SAGRADO SEGREDO A Via Sacra segundo André Luiz Oliveira SALADA COM PESTICIDA Você sabe o que vem junto no seu prato? MICHAEL TILSON THOMAS Música e emoção através dos tempos HUBBLE 22 ANOS DE BONS SERVIÇOS divulgação # 73 Ed iç ão Oásis por Luis Pellegrini Editor “O Hubble sozinho revelou mais que milênios de observação do céu, desfez mais crenças arrogantes e dogmáticas do que todas ilustres cabeças realmente pensantes que já pisaram nesta Terra” H á 22 anos, quando o telescópio espacial Hubble foi lançado em órbita, ninguém, nem mesmo os mais argutos astrônomos da Nasa, conseguiram imaginar tudo aquilo que suas lentes conseguiriam captar e trazer para a nós das profundezas do espaço exterior. Uma profusão de imagens de galáxias, nebulosas, estrelas, pulsars e buracos negros, cometas, satélites, meteoros comprovou, desde então, que a imensidão cósmica é literalmente povoada por milhões de corpos de todas as formas, cores e tamanhos. E que nós, minúsculos hóspedes de um planeta minúsculo quando comparado a tudo o mais, não temos nenhuma razão para acharmos que somos o centro do universo, os privilegiados de Deus, o objetivo final de toda a Criação. O Hubble sozinho revelou mais que milênios de observação do céu, desfez mais crenças arrogantes e dogmáticas do que todas ilustres cabeças realmente pensantes que já pisaram nesta Terra. Nada mais justo, portanto, que o ciclo de homenagens atualmente em curso para comemorar as 22 primaveras dessa máquina que corre em órbita ao redor do planeta. Como se trata de uma máquina, tantos vivas destinam-se na verdade a seus inventores, bem como aqueles que criaram todas as incontáveis tecnologias que com ele cooperam. O Hubble é um milagre da ciência. Para participar das homenagens, escolhemos vinte imagens excepcionais colhidas pelas lentes e sensores do Hubble. E juntamos um vídeo que a Nasa fez para a ocasião, contendo mais algumas dessas imagens. Boa viagem, nas asas do Hubble, ao espaço sideral! oásis . ASTRO ASTRO HUBBLE 22 ANOS DE BONS SERVIÇOS 1/24 1/24 Pilares da Criação, na Nebulosa da Águia Quando o ônibus espacial Discovery foi lançado pela Nasa em 24 de abril de 1990, levando a bordo o telescópio espacial Hubble, ninguém, nem mesmo os cientistas que o construíram podiam imaginar tudo aquilo que ele iria produzir durante os seus 22 anos de atividades. O A história do Hubble em imagens http://goo.gl/7bUbL s resultados alcançados pelo telescópio espacial Hubble, em atividade no espaço há 22 anos, são simplesmente incríveis: miríades de imagens em alta definição das profundezas do espaço exterior, estrelas, novos sistemas planetários, galáxias, nuvens de gás e poeira, buracos negros, toda uma variedade de entidades cósmicas cujo verdadeiro aspecto, até então, não fora possível imaginar. oásis . ASTRO Graças ao Hubble pela primeira vez se tornou possível ver mais longe do que as estrelas da nossa própria galáxia, a Via Láctea, e estudar estruturas do universo até então desconhecidas ou pouco observadas. Esse extraordinário telescópio deu à civilização uma nova visão do universo, proporcionando à ciência astronômica um salto equivalente ao dado pela luneta de Galileu no século 17. Não foi fácil, nem barato, construí-lo e colocá-lo em órbita. Desde a concepção original, em 1946, a iniciativa de construir um telescópio espacial sofreu inúmeros atrasos 2/24 e problemas orçamentais. Logo após o lançamento ao espaço, o Hubble apresentou uma aberração esférica no espelho principal que parecia comprometer todas as potencialidades do telescópio. Porém, a situação foi corrigida numa missão especialmente concebida para a reparação do equipamento, em 1993. Graças a ela, o telescópio voltou à operacionalidade, tornando-se uma ferramenta vital para a astronomia. Imaginado nos anos 40, projetado e construído nos anos 70 e 80 e em funcionamento desde 1990, o Telescópio Espacial Hubble foi batizado em homenagem a Edwin Powell Hubble, que revolucionou a astronomia ao constatar que o Universo estava se expandindo. Os dias do Hubble, infelizmente, estão contados. O telescópio gradualmente se aproxima da Terra, um pouco mais a cada giro de órbita. Ele reentrará na atmosfera terrestre, transformando-se numa bola de fogo, em algum momento entre os anos 2019 e 2030, dependendo de vários fatores, entre os quais está o “vento” produzido pela atividade solar. Até lá, suas câmeras deverão permanecer em funcionamento e, até o fim, ninguém pode prever o que mais elas serão capazes de nos revelar a respeito dos segredos da imensidão do espaço sideral. A galeria a seguir elenca algumas das melhores e mais impressionantes fotografias obtidas pelo Google. Completa a série um vídeo preparado pela Nasa, em comemoração ao 22º aniversário do telescópio. São imagens para copiar, colar e guardar. O Hubble colocou o universo a nosso alcance. oásis . ASTRO Galáxia da Antena 3/24 Foto: NASA, ESA, e o Hubble Heritage Team (STScI/AURA) Cachoeira de estrelas Iguaçu, Niágara, Vitória, qualquer grande cachoeira terrestre pareceria reduzida a pó diante dessa espetacular cascata cósmica. O “rio” celeste que aparece no centro dessa foto feita pelo Hubble é na verdade um conjunto de grupos estelares contendo, cada um deles, muitos milhões de astros em formação. O que os alimenta, segundo os especialistas, é a contínua interação entre os núcleos galácticos colocados na sua extremidade superior. Mais “solitária” é, no entanto, a galáxia inferior, onde a cascata parece se acumular, devido a um jogo de perspectiva, no interior de uma espécie de pequeno lago. O inteiro grupo é chamado Arp 194, e é um dos sistemas estelares mais inquietos do