ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA RICARDO JORGE CRUZ DE ARAGÃO O APOIO LOGÍSTICO AO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO Rio de Janeiro 2013 RICARDO JORGE CRUZ DE ARAGÃO O APOIO LOGÍSTICO AO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: CMG (RM-1 FN) Pedro Fonseca Junior. Rio de Janeiro 2013 C2013 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________ Assinatura do autor Biblioteca General Cordeiro de Farias Aragão, Ricardo Jorge Cruz de O apoio logístico ao submarino nuclear brasileiro / CMG Ricardo Jorge Cruz de Aragão. Rio de Janeiro: ESG, 2013. 56 f.: il. Orientador: CMG RM-1 FN Pedro Fonseca Junior. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013. 1. Submarino nuclear. 2. Submarino nuclear brasileiro. 3. Logística naval. I.Título. À minha querida esposa Rosane e meus filhos Letícia e Rafael, agradeço o apoio pelo incentivo para a realização deste trabalho. Ao mesmo tempo, agradeço também pela compreensão de minhas ausências do lar, em função das atividades profissionais ao longo da carreira. RESUMO Esta monografia busca destacar a importância do apoio logístico de manutenção para que o futuro submarino nuclear brasileiro possa exercer plenamente a sua capacidade de dissuasão. Procura evidenciar algumas falhas do apoio logístico de manutenção aos submarinos convencionais brasileiros, da classe IKL-209 atualmente em operação, que podem auxiliar a Marinha do Brasil sobre maneiras de manter o futuro submarino nuclear brasileiro em condições de operar em sua plenitude, o máximo de tempo possível, em toda a área de interesse do Brasil no Atlântico Sul. Ressalta, também, as vantagens logísticas obtidas pelo Brasil no Acordo Militar com a França com relação ao Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), bem como os aspectos positivos da construção de uma nova Base Naval, Estaleiro de Construção e Estaleiro de Manutenção em Itaguaí – Rio de Janeiro, todos estes voltados para o apoio logístico ao futuro submarino nuclear brasileiro. Considerando que a Marinha do Brasil está prestes a entrar uma nova era tecnológica, com a entrada em operação dessa nova arma de guerra naval, esta monografia apresenta também uma situação similar ocorrida no início do século XX, com a chegada de meios navais tecnologicamente avançados, conhecidos por ―Esquadra Branca‖, e que perderam muito do seu poder de dissuasão, pela absoluta falta de capacidade técnica do país prover apoio logístico àquelas plataformas. Procura colocar a logística de manutenção no mesmo patamar de importância da capacidade do país em projetar, construir e operar submarinos com propulsão nuclear. Palavras chave: Submarino nuclear. Submarino nuclear brasileiro. Logística naval. ABSTRACT This monograph aims to emphasize the importance of maintenance logistic support so that the future Brazilian nuclear submarine can fully exercise its deterrent capability. Seeks to highlight some flaws of the logistical support maintenance to the Brazilian conventional submarines, from IKL – 209 class currently in operation, that can assist the Navy of Brazil on ways to keep the future Brazilian nuclear submarine able to operate at its fullest, as much time as possible in the whole area of interest to Brazil in the South Atlantic. It emphasizes the logistical advantages obtained by Brazil in Military Agreement with France regarding the Submarine Development Program (PROSUB) as well as the positive aspects of the construction of a new Naval Base, Construction Shipyard and Maintenance Shipyard in Itaguai - Rio de Janeiro, all these focused on logistical support to the future Brazilian nuclear submarine. Considering that the Navy of Brazil is about to enter a new technological era, by the entry into operation of this new weapon of naval warfare, this monograph also presents a similar situation occurred in the early twentieth century, with the arrival of naval technologically advanced, known for "White Fleet", and who lost much of its power of deterrence, for the absolute lack of technical capacity in the country to provide logistical support to those platforms. Seeks to put the logistics of maintaining at the same level of importance of the country's ability to design, build and operate nuclear-powered submarines. Keywords: Nuclear Submarine. Brazilian Nuclear Submarine. Naval Logistic. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. ..7 2 CARACTERÍSTICAS DO SUBMARINO E O SEU EMPREGO NA ESTRATÉGIA NAVAL .................................................................................. 13 2.1 O submarino convencional ........................................................................... 13 2.1 O submarino com propulsão nuclear ............................................................ 14 3 O APOIO LOGÍSTICO AO SUBMARINO .................................................... 17 3.1 O apoio logístico de manutenção aos submarinos convencionais ............... 17 3.2 A importância histórica e a necessidade do Apoio Logístico para o submarino com propulsão nuclear.................................................................22 3.3 Apoio Logístico Integrado como ferramenta de planejamento para a manutenção do submarino com propulsão nuclear ........................................23 4 ASPECTO LOGÍSTICO DO ACORDO MILITAR BRASIL X FRANÇA. ...... 27 4.1 A escolha da França como parceiro para o desenvolvimento do submarino com propulsão nuclear....................................................................................27 4.2 As deficiências da manutenção aos submarinos da classe IKL – 209 e o seu aprendizado para a MB............................................................................29 4.3 O apoio logístico de manutenção previsto no Acordo Estratégico com a França e no PNM para o submarino nuclear..................................................32 5 A BASE E ESTALEIRO DE CONSTRUÇÃO E DE MANUTENÇÃO DE SUBMARINOS EM ITAGUAÍ...................................................................36 6 CONCLUSÃO. .............................................................................................. 39 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 43 APENDICE A – QUESTIONÁRIO ENVIADO À BACS..................................46 APENDICE B – QUESTIONÁRIO ENVIADO AO AMRJ...............................48 APENDICE C – QUESTIONÁRIO ENVIADO AO CMS.................................50 APENDICE D – QUESTIONÁRIO ENVIADO AO NCMM..............................52 7 1 INTRODUÇÃO ―Sua aquisição exige muito dinheiro, [...], o treinamento de sua tripulação e a sua manutenção requer o mais alto nível de profissionalismo se a esquadra é eficiente e eficaz.‖ (Stam ZIMMERMAN, 2000, p.1 apud MACHADO, 2010, p. 1). Desde os primórdios do século XX a Marinha do Brasil (MB) percebeu a importância do submarino como arma de guerra (BRASIL, 2009i). Já em 1914, três submarinos da classe ―Foca‖, construídos na Itália, foram incorporados à MB. Em 1937 foi a vez dos submarinos da classe ―T‖, também construídos na Itália (BRASIL, 2009v). Logo após o término da 2ª Guerra Mundial vieram os submarinos americanos da classe ―Fleet-Type‖ e, em seguida, na década de 1970, os da classe ―Guppy‖. Também na década de 1970 vieram os submarinos ingleses da classe ―Oberon‖ e, mais recentemente, no final da década de 1980 até 2005, os das classes ―Tupi‖ e ―Tikuna‖ alemães, totalizando cinco unidades, dos quais quatro foram construídos no Brasil, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) (BRASIL, 2009u). Todos esses submarinos tinham em comum o fato de utilizarem propulsão diesel – elétrica, chamada de propulsão convencional, com características tais como reduzida autonomia e baixa velocidade de deslocamento. Esse tipo de submarino (convencional), quando mergulhado, utiliza a energia armazenada nas baterias para se deslocar. Periodicamente essa energia precisa ser reposta, atividade esta normalmente realizada por meio de motores movidos à óleo diesel, comumente conhecida como ―carga de baterias‖ (MACHADO, 2010). Como a grande vantagem tática do submarino é a sua capacidade de ocultação1, a carga de baterias se torna um grande fator limitador pois, para a sua realização, o submarino, quando mergulhado, necessita expor mastros acima da superfície do mar, o que eleva o risco de ser detectado por sensores inimigos, tais como radares e satélites, cada vez mais sofisticados e eficientes. Para minimizar esse risco, o submarino procura se deslocar a baixas velocidades para economizar 1 A ―capacidade de ocultação‖ (capacidade de não ser detectado) significa, em termos bélicos, a capacidade de surpreender o inimigo, sendo um grande fator de força em qualquer confronto (BRASIL , 2009e). 8 ao máximo a energia das baterias, redundando em limitação de sua mobilidade (MACHADO, 2010). Existe outra classe de submarinos, desenvolvida, a partir da década de 1950, pioneiramente pela Marinha dos Estados Unidos, que utiliza a energia nuclear para a propulsão. O primeiro submarino no mundo que utilizou essa propulsão foi o ―USS Nautilus‖, em 1954 (MACHADO, 2010). Esse tipo de submarino (com propulsão nuclear) apresenta grandes vantagens em relação aos submarinos convencionais, uma vez que pode permanecer mergulhado em patrulha no mar por longos períodos, limitado praticamente apenas pela fadiga humana. Some-se a isso a elevada velocidade que esta propulsão lhe proporciona, dando-lhe grande mobilidade no teatro de operações. Além disso, como não necessita carregar baterias, a possibilidade de ser detectado é menor em relação ao convencional, uma vez que não há a necessidade de expor regularmente mastros ou qualquer outra parte do submarino acima da superfície do mar (MACHADO, 2010). Com a propulsão nuclear este meio passa a ficar quase que independente da atmosfera e da superfície, tornando-se um submarino por excelência, com uma baixíssima taxa de indiscrição 2 , privilegiando, assim, a sua maior arma: a capacidade de ocultação (MACHADO, 2010). Diante dessas vantagens, a Marinha do Brasil tem envidado esforços no sentido de construir no país um submarino com propulsão nuclear. Como exemplo, cita-se a criação do Programa Nuclear da Marinha (PNM), em 1979, cujo objetivo inicial foi o de obter o domínio do ciclo de enriquecimento do urânio. Nesse sentido, a Marinha criou, na década de 1980, o Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo (CCEMSP), no interior do campus da Universidade de São Paulo (USP), além do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTEMSP) e do Centro Experimental de Aramar (CEA) em Sorocaba – São Paulo (MACHADO, 2010). Na mesma época (1982) eclodiu o conflito bélico entre a Argentina e Inglaterra pela posse das ilhas Malvinas no atlântico sul. O emprego de um submarino nuclear inglês nessa disputa, evidenciado pelo torpedeamento e 2 Taxa de indiscrição é a relação, normalmente expressa em termos percentuais, entre o tempo necessário para recarregar as baterias e o tempo despendido para descarregá-la até certo nível, em determinada velocidade. 