UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO ARMANDO COUTINHO DO RIO IMPACTO AMBIENTAL NA ATIVIDADE DE LIGAÇÃO DE CLIENTES À REDE ELÉTRICA: ESTUDO DE CASO SALVADOR 2008 I ARMANDO COUTINHO DO RIO AVALIAÇÃO DA REDUÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL NA ATIVIDADE DE LIGAÇÃO DE CLIENTES À REDE ELÉTRICA: ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada ao Programa de Especialização em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Faculdade Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Ednildo Andrade Torres Salvador 2008 II Dedico este trabalho a Iramaia a quem reneguei um tempo precioso na realização deste trabalho. Aos meus pais, pelo apoio sempre presente. Ao meu avô Armando (in memorian) por ter despertado em mim a curiosidade pelo saber e a vontade para sempre continuar aprendendo. III IV R585a Rio, Armando Coutinho do Avaliação da redução do impacto ambiental na atividade de ligação de clientes à rede elétrica: estudo de caso Coelba / Armando Coutinho do Rio. – Salvador, 2008. 204 f. : il. color. Orientador: Prof. Dr. Ednildo Andrade Torres Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2008. 1. Impacto Ambiental. 2. Energia Elétrica. 3.Condutores Elétricos. 4 Cobre. 5 Alumínio I. Torres, Ednildo Andrade. II.Título. CDD: 621.319 V AGRADECIMENTOS Ao professor Ednildo Torres, orientador zeloso e objetivo, sempre disposto a aprimorar o trabalho com questionamentos e sugestões. Aos colegas da Coelba em especial a Juvenal Melvino (gerente de Novas Ligações) por seu apoio na realização da pesquisa e na consecução deste mestrado, a Sérgio Ricardo pelo prestimoso auxílio na disponibilização de algumas fontes de dados e a Guilherme Heidorn pelas constantes leituras e sugestões nas revisões do texto. VI RESUMO Esta dissertação busca avaliar a evolução do impacto ambiental na atividade de novas ligações de clientes monofásicos na Coelba causadas pelas mudanças de materiais e de gestão do processo, no período compreendido entre 2001 a 2006. Como primeira hipótese, considerou-se que houve redução do impacto ambiental com a substituição de ramais monofásicos multiplexados de alumínio para ramais concêntricos de cobre. Como segunda hipótese, considerou-se que as mudanças ocorridas na gestão do processo reduziram o impacto ambiental da atividade concomitantemente com a redução dos custos da atividade. Para avaliação do impacto ambiental foi utilizada a abordagem da energia agregada à produção do metal primário contido nos ramais médios de ligação, considerando menos impactante aquele que requeresse a menor quantidade de energia agregada. Para a comparação dos custos foram utilizados os custos médios da atividade de novas ligações obtidos na Coelba. No decorrer da dissertação mostrou-se que os ramais de cobre consomem 55,86 % mais energia que os seus equivalentes em alumínio comprovando-se que a primeira hipótese levantada é falsa. Esta situação deveu-se ao fato de que embora o alumínio possua uma energia agregada a sua produção, por unidade de massa, maior do que a do cobre, a quantidade de massa no condutor equivalente de cobre é maior do que a do condutor de alumínio. Mostrou-se, também, que o comprimento dos condutores entre o ponto de conexão com a rede de distribuição da Coelba e o ponto de medição foi reduzido em 7,10 m, com uma redução de custos de 28,40 % na atividade além da redução de 21,21 % comprovando a veracidade da segunda hipótese levantada. Como conclusão verificou-se que efetivamente houve uma redução no impacto ambiental da atividade em função da melhoria da gestão do processo. VII ABSTRACT This dissertation intends to evaluate the evolution of the environmental impact. On the activity of new connections of monophasic clients at Coelba (Bahian Eletrical Company), caused by the changes of materials and by the process management during the period fron 2001 to 2006. As a first hypothesis, one took into consideration that there was some reduction of the environmental impacte with the substitution of multiplex aluminum monophasic conductors for cupper concentric ones. As a second hypothesis it was considered that the changes that took place in the process management reduced the environmental impact of the activity simultaneously with the reduction coasts of the activity. For the evaluation of the environmental impact the approach used was of the energy aggregated to the production of the primary metal inside the average conductors considered to be less impacting than the one that would require a smaller amount of aggregated energy. For the comparison of costs we used the average costs of the new connections obtained from Coelba. Along this dissertation, it was shown that the cupper conductors consume 55.86% more energy than their aluminum equivalents, which proves that the first hypothesis is false. This was due to the fact that although aluminum possesses energy aggregated to its production per mass unit, greater than copper, the quantity of mass in equivalent copper conductor is greater than the aluminum conductor. It was also shown that the length of the conductors between the connection point with the distribution net of Coelba and the measurement point was reduced in 7.10 m, with a coast reduction of 28.40% in the activity besides the reduction of 21.21%, thus proving the veracity of the second hypothesis. As a conclusion one verified that there really was reduction in the environmental impact due to the improvement of the process management. VIII LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Participação de contratos por classe Figura 02 – Casa de máquinas Cia Carris Elétricos da Bahia Figura 03 – Bondes da Cia de Carris Elétricos no Cais do Ouro Figura 04 – Burro empacado em frente a um bonde elétrico Figura 05 – Bonde da Linha Circular de Carris em 1910 Figura 06 – Planta das linhas de bondes elétricos no início do século XX Figura 07 – Reforma do Elevador Lacerda em 1929 Figura 08 – Curva de Kuznets Figura 09 – Etapas de Obtenção do Metal Primário Figura 10 – Requerimentos Energéticos para a Concentração em Função da Concentração do Elemento na Natureza Figura 11 – Tabela de Dimensionamento de Ramais (2000) Figura 12 – Tabela de Dimensionamento de Ramais (2007) Figura 13 – Ramal de Ligação Aéreo sem Travessia de rua Figura 14 – Ramal de Ligação Aéreo com Travessia de rua Figura 15 – Cabo Multiplexado de Alumínio Figura 16 – Cabo Multiplexado de Cobre Figura 17 – Evolução dos Custos de Ligação com Obras - Coelba Figura 18 – Evolução do Índice de Ligação na Primeira Visita – Coelba Figura 19 – Evolução do Comprimento do ramal Médio – Coelba Figura 20 – Evolução do Custo Médio de Ligação 17 38 40 46 50 55 57 118 146 152 165 166 167 168 169 171 177 178 179 179 IX LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Relação parcial de empresas compradas pela AMFORP Tabela 02 – Maiores Setores Consumidores de Alumínio Tabela 03 – Maiores Produtores de Alumínio Tabela 04 – Principais Insumos na Produção do Alumínio Primário Tabela 05 – Energia Útil Associada à Produção do Alumínio Primário Tabela 06 - Energia Útil Associada à Produção do Cobre Primário Tabela 07 – Componente da Energia Mínima de Concentração e de Processo Tabela 08 – Componente da Energi Mínima de Refino Tabela 09 – Custo Exergético Total Tabela 10 – Energia dos Processos Reais Tabela 11 – Mínima Energia associada aos Metais Primários Tabela 12 – Características do Cobre e do Alumínio Tabela 13 – Tabela do Condutor Fase do Cabo Multiplexado de Alumínio Tabela 14 – Tabela do Condutor Neutro do Cabo Multiplexado de Alumínio Tabela 15 – Dados Dimensionais Condutor Fase Cabo Concêntrico de Cobre Tabela 16 – Dados Dimensionais Condutor Neutro Cabo Concêntrico de Cobre Tabela 17 – Dados Dimensionais Condutor do Ramal de Ligação Tabela 18 – Energia Real Associada ao Ramal Tabela 19 – Mínima Energia Associada ao Ramal Tabela 20 – Variação de Energia e de Custos – Processos Reais Tabela 21 - Variação de Energia e de Custos – Energia Mínima Tabela 21 – Variação de Energia dos Ramais de Ligação sem Troca de Material 54 142 143 145 147 149 154 155 157 157 157 160 169 169 171 172 174 182 184 187 187 190 X LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACV – Análise de Ciclo de Vida AMFORP – American Foreing Power Co. ANAMAC – Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção ANEEL – Agencia Nacional de Energia Elétrica BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento BRASKEM – CBEE – Companhia Brasileira de Energia Elétrica CCC – Conta de Consumo de Combustíveis CDE – Conta de Desenvolvimento Energético CEAL – Centrais Elétricas de Alagoas CEE – Companhia de Caris Elétricos CEEB – Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia CEEE – Companhia Estadual de Energia Elétrica CELG – Centrais Elétricas de Goiais CELPA – Centrais Elétricas do Pará CEMAT – Centrais Elétricas Matogrossenses CEPISA – Companhia Energética do Piaui CERC – Centrais Elétricas Rio de Contas CERJ – Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro CERN – Companhia de Eletrificação Rural do Nordeste CERON – Centrais Elétricas de Rondônia S. A. CESP – Companhia Energética de São Paulo Chesf – Companhia Hidroelética do São Francisco CLC – Companhia Linha Circular de Caris da Bahia CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz CRC – Conta de Resultados a Compensar Coelba – Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia DEC – Duração Equivalente de Interrupção ENERSUL – Empresa Energética do Mato Grosso do Sul FEC – Freqüência Equivalente de Interrupção FMI – Fundo Monetário Internacional GCOI – Grupo Coordenador de Operação Interligada IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IRT – Índice de Reajuste Tarifário MAE – Mercado Atacadista de Energia Elétrica MME – Ministério de Minas e Energia NOS – Operador Nacional do Sistema Elétrico PIB – Produto Interno Bruto PREVI – Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil RGR – Reserva Global de Reversão Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste TFSEE – Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica TVA – Autarquia do Vale do Tenessi XI SUMÁRIO CAPÍTULO 1 15 1.1. INTRODUÇÃO 15 1.2. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA 16 1.3. CONTEXTUALIZAÇÃO 18 1.4. OBJETIVO 21 1.5. ROTEIRO DA DISSERTAÇÃO 22 CAPÍTULO 2 24 2. METODOLOGIA 24 2.1. INTRODUÇÃO 24 2.2. A PESQUISA E O MÉTODO 24 2.3. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA 25 2.4. O PROCESSO DA PESQUISA 27 CAPÍTULO 3 32 3. HISTÓRICO DO SETOR ELÉTICO 32 3.1. INTRODUÇÃO 32 3.2. O NASCIMENTO - DO INÍCIO DO SÉCULO XIX ATÉ A DÉCADA DE 1930 33 3.3. A EXPANSÃO - DA DÉCADA DE 1930 A MEADOS DA DÉCADA DE 1980 60 3.4. O RETORNO - DE MEADOS DA DÉCADA DE 1980 AOS DIAS ATUAIS 75 3.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO 78 CAPÍTULO 4 80 4. 80 REGULAÇÃO DA INDÚSTRIA DE ENERGIA ELÉTRICA XII 4.1. INTRODUÇÃO 80 4.2. CONCEITOS ECONÔMICOS 81 4.3. REESTRUTURAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO 82 4.4. IMPLANTAÇÃO DO MODELO 88 4.5. CONCESSIONÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 89 4.6. TARIFAS DE ENERGIA ELÉTRICA 4.6.1. Estrutura Tarifária 4.6.2. Composição da Tarifa 92 93 95 4.7. REAJUSTE TARIFÁRIO 4.7.1. Reajuste Tarifário Anual 4.7.2. Revisão Tarifária Periódica (RTP) 4.7.3. Revisão Tarifária Extraordinária (RTE) 96 97 98 99 4.8. 99 EMPRESA DE REFERÊNCIA 4.9. O FATOR X 4.9.1. Componente Xe 4.9.1.1. Receita 4.9.1.2. Custos Operacionais 4.9.1.3. Investimentos 4.9.1.4. Base de Remuneração 4.9.2. Componente Xc 4.9.3. Componente Xa 101 101 102 103 104 105 105 106 4.10. 107 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO CAPÍTULO 5 109 5. COMPETITIVIDADE E MEIO AMBIENTE 109 5.1. INTRODUÇÃO 109 5.2. A INDÚSTRIA E O MEIO AMBIENTE 109 5.3. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA 113 5.4. COMPETITIVIDADE E IMPACTO AMBIENTAL 115 5.5. IMPACTO AMBIENTAL E O FATOR X 121 5.6. ANÁLISE DE CICLO DE VIDA - ACV 123 5.7. AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL 126 5.8. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO 128 CAPÍTULO 6 129 6. CONCEITOS FÍSICOS 129 6.1. INTRODUÇÃO 129 XIII 6.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE ENERGIA 129 6.3. DEFINIÇÃO DE ENERGIA 132 6.4. TRABALHO 132 6.5. EXERGIA 6.5.1. Definição 6.5.2. Estado de Referência 134 134 136 6.6. POTÊNCIA 139 6.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO 140 CAPÍTULO 7 141 7. VALORAÇÃO ENERGÉTICA DO COBRE E DO ALUMÍNIO 141 7.1. INTRODUÇÃO 141 7.2. PROCESSOS REAIS DE OBTENÇÃO DO ALUMINIO E DO COBRE 7.2.1. O Alumínio 7.2.2. O Cobre 142 142 147 7.3. VALORAÇÃO EXERGÉTICA DOS RECURSOS MINERAIS 7.3.1. Valoração Exergética dos Recursos Minerais. 7.3.1.1. Energia Total de Concentração 7.3.1.2. Energia Total de Refino. 150 150 151 154 7.4. 156 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO CAPÍTULO 8 158 8. CONDUTORES ELÉTRICOS E RAMAIS DE LIGAÇÃO 158 8.1. INTRODUÇÃO 158 8.2. CONDUTORES ELÉTRICOS 159 8.3. COMPARAÇÃO ENTRE CONDUTORES DE ALUMÍNIO E COBRE 161 8.4. RAMAIS DE LIGAÇÃO 8.4.1. Alteração nos Tipos de Ramais. 8.4.2. Ramais Multiplexados de Alumínio. 8.4.3. Ramais Concêntricos de Cobre. 8.4.4. Ramais de Entrada. 163 164 169 171 173 8.5. 176 REDUÇÃO DE CUSTOS 8.6. EVOLUÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL 8.6.1. Impacto Ambiental – Energia dos Processos Reais. 8.6.2. Impacto Ambiental – Energia Mínima de Processo. 179 181 182 8.7. 184 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO CAPÍTULO 9 186 XIV 9. CONCLUSÃO 186 9.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 186 9.2. CONCLUSÃO DO ESTUDO DE CASO 188 9.3. OUTRAS CONSIDERAÇÕES E PROPOSIÇÃO DE NOVOS ESTUDOS 190 REFERÊNCIAS 192 APÊNDICE A - LEGISLAÇÃO FEDERAL DO SETOR ELÉTRICO 196 APÊNDICE B – ENERGIA MÍNIMA DE CONCENTRAÇÃO E ENERGIA QUÍMICA 199 ANEXO A - EXERGIA QUÍMICA DOS ELEMENTOS NO AMBIENTE DE REFERÊNCIA DE SZARGUT MELHORADO E ATUALIZADO 202 15 CAPÍTULO 1 1.1. INTRODUÇÃO O desenho de um produto ou processo levando em consideração o seu encargo para o meio ambiente tem, dia a dia, ganhado relevância nos meios produtivos. A importância que a sociedade vem dando às questões ambientais causa uma pressão sobre a industria no sentido da criação de produtos e/ou serviços com o menor impacto ambiental possível. Desta forma, as empresas se preocupam, cada vez mais, em serem vistas por seus clientes e pela comunidade em que seus produtos são consumidos, como empresas socialmente responsáveis. Sob este viés, as ações voltadas para a redução de impactos ambientais e a proteção do meio ambiente começam a deixar de ser encargos meramente legais e passam a ser iniciativas expontâneas visando agregar valor a sua imagem. Esta dissertação pretende avaliar, em um estudo de caso, se é possível, em um dado processo produtivo, reduzir seus custos e, simultaneamente, tornar o processo mais ambientalmente correto ao reduzir seu impacto sobre o meio ambiente. 16 Os critérios a serem utilizados para valorar será uma análise tanto energética como exergética do principal insumo do processo – os condutores que formam os remais de ligação dos clientes à rede da concessionária de energia elétrica. 1.2. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA A Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA foi criada como sociedade de economia mista, através da Lei Estadual no 1.196 de 16 de outubro de 1959 e instalada em 28 de março de 1960, com o objetivo de promover a distribuição de energia elétrica em parte do interior do Estado da Bahia. No ínicio da década de 1970, a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) incorporou uma série de concessionárias existentes no Estado dentre as quais se destaca a Companhia de eletricidade do Estado da Bahia (CEEB) que tinha como área de concessão o Recôncavo Bahiano. Em 1997, a Coelba passa por uma nova reestruturação sendo privatizada e passando a ser controlada pelo Grupo Guaraniana formado pelo Grupo Multinacional IBERDROLA ( como operador ), o Banco do Brasil e a PREVI como acionistas majoritários. Em 2003, a Coelba deixa de ser operada pelo Grupo IBERDROLA – o qual permanece como sócio minoritário - e passa a ser operada pelo próprio Grupo Guaraniana que, após reestruturação, passa a chamar-se Grupo Neoenergia. A área de concessão da Coelba é de 565.511 km2 atendendo 415 dos 417 municípios no Estado da Bahia ( os municípios de Rio Real e Jandaira são supridos pela Sulgipe ), ligando 3.680.857 consumidores, em 2004,sendo a terceira maior concessionária nacional em número de clientes e cujo perfil é demonstrado abaixo: 17 Sua força de trabalho constitui-se de 2.772 empregados próprios e cerca de 5.000 terceirizados. Sua Receita Líquida em 2004 foi de R$ 2.065.672.000,00 representando aproximadamente 42% da receita líquida do Grupo Neoenergia. Em dezembro de 2004 possuía 8.200 km de linhas de transmissão de 69 a 230 kV, 258 subestações, 94.557 km de linhas e redes de distribuição primária e 55.342 km de rede de distribuição secundária. É responsável pela distribuição de 54,1% da energia elétrica total consumida no estado, sendo o restante atendido pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco - Chesf ( 35,7% ), BRASKEM ( 4,9% ) e por comercializadores que operam no mercado livre ( 5,3% ) e congregam indústrias com grande demanda de energia. O principal negócio da Coelba é a distribuição e a comercialização de energia elétrica. Com a nova reestruturação do setor elétrico a Coelba perde a parte correspondente a geração de energia, mantendo a distribuição (monopólio natural) e a comercialização de energia. Trata-se de uma empresa em plena expansão com a agregação média de 160.000 clientes/ano e ativando e modificando mais de 200.000 contratos/ano. 18 1.3. CONTEXTUALIZAÇÃO Após a privatização da Coelba em agosto de 1997, a mesma passou por uma série de transformações dentre as quais se destaca a administração por processos, o forte combate a perda de energia e a busca de melhoria dos índices operativos. Com relação à administração por processos, foram escolhidos dois nos quais vislumbrou-se um maior potencial de ganho no seu redesenho que foram: Atender a Novas Ligações e Atender Clientes. Para cada um desses processos foram selecionados profissionais da própria empresa, especialistas em áreas relacionadas às atividades para promover a reestruturação de como estas atividades eram conduzidas na empresa. O grupo responsável pela reestruturação do processo “Atender a Novas Ligações” foi formado em dezembro de 1998 e teve sua conclusão com a criação do Departamento de Novas Ligações em novembro de 2000, quando houve uma completa reestruturação da empresa que passou a ter sua estrutura organizacional montada por processos. A partir dessa data, foram implantadas profundas alterações nos procedimentos e nos controles das atividades relacionadas a ligações de clientes independente da introdução de novas tecnologias nos materiais utilizados nesta atividade. Também, neste período, houve mudanças nos materiais empregados no processo de ligação de clientes. Os dois principais motivos para a introdução de novos materiais em redes de distribuição de baixa tensão foram: i) Redução das fornecimento distribuição e principais de energia causas em de tensão interrupções de secundária de 19 ii) ii) Inibição da ligação clandestina de clientes ou autoreligados. Com relação ao combate as perdas de energia, principalmente as perdas comerciais, houve um grande esforço de reversão principalmente a partir do início de 1998 onde foram criadas unidades regionais com atribuição específica de agir no combate a ligações clandestinas, consumidores auto religados, fraudes de energia e erros de cadastramento de clientes. Neste período, as ações de combate a perdas comerciais concentraramse principalmente na regularização de clientes que se ligavam a rede de distribuição de energia a revelia da concessionária ( ligações clandestinas ), com investimentos significativos na eletrificação de comunidades carentes existentes nas áreas urbanas dos municípios da área de concessão e na recuperação dos clientes que tiveram seu fornecimento interrompido por inadimplência e que se auto-religavam clandestinamente à rede de distribuição de energia ( auto-religados ). Neste mesmo período, a Coelba iniciou fortes investimentos para redução dos seus principais índices operativos: de Duração Equivalente de Interrupção (DEC) e da Freqüência Equivalente de Interrupção (FEC). Após análise das principais causas de interrupção do fornecimento de energia foi constatado que dentre as mesmas encontravam-se: a) Defeitos nos ramais de ligação ( cabos e conectores ) e b) Árvore na rede ( contato acidental entre galhos de árvores e a rede elétrica ). Uma série de inovações foi introduzida nos materiais que compunham as redes de distribuição de energia, mais enfaticamente naquelas com tensões de serviço abaixo de 2,3 kV (tensão secundária de distribuição), responsáveis pela ligação direta dos consumidores de baixa tensão. 20 Em 1998, foram substituídas, paulatinamente, as redes secundárias nuas (não isoladas) de cobre e alumínio por redes secundárias de alumínio multiplexado e os ramais de ligação deixaram de ser de cobre WPP passando a serem de alumínio multiplexado. Quanto a estes mesmos ramais, foram introduzidos posteriormente (2001), de forma pontual, em áreas de grande incidência de desvio de energia os condutores concêntricos de cobre para ramais monofásicos. A partir de 2002, todos os ramais de ligação monofásicos passaram a ser formados por cabos concêntricos de cobre. Em função das inovações introduzidas na empresa, houve um grande impacto nas atividades de ligação de clientes, mais notadamente no produto (materiais que compõem a ligação de clientes com: condutores e conectores) após 1998 e no processo (reestruturação organizacional, mudança de procedimentos operacionais, criação e gerenciamento de indicadores, etc ) após 2000. Com a entrada em vigor da Lei Federal 10.438 de 26 de Abril de 2002 que dispõe, dentre outros temas pertinentes ao setor elétrico nacional, sobre a universalização do acesso gratuito ao serviço público de energia elétrica e posteriormente a Lei Federal 10.762, de 11/11/2003, que dispõe sobre a criação do programa emergencial e excepcional de apoio às concessionárias de serviços públicos de distribuição de energia elétrica que altera as leis federeais 8.631, de 4 de março de 1993, 9.427, de 26 de dezembro de 1996 e10.438, de 26 de abril de 2002, a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA viu-se compelida a acrescer 408.770 novas unidades consumidoras no meio rural (Censo 2000/IBGE1) além do contínuo crescimento vegetativo dos seus consumidores ( 140.000 novas unidades por ano ) até 2008, impondo-se a um esforço de agregação de clientes sem precedente em sua história. Frente a este desafio que se reflete com intensidade variável em todas as distribuidoras de energia elétrica brasileiras e a crescente preocupação com os impactos ambientais de produtos e serviços faz-se necessário perguntar: As inovações introduzidas na atividade de ligação de clientes monofásicos na Coelba 1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 21 entre 2001 e 2006, tanto no processo como no produto, reduziram o impacto ambiental desta atividade? 1.4. OBJETIVO O objetivo geral desta dissertação é verificar, através de uma análise energética e exergética, se houve redução do impacto ambiental da atividade de novas ligações, no período compreendido entre 2001 e 2006, considerando a energia associada à obtenção do metal primário no conjunto ramal de ligação/ ramal de entrada, na Coelba. Como objetivo específico, avaliou-se, comparativamente, os condutores de alumínio e cobre com o intuito de determinar qual dos dois possuía maior energia associada a produção do metal primário contido em cada um deles. Foram levantadas as seguintes hipóteses nesta dissertação: i) As inovações introduzidas nos materiais utilizados na ligação de novos clientes reduziram o impacto ambiental da atividade. ii) As inovações introduzidas nos procedimentos, controles e logística na ligação de novos clientes reduziram o custo e o impacto ambiental da atividade. A relevância deste estudo deve-se aos seguintes motivos: Propiciar a sedimentação do conceito de eficiência energética nas atividades empresariais. Este tipo de análise apresenta uma visão mais abrangente da real utilização do potencial energético em um processo produtivo. No setor elétrico de distribuição de energia brasileiro, estudos de avaliação de impactos ambientais em suas atividades produtivas, bem como a análise de ciclo de vida são bastante insipientes. 22 Como o setor de distribuição de energia elétrica nacional tem homogeneidade em uma parte significativa de seus produtos e processos, as análises desenvolvidas neste trabalho serão de fácil adaptação para posteriores estudos em outras distribuidoras de energia elétrica. 1.5. ROTEIRO DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação compõe-se de nove capítulos. No segundo capítulo discorre-se sobre a metodologia a ser adotada e a classificação da pesquisa feita. Também será relacionada as diversas etapas e escolhas feitas no levantamento e análise dos dados No terceiro capítulo é feito um histórico da indústria de energia elétrica com o intuito de esclarecer a evolução do setor além de associar as características de desenvolvimento desta indústria aos principais pensamentos econômicos vigentes nos vários períodos analisados, culminado com os fatores que levaram ao processo de privatização de parte do setor elétrico e, mais especificamente, a privatização da Coelba. No quarto capítulo, discorre-se sobre a atual regulamentação do setor elétrico além da composição tarifária do setor de distribuição de energia elétrica e como a atual regulamentação suporta conceitos de competitividade numa empresa que detém o monopólio natural de sua atividade, sustentando a necessidade do posicionamento da empresa no que tange a preocupação de sua imagem frente aos seus clientes e acionistas. O quinto capítulo trata da atual preocupação com o meio ambiente e de conceitos relacionados ao mesmo. Trata, também, da teoria do Duplo Dividendo de Porter além de determinar os critérios que serão utilizados para a valoração dos impactos ambientais nesta dissertação. 23 O sexto capítulo aborda os conceitos de energia e exergia além de outros conceitos físicos necessários ao entendimento desta dissertação. O sétimo capítulo discorre sobre a energia agregada aos metais primários, tanto cobre como alumínio, valorando energética e exergeticamente esta fase do processo. No oitavo capítulo é quantificada a energia necessária à produção dos condutores de cobre e de alumínio utilizados como ramais de ligação para clientes monofásicos na Coelba, considerando a energia e a exergia necessárias na produção do metal primário. Também são valorados os ganhos no processo produtivo, em termos de balanço de massa, conseguidos com as mudanças introduzidas no processo de execução do serviço. Estes ganhos serão valorados em termos de energia e exergia. Far-se-á também uma comparação entre os condutores de alumínio e cobre utilizados avaliando energética e exergeticamente as diferenças entre os dois tipos de condutores. No nono capítulo serão dadas as conclusões e recomendações oriundas do estudo feito. 24 CAPÍTULO 2 2. METODOLOGIA 2.1. INTRODUÇÃO Neste capítulo procurar-se-á mostrar o tipo de pesquisa adotado bem como relacionar as diversas etapas e escolhas feitas no levantamento e análise dos dados. 2.2. A PESQUISA E O MÉTODO Para Bello (2005, p. 16) pesquisa é: [...] o mesmo que busca ou procura. Pesquisar, portanto, é buscar ou procurar resposta para alguma dúvida ou problema. Em se tratando de Ciência a pesquisa é a busca de solução a um problema que alguém queira saber a resposta. Já para Minayo (1993, p. 23) a pesquisa pode ser entendida como: 25 [...] atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados. Gil (1999) define a pesquisa como: [...] um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objeto fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos (GIL, 1999, p. 42). Desta forma, para se efetuar uma pesquisa científica é necessário existir um formalismo científico, uma metodologia que pode ser definida como: [...] o interesse por princípios e técnicas de alcance médio, chamados conseqüentemente de métodos [...] Métodos são técnicas suficientemente gerais para se tornarem comuns a todas as ciências ou a uma parte significativa delas. (Kaplan apud Castro, 2006, p. 31). E, por fim conclui: Em resumo, o objetivo da metodologia é ajudar-nos a compreender, nos seus termos mais amplos, não o produto da pesquisa, mas o próprio processo. (Kaplan apud Castro, 2006, p. 31). 2.3. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Existem várias maneiras de classificar uma pesquisa científica. Um dos critérios utilizados é quanto a sua natureza (pesquisa básica ou aplicada). Esta pesquisa é eminentemente uma pesquisa aplicada, pois “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos a solução de problemas específicos” (SILVA, 2001, p. 20). Do ponto de vista da forma de abordagem do problema trata-se de uma pesquisa quantitativa, pois traduz em números as informações para serem classificadas e analisadas. 26 No que se refere aos seus objetivos este pesquisa pode ser classificada como explicativa, pois: “tem como proposta identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos e procuram explicar a razão e o porquê das coisas” (FARIA, 2007, p. 31). Por fim, no que se refere aos aspectos de procedimentos técnicos esta pesquisa é classificada como estudo de caso. O estudo de caso pode ser definido como uma pesquisa que trata: [...] de um objeto bem restringido (individual) sobre o qual se levanta o maior número de informações possíveis. Assim, uma cidade, um fenômeno ou mesmo um evento podem ser objetos de estudo de caso. Por ser uma análise de um caso isolado, deve-se ter o cuidado ao se generalizarem as conclusões para outros fatos/fenômenos do mesmo padrão. (sic. SILVA, 2008, p. 157). Para Severino (2007), o estudo de caso é definido como: Pesquisa que se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo. [...] [...] O caso escolhido para a pesquisa deve ser significativo e bem representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas, autorizando inferências (sic SEVERINO, 2007, p. 121). Para Yin (2001, p. 63) uma das razões para a escolha de um estudo de caso é quando o objeto da pesquisa é um caso revelador, dando ao pesquisador a chance de observar e analisar uma situação que não tenha sido previamente investigada. O presente estudo de caso se enquadra nas afirmações de Silva (2008), Severino (2007) e Yin (2001). Trata-se de um objeto restrito, pois discorre obre os impactos ambientais gerados com as mudanças de normas e padrões da Coelba entre os anos de 2001 e 2006. Também é um caso representativo porque a maioria das distribuidoras de energia elétrica brasileiras utiliza cabos multiplexados de alumínio e/ou cabos 27 concêntricos de cobre nos seus ramais de ligação de clientes monofásicos. Embora o resultado final da pesquisa, seja peculiar ao estudo de caso em curso, o procedimento utilizado para obtenção da energia agregada à produção do metal primário contido nos ramais de ligação como indicador do grau de impacto ambiental, são plenamente aplicáveis e reproduzíveis nas distribuidoras de energia elétrica. Por fim, enquadra-se em um dos requisitos proposto por Yin (2001) por ter sido uma oportunidade impar de se estudar os impactos causados pela troca de condutores de alumínio para cobre em grande escala. Além disto, pôde-se analisar o impacto do aumento da eficiência de utilização dos cabos em ramais de ligação numa empresa de distribuição de energia que é a terceira maior empresa brasileira deste setor em número de clientes ligados e que possui o maior programa de universalização de acesso a energia elétrica do Brasil. 2.4. O PROCESSO DA PESQUISA Nesta dissertação, o levantamento e a análise dos dados se processará seguindo as situações de contorno abaixo: Somente serão avaliados os clientes monofásicos ligados à rede da concessionária nos anos de 2001 e 2006. O ramal de ligação médio foi obtido pela razão entre a quantidade total de ramais monofásicos apropriados nos projetos de ligação no ano especificado pela quantidade total de clientes monofásicos ligados no mesmo ano. Devido às alterações sofridas nas normas de ligação da concessionária entre 2001 a 2006, serão comparados a soma do ramal de ligação médio com o 28 ramal de entrada médio ambos praticados em 2001 com o ramal de ligação médio de 2006 já que o ramal de entrada médio de 2006 foi considerado nulo. Como o ramal de entrada era de responsabilidade do cliente, a concessionária não possui histórico da bitola e do quantitativo de condutores gasto nesta parte do padrão de entrada. Para suprir este hiato serão feitas duas considerações. A primeira delas diz respeito às bitolas dos condutores. Conforme Figura 10 os condutores dos ramais de entrada possuíam bitola 4 mm2 e 6 mm2 para ramais de ligação de 10 mm2 de alumínio multiplexado e 16 mm2 para ramais de ligação de 16 mm2 de alumínio concêntrico. Apesar de ser conhecida a proporção entre ramais de ligação de 10 mm2 e 16 mm2 de alumínio, a proporção de ramais de entrada de 4 mm2 e 6 mm2 não o é já que, como os mesmos eram de responsabilidade do cliente, a Coelba não guardou este histórico. Para se ser conservador na análise dos resultados, nesta dissertação só será considerado o ramal de ligação de 4 mm2 cobre para o ramal de entrada de 10 mm2 de alumínio. Com relação ao comprimento dos ramais de ligação o mesmo é função do posicionamento do padrão de entrada em relação à rede de distribuição da concessionária tomando como referência a via pública. Em função dos grandes números envolvidos e da distribuição aleatória do posicionamento das ligações em relação à rede considerou-se a proporção é de 50% para cada uma das situações. Para avaliação do impacto ambiental foi considerada a energia associada à produção do metal primário contido em cada condutor. Devido à variação de base nas diversas fontes pesquisadas em relação à energia associada à produção dos metais primários, foi necessária a conversão delas para uma única base. A base escolhida foi a da foi a da energia útil, pois a 29 mesma independe da matriz energética, fato que poderia distorcer a análise dos resultados. A principal desvantagem na utilização da energia útil é que a mesma não evidencia as perdas existentes nos processos de conversão da energia primária. Contudo, não é relevante neste estudo já que se pretende fazer uma análise comparativa entre duas situações envolvendo materiais distintos e produzidos dentro da mesma matriz energética. Como vantagem da utilização da energia útil pode-se considerar que os dados podem ser convertidos, com facilidade, para energia primária de qualquer matriz energética desejada. Para a determinação da energia útil necessária à obtenção de uma unidade de massa do alumínio e cobre primários, considerou-se a energia necessária nas etapas de extração e refino dos respectivos metais. Uma vez estabelecidas a energia necessária para a produção dos dois metais, fez-se uma comparação entre os condutores de alumínio e cobre. Para tanto estabeleceu-se uma equivalência de seção transversal entre os condutores compostos por estes dois metais considerando que ambos possuíssem a mesma resistência elétrica. Para estabelecimento desta equivalência, ou seja, condutores eletricamente eqüirresistentes, considerou-se que os mesmos deveriam atender a mesma carga, sob a mesma diferença de potencial, a igual distância e com a mesma queda de tensão entre a fonte e a carga. Uma vez estabelecida a equivalência em relação à seção transversal dos condutores, estabeleceu-se a equivalência em relação à massa e, considerando que em um passo anterior já havia sido estabelecido a energia por unidade de massa de cada um dos metais, pode-se estabelecer uma relação de energia entre os condutores equirresistentes de alumínio e cobre. 30 Com o estabelecimento de qual dos dois condutores genericamente agrega maior energia no seu processo de obtenção do metal primário, avaliou-se a energia agregada a 1 metro de cada condutor utilizado como ramal de ligação e ramal de entrada, para clientes monofásicos, em 2001 e 2006. Como os clientes são atendidos por ramais com várias seções transversais em função de sua carga, utilizou-se o critério de se determinar a energia de 1 metro dos ramais de ligação e entrada considerando a proporcionalidade de utilização de cada um dos condutores. Por fim estabeleceu-se o comprimento do ramal de ligação médio e ramal de entrada médio em 2001 multiplicando-os pela energia obtida para 1 metro dos ramais de ligação e entrada equivalentes comparando-os com os mesmos dados obtidos para 2006, avaliando em qual das duas situações obteve-se menor energia agregada. Como contraponto à avaliação do impacto ambiental considerando a energia útil agregada à produção do metal primário dos condutores utilizados nos ramais de ligação e entrada, foi considerada também a mesma comparação utilizando a exergia associada à produção do metal primário. Trata-se de um contraponto porque, na primeira análise, considerou-se a energia útil desconsiderando-se portanto, as perdas nos processos de conversão de energia enquanto que, na segunda análise, considerou-se um processo ótimo, sem perdas e independente do estágio tecnológico. Para a avaliação do impacto ambiental sob uma abordagem exergética, utilizou-se os mesmos métodos e situações de contorno daqueles previstos na análise por energia útil. A única diferença reside na forma de valorar a energia necessária à produção de uma unidade de massa do metal primário. Na análise exergética este valor foi obtido considerando a mínima energia gasta pela natureza para concentrar o mineral desde a sua concentração média na 31 crosta terrestre até o estágio de concentração necessário ao refino do metal em estudo, acrescido da energia química necessária para a transformação do mineral no metal escolhido. Para a determinação da concentração média do mineral na crosta terrestre e da energia química necessária para a transformação do mineral em metal, foi utilizado como referência o ambiente proposto por Ranz e Valero. 