CONFERÊNCIAS
Culturas shakespearianas: poética da emulação e a obra de arte sem
aura
João Cezar de Castro Rocha (UERJ / CNPq)
O tema deste XIV Congresso Internacional da ABRALIC, “Fluxos e Correntes:
trânsitos e traduções literárias”, não deixa de oferecer um comentário, crítico, à
própria disciplina “Literatura Comparada”, especialmente no primeiro momento
de sua história institucional.
O viés tradicional, dominante no século XIX e nas décadas iniciais do século XX,
restringiu a riqueza dos fluxos e trânsitos de obras e autores à régua e compasso
da busca de influências e filiações.
No entanto, após a superação desse modelo, permaneceu inalterada a assimetria
das trocas simbólicas. A pergunta incontornável de Edward Said acerca das
traveling theories conheceu respostas as mais diversas, porém, um ponto reuniu
os interlocutores: as teorias, sim, viajam – e ainda mais quando circulam em
inglês. Aqui, correntes e traduções são dois modos de dizer o mesmo: a
hegemonia cultural depende menos da qualidade intrínseca deste ou daquele
autor do que do idioma no qual seus textos são escritos.
Nesta conferência, os conceitos de culturas shakespearianas e poética da
emulação serão apresentados a fim de sugerir uma reflexão alternativa sobre uma
circunstância especial: a existência de sistemas simbólicos que, para recordar o
ensaio célebre de Walter Benjamin, são definidos por uma arte radicalmente
desauratizada.
(Mais ou menos como produzir teoria escrevendo em português.)
Da cordialidade à "brega": o veneno-remédio das culturas
periféricas em Sérgio Buarque de Holanda, José Miguel Wisnik
e Arcadio Díaz-Quiñones
Pedro Meira Monteiro (Princeton University)
O espaço periférico, feito de “fluxos e correntes”, engendra fantasias poderosas,
algumas delas capazes de converter a periferia num centro produtor de
alternativas para os descaminhos do mundo moderno. Reagindo ao otimismo
exacerbado dessa visão, pretendo flagrar, em três momentos da produção crítica
moderna e contemporânea, no Brasil e no Caribe, como os espaços periféricos
podem criar práticas sociais e culturais que resistem ao poder esterilizante da
norma, sem no entanto entregar-se à anomia. Longe de um elogio simplista das
sociedades “híbridas” ou “mestiças”, pretendo perguntar, com Holanda, Wisnik e
Díaz-Quiñones, pela noção de sujeito que emerge das experiências marginais. O
que fazer de um sujeito “não épico”, para quem o campo de batalha é a lida diária
com os limites de uma autonomia lesada? Mas não será a noção mesma de
autonomia que já não serve a entender a política? Que sujeito é este que ganha
sempre a meias, e para quem a vitória talvez se resuma a saber onde e
como perder?
Da forma mentis à poética comparada (relação entre as obras de
Osman Lins e de André Gide)
Sandra Nitrinni (USP)
André Gide foi um dos autores lidos meticulosamente pelo jovem escritor Osman
Lins, conforme demonstram anotações em suas cadernetas dos anos de 1950.
Fato este com desdobramentos em sua forma mentis, no que se refere à literatura.
Ambos se unem numa obstinada busca da arte de escrever e entendem que
cultivar o já estabelecido não corresponde ao verdadeiro ato de criar literatura.
Pretende-se mostrar o que Osman Lins tem em comum com Gide, ideias e
poética, para compreender seu processo de criação e localizá-lo na cartografia
do romance do século XX bem como na tradição dos escritores, que refletem
sobre o ato de escrever, explicitam suas preocupações teóricas e as integram em
sua ficção.
MESAS-REDONDAS
A dimensão nacional e internacional da literatura brasileira:
algumas reflexões heterodoxas
Arnaldo Saraiva (Universidade do Porto)
Preocupados com as questões nacionais da literatura brasileira, os seus
estudiosos e historiadores do sec.XX não prestaram, em geral, a devida atenção
às suas implicações
internacionais, fossem as de ordem estética ou
temática fossem até as da sua recepção ou repercussão. E curiosamente não
resolveram questões ainda longe de concitarem
a unanimidade,
como a do começo ou do fundador da literatura brasileira, e até esqueceram ou
desvalorizaram o enorme continente da literatura oral e popular. De qualquer
modo, a produção literária brasileira, que trabalha com uma das mais faladas
línguas do planeta, não pode continuar a ser secundarizada num espaço e num
tempo de competitividade global, e, depois de Machado, de Clarice ou de
Guimarães Rosa – talvez o mais espantoso exemplo no sec.XX do sucesso da
aliança entre o regional e o universal, entre o popular e o culto –, não tem só para
propor aos leitores brasileiros e estrangeiros os atrativos do local, do folclórico,
do exótico, ou da identidade nacional, pois lhes propõe também os do
aprofundado questionamento dos mundos psíquicos e da condição ou da
identidade humana.
«Infelici tribù» ou «belve feroci»? O Indianismo dos italianos
Giorgio des Marchis (Università degli Studi Roma Ter)
Que papel ocupa na cultura italiana oitocentista o índio brasileiro? Para
responder a esta pergunta, a comunicação vai apresentar uma análise da receção
do Indianismo brasileiro em Itália ao longo do século XIX, refletindo sobre os
processos de manipulação cultural que envolvem as obras de Santa Rita Durão,
Gonçalves de Magalhães e José de Alencar.
Poetas, romancistas, tradutores, muitos são os intelectuais italianos que
participam na definição duma imagem do índio que, contudo, não deixa de ser
bastante precária e instável. Quais as razões duma completa inversão de sentido?
É provável que, não mudando os indígenas brasileiros, a reviravolta do índio
reflita principalmente as mudanças sociais e políticas que caraterizam a história
de Itália do século XIX.
Hermes, a tartaruga e a lira
Alberto Pucheu (UFRJ)
A apresentação tomará por base o Hino Homérico a Hermes, no qual consta a
criação da lira pelo respectivo deus. Nesse nascimento, portanto, da lírica, existe
uma dependência inata entre ela e o animal, a tal ponto que, não fosse este último,
não haveria o canto com a lira. Juntando a contemporaneidade a uma
anacronicidade, como ler o mito desde hoje? Em nosso tempo, crítico e pósmítico, o caminho do canto ou do poema leva o cantor a se descobrir, ele mesmo,
também um animal?
A escritura na sua toca: Notas para uma etologia do animal literário
Eduardo Pellejero (UFRN)
Em 1947, Julio Cortázar afirmava que a literatura é um recinto fechado, com os
seus princípios e os seus fins, mas ao mesmo tempo notava que, no seu âmbito,
tem lugar uma busca extralivresca. Alguns anos mais arde, Maurice Blanchot
praticava uma reformulação da questão que a literatura é para si, e encontrava
novamente o ponto de partida da sua investigação no gesto de recolhimento
radical ao qual se encontra associado o espaço literário. O presente trabalho
pretende interrogar criticamente esse singular comportamento que associamos
ao que para nós significa escrever.
Literatura sem ensino: o letramento literário de jovens para além da
escola
Rildo Cosdon (Ceale-UFMG)
Partindo da experiência de leitura literária de jovens em círculos de leitura, tais
como os jogos de RPG e grupos de jovens góticos, realizamos uma revisitação de
pares de termos tradicionalmente relacionados à didática ou metodologia do
ensino da literatura, tais como disciplina escolar/história da literatura, livro/obra
literária, formação do leitor/cânone para colocar em discussão os caminhos que
se apresentam para o letramento literário em uma sociedade pós-literária.
LITERATURA COMPARADA NA AMÉRICA LATINA: RUMOS E
PERSPECTIVAS
Eduardo F. Coutinho (UFRJ)
Levando-se em conta o que hoje se entende por “novo comparatismo”, isto é, uma
Literatura Comparada que não se atém apenas nem aos estudos de caráter binário
entre obras, autores e movimentos literários, nem ao cânone da tradição
ocidental, mas que se encontra aberto a todo tipo de expressão literária e cultural
e receptivo a contribuições de outras áreas do conhecimento, teceremos neste
trabalho uma reflexão sobre as relações entre este novo tipo de comparatismo e a
produção literária e teórico-crítica latino-americana . Buscaremos investigar as
transformações que têm ocorrido nas últimas décadas nas relações entre o
pensamento latino-americano e as contribuições provenientes do contexto euronorte-americano e discutiremos a possibilidade de constituição do que vem sendo
designado de “geocultura latino-americana”.
OBRA PROPONENTE: (RE)LEITURAS DO TEXTO TEATRAL
André Luís Gomes (UNB)
Em Obra Aberta Umberto Eco (1971) defende que “a obra se coloca
intencionalmente aberta à livre reação do fruidor (...), carregando-se das
contribuições emotivas e imaginativas do intérprete” e Barthes, em O rumor da
língua, assevera que o “texto é um tecido de citações, saídas dos mil focos da
cultura”. Neste sentido, propomo-nos a pensar a dramaturgia com suas aberturas
e tessituras para a leitura e montagem teatral, esta, geralmente, concebida a
partir das relações dialógicas, das contribuições criativas e emotivas que se
estabelecem entre diretor, intérpretes (atores/atrizes), cenógrafos, iluminadores,
sonoplastas etc. Se “o espaço em branco em torno da palavra, o jogo tipográfico,
a composição espacial” impregna o texto poético de “mil sugestões diversas”,
como afirma Eco, o texto dramatúrgico, além de variadas sugestões, constrói-se
como obra proponente de outras possíveis leituras interpretativas e cênicas. Na
medida em que a peça teatral evidencia suas aberturas e sugestões e se constrói
permeado pelas fissuras do subtexto, a leitura e a transmutação cênicas podem
(re)criar ou aprofundar outros possíveis sentidos do/para o texto. Neste sentido,
nosso objetivo é pensar a dramaturgia como obra proponente a partir de leituras
cênicas realizadas no projeto Quartas Dramáticas, atividade de extensão
realizada na Universidade de Brasília, e de transmutações fílmicas de textos
teatrais.
O estatuto da palavra poética na ficção em prosa e no teatro:
caminhando para o novo
Suzi Frankl Sperber (UNICAMP)
Desde o começo dos tempos o ser humano luta para exprimir o inexprimível. O
que é este inexprimível? É a percepção funda da morte e a busca de explicações
para ela. É a alegria com cada vida que vem ao mundo, com cada situação de
quase morte em que, apesar de tudo, vence a vida. Desde o relato de mitos (como
a Teogonia, de Hesíodo), tragédias e comédias, as epopeias, os relatos fantásticos,
ou dramatúrgicos constituíam a literatura. A partir do início do séc. XX, o cansaço
com encenações com atores que tendiam à repetição de gestualidade, a
apresentações mecanizadas, à banalização promovida pela cultura de massa, a
linguagem não poética decorrente do domínio de técnica não renovada e mesmo
o impacto dos regimes políticos totalitários e das guerras, tudo isso levou à crise
das grandes narrativas e ao desejo de mudanças substanciais no teatro. Os
trabalhos de Stanislavski, Meyerhold, Jerzy Grotowski, o entrelaçamento de
dança e teatro, mesmo as reflexões e propostas de Artaud levaram a que os atores
passassem a exercitar seus corpos e vozes, de maneira a que o teatro passasse a
tender a dispensar os textos dramatúrgicos clássicos e modernos. A tendência
forte passou a ser a criação de espetáculos sem o prévio roteiro de um autor
afastado no tempo e no espaço da produção do próprio espetáculo. Meyerhold, já
na primeira fase do seu trabalho, afirmava que “as palavras não dizem tudo” e
que “a verdade das relações humanas está determinada pelos gestos, poses,
olhares e silêncios”. O novo teatro passou a explorar as tensões e contradições
entre a expressão verbal e a corporal. O corpo deveria aprender ou reaprender a
se expressar, já que a palavra já não satisfazia. A consequência foi que poucos
textos contemporâneos veem sendo encenados, os textos clássicos são
frequentemente reformulados e o trabalho colaborativo leva a que grupos de
atores – ou atores isolados - adaptem contos, romances, biografias, e outros
textos. Falarei sobre estes aspectos e o que me interessa sobremaneira é a palavra
experimentada tanto na ficção em prosa como na dramaturgia do presente. Os
experimentos são capazes de isolar palavra por palavra, de modo a inserir entre
as palavras um vazio, um espaço que acolhe vibrações, tonalidades, ritmos. A
partitura teatral passa a não ser temática, mas vocabular. As palavras isoladas se
expandem. Tal busca da expressão através da escolha e jogos das palavras – e do
silêncio – será tematizada na literatura e no teatro, chegando até um experimento
mais novo.
Na perspectiva da tradução
Michel Riaudel (Universidade de Poitiers - FR)
Porque recorrer à tradução, se é melhor ler o texto na língua de origem? Revisitar
esse dilema dos estudos comparados leva a sair de uma concepção funcional da
tradução, concebida como uma tentativa de equivalência sempre inferior ao
original porém ersatz necessário a quem não domina as cerca de 6 000 línguas
ainda hoje existentes no mundo, para pensá-la em seus potenciais poético,
analítico e epistemológico.
Em tempo, a tradução
Mauricio Mendonça Cardozo (UFPR/CNPq)
Se pararmos um pouco para pensar nos sentidos da expressão "em tempo",
comum no registro mais formal das atas e em diversos atos dos campos notarial
e jurídico, podemos dizer que, em seu uso corrente, convivem tanto a ideia de
algo que se deu por concluído ─ é justamente porque algo foi dado por concluído
que nos valemos dessa espécie de cláusula ─ quanto a ideia de algo que ainda
pode ter lugar, algo que ainda deve ter lugar, algo que, pela possibilidade ou
necessidade de um acréscimo, coloca em suspensão, ao menos por um instante
clausular, aquele estatuto de conclusão que a própria expressão evidencia. Em
outras palavras, resguardadas as especificidades de seu uso técnico, que não nos
cabem discutir aqui, é possível dizer que essa expressão evidencia algo que se deu
por dado e, nesse mesmo gesto, põe também em questão o "dar por dado" desse
algo. Tomando por base as implicações teóricas desse mote, esta apresentação
tem por objetivo problematizar algumas das figurações tradicionais do tempo no
pensamento sobre a tradução ─ a exemplo das noções de datação, efemeridade,
extemporaneidade, etc. ─, tendo em vista a discussão de suas implicações
poéticas e críticas para a tradução literária.
Introdução do realismo no Brasil: o controle das representações
Tânia Pellegrini (UFSCar)
A comunicação discute alguns aspectos históricos e sociais no interior dos quais
o realismo, transplantado da Europa, chegou ao Brasil, passando de estrutura de
sentimento a ideia dominante, adequando-se às condições locais, de modo a
poder desempenhar funções particulares ditadas pelo novo contexto. Tais
funções têm ligação essencial com a construção de uma ideia específica de nação,
que incluía o controle das representações sociais por meio da literatura.
O narrador como corpo em cena e a teatralização de seu olhar e voz
implicados na auto-biografia
Ismail Xavier (USP)
A palestra tem como objetivo discutir as questões postas pela adaptação de
romances narrados em “primeira pessoa” (narrador auto-diegético na
formulação de Gérard Genette) para meios audiovisuais, tendo em vista que o
caráter multifocal de cinema e televisão, com canais simultâneos de diálogo com
o espectador, amplia as opções e também os problemas a superar na definição de
um caminho de leitura da obra literária, notadamente no atinente aos efeitos de
sentido e valores implicados na modulação do foco narrativo. A atenção se
concentra na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, traduzido na mini-série
de TV, Capitu (2008-09, TV Globo), dirigida pelo cineasta Luiz Fernando
Carvalho, havendo referências ao filme Capitu (1967), de Paulo Cesar Saraceni.
Trânsito de linguagens, transmigrações conceituais
João Manuel dos Santos Cunha (UFPEL)
O tema das relações entre literatura e cinema tem se constituído num dos tópicos
mais explorados no âmbito de um recente e indisciplinado comparatismo:
bastaria uma leitura em transversal do temário de eventos da área e de sumários
de revistas acadêmicas para que se confirmasse a incidência desse fato.
Amplamente pensados como constructos textuais diferençados, livro e filme são
naturalmente aproximados como produtos de linguagem. A discussão, de uma
forma geral, ampara-se em paradigmas apropriados do campo dos estudos de
linguística e de teorias da inter e da transtextualidade (Kristeva, pós-Bakhtin;
Genette, pós-Kristeva). A migração de conceitos inicialmente elaborados para a
abordagem de texto e discurso no plano da linguagem verbal faz-se, assim, de
forma natural e vem a propósito de um comparatismo que não considera
qualquer territorialização disciplinar. Para o bem (a abertura para outros textos,
literários ou não) e para o mal (a neófita e ingênua insistência na relação binária
entre os dois processos), as reflexões geradas nesse contexto, ainda que em sua
grande maioria centradas na análise das chamadas “adaptações”, têm
possibilitado articulações consequentes. É fato também que, em outros campos
teóricos, a partir de padrões estabelecidos para o estudo comparado das artes
(“interartes”) ou da teoria das mídias (“intermidialidade”), por exemplo, a
investigação tem mobilizado ideias produtivas no que tange à ineludível
transmigração conceitual. Do ponto de vista do pensamento que tem sustentado
metodologicamente a estratégia comparatista, o que se verifica é que o tema das
relações de produção e recepção de textos transcendeu o campo específico dos
estudos linguísticos ou literários. Localizando-se no domínio dos saberes
cooperativos, essa ocorrência permitiu que se invocasse a intersecção com outras
disciplinas e campos nocionais.
É nesse carrefour de ideias, ponto congestionado do atual debate sobre a relação
entre mídias, meios e suportes, línguas e linguagens, paradigmas teóricos e
contextos discursivos diversos, que ainda seria possível demarcar espaço rentável
para discussão. Privilegiando a natureza incontornavelmente textual da literatura
e do cinema, bem como reconhecendo a sua condição de linguagem (METZ,
1969), examinamos a questão, justamente, a partir dessa qualidade inerente aos
dois meios, enfocando particularmente afetações e contaminações havidas a
partir de deslocamentos operados na múltipla via dos trânsitos entre a linguagem
literária e a fílmica. Sob essa perspectiva, uma panorâmica retrovisora sobre a
história do pensamento teórico-crítico, enquadrando e recuperando conceitos
fundacionais estatuídos desde Serguei Eisenstein ([1929], 1980), passando por
Pier Paolo Pasolini ([1965], 1982), Christian Metz ([1968, 1971], 1972), Peter
Wollen (1984) e André Gaudreault (1989) e chegando a Robert Stam (2003) e,
mais recentemente, a Evando Nascimento (2002, 2013), pode revelar aspectos
relevantes sobre o tema.
A leitura de romances: um elo de união entre letrados europeus e
brasileiros
Márcia Abreu (UNICAMP)
O trabalho apresenta a reação de letrados brasileiros, portugueses, franceses e
ingleses aos romances, entre o final dos anos de 1780 e os de 1830. Examina-se a
maneira como o gênero e seus leitores eram encarados, verificam-se os critérios
empregados para avaliação nos quatro lugares e analisam-se as razões que podem
ter conduzido à impressionante identidade nas opiniões de homens que viviam
em lugares tão distintos.
"Do bom uso da lentidão" em poesia
Ida Alves (UFF/CNPq)
Trata-se de pensar a questão da aceleração na experiência urbana cotidiana,
como aborda Hartmut Rosa (trad.francesa de 2010; edição alemã de 2005) e seu
enfrentamento na escrita poética contemporânea. Para isso, abordaremos em
alguma poesia portuguesa e brasileira certos eixos analítico-críticos que marcam
essa produção como o questionamento da subjetividade, os percursos da
memória e dos espaços vividos, as paisagens em movimento e as práticas de
deslocamento. Pensa-se numa geografia das emoções que questiona a existência
política e cultural no agora, marcada pela intensificação técnica e tecnológica. O
reflexo desses temas na construção do texto poético a partir da ideia "Du bon
usage de la lenteur", título de obra de Pierre Sansot (2000).
“O outro avanza sombre mim”: dimensões da vida anônima e
impessoal na cultura latino-americana
Florencia Garramuño (Universidade de San Andrés / CONICET)
Sustentado na análise de materiais heterogêneos, o texto aspira a construir um
marco de leitura para uma série de práticas culturais latino-americanas que
pensam a experiência para além do prisma da consciência individual, pensando
a vida na sua densidade anônima e impessoal. O trabalho se sustenta na hipótese
de que várias transformações sobre os modos de se conceber a subjetividade, a
escrita, e a comunidade podem ser apreendidas a través de práticas culturais cada
vez mais numerosas que registram a transformação de uma paisagem social onde
os deslocamentos, o nomadismo, e a contingencia das relações pessoais são cada
vez mais numerosas. Algumas intervenções radicais na cultura latino-americana
contemporânea apontam para uma desconstrução da categoria de pessoa que
exploram formas do impessoal ou anônimo e insistem em interrogar a
intensidade de uma experiência que é irredutível a um eu ou individuo.
Trabalharemos com textos e práticas de Mario Bellatin, Diamela Eltit, Teixeira
Coelho, Sylvia Molloy, Rosangela Rennó e Nuno Ramos.
LITERATURA PAN-AMAZÔNICA: INVESTIGAÇÕES
Allison Leão (UEA)
Esta intervenção visa levantar algumas questões relativas à possibilidade da
existência de um quadro literário a que se possa chamar pan-amazônico. Tratase de uma nomenclatura utilizada com cada vez mais frequência no ambiente
acadêmico do Norte brasileiro, o que se nota pelas diversas proposições de
simpósios nos últimos encontros da ABRALIC que partiram dessa noção como
pressuposto. Além disso, novas cátedras intituladas “Literatura Pan-amazônica”
têm se estabelecido nos cursos de Letras, em algumas universidades da região. É
um problema iminentemente comparatista, e assim deverá ser nossa abordagem.
O comparatismo pode ampliar e aprofundar o debate, buscando compreender
variáveis importantes da questão, entre as quais se destacam: a dinâmica entre o
nacional e o internacional (uma vez que, em termos geográficos, a Pan-Amazônia
ultrapassa limites nacionais); o caráter linguístico complexo; os componentes de
sua poética; além de elementos decisivos como a história, a política, o mercado e
a cultura.
Palavras-chave: Literatura comparada; Geografias literárias; Amazônia.
Os Trânsitos Literários nas Fronteiras Amazônicas
Simone de Souza Lima (UFAC)
Com este trabalho pretendemos discutir os fluxos e os trânsitos literários nas
fronteiras amazônicas tendo como mote alguns textos críticos de Uma literatura
nos trópicos, Silviano Santiago. Também lançaremos mão de textos críticos de
Milton Santos, Bessa Freire e Mia Couto. Nosso ponto de partida será uma
reflexão sobre a diversa estrutura física, linguística, histórica e social das
fronteiras amazônicas, que envolvem diferentes territorialidades desde o Brasil,
Peru, Bolívia, Suriname, Guiana, Guiana Francesa, Equador, Colômbia,
Venezuela. Nosso interesse pela diversidade cultural amazônica vai além do
artefato literário na sua configuração de escrita fixa. Interessa-nos especialmente
a oralidade, a memória, as línguas e os imaginários forjados e referenciados desde
as crônicas dos viajantes, contos, poemas e romances produzidos na e/ou sobre a
região. As línguas, “formas de expressão tão velhas quanto a história, nascidas da
interação com o espaço da vida” – segundo Milton Santos , e destacamos aqui as
línguas indígenas, desde o longo e traumático processo de colonização passaram
por silenciamentos diversos, chegando, inúmeras vezes, ao completo extermínio.
Sabemos nós o que representa para uma sociedade a perda de suas línguas?
Reflitamos sobre a questão a partir da contribuição de José Ribamar Bessa Freire
e Mia Couto. José Ribamar Bessa Freire postula que ao tempo em que (res)
guardam – as línguas carregam conhecimentos, pensamentos, afetos, história,
memória, narrativas, mitos, cantos, poesia. Nesse caso, morta a língua,
desaparecem com ela sua cultura e todos os bens simbólicos inerentes a ela,
decorrendo daí considerável pobreza cultural, social, linguística e histórica à
nação. Conforme a precisa consideração do moçambicano Mia Couto : “(...) As
línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas ‘servem’. Elas transcendem
essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser”. Como seres de
linguagem, existimos nela [língua], por ela somos atravessados a todo tempo. A
partir daí construímos e cadenciamos nossa existência, nos traduzimos, enfim.
Ainda como contribuição à indagação feita, traremos para nossa reflexão as
palavras de Mia Couto, a nos relembrar que “os idiomas existem enquanto parte
de universos culturais mais vastos ” dispersos socialmente. Nesse sentido, é que
“as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica ”. Esta
compreensão nos leva a compreender as reais e complexas dimensões da perda e
da imposição linguística empreendida pela empresa colonizadora, ontem, e o
desrespeito e preconceito linguístico presente na sociedade brasileira, hoje. Não
nos move ainda a fraterna compreensão do sociólogo indiano André Béteille
(descrita por Mia Couto em E se Obama fosse africano?), quando afirma que
“Conhecer uma língua nos torna humanos; sentirmo-nos à vontade em mais que
uma língua nos torna civilizados ”. Arremata Mia Couto: “Se isto é verdade, os
africanos [como os indígenas amazônicos] – secularmente apontados como os
não-civilizados – poderão estar mais disponíveis para a modernidade do que eles
próprios pensam. Grande parte dos africanos [e dos indígenas das fronteiras
amazônicas] dominam mais de uma língua e, além disso, falam uma língua
europeia. Aquilo que é geralmente tido como problemático pode ser, afinal, uma
potencialidade para o futuro ”. Falta-nos, portanto, essa visão das línguas
[indígenas] como potência, como diferencial enriquecedor de uma comunidade,
estado ou nação. A discussão aqui aventada seguirá a linha teórico/metodológica
acima referida.
Palavras-chave: Trânsitos. Fronteiras. Literatura. Língua. Amazônia.
A LITERATURA COMPARADA NO BRASIL: CURIOSIDADE E
PRAZER
Myriam Correa de Araújo Ávila (UFMG)
A vocação da pesquisa brasileira em Letras para a Literatura Comparada
evidencia-se, entre outras coisas, pelo crescimento e fortalecimento da ABRALIC,
instituição que conheceu rápido e constante sucesso desde sua fundação. A
atração que a Literatura Comparada exerce sobre os jovens pesquisadores não é,
porém, em princípio, resultado de uma ação institucional e não é diminuída pela
dificuldade de definição do âmbito da disciplina. A força da ABRALIC e da
Literatura Comparada no Brasil depende do equilíbrio entre a institucionalização
da disciplina e a liberdade metodológica. É nesse espaço híbrido que se pode
construir um rigor alimentado necessariamente pela curiosidade e o prazer,
matérias-primas a partir das quais se modela, através da formação profissional,
o quadro das pesquisas na área.
Guimarães Rosa lido em Angola: notas sobre a escrita de Ruy Duarte
de Carvalho e sua leitura de Grande sertão: veredas
Anita Martins Rodrigues de Moraes (UFF)
Pretendo, nesta apresentação, tratar do fecundo diálogo de Ruy Duarte de
Carvalho com a obra de Guimarães Rosa, diálogo este tecido na própria escrita do
autor angolano. Meu interesse será lidar com a representação literária de modos
de ser e de falar alheios (estranhos) àqueles que se apresentam como normais
(familiares e adequados) no mundo ocidental ou ocidentalizado. Trata-se de
refletir sobre a mimesis, ou seja, sobre a representação do outro e de sua fala, em
contextos de confronto cultural, atentando para as instâncias da autoria, da voz
narrativa e da representação da fala das personagens (fictícias ou não). Darei
destaque para Desmedida: crônicas do Brasil (2006), para momentos da
trilogia Os filhos de Próspero (Os papéis do inglês, 2000; As paisagens propícias,
2005; A terceira metade, 2009), de Ruy Duarte de Carvalho, e para Grande
sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa. Buscarei sugerir, recorrendo a uma
abordagem comparatista, que a leitura feita por Ruy Duarte de Carvalho da ficção
rosiana impregna a configuração de suas próprias estratégias de composição
literária.
A IDEIA DE ROMANCE: ALGUMAS CONCEPÇÕES
ANTEMODERNAS
Roberto Acízelo de Souza (Uerj / CNPq / FAPERJ)
Tornou-se usual afirmar-se que o romance teria sido completamente ignorado
pelos estudos literários antigos e clássicos, por tratar-se de gênero marginal e
desimportante até o século XVIII, se não inexistente até então. Essa
generalização, contudo, não resiste a exame mais cuidadoso, não sendo difícil
demonstrar sua inconsistência. Na suposição, no entanto, de que em geral são
pouco conhecidos textos antemodernos dedicados à questão do romance,
selecionamos alguns deles para análise. Constituímos assim um pequeno corpus,
passível naturalmente de expansão, integrado por um hino em prosa do século II
d.C., um diálogo português da primeira metade do século XVII e uma cartatratado francesa da segunda metade do mesmo século. Suplementarmente,
teremos ainda em conta quatro compêndios escolares brasileiros, produzidos nos
séculos XIX e XX, mas nitidamente fundamentados em tradições anteriores à
modernidade.
A musa sertaneja: Bernardo Guimarães e o romance do sertão
Eduardo Vieira Martins (USP)
O objetivo desta comunicação é discutir alguns problemas relacionados à
construção do sertão como um espaço de romance no século XIX. Tomando por
base a análise de O ermitão do Muquém, especialmente do episódio inicial,
ambientado em Vila Boa, pretende-se verificar como a narrativa incorporou uma
matéria lendária e de transmissão oral, e procurou adequá-la ao romance, um
gênero moderno, destinado a ser consumido pelo público leitor urbano. Por
compreender o sertão como um espaço dúplice, que congregava a maravilha e o
horror, o sublime e o grotesco, Bernardo Guimarães buscou criar um estilo, por
assim dizer, alusivo, que lhe permitisse abordar temas baixos sem romper o
decoro devido aos leitores da cidade, sobretudo ao público feminino, fiel
consumidor de romances e folhetins. Simultaneamente, para garantir o decoro
interno da narrativa, procurou adequar o estilo às situações vivenciadas pelo
herói, desenhando uma linha ascendente que deveria partir do que o prólogo do
livro denomina de “realismo”, perspectiva empregada no relato do episódio
transcorrido em Vila Boa, passar ao “idealismo” das cenas ambientadas entre os
índios e, por fim, atingir a “ideal sublimidade” utilizada para tratar da temática
cristã. Originalmente divulgado na forma de folhetins, entre 1866 e 1867, O
ermitão do Muquém foi publicado em livro em 1869, e pode ser lido como
indicativo de um movimento traçado pelo romance romântico ao longo do
decênio de 1870, quando o indianismo iria refluir e ceder espaço para um novo
mito, o mito do sertão, para o estabelecimento do qual Bernardo Guimarães
contribuiu decisivamente.
THE LOCATION OF WORLD LITERATURE
Galin Tihanov (Queen Mary University of London)
In this lecture, I seek to locate the Anglo-Saxon discourse of ‘world literature’ visà-vis three major reference points: time, space, and language. In the first part, I
examine the position of ‘world literature’ on the axis of time by asking the
question of whether ‘world literature’ can be conceived of solely as an offspring of
globalization and transnationalism, or should it rather be seen as having always
been there (but, if so, how do we write its history?), or merely as a pre-modern
phenomenon that dissipates with the arrival of the nation state and national
cultures. In the second part, my main concern is with the notion of ‘circulation of
texts’ currently deployed to formulate the subject of ‘world literature’ as a field.
In the final part, I analyze the complex relationship between the discourse of
‘world literature’ and language, which also has important consequences for how
we interpret the dissipated legacy of modern literary theory.
Estudos de literatura comparada e teoria da tradução: questões de
literatura e filosofia
Evando Nascimento (UFJF)
Abordagem de uma teoria contemporânea dos estudos de literatura comparada
em suas relações com uma teoria da tradução. Pretende-se analisar como a
tradução é um processo tanto literário quanto amplamente cultural, envolvendo
sempre mais de uma língua e, consequentemente, mais de uma cultura. A
invenção literária como ato tradutório. Tradução e leitura do curto texto de Kafka
“Vor dem Gesetz” (“Diante da lei”), a fim de relacioná-lo aos elementos teóricos
levantados, tendo como referência as interpretações de Jacques Derrida e de
Giorgio Agamben sobre a ficção kafkiana. Análise igualmente comparatista de
algumas relações entre Literatura e Filosofia, por meio da categoria de uma
literatura pensante, a fim de pensar hoje um conceito expandido e inclusivo de
literatura. Para isso, intenta-se refletir também sobre a pertinência do recurso à
expressão “obra literária” depois de todos os questionamentos realizados a partir
do texto (Barthes).
A conquista da cidade pela escrita, ou o local na literatura brasileira
contemporânea
Regina Dalcastagnè (UNB)
Pretende-se discutir, a partir da leitura de romances brasileiros recentes, a
preocupação renovada de autores vindos das periferias das grandes cidades com
a demarcação de um território próprio, local. Na contramão de narrativas que
reivindicam o espaço internacional como lugar de enunciação, suas obras trazem
o desafio da conquista da cidade pela escrita. Muito longe do apego regionalista
à terra ou à nação, esses textos explicitam as implicações das diferenças de classe,
raça, gênero e nacionalidade na construção do espaço literário e apontam para
uma revitalização de nossa literatura. O objetivo, então, é entender estratégias,
limitações e possibilidades dessas escolhas narrativas, especialmente quando
colocadas em contraponto com obras que buscam chamar atenção para a
universalidade da experiência de suas personagens (com seus deslocamentos pelo
exterior e seu modo de vida cosmopolita).
Amazônia contra o Estado
Pedro Mandagará (UERR)
Imagens da resistência do território amazônico às incursões do Estado nacional
são frequentes em obras ficcionais sobre a região, de Inferno verde, de Alberto
Rangel, a filmes como Fitzcarraldo, de Werner Herzog, ou Iracema, uma transa
amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna. Este trabalho procura investigar
a Amazônia como espaço de resistência partindo da leitura de trechos pouco
lembrados de Em câmara lenta, de Renato Tapajós. O romance é muito lembrado
por sua chocante cena de tortura final e por sua narrativa da guerrilha urbana,
mas raramente se faz referência ao enredo paralelo que trata da “guerrilha rural”
no Alto Rio Negro. Este esquecimento da fortuna crítica espelha múltiplos
esquecimentos da Amazônia na historiografia literária, cultural e política. A
relação conflitiva do estado nacional com o território amazônico perpassa a
história da região e do país, chegando às recentes tentativas, por parte do governo
central, de reencenar o projeto colonizador na região, a partir da construção de
novas usina hidrelétricas, linhas de transmissão e rodovias.
Bem me quer, mal me quer: Leituras da crítica sobre a literatura
brasileira contemporânea
Rachel Esteves Lima (UFBA/CNPq)
O trabalho tem como objetivo analisar as diferentes posições assumidas pela
crítica literária frente à literatura brasileira contemporânea. Oscilando entre a
apreciação apologética e a apocalíptica, alguns nomes da crítica brasileira vêm se
enfrentando nos espaços de divulgação da literatura contemporânea
(suplementos culturais, revistas impressas e eletrônicas, programas de internet,
etc). Nomes como Alcir Pécora, Paulo Franchetti, Flora Süssekind, Leyla PerroneMoisés, Nelson de Oliveira, Beatriz Rezende, Alberto Pucheu, Karl Erik
Shollhammmer, dentre outros, vêm se manifestando a favor ou contra a nova
produção literária, num embate no qual se percebe não apenas os transtornos
causados pela crise das mediações frente aos novos meios de comunicação de
massa, mas também a dificuldade em lidar com o contemporâneo a partir de
critérios de valoração artística já ultrapassados. O ensaio a ser apresentado busca
discutir esse mal-estar no campo crítica, com o intuito de apontar algumas
propostas para a sua superação.
Teoria Literária e Estudos da Tradução: afinidades (s)eletivas
Andréia Guerini (UFSC/CNPq)
Esta comunicação pretende verificar em que medida as disciplinas Teoria e
Literária e Estudos Tradução dialogam a partir da análise de algumas das grandes
correntes da Teoria Literária e dos Estudos da Tradução, circunscrevendo
eventuais afinidades eletivas ou seletivas.
A História da Literatura – ascensão, queda ou ressurreição?
Regina Zilberman (UFRGS)
Resumo: Desde a emergência dos estudos estruturalistas e pós-estruturalistas,
nos anos 1960-1970, a História da Literatura perdeu espaço no campo literário.
Na ocasião, Hans Robert Jauss buscou, por intermédio da proposta de uma
Estética da Recepção, resgatar a História da Literatura, considerando-a base de
uma renovada ciência da literatura. Na sequência, a ascensão dos Estudos
Culturais abriram novas fronteiras de investigação, oferecendo alternativas à
constituição da História da Literatura. Cabe refletir de que História e de que
Literatura se trata, bem como quais são suas consequências no âmbito da
pesquisa e do ensino.
Gênero entre culturas e línguas diversas: traduzindo pertencimentos
Liane Schneider (UFPB/ DLEM/PPGL/CNPq)
Ao longo do presente trabalho propomos discutir como marcas de gênero são
traduzidas de um original em língua inglesa para a língua portuguesa e vice versa;
no primeiro caso, a fim de ilustrar esse viés da tradução, serão destacados
exemplos retirados do romance Americanah, de Chimananda Adichie, do texto
em inglês (texto original) para o texto em português (texto traduzido). De forma
semelhante, ilustraremos nossa discussão com o romance Ponciá Vicêncio, de
Conceição Evaristo e os caminhos percorridos do original (português) até sua
tradução para a língua inglesa. O que nos interessa é verificar quais os impactos
no que se refere ao gênero quando esses textos produzidos por autoras
afrodescendentes adentram outros territórios linguístico-culturais. Apoiaremos
as observações em autores/as como Behrouz Karoubi e Lori Chambarlain,
buscando costurar observações sobre a prática tradutória, a representação do
sistema no qual o gênero está inserido e o peso ideológico das escolhas feitas.
JOGO DOS BICHOS E POESIA NEFELIBATA: EM TORNO DE UMA
SÁTIRA DE OLAVO BILAC
Alvaro Santos Simões Junior (UNESP/CNPq/FAPESP)
Pretende-se nesta palestra analisar e interpretar o texto “Um poema”, publicado
por Fantasio, pseudônimo de Olavo Bilac, na Gazeta de Notícias em 5 de abril de
1895. No interior do texto, encontra-se transcrito um poema que se atribui a
Jaime de Ataíde, pseudônimo com que o poeta parnasiano assinou, juntamente
com Carlos Magalhães de Azeredo, o romance Sanatorium, publicado de 11 de
novembro a 12 de dezembro de 1894 no jornal já mencionado. Os versos zombam
de João Batista Viana Drummond, o barão de Drummond, inventor do jogo do
bicho, que poucos dias antes perdera contrato com o Prefeitura, o que
inviabilizaria a manutenção das atividades do Jardim Zoológico por ele dirigido.
No entanto, o poema, além de sátira, é também uma paródia, como faz questão
de insinuar Fantasio ao apresentá-lo: “São versos sugestivos, que lembram a nova
maneira de Guerra Junqueiro no volume dos Simples.” Como se procurará
demonstrar, as afiadas farpas da paródia não se dirigiam apenas ao poeta
português, mas também ao brasileiro Cruz de Sousa, que publicara os seus
Broquéis um ano e oito meses antes. Talvez esse fosse um dos episódios da surda
batalha entre parnasianos e simbolistas no entresséculos.
A poesia e a crítica (notas sobre alguns poetas e poemas
contemporâneos)
Pablo Simpson (UNESP/ São José do Rio Preto)
Esta comunicação tem como objetivo percorrer alguns livros de poetas brasileiros
contemporâneos, como Marília Garcia, Marcos Siscar, Pedro Marques, Érico
Nogueira e Ricardo Domenecq, a partir do questionamento de uma espécie de
permeabilidade que essa poesia instaura com relação a diferentes discursos
críticos, assumidos pelos próprios poemas. Trata-se de investigar um modo de
manifestação daquilo que Marcos Siscar apontou recentemente como um
“discurso da crise” (Poesia e Crise, 2010), menos pelo viés de um desprestígio ou
anacronismo da poesia, frente aos quais ela responderia, tanto quanto a
literatura, pela encenação de um sacrifício ou por uma “experiência exemplar do
colapso” (idem, p. 52), desde Baudelaire e Mallarmé, do que pelo apelo a uma
capacidade crítica, de “constituir-se como discurso sobre a verdade”, como no
poema “Wille zur Wahrheit” de Pedro Marques (Clusters, 2010, p. 36), menção a
uma “vontade de verdade” e referência ao Zaratustra de Nietzsche, ou como em
Marília Garcia, cujo livro Um teste de resistores traria em seu poema final, em
diálogo com Célia Pedrosa, mencionada textualmente, uma resposta à pergunta
“a poesia é uma forma de resistência?” (2014, p. 116).
Catálogo dos mortos: a cultura latino-americana contemporânea e
os inventários do horror
Gustavo Silveira Ribeiro (UFBA)
O texto procura compreender, a partir da obra de quatro escritores e artistas
específicos (o argentino Juan Carlos Romero, o chileno Roberto Bolaño e os
brasileiros Nuno Ramos e André Vallias), a presença e os significados que os
inventários, os catálogos e as listas assumem na cultura latino-americana das
últimas décadas, em especial a ligação que esses elementos mantêm com a
reflexão sobre a violência que atravessa, enforma e constitui parte significativa
dessa mesma cultura. Trata-se, quem sabe, de um processo de apropriação e
ressignificação formal, uma vez que, à parte todas as diferenças discursivas e
históricas que se pode apontar, a presença de listas e enumerações era já
marcante na cultura da América Latina dos séculos XVIII e XIX, especialmente
na literatura produzida por colonizadores e viajantes que, percorrendo os vastos
territórios do continente procuraram registrar tudo o que viam e imaginavam por
meio de inventários narrativos do exótico e do desconhecido, do maravilhoso e
do estranho que se encontrava nesse novo mundo que, da sua perspectiva,
quedava por conquistar e cartografar. No âmbito contemporâneo, entretanto, o
que se vai observar é mais do que apenas uma tendência estética (que de resto
não é exclusiva ao contexto em questão), mas uma (re)invenção política da
linguagem, a emergência de outras listas, agora verdadeiros inventários do
horror: diante do insuportável da violência, do esquecimento e da morte que se
espalham, a arte e a literatura elaboram os seus catálogos da dor e da revolta,
criando formas narrativas e expositivas baseadas na repetição e na acumulação,
em textos que vão participar, reencenando-a como um ritual fúnebre ao mesmo
tempo individual e coletivo, da infinita tarefa da memória e do luto. Serão
comentados, em particular, as seguintes obras: as instalações Violencia
(1977/2011), de Romero, e 111 (1992), de Ramos; o romance 2666 (2004) de
Bolaño, e o poema visual Totem (2013) de Vallias.
Pensando nuestras culturas: procesos de formación
Ana Pizarro (Universidade do Chile)
Una nueva mirada a la conformación de nuestras culturas brasileña e
hispanoamericana así como caribeña nos llevan a diferentes observaciones
respecto de los elementos y procesos que las constituyen así como de los
movimientos con que ellas adquieren su perfil. Nuestra indagación privilegia la
multiplicidad en una valoración propia de la modernidad tardía.Esto nos lleva a
una revisión de la noción tal vez demasiado utilizada de "transculturación", que
consideramos un hallazgo en su momento, que fue un concepto bastante
productivo, pero también proclive a la simplificación explicativa de fenómenos
mas complejos. Hoy
poseemos nuevas perspectivas, que nos llevan a su revisión.
COMUNICAÇÕES
Átila Silva Arruda Teixeira
TITULO: SERTÃO E MODERNIDADE EM HUGO DE CARVALHO RAMOS E
BERNARDO ÉLIS
RESUMO: A representação do sertão na literatura brasileira é marcada por
construções antitéticas: ora ele é apresentado como lugar de homizio, ora como
uma espécie de paraíso perdido. Figurando sempre como um espaço singular,
exótico, o sertão pertencia geograficamente ao país, mas a ele não estava
organicamente integrado. Iniciado no período colonial, através dos textos dos
cronistas e dos viajantes que se aventuraram pelo interior do país, essa tradição
prolonga-se no Brasil Império, com a Corte assumindo o olhar inventariante da
antiga metrópole e chega até o limiar do período republicano. Entretanto, nos
primeiros anos do século XX, principalmente após a publicação de Os sertões, de
Euclides da Cunha, em 1902, essa região passa a ser paulatinamente considerada
não pelo viés do estranho, do insólito, mas sim como desprovida das condições
básicas de sobrevivência e cerne de uma “brasilidade”. A proposta dessa
comunicação é perquirir como dois dos maiores escritores da literatura brasileira
produzida em Goiás, Hugo de Carvalho Ramos (em Tropas e boiadas, de 1917) e
Bernardo Élis (em Ermos e gerais, de 1944), rompem com a visão estereotipada
do sertão e esteticamente representam a organicidade desse espaço e da
sociedade goiana nele instalada, concomitantemente à denúncia das precárias
condições de vida do sertanejo. Se o primeiro constrói uma linguagem literária
que evidencia a transição artística existente no início do século XX para retratar
uma região ainda integrada ao ciclo do gado, com patrões e vaqueiros em
aparente harmonia, o segundo configura sua obra se valendo das conquistas
estéticas do primeiro momento modernista de 1922 e revela as contradições do
processo de modernização desse espaço, metonimicamente exemplada no
maquinário nele inserido, reorganizando as estruturas sociais do sertão de Goiás.
PALAVRAS-CHAVE: Sertão e Modernidade; Hugo de C. Ramos; Bernardo Élis.
Ângela Beatriz de Carvalho Faria
TITULO: "O DESEJO DA EXPERIÊNCIA DESMESURADA DO OBSCURO E DO
AUSENTE", EM 'A DAMA E O UNICÒRNIO', DE MARIA THERESA HORTA
RESUMO: As reflexões filosóficas presentes nos ensaios "Artepensamento" (Org.
Adauto Novaes), em "O que vemos, o que nos olha"; "A imagem sobrevivente:
história da arte e dos fantasmas de Amy Warburg", de Georges Didi-Huberman e
em "Histórias e fantasmas para gente grande", de Amy Warburg iluminam o
caminho crítico da Comunicação proposta e nos permitem estabelecer um diálogo
com a poesia de Maria Theresa Horta, "A Dama e o Unicórnio", pontuada pela
música profana de António Sousa Dias (CD incluído no livro) (Portugal:
Publicações Dom Quixote, 2013). O fascínio causado pela contemplação da série
de tapeçarias medievais, expostas no Musée de Cluny, levam a autora, no viés de
Diderot, a "levantar a ponta de um véu e mostrar aos homens um lado ignorado
ou antes esquecido do mundo que habitam". Ao deparar-se com diferentes
formas de expressão (gestos, desenhos,lãs, fios, linhas e cores), reproduzidas no
espaço textual, a poeta procura, através de palavras, ir além do que vê e desnudanos a realidade oculta do pensamento das personagens revisitadas, pleno de
promessas recônditas, deslizantes e eróticas, o que a leva a indagar: "A Dama
seduz/Ou o Unicórnio entrega-se?"; "No jogo da sedução/Quem usa a taça e a
seta?" Manifesta-se, assim, um processo de apropriação de uma imagem
sobrevivente e luminosa do passado que virá a ser ressemantizada no presente da
escrita. "Formas e linguagens, que se apresentam no domínio da exterioridade" "O bordado dos vestidos/com motivos/de romã" "de rubi e ritual" - "remetem ao
domínio da interioridade, aos movimentos e paixões da alma" - "cabem sonhos
desavindos/os desejos calcinados/os prazeres não resguardados". O caráter do
engrama (memória social coletiva metamorfoseada) refletirá a articulação do
dionisíaco com o apolíneo.
