu as principais consequências que devem nortear as ações do agente de geração (proprietário do parque eólico), e dos demais agentes do sistema como a ANEEL, ONS e EPE. Dentre os aspectos regulatórios, destaca-se o descompasso entre os cronogramas de transmissão e de geração, a Figura 55 apresentou os principais marcos, e seus respectivos prazos médios, associados à implantação de instalações de geração e transmissão, referente aos leilões A-3 e de energia de reserva. Observando estes prazos constata-se um atraso médio de 7 meses entre a conclusão do parque eólico e a conclusão do sistema de transmissão. Este descasamento tem sido observado na prática em parques eólicos que foram concluídos no nordeste em 2012 e os sistemas de transmissão até esta data ainda não estão concluídos, uma situação que deve se agravar ainda mais em 2013. Estas ocorrências foram evidenciadas no Estudo de Caso, onde foi relatada a experiência do autor e da Eletrosul, na implantação do maior complexo eólico da America Latina - Geribatu e Chuí, dos impactos destes temas. Dentre diversos pontos foram necessárias a implementação de reforços na rede, através da instalação de um Compensador Síncrono na nova SE Marmeleiro e, a ocorrência de uma defasagem contratual nos cronogramas de transmissão e geração de aproximadamente 6 meses. Adicionalmente, entre os novos desafios do país podemos citar a avaliação dos impactos decorrentes das intermitências relacionadas à operação em regime normal de grandes montantes de geração eólica regionalizada, principalmente em função dos parques estarem localizados em pontos onde a rede é fraca. Outro fator são que as novas usinas hidráulicas são a fio d’água, portanto os reservatórios das usinas hidráulicas existentes podem ser preservados com backup das usinas eólicas de característica intermitente. Devido às características sazonais e de intermitência, o governo deveria avaliar oportunidade de leilões por fonte e, em casos especiais, por região. Em 2013, aparentemente os ventos do governo não sopram na direção da energia eólica, em nome da garantia de abastecimento de eletricidade, o governo federal decidiu, por ora, abrir mão da expansão da matriz energética com base apenas em fontes limpas. A crise dos reservatórios no início do ano evidenciou a necessidade de ampliar a participação das térmicas na matriz. Sem gás natural barato disponível, a solução foi recorrer ao carvão, uma 182 das mais poluentes fontes de geração. Esse movimento diminuirá o espaço para as eólicas, que há quatro anos vêm dominando os leilões do setor. Recentemente, a EPE excluiu o setor eólico do leilão para contratação de energia A-5, e, em função dos problemas recentes com os atrasos do sistema de transmissão, restringiu a participação nos leilões A-3 e de reserva a apenas projetos com garantia de interligação à malha de transmissão. Este movimento assustou o mercado eólico do país, que expandiu 75% no ano de 2012, além da vinda de diversos fabricantes para instalar fábricas no país. Por outro lado, a EPE finalizou o processo de cadastramento de novas unidades de geração de energia eólica para o Leilão de Reserva de 2013, que o Governo Federal promoverá no dia 23 de agosto. Foram inscritos 655 projetos de parques eólicos, somando capacidade instalada de 16.040 MW. O presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, considerou o processo um sucesso, pois os números de projetos interessados em participar do certame e a capacidade instalada somada é recorde no país e no mundo em concorrências envolvendo a fonte eólica. Adicionalmente a EPE encaminhou recentemente ao MME os estudos de expansão da Rede Básica de transmissão que permitirão a contratação de parques eólicos nos próximos leilões de comercialização de energia elétrica. Os estados que receberão as obras de reforço são o Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Rio Grande do Sul. Elaborados com base no cadastro de projetos eólicos que participaram dos antigos leilões, esses estudos de expansão contemplam cerca de R$ 2,5 bilhões em novos investimentos. Está prevista, nos quatro estados, a construção de 1.765 quilômetros de linhas de transmissão em 500 kV, além de quatro novas subestações. Essa expansão na malha permitirá viabilizar a contratação de aproximadamente 6.000 MW de parques eólicos. A expectativa é que estes empreendimentos sejam licitados ainda este ano, com prazo de entrada em operação a partir de 2016. Desta forma o governo está tentando se antecipar na etapa do leilão de transmissão, para evitar os insucessos recentes. O setor elétrico vem se adequando constantemente, e o governo promete um pacote de novidades até 2015. Existe uma grande expectativa de que o Brasil cresça e se torne um dos maiores players globais da energia eólica. Em um país com potencial estimado de 300 GW e de dimensões continentais como o Brasil, algo pode ser afirmado: só depende dele. 183 6.1 TRABALHOS FUTUROS O horizonte das energias renováveis é promissor no país, embora em função dos acontecimentos recentes como a crise europeia e um principio de crise de abastecimento, haja um certo grau de preocupação na expansão do setor. Em função dos desafios apresentados neste trabalho, podem ser sugeridos estudos como a modelagem de aerogeradores e a simulação do comportamento deles quando interligados na rede elétrica, podem ser estudadas diferentes tecnologias para verificação da influencia de cada tipo de aerogerador no comportamento do sistema. Pode-se ainda aprofundar na análise dos efeitos da geração eólica na rede como, por exemplo, um estudo específico sobre distorção harmônica e aplicação de filtros, flutuações de tensão, consumo de reativos, etc. Além disso, pode-se fazer uma análise comparativa dos requisitos dos procedimentos de rede do ONS no Brasil para a integração da geração eólica com os requisitos de outros países do mundo que possuem uma matriz mais consolidada, como Portugal, Espanha, Alemanha e até expoentes recentes como Estados Unidos e China, alguns acadêmicos sugerem que os requisitos brasileiros são, em alguns casos, demasiadamente conservadores. Desta mesma forma esta análise pode ser do ponto de vista regulatório, comparar como funciona a expansão da geração eólica nestes países e quais foram as dificuldades enfrentadas. Em Portugal, por exemplo, os leilões de geração eólica ocorrem para um ponto de conexão especifico, ou seja, uma espécie de leilão regional. Por fim, o setor elétrico brasileiro é representado por diversos agentes e oportunidades, e um estudo elaborando um plano de negócio da implantação de um parque eólico, contemplando todas as fases e principalmente a avaliação de custos, poderia ser um grande incentivo para futuros e necessários empreendedores. 