V Encontro Nacional da Anppas
4 a 7 de outubro de 2010
Florianópolis - SC – Brasil
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Mídia e Meio Ambiente: a Contaminação do Solo pela
Shell, na Vila Carioca (SP), sob a Ótica da Folha de
S.Paulo
Maria Daniela de Araújo Vianna (PROCAM/USP)
Jornalista, especialista em Saúde Ambiental (FSP/USP) e
doutoranda em Ciência Ambiental (PROCAM/USP)
[email protected]
Flávia Silva Marcatto (FSP/USP)
Arquiteta, mestre em Saúde Pública (FSP/USP), presidente
da Oscip Participare – Instituto de Meio Ambiente e Cidadania
[email protected]
Wanda Maria Risso Günther (FSP/USP)
Engenheira civil e socióloga, Prof. Dra. da Faculdade de
Saúde Pública (FSP/USP) e do Procam (PROCAM/USP)
[email protected]
Resumo
A contaminação do solo e da água pela Shell do Brasil S.A., na Vila Carioca, zona sul da cidade de
São Paulo, foi descoberta pelos moradores do entorno da unidade de estocagem de combustíveis da
empresa por meio da reportagem intitulada “Contaminação ameaça 30 mil em São Paulo”, publicada
na Folha de S.Paulo em 20 de abril de 2002. Qual o papel dos meios de comunicação social na
construção dos problemas ambientais? A cobertura jornalística sobre o tema é adequada? A
imprensa está preparada para enfrentar os desafios e a complexidade da temática ambiental? Essas
são algumas das questões discutidas neste artigo, que analisou o conteúdo de 27 matérias
publicadas no jornal Folha de S.Paulo sobre o tema, no período compreendido entre 2002 e 2006. O
conteúdo foi analisado sobre a ótica da sociedade de risco, de Ulrich Beck, com uma abordagem da
formulação social dos problemas ambientais na perspectiva do construcionismo ambiental, defendida
pelo sociólogo John Hannigan. Questões decorrentes de ruídos da comunicação foram consideradas
à luz da discussão proposta por Décio Pignatari.
Palavras-chave
Comunicação de risco; risco; comunicação social; sociedade de risco; sociologia ambiental; saúde
pública
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1. Introdução
1.1. Resíduos e áreas contaminadas
Gerar resíduos é uma prática inerente ao ser humano. Com o exponencial crescimento
populacional e a concentração da população em cidades, no entanto, essa geração se transforma
em problema e ao mesmo tempo em desafio a ser enfrentado por toda a sociedade. A
Organização Panamericana de Saúde alerta que os estilos de vida, os altos níveis de consumo,
os materiais usados na produção industrial e a introdução de materiais persistentes nas
atividades cotidianas tendem a agravar a situação relativa ao gerenciamento desses resíduos,
incluindo a disposição final (OPAS, 2005).
Também ocorre o aumento da complexidade dos resíduos, ou seja, sua não biodegradabilidade e
periculosidade, e consequentemente os reflexos ambientais e à saúde, principalmente quando da
disposição inadequada dos resíduos no ambiente.
“A existência de áreas contaminadas pode gerar problemas como danos
à saúde humana, comprometimento da qualidade dos recursos hídricos,
restrições ao uso do solo e danos ao patrimônio público e privado, com
desvalorização da propriedade, além de danos ao meio ambiente”
(CETESB, 2006).
No Estado de São Paulo, existe um monitoramento das áreas contaminadas, dentre as quais
muitas ainda não estão identificadas. O aumento da fiscalização resulta em um crescimento, ano
a ano, do número de áreas contaminadas identificadas desde 2002, quando a Cetesb passou a
divulgar a Relação de Áreas Contaminadas (255, em 2002; 727, em 2003; 1.336, em 2004; 1.596,
em novembro de 2005; 1.664, em maio de 2006; 1822, em novembro de 2006; 2.272, em
novembro de 2007; e 2.514, em novembro de 2008) (CETESB, 2008).
1.2. A Vila Carioca e a Shell
A Vila Carioca localiza-se na região sudeste da cidade de São Paulo, na subprefeitura do
Ipiranga, ao lado da linha férrea da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Devido à proximidade com a
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estrada de ferro, o que viabilizava o fluxo de matérias-primas e de produtos acabados, o bairro
passou
por
um
processo
intenso
de
urbanização
no
século
XX,
com
ocupação
predominantemente industrial (MARCATTO, 2005).
A multinacional de origem holandesa instalou-se no bairro em meados do século, com o nome
Shell do Brasil S.A., “para elaborar pesticidas (base da Shell Química) e para atividades do setor
de derivados de petróleo (base da Shell Petróleo e Lubrificantes)” (ARAÚJO, 2005). “A atividade
industrial da Shell, iniciada em meados da década de 50, consistia no envase e armazenamento
de produtos petroquímicos” (MARCATTO, 2005).
