Ministério da Educação
Universidade Federal de Alfenas - Unifal-MG
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 – Alfenas/MG – CEP 37130-000
Prédio 314 – Prédio “O” - Fone: (35) 3299 1067
Projeto de Pesquisa
Orientador: Thiago Fontelas Rosado Gambi
Grupo de pesquisa (UNIFAL-MG): Núcleo de Estudos em História Econômica e Economia Política (NEheEP)
Título: A importância da Ética na Economia Global
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS – UNIFAL/MG
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E ECONOMIA
A importância da Ética na Economia global
Paulo Henrique Medeiros Bragança
Orientador: Prof. Dr. Thiago Fontelas Rosado Gambi
Departamento de Ciência e Economia – Campus Varginha
Varginha, Minas Gerais
Maio de 2011
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A importância da Ética na Economia global
Resumo: A economia como disciplina autônoma surge no final do século XVIII com o
clássico A Riqueza das Nações, do filósofo moral Adam Smith. Ela nasce
intrinsecamente relacionada a questões morais, não se separando delas na análise
normativa das questões econômicas de um mundo em transformação. Contudo, na
busca pelo status de ciência, a economia afastou-se da normatividade e aproximou-se
cada vez da positividade da análise, aparentemente extinguindo sua preocupação com
as questões morais. Neste sentido, este projeto propõe analisar os textos mais
importantes de economistas e filósofos que discutem a relação entre economia e
ética, a fim de resgatar o debate sobre a importância da ética no estudo da economia.
Se os aspectos éticos são relevantes para a análise econômica, por que a economia se
afastou da ética? No contexto da economia global, por que questões morais, como a
pobreza ou a preservação do ambiente, estão sendo retomadas em sua relação com a
economia? São essas as indagações principais que norteiam este projeto.
Introdução
As questões morais e a ética ocupam o pensamento humano desde a
Antigüidade1 foi se desenvolvendo ao longo do tempo em diversas culturas ocidentais,
não só na Grécia, mas também no Império Romano e na Europa Medieval. Nesse
período histórico, a economia ainda não se apresentava como campo distinto do saber
e, na maior parte dos casos, as questões econômicas eram tratadas como questões
morais. Por exemplo, Aristóteles condenava o comércio para fins de ganho, quer dizer
uma questão econômica era tratada a partir de uma avaliação moral: trocar para
ganhar não era algo bom para o filósofo, uma vez que o objetivo primeiro da troca não
deveria ser o ganho, mas a satisfação de necessidades. Na Idade Média, a usura, isto é,
o ganho obtido com o empréstimo de dinheiro, era condenada moralmente pela
1
Ver, por exemplo, os trabalhos clássicos de Platão e Aristóteles, respectivamente, A República e a Ética
a Nicômaco.
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Igreja, que, assim, legislava sobre o comportamento econômico da civilização cristã
(RONCAGLIA, 2005). Estes são apenas dois exemplos para ilustrar como as questões
econômicas e morais estavam intrinsecamente relacionadas no longo período de
tempo que antecede o século XIX (POLANYI, 2000; HEILBRONER, 1996).
No final do século XVIII, a economia ganha o status de disciplina autônoma, isto
é, como campo específico do saber, com a publicação, em 1776, do clássico A Riqueza
das Nações, de Adam Smith. De acordo Hunt (2005:37), e muitos outros autores da
história do pensamento econômico, Smith foi “o primeiro a elaborar um modelo
abstrato completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e do
funcionamento do sistema capitalista”. Nessa época, a disciplina era chamada
Economia Política e, como filósofo moral, Smith ainda considerava as questões morais
em suas análises. Ele assume que, por mais individual que sejam as ações humanas,
elas se concretizam na sociedade e, por isso,
são medidas por um instrumento de auto-controle, um outro eu, que avalia
as conseqüências de nossas ações, pressupondo que nos colocamos no lugar
dos outros, os objetos das mesmas. Neste sentido, se pressupomos que há
um entendimento básico numa comunidade sobre o que são ações
virtuosas, nossas ações podem ser avaliadas, juntamente com suas
conseqüências, pela operação de um espectador imparcial: se uma
comunidade, simples ou complexa, compartilha um conjunto de valores,
nossas ações podem ser objeto de aprovação ou reprovação de acordo com
os mesmos (SMITH apud SILVA, 2007:13).