32 CAPÍTULO 3 3. HISTÓRICO DO SETOR ELÉTICO 3.1. INTRODUÇÃO O objetivo deste capítulo é mostrar, de forma sucinta, a evolução da indústria de energia elétrica nacional e, em especial, da baiana, fazendo uma análise expedita dos principais pensamentos políticos que nortearam a economia mundial e seus conseqüentes reflexos na indústria elétrica brasileira e baiana. Além disto, procurar-se-á mostrar como o setor elétrico se desenvolveu ao longo dos últimos 110 anos dando sustentação ao desenvolvimento da indústria nacional. Para tanto dividir-se-á este período em três etapas. A primeira delas vai do final do século XIX até o início da década de 1930, período onde a política econômica predominante era o liberalismo, cujo um dos principais teóricos foi Adams Smith. Na história do setor elétrico brasileiro e baiano, este período se caracteriza pelo surgimento das empresas de energia elétrica concorrentes, alto grau de competição, fusões e aquisições de empresas além de baixa intervenção do estado. O segundo período se estende do início da década de 1930 até meados da década de 1980. Neste, o principal pensamento político era o “Wellfare State”, cujo um dos principais teóricos foi Kaynes no qual previa a intervenção direta do estado para organizar e prover de infraestrutura do capitalismo nacional. Na história 33 do setor elétrico brasileiro e baiano, este período se caracteriza pela regulação do uso das reservas naturais através do estado, aquisições das principais empresas da indústria do setor elétrico pelo estado, nacionalizando as mesmas e altos investimentos em infra-estrutura. Por fim, o terceiro período que compreende entre meados da década de 1980 até os dias atuais onde retorna a predominância do pensamento liberal, com adaptações evolutivas, o qual costuma-se designar Neo-liberalismo. Na história do setor elétrico brasileiro e baiano, este período tem se caracterizado pela desestatização da indústria do setor elétrico e na tentativa de se adotar um modelo regulatório que garanta a preservação dos interesses da coletividade num mercado de monopólio natural, entregue à administração privada, garantindo a modicidade tarifária, mantendo a capacidade de investimento destas empresas, além de garantir um adequado retorno financeiro para os investidores deste setor. 3.2. O NASCIMENTO - DO INÍCIO DO SÉCULO XIX ATÉ A DÉCADA DE 1930 O início da indústria de geração e distribuição de Energia Elétrica desenvolveu-se na segunda metade do século XIX, principalmente na Europa e América do Norte. As primeiras aplicações comerciais da energia elétrica foram no âmbito das comunicações. Como exemplo pode-se citar a Telegrafen-Bauanstalt Siemens & Halske, empresa fundada em 1847 que atuava na área de construção e implantação de sistemas telegráficos e que posteriormente tornou-se a multinacional SIEMENS. Outra aplicação importante no início desta indústria foi a lâmpada elétrica que revelou o problema da quantidade de energia requerida para transformar energia térmica em energia luminosa. As baterias não eram mais viáveis para esta aplicação o que levou a criação dos primeiros geradores de corrente contínua e posteriormente os primeiros motores de corrente contínua. 34 Com o aumento da demanda, problemas referentes a níveis de tensão e intensidade de correntes levaram a criação de geradores e motores de corrente alternada, tecnologia utilizada até os dias atuais. Contudo, a energia elétrica não se difundiu na mesma forma na Europa e na América do Norte. Por exemplo, a difusão da utilização da lâmpada incandescente se desenvolveu mais rápido na América do que na Europa em função da infraestrutura já existente conforme citado por Gonçalves Junior (sic. 2002, p.55): No entanto, a maioria das tecnologias de energia elétrica não teve facilidade para conquistar a sua demanda. A iluminação elétrica, por exemplo, deve dificuldade para se impor como tecnologia de iluminação na Europa. Pois, nos países europeus existia uma boa rede de distribuição de gás, e nas regiões que não dispunham de rede de distribuição, o aparecimento do querosene era um obstáculo para a expansão desta indústria, situação inversa a verificada nos EUA. Contudo, a indústria elétrica na Europa, ao contrário dos EUA, teve – nos primórdios – utilização predominante como fonte mecânica, ou seja, como motor principalmente na utilização nos transportes urbanos, bondes elétricos e em alguns metrôs, antes da intensificação do uso do automóvel. Ainda segundo Gonçalves Junior (sic. 2002, p. 55-56), mesmo a Energia Elétrica tendo suas bases teóricas se desenvolvido primeiramente na Inglaterra e na França não foram estes países que primeiro desenvolveram esta indústria nascente quando diz: Assim, apesar de grande parte das experiências que marcaram a possibilidade do desenvolvimento da indústria elétrica ter se realizado por experimentadores da Inglaterra e da França, não foram estes países que constataram o imediato progresso da energia elétrica. Pois, o capital não promove alteração tecnológica nos seus meios de produção, antes que todo seu capital fixo tenha atingido o tempo de maturação do seu capital. Daí porque a indústria elétrica desenvolveu-se com maior facilidade nos EUA e na Alemanha, pois estes países não tinham seu parque industrial marcado pelas tecnologias da primeira revolução industrial (fonte de energia mecânica: máquina a vapor). Isto permitiu a origem de duas fontes de demanda: indústrias que requeriam energia elétrica para produção de energia mecânica (motores elétricos para acionamento de máquinas) e serviços públicos de iluminação e acionamento de motores elétricos para transporte urbano. Um fenômeno que se observou nos primórdios da energia elétrica foi ter 35 surgido e evoluído da iniciativa individual de uma série de inventores que se associavam ao capital financeiro para comercialização dos seus inventos e/ou descobertas. Um exemplo ilustrativo é, mais uma vez, a lâmpada elétrica. Inventada simultaneamente nos Estados Unidos em 1878 e na Inglaterra em 1879 por Thomas Edison e Joseph Swan, respectivamente. A união entre Edison e Morgan (banqueiro americano) resultou na formação da Edison General Electric Company que, anos mais tarde, veio a se fundir com a The Thomson Houston International Electric Co. formando a General Electric Company – a mais poderosa empresa da industria elétrica norteamericana na época. Este fato pode ser explicado considerando as teorias econômicas vigentes na época: No século XIX prevalecia a teoria clássica cujo principal teórico, Adams Smith, pregava a livre concorrência e a não intervenção do Estado na economia – O Estado Liberal Constitucional. Em seu livro A riqueza das nações, defendia que a economia se auto-regulava, pois, cada indivíduo, mesmo visando exclusivamente os seus interesses, era compelido, de forma inconsciente, a obter o melhor para a sociedade. Qualquer influência do Estado na livre concorrência quebraria este equilíbrio levando a condições danosas a sociedade como um todo. O papel do Estado deveria restringir-se a garantir a paz, a segurança e as liberdades individuais, definido por Kant como Estado “gendarme” ou Guarda Noturno. Desta forma, este foi um período onde se restringiu o poder do estado, dividindo a autoridade para garantir a não centralização do poder que teve sua principal expressão na separação dos poderes proposta por Montesquieu. Em termos dialético, tratou-se de uma antítese ao estado absolutista cuja expressão econômica foi o mercantilismo. Por este motivo, a iniciativa privada toma as rédeas do desenvolvimento desta nova tecnologia ( a energia elétrica ) e começa a tecer uma rede de produtos e 36 serviços que venham dar sustentação econômica à indústria nascente, induzindo uma nova demanda, principalmente, de bens de consumo. Para exemplificar a assertiva acima, pode-se citar Teixeira (2005, p.67): A América do Sul já vinha sendo descoberta pelos capitais estrangeiros na busca de novos investimentos. Empresas inglesas, americanas, alemães, dentre outras, logo que começaram a aplicar a energia elétrica em seus países, não hesitaram em ampliar seus mercados, ambicionando se instalar no Brasil. No Brasil, a implantação da indústria da eletricidade deu-se de maneira bastante limitada. Mesmo não tendo um amplo parque industrial baseado na tecnologia da primeira revolução industrial, sua economia tinha como principal elemento o cultivo e a exportação da cana açúcar e do café. Possuía, portanto, uma economia basicamente agrária, com uma indústria de bens de produção bastante incipiente. Por este motivo, as principais utilizações da energia elétrica no Brasil foram: nos meios de transporte e na iluminação pública, ou seja, nos bens de consumo. A primeira demonstração, em terras brasileiras, da utilização da energia elétrica deu-se na capital do império em 1879. Neste mesmo ano foi inaugurada a iluminação elétrica da Estrada de Ferro D. Pedro II2. O primeiro sistema de iluminação elétrica pública deu na cidade de Campos, no estado do Rio de Janeiro em 1883 e depois na cidade de Rio Claro, no estado de São Paulo, em 1885. A cidade de Campos, que tinha sua economia baseada na cana de açúcar, já possuía um sistema de iluminação pública a gás o qual foi substituído pela iluminação elétrica. Originalmente, o sistema era composto por 39 lâmpadas e três geradores de corrente contínua. 2 Segundo Teixeira (2005, p.68), a primeira experiência com a energia elétrica na Bahia deu-se em 1885 quando o professor da Escola de Medicina da Bahia Malaquias Alvares dos Santos, utilizando baterias, iluminou, por algumas horas, os cômodos da escola de medicina bem como parte da área externa. 37 Para exemplificar o processo de eletrificação brasileira até 1930 utilizaremos o processo de eletrificação da Bahia, mais especificamente a cidade de Salvador. A elite de Salvador, no final do século passado, não se diferenciava do resto do país no que tange a novidade da utilização da energia elétrica tanto nos meios de transporte como na iluminação pública. Contudo, Salvador começou seu processo de eletrificação não pela utilização da energia elétrica para a iluminação pública e sim como meio de tração para o transporte de massa. Tendo sido a primeira cidade brasileira a utilizar o sistema de Bondes3 com tração animal em 18664 com percurso da Praça do Comércio até a baixa do Bonfim, Salvador foi a segunda capital brasileira a ter este serviço disponível através de tração elétrica. Da mesma forma que a primeira linha de bonde com tração animal, a primeira linha de Bonde com tração elétrica ocorreu na “Cidade Baixa”5. Em ambos os casos a empresa pioneira foi a Companhia de Veículos Econômicos. O processo ocorreu na cidade baixa por três motivos principais: O primeiro deles foi topográfico. A cidade baixa tem uma topografia muito mais plana reduzindo o investimento inicial de implementação das linhas. A implantação de bondes na cidade alta requereu uma série de intervenções em vias existentes dentre as quais pode-se citar: elevação do nível da Praça Castro Alves, redução da inclinação da Ladeira de São Bento e redução do declive em parte da Ladeira da Barra. 3 4 Os primeiros bondes surgiram na cidade de Boston em 1865. Seu nome deriva das cartelas compradas para sua utilização. Segundo Sampaio (2005, p.166) apesar de formalmente inaugurada em abril de 1866 com a presença do conselheiro Manoel Pinto de Souza Dantas, presidente da província da Bahia, a linha de bondes da Veículos Econômicos só começou a operar em 28 de Maio de 1869 no trecho Coqueiro de Água de Meninos – Bonfim. Somente no ano seguinte o trecho se estendeu até a Praça do Riachuelo. 5 A antiga cidade de Salvador era dividida entre a cidade alta, que compreende o trecho do Santo Antônio até a Vitória e a cidade baixa, que se estende desde o comércio até a península itapagipana. 38 O segundo motivo foi o demográfico. Segundo Teixeira o maior adensamento populacional da cidade de Salvador, na segunda metade do século XIX se localizava na península de Itapagipe. A confluência destes dois fatores associado a forte concorrência da Companhia Linha Circular, fundada em 1887, que disputava praticamente os mesmos trechos, levou a Companhia de Veículos Econômicos a fechar um contrato com a Siemens e Halske para eletrificar suas linhas. Para tanto foi construída a primeira grande usina geradora de energia elétrica da Bahia, situada no Largo de Roma, composta por duas turbinas a gás acopladas a dois geradores de 150 HP. Neste ponto, vale deter-se um pouco nos fatos históricos que antecederam a entrada da Siemens no mercado de transporte urbano de Salvador. Em 1894, o coronel Antônio Francisco Brandão, acionista da empresa Veículos Econômicos, comprou o ramal de Itapagipe, linha até então pertencente a Companhia Linha Circular na Cidade Baixa. No mesmo ano, em 2 de junho de 1894, o coronel Francisco assinou contrato com a intendência de Salvador para a construção de uma linha ligando as proximidades de igreja do Corpo Santo até a linha de Itapagipe, passando pelo Cais do Ouro. Figura 2 – Casa de máquinas da Cia Carris Elétricos da Bahia em 1897. Fonte: Sampaio (2005, p.259) 39 Em 11 de Novembro de 1895, após um período de turbulência entre os acionistas da Veículos Econômicos, foi aprovada a fusão do trecho anteriormente adquirido pelo coronel Antônio Francisco com a Veículos Econômicos, surgindo então a Companhia de Carris Elétricos da Bahia. Desta forma, em 6 de junho de 1897 é inaugurado o bonde elétrico em Salvador6, passando Salvador a ser a segunda capital brasileira a possuir o serviço de bonds elétricos. Contudo, a empresa passou por problemas econômicos não conseguiu saldar suas dívidas conforme evidenciado no texto abaixo: Assim, em 6 de Abril de 1898, os acionistas da Companhia de Carris Elétricos reuniram-se mais uma vez no salão da Associação Comercial. A situação de crise havia deixado a empresa em “situação angustiosa, pagando quase um conto de réis de juros, por dia”, por empréstimos que havia contraído. Por isso, em sessão extraordinária, decidiram deliberar sobre duas propostas que lhes haviam sido apresentadas para a compra de sua linha de bonds e de bens e direitos que possuíssem. Uma das propostas era do engenheiro M. M. Bahiana, representante de um sindicato belga, e outra do engenheiro alemão Emil Hayn, que representava a sociedade Siemens & Halske de Berlim. (SAMPAIO, 2005, p.233234) Em 1899 a Siemens e Halske assume todos os bens da Companhia de Carris Elétricos da Bahia. Vale salientar que, a não ser pela concessão de direito de uso do espaço público ou como árbitro entre empresas concorrentes ou empresas e a sociedade, o governo nem interferia nem subsidiava as empresas de transportes urbanos. Este fato pode ser exemplificado através do seguinte texto de Sampaio (2005,p.231), quando fala do contrato entre a Intendência de Salvador e o coronel Antônio Francisco Brandão: De acordo com o contrato, a linha a ser construída deveria ter bitola igual à da Circular; poderia empregar qualquer tipo de trilho que não “embaraçasse o calçamento”, isto é, a cobertura das ruas, não prejudicasse o “livre trânsito dos cavalheiros e veículos no sentido transversal”, assim como nos passeios das ruas. 6 O primeiro trecho entrou em operação em 14 de março e compreendia o trecho de Roma à Itapagipe. 40 Outro exemplo que pode ser dado com relação a esta postura da intendência no que concerne a gerar facilidades para a instalação da infraestrutura visando a utilização dos bondes elétricos, principalmente na área do comércio de Salvador, onde a linha corria entre ruas estreitas, de grande movimento, espremidas entre o mar e a montanha, numa região cheia de trapiches e, por conseguinte, com grande fluxo de carroças transportando cargas, pode ser vista no texto abaixo: Sem demora, o diretor-gerente da Carris, engenheiro Emil Hayn, fez uma ampla exposição ao intendente municipal, enfatizando “o máximo sacrifício que os seus chefes e proprietários da companhia faziam para restabelecer nesta Cidade um serviço de tramways elétricos, perfeito e digno das maiores capitais do mundo” e que o trabalho de assentamento dos trilhos estava sendo “enormemente prejudicado pelo grande número de carroças que transitavam durante o dia [...] estragando o que se fez à noite, com grande dificuldade e dispêndio”. Considerando este fato “de enorme gravidade”, o engenheiro pediu que fosse suspenso “o tráfego de carroças na área em construção, durante oito semanas, por ser esta medida de grande interesse público [...] e das próprias carroças que se estragam, assim como os animais, por transitarem em lugar onde a rua esta cheia de trilhos e pedras amontoadas.(SAMPAIO, 2005, p.236) Figura 3 – Bondes da Cia Carris Elétricos no Cais do Ouro em 1898. Fonte: Sampaio (2005, p.236) 41 Não obtendo resposta, o mesmo engenheiro solicitou a presença da “força de cavalaria” com a finalidade de disciplinar o tráfego das carroças ao que recebeu como resposta: [...] a suspensão do tráfego das carroças reverte exclusivamente em proveito da peticionaria, contra o direito que assiste aos proprietários da carroças, de fazerem transitar seus veículos pelas ruas da cidade baixa, por onde trafegam os carros da empresa. (SAMPAIO, 2005, p.237) Outro fato digno de nota é que a Companhia de Carris Elétricos (CCE) não se limitou ao transporte de passageiros. Em 9 de Março de 1899, esta empresa assina contrato com os negociantes de fumo que consistia, segundo Sampaio (2005, p.237-238), basicamente em: a) A CCE se incumbiria de receber, no terminal ferroviário da Calçada, as cargas dos seus contratantes e armazena-las em um galpão construído próximo à referida estação, para fins de depósito; b) A CCE se comprometia a entregar no trapiche específicado, a carga num prazo não superior a 48 horas; c) A CCE se comprometia a construir oito desvios mortos para facilitar o tráfego das cargas; d) Os contratantes não poderiam transportar suas cargas senão através da CCE. Ainda segundo a mesma fonte, em 1901 a CCE assinou contrato com a Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco para a construção de um trecho de 100 metros de trilhos, dentro da área da rede ferroviária para facilitar o escoamento das mercadorias para seu depósito. 42 Neste ponto cabe um aparte para identificar os interesses alemães na Bahia. Segundo Alfredo Guimarães (1982, p.24), havia um domínio alemão tanto na exportação do fumo como também em sua produção. Este domínio se evidencia quando se verifica que, entre 1898 a 1907, 55% da exportação baiana de fumo foi destinada ao porto de Bremen. Já o processo para a eletrificação da iluminação pública e privada se deu de maneira mais lenta e conturbada. Em 11 de abril de 1901 foi concedido a Chagas Dória, Brisson & Co, pela intendência municipal o direito exclusivo, por cinqüenta anos, de explorar e assentar as canalizações e condutores necessários à distribuição de gás e eletricidade, quer para iluminação pública, quer para outros fins. Da mesma forma que aconteceu com a eletrificação de São Paulo quando a concessão dada a Francesco Gualco e ao Comendador Antônio Augusto de Souza em 1897 para a exploração do serviço de bonde com tração elétrica e posteriormente ampliado também para a geração e distribuição de energia elétrica foi transferida para a empresa canadense São Paulo Railway, Light and Power Company Limited7, a concessão dada a Chagas Dória, Brisson & Co também foi transferida para uma empresa de capital estrangeiro: a empresa belga Compagnie d’Eclairage de Bahia que inclusive encampou os bens da antiga Bahia Gás Company Limited que, após o fim de sua concessão, teve seus bens transferidos para a intendência municipal de Salvador. Desta forma, o capital belga que não tinha conseguido entrar na área de transporte, o fez através da distribuição de gás e energia elétrica8. Contudo, o processo de disseminação da energia elétrica em Salvador não se deu de maneira rápida nem tranqüila em função da expectativa do prazo de instalação da iluminação elétrica da população soteropolitana. 7 A São Paulo Railway, Light and Power Company Limited foi constituída em abril de 1899, autorizada a funcionar no Brasil em junho e recebeu a transferência da concessão em setembro do mesmo ano. 8 A presença do capital belga já se fazia presente no Brasil. O exemplo disto foi a empresa Societé Anonyme du Gaz que assumiu a concessão para a exploração de iluminação pública da cidade do Rio de Janeiro em junho de 1886. Esta concessão já previa, também, a utilização de energia elétrica para a iluminação pública. 43 Devido a uma das características técnicas e econômicas do setor elétrico ser o elevado montante de investimento associados a longos prazos de maturação requerendo uma prospecção de mercado em longo prazo com grande grau de incerteza sobre o retorno do investimento realizado, a d’Eclairage fez constar em seu contrato uma cláusula que minimizava este risco, mas que também postergaria o prazo de início da energização da cidade, conforme descrito por Teixeira (2005, p.79): O próprio contrato com a d’Eclairage era para o fornecimento de gás e energia elétrica para iluminação pública e privada e só previa a construção de uma usina elétrica, quando fosse “garantido por assinantes particulares, um consumo anual durante cinco anos de 200.000 kWh em um raio de três quilômetros da usina central. A iluminação a gás se iniciou em Salvador em 1862 com a substituição da iluminação a azeite por iluminação a gás na Praça do Palácio e na rua Direita do Palácio (atualmente Praça Tomé de Souza e Rua Chile). A rede de gás se extendeu por todo o centro da cidade se expandindo para pontos mais distantes como o Bairro do Rio Vermelho. O gasômetro foi construído no bairro de São Joaquim e, posteriormente, devido a grande expansão do gás, foi necessário a construção da estação de recalque da Barra devido à extensão da rede de gás. Portanto, quando a d’Eclairage iniciou a sua concessão, que ao contrário da Light, não previa a exploração dos transportes urbanos, já havia um grande parque de gás instalado em Salvador, ocasionando um processo semelhante ao ocorrido na Europa, com relação a expansão da energia elétrica para a iluminação ou seja, preferiam manter a tecnologia existente para garantir o máximo do retorno do capital investido e só então investir numa nova tecnologia. A postura da d’Eclairage associada a grande expectativa da população de Salvador em utilizar a iluminação elétrica gerou alguns conflitos. O primeiro deles foi com relação a eletrificação da Faculdade de Medicina. Através da lei municipal 563 de 6 de fevereiro de 1902 foi concedida a autorização ao diretor desta escola, Dr. Alfredo Thomé de Britto, para ter a referida 44 escola, o suprimento de energia elétrica através da rede da Companhia de Carris Elétricos. Trata-se portanto, do primeiro ramal de ligação que se tem notícia na capital baiana. Em resposta a d’Eclairage protestou com veemência quanto ao fato conforme citado por Teixeira (2005, p.76) No dia 2 de setembro de 1902, a diretoria da d’Eclairage mandou uma carta ao intendente municipal que protestava contra o fato. A carta dizia que já tinham sido iniciados os trabalhos de assentamentos dos fios, para fornecimento de energia elétrica a um transformador colocado no edifício da faculdade. Este transformador ia acionar um dínamo para fornecer eletricidade até o Hospital Santa Isabel em Nazaré e, nem o diretor da Faculdade de Medicina nem o engenheiro Emil Hayn, gerente da Companhia de Carris Elétricos, tinham entrado em acordo com a Compagnie d’Eclairage. A resposta da intendência, ainda segundo Teixeira (2005, p.76) foi: Em resposta, o auditor do município emitiu, no dia 30 de setembro do mesmo ano, dizendo que a d’Eclairage não se encontrava aparelhada o suficiente para executar tal serviço, pois não tinha começado a construção da usina, prevista em contrato e, por isso, a intendência municipal não poderia frear o avanço do progresso na cidade de Salvador. Este fato veio a aumentar ainda mais a pressão para a eletrificação da cidade. Os comerciantes da cidade fizeram um abaixo assinado para o intendente, solicitando a eletrificação da Rua Chile. O intendente propiciou o entendimento entre a d’Eclairage e a Companhia de Carris Elétricos que veio a culminar, em 8 de dezembro de 1903 com a iluminação elétrica da Rua Chile.9 Em 1905, chega a Salvador Guinle e Cia. Fundada no Rio de Janeiro em 1904 por Cândido Gaffée e Eduardo Guinle. Esta empresa foi criada com o objetivo de deter o avanço do grupo Light no Rio de Janeiro e em São Paulo. A Guinle era a detentora da Cia. Brasileira de Energia Elétrica que atuava em Niteroi e em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. 9 Embora a iluminação elétrica da Rua Chile tenha sido inaugurada no dia 8 de dezembro de 1903, os serviços só foram efetivamente concluídos no dia 24 de dezembro deste mesmo ano. 45 Não tendo sido bem sucedida no eixo Rio – São Paulo, esta empresa direcionou seus investimentos para Salvador por considerar um mercado promissor. Em 1905 a empresa Trilhos Centrais, que tinha encampado a Cia de Transportes Urbanos no ano anterior, vem a fundir-se com a Guinle e Cia. A Guinle também foi a responsável pela eletrificação dos bondes da Cidade Alta. O Conselho Municipal obrigou a Cia Linha Circular de Carris da Bahia (CLC) a eletrificar a totalidade de seus ramais de bonde de tração animal para tração elétrica através da Lei 753 de 12 de Abril de 1905, estipulando um prazo máximo de três anos. Contudo, a CLC ainda não havia se recuperado da batalha titânica com Veículos Urbanos que veio a mostrar-se uma vitória de Pirro. A batalha com a aquisição desta outra empresa depauperou-a, reduzindo a sua capacidade de investimento. Com isto, para honrar o compromisso previsto em lei, a CLC contratou os serviços da Guinle e Cia para executar a eletrificação de suas linhas. Assim foram montadas as usinas do Canela (1905) e da Barra (1906), e a CLC passa a ser controlada pela Guinle & Cia. Em 1906, a empresa Trilhos Centrais juntamente com a CLC solicitam ao Conselho Municipal que fosse estabelecido um tráfego mútuo entre as linhas das referidas empresas, sob o pretexto de melhorar os serviços fornecidos, evitando baldeações. Além disto, a Trilhos Centrais requereu todos os privilégios já concedidos à CLC. 46 Figura 4 – Burro empacado em frente a um bonde elétrico. Fonte: Sampaio (2005, p.237) Neste ínterim, foi criada, em 1905, no estado do Maine, Estados Unidos da América, a Bahia Gás and Eletric Company com o objetivo de explorar a distribuição de gás eletricidade no estado da Bahia e passou a ter o controle acionário da d’Eclairage. Já em 1906 a Bahia Gás and Eletric Company alterou o seu nome para Bahia Tramway Light and Power Company Limited, subsidiária da Light and Power que explorava os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1907 esta mesma companhia adquire da Siemens & Halske a empresas Veículos Econômicos e a Carris Elétricos. Com isto forma-se, em Salvador, dois grandes grupos que exploram os serviços relacionados à energia elétrica: por uma lado a Guinle formada pela Trilhos Centrais e a CLC (grande credora da Guinle e Cia) e do outro lado a Light formada pela d’Eclairage, Veículos Econômicos e Carris Elétricos. A CLC então, concluiu a construção de uma usina termoelétrica de maior porte que foi a Termoelétrica da Preguiça. Situada no bairro da Conceição da Praia, 47 esta usina entrou em operação em 1906 sofrendo duas ampliações subseqüentes sendo a primeira em 1926 e a segunda em 1948. Esta usina só veio a sair de operação em 1960. A usina da Preguiça foi uma das principais geradoras da cidade até 1920. Após a sua construção, foi necessária, dentre outras, a construção da subestação da Graça com a finalidade de distribuir adequadamente a energia gerada nesta usina. O convívio entre a população e a Usina da Preguiça nem sempre foi harmônico, pois como relata Teixeira (2005, p.92): Lá foram instaladas caldeiras a vapor para funcionamento das quatro turbinas com pressão de 150 e 400 libras, resultante da queima de combustível mineral gerando uma fuligem enorme, o que nunca deu certo em termos de convivência com a cidade. Com isto, a CLC começou a produzir excedente de energia, voltando a fornecer energia elétrica diretamente a particulares, infligindo o contrato da d’Eclairage, o que foi uma tônica no início do processo de eletrificação da Bahia. Já no grupo das empresas Light na Bahia, existia uma situação oposta no que diz respeito à produção de energia elétrica. A d’Eclairage ainda não havia construído a sua usina, prevista em contrato, como vimos anteriormente. Por sua vez, a usina de Roma, construída pela Siemens & Halske para suprir os bondes da Carris Elétricos encontrava-se no seu limite. Mesmo tendo sido autorizada pela Siemens & Halske a reformar sua usina de Roma, o grupo Light optou por construir uma nova usina, atendendo os requisitos do contrato da d’Eclairage e serviria tanto para suprir os bondes elétricos como também a iluminação pública e privada, cujo projeto foi apresentado à intendência em 16 de maio de 1907. Esta usina, que foi construída próximo ao Gasômetro (também de 48 propriedade do grupo Light), foi motiva por motores de quatro cilindros alimentados a gás o qual também era produzido no mesmo local como descrito por Teixeira (sic. 2005, p.104): A instalação consiste em dois geradores nos quaes o vapor d´agua passa por camadas de coke em braza. O coke é transportado para dentro dos geradores por um mecanismo automático. Além, d´isso tem os aparelhos necessários para lavar e purificar o gaz, como são conhecidos e usados nos gazometros. Neste meio tempo, começou a ocorrer uma série de interrupções nos serviços da Carris Elétricos por conta da demora da construção desta nova usina, o que só veio a regularizar-se com entrada em operação desta usina em 1907. Ainda neste período, março de 1906, foi publicado um decreto, pelo governo da Bahia, visando regulamentar e promover a exploração industrial da eletricidade gerada através de recursos hídricos. Segundo Teixeira (2005, p.104105) este decreto previa: [...] dentre outros favores [...] as empresas interessadas, com uma isenção ‘durante o prazo de cinqüenta annos de qualquer imposto estadual directo ou indirecto’ com exceção de um pagamento semestral de 3$000, pela capacidade normal, em kilowalts, de todos os geradores de energia instalados em suas usinas.” É provável que esta ação tenha decorrido dos seguintes fatores: O primeiro deles era a crise de oferta de energia pela qual a cidade de Salvador passava naquele momento. O segundo fator era o problema de convivência das usinas termoelétricas com o meio urbano cujo exemplo pode ser dado pela Usina da Preguiça. O terceiro fator era a mentalidade da população soteropolitana da época. Havia uma ânsia por novidades tecnológicas nos grandes centros urbanos do mundo no final do século XIX e início do século XX refletindo na população de 49 Salvador. Além disto, a hidroeletricidade não era mais novidade no país. A primeira hidroelétrica brasileira foi construída em Juiz de Fora, Minas Gerais por um industrial local para suprir sua manufatura em 1889. O excedente era vendido à prefeitura para utilização em iluminação pública. Para as empresas que formavam o grupo Light, a geração da eletricidade através de aproveitamento hídrico, não era novidade, conforme pode ser visto no texto abaixo, transcrito do contrato de concessão do Distrito Federal (Rio de Janeiro, na época): 1. O contratante, por si, empresa ou sociedade legalmente organizada, terá direito exclusivo, dentro do perímetro do Distrito Federal, e por espaço de quinze anos a contar de sete de Junho de mil e novecentos, de fornecer a terceiros energia elétrica gerada por força hidráulica, afim de ser aplicada como força motriz e a outros fins industriais, salvos os direitos de terceiros, inclusive aos que referem a produção e distribuição de luz. Iniciou-se então, uma corrida entre as empresas associadas ao Grupo Guinle e ao Grupo Light em busca de mananciais que favorecessem seu aproveitamento como fonte de geração de energia elétrica. A primeira concessão foi dada a Guinle através do decreto estadual no 449 de 14 de Fevereiro de 1907 para exploração da Cachoeira de Bananeiras, situada nos então distritos de Muritiba e Feira da Conceição. A concessão da Light foi conseguida quase em concomitância, através do decreto estadual no 453 de 23 de Fevereiro de 1907 e a autorizava a exploração das cachoeiras do rio Jequiriçá situadas no distrito de Prazeres, município de Jaguaribe e na Fazenda Poço Redondo, no município de Valença. Em 1909, a Guinle & Cia, visando juntar todas as suas empresas no Brasil numa grande “holding”, cria a = Companhia Brasileira de Energia Elétrica (CBEE) que herdou todas as concessões e direitos da Guinle & Cia, e iniciou a construção da barragem de Bananeiras em 1910. 50 Figura 5 – Bonde da Linha Circular de Caris em 1910. Fonte: Sampaio (2005, p.260) Contudo, no início da década de 1910, a competição entre a CLC e a d’Eclairage atingiu seu clímax. A CLC possuía excedente de energia e vinha constantemente violando o contrato de exclusividade para fornecimento de energia elétrica da d’Eclairage. Esta, por sua vez, não vinha investindo o suficiente no atendimento da população e, segundo Teixeira (2005) passou a não cumprir o contrato com a intendência municipal. Tal fato culminou com a suspensão da concessão da d’Eclairage em 5 de julho de 1911 com a publicação da lei no 906. A transcrição de parte desta lei pode ser vista abaixo: O Intendente encampará a concessão feita à Companhia d´Eclairage pelo contrato de 29 de Abril de 1901, com a descriminação dos bens e direitos, ou rescindirá, amigavel ou judicialmente este contracto, mediante a justa indenisação que, de direito lhe fôr devida, sem responsabilidade por quaisquer compromissos que tenha contrahido a Eclairage ou por obrigações que lhe sejam impostas por sentença do Poder Judiciario. (apud TEIXEIRA, 2005, p.117). Esta ação da intendência não foi aceita de forma passiva pela d´Eclairage que recorreu à justiça federal e conseguiu um mandato de manutenção da 51 concessão em 1912. Com a finalidade de resolver este impasse, o Intendente Municipal, Julio Brandão entra em negociação com a diretoria da d´Eclairage. Nesta nova negociação, a encampação ocorreria tanto com a d´Eclairage como com a Bahia Tramway Light and Power Company pelo valor de 17$000 (dezessete mil contos de reis). O contato provisório foi assinado em 25 de Abril de 1913. Em 14 de Março de 1914, com a assinatura do contrato definitivo, o Grupo Light deixa a Bahia, passando a concentrar seus investimentos no eixo Rio – São Paulo. Esta estratégia rendeu grande economia ao grupo Light como pode ser visto no texto de Gonçalves Júnior (2002, p. 73): A Light, desde o princípio de suas atividades no Brasil, voltou-se ao atendimento do eixo de maior densidade de procura dos serviços que ofertava, concentrando-se no eixo Rio – São Paulo. Entre 1915 e 1945 a Light centrando seus serviços em uma área territorial reduzida, detinha mais de 40% da capacidade instalada brasileira. Esta encampação trouxe sérias conseqüências tanto ao erário público como a qualidade do fornecimento de energia. Assim que a administração da cidade passou para um novo intendente, Antônio Pacheco Mendes, o mesmo contestou a validade da encampação em instâncias federais. A briga judicial se arrastou até meados da década de 1920 conforme mostra transcrição do Jornal Diário de Notícias de 11 de Maio de 1926 (apud Teixeira, 2005, p. 125): Nossa reportagem trouxe-nos, hoje, a notícia digna de lamentações, de haver ruido parte do telhado que já vinha caindo pôdre das officinas da estação de Roma. Sob escombros, ficaram utensilhos, machinismo, actualmente custosissimos, caros, adqueridos e hoje valendo, por força de juros, o triplo [...]. Desta forma, além das querelas jurídicas, a intendência não tinha condições de administrar corretamente os serviços tanto da d´Eclairage como o da Bahia Tramway Light and Power Company. Além disto, como não conseguia saldar as dívidas, também não podia vender os bens para uma empresa privada que pudesse administrar corretamente os serviços. 