9 afundamento do cruzador ―General Belgrano‖, causou um efeito dissuasório tão grande, que a esquadra argentina não mais se atreveu a operar naquele teatro de operações marítimas durante o restante da guerra (VIDIGAL, 1983). Este episódio veio a reforçar a percepção da Marinha do Brasil de que um submarino com propulsão nuclear é um dos melhores meios de dissuasão no contexto da guerra naval, com a vantagem de apresentar a melhor razão custo/benefício3 (MACHADO, 2010). Os fatos abaixo ajudam a entender a importância do mar para o país, e da grande preocupação da Marinha do Brasil em proteger o litoral brasileiro com meios capazes de prover a dissuasão, como o submarino nuclear (BRASIL, 2009f) : - escoamento de 95% de nosso comércio exterior é realizado por via marítima, cujo valor, atualmente, chega a cerca de US$ 300 bilhões entre importações e exportações; - existência de grandes reservas de hidrocarbonetos na plataforma continental, responsável pela nossa autossuficiência em petróleo; e - extenso litoral marítimo com mais de 7.000 km de extensão e uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de área correspondente a 4,5 milhões de quilômetros quadrados. Todos esses argumentos acima ajudam a entender porque a MB escolheu o submarino com propulsão nuclear como o meio ideal para prover a dissuasão e, conseqüentemente, a defesa de nossa imensa plataforma continental. Essa dissuasão ocorre, mais especificamente, pela capacidade do submarino em negar o uso do mar ao inimigo, uma das tarefas básicas do poder naval (MACHADO, 2010). Nesse sentido, a Estratégia Nacional de Defesa (END) (BRASIL, 2008t, p. 11), tem como uma de suas diretrizes, ―dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras terrestres e nos limites das águas jurisdicionais brasileiras, e impedirlhes o uso do espaço aéreo nacional‖. Além desta, a END elencou a seguinte diretriz: desenvolver, lastreada na capacidade de monitorar/controlar, a capacidade de responder prontamente a qualquer ameaça ou agressão por meio da mobilidade estratégica, entendida 3 Esta vantagem decorre do fato de que, na guerra naval, há a necessidade de um conjunto de meios navais e aeronavais para se contrapor a um único submarino. 10 como a aptidão para se chegar rapidamente à região em conflito. (BRASIL, 2008s, p. 11) Pelas suas características, o submarino com propulsão nuclear é capaz de prover a mobilidade estratégica em uma imensa área marítima de 4,5 milhões de km quadrados, conhecida como ―Amazônia Azul‖. No que concerne à Marinha do Brasil, a END (BRASIL, 2008t, p. 20 - 21) também estabelece como prioridade ―assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração de forças inimigas que se aproximem do Brasil por via marítima‖. Para atender essa prioridade o país deverá possuir ―força naval de envergadura, composta de submarinos convencionais e de submarinos com propulsão nuclear‖. É de se supor, portanto, que um adequado grau de dissuasão será alcançado explorando os princípios de guerra da ―surpresa‖ e da ―iniciativa das ações‖, inerentes a esse meio naval (MACHADO, 2010). Assim, em mais um passo visando concretizar o objetivo de construir e operar submarinos com propulsão nuclear foi criado, em 26 de setembro de 2008, a Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN) com o objetivo de gerenciar o PROSUB. Em seguida foi assinado, em 23 de dezembro de 2008, o Acordo de Cooperação Estratégico entre o Brasil e a França na área de Defesa. Está previsto nesse Acordo a construção de 4 submarinos convencionais, uma Base Naval, um Estaleiro de Construção, um Estaleiro de Manutenção e assessoria para projetar e construir submarinos de propulsão nuclear (com exceção de sua propulsão, que ficará a cargo da MB), todos previstos no Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) da MB (MACHADO, 2010). Em consonância com a END, o Plano de Articulação e Equipamentos da Marinha do Brasil (PAEMB), consubstancia as necessidades de meios navais para o período 2010 – 2047, projetando a incorporação de 01 submarino com propulsão nuclear para o horizonte entre 2015 – 2022, 01 entre 2023 – 2030, e outros 4 entre 2030 – 2047 (PLANO, 2013). Assim como é estratégico para a nossa Defesa projetar e construir submarinos nucleares no país, visando obter um adequado poder de dissuasão, na mesma medida é vital também possuirmos a capacidade de realizar a sua 11 manutenção, conforme subentendida na END (BRASIL, 2008t, p. 9) quando esta cita o princípio da ―Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear‖. O Brasil está prestes a entrar em uma nova era com a chegada do submarino com propulsão nuclear nacional (SN-BR). Em que pese o enorme campo que se abre na esfera estratégica, com o elevado poder de dissuasão que este meio proporciona a MB tem que estar pronta também para apoiar logisticamente a sua manutenção. Assim como foi negado ao nosso país o acesso à tecnologia da propulsão nuclear (BRASIL, 2009h), razão pela qual está sendo desenvolvida no Brasil, a MB deve estar preparada para que, também, possa ser negado apoio externo para a manutenção de toda a plataforma (casco, sistemas e equipamentos) que comporá o submarino nuclear. Portanto, a MB deve projetar todo o sistema de apoio logístico do SN-BR da maneira mais independente possível, com o apoio da indústria nacional, a fim de extrair o máximo do seu inerente poder de dissuasão. Nesse sentido, este trabalho se propõe a abordar a Logística no campo da expressão militar, mais especificamente limitada ao aspecto naval, analisando o apoio logístico que a Marinha do Brasil deverá prover ao submarino nuclear, notadamente com relação à função logística de Manutenção4, de forma a contribuir para a consecução dos objetivos da Estratégia Nacional de Defesa (END), principalmente o da dissuasão. Para tanto, o trabalho em questão foi dividido em cinco seções, além de uma conclusão. Na seção dois são apresentadas as diferenças básicas do submarino com propulsão convencional e o de propulsão nuclear, bem como a forma de empregálos na estratégia naval. O objetivo é tornar claro como operam essas plataformas navais e o seu poder de dissuasão. Na seção três serão abordadas as atividades de apoio logísticas da função Manutenção prestadas aos submarinos convencionais da classe ―IKL - 209‖, atualmente em operação na MB, notadamente pela Base Almirante Castro e Silva 4 De acordo com o Manual de Logística da Marinha (BRASIL, 2002q, capítulo 2, p. 2), entende-se por função Logística de Manutenção como o ―conjunto de atividades que são executadas visando a manter o material (meios e sistemas) e o software utilizados pela MB na melhor condição para emprego e, quando houver defeitos ou avarias, reconduzi-lo àquela condição‖. 12 (BACS), situada na ilha de Mocanguê - RJ, Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) e Centro de Manutenção de Sistemas (CMS). Esta abordagem é importante, uma vez que, muitas das atividades de apoio logísticas prestadas aos submarinos convencionais também serão necessárias aos submarinos com propulsão nuclear. Na seção quatro, são apresentados aspectos logísticos do Acordo Militar entre o Brasil e França, as lições apreendidas com o apoio logístico aos submarinos da classe IKL – 209, bem como características da logística militar naval empregada na Marinha do Brasil. Na seção cinco são apresentadas as características previstas da futura Base Naval e Estaleiro de Construção e de Manutenção em Itaguaí, as vantagens decorrentes de sua localização, além do apoio logístico vislumbrado para o submarino nuclear. Na seção seis (conclusão) são apresentados os desafios do apoio logístico inédito no país a um meio altamente sofisticado e oneroso como o submarino com propulsão nuclear, bem como tal tarefa logística pode ser enfrentada pela Marinha do Brasil. 13 2 CARACTERÍSTICAS DO SUBMARINO E O SEU EMPREGO NA ESTRATÉGIA NAVAL 2.1 O submarino Convencional O submarino convencional é aquele que, tradicionalmente, é dotado de propulsão diesel – elétrica. Desde o início do século XX esse foi o tipo de propulsão adotada para os submarinos ditos convencionais. Motores movidos a diesel são responsáveis por carregar, por meio de geradores elétricos, um conjunto de baterias que, por sua vez, fornecem energia para um motor elétrico que, em última análise, é o responsável pela propulsão (MACHADO, 2010). Essa foi a solução encontrada para a locomoção do submarino, uma vez que, debaixo d’água não é possível manter funcionando os motores de forma contínua. Isto porque seria necessário fornecer ar ambiente aos mesmos e, ao mesmo tempo, retirar de bordo os gases nocivos ao ser humano resultantes da sua combustão, o que é tecnicamente inviável (MACHADO, 2010). No entanto, para manter as baterias carregadas, periodicamente é necessário ao submarino convencional, quando mergulhado, se aproximar da superfície e içar o mastro do esnórquel. Esta manobra permite o funcionamento dos motores, durante um curto espaço de tempo, com o submarino mergulhado, para realizar a chamada ―carga das baterias‖. Com este mastro içado, é possível fornecer ar atmosférico aos motores, ao mesmo tempo em que os gases resultantes de sua combustão são retirados de dentro do submarino (BRASIL, 2009e). Esse tipo de propulsão, no entanto, concomitantemente com o uso do sistema de esnórquel, causam grandes limitações ao submarino convencional tais como (MACHADO, 2009): - baixa velocidade de cruzeiro5; - uso da velocidade máxima apenas por períodos curtos de tempo; - possibilidade de detecção do submarino por satélites, aeronaves, navios e outros submarinos quando utilizando o sistema de esnórquel; 5 Velocidade de cruzeiro é a velocidade ideal máxima e constante que a propulsão de um meio naval consegue manter de maneira econômica sem diminuir a vida útil das peças que compõe esse sistema. 