Já no século XIX, a aceleração da produtividade calcada na Revolução Industrial e as
exigências da ciência moderna modificam o caráter do pensamento econômico e,
nesse contexto, a ética vai perdendo lugar no estudo da economia. Na verdade, Smith
faz parte de número pequeno de pensadores econômicos que se preocuparam com as
questões morais ou com a ética. O surgimento da teoria neoclássica, em meados do
século XIX, abriu o caminho para o tratamento positivo da economia,2 aproximando-se
da abordagem das ciências naturais. Dois exemplos ilustram a passagem de uma
economia normativa e positiva para uma economia pretensamente positiva apenas. O
2
Para uma discussão da economia positiva e normativa, ver, por exemplo, o trabalho de Arida (2003),
baseado num ensaio escrito pelo autor em 1983.
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primeiro é o nome do livro de León Walras, Elementos de economia política pura, de
1874, em que os termos “economia política” e “pura” representam, respectivamente,
a normatividade que se perde e a positividade que predomina na análise econômica. O
segundo exemplo é que a disciplina passa a se chamar apenas Economia, pois o estudo
do comportamento social e político, implícito no nome Economia Política, já não
combinava com a ciência econômica.
Dessa maneira, para ganhar o status de ciência, a economia foi se afastando da
normatividade envolvida nas questões morais e se aproximando da positividade com
que eram tratadas as questões naturais, num processo em que a economia se
naturaliza, mas, ao mesmo tempo, se desumaniza, justamente por desconsiderar
aquilo que é inerente ao ser humano: sua condição social, seus valores. Essa foi a razão
pela qual os pensadores econômicos de meados do XIX tentaram separar, e opor,
economia normativa e economia positiva, distinguindo apenas esta última como
ciência econômica (MARÉCHAL, 2005).
No entanto, a separação ou oposição entre economia normativa e positiva, em
outras palavras, entre ética e ciência econômica, ainda que tentadas, foram apenas
aparentes (MARÉCHAL, 2005). E essa aparência se reforçou na medida em que o
capitalismo se desenvolveu. De fato, como nos diz Maréchal (2005:14), “ao
desmantelar um número cada vez maior de regulamentações sociais e simbólicas, o
capitalismo contemporâneo conseguiu libertar-se das regras éticas”. No entanto,
embora fosse esse o desejo de muitos pensadores econômicos modernos,
exploraremos neste projeto o argumento de que a economia não se separou da ética.
Concordamos com o filósofo e economista Serge Latouche (2003:11) quando diz que
“a modernidade repugna a ética, mas ao mesmo tempo esta é onipresente”. Se a ética
é onipresente, ela também está envolvida nas questões econômicas e, portanto, deve
ser importante para análise econômica. Ficamos então com a indagação: é mesmo
importante levar em conta considerações éticas na análise econômica? Por isso,
propomos a análise dos textos mais importantes de economistas e filósofos que
discutem a relação entre economia e ética, a fim de resgatar o debate sobre a
importância da ética no estudo da economia.
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Partimos da idéia de que “a perpetuação de uma vida autenticamente humana
na Terra só poderá ser realizada se for preservado um conjunto de valores morais”
(MARÉCHAL, 2005:15). Se é assim, precisamos enfrentar outra indagação: se os
aspectos éticos são relevantes para a análise econômica, por que a economia se
afastou da ética? Responder essa pergunta é necessário para evitarmos considerar os
economistas como pessoas despreocupadas com o comportamento moral. Mas não é
esse o caso, pois muitos pensadores econômicos modernos3 até falaram de questões
morais, porém, evitaram enfrentá-las em suas análises.
