TAMANHO DE ESPONJAS Spongilla sp. (PORIFERA) AUMENTA EM FUNÇÃO DO TEMPO DE IMERSÃO? Bethânia Azambuja, Anacy Miranda, Camila Zatz, Carlos Cordeiro & Georgia Sinimbu importante, já que seus ciclos de vida INTRODUÇÃO Na Amazônia, o nível de água dos são ditados pelo tempo de imersão. Entre sistemas aquáticos, como rios e lagos, os organismos que varia ao longo do ano e essa variação é dependem desse pulso de inundação essencial para o funcionamento dos estão ecossistemas que margeiam esses aquáticos, sésseis e filtradores que ambientes (Junk et al., 1989). Isso vivem incrustados em substratos. porque as zonas de transição entre os Apesar ambientes aquático e terrestre são majoritariamente marinhas (Brusca, afetadas por pulsos periódicos de 2007), existem espécies de água doce, inundação (Junk, 1997). Esses pulsos de que resistem a períodos de condições inundação são anuais, previsíveis e extremas como congelamento ou seca possuem duas fases que se alternam, severa. Na bacia amazônica, esses uma de cheia e outra de seca (Junk et organismos al., 1989). Os organismos que vivem na estresse hídrico quando não estão transição entre os ambientes terrestres imersos, o que ocorre no período de e aquáticos na Amazônia apresentam vazante dos rios. Quando as condições adaptações fisiológicas e morfológicas ambientais voltam a ser favoráveis, as que os permitem resistir ao estresse atividades fisiológicas das esponjas hídrico relacionado ao pulso de voltam ao normal e possibilitam o inundação (Junk, 1997). No caso dos crescimento e a reprodução desses organismos sésseis aquáticos, o pulso animais (Hickman, 2002). de inundação é especialmente as Na esponjas, das organismos esponjas precisam Amazônia, serem resistir a ao esponja Spongilla sp. pode ser encontrada associada à vegetação que fica imersa devem ser encontradas em todas as durante o período de cheia anual. Nas faixas de altura desses troncos. Isso florestas de várzea, por exemplo, faria com que a variação de tamanho de esponjas de diferentes tamanhos se esponjas seja maior nas partes mais distribuem ao longo dos troncos das baixas dos troncos. árvores, na faixa de altura atingida periodicamente pelos pulsos O objetivo deste trabalho foi de testar se a variação no tamanho das inundação. Quando o nível da água esponjas ao longo dos troncos de baixa, no período de seca, as esponjas árvores pode ser explicada pelo tempo continuam aderidas aos troncos das de imersão destas esponjas. As árvores e entram em estágio de hipóteses levantadas foram que: (1) há dormência, voltando a crescer apenas uma relação positiva entre o tamanho no próximo período de cheia, quando das esponjas e o tempo de imersão e (2) ficam imersas novamente. Devido a há uma relação positiva entre a variação essa dependência fisiológica da água, as no tamanho das esponjas e o tempo de esponjas localizadas em partes mais imersão. baixas dos troncos provavelmente alcançam taxas de crescimento anual maiores, por ficarem mais tempo imersas do que aquelas localizadas nas partes superiores dos troncos. Se isso for verdade, essas esponjas localizadas em partes mais baixas dos troncos devem atingir tamanhos maiores do que aquelas localizadas em partes mais altas. No entanto, como a colonização das árvores por novas esponjas deve ocorrer todos os anos e em toda a parte imersa do tronco, esponjas pequenas MATERIAL & MÉTODOS Área de estudo Conduzimos este estudo em uma mata de várzea próxima ao Lago Camaleão, na Ilha da Marchantaria (3º16’S, 60º13’O), localizada no Rio Solimões, Amazônia Central. O local é caracterizado por apresentar pulsos de inundação anuais com amplitude de até 8 m, sendo julho o mês de pico de inundação e novembro o mês em que a vegetação arbórea fica totalmente fora Coleta de dados da água (Junk, 1997). A estação chuvosa Selecionamos 10 árvores com compreende os meses de dezembro a diâmetro à altura do peito similares, de abril, enquanto a estação seca vai de diferentes junho a outubro (Junk, 1997). Nosso apresentavam esponjas incrustadas em estudo foi desenvolvido no mês de seus troncos. Em cada árvore, medimos agosto, quando o nível da água estava a o maior diâmetro de todas as esponjas 2,5 m abaixo do nível máximo de encontradas, assim como sua distância inundação. até o nível da água (Figura 1). espécies e que Figura 1. Esquema de medidas utilizadas e distribuição das esponjas Spongilla sp. em um tronco de árvore numa floresta de várzea na Ilha da Marchantaria, Amazônia Central. Análise de dados realizamos regressões lineares simples Para testar a hipótese de que o entre o diâmetro das esponjas (variável tamanho das esponjas aumentava em dependente) e as distâncias da lâmina função d’água (variável