PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-graduação em Geografia Tratamento da Informação Espacial Sílvio José de Sousa Filho O PANORAMA DA SECA EM MINAS GERAIS: Estudo de Caso: Microrregião de Montes Claros. Belo Horizonte 2011 Sílvio José de Sousa Filho O PANORAMA DA SECA EM MINAS GERAIS: Estudo de Caso: Microrregião de Montes Claros. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Tratamento da Informação Espacial, como requisito inicial para obtenção do título de Mestre em Geografia. Orientador: Ruibran Januário dos Reis Co-Orientador: João Francisco de Abreu Belo Horizonte 2011 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais S725p Sousa Filho, Sílvio José de O panorama da seca em Minas Gerais: estudo de caso: microrregião de Montes Claros. / Sílvio José de Sousa Filho. Belo Horizonte, 2011. 174f.: il. Orientador: Ruibran Januário dos Reis Co-Orientador: João Francisco de Abreu Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial. 1. Secas. 2. Desastres. 3. Defesa Civil. 4. Chuvas. I. Reis, Ruibran Januário dos. II. Abreu, João Francisco de. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial. IV. Título. CDU: 551.577.3 "A ciência geográfica não pode desprezar o elemento histórico, se pretende ser verdadeiramente um estudo do território e não uma obra abstrata, uma moldura através da qual se veja o espaço vazio..." (Karl Ritter, 1833) Dedico este trabalho à minha mãe Dorinha, minha fortaleza, e referência de vida... À Flavia, ao nosso encontro, pelo amor, carinho e paciência. Ao meu filho Davi por existir em minha vida e fazê-la mais viva... AGRADECIMENTOS Ao Dr. Ruibran Januário dos Reis, orientador e Amigo, por acreditar no trabalho, incentivar a pesquisa e por todas as oportunidades de crescimento profissional e pessoal, com admiração. Ao Pós-Doutor João Francisco de Abreu, co-orientador, por acreditar em nosso trabalho e incentivar esta pesquisa, pela disponibilidade e convívio, obrigado pela confiança e pela deferência. À Pontifícia Universidade Católica, especialmente ao Departamento de Geografia Tratamento da Informação Espacial no nome do Dr. Alexandre Diniz pela confiança e oportunidade de desenvolver o trabalho em uma área tão rica e fascinante. A toda equipe do Programa de Tratamento da Informação Espacial em Especial aos Doutores Osvaldo Amorim, Leônidas e José Flávio, pela competência, excelência e elegância na arte de Ensinar. À equipe de apoio do Programa em especial à Fátima e Délio pela atenção, carinho e amizade a mim ofertado. Aos incansáveis Integrantes da Defesa Civil, Oficiais, Praças e Funcionários Civis, pela confiança na minha pessoa, por todo apoio ao meu trabalho, pelo engrandecimento diário na convivência. Minha enorme admiração e respeito. Aos meus familiares, especialmente, aos que já habitam o Oriente Eterno, meu Pai Sílvio e irmãos, Geraldo e Leonardo que sempre estarão vivos em minhas memórias... Muito obrigado! RESUMO As regiões norte e nordeste do Estado de Minas Gerais convivem com a redução das precipitações, com o atraso dos períodos chuvosos ou com a ausência de chuvas previstas para uma determinada temporada. A característica deste fenômeno climático é a queda dos índices pluviométricos para níveis sensivelmente inferiores aos da normal climatológica, comprometendo desta forma as reservas hidrológicas locais de superfície e de subsuperfície, fazendo com que os rios e riachos menores venham a secar, assim consequentemente têm causado falta de água para o consumo humano e animal, prejuízos à agricultura e à pecuária. Esta pesquisa tem como objetivo geral apresentar um panorama da seca em Minas Gerais, através da evolução dos registros de desastres relativos à seca promovidos pelos municípios mineiros no período de 2004 a 2010, pela caracterização das chuvas no Estado através de dados de pluviosidade e pelo perfil sócioeconômico das áreas afetadas, com um recorte na Microrregião de Montes Claros. Este trabalho apresenta informações que foram colhidas junto à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC cujos bancos de dados do período de 2004 a 2010, oferecem informações sobre os registros de Decretação de Situação de Emergência em virtude do Desastre Natural ligado à seca, concentrados na área de atuação do Instituto para o Desenvolvimento do Norte e Noroeste de Minas Gerais – IDENE e servem de base para a adoção de medidas de resposta por parte do Governo do estado para o socorrimento das comunidades afetadas pelo fenômeno.Apresentamos a caracterização das chuvas em Minas Gerais baseados na análise de séries históricas de dados diários de 490 estações pluviométricas, colhidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa e disponibilizadas através do Boletim de Pesquisa dos índices Pluviométricos, 2010, a partir da qual foram geradas informações espaço-temporais e mapas representando os índices pluviométricos. Os dados produzidos pelo referido Boletim Técnico foram re-processados pelo autor com o objetivo de se apresentar uma melhoria cartográfica.E por último, para traçar o perfil sócio-econômico das áreas afetadas, buscou-se informações junto aos bancos de dados eletrônicos do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, baseado nos microdados dos censos de 1991 e de 2000 do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), através das informações sobre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e 124 outros indicadores georreferenciados de população, bem como do Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS 2009 gerenciado pela Fundação João Pinheiro - FJP, base esta que contempla todos os municípios do Estado de Minas Gerais e contém indicadores relacionados às dimensões saúde, educação, renda, segurança pública, meio ambiente e saneamento, cultura e esporte e finanças municipais, para os anos de 2000 a 2007. Indicador esse que retrata a responsabilidade social conjunta dos diversos níveis de governo. Nesse sentido, este estudo concentrou suas análises nos índices apurados no ano de 2007. Palavras-chave: Seca. Índices Pluviométricos. Desastres. Defesa Civil. Caracterização das Chuvas. Perfil Sócio-econômico. Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS-2009). Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). ABSTRACT The northern and northeastern regions of Minas Gerais live with the reduction, with the delay of the rainy season or the lack of rain for a given season.The characteristic of this climatic phenomenon is the rainfall drop levels significantly lower than the climatological normal, thus putting local reserves hydrological surface and subsurface, making the smaller rivers and streams dry, and consequently have caused a lack of water for human consumption and animal damage to crops and livestock. This research aims to provide a general overview of Minas Gerais drought, through the records evolution related to drought disaster promoted by the municipalities of Minas Gerais in the period 2004 to 2010, the characterization of rainfall in the State through rainfall data and the profile socio-economic development of affected areas, with an indentation in Montes Claros microregion. This research presents information that was collected from the Coordenação Estadual de Defesa Civil - CEDEC whose databases for the period 2004 to 2010, the records provide information about the declaration of Emergency due to Natural Disaster on the dry, concentrated in the area of action of the Institute for the Instituto para o Desenvolvimento do Norte e Noroeste de Minas Gerais – IDENE and form the basis for the adoption of countermeasures by the state government to the rescue of the communities affected by the phenomenon. Here is the characterization of Minas Gerais rainfall based on analysis of historical daily data from 490 rainfall stations, collected by the Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa and made available through the Research Bulletin of rainfall, 2010, from which were generated space-time information and maps representing the rainfall. The data produced by that sheet were re-processed by the author in order to provide an improved mapping. And lat last, to outline the socio-economic profile of the affected areas, we sought information from the electronic databases to the Atlas of Human Development in Brazil, based on microdata from the 1991 census and the 2000 IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), through the information on the Municipal Human Development Index (HDI-M) and 124 other indicators of georeferenced population, and Minas Gerais Social Responsibility Index - IMRS 2009 managed by Fundação João Pinheiro - FJP, based on this which includes all municipalities in the Minas Gerais State and contains indicators related to the dimensions health, education, income, public safety, environment and sanitation, culture and sports and municipal finances for the years 2000 to 2007. This indicator that portrays the corporate social responsibility in all levels of government. In this sense, this study focused their analysis on the indices calculated in 2007. Keywords: Drought. Rainfall. Disasters. Civil Defense. Rain Characterization. Socio-economic Development. Minas Gerais Social Responsibility Index (IMRS-2009). Municipal Human Development Index (HDI-M). LISTA DE TABELAS Tabela 1 Caracterização das áreas homogêneas de precipitação em Minas Gerais. Tabla 2 Apoio de Caminhões-pipas aos municípios atingidos pela Seca em Minas Gerais em 2007 a 2010. Tabela 3 Tabela 4 68 112 Quantidade de danos e valor dos prejuízos causados pela Seca no Estado de Minas Gerais no período de 2007 a 2010. 113 Composição do IMRS – Indicadores, Pesos e Limites 149 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Quantidade de municípios atingidos pela Seca no Estado de Minas Gerais, no período de 2004 a 2010. 110 GRÁFICO 2 - Quantidade de municípios atingidos pela Seca que Decretaram Situação de Emergência e foram reconhecidos pelo Governo Federal, no período de 2004 a 2010. 111 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Relação dos municípios da área de abrangência do IDENE que não decretaram Situação de Emergência – SE, por Seca no Estado de Minas Gerais, no período de 2004 a 2010. 108 QUADRO 2 - Distribuição percentual dos domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e forma de abastecimento de água – Minas Gerais – 2000 156 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Estrutura da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – Minas Gerais – 2007 FIGURA 2 - Mapa das Regiões da Polícia Militar de Minas Gerais 36 38 FIGURA 3 - Mapa identificando os municípios mineiros que integram a Área de abrangência do IDENE 50 FIGURA 4 - Mapa da localização geográfica do Estado de Minas Gerais 58 FIGURA 5 - Altimetria do Estado de Minas Gerais 59 FIGURA 6 - Adaptado de impacto do relevo sobre a circulação atmosférica 60 FIGURA 7 - Unidades de relevo de Minas Gerais. Adaptado de IBGE 1993 e Valadão et al. (2008). 61 FIGURA 8 - Hidrografia do Estado de Minas Gerais 62 FIGURA 9 - Principais tipos de solos ocorrentes no Estado de Minas Gerais. 63 FIGURA 10 - Áreas de ocorrência dos principais tipos de vegetação do Estado de Minas Gerais. FIGURA 11 - Principais classes climáticas observadas em Minas Gerais. 66 67 FIGURA 12 - Precipitação média mensal dos municípios de Porteirinha, Belo Horizonte e Bocaina de Minas. 69 FIGURA 13 - Precipitação média anual do Estado de Minas Gerais 70 FIGURA 14 - Duração da estação chuvosa no Estado de Minas Gerais 71 FIGURA 15 - Início da estação chuvosa no Estado e Minas Gerais 72 FIGURA 16 - Final da estação chuvosa em Minas Gerais 73 FIGURA 17 - Precipitação média em janeiro no Estado de Minas Gerais 74 FIGURA 18 - Precipitação média em fevereiro no Estado de Minas Gerais 75 FIGURA 19 - Precipitação média em março no Estado de Minas Gerais 76 FIGURA 20 - Precipitação média em abril no Estado de Minas Gerais 77 FIGURA 21 - Precipitação média em maio no Estado de Minas Gerais 78 FIGURA 22 - Precipitação média em junho no Estado de Minas Gerais 79 FIGURA 23 - Precipitação média em julho no Estado de Minas Gerais 80 FIGURA 24 - Precipitação média em agosto no Estado de Minas Gerais 81 FIGURA 25 - Precipitação média em setembro no Estado de Minas Gerais 82 FIGURA 26 - Precipitação média em outubro no Estado de Minas Gerais 83 FIGURA 27 - Precipitação média em novembro no Estado de Minas Gerais 84 FIGURA 28 - Precipitação média em dezembro no Estado de Minas Gerais 85 FIGURA 29 - Precipitação máxima diária no Estado de Minas Gerais 86 FIGURA 30 - Precipitação máxima mensal no Estado de Minas Gerais 87 FIGURA 31 - Frequência de precipitações diárias maiores do que 50 mm no Estado de Minas Gerais 88 FIGURA 32 - Frequência de precipitações diárias maiores do que 80 mm no Estado de Minas Gerais 89 FIGURA 33 - Frequência de precipitações diárias maiores do que 100 mm no Estado de Minas Gerais FIGURA 34 - Suprimento hídrico no solo em setembro no Estado de Minas 90 91 Gerais FIGURA 35 - Suprimento hídrico no solo em outubro no Estado de Minas 92 Gerais FIGURA 36 - Suprimento hídrico no solo em novembro no Estado de Minas 93 Gerais FIGURA 37 - Suprimento hídrico no solo em dezembro no Estado de Minas 94 Gerais FIGURA 38 - Suprimento hídrico no solo em janeiro no Estado de Minas Gerais 95 FIGURA 39 - Suprimento hídrico no solo em fevereiro no Estado de Minas 96 Gerais FIGURA 40 - Suprimento hídrico no solo em março no Estado de Minas Gerais 97 FIGURA 41 - Suprimento hídrico no solo em abril no Estado de Minas Gerais 98 FIGURA 42 - Suprimento hídrico no solo durante a estação chuvosa no Estado de Minas Gerais 99 FIGURA 43 - Municípios da área de abrangência do IDENE que Decretaram Situação de Emergência – SE em 2004 100 FIGURA 44 - Municípios da área de abrangência do IDENE que Decretaram Situação de Emergência – SE em 2005 101 FIGURA 45 - Municípios da área de abrangência do IDENE que Decretaram Situação de Emergência – SE em 2006 102 FIGURA 46 - Municípios da área de abrangência do IDENE que Decretaram Situação de Emergência – SE em 2007 103 FIGURA 47 - Municípios da área de abrangência do IDENE que Decretaram Situação de Emergência – SE em 2008 104 FIGURA 48 - Municípios da área de abrangência do IDENE que Decretaram Situação de Emergência – SE em 2009 105 FIGURA 49 - Municípios da área de abrangência do IDENE que Decretaram Situação de Emergência – SE em 2010 106 FIGURA 50 - Mapa Municípios que decretaram SE por seca no Estado de Minas Gerais no período de 2004 a 2010 107 FIGURA 51 - Mapa com os Índices de Gini para o Estado de Minas Gerais Ano 2000 115 FIGURA 52 - Mapa com os Índices de Gini para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 117 FIGURA 53 - Mapa com os Índices de Gini para o Estado de Minas Gerais Ano 2000 119 FIGURA 54 - Mapa com os Índices de Gini para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 121 FIGURA 55 - Mapa com os Índices de L. Theil para o Estado de Minas Gerais Ano 2000 123 FIGURA 56 - Mapa com os Índices de L. Theil para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 FIGURA 57 - Mapa com os IDH-M para o Estado de Minas Gerais Ano 2000 125 127 FIGURA 58 - Mapa com os IDH-M para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 FIGURA 59 - Mapa com os IDHM-Renda para o Estado de Minas Gerais Ano 2000 129 131 FIGURA 60 - Mapa com os IDHM-Renda para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 133 FIGURA 61 - Mapa com os IDHM-Renda per capita para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 135 FIGURA 62 - Mapa com os IDHM-Longevidade para o Estado de Minas Gerais Ano 2000 137 FIGURA 63 - Mapa com os IDHM-Longevidade para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 139 FIGURA 64 - Mapa com os IDHM-Intensidade da pobreza para o Estado de Minas Gerais Ano 2000 141 FIGURA 65 - Mapa com os IDHM-Intensidade da pobreza para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 143 FIGURA 66 - Mapa com os IDHM-Intensidade da Indigência para o Estado de Minas Gerais Ano 2000 145 FIGURA 67 - Mapa com os IDHM-Intensidade da Indigência para a Microrregião de Montes Claros Ano 2000 147 FIGURA 68 - Mapa com os IMRS-2006 para o Estado de Minas Gerais 151 FIGURA 69 - Mapa com os IMRS-Educação – 2006 para o Estado de Minas 152 Gerais FIGURA 70 - Mapa com os IMRS-Saúde – 2006 para o Estado de Minas Gerais 154 FIGURA 71 - Mapa com os IMRS-Abast. de Água e Banheiro 2006 para o Estado de Minas Gerais 155 FIGURA 72 - Mapa com os IMRS-Internação por doenças de veiculação hídrica, Ano 2006. 157 FIGURA 73 - Percentual de doenças por saneamento inadequado para o Estado de Minas Gerais, Ano 2006. 159 FIGURA 74 - Mapa com os 100 maiores IDHM para o Estado de Minas Gerais, Ano 2000. 160 FIGURA 75 - Mapa com os 100 menores IDHM para o Estado de Minas Gerais, Ano 2000. 161 FIGURA 76 - Mapa com os 100 maiores IDH-M para o Estado de Minas Gerais, Ano 2006. 162 FIGURA 77 - Mapa com os 100 menores IDH-M para o Estado de Minas Gerais, Ano 2006. 163 FIGURA 78 - Mapa com os 100 maiores IMRS para o Estado de Minas Gerais, Ano 2006. 164 FIGURA 79 - Mapa com os 100 menores IMRS para o Estado de Minas Gerais, Ano 2006. 165 FIGURA 80 - Mapa com os 10 maiores IDH-M para a Microrregião de Montes Claros, Ano 2006. 166 FIGURA 81 - Mapa com os 10 menores IDH-M para a Microrregião de Montes Claros, Ano 2006. 