“Nas décadas de 1950 e 1960, quando o parque industrial começou a se
formar em São Paulo, nem existia a Cetesb. Nada do que se referia à
poluição era proibido. Há muitos anos o solo tem sido utilizado como
receptor de substâncias resultantes das atividades humanas.
Atualmente, já se aceita que o solo é um recurso natural limitado e, se
estiver contaminado, perde o valor econômico intrínseco e pode
enfrentar restrições de uso. A poluição do solo é um problema de saúde
ambiental, pois põe em risco as pessoas expostas aos contaminantes.
Temos de fazer a remediação dessas áreas.”(GÜNTHER, 2006).
A contaminação ocorreu naquele contexto, antes da instalação do bairro no entorno da unidade
da fábrica, e em um período no qual os conhecimentos sobre os riscos ambientais decorrentes da
contaminação do solo eram poucos.
“Na área de tancagem, para armazenamento dos hidrocarbonetos (...),
as borras oleosas foram dispostas diretamente no solo. A destinação
desses resíduos resultou na contaminação do solo e das águas
subterrâneas em áreas internas e externas à Base Shell Vila Carioca.”
(MARCATTO, 2005).
O bairro, como toda a cidade de São Paulo, passou por um crescimento vertiginoso na segunda
metade do século e, no nos anos 1990, quando a Cetesb (órgão ambiental do Estado de São
Paulo) deu início à avaliação de contaminação ambiental, já havia moradores cujos muros das
casas faziam divisa com os muros da Shell.
“No decorrer desse período (1993 a 1998), foram identificadas, no
subsolo e nas águas subterrâneas da base de estocagem de
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combustíveis da empresa, substâncias tóxicas presentes nos derivados
de petróleo: benzeno, tolueno, xileno, etilbenzeno; em 1998, haviam sido
constatadas, no subsolo da unidade de uma antiga área social da
empresa, que fora desativada, concentrações elevadas de pesticidas
altamente tóxicos: organoclorados do grupo dos “drins”, também
conhecidos como poluentes orgânicos persistentes.” (ARAÚJO, 2005).
1.3. A contaminação da Shell sob a ótica da sociedade de risco
As áreas contaminadas, em geral, e o caso da Shell na Vila Carioca, em particular, decorreram de
um processo de industrialização que se deu em um período no qual as questões ambientais,
como percebidas hoje, estavam fora da agenda política e institucional mundial. A contaminação
do solo e das águas subterrâneas tornou-se uma realidade da sociedade contemporânea,
chamada também de Sociedade de Risco.
Foi a partir das reflexões do alemão Ulrick Beck, e posteriormente dos teóricos Anthony Giddens
e Wynne, que o conceito de Sociedade de Risco teve maior projeção na teoria social, dentro do
arcabouço das ciências sociais. Para Beck, a principal característica da sociedade de risco está
na distribuição „democrática‟ dos riscos, e não na desigualdade das classes sociais.
“Beck argumenta que, na sociedade contemporânea, em todo o planeta,
os riscos estavam atingindo os grupos sociais de modo indiscriminado, e
de forma tão intensa, que, na verdade, não se podia mais falar de uma
sociedade que distribui bens, mas, sim, de uma sociedade que reparte
seus males e danos.” (ARAÚJO, 2005)
A sociedade de risco está intimamente ligada ao processo de modernização reflexiva, na qual os
riscos são globalizados, assim como a sociedade e a economia.
“A escola da modernização reflexiva (Beck, Giddens e Wynne) é
considerada pelo „seu reconhecimento de que os riscos globais
contemporâneos perderam os seus limites no tempo e no espaço, a sua
ênfase nas mudanças das relações dos atores leigos e dos sistemas de
peritos, e sua percepção de que os cientistas na era da última
modernidade já não conseguem assegurar quaisquer certezas
relativamente aos riscos ambientais e deverão antes partilhar as suas
dúvidas com o público‟” (Spaargaren e Mol apud HANNIGAN, p: 236,
1995).
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Ulrick Beck afirma que “a sociedade tornou-se um laboratório sem nenhum responsável pelos
resultados dos experimentos” (BECK, 2006). Por isso, o autor defende a criação de novas
instituições que dêem conta de assumir tal complexidade, talvez por meio de organismos
transnacionais. O autor chama a atenção para os efeitos da mídia. “Na experiência de choque
irradiado pela mídia massificada, torna-se reconhecível que a dormência da razão cria monstros”,
dentro do que ele chama de “incertezas fabricadas”.