No entanto, por mais que esses pensadores tentassem afastar a normatividade
e as questões morais de suas teorias, na prática, sua condição social e seus valores
sempre estiveram presentes nelas. Muitos pressupostos e conceitos teóricos
assumidos para descrever o comportamento da economia de mercado carregam em si
forte carga de normatividade e refletem a influência dos valores no pensamento
daqueles que os formularam. Por outro lado, a desconsideração teórica das questões
morais pode perder aquilo que há de mais fundamental para entender determinados
comportamentos e processos, comprometendo o fazer teórico do economista e o
próprio resultado das teorias econômicas. Ao longo da pesquisa, tentaremos mostrar
em que situações isso ocorre e por que, mesmo assim, os economistas insistiam, e
ainda insistem, na separação artificial entre ética e economia (MARÉCHAL, 2005).
Nas últimas décadas, sobretudo no pós II guerra mundial, a ética começou a
ganhar terreno nos debates acadêmicos no campo da economia. Ainda que tenha
perdido força nas décadas neoliberais de 1980 e 1990, há um esforço por parte de
alguns economistas de se pensar novamente a relação entre ética e economia (por
exemplo, SEN, 1999). Assim, tentaremos desenvolver uma resposta para uma terceira
e última indagação: no contexto da economia globalizada, por que questões morais,
como a pobreza ou a preservação do ambiente, estão sendo retomadas em sua
relação com a economia? As indagações apresentadas acima são as que estruturam e
articulam este projeto.
3
Ver, por exemplo, Marshall e Pareto.
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Discussão Bibliográfica
A questão ética nos remete a um conjunto de valores que, de certo modo,
orientam nossas ações na vida cotidiana. Portanto, ela é importante elemento na
definição do nosso comportamento em sociedade. Se a economia, tal como definida
pelos autores neoclássicos, é a ciência da alocação eficiente de recursos escassos e se
a eficiência dessa alocação depende do nosso comportamento, como deixar de lado a
questão ética na discussão econômica? É preciso incorporar, ou reincorporar, a ética
na esfera econômica de análise. Vários economistas e filósofos já escreveram sobre a
relação entre ética e economia. O que apresentamos a seguir é um panorama,
bastante sintético, dessa discussão.
Discutir ética e economia não é fácil e a leitura apressada pode levar o
pesquisador a cair em armadilhas conceituais, sendo muito recomendável para um
estudo desse tipo ter clareza nos conceitos que serão trabalhados. Por isso, antes de
iniciar o mencionado panorama bibliográfico, vamos deixar clara a distinção entre os
termos “moral” e “ética” que adotamos neste trabalho. Tal distinção é ainda
necessária para que, no decorrer da pesquisa, haja entendimento sobre nossas ações
individuais e suas conseqüências na sociedade.
A ética é um saber normativo, ou seja, que pretende refletir sobre nossas ações
individuais e emitir juízos de valor sobre elas. Porém, é preciso observar que nossas
ações são, em grande parte, movidas por algo que acreditamos ser melhor, um
conjunto de valores que orientam nossas ações. São esses valores que podemos
chamar de moral. Em síntese, neste trabalho, a ética “remonta à reflexão sobre as
diferentes morais e as diferentes maneiras de justificar a vida moral” (CORTINA e
MARTÍNEZ, 2005:9). Note que nas duas citações da introdução deste projeto - as de
Maréchal (2005:14), “ao desmantelar um número cada vez maior de regulamentações
sociais e simbólicas, o capitalismo contemporâneo conseguiu libertar-se das regras
éticas” e de Serge Latouche (2003:11), “a modernidade repugna a ética, mas ao
mesmo tempo esta é onipresente” -, o termo ética é usado no sentido que atribuímos
aqui à moral. A presença de um tratamento conceitual diverso em dois autores citados
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na apresentação de um simples projeto de pesquisa ilustra a armadilha conceitual a
que estamos sujeitos a todo momento, mas a qual tentamos cuidadosamente escapar.