184 REFERÊNCIAS ABB. (2011). Technical Application Papers - Wind power plants. Bergamo: ABB. ACKERMANN, T. (2005). Wind power in power systems. Estocolmo: John Wiley & Sons. ALKAIM, J. L. (2003). Metodologia para incorporar conhecimento intensivo às tarefas de manutenção centrada na confiabilidade aplicada em ativos de sistemas elétricos. Florianópolis: UFSC. 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Acesso em 18 de junho de 2013, disponível em http://www.wobben.com.br/ 190 ANEXOS 191 ANEXO A - PROCEDIMENTOS DE REDE SUBMÓDULO 3.6 REQUISITOS TÉCNICOS MÍNIMOS PARA CONEXÃO DE CENTRAIS EÓLICAS NA REDEBÁSICA . Submódulo 3.6 Requisitos técnicos mínimos para a conexão às instalações de transmissão Rev. Nº. Motivo da revisão Data de aprovação pelo ONS Data e instrumento de aprovação pela ANEEL ____ 0.0 Este documento foi motivado pela criação do Operador Nacional do Sistema Elétrico. 12/04/1999 0.1 Adequação à Resolução ANEEL nº 281, de 01 de outubro de 1999. 17/01/2000 31/10/2000 Resolução nº 420/00 0.2 Compatibilização com os demais módulos aprovados pelo Conselho de Administração (CA). 27/04/2001 25/03/2002 Resolução nº 140/02 0.3 Adequação à Lei 10.848/2004, compatibilização com a Revisão 1 do Submódulo 2.5, inclusão de requisitos técnicos mínimos para geradores eólicos e aperfeiçoamentos decorrentes do exercício do processo com os agentes. 26/03/2004 0.4 Atendimento à Resolução Normativa ANEEL nº 115, de 29 de novembro de 2004. 01/09/2005 0.5 Remissão dos requisitos técnicos para arranjos de barramentos para o Submódulo 2.3, Revisão 3 30/05/2008 1.0 Versão decorrente da Audiência Pública nº 049/2008, submetida para aprovação em caráter definitivo pela ANEEL. 1.1 Atendimento à Resolução Normativa ANEEL nº 312/08, de 06 de maio de 2008. Endereço na Internet: http://www.ons.org.br ____ 17/06/2009 18/06/2010 25/09/2007 Resolução Autorizativa nº 1051/07 07/07/2008 Resolução Autorizativa nº 1436/08 05/08/2009 Resolução Normativa nº 372/09 15/09/2010 Despacho SRT/ANEEL nº 2744/10 Procedimentos de Rede Assunto REQUISITOS TÉCNICOS MÍNIMOS PARA A CONEXÃO ÀS INSTALAÇÕES DE TRANSMISSÃO Submódulo Revisão Data de Vigência 3.6 1.1 16/09/2010 8 REQUISITOS TÉCNICOS MÍNIMOS PARA CONEXÃO DE CENTRAIS EÓLICAS NA REDE BÁSICA 8.1 Aspectos gerais 8.1.1 Os requisitos técnicos mínimos estabelecidos neste item 8 são aplicáveis às centrais eólicas conectadas na rede básica. 8.1.2 As centrais geradoras eólicas classificadas na modalidade de operação Tipo I e conectadas nas DIT ou nas instalações de distribuição também devem atender ao estabelecido no item 8.1.1 deste submódulo. 8.1.3 As centrais eólicas classificadas nas modalidades de operação Tipo II ou Tipo III conectadas nas instalações de transmissão ou de distribuição em tensão superior a 69 kV, devem obrigatoriamente atender os requisitos técnicos gerais para operação em regime de frequência não nominal indicados no item 1 do Quadro 6 do item 8.2.1, e os requisitos de suportabilidade a subtensões decorrentes de faltas na rede de transmissão indicados no item 8.10 (fault ridethrough) deste submódulo. A necessidade de atendimento aos demais requisitos gerais por usinas com capacidade instalada superior a 30 MW ou por grupos de usinas, em uma mesma área geoelétrica, com capacidade instalada total superior a 50 MW, será analisada caso a caso pelo ONS. 8.1.4 O acesso de centrais de geração eólicas às instalações de transmissão e às redes de distribuição em tensão superior a 69 kV devem atender os limites individuais dos indicadores de desempenho da rede básica e dos barramentos dos transformadores de fronteira definidos no Submódulo 2.8. 8.1.5 As centrais de geração eólicas não podem reduzir a flexibilidade de recomposição da rede elétrica, seja em função de limitações dos equipamentos, seja em função do tempo de recomposição. 8.1.6 O acessante é responsável por avaliar qualquer efeito que o SIN possa provocar sobre suas instalações e por tomar as ações corretivas que lhe são cabíveis. 8.1.7 Da mesma forma, todos os estudos necessários à avaliação do impacto do gerador no SIN devem ser realizados pelo acessante. 8.1.8 Com a presença da central geradora, devem ser feitas avaliações para verificar se há superação da capacidade de equipamentos ou necessidade de reajustes de parâmetros de proteção e controle. Essas avaliações devem abranger o ponto de conexão e a área de influência da central de geração eólica e são as seguintes: (a) curto-circuito; (b) capacidades de disjuntores, barramentos, equipamentos terminais (por exemplo, transformadores de corrente, bobinas de bloqueio) e malhas de terra; (c) adequação dos sistemas de proteção e controle relacionados à integração da central geradora e revisão dos ajustes relativos à central geradora. 8.1.9 As ações e os custos decorrentes das ações necessárias para o atendimento dos requisitos técnicos mínimos relacionados no item 8 deste submódulo são de responsabilidade do agente de geração. 8.2 Requisitos técnicos gerais 8.2.1 No Quadro 6 são relacionados os requisitos técnicos gerais para as centrais de geração eólica. Endereço na Internet: http://www.ons.org.br Página 22/34 Procedimentos de Rede Assunto REQUISITOS TÉCNICOS MÍNIMOS PARA A CONEXÃO ÀS INSTALAÇÕES DE TRANSMISSÃO Submódulo Revisão Data de Vigência 3.6 1.1 16/09/2010 Quadro 6 - Requisitos técnicos gerais Descrição Requisito técnico mínimo Benefício 1. Operação em regime de frequência não nominal (a) Operação entre 56,5 e 63 Hz sem atuação dos relés de subfrequência e sobrefrequência instantâneos. (b) Operação abaixo de 58,5 Hz por até 10 segundos. (c) Operação entre 58,5 e 61,5 Hz sem atuação dos relés de subfrequência e sobrefrequência temporizados. (d) Operação acima de 61,5 Hz por até 10 segundos (1). Evitar o desligamento dos geradores quando de déficit de geração, antes que o esquema de alívio de carga atue completamente ou em condições de sobrefrequência controláveis. 