2. O Papel Social da Mídia
O sociólogo ambiental John Hannigan (HANNIGAN, 1995), defende que, diante dos desafios da
sociedade de risco, é necessária uma abordagem da formulação social dos problemas
ambientais. Segundo o autor, estudioso do construcionismo ambiental, a preocupação com o
meio ambiente não é constante, mas flutua ao longo do tempo, aumentando ou diminuindo em
proeminência. Além disso, os problemas ambientais não se materializam por eles próprios; em
vez disso, eles devem ser “construídos” pelos indivíduos ou organizações que definem a poluição,
ou outro estado objetivo, como preocupante, e que procuram fazer algo para resolver o problema
(HANNIGAN, 1995, p: 11).
Hannigan reforça a importância dos formuladores das exigências ambientais, dentro os quais se
enquadra os meios de comunicação social. Estes têm o papel de participar da „construção‟ das
exigências ambientais a partir da promoção da “familiaridade” do público quanto a um
determinado problema ambiental. Nesse sentido, a mídia tem um papel importante na educação
sobre o meio ambiente, mantendo elementos de vitalidade e de desenvolvimento, assegurando
que as exigências ambientais não desapareceram em um mar de desinteresse ou irrelevância” (P:
74).
Apesar da relevância do papel dos meios de comunicação social na construção dos problemas
ambientais, o autor destaca uma série de desafios internos, nas redações, que comprometem
uma boa cobertura sobre as questões ambientais. Entre elas, estão: a adequação do conteúdo ao
formato de notícia; a pressa em noticiar; as fontes de informação (repórteres costumam manter-se
fiéis a uma pequena lista de fontes confiáveis, gralmente pessoas com papéis oficiais, como
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políticos e chefes de agência governamentais); o foco em catástrofes; e o risco do
sensacionalimo.
Partindo do pressuposto de que o jornalismo tem uma função social, ele deve ser usado como
instrumento de pressão para que os demais atores sociais envolvidos na construção dos
problemas ambientais, como empresas e poder público, atuem adequadamente na arena política,
cumprindo a legislação e assumindo responsabilidade na resolução dos mesmos. A mídia pode
contribuir para uma adequada comunicação de riscos, sem causar alarde nem gerar ruídos de
comunicação.
“A visão do jornalismo moderno, de acordo com os princípios que regem
o jornalismo ambiental1, deve ser sistêmica, transdisciplinar e ética na
cobertura ambiental e de saúde. “O jornalista que cobre meio ambiente
deve ter um compromisso com a vida. Não se trata de escrever
panfletos, mas sim de fundamentar as reportagens com um bom
conhecimento dos temas. Diante da crise ambiental, não há como
levantar a bandeira da neutralidade”, afirma Roberto Villar Belmonte
(BELMONTE, 2006).
A visão sistêmica defendida aqui é a mesma proposta pelo autor Edgar Morin (MORIN, 2005). Esse
novo olhar é considerado fundamental para o exercício do jornalismo engajado.
Por visão sistêmica entende-se: “uma rede de fenômenos interligados que interagem e se comunicam
o tempo todo. Enxergar sistemicamente significa perceber essa teia infinita de relações que
emprestam sentido aos temas ambientais” (TRIGUEIRO, 2007). Para Trigueiro, essa visão sistêmica
aplicada ao jornalismo pode quebrar a perspectiva reducionista e fragmentada da realidade e passar
a oxigenar a produção jornalística, tornando-a mais abrangente e menos imediatista.
O conceito de transdisciplinaridade abordado ao longo de todo o estudo vai ao encontro das
definições
do
sociólogo
e
pensador
Edgar
Morin
(MORIN,
2005).
Para
ele,
a
nova
“O jornalista que pretende compreender este planeta megadiverso não pode simplesmente ter um olhar superficial sobre a realidade. Deve
compreender suas interfaces e sua cadeia de seqüências. No Brasil, isso é ainda mais estratégico, na medida em que a biodiversidade e os
recursos naturais são as commodities do futuro e devem ser compreendidas como tal por toda a sociedade. A vanguarda dessa
transformação conceitual é composta por jornalistas capazes de seguir atuando de forma objetiva na disseminação de informações”
(MARCONDES, 2005).
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transdisciplinaridade deve pensar e repensar o saber. Deve quebrar o paradigma reducionista, que
ele considera insuficiente e mutilante, e substituí-lo por outro paradigma que permita a
transdisciplinaridade. Um processo que dê conta de compreender o todo, fazendo sim distinções,
separações, oposições, mas respeitando a complexidade. Para ele, só a comunicação entre as
ciências dará conta do pensamento sobre a complexidade do mundo atual. O mesmo serve para a
sociedade.