cosmos. Localiza-se a cerca 600 milhões de anos luz de nós. oásis . ASTRO 4/24 Foto: ACS Science & Engineering Team, Hubble Space Telescope, Nasa Buraco da fechadura A nebulosa Buraco da Fechadura recebe o seu nome devido à sua estranha forma. Com o nome oficial de NGC 3324, ela se sobrepõe à nebulosa Eta Carina, de maiores proporções. Ambas foram criadas pela mega estrela Eta Carina, que é dada a erupções violentas durante os seus tempos finais. Foi observada e discutida em 1840, quando uma espetacular explosão se tornou visível. O sistema Eta Carina parece agora passar por um estranho período de mudança. Nebulosa de emissão que contem muito pó, a nebulosa Buraco de Fechadura situa-se aproximadamente a 9 mil anos-luz de distância. Objeto celeste muito fotogênico, ela pode ser observada até por pequenos telescópios. Recentemente descobriu-se que a Buraco da Fechadura contém nuvens altamente estruturadas de gás molecular. oásis . ASTRO 5/24 Foto: ACS Science & Engineering Team, Hubble Space Telescope, Nasa Roedores galáticos Tem medo de ratos? No espaço existem pelo menos dois. Mas pode ficar tranquilo: estão a quase 300 milhões de anos-luz, além do que têm pouco a ver com nossos pequenos roedores. Os “ratos”, na foto, são na verdade duas galáxias em colisão, assim chamadas pelas longas “caudas” de gás e poeira que deixam atrás de si quando passam. As duas galáxias, num futuro distante, irão se fundir, criando um novo único objeto celeste. oásis . ASTRO 6/24 Foto: NASA, ESA e o The Hubble Heritage Team (STScI/AURA) Janela no céu A causa principal que deu origem a essa belíssima nebulosa planetária foi uma estrela gigante cujo “carburante” se esgotou. Quando chegou ao fim a fusão de hidrogênio e de hélio presentes no seu núcleo, uma estrela perdida a mais de 10 mil anos-luz de nós começou a difundir ao redor de si mesma camadas de azoto (em vermelho), hidrogênio (verde) e oxigênio (azul). Também o nosso Sol, ao final da sua evolução, poderá se comportar do mesmo modo... dentro de 5 bilhões de anos. oásis . ASTRO 7/24 Foto: Nasa Aprovado com distinção Depois de um mês de paralisação – devido a um problema técnico – o Hubble novamente despertou. Uma das primeiras imagens que captou foi a deste “número 10” cósmico, que brilha a mais de 400 milhões de anosluz de nós. Ele se formou graças à colisão de duas galáxias. Durante a colisão, a galáxia mais estreita (à esquerda) passou através da outra que, devido ao choque, mudou de forma. Ela, agora, parece um zero. oásis . ASTRO 8/24 Foto: NASA, ESA, M. Wong e I. de Pater (University of California, Berkeley) Manchas planetárias Na atmosfera gasosa e turbulenta do planeta Júpiter formou-se uma nova mancha vermelha, que podemos admirar nessa fota obtida pelo Hubble. É a última a aparecer, na extrema esquerda da imagem, juntando-se às outras duas manchas já conhecidas: a Grande Mancha Vermelha (à direita) e a Mancha Vermelha Junior (em baixo). Todas essas manchas são na realidade enormes tempestades, fenômenos frequentes na superfície de Júpiter. A Grande Mancha Vermelha tem diâmetro duas vezes maior que o da Terra oásis . ASTRO 9/24 Foto: D. Maoz (Tel-Aviv Univ./Columbia Univ.) et al., ESA, NASA A galáxia dos mistérios A trinta milhões de anos-luz da Terra encontra-se uma galáxia muito curiosa para os astrônomos. Ela se chama Ngc 1512 e a sua forma em espiral ainda não tem uma verdadeira explicação. O tamanho dessa galáxia é de 70 mil anos luz, quase o tamanho da nossa Via Láctea. O que a torna especial é o anel de poeira que a circunda, e que poderia ser uma verdadeira “fábrica” de estrelas oásis . ASTRO 10/24 Foto: NASA, ESA, e o Hubble Heritage Team (STScI/AURA) O último show de uma estrela O ponto avermelhado visível no centro da imagem é uma estrela que, um dia, foi muito parecida com o nosso Sol. Agora, ela é um astro em fim de vida, que produz a seu redor uma nuvem de gases e poeira cintilante: a nebulosa NGC 2371. Graças a filtros especiais, Hubble conseguiu evidenciar as áreas onde prevalece o hidrogênio – em verde – e as mais ricas em oxigênio (em azul). Os dois jatos rosados situados nos lados opostos da estrela são de azoto e enxofre que, nos últimos milhares de anos, mudaram com frequência de direção. Astrônomos ainda não conseguiram explicar esse comportamento oásis . ASTRO 11/24 Foto: NASA, H.E. Bond e E. Nelan (Space Telescope Science Institute, Baltimore, Md.) / M. Barstow e M. Burleigh (University of Leicester, U.K.) / J.B. Holberg (University of Arizona) Md.) / M. Barstow e M. Burleigh (University of Leicester, U.K.) / J.B. Holberg (University of Arizona) Faróis acesos Esta é Sirius, a estrela mais luminosa visível aqui na Terra. Na foto ela se tornou ainda mais brilhante graças a uma técnica particular do sistema fotográfico do Hubble. Graças a esse sistema pode-se ver também, em baixo, à esquerda, Sirius B, a pequena estrela companheira de Sirius. Esse pequeno ponto luminoso é tudo o que sobrou de um astro muito parecido com o Sol. Mas que, agora, pode ser ainda mais “pesado” do que o Sol: um único centímetro cúbico dessa estrela poderia pesar, na face da Terra, cerca de 100 quilogramas oásis . ASTRO 12/24 Foto: Nasa Aurora extraterrestre Saturno também apresenta auroras e crepúsculos. Hubble tirou várias fotos revelando a permanência durante vários dias de um fenômeno desse tipo na altura do polo sul do planeta. A diferença é que, na Terra uma autora pode durar de poucos minutos a algumas horas, mas em Saturno ela pode durar vários dias. Em Saturno o fenômeno é causado pela pressão do vento solar (um tipo de corrente de partículas provenientes do Sol) e não pelo campo