A ENGENHARIA DA ARCA DE NOÉ The Noah´s Ark Engineering Leonardo Pedro Wichert Neto.1 Resumo O presente artigo pretende fazer uma abordagem do relato bíblico de Gênesis 6:11-8:3, a partir da ótica da moderna engenharia, levantando dados e compilando análises que mostrem quais eram as reais características da embarcação de Noé, bem como seu desempenho esperado para as condições de maré que possivelmente ocorreram durante o dilúvio. Com esse trabalho espera-se trazer uma imagem mais real dos acontecimentos da grande inundação relatada em gênesis. É importante destacar que esse trabalho não tem a intenção de tentar provar ou não a existência da arca ou do dilúvio. Parte-se do princípio de que o dilúvio e a arca incontestavelmente aconteceram. Palavras-chave: Arca de Noé; Dilúvio; Engenharia Naval; Gênesis. Abstract This article intends to approach the biblical story of Genesis 6:11-8:3 from the perspective of modern engineering, collecting data and compiling analysis that show what were the actual characteristics of Noah’s vessel, as well as its desired 1 Engenheiro Civil graduado pela Universidade Federal do Paraná e aluno do curso de Bacharelado em Teologia da Faculdade Teológica Batista do Paraná. E-mail: [email protected]. 148 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica performance in the sea conditions that possibly occurred during the flood. With this work it is expected to bring a truer picture of the events of the great flood described in Genesis. It is important to highlight that this work has no intention of trying to prove or disprove the existence of the ark and the flood. It starts from the principle that the flood and the ark undeniably happened. Keywords: Noah’s Ark; Flood; Marine Engineering; Genesis. Introdução Quando se pensa na Arca de Noé, a primeira imagem que vem a cabeça de muitos é a de um barco de madeira, com a forma semelhante a uma banheira, com um telhado em cima e cheia de animais. Bem provavelmente também estarão presentes na cena um casal de elefantes e um de girafas olhando pelas janelas e Noé e sua família parados sobre o convés, acenando. Essa é a imagem típica da Arca, com a qual estamos familiarizados desde que éramos crianças. Contudo, ao estudarmos os relatos apresentados na bíblia, logo percebemos que essa imagem usual não é fiel à realidade. Apesar do relato bíblico não conter informações detalhadas sobre o projeto da Arca, podemos utilizar as informações de Gênesis como base para inúmeros cálculos e testes sobre a Arca. No decorrer desse artigo, pretende-se mostrar, com base nas Escrituras, e sob a luz da engenharia moderna, através de cálculos, testes e comparações com embarcações modernas, quais eram as características de forma, tamanho e navegabilidade da Arca de Noé, trazendo assim uma imagem mais real dos fatos do dilúvio, de forma a criar para o leitor uma imagem verossímil dos Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 149 acontecimentos da grande inundação relatada em Gênesis. 1 O projeto Numa referência bíblica, podemos ler: A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência. E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra. Então disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra. Faze para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a betumarás por dentro e por fora com betume. E desta maneira a farás: De trezentos côvados o comprimento da arca, e de cinqüenta côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua altura. Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares, baixo, segundo e terceiro. Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a carne em que há espírito de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará. Mas contigo estabelecerei a minha aliança; e entrarás na arca, tu e os teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos contigo. E de tudo o que vive, de toda a carne, dois de cada espécie, farás entrar na arca, para os conservar vivos contigo; macho e fêmea serão. Das aves conforme a sua espécie, e dos animais conforme a sua espécie, de todo o réptil da terra conforme a sua espécie, dois de cada espécie virão a ti, para os conservar em vida.2 A narrativa nos mostra como Noé, sua família e todas as espécies de animais da terra foram salvos quando Deus decidiu destruir o mundo por conta da maldade humana. Deus deu a Noé instruções para a construção da Arca. Deveria ser feita de madeira, com três “decks” e com medidas 2 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí: ICP, 2005. Gênesis 6:11-20, pag. 13-14. 150 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica totais de 300 côvados de comprimento, 50 côvados de largura e 30 côvados de altura. Também deveria ter um telhado (janela) em cima, de um côvado. 