Com base na premissa de que o jornalismo tem a função social de contribuir para a informação e
formação sobre os temas ambientais, vamos analisar a cobertura atual da grande imprensa para
verificar se isso já está ocorrendo na prática diária das redações. “Se todas as editorias entenderem a
visão sistêmica como uma preciosa ferramenta de trabalho para qualificar a pauta e redimensionar o
conceito de notícia, a tão propalada "transversalidade dos assuntos ambientais" será fato no universo
jornalístico” (TRIGUEIRO, 2007).
3. Percurso Metodológico
O presente artigo baseou-se no método Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977) para analisar 27
matérias sobre a contaminação provocada pela Shell do Brasil S.A. na Vila Carioca, em São Paulo.
Com base na busca pelos descritores “Shell” e “Vila Carioca”, no jornal Folha de S.Paulo, foram
localizadas 32 matérias e notas, no período compreendido entre os dias 20 de abril de 2002, quando
foi publicada a primeira reportagem sobre o caso, e o dia 21 de junho de 2006, quando foi localizada
a última. Com base em uma leitura flutuante inicial, proposta por Bardin, cinco notas e matérias foram
descartadas do escopo da pesquisa, por abordarem o tema superficialmente, dentro de outro
contexto, restando as 27 matérias analisadas. O levantamento das matérias foi realizado no Banco de
Dados on-line do referido jornal, que possui abrangência nacional.
A escolha deste veículo de comunicação para a análise considerou o fato de a Folha de São Paulo
ter sido responsável pela primeira matéria, publicada na mídia, sobre a questão envolvendo a
contaminação da Shell na Vila Carioca. Em um segundo momento da pesquisa, também proposto por
Bardin, para se chegar a uma análise quali-quantitativa das matérias, elas foram classificadas de
acordo com categorias estabelecidas para analisar a qualidade das informações, analisada à luz das
teorias de sociedade de risco, do construcionismo ambiental e dos problemas da comunicação.
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4. Resultados e Discussões – A Mídia e o Caso da Shell na Vila Carioca
A contaminação do solo pela Shell, na Vila Carioca, zona sul de São Paulo, foi revelada aos
moradores do entorno da unidade de estocagem de combustíveis da empresa por meio da
reportagem intitulada “Contaminação ameaça 30 mil em São Paulo”, de autoria da jornalista Mariana
Viveiros, publicada na Folha de S.Paulo, em 20 de abril de 2002. Outro texto, na mesma publicação,
mostra que os réus do processo – a Shell e a Cetesb (órgão de controle ambiental do Estado de São
Paulo) – tinham opiniões divergentes sobre os efeitos da contaminação à saúde da população: a
Shell descartava o risco, mas a Cetesb não.
Após a reportagem publicada na Folha, outros jornais, como O Estado de S.Paulo, o Jornal da Tarde,
o Diário Popular (hoje Diário de S.Paulo), além de emissoras de rádio e televisão, também
repercutiram o caso. Só na Folha de S.Paulo, em busca nos arquivos eletrônicos pelos descritores
“Shell” e “Vila Carioca”, foram encontradas 32 matérias e notas sobre o tema. A penúltima, datada de
20 de junho de 2006 e assinada pelos repórteres Afra Balazina e José Ernesto Credencio, apresenta
como título da matéria principal “Teste revela contaminação de moradores”. No subtítulo, informa que
“Dos 198 habitantes da Vila Carioca submetidos a exames, 73 foram afetados por pesticidas da Shell,
segundo relatório. Documento entregue à CPI da Poluição mostra que taxa de mortalidade no bairro é
78,2% maior que a do distrito onde ele (bairro) está”.
4.1. A mídia e o risco
A comunicação é uma extraordinária ferramenta. No entanto, é preciso muito cuidado para evitar
interferências na comunicação, ou seja, é necessário reconhecer os elementos que podem complicar
ou impedir o perfeito entendimento das mensagens.
Os índios e povos primitivos se comunicavam à distancia por meio de interrupções da fumaça do
fogo, cujos espaços simbolizavam algo preestabelecido. A mão de obra para esse tipo de
comunicação limitava as mensagens ao essencial e urgente. Da fumaça dos índios à mídia escrita,
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podemos salientar que ainda encontramos várias dificuldades na comunicação de símbolos, da
relação dos signos, da ideia de referência.
Além dessas dificuldades, existem outras que interferem no processo de comunicação, entre elas, as
barreiras
do
interpretante,
barreiras
psicológicas
e
de
linguagem.
Enfim,
comunicar-se
adequadamente é um desafio para que a mensagem chegue adequadamente ao destinatário.
