PLURALIDADE RELIGIOSA NO BRASIL: OS MOVIMENTOS NEOPENTECOSTAIS Religious Plurality in Brazil: the neo-pentecostal movements Edilson Soares de Souza.1 BLEDSOE, David Allen. Movimento neopentecostal brasileiro: IURD, um estudo de caso. São Paulo: Hagnos, 2012. Pode-se datar a chegada das religiões institucionalizadas ao Brasil em 1500, como é o caso da religião cristã, quando a esquadra de Cabral “achou” as terras que ficariam conhecidas, posteriormente, como Brasil. Pero Vaz de Caminha, ao corresponder-se com o Rei de Portugal, escreveu que os nativos não demonstravam qualquer forma de religiosidade, ficando a cargo da coroa e do cristianismo convertê-los às práticas religiosas trazidas da Europa. Desde então, o cristianismo de viés católico romano precisou conviver com outras formas de crenças e rituais, procurando impor durante séculos as suas convicções aos habitantes da colônia de Portugal além-mar. Se o catolicismo romano predominou quase absoluto entre os séculos XVI e XIX, tal pseudo-hegemonia começou a se transformar com a chegada dos primeiros protestantes de confissão luterana, que se organizaram em colônias na região sudeste e sul do Brasil. Tal movimento religioso no contexto das 1 Doutor e Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Psicólogo clínico e bacharel em teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB). Professor na Faculdade Teológica Batista do Paraná (FTBP). Pesquisador do Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER). Via Teológica | Edilson Soares de Souza, Vol. 14, n.27, jun.2013, p. 145 - 149 145 múltiplas expressões do cristianismo deu-se como resultado da tolerância religiosa, simultaneamente à chegada da família real portuguesa ao Brasil, como também pela abertura dos portos aos países considerados amigos (1808). Assim, o século XIX marca o período quando católicos romanos e protestantes ocuparam o mesmo espaço social em terras brasileiras, resultando em confrontos e diversas disputas dogmáticas e teológicas, além da influência que as denominações cristãs objetivaram exercer sobre os brasileiros. Posteriormente, no século XX, catolicismo e protestantismo avançaram em suas estratégias de inserção e consolidação de suas organizações, implementando projetos nas áreas de educação, saúde e política social, discutindo os rumos da sociedade brasileira, sob o regime republicano estabelecido (1889). É também no século XX que o protestantismo se percebe ainda mais multifacetado, pois além das denominações chegadas com os imigrantes e missionários entre os séculos XIX e XX, outras denominações são constituídas, algumas rompendo com grupos mais tradicionais. Nesse segmento, estão os grupos chamados pentecostais, mas, sobretudo, aqueles que foram tipificados como neopentecostais. É exatamente sobre esse movimento religioso de viés pentecostal que David Allen Bledsoe procurou discutir em seu livro, intitulado Movimento neopentecostal brasileiro: IURD, um estudo de caso, publicado em 2012. Para o autor, a sua obra se mostra relevante pela proposta metodológica original, pois procura discutir os movimentos religiosos classificados como neopentecostais, a partir da análise da missiologia. Bledsoe reconhece que outros estudos já foram 146 Edilson Soares de Souza, Vol. 14, n.27, jun.2013, p. 145 - 149 | Via Teológica realizados sobre os mesmos temas – movimentos neopentecostais –, mas tomando como fundamento de análise outras abordagens. Nesse sentido, como se pode ler no preâmbulo de obra referenciada, “o estudo de caso concentra-se em uma avaliação missiológica evangélica da IURD” (BLEDSOE, p. 12). Embora o estudo contemple e mencione outras denominações evangélicas que formam o grupo dos cristãos que estão filiados às igrejas neopentecostais, a ênfase recai na análise da Igreja Universal do Reino de Deus, popularmente conhecida como