167 LISTA DE SIGLAS Am - Clima tropical de monção Aw - Clima tropical de savana com estação seca de inverno AVADAN - BSh - Clima de estepe quente CBMMG - Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais CEDEC - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais CETEC - Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC CF/88 - Constituição Federal de 1988 CODAR - Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos COMDEC - Coordenadoria Municipal de Defesa Civil COMDEC - Comissão Municipal de Defesa Civil COMDECs - Comissões Municipal de Defesa Civil CONDEC - Conselho Nacional de Defesa Civil CONGEDEC - Conselho Nacional dos Gestores de Defesa Civil COPASA - Companhia de Saneamento de Minas Gerais CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Cwa - Clima temperado úmido com inverno seco e verão quente Cwb - Clima temperado úmido com inverno seco e verão moderadamente quente DER/MG - Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FEAM - Fundação Estadual de Meio Ambiente FIP - Fedreação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro FIRJAN - Fundação Israel Pinheiro FJP - Fundação João Pinheiro FUNCAP - Fundo Especial para Calamidades Públicas FUNECAP - Fundo Especial para Calamidade Pública Relatório de Avaliação de Danos GEACAP - Grupo Especial para Assunto de Calamidades Públicas IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDENE - Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas IDH-Longevidade - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Longevidade IDH-M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDHM-Intensidade - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Intensidade da Indigência - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Intensidade da Pobreza IDHM-Renda - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Renda IEF/MG - Instituto Estadual de Florestas IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas IMA - Instituto Mineiro de Agropecuária IMRS - Índice Mineiro de Responsabilidade Social IMRS-Abast. De - Índice Mineiro de Responsabilidade Social-Abastecimento de água e da Indigência IDHM-Intensidade da Pobreza Água e Banheiro Banheiro IMRS-Educação - Índice Mineiro de Responsabilidade Social-Educação IMRS-Internação - Índice Mineiro de Responsabilidade Social-Internação por doenças de por doenças de veiculação hídrica veiculação hídrica IMRS-Saúde - Índice Mineiro de Responsabilidade Social-Saúde INMET - Instituto Nacional de Meteorologia MG - Minas Gerais NASA - National Aeronautics and Space Administration NUDEC - Núcleos Comunitários de Defesa Civil NUDECs - Núcleos Comunitários de Defesa Civil OMS - Organização Mundial de Saúde PIB - Produto Interno Bruto PMMG - Polícia Militar de Minas Gera PNDC - Plano Nacional de Defesa Civil PSF - Programa de Saúde da Família REDEC - Regionais de Defesa Civil RMBH - Região Metropolitana de Belo Horizonte RPM - Região de Polícia Militar RURALMINAS - Fundação Rural Mineira SE - Situação de Emergência SE - Superintendência de Epidemiologia SECTES - Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia SEDEC - Secretaria Especial de Defesa Civil SEDRU - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana SEDVAN - Secretaria de Estado Extraordinário para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte SERVAS - Serviço Voluntário de Assistência Social SES-MG - Secretaria de Saúde de Minas Gerais SIH/SUS - Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde SINDEC - Sistema Nacional de Defesa Civil SISEMA - Sistema Estadual de Meio Ambiente SRTM-3 - Shuttle Radar Topography Mission UFLA/MG - Universidade Federal de Lavras/Minas Gerais SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 24 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................................... 26 2.1 Evolução histórica da Defesa Civil no mundo, no Brasil e em Minas Gerais ...................... 26 2.2. Segurança global da população e os desastres..................................................................... 29 2.3 Sistema Nacional e Estadual de Defesa Civil ....................................................................... 33 2.4 O funcionamento dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil ............................................. 39 2.5.1. Acidente .......................................................................................................................... 41 2.5.2. Acidente Natural;............................................................................................................ 41 2.5.3. Acidente Tecnológico; .................................................................................................... 41 2.5.4. Comdec ........................................................................................................................... 42 2.5.5. Dano ............................................................................................................................... 42 2.5.6. Danos sérios ................................................................................................................... 42 2.5.7. Declaração de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública ................. 42 2.5.8. Defesa Civil .................................................................................................................... 43 2.5.9. Desabamento .................................................................................................................. 43 2.5.10. Desastres Súbitos ou de Evolução Aguda ...................................................................... 43 2.5.11. Desastres......................................................................................................................... 44 2.5.12. Desastres de Nível I ........................................................................................................ 44 2.5.13. Desastres de Nível II ....................................................................................................... 44 2.5.14. Desastres de Nível III ..................................................................................................... 44 2.5.15. Desastres de Nível IV...................................................................................................... 45 2.5.16. Emergência ..................................................................................................................... 45 2.5.17. Enchente ......................................................................................................................... 45 2.5.18. Endemia .......................................................................................................................... 45 2.5.19. Epidemia ......................................................................................................................... 46 2.5.20. Estado de Calamidade Pública ...................................................................................... 46 2.5.21. Estiagem ......................................................................................................................... 46 2.5.22. Evento Adverso ............................................................................................................... 46 2.5.23. Homologação de situação de emergência ou de estado de calamidade pública ........... 46 2.5.24. Precipitação .................................................................................................................... 47 2.5.25. Precipitação Orográfica ................................................................................................. 47 2.5.26. Prejuízos Econômicos ..................................................................................................... 47 2.5.27. Prejuízos Sociais ............................................................................................................. 48 2.5.28. Reconhecimento de situação de emergência ou estado de calamidade pública ............ 48 2.5.29. Seca ................................................................................................................................. 48 2.5.30. Situação de Emergência ................................................................................................. 49 2.5.31. Vulnerabilidade .............................................................................................................. 49 2.6. O Projeto Estruturador do Estado ........................................................................................ 49 3 OBJETIVOS ............................................................................................................................ 51 3.1 Geral ..................................................................................................................................... 51 3.2 Específicos ............................................................................................................................ 51 4. METODOLOGIA ................................................................................................................... 52 4.1 Casuística .............................................................................................................................. 53 4.2 Análise estatística ................................................................................................................. 53 5 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA E CLIMATOLÓGICA² ........................................... 54 5.1 O Estado de Minas Gerais .................................................................................................... 56 5.2 Caracterização geográfica..................................................................................................... 57 5.3 Relevo ................................................................................................................................... 58 5.4 Solos ..................................................................................................................................... 62 5.5 Hidrografia ........................................................................................................................... 64 5.6 Vegetação ............................................................................................................................. 65 5.7 Clima..................................................................................................................................... 66 5.8. Análise das precipitações em Minas Gerais ........................................................................ 67 5.8.1. Precipitação média anual e duração da estação chuvosa do Estado de Minas Gerais ............................................................................................................................. 70 5.8.2. Início e final da estação chuvosa do estado de Minas Gerais ....................................... 72 5.8.3. Precipitação média mensal do Estado de Minas Gerais no período de janeiro a junho ............................................................................................................................... 74 5.8.4. Precipitação média mensal do Estado de Minas Gerais no período de julho a dezembro ......................................................................................................................... 80 5.8.5. Precipitação máxima diária e mensal do Estado de Minas Gerais ............................... 86 5.8.6. Frequências de precipitações diárias maiores que 50 mm no Estado de Minas Gerais ............................................................................................................................. 88 5.8.7. Frequências de precipitações diárias maiores que 80 mm no Estado de Minas Gerais ............................................................................................................................. 89 5.8.8. Frequências de precipitações diárias maiores que 100 mm no Estado de Minas Gerais ............................................................................................................................. 90 5.8.9. Suprimento hídrico mensal no solo no período de setembro a abril no Estado de Minas Gerais .................................................................................................................. 91 5.8.10. Suprimento hídrico mensal no solo durante a estação chuvosa no Estado de Minas Gerais ............................................................................................................................. 99 6. O PANORAMA DA SECA EM MINAS GERAIS ............................................................. 100 6.1 Distribuição espacial da ocorrência de decretação de Situação de Emergência – SE 100 6.1.1 Municípios que decretaram SE por seca no Estado de Minas Gerais no período de 2004 a 2010 .................................................................................................................. 100 6.1.2 Municípios da área de abrangência do IDENE e a quantidade de decretação de Situação de Emergência – SE, no período de 2004 a 2010.......................................... 107 6.2 Análise da Evolução dos Desastres Seca no Estado de Minas Gerais................................ 110 6.3 Número de Municípios Assistidos com Caminhões-Pipas em 2007 a 2010 ...................... 112 6.4 Danos e Prejuízos causados pela Seca em 2007 a 2009 ..................................................... 112 6.5 Diagnóstico sócio-econômico das áreas afetadas pela seca em Minas Gerais ................... 113 6.6 Índice Mineiro de Responsabilidade Social ....................................................................... 148 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 168 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 171 24 1 INTRODUÇÃO Os conhecimentos acerca do clima permitem concluir não ser a falta de chuvas a responsável pela oferta insuficiente de água na região do semi-árido mineiro, mas sua má distribuição, associada a uma alta taxa de evapotranspiração (junção dos processos de evaporação e transpiração), que resultam no fenômeno da seca, a qual periodicamente assola as populações concentradas na região Central, Norte, Vale do Mucuri e Jequitinhonha. Essas regiões do Estado de Minas Gerais também convivem com a redução das precipitações, o atraso dos períodos chuvosos ou a ausência de chuvas previstas para uma determinada temporada. A esse quadro exposto a Defesa Civil denomina Estiagem, sendo característica deste fenômeno climático a queda dos índices pluviométricos para níveis sensivelmente inferiores aos da normal climatológica (valor médio anual apurado em períodos de 30 anos), comprometendo desta forma as reservas hidrológicas locais de superfície e de subsuperfície. As secas caracterizam-se por serem mais intensas e por ocorrerem durante períodos de tempo maiores, causando uma redução das reservas de água existentes. Extrapolando o conceito técnico, a seca torna-se um fenômeno social, provocando uma estagnação econômica da região afetada, devido a seu impacto na agricultura, pecuária, sistema ecológico, social e cultural. Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo geral apresentar um panorama da seca em Minas Gerais, através da evolução dos registros de desastres relativos à seca promovidos pelos municípios mineiros no período de 2004 a 2010, pela caracterização das chuvas no Estado através de dados de pluviosidade e pelo perfil sócio-econômico das áreas afetadas, com um recorte na Microrregião de Montes Claros. Foram colhidas junto à CEDEC, órgão vinculado ao Gabinete Militar do Governador – GMG, dados dos Relatórios de Avaliação de Danos - AVADAN, que continham informações sobre os registros de Decretação de Situação de Emergência causado pela seca em todo o território mineiro. Todos os registros apresentam concentração na área de atuação do IDENE que é composta pelas mesorregiões do Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas e Região Central e englobam 188 municípios e servem de base para a adoção de medidas de resposta por parte do Governo do estado para o socorrimento das comunidades afetadas pela seca. 25 Para uma melhor compreensão do fenômeno é importante conhecer a caracterização das chuvas em Minas Gerais, os índices Pluviométricos, o período de retorno de chuvas de altas intensidades, o suprimento hídrico mensal do solo, as zonas homogêneas de precipitação, além da correta determinação do início, duração e término da estação chuvosa e da frequência de incidência de chuvas e suas magnitudes. Do mesmo modo, deve-se conhecer o perfil sócio-econômico das áreas afetadas pelos desastres, os indicadores de desenvolvimento e as políticas públicas do Governo do Estado, a fim de se potencializar todas as ações destinadas às populações das áreas atingidas. A apresentação desta investigação foi organizada em sete capítulos. Por uma questão de clareza, definição de conceitos e resgate das informações mais relevantes, realizou-se uma breve revisão da literatura sobre o tema, apresentada no Capítulo 2. Este capítulo contempla os seguintes tópicos: Evolução histórica da Defesa Civil no mundo, no Brasil e em Minas Gerais, o Sistema Nacional e Estadual de Defesa Civil, Conceitos básicos de Defesa Civil e uma visão geral do Projeto Estruturador do Estado para a convivência com a seca. O Capítulo 3 apresenta os objetivos gerais e específicos do estudo. O Capítulo 4 descreve o método, as técnicas e estratégias utilizadas, bem como a análise estatística empregada. O Capítulo 5 apresenta uma caracterização geográfica e climatológica e a análise de alguns resultados obtidos pelo estudo. No Capítulo 6 é apresentado um panorama da seca em Minas Gerais através da análise da espacialização das ocorrências de desastres de seca e da construção do perfil sócio-econômico da população das áreas afetas pela seca. Finalmente o Capítulo 7 promove as considerações finais fundamentadas na interpretação dos dados e em função dos objetivos do estudo. 26 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nesta seção, serão apresentadas noções sobre Defesa Civil, a partir dos aspectos conceituais e doutrinários da Política Nacional de Defesa Civil (PNDC). A abordagem passará por sua evolução histórica no mundo e no Brasil, e bem como pelo funcionamento dos sistemas nacional e estadual de defesa civil, com ênfase no projeto estruturador do Estado para o enfrentamento da seca. 2.1 Evolução histórica da Defesa Civil no mundo, no Brasil e em Minas Gerais1 A primeira noção de defesa civil só adquire sua real dimensão na 2ª guerra mundial, quando os países envolvidos no conflito se viram diante da necessidade básica de proteger a população civil. Surge então na Inglaterra a civil defense (defesa civil) como organização estruturada para atender a população afetada pelos ataques aéreos ocorridos entre 1940 e 1941, que causou sofrimento e morte de milhares de pessoas. Outros países adotaram a mesma iniciativa da Inglaterra, inclusive aplicando-a em tempo de paz, devido à eficácia na minimização dos efeitos provocados por eventos adversos sobre a população. A aplicação dos conceitos e doutrina de defesa civil extrapolou a seara dos conflitos bélicos e seus efeitos, abrangendo o enfrentamento dos eventos adversos naturais, antropogênicos ou mistos. No final do século XIX e início do século XX as normas constitucionais brasileiras referiam-se às ações de resposta em face de uma anormalidade. A Constituição de 1824 previa a garantia de socorros públicos, a Constituição de 1891 determinava à União prestar socorro aos estados que solicitassem, em caso de calamidade pública. Esta mesma previsão legal foi inserida na Constituição de 1934, que também previa ações de defesa civil contra os efeitos da seca nos estados do Nordeste. No Brasil o tema ocupou espaço durante a 2ª guerra mundial com a edição do Decreto-Lei Federal nº 4 098, de 6 de fevereiro de 1942 que definia como encargos necessários à defesa da pátria os serviços de defesa passiva antiaérea. O Decreto-Lei Federal nº 4 624, de 26 de agosto de 1 As informações referentes ao histórico e legislação dessa seção foram baseadas em (BRASIL, 2010b, Apud REIS, 2010, p.73). 