Alguns pressupostos são importantes de serem colocados. O primeiro deles é a importância da
comunicação. Segundo Polistchuk e Trinta, 2003:
“Comunicação compõe processo básico para a prática das relações
humanas [...]. Pela comunicação, o indivíduo se faz pessoa, indo do
singular ao plural. Em sua prática corrente, a comunicação envolve um
ethos, que diz respeito à atitude de quem opina ou argumenta; um
logos, que se refere à racionalidade inerente à opinião ou argumento
apresentado; e um pathos, que tem a ver com a arte de tornar
apaixonante o fato de opinar e argumentar.” (apud MARCATTO, 2006)
(grifos das autoras)
O segundo pressuposto é com relação aos conceitos adotados neste artigo sobre risco, perigo,
comunicação de risco, ruído de comunicação e percepção de risco.
Risco: é a probabilidade ou possibilidade de ocorrência de dano ou
efeito adverso a um receptor e pode ser estimado por meio de estudos
probabilísticos do risco. (MARCATTO, 2006:19)
Perigo: Situação nas quais agentes físicos, químicos, biológicos ou de
qualquer natureza constituem uma ameaça à saúde humana e/ou ao
meio ambiente. (SILVA, 2004).
Comunicação de risco: processo interativo de troca de informação e
opiniões conjuntas de grupos ou instituições relativos a risco ou risco em
potencial à saúde humana e meio ambiente [...] seu propósito é
diferenciado, pois é uma situação que envolve vários canais, vários
atores e é de duas vias (LUNDGREN e MCMACKIN, 1998, apud
MARCATTO, 2006:20)
Ruído de comunicação: “[...] nenhum sistema de comunicação está
isento da possibilidade de erros. Todas as fontes de erros são
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agrupadas sob a mesma denominação de ruído [...] [de comunicação].”
(PIGNATARI, 2008)
Percepção do risco: A percepção que os atores têm de algo que representa um risco para eles
próprios, para os outros e seus bens, e contribui para construir o entendimento sobre determinado
risco que não depende unicamente de fatos ou processos objetivos.
Diante da análise das 27 matérias da Folha de São Paulo sobre a Shell Vila Carioca, evidencia-se o
fluxo frágil de informações qualificadas sobre o caso. Observou-se que em 66% das matérias, havia
algum tipo de ruído de comunicação. Dentre essas, quatro demonstram confusão entre risco e perigo.
Abaixo, um dos exemplos de confusão entre risco e perigo:
“A Shell sustenta que os estudos ambientais realizados não apontam
perigo para a população vizinha, mas não descarta fazer exames de
saúde na região.[...]” (VIVEIROS, 2002 A) (grifo das autoras)
A responsabilidade dos agentes de informação na questão ambiental é ainda incipiente para a grande
maioria dos profissionais de comunicação. Para Sarah Chucid Via (1993), “[...] o tema passará a
integrar cada vez mais o cotidiano da humanidade e os formadores de opinião, que, atuando como
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agentes de informação e até de educação, devem tomar consciência da grande responsabilidade
sobre seus ombros” (CHUCID VIA apud CALDAS, 2005; MARCATTO, 2006, p. 17).
Caldas (2005) coloca que “é inegável que o profissional da comunicação exerce um papel
fundamental na interface entre ciência e sociedade [...].” Aponta ainda que para evitar o
sensacionalismo e distorções das informações, “[...] é preciso que jornalistas e cientistas percebam
que o laboratório da sociedade é muito maior e mais complexo que o de uma instituição de pesquisa
ou de uma redação de jornal.” (CALDAS apud MARCATTO, p. 18). Uma das primeiras matérias sobre
o assunto aponta já para o perigo existente (sic), de forma sensacionalista:
“A contaminação ameaça até 30 mil pessoas que trabalham na unidade
ou vivem num raio de 1 km da área, [...]” (VIVEIROS, 2002 B)
Essa função emotiva da linguagem, que se caracteriza quando o emissor da mensagem expressa
sua opinião sobre determinado assunto, ou ainda essa função apelativa, quando o objetivo deste
emissor é influenciar de forma negativa, agrava o comportamento do receptor da mensagem, e tem
como consequência a construção de uma percepção de risco inadequada.
Por outro lado, a população, por desconhecer o assunto, tende a ser receptor passivo, percebendo
riscos e mesmo perigo de forma não científica. Segundo Guivant (2204), “[...] os riscos percebidos
pelos leigos não necessariamente correspondem aos riscos reais, analisados e calculados pela
ciência [...].” (GUIVANT apud MARCATTO, 2006, p.142).
Cerca de 20% das matérias apresentaram a possibilidade de algum ruído de comunicação, isto é, a
falta de clareza da informação pode dificultar o entendimento do caso.
“O subsolo e as águas subterrâneas da unidade da Shell e das ruas
residenciais [...] estão contaminados por pesticidas (drins) e
hidrocarbonetos tóxicos, conforme relatório da CSD Geoclock [...] estima
em até 30 mil o número de pessoas potencialmente afetadas pela
contaminação.” (VIVEIROS, 2002 D)
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Verifica-se aqui, além da questão do número de pessoas contaminadas (ruído de comunicação), a
possibilidade de ser fantasiada pelo o leitor desavisado a facilidade de ser apresentado o nexo causal
entre o contaminante e as doenças da população residente no entorno e também nos trabalhadores
da Shell Vila Carioca.