2. Geração/absorção de reativos No ponto de conexão, a central geradora eólica deve propiciar os recursos necessários para, em potência ativa nominal (2) e quando solicitado pelo ONS, operar com fator de potência indutivo ou capacitivo dentro da faixa especificada abaixo: (a) mínimo de 0,95 capacitivo; (b) mínimo de 0,95 indutivo. Participação efetiva no controle da tensão, aumentando as margens de estabilidade de tensão. 3. Operação em regime de tensão não nominal No ponto de conexão da central geradora: (a) Operação entre 0,90 e 1,10 p.u. da tensão nominal sem atuação dos relés de subtensão e sobretensão temporizados. Evitar o desligamento da usina quando há variações de tensão no sistema. (b) Operação entre 0,85 e 0,90 p.u. da tensão nominal por até 5 segundos. 4. Participação em SEP 5. Potência ativa de saída Nota: Possibilidade de desconexão automática ou Minimizar conseqüências de perturbações no sistema, de redução de geração mediante controle incluindo sobrefrequência no de passo e/ou de stall das pás. caso de ilhamento. Para tensões no ponto de conexão entre 0,90 e 1,10 pu, para a central geradora eólica não será admitida redução na sua potência de saída, na faixa de frequências entre 58,5 e 60,0 Hz. Para frequências na faixa entre 57 e 58,5 Hz é admitida redução na potência de saída de até 10%. Esses requisitos aplicam-se em condições de operação de regime permanente, quaseestáticas (3). Garantir a disponibilidade de potência das centrais de geração eólica em situações de subfrequência de modo a evitar/minimizar os cortes de carga por atuação do ERAC. (1) A temporização da proteção de desligamento por sobrefrequência é definida com base em avaliação do desempenho dinâmico, para garantir a segurança operativa do SIN. (2) Conforme definição do art. 2º, da Resolução ANEEL nº 407/2000 [1]. (3) As condições de operação quase-estáticas são caracterizadas por gradientes de frequência ≤ 0,5% /min e de tensão ≤ 5% /min. Endereço na Internet: http://www.ons.org.br Página 23/34 Procedimentos de Rede Assunto REQUISITOS TÉCNICOS MÍNIMOS PARA A CONEXÃO ÀS INSTALAÇÕES DE TRANSMISSÃO Submódulo Revisão Data de Vigência 3.6 1.1 16/09/2010 8.3 Variação de tensão em regime permanente 8.3.1 As centrais de geração eólica não devem produzir variação de tensão superior a 5% no ponto de conexão no caso de manobra parcial ou total, tempestiva ou não, do parque gerador. 8.4 Instabilidade de tensão 8.4.1 As centrais de geração eólica devem dispor de dispositivos de controle que evitem o seu desligamento por instabilidade de tensão, conforme estabelecido no item 8.10 deste submódulo. 8.5 Desequilíbrio de tensão 8.5.1 Para os pontos de conexão das centrais de geração eólica na rede básica e nos barramentos dos transformadores de fronteira aplicam-se os requisitos estabelecidos no item 9.4 deste submódulo. 8.6 Flutuação de tensão 8.6.1 Para os pontos de conexão das centrais de geração eólica na rede básica e nos barramentos dos transformadores de fronteira aplicam-se os requisitos estabelecidos no item 9.5 deste submódulo. 8.6.2 Todas as condições inerentes à operação de centrais de geração eólica operação em regime permanente, desligamento, conexão e transição (turbina com dois aerogeradores para dupla velocidade, ou mudança do número de pólos) que impliquem flutuação de tensão (flicker), devem ser consideradas na avaliação do seu desempenho. Para avaliações preliminares, a norma IEC 61.400-21 oferece subsídios quanto à combinação dos efeitos do conjunto de aerogeradores integrantes da central eólica. 8.7 Distorção harmônica 8.7.1 Para os pontos de conexão das centrais de geração eólica na rede básica e nos barramentos dos transformadores de fronteira aplicam-se os requisitos estabelecidos no item 9.6 deste submódulo. 8.8 Requisitos específicos para o sistema de proteção do gerador 8.8.1 Aplicam-se às centrais de geração eólica os requisitos estabelecidos no item 7.6 deste submódulo. 8.9 Requisitos específicos para o sistema de registro de perturbação dos geradores 8.9.1 Aplicam-se às centrais de geração eólica os requisitos estabelecidos no item 7.7 deste submódulo. 8.10 Requisitos de suportabilidade a subtensões decorrentes de faltas na rede básica (fault ride-through). 8.10.1 Caso haja afundamento de tensão em uma ou mais fases no ponto de conexão da central de geração eólica na rede básica, a central deve continuar operando se a tensão nos seus terminais permanecer acima da curva indicada na Figura 1. Endereço na Internet: http://www.ons.org.br Página 24/34 Procedimentos de Rede Assunto REQUISITOS TÉCNICOS MÍNIMOS PARA A CONEXÃO ÀS INSTALAÇÕES DE TRANSMISSÃO Submódulo Revisão Data de Vigência 3.6 1.1 16/09/2010 Tensão (pu) 1 0,9 0,85 0,2 Duração da falta Tempo (s) 0 0,5 1 5 Figura 1 - Tensão nos terminais dos aerogeradores 8.11 Requisitos para tomada de carga 8.11.1 A central de geração eólica deve ser dotada de recursos que permitam ajustar a taxa de tomada de carga dos aerogeradores. Os ajustes serão definidos pelo ONS. 9 REQUISITOS TÉCNICOS MÍNIMOS PARA CONEXÃO DE CARGA NA REDE BÁSICA E NOS BARRAMENTOS DE TRANSFORMADORES DE FRONTEIRA 9.1 Aspectos gerais 9.1.1 Neste item são estabelecidos os requisitos técnicos mínimos que os consumidores livres e os agentes de distribuição devem atender para se conectar à rede básica. 9.1.2 Mediante avaliação técnica do ONS, podem ser admitidas condições particulares do comportamento da carga, desde que não prejudiquem, sob qualquer hipótese, a operação dos outros agentes conectados à rede. 9.2 Condições de conexão 9.2.1 Os agentes de distribuição e os consumidores livres, para se conectarem à rede básica ou aos barramentos de transformadores de fronteira devem assegurar que: (a) suas instalações atendam às normas técnicas da ABNT no que for aplicável e, na sua falta, às normas técnicas da IEC e ANSI, nessa ordem de preferência; (b) os seus disjuntores de fronteira sejam capazes de interromper, sem risco para o sistema, as correntes de curto-circuito no ponto de conexão; Endereço na Internet: http://www.ons.org.br Página 25/34 197 ANEXO B – PORTARIA MME No 132, DE 25 DE ABRIL DE 2013 Ministério de Minas e Energia Gabinete do Ministro PORTARIA No 132, DE 25 DE ABRIL DE 2013. O MINISTRO DE ESTADO DE MINAS E ENERGIA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 