14 - limitação de mobilidade, devido à necessidade de economizar ao máximo a energia das baterias, visando à redução da freqüência da carga de baterias quando no mar; e - limitado tempo de permanência mergulhado e em operação no mar em função da reduzida autonomia proporcionada pelo combustível (óleo diesel). Essas restrições limitam o emprego do submarino convencional, normalmente designado para operar em área de patrulha próxima a um ponto focal6, durante um limitado período de tempo. É a chamada ―Estratégia de posição‖, mais indicada para os submarinos convencionais dotados de baixa velocidade e posicionados em áreas marítimas litorâneas de pequena profundidade (águas rasas) (BRASIL, 2009e). Em que pese essas limitações, o submarino convencional possui capacidade de dissuasão, e o apoio logístico da MB tem concorrido para isso ao contribuir para a manutenção e operação dos seus principais sistemas e equipamentos em todo o litoral brasileiro, mantendo-o pronto para o combate. 2.2 O submarino com propulsão nuclear Há outro tipo de submarino diferente do convencional, cuja propulsão tem como base a energia proveniente da fissão nuclear dentro de um reator. O calor dessa reação é utilizado para produzir vapor que movimenta uma turbina, que induz a rotação de um gerador de energia elétrica. Por fim, a energia elétrica produzida por esta rotação é fornecida a um motor elétrico que, em última análise, é o responsável pela propulsão do submarino. O calor dessa reação é utilizado para produzir vapor que movimenta uma turbina, que induz a rotação de um gerador de energia elétrica. Por fim, a energia elétrica produzida por esta rotação é fornecida a um motor elétrico que, em última análise, é o responsável pela propulsão do submarino (MACHADO, 2010). Na figura abaixo pode-se ver, de forma simplificada, o funcionamento da planta de propulsão nuclear: 6 Ponto focal é uma área no litoral onde há uma concentração de rotas marítimas por onde trafegam os navios mercantes. 15 Fonte: Brasil, 2012l. Esse tipo de submarino foi desenvolvido logo após a 2ª Guerra Mundial pelos Estados Unidos. Em 1954, a Marinha americana passou a operar o 1º submarino com propulsão nuclear, o USS ―Nautilus‖, que rapidamente demonstrou a superioridade dessa propulsão em relação à convencional (diesel – elétrica) (MACHADO, 2009). Sem necessidade de carregar baterias, o submarino nuclear não precisa do sistema de esnórquel. Assim, pode permanecer mergulhado por longos períodos, uma vez que o combustível nuclear é virtualmente inesgotável, estendendo por longos períodos a sua operação no mar, tendo como uma das únicas limitações a fadiga da tripulação. Outra vantagem desse tipo de submarino é que, sem a necessidade do uso do esnórquel, esta plataforma naval é independente da atmosfera e da superfície do mar, o que o torna um submarino por excelência, pela possibilidade de permanecer mergulhado por longos períodos, com uma baixíssima taxa de indiscrição, privilegiando, assim, a sua maior arma: a capacidade de ocultação (BRASIL, 2009e). Fruto da propulsão nuclear, esse tipo de submarino tem a capacidade de operar em altas velocidades durante longos períodos, aumentando substancialmente o seu poder de dissuasão, uma vez que sua operação não fica limitada às zonas de patrulha devido a sua grande mobilidade. Esta característica o indica para ser 16 empregado na chamada ―Estratégia de Manobra‖, na qual o submarino ao invés de ficar confinado a uma zona de patrulha, aguardando a aproximação dos navios inimigos, ele os procura no alto mar (águas azuis) e, ao localizá-los, realiza o ataque, uma vez que possui velocidade suficiente para interceptá-los (MACHADO, 2010). Em termos práticos, a vantagem do submarino nuclear sobre o submarino convencional pode ser observada no mapa do litoral brasileiro abaixo, que apresenta a grande diferença das dimensões das áreas de operações de cada um desses meios: Fonte: Brasil, 2009v. 17 3 O APOIO LOGÍSTICO AO SUBMARINO 3.1 O apoio logístico de manutenção aos submarinos convencionais Desde o início da operação dos submarinos em 1914, a MB se preocupa com a manutenção dos mesmos. Naquela época, o apoio logístico era realizado pelo Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) e pelo Navio Tender ―Ceará‖, adquirido pela MB com a finalidade de ―apoiar os submersíveis em reparos, manutenção, fornecimento de torpedos, energia elétrica, ar comprimido, combustível, água doce e destilada, sobressalentes e alojamento para as tripulações [...].‖ (BRASIL, 2004u, p. 28). Esse apoio veio a ser aprimorado posteriormente com a criação, em 1941, da Base Almirante Castro e Silva (BACS), localizada na Ilha de Mocanguê – Niterói (BRASIL, 2004u, p. 28). Após a desativação do Navio Tender ―Ceará‖, o apoio logístico de manutenção aos submarinos passou a ser realizado apenas pela BACS (2º Escalão)7 e pelo AMRJ (2º e 3º Escalões), sendo este último acionado quando da necessidade de serviços de apoio mais complexos ou para a realização de docagem do meio. Pode-se visualizar melhor a dimensão do apoio oferecido pela BACS e pelo AMRJ aos meios existentes atualmente na Força de Submarinos (submarinos da classe IKL – 209, também conhecidos como classe ―Tupi‖) através das tabelas abaixo: BACS PERGUNTA Qual é a missão da BACS? 7 RESPOSTA A missão da BACS é apoiar administrativamente o Comando da Força de Submarinos e suas OM subordinadas, prover serviços de manutenção e reparos Segundo o Manual de Logística da Marinha (BRASIL, 2002q) Escalão de Manutenção é o grau de amplitude de trabalho requerido nas atividades de manutenção, em função da complexidade do serviço a ser executado. A manutenção de 1º Escalão compreende as ações realizadas pela tripulação do próprio meio visando mantê—lo em condições de funcionamento. A manutenção de 2º Escalão compreende as ações realizadas em organizações de manutenção e que ultrapassam a capacidade de ser realizada por bordo. A manutenção de 3º Escalão compreende ações que ultrapassam a capacidade dos escalões anteriores em função da complexidade. 18 de 2º escalão e prover serviços de escafandria e de medicina hiperbárica, a fim de contribuir para o aprestamento dos meios navais e para a manutenção das OM subordinadas ao ComForS. De uma maneira geral, O Em linhas gerais, qual é o apoio Departamento Industrial da BACS oferece oferecido pela BACS para o todo o apoio necessário para o cumprimento das rotinas de cumprimento das rotinas de manutenção manutenção dos submarinos? Planejada de 2º. Escalão, possuindo para isso a Oficina de Eletricidade, a Oficina de Metalurgia, a Oficina de Torno e Fresa, a Oficina de Ajustagem, a Oficina de Testes Hidrostáticos, a Oficina de Extintores, a Oficina de Refrigeração Doméstica, a Oficina/Laboratório de Metrologia. Além das oficinas, a BACS conta com um Grupo de Manutenção e Oficina de Eletrônica, que executa reparos referentes à manutenção de 2° escalão, com base no sistema de manutenção planejada dos Submarinos da Classe Tupi e Tikuna. As rotinas de manutenção dos Em linhas gerais quais são as rotinas Submarinos Classe Tupi e Tikuna de manutenção dos submarinos a consistem de revisões programadas, que cargo da BACS? são executadas em consonância com os manuais dos fabricantes de equipamentos dos Submarinos e engloba todos os principais equipamentos e sistemas dos Submarinos, no tocante a manutenção de 2° escalão. Como exemplos de equipamentos, podemos citar: Motores de Combustão Principal, Baterias, Motor Elétrico Principal, Sistema da Propulsão e sistemas auxiliares. AMRJ PERGUNTA Qual é a missão do AMRJ? RESPOSTA Promover o gerenciamento de programas de construção de unidades 19 navais de superfície, de programas de manutenção e reparo de meios navais de superfície e de submarinos, além de prover disponibilidade de facilidades portuárias e de infraestrutura de apoio aos meios da MB atracados ou em trânsito e às Organizações Militares localizadas no Complexo Naval da Ilha das Cobras, com excelência em qualidade, contribuindo para assegurar a prontidão operativa do Poder Naval, respeitando o indivíduo, a sociedade e o meio ambiente. Atividades relativas às rotinas de 2º e Em linhas gerais quais são as rotinas 3º escalões de acordo com o SMP nas de manutenção dos submarinos a áreas de mecânica, elétrica e estrutura. cargo do AMRJ? A manutenção especializada de outros sistemas específicos como o de periscópios, tubos de torpedo, equipamentos eletrônicos como o Sistema de Armas, Sonar e Sistemas de Comunicações, são realizadas pelo Centro de Manutenção de Sistemas (CMS) localizado fisicamente dentro do AMRJ. As atividades de manutenção ali realizadas podem ser verificadas na tabela abaixo: PERGUNTA Qual é a missão do CMS? RESPOSTA O Centro de Manutenção de Sistemas da Marinha é uma organização militar prestadora de serviços (OMPS) que tem como propósito contribuir para o aprestamento dos meios da Marinha do Brasil. Para isso, realiza atividades técnicas, industriais, tecnológicas e administrativas relacionadas com a instalação e manutenção dos sistemas de armas, detecção e comunicações, equipamentos eletrônicos e software dos Sistemas Digitais Operativos dos meios navais, aeronavais, de Fuzileiros Navais e de estabelecimentos de terra. 