O estabelecimento de mecanismos para realizar a necessária transferência de informação, possibilita
o envolvimento daqueles que, de outra maneira, ficariam excluídos. Haveria a necessidade do
envolvimento de um ethos, um logos e um pathos para a adequada comunicação. No trecho do artigo
abaixo, verifica-se a importância da função metalinguística, aquela que utiliza o código para explicar o
próprio código, isto é, a necessidade de ser explicado o impacto socioambiental da utilização de água
contaminada.
“Os poços da lista da Vigilância ficam no Condomínio do Conjunto Auri
Verde e nas indústrias [...].” (DURAN, 2002)
Existe, nas imediações da Shell Vila Carioca, na porção leste, uma ocupação de baixa renda, a qual
não foi sequer observada pelos técnicos da Secretaria de Estado da Saúde.
“[...] a poluição causada pelo enterramento de borras de combustível e
de pesticidas ultrapassou os muros da empresa e levou para as águas
subterrâneas da parte residencial do bairro pesticidas e hidrocarbonetos
tóxicos [...].” (VIVEIROS, 2002 C)
Qual seria o real papel da mídia nesse caso? Partindo do pressuposto que o jornalismo tem uma
função social, ele deve ser usado como ferramenta para pressionar o poder público a cumprir a lei,
bem como informar a população de maneira clara sobre os riscos e os perigos aos quais ela está
exposta, sem causar alarde.
Para John A. Hannigan, autor do livro “Sociologia ambiental – a formação da perspectiva social”
(HANNIGAN, 1995), o problema ambiental constitui-se como tal a partir do momento em que é
percebido pelos diferentes atores envolvidos. Nesse sentido, a reportagem, ao revelar o problema
ambiental, cumpriu em parte a sua função social, pois tornou conhecido o problema para quem o
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vivenciava sem saber. Deu voz aos técnicos de órgãos envolvidos com as questões ambientais e de
saúde, à Justiça, à empresa e ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. No
entanto, provocou alarde à população, principalmente aos moradores do entorno da unidade da Shell
na Vila Carioca (MARCATTO, 2005).
“Essa comunicação na grande imprensa evidencia a ameaça à saúde
humana para até 30 mil pessoas, isto é, a informação da existência de
perigo para essas pessoas. Cria, com o impacto a notícia, o nãoentendimento dos moradores do entorno da empresa” (p. 103).
O caso, publicado na mídia, surpreendeu muitos moradores da região.
“Caiu pra gente como uma bomba. Jamais poderia imaginar que
tínhamos esse problema, pois nossa água vinha do poço. Esse
problema é cancerígeno, está todo mundo desesperado, qualquer
doença, já achamos que é da contaminação (...)” (MARCATTO, p. 104).
Embora tenha causado ruído comunicacional, o fato de ter sido publicado (o caso da contaminação
da Shell) na imprensa facilitou a disseminação da informação. Um técnico do sistema ambiental
também destacou a importância de a grande imprensa ter noticiado o fato.
“(...) Foi por Deus que isso aconteceu, porque senão as pessoas
estariam expostas à contaminação. Talvez se isso não tivesse vazado
da forma como vazou para a imprensa, e se não tivesse feito todo esse
estardalhaço, nós não saberíamos que tinha gente tomando água
contaminada no condomínio Auriverde (...)” (MARCATTO, P. 105).
4.2. Qualidade da abordagem
Considerando os princípios de que a cobertura ampla defendida pela sociologia ambiental deve trazer
diferentes visões e olhares sobre o mesmo tema, estabelecendo a inter-relação entre eles, ampliar o
número de fontes do chamado “lado e outro lado” em direção a uma polifonia é fundamental. Por isso,
houve uma categorização, onde as matérias foram divididas em três tipos no que se refere à
qualidade da abordagem, de acordo com o número de fontes ouvidas. Das 27 matérias analisadas, a
maioria – 12 – ficaram na categoria “Ruim” (com uma ou duas fontes ouvidas); 7 na categoria
“Razoável” (três ou quatro fontes), e 8 na categoria “Bom”, com 5 ou mais fontes ouvidas, conforme
gráfico abaixo.
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Saber o número de fontes ouvidas em uma matéria jornalística é um bom indicador sobre a
abrangência da mesma, mas é importante que esse dado possa ser correlacionado com outro, que
indique quem são as fontes mencionadas nas matérias (VIANNA e GÜNTHER, 2008, p: 415).
