ANÁLISE DA VARIABILIDADE DE FREQÜÊNCIA CARDÍACA EM FUTEBOLISTAS
SUBMETIDOS AO TESTE DE WINGATE......................................................................... 965
ANÁLISE DA VARIABILIDADE DE FREQÜÊNCIA CARDÍACA EM
FUTEBOLISTAS SUBMETIDOS AO TESTE DE WINGATE
Fábio do Nascimento Bastos, Rosangela Akemi Hoshi, Mariana de Oliveira Góis, Luiz
Carlos Marques Vanderlei, Carlos Marcelo Pastre.
Faculdade de Ciências
[email protected]
e
Tecnologia/
UNESP
–
Presidente
Prudente/SP
-
Brasil.
e-mail:
Palavras-chave: freqüência cardíaca; futebol; performance atlética.
INTRODUÇÃO
Atualmente, em avaliação funcional para atletas, vários testes são empregados para a
determinação da potência e capacidade anaeróbia. As principais limitações dos testes são
diferenciar claramente a potência da capacidade anaeróbica, a fronteira entre metabolismo
alático e lático, e estabelecer testes específicos para cada esporte.
Especialmente no futebol, estas avaliações são de grande valia em função da
especificidade do esporte; caracterizado por apresentar movimentos rápidos e explosivos
como mudanças de direção, aceleração, chutes, tiros e dribles.
Apesar das controvérsias, o Teste de Wingate (TW) tem sido amplamente utilizado em
função da simplicidade metodológica e fácil acesso ao material empregado para realização do
teste (DENADAI et al., 1997; OKANO et al., 2001). Este é realizado num cicloergômetro
com carga individualizada de acordo com a massa corporal do avaliado. Possui duração de 30
segundos, durante a qual o indivíduo pedala o maior número de vezes contra uma resistência
fixa, com o objetivo de gerar maior potência possível. Neste teste são possíveis as avaliações
da potência média (durante os 30 segundos), potência pico (gerada nos primeiros 5 segundos)
e índice de fadiga (queda de desempenho durante o teste) (FRANCHINI, 2002).
Por ser um teste de esforço submáximo, o teste de wingate induz alterações
importantes na homeostase do indivíduo. O aumento da atividade metabólica reflete em
alterações do sistema cardiovascular, determinadas pela ativação e inibição do sistema
nervoso autônomo (SNA) simpático e parassimpático respectivamente.
Por meio da análise da atividade do SNA, usando índices de Variabilidade de
Freqüência Cardíaca (VFC), é possível mensurar a resposta do sistema cardiovascular frente a
atividades onde há necessidade metabólica aumentada.
Três componentes são encontrados no espectro da VFC: SD1 correspondendo ao
predomínio parassimpático; SD2 ao equilíbrio simpato-vagal; e SD1/SD2 podendo ser um
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indicativo de predominância do SNA simpático (BRUNETTO et al., 2005; PERINI E
VEICSTEINAS, 2003).
Ressalta-se que durante o exercício, há aumento da atividade simpática e diminuição
da atividade vagal, permitindo aumento da freqüência cardíaca, volume e contratilidade do
miocárdio para satisfazer a demanda energética dos músculos ativos (JAVORKA et al., 2002).
Quando cessa o exercício, a perda do comando central, reflexo dos baroceptores e
outros mecanismos contribuem com o aumento da atividade parassimpática; isto resulta em
diminuição da FC, mesmo com a manutenção da atividade simpática. Após este período, a
inibição simpática também é observada. Este período é chamado de período de recuperação, e
está estreitamente relacionado ao aumento atividade vagal (JAVORKA et al., 2002).
Considerando os períodos pré e pós-esforço, pretende-se neste estudo comparar a VFC
em repouso e recuperação, em futebolistas profissionais submetidos ao Teste de Wingate.
OBJETIVO
O objetivo do presente estudo é verificar a recuperação do sistema autonômico após
exercício de alta intensidade.
METODOLOGIA
Neste estudo participaram 14 atletas, jogadores profissionais de futebol da equipe
Oeste Paulista Esporte Clube de Presidente Prudente, com média de idade de 21±1,96 anos,
com 8,93±3,56 anos de prática desportiva, e IMC=22,97±1,54.
Antes da realização do teste cada indivíduo foi submetido a um aquecimento de cinco
minutos sendo que no segundo e no quarto minuto houve um sprint de cinco segundos.
Para o TW foi utilizado como carga 8,3% do peso corporal. Cada sujeito foi orientado
a realizar um esforço máximo durante os 30 segundos do teste, sem poupar o início do teste
(primeiros 5 segundos, caracterizado pela potência pico), de modo que o quadril não poderia
ser elevado do banco do cicloergômetro durante a realização do teste. A altura do banco foi
ajustada de acordo com o conforto de cada voluntário.