PALAVRAS-CHAVE: A Dama e o Unicórnio; Maria Theresa Horta; Imagem
sobrevivente.
Ângela Maria Dias
TITULO: LIMIARES E PARADOXOS ENTRE IMAGEM E TEXTO: A ESTÉTICA
DE VALÊNCIO XAVIER
RESUMO: A estética de almanaque concebida pela obra de Valêncio Xavier, em
sua intrigante bricolage de imagens e palavras, experimenta uma espécie de
clímax, na última coletânea publicada pelo autor em vida, Rremembranças da
menina de rua morta nua e outros livros, de 2006. Nela a inusitada combinação
entre desenhos e ilustrações recolhidos em fontes diversas, acrescida de
fotografias de variada autoria, para a criação de histórias curtas e surpreendentes,
causa certa perplexidade no leitor, colhido pela rede intersemiótica de correlações
entre os escritos minimalistas, de feitio e fonte bastante diversificados, e o
aparato visual, capaz de incluir também, materiais ínfimos e cotidianos, desde
recortes de jornal sensacionalistas, até embalagens e pornografia. O formato
alegórico do conjunto de relatos, em suas “combinações de visível e legível”, na
medida em que “o visível tem sua leitura”, assim como “o legível tem seu teatro”
(Deleuze, 1991, p. 187), convoca o leitor ao trabalho incerto da interpretação,
dificultada pelo caráter risível e pelo o nonsense de determinadas passagens,
urdidas entre sensacionalismo obsceno e alusividade melancólica. A presente
comunicação se propõe a examinar o trânsito entre as ilustrações e o texto, em
sua complexidade alusiva, e caracterizar a rede de contrastes e conexões, entre
semelhanças e estranhamento que tal intercâmbio produz.
PALAVRAS-CHAVE: alegoria; rede intersemiótica; limiar.
Aída Maria Jorge Ribeiro
TITULO: ESCRITAS DE SI: O PAPEL DA MEMÓRIA
RESUMO: Escritas de si: o papel da memória. Aída Maria Jorge Ribeiro
(UFF/IFF) Ao considerar o caráter psicológico da memória, é automática a ideia
de que se “lembrar” de algo requer a existência de um acontecimento e de um
ator. A atriz aqui é a escritora antilhana Maryse Condé que, em Victoire, les
saveurs et les mots (2006), transforma os rastros memoriais de sua avó, sociais,
coletivos em escrita pessoal, individual; em La vie sans fards (2012) e em Le coeur
à rire et à pleurer (1999), mistura sua vida a eventos históricos marcantes nas
Antilhas, França e países da África; Condé constrói sua identidade através de um
processo que mescla experiências vividas e vivências interiores, mas para isso é
preciso lembrar-se. Espera-se alcançar diálogos frutíferos em torno da intricada
relação entre a memória e a literatura de onde decorre a confusão deliberada
entre o romanesco e os índices do real, com referências diretas à “pessoa física”
da autora, onde o gesto literário se mostra não para dizer dele, mas da prática que
o define. Segundo Philipe Lejeune, “essa zona ‘mista’ é muito freqüentada (...)
muito propícia à criação” (LEUJENE, 2008, p. 108); a construção narrativa,
enquanto encenação ficccional da memória da narradora, admite para si –
justamente por essa ambiguidade – a liberdade inventiva da escritora, que com
seu gesto preenche os silêncios, delineia as imprecisões, preenche os buracos.
Referências bibliográficas CONDÉ, Maryse. . La vie sans fards. Paris: J.C. Lattès,
2012. ______________. Le coeur à rire et à pleurer. Paris: Robert Laffont,
1999. _____________.Victoire, les saveurs et les mots. Paris: Mercure de
France, 2006. HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva. Tradução Beatriz
Sidou. São Paulo: Centauro, 2006. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico:
de Rousseau à internet. Tradução de Jovita Maria Gerheim Noronha e Maria Inês
Coimbra Guedes. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
Aïcha Agoumi de Figueiredo Barat
TITULO: TRAÇOS DE NEGRITUDE: POÉTICAS E REPRESENTAÇÕES DO
NEGRO EM CAPAS DE DISCO DA MÚSICA BRASILEIRA (1960-1980)
RESUMO: A música, no Brasil, age como uma das mais fortes e abrangentes
expressões da cultura, e o disco é ponto inicial e crucial no processo de
comunicação do artista com o grande público. A partir dos anos 60, vemos como
a questão negra penetra a obra musical de vários artistas brasileiros e passa a ser
exposta nas capas de seus discos. Ao pensar a diáspora negra, vemos que se
constitui um repertório comum de referências – passadas, presentes e futuras –
que levam os africanos e seus descendentes a constituir uma identidade e uma
plasticidade próprias, que provêm da memória e da identificação com o ancestral
e o contemporâneo. Assim, predominam significantes derivados de experiências
e memórias de escravidão, colonialismo, exílio, exclusão racial, práticas religiosas
e legados africanistas que contribuem não só para a elaboração de um
imaginário,mas também para a construção de uma identidade, de um Brasil
negro. Para pensar o diálogo destes objetos com a africanidade e suas
representações, usarei Stuart Hall (2001) e o que chama de “repertório cultural
negro”. Tomarei como exemplo diversos casos nos quais a capa cristaliza tanto
uma poética própria quanto uma mise-en-scène corporal do artista negro.
Quando em cena, o corpo é superfície de inscrição e potência de encenação, e é
dotado de um compromisso ético-estético. Por carregarem fortes simbologias e
mitologias, as capas tornam-se obra de um pensar e fazer artístico. Para além de
serem simples invólucros de discos, é interessante notar como elas são terreno
fértil para a expressão de uma africanidade enquanto parte de um projeto musical
maior e como se apropriam de fortes símbolos, construindo mitologias (Barthes,
2003) e identidades e dialogando com o mercado fonográfico.
PALAVRAS-CHAVE: capa de disco; diáspora; representação.
Adeítalo Manoel Pinho
TITULO: A CRÍTICA LITERÁRIA HOJE: DESAFIOS TEÓRICOS
CONTEMPORÂNEOS ENTRE LITERATURA DE JORNAL E DIVERSIDADE
CULTURAL
RESUMO: No Brasil, a literatura sempre esteve relacionada ao jornal. Tanto os
textos de literatura foram publicados e divulgados nas páginas grandes, quanto
os poetas e romancistas exerceram alguma atividade no ambiente periódico. Este
trabalho propõe apresentar questões relacionadas ao estreito vínculo entre estas
duas atividades. Para tanto, recortaremos as atividades em alguns periódicos
contemporâneos, como A Tarde, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, etc. Tais
atividades serão confrontadas com discussões teóricas contemporâneas ligadas
ao estudos literários e aos estudos de periódicos. As seguintes questões serão
emitidas: O periódicos ainda é local para criação e divulgação de literatura? Que
gêneros e tipos de literatura ainda são encontrados em suporte periódico? A
crítica literária ainda exerce papel relevante em ambiente periódico? As
emergências de diversidades culturais foram capazes de modificar a literatura
feita em periódico? Serão estudados pesquisadores da competência de Regina
Zilberman, Maria Eunice Moreira, Hugo Hachugar, Antonio Dimas, Heidrun K.
Olinto, João César Castro Rocha, Luis Bueno, Siegfried Schmidt, Itamar EvenZohar, Etore Finaze Agró. Esta proposta de trabalho faz parte das atividades do
projeto ‘A nova história da literatura: teorias contemporâneas e meios
periódicos’, que por sua vez está vinculado ao projeto maior Escritas
contemporâneas: desafios teórico-críticos (PROCAD/CAPES PUCRio, UEFS,
UNEB, PUC-Goiás).
PALAVRAS-CHAVE: Literatura contemp.; Literatura de Jornal; História
literatura.
Adolfo José de Souza Frota
TITULO: A NATUREZA E O SENTIDO DE ESPAÇO EM THE MAN WHO RODE
MIDNIGHT , DE ELMER KELTON E GOODBYE TO A RIVER, DE JOHN
GRAVES
RESUMO: O projeto de pesquisa pós-doutoral tem como proposta central o
estudo comparativo de dois romances norte-americanos: Goodbye to a River, de
John Graves e The Man Who Rode Midnight, de Elmer Kelton. Com base nas
pesquisas do New Western History e da ecocrítica, o projeto discute a concepção
de natureza por esses dois autores, preocupados com as transformações que
estavam ocorrendo no Texas, na segunda metade do século XX. A contraposição
ao desenvolvimento tecnológico, que acelera a destruição dos recursos naturais,
se torna o principal argumento de defesa ambiental dos dois romancistas na
elaboração das narrativas e na construção de um discurso ecológico voltado para
a criação de um sentido de espaço, onde homem explora, de forma equilibrada e
sem prejuízo, a natureza à sua volta.
PALAVRAS-CHAVE: New Western; Ecocrítica; Espaço.
Adriana Carolina Hipolito de Assis
TITULO: OLHARES: A VANGUARDA DUCHAMPIANA COMO TRADUÇÃO DO
CORPO
RESUMO: O olhar anuncia para além do campo fenomenológico a crítica e a arte
como tradução. O corpo estético vanguardista de Marcel Duchamp ganhou
mundialmente força ao reatualizar a tradição poética com ironia, com paródia,
com pastiches retirados de seus espaços habituais. O museu perde a aura e a arte
se reconstrói como réplica da grande comédia da vida privada. O olhar se
virtualiza diante da vitrine, do Carrefour de colagens, todos (clássico e popular)
enfileirados na mesma prateleira: Bombril vendido por Monalisa. O olhar do
ensaísta mexicano Octávio Paz, assim como da poesia concreta, sobre esse
contexto é um olhar que buscou traços de semelhança com a vanguarda
duchampiana com intuito de marcar a crítica e a poética latina dentro da ruptura
dos readymade como proposta de liberdade e de transgressão estética. Octavio
Paz. Poesia Concreta.
PALAVRAS-CHAVE: Octavio Paz; M. Duchamp; Poesia Concreta.
Adriana da Costa Teles
TITULO: FLUXOS E TRÂNSITOS MACHADIANOS: REPERCUSSÕES DE DOM
CASMURRO NA CONTEMPORANEIDADE
RESUMO: Machado de Assis criou, em Dom Casmurro, uma das maiores
representações, na literatura brasileira, de um amor envolvente, mas permeado
pelo ciúme, um sentimento que escraviza e, em certo sentido, destrói a vida dos
envolvidos. A mulher amada, como a própria vida, é enigmática e
incompreensível e o narrador, distanciado cronologicamente dos fatos e
diretamente envolvido com eles, planta a dúvida e faz com que o leitor renuncie
à postura de testemunha crédula. Dom Casmurro ocupa um lugar privilegiado no
cânone literário brasileiro, disponível aos escritores contemporâneos, que,
consciente ou inconscientemente, muitas vezes dele se valem para representar as
torturas de um amor que é felicidade e perdição, dando continuidade a uma
tradição de amores interrompidos e da figura feminina apaixonante e ambígua.
O objetivo dessa comunicação é discutir algumas repercussões desse romance de
Machado na atualidade. Para tanto, selecionamos duas narrativas que exploram
temática de alguma maneira semelhante à que vemos em Dom Casmurro, que são
Leite derramado (2009), de Chico Buarque, e Eu receberia as piores notícias dos
seus lindos lábios (2005), de Marçal Aquino. Falaremos, também, ainda que de
passagem, dos chamados “textos de homenagem” ao escritor, publicados em
Capitu mandou flores (2008). O foco de nossa discussão será justamente a
representação de um amor que perturba e acaba por despedaçar a vida dos
envolvidos.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; Literatura Comparada; Contemporâneo.
Adriana de Fátima Barbosa Araújo
TITULO: UM ESTUDO DE CONTO BARROCO OU UNIDADE TRIPARTITA: A
APROXIMAÇÃO ENTRE ESTÉTICA E BASE SOCIAL
RESUMO: Esta comunicação busca estudar as relações entre estética, história e
política na narrativa Conto Barroco ou Unidade Tripartita, do livro Nove, Novena,
publicado, por Osman Lins, em 1966. A história contada e a forma de contar a
história entram numa sintonia tão bem afinada e brilhante, cheia de dourados e
brilhos que provocam ao mesmo tempo um encantamento e também um choque
(interação dos contrários própria do barroco) causado pelo teor de violência
social envolvida na matéria narrada. Nossa proposta é estudar algumas das
mediações que podem ser pensadas a partir do todo narrativo – o um só do texto
em que seus muitos fios tramam de maneira genial conteúdo e forma. Estão
presentes, na narrativa, processos artísticos do barroco mineiro e resquícios
sociais do período colonial brasileiro, vividos no destino dos personagens e
concretizados na forma narrativa. Há elementos na composição que provocam
uma reflexão sobre o racismo e a exclusão do povo pobre e negro especialmente
o lugar da mulher negra na sociedade, assim como a ausência do estado o que
caracteriza uma comunidade sem lei. Com relação à estética barroca, a
organização narrativa estabelece uma multiplicidade de planos trazidos para uma
frontalidade no modo de narrar que se materializa na justaposição num mesmo
plano de fases e acontecimentos tripartitos. A ideia é explicar por meio do estudo
dos elementos compositivos como foi realizada a interação de elementos
estéticos, históricos e políticos, pois na composição artística da narrativa não há
apenas um retorno à estética do barroco, mas também ao escravismo, ao
clientelismo e ao patriarcalismo coloniais presentes na base social sobre a qual o
Barroco se desenvolveu em Minas Gerais e muito presentes na sociedade da
década de 1960 e na nossa atualidade. Não é à toa que a história acontece em
Congonhas, Ouro Preto e Tiradentes.
PALAVRAS-CHAVE: Osman Lins; Barroco; Estética e Política.
Adriano da Rosa Smaniotto
TITULO: LEMINSKI E A DIVERSIDADE: ALGUNS ASPECTOS
VALORIZAÇÃO DA CULTURA NEGRA PRESENTES EM SUA OBRA
DE
RESUMO: Este trabalho pretende aproximar a obra de Paulo Leminski às
discussões recentes presentes na literatura ibero-americana, principalmente no
que diz respeito à valorização de elementos da cultura negra. Sabe-se que o poeta
escreveu vários poemas valorizando a mestiçagem, a fusão de culturas e símbolos.
Além disso, sua bagagem cultural é marcada pela reunião de vários aspectos:
ascendência polonesa por parte de pai; negra por parte de mãe; formação
eclesiástica na adolescência; aproveitamento da tradição japonesa por meio do
haicai e do judô; além do vasto conhecimento de outros idiomas e saberes. Este
saber eclético e diversificado do ponto de vista cultural propicia uma poética
marcada pela diversidade e pelo relativismo, construídos por meio da mistura de
elementos aparentemente não conciliáveis como o saber erudito e a linguagem
coloquial, o tom de vanguarda e a influência pop, a síntese vocabular e o prosaico,
ou ainda, a poesia e as outras artes. No intuito de caracterizar esta mestiçagem,
são comuns expressões como a cunhada por Leyla Perrone-Moisés, "Samurai
Malandro", ou mesmo, "O bandido que sabia latim", esta escolhida por Toninho
Vaz para a biografia de Leminski. Desse modo, o objetivo é analisar poemas em
que se faça menção à questão afrodescendente, ou mesmo, aqueles em que a
cultura negra seja valorizada de forma sutil. Pode-se pensar, ainda, num
tratamento da questão da negritude ainda pouco explorado, bem como numa
presença de fundo do elemento negro no repertório leminskiano. Por fim, a
própria biografia que Leminski escreve de Cruz e Sousa, aponta para uma
valorização por parte do poeta da cultura afro e propõe o devido lugar que a poesia
e a diversidade ibero-americana requerem.
PALAVRAS-CHAVE: Paulo Leminski; Poesia Negra; Literatura Ibero-Ame.
Adriano Lima Drumond
TITULO: JOSÉ GUILHERME MERQUIOR E A PEDAGOGIA DA POLÊMICA
RESUMO: Na ampla maioria dos textos dedicados seja a compreender o
pensamento de José Guilherme Merquior (1941-1991), seja a noticiar as recentes
edições de sua obra, o que se verifica é a recorrência de o considerarem um
notório polemista. Com efeito, a imagem merquioriana ainda hoje, quase 25 anos
após a morte do autor de "Saudades do carnaval", é associada a polêmicas
travadas, sobretudo, em jornais e revistas, assim como a uma postura ideológica
e a envolvimentos políticos que configuraram, no imaginário de muitos, um
homem polêmico. Nossa comunicação objetiva abordar aspecto diferente da
polêmica em Merquior, desviando-se de registros biográficos ou anedóticos em
torno desse crítico das ideias. A proposta é de compreender as características
discursivas de sua obra, que, plasmada via de regra em forma ensaística e
marcada pela discussão de grandes nomes e correntes do pensamento da segunda
metade do século XX, num verdadeiro afã de diálogo e de circulação das ideias,
resultaria no que pretendemos denominar de pedagogia da polêmica. Isto é, o fim
último da polêmica como estruturação da escrita merquioriana não consistiria
em argumentar em favor de uma suposta verdade única, mas em,
pedagogicamente, condicionar e estimular debates que poderiam aprimorar o
conhecimento científico.
PALAVRAS-CHAVE: Merquior; Polêmica; Pedagogia.
Afonso Teixeira Filho
TÍTULO: AS TRADUÇÕES DE PARADISE LOST
RESUMO: De agosto de 2013 a agosto de 2014, realizamos na Katholieke
Universiteit Leuven, Bélgica, uma pesquisa bibliográfica com o propósito de
identificar as traduções existentes do poema heroico de John Milton, Paradise
Lost. Identificamos 230 traduções para 36 línguas. A maior parte delas foi feita
no século XIX, quando houve uma revitalização de Milton pelos românticos. O
interesse pelo autor e seu poema decaiu no século XX, mas voltou a crescer nos
últimos anos. Esse crescimento se deve não tanto a um renovado interesse pelo
autor, nem ao crescimento do mercado editorial, mas a um interesse pela
disciplina da tradução. Traduzir Milton é um desafio, e o desafio tornou-se
motivação para os tradutores contemporâneos, sobretudo devido ao surgimento
da Tradutologia ou Estudos da Tradução. O interesse dos tradutores
contemporâneos por Milton e pelo Paradise Lost deve-se, em parte, ao ensaio de
Antoine Berman, “Chateaubriand traducteur de Milton”, ensaio que trata da
tradução do Paradise Lost feita pelo romântico francês François-René de
Chateaubriand. Berman define a tradução de Chateaubriand como uma
retradução, ou seja, uma tradução que é feita quando já existem outras traduções
da mesma obra, mas traduções que serviram apenas para tornar a obra conhecida
entre os leitores de sua língua. A retradução passa a servir de crítica a outras
traduções e ao próprio original e passa a valer como referência para todas as
outras traduções a serem feitas. A retradução é sempre uma tradução literal, a
qual Berman define como uma tradução que procura traduzir o maior número
possível de elementos: poéticos (assonâncias, aliterações, metáforas, rimas,
número de sílabas, etc.), semânticos e sintáticos. Para este XIV Congresso
Internacional da Abralic, procuraremos mostrar em que sentido evoluíram as
traduções do poema de Milton no decorrer dos séculos; em que medidas foram
influenciadas pelas ideologias da época em que foram feitas, pelas escolas
literárias, pelas novas técnicas e conceitos de tradução e pelo crescimento do
mercado editorial.
Agnaldo Rodrigues da Silva
TITULO: ENTRE LITERATURA, TEATRO E CINEMA: O POEMA TRADUZIDO
PARA OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS
RESUMO: O cinema é uma manifestação cultural que pressupõe a arte da
representação e do espetáculo, aspectos inerentes à literatura e ao teatro,
respectivamente. As relações entre a literatura, o teatro e o cinema são históricas,
pois elas apresentam, em vários momentos, uma intersecção que constrói laços
de continuidade sobre determinado tema. O cinema é uma ciência, cujo produto
atinge um grande público, pois o filme popularizou-se pela televisão, atingindo
um número significativo de espectadores. O teatro e o cinema recorreram
diversas vezes à literatura para gerar a ideia fundadora de seus roteiros, pois
muitas peças foram adaptadas de narrativas ou poemas, do mesmo modo como
filmes foram resultados de traduções de obras literárias. Para discutir este tema,
vamos tomar como corpus o filme “O vestido” (2003), dirigido por Paulo Thiago,
com roteiro de Haroldo Marinho. Trata-se de uma obra cinematográfica baseada
no poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado "Caso do vestido". O
poema de Drummond apresenta características teatrais que criam a
dinamicidade das cenas, com diálogos não muito comuns em textos poéticos.
Nessa direção, o filme e o poema serão confrontados, sob a perspectiva dos
estudos literários, teatrais e cinematográficos, a fim de investigar a ideia de
adaptação e tradução, a partir da transposição de uma arte para outra.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Teatro; Cinema.
Agnes Danielle Rissardo
TITULO: O ENIGMA DA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA NA
FRANÇA: RECEPÇÃO, VISIBILIDADE E LEGITIMAÇÃO
RESUMO: A atual década tem sido decisiva para o estabelecimento de uma
política de exportação da literatura brasileira. Pouco difundidas no exterior até
cinco anos atrás, as obras ficcionais de nossos autores contemporâneos vêm
ganhando espaço no mercado editorial internacional, impulsionadas pelas bolsas
de tradução concedidas pela Fundação Biblioteca Nacional. Com o crescente
número de obras traduzidas e publicadas por editoras estrangeiras, a presença
dos próprios autores em grandes eventos literários internacionais, sobretudo
aqueles que tiveram o Brasil como país homenageado – a Feira do Livro de
Frankfurt (2013) e o Salão do Livro de Paris (2015) –, veio reforçar a estratégia
de conquista de uma maior visibilidade literária no exterior. Ainda desconhecidos
do grande público na França, pode-se dizer que, ao menos no meio acadêmico e
na mídia local daquele país, tais autores avançam na luta por legitimar o seu lugar
no espaço literário mundial. A partir dos pressupostos de visibilidade literária
pensados por Pascale Casanova e Franco Moretti em torno da língua e do espaço
geocultural, e de questões de legitimação e luta pelo reconhecimento dentro do
espaço literário com teóricos como Jacques Rancière e Axel Honnet, propomos
uma discussão sobre o enigma da recepção da literatura brasileira
contemporânea na França: de um lado, os escritores-chave de um
cosmopolitismo exportável, cujas ficções ambientadas em um “local deslocado”
representam um novo momento de uma literatura que se quer cosmopolita. De
outro, autores que, de certa forma, atualizam o imaginário europeu sobre a
violência urbana e a favela no Brasil. Que características unem ou diferenciam
Luis Ruffato, Tatiana Salém Levy, Paloma Vidal, Adriana Lisboa, Ferréz, Paulo
Lins e Milton Hatoum, entre outros autores, todos recentemente publicados em
francês e participantes de debates este ano no Salão do Livro de Paris e nas
universidades Sorbonne Paris 3 e Paris 4? E o que, efetivamente, esperam o leitor
e a crítica francesa da literatura brasileira?
PALAVRAS-CHAVE: Recepção no exterior; Legitimação; Espaço literário.
Aiana Cristina Pantoja de Oliveira
TITULO: A PROSA ALEGÓRICA DE HAROLDO MARANHÃO
RESUMO: “Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara”. O presente
verso de Carlos Drummond de Andrade antecede as páginas de A estranha xícara,
primeiro livro de Haroldo Maranhão, escritor paraense. A epígrafe tem
consonância com o fazer literário pós-modernista, onde o autor articula uma
prosa alegórica que torna presente o duplo. Irrompendo recorrentemente a cena,
a personagem que se assemelha a outra, alude ao caráter provisório da identidade
na pós-modernidade. Como consequência das limitações artísticas provocadas
por essa nova fase de expansão do capital, a obra haroldiana ainda desconstrói
textos da tradição literária e da historiografia oficial e os remonta como um puzzle
em suas formas e conteúdos semânticos. A técnica, que atinge seu auge em
Memorial do fim: a morte de Machado de Assis e em O tetraneto Del-Rei, aponta
a desolação da arte literária devido à perda de seu caráter aurático e insere a obra
de Haroldo Maranhão no trabalho de luto da ficção latino-americana que busca
alternativas para a sobrevivência da literatura na conjuntura cultural pósmoderna.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-modernismo; Alegoria; Identidade.
Alan Victor Flor da Silva
TITULO: O NATURALISMO NO BRASIL SOB SUSPEIÇÃO
RESUMO: O Naturalismo no Brasil foi um estilo literário relegado a um lugar
periférico no âmbito da História da literatura brasileira. Enfáticos em seus
comentários e muitas vezes sem eufemismos ou cordialidades, os críticos, de
modo geral, não pouparam esforços a fim de estigmatizá-lo, pois não perdoaram
o modo como os romances escritos à maneira naturalista foram idealizados pelos
nossos romancistas brasileiros. A descrição minuciosa das relações sexuais e das
cenas de obscenidades entre as personagens, a falsificação da arte e a má
assimilação do modelo naturalista francês foram alguns dos principais
argumentos utilizados pela crítica para depreciar esse estilo literário do final do
final do século XIX. O Naturalismo no nosso país, no entanto, foi avaliado quase
exclusivamente pela perspectiva das obras e da crítica literária. O nosso objetivo,
portanto, é construir um diálogo a partir do olhar não apenas dos críticos, mas
também dos próprios romancistas acerca da estética naturalista. Para
analisarmos o ponto de vista desses escritores, tomaremos como base fontes
primárias, como os prefácios que esses ficcionistas escreveram para suas próprias
obras e os artigos jornalísticos que publicaram em periódicos que circularam
pelas mais diversas províncias do território brasileiro. Sobre a instância da crítica,
consideraremos sobretudo os julgamentos de José Veríssimo, Sílvio Romero e
Araripe Júnior, pois foram esses os principais críticos que escreveram sobre o
nosso Naturalismo durante sua vigência. Assim, poderemos oferecer não apenas
uma reflexão, mas também uma visão mais ampla acerca desse período literário
que teve grande repercussão no nosso país entre os leitores, os críticos e os
romancistas.
PALAVRAS-CHAVE: Naturalismo; Crítica literária; Romance naturalista.
Alberione da Silva Medeiros
TITULO: DAS MARGENS DO EXPERIMENTAL À RELAÇÃO ENTRE
VANGUARDA E CULTURA DE MASSA NOS POEMAS DE MOACY CIRNE
RESUMO: O Poema/Processo é um movimento de vanguarda que surgiu de um
grupo de estudiosos da poesia concreta, na década de 60. Os poetas têm suas
produções voltadas para a arte do experimental e revolucionário (anti) literário,
em desfavor dos movimentos institucionalizados e acadêmicos da época.
Participou de movimentos de massa, além dos ditos “marginais” em busca do
Neoconreto - através de procedimentos semióticos de produção - advindos do
pensamento do movimento vanguardista, numa premissa de relação direta com
a cultura de massa, em que obras foram publicadas e exposições realizadas no
Brasil e na América Latina. Diante disso, este artigo pretende desenvolver um
estudo analítico dos poemas de Moacy Cirne (Poeta/Processo) em consonância
com teorias que fudamentem as novas técnicas de produção apresentadas pelo
poema/processo no seu manifesto em 1967. Entre os principais pontos discutidos
aqui, enfatizaremos as analises dos poemas na ótica da Literatura Comparada,
com o objetivo de encontrar relações hibrídas e análogas entre o marginal do
Poema/Processo, as culturas de massa, e as inovações da produção poética de
Moacy Cirne de encontro com teorias vanguardistas pós-modernas nas obras
presentes na bibliografia e integrantes das análises dos poemas neste artigo.
Palavras chave: Poema/Processo, Vanguarda e Cultura.
PALAVRAS-CHAVE: Poema/Processo; Vanguarda; Cultura.
Alberto Emiliano Mastache Ramírez
TITULO: FILOSOFIA
PARMÊNIDES
COMO
PERFORMANCE:
UMA
LEITURA
DE
RESUMO: Nesta comunicação, proporemos uma leitura de Parmênides com base
nas funções da linguagem, tal como definidas por Roman Jakobson em celebre
ensaio. Especialmente privilegiaremos a função performativa do discurso,
buscando identificar uma contradição latente no "Poema" de Parmênides: ao
mesmo tempo em que Parmênides afirma a filosofia como único caminho
discursivo aceitável, a letra de seu texto não dispensa o que poderíamos
denominar elemetnos performativos em sua elaboração.
PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Performance; Discurso.
Alcebiades Diniz Miguel
TITULO: ENCENAÇÃO IMAGINÁRIA DO GRAND-GUIGNOL (O FANTÁSTICO
E AS FÓRMULAS TEATRAIS NA FICÇÃO DE REGGIE OLIVER)
RESUMO: Os discursos literários próximos ao fantástico possuem grande
multiplicidade de possibilidades e estratégias. Entre outras estratégias uma das
mais produtivas seria trabalhar com elementos obscuros, indiretos e inacabados,
que levam à projeções imaginárias complexas. Nesse sentido, o uso do diálogo e
da conversação estilizada em moldes teatrais e de uma descrição atmosférica e
cenográfica surgem como poderosas ferramentas para a construção de um
universo no qual a aparição do sobrenatural é possível. Trata-se daquilo que
poderíamos denominar "grand guignol" imaginário, uma especialidade do autor
britânico contemporâneo Reggie Oliver que consegue perscrutar, nas fraturas do
discurso cotidiano, novas e temíveis possibilidades de se ultrapassar as fronteiras
que demarcam o razoável, o lógico e o material.
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Encenação; Narrativa.
Alcione Correa Alves
TITULO: "HABLAR DE LAS ANCESTRAS": A MEMÓRIA COMO PROBLEMA
TEÓRICO NAS LITERATURAS FEMININAS NEGRAS AMERICANAS
RESUMO: Em prolongamento a uma trajetória já iniciada no II Congreso
Internacional El Caribe en sus Literaturas y Culturas, este texto visa a, a partir do
conceito de ancestra, tal como proposto pela escritora e ensaísta portorriquenha
Yolanda Arroyo Pizarro em artigo no primeiro número da Revista Cruce, discutir
o lugar da memória em escritas femininas negras americanas contemporâneas. A
leitura do corpus partirá da hipótese do Caribe como prefácio às Américas,
conforme o ensaio Introduction à une poétique du Divers (GLISSANT, 1996),
apropriada de modo a pensar a obra de Arroyo Pizarro, especificamente seu
romance Las negras (2012), enquanto prefácio a uma noção mais ampla de
literaturas negras caribenhas, desde o lugar de uma escrita negra feminina. Esta
pesquisa tem sido gestada no âmbito do Projeto de Pesquisa Teseu, o labirinto e
seu nome, vigente no Mestrado em Letras da Universidade Federal do Piauí.
PALAVRAS-CHAVE: memória; literaturas negras; prefácio.
Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
TITULO: A FIGURA DO ESTRANGEIRO NOS ROMANCES CHOVE NOS
CAMPOS DE CACHOEIRA E LINHA DO PARQUE
RESUMO: O propósito fundamental deste trabalho é estudar o contexto narrativo
no qual se insere a figura do estrangeiro nos romances Chove nos campos de
Cachoeira e Linha do Parque, de Dalcídio Jurandir (1909-1979), enfocando mais
de perto a tríade autor-narrador-personagem, com ênfase no “olhar daquele que
narra” e as estratégias fabulativas que usa para tal. O autor, considerado como o
Romancista da Amazônia, escreveu dez obras que compõem um ciclo romanesco,
o Ciclo do Extremo-Norte, em que as ações dos personagens transcorrem
ancoradas no espaço ficcional da Amazônia paraense (Marajó, Belém e Baixo
Amazonas), nas décadas iniciais do século XX. Por ser o primeiro da série,
Dalcídio chamou Chove nos campos de Cachoeira de “romance-embrião”, de
onde desaguarão os outros nove, dele se nutrindo e amplificando e aprofundando
as temáticas nele contidas. Linha do Parque compõe solitariamente o Ciclo do
Extremo-Sul, romanceando a história de operários (marítimos, portuários,
tecelãs, proletários em geral) no Porto do Rio Grande, sob encomenda do PCB,
seguindo, de modo geral, os pressupostos do Realismo Socialista. Nesses dois
corpora de análise, o interesse da pesquisa se volta para quem seria o estrangeiro
(‘o outro’, o forasteiro, ‘o que vem de fora’). Em Chove nos campos de Cachoeira,
é o Dr. Lustosa, latifundiário e político ganancioso, sedento pelas rédeas do
poder. Já em Linha do Parque, trata-se de Iglezias, revolucionário anarquista
espanhol, que deixou sua pátria para não ser perseguido, preso, torturado, ou
assassinado, fixando-se no Rio Grande, em 1895, passando a ser uma das
lideranças da União Operária. Referências Bibliográficas: JURANDIR, Dalcídio.
Chove nos campos de Cachoeira: [apresentação Rosa Assis]. [Nova e definitiva
ed.]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011.JURANDIR, Dalcídio. Linha do Parque. –
Edição especial−Santarém: Clube de Autores, 2013. KRISTEVA, Julia.
Estrangeiros para nós mesmos. RJ: Rocco, 1994.
PALAVRAS-CHAVE: Chove nos Campos de; Linha do Parque; estrangeiro.
Alemar Silva Araujo Rena
TITULO: DA MARGEM À MULTIDÃO, A CENTRALIDADE E O ÊXODO DOS
POBRES
RESUMO: Propomos nesse artigo refletir sobre as relações entre a produção
linguística do pobre e as condições sociais dessa produção por um ângulo não
ancorado ao dualismo margem/centro, mas ao conceito de multidão, de Hardt e
Negri (2005). Em seu livro seminal sobre a literatura marginal contemporânea,
Érica Peçanha (2009) nota que o termo "marginal" indica, por um lado, o
conteúdo que tais obras "marginais" apresentam, e, por outro, a situação
territorialmente periférica de seus autores. Todavia, se quando falamos da
multidão falamos, conforme a proposta de Hardt e Negri, do pobre como
expressão comum de toda a atividade criativa, "encarnando a condição ontológica
não apenas da resistência, mas também da própria vida produtiva", precisamos
reconhecer que o marginal não é de modo algum marginal em todos os sentidos,
e por um certo ângulo configura-se como o próprio paradigma da riqueza comum,
informando e conectando outras formas de resistência, dentro e fora da periferia.
Propomos pensar os processos criativos detonados por esses agenciamentos
periféricos como centrais e inspiradores por mobilizar uma produção linguística
que não precisa ser "incluída" para se legitimar, que olha para o lado, mais do que
para o alto ou para o centro, que se materializa e se legitima transversalmente e
restitui a política à palavra. Esta atitude vai ao encontro do movimento de êxodo
que, segundo Hardt e Negri, torna-se estratégia central de resistência diante
daquele poder global e em rede que chamarão de Império. Buscar na comunidade
o lugar do discurso, enquanto sentido e meio de sua realização, significa, em
última instância, refutar o confronto direto ou mesmo o desejo por ocupar o
espaço "público" e massivo da narração que, de maneira cada vez mais efetiva,
pela engrenagem hegemônica do biopoder vampiriza, objetifica e mercantiliza a
riqueza da multidão.
PALAVRAS-CHAVE: multidão; comunidade; literatura marginal.
Alessandra Brandão
TITULO: DE AFETOS E VIAGENS: A CANÇÃO POPULAR NO FILME DE
ESTRADA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
RESUMO: Essa proposta pretende analisar a relação que o filme de viagem
brasileiro contemporâneo estabelece com a música popular, buscando ressaltar a
espessura histórica que as canções ensejam nesses filmes como construções de
memória tanto coletiva quanto afetiva. Trata-se, pois, de pensar a potência da
música - mais especificamente a canção popular - como geradora de ‘imagens'
que se somam ou se sobrepõem - e mesmo extrapolam - àquelas que constituem
o próprio aspecto visual dos filmes, estendendo-se, portanto, para além da
dimensão diegética da narrativa fílmica. É no diálogo entre o dentro e o fora do
filme que a música se expande e se contrai como imagens ondulantes que entoam
uma simultaneidade de presente (o do filme) e passado (as vozes do rádio, por
exemplo) dada nas canções que sobrevivem como afetos cantantes. São as vozes
do passado (Gumbrecht) que ressurgem na experiência fílmica como fantasmas
do rádio e das gravações em disco ressignificadas no cinema. Assim, no percurso
de leitura de filmes como Terra estrangeira (1996), Cinema, Aspirinas e Urubus
(2006) e Viajo porque preciso, volto por que te amo (2009), por exemplo, recorrese a uma visão de sobrevivência (Didi-Huberman e Warburg), em que a própria
viagem da narrativa se confunde com a viagem da música no tempo.
PALAVRAS-CHAVE: Filme de estrada; música populara; afetos.
Alessandra da Silva Carneiro
TITULO: SOUSÂNDRADE EM NOVA YORK: O CANTO X D’O GUESA E A
PRESENÇA DO OURO
RESUMO: Esta apresentação discutirá o Canto X do poema épico O Guesa, do
poeta brasileiro Sousândrade (1832-1902). Focaremos as estrofes que antecedem
e sucedem a passagem conhecida como O Inferno de Wall Street, que é
ambientada na região da bolsa de valores de Nova York (NYSE). Os pesquisadores
da obra de Sousândrade apontam que o Canto X critica o capitalismo do período
da expansão econômica americana da década de 1870. Contudo, nosso objetivo é
mostrar como essa suposta crítica ao capitalismo no referido Canto é relativa,
uma vez que Sousândrade, nas passagens que discutiremos, também realiza o
elogio ao ouro, que é metonímia de dinheiro. No poema sousandradino, a
exaltação do capital nos Estados Unidos da segunda metade do século XIX parece
afinar-se com o éthos protestante do trabalho e acúmulo material do qual nos fala
Max Weber, pois para o poeta brasileiro o dinheiro fruto do trabalho árduo é bem-
vindo, ao contrário dos ganhos oriundos de atividade que não figurassem como
símbolo do labor dedicado a Deus, como jogos e apostas financeiras. Por isso os
robber barons, que construíam suas fortunas em transações na bolsa de valores,
são no poema associados ao mal e ao inferno (hell). Assim, é possível aproximar
Sousândrade de autores americanos do mesmo período que escreveram sobre a
NYSE conduzidos pela concepção puritana de pecado, que condenava o
enriquecimento por meio de especulações e fraudes na bolsa de valores
(Westbrook, 1980), como foi o caso de Edmund C. Stedman (1833-1908) no
poema Israel Freyer’s Bid for Gold.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; Sousândrade; Século XIX.
Alex Martoni
TITULO: MAGIA E TECNOLOGIA: RITMO, PERFORMANCE E O ESTUPOR DA
CEGUEIRA EM “SÃO MARCOS”, DE GUIMARÃES ROSA
RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo refletir sobre a construção de
ambiências na literatura a partir do conto “São Marcos”, de Guimarães Rosa. Por
ambiências, aqui, não designamos as relações quase simbióticas entre
personagens e espaços ficcionais, como a narratologia as consagrou, mas o modo
como a dimensão material da literatura, em especial a sua prosódia, influi sobre
as nossas modulações afetivas, nossas Stimmungen. Para Hans Ulrich
Gumbrecht, ler com a atenção voltada às Stimmungen significa “prestar atenção
à dimensão textual das formas que nos envolvem, que envolvem nossos corpos,
enquanto realidade física” (GUMBRECHT: 2014, p.14). Desse modo, os sentidos
que construímos ao longo da leitura de “São Marcos” não decorrem somente de
operações de natureza hermenêutica, mas também do modo como a própria
dimensão técnica do texto cataliza uma espécie de continuum, de afinação, entre
o corpo da literatura – sua prosódia – e o corpo do leitor – seus afetos; tendo em
vista que, como nos lembra Paul Zumthor, “Você pode ler não importa o quê, em
que posição, e os ritmos sanguíneos são afetados” (ZUMTHOR: 2007, p.33.)
Dentro dessa perspectiva, propomos pensar o ato da leitura como performance;
isto é, como meio que consiga colocar em ação tudo aquilo potencialmente
presente no texto de Rosa: o sotaque do norte de Minas, as variações
entoacionais, a fala coloquial, a tonalidade irônica e as sugestões rítmicomelódicas. Assim, os efeitos da prática de feitiçaria não se constituem somente
como o mote do enredo de “São Marcos”, mas também como resultado das
operações técnicas empregadas por Guimarães Rosa para nos fazer imergir na
ambiência do conto. A propósito, foi o próprio autor mineiro que afirmou, certa
vez, que a importância de sua literatura se dá, sobretudo, no potencial que ela
apresenta para deflagrar uma “sensação mágica” (UTÉZA: 1994, p.29) nos
leitores.
PALAVRAS-CHAVE : Leitura; Ritmo; Performance.
Alex Santos Moreira
TITULO: A CRÍTICA LITERÁRIA AOS ROMANCES CHOVE NOS CAMPOS DE
CACHOEIRA, MARAJÓ E TRÊS CASAS E UM RIO NA IMPRENSA DO RIO DE
JANEIRO
RESUMO: Desprestigiada como modelo crítico, a crítica impressionista até a
primeira metade do século XX dominou no Brasil o debate literário e sua atuação
era hegemônica nos jornais, em revistas, semanários e suplementos literários.
Sabe-se ainda que, durante muito tempo, ela foi a principal fonte de orientação
dos leitores, revelando chaves de leitura, clareando enredos, interpretando
personagens e além de tudo isso era também o ligamento vivo responsável pelo
vínculo da obra com o leitor e da literatura com a vida cotidiana. Diante disso,
este trabalho estuda as críticas literárias publicadas na imprensa da cidade do Rio
de Janeiro acerca dos três primeiros romances do escritor paraense Dalcídio
Jurandir (1909-1979). Mostraremos como as obras Chove nos Campos de
Cachoeira (1941), Marajó (1947) e Três Casas e um Rio (1958), no seu contexto
imediato de publicação, foram lidas pela crítica considerada impressionista. Com
isso, pretendemos reconhecer como foram consolidados os sentidos acerca desses
livros, elucidar os procedimentos críticos dos primeiros avaliadores de Dalcídio
Jurandir e levantar hipóteses novas que auxiliem as novas leituras desses
romances a irem além do que está posto pelo atual sistema crítico.
PALAVRAS-CHAVE: crítica literária; Imprensa; Dalcídio Jurandir.
Alexandre Bebiano de Almeida
TITULO: "SENTIMENTOS FILIAIS DE UM PARRICIDA": UMA CRÔNICA DE
MARCEL PROUST SOBRE OS DRAMAS FAMILIARES
RESUMO: Na tarde de 24 de janeiro de 1907, Henri van Blarenberghe, um senhor
de quarenta anos, engenheiro, membro do Conselho de Administração da
Companhia "Chemins de Fer du l’Est", residente na rua Bienfaisance, no. 48, em
Paris, matou a tiros sua mãe e suicidou-se. No dia seguinte, o caso vira notícia
nos jornais. O episódio ocupa uma coluna na página três do "Figaro", recebendo
aí a seguinte chamada: “Un drame de folie” [Um drama de loucura]. Outro
quotidiano, "Le matin", de maior circulação, é menos contido e estampa em sua
primeira página: “Il tue sa mère et se suicide” [Matou sua mãe e se suicidou]. Uma
crônica que Marcel Proust redige para a primeira página do "Figaro", em 1o de
fevereiro de 1907, comenta o drama passional que está na origem dessas notícias
sensacionalistas. O artigo, “Sentiments filiaux d’un parricide” [Sentimentos filiais
de um parricida], foi recolhido pelo próprio escritor em sua coletânea "Pastiches
et mélanges" [Pastiches e miscelâneas], que será publicada em 1919. Mas por que
uma história de sangue como essa pôde interessar tanto ao escritor que já
começava a redigir os sete volumes que vão compor o "roman-fleuve" "Em busca
do tempo perdido"? Eis a pergunta que tentamos aqui responder. Chamaremos a
atenção, de início, para o emprego que Proust faz das convenções da crônica,
gênero a meio termo entre o ensaio e a conversação. Veremos, em seguida, de que
maneira sua crônica desmascara certos implícitos – e mesmo certos preconceitos
– difundidos pelas pequenas reportagens sobre crimes. Finalmente,
analisaremos a serventia das referências literárias, principalmente da tragédia
grega de "Édipo-Rei", para o desenvolvimento argumentativo da crônica, que
termina por endereçar a seguinte pergunta psicológica e existencial a seus
leitores: à medida que envelhecemos, não somos obrigados todos nós a matar
nossos pais?
PALAVRAS-CHAVE: crônica; jornal; Proust.
Alexandre de Assis Monteiro
TITULO: DOM CASMURRO: OLHARES E ESCUTAS DISSIMULADAS
RESUMO: Uma enorme parcela da crítica que se faz à história contada no livro
Dom Casmurro, de Machado de Assis, aplica-se à microssérie Capitu, de Luís
Fernando Carvalho. É possível afirmar que entre a obra escrita e a audiovisual
existem muito mais consonâncias do que dissonâncias: a segunda consegue
preservar, sem repetir, as nuances que flagram desde o caráter de Bento até a
ausência manipulada da voz de Capitu. Isso ocorre porque em termos de enredo,
de ação, existe uma aproximação absoluta entre as narrativas. Essa aproximação
fica clara na fala do diretor da microssérie que afirma que o nome “Capitu”, ao
contrário do que se poderia supor, veio “num estalo, sem nenhum processo
racional” e não significa necessariamente uma mudança na estrutura narrativa,
como em outros filmes advindos de adaptações do romance de Machado. Para
substanciar nosso estudo acerca da natureza das narrativas, especialmente do
fator tempo, dos processos de construção e de leitura/espectação, fazemos uma
abordagem dos textos com base na fortuna crítica das duas obras, além de
buscarmos apreender os sentidos da imagem e do tempo sobre a teleficção, sobre
o processo de adaptação e sobre os movimentos artísticos da modernidade, que
encontram reflexo no percurso da transmutação da narrativa de um suporte
radicado no código verbal para um suporte radicado num código verbal-visualsonoro. Intentamos, portanto, verificar as estratégias utilizadas para a
preservação e elaboração estética que garantiriam as aproximações entre as duas
linguagens, no processo de adaptação das obras.
PALAVRAS-CHAVE : Dom Casmurro; Capitu; Adaptação.
Alexandre Montaury Baptista Coutinho
TITULO: O COMUM E A IMUNIDADE
RESUMO: A comunicação propõe uma sistematização preliminar do quadro de
relações literárias e culturais formadas entre artistas e intelectuais angolanos,
brasileiros, moçambicanos e portugueses no âmbito das lutas políticas da
modernidade do século XX. Partindo do pressuposto de que essas relações
geraram um campo cultural específico que configurou e reconfigurou sentidos de
comunidade nestes espaços, pretende-se reconstituir a formação de algumas
redes intelectuais que, à margem das instituições oficiais, no plano da escrita
literária ou da intervenção cultural, se posicionaram frente a desafios políticos
comuns nas últimas.
PALAVRAS-CHAVE: Comunidades; Literatura e Polític; comparativismo.
Alexandre Villibor Flory
TITULO: FORMA LITERÁRIA E SOCIEDADE NO TEATRO BRASILEIRO DO
SÉCULO XIX: O TRIBOFE, DE ARTUR AZEVEDO, E CAIU O MINISTÉRIO!, DE
FRANÇA JR.