52 Segundo Teixeira (2005, p.127) as questões que envolveram esse processo de encampação só se resolveram em 1929, quando diz: As dificuldades envolvendo a encampação da Bahia Tramway Light and Power Company e a Compagnie d´Eclairage se estenderam ainda por mais três anos após a publicação deste artigo10, causando muitos prejuízos à população de Salvador, por conta de falhas no fornecimento de energia elétrica para a iluminação pública e para tramways na Cidade Baixa. Além dos problemas da cidade com a encampação das empresas do grupo Light na Bahia, houve sérios problemas de suprimento em Salvador a partir da segunda metade da década de 1910 até o final da década de 1920. Mesmo a hidroelétrica de Bananeiras tendo sido iniciada em 1910, suas obras só foram totalmente concluídas em 23 de Junho de 1923. As obras sofreram uma série de atrasos conforme relatado num artigo do Jornal Diário da Bahia de 2 de Julho de 1923 (apud TEIXEIRA, 2005, p.120): As grandes Obras das installações electricas da Bahia, iniciadas e logo após quase todas destruidas pela enchente do Rio Paraguaçú foram reencetadas em 1918, com todo o vigor, ficando concluidas em junho de 1920. Estimava-se inicialmente que o potencial da usina fosse de 30 MW, podendo ser posteriormente ser ampliado para 50 MW. Contudo, seu projeto inicial foi de 11,25 MVA, tendo sido posta em operação em três etapas. Apesar das obras terem sido concluídas em junho de 1920, a primeira etapa da usina entrou em operação em outubro do mesmo ano com um gerador de 3,75 MVA. A segundo entrou em operação em 26 de novembro de 1922, e a última em 23 de junho de 1923. Devido à pequena altura da barragem, apenas 7 metros, e ao pequeno 53 reservatório formado, a usina de Bananeiras só era capaz de gerar uma potência firme de 4,1 MW. A energia produzida na usina de Bananeiras, além de atender as cidades de Cachoeira, São Félix e Santo Amaro também supria Salvador. Para o atendimento a Salvador foi construída uma linha de transmissão de 106 km de extensão, operando em 44kV. Foram construídas, também, duas subestações abaixadoras uma no bairro do Matatu, ainda em operação e de propriedade da CHESF e outra no bairro da Lapinha, também ainda em operação, e de propriedade da COELBA. O traçado original da linha de transmissão da subestação da Lapinha, dentro da cidade de Salvador, foi modificado no início da década de 1990. Foi desativada a linha que então operava em 69 kV, com estruturas em trelissa por uma rede compacta, mais adequada ao convívio com uma área densamente povoada. A linha antiga era chamada pela população de Salvador como “linha Guine” uma corruptela do nome original – Linha Guinle. A fase mais crítica do setor energético baiano se arrastou até 1929. Contudo, após 1925 acontecem fatos dignos de nota. Em 1926 a CLC terminou a construção de uma usina termoelétrica situada no Dique do Tororó. O prédio desta usina ainda existe hoje, no qual funciona uma loja de uma rede de fast food. Na sua fachada, em algarismos romanos, ainda pode ser visto, em destaque, o ano de sua inauguração. Todavia, esta usina só entrou em operação anos depois. Ainda em 1926, a CLC comprou a empresa Trilhos Centrais11. Com isto, o transporte urbano por bondes elétricos na cidade de Salvador ficou resumido à CLC 10 O artigo citado no texto refere-se ao transcrito do Jornal Diário de Notícias de 11 de Março de 1926 parcialmente transcrito anteriormente. 54 na Cidade Alta e a Linha Municipal, como era conhecida na época o serviço de bondes encampado pela intendência de Salvador da Light and Power, na Cidade Baixa. Em 1927, chega ao Brasil a American Foreing Power Co. – AMFORP, pertencente à General Electric. Esta empresa foi ciada, em 1923, para explorar o mercado de energia elétrica fora dos Estados Unidos da América. Quando começou a atuar em território brasileiro, criou as subsidiárias Empresas Elétricas Brasileiras – EEB e a Companhia Brasileira de Força Elétrica. A AMFORP, já em 1927 adquiriu o controle acionário da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e da Guinle & Cia e, conseqüentemente, o controle da CLC e da CBEE – Companhia Brasileira de Energia Elétrica. Tabela 1 – Relação não exaustiva de empresas compradas pela AMFORP Cia Força e Luz do Nordeste do Brasil Alagoas e Rio Grande do Norte Telephone Company of Pernambuco Limitede Pernambuco Pernambuco Tramways & Power Co. Ltd. Pernambuco Cia Força e Luz de Minas Gerais Minas Gerais Cia. Central Brasileira de Força Elétrica Espírito Santo Cia. Força e Luz do Paraná Paraná Cia de Energia Elétrica Rio-Grandense Rio Grande do Sul The Rio-Grandense Light and Power Syndicate Rio Grande do Sul Além destas aquisições, foram feitas várias por todo o Brasil nos dois anos seguintes à chegada da AMFORP no Brasil, algumas das quais listadas na Tabela I. 11 Desta a chegada do Grupo Guinle e Cia em Salvador, existia uma estreita relação entre este grupo e a CLC. Inicialmente, com a expansão do serviço de bondes por tração elétrica, a CLC tornou-se uma grande credora da Guinle & Cia. Já nesta época, a Guinle havia se tornado seu acionista majoritário. 55 Muitas das empresas adquiridas se encontravam com sérios problemas técnicos e econômicos. Figura 6 – Planta das linhas de bondes elétricos e ferrovias no início do século XX. Fonte: Sampaio (2005, p.207) Como visto anteriormente, a intendência de Salvador não podia por a venda os antigos bens do grupo Light na Bahia. Então, em 8 de Maio de 1929, através da lei no 2154, o governo do estado intervém para liquidar a dívida contraída por Salvador quando por ocasião da encampação das duas empresas do grupo 56 Light e os põe a leilão. Só houve um único interessado no leilão que foi a CLC, já sob controle da AMFORP. Ao adquirir os bens encampados, em 28 de maio de 1929, a CLC assume os serviços de transporte de massa da Cidade Baixa e é criada a CEEB – Companhia de Energia Elétrica da Bahia para assumir os serviços de geração e distribuição de energia elétrica pública e privada. Também é passada para a CEEB todos os bens referentes aos serviços de energia elétrica na Bahia da CBEE. Desta forma a AMFORP passou a controlar o transporte de massa por tração elétrica em Salvador, através da CLC e a geração e distribuição de energia elétrica através da CEEB. Algumas ações tomadas para a melhoria dos serviços ligados à eletricidade aconteceram após a AMFORP ter iniciado a sua atuação em Salvador. Uma delas foi a inauguração da Usina Termoelétrica do Dique, ocorrida em 18 de janeiro de 1928. Esta usina entrou em operação com a capacidade 750 kW e já em 1929, foi instalado outro gerador de 1MW. A Usina do Dique foi de suma importância para o bom funcionamento dos serviços de distribuição de energia elétrica até o início da década de 1950. Para retratar tanto o grau de insatisfação da população soteropolitana com o fornecimento de energia elétrica como a sua esperança no funcionamento desta nova usina, segue a transcrição de artigo publicado pelo Diário de Notícias de 18 de Janeiro de 1928 (apud TEIXEIRA, 2005, p.133): [...] cidade que se recente, de vez em quando, da falta de energia, essa installação vem, portanto, a calhar, uma vez que se destina a supportar as possíveis crises das Bananeiras, evitando, assim, se reproduzam aquellas noites trevosas em que, não faz muito tempo, estivemos, irremediavelmente mergulhados. Outra ação tomada pela CEEB foi a ampliação da Usina Hidroelétrica de Bananeiras. A hidroelétrica original ficou muito aquém das expectativas da época. Contudo, a ampliação foi, na verdade, a construção de uma nova barragem, com 46 57 metros de altura e com um comprimento de crista de 367 metros. Depois de inaugurada em 9 de agosto de 1931, foi a maior hidroelétrica do nordeste do país. Outra obra digna de nota feita pelas empresas da AMFORP foi a reforma do Elevador Lacerda. Nesta reforma o elevador assumiu as características arquitetônicas que o identificam como cartão postal da cidade de Salvador12. O fim do século XIX e o início do século XX foram marcados pela ânsia do moderno sobrepujando o antigo. Em todo o mundo grandes avanços foram feitos. Em Salvador foi um período e grandes modificações urbanísticas na cidade, muitas das quais diretamente ligadas à expansão da rede elétrica tanto para alimentar os bondes elétricos como para levar energia para outras utilizações públicas e particulares. Algumas destas modificações, feitas em nome do progresso, alteraram parte da memória arquitetônica da cidade. Figura 7 – Reforma do Elevador Lacerda em 1929. Fonte: Sampaio (2005, p.189) Como exemplo pode citar a construção da Avenida Sete de Setembro, 12 O Elevador Lacerda, cartão postal mais conhecido de Salvador, foi construído originalmente por Antônio Lacerda e inaugurado em 8 de dezembro de 1873, dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição da Praia. Chamava-se, então, Elevador da Conceição sendo movido por força hidráulica. Em 1903, a CLC, então proprietária, dotou o elevador de iluminação elétrica. A energia hidráulica só foi substituída pela elétrica em 1906. 58 que ainda hoje se estende da Praça Castro Alves até o largo do Farol da Barra. Executada no governo de J. J. Seabra, para a sua construção e melhor tráfego dos bondes, foi necessária a demolição de vários casarões e igrejas, dentre as quais se destacam as igrejas de São Bento e da Ajuda. Ambas foram reconstruídas em novos locais e com estrutura arquitetônica diferente da original. A última grande mudança se deu com a demolição da Igreja da Sé. Solicitada pela CLC com a justificativa de facilitar a circulação dos bondes, esta modificação causou grande comoção na cidade. Segundo Teixeira (2005, p. 213) pouco se ganhou com a demolição da igreja, tratando-se, segundo ele, mais de um capricho da CLC do que de uma real necessidade de engenharia. No local onde foi demolida a igreja, encontra-se hoje um monumento em memória à demolição daquele templo, conhecido como Cruz Caída. Nesta época também ocorria no mundo uma mudança. A quebra da bolsa de valores de Nova York em outubro de 1929 criou profundas turbulências na economia ocidental. A era do liberalismo econômico de Adam Smith começou a ruir. Como visto até agora, o processo de eletrificação da cidade de Salvador retrata, em grande parte, o pensamento econômico vigente na época. Verificou-se, neste período, a baixa intervenção do estado. Como visto no texto, o estado interveio somente como licenciador ou mediador, ou seja, pela concessão de direito de uso do espaço público ou com árbitro entre empresas concorrentes ou empresas e a sociedade, não interferindo nem subsidiando as empresas. Pode-se questionar que o estado agiu como empresário ao encampar a d´Eclairage contudo, há fortes indícios que este não foi o objetivo. O primeiro deles é que a encampação seria transitória conforme relata Teixeira (2005, p.117-118) ao discorrer sobre o conteúdo da carta do intendente Julio Brandão: 59 Nesta mesma carta, o Sr. Julio V. Brandão afirmava, mesmo tendo que tomar um empréstimo de vultoso valor, que esta compra não geraria nenhum prejuízo ao município, pois segundo a lei no 906 art.2º letra c, poderia ser aberta uma concorrência cujo ganhador assumiria, nas mesmas condições de compromisso anteriormente assumido, a indenização do material da d´Eclairage contraído pelo município. E continua, sugerindo que o grupo Guinle compraria os ativos das empresas encampadas: [...] uma proposta de uma companhia, que tem empregado, em virtude de concessão dada pelo Estado, grandes capitaes na fundação de uma usina geradora de eletricidade pela força hydraulica e que, naturalmente, será uma das concorrentes. Desta forma, a encampação dos bens das empresas do grupo Light se parece muito mais com a utilização de uma estratégia equivocada do que a tentativa de transformar o estado num agente empreendedor. Outro fator que ressalta a liberalidade do mercado é a não interferência do estado nos processos de fusões e/ou aquisições das empresas de transporte e/ou distribuição de energia. A liberdade foi tão grande que, em três décadas o mercado de utilização da energia elétrica de Salvador convergiu para um monopólio, de capital estrangeiro. No Brasil esta concentração também se estabelece, porém na mão de dois grupos americanos a AMFORP e o Grupo Light como pode ser evidenciado na citação baixo: As primeiras décadas do século XX foram caracterizadas [...] e por um processo de concentração dos centros de maior consumo pelas concessionárias, sobretudo as de propriedade estrangeira, o fornecimento de energia de quase todas as regiões mais desenvolvidas do país era dominado pela Light e pela AMFORP [...]. A disputa do capital internacional pelo mercado baiano também pode ser visto como convergente com o modelo liberal. A utilização de “testas de ferro” locais pode ser interpretada como uma estratégia para facilitar a articulação política ou para minimizar a xenofobia. 60 Pode-se observar ações do estado que beneficiaram os interesses das corporações, minimizando seus investimentos. É o caso, por exemplo, da criação da Avenida Sete de Setembro onde o estado investiu na abertura de uma artéria da cidade, que beneficiou sobremaneira a circulação dos bondes numa área de franca expansão demográfica (Vitória, Barra, Graça, Barra Avenida) ou na demolição da Igreja da Sé para, supostamente, facilitar as manobras dos bondes. Apesar de se poder argumentar que intervenções como a da Avenida Sete de Setembro contribuem para uma miríade de aspectos da sociedade, não significando necessariamente um benefício direcionado para um determinado setor da economia, pode-se também dizer que nenhum modelo teórico é encontrado em sua forma pura numa situação real. 3.3. A EXPANSÃO - DA DÉCADA DE 1930 A MEADOS DA DÉCADA DE 1980 Em outubro1929 a quebra da bolsa de Nova York levou os Estados Unidos a passar por um período conhecido como A Grande Depressão e abalou os pilares do capitalismo em todo o mundo. A crise que se seguiu à quebra da bolsa de Nova York gerou uma situação desesperadora nos Estados Unidos, com milhões de desempregados, famílias inteiras sem abrigo e alimentos e a desorientação do alto círculo financeiro. Neste cenário, em 1932, Franklin Roosevelt foi eleito com uma proposta de governo heterodóxia para a época, como relata Furtado (apud MARCHALEK 1981, p.152): [...] o presidente Franklin Delano Roosevelt, durante a sua administração (1933-1945), empreendeu um plano econômico [...] – o New Deal – [...] onde o estado interveio na economia em detrimento das tradicionais liberdades federativas, desvalorizando o dolar, contendo a saída de metais nobres e realizando grandes investimentos econômicos em estradas, barragens, habitações e outros setores econômicos e sociais. [...] Esta política intervencionista foi considerada ilegal, mas ajudou a conter a crise e proporcionou maior oferta de empregos. 61 Como pôde ser observado, tratava-se de uma política intervencionista onde o estado agia como empreendedor, reativando a economia com obras em infra-estrutura, propiciando o aquecimento do mercado, através da geração de empregos tanto diretos como indiretos. Um claro exemplo desta política foi a criação, em 1933, da autarquia do Vale do Tennessee, cuja missão era desenvolver as riquezas naturais do referido vale. Segundo Abreu (1999, p.43), o empreendimento foi responsável pela construção de 20 novas represas, reforma de outras cinco e integração mais cinco particulares que também foram integradas ao empreendimento e, em relação aos benefícios auferidos relata: O mais importante desse empreendimento, foi de transformar uma região que em 1933, tinha uma produção de energia per capta na área da TVA de cerca de 50% inferior à média dos Estados Unidos, e em duas décadas depois, esse número passava aproximadamente para 25% superior à média anual [...]. Começa a surgir, então, uma série de teorias econômicas intervencionistas, sendo a de John Maynard Keynes a mais difundida. Segundo Pereira Neto (2004, p. 37) a idéia central da teoria de Keynes era “[...] de que a própria atividade estatal, mesmo sem regulamentar a atividade particular, produzirá a distribuição dos resultados de maneira eqüitativa e compatível com o interesse coletivo, ou seja, a antítese do estado mínimo”. Contudo, Pereira Neto considera que a passagem do modelo liberal para o estado intervencionista não se deu em função exclusivamente do colapso da economia americana no início da década de 1930, sendo fruto de um processo que já vinha ocorrendo, ao dizer: Não obstante o modelo liberal fosse expandindo-se e consolidandose no século XIX, crescem os problemas sociais decorrentes do próprio desenvolvimento econômico do liberalismo. No que se refere às liberdades preconizadas no início do liberalismo agrega-se um novo elemento – a justiça social, e as reivindicações por esse igualitarismo vão aos poucos transformando o perfil estatal, o que faz surgir o modelo do Estado do Bem – Estar Social, ou Welfare State, ou seja, altera-se substancialmente o Estado Mínimo, pois exige uma 62 mudança no (não) agir estatal, impondo uma intervenção do poder público em espaços anteriormente próprios à iniciativa Privada. (PEREIRA NETO, 2004, p.34) Ainda para este mesmo autor, a mudança do estado Liberal para o Wellfare State foi necessária para a manutenção do capitalismo por três fatores: O primeiro deles é que através dos impostos e da poupança pública, os custos dos investimentos na infra-estrutura básica propiciam o desenvolvimento do capital e é dividido com toda a sociedade. Em outras palavras, ao invés do capital privado ter de investir altas somas em empreendimentos de infra-estrutura, de retorno demorado, este papel é feito pelo estado, cabendo ao capital privado somente investimentos de retorno mais rápido e de maior rentabilidade. O segundo motivo é que quando o estado investe na execução de obras, há um aquecimento geral da economia, transferindo capital para os trabalhadores e, principalmente, para os empresários de iniciativa privada. O terceiro motivo é que, ao assumir um papel assistencial, flexibilizando o estado liberal, diminui as tensões existentes entre empregados e empregadores. Além disto, o pós segunda Grande Guerra, com a bipolarização do mundo, contribuiu para a construção do Welfare State, principalmente na Europa Ocidental. A preocupação com o conflito entre a mão de obra e o capital levou ao surgimento de uma série de teorias visando estabelecer regras para o crescimento de países subdesenvolvidos, o que fez surgir uma série de programas internacionais de ajuda a países do que se passou a chamar “Terceiro Mundo”. A primeira adaptação ao modelo keynisiano ocorreu no final da década de 1940 e foi trazida simultaneamente por Roy Harrod e Evsay Domar passando a ser conhecido como modelo de Harrod-Domar de crescimento. Partindo da hipótese de que o crescimento da força de trabalho é igual à taxa de crescimento populacional, este modelo estabelece que só seja possível haver um crescimento econômico estável, numa situação de pleno emprego, se a taxa de crescimento do capital for 63 igual à taxa de crescimento da força de trabalho. Segundo Lira (2005, p.35), no caso das economias subdesenvolvidas, conseguir este equilíbrio requer um esforço muito maior do que o de economias já desenvolvidas, além de ter uma probabilidade de insucesso significativa, quando diz: Evidentemente que, no caso das economias subdesenvolvidas, isso se torna mais preocupante pelo fato de que exigirá do Estado um esforço acima de sua capacidade de ação, visto que demandará um estoque de capital em magnitude não disponível de forma perene. De qualquer forma, embora este formulação teórica não se constitua em uma teoria de crescimento econômico, tornou-se válida porque, além de conceber uma expectativa de crescimento a longo prazo nos moldes keynianos, permitiu com que se visualizasse a possibilidade de inclusão da realidade das economias subdesenvolvidas no processo mais amplo de desenvolvimento do sistema capitalista, encontrando campo fácil de aplicação nos planos de desenvolvimento dos países subdesenvolvidos. Posteriormente, Nurkse, um dos principais pensadores das teorias do subdesenvolvimento econômico, propôs, no final da década de 1950, que deveria haver uma expansão simultâneo da oferta e da demanda, nos países subdesenvolvidos, através de uma expansão, também simultânea, de indústrias que se apoiem mutualmente, de forma a superar o pequeno mercado interno. Em suma, para Nurkse, a solução para vencer o subdesenvolvimento era manter o fluxo de comércio para o mercado externo, advindas do setor primário, além de estabelecer a expansão do mercado interno para a nova produção de produtos acabados, produzidos pelas indústrias nacionais emergentes. A coordenação dos investimentos, neste modelo, caberia ao Estado o qual poderia, até mesmo, injetar recursos na economia associando-se à iniciativa privada, de forma a gerar os recursos necessários aos investimentos requeridos. A formulação de Nurkse, contudo, tinha três pontos que foram motivos de questionamento. O primeiro deles é que o processo de industrialização tinha que se 64 desenvolver de maneira simultânea em todo o território além de requerer um alto nível de investimento já que a malha de indústrias inter-relacionadas teria que ser montada quase que simultaneamente. O segundo ponto de questionamento é que, a oferta de produtos advindas das indústrias destinar-se-ia exclusivamente ao mercado interno. Nesta teoria a exportação de produtos industrializados só ocorreria se houvesse um excesso de oferta e deveria ser destinada a países com características produtivas similares. O terceiro ponto era a não previsão da diferenciação das diversas regiões dentro de um país. Estas diferenciações causam diferentes níveis de investimento e graus de dificuldades para a captação de investimentos também diversos. Em contraponto à teoria do desenvolvimento equilibrado, na qual Nurkse foi um dos principais expoentes, surgiu a teoria do desenvolvimento desequilibrado cujos principais teóricos foram Myrdall, Hirschman e Perroux. Myrdall defendia que a condição “sine qua nom” para um país subdesenvolvido atingir o desenvolvimento era o planejamento da economia já que, só através dele, o estado poderia traçar as políticas públicas e a forma de intervenção na economia. Myrdall propunha a intervenção em todos os aspectos da economia. Contudo, caberia ao estado determinar a quantidade total de investimento bem como a proporção a ser aplicada em cada aspecto da economia. Hirschman, por sua vez, contribui na teoria de desenvolvimento desequilibrado ao definir que, da mesma forma que ocorre com os países onde cada um tem um grau de desenvolvimento diferente, assim também ocorre dentro das regiões de um país. Sob esta ótica, cabe ao estado promover investimentos públicos capazes de, através de ações planejadas, desenvolver as regiões mais carentes as quais 65 poderiam ser, por exemplo, o estabelecimento de taxa de câmbio diferenciada ou a criação de programas e instituições regionais. Retornando a observação dos fatos históricos no Brasil, o período de 1930 a 1945, foi bastante conturbado. A crise que sucedeu o “crash” da bolsa americana influenciou negativamente a política de exportação brasileira. As oligarquias paulista e mineira, que se sucediam no poder formando a política conhecida como “café com leite” entraram em conflito quando o então presidente Washington Luís lançou para a sua sucessão o também paulista Júlio Prestes. Sentindo seus interesses ameaçados o governo de Minas Gerais se alia ao do Rio Grande do Sul e ao da Paraíba formando a Aliança Liberal e lança como candidato à presidência o gaúcho Getúlio Vargas. A disputa eleitoral foi vencida por Prestes que tinha como vice-presidente o baiano Vital Soares. Iniciou-se, então, um processo político-militar conhecido como revolução de 30 que levou Getúlio Vargas ao poder. O enfraquecimento da oligarquia agro-exportadora associada à redução do acesso a produtos manufaturados vindo do exterior, dá margem ao surgimento de uma classe dominante voltada à industrialização nacional. Além disto, com a crise capitalista que se instalou no mundo após a quebra da bolsa de Nova York, houve uma tendência à introspecção das economias nacionais além de um forte censo de nacionalismo. Este sentimento pode ser refletido nas palavras de Getúlio Vargas em fevereiro de 1931: [...] não sou exclusivista nem cometeria o erro de aconselhar o repúdio ao capital estrangeiro a empregar-se no desenvolvimento da indústria brasileira, sob a forma de empréstimos, no arrendamento de serviços, concessões provisórias, ou em outras múltiplas aplicações equivalentes [...]. Mas quando se trata da indústria do ferro [...]; do aproveitamento de quedas d´água, transformada na energia que nos ilumina e alimenta as indústrias de guerra e de paz, das redes ferroviárias de comunicação interna [...]; quando se trata – repito – da exploração de serviços de tal natureza, de maneira tão íntima ligados 66 ao amplo e complexo problema da defesa nacional, não podemos aliena-los, concedendo a estranhos, e cumpre-nos previdentemente manter sobre eles o direito de propriedade e domínio. (LIMA apud GONSALVES JUNIOR, 2002, p.80) A partir daí, uma série de leis e decretos passam a regulamentar o setor elétrico nacional, dentre os quais pode-se citar: Decreto 20.395 de 15/09/1931, Decreto 24.643 de 10/07/1934, Decreto-Lei 852 de 11/11/1938, Decreto-Lei 938 de 08/12/1938, Decreto-Lei 2.059 de 05/04/1940, Decreto-Lei 2.676 de 04/10/1940, Decreto-Lei 3.128 de 19/04/1941 e Decreto-Lei 7.062 de 22/11/1944 (ver Apêndice A). Estes decretos refletiram uma mudança de regras e postura do Estado que não agradaram as principais empresas de energia elétrica. Uma das reações das mesmas, segundo Gonçalves Júnior (2002, p.86), foi a redução proporcional da oferta de energia em relação ao incremento de demanda. Esta postura previa retirar o máximo de retorno possível das instalações em detrimento, até mesmo, da qualidade do serviço prestado. Em função desta postura é que foi criada legislação estabelecendo penalidades para as empresas que não garantissem o atendimento aos consumidores existente bem como aos novos, além de obrigar o investimento destas mesmas empresas para garantir a continuidade e qualidade dos serviços prestados. A ampliação da Usina de Bananeiras, no início da década de 1930, minimizou, no recôncavo baiano, a crise de fornecimento. Contudo, foi o aproveitamento hidroelétrico do rio São Francisco pelo Estado o fator determinante para a garantia de fornecimento de energia elétrica no nordeste brasileiro. O primeiro empreendimento feito pelo governo federal em energia elétrica foi a implantação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco – Chesf em 1945 espelhando-se no exemplo americano da Autarquia do Vale do Tennessee (TVA), criada em 1933, com a finalidade de desenvolver as riquezas naturais do vale do Tennessee. Coube, portanto à Chesf atuar em grandes obras de geração 67 hidroelétrica do rio São Francisco13 enquanto que, posteriormente, os governos estaduais da região assumiram o papel de promover o desenvolvimento dos sistemas de distribuição de energia. A primeira usina construída no rio São Francisco pelo governo federal foi a de Itaparica e teve sua conclusão em 1945, sendo a mesma executada através da Companhia Agrícola e Pastoril S.A. Contudo, a Chesf só foi criada em 3 de outubro de 1945 através do decreto 8.031 em concomitância com a autorização federal para construção da Usina de Paulo Afonso. Como a criação da Chesf e a autorização da Usina de Paulo Afonso foram dadas pouco antes da deposição de Getúlio Vargas, é no governo de Eurico Dutra que a obra passa a ser prioritária. A primeira etapa da usina de Paulo Afonso previa somente o atendimento aos estados de Alagoas, Pernambuco e Sergipe. Foi necessária a intervenção dos deputados baianos Luiz Vianna Filho e Juracy Magalhães juntamente com o então governador da Bahia Octávio Mangabeira junto ao então presidente Eurico Dutra para incluir, ainda na primeira etapa, os estados da Bahia e da Paraíba. Devido à grande importância da Chesf para o desenvolvimento da energia elétrica no cenário nordestino far-se-à, neste ponto, um aparte visando uma sucinta descrição da evolução desta geradora. A primeira hidroelétrica construída pela Chesf foi a de Paulo Afonso I que entrou em operação em 1954 com 180 MW de carga instalada. Em 1961, mesmo ano em que foi instituída a Eletrobrás, entrou em operação a primeira etapa da hidroelétrica de Paulo Afonso II com potência instalada de 215 MW. A segunda etapa da hidroelétrica de Paulo Afonso II, com 228 MW de carga instalada, só foi concluída em 1967 sendo seguida pela construção da 13 A primeira hidroelétrica do rio São Francisco, Angiquinho, foi construída pelo empresário cearence Delmiro Golveia que recebeu a concessão em 1911. A hidroelétrica alimentava a Companhia Agro Fabril Mercantil de propriedade do empresário e 68 hidroelétrica de Paulo Afonso III, em 1971, com potência instalada de 794 MW. Em 1977 entra em operação a hidroelétrica de Apolonio Sales, inicialmente chamada de Moxotó, teve seu nome trocado em homenagem ao fundador da CHESF. Com potência instalada de 400 MW, esta hidroelétrica, construída a montante do complexo de Paulo Afonso, tinha também a finalidade de armazenar, em seu reservatório de 100 km2 e volume de 1,2 bilhão de metros cúbicos, água para aumentar a energia firme do referido complexo. Logo em seguida, 1979, são inauguradas duas hidroelétricas: a de Sobradinho, com 1.050 MW de potência instalada e cujo a barragem criou, na época, o maior lago artificial do mundo, ocupando uma área de 4.000 km2 e um volume de 34 bilhões de metros cúbicos e a hidroelétrica de Paulo Afonso IV, com potência instalada de 2.462 MW possuindo uma das maiores cavernas do mundo com 210 m de extensão, 24 m de largura e 55 m de altura, tendo, ainda, uma queda útil de 112 m, sendo a última e maior usina construída no complexo de Paulo Afonso. Em 1988 entra em funcionamento a nova hidroelétrica de Itaparica (Luiz Gonzaga) com potência instalada de 1.480 MW. A última hidroelétrica construída pela Chesf foi a de Xingó que, com seus 3.162 MW de carga instalada, responde por 30% de toda a capacidade de geração desta empresa. Retornando à análise cronológica da evolução da energia elétrica na Bahia, observa-se que na mesma época que em que a Hidroelétrica de Paulo Afonso I começava a ser construída, a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro inicia a eletrificação do trecho Salvador – Alagoinhas e, para este fim, inicia a construção da Termoelétrica de Cotegipe. A termoelétrica foi projetada para 20 MW sendo composta por 3 geradores (2 de 4 MW e 1 de 12 MW), sendo que um deles (12 MW) começou a fornecer energia elétrica à cidade de Pedra em 26 de janeiro de 1913. 69 era destinado ao suprimento de Salvador e começou a operar em 195314. Em 15 de janeiro de 1955 foi inaugurada a Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso com dois dos seus geradores em operação. Contudo, somente em setembro deste mesmo ano, a usina entra em operação a plena carga. Ainda no início da década de 1950, mais especificamente em 1951, foi criado o Departamento de Energia, subordinado à Secretaria de Viação e Obras Públicas o qual obtinha seus recursos do fundo de energia elétrica formado por 1% do valor das exportações do Estado da Bahia15. Até então não havia estudos conhecidos sobre o desenvolvimento da energia elétrica no Estado da Bahia então, verificou-se que a região metropolitana e o recôncavo baiano já estariam adequadamente supridos com as hidroelétricas de Bananeiras e Paulo Afonso e a termoelétrica de Cotegipe, contudo a região cacaueira, de grande potencial produtivo, não dispunha de fornecimento adequado de energia elétrica. Em função disto, em 23 de maio de 1953 foi autorizada pelo Governo do Estado da Bahia, através do decreto no 15.685 a constituição das Centrais Elétricas Rio de Contas (CERC), sendo concedida a autorização para seu funcionamento pelo governo federal em 5 de abril de 1955, através do decreto no 37.147. O elemento básico da CERC foi a Usina Hidroelétrica de Funil, localizada no rio de Contas, município de Ubaitaba, a qual foi oficialmente inaugurada em 24 de outubro de 1962, produzindo eletricidade para o sul do Estado da Bahia. Ainda como atuação do governo do Estado da Bahia, foi organizada, em 1957, uma comissão que concluiu pela necessidade da criação de uma concessionária estadual de energia elétrica. Desta forma, em 28 de março de 1960, a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) foi entregue oficialmente à população pelo então governador do estado Juracy Magalhães16. 14 15 16 A linha que supria Salvador em 33 kV, foi desativada, em definitivo no início da década de 1990. O fundo de energia elétrica foi instituído através do decreto estadual no 425 de 29 de outubro de 1951. A Coelba teve sua criação autorizada através da lei estadual no 1.196 de 16 de outubro de 1959 tendo seu funcionamento 70 Neste mesmo ano, a COELBA incorporou as usinas hidroelétricas de Pancada Grande e Cachoeira do Inferno nos municípios de Ituberá e Santa Inês respectivamente ambas subordinadas à Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado da Bahia. Em janeiro do ano seguinte, 1961, entrou em vigor a Lei no 1.289 de 4 de agosto de 1960 que aprovou o Plano de Eletrificação do Estado da Bahia, destinando a Coelba 5% da renda tributária do Estado. A partir daí a Coelba seguiu construindo e incorporando uma série de empresas e usinas em todo o interior do estado da Bahia, como pode ser observado abaixo: - Em 1961 incorporou a usina hidroelétrica de Remédios, localizada no Rio Jaguaribe, município de Nazaré; - Em 1966 incorporou a Usina Termoelétrica de Vitória da Conquista, pertencente à prefeitura daquele município; - Em 1967 entrou em operação a Usina Hidroelétrica Jaime Simas, mais conhecida como Saco da Laje, localizada no Rio Sincorá, município de Iramaia; - Em 1968 incorporou a Cerc – Centrais Elétricas Rio de Contas S.A.; - Em 1969 iniciou a construção da Usina Hidroelétrica de Pedras, localizada no Rio de Contas, município de Jequié e que veio a entrar em operação em 1973; - Em 1970 incorporou da Superintendência do Vale do São Francisco a Usina Hidroelétrica Presidente João Goulart, mais conhecida como Usina Hidroelétrica de Correntina; - Também em 1970, inaugurou a terceira unidade da Usina Hidroelétrica de Funil, ampliando a demanda de energia para a região cacaueira; autorizado pelo governo federal em maio de 1960 através do decreto-Lei no 46.161. 71 - Ainda em 1970, incorporou a Companhia Maragogipana de Eletricidade S.A., que supria os municípios de Maragogipe, Coqueiros e Nagé; - Em 1973, incorporou a Companhia Luz e Força Bom Jardim S.A., que supria o município de Santo Amaro da Purificação; - Também em 1973, incorporou parte da Cia. de Eletrificação Rural do Nordeste (CERN), criada em 1952 como subsidiária da Sudene. Esta subsidiária atuava em diversas regiões dos estados da Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão visando o atendimento de pequenas comunidades através de conjuntos geradores a diesel; - Ainda em 1973, em função da incorporação de parte da Cern, a Coelba cria, como sua subsidiária, a Cia. Baiana de Eletrificação Rural (Cober). Esta subsidiária existiu até 1988 quando então foi incorporada à Coelba. Contudo, a mais importante das incorporações foi a da Cia. de Energia Elétrica da Bahia (CEEB) que supria Salvador e região metropolitana. Esta empresa, subsidiária da AMFORP, foi incorporada à Coelba17, em 2 de Janeiro de 1973, não como fruto de uma política estadual e sim como uma política federal de assunção da distribuição de energia elétrica no nordeste pelos governos estaduais. Vale salientar que de a AMFORP havia sido adquirida pelo governo federal desde 1964 como fruto de outra política: a de nacionalização das empresas do setor elétrico. Os argumentos que geraram tal política de estatização do setor elétrico podem ser evidenciados no discurso feito por Miguel Reale, no Fórum Roberto Simonsen, em 1961, destacando as seguintes assertivas (apud, História&Energia, 1997) a) a indústria de energia elétrica é de tão capital importância na infraestrutura econômica de uma nação, que não pode deixar de ser exercida pelo próprio Estado, sob pena de correr risco a sua soberania; 17 As diferenças culturais entre a COELBA e a CEEB eram tão grandes que, mesmo quando o autor ingressou nos quadros da COELBA em 1986, podia-se perceber ainda os ecos dos conflitos culturais que advieram desta fusão. 72 c) tão essencial é a indústria de energia elétrica ao desenvolvimento das demais atividades produtivas, que deve ser eliminado o caráter especulativo, inerente ao sistema de administração privada, a fim de possibilitar-se o fornecimento de energia barata, até mesmo abaixo do custo, como condição primordial da política de desenvolvimento nacional: a eliminação do “escopo de lucro” é uma exigência da natureza social do abastecimento de energia; [...] e) só o monopólio resolverá o grave problema criado pela rede de numerosas pequenas usinas hidráulicas, ora existentes, restritas ao âmbito das exigências das respectivas zonas de concessão, onde, às vezes, jazem inaproveitadas fontes de energia preciosas, com nocivo, embora justificado, desinteresse pela construção de grandes centrais hidroelétricas, reclamadas por relevantes motivos de ordem técnica e econômica, e destinadas a abastecer vastas regiões com energia abundante e a preço razoável; f) na indústria de energia elétrica congregam-se todos os requisitos geralmente exigidos para a transformação racional de uma empresa privada em empresa pública: 1) obedece a critérios técnicos mais ou menos estandartizados em qualquer de suas faces, produção, transmissão e distribuição; 2) é de fácil medida a fiscalização a energia gerada, o que se harmoniza com a burocratização do serviço; 3) requer pessoal relativamente reduzido, com especialização técnica que não oferece maiores problemas. As afirmações acima refletem a experiência do setor elétrico brasileiro que, entre 1900 e 1960, foi controlado, em sua maior parte, por empresas privadas nacionais e por grupos estrangeiros que, no período pós segunda grande guerra não possuía fôlego para acompanhar o crescimento que se impunha ao Brasil. O modelo tradicional resultou na verticalização do setor, ou seja, a propriedade conjunta de todos os ativos de geração, transmissão, distribuição e comercialização da energia18 concentrada numa mesma empresa. Com relação ao papel da intervenção do estado na formação da infraestrutura elétrica, Siciliano (2005, p.246) diz: A concentração da propriedade (pública ou privada sujeita a controle 18 No caso específico da região Nordeste do Brasil, a formação da CHESF em 1945, primeira participação do governo federal no setor elétrico, espelhou-se no exemplo americano da Autarquia do Vale do Tennessee (TVA), criada em 1933, com a finalidade de desenvolver as riquezas naturais do vale do Tennessee. Coube, portanto à CHESF atuar em grandes obras de geração hidroelétrica enquanto que os governos estaduais da região assumiram o papel de promover o desenvolvimento dos sistemas de distribuição de energia. 