A partir dessas considerações, podemos iniciar nosso panorama da literatura
que trata da relação entre economia e ética. Evidentemente a discussão sobre a ética
na filosofia é muito mais ampla. A preocupação com a ética econômica e social
propriamente dita corresponde apenas a uma parte do campo da ética. Primeiro, a
noção de ética econômica só faz sentido nas sociedades em que a atividade econômica
se diferenciou suficientemente de outros aspectos da existência. A esfera econômica é
definida pelo conjunto das atividades de produção e troca de bens e serviços. A ética
econômica é a parte da ética que trata dos comportamentos e das instituições
relativos à esfera econômica (PARIJS e ARNSPERGER, 2003). Mas estamos interessados
aqui em percorrer uma literatura que nos indique respostas para as indagações
formuladas na introdução: por que as questões morais são importantes para o estudo
da economia? Por que a economia se afastou da ética? Por que há uma retomada das
questões morais no contexto da economia global?
Os filósofos Daniel Hausman e Michael McPherson (1993:672), autores do
clássico Análise econômica, Filosofia Moral e Políticas Públicas, indicam a importância
das questões morais e da ética para a economia ao dizer que a ética é importante para
economistas, formuladores de políticas públicas e filósofos porque o comportamento
das pessoas é influenciado pela dimensão moral de suas vidas. Por isso, Maréchal
(2005:96) diz que “a análise econômica não pode ser concebida independente de
qualquer referência à ética”. Esses autores querem dizer que, se a economia se
preocupa com o comportamento humano e se esse comportamento é influenciado por
questões morais, a ética é necessariamente importante para o estudo das questões
econômicas. Ao envolver a ética como aspecto necessário ao estudo da economia, os
autores advertem para a necessidade de ampliar a normatividade da análise
econômica. Claro que as preocupações morais podem ser mais importantes para
certas áreas da economia do que para outras, mas o ponto é que a reflexão sobre a
relação entre economia e ética pode tornar o trabalho do economista mais efetivo,
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tanto no campo positivo como normativo da economia (HAUSMAN e MCPHERSON,
1993).
Um exemplo ajuda a ilustrar como as questões morais podem influenciar o
comportamento de um consumidor racional e maximizador tal como prevê a teoria
microeconômica. Imaginemos que esse consumidor vá a uma loja e procure um
produto que lhe dê certa utilidade. Lá, ele encontra dois produtos A e B. Ambos os
produtos satisfazem a sua necessidade. A diferença entre eles é que o bem A traz a
informação de que não degrada o meio ambiente. Neste momento, aparece a
influência das questões morais na escolha do consumidor. Sua utilidade poderia
aumentar com a escolha de A, caso a preocupação com a preservação do meio
ambiente fosse um valor para esse consumidor. Quer dizer, as questões morais
passam a permear a racionalidade da escolha. Mas se as questões morais são
importantes para o estudo da economia, por que ela fez um movimento para se
distanciar das questões morais?
Após o nascimento da ciência econômica no seio da filosofia moral, as teorias
foram se distanciando cada vez mais dos valores normativos e esses, apesar de nunca
terem desaparecidos por completo acabaram sendo reprimidos e deixados de lado
pela análise positiva. De acordo com Hirschman (1986:120),
a partir do século XVII, começou-se a estudar de perto o funcionamento
efetivo do comércio e dos mercados; e os que se interessavam pelas
questões econômicas fizeram certo número de descobertas tão chocantes
quanto às de Maquiavel [nas questões políticas].
Se Maquiavel afirmava que as noções ordinárias sobre o comportamento moral
podem não ser regras adequadas para a condução do Estado, os economistas
afirmavam que tal comportamento ou a formulação de juízos de valor não eram
adequados para a elaboração da teoria econômica. O resultado desse movimento foi, a
nosso ver, certa desumanização da economia, paradoxalmente, uma ciência social cujo
objeto é o próprio ser humano. É o que parece, de fato, acontecer quando lemos
notícias como esta: apesar de “a agricultura cobrir hoje mais do que a totalidade das
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necessidades nutricionais que se exprimem no mundo não impede a subnutrição de
mais de 800 milhões de seres humanos” (MARÉCHAL, 2005:75).