RESUMO: A literatura dramática recebe pouca atenção nos cursos de Letras
porque se considera, entre outros motivos, que ela seria subsidiária à cena como,
também, porque não haveria textos dramáticos à altura dos clássicos de nossa
prosa e poesia. Essa situação é daquelas profecias que se auto-realizam, visto que
a aceitação tácita desse estado de coisas leva ao desprezo pela literatura
dramática, seu apagamento e esquecimento, aniquilando uma rica e importante
tradição. Em primeiro lugar, o teatro é uma arte que opera pela dialética
produtiva entre texto e cena, entre o fixo e o efêmero, entre a produção e a
recepção, e não pela subsunção de um a outro. Em segundo lugar, apenas o
desconhecimento afiançado pela falta de uma recepção e transmissão cultural
adequadas deixam de atestar a decisiva contribuição do teatro e da literatura
dramática para a arte brasileira - e para a discussão sobre o Brasil. Como se sabe,
esses apagamentos não são desinteressados, e no caso em questão contribui tanto
a desvalorização do teatro no cenário burguês (ante o crescimento do romance)
justamente quando o Brasil formava seu sistema literário, como também a
desvalorização da comédia e das formas que fugiam ao drama burguês ou à peça
bem-feita, tangenciando os mais diversos campos da vida social, característica do
melhor de nosso teatro no final do século XIX. Faz-se necessário, portanto, uma
revisitação crítica dessa história do teatro e da literatura dramática brasileiras,
projeto esse em curso tanto no âmbito da Universidade quanto pelo trabalho de
vários grupos no Brasil. Nessa comunicação, queremos discutir esses pontos pela
mediação entre forma literária e processo social em duas peças-chave do nosso
teatro no século XIX: O Tribofe, revista de ano de 1891 escrita por Artur Azevedo,
e a comédia de costumes Caiu o ministério!, de França Jr, de 1882.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro brasileiro; Teatro e sociedade; Comédia brasileira.
Alfeu Sparemberger
TITULO: A HISTÓRIA COMO NOSTALGIA NA ATUAL FICÇÃO DE LÍNGUA
PORTUGUESA
RESUMO: Esta comunicação analisa aspectos da produção romanesca
portuguesa e africana de língua portuguesa recente como pautada pelas
coordenadas da chamada pós-modernidade. Entre os autores selecionados
podemos indicar Gonçalo M. Tavares, Ondjaki e Valter Hugo Mãe. A produção
ficcional destes autores tem como uma de suas mensagens essenciais, admitindose, obviamente, o fim de um mundo e de um estilo singular e único expresso no
momento do “modernismo clássico”, a falência da arte e da estética, a falência de
um processo novo e o inevitável aprisionamento do passado. Trata-se de um
produto, posto que constitutivo da lógica do mercado, que exclui de sua fatura o
extrato histórico (motivo central do chamado romance histórico), em nome da
presença do passado – de referenciais e referenciação da História, não como o
real, mas como imagem – enquanto um “modo nostálgico” de narrar. Assim, não
ocorre a reinvenção de uma imagem do passado como uma “totalidade vivida”,
mas sim o reacender – fruto daquela referenciação – de um “sentido do passado”.
O estudo desta inclinação para o nostálgico no romance, perceptível em cenários,
espaços, personagens, objetos, parece indicar a impossibilidade que temos em
não “focar o nosso próprio presente, como senos tivéssemos tornado incapazes
de alcançar representações estéticas e de nossa própria experiência atual. Mas, se
assim é, então estamos diante de uma imposição do próprio capitalismo de
consumo – ou, ao menos, de um sintoma alarmante e patológico de uma
sociedade que se tornou incapaz de lidar com o tempo e a história” (Jameson,
2006, p. 29). Referência JAMESON, Fredric. A virada cultural: reflexões sobre o
pós-modernismo. Trad. Carolina Araújo. Ver. Téc. Danilo Marcondes. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
PALAVRAS-CHAVE 1: Pós-Modernidade; História; Ficção.
Alfredo Cesar Barbosa de Melo
TITULO: A INTERNACIONALIZAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA E O SUL
GLOBAL
RESUMO: Em decorrência do paradigma antropofágico, os letrados brasileiros
vêem frequentemente a cultura brasileira como uma força transfiguradora dos
modelos advindos da Europa, mas pouco teorizam sobre a inserção da cultura
brasileira em outros países, sobretudo os países do Sul. Na presente comunicação,
descrevemos como a presença da cultura brasileira ajudou a estruturar a ficção e
o pensamento social de países da África lusófona ( o caso da influência rosiana
em Mia Couto e o do ensaio de Gilberto Freyre no Grupo Claridade de Cabo
Verde). Esta comunicação se propõe a compreender a literatura brasileira a partir
de uma moldura interidentitária (sendo, ao mesmo tempo, transfiguradora de
modelos estrangeiros e também modelo para outros países), e tirar as devidas
consequências desse passo analítico para a representação que temos da cultura
brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Sul Global; Literatura comparada; literatura mundial.
Alice Áurea Penteado Martha
TITULO: PROCEDIMENTOS NARRATIVOS E RENOVAÇÃO DO DISCURSO
EM LUÍS DILL
RESUMO: O reconhecimento da literatura juvenil por instâncias legitimadoras
diversas permite-lhe reivindicar um lugar na sistematização dos estudos
literários e parece consenso, entre grande parte de agentes que compõem o
sistema de produção, circulação e consumo da literatura para jovens, que, como
matéria prima da produção artística contemporânea, acontecimentos e emoções,
recriados esteticamente, podem propiciar aos leitores o reconhecimento e a
superação de momentos cruciais da existência. Com tal propósito, emergem
obras cujos narradores tratam de temas atraentes aos jovens leitores, com
linguagem muito próxima à do uso cotidiano e, entre tantos outros, destacamos,
nesta comunicação, as narrativas do gaúcho Luís Dill, cujas marcas formais e
temáticas diversificadas, apropriadas à faixa etária de seus leitores e inerentes ao
contexto sociocultural em que transitam autores e receptores, revelam
construção diferenciada do mundo narrado, com o emprego de técnicas mais
complexas de narrar e o enfoque de assuntos como violência, crises de identidade,
escolhas, perdas, sexualidade e afetividade, responsáveis também pela
aproximação com os leitores mais jovens.
PALAVRAS-CHAVE: Luís Dill; narrativa; renovação.
Alice Maria de Araújo Ferreira
TITULO:
LUGARES
CONTRADITÓRIOS
DO
ESTRANHAMENTOS E ESCRITURA DA DIFERENÇA.
TRADUTOR:
RESUMO: Várias questões de tradução e suas dualidades tradicionais platônicas
supõem um lugar na elaboração do projeto de tradução. Um lugar entre dois: ou
um ou outro. Esse pensamento estabelece dois sujeitos: o autor e o leitor. O
tradutor tendo como objetivo criar o encontro entre eles. Para os projetos de
traduções colonialistas e mercadológicas, a boa tradução é aquela que se apaga,
que apaga o estrangeiro, que não causa estranhamento ao leitor, que se parece
com ele (tradução narcísica). É comum o tradutor se colocar no lugar do leitor.
Enquanto leitor da língua estrangeira, sendo intérprete. Na Poética do traduzir
(1999), Meschonnic faz uma crítica à concepção de tradução como interpretação
e traz o tradutor para o lugar do escritor. As múltiplas e cambiantes identidades
do sujeito fazem o tradutor ocupar os dois lugares, de leitor e escritor. É um
sujeito que conhece as duas línguas, é leitor de uma e escritor de outra. Qual sua
relação com cada uma delas? Qual sua relação com o estranho, o estrangeiro?
Quer apaga-lo? Abrir-se a ele? Essas questões e reflexões surgiram ao traduzir a
peça de teatro À petites pierres (2007) de Gustave Akakpo, dramaturgo togolês
que mora na França. Durante esse fazer deparei-me com diversos
estranhamentos: do discurso, das línguas, do gênero. Mas, deparei-me sobretudo
com questões históricas, éticas e poéticas. Com Berman (1984) e sua crítica às
traduções etnocêntricas, vários estudos sobre os ditos textos e/ou literaturas póscoloniais são temas de congressos e simpósios. A questão histórica adjetivou
essas produções artísticas, pós-coloniais. De que lugar? Por quê tradução póscolonial, e não tradução colonialista? Imperialista? Propomos então, pensar a
tradução no terreno movediço dos dois lugares gerando contradições criadoras
nos passos de Edward Said em Reflexões sobre o exílio (2003).
PALAVRAS-CHAVE: estranhamento; texto pos-colonial; projeto de tradução.
Aline Alves Arruda
TITULO: A ESCRITA ARQUEÓLOGICA DE CAROLINA MARIA DE JESUS
RESUMO: Carolina Maria de Jesus (1914-1977) é um exemplo de escritora
arqueóloga. Seus diários "Quarto de despejo" (1960), "Casa de Alvenaria" (1961)
e "Meu estranho diário" (1996) são amostras de obras literárias em que o
cotidiano é desvelado através da própria existência. Sua escrita é veículo de
denúncia, memória individual e coletiva e de um olhar de dentro também sobre
os resquícios da vida, especialmente a urbana, os “restos” que permeiam nossa
existência e que, no caso de Carolina, entremeiam a sua. A autora, nascida em
Sacramento, Minas Gerais, morou a maior parte da vida em São Paulo, por muitos
anos na extinta favela do Canindé, onde se tornou escritora. Era catadora de
dejetos, especialmente papéis, os quais tornaram-se testemunhas de sua rotina e
experiência narradas nos diários. Esta comunicação pretende desenvolver a ideia
de escritor arqueólogo em Carolina de Jesus, através dos textos de Walter
Benjamin (1989), Jacques Rancière (2005 e 2009) e Italo Calvino (2009).
PALAVRA-CHAVE 1: escritor arqueólogo; diários; restos.
Aline Bezerra da Silva
TITULO: ESTUDOS DA MEMÓRIA: DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE WALTER
BENJAMIN E GRACILIANO RAMOS
RESUMO: A ruptura da perspectiva habitual da memória e a constatação do
caráter não-linear dela encontram-se diretamente relacionados à substituição de
uma concepção cronológica por uma concepção messiânica de história, com a
proposição de uma percepção qualitativa, uma visão descontínua da
temporalidade. Nesse esteio, as críticas de Benjamin ao historicismo, e sua visão
contínua, progressiva e linear, ignorando as lutas de classes e reproduzindo a
história dos vencedores, encaminham para a defesa de outro conceito-ação, a
necessidade de escovar a história a contrapelo, que traz consigo a exigência de
rememoração do passado, o que não implica a restauração dele, mas uma
metamorfose do presente tal que o passado seja retomado e transformado. Nos
anos trinta, período de propaganda varguista de harmonia entre classes, à
memória ágil e amontoada salve salve de uma marcha em progresso opõem-se a
memória esgarçada e os lapsos, forma graciliânica de resistir aos imperativos
ideológicos hegemônicos de seu tempo, forma não panfletária de recordar para
discordar, forma de revelar a gama de personagens afligidos pela angústia, todos
aprisionados muito antes da privação da liberdade real de seu criador. Nessa
linha de pensamento, concebe-se a obra em um processo de recriação de fatos
que importam mais pela forma como são relembrados, conforme se verá nos
estudos das obras Caetés, São Bernardo e Angústia, de Graciliano Ramos.
Pretende-se, assim, ampliar as possibilidades de estudos sobre memória na obra
do autor alagoano, percorrendo caminho diverso do relacionado à escrita
autobiográfica.
PALAVRAS-CHAVE : memória; Walter Benjamin; Graciliano Ramos.
Aline Stefânia Zim
TITULO: O CONTO E O BAIRRO COMO UNIDADES NARRATIVAS URBANAS.
RESUMO: O ensaio propõe uma abordagem sobre o espaço literário e o espaço
arquitetônico a partir da livre comparação entre duas unidades narrativas
distintas: o conto, enquanto unidade narrativa literária, e o bairro, enquanto
unidade narrativa urbana. Inicialmente, apresenta-se uma breve exposição da
teoria do conto com base em alguns textos da crítica literária em Vladimir Propp,
Edgar Alan Poe e Julio Cortázar. Em seguida, desenvolve-se o conceito de “bairro”
a partir de Pierre Mayoul e Michel de Certeau em “A invenção do cotidiano 2 –
morar e cozinhar”, investigando argumentos comparativos entre as duas
unidades – o conto e o bairro - a partir das suas semelhanças enquanto unidades
narrativas urbanas. Os elementos mais significativos do bairro podem ser
também os seus constituintes, como o acontecimento central é no conto. O conto
é uma bolha tênue de tensões e efeitos que fazem o leitor se embriagar em menos
de uma hora de leitura, assim como o bairro apresenta o seu espaço reconhecível
em uma caminhada, no deslocamento do pedestre. Fora desse espaço, ou no
limite dele, a cidade se tranforma e confunde os sentidos, porque se perdem as
referências familiares e cotidianas e, consequentemente, o espaço reconhecível.
Desse modo, o conto é semelhante ao bairro, assim como a sua extensão, o
romance, é semelhante à escala urbana. A intensidade que prende o leitor no
conto pode, no espaço urbano, ser traduzida como proximidade e acolhimento. O
“próximo” e o “distante” não são propriamente mensuráveis em distâncias físicas,
mas podem ser compreendidos pelos conceitos de acessibilidade, acolhimento,
familiaridade, recognocibilidade e apropriação. Envolvido por sua bolha de
sabão, o conto tem seu espaço máximo e tênue de tensão narrativa, onde deve
flutuar, autômato, antes que esse limite se rompa. REFERÊNCIAS: BENJAMIN,
Walter. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial
do Estado de São Paulo, 2009. __________. Magia e técnica, arte e política. São
Paulo: Brasiliense, 1989 (Obras escolhidas vol 1). __________. Charles
Baudelaire: um lírico no auge do Capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989 (Obras
escolhidas vol 3). CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática
estética. São Paulo: Ed. Gilli, 2013. CERTEAU. Michel. A invenção do Cotidiano:
1. Artes do fazer. Petrópolis: Editora Vozes, 1994. ________________ A
invenção do Cotidiano: 2. Morar, cozinhar. Petrópolis: Editora Vozes, 1994.
CORTÁZAR, Julio. Valise de Cronópio. Trad. De Davi Arrigucci Júnior. São
Paulo: Perspectiva, 1974. PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto. Trad. De Jaime
Ferreira e Vítor Oliveira Lisboa, Editorial Vega, 1978. GOTLIB, Nádia Batella.
Teoria do Conto. São Paulo: Ática, 1985.
PALAVRAS-CHAVE 1: narrativas urbanas; conto; bairro.
Alinnie Oliveira Andrade Santos
TITULO: A NARRADORA SUBVERSIVA EM PASSAGEM DOS INOCENTES, DE
DALCÍDIO JURANDIR
RESUMO: O romancista brasileiro Dalcídio Jurandir escreveu dez obras
ambientadas na Amazônia paraense, os quais compõem o conjunto denominado
Ciclo do Extremo Norte. Nessas narrativas, podemos perceber a presença
marcante de mulheres que, quer assumindo o protagonismo ou não, contribuem
de forma decisiva para o desenvolvimento da narrativa. Em Passagem dos
Inocentes (1963), quinto romance da obra, temos a presença de D. Cecé, que ao
tomar o lugar do narrador em terceira pessoa, conta parte da história de sua vida
– a fuga da Ilha do Marajó quando jovem –, mostrando assim como nesse
momento subverteu a ordem social em que estava inserida. Este trabalho,
portanto, pretende analisar a voz narrativa de D. Cecé, observando o seu papel
como subversiva na sociedade marajoara. As faces femininas retratadas por
Dalcídio Jurandir desvelam um universo social brasileiro do princípio do século
XX, sobretudo de luta por sua emancipação. Além disso, a representação
feminina elaborada pelo autor paraense nos leva a compreender melhor sua obra
que tem a denúncia social como traço marcante.
PALAVRAS-CHAVE: narradora; subversão; feminino.
Almir Pantoja Rodrigues
TITULO: PROSA DE FICÇÃO PORTUGUESA NO DIÁRIO DE BELÉM (18601870)
RESUMO: Após o grande sucesso adquirido na Europa, a moda de publicar textos
em jornais chega ao Brasil, em 04 de janeiro de 1839, por meio do Jornal do
Commercio. A novidade foi assimilada nas demais províncias brasileiras e após
percorrer as páginas dos jornais cariocas, conquistou outras dimensões
geográficas ao circular em outras regiões do Brasil, a exemplo da Província do
Grão-Pará. Em Belém, esse modismo instaurou-se a partir da segunda metade do
século XIX, período considerado de grande efervescência cultural e intelectual da
cidade, proporcionada, sobretudo, pelo comércio da borracha. Considerando este
contexto, objetivamos analisar a circulação de textos em prosa de ficção
portuguesa no jornal Diário de Belém (1860-1870) a fim de recuperar uma
história de vida cultural a partir desse período, considerando as relações da
Literatura Brasileira e Portuguesa. Para dar sustentação teórica a esta pesquisa
recorremos, inicialmente, aos estudos de Germana Salles, José Ramos Tinhorão,
Marlise Meyer e Socorro Pacífico Barbosa. Metodologicamente o presente estudo
consiste em pesquisa bibliográfica e investigação de fontes documentais
históricas disponíveis nos acervos da cidade de Belém do Pará e na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.
PALAVRAS-CHAVE: Prosa de ficção; Jornal; Seculo XIX.
Alvany Rodrigues Noronha Guanaes
TITULO: O combate ao Complexo de Borboleta: a sexualidade e a subjetividade
femininas em literaturas indígenas norte-americanas
RESUMO: O Complexo de Borboleta é a conformidade a um rígido padrão
estético exposto nas narrativas literárias eurocêntricas como premissa à
subjetividade e à sexualidade das personagens femininas. Tal conceito nasceu de
minha observação às personagens de alguns romances como, por exemplo, O
Colecionador de John Fowles, no qual o misógino Frederick cobiça a linda e
delicada Miranda como se ela fosse uma borboleta de sua coleção.
Semelhantemente, em outros romances canônicos ocidentais as personagens
femininas sujeitos de desejo e dotadas de agência são aquelas metamorfoseadas
em um ideal alusivo ao arquétipo da fragilidade e da beleza, como as borboletas.
Nesse raciocínio, o complexo em questão fundamenta-se no consenso subreptício literário da perfeição física equivocadamente atrelada à subjetividade e à
sexualidade feminina. Ainda que em alguns romances as heroínas sejam
epítomes de espíritos livres e dotadas de inteligência, qualquer divergência a um
rígido padrão estético codifica-se numa condescendência narrativa forçosa de
outros atributos para compensar as imperfeições físicas devidamente destacadas.
Em contrapartida a representação das mulheres em narrativas indígenas é
fundamentada na força sociopolítica das personagens, independentemente de
suas aparências físicas, derrubando rígidas fronteiras simbólicas limitadoras da
formação do eu feminino. Em vista do exposto, o presente trabalho propõe uma
discussão acerca da construção da sexualidade e da subjetividade femininas nas
literaturas indígenas, resignificadas por corpos transgressores de padrões de
beleza e de conduta passiva prescritivos, combativas portanto ao Complexo de
Borboleta. Para tal, proponho uma análise das personagens femininas nas
narrativas de Leslie Marmon Silko, Maria Campbell, Lee Maracle e Beatrice
Culleton Mosionier.
PALAVRAS-CHAVE: sexualidade feminina; Literatura indígena; Complexo
Borboleta.
Alvaro Santos Simões Junior
TITULO: A polêmica dos novos (1890-1891)
RESUMO: De setembro de 1890 a junho de 1891, esboçou-se nos jornais cariocas
uma polêmica em torno dos escritores novos, que, com Oscar Rosas à frente,
formulavam críticas desassombradas às obras de medalhões consagrados como,
por exemplo, Sílvio Romero. Sendo, em sua maioria, apenas colaboradores
eventuais de periódicos, os novos foram por sua vez ridicularizados pelos
chamados velhos, que zombavam da sua petulância leviana de autores inéditos.
Talvez seja de algum interesse examinar os vestígios dessa polêmica, pois podem
revelar a formação de um grupo de intelectuais que logo a seguir, em torno de
Cruz e Sousa, tentaria inovar a literatura brasileira sob o influxo das ideias
decadentistas-simbolistas de proveniência francesa e também portuguesa.
PALAVRAS-CHAVE: Decadentismo; Simbolismo; Vida literária.
Amanda da Silveira Assenza Fratucci
TITULO: O discurso fantástico em "Arria Marcella", de Théophile Gautier
RESUMO: Segundo Pierre-Georges Castex (1962), a literatura fantástica francesa
se divide em dois períodos: um romântico e outro simbolista. O primeiro, em
meados do século XIX, é o do Romantismo, em que o gosto pelo sobrenatural,
pelo mistério e a procura pelo absoluto deram abertura a grande produção de
contos fantásticos que teve uma grande influência de E.T.A. Hoffmann. Na esteira
de Hoffmann, Théophile Gautier se revela, em seus contos fantásticos, um
escritor rico em imaginação, capaz de fazer surgir discursos grandiosos ou
inquietantes, mas também cheios de emoção. A presença do amor ligado à morte
se faz notar em vários textos de Gautier, tema este recorrente na literatura
fantástica do século XIX. Seus textos fantásticos são muito representativos e
mostram a evasão romântica na utilização do sonho, que duplica a vida. Esse
discurso onírico é um instrumento do qual Gautier faz uso a fim de expressar a
intenção de busca de um mundo ideal procurado pelos românticos, em que
aparece um “eu” que se vê incapaz de resolver sozinho os problemas em relação
à sociedade e que, portanto, se lança à evasão. O objetivo deste trabalho é,
portanto, analisar o discurso fantástico no texto "Arria Marcella", de Théophile
Gautier, bem como perceber a presença do mito na narrativa.
PALAVRAS-CHAVE: Romantismo francês; Fantástico; Mito.
Amanda Reis Tavares Pereira
TITULO: "O que se diz e o que se entende": Cecília Meireles, Vieira da Silva e a
infância como souvenir
RESUMO: Originalmente veiculado em capítulos pela revista portuguesa
Ocidente entre os anos de 1938 e 1940, “Olhinhos de gato”, de Cecília Meireles
(1901-1964), foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1980. Comumente
associado à literatura infantil, trata-se, na verdade, da união de “memórias da
infância” reunidas sob um “inventário lírico”, de acordo com a própria autora.
Temática cara à poeta, cronista, educadora e folclorista brasileira, a infância
registrada em “Olhinhos de Gato” se difere de outras obras suas voltadas para o
público infantil, como o livro de poemas “Ou isto ou aquilo”, pela linguagem, cujo
lirismo dificilmente seria apreendido com facilidade por esse público. Essa
ponderação nos faz reler o livro, com vistas a uma reflexão sobre a narrativa
moralística a respeito da infância e dos possíveis diálogos que ela estabelece com
as concepções da autora acerca da educação, da família e da cultura material na
formação do indivíduo. Na coleção da artista plástica portuguesa Maria Helena
Vieira da Silva (1908-1992), pertencente à Fundação Vieira da Silva - Arpad
Szenes, em Lisboa, há uma série de seis trabalhos (cinco desenhos feitos à tinta
da china e um guache sobre papel) intitulados “Souvenir de Cecília”, datados de
1940-1947. É conhecida sua relação pessoal e profissional com Cecília Meireles,
que a acolheu durante os sete anos de exílio no país (1940-47), devido à origem
judaica de seu marido, o também artista plástico Arpad Szenes. Para Cecília ou
por intermédio dela, Vieira da Silva realizou vários trabalhos no Brasil. A temática
da série “Souvenir de Cecília”, que prontamente remete a personagens e cenários
de “Olhinhos de Gato”, instiga-nos algumas reflexões, a partir da relação entre
imagem e texto, sobre a relação entre esses olhares que se voltam para a infância
como memória (souvenir) e discurso.
PALAVRAS-CHAVE: Ilustração; Infância; Memória.
Amarílis Macedo Lima Lopes de Anchieta
TITULO: Conto “The Madman” de Chinua Achebe: uma leitura da guerra.
RESUMO: A obra do escritor nigeriano Chinua Achebe é aclamada e traduzida no
mundo inteiro. Assim como outros de sua geração, Achebe tornou-se referência
incontornável no que concerne a construção e a consolidação da literatura
nigeriana. Achebe tem uma vasta produção como teórico e pensador de questões
não só literárias, como também coloniais. Achebe não queria ser considerado um
autor universal, sob os critérios do centro, como se classifica usualmente.
Criticava, inclusive, a busca pelo universal em obras africanas. Sua obra é
extremamente relevante para um estudo da situação pós-indepêndencia da
Nigéria, do ponto de vista histórico, e principalmente do ponto de vista literário/
linguístico. Para a investigação da dialética universal x particular, analisaremos o
conto “The Madman”, de 1971, presente na antologia de doze contos, Girls at War
and Other Stories. Será analisado a partir da posição em que ocupa na produção
literária do autor, pois esse conto é escrito num período em que a sua produção
ficcional deAchebe se torna mais rara literária, após a deflagração da guerra
separatista do Biafra (1967 – 1970). Demonstra, com isso, características
peculiares no acervo do trabalho do autor. Para propor um caminho de análise do
conto, propomos realizar um tradução crítica do conto. Com a proposta dessa
tradução, espera-se também esboçar possibilidades para uma tradução dita "póscolonial" e investigar como a tradução pode apresentar caminhos para os
elementos particulares dessa escrita.
PALAVRAS-CHAVE: Chinua Achebe; Tradução; Guerra.
Amilton José Freire de Queiroz
Henrique Silvestre Soares
TITULO:
DES)(RE)TERRITORIALIZAÇÕES
TRANSATLÂNTICAS
REPRESENTAÇÕES DA ZONA DE CONTATO EM TERRA SONÂMBULA, DE
MIA COUTO
RESUMO: Narrativa içada pela cartografia dos resíduos, rastros e vestígios do
reencontro entre pátrias imaginárias, Terra Sonâmbula (1992), de Mia Couto,
trança solidariedades e cooperações entre África, Ásia e Europa, cartografando a
experiência de personagens que rompem as fronteiras da Índia, Portugal e Arábia
Saudita para (des)(re)territorializar olhares que rasgam o manto de invisibilidade
jogado sobre a superfície das localidades, territorialidades e paisagens
moçambicanas. O texto miacoutiano será lido a partir do horizonte teóricometodológico de estudiosos como Homi Bhabha, Eduard Said, Boaventura de
Sousa Santos, Mary Louise Pratt, Walter Mignolo, Julia Kristeva, Tzvetan
Todorov, Tania Carvalhal, Zilá Bernd, Maria Zilda Cury, Luis Alberto Brandão e
Marli Fantini. Com o auxílio dessa sintaxe crítica, espera-se mapear os
deslocamentos de personagens que saem de terras natais e se alojam na comarca
cultural moçambicana para traduzir as territorialidades internas de seu
imaginário híbrido. Inscrito na estrada de repactualizações embaladas pelo
mapeamento dos rizomas da voz que veleja nas águas do próprio e alheio, o
narrador-mediador de Terra Sonâmbula estampa o percurso de seres nômades,
errantes diaspóricos que (re)escalam as muralhas do tempo pedagógico para
registrar, performatizando, o encontro de vidas cujas saliências identitárias
escorregam pelas brechas do olhar que cartografa traços da paisagem
moçambicana – um estuário da poética da relação a partir do qual se promove o
colóquio disjuntivo de latitudes reposicionadas para além da viagem à própria
geografia, trançando múltiplos (e)ventos da polifonia da diferença disseminada
entre espaços dialógicos cujas fricções e atritos com o outro chancelam o mapa
do outro na territorialidade literária miacoutiana.
PALAVRAS-CHAVE: Representação; Zona de contato; Literatura.
Ana Amália Alves da Silva
TITULO: A RECEPÇÃO DE CLARICE LISPECTOR NOS PERIÓDICOS
ACADÊMICOS BRITÂNICOS: 1985-2013
RESUMO: Nesta comunicação, analiso as formas pelas quais a obra de Clarice
Lispector foi recebida pelos principais períodicos do Reino Unido nas áreas de
estudos literários e culturais sobre a América Latina e o Brasil. Trata-se do
entendimento de sua recepção no contexto acadêmico britânico em perspectiva
histórica, partindo da publicação do primeiro artigo sobre sua obra (Senna, 1986)
e finalizando nos últimos textos publicados até 2013, quando essa análise, parte
de minha dissertação de mestrado, foi concluída. Em um primeiro momento,
temas como a legitimação de seu tradutor em língua inglesa, questões
relacionadas à sua condição feminina e ao seu contexto de origem, entre outros,
guiam a recepção de Lispector nessa comunidade interpretativa (Machor &
Goldstein, 2001). Com o passar dos anos, vemos que esses focos de interesse se
intensificam ou modificam e acabam por revelar o papel de Lispector, “the most
celebrated Brazilian woman writer” (Williams, 2005), como protagonista nos
processos de formação e desenvolvimento da área de estudos literários e culturais
sobre o Brasil, a América Latina e a Lusofonia dentro do contexto acadêmico
britânico.
PALAVRAS-CHAVE: Recepção; Clarice Lispector; História.
Ana Beatriz Matte Braun
TITULO: MOÇAMBIQUE: TRÂNSITO E TERRITORIALIDADES NA OBRA DE
JOÃO PAULO BORGES COELHO
RESUMO: A obra do moçambicano João Paulo Borges Coelho, historiador e
ficcionista, afirma-se a partir da articulação de três vertentes: a geografia (a
territorialidade, o trânsito), a história (a memória, as formas de narrar o passado)
e a etnografia (entendimento do ‘outro’). A relação entre os três elementos é
(inter)mediada por narradores em terceira pessoa, oniscientes, que assumem
para si a tarefa de contar histórias, em um fazer literário que mescla a tradição da
narrativa ancestral com a erudição discursiva. É por meio de uma perspectiva
elevada, até mais próxima do leitor do que da ação propriamente dita, que o
narrador expõe os dilemas e paradoxos construídos pelo sistema colonial.
Segundo João Paulo Borges Coelho (2009), entender o tempo e o espaço é tarefa
do escritor africano em contexto pós-colonial. Em particular, porque o escritor
existe dentro de um sistema de indefinição no qual adotam-se determinadas
heranças deixadas pelos colonizadores. Ao mesmo tempo, busca uma expressão
própria, já que o paradigma colonial deve ser superado em prol da construção de
uma identidade própria. Borges Coelho destaca que, nesse contexto, conjugamse ética e estética: há consciência de que a literatura desempenha um papel
político de resgate da memória histórica. Em vista disso, desejo apresentar um
panorama da obra do autor a partir da recorrência do trânsito e da noção de
territorialidade. Como ferramenta de suporte para a análise, faço uso de minha
própria experiência como estrangeira em Moçambique.
PALAVRAS-CHAVE: literatura moçambica; trânsito; Moçambique.
Ana Carla Vieira Bellon
TITULO: CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE O FANTÁSTICO NA
OBRA LITERÁRIA E FOTOGRÁFICA DE CARROLL OU POR UMA TEORIA
PERPLEXA DOS EFEITOS DE SENTIDO EM SUA OBRA
RESUMO: As considerações que envolvem a presença do fantástico na obra
literária de Lewis Carroll a partir de teorias, inevitavelmente, sistematizadoras
resultam em um cobertor curto que, cobrindo a cabeça, descobre os pés e,
cobrindo os pés, descobre a cabeça. Obviamente, a velha necessidade de
categorização e/ou sistematização de conceitos, a qual, muitas vezes, engole as
reflexões teóricas, sempre rondará a teoria, mas a corrida entre essa e a obra
artística sempre terá uma vantagem da última. O diálogo entre a obra fotográfica
e a literária de Lewis Carroll parece exigir uma reflexão perplexa e desafiadora:
transgredir a categorização sem ficar em cima do muro, mas manter o demônio
da perplexidade como única moral, conforme nos desafiou Antonie Compagnon
(2010, p.256). Esta pesquisa que se inicia não se propõe, portanto, a esgotar o
sentido da produção de Carroll, mas quer oferecer ferramentas para construir um
novo caminho teórico, já que, emprestando a nomenclatura de Marta Alkimin
(2004, P.15), “mobilidade, diversidade, flutuação e desestabilização” são
categorias de uma nova teoria da ficção e, principalmente, do modo fantástico.
Questões como “quais os caminhos para compreender os efeitos dos textos verbal
e não-verbal de Lewis Carroll sem enquadrá-los totalmente?” ou “Quais são os
diálogos pertinentes entre o texto literário de Carroll e suas fotografias através do
fantástico?” rondam este artigo. Mais do que nunca, este estudo comparatista
intermidiático entre imagem do texto e texto da imagem, e vice-versa, tenta por
em prática aquilo que Gama-Khalil (2013, p.30) chama de “alargar o enfoque
analítico” sobre a literatura que traz o elemento insólito, ou seja, quer encontrar,
paradoxalmente, os desvios necessários para compreender de que maneira o
fantástico se constrói nas obras em questão e que efeitos esta construção
desencadeia… mas este é só o início.
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Intermídia; Lewis Carroll.
Ana Carolina Cernicchiaro
TITULO: POÉTICAS AMERÍNDIAS NA
CINEMATOGRÁFICA CONTEMPORÂNEA
ESTÉTICA
LITERÁRIA
E
RESUMO: A proposta deste trabalho é refletir sobre experiências interculturais
que se abrem para as imagens, as narrativas, a poética, a estética e a ontologia
ameríndia - como as oficinas para cineastas indígenas do projeto "Vídeo nas
Aldeias", o trabalho de reunião e publicação de cantos ameríndios do núcleo de
pesquisa "Literaterras", a restauração do mito tupinambá em "Meu destino é ser
onça", de Alberto Mussa, ou ainda a descentralização do cânone literário
brasileiro em "Poesia.br", que desvia o marco inicial de nossa história literária ao
iniciar sua antologia de dez volumes com um tomo intitulado Cantos Ameríndios,
onde estão reunidos cantos de seis etnias indígenas na tradução de poetas
brasileiros contemporâneos. São experimentos que evidenciam a necessidade de
uma abertura na história capaz de liberar o murmúrio dos vencidos sob a história
oficial e que afetam a literatura e o cinema brasileiro do presente, cavando uma
língua-menor, até então emudecida, na estética contemporânea. Projetos que
assumem a tarefa da arte de, seguindo a lição deleuzeana, contribuir para a
invenção de um povo, de construir uma comunidade por vir, onde as formas da
arte são as formas da vida coletiva, segundo a expressão de Rancière. Não mais
uma comunidade do consenso, do como-um, onde, nos lembra Badiou, a
ideologia ética parece aquela do civilizado conquistador (“Torna-te como eu e
respeitarei tua diferença”), mas uma comunidade do sentir, do co-sentir, uma
comunidade de afetação infinita e múltipla.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Cinema; Mitologia ameríndia.
Ana Carolina Macena Francini
TITULO: A PERTURBADORA PRESENÇA ANIMAL: A ‘REPRESENTAÇÃO’ DO
OUTRO DA NOSSA CULTURA, EM "VOLAMOS", DE ANTONIO DI
BENEDETTO
RESUMO: Em As palavras e as coisas, Michel Foucault tece reflexões sobre a
“mesmidade”, uniformidade, do pensamento ocidental, ordenado pela
linguagem, ou melhor, por suas ruínas. Entretanto é interessante notar que é a
partir da perturbação causada pelo conto fantástico “O idioma analítico de John
Wilkins”, de Jorge Luis Borges, que Foucault inicia sua trajetória de perscrutar as
ruínas da linguagem que outrora deram sustentação ao conhecimento e suas
taxonomias, desdobrando-se numa discussão inerente à modernidade sobre a
capacidade da linguagem de nomear as coisas e os seres viventes do mundo ao
confiná-los em categorias. Para o filósofo francês, "uma certa enciclopédia
chinesa", citada no relato de Borges, causa riso e perturbação, já que a tentativa
de classificação dos animais por meio da ordem alfabética delata as limitações do
pensamento racional de abarcar o ‘outro’ e remete ao impensável, à desordem e
ao caos. Por sua vez, o intento de classificação no conto borgiano, na verdade,
interpela exatamente sobre a impossibilidade dessa ordenação por meio da
linguagem, do discurso racional, que somente pode fazê-la forjando categorias.
Daí seja possível pensar o discurso literário - neste caso, o conto fantástico- como
espaço privilegiado para sondar o “outro” de nossa cultura, ao “escavar” a
linguagem, descentralizando os sentidos e desestabilizando o sistema de
categorias, como faz o texto de Borges. Este também será o percurso deste
trabalho que apresenta um estudo do conto "Volamos", presente no livro Mundo
Animal (1953), do argentino Antonio Di Benedetto, publicado no pós-guerra,
período em que as concepções dominantes sobre o humano entram em crise e
nota-se um inegável interesse em problematizar os conceitos sobre humanidade
e animalidade, por meio da ficção. A análise desse conto, considerado pertencente
ao modo fantástico da literatura, indaga sobre como o sentimento perturbador
que caracteriza esse estilo pode surgir da (estranha e ao mesmo tempo familiar)
presença animal, uma presença não totalmente ‘pensável’ pela racionalidade
humana confinada no Mesmo, porém repleta de sentido.
PALAVRAS-CHAVE: Di Benedetto; Animalidade; Fantástico.
Ana Carolina Mesquita
TITULO: AUTOTEXTUALIDADE COMO ESTRATÉGIA NARRATIVA
MODERNA: ASPECTOS DA CRIAÇÃO EM VIRGINIA WOOLF E CLARICE
LISPECTOR
RESUMO: As obras de Virginia Woolf e Clarice Lispector suscitam reflexões
sobre a autotextualidade (JENNY, 1979) e a intertexualidade enquanto
estratégias narrativas da modernidade, especialmente no tocante ao fragmento –
uma poética que recorre à reescrita e recombinação de textos, ou, se quisermos,
à escritura como repetição. O reemprego e/ou citação dos próprios textos na
criação de “novos” textos caracteriza o recurso autotextual, que integra o
complexo processo literário de diversos autores da modernidade, como Joyce e
Proust. Aqui examinaremos os casos da inglesa Virginia Woolf e da brasileira
Clarice Lispector, duas das autoras mais importantes do século XX, pois, em que
pesem suas diferenças, ambas se valem do jogo autorreferencial para empreender
uma busca pela literatura entre realidade e ficção – procedimento vanguardista
que se intensificaria apenas mais tarde, na pós-modernidade. Nelas, o autotextual
problematiza tanto o fato de que nos processos de linguagem inexiste qualquer
“discurso original” (ao menos não além do ponto de vista metafísico) quanto o
fato de a própria subjetividade encontrar-se limitada por um mundo dialógico de
discursos e contextos que se repetem e se modificam por iterabilidade
(DERRIDA, 1982). A narrativa torna-se, assim, espaço do sujeito que busca a si
mesmo mas que, ao fazê-lo, vê-se em confronto com o “drama da linguagem”
(NUNES, 1995): a única coisa que ele alcança é o próprio ato de (se) escrever.
Para ilustrar esta análise, mostraremos a criação de Mrs. Dalloway à luz dos
diários de Woolf, que funcionavam como experimentação e matriz para outros
textos, e, de modo semelhante, a relação genética de A paixão segundo G.H. com
textos clariceanos anteriores. DERRIDA, Jacques. Différance. Chicago:
University of Chicago Press, 1982. JENNY, Laurent. A estratégia da forma. In:
DALLENBACH, L. et al. Intertextualidades. Coimbra: Almedina, 1979. NUNES,
Benedito. O drama da linguagem. São Paulo: Ática, 1995.
PALAVRAS-CHAVE: Autotextualidade; Clarice Lispector; Virginia Woolf.
Ana Carolina Sampaio Coelho
TITULO: MIGUEL RIO BRANCO: GRITO, RESTO E PODER
RESUMO: O presente trabalho procura discutir algumas questões que
atravessam a exposição “Gritos surdos”, de Miguel Rio Branco, incorporando
outros movimentos presentes em grande parte de sua obra. A partir da criação de
narrativas que misturam procedimentos da pintura, da fotografia e do cinema,
Miguel Rio Branco expõe perspectivas de leitura da imagem entre corpo, violência
e poder. Assim, primeiro, nos interessa pensar sobre as formas que ele arma em
seu trabalho, numa espécie de “arqueologia” do registro de algumas marcas do
homem, quando todo resto e toda sobra surgem em torno de uma projeção do
rastro. É possível ler nesse trabalho uma ideia de ruína e do “caráter destrutivo”
de Walter Benjamin quando o artista evidencia imagens contra o olho, aquilo que
não se quer ver. Depois, procura-se estabelecer um diálogo entre os
procedimentos de Miguel Rio Branco e o de Evgen Bavcar que, mesmo distintos,
parecem trazer para a arte uma fuligem das formas em processo.
PALAVRAS-CHAVE: artes visuais; poder; Miguel Rio Branco.
Ana Cláudia e Silva Fidelis
TITULO: DA POSSIBILIDADE DE LETRAMENTO LITERÁRIO: ANÁLISE DE
PRÁTICAS DE LEITURA E DE PRODUÇÃO TEXTUAL
RESUMO: O presente trabalho pretende analisar um projeto de leitura e
produção textual de alunos do Ensino Fundamental II de uma escola particular
de Campinas que promove um momento de compartilhamento de leituras
escolhidas livremente pelos alunos, bem como de produções que representem
esse momento de leituras, garantindo a sua circulação no ambiente escolar.
Coordenado e supervisionado pelos professores da área de linguagem, o projeto
pretende promover não apenas o incentivo à leitura como abrir espaço para que
os alunos coloquem-se no lugar de protagonistas do processo de leitura. Esse
exercício, considerando as reflexões empreendidas nos últimos anos acerca de
práticas de letramento, de leitura literária e de letramento literário, parece salutar
como forma de colocar em perspectiva as leituras feitas no ambiente escolar e as
praticadas fora do ambiente escolar, de modo a analisar de que forma o modo
com que a escola ensina o aluno a ler marca os protocolos de leitura
extraescolares. Assim, este estudo procura examinar se o projeto coloca em
operação mecanismos coerentes para que os alunos construam critérios efetivos
para suas escolhas, a partir dos conhecimentos prévios adquiridos pelo trabalho
com a grade curricular do curso, e qual natureza de livros/textos literários que
passam a circular no ambiente escolar. Além disso, pretende aferir de que modo
as atividades propostas para os encaminhamentos dessa leitura possibilitam que
os alunos apropriem-se dos conteúdos estudados na grade curricular e
operacionalizem-nos em suas produções, em geral, para apresentação para a
comunidade escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Letramento literário; Leitura literária; Práticas escolares.
Ana Cláudia Veras Santos
TITULO: MANOEL DE BARROS E PAULO LEMINSKI: UMA APROXIMAÇÃO
POÉTICA ATRAVÉS DA INQUIETAÇÃO PELA PALAVRA
RESUMO: Em tempos cuja palavra apresenta-se a serviço do discurso, seja
político, econômico, social ou logocêntrico, temos na contramaré, poetas como
Manoel de Barros e Paulo Leminski, questionadores da ordem, priorizam a
linguagem em sua essência. O primeiro atribuindo-lhe valores que fogem ao
ajuste semântico e sintático, o segundo dando-lhe rigor formal associado à
liberdade. Manoel desconfigura a ordem das coisas, pelo prazer de poetizar o que
a maioria estabelecida considera apoético, atribui à criança, ao andarilho e aos
passarinhos o teor de suas “inutilidades”. Leminski diz que a razão de ser da sua
poesia é ela fazer parte das coisas inúteis da vida que não se justificam. Aqui
revelamos nosso trabalho, pois pretendemos demonstrar a realização literária de
ambos poetas, cuja primazia é dada ao “nada” da poesia, a partir do pensamento
de teóricos como Compagnon (1996). O material empírico escolhido da obra
manoelina tem concentração específica em Matéria de poesia, 1970, enquanto de
Leminski, destacamos seu último trabalho publicado em vida Distraídos
venceremos, 1987 e o póstumo La vie en close, 1991. Pensamos demonstrar um
olhar acerca desses fazeres poéticos e a partir daí tentarmos acompanhar a
construção literária/artística desses poetas, ornadas de transgressão e compostas
por “estranhos devires”. Salientamos que o conjunto da obra de Manoel é
alimentado por imagens, recurso que utiliza com primazia, incorporando a ela
certa racionalidade onírica, talvez surrealista ao primeiro instante, entretanto
não fugindo a um substrato ético profundo. Já em Leminski, percebemos uma
autorreflexão poética constante associada à visão de crença de santidade da
linguagem. Em ambos, encontramos um fazer metapoético, com os poetas
debatendo a própria criação artística e a inquietação que dela provém,
fragmentando e recriando universos nem sempre particulares. A palavra na obra
desses autores parece perder a função de representação para criar outras
concepções de realidade.
PALAVRAS-CHAVE: Construção poética; Inutilidades; Inquietação.
Ana Claudia da Silva
TITULO: CECÍLIA E CAROLINA _ A REPRESENTAÇÃO DAS AVÓS EM
LUANDINO VIEIRA E MIA COUTO
RESUMO: A historiadora Nancy D’Alessio Magalhães (2009), em pesquisa
desenvolvida junto a estudantes angolanos da Universidade de Brasília e jovens
moradores de um território quilombola nas imediações da Capital, percebeu a
relevância da presença das avós nas memórias evidenciadas pelos relatos dos
jovens, especialmente entre os angolanos. O relato dessa experiência nos levou a
indagar sobre a presença das avós nas literaturas africanas de língua portuguesa
e sobre a forma como são representadas por diferentes autores. Nesta
comunicação, aproximamos, para essa verificação, as representações de avós
presentes nos contos “Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos”, de Luandino Vieira
(1962), e “Sangue da avó, manchando a alcatifa”, de Mia Couto (1988). Ainda
considerando que as narrativas estão situadas em contextos políticos diversos –
pré e pós-independência, respectivamente; que suas protagonistas, Cecília e
Carolina, percorrem diferentes trajetos sociais; que pertençam a sistemas
literários distintos (de Angola e Moçambique), ambas aproximam-se tanto pelo
trabalho intenso de seus autores com a língua portuguesa, nos sentido de dar-lhe
uma feição nacional, quanto por ocuparem as obras de ambos os autores lugares
de destaque no panorama das literaturas africanas. A comparação entre narrativa
de Vieira e Couto vem sendo realizada há muito nos estudos comparados do
macrossistema das literaturas de língua Portuguesa (ABDALA JUNIOR, 1998),
embora nenhum dos estudos dos quais temos notícia aborde diretamente a figura
das avós, que permanecem como tais marginalizadas no conjunto das
personagens dos autores, tando no âmbito literário, como no extra-literário, de
sua fortuna crítica.
PALAVRAS-CHAVE: Avós; Mia Couto; Luandino Vieira.
Ana Cristina Bezerril Cardoso
Claudia Borges de Faveri
TITULO: MÁRIO LARANJEIRA TRADUZINDO LA FONTAINE
RESUMO: Há muitas traduções brasileiras de La Fontaine. Elas começaram a ser
realizadas no século XIX. A primeira obra no país a conter fábulas traduzidas do
autor francês foi a Collecção de Fabulas imitadas de Esopo e de La Fontaine de
Justiniano José da Rocha, publicada em 1852. Ainda no século XIX, o Barão de
Paranapicaba traduziu a obra fabulística completa de La Fontaine. Já no século
XX, Eugênio e Milton Amado traduziram as 240 fábulas do fabulista francês.
Mesmo não traduzindo a integralidade das fábulas, vários foram os poetas e
escritores brasileiros que reescreveram La Fontaine. Entre eles podemos citar
Machado de Assis, Monteiro Lobato, Ferreira Gullar, Leonardo Fróes e Mário
Laranjeira. Em 2004, a editora Estação Liberdade publicou uma coletânea de 43
fábulas de La Fontaine traduzidas por Mário Laranjeira com ilustrações de Marc
Chagall. O presente trabalho visa apresentar essa coletânea assim como mostrar
o fazer tradutório de Mário Laranjeira nas fábulas lafontainianas.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Fábulas; Mário Laranjeira.
