Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85288-0061-6 A BUSCA PELA VERDADE NA HISTÓRIA: Heróis e utopias na obra de Irineu Ferreira Pinto Fabrício de Sousa Morais* O objetivo deste texto é discutir a construção da história do Brasil numa área afastada do epicentro político-econômico do país, o estado da Paraíba. A idéia central é analisar, a partir dos de um determinado trecho do livro Datas e notas para a história da Paraíba (publicado em dois volumes, 1908 e 1916), escritos por Irineu Ferreira Pinto (1881-1918), como, no início do século XX, este historiador, a partir da coleta de um vasto número de documentos, criou uma versão da história deste estado. Para Ferreira Pinto e boa parte dos seus “seguidores” os documentos oficiais são verdades incontestes, por isso o trabalho de “resgate”. Vale ressaltar que a sua obra foi uma das grandes influenciadoras dos historiadores ligados ao IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano). O intuito maior era construir uma história da Paraíba capaz de mostrar para toda a nação os feitos heróicos dos paraibanos ilustres e com isso contribuir para o engrandecimento da história nacional. Irineu Ferreira Pinto nasceu na capital da Parahyba do Norte em sete de abril de 1881, filho de Bernardina Pereira de Alencar e Francisco Ferreira Pinto. Seu pai morreu em 1889 e devido a um novo casamento de sua mãe, que desagradou seus familiares, foi morar em Barreiras, atual cidade de Bayeux (cidade pertencente a grande João Pessoa – PB), com sua tia Francisca e sua avó Maria Tereza de Jesus, que foram as responsáveis por sua criação. Iniciou seus estudos em Barreiras e posteriormente foi estudar no Lyceu Paraibano, o principal colégio do estado. Suas intenções eram as mesmas dos jovens da época, freqüentar o curso de Direito em Pernambuco, mas como sua família não tinha condições financeiras para sustentá-lo fora da Paraíba, isso não se tornou possível. Durante a juventude, escreveu crônicas, sonetos e trovas para os jornais locais. Mas a sua vida profissional não se encaminhou para a carreira jornalística, como seria de se imaginar. No raiar do século XX, precisamente em 1900, ele ingressou no funcionalismo público na Secretaria do Estado, sendo despedido no ano seguinte por corte de despesas. Em 1903, começou a trabalhar nos correios como amanuense,1 função que desempenhou até a sua morte. * Graduado em História (UFPB) e Mestre em Sociologia (UFPB). E-mail: [email protected] Funcionário público de condição considerada modesta que fazia a correspondência e copiava ou registrava documentos. 1 1 Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85288-0061-6 Nos primeiros anos de vida do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP), a atuação de Irineu Pinto é intensa. Foi responsável pela coleta de documentos nos arquivos locais, propôs uma comissão que buscasse o crânio de José Peregrino de Carvalho, eleito pelo IHGP como um dos heróis de 1817. Também propôs uma outra comissão que averiguasse o paradeiro dos restos mortais de André Vidal de Negreiros, outra figura mitificada pela historiografia paraibana. Publicou diversos artigos nas primeiras revistas do IHGP. Foi o divulgador do IHGP no Brasil e fora dele, através do intercâmbio da Revista do Instituto com os seus congêneres nacionais e internacionais, participou de congressos nacionais como representante do mesmo. Além disso, ocupou os seguintes cargos no Instituto: Bibliotecário (1905-10); Primeiro secretário e bibliotecário (1910-12); Primeiro secretário (1912-18). O cargo de secretário era de fundamental importância para o desenrolar das atividades diárias, cabia a ele o bom funcionamento da associação. Vale destacar a sua atuação como secretário do IHGP, pois, ao contrário do presidente, que na maioria das vezes, era um homem ligado a política local, seu cargo o fazia responsável pelo cotidiano da instituição e pelas ações científicas. Funções que podem ser resumidas da seguinte forma: Os secretários cuidavam, por sua vez, do dia-a-dia da instituição. Montavam atas e pautas de reunião, dirigiam os trabalhos organizavam a revista, propunham a abertura de concursos e a realização de homenagens, auxiliam nos trabalhos da biblioteca e do acervo, redigiam pareceres para efetivação de novos sócios, enfim, eram responsáveis pelo funcionamento do estabelecimento (SCHWARCZ, 1993:114). No ano de 1913, Irineu recebeu do governo da Paraíba uma importante missão, viajar para Portugal em busca de documentos que resolvessem a questão dos limites entre a Paraíba e Pernambuco. O arquivo a ser pesquisado em Lisboa era o da Torre do Tombo. O curioso é que não foi encontrada menção ao destino da documentação coletada e nem se serviu para acabar com os problemas territoriais entre a Paraíba e o seu vizinho