87, parágrafo único, incisos II e IV, da Constituição, tendo em vista o disposto no art. 1o do Decreto no 6.353, de 16 de janeiro de 2008, e nos arts. 19 e 20 do Decreto no 5.163, de 30 de julho de 2004, e o que consta do Processo no 48000.000660/2013-41, resolve: Art. 1o A Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL deverá promover, direta ou indiretamente, no dia 23 de agosto de 2013, o Leilão para Contratação de Energia de Reserva, denominado Leilão de Energia de Reserva, de 2013, para início de suprimento de energia elétrica a partir de 1o de setembro de 2015. Art. 2o Caberá à ANEEL elaborar os respectivos Editais, seus Anexos e os correspondentes Contratos de Energia de Reserva - CER, bem como adotar as medidas necessárias para a realização do Leilão de que trata o art. 1o, em conformidade com as diretrizes indicadas a seguir, aquelas de que trata a Portaria MME no 29, de 28 de janeiro de 2011, além de outras que vierem a ser definidas pelo Ministério de Minas e Energia. § 1o No Leilão de Energia de Reserva, de 2013, serão negociados CER na modalidade por quantidade de energia, com prazo de suprimento de vinte anos, para empreendimentos de geração a partir de fonte eólica. § 2o O preço da energia contratada será o valor do lance final do vendedor, expresso em R$/MWh, e reajustado anualmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Art. 3o O CER referente à contratação de energia proveniente de empreendimentos de geração de fonte eólica deverá atender às seguintes diretrizes: I - para mitigar a incerteza sobre a produção de energia elétrica de fonte eólica, o CER deverá prever a existência de períodos quadrienais além de permitir desvios da produção média anual efetiva de até dez por cento a menor, denominada margem inferior, e de até trinta por cento a maior, denominada margem superior, em relação à obrigação contratual de suprimento anual; II - os desvios anuais positivos da produção efetiva de energia elétrica, em relação ao montante contratado, que ultrapassem a margem superior deverão ser reembolsados ao gerador pelo valor de setenta por cento do preço do contrato, em doze parcelas mensais uniformes no ano contratual seguinte; III - os desvios anuais negativos da produção efetiva de energia elétrica, em relação ao limite da margem inferior, deverão ser valorados pelo preço do contrato acrescido de penalidade de quinze por cento e ressarcidos à Conta de Energia de Reserva – CONER, em doze parcelas mensais uniformes no ano contratual seguinte; IV - ao início de cada quadriênio, a partir do segundo, a critério do vendedor de energia de reserva de fonte eólica, o desvio residual positivo acumulado, em relação ao montante contratado, poderá ser: Portaria MME no 132, de 25 de abril de 2013 - fl. 2 a) repassado como crédito de energia para o quadriênio seguinte; b) cedido para outros empreendimentos de geração de energia elétrica de reserva de fonte eólica, com saldo acumulado negativo, desde que contratados no mesmo Leilão; ou c) reembolsado em vinte e quatro parcelas mensais nos dois primeiros anos contratuais do quadriênio em curso ao preço vigente do CER nesses anos; V - ao início de cada quadriênio, a partir do segundo, a critério do vendedor de energia de reserva de fonte eólica, o desvio residual negativo acumulado, em relação ao montante de energia contratado, poderá ser: a) coberto por meio do mecanismo de cessão previsto na alínea b do inciso IV; ou b) ressarcido à CONER em doze parcelas mensais no primeiro ano contratual do quadriênio em curso, valorado ao preço vigente do CER, acrescido de seis por cento; VI - para efeito do disposto nos incisos I a V, os desvios anuais e quadrienais e os desvios acumulados de produção efetiva de energia elétrica serão definidos conforme a metodologia descrita na Nota Técnica EPE DEE-NT-020/2013; VII - em decorrência do mecanismo de mitigação das incertezas sobre a produção de energia elétrica, previsto neste artigo, o CER conterá cláusula na qual o vendedor que não tenha comercializado a totalidade de sua Garantia Física, no Leilão, se comprometa a não comercializar o restante da energia elétrica; VIII - os empreendedores poderão modificar as características técnicas do empreendimento após a outorga, observado o disposto no art. 17, desde que não implique redução da garantia física que comprometa o quantitativo de lotes negociados; IX - nas alterações de características técnicas do empreendimento que resultem em ampliação do parque gerador deverão ser respeitadas as seguintes condições, observado o disposto no inciso VIII: a) antes da entrada em operação comercial do empreendimento, a ampliação estará limitada a dez por cento da capacidade instalada para fazer face a redução de garantia física que leve a exposição contratual; e b) após a total entrada em operação comercial do empreendimento e decorrido ao menos o primeiro quadriênio, a ampliação estará limitada ao incremento do montante de garantia física necessário para compensar a exposição contratual decorrente de desvios negativos de geração verificados, em relação à quantidade contratada. Art. 4o A energia de reserva contratada será contabilizada e liquidada exclusivamente no Mercado de Curto Prazo da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - CCEE, considerando-se o Preço de Liquidação de Diferenças - PLD do Submercado onde se conecta o empreendimento de geração. Parágrafo único. Os riscos financeiros associados à diferença entre a energia elétrica gerada e a energia elétrica contratada, quando da verificação de desvios negativos ou positivos de geração acima dos limites estabelecidos no CER, serão assumidos pelo vendedor, observado o disposto no art. 3o. Portaria MME no 132, de 25 de abril de 2013 - fl. 3 Art. 5o Para o resultado final do Leilão de Energia de Reserva, de 2013, será utilizado como critério de classificação o preço do lance, considerando a capacidade de escoamento da Rede Básica e de fronteira. § 1o O Leilão será realizado em duas fases subsequentes, conforme estabelecido em Sistemática a ser definida pelo Ministério de Minas e Energia: I - primeira fase, com classificação por ordem de preço considerando a capacidade de escoamento da Rede Básica e de fronteira e de cada instalação para conexão dos empreendimentos de geração