magnético do Sol, como ocorre em nosso planeta oásis . ASTRO 13/24 Foto: Nasa Olho de Gato à espreita Esta é a nebulosa planetária NGC 6543, conhecida como Olho de Gato, um dos mais belos e curiosos objetos celestes jamais encontrados. A mais recente foto obtida pelo Hubble mostra onze, ou talvez mais, anéis de gás concêntricos ao redor dessa nebulosa. Quando uma estrela como o nosso Sol envelhece, começa a expelir as suas camadas mais externas. Ao mesmo tempo em que a estrela-mãe se contrai, transformando-se em uma anã branca, o gás ejetado forma uma nuvem a seu redor. É essa nuvem que chamamos de nebulosa planetária. oásis . ASTRO 14/24 Foto: Nasa A morte da borboleta As lentes do Hubble captaram os últimos espasmos de vida de uma estrela moribunda chamada de “Nebulosa do Inseto” devido a sua curiosa forma, semelhante às asas de uma gigantesca borboleta. A faixa escura que se encontra entre as asas deve esconder a própria estrela, que é uma das mais quentes jamais encontradas (suas temperaturas superam 250 mil graus centígrados) oásis . ASTRO 15/24 Foto: Hubble/Nasa Um bracelete celeste A galáxia AM 0644-741 parece um bracelete incrustado de diamantes. Trata-se, no entanto, de um anel de estrelas que envolve o núcleo amarelado daquilo que foi, há tempos, uma galáxia espiralada normal. Esse corpo celeste dista 300 milhões de anos-luz da Terra, e é o resultado do choque tremendo entre duas galáxias. oásis . ASTRO 16/24 Foto: Hubble/Nasa O colecionador de galáxias Nessa fotomontagem, foram colocadas lado a lado 80 galáxias, dentre as fotografadas pelo Hubble. O telescópio espacial proporcionou descobertas inestimáveis para a moderna pesquisa astronômica. oásis . ASTRO 17/24 Foto: Nasa/HHT A Bela Adormecida no Espaço A galáxia M64 fascina os astrônomos por causa da zona escura que apresenta em seu interior: trata-se de uma faixa de poeira que absorve a luz. Por esse motivo é chamada de Olho Negro ou de A Bela Adormecida oásis . ASTRO 18/24 Foto: Nasa/Hubble O Senhor dos Anéis Esta é uma fotografia em ultravioleta dos anéis de Saturno, captada em abril de 2003 pelo telescópio Hubble. Esse sistema de anéis só se torna bem visível para nós a cada 15 anos, devido ao seu grau de inclinação em relação à eclíptica. oásis . ASTRO 19/24 Foto: Nasa /Hubble O sombrero fotogênico Muitos a definem como a galáxia mais fotogênica do Universo: trata-se da galáxia Messier 104 , também chamada de Sombrero por sua forma de chapéu mexicano. Dista 28 milhões de anos-luz de nosso planeta, e é quase visível a olho nu. Porém está rapidamente se afastando. oásis . ASTRO 20/24 Foto: Nasa /Hubble Primavera em Netuno É primavera em Netuno: Isso parece paradoxal? Pode parecer, visto que se trata de um dos planetas mais distantes e mais frios do Sistema Solar, distando 4 bilhões e meio de quilômetros de nossa estrela e com 200 graus negativos de temperatura média em sua superfície. Apesar disso, tudo leva a crer que também em Netuno observa-se o fenômeno das estações do ano. Só que, cada estação, dura cerca de 40 anos, enquanto uma inteira rotação desse planeta ao redor do Sol dura 165 anos oásis . ASTRO 21/24 Foto: Nasa (Hubble Space Telescope) Formiga Cósmica A Nebulosa da Formiga (também chamada Menzel 3, ou Mz3) é uma dessas massas de gás expulsos de uma estrela na sua última fase de vida (uma nebulosa planetária, como já explicamos). Sua particularidade é apresentar uma intrigante estrutura simétrica. É possível que essa forma seja determinada pela presença de uma estrela que orbita nas proximidades. oásis . ASTRO 22/24 Foto: Nasa (Hubble Heritage Team) A bela morte de uma estrela Este é o aspecto de uma estrela moribunda: a nebulosa planetária IC 4406. Ela apresenta uma forma retangular e forte simetria, típica das nebulosas planetárias. Dista da Terra cerca de 5000 anos-luz. As cores da imagem são reflexos de diversos gases presentes nessa nebulosa: o oxigênio reflete a luz azul; o hidrogênio a luz verde; os traços avermelhados revelam a presença de azoto oásis . ASTRO 23/24 oásis . CINEMA CINEMA SAGRADO SEGREDO A Via Sacra segundo André Luiz Oliveira 1/6 1/9 Previsto para esta semana o lançamento nos cinemas de “Sagrado Segredo”, filme do diretor André Luiz Oliveira. Seu tema e cenário principal é a Via Sacra, mega espetáculo de Semana Santa realizado todos os anos na cidade de Planaltina, nas imediações de Brasília Por Luis Pellegrini N SAGRADO SEGREDO http://goo.gl/EBqv0 a Bíblia, sagrado segredo é algo que se origina de Deus e que é retido por Ele até que chegue o tempo devido para a sua revelação. Mesmo assim, ela é feita apenas àqueles a quem Ele escolhe como dignos e aptos a receber aquela iniciação. São muitos os sagrados segredos bíblicos. Há, por exemplo, o da Jerusalém Celestial, o do Cordeiro de Deus, o do Trono de Jeová, o da Devoção Piedosa, o do Sagrado oásis . CINEMA Coração. No Livro do Apocalipse, aparece o sagrado segredo de Babilônia, a Grande – nome e epíteto de uma mulher belíssima, porém traiçoeira, também conhecida como A Grande Meretriz, que surge sentada sobre uma besta de sete cabeças e dez chifres. Exegetas da Bíblia dizem que ela simboliza o advento de uma era terrível em que o mundo seria invadido e dominado por falsas religiões e falsos sacerdotes, por falsos valores morais e filosóficos, por falsos líderes e governantes, falsos prazeres, falsas celebridades, falsos afetos e falsos pensamentos. Um mundo virado de pernas para o ar, portanto, muito parecido ao mundo em que estamos vivendo. Nesse mundo e nesse tempo, que os indianos chamam de “Kali Yuga”, a Era de Kali, a deusa da destruição e da transformação, a alguns é dado