1.1 A forma da Arca O relato bíblico não nos dá uma descrição exata da forma da Arca. Ao longo da história muitos artistas ao redor do mundo representaram a embarcação de Noé em pinturas e desenhos diversos. Apesar de diferenças existirem entre essas representações, a grande maioria delas tende a adotar uma forma similar para a Arca. Em grande parte das representações que encontramos da história do dilúvio, a Arca aparece como um grande barco de madeira, com casco bastante curvo e com uma proporção entre comprimento e altura muito menor do que o descrito na bíblia. Outra diferença marcante presente em muitas representações é o telhado, que sempre se parece com uma casa colocada sobre a Arca. Figura 1 - Ilustração da Arca de Noé clássica (worldwideflood, 2012) No texto original hebraico, a palavra usada para se referir Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 151 à embarcação é tbat=Ii3 (tebat), a qual ocorre apenas duas vezes em toda a bíblia: na narrativa do dilúvio e no livro de Êxodo, quando é usada para descrever o cesto em que Moisés foi colocado por sua mãe. A enorme diferença entre os dois objetos torna difícil a tarefa de determinar o significado dessa palavra. Algumas fontes indicam que essa palavra não seria de origem hebraica, mas sim derivada da palavra egípcia db’at, que significa caixa, baú ou arca, sugerindo uma forma quadrangular. Contudo, quando o texto original faz referência à Arca da Aliança, a palavra utilizada não é tebat, mas sim NwOr)j4 (aron). A primeira tradução a utilizar a mesma palavra para se referir à Arca de Noé e à Arca da Aliança é o texto grego da septuaginta5, onde ambas são chamadas de kibotój (kibotos). Nessa tradução, diferentemente do texto hebraico, a palavra utilizada para descrever a Arca de Noé não é a mesma usada para o cesto de Moisés, que aqui é chamado de qibin (thibin). Outra hipótese com relação á tradução da palavra tebat é que essa signifique “salva-vidas”, o que daria uma explicação cabível tanto no relato do dilúvio quanto no relato de Moisés. O que fica claro é que a palavra tebat não pode significar especificamente nem barco (em hebraico hyf@ni)f6 – oniyah), nem 3 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Gênesis 6:14, pag. 8. 4 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Êxodo 25:10, pag. 126. 5 The Septuagint Version of the Old Testament. 8. ed. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1976. 6 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Jonas 1:3, pag. 930. 152 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica cesto (em hebraico lsa7 – sal, ou dw@d8@ – dud), como a maioria das traduções nos traz. Isso faz com que a forma da Arca seja ainda um mistério. Talvez tebat nem mesmo faça menção a uma forma específica, e sim à função da Arca (se usarmos a interpretação de salva-vidas). Com a aparente falta de pistas sobre o texto bíblico, precisamos investigar outros fatores para tentar chegar a uma forma mais próxima a da Arca real. Levando-se em conta a tecnologia disponível na época da construção da Arca, as condições de navegação às quais ela foi exposta e a finalidade à qual ela se propunha, podemos chegar a algumas conclusões que nos ajudam a definir uma possível forma preferível. Primeiramente, pensando-se nas tecnologias e ferramentas disponíveis na época da construção deve-se ter em mente que quanto mais simples a forma da embarcação, mais fácil seria a sua execução. Sabemos que formas quadradas e ângulos retos são muito mais fáceis de construir do que curvas e formas complexas. Outro fator importante é o fim a que se destinava a Arca. Como deveria funcionar apenas como uma balsa flutuante e sem propulsão, viajando a deriva, e não como um navio propulsionado, a melhora do desempenho do casco através de formas mais complexas, tais como extremidades afiladas ou arredondadas, que visam diminuir o arrasto e melhorar o deslocamento, seriam de pouca importância, ainda mais se considerarmos o aumento da 7 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Levítico 8:26, pag. 155. 8 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Jeremias 24:2, pag. 749. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 153 dificuldade na construção que essas formas acarretariam. Muitos estudos modernos apontam para a Arca tendo uma forma de paralelepípedo, com uma claraboia longitudinal no centro do convés, não tendo nenhuma curva em suas extremidades, conforme se pode ver na Figura 2. Essa é uma forma que facilitaria a construção e maximizaria o espaço interno, algo que também era importante para Noé. Figura 2 - Arca de Noé nas proporções bíblicas (modelwarships, 2012) Neste trabalho, estudaremos mais a fundo esta forma de paralelepípedo. Explicações mais detalhadas com relação à forma do casco, sua estabilidade e resistência, bem como as condições de navegabilidade a que a Arca foi exposta, serão abordadas na sequência do trabalho, dando maior embasamento a essa teoria. 