73 administrativo) muito contribuiu para o desenvolvimento e crescimento das economias nacionais. A centralização das decisões viabilizou a coordenação tanto da operação dos parques instalados de geração, transmissão e distribuição de energia quanto do planejamento de sua expansão, reduzindo custos operacionais e custos de investimento através de um comando único sobre as decisões de quanto e quando ofertar e investir. Com isso, as incertezas presentes nessas tomadas de decisão puderam ser mitigadas. Outro fator positivo da verticalização das empresas de energia elétrica foi a capacidade de obtenção de empréstimos maiores devido a sua capacidade de alavancagem19. Por terem um patrimônio maior, as empresas podiam adquirir empréstimos de maior monta do que se as mesmas fossem empresas dispersas. Em função da intervenção do estado, subsídios cruzados foram muito utilizados. Como as tarifas eram uniformes e refletiam o custo médio do sistema como um todo, clientes de maior renda e/ou de áreas com maior concentração de carga, subsidiavam aqueles de menor renda ou que se encontravam em áreas eletricamente menos densas. Com a constituição de um cenário macroeconômico adverso no final da década de 70, o estado passou a contribuir com aportes de recursos diretos ou através de regras contábeis que subsidiaram o setor elétrico. Estas ações, contudo, não foram suficientes para manter os investimentos necessários para acompanhar o crescimento da demanda conforme comenta Siciliano (2005, p. 247): Contudo, a piora do contexto macroeconômico levou à deterioração das contas fiscais dos tesouros nacionais e ao uso distorcido dos reajustes das tarifas elétricas (para fins de contenção da inflação, por exemplo), o que minou tanto a capacidade de autofinanciamento das empresas quanto o financiamento por parte dos tesouros nacionais. Indiretamente, a capacidade de empréstimo (alavancagem) foi prejudicada pela redução dos fluxos de caixa (em virtude da contenção das tarifas) e pela elevação do custo de capital (rolagem de dívidas, que foram contraídas a taxas de juros flutuantes) A crise do setor elétrico brasileiro nos anos de 1980 caracterizou o final 19 Conceito que define o grau de utilização de recursos de terceiros para aumentar as possibilidades de lucro, aumentando consequentemente o grau de risco da operação. 74 do segundo período denominado como - A Expansão. Nele viu-se uma forte atuação do Estado no setor elétrico brasileiro tanto como regulador, mais especificamente nas décadas de 1930 e 1940, como quanto empreendedor, décadas de 1950 a 1970. Os diversos Decretos-Leis da primeira era Vargas (1930 a 1945) principalmente aqueles que dizem respeito à obrigatoriedade de manutenção e expansão dos serviços bem como os que dizem respeito à remuneração dos serviços20 denotam um caráter regulador do Estado. Já as ações patrocinadas pelo Estado no período pós-guerra, mais especificamente nas décadas de 1950 e 1960, são convergentes com as idéias keynianas e com o modelo de desenvolvimento desequilibrado de Myrdall e Hirschman. Como exemplo pode-se citar criação da Chesf que propiciou o fornecimento abundante de energia elétrica para a região e dando esteio à industrialização da mesma. Outro exemplo foi a criação da Companhia de Eletrificação Rural do Nordeste (CERN), subsidiária da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - Sudene, que levava energia elétrica a regiões onde a atratividade econômica não era suficiente para despertar o interesse da iniciativa privada. No âmbito estadual, verificou-se a criação do Departamento de Energia e a criação do fundo de energia elétrica formado por 1% do valor das exportações do Estado da Bahia, a criação da Centrais Elétrica Rio de Contas - Cerc além da própria criação da Coelba. Salienta-se que, na região Nordeste, houve, a partir da década de 1960, uma distinção nítida entre o papel dos governos estaduais e do governo federal no que tange às atividades relacionadas à energia elétrica. Enquanto o governo federal responsabilizava-se com a geração e transmissão da energia através da Chesf, 20 O decreto no 23.501 de 27 de novembro de 1933 extinguiu a Cláusula Ouro dos contratos de concessão, o qual indexava o valor dos serviços aos preços internacionais. 75 cabia aos governos estaduais a sua distribuição e comercialização21. 3.4. O RETORNO - DE MEADOS DA DÉCADA DE 1980 AOS DIAS ATUAIS O modelo econômico liberal não deixou de ter defensores nos quarenta anos que se seguiram a quebra da bolsa de Nova York. Dentre eles pode-se citar Friedrich Von Hayek que condenava a política de planejamento estatal e o Wellfare State, e, segundo Brum e Bedin (apud PEREIRA NETO, 2004, p.61), seus livros tornaram-se fundamentais para o estabelecimento dos princípios neoliberais. Outro importante teórico neoliberal foi o economista americano Milton Friedman que juntamente com Hayek e Ludwig Von Mises fundaram a Sociedade Mont Pélerin que se dedicou a combater o keynisianismo, preparando as bases para um novo movimento capitalista, mais ligado aos princípios de Adams Smith – o Neoliberalismo. As idéias centrais deste novo modelo capitalista podem ser listadas como: • Estabelecimento de um estado mínimo, deixando livre as forças de mercado; • Redução dos gastos sociais; • Desregulamentação da economia; • Privatizações; • Supressão dos direitos econômicos e sociais, incluindo o direito dos trabalhadores e dos consumidores. 21 Este modelo, contudo não foi seguido à risca já que a COELBA também possuía usinas geradoras e a CHESF comercializava energia para grandes consumidores. 76 Da mesma forma que uma crise do capitalismo deu início ao keynisianismo, a crise do petróleo do início dos anos 1970 começou a gerar um ambiente propício para o estabelecimento do neoliberalismo. Segundo Streck (apud PEREIRA NETO, 2002, p.69) esta crise do capitalismo nada mais foi do que uma das crises cíclicas do próprio sistema capitalista e que gerou uma onda de recessão, baixo índice de crescimento econômico e altas taxas de inflação. Os dois primeiros países a iniciar a utilização do receituário neoliberal foram a Inglaterra (governo de Margareth Thatcher) e os Estados Unidos (governo Ronald Reagan) e, devido a sua importância no cenário mundial, tornaram-se vitrines deste novo modelo econômico. Com a sua frase “Não temos problema com o Estado, o Estado é o problema”, Reagan conduziu os Estados Unidos a um período de privatizações, desregulamentação da economia, redução e supressão dos direitos trabalhistas além da fragilização dos sindicatos. No caso da América Latina, o Chile tornou-se o primeiro laboratório das políticas neoliberais para servir de base para países da Europa Ocidental e sua experiência no setor elétrico veio, posteriormente, servir de base para a regulação do setor elétrico brasileiro. Contudo, é a partir do “Consenso de Washington”, uma reunião ocorrida entre economistas do governo norte-americano, Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que as medidas econômicas neoliberais passam a ser efetivamente aplicadas de forma sistemática na América Latina22. 22 Em 1981, através do decreto 86.215, foi instituída a Comissão Especial de Desestatização com objetivo de limitar a criação de novas empresas estatais além de fechar ou transferir para o setor privado as empresas cujo controle pelo estado não fossem mais necessárias ou justificáveis. Este período se caracterizou pela reprivatização de pequenas e médias empresas que, na sua maioria, foram absorvidas pelo Estado em função de problemas financeiros. 77 No caso brasileiro, esta influência inicia-se no governo de Fernando Collor de Melo conforme podemos ver no texto de Fiori (apud ABREU, 1999, p. 6): Um plano único de ajustamento das economias periféricas, chancelado, hoje pelo FMI e pelo BIRD em mais de sessenta países. Estratégia de homogeneização das políticas econômicas nacionais operadas em alguns casos, como em boa parte da África (começando pela Somália no início dos anos 80), diretamente pelos próprios técnicos daqueles bancos; em outros [...], com a ajuda de economistas universitários norte-americanos; e, finalmente, em países com corpos burocráticos mais estruturados, [...] economistas capazes de somar ao perfeito manejo do seu mainstream [...] a capacidade política de implementar nos seus países a mesma agenda política de consensus, como é ou foi o caso, por exemplo, de Aspe e Salinas no México, [...] e, a despeito de tudo, Zélia e Kandir no Brasil. Esta influência se retrata na abertura comercial e no plano nacional de desestatização em 1990; na renegociação da dívida externa em 1992; no Plano Real em 1994 e na quebra dos monopólios e na Lei de Concessão dos Serviços Públicos em 1995. O Brasil passa a viver, então, um período de privatização das suas estatais de serviços elétricos, tanto federais com estaduais, e os principais argumentos utilizados foram: i. Aumentar a eficiência econômica e operacional das empresas; ii. Reduzir a carga financeira e administrativa que as empresas impunham ao governo; iii. Reduzir a dívida do setor público correspondente ao setor de energia elétrica; iv. Reduzir o custo da eletricidade em função da exposição deste setor às forças competitivas de mercado. Este fato, portanto, pode ser considerado um prelúdio do que viria acontecer na década seguinte porém, numa ordem de grandeza completamente distinta. 78 Da mesma forma que ocorreu entre os anos de 1931 a 1945 uma reestruturação do setor elétrico brasileiro sendo evidenciado este encaminhamento através de uma série de leis e decretos-lei, o mesmo pode-se dizer do período que inicia-se em 1993 com uma série de mudanças na legislação dentre as quais podese citar ( ver Apêndice A): Lei no 8.631 e decreto no 774 de 1993, Decreto no 1009 de 1993, Lei no 8.987 de 1995, Decreto no 1.503 de 1995, Lei no 9.074 de 1995, Decreto no 2.003 de 1996, Lei no 9.427 de 1996, Portaria no 459/97 de 1997, Portaria no 466/97 de 1997 e Lei no 9.648 de 1998. É neste período, mais especificamente em 31 de julho de 1997, que a COELBA foi privatizada em um leilão realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, ao preço de 1,73 bilhão de reais, pelo consórcio Garaniana S.A. formado pela Iberdrola, PREVI, BB Investimentos, Brasil CAP e BB Ações Price. 3.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO Neste capítulo foi vista a evolução da indústria de distribuição de energia elétrica no Brasil e na Bahia bem como a sua aderência com os pensamentos econômicos vigentes no mundo ao longo do tempo. Viu-se como as empresas da iniciativa privada que exploravam a energia elétrica surgiram num ambiente de livre concorrência e com um mercado desregulementado passando para um mercado muito regulamentado e de forte predomínio estatal e um posterior retorno a um ambiente com predomínio de empresas privadas. Contudo, a reprivatização do setor elétrico brasileiro não se processou da mesma forma utilizada até a década de 1930. Como um processo dialético onde o período do início do século XX seria definido como a tese e as décadas de 1960 e 1970 a antítese, o início do século XXI vive um processo de síntese. Considera-se a síntese no sentido de, apesar de um período de 79 privatização dos serviços públicos de energia elétrica, cria-se uma forte regulação deste mesmo setor visando à redução dos abusos ocorridos no início do século XX, com empresas privadas explorando monopólios naturais. No próximo capítulo, ver-se-á como esta regulação pretende criar, nas empresas de distribuição, concorrentes virtuais criando a situação que as regras de competitividade possam ser aplicadas a estas empresas. 80 CAPÍTULO 4 4. REGULAÇÃO DA INDÚSTRIA DE ENERGIA ELÉTRICA 4.1. INTRODUÇÃO Neste capítulo, pretende-se mostrar a evolução da indústria de energia elétrica do início da década de 1970, período onde se concluiu o processo de estatização do setor, e suas alterações para o modelo atual, analisando, de forma sucinta, os fatores que levaram a derrocada do modelo estatal. Procurar-se-à também mostrar, resumidamente, como se dão os processos de revisão tarifária e os critérios para estipular os reajustes tarifários das empresas de distribuição de energia elétrica. Outro objetivo deste capítulo é mostrar como o modelo de revisão tarifária atual tenta simular as condições de mercado, criando uma situação artificial de concorrência num cenário de monopólio natural na distribuição de energia elétrica. Por fim, ver-se-à como esta simulação pode estimular as empresas de distribuição a se inserirem em um ambiente de busca constante de eficiência em seus processos e pela satisfação dos seus clientes. 81 4.2. CONCEITOS ECONÔMICOS A indústria de energia elétrica foi apresentada, por muito tempo, pela literatura como exemplo clássico de monopólio natural. Porém nas décadas de 80 e 90 desenvolveu-se internacionalmente novos conceitos administrativos que, aliados a evolução tecnológica, especialmente nos aspectos de controle e telecomunicações, permitiram a alteração deste quadro. A geração e comercialização de energia elétrica evoluíram, em muitos paises, para a competição de mercado, enquanto os segmentos de transmissão e distribuição, por manterem as características de rede, permaneceram mantendo-se na forma de monopólio natural23. O pressuposto clássico é que, na ausência de uma intervenção governamental, o monopolista tentará obter o maior lucro possível, operando em um nível que maximilize seus lucros mesmo em detrimento da qualidade dos serviços prestados. Para corrigir este tipo de falha de mercado, o governo pode intervir buscando uma produção mais próxima da eficiência econômica através da regulamentação ou da propriedade pública. A regulamentação é a forma mais difundida do governo intervir no monopólio natural. Neste caso os agentes reguladores estudam a fundo as operações das empresas com a finalidade de limitar o seu processo de decisão e determinando o que elas devem fazer e quanto podem cobrar. 23 Um monopólio natural existe quando, devido a economia de escala, uma única empresa consegue produzir para todo o mercado com um custo menor por unidade que duas ou mais empresas. No caso especifico da transmissão e distribuição de energia elétrica o custo unitário de desenvolvimento integrado cai na medida em que a rede se expande. 82 De acordo com estes conceitos, os segmentos de geração e comercializarão de energia estariam sujeitos às leis de mercado, exigindo uma regulação mínima, enquanto a transmissão e distribuição de energia elétrica, por continuarem na forma de monopólios naturais exigiriam uma forte regulação. 4.3. REESTRUTURAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO O modelo tarifário existente no início da década de 1990 havia sido instituído em 1974, num período de inflação elevada, onde os reajustes tarifários eram importantes para a manutenção do equilíbrio econômico e financeiro das empresas do setor elétrico. Neste modelo, que tinha o valor de tarifa unificado para todas as empresas, foi adotado um sistema de compensação de resultados, transferindo os ganhos das empresas mais eficientes para as menos eficientes, conforme descrito por Ferreira (2000, p 188): Assim adotou-se um princípio para garantir às empresas um retorno mínimo de 10% sobre seus ativos. Como as tarifas eram iguais, enquanto a estrutura de custos e ativos era diferente, era necessário compensar as empresas com retornos menores, obtendo receita adicional daquelas com retornos maiores. O mecanismo adotado foi a Conta de Resultados a Compensar (CRC), na qual as empresas acumulavam resultados positivos ou negativos para posterior acerto. A CRC foi projetada como um mecanismo de soma zero para o setor como um todo, embora mais tarde a alta inflação tenha causado reais prejuízos líquidos no setor. Ainda segundo Ferreira (2000, p. 190), este mecanismo não estimulava a busca pela melhor eficiência financeira das empresas: Além disso, como um retorno confortável sobre o ativo era garantido, não havia incentivo para o aumento da eficiência. [...] as empresas de serviço público de eletricidade não tinham controle sobre os custos operacionais, basicamente porque não tinham motivação para compreender (e assim, não tinham conhecimento) dos fluxos de caixa operacionais até mesmo nos níveis mais básicos. [...] Os custos tinham um papel importante apenas no que se referia ao aspecto contábil, já que eram a linha base de fixação de tarifas para a obtenção de uma remuneração mínima garantida. 83 Este modelo tarifário não logrou sucesso em função de três fatores básicos: o primeiro deles, como visto acima, foi a má gestão das empresas no que diz respeito a torná-las economicamente eficientes. O segundo motivo foi a utilização das empresas do setor elétrico, por parte do governo, para a tomada de empréstimos, aumentando a alavancagem das mesmas, conforme cita Ferreira (2000, p. 194): A crise foi maior nas empresas estaduais. No momento em que os bancos comerciais estaduais tiveram dificuldades no início dos anos 80, alguns estados começaram a utilizar suas empresas de energia elétrica para o financiamento indireto dos seus déficits públicos. Isso podia ser feito responsabilizando-se essas empresas por algumas atividades não relacionadas com seu ramo de negócio. O terceiro motivo foi a utilização do reajuste das tarifas públicas como elemento de contenção da inflação do país, fato que pode ser evidenciado no texto abaixo: [...]. Para aliviar o efeito da crise econômica sobre os consumidores, as tarifas do setor público eram freqüentemente utilizadas como uma ferramenta antiinflacionária pelos legisladores que mantinham os índices de reajustes abaixo dos índices de inflação. (FERREIRA, 2000, p. 190). Em função destes fatores, as empresas do setor elétrico não conseguiam mais manter o retorno médio de 10% sobre seus ativos, passando, cada vez mais a serem credoras do CRC, o qual perdeu o conceito de soma zero, passando a acumular prejuízos. O primeiro passo dado para a reestruturação do setor foi feito em 1993, com a promulgação da lei 8.631, que eliminou o modelo de tarifa única e os 10% de retorno sobre os ativos. Contudo, a reforma na tarifa, implementada em função desta lei, não se mostrou eficiente no seu início já que o governo federal insistiu na manutenção da 84 política de controlar a inflação através do controle das tarifas dos serviços públicos conforme afirma Ferreira (2000, p. 195): [...] a Lei 8.631 não foi inicialmente eficiente em ajudar as tarifas do setor elétrico a recuperar seu valor real. Imediatamente após a promulgação da Lei, o presidente Itamar Franco decidiu que o reajuste das tarifas públicas deveria ficar abaixo do índice de inflação para beneficiar a população. Nesta ocasião, o programa de privatização já havia sido iniciado, pelo menos do ponto de vista técnico, mas havia um compromisso limitado por parte do presidente para a sua implantação mais agressiva. Como resultando, no final de 1995, a dívida total do setor elétrico, segundo Ferreira (2000, p.192), atingiu US$25 bilhões correspondendo a 14,43% do seu total de ativos. No caso específico da Coelba este número foi de 18,77%, valor acima da média, porém inferior ao de concessionárias como a CEAL (34,16%), a CELG (29,29%), a CEEE (26,55%) ou a CESP (26,40%). A nova formula para a determinação de tarifas foi baseada na estrutura de custos das empresas e projetada para refletir a real necessidade de fluxo de caixa. A partir deste ponto foram definidos dois conjuntos de tarifas de energia elétrica. A tarifa de suprimento que corresponde ao índice de atacado cobrado de uma geradora de energia elétrica na venda às empresas de distribuição e a tarifa de fornecimento, que é o índice cobrado pelas empresas de distribuição do consumidor final, sendo esse índice diferenciado para as diversas classes; residenciais, comerciais, rurais, poderes públicos, etc. e de acordo com a quantidade consumida. Apesar da reforma da intervenção do estado brasileiro ter se iniciado em 1990 e da lei 8.631 de 1993 que beneficiou o setor de energia elétrica, pode ser considerado que a reestruração e privatização se iniciaram efetivamente em 1995, com a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso e com a lei 8.987, conhecida como Lei Geral de Concessões. Essa lei fornecia as regras gerais para a licitação das concessões em vários segmentos de infra-estrutura, incluindo o setor elétrico e estabelecia os direitos e obrigações das concessionárias. 85 Ainda em 1995, foi promulgada a lei 9.074 que estabelecia vários princípios relativos à renovação das concessões ou permissões no setor elétrico. As concessões antigas poderiam ser prorrogadas ou novas concessões concedidas após o desmembramento das atividades de geração, transmissão e distribuição. As tarifas para novas concessões ou para a sua renovação deveriam ter como base a estrutura de custos de cada segmento do mercado de energia elétrica, e a revisão da estrutura tarifaria do concessionário deveria preservar o equilíbrio econômico financeiro do contrato. A lei 9.074 introduziu no seu artigo 11, o conceito de produtor independente de energia elétrica como pessoa jurídica ou empresas reunidas em consórcio que recebam concessão ou autorização do poder concedente, para produzir energia elétrica destinada ao comercio de toda ou parte da energia produzida por sua conta e risco. Estabeleceu que este novo agente pudesse vender a energia elétrica para os “consumidores livres”; concessionários de serviço público de energia elétrica e, consumidores integrantes de complexo industrial ou comercial, aos quais o produtor independente também pode fornecer vapor oriundo de processo de co-geração. Antes, as geradoras de energia privadas podiam apenas produzir energia para seu próprio consumo ou para a venda às concessionárias de distribuição. Os Consumidores livres foram definidos, nos artigos 15o e 16o da mesma lei, como aquelas unidades consumidoras com uma carga igual ou superior a 10MW, atendidos em tensão igual ou superior a 69 kV, que poderiam optar por contratar o seu fornecimento, no todo ou em parte com o produtor independente de energia elétrica. Durante o ano de 1995 o governo federal privatizou duas concessionárias de distribuição de energia elétrica de sua propriedade; a Escelsa, empresa concessionária de distribuição de energia elétrica do estado do Espírito Santo e, logo em seguida, a Light, concessionária do estado do Rio de Janeiro. 86 Apesar dessas privatizações iniciais, um novo modelo para o setor com uma estrutura regulatória bem definido era crucial para os investidores aderirem às privatizações, assim como investirem em novos projetos de geração. No inicio de 1996, a Eletrobrás contratou a firma de consultoria Coopers & Lybrand, através de licitação, para elaborar um estudo sobre um novo modelo para o setor de energia elétrica brasileiro. Este projeto de reestruturação do setor elétrico brasileiro ficou conhecido como RE-SEB e tinha como um dos principais desafios “[...] a criação de um modelo descentralizado e funcional que fosse efetivo, mesmo se alguns participantes do setor não levassem a cabo suas privatizações.” (FERREIRA, 2000, p. 198) Em novembro de 1996 foi apresentado um relatório preliminar, Relatório Sumario sobre o Estagio I, em que constavam os objetivos e, fatores restritivos da reforma do setor elétrico brasileiro. Segundo este relatório, os três principais objetivos da reforma setor elétrico seriam: o de assegurar a continuidade do fornecimento tanto em curto prazo, durante o processo de transição, e, em longo prazo, assegurando que os investimentos fossem atraentes para o setor privado de forma que o sistema seja ampliado e estendido para novas áreas; manter e aprimorar a eficiência com que os recursos seriam empregados pelo setor e incentivar o emprego otimizado da eletricidade pela economia como um todo; e, por último, reduzir as despesas públicas, atraindo capital privado para financiar novos investimentos e pagar a dívida pública com os resultados da alienação. A Coopers & Lybrand apresentou o seu relatório em meados de 1997. O relatório propôs um modelo que tinha como base a criação de uma agencia reguladora independente, a criação de um ambiente de negociação de compra e venda de energia elétrica, o estabelecimento de contratos iniciais para criar uma fase de transição para o mercado de energia elétrica competitivo, a criação de um operador independente do sistema para administrar o sistema interligado, e a organização das atividades de planejamento e financeiras neste novo modelo. 87 O estudo da Coopers & Lybrand recomendava a criação de um novo ambiente competitivo através de um mercado atacadista de eletricidade, substituindo o antigo sistema de comando regulatório na fixação das tarifas e dos termos dos contratos de energia elétrica existentes. Este ambiente seria o foro para fixação de preço de referência para a energia vendida, através de contratos bilaterais entre as geradoras e as empresas distribuidoras de energia elétrica, os produtores independentes e os consumidores livres. Deveria, também, estabelecer um preço à vista de energia que iria refletir o custo adicional de curto prazo da geração de energia. Esse preço à vista seria determinado pelas empresas de serviços públicos e o órgão regulamentador. O preço à vista refletiria apenas o custo da geração, sendo o pagamento da transmissão feito em separado pelas empresas de distribuição. Segundo a proposta da Coopers & Lybrand, o Operador Independente do Sistema deveria ser estruturado como um órgão independente, sem fins lucrativos, atuando com neutralidade e sob a supervisão do agente regulador. O controle acionário do Operador deveria ser composto de cinco grupos de acionistas: as geradoras, as empresas de transmissão, as empresas de distribuição, os consumidores livres e o setor público. O Operador seria projetado para manter os benefícios técnicos do sistema centralizado de despacho substituindo o Grupo Coordenador de Operação Interligada - GCOI, sendo responsável pela administração do sistema de transmissão formado pelas linhas de transmissão de tensão igual ou superior a 230kV, chamada de rede básica. Seriam estabelecidos contratos no qual o Operador administraria as operações diárias das linhas de transmissão, porém a manutenção continuaria sendo responsabilidade das empresas concessionárias das linhas de transmissão. Este agente teria sob o seu controle todos os fluxos de energia elétrica negociadas tanto no mercado bilateral quanto no mercado à vista, de maneira a otimizar a geração das hidrelétricas e das termoelétricas. 88 O estudo ainda teve como proposta a manutenção da Eletrobrás como agente financeiro para o setor elétrico. Seus recursos incluiriam os empréstimos feitos por empresas de energia elétrica, poderia repassar empréstimos de entidades internacionais como o Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento. Conforme o relatório do RE-SEB, a estrutura regulamentar deveria ser reprojetada para oferecer o grau correto de proteção ao consumidor e de incentivos para que as concessionárias pudessem atuar de maneira eficiente. 4.4. IMPLANTAÇÃO DO MODELO A implantação do novo modelo no setor elétrico exigia a desverticalização da cadeia produtiva, separando as atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. A implementação desse modelo competitivo requereu, também, uma mudança regulatória. O sistema regulatório deveria permitir uma atuação confiável para garantir um serviço de qualidade para os consumidores e retornos atraentes para os investidores. Foi implantado um conjunto de medidas para a alteração e preparação da estrutura institucional para o desenvolvimento do novo modelo proposto para o setor elétrico. Os principais marcos do processo foram: A criação da Agencia reguladora independente, ocorrida em 26 dezembro de 1996 com a promulgação da lei 9.427 que instituiu a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), sendo constituída pelo Decreto 2.335, de 6 de outubro de 1997, como uma autarquia sob regime especial, com personalidade jurídica de direito público e autonomia patrimonial, administrativa e financeira , com sede e foro no Distrito Federal, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, MME, com finalidade de regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal. 89 A criação, em maio de 1998 através da lei 9.468 que instituiu o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), com a finalidade de operar o sistema interligado de geração e transmissão de energia elétrica além de estabelecer o Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE), como um ambiente de negociação de energia elétrica entre os diversos agentes, o qual introduziu a compra competitiva de energia elétrica pelos agentes do setor, administrando o mercado a vista e estabelecendo o preço de referência para a energia comprada através de contratos bilaterais. Por fim a lei 9.648 criou também um novo tipo de agente para o setor – os comercializadores. 4.5. CONCESSIONÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Conforme visto, no novo modelo do setor elétrico brasileiro o estado mudaria a sua forma de atuação, passando de agente produtor, para agente normativo e regulador. No segmento de Distribuição de Energia Elétrica este processo se iniciou com a privatização de duas empresas pertencentes a Eletrobrás. Em 1995, foi privatizada a Espírito Santo Centrais Elétricas AS - Escelsa, empresa concessionária de distribuição de energia elétrica do estado do Espírito Santo e, logo em seguida, no inicio de 1996, a Light, concessionária do estado do Rio de Janeiro. A privatização das empresas de distribuição de energia elétrica era considerada, pelo governo federal, como fundamental para a implantação do novo modelo assim como básico para a privatização de todo o setor elétrico. Essas empresas de energia elétrica com sua situação financeira saneada e sob propriedade privada, representariam, como compradores de energia das empresas de geração e dos produtores independentes, uma redução nos riscos para os investimentos em privatização no segmento de geração. 90 Segundo Ferreira (2000, p. 209), a falta de capital dos governos estaduais constituiu o principal estimulo dos estados à privatização das suas concessionárias de energia elétrica, sendo considerada, na época, como a única saída viável, tanto para as empresas em dificuldades financeiras, quanto para os governos estaduais. Desta forma, o governo federal, aproveitando-se desta carência financeira dos governos estaduais, incentivou as privatizações das empresas estaduais de duas maneiras: A primeira através de empréstimos oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), garantidos por receita futura, para os governos estaduais que a provassem leis de privatização, aceitando como garantia um bloco acionário de controle das empresas objeto da privatização. Se o governo estadual não executasse a privatização, o BNDES cobraria o empréstimo, tomando posse das ações e privatizaria a empresa. Em alguns casos, o acordo envolvia a transferência direta do controle da empresa para a Eletrobrás para posterior privatização. Assim ocorreu com a CEMAT, ENERSUL, CELPA, CEAL, CERON, CEPISA e Eletroacre. A segunda maneira do governo federal incentivar as privatizações foi de maneira indireta através de uma política macroeconômica de equilíbrio fiscal do setor público, o processo de reescalonamento da divida entre o governo federal e os governos estaduais. Nesse processo, foram oferecidos aos governos estaduais prazos favoráveis ao reescalonamento de suas dividas, incluindo um prazo de 30 anos e taxas de juros subsidiadas. No entanto, o reescalonamento incluía apenas 80% das dividas. Os restantes 20% deveriam ser pagos com antecedência em ativos físicos. A única opção dos governos estaduais foi repassar para o governo federal o controle de suas empresas públicas ou a receita obtida através das privatizações. Mesmo o estado de São Paulo sendo o primeiro a anunciar sua decisão de reestruturar e privatizar o seu setor elétrico cujo plano inicial previa o desmembramento das empresas e sua divisão em empresas de geração, transmissão e de distribuição, foi o estado do Rio de Janeiro, no final de 1996, que 91 privatizou a primeira concessionária de distribuição de energia elétrica de um governo estadual, a Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro - CERJ. Nos anos seguintes várias das empresas de Distribuição de Energia Elétrica passaram do controle dos estados da federação para a iniciativa privada através dos leilões de privatização. Os estados puderam privatizar essas concessionárias de distribuição antes da completa reestruturação do setor elétrico porque os seus contratos de concessão incluíam clausulas para reajustes das tarifas, eliminando assim o ponto de maior incerteza para o investidor. Após a promulgação das leis 8.987 e 9.074 em 1995, os contratos de concessão deveriam se basear no principio que as tarifas seriam reajustadas quando o equilíbrio econômico financeiro da concessão fosse afetado pelo aumento dos custos. Os aumentos dos custos que ocorrerem seriam repassados para os consumidores. As tarifas iniciais consideradas no processo de privatização foram fixadas de tal modo a garantir o equilíbrio econômico financeiro da concessão, como também foram definidos reajustes anuais das tarifas em decorrência dos aumentos dos preços. Os ganhos de produtividade seriam absorvidos pelas concessionárias até o oitavo ano. A partir do oitavo ano seria definido para cada empresa um fator X a ser deduzido do reajuste de preço anual, de maneira a transferir uma parte dos ganhos de produtividade da empresa para o consumidor. O modelo exigiu do governo a adoção de medidas que lhe possibilitassem auferir continuamente a qualidade dos serviços prestados aos clientes; mensurar, de forma eficiente, o valor a ser estipulado para as tarifas de prestação destes serviços com vistas a busca constante da modicidade tarifaria, e,por último, manter uma remuneração justa dos investimentos efetuados. 92 Em decorrência das características da distribuição de energia elétrica como monopólio natural onde não é possível uma concorrência direta, o poder concedente brasileiro, através dos seus mecanismos regulatórios, estabeleceu uma metodologia de concorrência através da empresa de referencia, como forma para mensurar os custos máximos a serem considerados na elaboração das tarifas da prestação do serviço público de energia elétrica. 4.6. TARIFAS DE ENERGIA ELÉTRICA A tarifa de energia é uma das variáveis mais importantes de todo o contexto regulatório. Corresponde ao que os consumidores de energia elétrica pagam, por meio da conta recebida de sua empresa distribuidora de energia elétrica, em decorrência da quantidade de energia elétrica consumida, no mês anterior, estabelecida em quilowatt-hora (kWh) e multiplicada por um valor unitário, denominado tarifa, medido em reais por quilowatt-hora ( R$/kWh), que corresponde ao valor de um quilowatt consumido em uma hora. Em função das características da distribuição de energia elétrica como monopólio natural onde não é possível a concorrência direta, o poder concedente brasileiro, através dos seus mecanismos regulatórios, é responsável por estabelecer as tarifas de energia elétrica de maneira que assegure ao consumidor o pagamento de um valor justo, como também garanta o equilíbrio econômico-financeiro da concessionária de distribuição, para que ela possa oferecer um serviço com qualidade, confiabilidade e continuidade. As tarifas de energia são definidas com base em dois componentes: a demanda de potência e o consumo de energia24. A demanda de potência corresponde à taxa média de transferência de energia elétrica solicitada pela unidade consumidora durante um intervalo de tempo especificado de fornecimento, normalmente de 15 minutos, e é faturado pelo maior 24 Os conceitos de energia e potência podem ser visto no capítulo 5 desta dissertação. 93 valor medido em quilowatt durante o período de fornecimento, normalmente de 30 dias. As tarifas de demanda de potência são fixadas em reais por quilowatt, R$/kW. O consumo de energia corresponde ao valor acumulado pelo uso da potencia elétrica disponibilizada ao consumidor durante um período de consumo, normalmente de 30 dias. É medida em quilowatt-hora ou em megawatt-hora. As tarifas de consumo são fixadas em reais por megawatt-hora, R$/MWh e especificada nas contas mensais da unidade consumidora em reais por quilowatt-hora. Nem todos os consumidores pagam as tarifas de demanda de potência. Isso depende da estrutura tarifária e da modalidade de fornecimento na qual o consumidor está enquadrado. 