receber de Deus fragmentos das grandes verdades da sabedoria universal. São esses lampejos da glória divina, que aparecem na forma de sagrados segredos, que permitem a subsistência da alma a alguns poucos “escolhidos”. Escolhidos, sim, não por capricho aleatório da Divindade, mas simplesmente por serem sensíveis o bastante para captar essas fulgurações que pipocam continuamente aqui e ali, através dos meios e das situações mais inusitadas, sem quase nunca anunciar 2/9 sua chegada. O próprio Cristo, nos Livros de Marcos, Mateus e Lucas, orienta seus discípulos a respeito: “A vós tem sido dado o sagrado segredo (em grego: mysterion) do reino de Deus, mas, para os de fora, todas as coisas ocorrem em ilustrações, a fim de que, olhando, olhem mas não vejam, e, ouvindo, ouçam mas não compreendam o sentido disso, nem jamais se voltem e se lhes dê perdão.” Foi inspirado na ideia-força dos mistérios do reino de Deus que o cineasta André Luiz Oliveira concebeu seu novo e belíssimo filme que tem por título, justamente, “Sagrado Segredo”. Também são muitos, nesta obra de André Luiz, os sagrados segredos. O primeiro deles se desvela logo na sequência inicial (que também será oásis . CINEMA O cenário principal de Sagrado Segredo é o mega espetáculo da Via Sacra de Planaltina utilizada para o final do filme): um longo carro acompanha o rosto de um menino que, levado pela mãe, visita pela primeira vez uma igreja católica. Nas paredes, pregados, estão os quadros de uma clássica Via Sacra, com todas as suas cenas de calvário, açoites e flagelações, coroa de espinhos, insultos, sangue, suor e lágrimas, até se chegar à crucificação. O garoto, de rara beleza, vê cada uma daquelas cenas do caminho ao Gólgota com um olhar que, por si só, já valeria o filme. O olhar misto de horror e maravilha que toda criança tem quando, pela primeira vez, contempla algo que lhe roubará a inocência para todo o sempre. O cenário principal do filme é a Via Sacra de Planaltina, nas proximidades da capital federal Brasília, mega espetáculo de Semana Santa que se transformou numa das mais importantes manifestações de fé e arte popular do Brasil. Diferentemente de outros eventos do gênero, que contam com a participação de artistas profissionais, a Via Sacra de Planaltina é encenada anualmente pela própria população da cidade, atraindo mais de 120 mil espectadores que a acompanham emocionados durante um dia inteiro. 3/9 André Luiz de Oliveira e Amit Goswami oásis . CINEMA 4/9 No filme, os pontos de referência são os grandes personagens do martírio de Cristo Como aquele menino que penetra na Igreja na sequência inicial, a câmera do cineasta, escondida nas mãos de personagem histórico, penetra no teatro da representação, tímida no início, tateando na penumbra em busca de pontos de referência, totalmente à vontade a partir de um certo ponto, como se percebesse que ela não é intrusa, mas também faz parte daquele imenso drama cósmico. Os pontos de referência são os grandes personagens do martírio de Cristo que, um a um, aparecem e se manifestam, quais sombras de um passado redivivo. Nele estão Herodes e Pilatos, Anás e Caifás, Maria Madalena e Maria, mãe de Jesus, Simão, Pedro e Judas, Barrabás e os dois ladrões. Sobretudo, nele estão o Cristo e o povo da Judéia – o verdadeiro juiz e carrasco que condenou e executou Jesus. São imagens de força e grandeza, sem dúvida, e André Luiz Oliveira sabe tirar bom partido de toda essa riqueza cenográfica e de figuras humanas. Mas seu interesse mostra-se acentuado na hora de gravar depoimentos de atores que interpretam personagens da Via Sacra de Planaltina. O diretor tem bom faro e percebe que tais depoioásis . CINEMA mentos desvelam mais um dos sagrados segredos contidos em seu filme: o mistério da Imitação de Cristo. Muito mais do que lendo relatos da história de sua vida, muito mais do que estudando intelectualmente suas ideias místicas e filosóficas, e as de seus discípulos e seguidores, é através da imitação que a interação com Cristo se torna mais fácil, rápida e efetiva. Não à toa esse mistério tornou-se, hoje, um dos pilares básicos da moderna psicoterapia. A alma (a psique) humana não consegue distinguir entre a experiência objetiva e a subjetiva. Para o aprendizado, o desenvolvimento e a cura da nossa psique tanto faz se a experiência acontece no plano concreto da realidade objetiva, ou se ela 5/9 acontece no plano subjetivo da fantasia, do sonho, da imaginação. Assim sendo, a representação teatral, espaço-tempo onde à criatividade é permitido reinar, onde qualquer situação fictícia se nos parece real e verídica, torna-se o foro privilegiado para que nossa psique viva com segurança as mais extraordinárias aventuras. É por isso que, como vemos em “Sagrado Segredo”, a atriz amadora que interpreta Maria Madalena pode declarar sem erro que, durante a representação, ela “é” Maria Madalena. O mesmo fazem os atores de Pilatos, Pedro e João. O mesmo faz o ator que carrega nos ombros a cruz de Jesus Cristo. O mesmo faz o imenso público que, contrito e fascinado, acompanha cada passo daquele Homem em direção ao alto do monte onde será crucificado. É fascinante observar os rostos dos espectadores da Via Sacra de Planaltina captados pela câmera de André Luiz à medida que a história avança. Tanto o aspecto físico dessas cabeças brasileiras, quanto as expressões que demonstram, são completamente fora do tempo. Da mesma forma que os personagens principais da história O público, contrito e fascinado, acompanha cada passo das estações do calvário oásis . CINEMA do calvário, todos aqueles espectadores parecem diretamente saídos dos tempos bíblicos