20 Em linhas gerais, qual é o apoio O CMS disponibiliza de mão de obra oferecido pelo CMS para o qualificada e instalações para manutenções cumprimento das rotinas de preventivas e corretivas, de 2º e 3º manutenção dos submarinos? escalões, de equipamentos eletrônicos, elétricos, mecânicos, serviços de usinagem leve, hidráulica, pneumática, pintura, metrologia e alinhamento. O CMS contrata e adquire todos os serviços e materiais eventualmente necessários aos reparos no mercado nacional e internacional. Em linhas gerais quais são as rotinas O CMS executa manutenções de manutenção dos submarinos a preventivas e corretivas, de 2º e 3º escalões cargo do CMS? previstas no SMP nos seguintes equipamentos e sistemas: Comunicações interiores, comunicações exteriores, telefone submarino de emergência, telefone submarino UT-12, navegação, agulhas giroscópicas, GPS, odômetro, ecobatímetro, controle tático, sistemas de direção de tiro, sistema de combate, DATA BUS, NDMC, MAGE, mesa de plotagem, radar, sonar, tubos de torpedo, manobra de torpedos e minas, periscópios, mastros e ejetor de sinais. Assim, como ocorre com todos os meios da esquadra brasileira, a manutenção dos submarinos é realizada em Organizações Militares Prestadoras de Serviço (OMPS), como a BACS, AMRJ e CMS, concentradas na cidade do Rio de Janeiro. Como as OMPS, em certos casos, não são capazes de realizarem manutenções mais complexas, tal localização facilita essa atividade em seu último escalão de complexidade (4º escalão) por empresas especializadas sediadas naquela região (BRASIL, 2002r). Essa concentração de empresas e OMPS no mesmo local também ajuda a reduzir os custos e otimizar o tempo necessário para a manutenção, tanto preventiva como corretiva8. No entanto, embora os submarinos estejam atualmente sediados na Ilha de Mocanguê – Niterói e, portanto, próximos das OMPS e do parque industrial brasileiro, 8 Segundo o Manual de Logística da Marinha (BRASIL, 2003q, capítulo 4, p. 4), manutenção preventiva (planejada) é aquela realizada de forma sistemática e planejada, enquanto a manutenção corretiva (não planejada) é aquela realizada para restaurar as especificações técnicas do material, ou do software, defeituoso, ou avariado, de modo inesperado. 21 os mesmos não ficam circunscritos ao litoral do estado do Rio de Janeiro. Visando realizar exercícios e patrulhar as águas jurisdicionais do país (Amazônia Azul), os submarinos se deslocam para outras localidades do extenso litoral brasileiro (BRASIL, 2009k). Nesse caso, havendo necessidade de alguma manutenção corretiva, o apoio logístico fica a cargo de outras Bases Navais existentes em cidades ao longo da costa brasileira ou, ainda, havendo a necessidade de uma manutenção mais especializada, equipes técnicas das OMPS sediadas no Rio de Janeiro (AMRJ, BACS, etc), são enviadas para a localidade onde se encontra o submarino, conforme verificado nas respostas dos questionários enviados àquelas OMPS. Na qualidade de oficial com especialização em submarinos, estando embarcado por mais de nove anos a bordo de submarinos, este autor pôde constatar a importância do apoio oferecido pelas OMPS a esses meios quando fora da área do Rio de Janeiro. Durante as viagens ao longo do litoral brasileiro, e mesmo fora do país, avarias em equipamentos ocorreram e, em algumas ocasiões houve a necessidade de apoio externo. Nessas situações, equipes técnicas do AMRJ e do CMS foram acionadas para realizar o reparo (manutenção corretiva) necessário em portos nacionais e estrangeiros. A presteza e o conhecimento técnico dessas equipes foram fundamentais para evitar que os adestramentos no mar realizados pelo submarino fossem prejudicados pelo atraso na prontificação do reparo. Como se pode depreender, o mais importante, independentemente do tipo de manutenção a ser realizada, é que o submarino seja apoiado de forma eficiente, a fim de que o mesmo esteja em condições de se fazer ao mar com toda a sua capacidade operativa, no mais curto espaço de tempo, a fim de que se possa extrair o máximo do seu intrínseco poder de dissuasão. Sem dúvida, a capacidade técnica das OMPS, a concentração das mesmas no local onde os submarinos estão sediados, além da proximidade de um parque industrial nacional, com capacidade de prover manutenção altamente especializada, são aspectos primordiais para dar credibilidade ao poder dissuasório dos submarinos. 22 3.2 A importância histórica e a necessidade do Apoio Logístico para o submarino com propulsão nuclear Embora as vantagens sejam grandes em relação aos submarinos convencionais, apenas poucas nações9 possuem submarinos com propulsão nuclear devido ao seu alto custo de construção, operação e manutenção, bem como pela necessidade do domínio de tecnologias de ponta, como a nuclear, que não é transferida pelos países que a possuem (BRASIL, 2009e). Logicamente o apoio logístico também é mais complexo, uma vez que envolve o suporte a uma planta nuclear cuja manutenção, caso seja corretiva (avaria), exigirá um pronto atendimento, independente de onde esteja o submarino, sob pena de expor a um alto risco de contaminação radioativa toda a tripulação, bem como o meio ambiente, além de poder causar a perda irreversível de um meio altamente complexo e de custo elevado. A falta de um apoio logístico adequado a um meio naval tem um impacto altamente negativo no seu poder de dissuasão. Um exemplo disso, ocorrido na Marinha do Brasil, foi quando da chegada ao país da ―Esquadra Branca‖ em 1910. No início do século XX, o governo brasileiro havia encomendado à Inglaterra modernos navios de guerra, com o objetivo de equilibrar a balança de poder naval na América do Sul, uma vez que a Argentina possuía, naquela época, uma Marinha superior à nossa (VIDIGAL, 1983). Composta por navios de guerra no ―estado da arte‖, revolucionários para a época, chamada de ―Esquadra Branca‖, a Marinha do Brasil rapidamente se deu conta que não tinha como mantê-los, por absoluta falta de um apoio logístico de manutenção adequado, respaldado por um competente parque industrial nacional. O resultado disso foi desastroso. Em apenas 10 anos, a ―Esquadra Branca‖ estava em uma situação lamentável. Embora os navios ainda estivessem tecnologicamente atualizados, paradoxalmente a falta de manutenção desses meios colocou totalmente por terra o seu poder de dissuasão. Os navios mal conseguiam se deslocar e o armamento sofria sérias limitações de operação (VIDIGAL, 1983). 9 Apenas os países que possuem assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (EUA, China, Rússia, Inglaterra e França) detém e possuem a tecnologia de construção de submarinos com propulsão nuclear. 23 Sobre esse episódio o Vice-Almirante Armando Amorim Ferreira Vidigal fez o seguinte comentário, que demonstra a importância da logística: Não acreditamos que seja exequível a construção de poder naval efetivo sem o respaldo de uma indústria nacional. [...] o que não pode haver é um completo divórcio entre a esquadra e as estruturas para o seu apoio. (VIDIGAL, 1983, p. 89 – 90). Logicamente o contexto atual brasileiro é muito diferente daquela época, a começar pelo fato de que o submarino nuclear será totalmente construído no país, com tecnologia desenvolvida localmente em relação à propulsão (BRASIL e, 2009). No entanto, a MB está diante de um relativo ―salto tecnológico‖, considerando o ineditismo deste meio e a necessidade de prover um apoio logístico confiável, capaz de fazer frente à manutenção necessária aos equipamentos e sistemas de apoio, bem como às avarias que possam a vir ocorrer em qualquer local em que o submarino nuclear possa estar no litoral brasileiro. Sendo uma plataforma extremamente cara e complexa, e uma das prioridades da MB para prover a defesa do litoral brasileiro, é de grande importância extrair o máximo do seu poder de dissuasão intrínseco. Nesse sentido o Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Moura Neto diz sobre o submarino de propulsão nuclear que ―[...] o relevante não é nem o que ele vai fazer, mas o que pode fazer. E pode tanto, que sua simples existência é suficiente para produzir boa parte dos efeitos desejados com sua posse [...]‖ (BRASIL, 2009e). É certo, no entanto, que a obtenção plena do efeito desejado (dissuasão) desse meio passa por um competente apoio logístico de manutenção que, como ocorre atualmente com os submarinos convencionais, concorre para mantê-los no mar o máximo de tempo possível. 3.3 O Apoio Logístico Integrado como ferramenta de planejamento para a manutenção do submarino com propulsão nuclear As primeiras referências à ―logística‖, no seu sentido moderno, podem ser encontradas na obra do escritor Carl Von CLAUSEWITZ, que na sua obra ―Da Guerra‖ dividia a Arte da Guerra em dois ramos: a Tática e a Estratégia. Ele não 24 falava especificamente da Logística, porém reconheceu que ―[...] em nossos dias, existe na Guerra um grande número de atividades que a sustentam [...] mas devem ser consideradas como uma preparação para a mesma‖ (BRASIL, 2003q, p. 2). Já o escritor JOMINI, contemporâneo de CLAUSEWITZ, deve-se, pela primeira vez, o uso da palavra LOGÍSTICA, definindo-a como ―a ação que conduz à preparação e sustentação das campanhas‖, enquadrando-a como ―a ciência dos detalhes dentro dos Estados-Maiores‖ (BRASIL, 2003q, p. 2). A MB adota a seguinte definição para a Logística: a componente da Arte da Guerra que tem como propósito obter e distribuir às Forças Armadas os recursos de pessoal, material e serviços em quantidade, qualidade, momento e lugar por elas determinados, satisfazendo as necessidades na preparação e na execução de suas operações exigidas pela guerra‖. (BRASIL, 2003q, p. 3) Já a Logística Naval é definida como ―O concernente aos meios, efetivos e ramo organizações da de Logística comando, Militar controle, comunicações e apoio empregados pela Marinha para atender às necessidades das forças navais‖ (BRASIL, 2003q, p. 3). Ainda segundo o EMA – 400 (BRASIL, 2003q), a Logística Naval é dividida em 7 funções (áreas), dentre as quais a função Manutenção, objeto específico deste estudo. Visando a realização adequada da manutenção dos meios navais, é necessária, a ―priori‖, a determinação das necessidades para o apoio ao mesmo. Na MB tal levantamento é realizado por meio do chamado ―Apoio Logístico Integrado‖ (ALI). O ALI é implementado por ocasião da aquisição de um novo meio ou, caso seja construído no país, durante a fase de concepção, com vistas a delinear, desde o início do projeto, como e qual o apoio logístico deverá ser fornecido por uma Base Naval em apoio à plataforma em questão (BRASIL, 2002r). Mais específicamente, de acordo com as Normas para a Logística de Material (EMA – 420), o Apoio Logístico Integrado (ALI) visa: planejar e orientar a implementação do apoio logístico de um novo meio (navio, submarino, aeronave) ou sistema, desde sua concepção e ao longo de sua vida útil, compatibilizando o máximo de disponibilidade com o mínimo de custos de operação e manutenção. (BRASIL, 2002r). 