1.2 O material É fato incontestável que a Arca era feita de madeira, já que o texto bíblico nos diz que a arca deveria ser feita com madeira de gofer9. 9 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí: ICP, 2005. Gênesis 6:14, pag. 13. 154 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica Contudo, não se sabe com certeza o que significa gofer. Não se conhece nenhuma madeira chamada de gofer, nem atualmente e nem na antiguidade. A palavra utilizada no texto original é rpego10 (gofer). Essa palavra aparece apenas nesse texto, não se repetindo mais durante toda a bíblia. Alguns dizem que essa palavra seria resultado de um erro de grafia da palavra rpek11o% (kofer), que pode ser traduzida como betume ou resina. Isso faria com que a tradução da passagem fosse madeira de betume ou madeira resinosa, referindo-se ao tipo da madeira ou ao tratamento dado a ela, mais do que à sua espécie. Visto que na sequência do mesmo versículo Deus faz referência novamente a esse processo de tratamento da madeira, a teoria tem grande probabilidade de ser correta. Já Kidner12 considera “cipreste” uma conjectura mais plausível para essa passagem. Essa hipótese foi a utilizada na tradução da NVI13, onde o texto de Gênesis 6:14 diz que a Arca deve ser feita com madeira de cipreste. De todas as maneiras, o texto bíblico não é claro com relação ao tipo de madeira que foi utilizado na Arca. Para esse trabalho, adotou-se como referência de cálculo valores de densidade da madeira de 600 kg/m3, como no estudo 10 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Gênesis 6:14, pag. 8. 11 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Gênesis 6:14, pag. 8. 12 KIDNER, Derek. Gênesis: Introdução e Comentário. 2 ed. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1981, pag. 83. 13 BARKER, Kenneth (Org.). Bíblia de Estudo NVI. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2003. Gênesis 6:14, pag. 16. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 155 de Hong14. Isso equivaleria aproximadamente à densidade da madeira de cedro ou cerejeira. 1.3 As dimensões As dimensões da Arca, dadas por Deus, estão descritas no texto bíblico da seguinte forma: E desta maneira a farás: De trezentos côvados o comprimento da arca, e de cinqüenta côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua altura. Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares, baixo, segundo e terceiro. 15 Nesse ponto nos deparamos com outra incerteza. O texto bíblico original traz suas medidas em côvados, mas qual é a medida do côvado em unidades modernas? O côvado é determinado como a distância entre o cotovelo e a ponta dos dedos da mão aberta, ou seja, o tamanho do antebraço somado ao tamanho da mão, conforme mostra a Figura 3. Figura 3 - O côvado (worldwideflood, 2012) Nas civilizações antigas, o côvado era uma medida corrente, porém existiam diferenças entre as medidas adotadas por cada civilização. 14 Hong, S. W. [et al]. Safety Investigation of Noah’s Ark in a Seaway. Creation Ex Nihilo Technical Journal 8, 1994, pag. 26-35. 15 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí: ICP, 2005. Gênesis 6:15-16, pag. 14. 156 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica A Tabela 1 mostra uma lista com algumas das medidas mais prováveis para o côvado. GRUPO Côvados Curtos Côvados Longos Côvado Extra Longo CÔVADO mm Hebraico curto 445 mm Egípcio curto Comum 447 mm Babilônico real 503 mm Hebraico longo 518 mm Egípcio real 524 mm Babilônico longo 610 mm 457 mm Tabela 1 - Referências para a medida do côvado (Morris, 1971) Utilizando a referência de cada um dos côvados, a Arca teria seu tamanho de acordo com a Tabela 2. GRUPO Côvados Curtos Côvados Longos Côvado Extra Longo CÔVADO mm Comp. da Arca % Acréscimo Hebraico curto 445 133m 100% Egípcio curto 447 134m 102% Comum 457 137m 109% Babilônico real 503 151m 145% Hebraico longo 518 155m 158% Egípcio real 524 157m 164% Babilônico longo 610 183m 258% Tabela 2 - Comprimento da Arca de Noé com relação a cada côvado (Morris, 1971) Adotando-se como referência o côvado Comum, o qual mede 45,7 cm, a Arca mediria 137 m de comprimento, 22,85 m de largura e 13,7m de altura. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 157 1.4 As proporções O modo como as embarcações reagem ao vento e às ondas é chamado de “comportamento no mar” e, entre outras coisas, está relacionado com suas proporções. Um navio proporcionalmente mais comprido é mais confortável, porém mais vulnerável a alquebrar, ou seja, quando suspenso a partir do centro por uma onda, as extremidades da embarcação tendem a flexionar, criando o risco de partir o casco ao meio. – Figura 4. Figura 4 - Aumento do conforto (Lovett, 2006) Para se evitar o problema do alquebramento e construir um casco mais resistente, pode-se optar por um formato proporcionalmente mais alto. Esse casco é mais resistente, porém mais vulnerável ao emborcamento, ou seja, à rolagem do barco em torno de seu eixo longitudinal, fazendo com que o mesmo vire de boca para baixo – Figura 5. Figura 5 - Aumento da resistência (Lovett, 2006) Para que um casco seja mais estável ao emborcamento é 158 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica possível aumentar sua largura. Um navio proporcionalmente mais largo é mais estável ao emborcamento, porém menos confortável e mais vulnerável ao movimento das ondas. – Figura 6. Figura 6 - Aumento da estabilidade (Lovett, 2006) É possível notar que esses três parâmetros de conforto, resistência e estabilidade estão competindo um com o outro, sendo impossível se atingir o máximo dos três parâmetros em um mesmo caso. É como se os três estivessem dispostos graficamente em um triângulo, onde cada uma das três dimensões ocuparia um dos vértices, conforme a Figura 7. Figura 7 - Parâmetros de Conforto, Resistência e Estabilidade dispostos graficamente (Lovett, 2006) Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 159 No ano de 1992, um time de nove pesquisadores do Instituto Coreano de Pesquisas Navais e Engenharia Oceânica (Korean Research Institute of Ships and Ocean Engineering-KRISO) em Daejeon, Coréia, liderados pelo Dr. Seon W. Hong16, a pedidos de um grupo de criacionistas coreanos, iniciou um extensivo estudo17 partindo de uma análise detalhada das proporções bíblicas da Arca e comparando-a com diversos formatos de cascos diferentes. Durante esse estudo, a Arca de Noé18 foi analisada através da comparação com 12 diferentes proporções de casco19, todos com o mesmo volume, conforme nos mostra a Tabela 3. Diferentes comprimentos, alturas e larguras foram sendo combinados para criar os 12 cascos fictícios. Os resultados desse estudo definiram parâmetros ótimos de estabilidade, resistência e conforto para uma embarcação. Comp. Larg. Alt. Elevação frontal e lateral do casco Resultado 135 22,5 13,5 OK 135 15 20,3 Instável ao emborcamento 135 18,8 16,2 Pouco estável 135 27 11,25 135 33,8 9,0 Mais fraco e menos suave Muito fraco e baixo (risco de inundação) 16 Dr. Hong era o cientista chefe da pesquisa que investigou a de Arca de Noé. É licenciado em arquitetura naval pela Universidede Nacional de Seoul e PhD em mecânica aplicada pela Universidade de Michigan. 17 Esse estudo resultou no artigo Safety Investigation of Noah’s Ark in a Seaway. 18 O trabalho desenvolvido pelo KRISO considerou um formato de paralelepípedo para a Arca. 19 O trabalho desenvolvido pelo KRISO levou em conta um côvado de 45 cm. 160 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica 90 22,5 20,3 112,5 22,5 16,2 162 22,5 11,3 202,5 22,5 9,0 90 33,8 13,5 112,5 27 13,5 162 18,8 13,5 202,5 15 13,5 Pior navegabilidade 2ª pior navegabilidade 3º mais fraco O mais fraco de todos Navegabilidade difícil Navegabilidade difícil Fraco e pouco estável 2º mais fraco, instável, boa navegabilidade Tabela 3 - Análise da estabilidade de 13 diferentes formatos de casco (Hong, S. W. et al, 1994) A Figura 8 mostra as proporções de conforto, estabilidade e resistência para um navio nas proporções da Arca de Noé obtidas a partir dos resultados dos testes feitos pelo KRISO. Figura 8 - Gráfico de equilíbrio para um casco com as proporções da Arca (Lovett, 2006) Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 161 Como já foi dito, as dimensões da Arca eram 300 côvados de comprimento, 50 de largura e 30 de altura. É incrível que, levando-se em conta os três parâmetros da pesquisa, a Arca de Noé enquadra-se exatamente no ponto médio do gráfico, apresentando um balanço perfeito entre as três dimensões. As proporções da Arca se mostraram excelentes para a estabilidade de um navio, além de proporcionar um comportamento no mar muito satisfatório, proporcionando resistência e conforto. Em outras palavras, as dimensões da Arca são próximas ao ideal, não sendo possível, segundo os pesquisadores, fazer mudanças significativas para a melhoria do desempenho. Muitos pesquisadores tendem a dizer que as proporções da Arca eram as