4.6.1. Estrutura Tarifária As tarifas de energia elétrica estão estruturadas em dois grandes grupos de consumidores, grupo A e grupo B, e que se diferenciam da seguinte forma: Os consumidores do grupo A correspondem às unidades consumidoras atendidas em tensão igual ou superior a 2,3 kV e são subdivididos da seguinte maneira: A1 nível de tensão igual ou superior a 230kV; A2 nível de tensão de 88 a 138kV; A3 nível de tensão de 69kV; A3a nível de tensão de 30 a 44kV; A4 nível de tensão de 2,3 a 25kV; AS sistema subterrâneo. As tarifas do grupo A são distribuídas em três modalidades de fornecimento: convencional; horo-sazonal azul e horo-sazonal verde. A tarifa convencional é caracterizada pela cobrança dos valores contratados de demanda de potência além da remuneração pela energia consumida independentemente das horas de utilização do dia e dos períodos do ano. Só podem ter esta opção tarifária os consumidores atendidos em tensão de fornecimento abaixo de 69kV e com contrato de demanda inferior a 300kW. 94 A tarifa horo-sazonal, por sua vez, é caracterizada pela aplicação de valores diferenciadas de consumo de energia elétrica e de potência , de acordo com as horas de utilização do dia e dos períodos do ano. Durante o dia são definidos dois períodos: o de ponta, correspondendo ao período de maior consumo de energia elétrica, normalmente entre 18 e 21 horas e o fora de ponta, correspondendo ao restante das horas do dia. As tarifas no horário de ponta são mais altas que as fora do horário de ponta. Existe também uma diferenciação dos valores cobrados que variam de acordo com o período do ano. Durante o ano são estabelecidos dois períodos: o período seco, quando o volume de chuvas é pequeno e o período úmido, quando o volume de chuvas é maior. As tarifas de energia elétrica são mais altas no período seco que no período úmido. A tarifa horo-sazonal se aplica obrigatoriamente as unidades consumidoras a tendidas pelo sistema elétrico interligado, com demanda contratada igual e ou superior a 300kW e são dividida em duas modalidades: a horo-sazonal azul e a verde. A modalidade horo-sazonal azul é aquela em que o fornecimento é estruturado para a aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica, de acordo com as horas do dia, ponta e fora de ponta, e dos períodos do ano, seco e úmido, assim como, tarifas diferenciadas de demanda de potência de acordo com as horas do dia de utilização, ponta e fora de ponta. Esta modalidade tarifária é obrigatória para todas as unidades consumidoras atendidas pelo sistema interligado com tensão de fornecimento igual ou superior a 69kV. A horo-sazonal verde é aquela em que o fornecimento é estruturado para a aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização, ponta e fora de ponta e dos períodos do ano, período seco e período úmido, e uma única tarifa de demanda de potência. 95 Já os consumidores do Grupo B correspondem às unidades consumidoras atendidas em tensão inferior a 2,3kV e as tarifas são estabelecidas de acordo com as diversas classes e subclasses de consumo, levando-se em consideração somente a energia requerida, independentemente da hora do dia ou do período do ano na qual é consumida. São classificadas em: B1 Classe residencial e subclasse residencial baixa renda; B2 Classe rural, constituída de diversas subclasses; B3 Outras classes: industrial, comercial, serviços e outras atividades, poder público, serviço público e consumo próprio; B4 Classe Iluminação pública 4.6.2. Composição da Tarifa A receita anual requerida pelas concessionárias de distribuição de energia elétrica para manter o equilíbrio econômico-financeiro da concessão pode ser decomposta em duas parcelas, convencionalmente de chamadas: parcela A e a parcela B. A parcela A corresponde aos custos não gerenciáveis que são aqueles em que seus valores e variações independem da atuação direta do concessionário. Ela é composta pelos encargos setoriais, encargos de transmissão e a compra de energia para a revenda. Os Encargos Setoriais correspondem aos valores legalmente fixados e são os seguintes: cotas da Reserva Global de Reversão (RGR); cotas da Conta de Consumo de Combustível (CCC); taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica (TFSEE); rateio de custos do Proinfa e, por fim, Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) Já os Encargos de Transmissão são: uso das Instalações da Rede Básica de Transmissão de Energia Elétrica; uso das Instalações de Conexão; uso das Instalações de Distribuição; transporte de Energia Elétrica Proveniente de Itaipu e Operador Nacional do Sistema (ONS). 96 Por fim, a última componente da Parcela A se refere a compra de Energia Elétrica para Revenda,ou seja, as concessionários compram energia elétrica de diversas empresas geradoras, sob diferentes condições, para atender aos consumidores da sua área de concessão. A segunda parcela, “Parcela B”, corresponde aos custos gerenciáveis, ou seja, aqueles que a concessionária têm capacidade de administrá-los diretamente. São compostos pelas despesas de operação e manutenção, despesas com capital e outros. Despesas de Operação e Manutenção refere-se à parcela da receita destinada à cobertura dos custos vinculados diretamente à prestação do serviço de distribuição de energia elétrica que são: despesas com pessoal; materiais; serviços de Terceiros; despesas Gerais e Outras. Despesas de Capital referem-se à formação dos recursos destinados à recomposição dos investimentos realizados com prudência e ao adequado rendimento do capital investido para a prestação do serviço podendo ser citado as cotas de Depreciação e a remuneração do Capital. O item Outros corresponde aos investimentos e despesas realizados com: Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e Eficiência Energética; PIS/CONFINS. 4.7. REAJUSTE TARIFÁRIO Conforme visto anteriormente, a utilização da tarifa de energia elétrica como um elemento para deter o índice inflacionário, deixou as distribuidoras de energia com níveis ingressos abaixo do necessário para o adequado funcionamento das mesmas, sendo um dos fatores do endividamento e da crise do setor elétrico no inicio da década de 1990. Logo, a segurança da permanência ao longo do período de concessão, de um nível tarifário adequado para a manutenção do equilíbrio 97 econômico-financeiro da concessão tornou-se de vital importância para atrair os investimentos privados para o setor. Desta forma, as tarifas praticadas nas empresas no momento da contratação da concessão associado aos mecanismos de reajuste e revisão das tarifas, estabelecidos no contrato deveriam ser suficientes para a manutenção do equilíbrio econômico – financeiro das empresas, ou seja, a receita anual seria suficiente para cobrir os custos operacionais incorridos na prestação do serviço e remunerar de maneira justa e atraente o capital investido ao longo de todo o período de concessão. No modelo brasileiro, os ganhos de produtividade obtidos pelas empresas nos primeiros oito anos da concessão foram absorvidos integralmente por elas. A partir do oitavo ano foi definido, para cada empresa, um coeficiente redutor a ser deduzido do reajuste de preço anual, com o intuito de transferir uma parte dos ganhos de produtividade da empresa para o consumidor. Este coeficiente foi chamado de Fator X. Os contratos de concessão estabeleceram que as tarifas de fornecimento pudessem ser atualizadas por uma metodologia que compreendiam três mecanismos: reajuste tarifário anual, revisão tarifária periódica e revisão tarifária extraordinária. 4.7.1. Reajuste Tarifário Anual O reajuste tarifário anual é aplicado pela ANEEL, em cumprimento ao contrato de concessão, nos anos compreendidos entre as revisões tarifárias periódicas e tem por objetivo garantir a manutenção anual do nível tarifário pactuado entre as partes, concessionário e poder concedente, no momento da celebração do contrato. As tarifas são reajustadas por um índice de reajuste tarifário (IRT), de periodicidade anual, calculado da seguinte forma: 98 IRT = [VPA + VPB (IVI ±X)] / RA , onde: VPA – Valor da Parcela A sob as condições vigentes na data do reajuste. VPB – Valor da Parcela B sob as condições vigentes à data de referencia anterior. IVI – É um índice obtido através do calculo das variações anuais do índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) da Fundação Getulio Vargas, ou por outro índice que venha a sucedê-lo, do mês anterior à data do reajuste. X – Fator X é um número índice, fixado pela ANEEL, a cada revisão periódica, que pode ser somado ou subtraído ao IGP-M em cada reajuste tarifário anual. RA – Receita anual da empresa, últimos 12 meses, obtidas de acordo com a estrutura e tarifas vigentes. 4.7.2. Revisão Tarifária Periódica (RTP) A revisão tarifária periódica é um processo realizado após um determinado tempo, definido no contrato de concessão, com a finalidade de verificar o equilíbrio econômico-financeiro da concessão. Nela é calculada a receita necessária para a cobertura dos custos operacionais eficientes e a remuneração adequada sobre os investimentos prudentemente realizados. O processo é realizado mediante o cálculo do reposicionamento tarifário e do estabelecimento do fator X. O cálculo do reposicionamento tarifário se baseia na definição da parcela da receita necessária para a cobertura dos custos operacionais eficientes, considerando um determinado nível da qualidade do serviço prestado e uma remuneração adequada sobre os investimentos realizados de maneira prudente. A determinação dos custos operacionais eficientes constitui-se uma grande dificuldade para o agente regulador, pois implica no conhecimento profundo dos processos da empresa em análise. 99 A dificuldade reside no fato de que o concessionário detém todo o controle do processo e gerencia todas as informações técnicas, operativas, financeiras, contábeis, etc. vinculadas ao serviço prestado. O agente regulador tem apenas um acesso parcial e limitado às informações que são fornecidas, em grande parte, pela própria empresa regulada. Mesmo realizando auditorias periódicas sobre as informações recebidas, haverá um desequilíbrio de informações evidente entre o agente regulador e regulado no tocante aos processos operacionais e custos envolvidos para a prestação do serviço. Por essa razão, os agentes reguladores vêm desenvolvendo sistemáticas que permitam uma determinação dos custos operacionais eficientes que devem ser pagos pelo consumidor, permitindo um retorno justo para o capital investido pelo concessionário, ao mesmo tempo em que permita a modicidade tarifaria. A metodologia atualmente empregada é a denominada empresa de referência. 4.7.3. Revisão Tarifária Extraordinária (RTE) Além dos procedimentos de reajuste tarifário anual e revisão tarifária periódica os contratos de concessão prevêem um mecanismo de revisão tarifária extraordinária. No caso de ocorrer uma alteração significativa nos custos do concessionário, este, por meio desse mecanismo, poderá a qualquer tempo, e quando devidamente comprovado, solicitar a ANEEL proceder à revisão das tarifas, visando manter o equilíbrio econômico-financeiro da concessão. 4.8. EMPRESA DE REFERÊNCIA A Empresa de Referência pode ser definida como a simulação de uma empresa responsável pelo fornecimento do serviço de distribuição e comercialização de energia elétrica de maneira eficiente, na área geográfica onde a concessionária em análise presta esse serviço. 100 A metodologia permite determinar os custos associados à execução dos serviços de operação, manutenção das instalações elétricas, gestão comercial dos clientes, direção e administração, em condições que assegure que a concessionária poderá atingir os níveis de qualidade de serviços exigidos e que os ativos necessários manterão sua capacidade de serviço. A partir dos valores de custos estimados para que a empresa de referência possa executar esses serviços, fixam-se os custos operacionais eficientes da concessionária em análise, os quais serão considerados nas tarifas que deverão ser cobradas dos consumidores pelos serviços prestados. Desta maneira, a empresa real é obrigada a competir com a empresa de referência. Se a concessionária for mais eficiente que a empresa teórica, ela se apropriará dos ganhos de eficiência, já que será remunerada com base na empresa teórica. Caso contrário, a concessionária passa a ter seus ganhos reduzidos já que o poder concedente reajustará a tarifa com base nos resultados da empresa teórica. A competição com a empresa de referência esta associada à eficiência na gestão, custos operacionais eficientes e as características especificas da área de concessão. Deve-se salientar que são criadas tantas empresas de referência, quanto concessionárias, já que as mesmas devem reproduzir as características específicas do mercado de cada concessionária específica tais como: área geográfica, quantidade de clientes, economia da região, etc. Uma grande vantagem deste modelo reside na redução da assimetria de informação. Esta assimetria consiste no fato de que a empresa regulada conhece bem os custos de seu negócio enquanto que o agente regulador necessita destas informações para avaliar o efetivo desempenho da empresa regulada. Contudo, através desta metodologia, o agente regulador poderá determinar os custos operacionais eficientes de cada concessionária de distribuição 101 sem a necessidade da coleta de informações referentes aos custos realizados pelas mesmas para prestação dos seus serviços. Conseqüentemente, o agente regulador não fica sujeito à assimetria de informações em relação ao agente regulado no que tange a determinação da tarifa, passando a este a obrigação praticar, no mínimo, seus custos operacionais dentro do estabelecido pela empresa de referência, se desejar obter uma rentabilidade adequada. 4.9. O FATOR X Como citado anteriormente, o fator X é um mecanismo que permite o repasse para os consumidores, por meio das tarifas, das projeções de ganhos de produtividade das distribuidoras de energia elétrica bem como traduz, financeiramente, o grau de satisfação dos clientes. Este fator é calculado nas revisões tarifárias periódicas e anuais, com base nas estruturas de custos e mercados de cada concessão, como meta de eficiência para o próximo período tarifário e é composto dos elementos Xe, Xc e Xa, e que foi definido pela Agencia Nacional de Energia Elétrica, na sua Resolução Normativa no 55, de 5 abril de 2004 como: X = ( Xe + Xc ) x ( IGPM – Xa ) + Xa 4.9.1. Componente Xe A componente Xe corresponde a um índice que reflete os ganhos de produtividade esperados pelo crescimento natural do consumo de energia elétrica na área de concessão, decorrentes do crescimento de consumo dos clientes existentes (crescimento vertical), assim como pela incorporação de novos clientes, no período entre revisões tarifárias (crescimento horizontal) e é calculado somente nas revisões periódicas. 102 Ele é calculado de forma a assegurar que a receita da Parcela B no período tarifário considerado seja suficiente para cobrir os custos operacionais e permitir um retorno igual ao custo do capital da concessionária sobre os ativos iniciais e investimentos realizados no período. Para estabelecer este equilíbrio, faz-se necessário estimar quatro variáveis: Receita, Custos Operacionais, Investimentos e Base de Remuneração. 4.9.1.1. RECEITA A receita tarifária é determinada pelo mercado do Ano-Teste (informado pela concessionária e validado pela ANEEL), pelos valores históricos de consumo de energia, pelo número de consumidores das categorias tarifárias e pela previsão do crescimento das variáveis macroeconômicas. Para este modelo de cálculo, a ANEEL considerou que a eletricidade é um produto com forte tendência inelástica, ou seja, a variação do preço pouco interfere no consumo de energia, contudo identificou uma forte correlação tanto com a quantidade de clientes agregados como com o PIB nacional. Para a determinação do número de novos clientes que serão conectados à rede de distribuição da concessionária, é utilizado o método dos mínimos quadrados comum, utilizando a série histórica da concessionária em estudo, segmentando os clientes por classe de consumo (residencial, rural, comercial, industrial e outros). Para se obter a estimativa da venda de energia futura, que também são segregadas por classe de consumo, considera-se a maior série histórica disponível de quantidade de vendas e quantidade de clientes, assim como a quantidade de clientes estimadas no parágrafo anterior. A outra variável independente é o PIB nacional, determinado a preços constantes, para o mesmo período histórico. 103 4.9.1.2. CUSTOS OPERACIONAIS Os custos operacionais são segregados em custo de Operação e Manutenção (O&M), custos de gestão comercial, custos administrativos, depreciação e impostos. Os custos de O&M são projetados considerando duas componentes: a de mão-de-obra e a de demais custos. A evolução da componente de mão-de-obra é calculada em conformidade com a previsão da quantidade de empregados e sua relação com a quantidade de consumidores (relação clientes/empregado), utilizados na empresa de referência. Já para o cálculo dos demais custos, considera-se o crescimento da venda de energia elétrica já que o método determina uma relação direta entre a venda de energia e os custos de operação e manutenção do sistema. Para a determinação dos custos de gestão comercial também se considera duas componentes: mão-de-obra e demais custos. Para o cálculo da mão de obra é utilizado o mesmo critério de relação clientes\empregados, também previstos na empresa de referência. A outra componente do custo de gestão comercial considera uma relação direta entre o aumento do número de clientes e a evolução destes custos. Os custos administrativos seguem os mesmos critérios dos dois itens anteriores para a determinação da componente relacionada à mão-de-obra. Para a outra componente, demais custos, a mesma é mantida constante conforme critérios da empresa de referência. Os custos de depreciação são calculados em função da base de remuneração e o imposto de renda e a contribuição social são calculados sobre o lucro liquido. 104 4.9.1.3. Investimentos Para calcular corretamente o valor da componente Xe, faz-se necessário estabelecer o valor dos investimentos necessários para suportar o acréscimo de novas cargas ao sistema de distribuição e subtransmissão, bem como aqueles necessários para a substituição dos ativos em fim de vida útil. Os investimentos no sistema de distribuição são calculados em função do crescimento da demanda e da quantidade de consumidores e são expressos conforme fórmula abaixo: dL = b x dQ + (1 – b) x dN L Q N Onde: dL/L – Crescimento dos ativos físicos de distribuição dQ/Q – Crescimento da demanda dN/N – Crescimento do número de clientes b – Coeficiente que reflete a economia de densidade O coeficiente b tem o valor de 0,6 para linhas (por km), 0,9 para subestações de média e baixa tensão (por unidade) e zero para ramal do consumidor (por unidade). Para a determinação dos investimentos necessários para suprir o fim de vida útil da rede de distribuição, parte-se da premissa de que os ativos devem ser substituídos em uma quantidade de anos igual a vida útil das instalações. Por último, os investimentos em subtransmissão, em função de sua característica de não se encaixar em um modelo teórico-empírico, são obtidos através de estudos dos setores de planejamento da concessionária após a análise de razoabilidade por parte da ANEEL. 105 4.9.1.4. Base de Remuneração A base de remuneração regulatória, segundo a Resolução Normativa no 55 da ANEEL é: [...]o valor dos ativos físicos da concessionária atualizados na data de revisão tarifária periódica, liquida de depreciação, descontados todos os ativos que estão incluídos nos custos operacionais da Empresa de Referência. [...] Para o capital de giro adota-se como critério regulatório valor igual a 5% do montante da Parcela B sem impostos. 4.9.2. Componente Xc O componente Xc corresponde a um índice, que reflete o grau de satisfação dos consumidores, em relação à distribuidora de energia que os atende. É calculado, em cada revisão tarifária anual, a partir do resultado de pesquisa de satisfação do consumidor efetuada pela ANEEL. A fórmula para o cálculo do Xc é: Xc = IASCb – IASCc 14 Onde: IASCc – É o último índice ANEEL de satisfação do consumidor disponível na data do reajuste tarifário anual relativo a concessionária; IASCb – É o Benchmarking do índice de satisfação. A Resolução Normativa no 55 da ANEEL atribui ao IASCb o valor de 70. Desta forma, as empresas que obtiverem na pesquisa um valor de IASCc maior que este valor, terão um Xc negativo e aquelas que obtiverem uma valor de IASCc menor do que este valor terão, por sua vez, um valor positivo.. 106 Nesta mesma resolução foi estabelecido que o intervalo que Xc pode assumir é [-1,1], o que significa que caso o IASCc seja maior que 84 o Xc será mantido em -1 e, caso o IASCc seja inferior a 56 o Xc será mantido em 1. A supracitada resolução, em sua página 13, diz: Do ponto de vista conceitual, a aplicação regulatória do componente Xc é extremamente importante quando se considera a condição de cliente cativo do serviço monopólico de distribuição de energia elétrica. É evidente que o ponto de vista desse usuário é, por definição, subjetivo. Porém, é igualmente evidente o impacto econômico e institucional que exerce a opinião do usuário de um serviço sobre o prestador desse serviço, quando essa prestação está sujeita às regras da concorrência – ainda que essa opinião seja subjetiva. 4.9.3. Componente Xa O componente Xa corresponde a um índice que reflete o ajuste do componente pessoal da parcela B da receita requerida, quando dos reajustes tarifários anuais, ou seja, estabelece o índice que reflita o valor da remuneração da mão-de-obra do setor formal da economia brasileira. A fórmula para a obtenção de Xa é dada por: Xa = IGPM – ( CO x IACO + RC x IARC + TOE x IGPM ) VPB Onde: CO - Custos Operacionais; RC - Remuneração sobre o capital e a depreciação; TOE - Tributos e outros encargos; VPB - Valor da parcela B da receita da concessionária; IACO - Índice de reajuste dos custos operacionais; IARC - Índice de reajuste da remuneração sobre o capital e depreciação; IGPM - Índice geral de preços médio. 107 4.10. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO A evolução do setor elétrico nacional de um modelo estatal centralizado para um modelo privatizado de competição de mercado exigiu uma mudança jurídica e institucional, de maneira a dar o respaldo necessário ao novo órgão regulador - a ANEEL - para atuar dentro dos limites legais nos diversos segmentos deste setor. No segmento específico de distribuição de energia elétrica, a atuação do agente regulador se torna ainda mais intensa e necessária por ser um segmento com características de monopólio natural, no qual, livre da interferência do poder concedente, as empresas buscariam minimizar os seus investimentos, produzindo somente o necessário para a maximização do seu lucro. Neste aspecto, torna-se fundamental que as tarifas de energia elétrica, com suas atualizações, devam ser atraentes para a captação de investimentos privados para o setor, mantendo o equilíbrio econômico-financeiro da concessão, ao mesmo tempo em que estimulem a eficiência, com preços justos, para toda sociedade, melhorando os padrões de seus serviços. Nesse contexto surgem às revisões tarifarias periódicas, previstas no contrato de concessão, como grande desafio para o órgão regulador, devido principalmente à assimetria de informações25 entre o regulador e o prestador do serviço. Para minimizar este fator, a solução apresentada foi a utilização do modelo de empresa de referência como forma de determinar os custos necessários ao atendimento da concessão, dentro dos parâmetros de eficiência e qualidade exigidos, liberando o regulador da necessidade de conhecer os custos da empresa real em análise e fomentado, as prestadoras do serviço, a perseguir o atendimento da sua concessão dentro destes parâmetros estabelecidos, para obter rentabilidade. 25 A assimetria de informação é o termo utilizado para se evidenciar o fato de que as concessionárias detem um conhecimento maior do seu negócio do que o agente regulador, tendo, portanto, informações privilegiadas quanto a composição de seus custos, tendências de mercado, necessidades de investimento, índices operativos, etc. 108 Além disto, a introdução do fator Xe na composição tarifária, que pretende transferir os ganhos de escala do negócio para o consumidor, simula um comportamento análogo a uma indústria qualquer, não detentora de um monopólio natural, ou seja, com concorrentes, de redução do valor unitário do seu produto à medida que caminha para a utilização máxima de sua planta. Para exemplificar, pode-se considerar que uma indústria “A” tenha um custo fixo de R$ 10.000, um custo variável de R$ 5,00 por unidade fabricada, que produza 5.000 unidades/mês, com um lucro de 10%, venda cada unidade por R$7,70.26. Caso esta mesma indústria possa aumentar a sua produção para 7.000 unidades, passando a ter um custo fixo de R$ 13.000,00, poderia vender seu produto a R$ 7,54, mantendo a mesma margem de lucro. Caso se considere que a imagem da indústria “A” seja equivalente a imagem de sua concorrente, ela tenderá a repassar este ganho de produtividade ao consumidor visando aumentar sua fatia no mercado. Caso a sua imagem esteja em desvantagem em relação a sua concorrente, a indústria “A” poderá reduzir até sua margem de lucro, visando obter um diferencial competitivo e abarcar uma parte do mercado de sua concorrente. No setor elétrico de distribuição de energia brasileiro, este comportamento é simulado pela introdução do fator Xc, onde a imagem da concessionária perante seus clientes reflete em ganhos ou perdas tarifárias. Portanto, em função da criação da Empresa de Referência e dos componentes Xe e Xc nos índices de revisão tarifária, pode-se falar de competitividade e necessidade de inovação dentro do setor de distribuição de energia elétrica brasileiro, mesmo que a concessionária seja detentora de um monopólio natural, 26 Para o cálculo, não foram considerados as taxas e impostos sendo feita a seguinte simplificação para obtenção do preço do produto: Preço = ( ( Custo Fixo / Unidades Produzidas ) + Custo Variável ) x ( 1 + Lucro Esperado ) 109 CAPÍTULO 5 5. COMPETITIVIDADE E MEIO AMBIENTE 5.1. INTRODUÇÃO Neste capítulo procurar-se-á mostrar, de forma sucinta, a relação das indústrias com as questões ambientais, iniciando-se com ações oriundas de demandas legais (mecanismos de comando e controle) para ações espontâneas visando a obtenção de diferenciação no mercado conquistando novos nichos. Ver-se-á, também, a necessidade de redução do impacto ambiental dos produtos e serviços através da equação mestra do impacto ambiental e, por fim, algumas ferramentas para mensuração do impacto ambiental. 5.2. A INDÚSTRIA E O MEIO AMBIENTE O desenho de um produto ou processo levando em consideração o seu encargo para o meio ambiente tem, dia-a-dia, ganhado relevância nos meios produtivos. A importância que a sociedade vem dando às questões ambientais causa uma pressão sobre a indústria no sentido da criação de produtos e/ou serviços com o menor impacto ambiental possível. 110 Desta forma, as empresas se preocupam, cada vez mais, em serem vistas por seus clientes e pela comunidade em que seus produtos são consumidos, como empresas socialmente responsáveis. Sob este viés, as ações voltadas para a redução de impactos ambientais e a proteção do meio ambiente começam a deixar de ser encargos meramente legais e passam a ser iniciativas expontâneas visando agregar valor a sua imagem. Pode-se, portanto, dividir as causas pelas quais as empresas tomam ações no sentido de tornar seus produtos ambientalmente menos impactantes em dois grupos: Ações derivadas de demandas externas Ações derivadas de demandas internas Como exemplo de ações derivadas de demandas externas podemos citar Callenbach (1993, p.34): Restrições legais e regulamentadoras; demanda de clientes ambientalistas; ações trabalhistas reivindicatórias; ações públicas; aumento de custos e, por fim, concorrentes Já como demanda interna, pode-se considerar que empregados e empresários, como membros de uma sociedade em que cada vez mais desenvolve uma consciência ambiental, começam a ter uma tendência a avaliar suas atividades com o foco na preservação e no uso racional dos recursos disponíveis no planeta. Portanto, independente do motivo, as empresas necessitam agregar a seus produtos e serviços o conceito de Qualidade Ambiental que segundo Callenbach (1993, p.36): [...] consiste no atendimento de requisitos de natureza física, química, biológica, social, econômica e tecnológica que assegurem a estabilidade das relações ambientais no ecossistema no qual se inserem as atividades da organização. 111 Para o desenvolvimento da Qualidade Ambiental, faz-se necessário a utilização de ações e procedimentos, devidamente definidos e aplicados dentro dos critérios pré-estabelecidos, visando controlar e minimizar os impactos causados por um empreendimento sobre o meio ambiente. Estes conjuntos de ações são denominados de Gestão Ambiental e são mais abrangentemente definidos por DE Becker (1995, p. 14) como: [...] administração do uso dos recursos ambientais, por meio de ações ou medidas econômicas, investimentos e providências institucionais e jurídicas com a finalidade de manter ou recuperar a qualidade dos recursos e o desenvolvimento social. A necessidade da implementação da gestão ambiental iniciou-se com a regulamentação do Estado sobre o processo produtivo no sentido de minimizar a poluição. Assim foram criados os mecanismos denominados de Comando e Controle (C&C) que, segundo Kiperstok (2002, p. 17), se baseia na criação de dispositivos e exigências legais (comando) e de mecanismos para garantir o cumprimento destas (controle). Esta abordagem tem-se caracterizado pela não-integração de fatores ambientais (ex: água, ar e solo), fatores bióticos, sociais e a adoção de medidas de forma isolada, visando essencialmente o controle da poluição. Ainda segundo Kiperstok (2002) a adoção da política de C&C, de forma isolada, suscita uma postura reativa por parte das empresas causando polarização de pontos de vista e confronto entre o governo e outros agentes de interesse com as empresas que interagem, de forma significativa, com o meio ambiente. Como citado anteriormente, as mudanças que vem ocorrendo na consciência global, notadamente a partir da década de 1990, vem gerando uma demanda sobre produtos e processos mais ambientalmente corretos. A visão deste nicho mercadológico crescente gera, nas empresas, um estímulo a adoção voluntária de instrumentos de gestão ambiental, em patamares mais elevados que os estipulados na política de C&C como, por exemplo, a adoção de selos-verde para a certificação de produtos e normas como a ISO 14001 para certificação de serviços. 112 As políticas de C&C não devem ser consideradas ultrapassadas como instrumento na busca da sustentabilidade e sim complementares aos processos de conscientização do mercado consumidor e das políticas empresariais voluntárias. Segundo Hasenclever (apud KUPFER; HASENCLEVER, 2002), ”as melhorias, não necessariamente são introduzidas nos bens e serviços, com o objetivo de aproximá-los das necessidades do usuário”. Por esta razão, a adoção conjunta dos modelos que estimulam a adoção voluntária de instrumentos de gestão ambiental e políticas de C&C é salutar conforme salientado por Kiperstok (2002, p. 17-18) : A adoção destes instrumentos voluntários, normalmente pautados em princípios de auto-regulação, devidamente complementados com os mecanismos clássicos de C&C, impostos pelos órgãos ambientais, tem-se mostrado uma estratégia eficiente na melhoria do desempenho ambiental das empresas. As organizações podem ser divididas em dois tipos: i. Organizações lucrativas (empresas) ii. Organizações não lucrativas (exército, igreja, serviços públicos, entidades filantrópicas, organizações não governamentais, etc) Sendo as empresas organizações que visam auferir a maximização de dividendos a seus controladores, as razões que poderiam influenciá-las - além das pressões sociais, conquista de nichos mercadológicos e mecanismos de Comando e Controle - a adotarem ações espontâneas com o intuito de reduzir o impacto ambiental de seus processos produtivos seriam: a perspectiva de redução de seus custos ou a obtenção de vantagens competitivas sobre seus concorrentes. Neste ponto pode-se suscitar uma questão importante: na atividade de distribuição de energia elétrica, cuja característica é de deter o monopólio natural da veiculação da energia que é cada vez mais um produto imprescindível para a 113 humanidade, em que contexto poder-se-ia entender uma preocupação espontânea com a redução de custos e obtenção de vantagens competitivas? A resposta a esta questão tem seu cerne na nova regulamentação do setor elétrico, que introduz uma série de modificações em relação às concessionárias a quais foram discutidas nos dois capítulos anteriores. Evidentemente, o mercado é complexo demais para ter suas interações e idiossincrasias completamente representadas em um modelo teórico. Contudo, este modelo já permite analisar as distribuidoras de energia como empresas que necessitam buscar a eficácia e as vantagens competitivas em seus processos através de constantes inovações na sua forma de atuar. 5.3. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA Cabe, portanto, definir o conceito de inovação. Segundo Schumpeter (1984, p. 76) a inovação é uma evolução discreta, não contínua no tempo. Ele não considera como inovação as melhorias graduais do processo. Já Porter (1999, p. 174-175) considera que a inovação acarreta mudanças de diferentes intensidades como se pode ver abaixo: A inovação se manifesta no novo desenho do produto, no novo processo de produção, na nova abordagem de Marketing ou nos novos métodos de treinamento. Boa parte das inovações são triviais e incrementais, dependendo mais da acumulação de pequenos insights e melhorias do que de um único e grande avanço tecnológico revolucionário. Freqüentemente, envolve idéias que nem mesmo são “novas” – idéias que já circulavam por ai, mas que nunca foram adotadas com vigor. Para Freeman e Perez (1988) as inovações podem ser classificadas em quatro categorias: Incrementais, Radicais, Novos sistemas e processos e Mudança de paradígma tecno-econômico. 114 As inovações incrementais seriam aquelas que ocorrem no cotidiano das empresas. Pequenas mudanças que não envolvem estudos científicos mais aprofundados sendo, portanto, mais fruto das experiências adquiridas dos envolvidos no processo do que uma ação deliberada de aperfeiçoamento sistemático do processo. Este tipo de inovação, apesar de comum, com freqüência não são divulgadas e nem percebidas como inovações e se limitam ao aperfeiçoamento do processo existente. As inovações radicais, por sua vez, são eventos descontínuos no tempo. São fruto de uma ação deliberada das empresas e implicam em novas linhas de produção e alteração das demandas. Estas inovações, apesar de causar mudanças estruturais, tem pouco impacto sobre a estrutura econômica e social, sob um aspecto mais amplo. Já as mudanças no sistema tecnológico são eventos de grande alcance, afetando diversos ramos da economia e leva ao surgimento de setores da economia inteiramente novos. Este tipo de inovação torna-se um catalisador de uma série de inovações técnicas e econômicas entrelaçadas. Segundo Freeman e Perez (apud CARVALHO, 2005, p.45-46), pode-se citar como exemplo deste tipo de inovação: a mudança ocorrida com as inovações relacionadas aos materiais sintéticos que foram acompanhadas de inovações petroquímicas, de máquinas para moldar por injeção e extrusão e inúmeras aplicações inovadoras que foram introduzidas no período compreendido entre 1920 e 1950. Por fim, o último tipo de inovação estabelecido por Freeman e Perez (1988) é a alteração no paradigma técnico-econômico. Trata-se de inovações que alteram visceralmente os processos produtivos trazendo grandes impactos sobre as estruturas econômicas, tecnológicas, políticas e sociais. Freeman e Perez (1988) citam, como exemplo deste tipo de inovação a criação do modelo fordista de linha de produção e a tecnologia da informação, ainda em curso. 115 Kiperstok (2002), em seu artigo Inovação como Requisito do Desenvolvimento Sustentável, definem inovação como: [...] um fenômeno multi-facetado, caracterizado por uma complexidade de inter-relações entre pessoas e instituições. Concordam que a inovação envolve de um lado, novas idéias e resolução de problemas, e por isso pode ser vista em termos de criatividade e esforço intelectual. De outro, envolve recursos financeiros e materiais, usualmente em largas proporções e em condições incertas, com elevado risco. Apesar disto, ela não pode ser vista em termos de esforço individual de pessoas ou de organizações. Ao contrário, inovação é um processo em que conhecimento e recursos estão distribuídos entre diversos participantes, interligados entre si numa rede de relações. Kiperstok (2002), conclui que independentemente da natureza da inovação (técnica, de mercado ou organizacional) ou da sua abrangência (radical ou incremental) esta só ocorre visando dar à empresa um maior grau de competitividade. A inovação, contudo depende de fatores externos e internos ( como visto no início deste capítulo) sobre os quais as empresas tem variados graus de influência. Porém, segundo Kiperstok (2002),, é mister que as empresas se associem em rede para que diversas capacitações quer sejam de ordem tecnológicas, gerenciais ou comerciais possam fluir criando ambientes mais propícios para o surgimento de novas inovações. 