25 O termo ALI teve origem no âmbito das Forças Armadas dos EUA. Apoio Logístico Integrado ou ALI, na tradução direta para a língua portuguesa da sentença ―Integrated logistics support‖, refere-se ao gerenciamento disciplinado e unificado em um só processo das disciplinas técnicas da Logística, em benefício do desenvolvimento de produtos e fornecimento de serviços (BRASIL, 2002r). Este entendimento tem origem nas considerações sobre o ―Integrated Logistics Support‖ , extraídas da obra de James V. Jones (JONES, 2006). Um dos propósitos do ALI é o de garantir a disponibilidade dos sistemas ou equipamentos, ou seja, a probabilidade de que eles estejam prontos para executar aquilo que se espera, quando necessário, através do correto dimensionamento financeiro e físico do apoio logístico. É uma atividade multidisciplinar que requer o envolvimento dos diferentes setores da MB, relacionados à operação e à manutenção do novo meio, para que, de uma forma integrada, sejam desenvolvidas as especificações técnicas associadas a este. Segundo a doutrina do ALI, algumas metas principais devem ser atingidas ao final do processo, dentre as quais a quantificação e qualificação dos recursos necessários ao apoio logístico e o estabelecimento da Estrutura do Sistema de Apoio ao novo meio antes do início de sua operação (BRASIL, 2002r). Visando atingir esta meta, a COGESN iniciou o ALI do SN-BR na mesma época do início do projeto do submarino nuclear brasileiro (BRASIL, 2009o), que foi anunciado oficialmente em julho de 2012, e cuja etapa de construção começará em 2016 e a sua conclusão em meados de 2022 (INÍCIO..., 2012). A realização desse processo (ALI) pela MB desde o início da concepção do SN-BR, e que envolve transferência de tecnologia, foi garantido dentro do Acordo Estratégico entre o Brasil e a França. O contrato entre ambas as partes estabelece que: A DCNS proverá à Marinha a Assistência Técnica necessária para a elaboração e conclusão do Processo de Projeto do SN-BR, [...] visando a completa elaboração do Projeto Preliminar do SN-BR, Projeto Básico, Projeto de Definição e Projeto de Construção, […] para a perfeita construção, testes, operação e manutenção do SN-BR […] (BRASIL, 2009o, grifo do autor) 26 Essa é a principal ação em curso da MB na área de apoio logístico, visando garantir, desde o início do projeto, a manutenção dos futuros SN-BR através do prévio delineamento e prontificação de toda a estrutura de apoio logístico de manutenção da Base Naval e Estaleiro de Manutenção em Itaguaí. Como o projeto do SN-BR está em sua fase inicial, o ALI está voltado, no momento, em trabalhar a concepção deste meio com ênfase no aspecto de manutenção, definindo os parâmetros iniciais que irão nortear a escolha dos sistemas e equipamentos que irão compor a plataforma (BRASIL, 2012o). Somente após a conclusão dessa etapa é que o ALI poderá avançar na definição do ferramental e demais itens que deverão existir na Base Naval e Estaleiro de Manutenção em Itaguaí em apoio ao submarino nuclear. 27 4 ASPECTO LOGÍSTICO DO ACORDO MILITAR BRASIL X FRANÇA 4.1 A escolha da França como parceiro para o desenvolvimento do submarino com propulsão nuclear Na década de 1980, o Brasil assinou um contrato com a Alemanha para a compra de quatro submarinos convencionais da classe IKL-209, tendo o primeiro destes (Submarino ―Tupi‖) sido construído na Alemanha (estaleiro HDW), e entregue à MB em 1989. Como previsto no mesmo contrato, vários técnicos e engenheiros brasileiros foram enviados à Alemanha para assimilarem o conhecimento sobre as técnicas de construção do submarino IKL - 209, visando realizar tal tarefa no AMRJ para os demais submarinos. Assim, no período de 1988 a 2000, operários, técnicos e engenheiros do AMRJ estiveram envolvidos na construção dos três primeiros submarinos construídos no Brasil (―Tamoio‖, ―Timbira‖ e ―Tapajó‖), levando o país a ingressar no rol do seleto grupo de países capazes de construir submarinos (BRASIL, 2004u). No entanto, para o projeto de construção do submarino nuclear autóctone (SN-BR), havia a necessidade de se dar um passo além: obter a capacidade de projetar um submarino (BRASIL, 2009e). Para tanto, e considerando que o Brasil não abre mão de ter os 2 tipos de submarinos (convencional e de propulsão nuclear), conforme estabelecido na END (BRASIL, 2008t, p. 21), havia a necessidade de se encontrar um país que tivesse a tecnologia para projetar e construir essas duas categorias de submarinos. Na atualidade apenas a Rússia e a França detém ambas as tecnologias e estão dispostas a vender submarinos convencionais (BRASIL, 2009k). A Alemanha possui tecnologia para a construção de submarino convencional e ofereceu assessoria para projetar e construir um submarino nuclear. No entanto, apesar do bem sucedido acordo para a construção no país dos submarinos IKL – 209, a falta de tradição na construção de submarinos nucleares foi o fator determinante para descartar essa proposta (BRASIL, 2009k). Pode-se citar, como exemplo, que os alemães não têm como transferir, porque não as possuem, as tecnologias sensíveis abaixo (BRASIL, 2009j): - sistema de controle do submarino nuclear em altas velocidades; 28 - sistemas de segurança e redundâncias necessárias para fazer frente a emergências e incidentes nucleares a bordo; - segurança do casco do submarino e também do reator em caso de colisão no mar; - controle da atmosfera a bordo do submarino nuclear; - propulsão a vapor embaixo d`água, utilizada pelos submarinos nucleares; - baixo nível de ruído irradiado para submarinos em altas velocidades; e - materiais como aço especial para construção de submarinos nucleares. No caso da Rússia, não havia garantias reais de que haveria transferência de tecnologia para construir e projetar submarinos convencionais e nucleares, como requerido pelo Brasil (BRASIL, 2009j). Com isto, restou a França como única parceira disposta a transferir tecnologia como pleiteado pela MB. Além do mais, a França possui um projeto de submarino convencional (classe ―Scorpène‖), derivado de uma classe de submarino de propulsão nuclear (classe ―Rubis‖), com formato hidrodinâmico adequado a manobras em altas velocidades. Esta característica oferece a vantagem de ser um casco muito próximo daqueles utilizados pelos submarinos nucleares, sendo considerado, portanto, a opção que oferece o menor risco para concretização do objetivo maior do Programa de Desenvolvimento de Submarinos da MB (PROSUB), que é o de projetar e construir no país o submarino brasileiro com propulsão nuclear (SN-BR) (BRASIL, 2009j). Por fim, o apoio logístico será bastante beneficiado devido a similaridade de ambas as classes de submarinos francesas, uma vez que boa parte dos sistemas e equipamentos utilizados no submarino convencional também é comum ao submarino com propulsão nuclear daquele país. Da mesma forma, isto será repetido no Brasil com a construção dos 4 submarinos convencionais derivados da classe ―Scorpène‖ (S-BR) e dos submarinos de propulsão nuclear brasileiros (SN-BR) (BRASIL, 2009j). 29 4.2 As deficiências da manutenção aos submarinos da classe IKL – 209 e o seu aprendizado para a MB Para se ter uma noção mais acurada sobre a logística de manutenção embutida no Acordo Militar do Brasil com a França, é necessário discorrer sobre as lições apreendidas na manutenção aos submarinos da classe IKL – 209. A manutenção dos equipamentos e sistemas de um submarino tem reflexos diretos na sua disponibilidade e, portanto, no grau de aprestamento material do meio 10 (BRASIL, 2012o). A indisponibilidade dessa plataforma inviabiliza o seu emprego operativo, limitando o seu intrínseco poder de dissuasão. Isto porque, para estar presente em qualquer lugar da vastidão de nossa Zona Econômica Exclusiva (ZEE), também conhecida como Amazônia Azul, é necessário que o submarino nuclear esteja em condições materiais de se fazer ao mar (BRASIL, 2009e). Nesse contexto, quanto menos tempo este meio ficar indisponível, devido à necessidade de manutenção (corretiva ou preventiva), maior a possibilidade do submarino, de fato, exercer o seu potencial de dissuasão. Os submarinos da classe ―Tupi‖ e ―Tikuna‖, atualmente em operação na MB, originalmente foram projetados para operarem durante 45 dias e, após isto, pararem regularmente para um período de manutenção (preventiva) de 30 dias11 (BRASIL, 2009j). A fim de aumentar a sua disponibilidade, os períodos de manutenção foram alterados, passando a operar por 60 dias e pararem regularmente por 30 dias para manutenção (BRASIL, 2004u). Apesar dessa alteração, essa disponibilidade ainda não tem sido a ideal, considerando a dimensão do nosso litoral a ser patrulhado e dos interesses nacionais sobre todo o Atlântico Sul (BRASIL, 2009e). Outra questão é que, passados mais de 20 anos de operação no país, o grau de nacionalização das peças que compõem os equipamentos e sistemas dos ILK - 209 é muito baixo, correspondendo a menos de 3% do total, conforme pode ser concluído na tabela abaixo, que contempla as respostas às perguntas feitas ao 10 O grau de aprestamento do material de um meio está relacionado à possibilidade do mesmo ser prontamente empregado em sua plenitude, de acordo com as especificações do fabricante. 11 O tempo que um submarino pode permanecer operando no mar é determinado, entre outros fatores, pelo intervalo entre manutenções obrigatórias. Cada projeto de submarino estabelece, como especificação de construção, o valor do ―tempo médio entre avarias‖, que varia de acordo com a durabilidade do material. 