Ana Cristina Marinho
TITULO: EDITORES E HERDEIROS EM DISPUTA: HISTÓRIAS DO
VERDADEIRO, ÚNICO E PRIMEIRO REPORTÓRIO BORDA D´ÁGUA
RESUMO: Apresento nessa comunicação os resultados parciais de pesquisas
realizadas em impressos publicados entre 1850 e 1908 e arquivados na Biblioteca
Nacional do Porto – Portugal. Busquei acompanhar a trajetória do “Reportório
Borda D’Água”, um dos mais antigos almanaques publicados em Portugal, na
tentativa de evidenciar questões que interessam aos estudos das práticas de
escrita em folhetos, com periodicidade anual e forte apelo popular e, em especial,
as relações entre editores, autores e publico leitor ou ouvinte. Os almanaques e
reportórios são importantes fontes de estudos para o conhecimento dos “saberes,
em particular destinados a públicos com pouco acesso a outras leituras.” (Lisboa,
2002) A pesquisa revelou a instigante, e por vezes deliciosa, querela entre
editores que publicaram, durante mais de meio século, os “verdadeiros”, “mais
verdadeiros”, “únicos”, “primeiros” Reportórios, Lunários e Prognósticos Diários
do Borda D’Água, escritos pelo astrônomo lusitano Antonio de Souza e, após a
sua morte, seus discípulos e amigos; ou ainda em nome da viúva, filhos e
herdeiros. Os prognósticos, que organizavam o tempo, o espaço, as atividades e a
coletividade, nos ajudam a entender os mapas culturais desenhados em Portugal,
em especial nas cidades do Porto e Coimbra, a partir da segunda metade do século
XIX e primeira década do século XX.
PALAVRAS-CHAVE: impressos populares; cultura escrita; almanaques.
Ana Gomes Porto
TITULO: A PRODUÇÃO DE UMA CULTURA MIDIÁTICA NO BRASIL DE
FINAIS DO SÉCULO XIX
RESUMO: Aluísio Azevedo se tornou um escritor canônico, especialmente com a
publicação de O Cortiço, romance que se tornou leitura obrigatória como
referência do naturalismo brasileiro. Contudo, o escritor teve uma publicação
extensa de romances na época em que escrevia nos jornais do Rio de Janeiro sob
a forma de folhetim. Um deles, Mattos, Malta ou Matta?, foi publicado n’A
Semana no início de 1885, sem nenhuma indicação de autoria na época. A história
se inspirava em um caso de desaparecimento e foi baseada em notícias da
imprensa nos meses finais de 1884. O “Caso Castro Malta”, que forneceu material
para o romance, obteve grande circulação nas folhas sob a forma de notícias, mas
também em crônicas e em revistas hebdomadárias. A intenção desta
comunicação será explorar este “caso” a partir da perspectiva de que foi uma
notícia de grande sucesso que gerou assunto para editores de jornais, escritores e
cronistas emitirem opiniões sobre um fato concreto que ocorria naquela
sociedade. Partindo do princípio de que a imprensa era um veículo de
comunicação importante, como entender as repercussões em torno do “caso
Castro Malta”? Em especial, como foram as apropriações em torno deste “caso”
no que se refere à produção de romances, crônicas e comentários jocosos? A ideia,
portanto, será retomar uma notícia de grande repercussão com a intenção de
compreender como se construía uma cultura midiática naquele momento
específico da sociedade brasileira.
PALAVRAS-CHAVE 1: imprensa; Aluísio Azevedo; caso Castro Malta.
Ana Julia Perrotti Garcia
TITULO: DR JEKYLL AND MR HYDE EM LÍNGUA PORTUGUESA:
HISTORIOGRAFIA DAS TRADUÇÕES DA OBRA PRIMA DE ROBERT LOUIS
STEVENSON
RESUMO: Publicado originalmente em 1886, o conto The Strange case of Dr
Jekyll and Mr Hyde, do escritor escocês Robert Louis Stevenson foi publicado em
Portugal em 1933 já com o título de O Médico e o Monstro, e chega ao Brasil pela
Livraria do Globo, em sua Revista mensal de literatura (e sem seu título ser sequer
citado na capa da publicação). Jekyll e Hyde são personagens imortalizados na
mente de pessoas que, em alguns casos, nem sequer leram o livro ou tiveram
acesso a seu conteúdo. Em língua portuguesa, em mais de 120 anos de existência,
o texto passou por muitas traduções e adaptações, totalizando quase 100
publicações catalogadas (sem contar reimpressões, atualizações e reedições,
apenas novos textos) na forma de livro, revista, fotonovela ou gibi (quadrinhos),
para diferentes públicos (jovem, adulto, infanto-juvenil). Este estudo analisa as
obras publicadas e o tratamento tradutório dado a cada uma delas (texto de
origem, texto de chegada, estratégias) à luz da linguística de corpus. Para a análise
dos diferentes textos produzidos em português, a partir do texto original de
Robert Louis Stevenson, utilizamos os conceitos de tradução, adaptação,
apropriação e reescritura sintetizados por John Milton (1998, 2002) como base
para a análise das diferentes manifestações da obra Jekyll and Hyde, tanto em
português quanto em inglês. Concluímos que muitas das publicações
contemporâneas deram mais atenção à apresentação visual e gráfica (obras
“enlatadas”, capa dura, ilustradores célebres) do que ao texto propriamente dito,
com problemas de tradução sendo frequentes em algumas das obras analisadas,
principalmente no formato quadrinhos.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução; O Médico e o Monstro; Stevenson.
Ana Maria César Pompeu
TITULO: O OBSCENO ESCATOLÓGICO NA TRADUÇÃO MATUTA DO
PRÓLOGO DA COMÉDIA "A PAZ", DE ARISTÓFANES
RESUMO: Em nossa pesquisa fazemos um estudo comparativo dos protagonistas
aristofânicos do campo, entre a paz particular de Diceópolis, defendida numa
“trigédia”, ‘canto ao vinho novo’ ou ‘comédia’ em Acarnenses, de 425 a.C., e a de
Trigeu, ‘o vindimador’, que resgata a deusa Paz, na peça homônima, para todos
os gregos. Estabelecemos uma equiparação dos rituais dionisíacos agrários com
as festas juninas do nordeste brasileiro, pelo reconhecimento dos seus traços
estruturais comuns, na forma de festivais agrários de fertilidade e manifestações
espetaculares. A concretização da pesquisa será feita pela tradução da comédia
Paz de Aristófanes, do texto original grego de 421 a. C., com a versão matuta
cearense dos camponeses aristofânicos, em consonância com a leitura e tradução
de Acarnenses, de 425 a.C., já estabelecidas por nós, no reconhecimento da forte
inspiração da Musa da comédia na cultura cearense. A primeira parte de Paz, em
que a Guerra reina no lugar dos deuses olímpicos, é caracterizada por alimentos
impróprios e mal cheirosos: o escaravelho é um besouro que come fezes, Pólemos,
a Guerra, prepara uma mistura de todas as cidades gregas, a serem trituradas em
um pilão. Depois que a deusa Paz é libertada, todos os alimentos são agradáveis
assim como os cheiros. Bowie (1996, p.136) observa que o escaravelho inverte sua
situação, pois passa a puxar o carro de Zeus e a comer a ambrosia de Ganimedes
(722-4), da mesma forma que a situação da Grécia, que era dominada pela guerra,
que é vista como sinônimo de morte, passa a ser de alegrias da bebida, da comida,
da fartura no campo, do sexo, enfim, da vida. Apresentaremos a tradução matuta
com os comentários e notas do prólogo de Paz.
PALAVRAS-CHAVE: Aristófanes; A Paz; tradução matuta.
Ana Maria Leal Cardoso
TITULO: ALINA PAIM E LOBATO: ENTRE A MAGIA E A EDUCAÇÃO
RESUMO: O trabalho apresenta uma leitura comparada entre a obra infanto
juvenil da escritora sergipana Alina Paim e a obra de Monteiro Lobato,
destacando como esses autores priorizam a formação do leitor a partir da
dinâmica entre magia e educação. Em ambos tanto os personagens, que quase
sempre se repetem, quanto o espaço, centrado no rural, estruturam a narrativa.
Encontra-se iluminada pelas teorias de Todorov, Caroline Marinho, Nelly Coelho,
Regina zilberman, entre outros, por entendermos que permitem uma melhor
compreensão da dinâmica formadora do leitor mirim.
PALAVRA-CHAVE 1: literatura; magia; Alina Paim.
Ana Paula Macedo Cartapatti Kaimoti
TITULO: O ENCONTRO ENTRE OS CANTOS MBYA GUARANI E O POETA E
TRADUTOR DOUGLAS DIEGUES: CANTEMOS SEMPRE BELAS PALAVRAS
RESUMO: Ao assumir o papel de mediadora entre culturas, a obra do poeta
brasiguaio Douglas Diegues vaga por regiões e comunidades precárias, excluídas
do jogo das relações de consumo, lugares – como a fronteira Paraguai-Brasil –
que experimentam o outro lado da cidadania moderna, aquele que cria
desigualdade, injustiça e indignidade. Na obra Kosmofonia Mbya Guarani
(2006), Diegues traduz para o português, juntamente com os indígenas, os cantos
dessa etnia, a partir da coleta e edição desse material, realizada pelo
etnomusicólogo paraguaio Guillermo Sequera. Sua participação nesse trabalho é
relevante tanto como tradutor, quanto como organizador e autor de vários textos
que procuram refletir sobre a poética do povo Mbya, na língua inventada pelo
autor, o portunhol selvagem. Além disso, a obra apresenta comentários de
estudiosos brasileiros, entre outros, sobre as textualidades indígenas e o trabalho
de Diegues e Sequera. Partindo do pressuposto que "a tradução é,
simultaneamente, comunicação e obstáculo, uma vez que as línguas nunca se
refletem umas nas outras como em um espelho” (SARLO, 2002, p. 50), é preciso
considerar como a obra em questão articula culturas incomensuravelmente – no
sentido de que não possuem medidas e referências em comum – diferentes – a
letrada e a oral, a do homem branco e a do indígena sul-americano, articulação
que é parte da obra poética de Diegues como um todo. Desse modo, ao tomar essa
produção nesse contexto, no qual a tradução é ferramenta fundamental, em
sentido amplo, procuramos esmiuçar o quanto o contato com o repertório das
textualidades indígenas torna-se um lugar de reflexão crítica e estética a partir do
qual Diegues compõe seu projeto artístico. Nesse sentido, levando em conta as
contradições inerentes ao processo de produção e recepção da obra Kosmofonia
Mbya Guarani, discutimos também seu potencial crítico e renovador no que se
refere à proposta de uma noção extraocidental de literatura e de poesia.
PALAVRAS-CHAVE: Cantos indígenas; poesia brasileira; Douglas Diegues.
Ana Paula Silva
TITULO: VIOLÊNCIA E TRAUMA EM COMISSÃO DAS LÁGRIMAS, DE
ANTÓNIO LOBO ANTUNES
RESUMO: A escrita do testemunho em "Comissão das lágrimas" No romance de
António Lobo Antunes, Comissão das lágrimas, publicado em 2011, é Cristina a
personagem mediadora das vozes que trazem os testemunhos da violência no
contexto pós-independência de Angola, ex-colônia africana, após treze anos de
Guerra Colonial. Neste período, o país africano vivia experiências de violência,
miséria, perseguições, fugas, enfim traumas diversos. O título da obra remete a
uma comissão, com fama de ser muito violenta, que teria sido instalada com o
objetivo de perseguir possíveis opositores ao partido que estava no poder em
Angola. Pretendemos estudar, neste romance, a configuração da escrita de
caráter testemunhal da experiência traumática nesse período. Cristina não
vivenciou as experiências traumáticas narradas, apenas assume a função de
mediadora do testemunho das vozes que surgem no romance, em que se
entrelaçam tempos e espaços, numa tessitura de narrativas múltiplas que
apresentam sentimentos e ressentimentos obscuros encerrados na memória dos
sujeitos. Essa passagem do real para o relato contribui para a reconfiguração das
identidades aniquiladas pela violência. Comissão das lágrimas, como um tecido
de histórias narradas, potencializa, assim, na escrita do testemunho, a
refiguração dessas identidades, tanto individuais, quanto coletiva. Quanto à
coletividade, tem-se a referência à identidade nacional,basilada no mito de nação
imperial, tocando também cotidianamente problemas como o dos “retornados”.
Como aporte teórico, utilizamos autores como Paul Ricoeur, Beatriz Sarlo,
Seligman-Silva, Bakhtin, bem como diversas contribuições da fortuna crítica do
escritor.
PALAVRAS-CHAVE: Comissão das lágrima; António Lobo Antunes; testemunho.
Ana Paula Veiga Kiffer
TITULO: ESCRITAS EFÊMERAS DO CORPO / ESCRITA DE CORPOS
EFÊMEROS
RESUMO: O trabalho pretende repensar a noção de performance vista sob a
perspectiva das relações e tensões entre as escritas e os corpos no ambiente crítico
contemporâneo. Interessa, desse modo, rever alguns projetos iniciados na
segunda metade do século XX que ajudem a repensar a potência da performance
hoje e, nesse sentido é que o trabalho quer pensar: deslocando-se da performance
enquanto especificidade, conceito ou valor para o campo da arte contemporânea
e aproximando-se das ações ou gestos performáticos enquanto potência do
transitório, do móvel e do movente, que se manifesta como escrita efêmera do
corpo, e também escrita de corpos efêmeros, quase que tecendo um conjunto de
atos preparatórios que inflexionam, provocam, divergem e por isso mesmo abrem
novos espaços do comum no seio das experiências e manifestações político e
culturais.
PALAVRAS-CHAVE: contemporâneo; corpo escrito; performance.
Anderson Bastos Martins
TITULO: A LITERATURA DO BRASIL NOS TEMPOS DO IMPÉRIO
RESUMO: A comunicação aqui proposta busca estabelecer diálogos preliminares
entre três campos teóricos, políticos e estéticos que buscam espaço nas reflexões
sobre as sociedades contemporâneas afetadas cada vez mais pelo impacto da
globalização em suas diversas vertentes. Os primeiros participantes desse diálogo
são as noções de Império, Multidão e Bem-Comum conforme o pensamento
influente e controverso de Antonio Negri e Michael Hardt, especialmente em seus
questionamentos da relevância e da atualidade da teoria pós-colonial para a
dinâmica intelectual que a contemporaneidade exige. O segundo integrante do
diálogo se faz representar pela reação de Peter J. Kalliney ao que considera como
uma leitura enviesada que Hardt e Negri realizam de um campo que os dois
autores abordam de maneira inconsciente de seus próprios pontos cegos. Por fim,
o diálogo se completa com a proposta feita por Silviano Santiago de uma leitura
da literatura brasileira, de ontem e de hoje, sem o véu que por décadas mantevea apartada de suas próprias vertentes pós-coloniais. O objetivo da comunicação é
iniciar as pesquisas do autor num projeto mais amplo de abordagem ao mesmo
tempo pós-colonial e global da literatura brasileira contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE: Império; globalização; teoria pós-colonial.
Anderson Luis Nunes da Mata
TITULO: O ENSINO COMO DÊIXIS E OS LIMITES DA PROVA: A LEITURA
LITERÁRIA NO ENEM
RESUMO: Se a educação para a leitura literária é mais um gesto dêitico do que
transmissivo, de acordo com a formulação de Hans Ulrich Gumbrecht, como é
possível avaliar as competências e habilidades de leitura de poemas, crônicas,
contos e romances em provas objetivas, como o Exame Nacional do Ensino
Médio-ENEM? Na medida em que o ENEM se transforma no principal exame
para o acesso ao ensino superior, há uma tendência de que os modos de abordar
o texto literário praticados no exame pautem parte considerável das práticas de
letramento literário no Ensino Médio. Esta comunicação pretende, portanto,
refletir criticamente sobre as habilidades referentes à leitura literária apresentada
na Matriz de Referência para o ENEM, contrastando-a com as questões que
efetivamente figuraram na prova de 2012 a 2014, de modo a tanto compreender
os construtos teóricos que orientam a relação entre o leitor e o texto literário
preconizadas pelo exame, quanto os limites das propostas de leitura apresentadas
na prova.
PALAVRAS-CHAVE: ensino; ENEM; leitura.
Anderson Soares Gomes
TITULO: HUMANIDADES EM DESARRANJO: A UBIQUIDADE ENTRÓPICA
EM UBIK, DE PHILIP K. DICK
RESUMO: Grande parte da obra de Philip K. Dick, um dos mais célebres autores
da chamada "New Age" da ficção científica, se caracterizam pela investigação
metafísica sobre a natureza do ser e da realidade. Essa temática de profundo teor
ontológico se faz presente especialmente na sequência de romances publicados a
partir da década de 1960, onde se destaca uma das mais perturbadores narrativas
existenciais do século XX: Ubik. Publicado em 1969, Ubik problematiza o
futurismo que permeia a ficção científica desde suas origens ao mesmo tempo que
questiona os limites da humanidade em um contexto onde máquinas e objetos
passam a ditar o entendimento sobre a consciência, o desejo e a morte. A partir
de uma missão fracassada de um grupo de agentes anti-psi (cujo talento é
neutralizar a força de indivíduos com poderes psíquicos), os personagens
percebem que o tempo começa a retroceder, especialmente através de objetos de
última geração que se tornam instantaneamente analógicos e ultrapassados. A
chave para esse desarranjo talvez esteja em uma lata de aerosol misteriosa
chamada Ubik. Através de uma complexidade narrativa que esvanece os limites
entre o ser e a realidade (futura e passada) que o cerca, Dick chama a atenção
para a crescente esfera entrópica que se infiltra na existência de cada indivíduo,
uma ubikuidade da desordem e do caos que se estabelece como uma das
principais características da vivência na contemporaneidade.
PALAVRAS-CHAVE: Ficção Científica; Passado; Entropia.
André Barbugiani Goldfeder
TITULO: COISA-MAPA PARA HOMENS CEGOS.
ATRAVESSAMENTO NA OBRA DE NUNO RAMOS
FORMAS
EM
RESUMO: A comunicação apresentará alguns tópicos atualmente em
desenvolvimento na pesquisa de doutorado “Coisas-mapa para homens cegos.
Cenografias da voz e materialidades cruzadas em Nuno Ramos”. Inicialmente,
será exposta uma abordagem cruzada do funcionamento da voz no livro de estreia
do escritor e artista plástico Nuno Ramos (1960), Cujo (1993), e da
problematização das operações de determinação do material performada na
produção plástica do período. Neste movimento, ainda, serão mencionadas
dificuldades teóricas levantadas pela obra no que toca à conceituação em torno
da ideia de informe e à caracterização dos diferentes regimes de atravessamentos
de materialidades que trazem à tona a desestabilização da questão da
“especificidade dos meios”. Em seguida, será feita menção a trabalhos plásticos
produzidos por Ramos a partir de 2004, que introduzem o trabalho linguageiro
sob a forma de vozes autorais ou da vocalização de materiais culturais, como
Morte das casas (2004) e Vai,vai (2006). A partir dessa breve menção, serão
apontados possíveis rendimentos comparativos extraídos dessas obras, no que se
refere a um pacto de recepção fundado na literalidade e em certa
“inexpressividade” reivindicada pelo autor e a um outro modo de fricção entre
voz e concretude material, que coloca em pauta questões do domínio da
teatralidade. Finalmente, um fecho será buscado em um breve esboço de
exploração de um léxico da indeterminação e da opacidade no campo político.
Referências bibliográficas DOLAR, Mladen. A Voice And Nothing More.
Cambridge e Londres: The MIT Press, 2006. DUNKER, Christian Ingo Lenz
Dunker. Mal-estar, sofrimento e sintoma: releitura da diagnóstica lacaniana a
partir do perspectivismo animista. Tempo Social vol. 23 no.1, (ed. on-line), São
Paulo, 2011. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a
inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.
RAMOS, Nuno. Cujo. São Paulo: Ed. 34, 1993. SISCAR, Marcos. Da Soberba da
Poesia: distinção, elitismo, democracia. São Paulo: Lumme Editor, 2012.
PALAVRAS-CHAVE: Nuno Ramos; Artes plásticas; Contemporâneo.
André Cabral de Almeida Cardoso
TITULO: O “EU” SOMBRIO: O DUPLO NA DISTOPIA
RESUMO: A certa altura do conto “Learning to Be Me”, de Greg Egan, o narrador
em primeira pessoa parece se cindir. Nas últimas páginas da narrativa,
descobrimos que ele não é a pessoa cuja vida vinha sendo rememorada ao longo
do relato, mas sim uma cópia de sua personalidade, gravada num cérebro
artificial que duraria para sempre. “White Christmas”, episódio da série de
televisão britânica Black Mirror, emprega uma premissa semelhante: uma
mulher cria uma cópia de sua própria mente que se encarrega de administrar sua
casa como uma inteligência artificial escravizada. Em ambos os casos, a noção de
identidade e do que significa ser humano é problematizada. Ao mesmo tempo,
esse questionamento da identidade ocupa uma posição central nas imagens de
sociedades distópicas delineadas nas duas narrativas. Desse modo, o pesadelo
distópico se associa de forma indissolúvel ao pesadelo do duplo. O objetivo desta
comunicação é examinar por que motivos – e de que formas – a figura do duplo
acaba concentrando em si um conjunto de ansiedades relacionadas à
instrumentalização do indivíduo, à ética envolvida nas relações sociais, à
capacidade de empatia com o outro, ao autoestranhamento e à alienação. Ao
mesmo tempo, tomando como base a noção do “inquietante” de Freud e sua
retomada pela crítica recente, procurarei examinar até que ponto o jogo de
familiaridade/estranhamento acionado pelo duplo é uma peça essencial da noção
moderna de identidade.
PALAVRAS-CHAVE: identidade; distopia; pós-humanismo.
André Dias
TITULO: RISO E DISSONÂNCIA EM PIRANDELLO E CAMPOS DE CARVALHO
RESUMO: O trabalho examina como Luigi Pirandello, na Itália do início do
século XX, e Campos de Carvalho, no Brasil do final dos anos 50 e início dos 60
do mesmo período, através dos seus discursos literários, empreenderam
questionamentos sociais e existenciais significativos. Ao desenvolverem tais
questionamentos os autores se constituíram como vozes dissonantes em relação
aos padrões hegemônicos presentes em suas respectivas sociedades. Dessa
maneira, a partir da leitura e análise dos romances, Um, nenhum e cem mil
(1926), de Pirandello e O Púcaro Búlgaro (1964), de Campos de Carvalho serão
avaliadas as seguintes questões: o humor como mecanismo de desestruturação
das certezas individuais e coletivas; o problema da constituição da identidade dos
sujeitos e o papel da palavra alheia; os sentidos de loucura e lucidez no âmbito da
sociedade; ordem social e fragmentação do indivíduo; o diapasão iconoclasta
como possível força motriz da realização literária dos escritores em questão. Por
fim, serão avaliadas a atualidade e a pertinência dos discursos literários
produzidos pelos autores em destaque no presente estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Dissonância; Humor; Literatura Comparada.
André Luís Gomes
TITULO: DE ESPECTALEITORES A LEIATORES
RESUMO: Desde 2010, realizamos, na Universidade de Brasília o projeto Quartas
Dramáticas em que leituras cênicas são concebidas e apresentadas por alunos de
diferentes cursos e coordenadas por professores e alunos, majoritariamente, do
curso de Letras. As apresentações nos levaram a refletir sobre o processo e a
prática da concepção e da encenação das leituras cênicas e a pensá-las como
estratégia e metodologia de ensino/aprendizagem. O que se observa é que a
leituras são concebidas de forma coletiva e colaborativa, em que a troca de
experiências se constrói e se desenvolve num processo criativo e dialógico. O
objetivo desta comunicação é compartilhar essa experiência e discutir o papel dos
leiatores e dos espectaleitores e as especificidades desse método de leitura do
texto teatral.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura cênica; inovação; ensino.
André Luís Mourão de Uzêda
TITULO: USANDO PALAVRAS DE AVE PARA ESCREVER: O TEXTO POÉTICO
DE MANOEL DE BARROS EM AULAS DE LITERATURA NO ENSINO
FUNDAMENTAL
RESUMO: A seguinte proposta de comunicação pretende apresentar o trabalho
desenvolvido durante um trimestre com a poesia de Manoel de Barros em uma
turma de 7º ano do Ensino Fundamental nas aulas de Literatura. Tomando como
base as provocações de Tzvetan Todorov (2010), quando propõe que o ensino
escolástico e historicista expõem a literatura ao “perigo”, acreditamos que o
trabalho com o texto poético no Ensino Fundamental propicie um escape à
prática adotada pelo ensino de literatura no Médio, em que a periodização
literária se sobrepõe ao próprio texto. Em outra via, o trabalho com literatura no
Fundamental permite resgatar a obra para o centro da análise, sem que seja
necessária a sua mediação pela historiografia, pela crítica, pela biografia do autor
ou por correntes teóricas. Para além disso, a escolha do gênero também é
proposital: o texto poético, comumente apresentado em coletâneas reunindo os
poemas mais ilustrativos de determinado estilo de época, é lido por seu contexto,
sem que se considere seu caráter estético e simbólico como agente de
conhecimento sobre o mundo. Fugindo dessa perspectiva, selecionamos a poética
de um único autor, Manoel de Barros, e propusemos adotar a leitura de um livro
de poemas, Menino do mato, para apresentar sua visão de mundo. Sem nos
determos a dados biográficos ou históricos, os alunos mergulharam na poesia do
autor e puderam experienciar o texto literário à luz da sua poética: transvendo o
mundo. Imersos na simbologia de Manoel de Barros, os alunos foram ainda
convidados a sair de sua zona de conforto, abrindo margem para o leitor fazer-se
também produtor. Assim, criaram seus próprios poemas dialogando com o
universo do poeta. Com isso, reivindicamos ainda o espaço criador nas aulas de
literatura e produção de texto, tantas vezes preso à rigidez da dissertação
argumentativa, formato exigido pelos vestibulares.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Literatura; Manoel de Barros; Poesia.
André Luis Bento Dos Santos
TITULO: O EMPREGO DE GRUPOS DO FACEBOOK PARA O ENSINO DA
LITERATURA
RESUMO: Este trabalho de pesquisa pretende sinalizar como os professores da
disciplina de Literatura podem recorrer ao Facebook, para melhorar o
desempenho dos alunos em sala de aula. Neste sentido, trazemos a público o
estudo de caso desenvolvido com nove alunos do ensino fundamental do Colégio
Militar do Recife. Como metodologia, disponibilizamos links para conteúdos
relacionados a obras literárias, inclusive adaptações audiovisuais com licençapadrão do YouTube, para, em seguida, propormos atividades de leitura e
produção. Para tanto, adotamos como suporte a ferramenta “grupo” do Facebook,
ao qual denominamos Amantes dos Livros. Diante do desafio de reunir em um só
estudo áreas tão distintas como as redes sociais da internet, a literatura e a
educação, resultaram três exigências. Primeira: a escolha por uma rede social
específica, no caso, o Facebook; segunda: a delimitação da nossa visão de
literatura a partir de uma perspectiva intersemiótica, daí a nossa opção por Uma
Teoria da Adaptação, de Linda Hutcheon (2013); e terceira: a adesão ao conceito
de aprendizagem ubíqua de que trata Lucia Santaella (2013), em Comunicação
Ubíqua, proposta inovadora em termos de educação.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Facebook; Aprendizagem ubíqua.
André Luis Mitidieri
TITULO: A PODEROSA É VOCÊ: EVITA SOB A BIOGRAFEMÁTICA
HOMOERÓTICA
RESUMO: Nesta comunicação, comparamos dois textos escritos por escritores
homossexuais argentinos – o ensaio Eva Perón ¿ aventura o militante? –
produzido e editado por Juan José Sebreli, em 1966 e o “pornoconto” El fiord, de
Osvaldo Lamborghini, escrito em 1967 e publicado em 1969. 1966 foi o ano do
golpe que levou o general Juan Carlos Onganía à presidência da Argentina,
assinalando período ditatorial, a ser interrompido brevemente pela eleição do
peronista Héctor Cámpora em 1973, à qual se seguiu o retorno de Perón ao país
após longo exílio e novo pleito, do qual esse sairia vitorioso, governando até o
próximo ano, quando morre. Torna-se significativo que, no contexto em foco, os
autores em estudo arremessem a imagem de Eva Perón, cada um à sua maneira,
contra o Estado castrador e autoritário. Assim, amparados em metodologia
qualitativa de cunho bibliográfico, damos continuidade ao projeto de identificar,
em diversas representações de Evita, a incidência do que denominamos
“biografemas homoculturais”, conceito relacionado a uma abordagem
pormenorizada e não totalizante, vinculada e/ou reapropriada pela homocultura.
Neste caso, desenvolvemos e buscamos fixar a noção de “biografema
homocultural da dama poderosa”, como possibilidade de articular política e
escrita homoerótica, com base no seguinte ferramental teórico: Roland Barthes
(1971; 1980); Steiner; Boyers (1985); Kraniauskas (2000); Motta (2004); Lopes;
Bento; Aboud; Garcia (2004); Barcelos (2006); Mitidieri (2013; 2014).
PALAVRAS-CHAVE: Homocultura; Eva Perón; Espaço biográfico.
André Luiz Alves Caldas Amóra
TITULO: “MAS HÁ MESMO LOJAS DE BELCHIOR?”: CONSIDERAÇÕES
SOBRE OS PROBLEMAS METAFÍSICOS EM IDEIAS DE CANÁRIO
RESUMO: O conto Ideias de Canário, de Machado de Assis, presente em Páginas
Recolhidas, publicado em 1899, apresenta em sua estrutura um tom fabular. Vê-
se a presença de um cientista, o ornitólogo Macedo, que se depara com um
canário falante em uma loja de objetos antigos e fica impressionado com a sua
linguagem. O conto citado, além de tecer críticas ao passionalismo científico do
ornitólogo, apresenta a construção de conceitos, por meio das falas do pequeno
pássaro, sobre o que poderia ser o mundo. As diferentes visões de mundo
expostas pelo canário no referido conto podem ser vistas como uma metáfora da
aquisição de algo, o qual, segundo Aristóteles, é desejado por todos os seres
humanos: o conhecimento. Tendo como fios condutores a teoria platônica das
ideias e a metafísica aristotélica, buscar-se-á, dessa forma, a abordagem dos
conceitos
de
realidade/verdade,
de
sensível/inteligível
e
de
experiência/conhecimento. O presente estudo, portanto, terá como objetivo
aproximar o conto machadiano do pensamento metafísico, explorando e
discutindo a ideia de mundo e do próprio ser.
PALAVRAS-CHAVE: Realismo; Filosofia; Metafísica.
André Luiz dos Santos Vargas
TITULO: CARLOS SELVAGEM: LITERATURA COMO FUNDAMENTO
IDEOLÓGICO DE UMA POLÍTICA COLONIAL NACIONALISTA EM
PORTUGAL (1925)
RESUMO: Em 1925, o militar e escritor Carlos Selvagem proferiu na União
Intelectual Portuguesa a conferência “Literatura Portuguesa de Ambiente
Exótico”, publicada no ano seguinte no Boletim Geral das Colónias. A tese
defendida por Selvagem é a de que inexistia em Portugal uma literatura colonial
consolidada, o que explicaria a decadência do país e a crise nas colônias, em
contraste a outras metrópoles que investiam na produção literária de temas
coloniais. Segundo ele, países como Inglaterra e França consolidaram-se como
potências coloniais sobretudo por investir na produção de uma literatura de
"ambiente exótico", a qual atiça imaginações jovens acerca da vivência nas
colônias, estimulando a migração de colonos. A literatura seria então o alicerce
ideológico de uma prática colonial bem sucedida: não haveria como formar um
império colonial sem uma literatura específica no tema. Portugal passava por
crises administrativa e econômica nas colônias. Como um nacionalista militar
alinhado à direita mais autoritária, Carlos Selvagem defendeu que a culpa dessa
desorganização e falta de uma literatura colonial era dos liberais, da monarquia
à república, que governaram Portugal. Culpar os liberais pela crise era a tendência
que aglutinou movimentos (conservadores, fascistas, integralistas e
monarquistas) que em 28 de Maio de 1926 derrubaram a república liberal e
parlamentar para instaurar a Ditadura Militar. Com a ideia de que o império é a
razão de ser da nacionalidade portuguesa, Selvagem lamenta a falta de uma
literatura colonial e diz que, para o país se colocar no patamar das grandes
metrópoles e fugir à decadência, deveria se recorrer às "èlites pensantes"
(intelectuais) que construiriam o gênero literário nacional para que daí se
formasse uma consciência colonial tipicamente portuguesa. Disso, para o
conferencista, sairia uma organização centralizadora da política colonial do
império português. Essa ideia animou, por exemplo, o militar Henrique Galvão,
que foi administrador colonial exercendo cargos importantes por ser considerado
um especialista na área, e levou adiante a ideia de Carlos Selvagem - produzir
uma literatura colonial tipicamente portuguesa, com objetivos ideológicos de
propaganda e exaltação nacionalista na reprodução de uma "mística colonial"
como alicerce de uma política imperial sólida e tipicamente portuguesa.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Colonial; Carlos Selvagem; Portugal.
André Vinícius Pessôa
TITULO: A CRÍTICA POÉTICA DA POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA:
ALGUNS PERCURSOS
RESUMO: Entre a necessidade da produção da poesia contemporânea brasileira
ser analisada e criticada, como atentou Renato Rezende em Poesia
Contemporânea Brasileira: crítica e política (2014) e a defesa de “um pensamento
poético-teórico a partir da literatura não ser cinzento, mas tão verdejante e áureo,
tão colorido, quanto a obra que ele aborda”, realizada por Alberto Pucheu no texto
“Pelo colorido, para além do cinzento (quase um manifesto)” (2007), alguns
exercícios recentes de teoria e crítica literária produzidos por poetas, como os já
mencionados acima, além de Antonio Cícero, Marcos Siscar, Paulo Franchetti,
Sérgio Cohn, entre outros, quando não percorrem os caminhos da crítica
tradicional, tensionam as suas crenças mais elementares e se arriscam numa
perspectiva excêntrica aos moldes consagrados. Ao fazer girar a roda da crítica da
poesia contemporânea, oxigenam o debate sobre o seu destino e a conduzem a
um diálogo permanente entre pares. Nesse comércio amplo de perspectivas,
alguns limites são experimentados e rompidos, como as ultrapassagens das
fronteiras da poesia (em verso) e da prosa crítica, dirigidas (ou não) por uma
intenção desafiadora e, em alguns casos mais específicos, contaminadas
livremente por discursos híbridos. A presente comunicação pretende passear
pelos bosques da recente crítica literária brasileira realizada por poetas para
observar como as fronteiras entre a crítica e poesia hoje se apresentam, num
tempo em que é valorizada cada vez mais a emergência de novos suportes para
literaturas e poéticas. Também verificar se essas escritas se vêem associadas ou
dissociadas da tradição do poeta-crítico, reconhecida e ao mesmo tempo
marginalizada em relação ao senso comum do que se entende por crítica literária
no Brasil e a função específica de quem exerce esse modo de escrita.
PALAVRAS-CHAVE: poesia contemporânea; crítica literária; poeta-crítico.
Andréa Antonieta Cotrim Silva
TITULO: AS REPRESENTAÇÕES SENSÍVEIS DO SER FÍLMICO, PERMEADAS
PELA ESTÉTICA DA VIOLÊNCIA: QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS E DE
GÊNERO EM “DJANGO LIVRE” E “HISTÓRIAS CRUZADAS”
RESUMO: O cinema irá sempre representar o que entende por real, por meio de
uma determinada estética. Visamos problematizar a questão da (ir)representação
fílmica, ou seja, daquilo que é representado no cinema ou deixa de sê-lo,
mormente por meio da estética da violência; isto é, a obra que – como diria
BAZIN (1989) – se desenvolve sob o signo da violência e da crueldade.
Pretendemos discutir duas produções hollywoodianas do final da Era Obama, a
saber: Django Livre (2013) e Histórias Cruzadas (2011) – a primeira do diretor
Quentin Tarantino e a segunda de Tate Taylor, ambos norte-americanos.
Pensamos que o estudo do(s) método(s) de representação, na figuração de
personagens - cujo gênero, a classe social, a cor da pele ou a linha de pensamento
sofrem algum tipo de exclusão - possa ser de extrema utilidade para
compreendermos a extensão dessas representações na sociedade. Para nossa
análise, apoiar-nos-emos na teoria de Jacques Rancière, mais especificamente,
no conceito de partilha dos sentidos.
PALAVRAS-CHAVE: cinema; violência; representação.
Andréa Cesco
TITULO: A TRADUÇÃO DE RECURSOS HUMORÍSTICOS NOS SUEÑOS DE
QUEVEDO
RESUMO: Para Guerrero Salazar (2002) a fórmula mais frequente como fonte de
humor consiste em desenvolver uma série de engenhosas relações entre os
componentes do signo linguístico para degradar o objeto imaginário descrito,
invertendo as categorias estabelecidas na linguagem. E uma vez estabelecidas
estas relações entre os componentes do signo linguístico, ocorrem fenômenos
chamados de jogos de palavras, através da paronomásia, da homonímia, da
polissemia, entre outros. Os jogos de palavras, recurso humorístico mais utilizado
por Francisco de Quevedo y Villegas (escritor do Século de Ouro), apresenta uma
grande regularidade na obra Sueños (1993) ? composta por cinco narrativas ? pois
o autor satiriza certos vícios sociais da época ou determinados grupos sociais em
um cenário ultratumba. E o conceito no discurso satírico, segundo Lia Schwartz
(1983), é construído sobre o jogo de palavras ou metáforas (ou uma combinação
destas com outras figuras) com o propósito de produzir riso no leitor e, ao mesmo
tempo, convidá-lo a refletir sobre a terrível realidade que se apresenta naquele
momento na Espanha. Assim, busca-se, tendo como aporte teórico Berman,
mostrar e comentar estratégias utilizadas pela tradutora Liliana Raquel Chwat
para o português do Brasil (Os sonhos. 2006), na tradução de alguns recursos
humorísticos ? e aqui me limito à paronomásia, homonímia e polissemia ? na
obra Sueños (1993), oferecendo também novas possibilidades de tradução.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Literatura; Quevedo y Villegas.
Andréa Correa Paraiso Müller
TITULO: OS PERIÓDICOS E OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE ROMANCES
NO SÉCULO XIX
RESUMO: Os periódicos e os critérios de avaliação de romances no século XIX
Andréa Correa Paraiso Müller (UEPG) A imprensa oitocentista constitui um
importante acervo de fontes primárias para os pesquisadores da literatura do
século XIX, sobretudo do romance. Tomar os periódicos como fontes primárias
para a pesquisa permite evitar certos anacronismos em que muitas vezes
incorrem as histórias literárias quando se baseiam em critérios do presente para
elencar os autores e obras mais significativos de uma determinada época,
desconsiderando a leitura no período do qual pretendem tratar. A imprensa
possibilita ao pesquisador conhecer elementos que as histórias literárias, não
raro, negligenciam, tais como as preferências dos leitores do passado e os critérios
de avaliação crítica da produção artística. Neste trabalho temos por objetivo
refletir sobre os critérios de avaliação de romances em meados do século XIX a
partir da circulação e da recepção crítica de um romance brasileiro (A filha da
vizinha, de Antonio José Fernandes dos Reis) festejado na época de seu
aparecimento e, posteriormente, esquecido. Tal romance destoa dos critérios por
meio dos quais passou-se a avaliar romances a partir de fins do século XIX e início
do XX. No entanto, o sucesso que obteve junto aos críticos que se expressavam
na imprensa na época de sua primeira publicação em um jornal (foi publicado no
Correio da Tarde, em 1859) indica que estava em perfeita consonância com os
parâmetros que norteavam a apreciação de romances naquele momento, tendo,
inclusive, sido recomendado em detrimento de romances hoje canônicos. Estudar
a recepção que teve esse romance na imprensa de seu tempo proporciona o
conhecimento desses parâmetros e uma melhor compreensão do universo letrado
de meados do Oitocentos, assim como da leitura de romances naquele período.
PALAVRAS -CHAVE: leitura; romances; periódicos.
Andrés Suárez Rico
TITULO: LA DISLOCACIÓN DE LA IDENTIDAD Y EL RECONOCIMIENTO DE
LA ALTERIDAD EN LOS AUTORES DE LA NARRATIVA VANGUARDISTA
HISPANOAMERICANA
RESUMO: La presente disertación tiene como objeto analizar, dentro del
relegado género narrativo de la vanguardia, los procesos constitutivos de la
identidad hispanoamericana que, frente a los discursos producidos en el convulso
orden histórico, social y político de la primera mitad del siglo XX, manifiestan las
filiaciones y desavenencias con los movimientos artísticos y estéticos de Europa.
En este contexto, esta investigación sostiene que los relatos de Felisberto
Hernández, Pablo Palacio, Juan Emar, Luis Vidales y Julio Garmendia, Martín
Adán, propulsan una fragmentación en la subjetividad del yo narrador y de sus
personajes que obedece no solo a la necesidad de desvirtuar el relato realista
decimonónico y de concebir, de otra manera, la literatura, sino también al deseo
de entender al sujeto hispanoamericano desde el ensalzamiento del otro, desde la
alteridad que reclama un espacio en ese circunscrito panorama de la sociedad del
capital. En este sentido, esta investigación ahonda en los problemas de la
representación que, en su oposición al significante unívoco, se produce sobre el
gesto binario de un otro (doble, contra-espejo u opuesto) que cuestiona su
identidad y su realidad exhibiendo, desde el seno mismo de la ficción y la
anomalía, las disparidades entre su propia naturaleza y las imposiciones
coercitivas de su contexto. En la búsqueda comprensiva de la alteridad de este
tipo de doble se analizarán las perspectivas psicoanalíticas de Freud y Lacan en
torno a los diferentes estadios de la teoría del espejo –ambivalencia, proyección,
narcisismo y castración-, que plantea la formación del “yo” sobre la conjunción
de demandas múltiples, contradictorias y ambivalentes. A partir de estos
postulados psicoanalíticos, exponemos que en nuestros autores la identidad
abierta, la identidad diferida (a excepción de Felisberto Hernández), expresa un
carácter político que, en su negación definitoria, manifiesta los problemas de la
modernidad frente al choque de las imposiciones occidentales en el contexto
latinoamericano. Basados en los planteamientos de Stuart Hall sobre la identidad
abierta, diferida y en devenir, que explica desde la teoría derrridiana,
analizaremos de qué modo el encuentro con el otro, fundado en el doble subjetivo,
simultáneo y latente, devela una preocupación por no erigir una identidad
omniabarcativa y excluyente, sino por encumbrar la diferencia que no suprime
subjetividades y que se construye desde la multiplicidad del nosotros. Bajo esta
incapacidad para superponerse al otro, para borrarlo y para anexionarlo,
consideramos que los problemas de irresolución y diferimiento identitario tienen
implicaciones políticas, estéticas e ideológicas que responden a una ruptura con
el ideal regulatorio de occidente y al efecto de las modernidades en el contexto
latinoamericano. Así, las exploraciones con las alteridades patentizan las idea de
que no “existe una única vivencia prototípica de ella” (Brunner 176), sino que
existen diversas manifestaciones subjetivas que ponen en entredicho esa
pretendida unívoca modernidad.
PALAVRAS-CHAVE: Alteridad; Identidad; Narrativa vanguardis.
Andrea C. Muraro
TITULO: DO CADERNO DO AUTOR: UM VÉRTICE AMERICANO EM UM
ROMANCE ANGOLANO
RESUMO: Esta comunicação propõe uma breve análise de alguns intertextos (de
M. Twain, R. Burton, B. Cendrars, P. Theroux, B. Chatwin) presentes na
composição do romance A terceira metade (2009), do angolano Ruy Duarte de
Carvalho. Interessa relacionar tais inserções, em convergência com eventos
históricos situados na zona austral africana e sul-americana. A questão que se
coloca é pensar que tais convergências não figuram apenas como um roteiro de
viagem transcrito dos cadernos do autor, mas que os intertextos literários e
históricos são ali reelaborados tanto para alicerçar a estrutura do romance, como
também para discutir as dinâmicas e tensões recuperadas de diferentes espaços.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Angolana; História; Romance.
Andrea Cristiane Kahmann
TITULO:
MA
BELLE
LEMEBEL:
PROPOSTA
DE
TRADUÇÃO
ESTRANGEIRIZADORA PARA UM SUDACA POBRE E MARICÓN NO
BAILADO ENTRE A DITADURA E A DEMOCRACIA
RESUMO: Esta comunicação apresentará comentários à tradução de Manifiesto
(Hablo por mi diferencia), de autoria de Pedro Lemebel e lido por ele como
intervenção num ato político de esquerda em 1986, em Santiago do Chile. Tratase de um texto a meio caminho entre a crônica e os versos brancos para o qual se
encontram diferentes traduções em sites e blogs esparsos no mundo virtual, mas
que nunca foi incluído em edição em papel no Brasil. Neste trabalho, o objetivo é
não apenas traduzi-lo ao português brasileiro, mas fazê-lo de modo
estrangeirizador (Venuti, 2002) e crítico quanto às perdas de cadência, imagens
e sugestões, e enfatizando o respeito ao texto-de-partida com seu tom coloquial e
engajado. Assim, busca-se apresentar uma tradução “ética, poética e pensante”
(Berman, 2007) e, para tanto, considerar-se-á o contexto histórico e social a ser
traduzido, pois o texto está sempre sujeito às formas coletivas a partir das quais
o autor (e também o tradutor) poderá criar (Venuti, 2002). Nesse sentido, esta
proposta aproxima-se dos postulados de Spivak (2012) e da ética envolvida na
missão de falar pelo subalterno: neste caso, um periférico não apenas no aspecto
geográfico (porque sul-americano), mas porque oriundo de estratos sociais e
econômicos desfavorecidos, e, mais que tudo, porque homossexual - ou, na voz
do próprio Lemebel em seu manifesto, “porque ser pobre y maricón es peor”.
Nesse percurso, o comentário confere visibilidade e teoriza o processo de
tradução que acaba pondo em evidência reflexões não só sobre uma língua da
qual se traduz, mas sobre uma língua que se traduz (Spivak), com toda sua carga
de violência e vulnerabilidade. E, portanto, a tradução que está sendo construída
e seus comentários buscam, como em geral fazem as traduções pensantes,
conferir novo fôlego e novas possibilidades de leitura ao original.
PALAVRAS -CHAVE: ética em tradução; poética queer; vulnerabilidade.
Andrea Czarnobay Perrot
TITULO: NARRATIVA CONTEMPORÂNEA EM LÍNGUA PORTUGUESA: A
CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM INÊS PEDROSA (PORTUGAL) E
PAULINA CHIZIANE (MOÇAMBIQUE)
RESUMO: O trabalho visa a analisar como se dá o processo da construção das
subjetividades femininas em A instrução dos amantes (1992), de Inês Pedrosa, e
em Niketche: uma história de poligamia (2002), de Paulina Chiziane. Cláudia,
protagonista de Pedrosa, passa de uma subjetividade pós-moderna a uma
condição feminina tradicional. Ela representa, dessa forma, a não-consciência
dessa permanência do papel tradicional da mulher. Portanto, assume um papel
de submissão. Já Rami, protagonista de Chiziane, de uma subjetividade
“tradicional” na sociedade moçambicana, passa a uma condição “moderna” frente
às tradições. Representa o esboço da consciência de uma nova mulher africana,
assumindo um papel de subversão. Perpassando essas construções, o amor
aparece como fio condutor das duas narrativas, e sua presença nas vidas dessas
mulheres será definidora dos caminhos percorridos por essas personagens. Além
disso, o trabalho visa analisar também a questão da modernidade e da pósmodernidade atuando no fazer, no pensar e no sentir de Claudia e Rami.