27 1942, criou o serviço de Defesa Passiva Antiaérea, sob a supervisão do Ministério da Aeronáutica, com o objetivo de garantir a proteção e a vida da população e a defesa do patrimônio. No mesmo ano cria-se a Diretoria Nacional de Serviço de Defesa Passiva por meio do Decreto-Lei nº 4 716, de 21 de setembro de 1942, agora subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, saindo da esfera do poder militar. Com o Decreto-Lei Federal nº 4 800, de 6 de outubro de 1942, o ensino de defesa passiva torna-se obrigatório em todos os estabelecimentos de ensino públicos e privados. A denominação defesa civil é adotada com o Decreto-Lei Federal nº 5 861, de 30 de setembro de 1943, com o chamado Serviço de Defesa Civil, que foi extinto em 1946. Para Emerim (2007, p.19), após o término da 2ª guerra mundial, o tema deixou de ser uma prioridade, só voltando a ser estudado em 1949: O tema voltou a ser estudado em 1949, quando o Estado-Maior das Forças Armadas criou um anteprojeto de Lei de Defesa Civil. A nova organização proposta previa um órgão central, de alcance nacional, e de órgãos regionais, estaduais e municipais, e previa também a criação de todos os sistemas necessários à Defesa Civil, dando ênfase à educação da população. O modelo sugerido pelo Estado-Maior das Forças Armadas foi objeto de trabalho apresentado pela Escola Superior de Guerra, no qual se previa uma agência central e agências regionais em número idêntico às Regiões Militares do Exército. Com base nesse estudo novo anteprojeto de Lei foi apresentado, mas que também não prosperou. Em 1966 foi estruturada a primeira defesa civil estadual no Brasil, no antigo Estado da Guanabara, fruto da proposta do grupo de trabalho instituído para estudar a mobilização dos diversos órgãos estaduais em casos de catástrofes. Naquele ano ocorreu a grande enchente do Sudeste. Em 1967 a preocupação com Defesa Civil ganhou novo fôlego com sua inserção no texto constitucional promulgado naquele ano, definindo como competência da União a organização da defesa permanente contra Calamidades Públicas, especialmente a seca e as inundações o que foi ratificado na Emenda Constitucional de 1969. Outras normas infraconstitucionais deram corpo ao Sistema Nacional de Defesa Civil. Nos termos do Decreto-Lei Federal nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, competia ao Ministério do Interior a assistência às populações afetadas por calamidades públicas, sendo criado em sua 28 estrutura a Secretaria Especial de Defesa Civil (Sedec) para coordenar as ações preventivas, assistenciais e recuperativas em todo o país. Com o Decreto-Lei nº 950, de 13de outubro de 1969 foi criado o Fundo Especial para Calamidades Públicas (Funcap) e por meio do Decreto Federal nº 64 568, de 22 de maio de 1969 foi instituído o grupo de trabalho para elaborar plano de defesa permanente contra calamidades públicas. Evolução marcante na história da Defesa Civil no Brasil foi a orientação no sentido da participação do município, com sua articulação e coordenação interna, como primeira resposta aos desastres. Isto se deu com a edição do Decreto Federal nº 67 347, de 5 de outubro de 1970, que também criou o Grupo Especial para Assunto de Calamidades Públicas (Geacap) que iniciou a sistematização do modelo nacional de defesa civil. Pelo Decreto Federal nº 97 274, de 16 de dezembro de 1988, foi organizado o Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec) com o objetivo de integrar a atuação dos órgãos e entidades públicas e privadas. O Decreto Federal nº 895, de 16 de agosto de 1993, cuidou de reorganizar o Sindec, ampliando e detalhando as atribuições e competências da União e dos demais entes da Federação. Este Decreto foi revogado em 2005, pelo Decreto Federal nº 5.376, de 17 de fevereiro de 2005, que atualizou a estrutura, a organização e diretrizes para funcionamento do Sistema Nacional de Defesa Civil e do Conselho Nacional de Defesa Civil (Condec). O modelo de Sistema Nacional de Defesa Civil concebido pelo Decreto 5.376/05 foi modificado pela Medida Provisória 474, de 2 de julho de 2010, regulamentada pelo Decreto Federal nº 7 257, de 4 de agosto de 2010, que estabelecem um novo Sistema Nacional de Defesa Civil que será constituído por órgãos e entidades da União, por órgãos e entidades dos Estados, Distrito Federal e Municípios que aderirem formalmente ao sistema, e pelas entidades da sociedade civil às quais é facultada a adesão. Em Minas Gerais a Defesa Civil foi estruturada inicialmente em 1971, por meio do Decreto Estadual nº 13 492, de 10 de março de 1971, sem vinculação a qualquer órgão do estado. No ano seguinte foi reorganizado o Sistema Estadual de Defesa Civil por meio do Decreto Estadual nº 15 146, de 29 de dezembro de 1972, consolidando o seu caráter colegiado com representação de diversos setores da Administração estadual, também sem qualquer vinculação direta a qualquer órgão. 29 Somente no final dos anos 70 a Defesa Civil em Minas Gerais realmente tomou forma e estrutura adequada para o cumprimento de sua missão. A Lei Estadual nº 7 157, de 07 de dezembro de 1 977 vinculou a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil ao Gabinete Militar do Governador, atribuindo ao dirigente máximo desse órgão a função de Coordenador Estadual. Na mesma lei foi criado o Fundo Especial para Calamidade Pública (Funecap). Novo avanço na Defesa Civil estadual ocorreu com a criação das Regionais de Defesa Civil (Redec) por meio da Lei Delegada nº 132, de 25 de janeiro de 2007, e sua regulamentação pelo Decreto Estadual nº 45 275, de 30 de dezembro de 2009, visando uma política de descentralização das ações de defesa civil. Ressalta-se também que o Governo do estado por meio da Cedec desenvolveu ações para fomentar a criação e funcionamento das Coordenadorias Municipais de Defesa Civil (Comdec). Exemplos marcantes dessa política é a criação da Escola de Defesa Civil por meio do Decreto Estadual nº 45 275/09, bem como a possibilidade de priorizar o repasse financeiro aos municípios, em situação emergencial, que possuam Comdec instalada e atuante, situações que devem ser atestadas pelo Coordenador Estadual de Defesa Civil, conforme dispõe o Decreto Estadual 45 168, de 9 de setembro de 2009. 2.2. Segurança global da população e os desastres Os desastres em todas as suas modalidades são a maior ameaça à vida e incolumidade das pessoas. Passaram a ser uma realidade muito presente na sociedade, motivado pelas alterações climáticas bruscas, pelo crescimento demográfico e a ocupação desordenada e irregular nos grandes centros urbanos. Contribui também o acelerado crescimento econômico e tecnológico sem compromisso com a segurança da população e a sustentabilidade. Esta realidade foi relatada em matéria jornalística, veiculada pelo jornal Estado de Minas, em 18 de outubro de 2010, que apontou o grave cenário do crescimento desordenado das cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que apresentam 42% de imóveis em ocupações irregulares, muitos em áreas de risco Trata-se de uma questão crucial por muito tempo deixada de lado na agenda dos administradores públicos, que se transformou em problema generalizado na região metropolitana, escancarado nas áreas de risco e em zonas de má infraestrutura urbana. Levantamento do ano 30 passado, feito pela Fundação Israel Pinheiro (FIP) em 13 (treze) dos 34 (trinta e quatro) municípios da RMBH revela que quatro em cada 10 (dez) domicílios se encontram em assentamentos clandestinos. (AYER, 2010, P.17 ) Castro (2007, p. 5), expõe que ―os estudos epidemiológicos apontam que os desastres naturais, humanos ou antropogênicos e mistos causaram mais prejuízos e danos do que todas as guerras nos dois últimos séculos‖. Os desastres biológicos promovem epidemias e pandemias em grandes aglomerados de pessoas submetidas à péssima qualidade de vida, carente de saúde, alimentação e saneamento básico. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças tropicais afetam cerca de 1 bilhão de pessoas de forma silenciosa, e que o Brasil é apontado como tendo a incidência da maioria das 17 doenças tropicais listadas, tais como dengue, mal de chagas, raiva, conjuntivite granulosa, laishmaniose, tênia, esquistossomose. (DOENÇAS... 2010). Este cenário de completa vulnerabilidade exige da comunidade internacional adotar políticas para reduzir e minimizar os efeitos dos desastres, sob a ótica da segurança global da população. Segundo Castro (2007, p. 6) está em pleno desenvolvimento o conceito de que a segurança global da população é dever dos modernos Estados de Direito e também direito e responsabilidade da cidadania. Há uma estreita relação entre segurança global e os fundamentos da República Federativa do Brasil, conforme dispõe o artigo 3º da Constituição Federal: Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Para Castro (2007, p. 7) a segurança global da população fundamenta-se no direito natural à vida, à saúde, à segurança, à propriedade e à incolumidade das pessoas e do patrimônio, em todas as condições, especialmente em circunstâncias de desastres. O grande objetivo da defesa civil é a redução dos desastres, por que eliminar e erradicar 31 seriam objetivos inatingíveis. O Decreto 7 257, de 4 de agosto de 2010, conceitua defesa civil como sendo um conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas destinadas a evitar desastres e minimizar seus impactos para a população e restabelecer a normalidade social. Os desastres são situações que causam prejuízo, infortúnio, destruição e perda de vidas humanas. Segundo o Decreto nº 7 257/10 é o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais. De acordo com Castro (1999, p. 4) o objetivo da defesa civil é a redução dos desastres, que abrange os seguintes aspectos globais: prevenção de desastres; preparação para emergências e desastres; resposta aos desastres e reconstrução. A prevenção dos desastres é composta por ações que visam primeiramente diagnosticar os riscos existentes na comunidade, por meio do mapeamento das áreas de risco, que é o levantamento de ameaças e vulnerabilidades, pelo levantamento das estruturas de resposta, recursos humanos e logísticos disponíveis no poder público e na iniciativa privada, e paralelamente desenvolver campanhas educativas para conscientizar e mobilizar a comunidade para realizar a intervenção planejada. Calheiros, Castro e Dantas (2009, p. 16) descrevem que é desenvolver atividades amplas, eficientes e contínuas de informação e divulgação sobre a gravidade dos desastres para as autoridades, áreas setoriais, lideranças comunitárias e população – é a conscientização. A preparação para os desastres consiste em ações de treinamentos para capacitar as Comdec, realização de simulados, confecção dos Planos de Contingência, levantamento de abrigos, realização de obras de intervenção em áreas de risco e desenvolver sistemas eficientes de monitoramento, alerta e alarme. Dentre as diversas ações, Calheiros, Castro e Dantas (2009, p. 17), citam ―a aplicação de recursos para desenvolver adequadamente os projetos de medidas estruturais, na redução de desastres; [...] estabelecer e divulgar o sistema de captação para emissão de alerta e alarme‖. Tanto as ações de prevenção quanto as de preparação ocorrem no período de normalidade, quando nenhum desastre está ocorrendo, o que possibilita evitar ou minimizar um possível desastre futuro, dessa forma se verifica quais são as ações mais importantes e quais deveriam ser priorizadas pelo poder público. 32 Principalmente quando as ações antecipadas falham, ocorrem os desastres, desta forma o poder público, através dos órgãos componentes do Sindec, devem se articular para realizar as ações de resposta. Segundo Calheiros, Castro e Dantas (2009, p. 17) é neste momento que ocorre o socorro das vítimas e a assistência às populações afetadas, feridos, desabrigados e desalojados, logo após, a reabilitação dos cenários de desastres, restabelecendo os serviços públicos essenciais, realizando vistorias, avaliação de danos, elaboração de laudos técnicos, sepultamento de pessoas, limpeza geral, descontaminação, remoção de escombros e vigilância das condições de segurança global da população. Após o desastre, são necessárias ações mais caras que estão relacionadas com a liberação de recursos para a reconstrução das áreas danificadas ou destruídas pelo desastre. Castro (1999, p. 275) assevera que os projetos de reconstrução têm por finalidade restabelecer, em sua plenitude, os serviços públicos essenciais, a economia da área afetada, o moral social, o bem-estar da população afetada. O foco é a recuperação de pontes, bueiros, estradas, residências, áreas públicas. A intensidade de um desastre depende da magnitude do evento adverso e do grau de vulnerabilidade do cenário receptor, onde está alocada a comunidade afetada. Quanto mais recursos tecnológicos, investimentos e preparação da população menos vulnerável ela estará diante de um evento adverso, tornando menos intenso um possível desastre. Para Castro (2007, p. 10) os estratos populacionais menos favorecidos e os países menos desenvolvidos, por apresentarem maiores vulnerabilidades sócio-culturais, econômicas e tecnológicas, são atingidos com mais intensidade pelos desastres. Neste cenário é imperioso desenvolver oportunidades para uma mudança cultural relacionada com o senso de percepção de risco. Segundo Castro (2007, p. 10) o fatalismo, o conformismo e o baixo senso de percepção de risco como as principais vulnerabilidades culturais da sociedade brasileira. Os desastres são classificados e codificados na Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos (Codar) para uma melhor compreensão dos fenômenos, uniformizando nomenclaturas, facilitando a criação de banco de dados para interagir com informações de outras bases de armazenamento, bem como nivelar o nível de conhecimento entre os profissionais envolvidos no problema e o intercâmbio de informações. Os desastres, ameaças e riscos são classificados quanto à evolução, quanto à intensidade 33 e quanto à origem. (BRASIL, 2008, p. 41). Quanto à evolução os desastres podem ser súbitos ou de evolução aguda, de evolução crônica ou gradual e por fim podem ser por somação de efeitos parciais, conforme os critérios de classificação. Quanto à intensidade os desastres são classificados em acidentes, médio porte, grande porte e muito grande porte. A intensidade dos desastres pode ser definida em termos absolutos ou a partir da proporção entre as necessidades de recursos e as possibilidades dos meios disponíveis na área afetada, para uma resposta eficiente. (BRASIL, 2008, p. 43) No caso dos desastres de grande porte e de muito grande porte há a necessidade de aporte de recursos externos na área sinistrada, podendo o poder público decretar situação de emergência na primeira hipótese, ou situação de calamidade pública na hipótese mais grave. No que se refere a origem os desastres podem ser naturais, humanos ou antropogênicos e mistos. Embora seja clássica esta classificação, os autores modernos tendem a contestá-la, rotulando todos os desastres como mistos. (BRASIL, 2008, p. 41) Os desastres naturais são subdivididos em desastres de origem sideral, relacionados com a geodinâmica terrestre externa, os relacionados com a geodinâmica terrestre interna e os relacionados com os desequilíbrios na biocenose, que são pragas animais. Já os desastres humanos ou antropogênicos dividem-se nos de natureza tecnológica, de natureza social e de natureza biológica. Merecem especial atenção os de natureza social que são consequências de desequilíbrios nos inter-relacionamentos sociais, econômicos, políticos e culturais, bem como do relacionamento desarmonioso do homem com os ecossistemas urbanos e rurais. (BRASIL, 2008, p. 54). 