A VFC foi analisada no domínio do tempo (SD1, SD2 e SD1/SD2). A Freqüência
Cardíaca (FC) foi monitorada, batimento a batimento, utilizando um Polar S810i. Gravou-se,
inicialmente, a FC em um repouso (20 minutos), com o atleta relaxado na posição supina, e
após a aplicação do teste, durante a recuperação (15 minutos).
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RESULTADOS
Tabela 1. Descrição dos índices de VFC – SD1, SD2 e SD1/SD2 nos momentos basal, 1, 4, 7,
10 e 15 minutos após o TW.
Variável
Basal
T_1
T_4
T_7
T_10
T_15
SD1
42,16±21,12* 3,94±1,85
9,04±5,65
9,24±4,89
9,02±5,92
9,58±5,37
SD2
94,68±33,75* 37,75±14,82 48,87±30,59 46,64±21,67 41,30±19,55 49,85±22,23
SD1/SD2 0,44±0,15*
0,12±0,08
0,21±0,09
0,20±0,08
0,21±0,08
0,20±0,07
* p<0,001 – extremamente significante.
Figura 1. Comportamento da FC nos
momentos basal (1), pico (2), 1 (3), 4
(4), 7 (5), 10 (6) e 15 (7) minutos
após o TW.
DISCUSSÃO
O presente estudo objetivou analisar o comportamento do SNA, durante 15 minutos
em recuperação passiva após um exercício de alta intensidade, observando a aproximação dos
valores às condições basais.
Verificou-se que a FC, no primeiro minuto após o exercício, atingiu valores três vezes
mais elevados que o basal e, ao final do período de repouso, foi observada uma redução
próxima de 50% deste máximo valor registrado. Além disso, durante o exercício ocorre
inibição vagal seguida por ativação simpática e, proporcionando um aumento da FC, em
decorrência do aumento da demanda metabólica causada pelo exercício (ALMEIDA et al.,
2005). Cessada a atividade física, a reativação parassimpática e inibição simpática são
responsáveis pela redução gradativa da FC até os valores basais (OTSUKI et al., 2007).
Assim, como verificado no presente estudo, no quarto minuto após o exercício, os sujeitos
apresentam queda brusca da FC, a qual vai progressivamente reduzindo seus valores durante a
recuperação.
A análise da VFC foi realizada no domínio do tempo, por meio dos índices
geométricos da plotagem de Poincaré, que consiste na plotagem de cada intervalo R-R em
função do intervalo anterior e são obtidos três índices: SD1, SD2 e a razão SD1/SD2
(BRUNETTO et al., 2005). O índice SD1 é considerado marcador da modulação
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parassimpática (MOUROT et al., 2004) e o SD2 da parassimpática e simpática. A relação
SD1/SD2 pode ser usada durante esforço físico incremental como um indicador do aumento
da modulação simpática (TULPPO et al., 1996).
Além dos achados pode-se observar declínio extremamente significante destas três
variáveis no primeiro minuto após o teste. Posteriormente, estes apresentaram pequena
elevação a qual, basicamente, se manteve até o fim do período de recuperação. BRUNETTO
et al, (2005) observou redução destes valores em sujeitos submetidos a teste de esforço
máximo. Embora o autor não tenha analisado a recuperação dos mesmos, é pertinente supor
que estes, imediatamente após o esforço, estejam em condições semelhantes as do exercício e
seu comportamento seja gradativo, devido a reativação vagal e inibição simpática, como
mencionado alhures.
CONCLUSÃO
Observou-se no estudo que o SNA se comportou de maneira prevista, porém o
estímulo foi suficientemente agressivo para que, em 15 minutos de repouso, o índice SD1
retornasse apenas 23% em comparação ao valor basal e os outros índices apenas retornaram a
valores próximos a 50%.
REFERÊNCIAS
DENADAI, B.S.; GUGLIEMO, L.G.A.; DENADAI, M.L.D.R. Validade do teste de wingate
para a avaliação da performance em corridas de 50 e 200 metros. Motriz, v.3, n.2, p. 89-94,
1997.
FRANCHINI, E. Teste anaeróbio de wingate: conceitos e aplicação. Revista Mackenzie de
Educação Física e Esporte, v.1, n.1, p. 11-27, 2002.
JAVORKA, M. et al. Heart rate recovery after exercise: relations to heart rate variability and
complexity. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v.35, p.991-1000,
2002.
MOUROT, L. et al. Quantitative Poincaré plot analysis of heart rate variability: effect of
endurance training. Eur J Appl Physiol, v.91, p.79-87, 2004.
OKANO, A.H. et al. Efeito da aplicação de diferentes cargas sobre o desempenho motor no
teste de Wingate. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.9, n.4, p. 7-11, 2001.
PERINI, R.; VEICSTEINAS, A. Heart rate variability and autonomic activity rest and during
exercise in various physiological conditions. European Journal Applied Physiology, v.90,
p.317-352, 2003.
TULPPO, M. P. et al. Quantitative beat-to-beat analysis of heart rate dynamics during
exercise. Am J Physiol, v.271, p.H244-H52, 1996.
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