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Classificação do artigo 25 nov 2014
O Globo
Espanha prende três padres por
pedofilia
Abusos foram denunciados em carta enviada ao Papa Francisco. Vaticano atuou
por punição a acusados
“As práticas sexuais mais frequentes iam desde massagens a masturbações e beijos na boca”
Daniel Jovem (nome fictício) hoje com 24 anos, vítima de abusos dos 13 aos 18, em trecho de carta enviada a
Francisco, na qual relembra como foi molestado
­ GRANADA, ESPANHA­ A polícia espanhola prendeu ontem quatro pessoas acusadas de cometer
abusos sexuais contra menores, incluindo três padres de um grupo ultraconservador conhecido como “Os
Romanones” e um leigo. Este, segundo a agência Efe, é um professor de religião muito próximo aos
sacerdotes detidos. As prisões foram ordenadas pelo juiz Antonio Moreno Marín, titular do Juizado de
Instrução número 4 de Granada, na Andaluzia, que investiga caso denunciado por um jovem em carta de
sete páginas enviada ao Papa Francisco. O pontífice estaria atuando pessoalmente no caso, inclusive com
telefonemas diretos para a vítima.
REPRODUÇÃO DA INTERNET
Perdão. O arcebispo de Granada, Francisco Javier Martínez (no centro), reza na missa de
domingo: ele pediu perdão e, após investigação interna, afastou os sacerdotes acusados
Segundo o diário espanhol “El Mundo”, os religiosos presos são Román V., padre descrito pelo delator
como “o diretor”; Manuel M. M., que substituiu Román à frente do grupo há três anos; e Francisco Javier
C. M. O leigo foi identificado como Sergio Q. M. Os presos estão na Sede da Polícia da Andaluzia Oriental,
em Granada, e, por determinação judicial, permanecem incomunicáveis. Outras oito pessoas são
investigadas, sendo sete religiosos e um leigo.
Daniel ( nome fictício adotado pela imprensa local para se referir à vítima), hoje com 24 anos, relatou
em sua carta ter sofrido abusos sexuais constantes entre os 13 e 18 anos, quando era coroinha na
paróquia granadina de Juan María de Vianneimeno. A motivação para escrever a carta foi o “possível dano
que outros meninos e meninas poderiam estar sofrendo”.
SACERDOTES CAUSARAM ‘MUITO DANO’
Na carta, Daniel diz ao Papa que os sacerdotes causaram “muito dano” a ele e, pelo menos, a “outras
quatro pessoas”. Ao longo das sete páginas, detalha sua longa trajetória na paróquia, onde fez catequese
e comunhão com apenas 7 anos. A intensa atividade paroquial fez “aumentar sua confiança e
proximidade com Román”. Com o tempo, o jovem passou a visitar com frequência a casa paroquial, onde
passava fins de semana completos.
“Ele me convenceu de que, se existia a possibilidade de eu ter vocação, deveria participar muito mais
da vida entre eles e ir deixando pouco a pouco a minha família”, escreveu. “As práticas sexuais mais
frequentes iam desde massagens a masturbações e beijos na boca”.
Daniel sustenta que manteve relações com ao menos três dos sacerdotes e um leigo e indicou os
nomes ao Papa. “O resto dos sacerdotes não vi participar, mas estavam informados do que se fazia na
habitação desse homem”.
“Querido Santo Padre, este tema é de uma gravidade considerável. Desde que saí, com 18 anos,
jamais pensei que informaria este caso a alguém, mas me preocupa que essas práticas estejam sendo
feitas com uma amiga minha. Sei que esta carta pode ser motivo de escândalo. Não busco nada para
mim, mas me preocupa que esses senhores possam estar arruinando a vida de outros jovens”, escreveu
Daniel.
Em comunicado, Jorge Aguilera González, advogado que representa o jovem, afirma que ele agradece
“publicamente ao Santo Padre Francisco por seu apoio e afeto”. Segundo o diário “El País”, o caso de
Daniel poderia ter caído no esquecimento, não fosse a “atuação direta” do Papa. Ao tomar conhecimento
da denúncia, Francisco telefonou pessoalmente para a vítima a fim de pedir perdão em nome da Igreja e
oferecer apoio espiritual, além de incentiválo a levar o caso à Justiça. Em um segundo telefonema, o Papa
convidou Daniel a participar de reuniões da comissão de peritos que o Vaticano instaurou para investigar
casos de pedofilia na Igreja.
RELIGIOSOS FORAM AFASTADOS
Pressionado pelo Vaticano, o Arcebispado de Granada abriu investigação interna e, após “trâmites
estabelecidos para verificar se a acusação seria verossímil”, retirou os suspeitos do “exercício do ministério
sacerdotal”. No domingo, o arcebispo de Granada, Francisco Javier Martínez, pediu perdão pelos
“escândalos” da Igreja. Antes do início da missa, ele, acompanhado por outros sacerdotes, permaneceu
imóvel por vários minutos em frente ao altar. Durante a cerimônia, Martínez afirmou que “os males da
Igreja são os males de cada um de nós”, mas ressaltando que são “mais dolorosos” quando em nome de
uma confiança sagrada.
— É uma ferida dolorosíssima em Cristo — afirmou.
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