Pernambuco. Uma característica de Irineu Pinto que merece menção é o seu patriotismo, ressaltado, principalmente pelo seu filho Piragibe Pinto. Ele mostra o patriotismo do pai sobrepondo-se à carreira de funcionário público e até mesmo à sua família. O seu amor à pátria era tão grande que ao soar os primeiros acordes do hino nacional, ele tomava a posição de sentido, “para ele tanto fazia ouvir o nosso hino tocado por um simples gramofone, como por banda de música em festividade pública, merecia as mesmas homenagens” (PINTO, s/d:37). Ressalta também, que os interesses de historiador de Irineu estavam estritamente ligados a este patriotismo, nas 2 Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85288-0061-6 palavras do seu filho: “Ele era um entusiasta das belezas de nossa Pátria, de seu futuro como nação e, sobretudo, de seu passado histórico” (PINTO, s/d:37). Esta é uma das particularidades da sua obra, a exaltação aos acontecimentos patrióticos. O seu patriotismo fica expresso, por exemplo, na exaltação do movimento de 1817, como veremos mais adiante. A produção histórica de Irineu Pinto está circunscrita às revistas do IHGP e a Datas e notas para a história da Paraíba. O livro se encontra dividido em dois volumes, o primeiro tem como recorte de 1501 a 1820, enquanto o segundo vai de 1821 a 1862. Os volumes foram lançados respectivamente nos anos de 1908 e 1916 e reproduzidos, em 1977, pela Editora Universitária da UFPB. Devido à raridade dos originais, o trabalho foi realizado com as reproduções, cabendo a ressalva de que hoje em dia, mais de trinta anos após o relançamento, estes também se tornaram livros raros. Fica o registro da necessidade de que a mesma iniciativa que foi tomada no passado, seja retomada nos dias de hoje, não só em relação à obra de Irineu Pinto, mas também a de outros historiadores paraibanos do final do século XIX e do decorrer do século XX. Os livros têm o intuito de reunir um grande volume de documentos relativos à Paraíba, apanhados, segundo seu autor, nos arquivos deste Estado. É importante comentar que ele não especifica os arquivos. Na introdução do volume I, Irineu Pinto faz algumas considerações a respeito do seu livro e do tipo de fonte por ele utilizado. No que diz respeito às fontes primárias, ele afirma: “Alguns destes documentos se achavam em tal estado de ruina que me foi preciso muito cuidado na abertura dos livros e usar lentes para lel-os” (PINTO, 1977:s/p). Devido à escassez de documentos para falar da Paraíba nos primeiros anos da chegada dos portugueses, fez-se necessária a utilização de livros que abordassem o período. Nas palavras do autor: Tive também de consultar alguns autores de nomeada e segui-los, porque os primeiros dias da Parahyba ha o que está escripto, a excepção de alguns documentos nos archivos de Portugal e Hollanda, nada resta entre nós para fazermos a história daquelles tempos (PINTO, 1977:s/p). Irineu Pinto tentou, através de um de esforço monumental de coleta de documentos, reproduzir os fatos, “mostrar como eles realmente aconteceram”, como diriam os metódicos do século XIX. Era essa a sua utopia: fazer uma história incontestável, ou seja, acabada. Isto fica expresso no parecer do livro, feito pelos consócios do IHGP: 3 Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85288-0061-6 A obra àludida está escripta em dous volumes regulares, nos quaes o seu digno e operoso auctor vem mencionado, estudando e explicando os pontos notavéis da Historia da Parahyba por ordem chronologica. As investigações e pesquizas já concluidas alcançam até o anno de 1820, estando, portanto, quase feita a historia do nosso regimem colonial. Com a abundancia de apontamentos e informações, colhidas com grande esforço, o nosso activo consocio poude reconstruir factos, por assim dizer, já apagados da memória (PINTO, 1977:s/p). O livro buscou reunir um grande volume de documentos relativos à Paraíba, apanhados, segundo seu autor, nos arquivos deste Estado. Um dos momentos mais importantes de Datas e notas… é o que trata do Movimento sedicioso de 1817. O interesse era demonstrar a importância da Paraíba no movimento e que os acontecimentos ocorridos na província não eram mero reflexo dos de Pernambuco. Essa perspectiva terá grande influência sobre os futuros historiadores paraibanos, especialmente aqueles que elaborarão os seus discursos a partir do Instituto. O movimento que se inicia em Pernambuco nos primeiros dias de março logo chega à Paraíba, não só pela proximidade, mas também, segundo a versão elaborada no IHGP, pelo mesmo conjunto de idéias, nas palavras do historiador paraibano Horácio de Almeida, um dos “seguidores” de Irineu Pinto: “A Paraíba aderiu à revolução, não só por contágio de vizinhança, como porque participava das mesmas idéias