IURD. David Allen Bledsoe divide o seu trabalho em quatro capítulos. No primeiro capítulo, o autor empreende uma discussão sobre o Desenvolvimento histórico do pentecostalismo no Brasil, caracterizando brevemente as primeiras denominações tidas como pentecostais, indicando certo desenvolvimento nesse viés do protestantismo brasileiro. No segundo capítulo o autor concentra-se mais intensamente na Igreja Universal do Reino de Deus, tratando de temas que remetem ao panorama da igreja, como também ao seu desenvolvimento histórico. No capítulo 3, Bledsoe avança em sua análise, considerando Alguns fatores que facilitam a influência da IURD, destacando a estratégia expansionista apoiada na mídia, sobretudo, a televisiva, como também as diversas técnicas empresariais, que, segundo o autor, podem ser associadas à cultura do medo. No quarto capítulo, pode-se ler sobre a Análise evangélica da IURD, indicando alguns elementos que fazem parte da doutrina de salvação da igreja, como também a sua intenção de se posicionar como uma igreja exclusivista no cenário pluralista religioso no Brasil. Dos quatro motivos indicados pelo autor para empreender Via Teológica | Edilson Soares de Souza, Vol. 14, n.27, jun.2013, p. 145 - 149 147 tal análise sobre a IURD, partindo da teológica cristã de viés protestante, dando ênfase aos estudos missiológicos, um chama a atenção: a cultura do medo. De acordo com o autor, “alguns ensinamentos e práticas parecem ser uma adequação exagerada à cultura baseada no medo encontrada em um mercado urbano, religiosamente competitivo e globalmente influenciado”, (BLEDSOE, p. 15). Nesse ponto – de um mercado religiosamente competitivo – a análise de Bledsoe propõe ampliar uma discussão empreendida por outros pesquisadores dos fenômenos religiosos no Brasil, partindo de um referencial missiológico. Uma intenção que o autor demonstra com o seu texto é de compartilhar a sua reflexão para além do universo acadêmico, já que a “pesquisa pode auxiliar tanto os pesquisadores quanto a igreja global na compreensão da complexidade da denominação, seus ensinamentos, estratégias e práticas”, (BLEDSOE, p. 61). Partindo de tal intenção, o estudo de David Allen Bledsoe procura conceituar o neopentecostalismo como uma nova forma de expressão religiosa no contexto pentecostal brasileiro, enfatizando a batalha espiritual – própria dos movimentos pentecostais –, além dos exorcismos e dos eventos marcados pelas curas milagrosas e instantâneas, apontando para o desenvolvimento material do adepto, caracterizado pela evidente evolução de prosperidade econômica. O estudo desenvolvido por Bledsoe sobre a Igreja Universal do Reino de Deus, pelo viés da missiologia, apresenta uma contribuição pertinente às análises empreendidas sobre os fenômenos religiosos no contexto de América Latina, sobretudo, aqueles que podem ser observados no Brasil dos séculos XX e XXI. 148 Edilson Soares de Souza, Vol. 14, n.27, jun.2013, p. 145 - 149 | Via Teológica Como o próprio autor destacou, o seu trabalho constitui-se num estudo de caso, focando uma das muitas instituições que podem ser nomeadas como neopentecostais, cujas práticas e rituais avançam para além de seus templos, sendo apropriadas, replicadas e adaptadas por outras denominações protestantes, algumas com vínculos doutrinários do protestantismo tradicional, chegado ao Brasil no século XIX. Assim, a IURD surge no cenário religioso brasileiro do século XX como outra expressão do cristianismo, revelando um sincretismo que se observa na multiplicidade de crenças da sociedade brasileira, querendo ser exclusiva, mas tornando-se mais uma das muitas igrejas e denominações no protestantismo brasileiro. Protestantismo que se nomeia e se percebe tradicional, pentecostal e agora neopentecostal. Via Teológica | Edilson Soares de Souza, Vol. 14, n.27, jun.2013, p. 145 - 149 149