para testemunhar, milênios depois, no Planalto Central do Brasil, a mesma história de horror e glória que há dois mil anos nos acompanha e persegue. A isto dá-se o nome de milagre do teatro, rito do qual o cinema é a versão mais atualizada. Claro, a experiência humana das coisas é sempre pendular, oscilando entre o real e o imaginário, o sagrado e o profano, a luz e a sombra. “Sagrado Segredo” não foge a essa contingência. Intercaladas entre os voos mágicos da paixão de Cristo, aparecem cenas onde diretor, roteiristas e toda a equipe do filme debatem e discutem os rumos das coisas. E também aí aparece um sagrado segredo, na forma do choque criativo que costuma acontecer entre a vivência puramente emocional, afetiva e intuitiva das coisas, e a subsequente 6/9 O público de O Sagado Segredo em Planaltina oásis . CINEMA 1/9 7/9 apreciação crítica, política e intelectual dessas mesmas coisas. Notável a briga entre os personagens que interpretam, de um lado, o diretor – sempre pronto a mergulhar no transe sensitivo da história filmada -, e uma roteirista – desejosa de enquadrar toda a história dentro dos cânones políticos da Teologia da Libertação. É a guerra eterna da alma e do ego... Ambos vêem a mesma coisa, porém de ângulos opostos. A ressaltar, no filme, a presença e as falas do físico indiano Amit Goswami. Ao estabelecer oásis . CINEMA os paralelos, as interações e as identidades que existem entre os ensinamentos do Cristo e as ideias da física quântica, Goswami aponta os rumos futuros do próprio cristianismo e dos demais sistemas religiosos que irão perdurar no futuro. Todos eles, para sobreviver, terão de casar e integrar em suas doutrinas dois fatores igualmente importantes e complementares: a fé e a ciência. Esta é, possivelmente, a mais alvissareira mensagem do filme: o seu sagrado segredo mais cheio de esperança. 8/8 SAÚDE SALADA COM PESTICIDA Você sabe o que vem junto no seu prato? oásis . SAÚDE 1/5 1/5 Quais são os legumes e verduras que comumente apresentam os maiores índices residuais de pesticidas? O que fazer para consumir frutas e verduras com tranquilidade? “A lface, tomates, pepinos, maçãs, pimentões, morangos: todo mundo gosta. Mas são esses alimentos os que, geralmente, contêm as doses residuais mais elevadas de pesticidas capazes de agir sobre nosso sistema endócrino, ou seja, substâncias que podem alterar o metabolismo hormonal”, denuncia a PAN Europe (Pesticide Action Network), uma rede de organizações não governamentais oásis . SAÚDE que promovem alternativas sustentáveis e naturais ao uso de pesticidas. O coquetel químico que reveste a maior parte das frutas e verduras oferecidas nos supermercados tem correlação com a redução da fertilidade, o aumento de alguns tipos de tumores, puberdade precoce, diabetes e obesidade. Os interferentes estão presentes também, em várias medidas, em fármacos, cosméticos, embalagens e recipientes de plástico, revestimentos de latas, comida para animais. A questão é delicada e tema de constantes debates pelas autoridades da saúde pública e privada em todos os países. Por um lado, os alimentos que acabam sobre nossas mesas são, pelos menos no mundo desenvolvido ou em vias de desenvolvimento, submetidos a controles mais ou menos severos para garantir a saúde do 2/5 Segundo dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), um terço dos alimentos consumidos pelos brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos consumidor. Por outro lado, ainda não se conhece bem os efeitos que tais substâncias, usadas para evitar o ataque de pragas e insetos, ou para melhorar a aparência e a durabilidade dos produtos, podem trazer à saúde. Os alimentos nos quais foram encontrados os mais altos traços de resíduos de pesticidas interferentes são: alface, tomates, pepinos, maçãs, pêssegos, pimentões e morangos. Menos contaminados são a banana, cenoura, ervilhas e os legumes e hortaliças protegidos por uma casca mais grossa. No Brasil, pior ainda Enquanto o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o brasileiro aumentou 190%, colocando nosso país em primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo. Além de a substância impactar o meio ambiente, ela também oásis . SAÚDE abala a segurança alimentar e a saúde da população. Segundo dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), um terço dos alimentos consumidos pelos brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos. Os alimentos que mais demandam a substância são a soja (40%), o milho (15%), a cana e o algodão (10%), as frutas cítricas (7%), o trigo (3%) e o arroz (3%). Cerca de 70 milhões de brasileiros vivem em estado de insegurança alimentar e nutricional, sendo que 90% desta população consumem consomem frutas, verduras e legumes abaixo da quantidade recomendada para uma alimentação saudável, de acordo com o IBGE. Uma alimentação desequilibrada já é ruim, mas o consumo prolongado de agrotóxicos através da comida é pior ainda, podendo provocar doenças como câncer, malformação congênita, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais. O ideal para a saúde coletiva seria evitar ou reduzir o consumo dos pesticidas nos cultivos, 3/5 hortas e na alimentação brasileira. O documento da Abrasco defende a proibição de agrotóxicos já banidos em outros países, mas ainda liberados no Brasil, que apresentam graves riscos à saúde humana e ao ambiente. Enquanto isso não ocorre, os cuidados devem ser tomados por você antes de ingerir os alimentos em casa. Eliminando parte do risco Deixá-los de molho no vinagre pode ser ótimo para matar micróbios, mas nem sempre funciona quando o assunto é tirar os agrotóxicos