5.4. COMPETITIVIDADE E IMPACTO AMBIENTAL Até a década de 1990, considerava-se que o meio ambiente e a atividade empresarial eram antagônicos. Ou se priorizava as questões ambientais nas empresas, com perdas econômicas ou se priorizava a competitividade das empresas em detrimento ao meio ambiente. Durante os últimos 15 anos, muito se pesquisou sobre a relação entre competitividade x impacto ambiental com resultados diversos. Um grupo de autores 116 como: Gupta, Porter, Van der Linde, dentre outros, considera a poluição como um desperdício e o investimento em meio ambiente como uma estratégia de “ganhaganha” ou seja, os efeitos mensuráveis das tecnologias ambientais da produção mais limpa são positivos sobre a eficiência operacional e na redução de custos, além dos efeitos benéficos intangíveis sobre a imagem das empresas. Para este grupo de autores, os empresários se beneficiariam de: aumento da produtividade; redução de custos operacionais (energia, água, matéria prima) e melhoria da imagem. Já outro grupo, formado por autores como Whitehead, Waley e Lindell, considera que não há indícios suficientes para o estabelecimento de uma relação positiva entre a gestão ambiental e a competitividade das empresas. Considera que os ganhos empresariais podem ser positivos a depender de fatores ligados a suas atividades, situação setorial e de mercado (Karagozoglu; Lindell apud Epelbaum, p.99). De acordo com Porter ( 1999 ), a busca constante da obtenção da eficácia no processo produtivo de uma empresa é imperiosa para a sua sobrevivência. Contudo, o aumento da eficácia na produção e a redução do impacto ambiental só ocorrem em conjunto, na maioria dos casos, fruto de uma ação consciente da direção da empresa, quando faz o seguinte comentário: Todas as empresas devem melhorar de forma contínua a eficácia operacional das suas atividades, mas as diferenças de desempenho sustentáveis quase sempre dependem de uma posição estratégica distinta (PORTER, 1999, p. 10). Sob este enfoque, a preocupação ambiental, dentro de uma empresa, não pode ser uma atividade desconectada do restante da organização. Ao contrário, deve que estar inserida com outras decisões empresariais, o que pode alterar seu entorno competitivo, devendo estar relacionada com as diversas estratégias da empresa beneficiando-as, já que tem o potencial de influir tanto nos ingressos de recursos quanto nos custos. 117 Sob a ótica de redução de custos associado à redução do impacto ambiental, surgiram uma série de artigos de Michael Porter e van der Lind evocando o fato de que, ao se eliminar a geração de resíduos na fonte, conseguir-se-ia obter ganhos financeiros no processo produtivo por aumento de eficiência na utilização da matéria-prima. Esta idéia passou a ser conhecida como Hipótese de Porter ou do “Duplo Dividendo”. Kiprstok e outros (2003, p. 68) descreve o mecanismo da Hipótese de Porter da seguinte forma: caso se consiga inovar, no próprio processo produtivo, reduzindo-se perdas que precisariam ser abatidas posteriormente, reduzem-se impactos ambientais a partir de um melhor aproveitamento da matéria-prima, o que leva a redução de custos de produção. Passase a dispor de uma nova tecnologia mais limpa. Se este esforço inovativo se tornar uma prática da organização ou da rede de inovação, tecnologias cada vez mais limpas serão atingidas sucessivamente, invertendo-se a lógica e atingindo o duplo dividendo. Kiperstok e outros (2003, p.70) considera que não necessariamente as medidas de redução de impacto ambiental são capazes de gerar retorno financeiro a curto prazo, principalmente, considerando-se que os custos ambientais não são integralmente internalizados no processo produtivo. Contudo, uma equilibrada ação na elaboração e implementação da legislação ambiental seria capaz de gerar um ambiente propício para a o surgimento de inovações que busquem melhorar a ecoeficiência, quando diz: A discussão acima levanta o fato de que, a opção pelo desenvolvimento sustentável, não é necessariamente autofinanciável, no sentido imediatista da palavra, conforme a Hipótese de Porter afirma. As imperfeições de mercado associadas à inovação ambiental demandam a intervenção do Estado, seja numa inteligente elaboração e aplicação da legislação ambiental, seja no uso de outros instrumentos incentivadores da inovação, como requisito para o crescimento da ecoeficiência na produção e no consumo. Kiperstok e outros (2003, p.71) ainda considera que a discussão entre os defensores e questionadores da Hipótese de Porter pode esconder uma questão 118 que envolve a exploração deliberada das fontes de recursos naturais através de tecnologias ecologicamente menos eficiente para a obtenção de vantagem competitiva, quando diz: Limitados por sua capacidade tecnológicas e pressionados pela necessidade de aumentar sua competitividade, esses países podem alicerçar, temporariamente, seu crescimento econômico com opções tecnológicas de menor eficiência. Isto porque podem dispor de vastos recursos naturais, a montante ou jusante do processo produtivo. Este crescimento, fundamentado na existência de vantagens competitivas, só tem sentido na medida em que sirva de base para o desenvolvimento de vantagens competitivas. Sob esta ótica, a de obtenção de vantagens competitivas em nível de nações, em 1991 Grosman e Kruguer identificaram a existência de uma relação não linear entre o crescimento da poluição e o crescimento econômico. A partir daí surgiu uma série de estudos e, em vários casos, as análises de regressão dos dados geraram curvas em formato de U invertido, conforme mostrado na figura I. Curva de Kuznets Impacto Ambiental 1200 1000 800 600 400 200 27 25 23 21 19 17 15 13 11 9 7 5 3 1 0 Renda Per Capta Figura 8 – Curva de Kuznets A análise desta curva gerou a seguinte interpretação: a poluição cresce com o produto nacional até atingir um ponto máximo. Após este ponto, a poluição decresce com o aumento do produto nacional. Em outras palavras, a medida que um país inicia seu processo de industrialização, o aumento do PIB (Produto Interno Bruto) per capta gera um aumento do impacto ambiental e, quando este mesmo PIB 119 atinge uma determinado valor, ocorre uma inflexão na curva. A partir deste ponto, o crescimento do PIB gera uma redução do impacto ambiental nacional. Em função do comportamento da curva ser similar ao observado por Kuznets (1955) para descrever a relação entre a riqueza do estado e sua distribuição em relação à população, a curva estabelecendo a suposta relação entre impacto ambiental e PIB per Capto passou a ser conhecida como Curva Ambiental de Kuznets (Environmental Kuznets Curve – EKC). As explicações mais comuns para justificar este tipo de comportamento são: A primeira delas diz respeito a renda da população. Quando uma população sem recursos financeiros começa a ter incrementos de renda em função da industrialização emergente do país em que reside, esta população não esta disposta a trocar consumo por proteção ambiental. A medida que esta mesma população tem mais acesso à informação e a cultura e já tem suas necessidades básicas razoavelmente atendidas, suas atenções se transferem para a obtenção de melhor qualidade de vida. Dentro deste mesmo viez, esta população passa a ter uma maior consciência ambiental, com repercussões na legislação ambiental que, por sua vez, se torna mais rígida. A segunda explicação plausível é que os estágios de crescimento econômico passam pela troca de uma economia baseada na agropecuária para uma economia industrial, posteriormente passando para uma economia baseada no setor de serviços. Há, portanto, uma elevação da degradação ambiental ao se passar de atividades predominantemente do setor primário da economia (extrativista e agropecuário) para o setor secundário (industrial). Posteriormente, com o incremento do setor terceário (serviços) os impactos ambientais tendem a ser reduzidos naquele território. 120 A terceira explicação pode ser retirada das duas anteriores. A medida que a população enriquece e tem suas necessidades básicas supridas, passa a ter uma consciência ambiental maior, por preocupar-se mais com a qualidade de vida do que com o acúmulo de riqueza. Esta mudança se reflete na legislação ambiental vigente. O endurecimento da legislação associado ao custo de mão-de-obra, leva a migração das atividades mais ambientalmente degradantes do setor secundário (industrial) a migrarem para países onde a legislação ambiental é menos rígida, os custos diretos e indiretos com a mão de obra são menores e os recursos ambientais abundantes. Considerando que a Terra é um sistema fechado, a simples transferência de uma atividade ambientalmente impactante de um lugar para outro não causa nenhum benefício. Pelo contrário, ao dar a uma população de baixo poder aquisitivo uma oportunidade de melhoria de sua renda através da migração de postos de trabalho de países mais desenvolvidos, esta população gerará um aumento no consumo de produtos, elevando ainda mais o impacto ambiental causado. Não se trata de negar a uma população de baixa renda o acesso a níveis de vida melhor ou tentar impedir a lógica capitalista de maximização de lucros através da redução do valor dos insumos. Trata-se de tentar explorar estas vantagens competitivas (mão-de-obra mais barata e recursos naturais abundantes) com consciência, buscando cada vez mais a ecoeficiência, como evidenciado por Kiperstok (2003, p71): Não cabe dúvida de que usar uma base natural relativamente abundante, apenas para resolver demandas econômicas e sociais imediatas, pode levar à depredação dos recursos naturais sem um adequado desenvolvimento. De fato, estar-se-ia gerando uma dívida ambiental futura em troca de um ganho presente relativamente acanhado. Por outro lado, a disponibilidade de algum recurso ambiental abundante pode alicerçar a partida de um plano articulado de efetivo desenvolvimento tecnológico, que possa redundar em inovação e numa gradativa elevação da ecoeficiência. Do ponto de vista dos recursos naturais, estar-se-ia gastando mais hoje para se poder gastar menos no futuro. Para implementar propostas deste tipo, contudo, deve-se ter uma noção clara da fragilidade dos ecossistemas atingidos e de sua efetiva capacidade de recuperação, evitando impactos irreversíveis. 121 5.5. IMPACTO AMBIENTAL E O FATOR X Com base no que foi discutido anteriormente neste capítulo, faz-se iperiosa a otimização da utilização dos recursos ambientais no processo produtivo. Contudo, como avaliar se esta havendo ou não uma maior ecoeficiência? A primeira resposta nesta direção veio através da proposta de Graedel e Allenby (1998), no seu trabalho intitulado “Ecologia Industrial e o Automóvel”. Neste trabalho propuseram a utilização da seguinte equação: Impacto Ambiental = População x PIB x Pessoa Impacto Ambiental Unidade do PIB Weaver (2000), reescreve a equação, que passou a ser conhecida como Equação Mestra do Impacto Ambiental ou Expressão de Ehrlich: Impacto Ambiental = População x Renda per capta x Impacto Ambiental (produto) Unidade do Produto Esta equação, segundo Kiperstok at Al (2003), expressa o impacto ambiental como sendo o produto da população vezes o impacto ambiental per capta. Este, por sua vez, é representado pelo produto de padrão de consumo, medido pela renda per capta, com o impacto ambiental causado por cada objeto consumido. Analisando separadamente o primeiro elemento da função – População ter-se-á que, mantidos constantes os demais fatores, a medida em que a população cresce, aumenta também a demanda sobre os recursos naturais. Desta forma, com o aumento da população cresce também a necessidade do aumento da rede de distribuição de água e esgotamento sanitário, geração e distribuição de energia elétrica, aumento do consumo de combustíveis fósseis, demanda sobre produtos alimentícios, etc. 122 O segundo elemento da função é a renda per capta. Enquanto que para o primeiro elemento, mantidos constantes os demais, vê-se como coerente o estabelecimento de uma relação direta com o impacto ambiental, para o segundo elemento esta relação não pode ser estabelecida da mesma forma. Como discutido no item anterior, a Curva de Kuznets estabelece uma relação entre o impacto ambiental e a renda per capta que varia de direta para inversa. Foi visto também que a explicação do comportamento da curva poderia ter basicamente dois motivos não excludentes. O primeiro deles é que com o aumento da renda per capta, a população teria acesso ao consumo de uma maior quantidade de produtos. Já o segundo deles diz respeito a forma de confecção dos produtos dentro de um determinado país. Considerando somente o primeiro motivo da explicação da Curva de Kuznets, já que o segundo motivo poderia estar incluído na análise do terceiro elemento da equação Mestra do Impacto Ambiental, seria admissível dizer que, mantidos os demais fatores constantes, a relação entre renda per capta e impacto ambiental poderia ter uma relação direta. Por último, o terceiro elemento da Equação Mestra do Impacto Ambiental é o somatório do impacto ambiental de todos os produtos consumidos, dividido pela quantidade total de produtos consumidos, ou seja a média ponderada do impacto ambiental dos produtos consumidos. Cada produto tem seu próprio impacto ambiental definido pela sua natureza, forma de produção e insumos utilizados. Como o aumento da renda per capta da população mundial é uma meta almejada e a imposição do controle da natalidade em qualquer escala, principalmente na mundial, não é uma opção ética, resta somente a atuação no terceiro elemento da equação. Desta forma, o impacto ambiental dos produtos consumidos deve decair, ao menos, para valores iguais ao produto entre a taxa de crescimento populacional e o aumento da renda per capta. 123 Sob esta ótica foi criado o conceito de Fator X. Trata-se da estimativa de redução do terceiro fator da Equação Mestra do Impacto Ambiental, ou seja, a redução do impacto médio dos produtos consumidos. Utilizando os dados analisados por Kiperstok at al (2002, p 22) para o crescimento médio populacional (1,3% a.a.) e aumento da renda per capta média (2% a.a.),num período de 50 anos, o impacto ambiental médio por unidade de produto consumidos deveria decair em aproximadamente 5 vezes para manter-se nos mesmos níveis de hoje, o que implica que, para este cenário teríamos um FATOR 5. Contudo, ainda segundo Kiperstok e outros (2002, p. 27), a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem divulgado o conceito de FATOR 10 “no sentido de chamar a atenção da sociedade para a necessidade de se aumentar o ritmo da melhoria da produtividade dos recursos naturais”. A obtenção do Fator 10 implica em reduzir à metade o impacto ambiental nos próximos 50 anos, caso considere-se os valores de crescimento populacional e da renda per capta do parágrafo anterior. Em 1993, seguindo este raciocínio de reduzir à metade o impacto ambiental nos próximos cinqüenta anos, foi criado o Clube do Fator 10 (WEAVER et al, 2000 apud KIPERSTOK 2002). 5.6. ANÁLISE DE CICLO DE VIDA - ACV Contudo, como mensurar o impacto ambiental de um produto ou serviço? Uma ferramenta que pode ser utilizada é a Análise de Ciclo de vida – ACV (Life Cicle Analisys – LCA) que foi definido pela SETAC (Sociedade para Toxicologia e Química Ambiental) como: [...] um processo objetivo para avaliar os impactos ambientais associados a um produto, processo ou atividade com base na identificação e qualificação de energia e materiais usados e dos resíduos emitidos para o meio ambiente, de forma a avaliar e implementar oportunidades que redundem em melhoras ambientais. 124 A avaliação inclui o ciclo de vida completo do produto, processo ou atividade, englobando a extração e processamento de matériasprimas, fabricação, transporte e distribuição, uso e reuso, manutenção, reciclagem e disposição final (SHEN,1995 apud KIPERSTOK at al 2003,p 161). A Avaliação de Ciclo de Vida, portanto, leva em consideração não somente os impactos causados aos sistemas ecológicos. Considera também a depreciação dos recursos naturais além dos impactos sobre a saúde do homem. Esta ferramenta foi criada, inicialmente, para subsidiar mudanças que levassem à melhorias ambientais. Contudo, a mesma pode ser utilizada no desenho de um novo produto com menor encargo ambiental, avaliar impactos que levem a reclamações usuais, na definição de critérios para outorga de selos verdes, na comparação entre produtos com a mesma finalidade e para cobrir lacunas de conhecimento. Numa visão mais acurada descobre-se que, não raro, mesmo a Análise de Ciclo de Vida de um produto industrial simples, pode tornar-se uma tarefa de grande monta. Por esta razão, faz-se necessário saber exatamente aonde se quer chegar num estudo desta natureza. Desta forma, a primeira etapa de uma ACV é o estabelecimento do objetivo a ser alcançado, que deve ser muito claro ao longo do processo caso contrário pode-se despender muito esforço desnecessário. Daí advém a necessidade de se delimitar corretamente o escopo da ACV que deve ser suficientemente abrangente para se estabelecer adequadamente os impactos da cadeia produtiva, porém sem perder a profundidade no que se refere às informações mais relevantes. Neste sentido, a ACV tem que ser um correto compromisso entre três dimensões do estudo: a extensão do ciclo em análise, o número de subsistema em análise e o nível de detalhamento de cada etapa. A extensão do ciclo corresponde ao trecho de processo em análise. Por exemplo, caso deseje-se efetuar uma ACV de um condutor elétrico de alumínio, pode-se estudar o ciclo desde à extração da bauxita até a reciclagem do alumínio 125 após o término de sua vida útil ou pode-se restringir o estudo ao trecho correspondente entre transformação do lingote de alumínio em condutor até a reciclagem das sobras de materiais após o processo construtivo. O número de subsistemas a serem analisados, por sua vez, corresponde a quantos ramos de ciclo de vida serão analisados. Seguindo o exemplo anterior, pode-se estudar ou não os impactos causados na fabricação dos diversos tipos de fornos de fundição do alumínio ou o fabrico das máquinas de trefilação dos fios. A terceira dimensão a ser analisada é a profundidade do estudo. Esta se refere ao nível de detalhamento e a precisão das informações a serem levantadas. A segunda etapa da ACV é a análise do inventário. Nesta etapa se estabelece a construção da árvore do ciclo de vida e recolhe-se os dados necessários para o estudo. É feito o balanço de massa e energia de todos os materiais e energia. Nesta etapa, também são aplicadas as eventuais regras de simplificação. Kiperstok e outros (2003, p. 171), ao se referir a esta fase da ACV diz: A dificuldade de se obter dados é um dos principais responsáveis pela redefinição de objetivos e do escopo. Se a qualidade dos dados obtidos não for satisfatória para o cumprimento da meta originalmente estabelecida, deve-se coletar dados adicionais para melhorar a qualidade ou redefinir a meta e o escopo do estudo. Dados de menor qualidade levam a resultados que mesmo que possam ser utilizados para subsidiar decisões, seu alcance será necessariamente mais restrito. A terceira etapa é a avaliação dos impactos ambientais. Segundo Kiperstok e outros (2003, p.172) existem muitas metodologias disponíveis que podem ser utilizadas nesta etapa da ACV como, por exemplo, a Análise de Impacto Ambiental, Análise de Risco, Análises de Melhorias Técnicas e econômicas, Análise Energética de Sistemas, Emergia, Pegada Ecológica, dentre outras e sua escolha vai depender dos objetivos estabelecidos na primeira fase do estudo. 126 Por fim, a última etapa da ACV é a interpretação dos resultados e as propostas a serem apresentadas. Segundo Kiperstok at al(2003,p174) apud Chehebe (1998) nesta etapa deve-se: i) Analisar os resultados obtidos nas duas fases anteriores; ii) Tirar conclusões compatíveis com os objetivos estabelecidos; iii) Explicar as limitações do estudo; iv) Identificar oportunidades de melhoria de acordo com o objetivo. Nesta etapa pode-se identificar oportunidades de redução de impacto ambiental que podem ser conseguidas com mudanças no processo de manufatura, estabelecimento de um novo desenho do produto, aplicação de diferentes materias primas, novas formas de descarte do produto, etc. 5.7. AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL Conforme dito anteriormente, existem várias metodologias para avaliar o impacto ambiental de um produto ou serviço. Abaixo discorrer-se-á, com brevidade, a respeito de três delas com foco na utilização de energia. A primeira delas é a Auditoria Energética. Seu objetivo é identificar soluções eficazes e economicamente viáveis para obter redução dos custos energéticos, contabilizando os consumos dos vários tipos de energia utilizados em atividades produtivas de uma organização. O processo de auditoria envolve a coleta de dados de consumo de energia que pode ser obtido através de faturas de energia ou instalação de equipamentos de medição, análise das instalações e dos equipamentos e entrevistas junto às pessoas que operam os processos em estudo. 127 O resultado desta metodologia é a identificação de oportunidades de aumentar a eficiência energética de uma organização ou atividade, reduzir os custos de manutenção, melhorar as condições de segurança relativos aos equipamentos e instalações. Outra metodologia utilizada é a Análise Emergética. Trata-se de um método baseado na ecologia de sistemas, avaliando a utilização tanto direta como indireta dos recursos, necessárias à produção de bens e serviços, convertendo toda a energia para energia solar. A unidade de energia utilizada é o Joule de emergia solar (seJ). Este método permite avaliar todos os tipos de recursos, incorpora o serviço realizado pelos ecossistemas e é capaz de identificar as diferenças de qualidade de energia recorrendo à relação Emergia/Exergia. Seu processo de cálculo foi estabelecido por Odum e consiste na construção do diagrama do sistema em análise, seguido pela construção de uma tabela de Emergia que inclui a quantificação dos inputs do sistema analisado, as transformidades (Emergia por unidade de energia) e a Emergia solar correspondentes às entradas. Uma terceira metodologia é a Análise Energética de Sistema – AES. Esta, aborda os processos de transferência e conversão de energia, tendo como suporte as leis da termodinâmica, ou seja, considerando a taxa de degradação da energia quando a mesma é transformada de uma forma para a outra. Nesta metodologia acompanha-se o processo de degradação da energia em todo o ciclo produtivo de um determinado bem ou serviço. Desta forma a AES permite determinar, numa abordagem de ciclo de vida, qual o consumo energético total associado a este bem ou serviço. A AES considera a energia primária baseada no petróleo, isto é, traduzido em toneladas de petróleo equivalentes – tep. Define como energia primária aquela 128 incorporada aos recursos naturais que não sofreram nenhuma transformação ou conversão antropogênica (carvão, petróleo, luz solar, etc). A energia primária pode ser obtida somando-se a energia efetivamente incorporada nos produtos ou serviços a energia perdida ao longo do processo de obtenção deste mesmo produto ou serviço. Este metodologia considera ainda que as conversões do processo devem estar associado a pior rendimento na transformação da energia primária no produto ou serviço final, utilizando, portanto, o conceito de consumidor marginal27. Como dito anteriormente, existem diversas metodologias que podem ser utilizadas. Cabe a cada pesquisador identificar a metodologia a ser utilizada para melhor avaliar os impactos ambientais do processo em estudo. 5.8. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO Viu-se, neste capítulo, que a relação das empresas com as questões ambientais vem se transformando de meros encargos legais para oportunidades de ganhos de vantagens competitivas sobre seus concorrentes. Analisou-se, também, a necessidade de tornar os produtos e serviços menos ambientalmente impactantes e algumas formas de avaliação do impacto ambiental. Para esta dissertação será adotado como forma de avaliação do impacto ambiental uma abordagem baseada na análise energética de sistemas. 27 Este conceito leva em conta que as melhores tecnologias já estão sendo utilizadas e, por conseguinte, a pior tecnologia tem que ser acionada de forma a satisfazer as necessidades do consumidor. 129 CAPÍTULO 6 6. CONCEITOS FÍSICOS 6.1. INTRODUÇÃO Neste capítulo procurar-se-á mostrar alguns conceitos necessários ao entendimento deste trabalho, mais notadamente o conceito de exergia, além da metodologia utilizada nesta dissertação. 6.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE ENERGIA A energia é o insumo básico para qualquer forma de organização, inclusive os seres vivos. Trata-se, portanto, de um recurso valioso mesmo considerando que, no seu dia-a-dia, o ser humano tem pouca ou nenhuma consciência deste fato. A energia se expressa nas mais diversas formas dentre as quais pode-se citar: a energia potencial, cinética, química, térmica, eletromagnética e das interações nucleares. As interações entre estas expressões de energia, que ocorrem 130 em maior ou menor grau entre seus diversos tipos, estabelecem o mundo que é percebido. Olhando-se, por exemplo, os seres vivos como um sistema estanque, ou seja, analisando-se um único indivíduo de uma determinada população, sem nenhuma interação com o meio que o cerca, pode-se dizer que a forma predominante de energia necessária para a manutenção de sua organização (vida) é a energia oriunda das interações moleculares – a energia química. Contudo, a energia química não foi a única responsável pelo surgimento da vida, como hoje concebida. Ela surgiu de uma intrincada relação de energias, desde a necessária para agregar o hidrogênio em nuvens com o seu posterior adensamento em núcleos estrelares, passando pela geração de calor e pressão necessários para a formação de novas moléculas até o surgimento de moléculas capazes de se duplicarem e, desta forma, criando os primeiros seres vivos. O ser humano aprendeu a controlar, em diferentes graus, várias formas de energia sendo, possivelmente, a energia térmica (utilização do fogo) a primeira delas, revolucionando, de forma definitiva, a relação do homem com a natureza. Na sociedade atual, o ser humano utiliza diversas fontes de energia para os mais diversos fins. Este uso nem sempre se processa de uma forma racional, já que em muitas situações são usadas fontes energéticas ou tipos de energia de baixo rendimento para um fim específico. Como as principais fontes de energia utilizadas hoje pela humanidade são baseadas em recursos não renováveis, a comercialização destas fontes tornou-se uma atividade estratégica e o controle físico destas fontes, motivos de constantes embates econômicos e, em algumas situações, bélicos. Segundo Hinrichs e Kleinbach (2003, p. 1), a percepção pela sociedade contemporânea de como a energia é importante em sua vida se deu com três eventos políticos. O primeiro deles foi o embargo do petróleo em 1973, seguindo-se da Revolução Iraniana em 1979 e, por fim, a Guerra do Golfo em 1991. 131 Considerando a estrutura econômica, pode-se classificar a matriz energética em três tipos de fontes: energia primária, secundária e útil. O Balanço Energético Nacional (MME, 2004) as define como: A energia primária é definida como oriunda de “produtos energéticos providos pela natureza na sua forma direta”. Como exemplo pode-se citar: a energia hidráulica, eólica, solar, petróleo, gás natural, carvão, urânio e produtos da cana. A energia secundária é definida como extraída de “produtos energéticos resultantes dos diferentes centros de transformação, que têm como destino os diversos setores de consumo ou ainda um outro centro de transformação”. Pode-se utilizar como exemplo: a energia elétrica, carvão vegetal, álcool etílico, gasolina, óleo diesel e combustível, gás liquefeito de petróleo e querosene. A energia útil, por sua vez, é aquela que efetivamente gera trabalho antrópico como, por exemplo: força motriz, iluminação e aquecimento direto. O processo de transformação de energia primária em secundária, através de centros de transformações (hidroelétricas, refinarias de petróleo, destilarias de álcool, etc) e, posteriormente, em energia útil através de equipamentos específicos tais como : motores, fornos, lâmpadas, caldeiras, etc, não se processa de forma perfeita, havendo sempre perdas inerentes a estes processos de transformação. A energia não possui um substituto. Pode-se, contudo, substituir uma fonte por outra ou atuar num determinado processo de forma a otimizá-lo, conseguindo-se efetuar a mesma atividade com uma quantidade de energia menor. Considerando-se este aspecto de eficientização do uso da energia poder-se-ia inferir que a primeira assertiva deste parágrafo não plenamente verdadeira conforme citado por Santos e outros (2001, p 94): [...] Ainda que representando uma parcela por vezes reduzida dos custos totais, via de regra a energia não possui outros substitutos senão a própria energia, sem a qual os processos não se desenvolvem. Talvez energia possa ser apenas parcialmente 132 substituída por conhecimento, por informação, de modo a reduzir os desperdícios e melhorar os sistemas energéticos. Esta substituição de energia por inteligência, melhorando a eficiência energética é cada vez mais relevante.[...]. 6.3. DEFINIÇÃO DE ENERGIA Energia foi definida originalmente por Aristóteles como a realidade em movimento. Porém, somente no século XVII, Descartes e Leibnitz iniciam os estudos sobre energia potencial e cinética, respectivamente, e que tiveram seus conceitos posteriormente aperfeiçoados por D’Alembert no século XVIII. Ainda neste mesmo século, Lavoisier, através de experimentos que demonstraram que a quantidade de matéria total permanece constante em um sistema, durante uma reação química, contribuiu para a consolidação da lei de conservação da energia a qual estabelece que, em um sistema fechado (onde não existem interações energéticas com entes alheios a este sistema), a quantidade total de energia é constante. Hoje, a energia é comumente definida como a capacidade de realizar trabalho apesar da definição mais completa dada por Maxwell no final de século XIX de que a energia é algo que possibilita a mudança de configuração de um sistema, em oposição a uma força resistente a esta mudança. 6.4. TRABALHO O trabalho é definido como sendo o produto de uma força aplicada a um dado corpo e o deslocamento ao qual este mesmo corpo é submetido. Desta forma, Trabalho é: W = Força (Newtons) x Distância (metros) (6.1) 133 Desta forma, no sistema MKS, a força de 1 Newton aplicada a um corpo qualquer, que percorre uma distância de 1 metro realiza um Trabalho de 1 Joule. Como a energia foi definida anteriormente como sendo a capacidade de realizar trabalho, considerando-se um sistema ideal, onde toda a energia é transformada efetivamente em trabalho, ter-se-á: E=W (6.2) Contudo, nem toda energia é transformada em trabalho sempre havendo uma perda no processo em função das imperfeições nos equipamentos que transformam energia em trabalho. Se se considerar que S é a parte da energia que não pode ser transformada em trabalho ter-se-á: E=W+S (6.3) Com isto, o trabalho realizado advindo da energia potencial poderia ser expressa como: Wp = m x g x h - S (6.4) Da energia cinética seria dada por: W c = 1 x m x v2 - S 2 (6.5) Da energia elétrica seria: Wel = V x I x t - S (6.6) E da energia térmica seria dada por: Wt = Q1 x (T1 – T2) - S T1 (6.7) 134 Onde: m - Massa; g - Aceleração da gravidade; h - Altura; v - Velocidade; V - Diferença de Potencial; I - Corrente Elétrica; T - Tempo; Q1 - Calor Inicial; T1 - Temperatura Inicial e T2 - Temperatura Final. 6.5. 6.5.1. EXERGIA Definição Considerando-se sistemas de conversão de energia em trabalho ideais (conversores sem perdas onde S = 0) pode-se dizer que várias formas de energia poderiam ser integralmente convertidas em trabalho como, por exemplo, a energia cinética, potencial e elétrica. No caso da energia térmica, por sua vez, mesmo se for considerado que o processo de transformação fosse perfeito (S = 0), nem todo o calor28 poderia ser transformado em trabalho. A máxima parcela de calor que poderia ser transformado em trabalho, desconsiderando as perdas nos equipamentos de conversão, chamase de exergia. Por sua vez a parcela de calor que não pode ser transformado em trabalho, independente de quão eficiente seja o equipamento usado nesta conversão, chama-se de anergia. Desta forma tem-se: Energia = Exergia + Anergia Que também pode ser expresso como: 28 O século XIX, o físico inglês James Joule descobriu uma relação entre trabalho mecânico e calor. Com isto estabeleceu-se que a energia pode ser transferida de um corpo para outro tanto através da realização de um trabalho como de adição de carlor. 135 Et = Q1 x (T1 – T2) + Q1 x T2 T1 T1 (6.8) A exergia pode ser definida como: “[...] trabalho ou capacidade de gerar trabalho, conservando-se em processos reversíveis e sendo consumida em processos irreversíveis (reais)” (Wall apud Strapasson, 2004, p. 53). Como dito anteriormente, nos processos reais sempre haverá perdas as quais podem ser avaliadas como destruição de exergia ou geração de entropia, que corresponde a uma redução do fluxo da energia (Nogueira, 2001). Desta maneira, considerando um processo real, onde sempre ocorrem perdas por ineficiência nos processos de transformação de energia (P), o trabalho de uma máquina térmica pode ser expresso como: Wt = (T1 – T2) - P T1 (6.9) Considerando as equações V.8 e V.9, tem-se que a entropia (S) gerada num processo de conversão real de energia térmica em trabalho é dada por: S = Q1 x T 2 – P T1 (6.10) Ou seja: Entropia = Anergia + Perdas Segundo Strapasson (2004, p. 53) “[...] pode-se considerar que as formas de energia diretamente conversíveis em trabalho, como a eletricidade, apresentam um processo de conversão de alta qualidade, em termos de exergia”. Além disto, Nakashima (2000, p. 23) diz que “as exergias cinética e potencial equivalem as energias cinética e potencial pois, a princípio, podem ser totalmente convertidas em trabalho”. Desta forma, a anergia associada a estas energias de alta conversibilidade tende a zero, podendose dizer, para estes casos, que energia é igual à exergia. 136 6.5.2. Estado de Referência Para se obter o valor da exergia faz-se necessário estabelecer um ambiente de referência. É através desta referência que se pode determinar o máximo valor de energia que pode ser transformado em trabalho (exergia), desconsiderando as perdas no processo de transformação, daquele que só pode ser transformado em entropia (anergia). Usualmente se utiliza o meio ambiente como ambiente de referência já que com sua interação com o sistema a ser estudado, as sua propriedades como temperatura, pressão e potencial químico não se alteram de forma significativa. Uma consideração para que o meio ambiente possa ser utilizado como ambiente de referência é: “[...] que ele esteja em estado de perfeito equilíbrio termodinâmico, ou seja, o meio deve ser homogêneo, não podendo possuir qualquer gradiente ou diferença de pressão, temperatura, potencial químico, energias cinética e potencial. Assim não existe a possibilidade de realização de trabalho através das interações entre porções do meio. Embora o meio ambiente real seja complexo, procura-se, em geral modelá-lo como uma composição de substâncias existentes em abundância na atmosfera, oceanos ou crosta terrestre” (NAKASHIMA, 2000, p. 22). Em 1980 Ahrendts propôs que, se a quantidade de diferentes elementos no estado de referência é conhecida e se estabelece a temperatura deste sistema, a quantidade de cada composto químico e o valor de cada potencial químico no sistema de referência estão univocamente determinados pelas condições de equilíbrio termodinâmico. Para determinar este ambiente estabeleceu três subsistemas: a atmosfera como subsistema gasoso, os oceanos como subsistema liquido e uma capa da crosta terrestre como subsistema sólido. Não há controvérsia no que diz respeito aos dados geoquímicos da atmosfera e dos oceanos o que não acontece com a crosta terrestre. 137 Ahrendts estabeleceu como sistema de referência para seu subsistema sólido uma faixa de um metro da crosta terrestre, a uma temperatura de 25º C e submetido a uma pressão de 1,019 atmosferas e composta por 17 elementos que formam 99% do peso da crosta terrestre. Dois problemas foram prontamente identificados na proposta de Ahrendts: o primeiro deles é que a maioria dos minerais utilizados comercialmente não se encontra na camada superficial de um metro da crosta terrestre e a segunda é que o peso da crosta terrestre é várias ordens de grandeza superior a uma atmosfera. Posteriormente, Ahrendts estabelece uma camada de 100 m da superfície terrestre para seu novo ambiente de referência, mostrando-se ainda ineficaz conforme Garcia (2000, p. 23): Na figura 2.2 ilustra-se a composição das três fases do ambiente de referência com espessura de 100 m. Como é evidente na figura 2.2, o ambiente de referência difere notavelmente do ambiente físico real e, à medida que a espessura da crosta se amplia, esta diferença torna-se maior. Tendo em conta o ambiente anterior, nenhum dos ambientes de referência proposto por Ahrendts parece adequado para valorar exergeticamente os recursos naturais.(tradução nossa) Em 1989, Szargut propôs um novo ambiente de referência que, segundo Garcia (2000, p. 24), levava em conta as seguintes regras: (a) Se o processo em consideração é somente físico, o nível de referência pode ser assumido de forma separada para cada componente envolvido no processo. Por outro lado, se o processo em consideração é químico, o nível de referência deve ser adotado separadamente para cada reação química; (b) No caso de sistemas abertos, a primeira parte da regra anterior não pode ser aplicada e a segunda parte se faz obrigatória, e sem dúvida, as espécies de referência não podem ser escolhidas arbitrariamente. Se no ambiente de referência prevalece o equilíbrio termodinâmico, a escolha das espécies de referência não deve afetar os resultados, tendo em conta que no ambiente real existem desvios substanciais do estado de equilíbrio termodinâmico. Por esta razão, Szargut propõe uma convenção para eleger a espécie de referência que se encontra completamente dispersa e representam os produtos de interação mais prováveis entre os 138 componentes do ambiente físico real e dos produtos de interesse dos processos. Em função desta convenção, Szargut propõe as seguintes regras, adicionais às anteriores: (c) Devem-se adotar como espécies de referência os componentes mais comuns do ambiente físico real; (d) Os parâmetros principais destes componentes comuns do ambiente como temperatura ambiente, pressão parcial do ar, a concentração na água do mar e na crosta terrestre, se estabelece como nível zero para o cálculo da exergia química. Desta maneira, igual ao ambiente de referência proposto por Ahrendts, o ambiente de referência proposto por Szargut é formado por três fases: sólida, líqüida e gasosa.