30 Encarregado do Núcleo de Catalogação de Material da Marinha, da Diretoria de Abastecimento da Marinha (DabM): PERGUNTA RESPOSTA Qual a quantidade de itens de sobressalentes 15.997 itens. que dota um submarino da classe ―Tupi‖? Quantos desses itens são obtidos no mercado 464 itens. nacional? Este é um dos fatores que dificultam a realização da manutenção desses meios, uma vez que a maioria esmagadora dos sobressalentes precisa ser importada, demandando um tempo maior para a chegada do material ao país. Essa situação é agravada ainda mais pelo fato de que o fabricante alemão do submarino IKL – 209 (empresa HDW) impede, por contrato, que as empresas fabricantes dos equipamentos e sistemas de bordo forneçam sobressalentes diretamente para a MB. Apenas uma empresa de serviços logísticos ligadas à HDW pode efetuar a venda dos sobressalentes que, por sua vez, majora os preços ao fazer a intermediação (BRASIL, 2009j). Deve-se acrescer a esse custo a necessidade do submarino parar regularmente, como citado anteriormente, por 30 dias para manutenção, após um relativo curto espaço de tempo de operação (2 meses). Outra grande dificuldade para a manutenção dos sistemas do submarino IKL – 209 é que não foi transferida essa tecnologia, obrigando a MB a ficar dependente de assistência técnica de empresas alemãs para algumas manutenções preventivas e corretivas. Além disso, os próprios manuais são incompletos, impedindo, muitas vezes, a realização da manutenção por contra própria. Quando isto é feito, corre-se o risco de perder a garantia do fabricante (BRASIL, 2009j). A fim de ilustrar melhor a questão, este autor cita algumas dificuldades logísticas enfrentadas por ele quando comandando um submarino da classe IKL – 209 (submarino Tapajó). 31 O submarino Tapajó estava passando por um Período de Manutenção Geral (PMG), cuja duração total prevista era de 18 meses aproximadamente. Neste tipo de manutenção, em que vários sistemas são desmontados, a demanda por sobressalentes é muito alta e, por mais que se planeje tal necessidade, sempre há algum material extra que precisa ser providenciado. Isto porque a complexidade da manutenção de 2o ao 4o escalão do inventário de bordo, as vezes, exigem sobressalentes cuja substituição somente pode ser confirmada após a desmontagem total dos equipamentos. Não foi diferente naquela ocasião, sendo que alguns sobressalentes extras precisaram ser importados. Os procedimentos burocráticos necessários para a aquisição (de alto custo) desse material do exterior, além da demora para a chegada ao Brasil, redundaram em um atraso de pouco menos de 6 meses para a conclusão da montagem dos sistemas. Além disso, após a conclusão dessa etapa, havia a necessidade de superar outra barreira para permitir que o submarino pudesse voltar a operar no mar: a reativação de alguns sistemas eletrônicos vitais, como o sonar. A Marinha do Brasil e o país não possuem técnicos ou empresa capacitadas a ativar o sistema sonar existente a bordo dos submarinos IKL – 209, o que leva à necessidade de se contratar o fabricante alemão ―Atlas Elektronik Krupp‖, ao custo médio de 330 mil euros para a realização dos testes de reativação do equipamento em questão. Isso redundou em mais atraso na conclusão dos reparos (PMG), em função da necessidade da MB de se sujeitar à disponibilidade de agenda da empresa alemã no envio de uma equipe para a realização dos serviços. Assim, as questões relacionadas à dependência do exterior, dentre outros fatores, levaram a um atraso superior a 8 meses na conclusão do PMG do submarino. Os problemas acima expostos são exemplos práticos de como as dificuldades na realização do apoio logístico de manutenção podem influir diretamente na disponibilidade do submarino, impendindo que o mesmo possa exercer plenamente o seu intrínseco poder de dissuasão. Isto porque é lógico se supor que uma plataforma naval como o submarino, impedida de se fazer ao mar por problemas de ordem material, não tenha condições de ameaçar meios navais 32 oponentes que adentrem a nossa ZEE. Nesse caso, o seu poder de dissuasão é mínimo. Não basta ter em mãos um meio tecnologicamente avançado. Não basta também ter a tecnologia para construir um submarino, assim como não basta ter uma tripulação preparada para operá-lo. Para se ter, de fato, a dissuasão que se espera de um meio como o submarino, é necessário ter a plena capacidade de realizar a sua manutenção da melhor maneira e no menor espaço de tempo possível, a fim de ter essa plataforma pronta para se fazer ao mar quando necessário. 4.3 O apoio logístico de manutenção previsto no Acordo Estratégico com a França e no PNM para o submarino nuclear A MB reconhece a importância da manutenção, ao elevá-la a uma função logística estratégica, considerando que a mesma afeta diretamente o desempenho das forças (BRASIL, 2003q, c. 4, p. 5). Pensando nestes termos, o Acordo Militar Estratégico Brasil x França contemplou aspectos mais vantajosos na área logística de manutenção dos futuros submarinos convencionais (S-BR) e nucleares (SN-BR) do que os submarinos alemães da classe IKL – 209. O acordo prevê que os intervalos de manutenção dos submarinos (convencional e nuclear) serão em torno de 90 dias (BRASIL, 2009j) (maiores que os IKL – 209) reduzindo o seu custo, além de permitir ao SN-BR cobrir, com maior amplitude a nossa ZEE por meio de viagens de maior duração (BRASIL, 2009e). Há ainda os seguintes aspectos (BRASIL, 2009k): - transferência de tecnologia de construção e de manutenção de vários sistemas de bordo (sistema de combate, sistema de controle da plataforma, etc) por empresas nacionais. Para tanto, mais de 200 empresas brasileiras estão participando do processo de seleção a cargo da DCNS, sendo que, até o momento, mais de 30 já foram certificadas; - nacionalização inicial de 20% do material utilizado nos submarinos, correspondendo a 36.000 itens, que representam 45% do custo total, e que serão produzidos no Brasil pelas empresas certificadas pela DCNS; 33 - construção de um estaleiro dedicado à construção e manutenção de submarinos nucleares, atendendo todos os requisitos ambientais e tecnológicos relativos à parte nuclear. Isso inclui a capacidade de armazenar material radioativo por mais de 20 anos, além da capacidade de substituição intempestiva de elementos radioativos do reator do submarino, caso necessário; - construção de uma Base Naval para apoiar até 10 submarinos convencionais e nucleares simultaneamente. Digno de nota é que, além de não possuir os requisitos ambientais e tecnológicos para apoiar um submarino nuclear, a BACS não tem profundidade suficiente junto ao cais para receber o futuro SN-BR, cujo projeto prevê um porte de 5.500 toneladas e 9,5 metros de calado; - construção de uma oficina completa, com toda a tecnologia necessária para a realização da manutenção dos periscópios; - absorção de toda a tecnologia necessária para o desenvolvimento e manutenção de sistemas como sonares, direção de tiro, radar, equipamentos de guerra eletrônica, etc; e - fornecimento de um pacote básico de sobressalentes, ferramentas especiais, itens de manutenção e apoio técnico para assegurar o correto funcionamento dos submarinos. Na parte contratual sobre transferência de tecnologia, está previsto que a empresa francesa ―Direction des Constructions Navales Services‖ (DCNS) transferirá o ―know how‖ sobre Apoio Logístico Integrado (ALI) sob a concepção francesa, de forma a especificar e dimensionar, desde o início do projeto, o apoio logístico de manutenção do submarino nuclear (BRASIL, 2009k). O ALI francês se preocupa com duas áreas: a manutenção que será realizada para os equipamentos e sistemas do submarino, e o apoio logístico que será prestado para a realização dessa manutenção pela Base Naval e Estaleiro de Manutenção (BRASIL, 2012o). Para a absorção dessa tecnologia, um grupo de engenheiros da MB foi enviado à França em dois grupos. Um grupo está dedicado ao chamado ―Design for Support‖, com o objetivo de trabalhar na concepção do projeto do submarino nuclear, com a ótica voltada para a manutenção desse meio, visando à máxima disponibilidade com o menor custo. O segundo grupo está dedicado ao chamado ―Support Engineering‖, com o objetivo de planejar a infraestrutura de apoio logístico 34 de manutenção ao submarino nuclear, mais especificamente a Base Naval, Estaleiro de Construção e Estaleiro de Manutenção (BRASIL, 2009o). Cabe destacar aqui, mais uma vez, que ambos os grupos realizam um trabalho em cima do ALI objetivando (BRASIL, 2009o): - projetar o meio levando em consideração a sua manutenção; - definir um sistema de apoio capaz de atender o projeto do SN-BR; e - organizar a estrutura de apoio, preparar, gerenciar e executar a manutenção do meio. É lógico supor que é desejável que o apoio logístico de manutenção a um meio tão complexo e estratégico para o país deva ser realizado utilizando componentes e peças encontrados no Brasil. No entanto, a logística naval, que é apoiada pela logística nacional12 (e que por sua vez depende da economia nacional), não encontra no mercado nacional tudo o que é necessário para manter plenamente o futuro SN-BR. As razões vão desde a falta de tecnologia para a construção de determinados sistemas, a inviabilidade econômica para a produção de uma quantidade reduzida de sobressalentes (BRASIL, 2009f). Exemplo disso é o aço que será utilizado para a construção do casco resistente do SN-BR. O setor siderúrgico nacional possui tecnologia para fabricar o HTL-80 (aço resistente especial), porém é inviável montar uma linha de produção para atender exclusivamente à MB, com uma demanda relativamente pequena, razão pela qual esse material será encomendado à indústria francesa. As turbinas para o SN-BR, também poderiam ser produzidas no Brasil por meio de licença, mas, devido à pequena demanda, serão fabricadas na França. Na mesma situação encontram-se os periscópios, cuja fabricação é mais viável economicamente fora do país (BRASIL, 2009f). Nesse sentido, é adequado a logística naval buscar complementar o apoio logístico de manutenção ao futuro SN-BR por meio do apoio logístico de outros países como, nesse caso, a França que se comprometeu por meio do Acordo de Cooperação Estratégico assinado com o Brasil (BRASIL, 2009f). No referido Acordo ficou estabelecido que ―todos componentes, itens e sistemas que pudessem ser produzidos no Brasil, a custo equivalente ou inferior ao 12 A logística nacional estuda os problemas logísticos impostos pela política nacional. Depende da economia nacional, levando em conta os recursos nacionais, potencial nacional e apoio de países amigos ou aliados. (BRASIL, 2003q, capítulo 1, p. 4). 