das frutas e verduras. A recomendação é sempre preferir os Há agrotóxicos feitos à base de zinco ou estanho e à base de metais que nem o aquecimento elimina. Não há como reduzir o perigo quando eles são ingeridos alimentos orgânicos, mas quando não é possível adquiri-los, a lavagem dos produtos antes do consumo é imprescindível. Se o agrotóxico utilizado for de superfície, limitando-se a parte externa do alimento, lavar bem com água elimina o risco, como é o caso dos morangos e dos tomates. A dificuldade cresce nas situações em que o agrotóxico penetra o alimento e afeta o seu interior. Nesse caso, a fervura pode inativar os efeitos adversos dos pesticidas. Entretanto, há agrotóxicos feitos à base de zinco ou estanho e à base de metais que nem o aquecimento elimina e não tem como reduzir o perigo ao ingerir. Cinco regras para eliminar da mesa os pesticidas Como impedir a absorção dessas substâncias? Podemos por em prática algumas medidas: 1. Se possível, comprar alimentos frescos pro oásis . SAÚDE 4/5 venientes da agricultura orgânica: hoje, a maior parte dos supermercados possui seções de produtos provenientes de cultivos onde – pelo menos oficialmente – não são utilizados pesticidas e fertilizantes químicos. Claro, em tempos de incerteza econômica como os atuais, este não é um conselho fácil de seguir, mas é sempre possível descobrir-se que, não longe de sua casa, existe algum cultivador local de confiança; você também pode, para conter as despesas, se inscrever em algum grupo de compra solidária. 2. Lavar acuradamente frutas e verduras com água e bicarbonato de sódio: não serve para remover completamente todos os pesticidas, porém ajuda. 3. Despele os alimentos antes de consumi-los: à parte os pesticidas sistêmicos, que atravessam a pele e penetram no interior da polpa das hortaliças, a maior parte dos interferentes permanece oásis . SAÚDE Onde e sempre que possível, cultivar alguma coisa, manter pequenas hortas no jardim, no quintal, ou em vasos nos terraços e balcões concentrada na pele externa. 4. Prefira sempre os alimentos menos contaminados. 5. Onde e sempre que é possível, cultivar alguma coisa, mantenha pequenas hortas, no jardim, no quintal, ou em vasos nos terraços e balcões. Muitas vezes, por questão de espaço, os resultados serão modestos, mas você sempre pode escolher o cltivo em condições controladas das hortaliças e legumes que geralmente contêm mais traços de pesticidas e, assim, ter um problema a menos para resolver. 5/5 arte MICHAEL TILSON THOMAS Música e emoção através dos tempos oásis . arte 1/5 1/3 Em conferência épica e abrangente proferida no TED-Ideas Worth Spreading, o maestro e musicólogo norte-americano Michael Tilson Thomas traça o desenvolvimento da música clássica através do desenvolvimento da notação musical, a gravação e o remix Vídeo: TED-Ideas Worth Spreading. Tradução para o português: Lisângelo Berti. Revisão: Maria Andrade Praia C Música e emoção através dos tempos http://goo.gl/ge3v3 omo chefe de orquestra, Michael Tilson Thomas é bem conhecido por suas interpretações da música fortemente emocional de Gustav Mahler. É vencedor do prêmio Grammy pelas suas gravações do ciclo completo das sinfonias de Mahler, à frente da orquestra que fundou e dirige, a San Francisco Symphony. É também fundador da New World Symphony, orquestra cujo principal objetivo é a educação de oásis . arte jovens músicos talentosos. Desde sua fundação, em 1987, essa entidade já ajudou na formação de mais de 700 intérpretes. 2/5 Música e emoção através dos tempos Quando me pediram para fazer esta TEDTalk, eu ri comigo mesmo, porque, vejam só, Ted era o nome do meu pai, e muito de minha vida, a música em especial, na verdade é uma conversa que ainda tenho com ele, ou a parte de mim em que ele ainda existe. E o Ted era um novaiorquino, um cara de todos os teatros, e foi um ilustrador e músico autodidata. Ele não lia uma nota, e tinha a audição profundamente prejudicada. Ainda assim, foi meu maior professor, Porque mesmo com o chiado do seu aparelho auditivo, sua compreensão da música era profunda. Para ele, mais importante do que para aonde a música vai era o que ela testemunha e onde ela te leva. Ele fez uma pintura desta experiência, a qual ele chamou de “No Reino da Música”. Ted adentrava neste reino todo dia pela improvisação algo no estilo da Tin Pan Alley. Mas ele era severo em relação a música. Ele disse, “Só existe duas coisas importantes na música: o quê e como. E em relação a música erudita, o quê e como, são inesgotávels”. Assim era sua paixão pela música. Meu pai e minha mãe a adoravam de verdade. Não sabiam tudo sobre ela, mas me deram a oportunidade de descobri-la junto com eles. E penso que inspirado por esta recordação, tem sido meu desejo experimentar e levá-la a quantas pessoas eu possa, passá-la custe o que custar. Como as pessoas chegam à música, como ela entra em suas vidas, realmente me fascina. Um dia em Nova York, eu estava na rua e vi alguns garotos jogando baseball em frente aos prédios entre carros e hidrantes. E um garoto desarrumado, forte pegou o bastão, rebateu acertando em cheio. E por um segundo ele assistiu a bola voar longe, e então começou, “Tá.. tatátatatatá. Tá tá tantatata”. E correu pelas bases. E eu pensei, vejam só. Como esta peça de entretenimento aristocrático austríaco do século 18 virou um símbolo de vitória para este garoto novaiorquino? Como isto se passou? Como ele conseguiu ouvir Mozart? Quando se trata de música clássica, há muita coisa para se passar, muito mais que Mozart, Beethoven ou Tchaikovsky. Porque música clássica ainda é uma tradição viva que remonta há mais