mais estáveis possíveis, O estudo do KRISO mostra que isso não é verdade, porém a forma da Arca é a que melhor combina resistência, estabilidade e conforto para as condições de mar enfrentadas por Noé e sua família Os resultados desse estudo também nos ajudam a entender o porquê de Deus ter mandado Noé construir um navio tão longo. Se Deus estivesse planejando intervir durante a viagem e miraculosamente livrar a Arca dos efeitos das ondas, a melhor forma para a embarcação de Noé seria um cubo, pois é a forma que demanda menos material para sua construção. Adicionalmente a isso, quanto mais longo é o casco, mais resistente precisa ser sua construção para resistir às forças de alquebramento que tendem a flexionar o casco. 1.4.1 A Arca e os Navios Modernos A grande revolução na engenharia náutica moderna 162 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica ocorreu com o início dos navios fabricados com casco de aço. Na segunda metade do século 19, a necessidade por navios maiores e com a redução do custo do aço, os grandes navios deixaram de ser construídos com madeira. Contudo, algumas características dos navios se mantiveram, mesmo com a introdução do aço. Entre elas estão a proporção comprimento x altura e a proporção comprimento x largura. Deus disse a Noé que usasse uma proporção entre comprimento e altura de 10 por 1. Só mais tarde os construtores de navios aprenderiam a muito custo que essa relação permite suportar grandes pressões em mares agitados. Já o comprimento da Arca de Noé era seis vezes a sua largura, uma relação comprimento x largura = 6. Muitos navios modernos têm proporções semelhantes, embora hoje em dia a escolha da relação comprimento x largura seja feita levando-se em conta a potência necessária para navegação. Um típico navio de transporte moderno possui uma relação entre 6 e 8. Essa relação pode chegar a 10 para navios de alta velocidade. Como a Arca só precisava flutuar, a propulsão não era fator importante para ela. A Figura 9 mostra a comparação em escala real da Arca de Noé ao lado do navio de cruzeiro P&O Pacific Sky. O navio de cruzeiro tem aproximadamente as dimensões do Titanic, com capacidade para 1550 passageiros, 11 “decks” e 240 m de comprimento. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 163 Figura 9 - Replica em escala real da Arca ao lado de um navio de cruzeiros (Lovett, 2004) 1.4.2 A Arca e Outras Histórias Antigas de Dilúvios Histórias de dilúvio podem ser encontradas na mitologia de vários povos do Pacífico, das Américas, do sul da Ásia e do Oriente Próximo. Existem diversas narrativas mesopotâmicas antigas que descrevem a grande inundação, todas com muitos pontos em comum com o relato bíblico. A mais próxima da narrativa bíblica é o Épico de Gilgamesh, que data de cerca de 1600 a.C., e chegou até nós através de 12 tabletes de argila encontrados nas escavações da livraria palaciana da antiga capital assíria, Nínive, em 1853. O tablete de número 1120 nos conta a história desse dilúvio da seguinte forma: Oh! homem de Shuruppak, filho de Ubartutu: Demolí a casa e construí um barco! Abandona a fartura e procura seres vivos! Despreza possessões e mantém vivos esses seres! Faz todos os seres vivos entrarem no barco. O barco que constróis, suas 20 The Epic of Gilgamesh, Tablete XI. 164 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica dimensões devem ser iguais umas às outras: seu comprimento deve corresponder à sua largura,” Utnapishtim obedeceu: “Um acre (inteiro) era o espaço do seu chão. Dez dúzias de côvados a altura de cada uma de suas paredes, dez dúzias de côvados cada canto do convés quadrado, Eu sulquei a forma de seus lados e os juntei, dei a ela seis conveses, dividindo-a (assim) em sete partes,”… Apesar das inúmeras semelhanças com a narrativa bíblica do dilúvio, existe no épico de Gilgamesh uma sutil diferença, que diz respeito às dimensões das arcas. Segundo o relato do tablete 11, a arca de Utnapishtim, grande herói do dilúvio, era um cubo com os lados medindo aproximadamente 55m cada. Diferentemente da Arca de Noé, que mostrou ter proporções extremamente estáveis, mesmo contra ondas muito grandes, a arca cúbica teria girado em torno do seu próprio eixo ao menor distúrbio das ondas, ficando sem controle e fazendo com que os animais e tripulantes passassem mal. 2 O DESEMPENHO da Arca 2.1 Estabilidade O emborcamento é um dos acidentes mais comuns que um barco pode sofrer. De acordo com estatísticas da Comissão de Investigação e Prevenção de Acidentes de Navegação – Cipanave – da Diretoria de Portos e Costas da Marinha Brasileira, o emborcamento é a forma mais comum de acidente em águas brasileiras. O emborcamento é especialmente perigoso para uma embarcação que está viajando de lado para as ondas e, entre outras coisas, pode ocorrer devido a ondas altas ou ventos fortes. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 165 Com certeza, a estabilidade ao emborcamento era uma característica fundamental para o bom desempenho da Arca. Levando-se em conta mais uma vez as dimensões geométricas da Arca, a Figura 10 nos mostra que ela poderia sofrer uma rotação de até 31º em torno do seu eixo longitudinal sem que a água atingisse a altura do convés superior, gerando o risco de inundação. Esses valores são obtidos através da interpretação de Gênesis 7:2021, que diz que quinze côvados acima prevaleceram as águas; e os montes foram cobertos. Acredita-se que quinze côvados era o calado da Arca, ou seja, o quanto dela ficou submerso depois de carregada. Assim, como ela não tocava mais no solo após as chuvas, havia ao menos quinze côvados de água acima da terra mais alta. Caso contrário, o seu fundo tocaria em algo. Figura 10 - Estabilidade ao emborcamento sem inundação (Morris, 2002) 21 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí: ICP, 2005. Gênesis 7:20, pag. 15. 166 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica Como mostrado na Figura 11, oriundo dos estudos de emborcamento realizados pelo KRISO, a Arca poderia resistir a ondas de até 47,5 m sem ser rotacionada a 31º. Ondas desse tamanho jamais foram registradas nos oceanos atuais, onde a onda mais alta já medida chegou a 26m, no Atlântico Norte. Mesmo ondas de Tsunamis não chegam a essa grandeza. A onda de Tsunami mais alta já registrada ocorreu em Hokkaido, no Japão, e chegou a 30m, provocada por um terremoto de magnitude 7,6 na escala Richter. Contudo, os tsunamis não são perigosos para embarcações em alto mar, pois são perceptíveis apenas próximo à costa. Figura 11 - Gráfico de resposta ao emborcamento da Arca (Hong, S. W. et al, 1994) Caso não levemos em conta o nível de inundação, Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 167 considerando que a água poderia atingir o nível do convés superior da embarcação sem inundá-la, o ângulo de emborcamento sobe para 60º (Figura 12). Figura 12 - Estabilidade ao emborcamento total (Morris, 2002) Segundo Collins22, mesmo ventos de 210 nós, o que representa três vezes a força de um furacão, não poderiam inclinar a Arca muito além de 3º. 2.2 Conforto A Arfagem, movimento extremo gerado quando as ondas fazem uma extremidade da embarcação subir e depois descer abruptamente, seria muito desconfortável para as pessoas e os animais a bordo da Arca. A medida do nível de conforto de uma embarcação com relação à arfagem é calculada levando-se em conta a aceleração 22 Collins, D,H. Was Noah’s Ark stable? Creation Research Society Quarterly 14. 1977, pag. 83. 168 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica vertical em suas extremidades. A Figura 13 nos mostra o gráfico do cálculo de aceleração vertical nas extremidades para a Arca de Noé. Considerando-se o limite de aceleração vertical para um navio de passageiros como sendo 0,34 a aceleração da gravidade, vemos que a Arca poderia enfrentar ondas de até 43 metros sem extrapolar os limites de conforto para os passageiros. Figura 13 - Gráfico de aceleração vertical para a Arca (Hong, S. W. et al, 1994) 2.3 Resistência Para suportar vários meses em mar aberto, o casco de madeira da Arca de Noé deveria ter uma resistência mínima. Fatores como a distribuição de cargas móveis no interior da embarcação, grande comprimento e forma de bloco acentuam a necessidade de um casco forte. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 169 Para uma embarcação longa, como a Arca de Noé, o maior perigo para a resistência da estrutura ocorre quando se viaja na direção das ondas, tentando cortá-las. No momento em que o barco encontra-se no topo da onda, o casco é suspenso pela sua parte central, deixando as extremidades suspensas (Figura 14). Esse esforço é o alquebramento e, como já foi dito, gera o risco do casco se partir ao meio. Figura 14 - Movimento de Alquebramento (worldwideflood, 2012) Para calcular o limite da Arca a partir do ponto de vista da estrutura, o grupo de pesquisadores do KRISO plotou a espessura necessária da madeira para diferentes alturas de onda. A Figura 15 mostra que o limite estrutural da Arca era de mais de 30 metros se a espessura da madeira fosse de 30 cm, o que é uma suposição bastante razoável. 