2.3 Sistema Nacional e Estadual de Defesa Civil À União compete, nos termos do artigo 21, inciso XVIII da Constituição Federal de 1988 (CF/88), ―planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações‖ e conforme o artigo 22, inciso XXVIII, do mesmo diploma legal, ―compete-lhe privativamente legislar sobre defesa civil‖. A legislação infraconstitucional que regula a matéria atribui responsabilidades e espera contrapartida dos entes da federação na concretização da Política Nacional de Defesa Civil 34 (PNDC). O objetivo geral do PNDC é a redução dos desastres, que tem como instrumentos para atingi-la o Sindec, os planejamentos em defesa civil, e os recursos financeiros, nos quais a União, os estados e municípios devem participar e desenvolver ações concretas. Neste mister é preciso que o poder público, em todas as esferas, se conscientize que a Defesa Civil não é um órgão, mas um sistema, constituído por todos os órgãos públicos, pelas entidades privadas e pela população. A Defesa Civil no Brasil se encontra articulada, através de um sistema nos três níveis de governo. No plano federal a Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) exerce a função de órgão central com a responsabilidade de coordenar as ações de caráter nacional e que extrapolem o poder de resposta dos estados e municípios da federação. Já nos estados e Distrito Federal existem suas Coordenadorias de Defesa Civil (Cedec) que devem gerir as ações de defesa civil no âmbito de seu território, sobretudo quando estão comprometidos os recursos municipais de atendimento da comunidade. No âmbito dos municípios deve haver a preocupação com a criação das Coordenadorias Municipais de Defesa Civil (Comdec) com a missão prioritária de promover as ações preventivas e de preparação, visando evitar a eclosão dos desastres ou minimizar os seus efeitos e dar a primeira resposta em caso de calamidades. Sobre a constituição do Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec), a LEI Nº 12.340, DE 1º DE DEZEMBRO DE 2010, dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC, sobre as transferências de recursos para ações de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução nas áreas atingidas por desastre, e sobre o Fundo Especial para Calamidades Públicas, e dá outras providências. Além dos órgãos coordenadores das ações de defesa civil existem os setoriais, pertencentes à administração pública federal, estadual, municipal e do Distrito Federal, que integram o sistema e se articulam com os de coordenação, com o objetivo de garantir atuação sistêmica. Os órgãos de apoio são aquelas instituições públicas e privadas, associações de classe e comunitárias, organizações não governamentais que apóiam todos do sistema. (BRASIL, 2008, p. 10). No ápice deste sistema, como órgão colegiado e consultivo, há o Conselho Nacional de Defesa Civil (Condec) que é composto por representantes de diversos Ministérios que compõem o Sindec, por dois representantes dos Estados e Distrito Federal indicados pelo Conselho 35 Nacional dos Gestores de Defesa Civil (Congedec), por três representantes dos municípios e três representantes da sociedade civil. (BRASIL, 2010a). As recentes mudanças impostas pela legislação vigente exigem a adesão formal dos órgãos e entidades dos Estados, Distrito Federal, Municípios e da sociedade civil organizada ao novo Sindec, o qual está sendo reformulado a partir dessa premissa. Em Minas Gerais o atual sistema de defesa civil foi criado pela Lei Estadual 7.157/77, e regulamentado pelo Decreto Estadual nº 19 077, de 17 de fevereiro de 1978, atribuindo a coordenação ao Gabinete Militar do Governador, por meio da Cedec, que é o órgão central. Ao sistema estadual estão vinculados órgãos setoriais e entidades de apoio os quais mantém representantes prontos para atuarem nas diversas ações de defesa civil. O sucesso das ações depende da conjugação de esforços numa ação intersetorial, e da coordenação e articulação dos diversos atores, públicos, privados, federais, estaduais e municipais. Para atingir seus objetivos o sistema conta com representantes dos seguintes órgãos e entidades do estado: a) Secretarias de Estado b) Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) c) Corpo de Bombeiros Militar (CBMMG) d) Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e) Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER/MG) f) Serviço Voluntário de Assistencial Social (Servas) g) Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) h) Instituto Estadual de Florestas (IEF) i) Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) j) Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) l) Associações Microrregionais m) Regionais de Defesa Civil n) Coordenadorias Municipais de Defesa Civil n) Núcleos Comunitários de Defesa Civil Apresentam-se ainda a Lei Delegada nº 180 de 20 de Janeiro de 2011 que dispõe sobre a estrutura orgânica da administração pública do poder executivo do Estado de Minas Gerais, o Decreto nº 19077 de 12 de Fevereiro de 1978 que dispõe sobre a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, CEDEC, e o Fundo Especial para Calamidade Pública, FUNECAP. 36 Para tratar dos problemas afetos à seca foi instituído o Decreto nº 44.825 de 04 de Junho de 2008 que cria o Comitê Gestor da Convivência com a Seca. A Regulamentação do repasse de recursos emergenciais do Estado de Minas Gerais para os Municípios que, em virtude de desastres, tenham decretado situação deemergência ou estado de calamidade pública homologado pelo Estado é regido pelo Decreto nº 45.168 de 09 de Setembro de 2009. Mais recentemente o Decreto nº 45.275 de 30 de Dezembro de 2009 e o Decreto nº 45.495 de 17 de Novembro de 2010 tratam da organização do Gabinete Militar do Governador do Estado de Minas Gerais e através do Decreto nº 45.536 de 28 de Janeiro de 2011 fica definida toda a estrutura orgânica da administração pública do poder executivo do Estado de Minas Gerais. Para representar esta articulação apresenta-se o seguinte organograma: Sistema Estadual de Defesa Civil REDEC COMDEC SERVAS COPASA CEMIG DER/MG IGAM FEAM IEF BOMBEIRO MILITAR POLÍCIA MILITAR SECRETARIAS DE ESTADO COORDENADORIA ESTADUAL DE DEFESA CIVIL ASSOCIAÇÕES MICRORREGIONAIS NUDEC Figura 1: Estrutura da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – Minas Gerais - 2007 Fonte: MINAS GERAIS. Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. Histórico. Belo Horizonte. 37 Dentre as várias competências previstas no Decreto Estadual nº 19 077/78 destacam-se as seguintes: a) convocar órgão ou entidade estadual para colaborar na execução das atividades de defesa civil; b) incentivar a criação de comissões municipais de defesa civil; c) manter intercâmbio com os órgãos federais, estaduais e municipais ligados às ações de defesa civil; d) solicitar a cooperação das entidades que se fizer necessário para a implementação de atividades de defesa civil. Com a criação das Redec o sistema passou a contar com um importante elo de coordenação entre a Cedec e as Comdec. Inicialmente foram criadas dez Unidades Regionais de Defesa Civil no interior do estado, com a previsão legal de que, a criação de nova Região de Polícia Militar (RPM), implica na criação automática de nova Regional de Defesa Civil. A Redec tem a sua sede em uma RPM e o seu titular é o Comandante Regional da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Tecnicamente as Redec estão subordinadas à Cedec e assumem papel de destaque no sistema, coordenando a gestão da defesa civil em suas bases territoriais. Atualmente existem 15 Redec conforme disposto no mapa 1. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), onde estão sediadas as 1ª, 2ª e 3ª RPM, não há previsão legal de instalar Redec, pois, devido a proximidade física com a Cedec, esta exerce o papel de coordenação nestas regiões. 38 Figura 2: Mapa das Regiões da Polícia Militar de Minas Gerais, Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais - PMMG Para aproximar a comunidade aos demais entes do Sindec, existem os Núcleos Comunitários de Defesa Civil (Nudec) compostos por voluntários, moradores de áreas de risco ou não, que são capacitados para melhoria do seu senso de percepção de risco e para liderarem outras pessoas da comunidade. De acordo com Lucena (2005, p.13), a finalidade dos Nudecs é desenvolver um processo de orientação permanente junto à população, e seu principal objetivo é a prevenção e a minimização dos riscos e desastres nas áreas de maior vulnerabilidade nos municípios. 39 2.4 O funcionamento dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil A união de esforços é indispensável para que as ações de defesa civil produzam resultados capazes de prevenir e minimizar os riscos de eventos adversos e seus efeitos. Há necessidade de uma sinergia entre as três esferas de governo e a comunidade organizada e participativa, com atuação coordenada, articulada e solidária. A comunidade deve ser protagonista neste processo, pois ela sabe quais são suas verdadeiras demandas e assim contribui para a elaboração de planejamentos exequíveis e úteis para promover as mudanças desejadas. Dada a importância desse tema, a Política Nacional de Defesa Civil (PNDC) em sua Diretriz nº 7 dedicou atenção especial à necessidade e importância da formação dos Nudec. Implementar a interação entre os órgãos do governo e a comunidade, especialmente por intermédio das Comissões Municipais de Defesa Civil – COMDECs e dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUDECs, com a finalidade de garantir uma resposta integrada de toda a sociedade. (BRASIL, 2008, p.14). Os Nudec particularizam os problemas de defesa civil dentro do município, no bairro, região, rua, motivando a comunidade diretamente afetada pelo problema a estabelecer uma parceria formal com o poder público (Comdec), e firmando uma co-gestão no planejamento e execução de ações, com estímulo a cultura da prevenção e auto-proteção. Sua importância se resume nos seguintes aspectos: Promove a interação entre a Defesa Civil e a comunidade, aproxima e estimula a população para participação e construção de uma cultura voltada à prevenção de riscos. Possibilita um planejamento participativo, estimulando a socialização de experiências, bem como, o acesso da comunidade às ações desenvolvidas pela Defesa Civil. Viabiliza espaços participativos e democráticos na comunidade, articula os diversos atores sociais para a consolidação de um plano que vise a construção de princípios para uma melhor convivência com o meio ambiente local. Favorece ao indivíduo seu crescimento como ser humano e a sua integração, consciente e atuante, na comunidade em que vive. 40 Envolve a comunidade no sentido de acreditar numa mudança quanto à realidade local, promove espaço para uma construção coletiva, assegura a ampliação dos espaços de discussão, tendo como perspectiva a prevenção e redução dos riscos e desastres. (LUCENA, 2005, p. 14). A formação dos Nudec é um processo construído passo a passo, voltado para a participação da comunidade exposta às vulnerabilidades por meio da mobilização, sensibilização e conscientização. É fundamental agregar pessoas que comunguem dos mesmos objetivos e que trabalhem de forma compartilhada. A comunidade não pode e não deve se omitir e fugir da participação como é comum acontecer no Brasil, onde as políticas públicas em regra são estabelecidas nos gabinetes. Deve haver um pacto social, livre de amarras ideológicas ou partidárias, constituindo-se numa política de estado, na qual a sociedade assuma um papel transformador. Para Lucena (2005, p. 19) ―esse processo participativo possibilita um clima favorável à co-gestão, onde a comunidade organizada juntamente com a Defesa civil estará interagindo, decidindo e definindo juntos os níveis de participação e os caminhos a serem trilhados‖. No mesmo sentido Osborne e Gaebler (apud EMERIM, 2007, p.59) afirmam que quanto mais vivo, mais convencido fico de que, para funcionarem efetivamente, os programas precisam pertencer às pessoas a que se destinam, isto não é mera retórica, mas uma realidade. Como Fórum de debate sobre a defesa civil, o foco dos trabalhos da comunidade é o de planejar as atividades relacionadas à redução de desastres, com especial atenção para: A avaliação dos riscos de desastres e a preparação de mapas temáticos relacionados com as ameaças, com as vulnerabilidades dos cenários e com as áreas de riscos intensificados. A promoção de medidas preventivas estruturais e não estruturais, que são desenvolvidas com o objetivo de reduzir os riscos de desastres. A elaboração de planos de contingência para responder às hipóteses de desastres e exercícios simulados para aperfeiçoá-los. O treinamento de voluntários e das equipes técnicas operacionais, para atuarem em circunstâncias de desastres. A organização de um plano de chamada, com o objetivo de otimizar o estado de prontidão, na iminência de desastres. 41 Informar, organizar e preparar a comunidade são os objetivos que revestem de importância o papel dos Nudec, na missão de reduzir os desastres, minimizar seus efeitos, por meio de pronta resposta. (CALHEIROS; CASTRO; DANTAS, 2009, p. 8) Informar, organizar e preparar a comunidade são objetivos que revestem de importância o papel dos Nudec na missão de reduzir os desastres ou minimizar seus efeitos por meio de uma pronta resposta. O poder público isoladamente não promoverá políticas públicas de sucesso se a comunidade não participar de sua elaboração e execução. As pessoas devem assumir uma postura de preocupação coletiva diante dos problemas comuns e somar esforços numa rede solidária. 2.5 Conceitos Básicos de Defesa Civil A seguir são apresentados conceitos comumente utilizados pela Defesa Civil. 2.5.1. Acidente É uma seqüência de eventos fortuitos e não planejados, que geram conseqüências específicas e indesejadas ao homem e ao meio ambiente, causando danos corporais, materiais e interrompendo a vida dos seres vivos. 2.5.2. Acidente Natural; Fenômeno da natureza, inesperados, de difícil prevenção, que na maioria dos casos independem das intervenções do homem, tais como: escorregamento de terra, vendaval, inundação. 2.5.3. Acidente Tecnológico; Ocorrência gerada por atividades desenvolvidas pelo homem, sendo que a maioria dos casos são previsíveis, podendo ser administrados através da ocorrência de conceitos básicos de gerenciamento de riscos, atuando tanto na probabilidade de ocorrências de um evento 42 indesejável, como em suas conseqüências; estes acidentes podem ser causados por: incêndio, explosão, vazamento de substâncias químicas (inflamáveis /corrosivas /tóxicas) naufrágio. 2.5.4. Comdec A Comissão Municipal de Defesa Civil - COMDEC é uma organização aberta, que reúne o potencial de uma comunidade municipal em torno de seu líder, a fim de fazer frente a um evento adverso. É a defesa organizada onde se aplicam racionalmente os meios disponíveis para fazer frente aos fenômenos anormais e adversos (Inundação, desabamento, incêndio, vendaval, etc.), com o objetivo de minimizar as conseqüências danosas que possam causar à comunidade. 2.5.5. Dano Medida que define a intensidade ou severidade da lesão resultante de um acidente ou evento adverso. Perda humana, material ou ambiental, física ou funcional, que pode resultar, caso seja perdido o controle sobre o risco. 2.5.6. Danos sérios Danos humanos, materiais e/ou ambientais muito importantes, intensos e significativos, muitas vezes de caráter irreversível ou de recuperação muito difícil. Em conseqüência desses danos muito intensos e graves, resultam prejuízos econômicos e sociais muito vultosos, os quais são dificilmente suportáveis e superáveis pelas comunidades afetadas. 2.5.7. Declaração de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública Documento oficial baixado por autoridade administrativa competente, observando os critérios e procedimentos estabelecidos pelo CONDEC, para decretar, desde que se caracterizem condições que o justifiquem. O Decreto de declaração de situação de emergência ou de estado de calamidade pública é de competência dos Prefeitos Municipais e do Governador do Distrito Federal. 43 2.5.8. Defesa Civil Conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais e reconstrutivas destinadas a evitar ou minimizar os desastres, preservar o moral da população e restabelecer a normalidade social. Finalidade e Objetivos. Finalidade: o direito natural à vida e à incolumidade foi formalmente reconhecido pela Constituição da República Federativa do Brasil. Compete à Defesa Civil a garantia desse direito, em circunstâncias de desastre. Objetivo Geral: reduzir os desastres, através da diminuição de sua ocorrência e da sua intensidade. As ações de redução de desastres abrangem os seguintes aspectos globais: 1 — Prevenção de Desastres; 2 — Preparação para Emergências e Desastres; 3 — Resposta aos Desastres; 4 — Reconstrução. Objetivos Específicos: 1 — promover a defesa permanente contra desastres naturais ou provocados pelo homem; 2 — prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações atingidas, reabilitar e recuperar áreas deterioradas por desastres; 3 — atuar na iminência ou em situações de desastres; 4 — promover a articulação e a coordenação do Sistema Nacional de Defesa Civil — SINDEC, em todo o território nacional. 2.5.9. Desabamento Desmoronamento, caimento, ruir, colapso, queda com força. 2.5.10. Desastres Súbitos ou de Evolução Aguda Esses desastres caracterizam-se pela subtaneidade, pela velocidade com que o processo evolui e, normalmente, pela violência dos eventos adversos causadores dos mesmos. Podem ocorrer de forma inesperada e surpreendente ou ter características cíclicas e sazonais, sendo facilmente previsíveis. No Brasil, os desastres de natureza cíclica e caráter sazonal são os de maior prevalência. 44 2.5.11. Desastres Resultante de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais. 2.5.12. Desastres de Nível I Os desastres de pequeno porte (intensidade) ou acidentes são caracterizados quando os danos causados são pouco importantes e os prejuízos pouco vultosos e, por isso, são mais facilmente suportáveis e superáveis pelas comunidades afetadas. Nessas condições, a situação de anormalidade é facilmente restabelecida com os recursos existentes e disponíveis na área (município) afetada e sem necessidade de grandes mobilizações. 2.5.13. Desastres de Nível II Os desastres de médio porte (intensidade) são caracterizados quando os danos causados, são de alguma importância e os prejuízos, embora não sejam vultosos, são significativos. Apesar disto, esses desastres são suportáveis e superáveis por comunidades bem informadas, preparadas, participativas e facilmente mobilizáveis. Nessas condições, a situação de normalidade pode ser restabelecida com os recursos existentes e disponíveis na área (município) afetada, desde que sejam racionalmente mobilizados e judicialmente utilizados, ou seja, podem ser solucionadas com esforços conjuntos dos recursos humanos. 2.5.14. Desastres de Nível III Os desastres de grande porte (intensidade) são caracterizados quando os danos causados são importantes e os prejuízos vultosos. Apesar disto, esses desastres são suportáveis e superáveis por comunidades bem informadas, preparadas, participativas e facilmente mobilizáveis, atuando em interação com uma defesa civil local competente. Nessas condições, a situação de 45 anormalidade pode ser restabelecida, desde que os recursos mobilizados na área (município) afetada sejam reforçados com o aporte de recursos estaduais e federais já disponíveis nos escalões mais elevados do SINDEC, ou seja, exigem reforço de recursos regionais. 2.5.15. Desastres de Nível IV Os desastres de muito grande porte (intensidade) são caracterizados quando os danos causados são muito importantes e os prejuízos muito vultosos e consideráveis. Nos desastres de muito grande porte, os danos são tão importantes e os prejuízos tão vultosos que exigem ajuda substancial de fora da área atingida, para serem superados pela defesa civil local, mesmo que apoiada por comunidades bem preparadas, informadas, participativas e fortemente mobilizadas. Nessas condições, o restabelecimento da situação de normalidade depende da mobilização e da ação coordenada dos três níveis do Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC e, em alguns casos, de ajuda internacional. 2.5.16. Emergência Situação crítica; acontecimento perigoso ou fortuito que requer ação imediata; incidente, caso de urgência. 2.5.17. Enchente As águas de chuva ao alcançarem um leito de drenagem causam, temporariamente, o aumento na sua vazão. Esse acréscimo na descarga da água denomina-se Cheia ou Enchente. 2.5.18. Endemia Ocorrência habitual de uma doença ou agente infeccioso em uma área geográfica determinada. 