democráticas. Deu-se a adesão a 15 de março, nove dias após a proclamação da república no Recife” (ALMEIDA, 1978:93). Entre os vários documentos que tratam o movimento de 1817, chamam atenção os que remetem à figura de José Peregrino Xavier de Carvalho. É a sua atuação no movimento de 1817 que vai marcar o seu nome na história paraibana, segundo a vertente liderada pelo IHGP, é neste momento que a figura mitificada toma corpo. É no seu retorno da província do Rio Grande do Norte, quando lhe são creditadas as últimas esperanças de retomar a capital paraibana, que voltara às mãos das forças reais, temos configurado o momento mais célebre da sua atuação, pois “pela intervenção do advogado Augusto Xavier de Carvalho, seu pae, depõe as armas, recolhendo-se ao quartel com a alludida força”, sepultando as últimas esperanças “revolucionárias”. A importância de 1817 é tão grande que merece uma parte exclusiva dentro de Datas e notas…, denominada de Relação Alphabetica das Pessoas que se Acharam Envolvidas na Revolução de 1817, nesta Capitania. Nela, o autor deixa de lado toda sisudez e a abordagem a estritamente cronológica do restante do livro e põe em prática uma narrativa mais solta, 4 Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85288-0061-6 sendo possível perceber que em algumas partes da Relação Alphabetica... o poeta e o jornalista Irineu Pinto sobrepujam o historiador, limitado pela transcrição de documentos. Vejamos o seguinte trecho: Por todos os lados rompem adhesões; só a ha um ponto a obscurecer o ceo da realeza; está em caminho para capital o intrepido José Peregrino, que ouvindo a voz de Amaro Gomes, com o valor de seus commandados, vem ajudal-o, mal sabendo que tudo estava por terra; já não havia a Patria e o seu ultimo fragmento iria sucumbir com a sua vinda (PINTO, 1977:327-328). Ainda na Relação Alphabetica..., o autor trata de uma sindicância realizada pelo Instituto Histórico no ano de 1906, a respeito do local onde estariam os restos mortais de Peregrino, mais precisamente o seu crânio. Sua intenção era esclarecer as diversas versões existentes para o fato. Para Irineu Pinto: Seria de muito patriotismo, se todos viessem com as luzes de sua intelligencia e aptidão investigar esta verdade, afim de ver se acaso nasce do escombro do olvido e do chão frio do tumulto as reliquias deste inolvidavel patricio, que, sacrificando a sua juventude pela patria, legou a nossa terra um nome glorioso, perenne fonte de heroismo e exemplo a mociddade para que se guie nos prelios do futuro, em defeza dos ideiaes tão abençoados, como sejão aquelles por cuja causa fez o seu denodado sacrifício (PINTO, 1977:330. Grifos meus). São em passagens como essa que o autor expressa seu patriotismo e a importância de figuras como Peregrino para a manutenção deste sentimento. Não é por acaso que são utilizadas palavras como: reliquias, que traz uma conotação sagrada para os restos de Peregrino e que estes ao serem encontrados contribuirão para um futuro melhor. Também é bastante significativa a frase perenne fonte de heroismo, que remete ao heroísmo inacabável do jovem tenente-coronel. Amaro Gomes Coutinho, um dos líderes de 1817, é uma outra figura de destaque na Relação Alphabetica..., nela consta o documento do seqüestro dos seus bens, juntamente com a lista dos seus escravos e a expedição em busca do seu crânio. Outros homens não mereceram tanta atenção por parte de Irineu Pinto, mesmo aqueles que junto com Peregrino de Carvalho e Amaro Gomes Coutinho foram enforcados no Recife: Francisco José da Silveira, enforcado no mesmo dia de Peregrino e Amaro Gomes, 21 de agosto de 1817; o Pe. Antonio Pereira de Albuquerque e Ignacio Leopoldo de Albuquerque Maranhão, que foram enforcados em 6 de setembro de 1817. Essa diferenciação pode ser feita a partir do número de 5 Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85288-0061-6 páginas destinadas a cada um destes homens na Relação Alphabetica..., enquanto o autor dedica oito páginas para falar de Peregrino de Carvalho e três para tratar de Amaro Gomes, aos demais, juntos, são dedicadas cerca de quatro páginas. Mesmo Estevam José Carneiro da Cunha, um dos mais famosos “revolucionários” paraibanos, segundo os historiadores tradicionais da Paraíba, passa quase que despercebido por Irineu Pinto, não merecendo nenhuma página completa a seu respeito. A sua predileção por alguns participantes do movimento em detrimento a outros está ligada, em um primeiro momento, à necessidade de legar à Paraíba heróis, em especial republicanos (lembrando que o IHGP foi fundado na segunda década deste período, em 1905). Por isso, a escolha de Peregrino, um jovem que morreu por esses ideais. Serviu, dessa forma, perfeitamente para ser moldado, por Irineu Pinto e pelo IHGP, como o grande herói do