ao sistema de transmissão; e II - segunda fase, com negociação da energia proveniente das usinas associadas aos lances vencedores da primeira fase de que trata o inciso I. § 2o A configuração do sistema para a fase de que trata o inciso I do § 1o considerará a capacidade de escoamento de energia elétrica nas transformações e nas linhas de transmissão da Rede Básica e de fronteira, conforme detalhado na Nota Técnica Conjunta do Operador Nacional do Sistema - ONS e da Empresa de Pesquisa Energética - EPE, anexa ao Edital do Leilão. § 3o A EPE subsidiará o Operador Nacional do Sistema - ONS na definição da capacidade de escoamento de energia elétrica nas transformações e nas linhas de transmissão, para a configuração do sistema de que trata o § 2o, no prazo de quinze dias contados da Habilitação Técnica. § 4o Na configuração do sistema de que trata o § 2o será considerada a expansão da Rede Básica e de fronteira já contratada, com entrada em operação até 1o de janeiro de 2015, conforme homologado pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico - CMSE na reunião ordinária do mês de março de 2013. § 5o Na configuração do sistema de que trata o § 2o não será considerada para acesso à Rede Básica, a opção por nova Instalação de Transmissão de Interesse Exclusivo de Centrais de Geração para Conexão Compartilhada - ICG, de que trata o Decreto no 2.655, de 2 de julho de 1998. § 6o Na subestação em que houver limitação física para a conexão de empreendimentos de geração, os vencedores do Leilão deverão, por sua conta e risco, utilizar conexão compartilhada. § 7o Fica garantido aos vencedores do Leilão o acesso ao Sistema Interligado Nacional - SIN mediante conexão à instalação considerada no inciso I do § 1o, observado o disposto no § 6o. Art. 6o O Ponto de Entrega da energia de reserva contratada será no Centro de Gravidade do Submercado onde se conectar o parque gerador, devendo o vendedor se responsabilizar pelos tributos, tarifas e Encargos de Conexão, Uso dos Sistemas de Transmissão e de Distribuição, perdas elétricas devidas e/ou verificadas correspondentes à entrega de sua geração no referido Centro de Gravidade. Parágrafo único. Para os empreendimentos de geração que serão conectados à Rede Básica, na definição do montante de energia associado a um determinado lance, deverão ser consideradas as perdas elétricas do ponto de conexão até o centro de gravidade do submercado do empreendimento, nos termos da Sistemática do Leilão de Energia de Reserva, de 2013, a ser definida pelo Ministério de Minas e Energia. Portaria MME no 132, de 25 de abril de 2013 - fl. 4 Art. 7o Os empreendedores que pretenderem propor a inclusão de projetos de geração no Leilão de Energia de Reserva, de 2013, deverão requerer, até às 12 horas, horário de Brasília - DF, do dia 27 de maio de 2013, o Cadastramento e a Habilitação Técnica dos respectivos projetos à Empresa de Pesquisa Energética - EPE, encaminhando a Ficha de Dados constante do Sistema de Acompanhamento de Empreendimentos Geradores de Energia - AEGE da Empresa e demais documentos, conforme instruções disponíveis no seu sítio na internet, www.epe.gov.br, bem como a documentação referida na Portaria MME no 21, de 18 de janeiro de 2008. § 1o Não será habilitado tecnicamente, pela EPE, o empreendimento de geração cujo Custo Variável Unitário - CVU seja superior a zero. § 2o Os empreendedores cujos projetos de fonte eólica tenham sido habilitados tecnicamente pela EPE para participação no Leilão “A-5”, de 2012, de que trata o art. 1o da Portaria MME no 136, de 15 de março de 2012, poderão requerer o cadastramento dos respectivos empreendimentos, estando dispensados da reapresentação de documentos ainda válidos e vigentes na data do cadastramento, conforme disposto no caput, para o Leilão de que trata o art. 1o, desde que mantidos inalterados os parâmetros e as características técnicas dos referidos projetos, e atualizados seus cronogramas e orçamentos. § 3o Os empreendimentos de fonte eólica que já tenham sido objeto de outorga de autorização, para os quais tenham sido publicados seus montantes de garantia física, poderão ser habilitados tecnicamente para participação no Leilão desde que a garantia física seja estabelecida nos termos do art. 10. Art. 8o No Leilão de Energia de Reserva, de 2013, além das condições para Cadastramento e Habilitação Técnica estabelecidas na Portaria MME no 21, de 2008, os empreendedores deverão atender aos seguintes requisitos: I - apresentação, no ato do cadastramento, de declaração do empreendedor de que os aerogeradores a serem instalados são máquinas novas, sem nenhuma utilização anterior, seja para fins de teste de protótipo ou para produção comercial; e II - no caso de importação de aerogeradores, estes deverão ter potência nominal igual ou superior a 1.500 kW (um mil e quinhentos quilowatts). Parágrafo único. O não cumprimento do disposto nos incisos I e II implica desclassificação dos empreendimentos e rescisão dos CER que tenham sido assinados em decorrência do Leilão. Art. 9o Os vendedores do Leilão de Energia de Reserva, de 2013, não farão jus à receita de venda antes da entrada em operação comercial da usina, ressalvado o disposto no art. 16. Parágrafo único. Os vendedores poderão antecipar a entrada em operação comercial de seus empreendimentos de geração, desde que os Sistemas de Transmissão ou de Distribuição associados estejam disponíveis para operação comercial na data antecipada, sendo a energia de reserva produzida remunerada pelo preço contratual vigente no ano em que ocorrer a antecipação do suprimento, atualizado pelo IPCA. Portaria MME no 132, de 25 de abril de 2013 - fl. 5 Art. 10. Nos Leilões de Energia de Reserva de que trata o Decreto no 6.353, de 16 de janeiro de 2008, a garantia física de energia dos empreendimentos eólicos será definida, nos termos da Portaria MME no 258, de 28 de julho de 2008, considerando o valor de energia anual com uma probabilidade de ocorrência igual ou maior a noventa por cento, denominada P90, para um período de variabilidade futuro de vinte anos, conforme instruções disponíveis no sítio da EPE na internet, www.epe.gov.br. Art. 11. Os Editais dos Leilões previstos no art. 1o do Decreto no 6.353, de 2008, elaborados pela ANEEL, deverão estabelecer as seguintes condições para a