35 da França, seriam fabricados aqui‖ (BRASIL, 2009f). Independente disto, está garantido o fornecimento de todo o material para a construção dos submarinos no país. Fora do Acordo, no entanto, ficou o projeto e construção de todo o sistema de propulsão nuclear, incluindo o sistema de controle, que está totalmente a cargo da MB, mais especificamente pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) (BRASIL, 2009f). Também ficou de fora do Acordo o projeto e construção da chamada ―ilha nuclear‖, que será realizada pela MB, a ser instalada dentro do estaleiro de manutenção para apoiar a manutenção da planta nuclear do SN-BR, que por sua vez está inserida no Programa Nuclear da Marinha (PNM) (BRASIL, 2009f). É o CTMSP que está conduzindo o PNM, cujo objetivo principal é o de desenvolver capacidade autóctone de projetar, construir, comissionar, operar e manter reatores do tipo água pressurizada (PWR) (em andamento), que serão usados nos SN-BR, além de produzir o combustível nuclear (já concluído) (BRASIL, 2009m). Em relação ao combustível nuclear, a MB desenvolveu, com tecnologia totalmente nacional, ultracentrifugas capazes de enriquecer o urânio no nível necessário para ser utilizado nos reatores nucleares de submarinos. A MB está negociando com a ―Indústrias Nucleares do Brasil‖ (INB) a construção da primeira usina brasileira de enriquecimento de urânio em escala industrial, que utilizará a tecnologia das ultracentrífugas (BRASIL, 2009m). Para atingir o objetivo principal do PNM, a MB está concluindo a construção do Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (LABGENE) em São Paulo, com previsão de término em 2014. No LABGENE será testado o protótipo da planta de propulsão do futuro submarino nuclear (BRASIL, 2009m). Em termos de apoio logístico o LABGENE será a base para elaboração da sistemática de manutenção da propulsão nuclear. Por outro lado, a manutenção da propulsão nuclear será beneficiada pelo fato de estar sendo totalmente desenvolvida no Brasil. Isto levará a indústria nacional a ter uma participação bem maior na parte nuclear do que os 20% previstos para o restante dos equipamentos do submarino nuclear brasileiro. 36 5 A BASE E ESTALEIRO DE CONSTRUÇÃO E DE MANUTENÇÃO DE SUBMARINOS EM ITAGUAÍ Nas seções 3 e 4 foram descritos as atividades logísticas de manutenção em planejamento para apoiar o futuro SN-BR. Essas atividades serão, em sua maioria, desenvolvidas na Base Naval e nos estaleiros de construção e de manutenção em Itaguaí. Esse complexo, cuja construção está em pleno andamento, está previsto no Acordo de Cooperação Estratégico assinado entre Brasil e França, em 23 de dezembro de 2008 (BRASIL, 2009f). Para tanto, foi criado uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), na qual a empresa brasileira Norberto Odebrecht detém 59% das ações, enquanto a empresa francesa DCNS é proprietária dos outros 41% das ações. A MB possui uma ação denominada ―Golden Share‖, que lhe garante voto e poder de veto. Nesses moldes a MB irá fiscalizar a operação do Estaleiro de Construção e de Manutenção pela SPE, que é a responsável pela fabricação, construção, entrega e manutenção do submarino de propulsão nuclear. Toda a estrutura a ser construída, bem como o terreno onde a mesma será assentada, pertencerá à MB (BRASIL, 2009c). A razão principal pela qual a MB decidiu construir um novo estaleiro foi o fato de que o AMRJ, apesar de possuir uma boa infraestrutura montada, e que foi utilizada para a construção dos submarinos da classe IKL - 209, não atende às condições necessárias para a construção de submarinos nucleares, principalmente requisitos ambientais e de controle de qualidade exigidos pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) e pelo Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN), respectivamente (BRASIL, 2009k). Na realidade, atualmente, não há estaleiros no Brasil que atendam todos os requisitos para a construção e manutenção de submarinos com propulsão nuclear. Esse tipo de estaleiro deve, por exemplo, dispor de instalações para armazenagem de material radioativo por longo período (20 anos), além da necessidade de estar pronto para substituir elementos radioativos, de forma intempestiva, do núcleo do reator dos submarinos com propulsão nuclear (BRASIL, 2009k). Visando atender esses requisitos, a MB optou por escolher uma área localizada na região de Itaguaí – RJ, mais especificamente próximo à ilha da Madeira, que também proporciona as seguintes vantagens (BRASIL, 2009g): 37 - proximidade da empresa ―Nuclebrás Equipamentos Pesados‖ (NUCLEP) que, desde o projeto de construção dos submarinos IKL - 209, confecciona os cascos resistentes. Essa mesma empresa deverá fabricar o casco do futuro SN-BR; - proximidade do parque industrial brasileiro, localizado entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, facilitado ainda pela proximidade da rodovia que liga ambas as cidades. Isto permitirá o apoio da base industrial para a realização de manutenções de 4o escalão dos sistemas e equipamentos do futuro SN-BR, quando necessário; - proximidade de um canal de acesso marítimo, com profundidade que permite o trânsito de submarinos; - disponibilidade de vias de acesso, infraestrutura e de mão-de-obra especializada; - população local de baixa densidade demográfica e características geográficas adequadas ao empreendimento; - proximidade da Base Aérea de Santa Cruz, que pode prover proteção aérea ao complexo naval; e - proximidade das usinas nucleares de Angra dos Reis, que já possuem planos de emergências nucleares, necessários à evacuação dos residentes em caso de acidente nuclear. Há que se destacar que um complexo naval como esse, na qual haverá cerca de 1.500 militares trabalhando, vai requerer um elevado nível de segurança, uma vez que irá apoiar o SN-BR, arma estratégica para o país, de alto grau complexidade e de alto custo. A escolha de uma área adjacente ao Porto de Itaguaí, como sede da Base Naval e dos Estaleiros de Construção e de Manutenção dos SN-BR, servirá a esse propósito, uma vez que o acesso ao complexo em questão se dará, exclusivamente, por meio de um túnel que ligará a parte norte da Base Naval à parte sul da Base Naval (BRASIL, 2009g). Com isso, a segurança do complexo naval será bastante facilitada através do controle de entrada e saída dessa única rota terrestre, complementada pelo controle do restante do perímetro do terreno, conforme pode-se ver abaixo: 38 Fonte: MINISTRO..., 2012. O complexo naval em construção em Itaguaí poderá prover apoio a até 10 submarinos, além de ser capaz de construir, simultaneamente, 2 submarinos. Para isto está sendo planejado toda a infraestrutura necessária para prover segurança às atividades envolvendo meios com propulsão nuclear. O apoio logístico de manutenção ao SN-BR será concentrado no Estaleiro de Manutenção, local este onde estarão as oficinas, diques, pessoal especializado e os equipamentos necessários a atividade de manutenção até o 3º escalão (BRASIL, 2009g). A Base Naval concentrará oficinas de manutenção de periscópios, além das demais atividades de apoio ao submarino não ligadas à manutenção, como segurança, alojamentos, rancho, etc. 39 6 CONCLUSÃO Nas seções anteriores deste trabalho procurou-se destacar a importância do apoio logístico da função manutenção como ferramenta de apoio para que o futuro submarino de propulsão nuclear possa exercer plenamente a dissuasão que se espera do mesmo. A experiência amealhada com a construção dos submarinos da classe IKL209, bem como sua operação e manutenção durante os últimos vinte e cinco anos, certamente ajudaram na negociação, em termos mais vantajosos para a MB, principalmente na parte de apoio logístico, do Acordo de Cooperação Estratégico com a França visando a construção dos S-BR e SN-BR. O SN-BR, arma com alto poder de dissuasão, eleito como a base da defesa da Amazônia Azul pela Estratégia Nacional de Defesa, não deve ficar indisponível por conta de manutenções constantes, como a que atualmente ocorre com os submarinos IKL-209, cujo período de disponibilidade operativa (60 dias), precisa ser interrompido para manutenções regulares de 30 dias. Também não é aceitável que fique indisponível em funções de atrasos no recebimento de sobressalentes provenientes do exterior ou devido a necessidade de apoio especializado estrangeiro para manutenções corretivas. O SN-BR não será uma plataforma estática. Pelo contrário, é um meio com uma mobilidade muito maior que os submarinos convencionais, necessitando, portanto, que a logística naval possa apoiá-lo em qualquer área em que este meio vá ser empregado, principalmente dentro da Zona Econômica Exclusiva brasileira (Amazônia azul), com cerca de 4,5 milhões de KM2. Assim, há alguns pontos do apoio logístico de manutenção ao SN-BR, em fase de planejamento, que devem ser objetos de análise da MB, a despeito da relativa vantagem do Acordo de Cooperação Estratégico assinado entre o Brasil e a França em relação à manutenção dos submarinos alemães da classe IKL-209. Assim, destaca-se que cerca de 80% de sobressalentes não serão fabricados no Brasil, bem como haverá apenas um único estaleiro no país capaz de apoiar logisticamente a planta nuclear do SN-BR e realizar a sua docagem (Estaleiro de Manutenção em Itaguaí). 40 Sugere-se, portanto, que a MB avalie as seguintes questões que poderiam minimizar fragilidades relativas à futura logística de manutenção do submarino de propulsão nuclear brasileiro (SN-BR): a) Intervalos entre os períodos de manutenção Considerando a vastidão da imensa Amazônia Azul a ser patrulhada e do grande poder de dissuasão que o SN-BR pode irradiar, é desejável que o intervalo entre os períodos de manutenção sejam maiores que os dos submarinos IKL-209. Atualmente a MB planeja intervalos de 90 dias de operação intercalados por períodos de manutenção de 30 dias para o SN-BR. O grupo de ALI, chamado ―Design for Support‖, que trabalha na concepção do projeto do submarino nuclear, com a ótica voltada para a manutenção desse meio, visando a máxima disponibilidade com o menor custo, deve avaliar a possibilidade de, com segurança, permitir uma flexibilidade para maior no intervalo de 90 dias de operação. Isso aumentará a disponibilidade do SN-BR nas áreas de interesse do país no atlântico sul, dando maior credibilidade ao seu poder de dissuasão, uma vez que, em tese, possibilitará períodos maiores de patrulha no mar em locais mais distantes de sua base de apoio em Itaguaí; b) Peças e sobressalentes do SN-BR Embora haja um avanço na nacionalização de sobressalentes em relação aos submarinos da classe IKL-209, o país irá produzir inicialmente apenas 20% do material que irá compor o SN-BR. Considerando que os reparos dos submarinos da classe IKL-209 sofreram atrasos, dentre outras razões, em virtude da demora na obtenção de sobressalentes do exterior, a MB deve procurar incentivar um maior grau de nacionalização, principalmente do material considerado vital para a disponibilidade do SN-BR. Considerando também o vultoso investimento que está sendo aplicado no PROSUB, é altamente indesejável que uma plataforma como o SN-BR fique indisponível devido à falta de sobressalentes provenientes do exterior para a conclusão da manutenção desse meio. Caso isso venha a ocorrer, poderá evidenciar que o poder de dissuasão do SN-BR é relativo, uma vez que dependerá de apoio do exterior. 