(tradução nossa) Ainda segundo Garcia (2000), Szargut denomina de exergia química de um elemento a energia necessária para romper as ligações químicas de um dado compostos de referência, isolando seus elementos. Já a energia necessária para unir os elementos no composto desejado, agregada à exergia química dos elementos é denominada exergia química da substancia. No caso em estudo, onde se procura valorar o cobre e o alumínio, as espécies de referência encontram-se na fase sólida do ambiente de referência. Para se obter a exergia da espécie de referência, considera-se a crosta terrestre comportando-se como uma solução ideal. Desta forma, Szargut montou a tabela constante no Anexo A. A exergia do elemento químico constante desta tabela é composta pela exergia necessária para compor 1 mol do elemento químico em estudo mais a energia que se obtém quebrando as ligações químicas da espécie de referência em n moléculas necessárias para formar 1 mol do elemento desejado. Posteriormente, Ranz e Valero, utilizando-se de novos dados relativos à composição da crosta terrestre, refizeram os cálculos de Szagut aproximando-os mais do ambiente real. Além disto, verificaram que, ao se utilizar como espécie de referência as substâncias mais abundantes e estáveis na crosta terrestre para a obtenção dos recursos minerais, alguns destas espécies não eram as que se 139 utilizava nos processos industriais. Para os casos onde ocorria esta divergência, passaram a utilizar como espécies de referência aquelas de onde se obtinha comercialmente os minerais. 6.6. POTÊNCIA A potência pode ser expressa como a taxa de transferência de energia, ou seja, é a quantidade de energia que é transferida entre dois corpos numa unidade de tempo. Esta grandeza é importante nesta dissertação porque é através dela que se dimensiona o conduto ou meio pelo qual a energia é transferida em um processo produtivo. Para ilustrar este fato, pode-se tomar como exemplo dois elevadores num mesmo edifício de 12 andares. O primeiro deles vai do térreo ao 12º andar, sem paradas, em 30 segundos enquanto o segundo faz este mesmo percurso em 3 minutos. Embora o trabalho realizado nos dois casos seja o mesmo, a taxa de transferência de energia é seis vezes maior no primeiro elevador do que no segundo o que implica em que os condutores que fornecem energia ao motor do primeiro elevador devem ter um dimensionamento diferente daqueles que levam energia ao motor do segundo elevador. A potência é dada por: P=E t (6.11) Considerando 6.3, 6.6 e 6.11 ter-se-á para a potência elétrica: 140 P=VxI 6.7. (6.12) CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO Neste capítulo viu-se um breve conceito de energia e exergia. Além disto mostrou-se que em processos de transformação de energias diretamente conversíveis em trabalho como a energia elétrica, pode-se considerar que a anergia associada ao processo. Desta forma, utilizando-se a expressão anteriormente vista: Energia = Exergia + Anergia Tem-se para os casos onde a Anergia é muito pequena, como no caso da conversão da energia elétrica em trabalho: Energia = Exergia Desta forma, no caso da energia elétrica, pode-se considerar que a energia elétrica e a exergia elétrica como sendo iguais. 141 CAPÍTULO 7 7. VALORAÇÃO ENERGÉTICA DO COBRE E DO ALUMÍNIO 7.1. INTRODUÇÃO Neste capítulo ver-se-á a energia associada a processos comerciais de obtenção dos metais cobre e alumínio, desde a extração da matéria prima para obtenção destes metais, concentração do minério dos quais serão refinados os metais até o processo de refino e a obtenção do metal primário. Será também avaliada a energia utilizada pela natureza, a partir de um dado estado de referência, para disponibilizar a matéria prima para obtenção do cobre e do alumínio nas concentrações encontradas em minas de exploração comercial além da energia química necessária para se obter os minérios dos quais os metais são refinados. Também será visto o grau de eficiência com que o alumínio e o cobre primário são obtidos se comparados com a energia mínima necessária para a obtenção dos mesmos. 142 7.2. PROCESSOS REAIS DE OBTENÇÃO DO ALUMINIO E DO COBRE 7.2.1. O Alumínio O alumínio é o metal mais abundante na crosta terrestre, correspondendo a mais de 8% da sua composição total. A principal fonte comercial deste metal é a bauxita. Trata-se de um metal que ganha cada vez mais importância em aplicações nos mais variados setores da economia. Segundo o Anuário Estatístico 2005 da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), os principais setores envolvidos no consumo de alumínio em 2005 foram: o setor de embalagens, transportes e setor elétrico de fios e cabos, conforme pode ser visto na tabela abaixo: Tabela 2: Maiores Setores Consumidores de Alumínio Fonte: Anuário Estatístico 2005 Ainda segundo a ABAL, o Brasil possui a terceira maior reserva mundial de bauxita, sendo o quarto maior produtor de alumina e o sexto maior produtor de alumínio primário. A produção do alumínio consiste, basicamente, nas seguintes etapas: a mineração e o beneficiamento da bauxita, a transformação da bauxita em alumina e a redução eletrolítica da alumina transformando-a em alumínio primário. 143 Tabela 3: Maiores Produtores de Alumínio Fonte: Anuário Estatístico 2005 A bauxita é um mineral rico em alumina sendo composta também de óxidos de ferro, silício e outros componentes menos relevantes. Sua mineração é feita a céu aberto, sendo lavada e seca antes do embarque para as áreas de transformação. A etapa subseqüente consiste na transformação da bauxita em alumina através do processo de Bayer, que ocorre com a dissolução do minério num banho aquecido a 1800 C em solda cáustica sob pressão, onde são separadas as impurezas insolúveis por precipitação e filtragem como, por exemplo, o óxido de ferro e o silício. Posteriormente, por resfriamento, é precipitado o hidrato de alumina o qual é transformado em alumina após calcinação. A próxima etapa – redução - consiste na ruptura da molécula de alumina em alumínio e oxigênio, por meio de um processo eletrolítico, a alta temperatura. Esta fase da cadeia produtiva do alumínio é muito intensiva em energia elétrica, insumo que corresponde entre 35% a 40% do custo de produção do alumínio primário. Em função desta característica, as plantas industriais de alumínio primário localizam-se preferencialmente em regiões com oferta abundante de energia elétrica e, se possível, próximas a jazidas de bauxita, o que torna, no Brasil, a região norte um local com vocação natural para a implantação desta indústria, em função das 144 grandes reservas de bauxita existentes no Pará associado a seu elevado potencial para produção de energia via centrais hidroelétricas. Pode-se dividir o de obtenção do alumínio processo em duas partes: energia de mineração e concentração e a energia de refino. A primeira delas, a energia de mineração e concentração, engloba deste a extração da bauxita até a obtenção da alumina. Para Chapman e Roberts (apud Garcia, 2004, p.94) o valor desta energia oscila entre 40 e 60 GJ por tonelada de alumínio correspondendo a faixa de 11.100 a 16.700 kWh/ton de alumínio. Já para Yoshiki-Gravelsins, Togury e Choo (apud Garcia,2004, p.94) este valor gira em torno de 36,6 GJ/ton ou 10.170 kWh/ton. Para a energia de refino, Chapman e Roberts (apud Garcia, 2004, p.94) estabelecem um valor de 228 GJ/ton de alumínio (63.334 kWh/ton). Já para YoshikiGravelsins, Togury e Choo (apud Garcia,2004, p.95) este valor é de 127,4 GJ/ton (35.389 kWh/ton). Por sua vez, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estabelece o valor de 14.500 kWh/ton como um patamar de eficiência das indústrias com plantas mais modernas, o que coincide com os dados da International Primary Aluminiun Institute (apud Garcia, 2004, p. 95) que estabelece uma faixa média entre15.500 a 17.300 kWh/ton de alumínio. Os dados referentes à etapa de mineração e concentração apresentam valores convergentes, mesmo considerando que os valores obtidos por YoshikiGravelsins, Togury e Choo estão abaixo do limite inferior da faixa estabelecida por Chapman e Roberts. Nesta dissertação será adotado o valor de 40 GJ/ton de alumínio (11.100 kWh/ton). Já para a etapa de refino, os dados apresentam uma alta dispersão. Tal fato deve-se a base em que foram tomadas. Os dados obtidos por Chapman e Roberts consideram uma eficiência no processo de conversão da energia de 30%. Já Yoshiki-Gravelsins, Togury e Choo consideram que 54% da energia envolvida no processo é de origem hidroelétrica, com eficiência de 80% e o restante de origem 145 térmica, com uma eficiência de 30%. Por sua vez, os dados da Empresa de Pesquisa Energética – epe – e da International Primary Aluminiun Institute não consideram a energia primária necessária, somente a energia útil. Considerando uma única base, de forma a se poder avaliar os encargos energéticos, ter-se-ia como energia útil para Chapman e Roberts: Eutil = 30% x 63.334 kWh/ton = 19.000,20 kWh/ton Para Yoshiki-Gravelsins, Togury e Choo terse-ia: Eutil = 46% x 30% x 35.389 kWh/ton + 54% x 80% 35.389 kWh/ton Eutil = 20.168,88 kWh/ton A Associação Brasileira do Alumínio – ABAL – em seu Anuário 2005, estratifica os principais insumos na produção do alumínio conforme tabela abaixo: Tabela 4: Principais Insumos na Produção do Alumínio Primário Fonte: Anuário Estatístico 2005 Considerando uma produção brasileira de alumínio primário de 1.457.000 toneladas e os dados de consumo de energia associados, no ano de 2004 (Anuário ABAL 2005, p. 20) além da eficiência de 30% na transformação dos combustíveis fósseis em energia, ter-se-á uma energia útil associada à obtenção do alumínio primário de 16.434,00 kWh/ton. 146 Figura 9: Etapas de Obtenção do Metal Primário. 147 Tabela 5: Energia Útil Associada à Produção do Alumínio Primário Chapman e Roberts Yoshiki-Gravelsins IPE 19.000,20 kWh/ton Inferior Superior Média 15.500,00 kWh/ton 17.300,00 kWh/ton 16.400,00 kWh/ton IPAI ABAL 20.168,88 kWh/ton 14.500,00 kWh/ton 16.434,35 kWh/ton Nesta dissertação serão assumidos os valores de 16.400 kWh/ton (59,04 GJ/ton) de energia útil no refino do alumínio e 40 GJ/ton de energia primária de mineração e concentração. 7.2.2. O Cobre Depois do alumínio, o cobre é o metal não ferroso mais utilizado na indústria por ser um excelente condutor tanto elétrico como térmico. Seu principal uso esta na indústria de fios e cabos elétricos que absorvem mais de 50% de sua produção. Também foi o primeiro metal a ser utilizado pelo homem. Estima-se que em 13.000 a.c. começou a ser utilizado como substituto da pedra como ferramenta de trabalho, armas e objetos de decoração. Neste período se dispunha do metal puro na superfície em forma de cobre nativo. O cobre não é tão abundante quanto o alumínio e, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, através do seu Sistema Brasileiro de Respostas Técnicas, tem aproximadamente 90% de suas reservas conhecidas localizadas em quatro regiões: na vertente ocidental dos Andes (Chile e Peru); Montanhas Rochosas e região dos Grandes Lagos, nos Estados Unidos; Planalto central africano (Zaire e Zâmbia) e no escudo pré-cambriano do centro da América do Norte (Canadá e Estado de Michigan, nos Estados Unidos). 148 A produção do cobre se inicia na exploração da mina que tanto pode ser a céu aberto como subterrânea. Depois de extraído, o minério, contendo de 1% a 2% de cobre, misturado com diversos tipos de materiais rochosos sem valor comercial – a ganga - passa por um processo de moagem e, posteriormente, por células de flotação que separa a sua parte rica em cobre do material inerte, convertendo-se em um concentrado de cobre de teor médio 30%. O concentrado de cobre é fundido em um forno onde são oxidados tanto o ferro como o enxofre presentes, chegando a uma concentração de 60% de cobre num composto intermediário denominado de matte. Este composto, em estado líquido, passa por um conversor onde é novamente oxidado através de um processo de insuflamento de oxigênio obtendo-se o cobre blister com teor de 98,5% e ainda com impurezas como resíduos de enxofre, ferro e metais preciosos. Ainda em estado líqüido, o cobre blister passa por outro processo de refino e, ao seu final, é moldado passando a ser chamado de ânodo de cobre com 99,5% de pureza. Após resfriados, os ânodos são postos em células de eletrólise, sendo então intercalados por finas chapas de cobre eletrolítico, denominadas de chapas de partida. Aplica-se uma corrente elétrica e o cobre se separa do ânodo indo se juntar com as chapas de partida, constituindo-se então no catodo de cobre, com grau de pureza superior a 99,99%. Da mesma forma que o alumínio, o processo de obtenção do cobre é intensivo no uso de energia. Pode-se, também, dividir o processo em duas partes: a mineração/concentração e o refino. A energia envolvida na primeira delas é a energia de mineração e concentração. Para Chapman e Roberts (apud Garcia, 2004, p.108) o valor desta energia oscila entre 40,7 GJ/ton para uma mina com concentração de 1% e 66,7 GJ/ton de cobre para uma mina com concentração de 0,6%. Já para Yoshiki- 149 Gravelsins, Togury e Choo (apud Garcia,2004, p.108) este valor médio gira em torno de 62,7 GJ/ton ou 17.420 kWh/ton. Nesta dissertação será adotado o valor de 62,7GJ/ton sugerido por Yoshiki-Gravelsins, Togury e Choo em função do mesmo estar contido dentro do intervalo proposto por Chapman e Roberts. Na etapa de refino, da mesma forma que o observado nos valores para o alumínio, os dados apresentam uma alta dispersão. Para Chapman e Roberts este valor é de 47 GJ/ton (13.055,56 kWh/ton) e para Yoshiki-Gravelsins, Togury e Choo este valor é de 95,5 GJ/ton (26.520 kWh/ton). Já a Empresa de Pesquisa Energética em seu relatório Estudos das Premissas Básicas para as Projeções do Mercado de Energia Elétrica 2005-2015 apresenta o valor de energia útil para a produção do cobre na Caraíba Metais de 1.750 kWh/ton enquanto diz que as estimativas para projetos de cobre da Companhia Vale do Rio Doce oscilam entre 2.200 a 4.900 kWh/ton. Partindo da mesma premissa em que os dados obtidos por Chapman e Roberts consideram uma eficiência no processo de conversão de 30% e os obtidos por Yoshiki-Gravelsins, Togury e Choo consideram que 54% da energia envolvida no processo é de origem hidroelétrica, com eficiência de 80% e o restante de origem térmica, com uma eficiência de 30% e que, por sua vez, os dados da Empresa de Pesquisa Energética – epe – representam a energia útil do processo, pode-se montar uma tabela comparativa trazendo todos os dados para a base de energia útil, conforme vista à seguir: Tabela 6: Energia Útil Associada a Produção do Cobre Primário Chapman e Roberts Yoshiki-Gravelsins Caraiba Metais (epe) CVRD (epe) 3.916,670 kWh/ton 15.116,40 kWh/ton Inferior Superior Média 1.750,00 kWh/ton 2.200,00 kWh/ton 4.900,00 kWh/ton 3.550,00 kWh/ton 150 Pode-se, portanto, observar que, excetuando-se os valores obtidos por Yoshiki-Gravelsins, Togury e Choo, quando trazidos para a mesma base os valores apresentam uma convergência. Segundo Garcia (2004, p. 108) os dados de Chapman e Roberts (1983) provem de várias fontes e, além disto, se encontra próximo do valor médio previsto pela EPE para as novas plantas da Companhia Vale do Rio Doce. Por estas razões, nesta dissertação, será utilizado o valor de 3.916,67 kWh/ton (14,10 GJ/ton) como a energia necessária para o cobre na etapa de refino. 7.3. VALORAÇÃO EXERGÉTICA DOS RECURSOS MINERAIS No item anterior foi vista qual a energia primária de mineração e concentração além da energia útil de refino tanto para o alumínio primário como para o cobre primário. Desta forma, pode-se determinar a energia primária total para a obtenção destes metais a qual irá variar a depender da estrutura da matriz energética utilizada na produção do mesmo. Contudo, não se levou em consideração os gastos energéticos utilizados pela natureza para a obtenção da concentração do metal na mina nem aqueles necessários à obtenção do composto do qual se refina o metal. É sob esta ótica que se pretende, nesta seção, avaliar a energia total envolvida no processo de obtenção do cobre e do alumínio primário considerando inclusive a energia dispendida pela natureza e introduzindo neste processo o grau de ineficiência existente nos processos produtivos atuais. Para tanto, iniciar-se-á estabelecendo a energia mínima necessária, apartir do ambiente de referência proposto por Ranz e Valero, para a obtenção do cobre e alumínio primários além de, considerando a ineficiência dos processos produtivos atuais, a energia total necessária para obtenção dos mesmos metais primários valorando, inclusive, a componente da energia utilizada pela natureza que propicia a exploração comercial dos mesmos metais. 7.3.1. Valoração Exergética dos Recursos Minerais. 151 Para valorar exergéticamente os recursos minerais, Garcia propõe considerar a quantidade mínima de energia que a natureza utiliza, em termos de concentração e composição, para dispor os minerais nas concentrações e composições químicas utilizadas na exploração comercial dos metais que deles são extraídos. Estes valores passam a ser parâmetros básicos que servirão tanto para mensurar a ineficiência dos processos produtivos hoje existentes como para determinar quais seriam os gastos energéticos reais caso a industria simulasse os processos naturais de concentração das minas e da obtenção das matérias primas antes dos processos de transformação. Desta forma, pode-se dividir o cálculo desta exergia em duas componentes: a primeira delas correspondendo à mínima energia que deveria ser gasta para trazer o minério até a sua concentração mínima necessária no processo comercial de refino do elemento desejado – energia total de concentração - e a segunda delas correspondendo a mínima energia necessária para a transformação do minério no elemento que se deseja obter – energia de refino. 7.3.1.1. Energia Total de Concentração Pode-se dividir esta energia em duas componentes: energia mínima de concentração (Emimconc) e a energia mínima de processo (Emimprocesso). A figura 9 seguinte mostra como ambas são distribuídas. A energia mínima de concentração (Emimconc) é a mínima energia utilizada pela natureza para trazer uma substância da concentração dada pelo ambiente de referência até o nível de concentração de uma mina capaz de ser explorada comercialmente. Já a energia mínima de processo (Emimprocesso) é a energia necessária para se obter a concentração máxima do minério antes da fase de refino para obtenção do metal, partindo da concentração da matéria prima da mina que esta sendo explorada. 152 Figura 10: Requerimentos energéticos para a concentração em função da concentração do elemento na natureza. Fonte Garcia (2004, p,142). Para a obtenção dos valores de Emimconc e Emimprocesso Garcia (2004) utilizou a seguinte função termodinâmica: bconc = -RT x [ ln (xi) + (1-xi ) x ln (1-xi ) ] xi (7.1) onde: bconc – Mínima energia requerida para se obter uma substância a partir de uma mescla ideal de componentes (kJ/kmol K); R – Constante universal dos gases (8,831451 kJ/kmol K); T – Temperatura no estado de referência (298,15 K); xi – Concentração do elemento I que se deseja separar da mescla. Garcia (2004, p. 141) ressalta que: [...] como a concentração do elemento no mineral antes do processo de refino se considerou como se o processo tivesse entregado o mineral do qual se extrai o metal em máxima concentração,separado 153 completamente de materiais estéreis ou de outros minerais ou metais, de interesse comercial que se possa aproveitar posteriormente.(tradução nossa) Para aclarar esta idéia, pode-se utilizar o exemplo do alumínio. Neste caso Emimconc é a mínima energia utilizada pela natureza para trazer a bauxita até as concentrações compatíveis com as existentes em minas comerciais e Emimprocesso, também denominada energia de concentração, é a mínima energia necessária para obtenção da alumina no estado de máxima concentração, antes da eletrólise, a partir da concentração da bauxita na mina. A Emimprocesso pode ser comparada com a energia real utilizada nos processos industriais na fase correspondente a mineração e concentração, já a Emimconc não é contemplada nos processos produtivos reais já que a natureza dispõe gratuitamente as reservas minerais. Garcia (2004,p. 141), em sua tese, utiliza a relação entre a energia real de concentração ou seja, a energia real consumida nos processos industriais necessárias para a extração do minério na mina e leva-lo a concentrações a partir do qual se possa iniciar o processo de refino, e a energia mínima de processo obtendo um coeficiente que denominou de Kc. Este coeficiente representa o grau de irreversibilidade do processo de concentração do mineral desde a mina até o início do processo de refino. Isto implica em que, quanto maior for o Kc maior será o desperdício energético já que expressa o grau de ineficiência do processo industrial. Desta forma, pode-se defini-lo como o inverso da eficiência. Kc = Erealprocesso Emimprocesso (7.2) Garcia propõe ainda que se aplique o mesmo fator à energia mínima de concentração (Emimconc). Tal fato simularia a energia necessária para a concentração do minério nos níveis de uma mina economicamente explorável incluindo as perdas devido às imperfeições dos processos produtivos atuais. Desta forma, a energia total 154 que seria dispendida pelo homem, considerando a tecnologia atual, da fase de concentração seria dada por: Energiaconcentração = Kc x Emimconc (7.3) Tabela 7 - Componente da energia mínima de concentração e de processo. Fonte: Garcia (2004, p.146). ELEMENTO C M(1) C E (2) ENERGIA EMIMPROCESSO % REAL GJ/TON KC EMINCONC GJ/TON GJ/TON Alumínio Cobre 8% 25,0 ppm 17,0 0,5 40 62,7 0,126 0,172 317,46 364,54 0,073 0,206 (1) Concentração do Elemento na Crosta Terrestre; (2) Concentração necessária para a exploração econômica; 7.3.1.2. Energia Total de Refino. A energia mínima total de concentração, vista no item anterior, visa expressar a energia necessária para se obter a concentração mínima, antes do início do processo comercial de refino, a partir de um dado estado de referência. Para expressar a energia investida no processo de transformação do minério no elemento desejado utiliza-se a expressão abaixo: bq = Σ [ Vk x bqelementok ] + ∆Gmineral (7.4) onde: bq – Energia mínima do mineral do qual se obtem o elemento desejado; Vk – Número de moles do elemento k que forma o mineral; bqelementok – Exergia do elemento k no ambiente de referência; ∆Gmineral – Energia livre de Gibbs do mineral do qual se extrai o elemento desejado. Segundo Garcia (2004, p. 148), a energia total de refino é descrita como: 155 [...] aquela que se deve à sua composição específica. Como exposto durante este capítulo, nem todos os minerais que contem um elemento são exploráveis do ponto de vista técnico e econômico. Por esta razão é necessário considerar o custo incorrido pela natureza para disponibilizar os minerais de exploração econômica com a composição a partir da qual se tornam exploráveis. (tradução nossa) Da mesma forma que a energia total de concentração, a energia total de refino pode ser dividida em duas componentes: a energia química de cada elemento que compõe o minério do qual se extrai o elemento desejado e a energia livre de Gibbs29 que expressa a energia necessária para a formação do minério a partir dos elementos que o formam. Segundo Garcia (2004, p.30), a exergia química de cada elemento corresponde à mínima energia requerida para se obter o mineral de exploração comercial a partir do ambiente de referência, neste caso, o ambiente de Szargut melhorado. Garcia também considera que a energia livre de Gibbs do minério do qual se deseja extrair um determinado elemento equivale a mínima energia que deveria ser consumida nos processos reais de refino, ou seja, aquela necessária para a transformação do minério concentrado no metal propriamente dito. Trata-se, portanto, da mínima energia necessária para se obter o elemento desejado a partir do mineral de exploração comercial. Tabela 8 - Componente da energia mínima de refino. Fonte: Adaptação da tabela de Garcia (2004, p.146). Elemento Mineral de Energia Livre Energia Equimmín Exploração Gibbs kJ/mol Real GJ/ton GJ/ton Comercial Alumínio Cobre 29 Al2O3 CuFeS2 1570,00 190,90 Kr 30 59,04 14,10 0,346 8,279 7,84 15,64 A energia livre de Gibbs é a quantidade de energia capaz de realizar trabalho durante uma reação química a temperatura e pressão constantes. A sua liberação caracteriza que uma reação é exotérmica e sua absorção que a reação é endotérmica. É também através desta energia que se define a espontaneidade de uma dada reação química. 30 Foi utilizado como energia real, ou seja, a energia que se utiliza nos processos industriais atuais, a energia útil. Esta opção deveu-se ao fato de que, com esta consideração, fica-se independente da matriz energética utilizada facilitando comparações posteriores. Caso não fosse feita desta forma, ter-se-ia valores significativamente diferentes para metais produzidos com energia secundária basicamente hidroelétrica daqueles produzidos basicamente com energia termoelétrica, por exemplo. 156 Da mesma forma como foi definido o custo exergético do processo real de concentração do minério (Kc), Garcia também valora o custo exergético do processo real de refino que é dado como: Kr = Ereal_refino ∆Gmineral (7.5) Na tabela acima pode-se ver as duas componentes da energia total de refino bem como o custo exergético de refino tanto para o alumínio como para o cobre. 7.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO Neste capítulo foi visto os valores de energia consumidos nos processos reais de obtenção do alumínio e cobre primário. Também viu-se os conceitos de exergia e a forma de valorar estes mesmos metais primários, além de se estabelecer fatores de eficiência comparativa entre os processos reais e os de mínima energia (exergia). O custo exergético total descrito por Garcia (2004) é dado pela formula abaixo: Ktotal = ( Erealrefino + Erealprocesso ) ( Eminrefino + Eminprocesso ) (7.6) A tabela abaixo foi montada considerando os valores estabelecidos por Garcia (2004) já que, em termos de energia útil os valores utilizados em seu trabalho estão bastante próximos aos utilizados como energia útil nesta dissertação para o caso do alumínio e são coincidentes no caso do cobre. 157 Tabela 9 - Custo Exergético Total. Elemento Aluminio Cobre Mineral Custo Exerg. de Processo Kc Custo Exerg. de Refino Kr Al2O3 CuFeS2 395,71 385,61 Custo Exerg. Total Kt 7,48 15,64 9,083 35,787 Analisando a tabela acima, vê-se que, segundo a abordagem de Garcia (2004), existe uma ineficiência maior na obtenção do cobre do que na obtenção do alumínio na ordem de quatro vezes. Se considerarem-se somente os valores de energia dos processos reais de obtenção do alumínio e do cobre vê-se que o cobre gasta 22,5% menos energia que o alumínio, para obtenção da mesma quantidade de metal. Tabela 10 - Energia dos Processos Reais. Elemento Energia total de Concentração GJ/ton Energia Total de Refino GJ/ton 40,00 62,70 59,04 14,10 Aluminio Cobre Energia Total GJ/ton 99,04 76,80 Tabela 11 – Mínima Energia Associada aos Metais Primários. METAL EXERGIA TOTAL DE CONCENTRAÇÃO (GJ/ton) CONCENTRAÇÃO PROCESSO EXERGIA TOTAL DE REFINO (GJ/ton) QUÍMICA GIBBS TOTAL ALUMÍNIO 0,073 0,126 0,346 15,398 15,943 COBRE 0,206 0,172 8,279 1,040 9,697 Desta forma, em relação ao alumínio, o cobre tanto requer menos energia nos processos comerciais e aqueles feitos pela natureza apresentando uma oportunidade de ganhos de rendimento maiores. 158 CAPÍTULO 8 8. CONDUTORES ELÉTRICOS E RAMAIS DE LIGAÇÃO 8.1. INTRODUÇÃO Neste capítulo, pretende-se mostrar uma sucinta definição de condutor elétrico além de uma visão comparativa entre condutores de cobre e alumínio. Será também mostrado os condutores utilizados pela Coelba em ramais de ligação de clientes monofásicos31, tanto no padrão utilizado em 2001 como o utilizado em 2006, quantificando-os em termos de energia associada à obtenção do metal primário necessário a formar 1 metro de cada tipo condutor. Ver-se-á, também, a evolução do ramal de ligação médio, as alterações nos valores de energia agregada aos mesmos considerando tanto a energia dos processos reais como a mínima energia necessária para a obtenção destes mesmos metais. 31 São chamados de clientes monofásicos aqueles clientes que são conectados à rede elétrica de baixa tensão da concessionária de distribuição de energia elétrica através de uma única fase. 159 Por fim serão mostrados os ganhos de eficiência no processo de novas ligações, a redução de desperdício de matéria prima, além da variação de custos que ocorreu na atividade. 8.2. CONDUTORES ELÉTRICOS São denominados condutores elétricos aqueles elementos que compõe um circuito elétrico e cuja finalidade é o transporte da energia elétrica. São produtos metálicos, comumente de forma cilíndrica32 em que o seu comprimento é muito maior que sua dimensão transversal. Os condutores são denominados fios elétricos quando são formados por um único condutor de seção transversal invariável. Quando os condutores são formados por um conjunto de fios justapostos passam a ser denominados cabos elétricos. Os fios elétricos são obtidos através de um processo de trefilação onde se passa o metal por uma série de roldanas subseqüentes, cada uma com o diâmetro menor que a anterior, de maneira em que, cada vez que se passa por cada roldana, se obtém um fio de seção inferior. Os dois metais mais utilizados na confecção de condutores elétricos são o cobre, com grau de pureza de 99,9%, e o alumínio, com grau de pureza de 99,5%. Na tabela 12 encontra-se algumas características do alumínio e do cobre: A condutividade elétrica de 100% para o cobre foi arbitrada pela IACS – International Annealed Copper Standart e assumida como padrão e corresponde à condutividade de um fio de cobre de 1 metro de comprimento e 1 mm2 de seção transversal a 20oC. 32 A forma cilíndrica não é a única utilizada na formação de condutores elétricos, porém será a única utilizada nesta dissertação. Os condutores não cilíndricos são comumente denominados de perfilados. 160 Tabela 12 - Características do Cobre e do Alumínio Características Densidade (g/cm3) Resistividade Elétrica (Ω x mm2/m a 20oC) Condutividade Elétrica (% IACS a 20oC) Cobre Alumínio 8,89 2,70 0,017241 0,02828 100 61 Com os dados de densidade e resistividade dos dois metais, pode-se fazer uma análise comparativa para saber qual é a relação de massa para que dois condutores, um de cobre e outro de alumínio, possam conduzir a mesma quantidade de corrente, sob a mesma diferença de potencial, de forma a ter a mesma queda de tensão ao longo do mesmo comprimento de condutor à temperatura de 20oC. Como: V=RxI (8.1) Onde V é a queda de tensão causada pela corrente I ao passar pela resistência R. Para se obter a mesma queda de tensão com a passagem da mesma corrente é necessário que as resistências dos dois fios, tanto o de cobre como o de alumínio sejam as mesmas. Como: R=ρxL A Onde: ρ – É a resistividade do metal utilizado no condutor; L – É o comprimento do condutor; A – É a seção transversal do condutor. (8.2) 161 Como o comprimento dos dois condutores é o mesmo, para que tenhamos a mesma resistência, então: ρCu = ρAl ACu AAl (8.3) AAl = ACu x ρAl ρCu (8.4) AAl = 1,64 x ACu (8.5) Pode-se, portando, observar que a área de um condutor de alumínio para uma mesma carga, num mesmo circuito, deveria ser 64% maior que a de um condutor de cobre. Contudo, os pesos específicos dos dois materiais são bastante diferentes como pode ser visto na tabela 12: PCu = 8,89 = 3,29 PAl 2,70 (8.6) Dos dados acima, pode-se concluir que: MCu = 3,29 = 2,01 MAl 1,64 (8.7) Do exposto se conclui que, mesmo com seção transversal dos condutores de alumínio sendo 64% maior que os condutores de cobre sob as mesmas condições, será necessário o dobro da massa de cobre para se obter o mesmo desempenho elétrico. 8.3. COMPARAÇÃO ENTRE CONDUTORES DE ALUMÍNIO E COBRE 162 Verificou-se que, numa comparação entre condutores de alumínio e cobre, para atendimento às mesmas cargas (distância, queda de tensão e nível de tensão) considerando a energia associada à produção do metal primário contido nos mesmos, tem-se: a) O condutor de cobre agrega 2,01 vezes mais massa (fórmula 8.7) que o seu equivalente em alumínio; b) O cobre consome 77,54 % da energia necessária para a produção da mesma massa de alumínio, considerando a etapa de obtenção do metal primário (Tabela 10). Considerando as duas assertivas supracitadas tem-se que o condutor de cobre consome 55,86% mais energia que o seu equivalente em alumínio tornando-o, no estado tecnológico atual, mais impactante em termos ambientais, considerando a ótica de energia associada ao produto. Caso a mesma comparação fosse feita considerando a mínima energia associada (exergia), ter-se-ia que a relação de massa continuaria sendo a mesma (2,01), contudo o cobre passa a consumir 60,82 % da exergia necessária para a produção da mesma massa de alumínio, considerando a etapa de obtenção do metal primário (Tabela 11). Considerando os dados acima, tem-se que o condutor de cobre consome 22,25 % mais exergia que o seu equivalente em alumínio tornando-o, no estado de ineficiência nulo, mais impactante em termos ambientais, considerando a ótica de energia associada ao produto. Desta forma, sob qualquer das duas óticas utilizadas, a substituição pura e simples dos condutores de alumínio por cobre levariam a um aumento do impacto ambiental. 163 8.4. RAMAIS DE LIGAÇÃO Para se obter uma definição clara do que será considerado como ramais de ligação, faz-se necessário conhecer algumas definições: I. Ponto de Entrega: Ponto de conexão do sistema elétrico da concessionária com as instalações elétricas da unidade consumidora, caracterizando-se como o limite de responsabilidade de fornecimento; II. Ponto de Medição: Local de instalação do(s) equipamento(s) de medição de energia elétrica da concessionária. III. Ramal de Entrada: Conjunto de condutores e acessórios compreendidos entre o ponto de entrega e o ponto de medição, de responsabilidade do cliente; IV. Ramal de Ligação: Conjunto de condutores e acessórios instalados entre o ponto de derivação da rede da concessionária e o ponto de entrega, de responsabilidade da concessionária. Em 2001, na norma vigente na Coelba, PCI 01, 1a Edição de 08/04/2000, o ramal de entrada e o ramal de ligação eram distintos conforme definição acima. Contudo, após a utilização de cabos concêntricos de cobre nas ligações monofásicas o ponto de entrega e o ponto de medição passaram a ser coincidentes. Desta forma não se tem um ramal de entrada. O ramal de ligação passa a ser o conjunto de condutores e acessórios instalados entre o ponto de derivação da rede da concessionária e o ponto de medição. Considerando os padrões vigentes em 2001 conforme figura 10, vê-se que os condutores utilizados, para clientes monofásicos, em rede aérea, eram cabos multiplexados de alumínio com bitolas de 10 e 16 mm2. Já o padrão vigente em 164 2006, conforme figura 11, a bitola dos ramais de ligação, para a mesma categoria de clientes, era de condutores de cobre concêntrico com bitolas de 6 e 10 mm2. Desta forma, passar-se-á a fazer uma análise da energia agregada à produção de 1 metro de cada condutor considerando somente a componente do metal primário agregado. 