participação e habilitação de agentes vendedores e para a assinatura de CER: I - aporte de Garantia de Participação; II - aporte de Garantia de Fiel Cumprimento; e III - requisitos mínimos de Qualificação Econômico-Financeira. Art. 12. As garantias referidas no art. 11 terão a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - CCEE como destinatária e o agente vendedor como tomador e, além disto, tais garantias não poderão conter cláusula excludente de quaisquer responsabilidades contraídas pelo tomador em decorrência de sua participação no Leilão. § 1o As receitas resultantes da execução da Garantia de Participação e de Fiel Cumprimento serão revertidas para a Conta de Energia de Reserva - CONER e destinadas à redução do Encargo de Energia de Reserva - EER. § 2o Na ocorrência da execução das garantias, de que trata o art. 11, o agente vendedor deverá reconstituir o valor aportado, observada a substituição prevista no § 2o do art. 14, sem prejuízo da obrigação de indenização de perdas e danos causados à Administração Pública, bem como da aplicação das penalidades previstas no Edital do Leilão e demais sanções cominadas na legislação pertinente. Art. 13. A Garantia de Participação de que trata o art. 11 será executada por determinação expressa da ANEEL quando, entre outras possibilidades definidas no Edital, o agente vendedor: I - deixar de ratificar sua proposta de lance, no prazo determinado e em conformidade com o Edital do Leilão; II - não apresentar, no prazo determinado e em conformidade com o Edital do Leilão, a documentação necessária para sua habilitação, para a Adjudicação e Homologação do Leilão e, quando couber, para o recebimento da outorga de geração; III - não apresentar a Garantia de Fiel Cumprimento, no prazo determinado e em conformidade com o Edital do Leilão; IV - não assinar o CER no prazo e nas condições estabelecidas no Edital do Leilão; ou V - desistir de outras obrigações e compromissos decorrentes de sua participação no Leilão previstos no Edital do Leilão. Portaria MME no 132, de 25 de abril de 2013 - fl. 6 Art. 14. A execução da Garantia de Fiel Cumprimento de que trata o art. 11 dar-se-á pela inobservância total ou parcial das obrigações definidas no Edital e na outorga de geração, e será executada por determinação expressa da ANEEL, entre outras hipóteses definidas no Edital, quando o agente vendedor: I - atrasar, em relação aos prazos definidos no Edital do Leilão, qualquer um dos marcos de implantação do empreendimento constantes do cronograma estabelecido no ato de outorga, conforme habilitação técnica da Empresa de Pesquisa Energética - EPE; II - desistir da outorga de geração a ser emitida em decorrência da comercialização de energia no Leilão; III - deixar de aportar, mesmo que parcialmente, as Garantias Financeiras para a Liquidação do Mercado de Curto Prazo decorrentes da outorga de geração; IV - restar inadimplente com suas obrigações na Liquidação Financeira das Operações do Mercado de Curto Prazo da CCEE decorrentes da outorga de geração; ou V - descumprir outros compromissos e obrigações decorrentes de sua participação no Leilão, previstos no respectivo Edital. § 1o A execução da Garantia de Fiel Cumprimento, em razão do disposto no inciso I, será progressiva, aumentando à medida que, de acordo com a fiscalização da ANEEL, não forem alcançados os marcos específicos do cronograma de implantação do empreendimento. § 2o A Garantia de Fiel Cumprimento poderá ser substituída por novas garantias, de valor progressivamente inferior, à medida que, de acordo com a fiscalização da ANEEL, forem alcançados marcos específicos do cronograma de implantação do empreendimento, observada a mesma proporção estabelecida para sua execução. Art. 15. Além das condições estabelecidas nos arts. 11 a 14, os Editais dos Leilões previstos no art. 1o do Decreto no 6.353, de 2008, deverão estabelecer que, sem prejuízo do estabelecido no próprio Edital e na legislação pertinente, constituem hipótese de resolução do CER e, quando for o caso, extinção da outorga: I - atraso por mais de trinta dias no adimplemento da obrigação de reconstituição dos valores originalmente aportados para as Garantias de Participação e de Fiel Cumprimento, conforme disposto no § 2o do art. 12; e II - atraso superior a cento e vinte dias em qualquer um dos marcos de implantação constantes do ato de outorga do empreendimento contratado por meio de Leilões de Energia de Reserva. Parágrafo único. A ocorrência do disposto no inciso II ensejará a revogação da garantia física do empreendimento. Art. 16. Os CER decorrentes dos Leilões de que trata o art. 1o do Decreto no 6.353, de 2008, deverão estabelecer que, na ocorrência de indisponibilidade, na data de início de suprimento contratual de energia elétrica, das instalações para acesso ao sistema de transmissão, que não estejam sob responsabilidade do agente vendedor, necessárias para o escoamento da energia a ser produzida por empreendimento de geração apto a entrar em operação comercial, o agente vendedor fica isento da obrigação contratual de entrega de energia elétrica, sendo-lhe assegurado o recebimento da receita de venda. Portaria MME no 132, de 25 de abril de 2013 - fl. 7 § 1o Para que o empreendimento de geração seja considerado apto a entrar em operação comercial, o agente vendedor deverá comprovar a conclusão das instalações de geração e da instalação de rede de interesse restrito do empreendimento, inclusive mediante a realização de quaisquer testes determinados pela ANEEL. § 2o O disposto neste artigo não se aplica no caso de alteração, solicitada ou causada pelo agente vendedor, das informações de acesso vigentes quando da realização do Leilão. Art. 17. Os empreendedores cujos projetos tenham sido habilitados tecnicamente pela EPE e que venderam energia em leilões de energia de reserva poderão solicitar alterações nas características técnicas de suas usinas à ANEEL, após a emissão da outorga, mantido o prazo contratual de entrega da energia. § 1o Para efeito do previsto no caput, a ANEEL deverá instruir os processos e encaminhálos ao Ministério de Minas e Energia, que poderá autorizar as modificações de características técnicas que impliquem alterações de garantia física, de capacidade instalada e de localização da central geradora. § 2o Para fins do