46 2.5.19. Epidemia Aumento brusco, significativo e transitório da ocorrência de uma determinada doença em uma população. Quando tal ocorrência tem dimensões globais (mundiais), denomina-se Pandemia. 2.5.20. Estado de Calamidade Pública Reconhecimento (legal) pelo poder público de situação anormal, provocada por desastres, causando sérios danos à comunidade afetada, inclusive à incolumidade e à vida de seus integrantes. 2.5.21. Estiagem Período prolongado de baixa pluviosidade ou sua ausência, em que a perda de umidade do solo é superior à sua reposição. 2.5.22. Evento Adverso Ocorrência desfavorável, prejudicial, imprópria. Acontecimento que traz prejuízo, infortúnio. Fenômeno causador de um desastre. 2.5.23. Homologação de situação de emergência ou de estado de calamidade pública Documento oficial de aprovação e confirmação, baixado por autoridade administrativa competente, observando os critérios e procedimentos estabelecidos pelo CONDEC, o qual é necessário para que determinado ato público produza os efeitos jurídicos que lhes são próprios, no nível governamental representado pela autoridade homologante. O Decreto de homologação de situação de emergência ou de estado de calamidade pública, dispensável no caso específico do Distrito Federal, é da competência dos Governadores Estaduais. 47 2.5.24. Precipitação 1. Hidrometeoro constituído por um conjunto da partículas aquosas, líquidas ou sólidas, cristalizadas ou amorfas, que caem de uma nuvem ou de um conjunto de nuvens e atingem o solo. 2. Produtos líquidos ou sólidos da condensação do vapor de água, que caem das nuvens ou são depositados pelo ar úmido no solo. 3. Quantidade de precipitação caída sobre uma superfície horizontal, durante um dia, um mês e um ano, designada, respectivamente, como precipitação diária, mensal e anual. 2.5.25. Precipitação Orográfica Precipitação formada através do chamado efeito orográfico, que seria a atuação do relevo como uma barreira para uma massa de ar. O relevo, conforme sua amplitude e direcionamento, força a elevação da massa de ar, que, atingindo maior altitude, tem seu gradiente de pressão e temperatura alterado, podendo, assim, reter menor quantidade de água. Devido ao efeito orográfico, geralmente as áreas montanhosas, situadas sob a influência de massas de ar úmidas, tendem a ter índices pluviométricos maiores. 2.5.26. Prejuízos Econômicos Os prejuízos econômicos, após medidos, devem ser comparados com a capacidade econômica dos município afetado pelo desastre, medida em termos de Produto Interno Bruto PIB, volume do orçamento municipal e capacidade de arrecadação. Os prejuízos econômicos devem ser discriminados em função dos seguintes setores da economia: agricultura, pecuária, indústria,e, serviços. 48 2.5.27. Prejuízos Sociais Os prejuízos sociais mais importantes relacionam-se com a interrupção do funcionamento ou com o colapso de serviços essenciais, como: -Assistência médica, saúde pública e atendimento de emergência médico-cirúrgicas; - Abastecimento de água potável; - Esgoto de águas pluviais e sistema de esgotos sanitários; - Sistema de limpeza urbana e de recolhimento e destinação do lixo; - Sistema de desinfestação e desinfecção do habitat e de controle de pragas e vetores; Geração e distribuição de energia elétrica; - Telecomunicações; - Transportes locais e de longo curso; - Distribuição de combustíveis, especialmente. 2.5.28. Reconhecimento de situação de emergência ou estado de calamidade pública Documento oficial, baixado por autoridade administrativa competente, que admite como certo, reconhece e proclama a legitimidade de atos oficiais de declaração e de homologação, que tenham cumprido os critérios e procedimentos estabelecidos pelo CONDEC, para que o mesmo produza os efeitos jurídicos que lhes são próprios, em nível governamental representado por aquela autoridade. A portaria de reconhecimento de situação de emergência ou de estado de calamidade pública é de competência da autoridade administrativa do Governo Federal à qual estiver subordinado o Órgão Central do SINDEC. 2.5.29. Seca 1. Ausência prolongada, deficiência acentuada ou fraca distribuição de precipitação. 2. Período de tempo seco, suficientemente prolongado, para que a falta de precipitação provoque grave desequilíbrio hidrológico. 3. Do ponto de vista meteorológico, a seca é uma estiagem prolongada, caracterizada por provocar uma redução sustentada das reservas hídricas existentes. 4. Numa visão sócioeconômica, a seca depende muito mais das vulnerabilidades dos grupos sociais afetados que das condições climáticas. 49 2.5.30. Situação de Emergência Reconhecimento (legal) pelo poder público de situação anormal, provocada por desastre, causando danos superáveis (suportáveis) pela comunidade afetada. 2.5.31. Vulnerabilidade 1. Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em interação com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos adversos, medidos em termos de intensidade dos danos prováveis. 2. Relação existente entre a magnitude da ameaça, caso ela se concretize, e a intensidade do dano conseqüente. 3. Probabilidade de uma determinada comunidade ou área geográfica ser afetada por uma ameaça ou risco potencial de desastre, estabelecida a partir de estudos técnicos. 4. Corresponde ao nível de insegurança intrínseca de um cenário de desastre a um evento adverso determinado. Vulnerabilidade é o inverso da segurança. 2.6. O Projeto Estruturador do Estado O Governo do Estado de Minas Gerais, por intermédio do Comitê Gestor da Convivência com a Seca, tem constantemente monitorado a situação das populações atingidas, cujos problemas principais residem na falta de água e alimento, especialmente nas localidades rurais. O Comitê que foi criado há dois anos é composto por representantes da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (SECTES), Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), Fundação Rural Mineira (RURALMINAS), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC) e Sistema Estadual de Meio Ambiente (SISEMA). As ações coordenadas pelo Comitê Gestor foram transformadas pelo Governo do Estado no Projeto Estruturador Convivência com a Seca e Inclusão Produtiva. Com a criação desse projeto, a convivência com a seca deixou de ser uma ação emergencial para se tornar uma política pública permanente com investimentos assegurados. O objetivo do Projeto Estruturador é prover 50 alternativas para a convivência com a seca e as bases para o desenvolvimento sustentável no Norte e Nordeste de Minas. De acordo com o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas IDENE, a população dos 188 municípios que compõem o semi-árido mineiro são as mais vulneráveis à seca. Dentre as ações públicas desenvolvidas pelo Comitê Gestor da Convivência com a Seca no semi-árido mineiro visando o atendimento aos municípios em Situação de Emergência, coube à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil a distribuição de água potável através de carros-pipa, cestas básicas e cisternas de vinil utilizadas para potencializar o armazenamento de água potável em comunidades mais afastadas e desprovidas do abastecimento convencional. 51 3 OBJETIVOS Os objetivos foram delineados da seguinte forma: 3.1 Geral Esta pesquisa tem como objetivo geral apresentar um panorama da seca em Minas Gerais, através da evolução dos registros de desastres relativos à seca promovidos pelos municípios mineiros no período de 2004 a 2010. 3.2 Específicos a) Caracterizar a estação chuvosa no Estado de Minas Gerais através dos dados de pluviosidade; b) Traçar o perfil sócio-econômico das áreas afetadas, com um recorte na Microrregião de Montes Claros; c) Identificar os municípios que mais sofreram com os problemas da seca no período de 2004 a 2010, com base na decretação de Situação de Emergência. 52 4. METODOLOGIA O trabalho se baseou em pesquisa e análise de documentos que foram colhidos junto à Defesa Civil do Estado referentes aos registros de decretação de Situação de Emergência relativos à seca no período de 2004 a 2010. Os eventos analisados estão concentrados na área de atuação do Instituto para o Desenvolvimento do Norte e Noroeste de Minas Gerais, que é composta pelas mesorregiões do Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas e Região Central e englobam 188 municípios. Foram também pesquisados de forma indireta e analisados, dados de séries históricas diários de 490 estações pluviométricas, pertencentes às redes pluviométricas monitoradas pela CEMIG, CPRM, IGAM, FURNAS e INMET, gerenciadas pela Agência Nacional das Águas pelo sistema Hidroweb. Dados estes coletados pela Embrapa e disponibilizadas através do Boletim de Pesquisa dos índices Pluviométricos Número 30 de dezembro de 2010, a partir dos quais foram geradas informações espaço-temporais e mapas representando os índices pluviométricos do Estado de Minas Gerais. Para traçar o perfil sócio-econômico das áreas afetadas primeiro buscou-se informações utilizando-se do software IMRS da Fundação João Pinheiro que disponibiliza uma base de dados ampliada contendo informações de todos os municípios mineiros até o ano de 2007, com confiabilidade, comparabilidade e periodicidade adequadas para as dimensões: saúde, educação, renda, segurança pública, meio ambiente e saneamento, cultura, esporte e lazer e finanças municipais. Nesse sentido, este estudo concentrou suas análises nos índices apurados no ano de 2007. Em um segundo momento buscou-se informações junto ao banco de dados eletrônicos do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, sobre informações socioeconômicas relevantes dos 853 municípios mineiros baseado nos microdados dos censos de 1991 e de 2000 do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), este sistema disponibiliza informações sobre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e 124 outros indicadores georreferenciados de população, educação, habitação, longevidade, renda, desigualdade social e características físicas do território. A partir dos quais promovemos um recorte para a Microrregião de Montes Claros. 53 4.1 Casuística Foram estudados os 188 municípios que estão na área de abrangência do Instituto para o Desenvolvimento do Norte e Noroeste de Minas Gerais, que é composta pelas mesorregiões do Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas e Região Central e posteriormente procedidos dois cortes, o primeiro para a Mesorregião Norte de Minas onde se concentram cerca de 70% das ocorrências de decretação de Situação de Emergência por problemas com a seca em uma área composta por 89 municípios, 47,34% do total da área do IDENE. O segundo corte para a Microrregião de Montes Claros, a mais importante microrregião do Norte de Minas, sendo a polarizadora da região do IDENE. 4.2 Análise estatística Para o tratamento de todos estes dados que foram mapeados em ambiente GIS, utilizou-se os softwares ArcGis versão 9.3 e Portable_MapInfo_8.5.0.32, dando origem aos mapas temáticos para caracterização dos desastres ligados à seca na área de abrangência do IDENE, à espacialização dos eventos de decretação de emergências no período estudado, aos mapas de caracterização da estação chuvosa e os relativos ao perfil sócio-econômico das áreas afetadas. A espacialização dos índices pluviométricos foi efetuada com a técnica de krigagem ordinária usando o programa Surfer versão 11.0. Todos os dados obtidos foram inseridos numa planilha eletrônica e analisados com o objetivo de descrever o perfil da amostra segundo as variáveis do estudo, sendo apresentados os resultados utilizando-se da técnica estatístico descritiva. 54 5 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA E CLIMATOLÓGICA2 Os conhecimentos acumulados pela Geografia formam um conjunto de informações bastante variado sobre formas de relevo, climas e formações vegetais, além de acrescentar aspectos sobre a população e suas atividades econômicas que, embora observados isoladamente, estão em estreita relação entre si. Desta forma, as condições de vida podem ser identificadas como o resultado de uma interação dos distintos elementos naturais, trabalhados pela atividade humana, com maior ou menor intensidade. No entanto, podemos afirmar que as paisagens são também produtos das mais diversas combinações de fenômenos naturais, apesar da ação humana. Elas apresentam sua própria diversidade, a exemplo do relevo, que aparece em distintas formas e dimensões que contribuem para criar diferentes paisagens. Torna-se importante destacar aqui as condições climáticas que são determinantes para a diversidade das formações vegetais e para o processo de formação dos solos. O clima se faz presente nos distintos agentes de erosão, a exemplo das chuvas ou do vento, sendo também responsável pela modelagem do relevo. Monteiro (2001) afirma a necessidade de se entender e debater o conceito ―geossistema‖ que no Brasil está ainda em andamento. Ele afirma que: ... a paisagem deve ser vista de um modo bem mais dinâmico porquanto não ignora as relações, seus feed-backs e interações, de modo a configurar um verdadeiro “sistema” onde as áreas pertinentes a ela estão muito além das formas e aparências assumidas pelos elementos, sendo capazes, até mesmo de provocar importantes reações em áreas distantes. Isso decorre do fato: o homem é considerado na paisagem como qualquer outro elemento ou fator constituinte do sistema paisagem (geossistema) por que ele desempenha aqui um papel realmente ativo (MONTEIRO, 2001, p. 97). 2 As informações referentes à Caracterização Geográfica e Climatológica dessa seção foram baseadas no Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, Nº 30 da Embrapa, contendo os Índices Pluviométricos em Minas Gerais. 55 Deste modo podemos entender que os diferentes processos físicos e biológicos interagem mutuamente na formação do que muitos autores chamam de substrato natural da paisagem. Em decorrência das atividades humanas, a paisagem natural vem sofrendo inúmeras modificações no decorrer do tempo, transformando-se numa paisagem humanizada, pela incorporação de elementos culturais. Existem na paisagem indicações muito claras dos processos sociais que as moldam, ao estudarmos e observarmos a paisagem percebemos como o lugar que ocupamos no espaço geográfico é o resultado das condições sociais em que vivemos. Cada vez mais se torna importante compreender como a natureza e as sociedades se combinam e se interagem. O geossistema é tido como o resultado da combinação dos fatores geológicos, climáticos, geomorfológicos, hidrológicos e pedológicos associados a certos tipos de exploração biológica, restando-nos buscar o entendimento de como essa associação se manifesta. Neste capítulo buscamos identificar e caracterizar o Estado de Minas Gerais com o auxílio do que já foi apresentado por GUIMARÃES (2010), apontados no Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, Nº30 do Ministério da Agricultura, Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária. Apresentamos também a caracterização das chuvas em Minas Gerais baseados na análise de séries históricas de dados diários de 490 estações pluviométricas, colhidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa e disponibilizadas nos estudos dos índices Pluviométricos, 2010, a partir da qual foram geradas informações espaço-temporais e mapas representando os índices pluviométricos. Os dados produzidos pelo referido Boletim Técnico foram re-processados pelo autor com o objetivo de se apresentar uma melhoria cartográfica, as técnicas e metodologias escolhidas por GUIMARÃES (2010), foram integralmente respeitadas como se pode ver nas próximas sessões. 56 5.1 O Estado de Minas Gerais Minas Gerais, em função de sua localização geográfica, relevo, continentalidade, variabilidade de biomas e fitofisionomias, apresentam condições termodinâmicas que resultam em diferentes regimes de chuvas. As regiões Norte e do Vale do Jequitinhonha apresentam baixos índices pluviométricos com grandes impactos socioeconômicos e culturais. A migração da população mais jovem em busca de oportunidades em outras regiões do país, principalmente nas plantações de cana-de-açúcar e na construção civil, é resultante dos riscos climáticos que dificultam a sobrevivência da população nas áreas rurais. Por outro lado, a excelente distribuição pluviométrica verificada em algumas regiões contribui para a grande vocação agrícola e pecuária de Minas Gerais. As chuvas incidentes na região são responsáveis pela formação de importantes bacias hidrográficas que se originam em Minas Gerais, como a do São Francisco, Rio Paraná (Rio Grande), Atlântico Sudeste (Rio Doce) e Atlântico Leste (Rio Jequitinhonha). A forte urbanização e a redução da cobertura vegetal verificadas no Brasil a partir da década de 70 fazem com que as chuvas de altas intensidades tragam grandes problemas às populações que ficam expostas às inundações, aos desabamentos e aos focos de doenças. A capital Belo Horizonte tem sido sistematicamente afetada pelas enchentes. O mesmo tende a ocorrer em cidades próximas a cursos d’água sujeitos rápidas alterações nas vazões (flash flood). A caracterização dos índices pluviométricos é de grande importância para a busca de soluções referentes à falta ou ao excesso das chuvas, bem como para a definição das melhores alternativas de uso dos recursos hídricos em prol da comunidade. 57 5.2 Caracterização geográfica O Estado de Minas Gerais é uma das 27 unidades federativas do Brasil, possui uma área de 586,528 km2, situa-se entre 14°13’58‖ e 22°54’00‖ de latitude sul (os paralelos seriam 14° e 22°) e 39°51’32‖ e 51°02’35 de longitude a oeste de Greenwich e ocupa o quarto lugar no país em extensão territorial. De acordo com o censo de 2010 efetuado pelo IBGE, o estado conta atualmente com uma população de 19.159.260 habitantes distribuídos em 853 municípios sendo que apenas 176 contam com populações superiores a 20.000 habitantes e 12 com populações superiores a 200.000 habitantes. Belo Horizonte, sua capital, apresenta uma população de 2.258.096 e corresponde à sexta cidade mais populosa do país. Situado na região sudeste do Brasil, Minas Gerais tem como estados limítrofes a Bahia ao norte e nordeste, Espírito Santo à leste, Rio de Janeiro à sudeste, São Paulo ao sul e sudeste, Mato Grosso do Sul à oeste, Goiás e Distrito Federal ao noroeste. A distância linear entre os pontos extremos do estado é de 986 km no sentido norte/sul e de 1248 km no sentido leste/oeste. As divisões regionais envolvem 12 mesorregiões ( Campo das Vertentes, Central Mineira, Jequitinhonha, Metropolitana de Belo Horizonte, Noroeste de Minas, Norte de Minas, Oeste de Minas, Sul/Sudoeste de Minas, Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Vale do Mucuri, Vale do Rio Doce e Zona da Mata) e 66 microrregiões. A posição geográfica do estado, aliada ao fator de continentalidade, contribuem para a determinação dos sistemas regionais de circulação atmosférica que determinam as condições climáticas locais. 