Portanto, é razoável afirmar que os economistas do século XIX e XX não
conseguiram solucionar problemas econômicos fundamentais e isso passa pela
formulação da teoria econômica. È como diz Hirschman (1986:129): “a busca por cada
membro individual da sociedade de seu puro interesse particular é uma solução
nitidamente insuficiente”. Tal afirmação traz implícita a necessidade de se afirmar um
novo jeito de se pensar a economia que não pode deixar de lado a sociedade e as
questões morais nela envolvidas. Por isso, é preciso incorporar a ética, isto é, a
reflexão sobre as questões morais, à análise econômica. Segundo Maréchal (2005:98),
“só a ética pode vir compensar os efeitos destruidores de uma lógica maximizadora
abandonada ao seu livre jogo”. Tendo em vista essa necessidade,
os economistas reconheceram recentemente a existência de uma série de
domínios onde o desempenho do mercado melhoraria enormemente se lhe
fosse infundida a “benevolência”, ainda que sob a modesta forma de uma
certa cooperação e troca de informações entre fornecedores e compradores
(HIRSCHMAN, 1986:127).
Essas duas últimas passagens advertem para a necessidade de mudança na
abordagem econômica atual. Foi justamente essa necessidade que suscitou a
retomada da reflexão sobre a relação entre ética e economia nas últimas décadas. Mas
a retomada da ética na economia ultrapassa as questões teóricas e também dizem
respeito aos conflitos humanos, sociais e ambientais existentes no contexto da
economia global.
Como diz Maréchal (2005:76), “se a produção de bens de serviços em
quantidades cada vez mais importantes reduz mecanicamente certa escassez, é
também susceptível de aumentar ou mesmo de criar outras”. A economia global é
capaz de produzir cada vez mais, mas não consegue resolver o problema da
distribuição dos bens e dos novos problemas gerados a partir da expansão produtiva.
Um exemplo para ilustrar essa idéia é o uso do petróleo como principal fonte de
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energia. Os derivados do petróleo são os bens mais usados no globo, mas, ao mesmo
tempo, são os que mais poluem o ar e a água.
Apesar das advertências dos economistas e dos próprios problemas da
sociedade atual, a retomada da ética na análise econômica ainda é insuficiente para
promover a mudança teórico-conceitual necessária. De acordo com Letiche (1999:11),
embora a riqueza da atual literatura ética seja muito maior do que a parte
incorporada à economia, a suposição extremamente restrita do
comportamento auto-interessado que impera na economia tem impedido a
análise de relações muito significativas.
Letiche tem razão ao indicar que a análise econômica perde vigor ao tratar os
seres humanos como homo oeconomicus, ente etéreo, sem valores ou classe social. É
preciso, pois, problematizar e estudar mais a relação entre ética e economia, pois
como observa Hirschman (1986:126),
o fato de que a necessidade do comportamento ético se faça sentir em
certas situações nas quais o sistema de mercado e o interesse particular,
deixados à sua própria ação, dariam resultados indesejáveis, não quer,
naturalmente, dizer que esse comportamento se manifestará
automaticamente.
Além disso, como afirmam Sen (1999) e Hausman e McPherson (1993), um
contato mais próximo entre ética e economia pode fazer muito bem não só para a
filosofia moral, mas também para a economia.
E assim concluímos que os economistas deveriam abrir novamente espaço para
a ética na formulação das teorias econômicas. Pensar a economia é também pensar
sobre as questões morais inerentes ao ser humano e à vida social. A ciência econômica
que se pretende positiva não deu conta de resolver de modo suficiente graves
problemas a que se propôs solucionar. O objetivo de eficiência na alocação dos
recursos escassos ainda não deu conta de problemas como a fome ou a destruição do
meio ambiente. Contudo, não se trata de abandonar a positividade, mas de promover
a retomada do aspecto normativo do estudo da economia, fundamental para a
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produção de uma ciência econômica aperfeiçoada, mais humana e, portanto, mais
capaz de dar respostas à sociedade para a solução de seus problemas.