disposto no § 1o, o Ministério de Minas e Energia poderá consultar a EPE. Art. 18. O art. 8o-A da Portaria MME no 514, de 2 de setembro de 2011, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 8o-A. Os empreendedores cujos projetos tenham sido habilitados tecnicamente pela EPE e que venderam energia em leilões de energia nova ou de fontes alternativas poderão solicitar alterações nas características técnicas de suas usinas à ANEEL, após a emissão da outorga, mantido o prazo contratual de entrega da energia. § 1o Para efeito do previsto no caput, a ANEEL deverá instruir os processos e encaminhálos ao Ministério de Minas e Energia, que poderá autorizar as modificações de características técnicas que impliquem alterações de garantia física, de capacidade instalada e de localização da central geradora. § 2o Para fins do disposto no § 1o, o Ministério de Minas e Energia poderá consultar a EPE.” (NR) Art. 19. O art. 7o da Portaria MME no 21, de 18 de janeiro de 2008, passa a vigorar acrescido dos seguintes parágrafos: “§ 1o Após a etapa de Cadastramento e no decorrer do processo de Habilitação Técnica, caso se verifique que as informações contidas nos documentos encaminhados estejam incompletas ou insuficientes, a EPE notificará o agente para que promova os atos necessários a sua regularização. § 2o O não atendimento ao disposto no termo de notificação, de que trata o § 1o, implicará inabilitação do empreendimento correspondente por razões de ordem formal.” (NR) Art. 20. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. EDISON LOBÃO Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 26.4.2013. 205 ANEXO C – RESULTADO DO 12O LEILÃO DE ENERGIA NOVA Fonte: (ANEEL, 2013) 206 ANEXO D – FICHA TÉCNICA AEROGERADOR GAMESA G97 Fonte: (GAMESA, 2013). 207 ANEXO E – FICHA TÉCNICA AEROGERADOR IMPSA IWP 100 Fonte: (IMPSA, 2013). 208 ANEXO F – VOTO ANEEL ASSUNTO: Alteração dos cronogramas de implantação e do início de suprimento de energia elétrica das Centrais Geradoras Eólicas Chuí I, Chuí II, Chuí IV, Chuí V, Minuano I, Minuano II e Verace I a X, outorgadas, respectivamente, por meio das Portarias MME nº 106, 165, 79, 89, 231, 166, 63, 58, 64, 57, 202, 56, 65, 80, 66 e 67/2012, localizadas nos municípios de Chuí e Santa Vitória do Palmar, no estado do Rio Grande do Sul VOTO PROCESSOS: 48500.007058/2010-50, 48500.007057/2010-13, 48500.007056/2010-61, 48500.007055/2010-16, 48500.007054/2010-71, 48500.007053/2010-27, 48500.007052/201082, 48500.007051/2010-38, 48500.007050/2010-93, 48500.007065/2010-51, 48500.007064/2010-15, 48500.007062/2010-18, 48500.007061/2010-73, 48500.007060/201029, 48500.007059/2010-02 e 48500.007116/2010-45. INTERESSADOS: Eólica Chuí I S.A., Eólica Chuí II S.A., Eólica Chuí IV S.A., Eólica Chuí V S.A., Eólica Chuí VI S.A., Eólica Chuí VII S.A., Eólica Geribatu I S.A., Eólica Geribatu II S.A., Eólica Geribatu III S.A., Eólica Geribatu IV S.A., Eólica Geribatu V S.A., Eólica Geribatu VI S.A., Eólica Geribatu VII S.A., Eólica Geribatu VIII S.A., Eólica Geribatu IX S.A. e Eólica Geribatu X S.A.. RELATOR: Diretor Edvaldo Alves de Santana RESPONSÁVEL: SUPERINTENDÊNCIA DE CONCESSÕES E AUTORIZAÇÕES DE GERAÇÃO – SCG. ASSUNTO: Alteração dos cronogramas de implantação e do início de suprimento de energia elétrica das Centrais Geradoras Eólicas Chuí I, Chuí II, Chuí IV, Chuí V, Minuano I, Minuano II e Verace I a X, outorgadas, respectivamente, por meio das Portarias MME nº 106, 165, 79, 89, 231, 166, 63, 58, 64, 57, 202, 56, 65, 80, 66 e 67/2012, localizadas nos municípios de Chuí e Santa Vitória do Palmar, no estado do Rio Grande do Sul. I - RELATÓRIO 1. Os empreendimentos em tela foram outorgados em 2011 em decorrência da comercialização da energia delas proveniente no Leilão A-3 nº 02/2011-ANEEL, realizado em 17 de agosto de 2011, com início de suprimento previsto para 1º de março de 2014. 2. Em 22 de janeiro de 2013, as interessadas solicitaram a alteração dos cronogramas de implantação desses empreendimentos bem como da data de início de suprimento previsto nos CCEAR, mantendo-se o prazo de suas vigências. 3. Em 22 de maio de 2013, mediante Nota Técnica nº 192/2013-SCG/ANEEL, a SCG fez a análise do assunto, encaminhando o Processo para deliberação da Diretoria Colegiada. 4. Geral. As minutas das Resoluções foram analisadas e chanceladas pela Procuradoria 5. É o relatório. II - FUNDAMENTAÇÃO 6. Tratam-se das solicitações formuladas pelas autorizadas para alteração dos cronogramas de implantação, de modo a fazer coincidir as datas de inicio da operação comercial das centrais geradoras apresentadas na Tabela 1 e da SE Santa Vitória do Palmar, onde serão conectadas ao SIN. Essa subestação foi objeto do Leilão de Transmissão n° 05/2012-ANEEL, realizado em 6 de junho de 2012 e tem seu início de operação comercial previsto para 27 de agosto de 2014. Com a alteração as interessadas pretendem que as datas de início de suprimento previstas nos respectivos CCEARs, inicialmente estabelecidas para 1º de março de 2014, sejam deslocadas para a mesma data prevista para inicio da operação comercial das unidades geradoras. EOL Tabela 1 - Características das Usinas Ato de Outorga Empresa Outorgada Chuí I Portaria MME n° 106/, de 08/03/2012 Chuí II Portaria MME n° 165, 21/03/2012 Chuí IV Portaria MME n° 79, de 24/02/2012 Chuí V Portaria MME n° 89, de 02/03/2012 Minuano I Portaria MME n° 231, de 13/04/2012 Minuano II Portaria MME n° 166, de 21/03/2012 Verace I Portaria MME n° 63, de 22/02/2012 Verace II Portaria MME n° 58, de 15/02/2012 Verace III Portaria MME n° 64, de 22/02/2012 Eólica Chuí I S.A. Eólica Chuí II S.A. Eólica Chuí IV S.A. Eólica Chuí V S.A. Eólica Chuí VI S.A. Eólica Chuí VII S.A. Eólica Geribatu I S.A. Eólica Geribatu II S.A. Eólica Geribatu III S.A. Potência Instalada (kW) 24.000 22.000 22.000 30.000 22.000 24.000 20.000 20.000 20.000 Verace IV Portaria MME n° 57, de 15/02/2012 Eólica Geribatu 30.000 IV S.A. Verace V Portaria MME n° 202, de 05/04/2012 Eólica Geribatu V 30.000 S.A. Verace VI Portaria MME n° 56, de 15/02/2012 Eólica Geribatu 18.000 VI S.A. Verace VII Portaria MME n° 65, de 22/02/2012 Eólica Geribatu 30.000 VII S.A. Verace VIII Portaria MME n° 80, de 24/02/2012 Eólica Geribatu 26.000 VIII S.A. Verace IX Portaria MME n° 66, de 22/02/2012 Eólica Geribatu 30.000 IX S.A. Verace X Portaria MME n° 67, de 22/02/2012 Eólica Geribatu X 28.000 S.A. Todas constituídas sob a forma de Sociedades de Propósito Específico (SPE) e controladas pelas empresas Eólicas do Sul Santa Vitória do Palmar S.A. e Eólicas do Sul Chuí Holding S.A.. 7. A SCG avaliou que, conforme já ocorrido em outros casos, o Leilão de Transmissão ocorreu em data incompatível com a necessidade de início de operação comercial das centrais geradoras eólicas em questão. Ainda que a data de início de suprimento estabelecida nos respectivos CCEARs seja 1º/03/2014, o sistema de transmissão associado aos empreendimentos de geração não estará disponível antes de 27/8/2014, nos termos do Contrato de Concessão de Transmissão n° 20/2012, celebrado em 27 de agosto de 2012. 