8.4.1. Alteração nos Tipos de Ramais. Em 2002 houve a troca de ramais multiplexados de alumínio para ramais concêntricos de cobre para os casos de ligações de clientes monofásicos. Contudo, esta troca não se deveu a uma preocupação com o meio ambiente. O móvel desta alteração foi a busca da redução das perdas comerciais através da coibição da prática do desvio embutido e da retirada de ligações clandestinas de outros ramais de serviço. Associada à mudança do ramal, foi implementada a rede secundária de distribuição multiplexada o que, na prática, dificultou a confecção de ligações clandestinas na rede de distribuição. A ação de substituição do ramal multiplexado de alumínio pelo concêntrico de cobre trouxe um outro ganho. Quando se utilizava o condutor de alumínio multiplexado o ramal de entrada e o ramal de ligação eram distintos, sendo o primeiro de responsabilidade do cliente e o segundo de responsabilidade da Coelba. Havia, portanto, entre os dois, um ponto de conexão a ser feito (dois conectores) o que gerava mais uma possibilidade de defeito. Com a implantação do ramal concêntrico de cobre a Coelba assumiu a responsabilidade do ramal de entrada para os clientes monofásicos lançando o condutor íntegro, sem emendas, o que eliminou um ponto de defeito na rede. Fonte: Norma Coelba PCI 01, 1a Edição de 08/04/2000 Notas: Bifásica Monofásica 10,1 - 15 15,1 - 20 5 6 2 2 1 5 3 2 - 2 2 2 1 1 70 60 40 70 40 15 O 25(25) 16(16) 10(10) 16(16) 6(6) 4(4) PVC 70 Cobre 2 (mm ) 25 - 1 25 - 1 20 - 3/4 20 - 3/4 20 - 3/4 40 – 1 1/4 32 – 1 1/4 32 - 1 32 - 1 25 - 3/4 25 - 3/4 25 - 3/4 PVC Aço mm - pol mm - pol Eletroduto (∅ ) 10 10 10 10 6 4 ( Nu ) Cobre 2 (mm ) Condutor 20 - 1/2 20 - 1/2 20 - 1/2 20 - 1/2 20 - 1/2 35(35) 16(16) 10(10) 16(16) 10(10) 10(10) 2 25(25) 16(16) 10(10) 25 - 1 25 - 1 20 - 3/4 20 - 3/4 20 - 3/4 40 – 1 1/4 32 – 1 1/4 32 - 1 32 - 1 25 - 3/4 25 - 3/4 10(10) 16(16) 25 - 3/4 6(6) PVC Aço mm - pol mm - pol (0,6/1 kV) (0,6/1 kV) (∅) PVC Alumínio Cobre 2 2 mm - pol (mm ) (mm ) 20 - 1/2 Eletroduto (∅ ) Eletroduto Condutor Condutor Aéreo COELBA Ramal de Ligação Subterrâneo Figura 11 - Tabela de Dimensionamento de Ramais de Entrada d) Não será permitido ramal de ligação subterrâneo em alumínio c) Medidores para unidades bifásicas serão de 2 elementos, 15A g) O eletroduto do aterramento poderá ser em aço, diâmetro de 15 mm ou ½” A potência do maior motor é fator determinante da faixa de ligação f) Até 10 4 2 - 1 (A) Condutor Aterramento b) Medidores para unidades monofásicas serão de 1 elemento, 15A 5,1 - 10 3 1 - F F tor S E CONSUMIDOR Ramal de Entrada e) Para seções superiores a 10 mmé obrigatório o uso de cabos (NBR 10676) 1,51 - 5 2 - F N Dis jun F A a) Não poderá ser utilizado disjuntor unipolar conjugado em ligações bifásicas Até 1,5 (kW) DADOS DA CARGA Carga Potência do Instalada maior motor ou solda a motor (cv) 1 TIPO LIGAI ÇÃO T E M DADOS ELÉTRICOS DO PADRÃO DE ENTRADA – UNIDADES CONSUMIDORAS COM LIGAÇÕES MONOFÁSICAS OU BIFÁSICAS SISTEMA 220/127 V TABELA 1 165 166 Figura 12 - Tabela de Dimensionamento de Ramais de Entrada Fonte: Norma Coelba SM04.14 – 01.001, 6a Edição de 08/05/2007 167 Figura 13 - Ramal de Ligação Aéreo sem Travessia de Rua Fonte: Norma Coelba SM04.14 – 01.001, 6a Edição de 08/05/2007 168 Figura 14 - Ramal de Ligação Aéreo com Travessia de Rua Fonte: Norma Coelba SM04.14 – 01.001, 6a Edição de 08/05/2007 169 8.4.2. Ramais Multiplexados de Alumínio. Os condutores de alumínio utilizados como ramais de ligação monofásicos são condutores formados por dois cabos, individualmente isolados, trançados, sendo um dos condutores a fase e o outro condutor o neutro. Tabela 13 - Tabela do Condutor Fase do Cabo Multiplexado de Alumínio Fonte: Norma Coelba ET GEB 034, 1a Edição de 30/09/1999 Tabela 14 - Tabela do Condutor Neutro do Cabo Multiplexado de Alumínio Fonte: Norma Coelba ET GEB 034, 1a Edição de 30/09/1999 Figura 15 – Cabo Multiplexado de Alumínio Os dados construtivos dos condutores estão mostrados nas tabelas 13 e 14 e foram extraídos da especificação técnica da Coelba feita para a aquisição destes condutores. 170 Para o cálculo do condutor fase, nos casos onde houver uma faixa de tolerância, serão utilizados, nesta dissertação os valores médios. Desta forma, para se determinar a quantidade de alumínio contido em 1 metro do cabo As Al 1kV 1 x 10 + 1 x 10 mm2 tem-se: QAl10 = 100 cm x 2,70 g/cm3 ((π x 0,212 cm2) + (π x 0,2052 cm2)) QAl10 = 73,054 g (8.8) Já para o caso do cabo As Al 1kV 1 x 16 + 1 x 16 tem-se: QAl16 = 100 cm x 2,70 g/cm3 (( π x 0,2452 cm2) + ( π x 0,2552 cm2)) QAl16 = 106,071 g (8.9) Para obter-se a quantidade de energia consumida na produção do metal primário em 1 metro de cada condutor poder-se-á fazer duas análises: a da quantidade de energia dos processos reais e a mínima quantidade de energia que a natureza utilizaria na produção do mesmo metal primário (exergia). Para o primeiro caso – energia consumida nos processos reais – conforme visto na Tabela 10, a energia necessária para a produção do alumínio primário é de 99,04 GJ/ton. Desta forma ter-se-á: EAl10 = 99,04 kJ/g x 73,054 g = 7,235 MJ (8.10) EAl16 = 99,04 kJ/g x 106,071 g = 10,505 MJ (8.11) Para o Segundo caso – mínima energia gasta pela natureza – utilizandose dos dados expressos na tabela 11, tem-se: EAl10 = 15,943 kJ/g x 73,054 g = 1,165 MJ (8.12) 171 EAl16 = 15,943 kJ/g x 106,071 g = 1,691 MJ 8.4.3. (8.13) Ramais Concêntricos de Cobre. Os condutores concêntricos passaram a ser utilizados pela Coelba com o intuito de reduzir a quantidade de desvios de energia, já que o mesmo torna mais difícil o processo de conexão de uma derivação dentro da parede do cliente e antes da medição da concessionária, mais comumente conhecido como desvio embutido. Figura 16 – Cabo Concêntrico de Cobre Conforme Figura 12 os condutores de cobre concêntricos utilizados na ligação de clientes monofásicos em rede aérea são os cabos monofásicos concêntricos de cobre bitolas 6 e 10 mm2. Como a especificação Coelba para estes condutores (ETD 00.11, 1a Edição de 17/10/2002) não especifica de forma direta o diâmetro dos fios que formam o condutor fase deste cabo, nesta dissertação, será utilizado a especificação criada para a Coelba e aprovada, por um dos fornecedores habituais deste material. Segue abaixo tabela do fornecedor: Tabela 15 - Dados Dimencionais Condutor Fase Cabo Concêntrico de Cobre Fonte: Fornecedor Coelba CONDUTORES FASE x SEÇÃO (mm2) NÚMERO DE FIOS DIÂMETRO DO FIO (mm2) 1 x 6,00 7 1,03 1 x 10,00 7 1,35 172 Tabela 16 - Dimencionais Condutor Neutro Cabo Concêntrico de Cobre Fonte: Fornecedor Coelba Seção do neutro (mm2) NÚMERO DE FIOS DIÂMETRO DO FIO (mm2) 6,00 38 0,45 10,00 38 0,57 Da mesma forma como foi feito para os condutores de alumínio, tem-se para o cabo concêntrico de cobre bitola 6 mm2: QCu6 = 100 cm x 8,89 g/cm3 ((7 x π x 0,05152 cm2)+(38 x π x 0,02252cm2)) QCu6 = 105,58 g (8.14) Para o cabo concêntrico de cobre bitola 10 mm2 tem-se: QCu10 = 100 cm x 8,89 g/cm3 ((7 x π x 0,06752 cm2)+(38 x π x 0,02852 cm2)) QCu10 = 175,27 g (8.15) Da mesma maneira como foi feito para obter-se a quantidade de energia consumida na produção do metal primário em 1 metro de cada condutor de alumínio, se obtém a energia necessária para a confecção do condutor de cobre. Considerando a energia consumida nos processos reais, conforme tabela 10, tem-se: ECu6 = 76,80 kJ/g x 105,58 g = 8,108 MJ (8.16) ECu10 = 76,80 kJ/g x 175,27 g = 13,461 MJ (8.17) 173 Considerando a mínima energia gasta pela natureza e utilizando os dados expressos na tabela 11, tem-se: 8.4.4. ECu6 = 9,697 kJ/g x 105,58 g = 1,024 MJ (8.18) ECu10 = 9,697 kJ/g x 175,27 g = 1,700 MJ (8.19) Ramais de Entrada. Os condutores utilizados nos ramais de entrada monofásicos de clientes individuais eram de responsabilidade dos clientes. Quando se utilizava o condutor de alumínio multiplexado o ramal de entrada e o ramal de ligação eram distintos, sendo o primeiro de responsabilidade do cliente e o segundo de responsabilidade da Coelba. Quando o ramal multiplexado de alumínio foi substituído pelo concêntrico de cobre trouxe um outro ganho além de dificultar o furto de energia através do desvio embutido. Havia entre os dois condutores um ponto de conexão a ser feito (dois conectores) o que gerava mais uma possibilidade de defeito. Com a implantação do ramal concêntrico de cobre a Coelba assumiu a responsabilidade do ramal de entrada para os clientes monofásicos lançando o condutor íntegro, sem emendas, o que eliminou um ponto de defeito na rede. Como a avaliação de impacto ambiental da situação atual envolve a análise do condutor lançado desde o ponto de conexão da rede até o ponto de medição, para se fazer uma correta comparação faz-se necessário a introdução dos gastos energéticos dos condutores que eram responsabilidade dos clientes (ramal de entrada). Os condutores dos ramais de entrada eram formados por fios de cobre nu eletrolítico, têmpera mole, classe de encordoamento 2 (rígido), isolado em composto termoplástico de PVC. Estes condutores são os mesmos usualmente empregados 174 nas instalações internas de força e luz em prédios, indústrias, comércios e residências. Conforme Figura 10 os condutores dos ramais de entrada possuíam bitola 4 mm2 e 6 mm2 para ramais de ligação de 10 mm2 de alumínio multiplexado e 16 mm2 para ramais de ligação de 16 mm2 de alumínio concêntrico. Apesar de ser conhecida a proporção entre ramais de ligação de 10 mm2 e 16 mm2 de alumínio, a proporção de ramais de entrada de 4 mm2 e 6 mm2 não o é já que, como os mesmos eram de responsabilidade do cliente, a Coelba não guardou este histórico. Para se ser conservador na análise dos resultados, nesta dissertação só será considerado o ramal de ligação de 4 mm2 cobre para o ramal de entrada de 10 mm2 de alumínio. Tabela 17 - Dados Dimencionais Condutor do Ramal de Ligação Fonte: Fornecedor Coelba SESSÃO DIÂMETRO DO DIÂMETRO MASSA NOMINAL CONDUTOR EXTERNO (kg/km) (mm2) (mm) (mm) 4 2,5 4,1 49 6 3,1 4,7 69 10 3,7 5,7 110 16 4,6 6,6 167 Para a determinação do comprimento médio do ramal de entrada tem-se que avaliar seu posicionamento em relação à rede de distribuição de energia da concessionária. Para aqueles que estão do mesmo lado da via pública em relação à referida rede de distribuição, seu comprimento padrão é de 3,5 m abatido da altura padrão da caixa de medição (1,60 m) equivalendo a 1,90 m. Já para aqueles que estão do outro lado da via pública este comprimento é de 5,50 m menos a altura padrão da caixa de medição que corresponde a 3,90 m. Pelos mesmos motivos relatados para a não existência de dados relativo às bitolas dos condutores de 4 mm2 e 6 mm2 dos ramais de entrada, a 175 concessionária não possui dados estatísticos sobre a quantidade de ligações efetuadas em residências que estão do mesmo lado da rede de distribuição em relação à via pública. Conduto pode-se considerar que, em função dos grandes números envolvidos e da distribuição aleatória do posicionamento das ligações em relação à rede, que a proporção é de 50%. Desta forma, nesta dissertação será considerado um comprimento médio do ramal de entrada de 2,90 m. Da mesma forma como foi feito para os condutores dos ramais de ligação, tem-se para o cabo do ramal de entrada de cobre bitola 4 mm2 considerando-se, um metro tanto para o condutor fase como para o condutor neutro: QCu4 = 87,28 g (8.20) Para um metro do ramal de ligação de cobre bitola 16 mm2 tem-se: QCu16 = 295,48 g (8.21) Da mesma maneira como foi feito para obter-se a quantidade de energia consumida na produção do metal primário em 1 metro de cada ramal de ligação, se obtém a energia necessária para a confecção do condutor de cobre do ramal de entrada. Considerando a energia consumida nos processos reais, conforme tabela 10, tem-se: ECu4 = 76,80 kJ/g x 87,28 g = 6,703 MJ (8.22) ECu16 = 76,80 kJ/g x 295,48 g = 22,693 MJ (8.23) Considerando a mínima energia gasta pela natureza e utilizando os dados expressos na tabela 11, tem-se: 176 8.5. ECu4 = 9,697 kJ/g x 87,28 g = 0,846 MJ (8.24) ECu16 = 9,697 kJ/g x 295,48 g = 2,865 MJ (8.25) REDUÇÃO DE CUSTOS Em 01/11/2001 foi criado na Coelba o TNL – Departamento de Novas Ligações - cuja função era a de atender a todos os pedidos de ligação de clientes ou alteração de carga, quer fosse necessária à execução de obras quer estes pedidos só necessitassem da interligação a rede da concessionária sem necessidade de obras. A criação deste departamento foi a finalização de um processo de reengenharia que culminou numa estrutura idiossincrática para o setor elétrico de distribuição. Normalmente, nas concessionárias, este processo é desmembrado em duas estruturas distintas. A parte referente a ligação de clientes ou alteração de carga que envolve estudo de rede, o que normalmente culmina num projeto elétrico e na execução de uma obra, fica ligado a um departamento de projetos e construção. A este departamento normalmente cabe a feitura de um projeto elétrico e a execução de uma obra sem que o mesmo departamento faça a referida ligação do cliente. A etapa de ligação do cliente, com ou sem obra, normalmente fica a cargo de outro departamento que também agrega as atividades de corte e religação e, em alguns casos, as atividades de turmas de manutenção de emergência leve. Com a criação do Departamento de Novas Ligações consegue-se uma sinergia nas atividades de ligação com obras, já que a mesma turma que construía a rede ligava o cliente. 177 Em 26/04/2002 foi promulgada a lei 10.438 que instituiu a universalização do acesso à energia elétrica. A mesma foi regulamentada através da Resolução ANEEL 223/03 de 29/04/03. Posteriormente, a Lei 10.762 de 11/11/03 modificou critérios que restringiram o âmbito da universalização com a exclusão de consumidores com carga instalada superior a 50 kW, consumidores com tensão de fornecimento superior a 2,3 kV e clientes que requererem aumento de carga, além das cargas de iluminação pública cuja exclusão estava prevista desde 2002. Com a implantação da universalização, a quantidade de ligações oriundas de obras começou a aumentar alem de ter seu custo por cliente com obra33 crescente conforme pode ser observado no gráfico abaixo. 180% 160% 140% 120% 100% 2002. 2003. 2004. 2005. 2006. Figura 17 - Evolução do Custo de Ligação com Obras - |Coelba Fonte: Departamento de Novas Ligações - Coelba Já nas atividades de ligação de clientes que não envolviam obras, que serão denominadas de ligações de crescimento vegetativo, por não ter sofrido com a alteração da legislação, teve seus custos reduzidos em função das mudanças de gestão no departamento de Novas Ligações. Uma das ações foi a redução dos custos com as visitas que não geravam ligações em função de inconformidades nos padrões de entrada. Uma das principais ações adotadas para esta melhoria foi a criação do programa de Lojas Certificadas que foi, inclusive, premiada em 2002 pela Associação Nacional dos Comerciantes de 178 Material de Construção (ANAMAC). As Lojas Certificadas são lojas que vendem materiais de construção cujos vendedores são continuamente treinados nos padrões de entrada da Coelba. Além do treinamento com os vendedores, são também treinados, em convênio com o SENAI, os montadores de padrão que orbitam as lojas de materiais de construção. 90% 85% 80% 75% 70% 65% 60% 2001. 2002. 2003. 2004. 2005. 2006. Figura 18 - Evolução do Índice de Ligação na Primeira Visita - Coelba Fonte: Departamento de Novas Ligações - Coelba Outra melhoria que pôde ser observada é a redução do ramal médio de ligação. Esta melhoria deveu-se a um processo de redução de custos da atividade e envolveu a diminuição de desperdício de materiais por parte das prestadoras de serviços. Estas duas ações, principalmente, e mais especificamente a redução de desperdício de materiais, levaram a uma redução nos custos do processo de ligações sem obra, objeto de análise desta dissertação. Como pode ser visto na figura 20, houve uma redução de custos na atividade de ligação de clientes de 28,40%, conseguida, basicamente, com otimização do processo e redução de desperdícios. 33 O custo de cliente com obra é dado pela razão entre somatório do custo das obras (postes, cabos, mão de obra própria e terceirizada, transporte de materiais, etc.) e a quantidade total de clientes ligados com obra. 179 140% 130% 120% 110% 100% 90% 2001. 2002. 2003. 2004. 2005. 2006. Figura 17 - Evolução do Comprimento do Ramal Médio - Coelba Fonte: Departamento de Novas Ligações - Coelba 140,00% 130,00% 120,00% 110,00% 100,00% 90,00% 2001. 2002. 2003. 2004. 2005. 2006. Figura 18 - Evolução do Custo Médio de Ligação - Coelba Fonte: Departamento de Novas Ligações - Coelba 8.6. EVOLUÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL A redução mostrada na figura 16, em termos absolutos, representou uma redução no ramal médio de 19,02 m em 2001 para 14,64 m em 2006. Para o cálculo do impacto ambiental irá se considerar a seguinte composição dos ramais monofásicos: 180 a) Para os dados de 2001 será considerado um ramal médio de ligação de 19,02 sendo que, 63,5% das ligações monofásicas se deram com cabos de 10 mm2 e 36,5% com cabos de 16 mm2 ambos cabos multiplexados de alumínio. b) Ainda para os dados referentes a 2001 será considerado o ramal de ligação médio de 2,9 m mantendo-se a proporção de 63,5% compostos por cabos de cobre de 4 mm2 e 36,5% com cabos de cobre de 16 mm2. c) Para os dados de 2006 será considerado um ramal de ligação médio de 14,64 m, sendo que 63,5% das ligações monofásicas se deram com cabos de 6 mm2 e 36,5% com cabos de cobre concêntricos. d) Nos dados de 2006 não serão considerados os ramais de entrada já que os mesmos foram assumidos pela concessionária e já estão considerados nos ramais de ligação médios. Embora a proporção de cabos de 6 mm2 tenha sido maior em 2006, em função principalmente da agregação de cargas menores no processo de universalização, foi mantida a mesma proporção que em 2001 para que a comparação do impacto ambiental se proceda sem interferências de outras variáveis não gerenciadas dentro do processo. Como já exposto no capítulo 5 desta dissertação o impacto ambiental será medido pela quantidade de energia agregada a determinado produto. Desta forma serão feitas duas análises distintas da energia agregada aos condutores dos ramais de ligação. A primeira delas, considerando a energia associada aos processos reais (econômicos) de produção para a obtenção do metal primário de que são feitos os condutores e a segunda delas considerando a energia mínima que a natureza disporia para obter estes mesmos metais primários. 181 8.6.1. Impacto Ambiental – Energia dos Processos Reais. Considerando a energia dos processos reais, pode-se ver nas fórmulas 7.10 e 7.11 que para os ramais de ligação compostos por cabos multiplexidados de alumínio 10 mm2 e 16 mm2 ter-se-á, para um metro de condutor, respectivamente 7,235 MJ e 10,505 MJ. Considerando os dados de 2001 com ramal médio de 19,02 m e a proporção de 63,5% das ligações monofásicas com cabos de 10 mm2 e 36,5% com cabos de 16 mm2, ambos de alumínio multiplexados obtem-se: Ramalal = 19,02 m x ( 7,235 MJ/m x 63,5% + 10,505 MJ/m x 36,5%) Ramalal = 160,31 MJ (8.26) Para o ramal de ligação médio composto por condutores de cobre de bitolas de 4 mm2 e 6 mm2 onde a energia associada aos processos reais pode ser obtida nas fórmulas 7.22 e 7.23, na proporção de 50% cada e de comprimento de 2,9 m tem-se: Ramalentrada_Cu = 2,9 m x ( 6,703 MJ/m x 50% + 22,693 MJ/m x 50%) Ramalentrada_Cu = 42,62 MJ (8.27) Considerando a energia dos processos reais para os condutores de cobre concêntricos pode-se ver nas fórmulas 8.16 e 8.17 que para os cabos de 6 mm2 e 10 mm2 ter-se-á, para um metro de condutor, respectivamente 8,108 MJ e 13,461 MJ. Considerando os dados de 2006 com ramal médio de 14,64 m e a proporção de 63,5% das ligações monofásicas com cabos de 10 mm2 e 36,5% com cabos de 16 mm2, ambos de cobre concêntricos obtem-se: 182 Ramalcu = 14,64 m x ( 8,108 MJ/m x 63,5% + 13,461 MJ/m x 36,5%) Ramalcu = 147,31 MJ (8.28) Comparando o gasto energético na produção do metal primário dos condutores de alumínio e de cobre com seus respectivos comprimentos médios em 2001 e em 2006, tem-se: Tabela 18 - Energia Real Associada ao Ramal RAMAL DE LIGAÇÃO ANO RAMAL DE ENTRADA TOTAL TAMANHO (m) ENERGIA (MJ) TAMANHO (m) ENERGIA (MJ) (MJ) 2001 19,02 160,31 2,9 42,62 202,93 2006 14,62 147,31 0 0 147,31 Pode-se observar que houve uma redução de 27,41% na energia associada ao ramal médio, mesmo com uma redução de 33,30 % no seu comprimento. Caso não tivesse havido uma ruptura tecnológica do processo, ou seja, a substituição do cabo de alumínio pelo de cobre ter-se-ia: Ramalal = 14,64 m x (7,235 MJ/m x 63,5% + 10,505 MJ/m x 36,5%) Ramalal = 123,40 MJ (8.29) Como isto a redução da energia associada seria 39,19%, superior à redução do ramal médio de ligação. Desta forma a redução do impacto seria superior à redução do desperdício no processo. 8.6.2. Impacto Ambiental – Energia Mínima de Processo. 183 Da mesma forma que no item 8.6.1, far-se-á uma análise considerando a energia mínima que a natureza utilizaria para a obtenção dos metais primários. Pode-se ver nas fórmulas 7.12 e 7.13 que para os cabos multiplexidados de alumínio 10 mm2 e 16 mm2 ter-se-á, para um metro de condutor, respectivamente 0,679 MJ e 0,978 MJ. Considerando os dados de 2001 com ramal médio de 19,02 m e a proporção de 63,5% das ligações monofásicas com cabos de 10 mm2 e 36,5% com cabos de 16 mm2, ambos de alumínio multiplexados obtem-se: Ramalal = 19,02 m x ( 1,165 MJ/m x 63,5% + 1,691 MJ/m x 36,5%) Ramalal = 25,81 MJ (8.30) Para o ramal de ligação médio composto por condutores de cobre de bitolas de 4 mm2 e 6 mm2 onde a energia associada aos processos reais pode ser obtida nas fórmulas 8.24 e 8.25, na proporção de 50% cada e de comprimento de 2,9 m tem-se: Ramalentrada_Cu = 2,9 m x ( 0,846 MJ/m x 50% + 2,865 MJ/m x 50%) Ramalentrada_Cu = 5,192 MJ (8.31) Considerando a energia dos processos reais para os condutores de cobre concêntricos pode-se ver nas fórmulas 8.18 e 8.19 que para os cabos de 6 mm2 e 10 mm2 ter-se-á, para um metro de condutor, respectivamente 0,227 MJ e 0,376 MJ. Considerando os dados de 2006 com ramal médio de 14,64 m e a proporção de 63,5% das ligações monofásicas com cabos de 10 mm2 e 36,5% com cabos de 16 mm2, ambos de cobre concêntricos obtem-se: Ramalcu = 14,64 m x ( 1,024 MJ/m x 63,5% + 1,700 MJ/m x 36,5%) 184 Ramalcu = 25,27 MJ (8.32) Comparando o gasto energético na produção do metal primário dos condutores de alumínio e de cobre com seus respectivos comprimentos médios em 2001 e em 2006, tem-se: Tabela 19 – Mínima Energia Associada ao Ramal RAMAL DE LIGAÇÃO ANO RAMAL DE ENTRADA TOTAL TAMANHO (m) ENERGIA (MJ) TAMANHO (m) ENERGIA (MJ) (MJ) 2001 19,02 25,81 2,9 5,19 31,00 2006 14,62 25,27 0 0 25,27 Pode-se observar que houve uma redução de 20,33% na energia associada ao ramal médio. 8.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO Neste capítulo, foram mostrados os padrões que eram utilizados em 2001 e em 2006 além de se fazer uma análise comparativa entre condutores de alumínio e condutores de cobre. Nesta análise verificou-se que, para uma mesma distância e com os mesmos critérios de queda de tensão para atendimento de uma mesma carga, o condutor de cobre, mesmo tendo uma seção transversal menor (bitola) requer uma massa equivalente ao dobro da massa do condutor de alumínio equivalente34. Viu-se também que o processo de ligação conseguiu uma redução de 29,92% no comprimento do ramal médio de ligação o que implicou num ganho de eficiência do processo e, se for incluído no cálculo o ramal de entrada, este ganho passa a ser de 33,30 %. 34 O condutor equivalente de alumínio é aquele que, para uma dada carga e uma dada demanda tem a mesma queda de tensão que um condutor de cobre sob as mesmas condições. 185 Foi analisada a evolução do impacto ambienta da situação de 2001 para a de 2006, considerando a energia associada à obtenção do metal primário nos ramais médios de 2001 e aos de 2006 sob duas óticas: a da energia dos processos reais de produção e a energia mínima necessária para a produção destes mesmos metais (exergia) Constatou-se que pela análise da energia associada aos processos reais houve uma redução no impacto ambiental da atividade em 27,41%, mesmo com a redução do ramal médio em 33,30 %. Também foi visto que utilizando uma análise exergética houve uma redução do impacto ambiental em 20,33%. 186 CAPÍTULO 9 9. CONCLUSÃO 9.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nesta dissertação procurou-se analisar a redução do impacto ambiental na atividade de ligações de clientes monofásicos da Coelba, avaliando o impacto ambiental sobre a ótica da energia associada a um dado produto, no caso específico, o ramal de ligação de clientes. Como delimitação do escopo foram considerados os ramais de ligação monofásicos de clientes ligados na Coelba no período compreendido entre janeiro/2001 até dezembro/2006. Também foi considerada, somente, a energia agregada necessária à produção do metal primário contida em cada ramal. Observou-se, durante a dissertação, a evolução das empresas de energia elétrica no Brasil e na Bahia bem como a aderência da gestão das mesmas com os principais pensamentos econômicos vigentes no mundo e como o modelo atual procura simular um mercado de livre concorrência mesmo nas empresas que 187 trabalham num ambiente de monopólio natural, possibilitando mostrar a relevância do enfoque da redução de custos para o caso em estudo. Para a avaliação do impacto ambiental foi analisada a energia associada à produção do metal primário contido nos condutores. Desta forma, foi considerado menos impactante os condutores que possuíam menor energia agregada para a mesma aplicação. Foram vistas duas abordagens para a energia agregada: aquela obtida nos processos reais de produção dos metais primários e a mínima energia necessária para a obtenção destes mesmos metais (exergia). Tabela 20 - Variação de Energia e de Custos – Processos Reais ENERGIA DOS PROCESSOS REAIS RAMAL DE ENTRADA (m) RAMAL DE LIGAÇÃO (m) ENERGIA (MJ) CUSTO (%) 2001 2,9 19,02 202,93 128,40 2006 0 14,62 147,31 100 REDUÇÃO 2,9 4,4 55,62 28,40 Tabela 21 - Variação de Energia e de Custos – Energia Mínima ENERGIA MÍNIMA DOS PROCESSOS RAMAL DE ENTRADA (m) RAMAL DE LIGAÇÃO (m) ENERGIA (MJ) CUSTO (%) 2001 2,9 19,02 31,00 128,40 2006 0 14,62 25,27 100 REDUÇÃO 2,9 4,4 5,73 28,40 Nesta dissertação foi considerada, para a avaliação do impacto ambiental, a energia dos processos reais na produção dos metais primários que formam os condutores dos ramais tanto em 2001 como em 2006. 188 Esta decisão não se deveu a aplicação do princípio da Navalha de Ockham e sim ao fato de que a economia gerada no processo de Novas Ligações foi obtida dentro de processos econômicos tradicionais, ou seja, os custos ambientais não foram economicamente valorados. Mantendo-se, portanto, a coerência de fontes para comparação na análise da redução do impacto ambiental e dos custos foi considerada a energia real associada ao processo de produção dos metais primários de cada condutor. 9.2. CONCLUSÃO DO ESTUDO DE CASO A pergunta a ser respondida neste estudo de caso é: As inovações introduzidas na atividade de ligação de clientes monofásicos na Coelba entre 2001 e 2006, tanto no processo como no produto, reduziram o impacto ambiental desta atividade, com redução de custos? As duas hipóteses iniciais foram: i) As inovações introduzidas nos materiais utilizados na ligação de novos clientes reduziram o impacto ambiental da atividade. ii) As inovações introduzidas nos procedimentos, controles e logística na ligação de novos clientes reduziram o custo e o impacto ambiental da atividade. Viu-se que a primeira hipótese mostrou-se falsa. A troca do ramal de ligação de alumínio para cobre mostrou-se mais impactante ambientalmente, considerando a ótica de energia associada à produção do metal primário contido nos ramais de ligação. Embora o alumínio possua uma energia agregada a sua produção, por unidade de massa, maior do que a do cobre além de que a resistividade do alumínio também é maior que a do cobre o que leva a condutores equivalentes com bitola 189 superior, a diferença de densidade entre os dois metais foi tão grande que compensou estas duas desvantagens em relação ao alumínio. Já no que concerne à segunda hipótese a mesma mostrou-se verdadeira. A redução do ramal médio de 21,92 m (19,02 m do ramal de entrada e 2,90 m do ramal de ligação) em 2001 para 14,62 m em 2006 (nesta situação o ramal de entrada foi considerado nulo já que o ramal de ligação passou a se estender até a medição) mostrou-se determinante na redução do impacto ambiental. Como pode ser visto na tabela 21, caso fossem mantidos os condutores de alumínio ao invés de substituí-los pelos de cobre, porém preservando as demais alterações a redução do impacto ambiental seria de 39,19% superior ao obtido com os ramais de cobre que foi de 27,41% (vide item 8.6.1). No estudo de caso em questão, houve redução do impacto ambiental com redução concomitante de custos. Contudo, este resultado deveu-se às mudanças inseridas na gestão do processo e não na mudança ocorrida nos materiais utilizados. Uma razão para este desempenho pode residir no fato de que, embora as alterações implementadas nos métodos de gestão visassem claramente a redução de custos associado à diminuição dos desperdícios tanto de material quanto de mão de obra, os motivos que levaram às mudanças nos condutores tinham um foco distinto. Como o principal motivo da utilização do cabo concêntrico de cobre foi o combate às perdas comerciais, minimizando tanto as ligações clandestinas diretamente conectadas diretamente a outros ramais de ligação (gatos) quanto aos furtos de energia através de uma derivação no ramal de entrada conhecida como desvio embutido, o mesmo não guardava uma relação direta com a redução de custos/impacto ambiental da atividade de ligação. Desta forma, enquanto as alterações na gestão contribuíram diretamente para a minimização de custos e do impacto ambiental já que tinham forte 190 direcionamento na redução de desperdícios, as alterações dos materiais empregados não tinham o compromisso de guardar nenhuma relação com a melhoria dos processos de ligação de clientes já que tinham seu foco no combate às perdas comerciais. Tabela 22 - Variação de Energia dos Ramais de Ligação sem troca de material 9.3. RAMAL DE ENTRADA (m) RAMAL DE LIGAÇÃO (m) ENERGIA (MJ) CUSTO (%) 2001 2,9 19,02 202,93 --- 2006 0 14,62 123,4 --- REDUÇÃO 2,9 4,4 79,53 --- OUTRAS CONSIDERAÇÕES E PROPOSIÇÃO DE NOVOS ESTUDOS Uma questão a ser levantada é que, embora não tenha sido utilizada para a validação da redução do impacto ambiental nesta dissertação, a análise da energia mínima (exergia) associada à produção dos metais primários que formam os condutores do ramal de ligação mostra que existe aproximadamente quatro vezes mais ineficiência na obtenção do cobre primário do que na obtenção do alumínio (tabela 9). Com isto, a possibilidade de ganhos de eficiência na produção do cobre se mostra maior que no alumínio. Desta forma, a análise exergética mostra-se uma poderosa ferramenta para medir a eficiência de um processo produtivo, transcendendo a limitação de análise de eficiência da tecnologia disponível e apontando na direção da capacidade de evolução da eficiência de uma atividade, independentemente do estado tecnológico do processo industrial vigente. 191 Como proposição de estudos complementares a esta dissertação ter-se-ia a análise da fase de trefilação na formação dos condutores considerando a energia associada a esta etapa da fabricação. Outro ponto a ser estudado é a energia agregada à isolação dos condutores. Como os condutores de alumínio têm uma seção transversal 1,64 vezes maior que os seu equivalente em cobre, considerando-se uma comparação de condutores singelos equivalentes, de mesmo comprimento e mesma isolação, o condutor de alumínio necessitaria de 28,06 % mais material isolante do que o de cobre. Outra questão a ser considerada em estudos posteriores é a matriz energética dos fornecedores dos metais primários. Esta consideração poderá afetar significativamente a escolha de um ou outro fornecedor caso o foco do comprador seja a redução do impacto ambiental sob a ótica da energia associada ao produto. 192 REFERÊNCIAS ABREU, Yolanda Vieira de. A Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro: Questões e Pespectivas. 1999. 184 f. Dissertação (Mestrado em Energia) Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia, Universidade de São Paulo, São Paulo. ARAÚJO, J. L. R. H. de. Regulação de Monopólios e Mercado: questões básicas. Rio de Janeiro: IE/UFRJ, 2001, mimeo. BELLO, José L. P. Metodologia Científica: Manual para Elaboração de Textos Acadêmicos, Monografias, Dissertações e Teses. Rio de Janeiro: Universidade Veiga de Almeida, 2005. CANAS, Ângela Pereira de Matos. Análise da Intensidade de Utilização de Materiais na Economia. 2002. 151 f. 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Decreto 24.643 de 10 de julho de 1934 – Este decreto instituiu o Código de Águas, incorporando ao patrimônio da União a propriedade das quedas d´águas, além de atribuir a ela a competência de outorga ou concessão para o aproveitamento em energia elétrica resguardando, contudo, os direitos daqueles que já exploravam potenciais hidroelétricos; 3. Decreto-Lei 852 de 11 de novembro de 1938 – Este decreto-lei obrigava a ter autorização ou concessão federal para o estabelecimento de linhas de transmissão ou redes de distribuição de energia elétrica; 4. Decreto-Lei 938 de 08 de dezembro de 1938 - Este decreto subordinou a prévia autorização governamental o funcionamento de sociedades que se dispusessem a promover a produção comercial de energia elétrica; 5. Decreto-Lei 2.059 de 05 de abril de 1940 – Este decreto-lei possibilitou que empresas que exploravam energia elétrica antes da criação do Código de Águas pudessem ampliar as suas instalações; 6. Decreto-Lei 2.676 de 04 de outubro de 1940 – Este decreto-lei estabeleceu penalidades para as empresas que se negassem a continuar a atender consumidores existentes o que se recusassem a atender a novos consumidores; 197 7. Decreto-Lei 3.128 de 19 de abril de 1941 – Este decreto-lei estabeleceu instrumentos jurídicos obrigando o investimento das empresas e limitou a 10% do investimento o lucro resultante da exploração do serviço; 8. Decreto-Lei 7.062 de 22 de novembro de 1944 – Este decreto-lei estabeleceu que os bens e instalações das empresas de energia elétrica não poderiam ser desmembrados, vendidos ou cedidos sem a prévia autorização do poder concedente; 9. Decreto 8.031 de 03 de outubro de 1945 – Este decreto criou a Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF; 10. Lei no 8.631 e decreto no 774 de 1993: Estabelecem o fim da equalização tarifária35 e seus instrumentos; reativa a Reserva Global de Reversão ( fundo compulsório destinado ao financiamento da melhora e expansão dos serviços públicos de energia elétrica) e cria o Conselho de Consumidores; 11. Decreto no 1009 de 1993: Estabelece o livre acesso à malha federal de transmissão; 12. Lei no 8.987 de 1995: Obriga a licitação das concessões dos serviços elétricos além de definir os critérios gerais a serem aplicados nas licitações e nos contratos de concessão; 13. Decreto no 1.503 de 1995: Inclui o sistema ELETROBRÁS no programa nacional de desestatização; 14. Lei no 9.074 de 1995: Libera os grandes consumidores do monopólio comercial das concessionárias; 15. Decreto no 2.003 de 1996: Regulamenta a produção de energia elétrica por produtor independente e autoprodutor; 35 Definir equilização tarifária 198 16. Lei no 9.427 de 1996: Institui a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL; 17. Portaria no 459/97 de 1997: Regulamenta as condições de livre acesso aos sistemas de transmissão e distribuição; 18. Portaria no 466/97 de 1997: Estabelece as condições gerais de fornecimento de energia elétrica; 19. Lei no 9.648 de 1998: Cria o Mercado Atacadista de Energia – MAE e o Operador Nacional do Sistema – ONS, reestruturando o setor elétrico. 199 APÊNDICE B – Energia Mínima de Concentração e Energia Química Conforme visto no capítulo 7, Garcia (2000) propõe que a energia gasta pela natureza para a produção do metal primário pode ser dividida em quatro componentes: energia mínima de concentração, energia mínima de processo, energia química dos elementos e a energia livre de Gibbs. Garcia (2000) também considera que, das quatro componentes, somente duas podem ser diretamente relacionadas com os processos produtivos reais: a energia mínima de processo e a energia livre de Gibbs. Neste apêndice será verificado se a desconsideração das componentes correspondentes à energia mínima de concentração e a energia química dos elementos altera qualitativamente a análise feita. Conforme pode ser observado na tabela 11, a soma da energia mínima de processo e da energia livre de Gibbs para o alumínio é de 15,524 GJ/ton. Já para o cobre este somatório corresponde a 1,212 GJ/ton. Considerando os valores obtidos através das equações 8.8 e 8.9 ter-se-á, para os condutores de alumínio multiplexado As Al 1kV 1 x 10 + 1 x 10 e As Al 1kV 1 x 16 + 1 x 16: EAl10 = 15,515 kJ/g x 73,054 g = 1,133 MJ EAl16 = 15,515 kJ/g x 106,071 g = 1,646 MJ Para os ramais de entrada de cobre tem-se: 200 ECu4 = 1,212 kJ/g x 87,28 g = 0,106 MJ ECu16 = 1,212 kJ/g x 295,48 g = 0,358 MJ Para os casos dos condutores de cobre concêntricos tem-se: ECu6 = 1,212 kJ/g x 105,58 g = 0,128 MJ ECu10 = 1,212 kJ/g x 175,27 g = 0,212 MJ Considerando os dados de 2001 com ramal médio de 19,02 m e a proporção de 63,5% das ligações monofásicas com cabos de 10 mm2 e 36,5% com cabos de 16 mm2, ambos de alumínio multiplexados obtem-se: Ramalal = 19,02 m x ( 1,133 MJ/m x 63,5% + 1,646 MJ/m x 36,5%) Ramalal = 25,11 MJ Para o ramal de ligação médio composto por condutores de cobre de bitolas de 4 mm2 e 6 mm2, na proporção de 50% cada e de comprimento de 2,9 m tem-se: Ramalentrada_Cu = 2,9 m x ( 0,128 MJ/m x 50% + 0,212 MJ/m x 50%) Ramalentrada_Cu = 0,493 MJ Considerando os dados de 2006 com ramal médio de 14,64 m e a proporção de 63,5% das ligações monofásicas com cabos de 10 mm2 e 36,5% com cabos de 16 mm2, ambos de cobre concêntricos obtem-se: Ramalcu = 14,64 m x ( 0,106 MJ/m x 63,5% + 0,358 MJ/m x 36,5%) 201 Ramalcu = 2,90 MJ Comparando o gasto energético na produção do metal primário dos condutores de alumínio e de cobre com seus respectivos comprimentos médios em 2001 e em 2006, tem-se que em 2001 o gasto energético do conjunto ramal de liagação e ramal de entrada era de 25,60 MJ enquanto que em 2006 este mesmo gasto era de 2,90 MJ. Embora o resultado qualitativo seja o mesmo considerando também os dados de energia de concentração e energia química, em termos quantitativos, os valores sofrem uma variação significativa. Analisando-se a tabela 11 pode-se observar que a maior parte da energia, para ambos os metais, encontra-se no processo de refino representando 98,75% da energia total para o alumínio e 96,10% para o cobre. Contudo, a disposição desta energia, quando segregada em energia química dos elementos e energia livre de Gibbs apresentam-se diametralmente opostas nos dois metais, causando a variação nos resultados observados. 202 ANEXO A - Exergia química dos elementos no ambiente de referência de Szargut melhorado e atualizado 203 Continuação da tabela 204 Continuação da tabela Fonte: Garcia (2000) UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL - PEI MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO Rua Aristides Novis, 02, 6º andar, Federação, Salvador BA CEP: 40.210-630 Tels: (71) 3283-9800 E-mail: [email protected] Home page: http://www.pei.ufba.br