58 A Figura 4 mostra a localização geográfica do Estado de Minas Gerais. 5.3 Relevo Além da posição geográfica e da situação em relação ao nível do mar (continentalidade), o relevo constitui outro fator estático de grande influência na climatologia de Minas Gerais. Conhecida como ―Terra das Alterosas‖ em função de seu relevo acidentado, sua topografia apresenta grande diversidade morfológica, indo desde os vales formados pelas bacias hidrográficas, passando pelos planaltos cristalinos e pelas áreas serranas. 59 A Figura 5 mostra o relevo do estado de Minas Gerais gerado a partir de imagens do SRTM-3 ( “Shuttle RadarTopography Mission”) da NASA. A Serra do Espinhaço estende-se desde o município de Ouro Branco, em Minas Gerais, até Xique-Xique, na Bahia, onde recebe a denominação de Chapada Diamantina. A região do Quadrilátero Ferrífero, situada na região do Espinhaço Meridional, engloba 34 municípios e está relacionada à área de maior densidade populacional do estado e apresenta enorme importância sócioeconômica na formação da nação brasileira. Durante o século XVIII, cerca da metade do ouro produzido no mundo era proveniente dessa região e atualmente são exploradas as enormes jazidas de minério de ferro. A região abriga importantes cidades, como a capital Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Sabará, João Monlevade e Itabira. O relevo, denominado de mar de morros, possui importantes regiões serranas, como as do Curral, em Belo Horizonte, do Caraça, do Rola Moça, da Piedade, do Itacolomi, da Moeda, do Mascate e a Serra Azul. Na região setentrional, as mais conhecidas são as serras do Cipó, Itambé, do Cabral e a Serra Geral. Na Serra do Cipó localiza-se a famosa cachoeira do Tabuleiro, cujos 273 metros de queda livre a torna a maior do estado e a terceira cachoeira mais alta do Brasil. 60 A formação de chuvas orográficas e o relevo acidentado do maciço do Espinhaço contribuem para o grande número de acidentes na BR 381, entre Belo Horizonte e João Monlevade. De maneira oposta, a sombra de chuvas determinada pela Serra Geral contribui para os baixos índices pluviométricos no município de Porteirinha. A Figura 6 ilustra o impacto do relevo na pluviosidade de Minas Gerais. Esse impacto é notado também na delimitação dos biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Figura 6: Adaptado de impacto do relevo sobre a circulação atmosférica. Fonte: Laboratório de Geoprocessamento da UFMG Elaboração: Sílvio J.S. Filho – MAIO/2011 A Serra da Mantiqueira, denominação Tupi significando ―serra que chora‖ em função do grande número de nascentes ali existentes, estende-se pela divisas de Minas Gerais com os estados de São Paulo e Rio de Janeiro e penetra no interior do estado até as cercanias de Barbacena. Integra o ecossistema da Mata Atlântica com uma riquíssima biodiversidade. Na região do Parque Nacional do Itatiaia, divisa entre os municípios de Resende, RJ, e Itamonte, MG, está o Pico das Agulhas Negras, com 2787 metros de altitude. Outro ponto culminante nessa região é o Pico da Pedra da Mina (2770 metros de altitude) entre os municípios de Queluz, SP, e Passa Quatro, MG. 61 A Serra da Canastra, localizada no sudoeste de Minas Gerais, tem esse nome devido às suas características fisiográficas abauladas. Local da nascente do Rio São Francisco e famosa pela biodiversidade, pelo clima e pelas inúmeras cachoeiras ali existentes, como a imponente Casca D’Antas, com seus 186 metros de altura. A Serra do Caparaó localiza-se na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo e tem o Pico da Bandeira (2892 metros) como ponto culminante. Até a identificação dos picos da Neblina e 31 de Março na Serra do Imeri, divisa do Brasil e Venezuela, o Pico da Bandeira era considerado o ponto mais elevado do território brasileiro. O Pico do Cristal, no município de Caparaó, com 2798 metros de altura, ocupa o quarto lugar em altitude. A Figura 7 mostra as principais unidades de relevo encontradas em Minas Gerais. 62 Além das áreas montanhosas, o estado apresenta também áreas de planaltos e as depressões formadas pelos vales dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul. A Figura 8 ilustra as 15 bacias hidrográficas existentes no estado de Minas Gerais. Figura 8: Mapa com a Hidrografia do Estado de Minas Gerais. Fonte: Laboratório de Geoprocessamento da UFMG. Elaboração: Sílvio J.S. Filho – MAIO/2011 O relevo determina a direção do escoamento superficial das águas e a delimitação das bacias hidrográficas. 5.4 Solos O solo constitui a camada superficial da crosta terrestre e apresenta alta variabilidade em função do material de origem, intemperismo climático e a atuação de seres vivos. A ação e interação desses agentes transformadores determinam o tipo de perfil dos solos, normalmente resultando em camadas denominadas de horizontes. Os espaços vazios entre as partículas do solos são chamados de poros e são responsáveis pelos índices de aeração e retenção da água 63 infiltrada após a ocorrência de chuvas. A capacidade de retenção de água pelos solos depende da textura, estrutura, profundidade e teor de matéria orgânica. Por se tratar de uma estrutura aberta para a atmosfera e as camadas mais profundas do subsolo, a água nesse ambiente apresenta-se em constante processo de mudança. A dinâmica dos fluxos de água no solo é analisada pelos modelos denominados de pedotransferência. Após atingir o ponto de saturação, onde os poros são preenchidos pela água de infiltração, iniciam-se os processos de escoamento superficial (enxurradas) e percolação para as camadas mais profundas que irão abastecer os lençóis subterrâneos. A Figura 9 mostra os principais tipos de solos ocorrentes no Estado de Minas Gerais. 64 5.5 Hidrografia Importantes bacias hidrográficas estão localizadas em Minas Gerais. A Bacia do São Francisco drena as águas de uma área equivalente à metade do estado, compreendendo as regiões Norte, Noroeste, Central, Oeste e Metropolitana de Belo Horizonte. Além do Rio São Francisco, são importantes formadores da bacia hidrográfica os rios Pará, Paraopeba, das Velhas, Paracatu e Verde Grande. As sub-bacias dos rios Grande e Paranaíba são as formadoras iniciais da Bacia do Paraná, principal fonte de energia elétrica do país. No estado, localizamse no Rio Grande as represas de Camargos, Itutinga, Funil e Furnas e no Rio Paranaíba as represas de Emborcação, Nova Ponte, Miranda, Capim Branco, Itumbiara, Cachoeira Dourada e São Simão. São drenadas as águas provenientes de uma pequena porção da Zona da Mata e das regiões de Campo das Vertentes, Sul/Sudoeste de Minas, partes das regiões Oeste e Triângulo/Alto Paranaíba. A Bacia do Rio Paraíba do Sul, cujas nascentes principais se encontram em áreas de relevo acidentado das serras da Mantiqueira e do Mar, estende-se pelas regiões mais industrializadas e povoadas do Brasil, abrangendo o Vale do Paraíba Paulista, a Zona da Mata de Minas Gerais e grande parte do Estado do Rio de Janeiro. A Bacia do Rio Doce, cujas nascentes se localizam na Serra da Mantiqueira, é a principal bacia hidrográfica totalmente inserida na região Sudeste do Brasil e sua rede de drenagem inclui parte da Zona da Mata, Região Metropolitana de Belo Horizonte e Vale do Rio Doce. O Rio Doce constitui também o mais importante recurso de água doce do Espírito Santo, onde deságua no Atlântico. A Bacia do Rio Jequitinhonha tem suas nascentes na Serra do Espinhaço e se estende pelo Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do país, e parte do Estado da Bahia. O Rio Araçuaí é o afluente mais importante do Jequitinhonha. O desmatamento e o garimpo causam enormes danos ambientais nessa bacia hidrográfica. A Bacia Rio Mucuri abrange apenas 13 municípios, sendo os mais importantes Teófilo Otoni, Carlos Chagas e Nanuque. Outras bacias ocorrentes no estado são as dos Rios Buranhém, Itabapoana, Itanhém, Itapemiririm, Jucuruçu, Pardo, Piracicaba/Jaguari e São Mateus. A Figura 8 mostra a delimitação das bacias hidrográficas, os principais cursos d’água e represas localizadas em Minas Gerais. 65 5.6 Vegetação As condições climáticas, o relevo e as condições edáficas (solos) determinam diferentes tipos de vegetação em Minas Gerais. O bioma Cerrado e suas diferentes fitofisionomias constitui a principal tipologia vegetal ocorrente e está associado às áreas de chapadas e dos latossolos com altos teores de alumínio e baixa fertilidade natural. São espécies típicas desse tipo de vegetação, o Pequi (Caryocar brasiliense), o Araticum (Anonna crassifolia), o Barbatimão (Stryphnodendron adstringens), o Pau Terra (Qualea grandiflora), o Buriti (Mauritia flexuosa) e a Cagaita (Eugenia dysenterica). De acordo com as dimensões das árvores e a densidade de plantas por unidade de área, a vegetação recebe diferentes denominações como Cerradão, Cerrado (stricto sensu) e Campo Sujo. Outras características marcante das áreas sob esse tipo de vegetação são a alta incidência de incêndios no período de estiagem e o desmatamento para a produção de carvão vegetal e abertura de áreas para exploração agrícola, pecuária ou para as atividades de reflorestamento. A Mata Atlântica constitui outro importante bioma ocorrente em Minas Gerais, porém, a exemplo do que ocorre em outras regiões, vem sofrendo forte depredação. Ocorre principalmente na região leste do estado e é caracterizada pelo alto índice de espécimes endêmicas da fauna e flora. Originalmente ocupava a segunda maior área de vegetação do estado, mas atualmente se restringe a pequenos fragmentos florestais, exceto no Parque do Rio Doce, onde ainda se encontra preservada uma área de cerca de 37 mil hectares. As áreas de Caatinga e Florestas Semidecíduas das regiões Norte de Minas são caracterizadas pela transição para o clima semiárido, com a ocorrência de altas temperaturas, precipitação média anual inferior a 1000 mm e estação seca pronunciada. Os Campos Rupestres de Altitude ocorrem principalmente em cotas acima de 900 metros e as áreas de maior ocorrência são as serras do Espinhaço e da Canastra. A Figura 10 ilustra as áreas de ocorrência dos principais tipos de vegetação do Estado de Minas Gerais. 66 Levantamento realizado pelo Instituto Estadual de Florestas IEF/MG e Universidade Federal de Lavras UFLA/MG indicaram a seguinte proporção de áreas vegetadas em relação à área do estado: Cerrado (13,72%), Mata Atlântica (0,40%), Floresta Decídual (2,84%), Caatinga (9,29%), Campos Rupestres (1,05%), campos (6,41%), reflorestamentos (2,07%). 5.7 Clima As condições reinantes de tempo durante longos períodos determina a condição climática de uma região. A classificação climática de Köppen-Geiger é amplamente adotada para caracterizações climatológicas. A última atualização climática de Minas Gerais foi efetuada por Sá Júnior (2009), sendo identificadas as classes climáticas Aw (Clima tropical de savana com estação seca de inverno), Cwa (clima temperado úmido com inverno seco e verão quente), Cwb 67 (clima temperado úmido com inverno seco e verão moderadamente quente) e em menor escala as classes BSh (clima de estepe quente) e Am (clima tropical de monção). A Figura 11 ilustra as principais classes climáticas observadas em Minas Gerais. 5.8. Análise das precipitações em Minas Gerais Daniel Pereira Guimarães et al. (2010), identificou 12 áreas distintas de precipitação no Estado de Minas Gerais. A Tabela 1 extraída dos Índices pluviométricos em Minas Gerais, do mesmo autor, sumariza as características das zonas homogêneas de precipitação. 68 Tabela 1. Caracterização das áreas homogêneas de precipitação em Minas Gerais. Grupo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Estação Chuvosa Início Pico Final 15/nov 08/nov 02/nov 27/out 23/out 22/out 20/out 18/out 15/out 14/out 12/out 02/out 11/jan 11/jan 13/jan 14/jan 15/jan 18/jan 20/jan 21/jan 22/jan 23/jan 25/jan 21/jan 06/mar 12/mar 22/mar 29/mar 03/abr 09/abr 16/abr 18/abr 22/abr 27/abr 01/mai 07/mai Duração do ciclo (dias) 111 124 140 153 162 169 178 182 189 195 201 217 Precipitação Anual (mm) 738 824 939 1046 1163 1258 1359 1431 1522 1613 1753 1989 Classe de Precipitação (mm) < 800 800 a 900 900 a 1000 1000 a 1100 1100 a 1200 1200 a 1300 1300 a 1400 1400 a 1500 1500 a 1600 1600 a 1700 1700 a 1850 > 1850 Fonte: Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, Embrapa, 2010. De modo geral, os grupos são formados em intervalos de precipitações com amplitudes em torno de 100 mm, exceto os grupos extremos onde séries com amplitudes maiores foram agrupadas em um mesmo conjunto. O grupo 1 engloba as áreas mais secas do estado e Porteirinha, localizada na microrregião de Janaúba, no norte de Minas, com uma precipitação média anual de 650 mm, foi o local identificado como de menor pluviosidade. As áreas com precipitações acima de 1850 mm (grupo 12) situam-se na divisa de Minas com o Rio de Janeiro (Serra da Mantiqueira) e na Serra do Caraça, Microrregião de Itabira, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em ambos os casos, o relevo contribui para a formação de chuvas orográficas. O município de Bocaina de Minas, com uma precipitação média de 2077 mm, foi identificado como local mais chuvoso no estado. A Figura 12 mostra a variabilidade da precipitação mensal entre os municípios de Porteirinha, Belo Horizonte e Bocaina de Minas. 69 Verifica-se que a precipitação pluviométrica em Minas Gerais varia em função do relevo e da posição geográfica, variando entre 650 mm no norte de Minas até áreas com precipitação próximas de 2100 mm na região sul/sudoeste de Minas. A duração do ciclo das chuvas está relacionada com a precipitação média anual. Áreas com baixos índices pluviométricos apresentam início do período chuvoso mais tardio em relação às áreas com maiores pluviosidades. O mês de janeiro coincide com a época de maior precipitação pluviométrica em todas as áreas homogêneas de precipitação. A duração do ciclo das chuvas varia entre 110 e 220 dias. Para visualizarmos detalhadamente o que acima foi exposto, apresentamos a seguir uma série de mapas gerados e adaptados a partir da base de dados da Embrapa, cujos dados estão contidos no Boletim de Desenvolvimento e Pesquisa Número 30 de dezembro de 2010. 70 5.8.1. Precipitação média anual e duração da estação chuvosa do Estado de Minas Gerais 71 72 5.8.2. Início e final da estação chuvosa do estado de Minas Gerais 73 74 5.8.3. Precipitação média mensal do Estado de Minas Gerais no período de janeiro a junho 75 76 77 78 79 80 5.8.4. Precipitação média mensal do Estado de Minas Gerais no período de julho a dezembro 81 82 83 84 85 86 5.8.5. Precipitação máxima diária e mensal do Estado de Minas Gerais 87 88 5.8.6. Frequências de precipitações diárias maiores que 50 mm no Estado de Minas Gerais 89 5.8.7. Frequências de precipitações diárias maiores que 80 mm no Estado de Minas Gerais 90 5.8.8. Frequências de precipitações diárias maiores que 100 mm no Estado de Minas Gerais 91 5.8.9. Suprimento hídrico mensal no solo no período de setembro a abril no Estado de Minas Gerais 92 93 94 95 96 97 98 99 5.8.10. Suprimento hídrico mensal no solo durante a estação chuvosa no estado de Minas Gerais 100 6. O PANORAMA DA SECA EM MINAS GERAIS Este capítulo apresenta um panorama da seca em Minas Gerais, através da evolução dos registros de desastres relativos à seca promovidos pelos municípios mineiros no período de 2004 a 2010. 6.1 Distribuição espacial da ocorrência de decretação de Situação de Emergência – SE Identificação dos municípios mineiros atingidos pela Seca no período de 2004 a 2010. 6.1.1 Municípios que decretaram SE por seca no Estado de Minas Gerais no período de 2004 a 2010 101 102 103 104 105 106 107 6.1.2 Municípios da área de abrangência do IDENE e a quantidade de decretação de Situação de Emergência – SE, no período de 2004 a 2010 108 Dos 188 Municípios que compões a região da IDENE Mineira, 53 municípios, cerca de 28, 19% decretaram Situação de Emergência por problemas com a seca nos últimos sete anos; 29 municípios que perfazem 15, 42 % do total decretaram pelo menos 6 vezes no mesmo espaço de tempo. No período estudado, ao todo 165 municípios diferentes decretaram SE por problemas com a seca em Minas Gerais, pelo menos uma vez; destes 150 pertencem à região da IDENE e dos 15 municípios restantes, 4 apenas (Arinos, Bonfinópolis de Minas, Buritis e Formoso) que pertencem à microrregião do Noroeste de Minas, decretaram situação de emergência por apresentarem algum tipo de problema similar aos municípios do semi-árido, os outros 11 decretaram SE por seca, por falta de conhecimento técnico e pelo fato de não apresentarem problemas com a seca ou estiagem, não foram atendidos pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, são eles: Conceição das Alagoas no triângulo Mineiro, Goiabeira, Itueta e Resplendor que compõe a microrregião dos Aimorés, Piracema na Microrregião de Oliveira, Antonio Prado de Minas na Microrregião de Muriaé e Goianá pertencente à microrregião de Juiz de Fora. Dos 188 municípios da IDENE Mineira 38 nunca decretaram Situação de Emergência por problemas com seca, são eles: Quadro 1. Relação dos municípios da área de abrangência do IDENE que não decretaram Situação de Emergência – SE, por Seca no Estado de Minas Gerais, no período de 2004 a 2010. Município 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Datas Felício dos Santos Gouvêa Presidente Kubitschek São Gonçalo do Rio Preto Bandeira Jordânia Mata Verde Palmópolis Rio do Prado Salto da Divisa Microrregiâo Mesorregião Diamantina Jequitinhonha Almenara 109 12 Catuji 13 Frei Gaspar 14 Ladainha Teófilo Otôni 15 Ouro Verde de Minas 16 Pavão 17 Teófilo Otoni 18 Bertópolis Nanuque 19 Fronteira dos Vales 20 Machacalis 21 Buenópolis 22 Corinto 23 Curvelo Curvelo 24 Monjolos 25 Morro da Garça 26 Presidente Juscelino Conceição do Mato Dentro 27 Rio Vermelho 28 Itambacuri 29 Nova Módica Governador Valadares 30 Pescador 31 São José do Divino 32 Central de Minas 33 Itabirinha de Mantena 34 Mantena Mantena 35 Mendes Pimentel 36 Nova Belém 37 São Félix de Minas 38 São João do Manteninha Fonte: Centro de Controle de Emergências – Cedec/MG Vale do Mucuri Central Mineira Metropolitana de Belo Horizonte Vale do rio Doce 110 6.2 Análise da Evolução dos Desastres Seca no Estado de Minas Gerais Gráfico 1 – Quantidade de municípios atingidos pela Seca no Estado de Minas Gerais, no período de 2004 a 2010. Qtd de Municípios por regiões que decretaram Situação de Emergencia - SE, em Minas Gerais, no período 2004 a 2010. 