Justificativa do Projeto
Apesar das advertências de que a ética é fundamental para aperfeiçoar a
análise econômica e, assim, contribuir para uma solução suficiente dos problemas
humanos, sociais e ambientais colocados no contexto da economia global, a relação
entre economia e ética é insuficientemente estudada. Sobretudo em cursos de
graduação em economia e filosofia.
Esta pesquisa se justifica, em primeiro lugar, por propor a reflexão sobre essa
relação. Apresentar claramente e destacar a importância da ética para a economia é
muito importante neste momento, pois, apesar da grande depressão em 1929, do
sucesso de Keynes a salvar o capitalismo e da recente crise financeira mundial, as
teorias econômicas positivas, como as neoclássicas, continuaram fortes. E é isso que
enseja a discussão crítica da abordagem atual da economia e a necessidade de se
debater a importância da ética na economia.
Em segundo lugar, a pesquisa se justifica por pensar a economia ligada a
questões humanas, sociais e ambientais urgentes. Problemas como imigração ilegal,
fome e aquecimento global estão diretamente relacionados à economia e à ética. É
preciso entender o afastamento entre economia e ética para entender porque, em
muitos casos, as respostas que a economia tem para questões daquele tipo são
insuficientes.
Em terceiro lugar, a pesquisa se justifica porque promove o resgate da reflexão
sobre os valores individuais e sociais e seus impactos sobre o comportamento
econômico. Tal resgate, a nosso ver, é fundamental para o encaminhamento de
soluções suficientes para os complexos problemas enfrentados pela sociedade no
contexto de uma economia global.
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Objetivos
O objetivo geral do projeto A importância da Ética para a Economia global é
mostrar a importância da ética para a economia e, por esse viés, fazer uma crítica à
abordagem econômica predominante atualmente. Para alcançar este objetivo geral,
definem-se os seguintes objetivos específicos:
1) Discutir a relação entre ética e economia e mostrar a importância da
primeira para a segunda;
2) Entender, por meio da história do pensamento econômico, como e por que
economia e ética se afastaram;
3) Analisar uma certa retomada da ética na economia atual e entender por
que os economistas se preocupam pouco com questões morais.
Metodologia
A metodologia a ser utilizada nesta pesquisa é predominantemente a revisão
bibliográfica sobre a relação entre economia e ética. Para isso, contaremos com o
acervo da Biblioteca da UNIFAL – Campus Varginha, as bibliotecas particulares de
professores do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), bem como a pesquisa em
bases eletrônicas de dados, como o JSTOR e os periódicos CAPES. Além do material
levantado e lido para a elaboração do projeto, estruturamos uma lista de leituras nos
campos da economia, história e filosofia, que dará corpo ao trabalho. A estrutura que
guiou, e guiará, a seleção dos textos é a seguinte:
- Importância da ética para a economia;
- Separação entre ética e economia/ Economia positiva e normativa;
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- Economistas, ética e formulação de teoria econômica/ Por que economistas se
preocupam pouco com questões morais;
- Retomada da ética no contexto da economia global.
Ao final das leituras, pretendemos sistematizá-las e organizar as idéias
apreendidas sob a forma de artigo. A análise dos textos partirá da crítica à teoria
econômica vigente, procurará destacar seus pontos fracos e apontar a necessidade de
se considerar as questões morais e a ética no estudo da economia.
Referências bibliográficas
ARIDA, Pérsio. A história do pensamento econômico como teoria e retórica. In: RÊGO,
J.M. e GALA, P. (orgs.). A História do Pensamento Econômico como teoria e retórica:
ensaios sobre metodologia em Economia. São Paulo: Ed. 34, 2003.
CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emílio. Ética. São Paulo: Loyola, 2005.
HAUSMAN, D. e MCPHERSON, M. Economic Analysis, Moral Philosophy and Public
Policy. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
HAUSMAN, D. e MCPHERSON, M. Taking Ethics Seriously: Economics and
Contemporary Moral Philosophy. Journal of Economic Literature, v.31, n.2 (Jun.1993),
pp.671-731.