de 1.000 anos. E cada um destes anos tem algo único e poderoso para nos dizer sobre como é estar vivo. A matéria prima disto, lógico, é a música do dia-a-dia. São todos os hinos e danças da moda e baladas e marchas. Mas o que a música clássica faz é destilar todas estas músicas, condensá-las em sua essência absoluta, e a partir dessa essência criar uma nova linguagem, uma linguagem que apaixonadamente e sem hesitar fala sobre o que realmente somos. É uma linguagem que ainda evolui. Através dos séculos cresceu com as grandes obras que lembramos, como concertos e sinfonias, mas até a mais ambiciosa obra prima pode ter como sua missão central levá-lo de volta a um momento frágil e pessoal -- como este do Concerto para Violino de Beethoven Tão simples, tão sugestivo. Tantas emoções parecem estar ali dentro. Ainda que, claro, como toda música, não seja essencialmente sobre alguma coisa. é só um padrão de tons e silêncio e tempo. E os tons, as notas, como sabem, são apenas vibrações. São pontos no espectro sonoro. E mesmo os chamando de 440 por segundo, a nota Lá, ou 3.729, Si bemol, pode confiar, é isso mesmo -- são apenas fenômenos. Mas o modo como reagimos a diferentes combinações destes fenômenos é complexo e emocional e não totalmente compreendido. E o modo como reagimos a eles tem mudado radicalmente ao longo dos séculos, bem como nossas preferências por eles. Por exemplo, no século 11, as pessoas gostavam de obras que terminassem assim. No século 17, era mais desse jeito. E no século 21... Agora os seus ouvidos do século 21 estão bem contentes com este último acorde, ainda que a algum tempo atrás teria causado estranheza ou incomodado vocês ou os teria feito sairem correndo da sala. E a razão para gostarem dele é porque herdaram, quer saibam ou não, séculos de mudanças na prática, teoria e tendências musicais. Na música clássica podemos seguir estas mudanças com grande precisão por conta do poderosa e silenciosa parceira da música, o modo como ela é transmitida: a partitura. O impulso para pôr na partitura, ou, para ser mais preciso deveria dizer, codificar a música tem estado conosco já faz muito tempo. 200 A.C., um homem chamado Sekulos escreveu esta canção para sua falecida esposa e a inscreveu na lápide dela no sistema notacional dos Gregos. E mil anos depois, este impulso de fazer a partitura tomou uma forma inteiramente diferente. E vocês podem ver como isto aconteceu nestes trechos retiradas da Missa de 3/5 Natal “Puer Natus est nobis”, “Por Nós Nasceu”. No século 10, pequenos rabiscos foram usados para indicar a forma geral da melodia. E no século 12, uma linha foi desenhada, como um horizonte musical, para melhor indicar a localização do tom. Então no século 13, mais linhas e novas formas de notas registraram com exatidão o conceito da melodia, e isso levou ao tipo de notação que temos hoje. A partitura não somente transmitiu a música, registrando e codificando a música mudou suas prioridades por completo, porque habilitou aos músicos imaginarem música em uma escala muito mais vasta. Movimentos inspirados de improvisação podiam ser gravados, salvos, considerados, priorizados, feitos em intrincados padrões. A partir deste momento, música clássica tornou-se o que essencialmente ela é, um diálogo entre dois poderosos lados de nossa natureza: instinto e inteligência. E a partir daí começou a existir uma real diferença entre a arte da improvisação e a arte da composição. Um improvisador sente e toca o próximo movimento bacana, mas um compositor considera todos os movimentos possíveis, os testando, priorizando, até perceber como eles podem formar um padrão poderoso e coerente de absoluta e duradoura perfeição. Alguns dos maiores compositores, como Bach, eram combinações destas 2 coisas. Bach era como um grande improvisador com a mente de um mestre de xadrez. Mozart ia pelo mesmo caminho. Mas todo músico atinge um equilíbrio diferente entre fé e razão, instinto e inteligência. E toda era musical tem diferentes prioridades destas coisas, diferentes coisas a serem transmitidas, diferentes ‘o quês’ e ‘comos’. Assim nos primeiros 8 séculos, se tanto, desta tradição o grande ‘o quê’ era louvar a Deus. E por volta de 1400, a música era escrita tentando espelhar a mente de Deus como podia ser vista na disposição do céu noturno. O ‘como’ foi um estilo chamado polifonia, música de muitas vozes em movimento independentemente que sugeria o modo como os planetas pareciam se mover no universo geocêntrico de Ptlomeu. Esta era verdadeiramente a música das esferas. Este é tipo de música que Leonardo Da Vinci deve ter conhecido. E talvez sua tremenda perfeição intelectual e serenidade significasse que algo novo devia acontecer -- um movimento novo e radical, o qual aconteceu em 1600. Cantor: Ah, duro golpe! Ah, perverso, cruel destino! Ah, estrelas nefastas! Ah, céus avarentos! MTT: Este, com certeza, foi o começo da ópera, e seus desenvolvimento colocou a música em um radical novo curso. O quê agora não era espelhar a mente de Deus, mas seguir a turbulência emocional do homem. E o como era a harmonia, empilhando tons para formar acordes. E os acordes, como se descobriu, eram capazes de representar incríveis variedades de emoções. E os acordes básicos eram aqueles que ainda usamos, as tríades, seja em tom maior, que consideramos felizes, ou em tom menor, que entendemos como tristes. Mas qual a diferença real entre estes 2 acordes? É apenas 2 notas no meio. Tanto o Mi natural, e 659 vibrações por segundo, como o Mi bemol, em 622. Então qual a grande diferença entre a felicidade e tristeza humanas? 