140 Quantidade de Municípios 120 100 80 60 40 20 0 Ano 2004 Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Ano 2009 Ano 2010 Área do IDENE - 188 Municipios 89 103 104 132 128 92 111 Meso Norte de Minas - 89 Muinicípios 75 76 79 82 83 70 75 Micro Montes Claros - 22 Municípios 20 17 20 21 21 19 20 Fonte: Centro de Controle de Emergências – Cedec/MG. Verifica-se na tabela 1 que do ano de 2009 para 2010 houve um acréscimo de 20,65% no número de municípios mineiros atingidos pela Seca, igualando à média histórica dos últimos 5 anos, que era de 111,8 municípios ao ano. 111 Gráfico 2 – Quantidade de municípios atingidos pela Seca que Decretaram Situação de Emergência e foram reconhecidos pelo Governo Federal, no período de 2004 a 2010. Fonte: Diretoria Técnica – Cedec/MG. Observa-se que no ano de 2010 o número de municípios que decretaram Situação de Emergência e foram reconhecidos pelo Governo Federal aumentou 43%, em relação à média histórica de reconhecimentos dos últimos 5 anos, de 62 municípios. 112 6.3 Número de Municípios Assistidos com Caminhões-Pipas em 2007 a 2010 Tabela 2 – Apoio de Caminhões-pipas aos municípios atingidos pela Seca em Minas Gerais em 2007 a 2010. Ano Nr de Municípios Atendidos Nr Caminhões-pipas 2007 95 182 2008 102 364 2009 89 213 2010 87 435 Fonte: Centro de Controle de Emergências – Cedec/MG. O número de caminhões-pipa que assistiram aos municípios em 2010 foi de 435. Portanto, a média do atendimento dos 87 municípios em situação de anormalidade foi de 5 (cinco) caminhões pipa, por todo o período de seca. De acordo com a Copasa, o valor gasto por caminhão-pipa é de R$ 5.164,57 (cinco mil cento e sessenta e quatro reais e cinquenta e sete centavos) por mês. O gasto total executado para contratação dos caminhões-pipa em apoio complementar aos municípios foi de R$ 5.811.862,77 (cinco milhões oitocentos e onze mil oitocentos e sessenta e dois reais e setenta e sete centavos) em 2010, realizado através de convênios entre a Copasa, Sedru e Cedec e Idene. 6.4 Danos e Prejuízos causados pela Seca em 2007 a 2009 Através do formulário de avaliação de danos (Avadan), foram mensurados os danos humanos, ambientais e prejuízos econômicos e sociais dos municípios atingidos pela seca em 2010. Verifica-se, na tabela 4, que o prejuízo total foi de R$ 1.738.338.687 (um bilhão, setecentos e trinta e oito milhões, trezentos e trinta e oito mil, seiscentos e oitenta e sete reais). Em comparação com a média dos três anos anteriores (2007-2009), que foi de R$ 553.394.074,33 (quinhentos e cinquenta e três milhões, trezentos e noventa e quatro mil, setenta e quatro reais e 113 trinta e três centavos), constata-se que ocorreu um aumento de 314% no valor total mensurado pelo Avadan. Tabela 3 – Quantidade de danos e valor dos prejuízos causados pela Seca no Estado de Minas Gerais no período de 2007 a 2010. DANOS HUMANOS Ano Deslocados Enfermos DANOS Afetados PREJUÍZOS VALOR Ambientais Econômicos Sociais AVADAN em R$ em R$ em R$ em R$ 2007 13.833 1.175 605.749 21.524.200,00 11.234.544,00 43.437.205,00 394.287.212,00 2008 19.289 1.301 550.941 21.141.700,00 488.191.235,00 618.363.489,00 1.127.696.424,00 2009 24.296 2.381 225.588 569.000,00 99.356.760,00 38.272.867,00 138.198.587,00 2010 18.594 1.582 772.154 935.000,00 1.599.676.084,00 137.727.603,00 1.738.338.687,00 Fonte: Diretoria Técnica – Cedec/MG 6.5 Diagnóstico sócio-econômico das áreas afetadas pela seca em Minas Gerais Para traçar o perfil sócio-econômico das áreas afetadas pela seca e estiagem em Minas Gerais, buscou-se informações junto aos bancos de dados eletrônicos do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, baseado nos microdados dos censos de 1991 e de 2000 do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), através das informações sobre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e 125 outros indicadores georreferenciados de população, tomamos como referencial os coeficientes de Gini e L.Theil. O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini e é comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda mas pode ser usada para qualquer distribuição. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda e 1 corresponde à completa desigualdade. O índice de Gini é o coeficiente expresso em pontos percentuais. O Índice de Theil é uma medida estatística da distribuição de renda. O índice de Theil é dado pelo logaritmo neperiano da razão entre as médias aritméticas e geométricas da renda familiar per capita média. Se a razão entre as médias for igual a 1, Theil será igual a zero, 114 indicando perfeita distribuição. Quanto maior a razão entre as médias, maior será o valor para o índice de Theil, e pior será a distribuição de renda O Índice de Theil, calculado por Theil em 1967, é baseado no conceito de entropia de uma distribuição. Entre suas qualidades enumeram-se que é simétrico (tem a propriedade de invariância em caso de permuta de indivíduos), é invariante à replicação (é independente de replicações de população), independente da média (tem a propriedade de ser invariante em caso de alteração da escala da renda), e satisfaz o Princípio de Pigou-Dalton que afirma que a desigualdade cresce como resultado de transferências regressivas. Usamos também o Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS 2009 gerenciado pela Fundação João Pinheiro - FJP. Indicador esse que retrata a responsabilidade social conjunta dos diversos níveis de governo. Nesse sentido, este estudo concentrou suas análises nos índices apurados no ano de 2007 6.5.1 Índice de Gini para o Estado de Minas Gerais no ano de 2000 Em 2000, o Índice de Gini do Brasil era 0,65. Dentre os municípios do Estado de Minas Gerais, 2 municípios estavam empatados com o melhor valor (0,44) Capitólio e Raposos e o município com o pior valor era São Gotardo (MG), com um valor de 0,73. 115 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Índice de Gini – Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 Dos 853 municípios do estado, 6 (0,7%) tinham um valor entre 0,38 e 0,45; 242 (28,4%) tinham um valor entre 0,45 e 0,53; 478 (56,0%) tinham um valor entre 0,53 e 0,60; 109 (12,8%) tinham um valor entre 0,60 e 0,68; e 18 (2,1%) tinham um valor entre 0,68 e 0,75. 116 Em termos de população, 436.347 (2,4%) pessoas viviam em municípios com um Índice de Gini entre 0,38 e 0,45; 2.807.338 (15,7%) entre 0,45 e 0,53; 9.558.195 (53,4%) entre 0,53 e 0,60; 4.732.842 (26,5%) entre 0,60 e 0,68; e 356.772 (2,0%) entre 0,68 e 0,75. 6.5.2 Índice de Gini para a Microrregião Montes Claros no ano de 2000 Em 2000, o Índice de Gini do Brasil era 0,65. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, 2 municípios Claro dos Poções e Luislândia, estavam empatados com o melhor valor (0,52).e 2 municípios Ibiracatu e Ubaí, estavam empatados com o pior valor (0,65). Dos 22 municípios da microrregião, 2 (9,1%) tinham um valor entre 0,50 e 0,53; outros 2 (9,1%) tinham um valor entre 0,53 e 0,55; 4 (18,2%) tinham um valor entre 0,55 e 0,58; e 14 (63,6%) tinham um valor igual a 0,58 ou maior. Em termos de população, 14.314 (2,7%) pessoas viviam em municípios com um Índice de Gini entre 0,50 e 0,53; 27.463 (5,1%) entre 0,53 e 0,55; 21.250 (3,9%) entre 0,55 e 0,58; e 476.022 (88,3%) igual a 0,58 ou maior. 117 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 de Gini - Microrregião de Montes Índice deÍndice Desenvolvimento Humano – IDH-M 2000 –Claros Índice de Gini Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 118 6.5.3 Índice L de Theil para o Estado de Minas Gerais Em 2000, o Índice L de Theil do Brasil era 0,76. Dentre os municípios do Estado de Minas Gerais, 3 municípios Capitólio, Ibirité e Ribeirão das Neves estavam empatados com o melhor valor (0,32). E o município com o pior valor era São Gotardo (MG), com um valor de 1,03. Dos 853 municípios do estado, 208 (24,4%) tinham um valor entre 0,30 e 0,45; 501 (58,7%) tinham um valor entre 0,45 e 0,60; 121 (14,2%) tinham um valor entre 0,60 e 0,75; 19 (2,2%) tinham um valor entre 0,75 e 0,90; e 4 (0,5%) tinham um valor entre 0,90 e 1,05. Em termos de população, 3.227.493 (18,0%) pessoas viviam em municípios com um Índice L de Theil entre 0,30 e 0,45; 9.095.942 (50,8%) entre 0,45 e 0,60; 5.076.511 (28,4%) entre 0,60 e 0,75; 353.756 (2,0%) entre 0,75 e 0,90; e 137.792 (0,8%) entre 0,90 e 1,05. 119 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Índice de L. Theil – Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 120 6.5.4 Índice L de Theil para a Microrregião Montes Claros o ano 2000 Em 2000, o Índice L de Theil do Brasil era 0,76. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, o município com o melhor valor era Lontra (MG), com um valor de 0,45, e 2 municípios Coração de Jesus e Montes Claros, estavam empatados com o pior valor (0,67). Dos 22 municípios da microrregião, 9 (40,9%) tinham um valor entre 0,45 e 0,50; 6 (27,3%) tinham um valor entre 0,50 e 0,55; 4 (18,2%) tinham um valor entre 0,55 e 0,60; e 3 (13,6%) tinham um valor igual a 0,60 ou maior. Em termos de população, 53.557 (9,9%) pessoas viviam em municípios com um) Índice L de Theil entre 0,45 e 0,50; 68.796 (12,8%) entre 0,50 e 0,55; 73.246 (13,6%) entre 0,55 e 0,60; e 343.450 (63,7%) igual a 0,60 ou maior. 121 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Índice de L. Theil - Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 122 6.5.5 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Minas Gerais no ano 2000 Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal do Brasil era 0,766. Dentre os municípios do Estado de Minas Gerais, o município com o melhor valor era Poços de Caldas (MG), com um valor de 0,841, e o município com o pior valor era Setubinha (MG), com um valor de 0,568. Dos 853 municípios do estado, 705 (82,6%) tinham um valor entre 0,650 e 0,800; e 38 (4,5%) tinham um valor entre 0,800 e 1,000. Em termos de população, (5,7%) pessoas viviam em municípios com um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal entre 0,500 e 0,650; 11.082.128 (61,9%) entre 0,650 e 0,800; e 5.786.790 (32,3%) entre 0,800 e 1,000. 123 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 124 6.5.6 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Microrregião Montes Claros no ano de 2000 Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal do Brasil era 0,766. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, o município com o melhor valor era Montes Claros (MG), com um valor de 0,783, e o município com o pior valor era Verdelândia (MG), com um valor de 0,602. Dos 22 municípios da microrregião, 9 (40,9%) tinham um valor entre 0,500 e 0,650; 13 (59,1%) tinham um valor entre 0,650 e 0,800. Não existiam municípios com valores superiores a 0,800. Em termos de população, 89.620 (16,6%) pessoas viviam em municípios com um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal entre 0,500 e 0,650; 449.429 (83,4%) entre 0,650 e 0,800; 125 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 126 6.5.7 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Educação Estado de Minas Gerais Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Educação do Brasil era 0,849. Dentre os municípios do Estado de Minas Gerais, 2 municípios Belo Horizonte e Viçosa, estavam empatados com o melhor valor (0,929).e o município com o pior valor era Ninheira (MG), com um valor de 0,573. Dos 853 municípios do estado, 13 (1,5%) tinham um valor entre 0,500 e 0,650; 415 (48,7%) tinham um valor entre 0,650 e 0,800; e 425 (49,8%) tinham um valor entre 0,800 e 1,000. Em termos de população, 94.278 (0,5%) pessoas viviam em municípios com um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Educação entre 0,500 e 0,650; 3.891.939 (21,8%) entre 0,650 e 0,800; e 13.905.277 (77,7%) entre 0,800 e 1,000. 127 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Educação em Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 128 6.5.8 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Educação Microrregião Montes Claros Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Educação do Brasil era 0,849. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, o município com o melhor valor era Montes Claros, com um valor de 0,872, e o município com o pior valor era Verdelândia, com um valor de 0,652. Dos 22 municípios da microrregião, 19 (86,4%) tinham um valor entre 0,650 e 0,800; e 3 (13,6%) tinham um valor entre 0,800 e 1,000. Em termos de população, 221.142 (41,0%) entre 0,650 e 0,800; e 317.907 (59,0%) entre 0,800 e 1,000. 129 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Educação na Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 130 6.5.9 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Renda Estado de Minas Gerais Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Renda do Brasil era 0,723. Dentre os municípios do Estado de Minas Gerais, o município com o melhor valor era Belo Horizonte, com um valor de 0,828, e o município com o pior valor era Bonito de Minas, com um valor de 0,423. Dos 853 municípios do estado, 43 (5,0%) tinham um valor entre 0,350 e 0,500; 469 (55,0%) tinham um valor entre 0,500 e 0,650; 339 (39,7%) tinham um valor entre 0,650 e 0,800; e 2 (0,2%) tinham um valor entre 0,800 e 1,000. Em termos de população, 325.054 (1,8%) pessoas viviam em municípios com um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Renda entre 0,350 e 0,500; 4.577.018 (25,6%) entre 0,500 e 0,650; 10.723.265 (59,9%) entre 0,650 e 0,800; e 2.266.157 (12,7%) entre 0,800 e 1,000. 131 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Renda em Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 132 6.5.10 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Renda Microrregião Montes Claros Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Renda do Brasil era 0,723. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, o município com o melhor valor era Montes Claros, com um valor de 0,691, e o município com o pior valor era Verdelândia, com um valor de 0,458. Dos 22 municípios da microrregião, 7 (31,8%) tinham um valor entre 0,350 e 0,500; 14 (63,6%) tinham um valor entre 0,500 e 0,650; 1 (4,5%) tinham um valor entre 0,650 e 0,800. Em termos de população, 55.952 (10,4%) pessoas viviam em municípios com um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Renda entre 0,350 e 0,500; 176.150 (32,7%) entre 0,500 e 0,650; 306.947 (56,9%) entre 0,650 e 0,800. 133 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Renda per Capta na Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 134 6.5.11 Renda per Capita Microrregião Montes Claros Em 2000, o Renda per Capita do Brasil era 297,23. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, o município com o melhor valor era Montes Claros (MG), com um valor de 245,43, e o município com o pior valor era Verdelândia (MG), com um valor de 60,71. Dos 22 municípios da microrregião, 12 (54,5%) tinham um valor entre 45,00 e 90,00; 9 (40,9%) tinham um valor entre 90,00 e 135,00; e 1 (4,5%) tinham um valor igual a 180,00 ou maior. Em termos de população, 107.619 (20,0%) pessoas viviam em municípios com um Renda per Capita entre 45,00 e 90,00; 124.483 (23,1%) entre 90,00 e 135,00; e 306.947 (56,9%) igual a 180,00 ou maior. 135 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Renda per Capta na Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 136 6.5.12 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Longevidade Estado de Minas Gerais Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Longevidade do Brasil era 0,727. Dentre os municípios do Estado de Minas Gerais, o município com o melhor valor era São Lourenço, com um valor de 0,865, e 2 municípios Curral de Dentro e Montezuma, estavam empatados com o pior valor (0,571). Dos 853 municípios do estado, 50 (5,9%) tinham um valor entre 0,500 e 0,650; 669 (78,4%) tinham um valor entre 0,650 e 0,800; e 134 (15,7%) tinham um valor entre 0,800 e 1,000. Em termos de população, 442.601 (2,5%) pessoas viviam em municípios com um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Longevidade entre 0,500 e 0,650; 13.620.103 (76,1%) entre 0,650 e 0,800; e 3.828.790 (21,4%) entre 0,800 e 1,000. 137 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Longevidade em Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 138 6.5.13 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Longevidade Microrregião Montes Claros Em 2000, o IDH-Longevidade do Brasil era 0,727. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, o município com o melhor valor era Montes Claros (MG), com um valor de 0,787, e o município com o pior valor era Patis (MG), com um valor de 0,647. Dos 22 municípios da microrregião, 1 (4,5%) tinham um valor entre 0,500 e 0,650; 21 (95,5%) tinham um valor entre 0,650 e 0,800 Em termos de população 5.164 (1,0%), pessoas viviam em municípios com um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Longevidade entre 0,500 e 0,650; 533.885 (99,0%) entre 0,650. 139 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Longevidade na Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 140 6.5.14 Intensidade da pobreza no Estado de Minas Gerais Em 2000, a Intensidade da pobreza do Brasil era 49,68. Dentre os municípios do Estado de Minas Gerais, o município com o melhor valor era Monte Sião, com um valor de 24,04, e o município com o pior valor era Bonito de Minas, com um valor de 74,10. Dos 853 municípios do estado, 50 (5,9%) tinham um valor entre 20,00 e 30,00; 366 (42,9%) tinham um valor entre 30,00 e 40,00; 250 (29,3%) tinham um valor entre 40,00 e 50,00; 147 (17,2%) tinham um valor entre 50,00 e 60,00; e 40 (4,7%) tinham um valor entre 60,00 e 70,00. Em termos de população, 713.814 (4,0%) pessoas viviam em municípios com um(a) Intensidade da pobreza entre 20,00 e 30,00; 7.391.158 (41,3%) entre 30,00 e 40,00; 7.755.219 (43,3%) entre 40,00 e 50,00; 1.615.728 (9,0%) entre 50,00 e 60,00; e 415.575 (2,3%) entre 60,00 e 70,00. 141 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Intensidade da Pobreza em Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 142 6.5.15 Intensidade da pobreza Microrregião Montes Claros Em 2000, a Intensidade da pobreza do Brasil era 49,68. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, o município com o melhor valor era Montes Claros, com um valor de 42,06, e o município com o pior valor era Ibiracatu, com um valor de 68,75. Dos 22 municípios da microrregião, 1 (4,5%) tinham um valor entre 40,50 e 45,00; 3 (13,6%) tinham um valor entre 45,00 e 49,50; 4 (18,2%) tinham um valor entre 49,50 e 54,00; 6 (27,3%) tinham um valor entre 54,00 e 58,50; e 8 (36,4%) tinham um valor entre 58,50 e 63,00. Em termos de população, 306.947 (56,9%) pessoas viviam em municípios com um(a) Intensidade da pobreza entre 40,50 e 45,00; 35.656 (6,6%) entre 45,00 e 49,50; 54.161 (10,0%) entre 49,50 e 54,00; 78.119 (14,5%) entre 54,00 e 58,50; e 64.166 (11,9%) entre 58,50 e 63,00. 143 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Intensidade da pobreza na Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 144 6.5.16 Intensidade da indigência Estado de Minas Gerais Em 2000, a Intensidade da indigência do Brasil era 53,87. Dentre os municípios do Estado de Minas Gerais, o município com o melhor valor era Cabo Verde, com um valor de 21,32, e o município com o pior valor era Água Comprida, com um valor de 80,00. Dos 853 municípios do estado, 34 (4,0%) tinham um valor entre 20,00 e 30,00; 272 (31,9%) tinham um valor entre 30,00 e 40,00; 303 (35,5%) tinham um valor entre 40,00 e 50,00; 196 (23,0%) tinham um valor entre 50,00 e 60,00; e 48 (5,6%) tinham um valor entre 60,00 e 70,00. Em termos de população, 272.131 (1,5%) pessoas viviam em municípios com uma Intensidade da indigência entre 20,00 e 30,00; 2.766.694 (15,5%) entre 30,00 e 40,00; 5.773.927 (32,3%) entre 40,00 e 50,00; 7.955.043 (44,5%) entre 50,00 e 60,00; e 1.123.699 (6,3%) entre 60,00 e 70,00. 145 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Intensidade da Indigência em Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 146 6.5.17 Intensidade da indigência Microrregião Montes Claros Em 2000, a Intensidade da indigência do Brasil era 53,87. Dentre os municípios da microrregião Montes Claros, o município com o melhor valor era Francisco Sá, com um valor de 36,30, e o município com o pior valor era Ibiracatu, com um valor de 68,90. Dos 22 municípios da microrregião, 1 (4,5%) tinham um valor entre 35,00 e 37,50; 1 (4,5%) tinham um valor entre 37,50 e 40,00; 2 (9,1%) tinham um valor entre 40,00 e 42,50; 2 (9,1%) tinham um valor entre 42,50 e 45,00; e 16 (72,7%) tinham um valor entre 45,00 e 47,50. Em termos de população, 23.562 (4,4%) pessoas viviam em municípios com uma Intensidade da indigência entre 35,00 e 37,50; 8.193 (1,5%) entre 37,50 e 40,00; 17.014 (3,2%) entre 40,00 e 42,50; 332.676 (61,7%) entre 42,50 e 45,00; e 157.604 (29,2%) entre 45,00 e 47,50. 147 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Intensidade da Indigência na Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 148 6.6 Índice Mineiro de Responsabilidade Social O IMRS é um índice desenvolvido para todos os municípios do Estado de Minas Gerais, e avalia a situação desses municípios, contemplando as dimensões renda, saúde, educação, segurança pública, gestão, habitação e meio ambiente, cultura e desporto e lazer. Os esforços para alterar a situação são captados por meio da variação dos indicadores ao longo do tempo, e, ainda, pela definição de ações específicas para sua avaliação. Para cada dimensão, foram selecionados temas relevantes que pudessem retratar: a situação existente, a atuação da gestão pública e as iniciativas vinculadas à participação nas decisões. As ações avaliadas foram definidas como aquelas que são (ou deveriam ser) prioridade de programas e de políticas públicas das esferas de governo municipal, estadual e/ou federal. Sendo assim, os diferentes níveis de governo são co-responsáveis por avanços nessas áreas, e o índice retrataria seu sucesso ou sua responsabilidade social conjunta. Só uma análise posterior mais aprofundada das informações poderia vir a identificar de forma mais clara o grau de responsabilidade de cada esfera específica: os governos federal e/ou estadual não atenderam adequadamente o município ou a administração municipal é que não foi proativa em responder aos programas estabelecidos nas esferas superiores? Selecionadas as dimensões e seus temas, o passo seguinte foi escolher indicadores que pudessem retratar o conteúdo de cada tema. Nesta tarefa, as escolhas tiveram que obedecer a questões de ordem mais pragmática, levando em conta o grau de abrangência, periodicidade e consistência estatística dos indicadores disponíveis. É preciso reconhecer que poucos indicadores atendiam plenamente aos requesitos necessários. A alternativa, então, foi utilizar proxies e um número muito maior de indicadores do que o inicialmente pretendido. Na construção do IMRS os indicadores de cada tema são transformados em índices, com valores entre 0 e 1, pela fórmula geral: (Valor observado-pior valor) / (melhor valor – pior valor). O índice de cada tema é obtido através da média ponderada dos índices dos indicadores que o compõem. Da mesma forma, calculam-se o índice de cada dimensão (média ponderada dos índices dos temas que a compõem) e o IMRS (média ponderada dos índices das dimensões). Os pesos definidos para cada dimensão e indicador, bem como os valores limites da fórmula de normalização (pior e melhor) utilizados, estão registrados na tabela 7. 149 Tabela 4: Composição do IMRS – Indicadores, Pesos e Limites 150 6.6.1 Índice Mineiro de Responsabilidade Social 2006 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 Minas Gerais 151 6.6.2 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – Educação Subíndices do IMRS, no qual participa com peso de 20%. É uma média ponderada de indicadores relacionados aos temas: escolaridade a população, acesso e utilização dos serviços educacionais, qualidade do ensino e esforço da gestão pública. Mais especificamente, é uma média ponderada dos índices referentes aos indicadores: Taxa de analfabetismo funcional da população de 15 anos ou mais (peso 20%); Percentual de pessoas de 7 a 17 anos na escola (peso 30%); índice de qualidade do ensino - 4ª. série do fundamental (peso 30%); Gasto per capita com Educação (peso 10%); e Percentual de gasto com educação (peso 10%). Este subíndices, assim como os índices referentes a esses indicadores, foram calculados apenas os anos de 2000, 2002, 2004 e 2005. O índice pode variar de 0 a 1, valores que representam, respectivamente, a pior e a melhor situação. 152 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 IMRS Educação – Minas Gerais 153 6.6.3 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – Renda. Subíndices do IMRS, no qual participa com peso de 15%. É uma média ponderada dos índices referentes aos indicadores: consumo residencial per capita de energia elétrica (peso 30%); rendimento médio do setor formal (peso 15%); taxa de emprego no setor formal (peso 15%); produto interno bruto per capita (peso 30%); gasto per capita total municipal (peso 5%); e esforço de investimento (peso 5%). Este subíndices, assim como os índices referentes a esses indicadores, foram calculados apenas para os anos de 2000, 2002, 2004 e 2005. O índice pode variar de 0 a 1, valores que representam, respectivamente, a pior e a melo situação. 154 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 IMRS Renda – Minas Gerais 155 6.6.4 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – Abastecimento de Água e Banheiros. Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 Abastecimento de Água e Banheiros – Minas Gerais 156 Quadro 2 - Distribuição percentual dos domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e forma de abastecimento de água - Minas Gerais – 2000 Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio Urbana Forma de abastecimento de água (%) Municípios e classes de Rede geral tamanho da população Total Minas Gerais 96,6 Poço ou nascente Canalizada Canalizada em pelo só na menos um propriedade cômodo ou terreno 92,8 3,8 Total 2,6 Outra Canalizada Canalizada em pelo só na Não- forma menos um propriedade canalizada (1) cômodo ou terreno 2,0 0,2 0,3 0,8 Rural Forma de abastecimento de água(%) Rede geral Total Minas Gerais 15,0 Poço ou nascente Canalizada Canalizada em pelo só na menos um propriedade cômodo ou terreno 10,9 4,0 Total 73,2 Outra Canalizada Canalizada em pelo só na Não- forma menos um propriedade canalizada (1) cômodo ou terreno 51,2 10,5 11,5 11,8 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. (1) Domicílios sevidos de água de reservatório (ou caixa), abastecido com água das chuvas, por carro-pipa ou, ainda, por poço ou nascente localizado fora do terreno ou da propriedade onde estava construído. 157 6.6.5 Proporção de internações por doenças de veiculação hídrica Percentual de internações hospitalares por doenças de veiculação hídrica corresponde à razão entre o número de internações por doenças de veiculação hídricas e o número total de internações da população residente. Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 Proporção de internações por doenças de Veiculação Hídrica - MG 158 6.6.6 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – Saúde Subíndices do IMRS, no qual participa com peso de 20%. É uma média ponderada de indicadores relacionados aos temas: estado de saúde da população, acesso e utilização dos serviços de saúde (atenção primária e médico hospitalar) e esforço da gestão púbica. Mais especificamente compõem este subíndices os indicadores: taxa bruta de mortalidade padronizada, cobertura vacinal de tetravalente em menores de um ano. Acesso à assistência ao parto, proporção de nascido vivos cujas mães realizam 7 ou mais consultas de pré-natal. Proporção de óbito por causa mal definidas e cobertura populacional de Programa de Saúde da Família (PSF). 159 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 IMRS Saúde – Minas Gerais 160 6.6.7 Os 100 maiores e os 100 menores IDH-M – 2000 do Estado de Minas Gerais Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Os 100 maiores IDH-M – 2000 de Minas Gerais Os 100 maiores IDH-M 2000 22000 Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 161 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M- 2000 Os 100 menores IDH-M – 2000 de Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 162 6.6.8 Os 100 maiores e 100 menores IMRS – 2000 do Estado de Minas Gerais Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2000 Os 100 maiores IMRS – 2000 de Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 163 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2000 Os 100 menores IMRS – 2000 de Minas Gerais Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 164 6.6.9 Os 100 maiores e os 100 menores IMRS – 2006 do Estado de Minas Gerais Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 Os 100 maiores IMRS – 2006 de Minas Gerais 165 Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 Os 100 menores IMRS – 2006 de Minas Gerais 166 6.6.10 Os 10 maiores IMRS – 2006 da Microrregião de Montes Claros Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 Os 10 maiores IMRS – 2006 da Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 167 6.6.11 Os 10 menores IMRS – 2006 da Microrregião de Montes Claros Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS - 2006 Os 10 menores IMRS – 2006 da Microrregião de Montes Claros Fonte: Fundação João Pinheiro – FJP Elaboração: Sílvio J.S. Filho – Escala Original: 1:50000 – Datum: SAD 1969 Fuso 23S – MAIO/2011 168 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Minas Gerais é um estado que apresenta com uma grande diversidade cultural, social, econômica e política oriunda do seu processo de ocupação e expansão onde são identificados 188 municípios que estão em áreas que frequentemente enfrentam problemas com a seca. Esses municípios correspondem a 22,03% dos municípios mineiros e a 37% da área estadual com uma área equivalente a 218.737,17 km² com uma população de cerca de 2.8 milhões de habitantes, perfazendo 16% da população mineira e a 12,7% da população do semiárido brasileiro (IBGE, 2000). Segundo dados da Secretaria de Estado Extraordinário para o Desenvolvimento dos Vales Jequitinhonha, Mucuri e Norte – SEDVAN e Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais - IDENE, apenas 34 dos 188 municípios de sua área de responsabilidade (18,5%) possuem população acima de 20 mil habitantes. Um aspecto que deve ser considerado é o movimento dessas populações para fora dos seus limites territoriais, principalmente na região Norte e Jequitinhonha, por falta de oportunidades de trabalho e renda. De acordo com OLIVEIRA (2000), o crescimento da população do Vale do Jequitinhonha há pelo menos 30 anos permanece inferior a 1% ao ano em razão da emigração. Os municípios destas regiões apresentam baixos valores de renda per capita, sobretudo quando comparados a maioria dos municípios de outras regiões do estado. Estes municípios apresentam também alta intensidade de pobreza, como demonstrou nosso estudo, principalmente se comparados com os demais municípios do estado, destacam-se de forma mais negativa ainda, exceto Montes Claros, que se caracteriza como um pólo industrial, comercial e educacional entre os demais municípios da área de atuação do IDENE. Dados de pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), em 2006 com 853 cidades de Minas colocam as cidades do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha como as que tiveram os piores desempenhos em saúde. Entre os 300 municípios brasileiros com pior resultado nesta área, 7 estão localizados na Região Norte do estado, 7 no Vale do Jequitinhonha e 7 no Vale do Mucuri, regiões mais pobres de Minas Gerais. 169 Estas regiões apresentam a menor esperança de vida ao nascer em relação à maioria dos municípios localizados em outras regiões do estado. Uma das principais causas para os baixos valores de esperança de vida ao nascer é a falta de saneamento básico. Percentual significativo dos municípios localizados nas áreas estudadas apresentando um baixo índice de pessoas que vivem em domicílios que possuem banheiro e água encanada, conforme mostrou nossos estudos e quando comparados aos demais municípios do estado de Minas Gerais, constata-se que estes percentuais nas são os menores do estado. Segundo dados da Secretaria Estadual de Educação, Minas Gerais possui uma das maiores redes de ensino do Brasil, mas em razão das grandes diferenças regionais ainda existem graves problemas de qualidade fortemente correlacionados aos de equidade. Apesar disso, bons resultados começam a aparecer em escolas de todas as regiões, especialmente as mais pobres, entre elas as dos municípios situados na área de abrangência do IDENE. Ainda há que considerar que houve melhoria expressiva no nível de alfabetização da população residente nesses municípios a partir de 1991, mas é também evidente que parcela relativamente elevada ainda se encontra analfabeta. De acordo com dados do IBGE 2000, o percentual de analfabetos variou entre 24,3 a 46,1% na grande maioria destes municípios em Minas Gerais. Não obstante, este quadro vem melhorando segundo análises preliminares mais recentes. Corrobora para a análise positiva da educação regional o índice de Desenvolvimento Humano da Educação no Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas que saiu dos 0,4 em 1990, considerado baixo, para acima do 0,5, considerado médio, em 2000, resguardados alguns municípios, assim como nas demais regiões, ocorreu uma variação desse índice de 0,7 a 0,92, conforme dados de nossa pesquisa. Os índices de Desenvolvimento Humano dos municípios analisados são classificados como baixos, exceto o do município de Montes Claros. De modo geral, os IDH-M das Regiões de responsabilidade do IDENE são os menores em relação a outros municípios do estado. Os resultados dos estudos sócio-econômicos apresentados corroboram o cenário socioeconômico descrito. De acordo com os componentes estudados, as regiões Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, onde está localizada a maioria dos desastres relativos à seca apresentaram, em relação às outras regiões do estado, deficiência em vários indicadores como na renda per capita, 170 educação, habitação, saúde, saneamento e índice de desenvolvimento humano; deficiências nas organizações de ensino e pesquisa e de segurança pública. Nosso estudo aponta a presença de muitas dificuldades para o desenvolvimento sustentável (compatibilizar crescimento econômico, justiça social e conservação ambiental) da maioria destes municípios, devido à capacidade limitada de oferecerem retorno aos investimentos compatível com a concorrência de outras regiões. Esses municípios são dependentes de assistência direta e constante dos governos em áreas muito básicas de desenvolvimento. Da análise agregada de todos os dados até aqui apresentados sobre as áreas afetadas por desastres relativos à seca em Minas Gerais, incluindo a situação social, econômica, ambiental, climática, de solos, de vegetação e recursos hídricos, pode-se ver, com toda a clareza, que a elaboração e implantação do Projeto Estruturador mais focado para essas regiões do estado deve ser implementado ações de desenvolvimento sustentável para o combate à seca a mitigação dos efeitos. Um Projeto desse porte, é extremamente oportuno para apoiar as regiões mais pobres do estado a superar suas carências de forma ambientalmente correta. Ademais, ações em todas as esferas devem também resultar na formalização e institucionalização de uma política estadual de combate à pobreza e à seca e seus efeitos da seca. Propomos a realização de futuros estudos e trabalhos de campo que poderão vir a servir de instrumento de planejamento para o Governo do Estado, que em parceria com outros órgão como a própria Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, venham construir e operar, com sustentação financeira adequada, pesquisas e projetos voltados para o Desenvolvimento Regional de Minas Gerais. 171 REFERÊNCIAS BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. In: Cadernos de ciências da terra. São Paulo, v. 13, p. 1-27 [1972]. BRASIL. Atlas das áreas suscetíveis à desertificação do Brasil, 2009. Disponível em: <http://paenorte.blogspot.com/2009/10/atlas das áreas suscetíveis.html>. Acesso em: abr. 2010. (blog dos gestores dos Programas de ação Estadual de combate a desertificação-PAEs). BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro 1988. Disponível em <http://www.senado.gov.br>. Acesso em 28 jan. 2011. BRASIL. 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