HEILBRONER, R. A História do pensamento econômico. 6. ed. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
HIRSCHMAN, Albert. A Economia como Ciência Moral e Política. São Paulo: Brasiliense,
1986.
HUNT, E.K. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
LATOUCHE, Serge. Que Ética e Economia Mundiais: Justiça sem Limites. Instituto
Piaget: 2003.
LETICHE, John. Prefácio. In: SEN, Amartya. Sobre ética e economia. São Paulo: Cia das
Letras, 1999.
MARÉCHAL, Jean-Paul. Ética e Economia: Uma Opção Artificial. Instituto Piaget: 2005.
PARIJS, P. van e ARNSPERGER, C. Ética econômica e social. São Paulo: Loyola, 2003.
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POLANYI, K. A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2000.
RONCAGLIA, Alessandro. The Wealth of Ideas. Cambridge: Cambridge University Press,
2005.
SEN, Amartya. Sobre ética e economia. São Paulo: Cia das Letras, 1999.
SILVA, C. E. G. da. Economia e ética. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
COMTE-SPONVILLE, André. O Capitalismo é Moral: Sobre Algumas Coisas Ridículas e
Tiranias do Nosso Tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Resultados Esperados
Durante a pesquisa, apresentaremos resultados parciais na Jornada Científica
da Unifal-MG e, ao final, submeteremos o texto completo à sessão de comunicações
do Encontro Nacional de Política (ENEP) do próximo ano ou a outro evento científico
externo à Unifal-MG. Também submeteremos o texto à publicação em periódico
indexado.
Cronograma
O projeto será desenvolvido em 12 meses, seguindo o seguinte cronograma:
Levantamento e
discussão da
literatura
Análise dos
textos
Sistematização
dos resultados
Ago/Out
2011
Nov/Dez
2011
Jan/Fev
2012
Mar/Mai
2012
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Jun/Jul
2012
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Ministério da Educação
Universidade Federal de Alfenas - Unifal-MG
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 – Alfenas/MG – CEP 37130-000
Prédio 314 – Prédio “O” - Fone: (35) 3299 1067
Anexo II: Formulário de avaliação do orientador
Ciências Humanas, Sociais Aplicadas e Letras
Itens avaliados
1. Titulação
Doutorado
2. Produção Científica nos últimos cinco anos (15 pontos)
Livro publicado com ISBN – 2,0 por livro
Capítulo de livro publicado com ISBN- 1,0 por livro
Organização de livro publicado com ISBN- 1,0 por livro
Artigos publicados em periódicos com ISBN – 1,0 por artigo
Artigos publicados em periódicos sem ISBN – 0,5 por artigo
Trabalho completo publicado em Anais de eventos científicos- 0,5 por trabalho (máximo 1,0
ponto)
3. Experiência de orientação, considerando os últimos cinco anos
Orientação (Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado) 1,0 ponto por orientação
Orientação em andamento – 0,5 cada
Coordenação de projetos de pesquisa financiados por agências de fomento – 1 por projeto
Colaboração formal em projetos de pesquisa financiados por agências de fomento - 1 por projeto
Participação em bancas – 0,5 por participação
Total de pontos
Valor
Máximo
Pontuação
atribuída
3
3
4
3
2
4
1
0
0
0
4
1
1
1
4
2
2
2
2
30
0
0,5
0
0
2
11,5
Valor
Máximo
Pontuação
atribuída
9
5
9
3
3
0
3
20
2
14
Pontuação
observada
Anexo III - Ciências Humanas, Sociais Aplicdas e Letras
Itens avaliados
Desempenho acadêmico – 9,0 pontos
Participação em evento Científico – 1 por evento (máximo de 5,0 pontos)
Apresentação e/ou publicação de trabalhos em eventos científicos – 1,0 ponto por trabalho
(máximo de 3,0 pontos)
Participação em projetos de pesquisa/extensão/monitoria – 1,0 ponto por participação (máximo
de 3,0 pontos)
Total de pontos
Pontuação
observada
Obs. Histórico escolar do aluno na próxima página
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A importância da ética na economia global - Unifal-MG