41 Mostrará também que, embora tenhamos a capacidade de construir e operar um submarino com propulsão nuclear, não conseguimos atingir o princípio da ―Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear‖, estabelecido pela Estratégia Nacional de Defesa - END (BRASIL, 2008t, p. 9); e c) Estaleiro de Manutenção Como a própria MB admite, o Estaleiro de Construção e Estaleiro de Manutenção em Itaguaí estão sendo construídos porque o AMRJ e qualquer outro estaleiro no país não atendem as condições necessárias para a construção e manutenção de submarinos nucleares, principalmente requisitos ambientais e de controle de qualidade, exigidos pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) e pelo Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN) (BRASIL, 2009k). Considerando que o SN-BR não é uma plataforma estática, e por isso mesmo deve operar com frequência afastado de sua base, é lógico afirmar que há a possibilidade, em algum momento, desse meio vir a necessitar de manutenção corretiva urgente de forma inopinada. Portanto, a MB deve estudar opções para que a logística naval possa apoiar prontamente o SN-BR nessa situação, onde quer que ele esteja. Uma das opções é que uma ou mais das Bases Navais atualmente existentes possam sofrer adaptações, visando atender os requisitos exigidos pelo IBAMA e CNEN, para que possam apoiar minimamente o SN-BR, inclusive realizando docagens, caso necessário. Outra opção, em que pese a complexidade, é a possibilidade de se ter um Navio de Apoio, aos moldes do Navio Tender ―Ceará‖, no início do século XX, que também possa prover algum apoio logístico móvel de manutenção. Pode-se também pensar no envio de equipe técnica para prover o apoio emergencial ao SN-BR. Atualmente, quando acionados, o AMRJ ou CMS enviam, quando necessário, equipes especializadas para realizarem as manutenções corretivas emergenciais aos submarinos IKL – 209, fora de sua sede, e até mesmo no exterior. Sendo o SN-BR um meio mais complexo devido à propulsão nuclear, a equipe técnica, que deverá ser oriunda do Estaleiro de Manutenção em Itaguaí, deverá estar preparada e em condições de ser acionada rapidamente, visando 42 atender logisticamente esta plataforma, realizando os reparos necessários onde quer que este meio esteja. As propostas acima de forma alguma esgotam as atividades de apoio logístico de manutenção que a MB deverá prover ao futuro SN-BR. A gama de atividades logísticas são grandes, muito dinâmicas e de custo elevado. No entanto esse é o preço a pagar para que a MB possa realmente ter um meio com grande poder de dissuasão como o SN-BR. Não basta ter a capacidade de projetar, construir e operar um submarino de propulsão nuclear. Se quisermos extrair do futuro SN-BR todas as suas potencialidades e, consequentemente, todo o seu poder dissuasório intrínseco, a logística nacional e, mais específicamente, a logística naval, tem que ter a capacidade de apoiar este meio onde quer que ele esteja. Somente deste modo a MB poderá atingir plenamente a diretriz prevista na END de independência tecnológica na área nuclear e contribuir para um de seus principais objetivos: o da dissuasão. Evitará, também, que o SN-BR sofra o mesmo o que ocorreu com a chamada ―Esquadra Branca‖, no início do século XX, quando a MB se viu impossibilitada de apoiar logísticamente meios tecnológicamente revolucionários para a época. O resultado disso foi a drástica redução do poder de dissuasão daqueles meios, devido a impossibilidade de poderem operar em sua plenitude. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Base Almirante Castro e Silva. Industrial. Niterói, [20__?]a. Disponível em <https://www.mar.mil.br/bacs/industrial.htm>. Acesso em: 06 maio 2013. BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Centro de Comunicação Social da Marinha. Marinha inicia projeto do submarino de propulsão nuclear brasileiro. NOMAR, Brasília, DF, n. 843, Jul 2012b. BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Centro de Comunicação Social da Marinha. Submarino de propulsão nuclear. Brasília, DF, Jan 2009c. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/hotsites/sala_imprensa/arquivos_PDF/respostas_a_imprensa/ carta_spnjan1.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2013. ______. ______. Brasília, DF, Mar. 2009d. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/hotsites/sala_imprensa/arquivos_PDF/respostas_a_imprensa/ carta_spn7.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2013. ______. ______. Brasília, DF, Abr. 2009e. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/hotsites/sala_imprensa/arquivos_PDF/respostas_a_imprensa/ carta_spn6.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2013. ______. ______. Brasília, DF, Abr. 2009f. 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APÊNDICE A QUESTIONÁRIO ENVIADO À BACS NO PERGUNTA 1 QUAL É A MISSÃO DA BACS? 2 QUAIS SÃO AS FACILIDADES OFERECIDAS PELA BACS AOS SUBMARINOS? 3 EM LINHAS GERAIS QUAL É O APOIO OFERECIDO PELA BACS PARA O CUMPRIMENTO DAS ROTINAS DE MANUTENÇÃO DOS SUBMARINOS? 4 EM LINHAS GERAIS QUAIS SÃO AS ROTINAS DE MANUTENÇÃO DOS SUBMARINOS A CARGO DA BACS? 5 QUAL A LOTAÇÃO E O EFETIVO DA BACS? 6 QUAIS SÃO AS OFICINAS QUE A BACS POSSUI? 7 QUAIS SÃO OS SERVIÇOS QUE A BACS ESTÁ CAPACITADA A REALIZAR? 8 QUAL O TAMANHO DO CAIS DA BACS? QUANTOS SUBMARINOS PODEM ATRACAR NO CAIS? 9 QUAL O CALADO MÁXIMO DO SUBMARINO/NAVIO QUE PODE ATRACAR NO CAIS DA BACS? 10 UM SUBMARINO NUCLEAR PODERIA ATRACAR NO CAIS DA BACS? CASO NEGATIVO, POR QUÊ? 11 CASO HAJA NECESSIDADE A BACS ESTÁ EM CONDIÇÕES DE OFERECER ALGUM APOIO LOGÍSTICO A UM SUBMARINO AFASTADO DO SEU PORTO SEDE? HÁ ALGUMA EQUIPE DE APOIO LOGÍSTICO MÓVEL QUE PODE SER ACIONADA E DESLOCADA EM CASO DE NECESSIDADE? HÁ ALGUM PLANEJAMENTO NESSE SENTIDO? APÊNDICE B QUESTIONÁRIO ENVIADO AO AMRJ NO 1 2 PERGUNTA QUAL É A MISSÃO DO AMRJ? EM LINHAS GERAIS QUAL É O APOIO OFERECIDO ATUALMENTE PELO AMRJ PARA O CUMPRIMENTO DAS ROTINAS DE MANUTENÇÃO DOS SUBMARINOS CLASSE TUPI/TIKUNA? 3 EM LINHAS GERAIS QUAIS SÃO AS ROTINAS DE MANUTENÇÃO DOS SUBMARINOS CLASSE TUPI/TIKUNA A CARGO DO AMRJ? 4 QUAIS SÃO AS OFICINAS MANUTENÇÃO QUE O AMRJ POSSUI? 5 DE REPARO / QUAIS SÃO OS SERVIÇOS QUE O AMRJ ESTÁ CAPACITADO A REALIZAR EM APOIO AOS SUBMARINOS CLASSE TUPI/TIKUNA? 6 CASO HAJA NECESSIDADE O AMRJ ESTÁ EM CONDIÇÕES DE OFERECER ALGUM APOIO LOGÍSTICO A UM SUBMARINO CONVENCIONAL AFASTADO DO SEU PORTO SEDE? HÁ ALGUMA EQUIPE DE APOIO LOGÍSTICO MÓVEL QUE PODE SER ACIONADA E DESLOCADA EM CASO DE NECESSIDADE? HÁ ALGUM PLANEJAMENTO NESSE SENTIDO? 7 CASO HAJA NECESSIDADE, O AMRJ TERIA CONDIÇÕES DE APOIAR LOGÍSTICAMENTE O FUTURO SUBMARINO COM PROPULSÃO NUCLEAR BRASILEIRO EM ALGUM TIPO DE MANUTENÇÃO? CASO AFIRMATIVO, EM QUE LOCAL PODERIA SER REALIZADO ESSE APOIO (ITAGUAÍ OU RIO DE JANEIRO)? 8 A MARINHA DO BRASIL ESTÁ CONSTRUINDO UMA BASE E ESTALEIRO EM ITAGUAÍ EM APOIO AO FUTURO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO. CONSIDERANDO QUE ESTE SUBMARINO FICARÁ SEDIADO NAQUELA REGIÃO, COMO O AMRJ VISLUMBRA QUE PODERÁ APOIAR LOGISTICAMENTE NA MANUTENÇÃO DAQUELE MEIO EM ITAGUAÍ? 9 O AMRJ ESTÁ PARTICIPANDO DA DEFINIÇÃO DOS SISTEMAS/EQUIPAMENTOS QUE SERÃO UTILIZADOS NO FUTURO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO VISANDO ANTEVER O TIPO DE APOIO LOGÍSTICO QUE PODERÁ SER OFERECIDO PELO AMRJ A ESTE MEIO? 10 CASO HAJA NECESSIDADE, O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR PODERÁ ATRACAR NO CAIS DO AMRJ? CASO NEGATIVO, POR QUE. 11 CASO HAJA NECESSIDADE, O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PODERIA FICAR DOCADO NO AMRJ? CASO NEGATIVO, POR QUE. APÊNDICE C QUESTIONÁRIO ENVIADO AO CMS NO 1 2 PERGUNTA QUAL É A MISSÃO DO CMS? EM LINHAS GERAIS QUAL É O APOIO OFERECIDO ATUALMENTE PELO CMS PARA O CUMPRIMENTO DAS ROTINAS DE MANUTENÇÃO DOS SUBMARINOS CLASSE TUPI/TIKUNA? 3 EM LINHAS GERAIS QUAIS SÃO AS ROTINAS DE MANUTENÇÃO DOS SUBMARINOS CLASSE TUPI/TIKUNA A CARGO DO CMS? 4 QUAIS SÃO AS OFICINAS MANUTENÇÃO QUE O CMS POSSUI? 5 DE REPARO / QUAIS SÃO OS SERVIÇOS QUE O CMS ESTÁ CAPACITADO A REALIZAR EM APOIO AOS SUBMARINOS CLASSE TUPI/TIKUNA? 6 CASO HAJA NECESSIDADE O CMS ESTÁ EM CONDIÇÕES DE OFERECER ALGUM APOIO LOGÍSTICO A UM SUBMARINO CONVENCIONAL AFASTADO DO SEU PORTO SEDE? HÁ ALGUMA EQUIPE DE APOIO LOGÍSTICO MÓVEL QUE PODE SER ACIONADA E DESLOCADA EM CASO DE NECESSIDADE? HÁ ALGUM PLANEJAMENTO NESSE SENTIDO? 7 HAVENDO NECESSIDADE, O PESSOAL DO CMS PODERIA APOIAR LOGISTICAMENTE UM SUBMARINO COM PROPULSÃO NUCLEAR (EX: TUBOS DE TORPEDO, SONARES, ETC)? 8 A MARINHA DO BRASIL ESTÁ CONSTRUINDO UMA BASE E ESTALEIRO EM ITAGUAÍ EM APOIO AO FUTURO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO. CONSIDERANDO QUE ESTE SUBMARINO FICARÁ SEDIADO NAQUELA REGIÃO, COMO O CMS VISLUMBRA QUE PODERÁ APOIAR LOGISTICAMENTE NA MANUTENÇÃO DAQUELE MEIO EM ITAGUAÍ? 9 O CMS ESTÁ PARTICIPANDO DA DEFINIÇÃO DOS SISTEMAS/EQUIPAMENTOS QUE SERÃO UTILIZADOS NO FUTURO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO VISANDO ANTEVER O TIPO DE APOIO LOGÍSTICO QUE PODERÁ SER OFERECIDO PELO AMRJ A ESTE MEIO? 10 O CMS VISLUMBRA A NECESSIDADE DE CRIAR FISICAMENTE NO COMPLEXO NAVAL DE ITAGUAÍ UM DEPARTAMENTO EXCLUSIVAMENTE PARA APOIAR OS SUBMARINOS CONVENCIONAIS/NUCLEARES QUE FICARÃO SEDIADOS NAQUELA REGIÃO? APÊNDICE D QUESTIONÁRIO ENVIADO AO NCMM NO 1 PERGUNTA QUAL A QUANTIDADE DE ITENS DE SOBRESSALENTES QUE DOTA UM SUBMARINO DA CLASSE ―TUPI‖? 2 QUANTOS DESSES MERCADO NACIONAL? ITENS SÃO OBTIDOS NO