Vale ressaltar que o fato de uma fonte ser mencionada, não quer necessariamente dizer que ela foi
ouvida. É o caso, por exemplo, da matéria “TJ nega pedido para que Shell faça exames”, publicada
na Folha de S.Paulo em 5 de junho de 2002, cujo nome do autor não foi publicado. Categorizada
como qualidade de abordagem “Ruim”, por ter ouvido apenas uma fonte (O juiz Clímaco de Godoy,
do Tribunal de Justiça de São Paulo), a matéria menciona outras três fontes de dois segmentos da
sociedade: a Shell, representando a empresa; e Promotoria de Meio Ambiente e a 10ª Vara da
Fazenda Pública, ambas, representando o poder judiciário.
O quadro abaixo corrobora a percepção do sociólogo ambiental John Hannigan (1995) sobre um dos
desafios internos, enfrentados nas redações, diante da complexidade da cobertura jornalística sobre
as questões ambientais. Trata-se, especificamente, das fontes de informação, que são geralmente
aquelas que conseguem integrar uma pequena lista de fontes confiáveis, às quais os repórteres
mantem-se fiéis. Neste caso, não foi diferente. Nas 27 matérias analisadas, as principais “vozes”
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encontradas foram de pessoas com papéis oficiais, como políticos, chefes de agência
governamentais e representantes da Justiça.
Ouvir representantes de diferentes segmentos da sociedade envolvidos com a temática tem muito a
somar e contribuir para a qualidade da matéria (VIANNA E GÜNTHER, 2008, p: 415).
Com base nos dados apresentados acima, podemos inferir que a mídia, na maioria dos casos, ainda
se detém aos dados oficiais e técnicos, deixando de lado outros olhares e perdendo a oportunidade
de promover uma contextualização mais ampla da temática abordada, sob a ótica, por exemplo, de
um cenário nacional sobre o tema, ou dos impactos econômicos de uma área contaminada, ou de
uma análise histórica, mais aprofundada, sobre o gerenciamento de riscos, ou ainda sobre estudos
científicos envolvendo relações de causa e efeito entre contaminação e riscos à saúde.
No universo de 27 matérias analisadas, o segmento Academias/Estudos foi citado em apenas três
casos, mas em nenhum deles os representantes da academia foram ouvidos. Para exemplificar, a
matéria “Teste revela contaminação de moradores”, de autoria de Afra Balazina e José Ernesto
Credencio, publicada em 20 de junho de 2006, menciona a Unifesp (Universidade Federal de São
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Paulo) apenas no contexto da parceria firmada que a instituição firmou com a Prefeitura de São Paulo
para a instalação de um posto do Programa de Saúde da Família na Vila Carioca:
“[...] Segundo a coordenadora de saúde da região sudeste, Edjanne
Torreão, "todos que foram ao posto [de saúde Joaquim Rossini]
receberam o resultado dos exames." Ela afirma que, em dois meses e
meio, o atendimento do PSF (Plano de Saúde da Família) deve começar
na Vila Carioca. "Já iniciamos a identificação de um imóvel no local. E a
Unifesp [Universidade Federal de São Paulo] será nossa parceira."
(BALAZINA e CREDÊNCIO, 2006)
Neste caso, vale ressaltar que a cobertura dita “burocrática”, que leva em conta as fontes oficiais e se
acomoda nas sugestões de pauta que chegam prontas às redações, não é responsabilidade apenas
do repórter. O fato de ele fazer uma cobertura burocrática sobre um problema ambiental não significa
que ele seja insensível. Pesquisadores em comunicação apontam para uma crise que assola as
redações e têm origens das mais diversas (VIANNA e GÜNTHER, 2008).
No livro Meio ambiente no século XXI, André Trigueiro cita uma idéia do professor Ciro Marcondes
Filho de que “os registros dos fatos e dos acontecimentos ocorrem num ritmo cada vez mais frenético
que vem determinando mudanças até no perfil do jornalista”. Para Marcondes Filho, “bom jornalista
passou a ser mais aquele que consegue, em tempo hábil, dar conta das exigências de produção de
notícia do que aquele que mais sabe ou que melhor escreve” (MARCONDES FILHO apud
TRIGUEIRO, 2003: pg.78). Na mesma linha de raciocínio, Trigueiro também cita uma frase marcante
do escritor e poeta argentino Jorge Luiz Borges: “Para a imprensa o agora é o ápice do tempo”.
A maior parte do noticiário veiculado na grande mídia traz informações
que envelhecem rápido, que são relevantes apenas para o dia de hoje
(...). Esse senso de urgência torna a matéria-prima do jornalismo, a
notícia, uma substância volátil como o éter, que se dilui rapidamente no
ar, ou, como diz o velho ditado sobre o melancólico destino da página de
jornal que “amanhã só serve para embrulhar peixe” (TRIGUEIRO, 2003,
p: 79).