PALAVRAS-CHAVE: subjetividade; feminino; modernidade.
Andrea de Barros
TITULO: O ESPELHO ÀS AVESSAS: REALISMO EM DOSTOIÉVSKI E
MACHADO DE ASSIS
RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo apresentar o atual estágio da
pesquisa de pós-doutoramento “O espelho às avessas: realismo em Dostoiévski e
Machado de Assis”, que está em desenvolvimento atualmente no Departamento
de Literatura e Crítica Literária da PUC/SP, sob supervisão da Profa. Dra. Maria
Aparecida Junqueira. Propõe-se a realização de uma análise crítica dos
pressupostos nos quais críticos e estudiosos das obras de Dostoiévski e Machado
de Assis basearam-se para classificá-las nos moldes do movimento realista, assim
como da visão dos próprios escritores a respeito do posicionamento de seus
projetos estético-literários no contexto do realismo. Objetiva-se traçar um quadro
desses pressupostos críticos, do século XIX aos dias atuais, verificando seu papel
na classificação canônica de Dostoiévski e de Machado de Assis no âmbito do
movimento realista; investigar a leitura dos próprios escritores em relação ao
realismo e às formas de diálogo de suas obras com esse movimento; estimular a
reflexão crítica sobre a classificação das obras de Machado de Assis e de
Dostoiévski como realistas, já que a classificação delas nos moldes do realismo
suscita uma série de questões ainda em aberto.
PALAVRAS-CHAVE 1: Realismo; Dostoiévski; Machado de Assis.
Andreia Guerini
Andreia Riconi
TITULO: OS PENSIERI DE GIACOMO LEOPARDI:
COMENTADA E ANOTADA
(RE)TRADUÇÃO
RESUMO: Giacomo Leopardi é um dos mais importantes escritores do século
XIX italiano e europeu. Dentre as suas principais obras, temos os Canti, as
Operette moralie o Zibaldone di pensieri. Podemos citar também os Pensieri, uma
coletânea de 111 pensamentos escolhidos, escritos provavelmente entre os anos
de 1835 e 1838, que apresenta algumas máximas e aforismos baseados nas
reflexões do autor acerca do homem e do mundo. Esta obra teve sua primeira e
única tradução para o português brasileiro feita por Vera Horn e publicada em
1996, na coletânea “Giacomo Leopardi – Poesia e prosa”, organizada por Marco
Lucchesi. O objetivo desta comunicação é apresentar reflexões acerca da
atividade de retradução comentada e anotada dos Pensieri para o português
brasileiro, com base nos pressupostos teóricos de Yves Gambier, Antoine Berman
e Henri Meschonnic.
PALAVRAS -CHAVE: Leopardi; Pensieri; retradução brasileir.
Andresa Fabiana Batista Guimaraes
TITULO: A FICÇÃO PÓS-MODERNA:
SARAMAGO E VALTER HUGO MÃE
UM
DIÁLOGO
ENTRE JOSÉ
RESUMO: Para Hutcheon (1991), um dos principais desafios do discurso pósmoderno refere-se justamente à noção tradicional de perspectiva. O
questionamento a respeito da natureza da subjetividade tem como consequência
o fato de o narrador não ser mais uma entidade coerente e geradora de
significados, ao contrário, na ficção pós-moderna os narradores passam a ser
múltiplos e difíceis de localizar ou deliberadamente provisórios, limitados e,
muitas vezes, enfraquecidos no que se refere à própria onisciência. Partindo desta
perspectiva, objetivamos neste trabalho tecer uma comparação entre a escrita
saramaguiana partindo da análise do romance Levantado do chão (1980) e a
máquina de fazer espanhóis (2011), do angolano Valter Hugo Mãe. O fio condutor
para a análise está centrado nas peculiaridades do narrador, bem como na
questão das identidades minoritárias na construção dos personagens.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-moderno; Valter Hugo Mãe; José Saramago.
Anita Martins Rodrigues de Moraes
TITULO: A LITERATURA PARA ALÉM DO NACIONAL: IDEIAS EM TORNO
DE UM NOVO COMPARATIVISMO
RESUMO: Nesta comunicação, pretendo abordar duas fecundas contribuições
teóricas : a elaborada por Marcos Natali no artigo “Além da literatura” (2006) e
a de Marília Librandi-Rocha desenvolvida no artigo “A Carta Guarani Kaiowá e o
direito a uma literatura com terra e das gentes” (2014). Meu interesse será
recuperar a reflexão desenvolvida pelos autores acerca do que seria (ou pode vir
a ser) a própria literatura, com atenção para alguns de seus qualificativos –
mundial, nacional. Natali recupera duas definições basilares de literatura
mundial, a de Goethe e a de Marx. Já Librandi-Rocha se empenha em renovar a
definição de literatura, recorrendo, para tanto, a contribuições de Luiz Costa
Lima. Tanto Librandi-Rocha como Natali debatem proposições de Antonio
Candido, particularmente considerando seus ensaios “Literatura e
subdesenvolvimento” (1970) e “O direito à literatura” (1988). Pretendo, em
diálogo com Natali e Librandi-Rocha, problematizar certos pressupostos do
pensamento de Candido tendo em vista a perspectiva de um novo
comparativismo no Brasil. Neste diálogo, noções como popular e erudito,
universal e particular, mundial e nacional, localismo e cosmopolitismo, síntese e
sistema, serão colocadas em questão.
PALAVRAS-CHAVE: literatura e justiça; comparativismo; sistema literário.
Anna Olga Prudente de Oliveira
TITULO: AS MORALIDADES DOS CONTOS DE CHARLES PERRAULT: UMA
ANÁLISE DE POEMAS INSERIDOS NA ESCRITA DO AUTOR FRANCÊS E NAS
REESCRITAS DE MÁRIO LARANJEIRA, IVONE BENEDETTI E KATIA
CANTON
RESUMO: Na área de literatura infantojuvenil (LIJ), os contos de fadas passaram
ao longo do tempo por diversos tipos de recepção na cultura ocidental, desde uma
crítica radical a sua (in)adequação ao mundo infantil até o entendimento,
possibilitado pela análise psicanalítica, da relevância dessas histórias para o
desenvolvimento e a formação das crianças. Os contos de fadas emergem como
gênero literário na França do século XVII, tendo sido Charles Perrault o primeiro
a elaborar uma obra com diversos contos retirados da tradição oral, Histórias ou
Contos do tempo antigo, com moralidades ou Contos de Mamãe Gansa, publicada
em 1697. Em suas narrativas, Perrault insere um elemento — as moralidades —
que tornam seus contos peculiares, refletindo os objetivos que tinha com a escrita
de histórias como A Bela Adormecida no Bosque e Barba Azul, dentre outras.
Assim, os oito contos em prosa inseridos na obra apresentam ao final da história
uma ou duas moralidades em verso. Em pesquisa acerca das reescritas brasileiras
dos contos de Perrault, procuro analisar como a obra do autor francês tem sido
apresentada ao público leitor brasileiro, tanto no período inicial de
desenvolvimento da LIJ nacional, com traduções de Monteiro Lobato, como no
presente, já no século XXI, em que tradutores e adaptadores de grande relevância
na área da tradução ou mesmo da LIJ têm publicado novas reescritas, com
propostas por vezes distintas. Neste trabalho apresento uma análise dos poemasmoralidades inseridos nos dois contos mencionados acima e em duas traduções
brasileiras desses contos, realizadas por Mário Laranjeira (2007) e Ivone
Benedetti (2012), e comento ainda a adaptação desses poemas feita por Katia
Canton (2005). Essa análise busca assim trazer uma contribuição a uma pesquisa
mais ampla acerca das reescritas brasileiras dos contos de Charles Perrault.
PALAVRAS-CHAVE: contos de fadas; Charles Perrault; reescritas.
Annita Costa Malufe
Silvio Ferraz
TITULO: UMA IDEIA DE MÚSICA NAS POÉTICAS DE TARKOS E APERGHIS
RESUMO: A presente comunicação busca evidenciar uma ideia de música que
estaria presente em certos modos de manifestação da literatura e da composição
musical contemporâneas. Para tanto, toma por ponto de partida as propostas da
música concreta e do serialismo integral, experiências radicais da música no séc.
XX, como base para a leitura das poéticas de Christophe Tarkos – poeta e
performer francês – e Georges Aperghis – compositor, poeta, dedicado ao que ele
define por um "teatro musical". Tais propostas apresentam traços que nos levam
a encontrar uma tendência comum, na concepção musical apoiada no trabalho
com a voz falada: a leitura do texto que se abre à sua materialidade acústica e
temporal, realçando a ideia de uma musicalidade ligada à voz enquanto matéria
modulável e moldável. A voz enquanto envelope sonoro – ou uma “pastapalavra”, se nos remetermos ao conceito cunhado pelo próprio Tarkos. Tal
aspecto é evidenciado pela ciclicidade com que suas escritas se valem, ambas
operando com a repetição enquanto procedimento privilegiado de escrita.
PALAVRAS -CHAVE: Voz; Poética; Música.
Anselmo Peres Alós
TITULO: HOMOSSEXUALIDADE, LITERATURA E MASCULINIDADES
SUBALTERNIZADAS: “SARGENTO GARCIA”, DE CAIO FERNANDO ABREU
RESUMO: A lacuna existente, na produção crítica sobre a literatura e as artes
visuais brasileiras, de estudos que entrecruzem as questões de gênero, raça e
sexualidade sob um viés comparatista, tomando como objeto de estudo corpora
de natureza transdisciplinar, ainda encontra-se longe de ser devidamente
preenchida com o trabalho da crítica literária. O interesse aqui é o de, partindo
de um conjunto de pressupostos teóricos, seguido da análise do corpus, buscar
uma poética do corpo e da subjetividade, isto é, verificar que apostas são feitas,
nestes artefatos culturais, como modo de atuar na constituição de capital cultural
através da representação dos usos do corpo, do exercício dos prazeres e da busca
por afeto. Para tanto, parte-se da hipótese de que há uma teoria implícita
subjacente aos objetos artísticos, algo como uma poética que oferece resistência
às premissas heteronormativas. Em nenhum momento pretende-se esgotar as
obras ou as poéticas autorais a partir da reflexão teórica desenvolvida; a intenção,
muito mais do que a de alcançar o esgotamento do corpus a partir do constructo
teórico mobilizado, é alcançar tal poética a partir de uma teoria implícita
subjacente ao corpus. Como corpus de análise deste trabalho foi eleito o conto
“Sargento Garcia”, de Caio Fernando Abreu, publicado pela primeira em
Morangos mofados (1982). Cabe ressaltar ainda que este trabalho é um dos
resultados parciais do projeto de pesquisa "Poéticas da masculinidade em ruínas,
ou: o amor em tempos de AIDS", que conta com o apoio financeiro do CNPq.
PALAVRAS-CHAVE:
masculinidades.
homossexualidade(s);
Caio
Fernando
Abreu;
Antônio Fernandes Góes Neto
TITULO: O NOVO TESTAMENTO EM NYENGATU (1973): UM CAPÍTULO NA
HISTÓRIA DAS TRADUÇÕES BÍBLICAS PARA LÍNGUAS INDÍGENAS
RESUMO: Precedido pelo Novo Testamento em Baniua, o Novo Testamento em
nyengatu (1973), produzido pela Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), é uma
das primeiras traduções protestantes feitas no Brasil. Quais os possíveis impactos
sociais da tradução de um livro bíblico para uma língua indígena? Este trabalho,
pertencente à linha de pesquisa Tradução e Recepção, que discute as implicações
sociais, históricas e éticas na análise da prática tradutória, propõe uma análise do
texto supracitado, na qual será elencado um conjunto de problemáticas referentes
à obra em questão, com vistas à investigação dos efeitos produzidos no
nheengatu, falado em São Gabriel da Cachoeira (AM). A análise dessas traduções
realizadas fornece dados históricos sobre um dos textos mais presentes na escrita
das línguas indígenas, a saber, as escrituras bíblicas. Quais deslocamentos
semânticos e quais metodologias se destacam em seus processos de tradução?
Questões como estas serão desenvolvidas, considerando-se a proposta simétrica
de Latour (130:1994), por meio da qual serão levantados os diferentes actantes
envolvidos na rede a que o Novo Testamento em nyengatu está articulado. As
propostas de Pym (1998) e Pym (2005), referentes à História da Tradução e à
explicitação serão utilizadas para a observação das fontes primárias e secundárias
e os estudos de Milton (2009), acerca dos agentes da tradução, articulará os
aspectos linguísticos, históricos e sociais destas traduções.
PALAVRAS-CHAVE: História da tradução; Tradução bíblica; Línguas indígenas.
Antônio Máximo von Söhsten Gomes Ferraz
TITULO: A NARRATIVA COSMOFÂNICA DO “RETÁBULO DE SANTA JOANA
CAROLINA”, DE OSMAN LINS
RESUMO: A obra Nove, Novena (1966), de Osman Lins, traz como temática
fundamental a questão do sagrado. E isto já se percebe a partir de seu título. Suas
nove narrativas compõem uma novena, vinculando a experiência literária a uma
liturgia na qual a linguagem deixa de ser um mero instrumento de comunicação,
tal qual costuma ser concebida em nossa época, e passa a tomada, em dizeres do
próprio autor pernambucano, como “o sopro na argila” – a dimensão
cosmofânica em que o mundo surge e ganha sentido. Em meio às nove narrativas
da obra, “Retábulo de Santa Joana Carolina” ocupa um lugar especial, pois
resgata poeticamente a experiência de um cosmos sacralizado, unindo a tradição
da arte medieval e a modernidade literária. Na narrativa, nos é contada a
existência, do nascimento à morte, de uma simples professora do primário que
vive em uma cidade do interior pernambucano. Ela luta contra imensas
dificuldades, tanto por causa de sua condição social quanto pelo fato de ser
mulher, em um ambiente dominado pelo coronelismo. A santificação de Joana, a
que assistimos na obra, não é o instituído por qualquer instituição religiosa, e,
sim, o que alcança toda e qualquer vida que faz da doação e do sacrifício o seu
sentido. Na comunicação proposta, procurar-se-á compreender a dimensão
crítica que subjaz à narrativa, demonstrando que a hierofania ali encenada
constitui uma reação contra a fragmentação do conhecimento no mundo
contemporâneo e contra a instrumentalização da vida, da natureza e da
linguagem.
PALAVRAS-CHAVE: Cosmofania; Retábulo; Sagrado.
Antônio Rodrigues da Silva
TITULO: E AGORA, LEITOR? O SEQUESTRO DA REFERENCIALIDADE EM
JOSÉ, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
RESUMO: As orientações curriculares nacionais para o ensino médio, marco
legal no contexto das reformas educacionais, preconiza a adoção do cânone
literário como meio de garantir maior acesso a uma forma de produção cultural
pouco divulgada fora dos muros escola, principalmente em se tratando da
realidade de alunos da escola pública. A evidência de que, pela complexidade dos
seus textos, há um distanciamento dos leitores em relação principalmente aos
poetas (Bordini, 2009), não pode servir de argumento para afastar o aluno
daquela literatura já consagrada pela crítica especializada e que forma a tradição
literária da nossa cultura letrada. Sabemos que a poesia moderna representa um
desafio ainda maior na comunicabilidade, exigindo do leitor um certo esforço
para lograr êxito na aventura estética propiciada pela leitura. O propósito
deliberado da lírica moderna de expressar a desilusão com a nova ordem de
valores da sociedade burguesa, caracterizada na dissonância formal, na
despersonalização( Friedrich, 1991), tem como consequência o hermetismo,
sintoma também do afastamento de conteúdos descritivos que remetem ao que
se chama realidade, criando um grau maior na tentativa de compreensão. A
seleção de poemas da literatura brasileira que se prestem a uma ilustração desse
tipo de recorrência deve compor as orientações metodológicas destinadas a
habilitar o aluno do ensino médio a identificar e contornar esse obstáculo à
leitura. Propomos aqui uma leitura de José, de Carlos Drummond de Andrade,
poema paradigmático no sentido de fugir a qualquer tipo de análise que se
ampare na referencialidade extraliterária, mesmo como recurso provisório de
aproximação, ou seja, a qualquer tentativa de tradução discursiva do texto para o
plano referencial.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Referencialidade; Metodologia.
Antoneli de Farias Matos
TITULO: ANIMUS, ANIMA
RESUMO: Há nuances na escuridão. O escuro é domínio dos cegos, de alguns
animais, dos loucos, dos bebês e das crianças bem pequenas. O corpo infantil
deixa-se afetar pela luz; alguns animais dela prescindem ou a produzem em seus
corpos profundos; os loucos se apaixonam pela escuridão. As crianças guardam
esse desafio de relação com a luz. A literatura de Clarice Lispector para crianças
pode ser atravessada por esse desafio não só por relativizar a primazia da visão
em livros como O mistério do coelho pensante, mas por exaltar o olfato que sente,
que pensa, dá a ver e a saber: “Nessa hora é que virava mesmo um coelho
pensante. Foi olhando as coisas que seu nariz adivinhou, por exemplo, que a Terra
era redonda.” Em sua obra infantil, destacamos uma dimensão artística que,
através do animal, eleva o olfato, rompe a imagem convencional que privilegia
uma figuração animal e infantil: “Outra coisa que o nariz dele descobriu é que as
nuvens se mexem devagar e às vezes formam coelhões no céu.” São narrativas que
encarnam o animal. A associação entre animal e infância nos livros infantojuvenis é tão comum que se pode esquecer a natureza figurativa dessa aliança.
Procurarmos explorar o que há de comum nessa aliança que acaba por conferir
certo suporte à ordem dominante nesse campo literário do infanto-juvenil, mas
também investigar elementos que são capazes de subvertê-la. Em algumas rotas
etimológicas, animal (animus, anima) está associado a intelecto, consciência,
sensibilidade e a sopro, respiração, alma, que designou aquilo que é animado,
rota que possivelmente muitos escritores para crianças utilizam para
antropomorfia de animais, plantas, objetos e coisas. Esse artigo abordar alguns
aspectos que acentuam a potência inovadora na experiência da poética clariciana
para crianças.
PALAVRAS -CHAVE: Clarice Lispector; Literatura infantil; Animal.
Antonia Costa de Thuin
TITULO: AS MÚLTIPLAS HISTÓRIAS DA ÁFRICA
RESUMO: A produção africana contemporânea é contaminada pelo biográfico
como forma de lidar com a sua narrativa. Os autores José Luandino, Ruy Duarte
de Carvalho, Chimanandah Ngozi Adichie, TJ Dema, entre outros, ao seu modo
produzem textos que se colocam em um limiar entre a biografia, o relato pessoal,
e a ficção. Usam isso para de certa forma colocar em questão o que Chimanandah
chama de história única, um relato único que definiria todo um continente.
Relatos pessoais se misturam aos documentos históricos e criam histórias
singulares de uma África que não depende mais do que se fala sobre ela. Luandino
em seus últimos romances fala de documentários em uma ficção, misturando os
domínios, Ruy Duarte faz do relato de viagem sua forma de contar uma história,
Chimanandah em suas palestras nos coloca em questão que história quer contar
e TJ Dema cria um ambiente em seu blog de relato do dia a dia, usando fotografias
e vídeos, bem como seu corpo, para deixar essa linha ainda mais tênue. Nessa
comunicação pretendo apresentar um esboço da análise de como esses autores
lidam com essas fronteiras borradas.
PALAVRAS-CHAVE: África; Escrita Biográfica; Contemporâneo.
Antonia Torreão Herrera
TITULO: ENTRECRUZAMENTOS: A LÍRICA NAS LINHAS DA CRÍTICA E A
CRÍTICA LITERÁRIA NO ENCALÇO DA LÍRICA
RESUMO: O projeto coletivo O escritor e seus múltiplos: migrações, do qual faço
parte, tem como primeiro e constante objeto de pesquisa a produção literária de
Judith Grossmann e seu perfil de escritor múltiplo. Entre livros de poesia, de
contos e de romances éditos, depoimentos, entrevistas, conferências, encontramse livros organizados e inéditos e uma exímia contribuição de crítica em
periódicos, notadamente no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (SDJB),
no qual apresentou e analisou textos literários de língua inglesa, a maioria com
tradução própria, em uma secção por ela denominada Approach. Faremos um
cruzamento dessa sua atividade crítica no SDJB, na parte referente à poesia, com
sua produção poética reunida em “Vária navegação: mostra de poesia”, para
estabelecermos linhas do pensar/fazer lírico de Judith Grossmann e suas
escolhas. Como o SDJB foi importante catalisador da atividade crítica e literária
vigente no período (décadas de 50 e 60 do século XX) e difusor de impacto das
vanguardas artísticas e literárias do cenário internacional no âmbito da
intelectualidade brasileira, a contribuição de Judith Grossmann, apresentando a
um público mais amplo alguns poetas que revolucionaram a lírica, reverbera em
sua dicção poética e em sua mirada crítica. A interlocução com o mundo, os
objetos, os tipos, a tradução intersemiótica, a fina percepção da atualidade da
poesia de Chaucer (século XIV), são elementos presentes em sua poesia e em sua
crítica. A mão é dupla: ela escolhe poetas que estão alinhados ao seu pensamento
poético e faz poesia e crítica numa dicção similar. Do metafísico John Donne (séc.
XVI) a e. cummings, Marianne Moore, William Carlos William, Yeats, Wallace
Stevens e outros, sua análise crítica vai mapeando uma linhagem poética na qual
ela, poeta brasileiro, se inclui. Esse é o veio que pretendemos seguir nessa leitura
comparativa dos corpora selecionados.
PALAVRAS -CHAVE 1: Lírica; Crítica literária; Judith Grosmmann.
Antonio Augusto Nery
TITULO: QUANDO O PADRE NÃO É SIMILAR A AMARO
RESUMO: Embora Eça de Queirós tenha realizado modificações de várias ordens
tanto na segunda (1876) quanto na terceira versão (1880) de O crime do Padre
Amaro, a intensidade crítica do discurso anticlerical, presente nas narrativas,
permaneceu praticamente igual ao constatado na primeira versão do texto,
publicada em folhetins na Revista Ocidental durante o ano de 1875. Na verdade,
a obra é tida como uma espécie de “marco”, ou “exemplo maior”, do modo como
inúmeras vertentes do pensamento anticlerical, vigentes em Portugal no Século
XIX, foram veiculadas na literatura de ficção. A virulência crítica quase sempre
conduz o leitor, de qualquer uma das três versões, à conclusão de que o romance
explicita, unicamente, a principal e corriqueira meta do anticlericalismo: o
rechaçado enfático à Instituição religiosa e seus representantes. O objetivo deste
trabalho é averiguar em que medida tal concepção pode ser questionada,
considerando já a primeira versão do texto. Para tanto, analisarei a atuação da
personagem Cónego Silva, que figura apenas nos folhetins de 1875, desaparece
na segunda versão do romance e constitui-se uma espécie de “esboço” de Abade
Ferrão, personagem importante da terceira e definitiva edição da narrativa. Se
Ferrão é de maneira explícita uma espécie de contraponto às posturas do clero
deplorável de Leiria, a meu ver a figuração de Cónego Silva, também um “religioso
exemplar”, problematiza a maneira com que comumente se compreende o
anticlericalismo difundido por Eça de Queirós, não somente em O crime do Padre
Amaro, mas também em outros de seus primeiros escritos, desenvolvidos na
efervescência da Geração de 70, como as crônicas publicadas em As farpas.
PALAVRAS -CHAVE: Eça de Queirós; Anticlericalismo; Crítica social.
Antonio Eduardo Soares Laranjeira
TITULO: ROCK AND
CONTEMPORÂNEA
ROLL
E
SUBJETIVIDADE
NA
LITERATURA
RESUMO: O discurso literário pop é compreendido a partir da convergência
entre literatura e outras linguagens, mais especificamente, as artes plásticas,
representadas pela pop art. Segundo Evelina Hoisel (1980), em estudo sobre José
Agrippino de Paula, a arte pop se baseia nos aspectos cotidianos da sociedade de
consumo, implicando a interpenetração das técnicas e temáticas dos meios de
comunicação com a cultura erudita. Pretende-se refletir sobre as relações entre
literatura e rock and roll, a partir da leitura de dos romances Alta fidelidade, de
Nick Hornby e Álbum Duplo – um rock romance, de Paulo Henrique Ferreira e
da coletânea de contos Rock book, organizada por Ivan Hegen. Dois aspectos
fundamentais inscrevem o romance de Ferreira no debate a respeito do discurso
literário pop: a princípio, o escritor propõe para a narrativa uma trilha sonora,
distribuída ao longo de cada capítulo e disponibilizadas num website; além disso,
as canções desempenham, ao lado de outras referências culturais - populares ou
eruditas (cinematográficas e literárias), um papel crucial na configuração da
subjetividade das personagens. De acordo com o sociólogo Simon Frith (1998),
ao refletir sobre o problema do valor nos estudos culturais, a cultura pop pode ser
compreendida como um meio de socialização. Para Frith, a música pop oferece
ao indivíduo formas de ser e estar no mundo. Considerando-se o tópico
foucaultiano da estética da existência e percebendo o sujeito pós-moderno,
representado nos romances e contos em questão, é possível discutir como se
representam os modos de subjetivação que se processam na contemporaneidade
e o papel desempenhado pela cultura pop na produção de identidades.
PALAVRAS-CHAVE: Rock and roll; Literatura pop; subjetividade.
Aparecida Fátima Bueno
TÍTULO: QUEM VAI À GUERRA: A MULHER NO ESPAÇO COLONIAL
RESUMO: África no feminino, livro de Margarida Calafate Ribeiro, publicado em
2007, reúne depoimentos de mulheres portuguesas que estiveram nas excolônias durante a guerra, a maioria delas acompanhando os maridos que
cumpriam serviço militar em África. Quem vai à guerra, de Marta Pessoa, de 2011,
“é um filme de guerra de uma geração, contado por quem ficou à espera, por quem
quis voluntariamente ir ao lado e por quem foi socorrer os soldados às frentes de
batalha. Um discurso feminino sobre a guerra”, conforme está descrito na
divulgação do DVD do documentário produzido por Rui Simões. Se, desde os
anos de 1980, a narrativa portuguesa tem dado espaço para vozes femininas, que
emergiram da violência do colonialismo e da guerra mal assumida por Portugal
contra o independentismo das suas ex-colônias, os depoimentos de quem viveu o
trauma e o silenciamento, e foi testemunha de um dos períodos mais traumáticos
da história portuguesa do século XX, levou mais de trinta anos para vir a público.
Discutir esse cenário e refletir sobre essas vozes que precisam ser ouvidas, para
que uma versão mais precisa dos acontecimentos venha à tona, é o objetivo dessa
comunicação.
Aparecido Donizete Rossi
TITULO: A NEKYIA EM HOMERO E VIRGÍLIO
RESUMO: A partir de uma breve definição do conceito grego de nekyia — um rito
por meio do qual as almas dos mortos eram conjuradas para serem questionadas
sobre o futuro — e da aproximação de tal conceito ao entendimento atual de
necromancia, pretendemos, nesta comunicação, apresentar uma análise de duas
cenas constantes em textos clássicos da tradição literária grega e latina: a cena
em que o herói Odisseu abre uma passagem para o mundo dos mortos no canto
XI da Odisséia, de Homero; e a cena em que o herói Enéias adentra o mundo dos
mortos, com a ajuda da Sibila, no canto VI da Eneida, de Virgílio. Intentamos,
com a análise de tais cenas, reafirmar o que defendemos no artigo “Antes de
Otranto: apontamentos para uma pré-história do gótico na literatura” (Revista
Soletras, v. 1, nº 27, p. 11 – 31, 2014), qual seja a idéia de que há uma “préhistória” da ficção gótica expressa em textos literários anteriores à publicação de
O castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, considerado a obra que funda o
gênero.
PALAVRAS -CHAVE 1: Nekyia; Homero; Virgílio.
Ariane Kercia Benício de Sá Barreto
TITULO: ENTRE A DOR E A GLÓRIA: A (RE)CONSTITUIÇÃO DA MEMÓRIA
E DA IDENTIDADE NEGRA NA NARRATIVA DE LUIZA/KEHINDE EM UM
DEFEITO DE COR
RESUMO: No romance “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves, que conta
a história não-oficial dos afrodescendentes, Luiza, de sobrenome Mahin, narra
sua própria história de resistência e autorreconhecimento. E no encontro de si,
não apenas revela a identidade de uma mulher negra, como também (re)constrói
em seu discurso o coletivo negro como um todo. Nessa perspectiva, considerando
a não dissociabilidade entre memória e identidade na construção das narrativas
de vida, nosso interesse parte da relação entre memória, identidade e literatura,
que permite ampliar a compreensão sobre os indivíduos, seja em seu processo
psicológico, social, antropológico, histórico ou cultural. Essa amplitude ótica
permitida pelos estudos culturais erigiu os objetivos desta pesquisa que propôsse a investigar o processo de (re)constituição da identidade individual e coletiva
por meio das memórias de Luiza/Kehinde, na narração de sua história de vida
como personagem principal de “Um defeito de cor”. As discussões serão
amparadas sob concepções oriundas dos estudos culturais, absorvidas por meio
dos temas que consolidam os estudos da Literatura afro-brasileira e da
contribuição teórica de autores como Benjamim (1994), Bosi (1994), Duarte
(2009), Fanon (2008), Halbwachs (1995), Hall (2000, 2006), Munanga (2006),
entre outros. A narrativa de Kehinde lança nova perspectiva sobre a identidade
afrodescendente desenhada na expansão coletiva de seu próprio mundo, pois nos
concede espaço para a investigação de um novo olhar sobre a identidade feminina
negra, que não se constitui pelo outro, pelo olhar do branco ou do homem, mas
pelo olhar da própria negra, que consente ao narrar a evidência transparente ora
da dor e ora da glória de uma história que divide em coletividade.
PALAVRAS-CHAVE: Afrobrasilidade; Memória; Identidade
Aristóteles de Almeida Lacerda Neto
TITULO: A FRATURA DO SER: AS RESSONÂNCIAS DO TRAUMA EM “OS
SOBREVIVENTES”, DE CAIO FERNANDO ABREU, E “ O CONDOMÍNIO”, DE
LUIS FERNANDO VERISSIMO
RESUMO: A ditadura militar no Brasil foi marcada pela brutal perseguição e
tortura em face dos subversivos. Tal fato foi retratado – mormente pelo prisma
da ficção – por inúmeros autores, dentre os quais, destacam-se: Caio Fernando
Abreu e Luis Fernando Verissimo. O presente trabalho objetiva analisar a
violência traumática nas narrativas “Os sobreviventes”, de Abreu, e “O
condomínio”, de Verissimo, contrastando-as. Com base na categoria psicanalítica
do trauma, verificar-se-á que a fragmentação da linguagem plasma os influxos da
experiência violenta, imposta aos sujeitos-alvo desta ação, quais sejam, os
protagonistas dos contos mencionados. Como corolário, tem-se a cisão do ser, a
partir da insígnia do trauma, reverberada sobretudo pelos hiatos e avessos da
memória.
PALAVRAS -CHAVE: Trauma; Ditadura militar; Conto contemporâneo.
Aroldo José Abreu Pinto
TITULO: RICARDO RAMOS: UM CONTISTA DENTRO E FORA DA ESTAÇÃO
PRIMEIRA
RESUMO: As reflexões ora propostas procuram dar conta do modo de
representação e do conteúdo representado em Estação Primeira (São Paulo:
Scipione, 1996), coletânea de contos dirigida ao público juvenil, mas que é
resultado de uma seleção de textos ficcionais publicados anteriormente pelo
escritor Ricardo Ramos em obras voltadas ao público adulto. Nossa intenção não
será discutir o público indicado e a adjetivação sugerida à publicação, em sua
grande maioria, por questões mercadológicas. O intuito é demonstrar, à luz da
teoria literária, que o escritor parece sentir a necessidade de provocar uma
reação, produzir um efeito no leitor com esse modo próprio de representação e
com os conteúdos representados que desnudam a essência mesma da condição
humana, sem, no entanto, abrir mão do caráter estético e, por isso mesmo,
exigindo uma participação ativa do leitor no processo de interação com o texto
ficcional e projetando as reflexões para muito além de discussões mais pontuais
como a sua destinação.
PALAVRAS-CHAVE: conto; Ricardo Ramos; literatura juvenil.
Artur Almeida de Ataíde
TITULO: O ESPLENDOR DO SIGNUM SENSUALE: LEITURA E TRADUÇÃO
DE UMA BALADA DE DANTE
RESUMO: Como exemplo prático de como a todo ato tradutório subjaz um
indissociável ato crítico, cujos fundamentos teóricos e metas artísticas implicados
o paratexto pode aclarar, o presente trabalho vem apresentar não apenas a
tradução de uma das muitas composições das Rime de Dante, a balada “Voi che
savete ragionar d’amore”, mas um comentário que, buscando aproximar do texto
o leitor, explicita tanto alguns contextos peculiares do original, a exemplo de sua
posição na evolução temática da lírica de Dante, quanto a luz sob a qual é agora
lido e traduzido. O aprendizado colhido na obra de metricistas italianos como
Avalle, Fasani e Menichetti, ou mesmo em Pirandello, bem como em teóricos e
praticantes da tradução poética como Britto e Laranjeira, deixa-se complementar
por algumas premissas gerais de composição, buscadas no De vulgari eloquentia
e no Convivio, premissas perseguidas no trabalho tradutório. Como elemento de
destaque, no entanto, figuraria um conjunto de sutis relações intertextuais, que
conectaria a balada com outros textos tanto da obra de Dante quanto de outros
stilnovisti: trata-se de sutis procedimentos a um só tempo rítmicos e metafóricos,
encenados também na tradução, e por nós estudados numa pesquisa de
doutorado concluída em 2013, bem como no estágio de pós-doutorado agora em
curso.
PALAVRAS -CHAVE: Tradução poética; versificação; Dante Alighieri.
Atilio Bergamini Junior
TITULO: FIGURAS DA LEITURA E DA ESCRITA EM MEADOS DO SÉCULO
XIX BRASILEIRO: PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES
RESUMO: O trabalho apresenta, desde a perspectiva da história cultural, a
representação de leitores e leituras em obras de ficção (poemas de Luiz Gama;
peças do teatro realista; o romance Úrsula; contos publicados no Jornal das
Famílias) e em anúncios publicados na página quatro do Jornal do Comércio, do
Diário do Rio de Janeiro e do Correio Mercantil. Elabora, assim, uma lista das
posições sociais que, de acordo com os anúncios, podiam e deviam ler em meados
do século XIX no Brasil: feitores, caixeiros, donas-de-casa, estudantes,
tipógrafos. Em seguida, tenta dar a ver, nas obras ficcionais, práticas de leitura
apresentadas como típicas de certas posições sociais. Nesse momento, propõe
reflexão em torno das continuidades e descontinuidades entre esses dois tipos de
representação. Por fim, estabelece um esboço de figuras talvez úteis para pensar
leituras e leitores do século XIX brasileiro e discute brevemente um interdito,
tanto dos anúncios quanto da ficção: a questão dos escravos e ex-escravos leitores
e escritores.
PALAVRAS-CHAVE: História da leitura; Século XIX; Escravidão.
Aurora Gedra Ruiz Alvarez
TITULO: A POESIA NA MÍDIA ELETRÔNICA
RESUMO: A literatura como todas as artes é um produto semiótico. Ela
transforma a sociedade e é transformada por ela; ela se constrói na amálgama das
relações culturais e nessa interação ganha novos feitios em sua produção,
constituição e recepção. Neste trabalho, o foco será centrado na poesia brasileira
contemporânea, com o objetivo de examinar algumas das transformações pelas
quais ela tem passado desde o surgimento da poesia concreta, dos poemóbiles, da
poesia sonora, da poesia performática, dos holopoemas e dos videopoemas.
Dentre estas formas poéticas, pretende-se dar especial atenção ao exame da
videopoesia, investigar de que sistemas intersemióticos ela se constitui, como se
dá o cruzamento de mídias nesse artefato e, em cotejo com a tradição, verificar o
que essas mudanças implicam no processo de criação e de leitura. No estudo
dessas manifestações culturais, serão convocados não apenas os fundamentos da
Teoria da Literatura, como também os da Intermidialidade, para dar sustentação
à análise do texto. Será oportuno examinar, por um lado, o quanto a convergência
do verbal com o visual, o cinético, o performático, é decisiva para essa nova
poiesis se legitimar e propor outro paradigma; por outro, não será menos
instigante atentar para o quanto a combinação de diferentes formas de expressão
(afluentes de outras práticas mediáticas) produz efeitos de sentido que
desestabilizam o leitor acostumado com as práticas literárias da tradição e
cobram dele outro modo de interação com o objeto estético.
PALAVRAS-CHAVE 1: Videopoesia; Criação; Recepção.
Avani Souza Silva
TITULO: A LITERATURA INFANTIL E JUVENIL CABO-VERDIANA E A LEI
10.639/2003
RESUMO: A literatura infantil e juvenil cabo-verdiana é relativamente jovem,
compondo atualmente um acervo aproximado de 50 títulos, datando suas
primeiras publicações a partir de 1975, ano da Independência Nacional de Cabo
Verde do governo colonial português. Anteriormente, a literatura infantil caboverdiana era expressa em crioulo ou língua cabo-verdiana por um conjunto de
narrativas orais, contadas às crianças, jovens e adultos, como uma atividade
comunitária que ainda sobrevive em áreas rurais do arquipélago, tendo uma
ocorrência menor nas áreas urbanas em decorrência de outros interesses da
infância e juventude no mundo globalizado. Não obstante, consideramos como a
primeira obra de literatura infantil e juvenil cabo-verdiana o romance
“Chiquinho”, de Baltasar Lopes, publicado em 1949, em Lisboa, embora excertos
da obra tenham sido publicados na Revista Claridade – de Artes e Letras, em
1936, em Cabo Verde. Ressaltamos as dificuldades do acesso às obras publicadas
no Arquipélago devido a não circulação e distribuição dessas obras no exterior.
Entretanto, destacamos a publicação no nosso país, pela Editora 34, de dois
títulos de literatura infantil e juvenil cabo-verdiana, do escritor cabo-verdiano
diaspórico Jorge Araújo: Comandante Hussi e Cinco balas contra a América.
Analisaremos o primeiro, baseados na noção de identidade postulada por Stuart
Hall (2006), derivando na proposta de sua abordagem, a partir a partir da 5ª.
série do Ensino Fundamental, como instrumento didático-pedagógico para
cumprimento das disposições da Lei 10.639/2003. Referida obra, pela
multiplicidade de aspectos culturais que abarca e ainda pelo fato de seu espaço
ficcional ser a Guiné-Bissau, traz uma grande contribuição para o estudo não só
dos seus aspectos literários, mas também de seus componentes sócio-históricos
e geográficos, sendo por isso de interesse não só de Língua Portuguesa, mas
também de História, Geografia e Estudos Sociais.
PALAVRAS-CHAVE 1: Comandante Hussi; Jorge Araújo; Cabo Verde.
Bairon Oswaldo Vélez Escallón
TITULO: MIRÓ CABRAL: O PRIMEIRO A VÊ-LO E A VIR
RESUMO: Resumo: esta comunicação propõe uma leitura do procedimento de
composição da poesia de João Cabral de Melo Neto, singularmente dos livros
publicados no período 1949-1955, à luz da leitura que, em ensaio de 1949, o poeta
pernambucano fez da pintura de Joan Miró. Com isso, o trabalho pretende
mostrar a maneira em que Cabral –longe da vontade de ruptura do Modernismo
de 22, e afastado tanto do exotismo implícito no paradigma da viagem modernista
de “descobrimento do Brasil” quanto das suas possíveis reverberações de uma
dialética da colonização– elabora a sua poesia como uma potência anacrônica da
imaginação, em que os acontecimentos, para além da sua transcendência, se
escrevem como comoções contingentes que tendem a multiplicar as origens, ao
invés de meramente registrá-las. Finalmente, a comunicação pensará a singular
composição do poema cabralino como uma montagem, ou remontagem, de
temporalidades heterogêneas, uma meditação areal ou um fazer poesia com
“coisas” em que a simultaneidade, antes que garantir a sincronia temporal com o
presente, reclama a contemporaneidade ou sobrevivência de vozes silenciadas
por uma historia catastrófica. Palavras-chave: João Cabral de Melo Neto; Joan
Miró; viagem modernista; poesia brasileira; anacronismo; montagem.
PALAVRA-CHAVE 1: João Cabral de Melo; Joan Miró; viagem modernista.
Beatriz da Silva Lopes Pereira
TITULO: "DE PERNAS PARA O AR": O TEATRO DE REVISTA NO CONTEXTO
PEDAGÓGICO
RESUMO: Este estudo tem como eixo de reflexão a relação entre dramaturgia,
teatro e ensino, considerando as potencialidades pedagógicas -textuais,
dramatúrgicas e cênicas-do teatro musicado, em seu gênero revista, a partir da
revitalização dos elementos básicos de sua estrutura e convenções. Com o
objetivo não só de “reabilitar” o estudo crítico de uma prática teatral de uma
época, em que alquimia cultural operada nos palcos brasileiros, se fazia a partir
das assimilações sobre o nacional, o popular, a identidade brasileira, os tipos
sociais e os variados discursos anunciadores da crítica ao cotidiano da cidade, à
política e aos costumes da sociedade, em sua efervescente condição de “espelho”
da realidade brasileira, mas também oferecer uma abordagem desse fenômeno
cultural, como uma prática artística não mais comandada pela lógica do texto
escrito, conjugando elementos de linguagem que configuram um palco
polifônico, em que várias “vozes” se relacionam na estruturação do discurso
teatral. Nesse sentido, “De pernas para o ar” situa-se numa perspectiva
pedagógica em que os sentidos do cômico, da paródia, dos elementos textuais,
musicais e cênicos, da crítica social e da fixação no presente estabelecem um
diálogo fértil entre o resgate de um gênero historicamente determinado, relegado
pela crítica literária e teatral, e a necessidade de dinamizar a inserção do teatro
no contexto pedagógico de nossas escolas e cursos de letras, articulando-os a uma
concepção de arte e de sociedade em que se crie um espaço de experimentação e
liberdade. Para tanto, explicita-se nessa abordagem, as origens, fórmulas e
convenções do gênero, tomando-se como objeto analítico-interpretativo, o texto
inédito Tudo Preto, de De Chocollat e direção musical de Pixinguinha,
apresentado no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades brasileiras, entre 1926
e 1927, e encontrado nos arquivos da 2ª divisão de Polícia, no acervo histórico do
Arquivo Nacional/ RJ.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro de Revista; Prática Pedagógica; "Tudo Preto".
Bene Martins
Fábio Limah
TITULO: SONHO DE UMA NOITE DE INVERNO: ONÍRICA ENCENAÇÃO
RESUMO: Sonho de uma noite de inverso: onírica encenação MARTINS, Bene
LIMAH, Fábio Este texto versará sobre a concepção criativa da primeira
montagem da peça Sonho de uma Noite de Inverno, do dramaturgo paraense
Nazareno Tourinho, realizada em Belém do Pará no ano de 2014, pelo grupo
teatral Os Varisteiros. A tessitura dramática permitiu ao grupo, inovar em certa
medida. Embora fiéis ao texto, alteraram falas de uma personagem,
acrescentaram “cena de talentos”, nas quais trouxeram ao palco referência a
outras peças teatrais, Esperando Godot, Pastorinhas, Romeu e Julieta, além de
referência a cenas de filmes e a programa de auditório. Destaca pontos sobre a
originalidade e o conteúdo filosófico do texto, detalhamento do processo de
descoberta de caminhos singulares para a onírica encenação proposto pelo
diretor Marcelo Andrade, em parceria com os atores do grupo e equipe técnica.
Tais enfoques foram delineados a partir de conceitos-chave de autores das artes
cênicas, como Patrice Pavis, Jean-Jacques Roubine, Beatriz Ângela Viveira
Cabaral, entre outros. Registra e dialoga com depoimentos dos profissionais
envolvidos na construção do espetáculo (atores, iluminadores, sonoplasta,
direção e dramaturgo). A montagem, além de levar ao público texto inédito,
reuniu referenciais teóricos diversos, o que reiterou, na prática, o caráter
indiscutível das artes cênicas, o de ser ou de proporcionar resultados
inter(trans)disciplinares. O espetáculo resultou num exercício criativo entre texto
e atuação, para além da mera representação. A junção do necessário mergulho na
obra, requer conhecimento do contexto social e caracterização dos personagens.
O texto Sonho de uma noite de inverno, proporcionou ao grupo, vários encontros
de reflexão sobre ações e questões existenciais apresentadas na trama cênica.
Além do belo resultado do espetáculo, elogiado pelo autor do texto, Nazareno
Tourinho e pelo público.
PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; Trabalho em grupo; inovação cênica.
Benedita de Cássia Lima Sant' Anna
TITULO: A LITERATURA NA REVISTA ILUSTRADA, APÓS 13 DE MAIO DE
1888: CONSIDERAÇÕES
RESUMO: De janeiro de 1876 até a data em que a Lei Áurea foi sancionada, a
Revista Ilustrada, publicação satírica, política e abolicionista, idealizada pelo
caricaturista ítalo-brasileiro Ângelo Agostini, propagou as teses liberais que
defendia (a proclamação da República, a separação entre a igreja e o Estado, o
incentivo ao desenvolvimento do setor industrial e à lavoura), dedicou parte
significativa das matérias nela impressas a causa dos negros: denunciou abusos
cometidos por comerciantes, fazendeiros, políticos e policiais escravocratas, bem
como a politicagem, ou seja, as manobras políticas cometidas por integrantes do
governo. Em suas páginas pouco ou nenhum espaço foi reservado à literatura.
Entretanto, a partir da vitória abolicionista ocorrida em 13 de maio de 1888, a
revista passou a divulgar número significativo de textos literários (contos,
poemas, capítulos de romances, crônicas teatrais etc). Esta comunicação tem por
objetivo refletir sobre alguns desses textos, verificando as temáticas neles
tratadas, as relações que podem ser estabelecidas entre os autores dos textos
literários disseminados na revista e o idealizador da mesma, ademais, apresentar
aos leitores e estudiosos atuais um pouco do segmento literário divulgado pela
Revista Ilustrada a seu público, entre os anos de 1888 a 1898.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Revista Ilustrada; século XIX.
Benedito Antunes
TITULO: O IMIGRANTE ITALIANO COMO METÁFORA LITERÁRIA
RESUMO: Em decorrência do processo de industrialização acelerado, São Paulo
recebeu, no início do século XX, grandes levas de imigrantes, principalmente de
origem italiana. A convivência desses imigrantes entre si e com os nativos gerou
diversas manifestações culturais, particularmente no teatro e na imprensa,
marcadas pela mistura de aspectos linguísticos e culturais. Ao lado de caricaturas,
observa-se uma profusão de experimentos de linguagem em que se imitava, com
intenção cômica e mesmo crítica, o vozeio ouvido nos bairros habitados por
imigrantes. Alexandre Ribeiro Marcondes Machado (1892-1933), que se tornou
conhecido como Juó Bananére, incorporou o linguajar do imigrante italiano para
criar um estilo original, que se refletiu na renovação estética do Modernismo. A
máscara do imigrante funciona, assim, como uma espécie de metáfora que
permite representar um dos principais momentos históricos do País, quando se
procura atrair estrangeiros para substituir a mão de obra escrava acenando com
grandes oportunidades de ascensão social. Servindo-se da imagem e do discurso
de personagens que mantinham pouca relação com a língua culta, Bananére
escapou da tradição erudita e instaurou uma perspectiva inusitada para abordar
diversos conflitos, no plano cultural, social e político. À vista desses aspectos, a
comunicação propõe-se discutir os princípios constitutivos do estilo
macarrônico, considerando a figura do imigrante italiano como recurso para a
representação literária nas primeiras décadas do XX.