independente) para do tempo de imersão, cada árvore. Em seguida, calculamos a intervalo média e o intervalo de confiança para coeficientes angulares das regressões os coeficientes angulares dessas dez das dez árvores. Nossa previsão era regressões. Nossa previsão era que, em que, média, os coeficientes angulares média, os coeficientes angulares dessas dessas regressões seriam significativamente significativamente negativos. negativos. Para investigar a variação no da lâmina confiança regressões para os seriam RESULTADOS diâmetro das esponjas em relação à distância de A média dos diâmetros das d’água, esponjas foi 3,12 ± 3,16 cm (n = 708). O categorizamos as medidas de distância maior valor de R² encontrado para a das esponjas até a lâmina d’água em regressão entre o diâmetro das sete classes: (1) 1 a 30 cm, (2) 31 a 60 esponjas e a distância da lâmina d’água cm, (3) 61 a 90 cm, (4) 91 a 120 cm, (5) foi 0,382, e entre os desvios padrão das 121 a 150 cm, (6) 151 a 180 cm e (7) 181 a médias de diâmetro e as classes de 210 cm. Para cada árvore, realizamos distância foi 0,441. Os coeficientes uma regressão linear simples entre os angulares das regressões lineares desvios padrão dos diâmetros das realizadas não foram significativamente esponjas e as classes de altura. Em diferentes de zero (Figura 2). seguida, calculamos a média e o ,
,
,
,
,
,
,
(a)
(b)
Figura 2. Médias (ponto central) e intervalos de confiança (95%) para os coeficientes angulares das regressões entre: (a) os diâmetros de indivíduos da esponja Spongilla sp. e suas distâncias da lâmina d’água e; (b) os desvios padrão das médias desses diâmetros para oito categorias de distâncias das esponjas até a lâmina d’água. Os dados foram coletados em 10 árvores em uma área de várzea na Ilha da Marchantaria, Amazônia Central. DISCUSSÃO A média dos tamanhos das esponjas e a variação desses tamanhos suficiente para gerar diferenças de tamanho nas esponjas em diferentes alturas. não apresentaram relação com o tempo É possível também que as de imersão. De acordo com Camargo et esponjas tenham um limite máximo de al. (2002), a altura máxima da coluna crescimento e talvez esponjas que já d’água no local de estudo é de 6,6 m, e cessaram seu crescimento tenham sido talvez a extensão de altura amostrada contabilizadas em nosso estudo, o que em nosso estudo, apenas 2,5 m abaixo teria do nível máximo de inundação, tenha diâmetros das esponjas ao longo do sido insuficiente para identificarmos tronco. Além disso, mesmo que o qualquer padrão na distribuição dos tempo de imersão seja importante para tamanhos das esponjas ao longo dos o crescimento das esponjas, outros troncos. Nesse intervalo de altura, é fatores como predação, por exemplo, possível que a diferença no tempo de podem influenciar a distribuição vertical imersão seja tão pequena que não seja dos tamanhos desses organismos ao diminuído a variação nos longo do tronco, mascararando um sp. (Spongillidae, Porifera) em possível efeito do tempo de imersão área de várzea na Ilha da sobre o tamanho desses animais. Ao Marchantaria, Amazônia Central. mesmo tempo que o tempo de imersão Em: Livro do curso de campo é favorável ao crescimento das “Ecologia esponjas, ele também possivelmente Amazônica” (J.L.C. Camargo & G. contribui para a maior susceptibilidade Machado, eds.). PDBFF/INPA, à predação por animais aquáticos. Manaus. Sugerimos que estudos da Floresta Hickman, C.P.Jr.; L.S. Roberts & A. posteriores considerem toda a faixa de Larson, distribuição de Spongilla sp., a fim de Principles of Zoology. McGraw‐
amostrar uma maior amplitude da Hill, New York. 2002. Integrated desses Junk, W.J.; P.B. Bayley, & R.E. Sparks, organismos. Além disso, remover 1997. The flood pulse concept in experimentalmente as esponjas de um river‐floodplain systems, pp. 110‐
tronco e acompanhar a sua colonização 127. Em: Proceedings of the poderia ajudar a esclarecer as taxas de International crescimento desses organismos em Symposium (D.P. Dodge, ed.). distintas faixas de altura. Canadian Special Publications of Fishery and Aquatic Science 106. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Springer, Berlim. variação dos tamanhos Brusca, R.C. & G.J. Brusca. 2007. Invertebrados. Large River Junk, W.J. 1989. General aspects of Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Camargo, G.; D.C. Resende; A.M. Benavides & S.M. Mendel. 2002. Distribuição vertical de Spongilla Orientação: Jorge Nessimian e Bruno A. Buzatto floodplain ecology with special reference to amazonian floodplains, pp. 3‐20. Em: The Central Amazon Floodplain – Ecology of a Pulsing System (W.J. Junk, ed.). Springer, Berlim. 
Download

TAMANHO DE ESPONJAS Spongilla sp. (PORIFERA) - PDBFF