movimento de 1817. Irineu Ferreira Pinto faleceu no dia vinte e sete de março de 1918, aos 37 anos. Sua morte causou uma grande comoção entre os intelectuais da capital paraibana e mereceu, por parte do IHGP, uma sessão solene em sua homenagem. Mais tarde, a biblioteca do Instituto foi batizada com o seu nome. Uma das principais críticas que faço a Datas e Notas…, é referente à abordagem estritamente cronológica, em que os acontecimentos são descritos ano a ano. Não existe uma preocupação com a periodização. Aqui são perfeitamente cabíveis as palavras de José Carlos Reis, que detecta o mesmo problema na História geral do Brasil de Francisco Adolfo de Varnhagen, comparando-a “a um nostálgico e prazeroso álbum de fotografias das ações dos heróis portugueses” (REIS, 2002:49). No caso de Irineu Pinto, a analogia cabe como uma luva, com o acréscimo da leitura não ser prazerosa e sim de difícil deleite, pela grande quantidade de documentos que transcreve. A crença de Irineu Pinto é a de que os documentos são responsáveis pela história, bastando verificar a sua autenticidade para se reconstruir o passado, não deveria haver a interferência do historiador. A discussão acerca da objetividade histórica é longa, mas defendo a impossibilidade do que queriam Irineu Pinto e os membros do IHGP: o historiador não pode se anular, ele sempre faz escolhas, voluntárias ou não. Devido ao fetiche do documento, Irineu fez uma história política repleta de nomes e sobrenomes consagrados pela historiografia tradicional paraibana. Os documentos revelam a história de uma pequena parcela da população. As elites são os principais personagens de 6 Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85288-0061-6 Datas e notas..., enquanto as outras categorias sociais aparecem, quando muito, como coadjuvantes. Em seu livro A história vigiada, Marc Ferro propõe uma tipologia para caracterizar e diferenciar “os silêncios da história”. Estes tipos são de grande valia para a compreensão da versão de história da Paraíba construída por Ferreira Pinto. Nas palavras de Ferro: O mesmo ocorre com os silêncios da história oficial. Ligados ora às exigências da razão do Estado, de sua legitimidade, ora à identidade de uma sociedade e à imagem que ela quer dar de si mesma, esses silêncios jogam um véu pudico sobre alguns segredos de família – cada instituição, cada etnia, cada nação tem os seus (FERRO, 1989:34). Chamo atenção para a parte que se refere à “imagem que a sociedade pretende dar a si mesma”. Acredito que seja este o principal objetivo do autor, isto é, contribuir para a construção da imagem que uma determinada parcela da sociedade paraibana pretende dar a si mesma, enquadrando-se no que Ferro denomina de os silêncios de primeiro tipo, que estão ligados ao princípio de legitimidade da classe dominante através do discurso mítico de suas origens, exaltando as glórias e esquecendo os erros. Irineu Pinto constrói a sua história a partir da transcrição de documentos oficiais, dando ênfase às classes dominantes. Isto pode ser percebido através de uma breve consulta às páginas de Datas e notas..., lá encontraremos uma vasta documentação que remete à elite. Um bom exemplo é a grande quantidade de documentos referentes aos cargos e às comendas, o que nos leva a esta mesma elite. Suas escolhas como historiador, levaram-no para determinados acontecimentos e personagens, que serão recorrentes na historiografia tradicional paraibana. Mesmo assim, percebo o grande valor de Datas e notas..., que se encontra na grande quantidade de informações que traz. Este foi o grande mérito de Irineu Pinto, a preservação, através de sua obra, de documentos que, provavelmente, não teriam chegado até os dias de hoje. Essa massa documental é um excelente pilar para pesquisas de cunho interpretativo. O envelhecimento da obra de Irineu Pinto é perceptível, mas devemos entender a sua contemporaneidade, o período de sua realização e a quais questionamentos o autor buscava responder, dentro de um contexto determinado. Dessa forma, devemos atentar para o contexto mais amplo da produção do trabalho histórico, evitando o risco do anacronismo. Bibliografia: 7 Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85288-0061-6 • ALMEIDA, Horácio de. Universitária/UFPB, 1978. • FERRO, Marc. A história vigiada. Tradução de Doris Sanches Pinheiro. São Paulo: Martins Fontes, 1989. • PINTO, Irineu Ferreira. Datas e Notas para a história da Paraíba. Vol. I e II. João Pessoa: Universitária/UFPB, 1977. • PINTO, Piragibe. Irineu Pinto: sua vida e sua obra. S/d. • REIS, José Carlos. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 5 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002. • SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993. História da Paraíba. Vol. II. João Pessoa: 8