PALAVRAS-CHAVE: Imigração italiana; língua macarrônica; metáfora.
Bento Matias Gonzaga Filho
TITULO: CENAS EM CANÇÕES: IMAGÉTICA CINEMÁTICA NAS LETRAS DE
CHICO BUARQUE DE HOLLANDA
RESUMO: A sociedade contemporânea está repleta da cultura da imagem,
fenômeno, que no meu modo de entender, se deve principalmente a narrativa
fílmica. BENJAMIN (1994, p.169) afirma que “o modo pelo qual se organiza a
percepção humana, o meio em que ele se dá, não é apenas condicionado
naturalmente, mas também historicamente”. Essa condição natural e histórica,
que nos propiciou a leitura de mundo e da própria arte pela imagem, abre-nos
um leque de grandes possibilidades interpretativas e críticas, uma delas está na
leitura de poemas e suas relações com a cultura da narrativa fílmica. A proposta
desta comunicação é investigar e discutir a imagética cinemática, que, como tese,
acredito estar presente nas letras das canções, do compositor brasileiro Chico
Buarque de Hollanda. Utilizo a expressão imagética cinemática com o intuito de
explicitar que as análises a serem feitas estarão voltadas para a percepção de
cenas de cinema na poesia do artista. Para XAVIER (1983, p. 15) “a experiência
do cinema, em suas diferentes matizes e peculiaridades, constitui talvez a matriz
fundamental de processos que ocupam hoje o pesquisador dos “meios” ou o
intelectual que interroga a modernidade e pensa as questões estéticas do nosso
tempo”. Como se manifesta a leitura das coisas do mundo com olhos
cinematográficos? Como a imagética cinemática pode habitar a poesia? São
questionamentos que fundamentam o entendimento e a resposta do problema
principal da tese.
PALAVRAS-CHAVE: Imagética; Cinemática; Chico Buarque.
Bonfim Queiroz Lima
TITULO: LEITURAS LITERÁRIAS E FORMAÇÃO DE LEITORES NAS
ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO EM XINGUARA - PARÁ: INFLUÊNCIAS E
MEDIAÇÕES
RESUMO: Este trabalho apresenta parte dos resultados de uma pesquisa sobre a
escolarização da literatura nas escolas de Ensino Médio do município de
Xinguara no estado do Pará. A abordagem metodológica utilizada, o estudo de
caso, permitiu que se utilizasse uma variedade de instrumentos metodológicos,
técnicas e procedimentos, típicos de estudos qualitativos, entre eles a entrevistas
e a análise do material didático. Neste recorte, buscou-se verificar se nas escolas
pesquisadas é desenvolvido algum projeto que estimule a leitura de obras
literárias e, por extensão, que vise à formação de leitores literários. Investigou-se
também quais critérios são adotados para a escolha das obras a serem lidas pelos
alunos e como são feitas as avaliações a respeito dessas leituras. A partir da
análise dos dados, constatou-se que os PPP das escolas pesquisadas não contêm
projetos de incentivo a leitura e a formação do leitor de literatura e que a principal
influência na escolha dos conteúdos e das leituras literárias são os processos
seletivos, destinados ao ingresso nas universidades do estado.
PALAVRAS-CHAVE: Escolarização; Leitura literária; Mediação docente.
Braz Pinto Junior
TITULO: O TEATRO COMO TRADUÇÃO OU A TRADUÇÃO COMO TEATRO:
CONSIDERAÇÕES E METÁFORAS SOBRE O TRABALHO DO TRADUTOR
RESUMO: A reflexão sobre o processo de tradução do texto dramático requer
certa atenção, sobretudo devido a certas características intrínsecas dessa
modalidade de texto que deve ser considerado para além da relação sugerida pelo
senso comum de causa e efeito com relação à sua concretização cênica. O texto
dramático, porém, não deve ser entendido apenas como base para uma encenação
futura que o potencialize, nem como um processo de “transposição” para o palco
à medida que lhe sejam “acrescentados” ou “extraídos” significados que o façam
“ganhar vida” na forma da representação teatral. Na verdade, devemos pensar
nele como uma obra de arte dotada de uma existência própria embora possua
relações de interdependência com o mise-en-scène. A questão do trabalho do
tradutor-dramaturgo proposta por Pavis (2007) levantada pelo autor em O
Teatro no Cruzamento de Culturas é foco desse estudo que pretende servir de
base para uma pesquisa de doutorado em andamento no Programa de PósGraduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina
(PGET/UFSC), sob orientação do professor Dr. Sergio Luiz Rodrigues Medeiros
que pretende levar em conta também a teoria de Antoine Berman.
PALAVRAS-CHAVE 1: Patrice Pavis; Tradução Teatral; Tradutor-Dramaturgo.
Brena Suelen Siqueira Moura
TITULO: THE YEARS: UMA VIA NEGATIVA PARA COMPREENSÃO DA
ESTÉTICA DO ROMANCE MODERNO DE VIRGINIA WOOLF
RESUMO: Virginia Woolf foi uma das precursoras do romance moderno. Ela é
conhecida pelo seu experimentalismo narrativo no qual explorou as técnicas da
prosa moderna. Em To the lighthouse (1927), temos a dupla representação da
personagem Mrs. Ramsay, na escrita e em seu retrato a óleo que a personagem
Lily Briscoe compõe no decorrer do romance. Essa duplicidade enfatiza todo
potencial woolfiano em agregar a estética pós-impressionista à sua obra
moderna. Já em The Waves, de 1931, temos o ápice de sua estética modernista
por causa dos fluxos de consciência extremos. The Years, penúltimo romance da
escritora, publicado em 1937, não segue a mesma trajetória de transgressão das
regras do romance realista de representação. Este romance relata a história de
uma família inglesa entre as décadas de 1880 e 1930. Parece-nos que há o recuo
quanto ao uso das técnicas vanguardistas em sua reprodução da realidade
ficcional. Pode parecer uma obra controversa em relação à trajetória laboral
woolfiana. Cabe-nos investigar The Years como uma via negativa para
compreender a estética do romance moderno de Virginia Woolf devido ao
possível recuo no experimentalismo narrativo proposto e efetivado em To the
lighthouse. Teremos como suporte teórico os conceitos que circundam o romance
realista e moderno a partir de Auerbach. É necessário entendermos também o
processo no qual se deu a crise do romance, bem como do narrador, com Schiller,
Lukács, Benjamin e Adorno. Por fim, refletiremos acerca dos conceitos da
estrutura narrativa woolfiana com Ann Banfield, James Naremore, entre outros.
Nosso objetivo é perquirir se The Years poderia ser uma obra prima da estética
modernista de Virginia Woolf. Obra possivelmente desconsiderada pela crítica
por não ter explorado de forma tão radical os recursos da prosa moderna. Seria o
aprimoramento do que ela chamava de “um mundo visto sem o eu”?
PALAVRAS-CHAVE: Representação; Romance Moderno; Teoria Literária.
Brenda Carlos de Andrade
TITULO: O INCOMUNICÁVEL COMO
REPETIÇÃO EM JUAN JOSÉ SAER
EXPERIÊNCIA:
SILÊNCIO
E
RESUMO: A literatura de viagem em sua origem parece ter surgido como um
elemento fundamental de comunicação de uma experiência, que pode ser
primordialmente pessoal e indicar conhecimento de si mesmo ou mais externa
quando revela prioritariamente os espaços e os novos elementos descobertos. Nos
dois casos, a experiência revelada ou comunicada é um ponto fundamental nesses
relatos. Nos séculos XX e XXI, no entanto, percebe-se o surgimento de relatos de
viagem, especialmente os ficcionais, que lidam com a incomunicabilidade da
experiência vivida. De alguma forma, existe algo nessa situação que ecoa a
incomunicabilidade da experiência entre ex-combatentes sugerida por Benjamin
em seu ensaio “O narrador” (1985). A exacerbação da violência como parte da
cultura contemporânea poderia ratificar essa ideia de Benjamin. O objetivo desse
trabalho, no entanto, é propor a partir da análise de El entenado, de Juan José
Saer, que, apesar da violência evidente, não há uma incomunicabilidade da
experiência, mas um modelo diferente de expressão dessa experiência. O livro de
Saer narra a história de um grumete de uma expedição espanhola pelo Rio da
Prata no século XVI, que cai nas mãos de uma tribo indígena e vê todos seus
companheiros devorados. Ele sobrevive e, sem entender uma palavra do que
falavam os índios, parece resumir seus anos de experiência entre eles no reviver
periódico do ritual antropofágico. A narração segue o modelo das crônicas do
período colonial. A mudez do personagem, porém, sugere uma impossibilidade
comunicação, mas a descrição minuciosa dos rituais antropofágicos denota que a
experiência de viagem vivida talvez não possa ser exprimida em palavras, mas
através dos fragmentos superpostos dessa imagem de aparente violência. É como
se a ausência de palavras e concentração descritiva em uma única lembrança
constante – no caso do livro, a antropofagia – fossem a experiência da
contemporaneidade.
PALAVRAS-CHAVE: Violência; Lit contemporânea; Narrativa viagem.
Bruna Carolina de Almeida Pinto
TITULO: MEMÓRIA, ESPAÇO E PROJEÇÃO DO EU: O TEMA DA
DECADÊNCIA EM FOGO MORTO (1943) E ILHÉU DE CONTENDA (1978)
RESUMO: Este trabalho pretende tecer considerações a respeito de dois
romances que têm na decadência um tema central: Fogo morto (1943), do escritor
paraibano José Lins do Rego, e Ilhéu de contenda (1978), do escritor foguense
Henrique Teixeira de Sousa. Embora tais obras tenham sido produzidas em
tempos e espaços distintos, os procedimentos estéticos desenvolvidos em ambas
as aproximam enquanto esforço de síntese das sociedades às quais pertenceram
os seus autores. Assim, nossa proposta é analisar os processos que envolvem a
representação de um espaço social e de uma memória (ou de memórias) que
determinam a configuração das personagens centrais de cada uma dessas obras
de modo a conduzi-las a uma existência problemática e às vezes paradoxal.
PALAVRAS-CHAVE: Decadência; Fogo morto; Ilhéu de contenda.
Bruno Barretto Gomide
TITULO: AS DUAS FEBRES (OU: SOB O SIGNO DE STALINGRADO)
RESUMO: A literatura russa é um dos melhores termômetros das flutuações
políticas da era Vargas. Ela foi especialmente sensível às pressões do Estado
Novo, um regime, afinal, cuja ideologia lastreava-se, em grande medida, na
recusa ao comunismo soviético. A forma como os atores políticos e culturais se
relacionaram com o “texto russo”, mobilizando paixões pró e contra, permite
traçar a história do anti-comunismo no Brasil – história que já foi analisada por
diversos ângulos, mas nunca exclusivamente pelo da literatura russa. A ficção
russa estava vinculada à discussão política, acompanhando o ritmo nervoso do
tempo e sendo apropriada de modos radicalmente diferentes para fins bastante
práticos. Entretanto, podia ser tratada também através de uma perspectiva
universalizante, que a tornava cada vez mais canônica, “clássica” e apolítica,
ligada aos grandes temas eternos da condição humana. O objetivo desta
comunicação é apresentar a conexão entre política e literatura russa no período
de 1930 a 1945, arco de tempo que começa e termina com uma “febre” russa: a
primeira, de 1930 a 1935; e a segunda, de 1943 a 1945.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura russa; Estado Novo; Intelectuais.
Bruno Ferrari
TITULO: A ESCRITA DE SI NO CENÁRIO DA FICÇÃO BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA
RESUMO: Um dos traços mais característicos do projeto literário brasileiro é ter
se definido por muitos anos, desde o século XIX até o século XX, pela busca de
um sentimento nacional. Na contemporaneidade, entretanto, com os efeitos da
globalização, o que vemos é a perda de importância do fator nacional em
detrimento a múltiplas questões e traços distintivos. O objetivo deste trabalho é
discutir a preponderância da chamada 'escrita de si' como traço distintivo na
literatura brasileira contemporânea. É cada vez mais notório o número de
escritores brasileiros que dedicam espaço em suas obras para narrarem o eu, por
meio diferentes estratégias e posicionamentos em relação aos pactos
autobiográfico e ficcional. Para tanto, analisaremos obras de ficção
contemporâneas, baseando-nos em postulados de Gasparini (2009), Klinger
(2006) e Alberca (2013), além de discutirmos as múltiplas formas como tais obras
problematizam categorias como autoria, autobiografia, narrador, personagem,
memória e ficção.
PALAVRA-CHAVE: Escrita de si; Contemporaneidade; Ficção Brasileira.
Bruno Gonçalves Zeni
TITULO: ENTRE A FAMÍLIA E A CIDADE: MARGINALIDADE, ARTE E
INSERÇÃO SOCIAL EM JOÃO ANTÔNIO
RESUMO: A obra do escritor João Antônio (1937-1996), autor de Malagueta,
Perus e Bacanaço (1963), é um marco da literatura marginal brasileira do século
XX. Escrevendo num momento de industrialização e de crescimento urbano, seus
contos retratam personagens de origem social desfavorável, divididos entre a
sociedade instituída e a marginalidade, entre o trabalho e o ócio, a malandragem
e as artes. A leitura de um de seus primeiros contos, “Afinação da arte de chutar
tampinhas”, escrito na passagem das décadas de 1950 para 1960, permite
apreender um movimento recorrente na trajetória de seus personagens: a
oscilação entre a origem familiar, a que os personagens se veem aferrados, e o
fascínio da deambulação pelo espaço urbano, que marca o distanciamento do
universo da família. Essa contradição, que ocorre em diversos outros contos do
autor, especialmente nos seus textos sobre a malandragem e o crime, aparece
neste texto figurado na imagem a um só tempo lírica e dura da “arte de chutar
tampinhas”, que consubstancia uma série de elementos favoráveis à análise de
toda a sua literatura, como a noite, a flânerie, a sensibilidade artística, a
vagabundagem, os relacionamentos afetivos e as relações entre origem familiar e
espaço urbano.
PALAVRAS-CHAVE: literatura marginal; espaço urbano; malandragem.
Bruno Silva de Oliveira
TITULO: A RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO E INSÓLITO EM OS PECADOS DA
TRIBO, DE JOSÉ J. VEIGA
RESUMO: O espaço é o conjunto de elementos constituídos a partir das paisagens
exteriores e/ou interiores, não sendo apenas um mero acessório narrativo, onde
acontecem as ações da diegese, mas um elemento deveras importante, pois
influencia diretamente os acontecimentos da narrativa e as ações dos
personagens. A referência ao espaço em uma obra acarreta uma infinidade de
informações socioculturais sobre o texto e as personagens; pensar e refletir sobre
esse elemento diegético em uma obra literária é deveras importante para a
caracterização e compreensão de um texto classificado como pertencente aos
domínios da Literatura Fantástica. Sabe-se que este modo literário, segundo
Todorov (2008), se aloja em uma brecha, a da incerteza, entre o estranho e o
maravilhoso, entre o produto da imaginação e o real regido por leis diferentes. O
crítico búlgaro narra um fato que transgride as leis físicas e organizacionais do
mundo real, não podendo ser explicado por essas mesmas leis. Baseado nos
estudos de Todorov (2008) e Roas (2014), compreende-se que o espaço na obra
fantástica deve ser familiar ao do leitor para que a interferência do elemento
insólito abale sua estabilidade. Levando em consideração as concepções
apresentadas anteriormente, este estudo se propõe a debater se o espaço na obra
Os pecados da tribo, de José J. Veiga possibilita a instauração da aura insólita
e/ou fantástica na narrativa.
PALAVRAS-CHAVE: Modo Fantástico; Espaço; José J. Veiga.
Cássia Dolores Costa Lopes
TITULO: O CORPO EM LIBERDADE: UMA LEITURA DA OBRA O AFRICANO
RESUMO: O trabalho pretende debruçar-se sobre a obra O africano, do escritor
J. M.G Le Clézio, tendo como móvel de análise a reflexão que este escritor traz
sobre o corpo. Considerando-se que o autor nigeriano oferece destaque a este
tema em seu livro, examina-se o declínio da dicotomia entre natureza e cultura,
talvez uma das dicotomias mais enraizadas nas teorias sociais vigentes no mundo
ocidental, bem como se avalia como o corpo é colocado em movimento em seu
livro, na maneira como é envolvido nos relatos que faz e constrói no jogo da
escrita de si, tornando-se mais descritível quanto mais aprende a ser afetado por
outros elementos da cultura. Numa fronteira entre a ficção e a biografia, serão
examinadas também algumas fotografias presentes no livro, extraídas do arquivo
do próprio autor, e a multiplicidade de sentidos que as imagens agregam, bem
como a função que estas ganham no decorrer dos capítulos, numa articulação
entre vida e obra.
PALAVRAS-CHAVE: corpo; biografia; pós-colonialismo.
Célia Maria Domingues da Rocha Reis
TITULO: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM
LITERATURA
RESUMO: Neste trabalho apresento reflexões sobre as dificuldades, função e
perspectivas de realização do Estágio Supervisionado em Literatura, no âmbito
de um ensino de literatura que, no ensino fundamental, coloca-se na dependência
dos conteúdos de Língua Portuguesa; no ensino médio é feito apressadamente
por meio do estudo dos estilos literários, suas características e contexto, que
geralmente precedem ou substituem a leitura das obras, informando com
antecedência e objetividade aspectos de sua conformação, um “receituário”
(BOSI, 1992, p. 312), redutor de sua natureza polissêmica, dos debates, das
reflexões individuais e coletivas, que desenvolvem o espírito crítico; leitura de
fragmentos de obras literárias, ou resumos, visando o conhecimento de seu
enredo como fator de preparação para exames vestibulares e outros; poucas e
fragmentadas leituras teóricas, que abreviam e obstaculizam a leitura de obras
integrais, descontextualizando a trajetória de pesquisa dos autores, das questões
investigadas; a aferição de leitura feita por provas, por vezes o único momento de
efetiva produção escrita do aluno na disciplina; na graduação, que adota também
o estudo da literatura pelo viés da periodização, dos estilos literários, mantendo
o procedimento instrumental e um tanto distanciado da ideia de fruição de arte,
embora com um pouco mais de detença e, quiçá, profundidade.
PALAVRAS-CHAVE: Estágio; Ensino de literatura; Estilos literários.
Célia Sebastiana Silva
TITULO: SAGRADO E PROFANO NO UNIVERSO SEM FRONTEIRAS DA
FICÇÃO DE RULFO
RESUMO: O presente trabalho pretende apresentar uma leitura dos contos do
escritor mexicano Juan Rulfo, em cuja ficção ocorre um "descarnamento" dos
traços pitorescos que adquirem universalidade, por transfigurados e subvertidos
que são os contornos humanos das personagens de seus contos e as paisagens que
neles figuram. Será mostrado, para tanto, como, na produção do referido escritor
mexicano e de alguns outros escritores latinoamericanos, como Guimarães Rosa,
os espaços, embora sejam "marcos em ruínas da História" (Arrigucci, 1987,
p.168), não se delimitam por fronteiras específicas, bem demarcadas e bem
situadas, pois se situam fora do tempo histórico. Explorar, portanto, um pouco
da matéria ficcional rulfiana, evidenciando como o escritor consegue abolir as
fronteiras entre o local e o universal; o trágico e o cômico; o sagrado e o profano;
a vida e a morte; o oral e o escrito para criar a densidade de sua atmosfera poética
constitui o objetivo deste trabalho. De forma específica, será mostrada, a partir
de uma leitura do conto "Talpa", o modo como Juan Rulfo justapõe os opostos,
desde a dimensão universal que dá aos seus temas, ainda que partindo de uma
motivação local até a abordagem mítico-religiosa do sagrado e do profano, da
culpa e do perdão, de Deus e do diabo. 1-ARRIGUCCI JÚNIOR, Davi. Juan Rulfo:
pedra e silêncio. In: Enigma e comentário. Sobre literatura e experiência. São
Paulo: Companhia das Letras, 1987. 2-RULFO, Juan. Pedro Páramo e Planalto
em chamas. ( trad. Eliane Zagury). Rio de Janeiro: Paz e terra, 1977. 214 p.
PALAVRAS-CHAVE: Juan Rulfo; local-universal; sagrado-profano.
Cícera Antoniele Cajazeiras da Silva
TITULO: O FANTÁSTICO COMO EXPRESSÃO METAFICCIONAL NOS
CONTOS DE JULIO CORTÁZAR
RESUMO: A obra de Julio Cortázar – sobretudo os contos – é comumente
associada à literatura fantástica. Embora essa associação seja verdadeira, cabe
refletir sobre a natureza do aspecto fantástico na obra do autor; buscar a
compreensão de suas formas de construção e suas implicações para a significação
do texto e para a forma de se conceber a literatura. O fantástico cortazariano
transcende a manifestação de eventos e/ou personagens insólitos/ sobrenaturais,
suscitando significados que se referem também à questão do fazer literário. Se o
fantástico traz consigo uma ruptura com o universo até então construído pela
narrativa, ele também pode ser responsável por questionar os meios pelos quais
essa suposta realidade se constrói e se sustenta, demonstrando assim a
consciência do criador diante dos artifícios literários – aspectos que apontam a
manifestação do discurso metaficcional. O presente trabalho busca investigar a
forma de construção do fantástico nos contos As babas do diabo e A autoestrada
do sul e como esse recurso se evidencia como forma de expressão metaficcional.
PALAVRAS-CHAVE: fantástico; metaficção; Cortázar.
Cícera Rosa Segredo Yamamoto
TITULO: “CORUMBÁ REVISITADA”: A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA NA
POÉTICA DE MANOEL DE BARROS
RESUMO: “Corumbá revisitada”: A construção da memória na poética de Manoel
de Barros. Cícera Rosa Segredo Yamamoto (Dinter UPM/UFMS) As pesquisas
acadêmicas que versam sobre a poética de Manoel de Barros, sob diversas
perspectivas e posições teóricas, ressaltam, entre outros aspectos, o trabalho do
poeta na recriação, a partir da memória, do Pantanal, das minudências, dos seres
simples e despojados de bens materiais, das descrições de espaços rupestres da
cidade de Corumbá – ladeiras, casas, comércios – assim como de pessoas que
fazem parte dessa paisagem. Na poesia de Barros tudo é recordado e revivido pela
memória. Ao trazer para o poético os elementos do passado da sua infância, o
poeta produz imagens (fatos, acontecimentos, cenas, personagens, espaço)
dentro de uma realidade poética em que podemos identificar a própria identidade
do autor. Para Hume (2009) a memória produz e revela nossa identidade. Isso
nos mostra que a identidade se faz em um percurso histórico e social do indivíduo
enquanto ser existente e observador dessa existência. Assim, este trabalho tem
por objetivo mostrar – a partir da análise do poema “Corumbá revisitada”, de
Memória inventadas: A terceira infância (2008) – como Manoel de Barros
articula a memória como ferramenta para produzir sua poesia, e que ao realizar
suas lembranças, poeticamente, revela seu passado, presentifica seu presente e
evidencia a sua identidade. Dentro desse contexto trazemos para a discussão a
questão do sujeito empírico, lírico e autobiográfico dentro do campo fictício da
literatura. Para tanto, nosso referencial teórico se dará, entre outros, em torno de
Hume (2009), Bosi (1994), Benjamin (1994). Referências: BOSI, Ecléia. Memória
e sociedade: lembranças dos velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das letras, 1994.
HUME, David. Tratado da natureza humana. Trad. Déborah Danowski. 2. ed. São
Paulo: Unesp, 2009. BENJAMIM, Walter. A imagem de Proust. In: _____.
Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura.
Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 36-49.
PALAVRAS-CHAVE: Reminiscência; Identidade; Poesia contemporânea.
Cíntia Paula Andrade de Carvalho
Nancy Rita Ferreira Vieira
TITULO:QUANDO “EU” SOU TAMBÉM O “OUTRO”: O DILEMA DA DUPLANACIONALIDADE EM CUNHATAÍ
RESUMO: O romance Cunhataí (2003), da escritora cuiabana Maria Filomena
Bouissou Lepecki (1961-), além de atentar para um segmento pouco representado
na historiografia e, inclusive, na literatura voltada aos eventos da Guerra da
Tríplice Aliança (1864-1870), com a representação da mulher na contenda e a
interpretação do conflito sob a ótica feminina, utiliza outro estratagema para
rasurar a noção de nação e seus desdobramentos: a dupla nacionalidade. Tratase do dilema enfrentado por Ângelo, a quem Micaela, protagonista da história,
desposa na trama. Filho de um brasileiro com uma paraguaia, o oficial convive
em um bólido de heranças étnicas e culturais que o perturba dada a sua perigosa
atuação como espião dos paraguaios, infiltrado no Exército imperial do Brasil.
Fala em português ou espanhol, mas sonha em guarani. A comunicação tem como
objetivo pensar a respeito da condição ambivalente de Ângelo no cenário bélico
como um exemplo de deslizamento de identidades sobrepostas e negociadas que
rivalizam com a perspectiva essencialista de identidade nacional. Referências:
ANDERSON, Benedict R. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a
difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. BAUMAN,
Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar,
2005. BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.).
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 2. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2000. ______. A identidade cultural na pós-modernidade. 7. ed. Rio de
Janeiro: DP&A Ed., 2003. VERDERY, Katherine. Para onde vão a “nação” e o
“nacionalismo”? In: BALAKRISHNAN, Gopal (Org.). Um mapa da questão
nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000, p. 239-247.
PALAVRAS-CHAVE: Cunhataí; Nação; Dupla nacionalidade.
Cacio José Ferreira
TITULO: O CHÃO DE BARRO E AS PAREDES DE ADOBE: O VISITANTE, A
MEMÓRIA E A CRIAÇÃO
RESUMO: Esta comunicação trata de algumas considerações sobre o refúgio da
memória do indivíduo, reduzido e isolado no seu próprio contexto e de
fragmentos rápidos que se assemelham à construção de um mundo completo. A
tentativa de incorporar o lugar estranho, a partir de distorções simbólicas e da
reconstituição de lembranças, se apresenta como indícios necessários para a
criação e a arquitetura de um mundo fugidio. A rede tecida nas narrativas de La
Paz existe? e 1Q84 entrelaça com elementos advindos de outros lugares, que a ela
aderem tão perfeitamente, já que não é possível encará-la como um mero
conjunto de informações necessárias à construção textual, mas como algo que
instiga a reflexão sobre a relação entre a memória e o conteúdo, entre a leitura e
a escrita, entre o real e a ficção. Nessa perspectiva, o relato de viagem de Osman
Lins e Julieta de Godoy e o romance de Haruki Murakami sustentam o
movimento da lembrança que distorce o sentido de espaço consolidado no senso
comum. Da mesma forma, a imperfeição espacial pode trazer à baila a
modificação da realidade, a alteração de si e do ser sem causar modificação da
essência. Assim, o trabalho em questão comparará as representações edificadas
nas narrativas para a construção da vida satisfatória do indivíduo deslocado no
espaço e tempo, que busca sentido e agregação de valor à sua origem, criando
representações cristalizadas no tempo da memória.
PALAVRAS-CHAVE: Memória; Tempo e espaço; Criação.
Caio Vinicius de Souza Brito
Roberto Rodrigues Campos
TITULO: TRABALHANDO COM OS CONTOS DE BEEDLE, O BARDO NA SALA
DE AULA
RESUMO: O uso de um conto de fadas como instrumento pedagógico está ligado
principalmente ao desenvolvimento da literatura infantil como parte de um
projeto para reafirmar a identidade cultural das crianças, ensinar-lhes lições
sociais, morais e/ou religiosas. Os contos de fadas alimentam a imaginação dos
jovens leitores e usam uma forma indireta de apresentar situações de modelos a
serem seguidas. Este estudo apresenta a experiência de uso do livro Os Contos de
Beedle, o Bardo, da escritora britânica J. K. Rowling, como algo que tem
contribuído na constituição de leitores e que desperta o interesse no processo de
escrita de contos. Essa prática está embasada na concepção de que ler, além de
implicar nos atos de reapropriar e reinterpretar os textos, possibilita que esse
leitor tenha contato direto com as marcas textuais do gênero. Os resultados dessa
experiência, aplicada nos anos finais do Ensino Fundamental II, têm apresentado
mudanças no comportamento dos adolescentes envolvidos no processo, pois eles,
compreendendo melhor as marcas textuais do gênero trabalhado, acabam por
incorporar o hábito da leitura no seu cotidiano e, consequentemente, são postos
em contato com os valores morais contidos nas obras lidas.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura literária; Formação de leitores; Contos de fada.
Camila Machado Burgardt
Socorro de Fátima Pacífico Barbosa
TITULO: A PROSA DE FICÇÃO NOS
OITOCENTISTAS: PRÁTICAS DE ESCRITA
PERIÓDICOS
PARAIBANOS
RESUMO: A produção literária na Paraíba teve, no século XIX, como principal
suporte a imprensa periódica, fonte que vem sendo, cada vez mais, utilizada por
historiadores da literatura, com o objetivo de investigar e contribuir para os
estudos sobre a leitura e escrita literárias, como práticas sociais e culturais.
Seguindo essa perspectiva, este artigo tem por objetivo apresentar as primeiras
análises de nosso projeto de doutorado Prosa de ficção na Paraíba oitocentista:
uma (re)construção das práticas de escrita literária (1822-1889), no qual
pretendemos investigar acerca da constituição da prosa de ficção enquanto
oficina experimental para os escritores de narrativas naquele momento, nos
jornais paraibanos, observando um modo de escrita em ascensão – a narrativa de
ficção. Entre os jornais paraibanos selecionados, até o momento, estão os que
circularam no período entre 1826 e 1889. Entre os jornais selecionados podemos
citar ? A Ordem (1850-1851); A Regeneração (1861-1862); O Governista
Paraibano (1850-1851); O Reformista (1849-1850); O Publicador (1864-1869)
entre outros, por se tratarem de jornais que trazem, entre as tipologias textuais
que circulavam na época, a prosa de ficção. Para tais análises, partimos dos
estudos de Abreu (2003), Araújo (1985), Barbosa (2006;2007;2011), Cândido
(1983), Luca (2005), Pinheiro (1862) entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Prosa de ficção; Jornais paraibanos; Século XIX.
Camila Marcelina Pasqual
TITULO: LIMA BARRETO: UM PINGENTE ENTRE A LITERATURA E A
REALIDADE
RESUMO: O artigo, intitulado Lima Barreto: um pingente entre a literatura e a
realidade, examina a forma como o escritor João Antônio retrata a vida do povo
do subúrbio tentando resgatar a "voz" dos excluídos da periferia das grandes
metrópoles e como tal tentativa de resgate determina a dinâmica de sua
literatura. Ao mesmo tempo, avalia como a obra do romancista carioca Lima
Barreto influenciou a produção literária do contista paulistano, levando este a
escolher retratar o mundo dos excluídos dos subúrbios: prostitutas, jogadores de
sinuca e malandros, a partir da visão de mundo destes. Para tanto, o artigo utiliza
as contribuições de autores como Antonio Candido, no que diz respeito à questão
da literatura engajada, e Antonio Arnoni Prado para avaliar a influência de Lima
Barreto sobre a produção contista de João Antônio. Prado também contribui para
a análise da “herança” barretiana de João Antônio. O artigo recorre também às
contribuições de Alfredo Bosi, sobre a afinidade de João Antônio e Lima Barreto
para com as “classes excluídas”.
PALAVRAS-CHAVE: João Antônio; Exclusão Social; Subúrbio.
Camila Soares López
TITULO: MERCURE DE FRANCE: CRÍTICA LITERÁRIA E COSMOPOLITISMO
(1890-1898)
RESUMO: O século XIX francês caracterizou-se pelo amplo desenvolvimento da
imprensa. Diversos periódicos surgiram nesse momento de intensa
efervescência. Da Presse de Girardin às revistas especializadas, eles foram via de
difusão de informação e, também, de literatura. A partir dos anos de 1880,
surgiram as petites revues, folhas que abrigavam a produção daqueles que
buscavam uma reação contra os órgãos da grande imprensa e propunham novas
incursões literárias. De tais revistas, destaca-se o Mercure de France. Fundado
em 1890 e dirigido por Alfred Vallette, o Mercure continha em suas páginas
poemas, contos e, entre outros textos, crítica literária. Este trabalho, resultado de
pesquisa de Doutorado financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP) e intitulada “O Simbolismo no Mercure de France
(1890-1900)”, visa à apresentação das especificidades dessa crítica, refletindo,
igualmente, sobre as práticas de sociabilidade estabelecidas entre seus autores e
os escritores da época, e as demais revistas e editoras. Consideramos, ainda, o
caráter cosmopolita de tal publicação e sua presença no cenário literário
brasileiro do fim do século XIX, bem como aspectos das transferências culturais
entre Brasil e França.
PALAVRAS-CHAVE: Petites revues; Crítica literária; Cosmopolitismo.
Carina Adriele Duarte de Melo
TITULO: HISTÓRIA, MEMÓRIA E ARQUIVO EM AS TRÊS VIDAS
RESUMO: Em Kafka e seus precursores, Jorge Luis Borges (1999) medita sobre
o imaginário ao contar que leitura da obra de Kafka modifica sua interpretação
de passado e do futuro. Ler o escritor de Praga o faz reinterpretar os precursores
e vice-versa, em diálogo movediço que jamais se interrompe ou se repete.
Pensando questões parecidas, porém, com relação à história, Walter Benjamin
(1994), em Sobre o conceito de história, assegura que esta ciência é uma
construção cujo resultado não é a configuração de um passado homogêneo e
congelado, mas sim um lugar, espaço em que passado e presente se contaminam
mutuamente. Tais proposições, para o campo dos estudos literários que se
pretende mobilizar aqui, representam certa forma de olhar para o passado que se
deseja empregar para investigar estratégias de narrativas plausíveis em As três
vidas (2010), do escritor português João Tordo. O que se pretende é investigar
como, na narrativa de As Três Vidas, a experiência presente do assistente que lê
os arquivos recria a história ao mesmo tempo em que inventa um presente (e
inevitavelmente um futuro) para o narrador. Como, ao organizar os arquivos, o
narrador organiza (?) a própria história? A tentativa que se propõe aqui é a de
qualificar, conhecendo de antemão a precariedade do inventário, as influências
identificáveis entre narrador e narrativas, para se perguntar, como preocupação
maior e ancestral, quando uma coleção de gestos, obras ou fatos necessita de um
testemunho para não morrer? Como arquivos conversam na memória? O objetivo
deste trabalho é investigar tais e outras questões em As três vidas.
PALAVRAS-CHAVE: História; Memória; Arquivo.
Carla da Silva Miguelote
TITULO: “VOCÊ ESTÁ LEVANDO MUITO TEMPO PARA CAMINHAR ATÉ
MIM”: O MUSEU COMO DURAÇÃO A SER ATRAVESSADA
RESUMO: O trabalho propõe uma reflexão sobre alguns vetores da arte
contemporânea, tomando como ponto de partida a exposição “Círculo mágico”,
da artista brasileira Rosângela Rennó. Intermidialidade, articulação entre
palavra e imagem, reconfigurações do espaço do museu e utilização de materiais
pré-existentes, provenientes do patrimônio artístico e cultural, são alguns desses
vetores. A exposição, de 2104, faz parte do Projeto Respiração que, desde 2004,
convida artistas a fazerem intervenções na casa museu Eva Klabin. Rosângela
Rennó escolhe dezesseis objetos entre as duas mil peças que compõem a coleção.
Desloca esses objetos de lugar, criando novas vizinhanças, e lhes dá voz. A partir
de um dispositivo sonoro-luminoso, acionado quando o observador se aproxima,
os objetos “falam”, em primeira pessoa, evocando suas memórias e comentando
sobre seus lugares na coleção. Como observa Anne Cauquelin, na arte
contemporânea, o savoir-faire manual é preterido em prol de um saber-escolher
do artista, cuja atividade se reduz a deslocar objetos, mudando-o de lugar e de
temporalidade. O artista não fabrica mais um objeto, mas lhe acrescenta algo, um
coeficiente de arte. Tal acréscimo, lembra Cauquelin, pode vir de uma nova
montagem, mas também de um aporte verbal. Rennó faz as duas coisas. Ao dar
voz a objetos mudos, a artista se aproxima da tradição da ekphrasis, que, em
tempos de intermidialidade, pode ter seu campo de atuação ampliado.
Problematiza-se, assim, a distinção feita por Lessing, entre a pintura, arte do
espaço, e a narrativa, arte do tempo. Trata-se, em última instância, de pensar uma
reconfiguração contemporânea do museu que, como apontam autores como
Hans Belting e Nicolas Borriaud, tende a se desespacializar e a se temporalizar,
apresentando-se como duração a ser atravessada.
PALAVRAS-CHAVE: arte contemporânea; palavra e imagem; Rosângela Rennó.
Carla de Figueiredo Portilho
TITULO: TANGOS, LABIRINTOS E UM DETETIVE ACIDENTAL: OS
CAMINHOS DA MEMÓRIA EM O CANTOR DE TANGO, DE TOMÁS ELOY
MARTINEZ
RESUMO: A partir dos conceitos de detetive metafísico (HOLQUIST, 1971) e
ontológico (GOMEL, 1995), caracterizados pelo questionamento sobre a natureza
da realidade e os limites do conhecimento, propõe-se discutir o romance O Cantor
de Tango como uma narrativa que busca resgatar a memória, a cultura e a história
recentes da Argentina. O protagonista, Bruno Cadogan, doutorando que pesquisa
a história do tango, viaja a Buenos Aires em busca de um cantor mítico, Julio
Martel, cujas apresentações, sempre de surpresa e em locais improváveis, o levam
a empreender uma busca pela cidade, a fim de compreender a lógica que as
norteia. Como um pesquisador, Bruno se aproxima do perfil do detetive
metafísico / ontológico que, ao investigar, descobre muito mais sobre si próprio
e o mundo a sua volta do que sobre o seu objeto de pesquisa inicial. Suas
caminhadas por Buenos Aires o levam a empreender um trabalho de construção
da memória recente da Argentina, com base nos locais e fatos históricos
descobertos em seu percurso, marcando que o ato de caminhar equivale,
simbolicamente, a narrar. Ao perder-se no labirinto do Parque Chas, Bruno
percebe que as ruas circulares do bairro equivalem às narrativas concêntricas dos
personagens que o ligam a Martel e que desvendam o mistério da escolha dos
locais das apresentações. Citando um dos personagens do romance, que diz que
a forma de um labirinto não está nas paredes, mas no espaço entre elas, vemos
que o mesmo se dá com a narrativa e, por conseguinte, com a construção da
memória, uma vez que o seu significado não está no que é dito, mas nas
entrelinhas, no que o leitor deve, por sua própria conta, apreender e interpretar.
PALAVRAS-CHAVE: memória; detetive metafísico; detetive ontológico.
Carla Lavorati
TITULO: DESDOBRAMENTOS DA MEMÓRIA EM "OS ANEIS DE SATURNO",
DE W. G SEBALD
RESUMO: Nascido em 1944, em Wertach, na Alemanha, W. G Sebald, começa
sua carreira de escritor com um livro de poesias, mas ganha reconhecimento a
partir da publicação de suas ficções em prosa. Suas obras trabalham de modo
recorrente com temas como: violência, guerra, abandono, trauma, memória,
esquecimento. Em “Os anéis de Saturno”, objeto desse estudo, o narrador é uma
espécie de alter ego do autor, relacionado que está às experiências vividas por W.
G Sebald em agosto de 1992, ao empreender uma viagem a pé pela costa leste da
Inglaterra. Nesse movimento de quem caminha e observa o seu entorno, o
narrador de “Os anéis de Saturno” reflete sobre as marcas no presente que
remontam a um passado traumático, ligado a movimentos de destruição em
massa ocorridos no século XX. Dessa forma, é uma narrativa que oferece aspectos
interessantes para observações sobre os rumos tomados pela literatura do pósguerra, as novas perspectivas aplicadas ao narrador, autor, enredo, e ao próprio
processo representacional da linguagem e da memória na contemporaneidade.
Desse modo, o objetivo da análise é observar aspectos da memória na narrativa
de “Os anéis de Saturno”, com atenção especial para os desdobramentos da
memória individual e histórica no texto.
PALAVRAS-CHAVE: História; memória; trauma.
Carlos Alberto de Negreiro
Tânia Maria de Araújo Lima
TITULO:
ESCRITURA
FEMININA
NEGRA
E
ESCRITA-LUGAR:
SUBJETIVIDADES E TERRITORIALIDADES EM MARIA FIRMINA,
CAROLINA DE JESUS E CONCEIÇÃO EVARISTO
RESUMO: O escopo deste trabalho é o de analisar o processo da escrita em três
autoras n, que se localizam em três momentos históricos diferentes da história da
literatura brasileira: Maria Firmina dos Reis (1825-1917), no conto “A escrava”,
(por volta de 1859); Carolina Maria de Jesus (1914-1977), em “Quarto de
despejo”(1960) e Conceição Evaristo (1946-), com “Ponciá Vicêncio”(2003). A
singularidade da escritura indica como cada autora expressa um ponto de vista
interno, e um universo por meio de relatos e histórias, configurando-se em
narrativas de si e narrativas do outro. A investigação busca destacar uma escritora
negra, que escreve em pleno séc. XIX; a outra que exerce necessidade de mostrar
o ponto de vista de quem mora na favela; e a terceira que se incube de erigir uma
memória para uma construção identitária. Tudo o que essas escritoras viveram e
cresceram e espelham um lugar na escrita e todas finalizam para ver essa matéria
se concluir tratada em um “livro”. O aspecto literário aqui incide em uma
provocação, visto que a priori o texto não ambiciona pretensões estéticas ou
literárias dentro do ponto de vista convencional, ou seja, da Literatura
tradicional, percebemos, então, como um “constituinte literário” ao considerar o
espaço e seu cenário enunciativo em que a obra se insere. Relacionamos, para
isso, as considerações de “instituição literária” e o “discurso constituinte”
(MAINGUENEAU, 2006); a ideia de “corpo educado” (LOURO, 2013); o
feminismo e a “subversão da identidade” (BUTLER, 2014). As narrativas
configuram as subjetividades das escritoras inseridas nesse contexto de periferia,
tanto os que são narrados com seus relatos, como se narram as próprias autoras
do livro.
PALAVRAS-CHAVE: Escritura-feminina; Escrita-lugar; Identidades.
Carlos André Pinheiro
TITULO: O ESPAÇO COMO UMA FORMA DE RESISTÊNCIA NA NARRATIVA
DE MIA COUTO
RESUMO: O esforço para constituir um registro da memória cultural africana é
um dos procedimentos mais recorrentes na obra de Mia Couto. Abordado sob
múltiplas perspectivas, o tema parece adquirir uma roupagem diferenciada a
cada novo volume publicado. No romance "A varanda do frangipani" (1996), o
autor faz uma leitura do período em que já começava a esfriar a guerra civil que
sucedeu à libertação de Moçambique do domínio português. Tendo como cenário
uma fortaleza isolada na costa moçambicana, esse espaço figura como
representação das condições vividas pelos países africanos escravizados. O
romance narra a trajetória de um inspetor de polícia enviado pela Nação para
investigar a morte do diretor da fortaleza. Deslocado da terra natal, pode-se dizer
que a sua percepção do espaço alheio constitui uma forma de reescrever a história
daquele povo. Como a estrutura do romance alterna a voz do narrador com os
relatos dos personagens, esse livro acaba por comprovar que o espaço é
construído antes por um fenômeno perceptivo e pelo tecido mnemônico do que
por segmentos meramente físicos e materiais. O objetivo deste trabalho,
portanto, é fazer uma análise do romance "A varanda do frangipani", tomando
como ponto de partida a sua configuração espacial. Amparado nas teorias de
Lefèbvre, Foucault, Bachelard e Merleau-Ponty, pretende-se evidenciar o modo
como visões divergentes da realidade agem na composição do espaço. Depois,
planeja-se mostrar que o microespaço delineado na obra revela dados
substanciais acerca da paisagem cultural e da sociedade africana, que aparecem
estruturadas em uma espécie dialética da construção (marcada pela presença da
cultura ancestral e pela esperança de um mundo livre) e da destruição (centrada
na imagem do espaço em ruínas e do sentimento de medo diante da guerra).
PALAVRAS-CHAVE: Teoria do espaço; Memória cultural; Mia Couto.
Carlos Augusto Nascimento Sarmento-Pantoja
TITULO: CINEMA-TESTEMUNHO OU DOCUMENTÁRIO TESTEMUNHAL:
PERLABORAÇÕES SOBRE A DITADURA NO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO
CONTEMPORÂNEO
RESUMO: Pensamos sobre a criação das categorias cinema-testemunho e
documentário testemunhal para possibilitar uma melhor compreensão da
produção audiovisual contemporânea brasileira que se debruçou sobre a temática
da ditadura civil-militar brasileira. Para isso, recorremos ao conceito de
documentário performático, desenvolvido por Bill Nichols, caracterizado como
aquele que “sublinha a complexidade de nosso conhecimento do mundo ao
enfatizar suas dimensões subjetivas e afetivas” (2005, p. 169), pois a combinação
entre o imaginário e o real frutifica o modo performático no documentário. Desse
modo, nas minúcias entre o real e o imaginário estão o cinema-testemunho e o
documentário testemunhal, como formas de audiovisual que esgarçam a
realidade e transformam o filme em documentos e testemunhos de uma
realidade. Nesse sentido, a produção cinematográfica brasileira desde a ditadura
militar apresentar uma proposição de um cinema-testemunho, que busca
denunciar mazelas sociais e problemas culturais vividos, principalmente, fora dos
grandes centros urbanos. De outro modo, contemporaneamente, os
documentários promovem o debate sobre a natureza testemunhal de produções
como: No olho do furacão (2002), de Renato Tapajós e Tony Venturi; Hércules
56 (2006), de Sílvio Da-Rim; e Cidadão Boileisen (2009), de Chaim Litewski.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema-testemunho; documentário; testemunho.
Carlos Eduardo Brefore Pinheiro
TITULO: AS FIGURAS FEMININAS DE CLARICE LISPECTOR: A "TRAGÉDIA
DO TÉDIO DA REPETIÇÃO"
RESUMO: Clarice Lispector escreve em seu romance “Um sopro de vida”: “O
quotidiano contém em si o abuso do quotidiano: o quotidiano tem a tragédia do
tédio da repetição”. Esse tema, o da repetição que condiciona a vida do ser
humano, será um dos pilares que alicerçará a obra de Lispector e uma marca
constante na trajetória de muitos de seus personagens (sobretudo das figuras
femininas). Assim, pensar numa abordagem em que se focalize o mecanismo de
“repetição”, presente nos textos dessa autora, unindo a teoria literária à teoria
psicanalítica, é uma forma de dar ao público uma nova possibilidade de leitura de
sua obra. Analisar os procedimentos de “repetição” no texto literário, retomando
as teorias freudianas presentes em estudos como “Recordar, repetir, elaborar”,
“O estranho” e “Além do princípio de prazer”, bem como a leitura do conceito de
“repetição” que fazem os comentadores de Freud, é uma forma de retirar das
obras de Clarice possíveis significados com base naquilo que a própria autora
declarou como sendo a “tragédia do tédio da repetição” no cotidiano. Este
trabalho tem como base, então, perceber a maneira pela qual tal procedimento
interfere na trajetória das figuras femininas dos romances “Perto do coração
selvagem”, “O lustre”, “A paixão segundo G.H. “Água viva”, “A hora da estrela” e
“Um sopro de vida”, bem como nas dos contos “A imitação da rosa”, “Amor”,
“Feliz aniversário”, “Os obedientes”, “Miss Algrave”, “O corpo”, “A fuga” e “Um
dia a menos”. Feitas estas considerações, desenvolvidas as análises, comprovadas
as hipóteses, poderemos chegar a um patamar interpretativo a respeito dos
fundamentos que nortearam a autora na elaboração das obras elencadas para este
estudo, no que diz respeito às tendências estéticas que trilhou, sem perder de vista
o diálogo aberto pela artista, avivando relações entre cultura, arte e sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector; repetição; feminino e cotidiano.