4.3. O que gera a notícia
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A proposta, nesta etapa, foi de verificar o que gerou as 27 matérias analisadas no presente artigo. A
cobertura de entrevistas coletivas ou notícias decorrentes de um contato cotidiano, já estabelecido
entre fonte e repórter, para informar questões pontuais foram categorizadas como factual. Já as
matérias mais elaboradas, com diversas fontes e com uma abordagem mais aprofundada foram
categorizadas como investigação jornalística. Do universo de matérias e notas analisadas, a grande
maioria – 82% – foi classificada como factual.
Isso denota a existência da crise que se precipita sobre as redações e o próprio jornalismo, qual seja,
a acomodação diante da pauta. O jornalismo investigativo, questionador, engajado, como defendem
as premissas do jornalismo ambiental, hoje é raro nas grandes redações. Ele deu lugar, salvo
exceções, a um jornalismo mais burocrático (VIANNA e GÜNTHER, 2008).
5. Conclusões e Considerações Finais
O fato de a população do entorno da unidade da Shell do Brasil S.A., na Vila Carioca, ter sabido do
problema da contaminação do solo e da água por meio da mídia – e não pelas autoridades
diretamente envolvidas nas investigações – demonstrou que o modelo de fiscalização e de controle
das questões ambientais no Estado de São Paulo não propicia de fato uma gestão socioambiental
eficaz. No entanto, a primeira reportagem, publicada em 20 de abril de 2002, revelou o problema
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ambiental, cumprindo, pelo menos em parte, a sua função social, embora não o tenha feito da melhor
forma, pois causou alarde na população.
Na construção dos problemas ambientais, os meios de comunicação social são atores importantes,
mas não são os únicos. Diante do alarde que a primeira notícia causou, como ficou claro na
declaração de um dos moradores à pesquisadora Flávia Marcatto (2005, p: 104) – “caiu pra gente
como uma bomba (...) Esse problema é cancerígeno, está todo mundo desesperado, qualquer
doença, já achamos que é da contaminação (...)” – pode-se inferir que a população deveria ter sido
informada anteriormente por outros atores sociais, como representantes dos órgãos públicos
responsáveis pelas questões ambientais e de saúde do município de São Paulo e/ou do Estado de
São Paulo. Como mostra a reportagem, todos já sabiam do ocorrido, tanto que o caso já estava na
Justiça.
A grande imprensa em geral, e o jornal Folha de S.Paulo, em particular, ainda possuem enormes
desafios a enfrentar para cumprir de maneira adequada o papel social dos meios de comunicação na
construção dos problemas ambientais e na manutenção dos mesmos nas pautas cotidianas dos
jornais. Os desafios vão desde questões simples, como usar com exatidão e clareza conceitos como
“risco” e “perigo”, até o enfrentamento de dilemas associados ao próprio processo de fazer notícia,
como conseguir vencer fatores de produção, que envolvem a pressa, o imediatismo e, por vezes, o
sensacionalismo, para obter uma abordagem mais ampla e diversificada das questões ambientais,
com diferentes olhares e que atenda à complexidade que os problemas ambientais exigem.
A Folha de S.Paulo, que na primeira matéria, publicada em 20 de abril de 2002, havia alardeado que
30 mil pessoas poderiam ser afetadas pela contaminação, afirmou, em junho de 2006, que o bairro
possuía 6.500 moradores, e que apenas 198 tiveram necessidade de passar por exames médicos.
“Treze anos após o primeiro inquérito para apurar a contaminação de
uma área da Vila Carioca, na zona sul de São Paulo, pela Shell, um
relatório da Secretaria Municipal da Saúde apontou que 73 das 198
pessoas analisadas apresentam pesticidas potencialmente cancerígenos
no organismo. O bairro tem 6.500 moradores” (2006).
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O jornalista Washington Novaes, durante uma palestra proferida no Fórum Petróleo, Meio Ambiente
& Imprensa, realizado em Salvador, na Bahia, em março de 2004, resumiu bem os desafios que
envolvem a cobertura jornalística das questões ambientais:
“Praticar o jornalismo ambiental, com um olhar ecológico, sistêmico e
inter-relacional, exige disposição e esforço. (...) a questão ambiental é
ameaçadora para todos: para os governos, para o setor produtivo, e
também para as grandes empresas de comunicação social, que terão de
mudar o modo de fazer jornalismo, “deixando de lado o jornalismo de
espetáculo, cinema e crise”. Novaes vai além e destaca que “a cobertura
das questões ambientais representa também uma ameaça para os
jornalistas, que terão de mudar a sua visão de mundo, mudar hábitos, e
isso não é fácil”.
6. Referências Bibliográficas
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da teoria social na abordagem da saúde ambiental”. São Paulo, 2005 (Tese de Doutorado da
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