8. Assim, no melhor dos cenários, em que as centrais geradoras e a transmissora honrem os prazos estabelecidos em seus respectivos contratos, as geradoras não terão como escoar a sua energia no período que compreende 1º de março de 2014 e 27 de agosto de 2014, razão pela qual as geradoras requerem a concatenação das datas de suprimento de seus CCEAR com a data de início de operação comercial da SE Santa Vitória do Palmar. 9. Em vista disso, a SCG, com a avaliação também favorável da SFG, recomenda que a alteração solicitada seja aprovada, uma vez haver precedentes aprovados por esta Diretoria Colegiada, notadamente as alterações promovidas por meio dos Despachos nº 2.832, nº 2.834, nº 2.833, de 11 de julho de 2011, e com a Resolução Autorizativa nº 3.094, de 30 de agosto de 2011, referentes aos casos da EOL Asa Branca I, da EOL Asa Branca II, da EOL Asa Branca III e da EOL Eurus IV. 10. Os novos cronogramas propostos encontram-se discriminados nas Tabelas 2, 3 e 4, já considerando o prazo de comissionamento das unidades geradoras. Tabela 2 - Novo cronograma de implantação das centrais geradoras eólicas Verace I a V: Verace Verace Verace Marco Alterado Verace I Verace V II III IV Obtenção da Licença de 07/08/20 07/08/20 07/08/20 07/08/20 07/08/201 Instalação 12 12 12 12 2 Início da Montagem do 07/08/20 07/08/20 07/08/20 07/08/20 07/08/201 Canteiro de Obras 12 12 12 12 2 Início das Obras Civis das 23/08/20 24/07/20 24/06/20 25/05/20 24/02/201 Estruturas 13 13 13 13 3 Início da Concretagem 07/03/20 05/02/20 06/01/20 07/12/20 08/09/201 das Bases das Unidades 14 14 14 13 3 Geradoras Início das Obras do 01/07/20 01/07/20 01/07/20 01/07/20 01/07/201 Sistema de Transmissão 13 13 13 13 3 de interesse restrito Início da Operação em 11/10/20 11/10/20 11/10/20 11/10/20 16/09/201 Teste das Unidades 14 14 14 14 4 Geradoras Início da Operação 26/10/20 26/10/20 26/10/20 26/10/20 26/10/201 Comercial das Unidades 14 14 14 14 4 Geradoras Tabela 3 - Novo cronograma de implantação das centrais geradoras eólicas Verace VI a X: Verace Verace Verace Verace Marco Alterado Verace X VI VII VIII IX Obtenção da Licença de 07/08/20 07/08/20 07/08/20 07/08/20 07/08/201 Instalação 12 12 12 12 2 Início da Montagem do 07/08/20 07/08/20 07/08/20 07/08/20 07/08/201 Canteiro de Obras 12 12 12 12 2 Início das Obras Civis das 25/04/20 26/03/20 25/01/20 26/12/20 26/11/201 Estruturas 13 13 13 12 3 Início da Concretagem 07/11/20 08/10/20 09/08/20 10/07/20 10/06/201 das Bases das Unidades 13 13 13 13 3 Geradoras Marco Alterado Início das Obras do Sistema de Transmissão de interesse restrito Início da Operação em Teste das Unidades Geradoras Início da Operação Comercial das Unidades Geradoras Verace VI Verace VII Verace VIII Verace IX Verace X 01/07/20 01/07/20 01/07/20 01/07/20 01/07/201 13 13 13 13 3 11/10/20 11/10/20 16/09/20 27/08/20 27/08/201 14 14 14 14 4 26/10/20 26/10/20 26/10/20 14/10/20 23/09/201 14 14 14 14 4 Tabela 4 - Novo cronograma de implantação das centrais geradoras eólicas Chuí I, II, IV, V, Minuano I e II Chuí I Chuí I Chuí I Chuí I Minuan Minuan Marco Alterado oI o II Obtenção da Licença de 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 Instalação 013 013 013 013 013 013 Início da Montagem do 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 Canteiro de Obras 013 013 013 013 013 013 Início das Obras Civis das 15/03/2 15/02/2 18/01/2 07/12/2 18/10/2 29/08/2 Estruturas 014 014 014 013 013 013 Início da Concretagem 14/04/2 17/03/2 17/02/2 20/01/2 23/12/2 26/11/2 das Bases das Unidades 014 013 014 014 013 013 Geradoras Início das Obras do 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 15/08/2 Sistema de Transmissão 013 013 013 013 013 013 de interesse restrito Início da Operação em 11/10/2 11/10/2 11/10/2 11/10/2 11/10/2 11/10/2 Teste das Unidades 014 014 014 014 014 014 Geradoras Início da Operação 26/10/2 26/10/2 26/10/2 26/10/2 26/10/2 26/10/2 Comercial das Unidades 014 014 014 014 014 014 Geradoras 11. Deve ser observado que o início do suprimento deverá ser contado a partir da entrada em operação comercial das usinas, que se dará pela entrada em operação comercial da primeira unidade geradora, o que está previsto para ocorrer em 27 de agosto de 2014 (originalmente estabelecida em 1° de marco de 2014). Portanto, esta deverá ser a data de início do suprimento a ser considerada nos respectivos CCEARs, alterando-se o termo final destes contratos para 28 de junho de 2034 (cento e setenta e nove dias após 31 de dezembro de 2033, data estabelecida nos CCEAR originais). III - DIREITO 12. O presente voto tem amparo legal, considerando: a) Inciso II, do art. 3°-A, da Lei nº. 9.427, de 26 de dezembro de 1996; e b) Resolução Normativa nº 391, de 15 de dezembro de 2009; IV – DISPOSITIVO 13. Diante do exposto e do que consta dos Processos nos 48500.007058/2010-50, 48500.007057/2010-13, 48500.007056/2010-61, 48500.007055/2010-16, 48500.007054/201071, 48500.007053/2010-27, 48500.007052/2010-82, 48500.007051/2010-38, 48500.007050/2010-93, 48500.007065/2010-51, 48500.007064/2010-15, 48500.007062/201018, 48500.007061/2010-73, 48500.007060/2010-29, 48500.007059/2010-02 e 48500.007116/2010-45, voto pela emissão de Resoluções Autorizativas, conforme minutas em anexo, que visam: (i) Alterar os cronogramas de implantação das Centrais Geradoras Eólicas Chuí I, Chuí II, Chuí IV, Chuí V, Minuano I, Minuano II e Verace I a X, conforme Tabelas 2 a 4; e (ii) Alterar o início de suprimento dos respectivos CCEAR, mantido o prazo original. Brasília, 18 de junho de 2013. EDVALDO ALVES DE SANTANA Diretor