RELAÇÕES DE FATORES AMBIENTAIS DE HABITATS FÍSICOS E
QUÍMICOS NA RIQUEZA, DISTRIBUIÇÃO E CONTEÚDO ALIMENTAR
DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS EM RIACHOS DE
CABECEIRA NO CERRADO
Wander Ribeiro Ferreira
Este estudo é parte dos resultados do projeto “Desenvolvimento de índices de integridade biótica para
avaliação de qualidade ambiental e subsídio para a restauração de habitats em áreas de soltura de alevinos
(IBI)", desenvolvido em parceria entre o Peixe Vivo, UFMG, UFLA, CEFET-MG e PUC-Minas.
O presente estudo teve como objetivos:
- avaliar a importância de habitats físicos e variáveis de qualidade de água na explicação da riqueza de
gêneros de macroinvertebrados aquáticos das Ordens Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT) em
riachos no Cerrado Mineiro e usar as informações levantadas para o melhor manejo de riachos de cabeceira
e sua bacia de drenagem;
- avaliar a dieta de larvas de insetos aquáticos do gênero Phylloicus (Trichoptera: Calamoceratidae invertebrado típico fragmentador de folhas), relacionando a composição dos itens alimentares com métricas
ambientais de habitats físicos nos riachos a montante dos reservatórios de Nova Ponte e Três Marias.
Metodologia
O estudo foi conduzido em 80 riachos pertencentes às bacias hidrográficas do alto rio São Francisco, em
Três Marias, e alto rio Araguari, em Nova Ponte, em Minas Gerais. As medidas de habitats físicos nos
riachos foram realizadas em campo de acordo com o protocolo desenvolvido pelo US-EPA (Agência de
Proteção Ambiental Americana).
Em cada trecho (mínimo de 150 metros) foram avaliadas as características de habitats físicos como largura
molhada, profundidade, leito sazonal, presença e cobertura de dossel arbóreo, margens escavadas, árvores
e galhos caídos, detritos vegetais e banco de folhas.
Nesses trechos foram realizadas amostragens de macroinvertebrados bentônicos com auxílio de um
amostrador do tipo “D-net” (30 cm de abertura, malha de 500 µm e área de 0,09 m2) totalizando 1 m2 de
área amostrada por trecho de riacho.
As amostras foram levadas ao Laboratório de Ecologia de Bentos/ICB, da UFMG, onde foram lavadas e os
organismos foram triados e identificados. Para a análise de conteúdo alimentar, exemplares de larvas de
Phylloicus (90 indivíduos) foram dissecados e seus conteúdos estomacais analisados e quantificados em
seis categorias:
- MOPG – matéria orgânica particulada grossa, > 50 µm*;
- MOPF – matéria orgânica particulada fina, < 50 µm;
- algas;
- tecidos animais – restos de carapaças;
- tecidos vegetais – partes vasculares de plantas e
- minerais.
Em seguida, os dados obtidos de riqueza de EPT e dieta de larvas de Phylloicus foram relacionados
estatisticamente com as variáveis ambientais de habitats físicos e qualidade de água.
Principais resultados
As métricas de habitats físicos que melhor explicam a riqueza e distribuição de macroinvertebrados
bentônicos, das ordens EPT, nos riachos em Nova Ponte foram a declividade média do canal e presença de
tufos de algas filamentosas como abrigo.
Por outro lado, nos riachos na bacia de Três Marias, as métricas foram a porcentagem de trechos de água
corrente lenta e teores de oxigênio dissolvido.
A análise conjunta dos dados nas duas bacias aponta que as métricas que melhor explicam a riqueza e
distribuição dos macroinvertebrados bentônicos foram a largura média do leito sazonal (nível máximo do rio)
e a porcentagem de pedras no substrato.
Em relação à dieta das lavas de Phylloicus, nos riachos na bacia de do reservatório de Nova Ponte, esses
organismos comeram maior quantidade de MOPF, mais de 90%, exibindo comportamento de organismos
que se alimentam de detritos finos (coletores-catadores).
*micrometro
Informe Técnico Peixe Vivo - nº 7 - junho de 2015 - Projeto:Desenvolvimento de índices de integridade biótica para avaliação de qualidade ambiental e
subsídio para a restauração de hábitats em áreas de soltura de alevinos
RELAÇÕES DE FATORES AMBIENTAIS DE HABITATS FÍSICOS E
QUÍMICOS NA RIQUEZA, DISTRIBUIÇÃO E CONTEÚDO ALIMENTAR
DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS EM RIACHOS DE
CABECEIRA NO CERRADO
Wander Ribeiro Ferreira
Por outro lado, nos riachos na bacia do reservatório de Três Marias, esses organismos também comeram
maior quantidade de MOPF, mas também considerável quantidade de MOPG (acima de 40%), exibindo
comportamento alimentar mais generalista do tipo fragmentadores-detritívoros.
As principais métricas ambientais de habitats físicos relacionadas aos itens alimentares foram: MOPF;
largura média x profundidade média do canal e cobertura média de vegetação rasteira nas margens.
MOPG; cobertura média da vegetação rasteira e proporção de abrigo (pedaços de madeira grande). Algas;
média de vegetação rasteira no sub-bosque e cobertura média de vegetação rasteira. Tecidos vegetais;
densidade media da cobertura da copa no canal e cobertura ripária média. Tecidos animais; porcentagem
de material orgânico total e média de sub-bosque no transecto. Minerais; média de vegetação de subbosque no transecto e porcentagem de material orgânico total.
Os dados obtidos subsidiam, com informações, os tomadores de decisão e gestores ambientais nas bacias
dos reservatórios de Nova Ponte e Três Marias, possibilitando identificar áreas prioritárias para a
conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos no Cerrado brasileiro.
Ficha Técnica
Projeto de Doutorado no Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida
Silvestre na UFMG.
Doutorando: Wander Ribeiro Ferreira
Orientador: Prof. Marcos Callisto,
Equipe: Wander Ribeiro Ferreira, Prof. Marcos Callisto, Raphael Ligeiro, Diego Rodrigues Macedo,
Deborah Regina Oliveira, Kele Rocha Firmiano, Juliana Silva França, Carlos Bernardo Mascarenhas Alves.
Informe Técnico Peixe Vivo - nº 7 - junho de 2015 - Projeto:Desenvolvimento de índices de integridade biótica para avaliação de qualidade ambiental e
subsídio para a restauração de hábitats em áreas de soltura de alevinos
Download

acesse aqui