Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2013 INTRODUÇÃO Em resposta ao aparecimento de espuma castanha escura e densa na Baia da Ilha Grande, foram realizadas vistorias e coletas na região de Angra dos Reis e Paraty, nos dias 31/10, 02/12, 04/12 e 09/12/2013, pelos técnicos do INEA e IBAMA. As vistorias e as coletas de amostras foram realizadas visando buscar subsídios para esclarecer as causas da grande quantidade de espuma que surgiu na região e se existe algum risco a saúde da população. ANÁLISE DOS RESULTADOS Em função do aparecimento das espumas, as primeiras denúncias foram direcionadas para as Usinas Nucleares – Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto – CNAAA, nesse sentido, foram realizadas no dia 31/10/2013 a vistoria e a coleta de amostras na Praia de Itaorna (local de captação de água pelas Usinas) e Saco de Piraquara (local de descarte pelas Usinas). Durante a vistoria, foi percebido um grande volume de espumas, especialmente na praia Brava, sendo realizada mais uma coleta. Segue em anexo os laudos de análise destas coletas (Ensaio GELAB nº1809/13). Comparando-se os valores encontrados para os parâmetros físico-químicos e bacteriológicos com os limites estabelecidos para a classe 01, das águas salinas da Resolução CONAMA 357/2005, verifica-se um corpo d’água com boas condições de qualidade, ocorrendo a extrapolação apenas para o parâmetro fósforo total. Entretanto, ressalta-se que a violação deste parâmetro isoladamente não justificaria o grande volume de espuma encontrado na região. Analisando os resultados encontrados para DBO no ponto 02 (entrada), notase um valor elevado de matéria orgânica na água, 32 mg/L, próxima a captação das usinas em Itaorna. No entanto, quanto à análise da comunidade fitoplanctônica (quantitativo e qualitativo) observa-se a presença de Dinoflagelados, Diatomáceas e Silicoflagelados, não apresentando predominância (> 70%) em nenhuma das espécies analisadas, não se caracterizando formação de florações de algas. Em função da persistência da espuma na região de Angra dos Reis e Paraty, foi programada uma amostragem no dia 02/12/2013, tanto no interior das Usinas, quanto da água em Saco de Piraquara e Praia de Itaorna, assim como da espuma bruta na zona de suspiro em saco de Piraquara (Ensaio Água - GELAB nº 1897/13 e Ensaio Efluente - 1899/13 ). Para as Estações de Tratamento de Esgotos das duas Usinas, foram obtidos resultados condizentes com a operação normal das estações com exceção dos valores encontrados para Nitrogênio Amoniacal Total e Cor Verdadeira. Neste sentido, destaca-se que a vazão destes efluentes são muito baixas (5m3/dia) quando comparadas com a vazão total (117m3/s) da água de resfriamento. Em relação aos parâmetros analisados no corpo d’água no dia 02/12, não foram detectados resultados fora dos limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005. Para determinar a possível toxicidade da espuma, foi realizada nova coleta no dia 04/12/2013, na praia de Itaorna e Saco de Piraquara (Ensaio GELAB 1923/13 e Laudo LABTOX 0920 e 0921 MJA). Nas análises realizadas no corpo d’água, foi encontrado valor elevado somente para Nitrogênio Amoniacal Total no Saco de Piraquara. No contexto, vale destacar que tanto na coleta do dia 02/12, quanto no dia 04/12, foram observados valores elevados de DBO no ponto localizado em Saco de Piraquara, caracterizando matéria orgânica no local. Ressalta-se que, em todas as análises realizadas foram detectados valores dentro dos padrões da resolução CONAMA 357/05 para MBAS (surfactantes aniônicos), corroborando a ausência de possíveis substâncias tensoativas (detergentes) na água. Em relação aos Óleos e Graxas não foram observadas iridescências durante as vistorias e amostragens realizadas. Quanto a análise de toxicidade aguda realizada, ambas as amostras, de Itaorna e de Saco de Piraquara, não apresentaram efeito agudo para M. juniae, apresentando efeito não tóxico sobre a biota. No dia 05/12, foi relatado pela Eletronuclear, o surgimento de florações de algas avermelhadas, com grandes proporções em regiões mais distantes à Baía da Ilha Grande, e levantadas suspeitas de que estas florações poderiam estar associadas a matéria orgânica encontrada na Baía da Ilha. Desta forma, foi realizada nova vistoria e coleta em conjunto com a UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), no dia 09/12, específica para verificar possíveis florações na costa e se haveria influência da mesma na formação da espuma. Nesta campanha foi observada uma mancha de coloração vermelha intensa na baía de Ilha Grande, próxima ao Saco de Piraquara, sendo coletada uma amostra desse material e analisada pela UERJ (Ensaio UERJ/IBRAG – Profa Dra. Patrícia Domingos). Os resultados revelaram elevada densidade de Mesodinium rubrum, destacando que esses organismos não são produtores de toxinas. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 1. Sobre a CNAAA - As águas de resfriamento da Central Nuclear (circuito terciário) que tem a sua captação em Itaorna e lançamento em Saco de Piraquara, não tem contato direto com as águas do circuito primário e secundário das Usinas, portanto são insignificantes os riscos de contaminação com materiais radioativos. - Para as águas de resfriamento, outros aspectos também possuem relevância ambiental, tais como o incremento de temperatura (cerca de 8ºC), o acréscimo de Hipoclorito de Sódio para controle de cracas, a alta vazão utilizada (cerca de 117 m³/s), e o lançamento anual de efluente contendo amônia e hidrazina (previamente tratado). Cabe relevar que os últimos lançamentos de efluentes contendo hidrazina e amônia ocorreram em janeiro e maio de 2013, durante as paradas de manutenção de Angra 1 e Angra 2, respectivamente. - Devido ao alto grau de turbilhonamento gerado pelo sistema de bombeamento de água de resfriamento da Central Nuclear e a natural presença de matéria orgânica dissolvida na água do mar captada, há o estabelecimento das condições necessárias para a formação de espuma em pequenas quantidades, inerentes ao processo. - As espumas formadas saem por respiros do tanque de selagem e são lançadas no canal sul da CNAAA, o qual desemboca no molhe de Itaorna, onde ocorre a captação. Este processo possibilita que a espuma formada no tanque de selagem seja captada na tomada d'água das Usinas, permitindo sua recirculação. A formação e recirculação de grandes volumes de espuma pode possibilitar a concentração da mesma no sistema, que num estágio crítico, induziria sua saída em Piraquara de Fora, conforme observado em vistorias do IBAMA e do INEA. - Releva-se que os efluentes gerados pela Central Nuclear, incluindo-se os de esgotamento sanitário, químicos, e oleosos não possuem capacidade de alteração significativa nos teores de matéria orgânica dissolvida nas águas marinhas após lançamento, considerando para tanto suas vazões reduzidas e sistemas de tratamento associados. - Destaca-se a Carta P n° 431/2013, encaminhada ao IBAMA em 10/12/2013 pela Eletronuclear, onde se informa que não houve nenhuma alteração no sistema operacional das Usinas durante o período de ocorrência de espuma na BIG e no entorno da Usina. 2. Sobre as espumas no mar e florações de algas na costa - Durante a vistoria foram constatadas várias evidências que indicavam algum tipo de floração de algas tanto no interior da baía da Ilha Grande quanto na área marinha adjacente. - Espumas são naturalmente geradas no mar por uma associação de fenômenos meteorológicos e oceanográficos, são muito comuns após ressacas e entradas de frentes frias. - No dia 31/10/2013, foram observados em vistoria, aspecto viscoso na água e na espuma, foi detectada uma mucilagem na espuma e na água superficial e odores característicos de floração e decomposição de algas. Seguida de análises laboratoriais, que demonstraram uma elevação nas concentrações de matéria orgânica na água no local de captação da água da Usina e baixos teores na região próxima a saída. - Nos dias 02 e 04/12/2013, notou-se uma redução na dimensão e extensão da presença de espuma na Baía da Ilha Grande. Verificou-se ainda que as análises laboratoriais apresentaram situação inversa da anterior, com concentrações de matéria orgânica mais elevadas na região no entorno da saída da água de refrigeração da Usina. - No dia 09/12/2013, foram realizadas novas vistorias, detectando-se diversas florações ao longo da Costa Litorânea (de Paraty a Mangaratiba), sendo observada uma mancha avermelhada na baía de Ilha Grande, sendo coletada uma amostra desse material, revelando a presença de Mesodinium rubrum. CONCLUSÕES Diante do exposto acima, visto os resultados e vistorias realizadas, considerase que os principais fatores que contribuíram para este evento de formação de espumas são: - A Mucilagem, decorrente da decomposição da comunidade fitoplânctônica (florações de algas), que eleva a concentração de matéria orgânica na água, liberando ainda nitrogênio e fósforo para a água, o que alimenta o processo de geração de espumas. - O turbilhonamento natural (ondas) associado aos fenômenos oceanográficos (ventos, marés, ressacas), favorece a formação de espumas. Destaca-se que ocorreram duas entradas de frente frias com ressaca em período anterior ao evento. Sobre a interferência da CNAAA no evento, observa-se que no processo de resfriamento há muito turbilhonamento e aumento de temperatura, o que associado às condições de muita mucilagem na água, pode contribuir para a formação de espumas na saída em Piraquara. Conforme já relatado no Relatório DMAS.O 075/12 (encaminhado pela Eletronuclear em 03/10/2012 ao IBAMA, em decorrência do licenciamento ambiental executado); na Informação/ESEC Tamoios n° 020/2013; e no Relatório DMAS n° 90/2013 da Eletronuclear (decorrente das NOTIFICAÇÕES 385.368/B e 385.369/B aplicadas em 02/11/13 pelo Escritório Regional do IBAMA em Angra dos Reis), a formação de espuma no mar ocorre naturalmente, havendo as condições ambientais favoráveis. Posto isto, constata-se que a maior quantidade de espuma formada no sistema de resfriamento da CNAAA somente pode ser explicada por alteração nos teores de matéria orgânica das águas captadas, ou seja, um efeito decorrente de uma variável externa à operação das Usinas, visto que não houve alteração na operação das usinas no período em discussão. Conclui-se que, com base em todos os resultados das analises realizadas na água e na espuma, não foram encontrados efeitos de toxicidade sobre a biota, nem risco à saúde humana. Esta conclusão é corroborada pelas evidências apresentadas pela FIPERJ e Secretaria Municipal de Pesca e Maricultura de Angra do Reis nas audiências realizadas nas Câmaras Municipais de Paraty e Angra dos Reis, quanto a estatística pesqueira, pois não foram constatados relatos de mortalidade de peixe nem redução dos volumes pesqueiros capturados.