37 apavorantes vibrações. Então podem ver que em um sistema assim havia um enorme e sutil potencial para representar as emoções humanas. E de fato, quando o homem começou a entender melhor sua natureza complexa e ambivalente, a harmonia cresceu em complexidade para refletí-la. Tornou-se capaz de expressar emoções além da capacidade das palavras. Com toda esta possibilidade, a música clássica realmente decolou. É o tempo no qual as grandes formas começaram sua ascensão. E os efeitos da tecnologia também começaram a ser sentidos, porque a impressão pôs a música, as partituras, os livros de códigos da música, nas mãos de artistas por todo lugar. E novos e melhores instrumentos tornaram a era do virtuoso possível. Foi quando as grandes formas surgiram -- as sinfonias, as sonatas, os concertos. Nestas grandes arquiteturas de tempo, compositores como Beethoven podiam compartilhar as ideias de toda uma vida. Uma obra com a Quinta de Beethoven basicamente testifica como era possível para ele ir da tristeza e ira, no transcorrer de uma hora e meia, no exato passo-a-passo de seu caminho, até o momento em que ele consegue alcançar a alegria. E assim descobriu-se que a sinfonia podia ser utilizada em questões mais complexas, como envolventes questões culturais, tais como nacionalismo ou a busca pela liberdade ou as fronteiras da sensualidade. Em qualquer direção que a música tenha tomado, uma coisa até recentemente era sempre igual, que quando os músicos paravam de tocar, a música parava. Este momento muito me fascina. O considero muito profundo. O que acontece quando a música para? Aonde ela vai? O que nos resta? O que permaneceu junto às pessoas na plateia ao final de uma apresentação? É a melodia ou o ritmo ou um clima ou uma atitude? E como isso pode mudar as suas vidas? Para mim este é lado íntimo, pessoal da música. É a parte da comunicação. É a parte do ‘porquê’. Para mim a mais essencial de todas. Em grande parte é algo de pessoa para 4/5 pessoa. uma coisa de professor-aluno, músico-platéia, então por volta de 1880 veio esta nova tecnologia primeiro mecânicamente depois analógica e depois digital que criou um novo e miraculoso modo de passar as coisas adiante, ainda que de modo impessoal. As pessoas agora podem ouvir música a toda hora, mesmo que não seja necessário para elas tocar um instrumento, ler música ou mesmo ir aos concertos. A tecnologia democratizou a música tornando tudo disponível. Disparou uma revolução cultural na qual artistas como Caruso e Bessie Smith estavam no mesmo patamar. E a tecnologia levou compositores a extremos tremendos, usando computadores e sintetizadores para criar obras de complexidade intelectual impenetrável além dos meios de músicos e plateias. Ao mesmo tempo a tecnologia, ao assumir o papel que a pauta sempre desempenhou, alterou o equilibrio dentro da música entre instinto e inteligência muito mais para o lado instintivo. A cultura em que vivemos agora está repleta de música de improviso que tem sido cortada, fatiada, separada e, Deus sabe, distribuída e vendida. Qual o efeito disso a longo prazo para nós e para a música? Ninguém sabe. A questão permanece: O quê acontece quando a música para? O que fica junto às pessoas? Agora que temos acesso ilimitado à música, o que permanece junto à nos? Permitam-me apresentar um história sobre o que quero dizer com “realmente permanecendo conosco”. Visitava um primo meu em um retiro para idosos, e espiei um velho bem trêmulo atravessando a sala em um andador. Ele chegou até um piano que estava lá, e ele se aprumou e começou a tocar algo assim. E começou a falar algo assim, “Eu... menino... sinfonia... Beethoven.” E de repente entendi, e eu disse, “Amigo, será que você não está tentando tocar isso?” E ele disse, “Sim, sim. Eu era um garotinho. A sinfonia: Issac Stern, o concerto, eu ouvi”. E eu pensei, meu Deus, o quanto esta música significa para este homem que o tirou da cama, o levou através da sala para recuperar a memória desta música que, após tudo mais em sua vida estar se perdendo, ainda significa tanto assim para ele? Por isso que levo toda apresentação muito seriamente, porque importa tanto assim para mim. Nunca sei quem pode estar ali, quem pode estar absorvendo-a e o que acontecerá em sua vida. Mas eu estou animado agora porque há mais chances que nunca de compartilhar esta música. É isso o que atrai meu interesse em projetos como a série de TV “Keeping Score” com a Sinfônica de São Francisco que olha para o passado da música, e trabalha com jovens músicos na New World Symphony em projetos que exploram o potencial dos novos centros de apresentação artística tanto para entretenimento quanto para educação. E é claro, a New World Symphony leva a YouTube Symphony e projetos pela internet que chegam a músicos e a plateias por todo o mundo. E o incrível em tudo isso é que tudo isso é apenas um protótipo. Há uma função aqui para tantas pessoas -- professores, pais, artistas -- para juntos explorarem. Claro, grandes eventos atraem muita atenção, mas o que importa mesmo é o que acontece a cada dia. Precisamos de suas perspectivas, sua curiosidade, suas vozes. Fico empolgado em conhecer pessoas que são andarilhos, chefes, programadores, taxistas, pessoas que eu nunca teria adivinhado que amassem a música e que a estão passando adiante. Não se preocupem em saber tudo. Se você é curioso, se tem a capacidade de indagar, se está vivo, você sabe tudo o que precisa saber. Você pode começar em qualquer lugar. Ande por aí. Siga pistas, Perca-se, surpreenda-se, divertido inspirado. Todos aqueles ‘o quê’ e ‘comos’ estão por aí esperando que você descubra seus ‘porquês’, ir fundo e passar adiante. Obrigado. 5/5