170 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica Figura 15 - Limite estrutural para a Arca (Hong, S. W. et al, 1994) 2.3.1 As ondas do dilúvio A Bíblia diz que o aguaceiro que originou o Dilúvio foi muito grande e também diz que Deus, mais tarde, fez com que soprasse um vento para secar as águas. O relato bíblico fala de um vento enviado por Deus para secar a terra. O texto nos diz: E lembrou-se Deus de Noé, e de todos os seres viventes, e de todo o gado que estavam com ele na arca; e Deus fez passar um vento sobre a terra, e aquietaram-se as águas. Cerraram-se também as fontes do abismo e as janelas dos céus, e a chuva dos céus detevese. E as águas iam-se escoando continuamente de sobre a terra, e ao fim de cento e cinqüenta dias minguaram. 23 Quanto mais o vento sopra e quanto maior é a sua força, maior 23 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí: ICP, 2005. Gênesis 8:1-3, pag. 15. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 171 é a altura e a força das ondas. As Escrituras não especificam a força do vento e das ondas, mas é provável que devido à falta de obstáculos naturais, tais como montanhas e árvores, eles fossem muito fortes. Embora as informações sobre o dilúvio não sejam suficientes para prever com precisão a forma e a altura máxima das ondas, podemos utilizar as dimensões da Arca e as suas especificações comparadas a um navio de passageiros moderno para inferir as características das águas em que Noé deve ter navegado. Se as águas fossem calmas, a Arca poderia ter sido construída mais baixa, empregando-se menos madeira e menos tempo para construção. Caso as ondas fossem confusas, vindo de todos os lados, a Arca deveria ser mais curta. De acordo com os resultados obtidos pelos pesquisadores do KRISO24, a Arca de Noé parece ter sido projetada para grandes ondas geradas por um vento unidirecional, porém com uma estabilidade suficiente para lidar com um mar ligeiramente confuso e ondas em outras direções. Um vento constante e sem barreiras naturais geraria ondas maduras, com comprimentos de onda longos e, provavelmente, todas na mesma direção. Para essas condições de vento e ondas, as proporções da Arca são as melhores possíveis, aliando conforto, estabilidade e resistência. 2.4 A capacidade de carga 2.4.1 Análise Volumétrica Os pesquisadores da Arca são unânimes em assumir que as medidas dadas por Deus referem-se à parte externa da Arca. Dessa 24 Hong, S. W. [et al]. Safety Investigation of Noah’s Ark in a Seaway. Creation Ex Nihilo Technical Journal 8, 1994, pag. 26-35. 172 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica forma, o espaço líquido no interior da embarcação, aquele que efetivamente poderia ser utilizado, fica reduzido devido à dimensão das paredes e estruturas. Levando-se em conta a descrição de Gênesis, a Arca teria um volume bruto de: 300 x 50 x 30 = 450 000 côvados cúbicos Em metros, esse volume seria: 137 x 22,85 x 13,7 = 42.887,17 m3 Para conhecer o volume líquido da Arca, devemos subtrair das dimensões a espessura de suas paredes e “decks”. Considerandose quatro paredes laterais, três “decks” e o teto e assumindo uma espessura de paredes e decks de 30 cm25, temos as seguintes medidas para a arca: (137 - 0,6) x (22,85 - 0,6) x (13,7 - 1,2) = 37936,25 m3 (perda de 11,5%) Na Figura 16, vemos uma réplica da arca de Noé ao lado de um vagão de trem e da caravela Pinta, utilizada por Cristóvão Colombo quando descobriu a América, todos na mesma escala. Figura 16 - Arca de Noé, caravela Pinta e vagão de trem em modelo reduzido. (biblestudy, 2012) 25 De acordo com o estudo do KRISO – Abordado no item 2.3 deste trabalho. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 173 O volume real do vagão de trem mostrado na figura é cerca de 75,6 m3. Um vagão como esse é capaz de transportar em torno de 240 ovelhas. Considerando-se que o volume líquido da arca é mais de 422 vezes maior do que o do vagão de trem, podese concluir que seria possível carregar muito mais de 100.000 animais do tamanho de uma ovelha. Utilizando-se outro critério de referência, podemos dizer que a arca poderia transportar 2 aviões Boeing-747, com espaço de sobra (Figura 17). Figura 17 - Arca comparada a um Boeing 747 e a diversos animais (fonte: considere a possibilidade) 2.4.2 Análise de carga Considerando-se o calado da arca em 15 côvados, conforme interpretação de Gênesis 7:20 abordada no item 2.1, e uma densidade de 600 Kg/m3 a equipe do KRISO calculou que o peso total que da Arca seria de 21.016 toneladas. Com base na mesma referência de densidade da madeira e as dimensões do côvado já descritas anteriormente, chegou-se a um peso próprio do casco de 4000 toneladas. Isso daria uma carga útil para a Arca de 17.016 toneladas. Utilizando-se como referência o avião Boeing-747 citado 174 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica anteriormente, o mesmo pode ter peso máximo na decolagem de 396 toneladas, considerando-se tanque cheio, passageiros, tripulação e carga. Isso quer dizer que seria preciso empilhar mais de 42 aviões Boeing-747 sobre a Arca para se atingir o calado de 15 côvados descritos no relato bíblico. Adotando-se outro critério de comparação, sabe-se que um elefante africano adulto pesa em média 7 toneladas. Assim, seria possível colocar o peso de mais de 2430 elefantes africanos no interior da Arca. Conclusão Ao estudarmos a Arca de Noé sob a ótica da engenharia moderna, percebemos que a visão tradicional que temos dela muitas vezes não condiz à realidade. Quando levamos em conta as informações do relato bíblico, vemos que a Arca é bem diferente das ilustrações que estamos acostumados a ver em livros e revistas. Analisando-se as informações contidas na história bíblica do dilúvio, vemos que o projeto entregue a Noé é perfeitamente possível de ser realizado. Na verdade, ele segue padrões de proporção e desenho muito próximos ao ideal para as condições do dilúvio. Estudos realizados comprovaram que a arca era extremamente resistente, estável e confortável para seus ocupantes, possuindo a melhor relação possível entre esses três indicadores. Suas proporções mostram que seria muito difícil virá-la ou quebrá-la, mesmo se fosse submetida a ondas superiores a 30 m de altura. Além disso, a capacidade de carga da Arca também seria suficiente para carregar uma quantidade muito grande de animais e suprimentos. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 175 ReferênciaS ALEXANDER, Pat; ALEXANDER, David (Org.). Manual Bíblico SBB. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008. ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí: ICP, 2005. ANDRADE, Roque M. E o Dilúvio Aconteceu. 1. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1972. BARKER, Kenneth (Org.). Bíblia de Estudo NVI. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2003. Collins, David H. Was Noah’s Ark stable? Creation Research Society Quarterly 14:83-7. 1977. Disponível em: <http:// considereapossibilidade.wordpress.com/2009/03/05/o-dilviode-no-e-o-pico-de-gilgamesh>. Acesso em: 23/10/2012. HARRISON, Everett F. Comentário Bíblico Moody: Genesis a Deuteronômio. 3. ed. São Paulo: IBR, 1990. Hong, S. W; Na, S. S; Hyun, B. S; Hong, S. Y; GonG, D. S; KANG, K. J; SUH, S. H; LEE, K. H. e JE, Y. G. Safety Investigation of Noah’s Ark in a Seaway. Creation Ex Nihilo Technical Journal 8 (1): 26–35, 1994. Disponível em: <http:// www.answersingenesis.org/ articles/tj/v8/n1/noah>. Acesso em: 23/10/2012. KIDNER, Derek. Gênesis: Introdução e Comentário. 2. ed. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1981. 176 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. LAWRENCE, Paul. Atlas histórico e geográfico da bíblia. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008. LOVETT, Tim. Noah’s Ark: Thinking outside the box. Arizona: Master Books, 2008. LUCAS, Ernest. Gênesis hoje: Gênesis e as questões da ciência. São Paulo: ABU, 1994. MORRIS, Henry. M. The Biblical Basis for Modern Science. Disponível em: <http://creation.com/noahs-flood-and-thegilgamesh-epic>. Acesso em: 01/11/2012. Noções básicas de estabilidade. Disponível em: <http://www. mar.mil.br/cpal/download/ amador/estabilidade.pdf >. Acesso em: 26/10/2012. Osanai, Nozomi. A comparative study of the flood accounts in the Gilgamesh Epic and Genesis. Dissertação de Mestrado. EUA: Wesley Biblical Seminary. 2004. Disponível em: <http://www. answersingenesis.org/articles/csgeg>. Acesso em: 23/10/2012. Snelling, Andrew. Special report: Amazing ‘Ark’ exposé. Creation 14(4):26–38. 1992. Disponível em: <http://www. answersingenesis.org/articles/cm/v14/n4/special-reportamazing-ark-expose>. Acesso em: 24/10/2012. The Epic of Gilgamesh, Tablete XI. Disponível em: <www. ancienttexts.org/library/ mesopotamian/gilgamesh/tab11.htm>. Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 177 Acesso em: 28/10/2012. The Septuagint Version of the Old Testament. 8. ed. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1976 Woodmorappe, John. Noah’s Ark: A Feasibility Study. Disponível em: <http://www.bestbiblescience.org/ark/index. htm>. Acesso em: 29/10/2012. <http://www.biblestudy.org/biblepic/how-big-was-the-ark-ofnoah-scale-model.html>. Acesso em: 24/10/2012. <http://bibliotecabiblica.blogspot.com/2010/06/arca-noearquitetura-naval.html>. Acesso em: 23/10/2012. <http://www.modelwarships.com/reviews/ships/misc/ark/700noah-ark/ark.html>. Acesso em: 23/10/2012. <http://www.worldwideflood.com>. Acesso em: 23/10/2012. 178 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica