5 Segunda-feira 1 de junho de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia Editor: Luiz Guimarães [email protected] Investimentos Aportes em infraestrutura devem cair 19% Corte dos gastos públicos por causa do ajuste fiscal é o principal motivo para a redução, apontam especialistas Após terem ficado estáveis de 2013 para 2014, os investimentos em infraestrutura deverão tombar 19% neste ano. O principal motivo é o corte dos gastos públicos, por causa do ajuste fiscal. Segundo especialistas, a menos de dez dias do anúncio do novo pacote de concessões do governo federal, a projeção reforça a importância do capital privado para esses investimentos. Segundo estudo da consultoria Inter.B, a projeção para os aportes em infraestrutura neste ano é de R$ 105,7 bilhões, R$ 25,2 bilhões a menos do que em 2014. Com isso, o investimento no setor cairia para 1,78% do PIB, nível idêntico ao de 2007. Caso o número se confirmar, o País só terá tido resultado pior em 2003, quando o aporte em infraestrutura somou 1,46% do PIB. A série histórica da InterB. foi iniciada em 2001. Embora diversas empresas do setor sejam atingidas pelas investigações da Operação Lava Jato, o ajuste fiscal é o principal vilão em 2015, diz o presidente da Inter.B, Cláudio Frischtak. “O ajuste pega muito o investimento público”, afirma. A economista Luísa Azevedo, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), explica que os gastos de custeio, muitas vezes obrigatórios, são mais difíceis de cortar. No primeiro trimestre, o investimento público da União, sem contar estatais, caiu 30%, para R$ 15,6 bilhões, segundo dados compilados pelo economista Mansueto Almeida em seu blog. Como o setor público responde por cerca de metade dos aportes no setor de transporte, ele é o mais afetado, explica Frischtak. No total, a Inter.B projeta queda 20,9% este ano, para R$ 42 bilhões. Em rodovias, o corte pode ser de 26,9%. Nem o apetite chinês por investimento em logística, sinalizado na recente visita do primeiro-ministro Li Keqiang, pode ser suficiente. Integrante da comitiva, Yu Weiping, vice-presidente da CNR, que fornece trens para o Metrô do Rio, foi reticente quanto a novos investimentos no País. Disse que tudo dependerá de novos projetos. É justamente este o problema, segundo a InterB., já que o investimento em mobilidade urbana deve cair 20,2%. Outra forma de promover o investimento são as parcerias público-privadas (PPPs), diz Gustavo Gusmão, diretor da área de infraestrutura da consultoria Ernst & Young. O problema, segundo o consultor, é que acontrapartida dos governos nas PPPs também fica ameaçada com o ajuste fiscal. Para ele, novo modelo de concessões será uma sinalização importante sobre a possibilidade de êxito da estratégia de usar a infraestrutura para MARCELO G. RIBEIRO/JC Previsão de investimento é de R$ 105,7 bilhões para este ano, R$ 25,2 bilhões a menos do que em 2014 impulsionar o “pós-ajuste”. “O mercado quer notícias boas, mas quer ver as coisas na mesa.” As boas notícias precisarão mudar a impressão do Programa de Investimentos em Logística (PIL), lançado em 2012, que não cumpriu o prometido. Desde então, o empresariado vem citando o excesso de interferência do governo e a insegurança jurídica como entraves. Isso vale também para o setor elétrico, cujo ponto alto de Para consultoria, maior redução será em telecomunicações As telecomunicações devem ter a maior queda de investimentos em infraestrutura neste ano, com tombo estimado em 32,4% sobre 2014, para R$ 19,8 bilhões, segundo projeções da consultoria Inter.B. A forte retração será influenciada pela freada em dois dos maiores grupos do setor, Oi e América Móvil - dona da Claro, da Net e da Embratel - e pela elevada base de comparação com 2014. No ano passado, as operadoras elevaram os gastos para a instalação de infraestrutura de telefonia 4G por causa da Copa do Mundo, exigência do governo, explica Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B. “Em 2015, os investimentos voltarão à normalidade, com queda menor em relação a 2013.” A Oi já reduziu significativamente os investimentos consolidados no primeiro trimestre deste ano, 19,5% abaixo do mesmo período de 2014. No ano passado, a retração foi de 18% ante 2013, para R$ 5,3 bilhões. A operadora passa por um movimento de disciplina financeira, após o calote de 897 milhões tomado pela Portugal Telecom, em meio ao processo de fusão das companhias. Passado o imbróglio, a companhia decidiu vender as operações portuguesas para a francesa Altice. “A empresa está em processo de arrumação da casa”, afirma o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude. Em nota, a tele informou que quanto mais eficiente for o processo de contenção de custos, sua principal diretriz este ano, mais dinheiro terá para investir no negócio. A mexicana América Móvil investiu R$ 10 bilhões em 2014 - sem contar os gastos com o leilão da faixa de 700 megahertz, do 4G. Neste ano, a previsãoé cerca de R$ 8 bilhões. O grupo informou que o aporte menor neste ano ocorre devido ao “planejamento plurianual”. Na visão de Tude, a queda dos investimentos do setor será entre 10% e 15%, menor do que a projetada pela Inter.B. As empresas, diz, vivem um momento de cautela diante do ambiente macroeconômico, mas ainda não se nota uma mudança radical de planos de investimento, que são plurianuais. O presidente do SindiTelebrasil (sindicato das operadoras), Eduardo Levy, afirma que não há como os investimentos registrarem uma forte queda. “Não há como investir pouco em telecomunicações. O tráfego de dados está crescendo com cada vez mais pessoas trocando aparelhos simples por smartphones.” interferência foram as medidas de 2013 para reduzir o custo da energia, que provocaram desequilíbrios - parte delas está sendo revista, contribuindo para o reajuste da conta de luz no início do ano. A projeção da Inter.B é de um recuo de 9,3% no investimento em energia elétrica em 2015, para R$ 34 bilhões. As dificuldades com licenciamentos também são citadas como um problema. A usina Teles Pires, na divisa entre Mato Grosso e Pará, ficou pronta, mas a linha de transmissão para abastecer seus clientes ainda está em construção. A chinesa State Grid e a Copel, responsáveis pela obra que deveria ter sido entregue em abril, dizem ter tido problemas nos licenciamentos e liberações. O novo prazo para entrega é julho. “Como é que você explica (aos investidores) que a Teles Pires fica pronta, mas a linha de transmissão, não?”, disse Solange Ribeiro, presidente da Neogrid. Mercado de Capitais Bovespa tem queda de 2,25% A Bovespa registrou na sexta-feira, dia 29, sua maior queda percentual desde o fim de março e encerrou o mês de maio no vermelho, afetada por certo pessimismo dos investidores, em dia de divulgação de dados do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e dos Estados Unidos. A Bovespa caiu 2,25%, para 52.760 pontos, na mínima. O recuo foi o pior da bolsa desde 26 de março, quando terminou com queda de 2,47%. O volume de negócios totalizou R$ 9,881 bilhões. Em maio, o Ibovespa acumulou baixa de 6,17% e, no ano, tem alta de 5,51%. Petrobras ON e Petrobras PN caíram 2,65% e 2,68%, respectivamente. Já Vale ON recuou 2,39% e a PNA perdeu 2,56%. Itaú Unibanco PN teve baixa de -2,47%, Bradesco ON,-3,61%, Bradesco PN, -2,69% e Banco do Brasil ON, -2,82% O dólar encerrou a sessão, a, a semana e o mês de maio em alta. A moeda terminou cotada em R$ 3,185 (+0,76%). 54.609 53.629 54.236 53.976 52.760