Carlos Eduardo Galvão Braga
TITULO: O SÍMILE EM MADAME BOVARY
RESUMO: A escrita de Flaubert, tanto a ficcional quanto a epistolar, é
intensamente marcada pela presença das comparações. O recurso ao símile como
procedimento estilístico caracteriza, em particular, a escrita de "Madame Bovary"
(1857), livro com que Flaubert estreou na literatura, e cuja escrita assinala a
prevalência definitiva, em sua obra, do “desenho” sobre a “vibração”, propósito
que ele perseguia desde, pelo menos, 1847, quando redigia, com seu amigo
Maxime du Camp, "Pelos campos e pelas praias", relato da viagem que ambos
haviam feito à Bretanha. Tratava-se, em outras palavras, para Flaubert, de
encontrar uma maneira de escrever capaz de realçar a “cor” e o “relevo” do que
ele chamava de “objetivo”, em contraposição ao investimento emocional do texto,
sua vibração. A primazia do desenho o conduzirá, anos mais tarde, na época da
redação de "Madame Bovary", à concepção de uma literatura “expositiva”, cujo
modelo lhe é fornecido pelas ciências naturais: a ambição de Flaubert é descrever,
sob a forma de quadros, o real em sua totalidade. Um de seus princípios é a
(controvertida e, certamente, improvável) impessoalidade: o escritor deve se
limitar a expor, com os meios de que dispõe, o fruto da sua prospecção do real,
sem, no entanto, opinar sobre o exposto. Esse empenho expositivo da literatura,
que o símile flaubertiano serve e reforça, visa combater o caráter dogmático,
impositivo e totalitário da opinião. Em "Madame Bovary", a altíssima frequência
do símile confere à escrita do romance uma visibilidade em que se consuma um
traço distintivo, segundo o próprio Flaubert, da grande obra literária: a
capacidade de “fazer ver” para “fazer sonhar”.
PALAVRAS-CHAVE: Flaubert; símile; Madame Bovary.
Carlos Junior Gontijo Rosa
TITULO: O CRIADO CARNAVALIZADO: A PERSONAGEM-TIPO DO
GRACIOSO
RESUMO: O criado é uma personagem-tipo fortemente marcada, recorrente no
âmbito cômico da arte teatral desde as primeiras comédias, escritas na Grécia
antiga. O gracioso é uma adaptação feita pelos autores do Século de Ouro
espanhol para esta personagem-tipo, de acordo com o gosto do seu público
coetâneo. Tipicamente espanhol, este personagem chega a Portugal junto com as
representações de companhias espanholas em digressão pela Península Ibérica e
aí também se firma no gosto do público. Nos textos do português Antônio José da
Silva, apesar do crescimento das referências à ópera italiana ao longo de seu
amadurecimento enquanto dramaturgo, a figura do gracioso ganha destaque
poucas vezes antes visto na intriga principal. Para os estudiosos espanhóis nossos
contemporâneos, o gracioso distingue-se dos demais criados que figuram no
teatro espanhol por apresentarem uma visão burlesca do mundo do galán ou
herói. Esta carnavalização presente no texto dramático é empreendida por
Antônio José de forma ímpar, enquanto último baluarte da preceptiva
aurissecular espanhola.
PALAVRAS-CHAVE: Personagem; Teatro Português; Carnavalização.
Carlos Mateus da Costa Castello Branco
TITULO: UM UÍSQUE PARA O REI SAUL: O MONÓLOGO E SUA FORÇA
POLÍTICA
RESUMO: A comunicação se destina à análise do texto de César Vieira, Um
Uísque para o Rei Saul, escrito em 1968, e montado no mesmo ano. Para isso são
observadas as teorias do teatro político e do teatro do absurdo. Pretende-se a
reflexão sobre a força do monólogo em tempos de exceção no país, a ditadura
militar a partir do ano de 64, como estratégia de combate a falta de fomento para
obras com teor contestatório no Brasil. Também verifica-se a estreia da obra no
conturbado contexto político da época e seu significado para a construção da cena
teatral em Brasília por ter sido montada na cidade no ano de 68. Por fim é
analisada a criação do diálogo dentro do monólogo e seus desdobramentos
cênicos e como opera a censura a partir das características do texto. A
intertextualidade é vista como elemento de diálogo-crítico no texto dramático,
bem como a percepção das questões sociais pela dramaturgia e os elementos que
possibilitam o engajamento por meio da obra literária igualmente é preocupação
desta reflexão.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Polítco; Monólogo.
Carolina Geaquinto Paganine
TITULO: SOBRE “TALES” E “SKETCHES”: VOZES E GÊNEROS NARRATIVOS
EM TRADUÇÃO
RESUMO: Quando se traduz, trabalha-se com a premissa de que cada gênero
textual necessita de uma maneira de traduzir própria, assim como as estratégias
para se traduzir um autor não são as mesmas aplicadas a outro. De fato, como nos
lembra Antoine Berman, “o espaço da tradução é babélico, isto é, recusa qualquer
totalização” (2013, p. 27) e estabelecer regras ou métodos universais é algo que se
aproxima da impossibilidade. Mas como lidar com a multiplicidade de gêneros e
vozes textuais em uma mesma obra de um mesmo autor? Esta comunicação
discutirá essas questões em relação à minha tradução das narrativas curtas
intituladas A Few Crusted Characters (1894) de Thomas Hardy. Inserida no livro
de contos Life’s Little Ironies, essa obra é uma coletânea de nove “sketches”
construídos sob uma moldura narrativa em que os passageiros de uma condução
rumo ao interior de Wessex relatam fatos curiosos e histórias de seus conhecidos
a um nativo que emigrara há muitos anos. Cada “sketch” se constitui como uma
narrativa com características diversas, sejam temáticas – Hardy flerta com as
histórias tradicionais, fantasiosas e cômicas, além dos seus conhecidos enredos
trágicos –, sejam textuais – as vozes narrativas apresentam distinções de acordo
com o perfil do narrador em primeira pessoa e, às vezes, há mais de um narrador
para a mesma história, que variam entre o registro formal e informal. Todos esses
pontos pedem que o movimento de traduzir acompanhe esse percurso variado e
múltiplo de vozes e gêneros, trazendo para os comentários sobre a tradução a
tentativa de retextualizar em português aquilo que Berman chamou de “a
proliferação babélica das línguas na prosa” (Idem, p. 66).
PALAVRAS-CHAVE: Tradução comentada; Thomas Hardy; Gêneros narrativos.
Carolina Natale Toti
TITULO: MELANCOLIA, GENIALIDADE E LOUCURA EM TORQUATO TASSO
DE GOETHE: UMA LEITURA SCHOPENHAUERIANA
RESUMO: Melancolia, genialidade e loucura em Torquato Tasso de Goethe: uma
leitura schopenhaueriana Carolina Toti (UEL) Considerado por Schopenhauer
como um texto excepcionalmente esclarecedor das relações entre melancolia,
genialidade e loucura, o drama Torquato Tasso (1999) de Goethe é usado pelo
filósofo alemão como modelo para se pensar a conexão entre estes três estados. A
peça expõe, além da alternância entre genialidade e loucura, a melancolia
inerente ao gênio. O distanciamento da realidade, o êxtase alienante da
imaginação produz um desdobramento, a contradição entre o real e o ideal,
fratura que é uma manifestação da melancolia. Modo particular de relação com o
mundo, este exílio da existência prosaica é um estado íntimo comum ao louco, ao
melancólico e ao gênio: estas são três expressões distintas de um mesmo conflito.
No presente trabalho, pretende-se elucidar a articulação entre melancolia,
genialidade e loucura. Para isto, retomam-se as considerações de Schopenhauer
acerca desses três estados. Em seguida, analisa-se o drama de Goethe a fim de
aproximar e problematizar as representações que os pensadores alemães fazem
do gênio louco e melancólico de Torquato Tasso.
PALAVRAS -CHAVE: Melancolia; Gênio; Loucura.
Cecília Paiva Ximenes Rodrigues
TITULO: HISTÓRIA, FICÇÃO E TESTEMUNHO EM VALENTIA (2012), DE
DEBORAH K. GOLDEMBERG: RECONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA COLETIVA
NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
RESUMO: O romance Valentia (21012), da antropóloga Deborah K. Goldemberg,
reconstrói a memória acerca da revolta da Cabanagem (1835-1840), insurreição
que ocorreu no estado do Grão-Pará durante o Império brasileiro. Utilizando
estratégias associadas ao testemunho (Beverley 1993) e ao novo romance
histórico brasileiro (Menton 1993; Sinder 2000), Goldemberg emprega múltiplas
temporalidades e fios narrativos para alternar entre o relato ficcional de um líder
da revolta e os testemunhos ficcionalizados de moradores da região amazônica
da atualidade. Ao conceder agência a diferentes vozes, o romance resgata a
memória coletiva acerca da revolta na medida em que traz à luz a perspectiva dos
vencidos, cujas vozes são compostas de indígenas, afro-brasileiros e caboclos.
Baseando-se no conceito de memória coletiva (Halbwachs 1980) e sua fecunda
interseção com a história e o testemunho, esta apresentação analisa como várias
vozes individuais não só tecem uma rica e complexa tapeçaria no intuito de
recuperar aspectos histórico-culturais desvanecidos da Amazônia como também,
no processo de narrar contra a amnésia, revelam uma identidade liminar
traspassada por diferentes valores, crenças e geografias.
PALAVRAS-CHAVE: Memória Coletiva; Testemunho; História.
Cecília Rosas Mendes
TITULO: A CORRESPONDÊNCIA ENTRE MARINA TSVETÁIEVA E BORIS
PASTERNAK
RESUMO: O começo da troca de cartas entre Marina Tsvetáieva e Boris Pasternak
data de 1922, quando Pasternak, depois de ler os versos de sua contemporânea,
decidiu enviar para ela um de seus livros. Fruto de uma relação intensa, a
correspondência se estende pelo intervalo de 14 anos, entre 1922 e 1936. Além
disso, ela conta com uma interessante participação de Rainer Maria Rilke em
meados de 1926. Por ordem de Tsvetáiva, apenas em 2004 as cartas foram
reunidas e publicadas na Rússia. Ao longo da troca, os dois escritores foram
desenvolvendo uma relação profunda e complexa, na qual convivem o relato das
duras condições de vida que enfrentavam, reflexões sobre arte e efusivas
manifestações de afeto. Como tiveram poucos encontros em vida, as cartas
constituem uma relação que se estabeleceu essencialmente no plano da
linguagem. Esta comunicação propõe discutir questões de tradução da obra e
iluminar os pontos de convergência entre as cartas e as obras dos dois autores.
PALAVRAS-CHAVE: literatura russa; Boris Pasternak; Marina Tsvetáieva.
Christian Rodrigues Fischgold
TITULO: ANGOLA-PORTUGAL-BRASIL: REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS
EM RUY DUARTE DE CARVALHO
RESUMO: O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados de uma
pesquisa acerca das representações literárias contidas nas obras Os papéis do
inglês (2000) e Desmedida (2007) , do antropólogo, poeta e romancista angolano
Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010). A obra do autor é frequentemente associada
aos estudos pós-coloniais desenvolvidos nas últimas décadas do século XX. De
caráter híbrido, sobrepondo narrativas de viagens, relatos etnográficos, discursos
históricos, escrita ficcional e poesia, o autor opera uma descentralização não
hierarquizada dos diversos discursos presentes, tanto os produzidos na antiga
metrópole colonial, quanto os discursos nacionalistas produzidos sob o manto
das guerras por independência. Em Os papéis do inglês, evidenciaremos as
representações do discurso colonial português e do discurso anti-colonial dos
movimentos de auto-determinação surgidos no continente africano e na
diáspora, refletindo sobre as relações entre esses discursos e as alterações
ocorridas na antropologia do século passado. Por fim, destacaremos o papel
ambíguo que intelectuais brasileiros tiveram no contexto histórico específico ao
colonialismo português, seja fornecendo a retórica luso-tropicalista, que seria
repetida em vários tons nas décadas de 1960 e 1970, seja com autores que
serviram de inspiração para a resistência anti-colonial dos intelectuais africanos,
como Jorge Amado, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa. Estes autores são
citados nominalmente na obra Desmedida. O livro é uma narrativa de viagem
pelo sertão brasileiro em que a experiência da travessia – outra característica
marcante nas obras do autor – será partilhada em diálogo contínuo com relatos
de viajantes estrangeiros como Blaise Cendrars e Richard Burton, e de autores
brasileiros, como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda. A
intertextualidade entre literatura, antropologia e história proposta na escrita de
Ruy Duarte de Carvalho oferece contribuições que abrem caminhos para
alternativos modos de compreender as relações contidas no espaço dos países de
lingua oficial portuguesa, mais especificamente no âmbito Angola-BrasilPortugal.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Pós-colonialismo; Antropologia.
Christy Beatriz Najarro Guzmpan
TITULO: REVISITAÇÃO DA MEMÓRIA HISTÓRICA SALVADORENHA EM EL
SOL SE BEBE LA TARDE DE LUIS RONALD CALDERÓN
RESUMO: Ao entender a palavra como aquilo que viabiliza a configuração da
identidade e da memória história, através da articulação de discursos, pode-se
propor uma reflexão sobre um processo inverso, isto é, a palavra como uma força
destruidora do centro de gravidade das identidades que, entre outros sentidos,
seria uma (re)arranjo da configuração de uma memória histórica nacional. Nesse
sentido, poderíamos afirmar que a história da nação se apresenta como uma
narrativa que, como tal, depende de escolhas discursivas de quem a elabora.
Nessa perspectiva, e lembrando as reflexões de Michael Foucault, tudo o que é
produzido numa sociedade, oral ou escrito, corresponde a uma elaboração
discursiva que, atrelada a uma ideologia dominante, delimita um campo
específico de saber, como a história, a literatura e, principalmente, o conceito de
nação. Isso está conectado com as reflexões de Hommi Bhabha, Stuart Hall,
Seymour Menton, entre outros, que propõem uma revisão do conceito de nação e
da história da nação no mundo pós-moderno, através da literatura do pós-guerra,
pós-ditaduras, pós-colonialismos. No contexto Latino-americano, esse
imaginário coletivo foi elaborado a partir da relação existente entre a prosa de
ficção e os projetos políticos do poder hegemônico, conforme aponta Doris
Sommer no seu livro Ficções de fundação: os romances nacionais da América
Latina (2004). No caso de El Salvador, esse ideário foi arquitetado no começo do
século XX durante a ditadura militar que recém iniciava (1932-1979) e da qual
foram “cúmplices” os escritores clássicos deste país, segundo as considerações de
Rafael Lara-Martínez, haja vista que foram eles que criaram a literatura do mito
de fundação do país. Levando isso em consideração, esta pesquisa pretende
refletir sobre o modo pelo qual a literatura engajada de ficção da segunda metade
do século XX evidencia a falseabilidade do discurso histórico oficial de El
Salvador, a partir do romance El sol se bebe la tarde (1995) de Luis Ronald
Calderón.
PALAVRAS-CHAVE: El Salvador; Literatura; Memória.
Cicero Cunha Bezerra
TITULO: CLARICE
SACRALIDADE
LISPECTOR
E
MARK
ROTHKO:
NEGAÇÃO
E
RESUMO: A obra plástica de Mark Rothko e a escrita de Clarice Lispector trazem,
como característica comum, a experiência negativa frente ao mundo e ao divino.
Pintar, assim como escrever, conduzem o observador-leitor a uma vivência em
que o textual e o visual convergem na negação da redução da verdade à lógica da
objetividade. Para esse nosso trabalho, nos pautaremos na comparação entre o
escrito sobre arte redigido por Mark Rothko intitulado "Filosofia da arte" em
comparação com três romances centrais de Clarice Lispector (A paixão segundo
G.H, Água Viva e um Sopro de vida) visando, com isso, estabelecer uma ponte
capaz de justificar o que nomeamos de "estética apofática". No que se refere a
análise comparativa da obra plástica do artista com o texto literário, nos serão de
fundamental importância o confronto entre as chamadas "pinturas negras" de
Mark Rothko e algumas passagens centrais dos romances acima citados.
PALAVRAS-CHAVE: Apofaticismo; Abstração; Clarice Lispector.
Cielo Griselda Festino
TITULO: GOA: DO LOCAL AO GLOBAL
RESUMO: O lugar é constituído pela maneira que seus habitantes ou aqueles
conectados com ele interagem. Nesse sentido, o lugar pode ser entendido como
uma experiência. Cresswell (2004:11) faz a seguinte observação sobre o lugar:
“Lugar é uma maneira enxergar, conhecer e entender o mundo. Quando olhamos
ao mundo como um mundo constituído por lugares enxergamos coisas diferentes.
Vemos relações e conexões entre pessoas. Vemos mundos de experiência”. Muitas
vezes esse mundo de experiências se materializa na forma de narrativas que
problematizam a relação de uma comunidade com um determinado local. Nesse
contexto, o objetivo desta comunicação é fazer uma leitura da antologia
Inside/Out. New Writings from Goa (2011) do Goa Writers Group composta por
contos, sketches, narrativas de vida, poemas, ensaios e fotografias. Como Goa é o
referente comum de todas as narrativas da coleção elas serão interpretadas
conforme a definição de Sandra Zagarell (1988:499) de narrativas de
comunidades: “narrativas que consideram a vida da comunidade como seu centro
e recriam o cotidiano em todos os seus aspectos o que, por sua vez, ajuda a manter
a comunidade como uma entidade”. Nessa leitura o nosso eixo será considerar a
maneira como as narrativas em Inside/Out afirmam ou problematizam a visão de
Goa como um paraíso, um lugar sossegado, e ao assim o fazer como elas
reescrevem o conceito de comunidade.
PALAVRAS-CHAVE: Local; narrativas de lugar; Goa.
Cilaine Alves Cunha
TITULO: MACHADO DE ASSIS: A RESIGNAÇÃO DO HERÓI INDOMÁVEL
RESUMO: Este trabalho discute a polêmica que um conto de juventude de
Machado de Assis trava com Camilo Castelo Branco. Machado apropria-se de
elementos formais e temáticos de Amor de perdição, traçando um balanço do
romance sentimental. Figura o herói romântico indomável como um tipo
resignado e submisso.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; Herói indomável; romance sentimental.
Cinthia Lopes de Oliveira
TITULO: A CONSTRUÇÃO LITERÁRIA DE LÚCIO CARDOSO ENTRE CORES
E CONFISSÕES
RESUMO: A literatura que se abre em leques transmidiáticos perpassa pela obra
de Lúcio Cardoso (1912 – 1968), escritor mineiro cuja obra compreende além de
poemas, romances, novelas e contos, a escrita de diários, roteiros para cinema, a
direção de um filme deixado inacabado e os desenhos e as pinturas de telas.
Cardoso mesclou seu trabalho jornalístico às experiências literárias e estas às
artes plásticas. Criou um diário de experiências e sensações, de crítica literária e
expressão de si, amalgamando a construção literária ao estudo de sua narrativa.
Nesse diário renega os fatos e privilegia experiências e as vivências desses
acontecimentos moldando um gênero hibrido entre a autobiografia e a
autoficção. A representação de suas personagens, por vezes sombrias e cindidas
pela luta entre o bem e o mal se faz presente nas cores e traços, tanto da sua
linguagem pictórica quando da simbologia de suas pinturas. Em Cardoso, as
paisagens interagem com o espaço físico e o estado emocional das personagens.
O estudo comparativo entre os diários cardosianos e seus romances traz
elementos para a compreensão e o desvelamento do projeto artístico-literário
desse importante representante da literatura brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Autocrítica; Escrita confessional; Projeto literário.
Cintia Camargo Vianna
TITULO: LITERATURA AFRO-BRASILEIRA: UMA ALTERNATIVA PARA AS
NARRATIVAS TRADICIONAIS DE NACIONALIDADE
RESUMO: Este trabalho pretende discutir a possibilidade de compreensão da
produção de Literatura Afro-Brasileira como a produção de uma narrativa de
nacionalidade alternativa àquela produzida pelo Modernismo brasileiro. Nesse
sentido, assumo que as representações para nacionalidade produzidas
principalmente nos anos 1910 e 1920 seriam fruto de um processo de resgate e
revitalização da intenção nacionalizadora que definiria de certa maneira as
manifestações do Romantismo no Brasil, momento no qual é possível verificar a
intelectualidade brasileira envidiando esforços para alcançar representações de
nacionalidade quer fosse por intermédio da língua, quer fosse por intermédio das
artes. No Romantismo do século XIX, faz-se uma escolha pelo apagamento ou
pela sujeição do sujeito negro e de sua cultura que, grosso modo, quando figuram
na ficção é para ratificar as posições ou papéis aos quais são socialmente
relegados naquele momento, fortalecendo assim, representações como, por
exemplo, as de negros como subalternos, negros como sujeitos menores, negros
como passivos diante de sofrimento ou injustiças. No Modernismo, o que se
verifica é um resgate do intento nacionalizante romântico, evidentemente com
suas bases de ação redefinidas, o resgate de uma preocupação fundacional com
questões como, por exemplo, níveis de civilização, modernidade,
desenvolvimento. Nesse sentido, o objetivo é investigar como no mesmo período
dois intelectuais brasileiros, Mário de Andrade, um dos grandes nomes da
nacionalização das artes brasileiras e Lino Guedes, intelectual afro-descendente,
militante pelas causas negras, se posicionam sobre a questão da nacionalidade
nas artes e da composição das narrativas de nacionalidade no Brasil. Para tanto,
investigarei nas publicações O Getulino, da qual Lino Guedes era um dos
principais editores e Klaxon, da qual Mário de Andrade foi um dos principais
colaboradores quais as formulações propostas para literatura e artes relacionadas
às ideias de nação, nacionalidade, cultura e negritude.
PALAVRAS-CHAVE: Afrobrasileira; Lino Guedes; Mário de Andrade.
Cláudia da Cruz Cerqueira
TITULO: FORMAS DE CONSENTIMENTOS: CONTRA O INDIZÍVEL, O
EXERCÍCIO APAZIGUADOR DA TOLERÂNCIA NA NARRATIVA DE O VENTO
ASSOBIANDO NAS GRUAS , DE LÍDIA JORGE
RESUMO: Na obra literária da autora portuguesa Lídia Jorge, O vento
assobiando nas gruas (2002), percebe-se que a representação da experiência
traumática - seu testemunho autoconsciente? – configura-se como resultado da
experiência imigratória de cabo-verdianos em Portugal. Essa alegoria revela-se
importante ao imaginário português e mundial, porque testemunharia algumas
possíveis imagens de violências extremas, morais e psíquicas; então humanas.
Observa-se, nesse contexto, a revelação de uma lesão aberta comum às das duas
nações: a diáspora dos cabo-verdianos a partir de 1975, época de sua
independência de Portugal, e o ano de 1974 com a revolução de Abril em Portugal.
Nesse quadro em movimento, a luta pela sobrevivência cristaliza-se e concretizase nas perspectivas dessa obra de Lídia Jorge. Diante da iminência fantasmática
da memória da fúria, da opressão e da tirania, a autora constrói o destino de seu
ato narrar e de sua reivindicação contemporânea a problemas inadiáveis da
cultura colonizadora portuguesa. Paradoxalmente, pois vindo de uma
portuguesa, a autora flagra a condição daqueles que preferem abafar a fisgada
recorrente da memória das violações sofridas pelos sujeitos fadados a ser
estrangeiros e expatriados naquela sociedade. Essa estadia tem um preço:
afastar-se do confronto, desviar-se de suas sequelas, esquivar-se do embate. Eis
o diálogo mantido por Lídia Jorge com o fora da obra.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-Colonial; Contemporaneidade; autoconsciência.
Cláudia Maria Ceneviva Nigro
TITULO: ONDE SE ENCONTRAM OS POEMAS
“MINORITÁRIOS” NA LITERATURA AMERICANA?
DE
GRUPOS
RESUMO: A imaginação popular nos Estados Unidos é bem marcada e associada
a políticas que atendem a interesses impostos por uma fatia da população que se
nomeia maioria. A população majoritária, entretanto, é subdividida em variadas
minorias: chineses, italianos, negros, latinos, entre outros. Para esses são
permitidos os espaços de exclusão. No entanto, essa população, por meio de ações
afirmativas, consegue não só o direito de frequentar a universidade, mas também
um espaço nas editoras e, consequentemente, a oportunidade de serem lidos. Nos
textos se representam, se inscrevem. Se for a partir do uso com que o outro faz
das palavras que concepções são tecidas, é a partir desse uso que alguns escritores
afro-americanos fazem esculpir no corpo de personagens a construção de
identidades de gênero, de raça, entre outras, culturalmente modeladas.
Sustentada em estudos da crítica subalterna, com críticos como Ramón
Grosfoguel e Walter Mignolo, leremos os corpos inscritos como Arte, cuja
diversidade identitária não é construída sobre padrões de uniformidade, mas não
os isenta da humanidade. A proposição desse trabalho, portanto, constitui-se na
discussão sobre as relações de gênero e raça representadas em escritoras afroamericanas como Camile Dungy e Maya Angelou. Considerando, com Butler, que
o gênero é o índice linguístico da oposição política entre os sexos, vemos a
reivindicação por meio de uma poesia discursiva com enfoque em “personagens”
como possibilidade de nomear distintas configurações. Entre feminilidades e
masculinidades, as práticas poéticas criam-se nos desejos dos corpos políticos.
Conforme b. Hooks, quando diz do desafio de enfrentamento do sexismo na vida
negra, o peso da tradição pode causar também um compromisso imposto na
virilidade e na violência dos versos. Assim, pretendo mostrar como as duas
poetas/escritoras escolhem problematizar na contemporaneidade, pela forma
que tem asas e não se assenta, o peso social refletido em práticas de poesias
reveladoras.
PALAVRAS-CHAVE: Gênero; Raça; Afro-americana.
Cláudio do Carmo Gonçalves
TITULO: TEORIAS DA MEMÓRIA E RELAÇÕES LITERÁRIAS
RESUMO: Esta comunicação se ocupa de investigação que busca na arquitetura
da memória e as relações no âmbito da literatura um ponto de congruência. Para
tanto, procede-se a uma revisão crítica das operações relacionadas à memória
desde sua materialização mais sintomática em fins do século XIX. Em seguida,
mapeada as teorias que dão sustento à memória, busca-se estabelecer as relações
estabelecidas no constructo literário, seja na forma textual, seja no conteúdo
subjacente aos textos literários. Nesse sentido, a geografia do texto literário,
caracterizada pelo lugar de interseção entre espaços empíricos constituídos e
aqueles imaginados, constitui o entre-lugar que produz relatos e representações
das mais constantes, emergindo e fazendo emergir daí, uma memória de
contornos imprecisos. A literatura, assim, é entendida como registro de campo,
na acepção tomada a Pierre Bourdieu , cujo sentido se estabelece a partir de um
pertencimento e propicia que a prática literária, como cultura, conforme Fredric
Jameson, interfira na construção, refutando a crença numa reflexão passiva e
mesmo determinista. O estudo parte da narrativa “Fim” de Fernanda Torres; cuja
temática traça a ideia de geração e a precisão fronteiriça entre memória e
identidade. Tal obra parece traduzir realidades, cuja competência discursiva a
transforma não somente em representação urbana como lugar de vivência
ficcional, ou seja, espaço de encenação real ficcionalizado, mas também como
lugar imaginado que se faz real a partir da ficção, na medida em que “interpela”
este mesmo real. Desse modo a literatura é o território do encontro, o entre-lugar
de tempos e espaços (Benjamin) que expõe a condição da memória em sua
dramatização. Vale dizer, há um encontro entre as teorias que informam a
memória e suas formulações literárias, estejam elas nos textos, nos autores, na
estética dos livros, na vida literária.
PALAVRAS-CHAVE: memória; literatura; contemporaneidade.
Clara Carolina Souza Santos
TITULO: JORNAL E MERCADO LIVREIRO: ANÚNCIOS DA LIVRARIA E
PAPELARIA A. L. GARRAUX NAS PÁGINAS DO CORREIO PAULISTANO
(1862)
RESUMO: Em 1862 o negociante Anatole Louis Garraux criava as condições para
a prosperidade da Livraria e Papelaria A. L. Garraux, sediada na província de São
Paulo. Esta loja seria muito lucrativa para o negociante parisiense em um período
menor do que dez anos. Em pouco tempo a Livraria e Papelaria A. L. Garraux
contaria com a atuação conjunta dos negociantes Anatole Louis Garraux, Jean
Baptiste Guelfe de Lailhacar e Rafael Soares, facilitadores do trânsito de livros e
itens entre o território brasileiro e europeu, unidos na companhia Garraux &
Lailhacar. Em pouco tempo após a abertura, em 1863, o espaço da Casa Garraux
seria amplamente reconhecido como uma loja propícia para adquirir itens
refinados e para o convívio social. Para aproximar compradores e leitores o
negociante testava jeitos para apresentar nas páginas do periódico Correio
Paulistano os itens disponíveis na loja para compra por atacado e por varejo.
Observamos no primeiro semestre de 1862 quais seriam as iniciativas do
negociante para divulgar os itens, quem eram os principais concorrentes
anunciantes e como itens eram anunciados pela Livraria e Papelaria A. L. Garraux
e por seus concorrentes anunciantes. A lista de livros anunciada pelo negociante
Anatole Louis Garraux era variada. Para observar mais a apresentação de
romances observamos qual era a variedade de livros listados nos anúncios, em
quais línguas os anúncios estavam escritos, quais eram os autores mais
divulgados, quais eram as línguas dos romances e quais os autores mais
anunciados por língua. Estes dados mostram a difusão de itens e livros e, ao
mesmo tempo, revela a demanda dos compradores das províncias com as quais a
Livraria e Papelaria A. L. Garraux mantinha negócios.
PALAVRAS-CHAVE: Romance; Jornais; Anatole L. Garraux.
Clarissa Loureiro Marinho Barbosa
TITULO: A RELEVÂNCIA DOS DISCURSOS ÉPICO E PICTÓRICO PARA A
FORMAÇÃO DE UM HERÓI NOS PERFIS DO MAJOR TORÍBIO E DE CAPITÃO
RODRIGO COMO PERSONAGENS REPRESENTATIVOS DA IDENTIDADE
GAÚCHA NA SAGA O TEMPO E O VENTO
RESUMO: Este artigo pretende discutir como na saga de Erico Verissimo, O
Tempo e o vento, o discurso épico e o pictórico participam do seu processo de
estruturação estética e significativa, tornando-se elementos internos do enredo
relevantes para a formação perfis de Rodrigo Cambará e Toríbio Terra Cambará
como heróis representativos da exaltação dos feitos bélicos gaúchos no seu
processo de construção identitária. Assim, confrontam-se os capítulos Um certo
capitão Rodrigo de O Continente com Um certo Major Rodrigo de O Arquipélago
a fim de se observar como ações bélicas são retratadas por imagens plásticas que
recriam o comportamento do bisavô Rodrigo no século XIX, depois resgatadas e
reinventadas pelo bisneto Toríbio no século XX, buscando-se uma continuidade
e, ao mesmo tempo, uma renovação entre gerações dentro da mesma família
Terra Cambará, enquanto metáfora do Rio Grande do Sul. Deste modo, estudase como o discurso épico e o pictórico tornam-se elementos estéticos de
constituição da narrativa, alterando-se e adequando-se à formação do romance
para expressar a evolução do povo gaúcho de um passado mítico associado ao
capitão a uma situação contemporânea de dúvidas e fragilidades do homem
moderno do século XX, referente à morte de Toríbio. A intenção, portanto, é que
se estude O Tempo e vento como um romance dialógico no qual o discurso épico
cruza-se com a linguagem pictórica para a construção identitária do riograndense.
PALAVRAS-CHAVE: Pintura; dialogismo; dialogismo.
Clarissa Prado Marini
TITULO: VARIANTES TRADUTIVAS E SUA RELAÇÃO COM A RECEPÇÃO DO
TEXTO ESTRANGEIRO: ANÁLISE DE TRADUÇÕES DE TERMOS DE WALTER
BENJAMIN
RESUMO: A tradução é antes de tudo uma relação com a alteridade. A leitura de
um outro que o tradutor apresenta para os seus (BERMAN, 2013, p. 95). Como
nas palavras de Walter Benjamin (2010, p. 225), o tradutor tem como papel
revelar a relação mais íntima que há entre as línguas, a “pura língua(gem)” que
consiste no encontro das línguas, na reunião delas, manifestada na própria
atividade tradutória. Todo tradutor se depara com escolhas e paradigmas em sua
atividade tradutória e estas estão ligadas a questões subjetivas. A própria
linguagem tem um caráter intrinsicamente intersubjetivo por se tratar da
comunicação entre pessoas e, ultrapassando esse ponto para chegar à questão
intersubjetiva da tradução, a relação entre o tradutor e o original, vemos que esta
leva à possibilidade, e existência, de várias traduções de um mesmo texto.
Lembrando que não há a tradução de uma língua, mas sim de um discurso, ou
seja, do que o autor fez com aquela língua (MESCHONNIC, 2007, p. 58). Como
parte do trabalho de pesquisa da dissertação de mestrado “Glossário de Leituras
de ‘Die Aufgabe des Übersetzers’ de Walter Benjamin: Uma contribuição para a
História Contemporânea da Tradução” foi feita uma análise das escolhas de
tradução de cinco termos fundamentais propostos por Benjamin em seu texto,
conhecido no Brasil como “A tarefa do tradutor”, que inaugura a Teoria da
Tradução Contemporânea. Dentre as várias reflexões suscitadas pelas análises
das variantes tradutivas dos termos benjaminianos, acreditamos que a recepção
do texto e dos conceitos fundamentais apresentados por ele será determinada
(também) pelas escolhas do tradutor ao introduzir numa nova comunidade
linguística (e especializada) este texto estrangeiro. BENJAMIN, Walter. A tarefa
do tradutor. Tradução de Susana Kampff Lages. In: Antologia Bilíngue –
Clássicos da Teoria da Tradução – alemão-português. HEIDERMANN, Werner.
vol. 1. 2ª ed. Florianópolis: Núcleo de Tradução da Universidade Federal de Santa
Catarina, 2010. BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do
longínquo. Tradução de Marie-Hélène C. Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini.
Revisão de tradução: Luana Ferreira de Freitas, Marie-Hélène Catherine Torres,
Mauri Furlan, Orlando Luiz de Araújo. 2ª ed. Tubarão: Copiart; Florianópolis:
PGET/UFSC, 2013. MESCHONNIC, Henri. Éthique et politique du traduire.
Paris: Verdier, 2007.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Variantes tradutivas; Walter Benjamin.
Claudia Lorena Vouto da Fonseca
TITULO: O HOMEM QUE O MENINO SERIA E ASSIM NÃO FOI POR NÃO
PODER TER SIDO – LITERATURA PORTUGUESA E ORFANDADE
RESUMO: O Romance português floresce de maneira acentuada nos anos 70 do
século passado, no contexto específico do fim do salazarismo, paradoxo histórico
em que o Portugal, e o português, ao mesmo tempo em que se vê liberto, se vê
órfão, desamparado face à constatação do esfacelamento de sua identidade.
Diante da desconstrução, inclusive literária, do mito que o português criou, esse
ser que se crê herdeiro dos navegadores, se vê como que impedido de exercer sua
função primeira. A questão agora é: quem somos e o que restou de nós? A história
– cultuada - de Portugal foi sempre uma história de partidas e regressos (e de não
regressos). O regressado volta modificado e isso fica mais explícito na narrativa
contemporânea, ainda debitária dos seus modelos. E é nesse contexto que
Antonio Lobo Antunes, ele mesmo um retornado, vai produzir Os cus de Judas,
inserindo-o em uma tradição contemporânea também pelo que diz respeito à
forma. Portanto, a partir também do confronto com outros textos, mais
especificamente o poema Mensagem, de Fernando Pessoa, é isso que queremos
demonstrar. Trata-se, aqui, de um trabalho de literatura comparada que utiliza
os princípios do comparatismo, não para pensar um sistema literário
confrontando-o a outro, nem uma linguagem a outra, mas para nos permitir um
novo olhar sobre um mesmo sistema, um comparativismo que se dobra sobre a
própria nação. Algo que nos permita dizer que Lobo Antunes vai preencher um
espaço que Pessoa deixa em aberto, um espaço ainda por se fazer e ser dito.
PALAVRAS-CHAVE: Antonio Lobo Antunes; Identidade; Romance Português.
Claudia Maia
TITULO: HOMEM COMUM EM TERRA ALHEIA: ESTIVE EM LISBOA E
LEMBREI DE VOCÊ, DE LUIZ RUFFATO
RESUMO: Estive em Lisboa e lembrei de você (2009), do mineiro Luiz Ruffato, é
resultado do projeto editorial “Amores Expressos”, que levou escritores para
diversas cidades do mundo com o objetivo de escrever um romance. Em Lisboa,
Ruffato decide contar a história de Serginho, também mineiro de Cataguases. Na
nota que antecede a narrativa, o escritor explica que o que se segue é o
depoimento “minimamente editado” de Sérgio de Souza Sampaio, “gravado em
quatro sessões, nas tardes de sábado dos dias 9, 16, 23 e 30 de julho, nas
dependências do Solar Galegos, localizado no alto das escadinhas da Calçada do
Duque, zona histórica de Lisboa”. Este trabalho pretende discutir a questão do
“homem comum” na narrativa de Ruffato, cujo protagonista decide viajar para a
capital portuguesa em busca de maiores oportunidades de trabalho, um
protagonista marginal que em terra alheia vive a luta diária pela sobrevivência.
Ruffato, no “depoimento editado” de um homem que vive a solidão urbana, acaba
por problematizar, além da questão do deslocamento geográfico, o homem
comum e sua relação com o espaço próprio e o alheio, relação que caracteriza a
própria narrativa, uma vez que o escritor se vale da voz alheia para escrever o
texto. O referencial teórico a ser utilizado abrange os estudos de Walter Benjamin,
Giorgio Agamben, Jacques Rancière e Peter Pál Pelbart sobre o comum, a
comunidade e a vida ordinária.
PALAVRAS-CHAVE: homem comum; deslocamento; Luiz Ruffato.
Cláudia Maria Fernandes Corrêa
TÍTULO: O CORPO NEGRO FEMININO COMO UM LUGAR DE MEMÓRIA
RESUMO: “De qual perspectiva?” O questionamento é posto pela escritora afrocaribenho-canadense Marlene NourbeSe Philip (1989) ao questionar sob qual
rubrica os africanos teriam “cabelos duros e nariz achatado”. Philip traz à baila
um assunto que vai além de questões de binarismos como, por exemplo,
colonizado e colonizador. Num nível mais profundo, ainda que a presença da
autoridade colonial tenha sido retirada das ex-colônias a noção de colonialidade
(Quijano, 2005; Grosfoguel 2012) sustenta e ratifica a estereotipia e
inferiorização. Entendemos por colonialidade a matriz europeia presente em
diversas instâncias, entre elas, na construção das Ciências que construíram os
discursos de exclusão pela ‘raça’. Neste sentido, não apenas geograficamente a
dominação ocorreu. A autoridade colonial se amplia para o corpo negro feminino
como extensão das plantations. Desta forma, nesta comunicação,
acompanharemos a construção do corpo negro feminino e sua inscrição na
literatura como parte integrante do processo de colonização.
PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Memória; Colonialidade.
Claudia Pellegrini Drucker
TITULO: MAIAKÓVSKI EM PAULO LINS: A REVISÃO DA RELAÇÃO ENTRE
ARTE POPULAR E ARTE DE VANGUARDA
RESUMO: Em Desde que o samba é samba, o romance de Paulo Lins de 2012, há
uma citação direta e nominal de Maiakóvski: “o século XXX vencerá”. Trata-se de
um verso, na tradução brasileira (e parcial), do poema Pro eto, de 1923, às vezes
traduzido literalmente por “Sobre isto”. O sentido idiomático da expressão pro
eto é algo como: “essa é a minha arte, isso é o que tenho a dizer do mundo, sem
nenhuma chance de retratação”. Em português, é o correspondente da expressão
“é isso aí”. O tratamento dado ao poema de Maiakóvski, na sua tradução brasileira
seletiva intitulada “O amor”, já foi questionado por Boris Schnaiderman, por
excessivamente esperançoso. Precisamente o tratamento talvez equivocado
justifica a citação feita por Paulo Lins. Desde que o samba é samba é um romance
histórico sobre o nascimento das escolas de samba no Rio de Janeiro em 1929. O
olhar retrospectivo sobre a arte de vanguarda aponta para uma redefinição do
que ela foi, de modo a incluir especificamente o surgimento das escolas de samba.
A arte de vanguarda brasileira, calcada na vanguarda europeia, tomou a arte
popular como depositário de tradições primitivas, enquanto Lins faz do samba já
uma síntese entre moderno e antigo.
PALAVRAS-CHAVE: samba; poesia russa; arte brasileira.
Claudicélio Rodrigues da Silva
TITULO: VAMOS FALAR COM LITERATURA E NÃO SOBRE LITERATURA
RESUMO: O título da comunicação é uma provocação. Diante da necessidade do
redesenho do currículo do Ensino Médio (diretrizes curriculares de 2013) a fim
de que se privilegiem as marcas do espaço em que a escola está inserida, sem
fechá-la, é claro, a outros espaços, o que se espera do futuro professor? Qual o
lugar da prática de ensino da Literatura nos cursos de licenciatura em Letras?
Para ensinar a ensinar Literatura é necessário partir de uma didática que coloque
no centro da aula o texto literário e não sua historiografia, suas teorias e a crítica.
Além disso, em meio a uma infinidade de críticas ao modelo de ensino da
Literatura que não parte do privilégio dos saberes e das experiências do leitor,
como propor um currículo cujo foco seja o texto, sem negar sua tradição crítica?
É possível pensar na formação do leitor crítico a partir de uma metodologia que
apresente as obras literárias em temáticas e gêneros? Esses questionamentos
fundamentarão minha reflexão, sobretudo apresentando os impasses como
professor de literatura brasileira e de prática de ensino da Literatura na
Universidade Federal do Ceará nos últimos dois anos.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Ensino Médio; Currículo.
Claudio Vescia Zanini
TITULO: SADISMO, DESUMANIZAÇÃO E O GÓTICO EM JOGOS MORTAIS
RESUMO: O final dos anos 70 e a década de 80 brindaram espectadores com
incontáveis litros de sangue derramado. Freddy, Jason e Michael Myers fizeram
inúmeras vítimas em suas franquias de filmes, embora poucas delas sejam
memoráveis. Uma das franquias de maior sucesso no horror do novo milênio,
Jogos Mortais (2004-2010) apresenta novos paradigmas dentro do cinema de
horror, especialmente no que tange às formas de submissão, tortura e morte das
vítimas. O objetivo desta proposta é identificar tais mudanças e verificar de que
formas a série de filmes se afilia ao gótico através da desumanização e
consequente monstrificação do ser humano. Parte-se da hipótese que a vítima
deixa de ser apenas mais um corpo que será devidamente localizado ao final da
narrativa, para ser um indivíduo mais facilmente percebido como ser humano por
parte do espectador. O objetivo é justamente estabelecer tal característica para
que ela seja revertida depois, uma vez que as torturas físicas e psicológicas a que
os jogadores são submetidos são calcadas em princípios da doutrina sádica e de
desumanização.
PALAVRAS-CHAVE: Gótico; Desumanização; Pós-modernidade.
Cleide Lúcia Gaspar da Assunção
Paulo Jorge Martins Nunes
TITULO: MPB E RESISTÊNCIA NO ROMANCE O MINOSSAURO, DE
BENEDICTO MONTEIRO
RESUMO: Benedicto Monteiro, escritor paraense nascido na cidade de Alenquer,
escreveu sua Tetralogia Amazônica, um conjunto de quatro romances que tratam
do universo amazônico e estão ambientados durante o período de ditadura
militar: Verde vagomundo (1972), O minossauro (1975), A terceira margem
(1983) e Aquele um (1985). Sua segunda obra romanesca, O minossauro,
apresenta uma multiplicidade de vozes, o que caracteriza a polifonia, entendida
aqui como uma metodologia, na qual se dá voz a muitas vozes, objetivando
representar o mesmo objeto. Dentre essas enunciações, destacam-se as vozes de
compositores/cantores da Música Popular Brasileira (MPB), como Caetano
Veloso, Chico Buarque de Holanda e Geraldo Vandré. Esta pesquisa analisa
canções desses autores (respectivamente, Como dois e dois, Construção e Para
não dizer que não falei das flores), compreendendo o efeito político-estético que
agregam ao romance em questão. Para isso, utiliza-se, entre outros, estudos sobre
enunciação e MPB, feitos por Cabral (1996), Homem (2009) e Santiago (1989).
PALAVRAS-CHAVE: Voz; MPB; Romance.
Cleuma de Carvalho Magalhães
TITULO: O SUJEITO FEMININO NA OBRA DE FLORBELA ESPANCA E
ADÍLIA LOPES
RESUMO: Com base nas reflexões de teóricas feministas como Simone de
Beauvoir e Virginia Woolf acerca do papel da mulher na sociedade, este trabalho
tem como propósito analisar a construção do sujeito feminino na obra das
escritoras portuguesas Florbela Espanca e Adília Lopes. A produção poética de
Florbela Espanca vem à luz nas primeiras décadas do século XX, tendo início com
Livro de mágoas (1919), seguido pelo Livro de Sóror Saudade (1923) e pelo
póstumo Charneca em flor (1931). Adília Lopes, poetisa contemporânea, inicia
sua atividade literária em 1985 com a obra Um jogo bastante perigoso. Seus livros
de poesia publicados até maio de 2014 estão reunidos na antologia intitulada
Dobra (2014). A ligação entre as duas escritoras dá-se especialmente pela
abordagem da questão do feminino. Cada uma à sua maneira, e Adília Lopes a
distorcer e, por vezes, negar a voz de Florbela Espanca, ambas constroem uma
imagem feminina que foge aos padrões impostos pela sociedade portuguesa,
negando o seu papel de submissão, assumindo o desejo que habita o seu corpo e
afirmando-se como sujeito.
PALAVRAS-CHAVE: Florbela; Adília; sujeito feminino.
Cristhian Andrés Torres Hurtado
TITULO: LA POÉTICA DEL HABITANTE: DIMENSIONES DE LA POESÍA DE
HÉCTOR ROJAS HERAZO
RESUMO: La poética del habitante, que es el nombre de la propuesta de lectura
que defendemos, logra articular los aciertos de las investigaciones anteriores
(Cárdenas, Bustos, Ferrer, García Santos, Castro) en torno a la poesía de Héctor
Rojas Herazo (HRH) a través de un tejido polisémico que goza de una afortunada
ambigüedad y que propone una lectura “tridimensional” de la obra poética del
autor colombiano. Habitar significa, en términos rojasheracianos, crear,
construir, trazar “señales” y “garabatos” que, al mismo tiempo, crean al habitante
y a sus lugares: cuerpo, casa, infancia, mitología, memoria. Se trata de un
concepto indeterminable como la vida; móvil, mutable. Así mismo, tiene la
capacidad de enriquecerse y dialogar con las concepciones filosóficas que se han
formulado anterior y posteriormente sobre él mismo. No es un concepto cerrado
y no busca tampoco la comprensión absoluta, la explicación racional sobre el
fenómeno poético. Es hijo de la poesía y, como tal, sabe que cada revelación abre
un universo infinito y poblado de más preguntas e interpretaciones. Así
entendida, la poética del habitante plantea tres dimensiones semánticas para
recorrer la obra poética – y quizá también la obra narrativa – de HRH. Estos
caminos de regreso, de anábasis, apenas esbozados en estas líneas y las que
preceden este ensayo/ponencia, son: 1. La afirmación del cuerpo – en tanto la
animalidad, devenir y vida – como ruptura y apuesta estética; 2. El exilio – y en
él el destierro, la desesperanza y la orfandad – como la condición del habitante
moderno latinoamericano; 3. Habitar – el origen y la memoria, la infancia, el
cuerpo, la tradición cultural, los mitos, el devenir, la imaginación, la escritura (las
señales, los garabatos), la utopía – como resistencia contra las lógicas
destructivas del progreso técnico y de la guerra en Colombia.
PALAVRA-CHAVE: habitar; hábitat; utopia.
Cristian Souza de Sales
TITULO:
EESMERALDA
RIBEIRO
E
MIRIAM
ALVES:
DUAS
PERFORMANCES INTELECTUAIS AFRO-BRASILEIRAS REESCREVENDO O
CORPO
RESUMO: O presente artigo tenciona refletir como duas performances
intelectuais afro-brasileiras contemporâneas agenciam discussões sobre a escrita
literária de autoria negra e as formas de escrita do corpo. O trabalho apresenta a
emergência desses discursos literários que se insurgem no campo cultural, social
e político, munidos de um engajamento intelectual frente às demandas e
situações de desigualdade experimentadas historicamente por grupos
considerados minoritários. São textualidades produzidas fora do ângulo da visão
tradicional de abordagem artística que abalam o estatuto do sublime, do belo, do
inatingível, da autoridade e da legitimidade instituídas pelo cânone literário. Para
tanto, através dos textos poéticos de Esmeralda Ribeiro e Miriam Alves, busco
utilizar o conceito de performance como operador analítico, pois me interessa
compreender teoricamente como uma postura crítico-reflexiva engajada e
assumida nas produções de escritoras negras e seus gestos performativos,
potencializa tensões e deslocamentos nos modos de representação hegemônica
construídos para o(s) corpo(s) negro(s). Nele, serão utilizados os seguintes
referenciais teóricos: Schmidt (1995), Hooks (1996), Dallery (1997), Duarte
(2011), Hall (2003), Setenta (2008), Carlson (2010), entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia afro-brasilei; Corpo; Performance.
Cristiane Antunes
Rosani Úrsula Ketzer Umbach
TITULO: A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE LÉSBICA NA LITERATURA
BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo questionar e analisar a representação
da figura homossexual feminina na literatura contemporânea brasileira de
autoria feminina, especialmente nas obras Todos nós adorávamos caubóis, de
Carol Bensimon, e Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles. Nesse intuito,
serão entrecruzados pressupostos da narratologia, dos estudos de gênero e
identidades e dos queer studies. A problemática da literatura de autoria feminina
que traz, em sua construção estética, personagens homossexuais femininas,
engloba, inevitavelmente, a questão político-social dessas categorias. A mesma
invisibilidade (ou pouca visibilidade) da figura homossexual feminina percebida
na sociedade, nas discussões sobre sexualidade feminina, e no próprio
feminismo, é evidente na literatura brasileira contemporânea. Homossexuais,
desde sempre, em nossa sociedade, foram miscigenados, excluídos e
marginalizados; no contexto da literatura não é diferente. Foi possível perceber,
na construção do presente trabalho, que a representação da mulher lésbica não é
comum e, quando acontece, é uma representação repleta de estranheza. A figura
homossexual feminina ainda parece ser uma espécie de ser exótico e inexplorado
na literatura brasileira. As obras supracitadas, que trazem, em sua composição,
personagens homo e bissexuais, mostram-se terreno fértil para análise das
especificidades literárias e técnicas narrativas utilizadas e dos modos de
representação, através da construção das personagens, desses grupos.
Percebemos a pertinência do questionamento de noções como
heteronormatividade na construção dessas personagens, compreender as
implicações históricas e sociais dessa representação; da mesma forma, ficou
evidente a importância de explorar e trazer à luz as eventuais particularidades de
uma estética que apresenta tema tão negligenciado (ou destorcido) pela tradição
literária.
PALAVRA-CHAVE: Homossexualidade; Contemporâneo; Representação.
Cristiane Felipe Ribeiro de Araujo Côrtes
TITULO: MACABÉA E PONCIÁ VICÊNCIO: O SILÊNCIO COMO RESISTÊNCIA
AOS PROCESSOS HISTÓRICOS DE OPRESSÃO
RESUMO: O Espaço Literário pode agregar a comunicação e sua impossibilidade
mesmo que num gesto paradoxal que reúne elementos próprios da experiência
do impossível para a humanidade. É nessa esteira que este trabalho se encontra,
objetivando levantar as possibilidades para a leitura de textos de autoria feminina
que traduzem as relações históricas de gênero e subalternidade para uma
linguagem literária marcada por não ditos, ausência ou fragmentos. O que nos
será caro é justamente perceber, no espaço literário, a capacidade de subversão
da lógica da fala/ discurso e suas relações de poder na sociedade. Os
desdobramentos do período da escravidão e da migração nordestina são nosso
leitmotiv para se pensar, à luz das discussões de, entre outros, Foucault, Spivak e
Agambem, em que medida o silêncio das personagens de Clarice Lispector e
Conceição Evaristo, Macabéa e Ponciá Vicêncio, respectivamente, pode ser lido
como contra-discurso, resposta a uma perspectiva histórica opressora.
Pretendemos evidenciar a particularidade com que essas narrativas lidam com o
fragmentado, performatizando as relações de subalternidade presentes na
sociedade e revertendo a perspectiva de silêncio como subserviência. A hora da
estrela e Ponciá Vicêncio, são, nesta ótica, obras que podem subverter a noção de
subalternidade ligada ao silêncio por apresentarem, em suas personagens, um
silêncio nauseabundo, desestabilizador.
PALAVRAS-CHAVE: Gênero; Subalternidade; História.
Cristiane Marques Machado
TITULO: TRANSFAVELA: A FÅBULA DO LUGAR NO SAMBA
RESUMO: O presente estudo analisa, sob o viés da Geografia Cultural,
Humanística e Fenomenológica, e a partir do estudo de letras de samba, um
fenômeno geográfico brasileiro contemporâneo que completa mais de 100 anos
na cidade do Rio de Janeiro: a favela. Na fábula cantada pelo sambista (sujeito
nacional), a favela é simbolizada, dessimbolizada e ressimbolizada,
transformando-se em uma transfavela que, como parte da paisagem carioca,
brasileira, nos representa, sim, sem contudo deixar de transgredir a própria
geografia, expandido-nos para além dos limites do local e do nacional e
redesenhando os morros cariocas com as tonalidades de fábula do lugar
(BESSIÈRE, 1999). Se, na literatura, temos escritores que contribuíram para a
composição de fábulas de cidades, regiões e/ou países, tornando indissociável sua
relação com os lugares (como no caso de Dublin/Joyce, Sertão/Guimarães,
Trópicos/Lévi-Strauss, Praga/Kafka e Lisboa/Pessoa), também é possível
afirmar que se revela intrínseca a relação entre o espaço da favela e a produção
musical dos sambistas. Do mesmo modo que ocorre na literatura, nas letras de
samba, imaginário e realidade encontram-se extremamente imbricados. Nesse
sentido, é possível afirmar que, se certos autores se tornaram autores de suas
cidades, também os sambistas podem ser considerados autores da favela. Em sua
fábula cantada ao som de cavaco, pandeiro e tamborim, pressupõe-se a
impossiblidade da fixidez do lugar, uma vez que, por intermédio do samba, a
favela se desloca e empreende travessias que vão do periférico ao centro,
estabelecendo-se sua reinvenção e transmutação em Favela-Mundi, que repica,
no ouvido do mundo, a voz dos bambas que nela vivem ou viveram de fato ou
poeticamente.
PALAVRAS-CHAVE: samba; transfavela; geografia.
Cristiane Navarrete Tolomei
TITULO: EÇA DE QUEIRÓS NA DÉCADA DE 1980
RESUMO: O estudo apresentado nesta comunicação intitulada “Eça de Queirós
na década de 1980” é o resultado parcial da pesquisa de pós-doutoramento
vinculada à linha de pesquisa "Fontes Primárias e História Literária" do
Programa de Pós-Graduação em Letras da Faculdade de Ciências e Letras –
campus Assis e tem por objetivo analisar as seções "Ensaio", "Entrevista" e
"Resenha" no periódico de Lisboa denominado Jornal de Letras, Artes e Ideias
_JL_, para avaliar como uma publicação literária e cultural de grande circulação
divulga a imagem de Eça de Queirós de 1981 a 2014, observando a frequência,
variações no conteúdo das críticas com a mudança no quadro de colaboradores
(críticos, escritores, pesquisadores) e contexto sócio-político-cultural. Para a
presente comunicação, apresentaremos as perspectivas críticas que percorreram
as páginas do JL entre 1981 e 1989, observando as intenções dos colaboradores à
luz da história literária queirosiana e apresentando o diálogo entre as publicações
sobre Eça neste importante periódico português com as mais renomadas críticas
queirosianas visando a comprovar o valor dos textos do JL, verificando como eles
dão continuidade à tradição crítica sobre Eça ou inovam em relação ao que já foi
produzido a respeito do escritor português.
PALAVRAS-CHAVE: Eça de Queirós; Periódico; Crítica.
Cristiane Rodrigues de Souza
TITULO: O FAZER POÉTICO DE MÁRIO DE ANDRADE COMO FORMA DE
DISSONÂNCIA MODERNISTA
RESUMO: O modernismo brasileiro surge como voz dissonante, no início do
século XX, ao questionar a produção literária vigente, concebendo, por meio da
deglutição antropofágica das vanguardas europeias, formas de fazer literário
mais apropriadas à época moderna. Ao mesmo tempo, o Modernismo voltou o
olhar para o interior do Brasil, valorizando as expressões populares e
incorporando-as ao próprio discurso. A linguagem literária formada da mistura
do primitivo, recolhido em meio ao povo, e das inovações modernas, índice da
identidade brasileira, é a maneira encontrada por eles para modificar o cenário
do século XX. No entanto, a procura da identidade brasileira e da forma que a
traduza ultrapassa o primeiro momento modernista, como se pode perceber por
meio do estudo de poemas da época madura de Mário de Andrade. Os grupos de
poemas de amor dessa fase, como “Poemas da negra” e “Girassol da madrugada”,
retomam a estrutura musical das danças dramáticas populares, estudadas pelo
poeta-pesquisador, aproximando-se das etapas do mito da procura que marcam
esses bailados. Assim, os versos amorosos do poeta confundem-se com a procura
da definição da face complexa e musical do país, cujos ritmos populares são
absorvidos pelo poeta erudito. Além disso, os poemas de amor, assim como o
grupo de poemas “Rito do irmão pequeno”, deixam transparecer reflexões sobre
o fazer artístico, já que a busca da fusão de opostos, elemento das danças
dramáticas, indica a procura da totalidade dada pela obra de arte, conforme
Schiller. A percepção de afinidades entre a criação poética e a entrega amorosa
nos versos do poeta enseja o estudo de aspectos relevantes de grupos de poemas
da fase madura – “Poemas da negra”, “Girassol da madrugada” e “Rito do irmão
pequeno” – que conduz à compreensão da poética mariodeandradiana,
dissonante em relação ao seu tempo.
PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade; amor; criação poética.
Cristiano Camilo Lopes
TITULO: CRÔNICAS DE NÁRNIA DO TEXTO PARA A TELA: UM ESTUDO
COMPARADO ENTRE A LITERATURA JUVENIL E O CINEMA
RESUMO: O objetivo desta comunicação é comparar o livro Crônicas de Narnia,
de C. S. Lewis, e sua adaptação fílmica, sob o estudo da personagem Aslam. O
intuito é verificar as escolhas estéticas para o conjunto de semelhanças e
diferenças verificadas na passagem do livro ao filme. Operando-se com dois
campos narrativos diversos, e que possuem, cada qual, formas específicas de
linguagem, é central, nesta reflexão, procurar entender como se configura o
discurso teológico (que se sabe próprio do escritor) no livro e que tipo de releitura
promovida pelo filme vai mobilizar modificações (ou não) no que diz respeito à
construção desse mesmo discurso. Para Lewis, os contos de fada foram a melhor
forma encontrada para falar das questões inerentes ao homem e sua vivência
(entre elas o sagrado). Seu objetivo foi despir questões do sagrado veiculadas ao
universo religioso para dotá-las no universo ficional de seu aspecto potencial
mitológico: "O homem imaginativo que existe em mim é mais arcaico, mais
continuamente operativo, e nesse sentido mais básico do que o escritor ou crítico
religioso” (LEWIS, 1982) Assim, a partir dessas considerações, esta comunicação
se desenvolverá em torno das seguintes problematizações: 1. Como o discurso
teológico proposto pelo autor se configura no livro e no filme?; 2. Como se dá a
construção desse discurso por meio da análise da personagem Aslam da obra
literária e da obra fílmica? Entendendo-se que cada produção dialoga com sua
época, com seu público, pretende-se verificar se alguns temas apontados pela
fortuna crítica do autor estão (e como estão) presentes no filme
PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil; C. S. Lewis; adaptação.
Cristiano Moreira
TITULO: A EPÍGRAFE COMO BRECHA: OSMAN LINS LEITOR DE POESIA
RESUMO: O crítico italiano Alfonso Berardinelli e, seu livro Da poesia à prosa
acusa a crescente separação entre a prosa e a poesia ao longo do século XX, do
lado da poesia, o mito e do lado da literatura, as ideias. Para Theodor Adorno a
não transparência é uma característica da lírica moderna. Ainda assim essas
fronteiras acabam por ser borradas à medida em que o século avança. Por sua vez,
Walter Benjamin, influenciado pela leitura de Baudelaire associa as
manifestações da natureza à linguagem poética motivada pelas semelhanças
dando potência às imagens, mas do que às mensagens. A produção literária de
Osman Lins é bastante estudada por inúmeros pesquisadores que se debruçam
sobre o romanesco, o teatral e o ensaísmo. Por meio das semelhanças e
potencialidades das imagens em Osman Lins tomamos a figura do arado como
emblema para ler o Osman Lins leitor de poesia. A partir da aparição de Deolindo
Tavares e de textos sobre poetas nordestinos como Mauro Mota, Zila Mamede e
Acenso Ferreira, recuperamos a importância da poesia na produção narrativa do
autor de Avalovara. A epígrafe funciona aqui como uma espécie de juízo final, a
poesia presenta na obra de Osman Lins mas que não é vista, camuflada pela
prosa.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Narrativa; Nordeste.
Cristina Carneiro Rodrigues
TITULO: OS TRADUTORES DA COLEÇÃO BIBLIOTECA HISTÓRICA
BRASILEIRA
RESUMO: A coleção Biblioteca Histórica Brasileira, idealizada pelo editor José
de Barros Martins, foi publicada de 1940 a 1952 pela Livraria Martins Editora, de
São Paulo, e tinha como objetivo a divulgação de obras sobre história, geografia e
sociedade brasileiras. Relatos de viajantes estrangeiros considerados mais
significativos em relação a esses aspectos foram selecionados e incluem Debret,
Saint-Hilaire, Léry, Kidder. Foram apenas 19 os títulos editados, 17 deles
traduções, muitas delas apresentadas por Rubens Borba de Moraes, o editor da
coleção até seu décimo quinto volume. São edições bem cuidadas gráfica e
editorialmente, e a maior parte delas tem prefácios e notas dos tradutores ou de
especialistas no assunto. Neste trabalho vou apresentar os tradutores dessas
obras, alguns intelectuais de prestígio na época, como Sérgio Milliet, Sérgio
Buarque de Holanda, Gastão Penalva, Afonso Arinos de Melo Franco e o próprio
Rubens Borba de Moraes, tendo como foco específico como eles se manifestaram
em prefácios e notas.
PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca Histórica; História da Tradução; Tradutor.
Cynthia Agra de Brito Neves
TITULO: LETRAMENTO LITERÁRIO E GÊNEROS POÉTICOS EM TRAVESSIA
NAS SALAS DE AULA DO BRASIL E DA FRANÇA
RESUMO: Este trabalho baseia-se em uma pesquisa contrastiva entre currículos
e avaliações oficiais do Brasil e da França, em especial, o Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM) e o Baccalauréat (bac), atentando para o tipo de formação
literária que se almeja dos alunos nessa faixa de escolaridade cá e lá. Observamos
ainda um total de 90 horas de aulas de Língua Materna (LM) em classes de dois
lycées de Grenoble, na França, e de três escolas (pública e particulares) de ensino
médio no interior de São Paulo, Brasil, acompanhando atividades que envolviam
práticas de leitura em voz alta e escrita de gêneros poéticos em sala de aula, com
o objetivo de buscar, sob esta perspectiva, heranças e influências da pedagogia
francesa no ensino-aprendizagem de literatura no ensino médio nacional.
Constatamos que, por detrás dos muros dos lycées franceses e das escolas
brasileiras, há muito mais semelhanças nas práticas pedagógicas que diferenças.
Tanto cá quanto lá, os alunos procuram burlar os formalismos poético e
institucional ao se interessarem pela pessoa do poeta, ao soltarem a voz no rap de
protesto, ao interpretarem Rimbaud à sua maneira, ao escreverem poesias com
palavras vulgares, enfim, ao se deixarem tocar pelo discurso poético, seja na
leitura ou na escrita poéticas, os alunos (re)encontram sua posição de sujeito, sua
dignidade, sua condição humana, sua cidadania, um trabalho quase-psicanalítico
na (re)construção de si; os alunos-leitores-escritores de poesias ao (se) ler, (se)
dizer, (se) escrever, se colocam no mundo. Por isso defendemos que os gêneros
literários e poéticos devam ocupar o centro e não a periferia do processo
educacional.
PALAVRAS-CHAVE: letramento literário; gêneros poéticos; Bac-Enem.
Débora da Silva Chaves Gonçalves
TITULO: LUGARES REINVENTADOS: TRÂNSITO E MEMÓRIA EM O IRMÃO
ALEMÃO, DE CHICO BUARQUE
RESUMO: A narrativa contemporânea apresenta uma série de possibilidades que
configuram um mapeamento em torno da memória. Essa experiência faz com que
haja uma troca simbólica que vai de lugares reais a lugares imaginados, criando
uma espécie de transfiguração artística da história que, ao que parece, confunde
e instiga o leitor, fazendo com que ele tenha a falsa impressão de dominar os
lugares que são usados como cenários, e ainda, como forma de legitimar a
narrativa. Sendo assim, este artigo analisa o papel da memória a partir dos
deslocamentos e dos trânsitos que se materializam em seus personagens, usando
como objeto de estudo o livro O irmão Alemão, de Chico Buarque de Holanda. O
objetivo dessa proposta é pensar os meios utilizados pelo escritor, mostrando sua
construção no texto, a partir de uma abordagem que transita entre a realidade e
a ficção, que converge para um diálogo entre a memória, a história e as
identidades.
PALAVRAS-CHAVE: lugares; memória; O irmão Alemão.
Déborah Scheidt
TITULO: JOSÉ DE ALENCAR, HENRY LAWSON E O NACIONALISMO
LITERÁRIO NO BRASIL E NA AUSTRÁLIA
RESUMO: A segunda metade do século XIX se caracteriza como importante fase
de transição e intensa movimentação política no Brasil e na Austrália. Também é
nesse período que se acentuam os esforços para a criação de uma literatura
emancipatória nos dois países. Ao utilizar técnicas narrativas específicas,
organizar temática e formalmente os universos literários de modo a fazer com
que brasileiros e australianos comecem a enxergar a si mesmos nos enredos e
produzir uma vasta obra crítica como jornalistas, ensaístas e comentaristas
políticos e sociais, os autores José de Alencar (1829-1877) e Henry Lawson (18671922) se destacam como figuras altamente comprometidas com a criação do que
Benedict Anderson chama de “comunidades imaginadas”. Quanto aos meios de
comunicação com os leitores, ambos fazem hábil uso da imprensa –
principalmente nas modalidades jornal e revista – para atrair a adesão popular
necessária para a consolidação da percepção de nação. Entretanto, as concepções
de ordem social nos dois autores são quase que diametralmente opostas. Para
Alencar, noções de progresso e do bom funcionamento da sociedade são
baseadas, de modo ambivalente, tanto na rejeição de padrões portugueses quanto
na observância “cordial” de uma hierarquia tradicionalmente portuguesa e
residuária do Brasil colonial, como se observa em seu romance O sertanejo. Os
contos de Lawson, tais como “The union buries its dead” e “Send round the hat”,
por outro lado, rejeitam as relações de hegemonia de classe e de subalternidade
herdadas da Grã-Bretanha, elegendo o igualitarismo e o companheirismo
masculinos como regras de convivência básicas e uma espécie de antídoto contra
os rigores do meio, as grandes distâncias e a solidão do interior australiano. Mais
do que figuras meramente representativas do “espírito dos tempos”, Alencar e
Lawson contribuíram voluntária e ativamente para configurar o seu tempo e
tornaram-se figuras seminais da pós-colonialidade em seus países.
PALAVRAS-CHAVE: José de Alencar; Henry Lawson; Nacionalismo.
Décio Torres Cruz
TITULO: TRADUZINDO POESIA MEDIEVAL EM CINEMA: REPRESENTAÇÃO
DE GÊNERO EM "THE CANTERBURY TALES" DE CHAUCER
RESUMO: Este trabalho irá abordar o modo como sexualidade e questões de
gênero foram traduzidas da obra The Canterbury Tales [Os contos de Cantuária]
(1478) do escritor inglês Geoffrey Chaucer para a linguagem cinematográfica.
Este longo poema narrativo escrito em inglês médio (fase posterior ao inglês
antigo) teve diferentes adaptações para o cinema e televisão. Centraremos nossa
discussão nas adaptações de Pier Paolo Pasolini (1972) e na versão de animação
produzida pela BBC do País de Gales. Existem ainda uma adaptação de 1944 para
o cinema, A Canterbury Tale, dirigida por Michael Powell e Emeric Pressburger e
Canterbury Tales (2003), uma adaptação da BBC para a televisão. Por questões
metodológicas, não abordaremos essas duas últimas.
PALAVRAS-CHAVE: The Canterbury Tales; cinema e literatura; poesia e cinema.
Daniel Christovão Balbi
TITULO: A ESCRITA DE UMA TRADIÇÃO: VIANINHA PROPÕE UMA
HISTÓRIA RECENTE PARA TEATRO NACIONAL
RESUMO: A história da dramaturgia moderna no Brasil é anterior ao surgimento
de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, não obstante parte da crítica teatral
brasileira conferir-lhe todos os louros do pioneirismo e ineditismo. Em
perspectiva materialista, todavia, pensando as vicissitudes da formação do
sistema literário – descontinuidades, rupturas, soluções arrojadas etc. –, a
história de uma forma estética proeminente, que tenha força de estilo e se
imponha como parâmetro, reclama mais rigor. Desse modo, pode-se dizer que,
desde o início do século XX, a reorganização das trupes itinerantes, o
estabelecimento de algumas companhias amadoras nos grandes centros, o
enfraquecimento, aliás, da oposição entre profissionalismo e amadorismo, no
contexto da perda da relativa importância que o teatro apresentava como
entretenimento urbano e público, apontam para uma transformação da forma
que se processa ao longo de décadas, do qual fazem parte tanto as produções de
Nelson Rodrigues como os resultados do TBC e as conquistas experimentais do
ARENA. Vianinha viveu o teatro como problema, no sentido do empenho na
construção de um material que fosse nacional, engajado, instrumental, universal
e esteticamente autônomo, tudo o que, dentro daquilo que as teorias e
historiografias da arte costumam registrar, é tido como contraditório. Viveu o
teatro como problema também em virtude de ter atuado no e pelo teatro,
desempenhando as funções de ator, escritor, produtor, organizador de categoria,
propositor de um espaço cultural estável. Dessa forma, procura-se analisar como,
ao longo de sua extensa produção teórica e crítica sobre o teatro brasileiro,
Vianinha propõe a sua história recente, sobretudo investigando qual a
pertinência do relevo que atribui ao ARENA na formação e consolidação do teatro
moderno. Isto significa investigar os pressupostos que consubstanciam a
historiografia dessa companhia que Vianinha nos apresenta, suas relações
históricas e ideológicas estruturantes, tomando como base artigos escritos entre
1958 e 1965.
PALAVRAS-CHAVE: Vianinha; Arena; Historiografia.
Daniel Conte
TITULO: O PAÍS DO ESPETÁCULO OU A DESFRONTEIRA DO HUMANO EM
TERRA AVULSA DE ALTAIR MARTINS
RESUMO: Em entrevista publicada na Revista Nacional de Estudios Literarios de
la Universidad Nacional Autónoma de Nicaragua, em 2010, Altair Martins aceita
a hipótese de que a cidade é imagem e cenografia fundamentais em suas obras.
Faz essa referência como se estivesse surpreso com a contundência da questão,
assim, a tiro curto. E de fato é isso que ocorre. Se lançarmos um olhar em sua
poética, perceberemos, desde Como se Moesse Ferro (1999), Dentro do olho
dentro (2001), Se choverem pássaros, (2002) e Enquanto água (2011) obras que
reúnem narrativas curtas ou, ainda, A Parede no Escuro (2008) e Terra Avulsa
(2014), que o labirinto urbano oferece a seus atores uma condição única de
edificação. O sujeito histórico representado pelos e nos narradores de suas obras
representam um não-tempo que evidencia problemas que estão incrustados em
qualquer sitio que se pretenda urbano: o excesso do espaço físico que transborda
nas ruas – o ser humano e o excesso do espaço subjetivo que transborda no vazio
– a solidão. Tudo isso que invariavelmente em algum lugar no espaço ou no
tempo será elemento balizador, recorrente e irresolúvel, gesta fronteiras no/para
o sujeito. Esta investigação pretende lançar olhares sobre as fronteiras do
humano que se desenham na urbe, a partir de Terra Avulsa. Bachelard,
Baudrillard, David Riesmann, Erwing Goffman, Lewis Munford, Lynch e
Pesavento servirão de base teórico-crítica.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Sujeito; memória.
Daniel Marinho Laks
TITULO: MODERNISMOS E AUTOCONSCIÊNCIAS DA MODERNIDADE:
UMA RELAÇÃO ENTRE AS PROPOSTAS ESTÉTICAS DE MÁRIO DE
ANDRADE E ALMADA NEGREIROS
RESUMO: Estudos comparativos sobre modernismo brasileiro e modernismo
português tradicionalmente espelham-se nas relações com modernismos
produzidos em centros europeus que vivenciaram anteriormente uma
experiência de modernidade. Essa ideia parte da concepção de que modernismo
é a resposta cultural à vivencia da modernidade, entendida como uma linha
contínua de avanços tecnológicos ligados à expansão capitalista. O modernismo
brasileiro e português é pensado enquanto um discurso tecnicamente inovador,
produzido em outros lugares e aplicado em países periféricos. Assim, as propostas
estéticas de autores como Mário de Andrade e Almada Negreiros são
interpretadas a partir de relações de influência de movimentos como o futurismo
italiano em detrimento de suas particularidades e especificidades. O presente
trabalho se propõe a repensar as relações entre modernidade e modernismo a
partir da proposta estabelecida por Perry Anderson (1984), de que um estado
irregular de modernidade seria um dos pré-requisitos fundamentais para o
desenvolvimento do modernismo. O surgimento de diferentes focos modernistas
ao longo do tempo comporia, dessa forma, um complexo mapa geopolítico com
coordenadas específicas, que dialogam umas com as outras e com suas
necessidades internas. Pretendemos assim, discutir as produções estéticas de
Mário de Andrade e Almada Negreiros enquanto estetizações das formas de vida,
a partir de uma autoconsciência particular de pertencimento a um período de
viragem de época, que gerou necessidades interiores até então inexistentes. Esta
noção de autoconsciência da modernidade foi mediada, tanto no caso dos dois
artistas quanto ao longo de diferentes épocas, por uma determinada
compreensão histórica, frequentemente diferente das compreensões históricas
anteriores. Pretendemos, portanto, diferenciar a autoconsciência histórica de
pertencimento à modernidade de Mário de Andrade e Almada Negreiros de
outros períodos onde se experimentou uma experiência de viragem temporal,
para estabelecer um improvável confronto de singularidades ao privilegiar o
estudo da produção estética desses dois escritores, aparentemente incomparáveis
porque radicalmente individuais.
PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade; Almada Negreiros; Consciência
moderna.
Daniel Vecchio Alves
TITULO: QUESTÕES ACERCA DO “IRREALISMO
LITERATURA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA
CULTURAL”
NA
RESUMO: Desde Herculano, Garret e a Geração de 70 difundiu-se a leitura crítica
de um Portugal doente, de vida coletiva embebida no imaginário épico. Tal
imaginário é uma herança cultural da era das navegações ultramarinas que serviu
a políticos e escritores ufanistas dos séculos subsequentes, para disfarçar a
decadência político-econômica vivida durante longo tempo no país. O que nos
importa salientar aqui é que os mesmos imaginários de outrora foram
determinantes na vida lusitana ao longo dos séculos XX e início do XXI. Dessa
forma, nos concentraremos nos estudos críticos de Eduardo Lourenço e Miguel
Real que, além de constatarem a presença de “um irrealismo cultural existente
entre o discurso oficial do Estado, dominante na imprensa escrita” (REAL, 2012,
p.91), concordam na representação desse aspecto no discurso literário, marcando
presença em muitos romances portugueses. Na atual literatura portuguesa, a
modelação alegórica específica desse farsante código consiste em uma reposição
formalmente mais complexa dos cenários da história oficial de Portugal, marcada
pela quebra do regime de silêncio dessa história, tendo por base um acentuado
fluxo de consciência de seus anti-heróis. Exploraremos a representação literária
desse “irrealismo cultural”, que em algumas obras resulta em uma provocante
alegoria de efeito irônico, tendo como principal finalidade representar um
presente impregnado de misticismo e subitamente pleno de personagens e
aventuras oníricas. Reescreve-se, assim, a história portuguesa, colocando em
xeque a mentalidade épica ainda tão divulgada e compartilhada no país.
Observaremos, portanto, que diante de uma discussão cultural de tão longa data
na cultura portuguesa, torna-se evidente haver o imaginário exercido grande
influência na formação de sua nacionalidade. Nesse viés, nos ateremos à leitura
de duas obras literárias produzidas em Portugal: a Peregrinação de Barnabé das
Índias (1998) do portuense Mário Cláudio, e a O Conto da Ilha Desconhecida
(1997) de José Saramago.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; História; Alegoria.
Daniela Maria Segabinazi
TITULO: TURMA DA MÔNICA JOVEM EM “OS CLÁSSICOS ESTÃO SEMPRE
NA MODA”
RESUMO: A literatura juvenil contemporânea tem apresentado uma riqueza de
qualidade em sua produção, especialmente, nos conteúdos temáticos que
abarcam um olhar multifacetado da sociedade atual. Além disso, tem explorado
um conjunto de aspectos, como a linguagem e o projeto gráfico, que somam para
o elevado teor estético das obras. Entretanto, as obras clássicas e já renomadas
na crítica literária, bem como já consolidadas nas leituras dos leitores juvenis,
ainda permanecem com vigor nas publicações contemporâneas, inclusive,
recebendo contornos e novas roupagens a partir de adaptações, sejam para o
cinema, para o teatro e para as histórias em quadrinhos, entre outros modos e
suportes. Em visto disso, o presente trabalho objetiva abordar e analisar a
adaptação da obra Alice no país da maravilhas, de Lewis Carroll, para o gibi em
estilo mangá da Turma da Mônica Jovem, de Maurício de Sousa. Nessa
perspectiva, de (re)criações, de diálogo e interfaces entre o passado e o presente,
buscamos reconhecer as mudanças necessárias ao processo de (re)escrita e
(re)leitura da obra original, configuradas no contexto e texto da HQs, bem como
a representação da personagem Alice e Mônica, o que resulta na renovação e
consagração do texto original a partir de novos sentidos. Busco, assim, discutir os
diversos entendimentos teóricos e críticos a respeito de intertextualidade e
adaptação (AMORIM, 2005; CARVALHO, 2006; CECCANTINI, 2004;
DIONÍSIO, 2012; FORMIGA, 2009; STAM, 2006) que circulam, no âmbito
acadêmico a respeito das adaptações literárias, que passam a ser compreendidas,
como: recriação, paráfrase, paródia, reescritura, vislumbrando uma [nova]
nomenclatura para esses textos.
PALAVRAS-CHAVE: Adaptação; História Quadrinhos; Intertextualidade.
Daniela Palma
TITULO: O LOCUS DO OLHAR E O ARQUIVO DA PALAVRA: O SERTÃO DE
ROSA PELAS EQUIVALÊNCIAS FOTOGRÁFICAS DE MAUREEN BISILLIAT
RESUMO: Cordisburgo, Curvelo, Corinto, seguindo pelos Gerais até Januária. O
roteiro que a fotógrafa inglesa Maureen Bisiliatt percorreu em quatro viagens,
compreendidas entre 1962 e 1964, fora rabiscado, um pouco antes da primeira
jornada, pelo próprio Rosa. Era o primeiro trabalho em que Bisilliat propunha
fotografar em diálogo explícito com a literatura, um expediente que ela mesmo
chamou de “equivalências fotográficas”. A proposta da comunicação é ler a
relação intermidiática entre fotografia e literatura, a partir da obra de Bisilliat, no
diálogo que suas imagens e textos (fragmentos, frases, sintagmas que a fotógrafa
retira da obra de Rosa e remonta em versos que acompanham as fotografias)
estabelecem com o romance. A proposta não recai em interpretações de “Grande
Sertão:Veredas” em si, mas na recriação fotográfica de Bisilliat. Exploramos o
romance como texto-fonte, ressaltando a noção de fonte (a partir de Benjamin,
Derrida, Didi-Huberman), como o que não se situa em um ponto espaçotemporal fixo e preciso, mas justamente como as possibilidades de
entrelaçamentos de espaços e tempos que atuam como potência poética. Assim,
por essa noção de fonte, o romance funciona também como arquivo para a
fotógrafa, um arquivo formado de palavras com potencial constante de gerar
imagens. Como interpretação da palavra literária, as imagens de Bisilliat
serviriam de reforço ao movimento, já iniciado no romance, de magicização da
palavra – movimento de imaginação (Flusser). Esse arquivo é também um mapa,
uma vez que o percurso tradutório é também um percurso espacial, é viagem.
Para fotografar, o acesso físico é imprescindível. Partia, então, a fotógrafa
estrangeira a conhecer o país pelas entranhas, a percorre o sertão, conduzida,
através de tempos e espaços – ou melhor, de tempos que fazem espaços –, pelas
palavra recordatória de Teobaldo e pelas visões de Rosa.
PALAVRAS-CHAVE: intermidialidade; literatura; fotografia de viagem.
Daniela Silva da Silva
TITULO: UMA HISTÓRIA CULTURAL DA POLÊMICA NO JORNAL GAZETA
DO POVO: UM ESTUDO DE CASO DAS BIOGRAFIAS
RESUMO: Como os leitores dão sentido aos textos dos quais se apropriam?
Enquanto meio de comunicação, podemos olhar para um jornal como uma
representação de uma comunidade de leitores? Em seu livro, A história ou a
leitura do tempo (2010), o historiador francês Roger Chartier recorda que “a
leitura também tem uma história (e uma sociologia), e que o significado dos
textos depende das capacidades, das convenções e das práticas de leitura próprias
das comunidades que constituem, na sincronia, ou na diacronia, seus diferentes
textos” (p. 37). A sociologia dos textos, segundo Chartier, “insiste na
materialidade do texto e na historicidade do leitor com uma dupla intenção”
(p.38). Sendo assim, o presente trabalho, tem por objetivo estudar como a
polêmica em torno da publicação ou não das biografias circulou no jornal
paranaense Gazeta do Povo, no Caderno G. Para tanto, recortamos três matérias,
uma envolvendo Ruy Castro (2013), outra Domingos Pelegrini (2013) e uma
terceira acerca de Paulo César de Araújo (2014). Como leitor dessas polêmicas
que sociologia da cultura o jornal constrói? Segundo Carlos Süssekind de
Mendonça, (1938) “era a polêmica, então, o entretenimento predileto dos
intelectuais do Recife”, no século XIX. Há uma coincidência histórica, em temos
sincrônicos e/ou diacrônicos, ou ressonâncias entre o ato de polemizar no século
XXI e o que acontecia no oitocentos? O modo como os fatos sociais são lidos pelo
jornal formulam um significado para cultura, e para o próprio ato de ler, por meio
de uma comunidade que se apropria desse fato e o interpreta à luz de molduras
histórias, o que nos permite discutir como a cultura escrita propõem, no tempo,
uma ideia de sociedade, que como a nossa, guardadas as devidas proporções, de
um lado, permite a aparição das celebridades, ao mesmo tempo em que se
comporta como um censor. ___ Referências. BURKE, Peter. O que é história
cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. BURKE, Peter. A escola dos Annales
(1929–1989). A Revolução Francesa da historiografia. São Paulo: UNESP, 1997.
BURKE, Peter. Variedades de história cultural. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2000. BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia. De
Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. CHARTIER, Roger. A
história ou a leitura do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. CHARTIER,
Roger Formas e sentido: cultura escrita, entre distinção e apropriação. Campinas,
SP: Mercado de Letras : Associacao de Leitura do Brasil, 2003. 167 p. LE GOFF,
Jacques. História e memória. Campinas: UNICAMP, 1996. LIMA, Luiz Costa. A
aguarrás do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 1989. MENDONÇA, Carlos Süssekind
de. Sílvio Romero. Sua formação intelectual, 1851-1880. Brasiliana, série 5ª., vol.
114, disponível em: http://www.brasiliana.com.br/obras/silvio-romero-suaformacao-intelectual-1851-1880. Acessado em: 15 de abr. 2015.
PALAVRAS-CHAVE: História; Cultural; Jornal.
Daniela Silva de Freitas
TITULO: O RAP, A PERIFERIA E O BRASIL
RESUMO: A redemocratização no Brasil não foi capaz de garantir à parcela mais
pobre da população o acesso à cidadania e a oferta de melhores condições de vida.
Frente à emergência de uma diferença social fortemente marcada, impedidos de
se imaginar como membros da Nação, jovens de periferias brasileiras se voltaram
para a cultura de rua negra americana em busca de novas práticas culturais que
se opusessem às representações (tão comuns ao samba e à chamada música
popular brasileira) do Brasil como uma sociedade racialmente democrática e
cordial, diversa, mas não-conflitual. É neste contexto que o rap se populariza no
Brasil nos anos 1990. Este trabalho ambiciona analisar como rappers brasileiros
– os Racionais MC’s, Sabotage, Criolo, Emicida, Gog, Mc Marechal, Renan
Inquérito e Rael da Rima – denunciam a violência, a exclusão e o racismo nas
grandes cidades e como eles representam e re-imaginam um Brasil cuja realidade
é frequentemente mantida à sombra da representação.
PALAVRAS-CHAVE: música; perifeira; representação.
Daniele Ribeiro Fortuna
TITULO: EMOÇÃO E RESISTÊNCIA NA LITERATURA DE CAROLINA MARIA
DE JESUS
RESUMO: O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados iniciais da
pesquisa “Carolina Maria de Jesus, Maura Lopes Cançado e Walmir Ayala: corpos
e emoções nos diários”, contemplada no edital da Fundação Carlos Chagas Filho
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) “Jovem Cientista
do Nosso Estado”, em 2014. O projeto busca analisar e comparar os diários dos
escritores Carolina Maria de Jesus, Maura Lopes Cançado e Walmir Ayala, tendo
como o foco seus corpos e suas emoções. Estes autores escreveram seus diários
na mesma época, na década de 1950, e fizeram de seus textos espaço de expressão
de suas emoções, de resistência e sobrevivência às dificuldades que tiveram que
enfrentar. Carolina Maria de Jesus escrevia para se sobrepor à miséria e às
dificuldades que enfrentava na favela. Maura Lopes Cançado escrevia para
resistir à loucura. E Walmir Ayala, para lidar com a sua homossexualidade. A
análise utiliza como escopo teórico estudos sobre discurso (principalmente,
Foucault, Lejeune, Arfuch e Gusdorf), Antropologia das Emoções (Le Breton e
Rezende e Coelho) e corpo (Le Breton). Nesta comunicação, será apresentada a
fase inicial da pesquisa que se concentra na literatura de Carolina Maria de Jesus.
O foco da discussão será o diário de Carolina como testemunho de uma época,
espaço de resistência e de expressão das emoções.
PALAVRAS-CHAVE: Emoção; Resistência; Testemunho.
Danielle Cristina Mendes Pereira
TITULO: A INFÂNCIA COMO ESTRATÉGIA ESTÉTICA
RESUMO: O trabalho pretende refletir sobre as relações de convergência entre as
modulações da memória e do fazer literário, muito especificamente no que toca à
produção de imagens relativas à infância, durante o Modernismo brasileiro, na
produção lírica de Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de
Andrade. A partir dessa percepção intenta-se compreender a construção de uma
ideia de infância que se arvora como uma estratégia estética, especialmente a
partir do Modernismo, no lastro das configurações emergentes, que impunham
uma nova sensibilidade em torno da pluralidade, fragmentação e
descontinuidade do pensamento, da linguagem e do sujeito. A noção de infância
como estratégia estética fundamenta-se nesse contexto e diz respeito à
organização de um discurso artístico de experimentação que impacta e é
impactado pela produção de novas leituras da realidade, apoiadas pelo
enfrentamento de códigos inovadores instaurados pelas configurações de um
mundo moderno. Como instância cultural, a infância assume discursos diversos,
frente a momentos e grupos sociais específicos. Diante do contexto em tela,
intentamos investigar a sua representação na lírica brasileira modernista,
assumindo a infância como uma categoria discursiva e situada para além de um
mero enquadramento referencial e temporal; isto implica em compreendê-la
como uma categoria discursiva que se constrói como metáfora para os processos
de subjetividade e de experimentação literária, instaurados a partir do
Modernismo, em meio ao apelo pela autonomia estética e à busca de novas
identidades e expressões poéticas, que se tecem em torno das ideias de
“novidade” e de “invenção”, por exemplo. Postulamos, assim, uma conceituação
de infância que transcende o resgate do passado – recuperação intranquila e
dilacerada - e que se postula como promessa, como latência de possíveis
descobertas e transgressões, enfrentando a problemática da memória e de seus
vãos, limites e potências.
PALAVRAS-CHAVE: Memória; Literatura; Infância.
Danielle Grace de Almeida
TITULO: OS DESLOCAMENTOS DO ESPAÇO POÉTICO NA ESCRITA DE
FRANCIS PONGE
RESUMO: Francis Ponge, no poema “Raisons d’écrire”, que compõe Proêmes
(1948), ao expor os motivos que impulsionariam a prática da escrita poética,
parece propor um deslocamento dos conceitos sobre a poesia vigentes em sua
época. Vivendo em um contexto político e literário peculiar da história francesa,
em que, por um lado, a voz de Jean-Paul Sartre ressoava forte como uma
convocação do escritor ao engajamento, e, por outro, todo um discurso da arte
pela arte se articulava, Ponge acaba por desarranjar, rearranjar os modos de ver
e sentir a realidade. Nesse livro e em outros como Le Parti pris des choses, em
que os objetos são ressignificados na relação com o espaço e a memória, o poeta
constrói uma escrita que irrompe as fronteiras então dicotômicas entre poesia e
prosa para assim destruir também os limites entre criação e crítica. O objetivo
dessa comunicação é discutir de que modo a poesia pongiana deposita nas veias
abertas da modernidade outras vias de sentido da relação do homem com o
mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Francis Ponge; poesia moderna; poesia e crítica.
Danilo Almeida Patrício
TITULO: ESTILHAÇOS ASTUTOS – INQUIETUDES E TEMPORALIDADES EM
CORPO DE BAILE, DE GUIMARÃES ROSA
RESUMO: Um livro em sete pedaços. Os visíveis, à primeira vista, anunciados
pelos índices como “novelas”, “romances” ou “poemas”. Um situar possível para
Corpo de Baile, de Guimarães Rosa. Em 1956 as 7 novelas são lançadas em 2
volumes, agregadas em volume único na 2ª edição de 1960. A partir da 3ª edição,
em 1964, seguindo até hoje, seguem as “Estórias” (que narram história) em 3
volumes que, estilhaçando a (suposta) unidade fragmentária como livro - um
Corpo, em dança – ganham novos nomes, por onde se espalham os enredos:
“Manuelzão e Miguilim”, “No Urubuquàquà, No Pinhém” e “Noites do Sertão”.
Em vez de fronteiras, na imposição de limites, existem no limiar político tecido
em repertórios artísticos da “Literatura Vida” (LORENZ, 1973, p. 318), como
lugar pulsante de História, na sua inquietude brincante (BENJAMIN, 2002). De
seu lugar iniciático, “Campo Geral”, o livro (?!) é disparado com a trajetória do
menino Miguilim, onde se joga também o artista Rosa, derramando-se no
movimento, também político, de tocar outros lugares como os bichos, plantas e
personagens incômodos, carregados no tempo, fazendo possíveis no rastro de
migalhas narrativas, em astúcias ante ao risco de monumentalização dos poderes,
como os afetos das fazendas e principalmente o progresso, em promessas e
técnicas ecoadas a partir das cidades. Tentativas de capturas, como a que mira
um (suposto) sertão essencialista, explodidas, em tensão de conflitos, pelas vias
da criação, inventiva. Como no cinema, não estritamente a técnica, mas em
perspectiva narrativa de mostrar/esconder a dizer que sempre ocorre algo ao
lado, anterior e depois do que é crivado como escrita, expandindo o que seria um
acontecer ao querer incessante que se joga às leituras, para ser usado, apropriado,
remexendo no tempo o que seria apenas definido, como se pudesse esquecer as
“ignorâncias” (ROSA, 2001, p. 246) em movimento.
PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa; Corpo de Baile; Limiar.
Danilo de Oliveira Nascimento
TITULO: REPRESENTAÇÃO OU SIMULAÇÃO DO TRÁGICO NA LITERATURA
BRASILEIRA
RESUMO: A comunicação pretende discorrer sobre a representação do fenômeno
trágico na literatura brasileira, tema de pesquisa que venho desenvolvendo há um
ano, tal pesquisa considera as perspectivas teóricas de Albin Lesky (2006),
Eduardo Lourenço (1994), Gerd A. Bornheim (1975), Glenn W. Most (2001),
George Steiner (2006), Hans Ulrich Gumbrecht (2001), Rachel Gazolla (2001),
entre outros sobre tragédia, trágico e tragicidade. A aproximação com tais
estudiosos da tragédia e do trágico pretende confirmar a dificuldade de
conceituar fenômeno trágico, assim como de entender apropriadamente as
tragédias áticas do século V enquanto paradigmas do drama e da literatura
trágica, desse modo, aceitamos a afirmação consensual entre tais estudiosos de
que o que se discute na verdade são formas de representação do trágico ou formas
de pensá-lo. A discussão em torno da representação literária do fenômeno trágico
implica outras discussões tais como o intertexto, a intenção autoral, o gênero
dramático, o contexto, a relação entre mensagem e stimulus, que permitem
identificar a natureza trágica de uma determinada obra literária e “classificá-la”
ou “rotulá-la” de trágica. Considerando que os termos “tragédia” e “trágico” são
utilizados ora como “substantivo” ora como “adjetivo”, sustentamos a hipótese de
que na prosa ficcional e na poesia brasileiras, o fenômeno trágico se manifesta ou
se simula ou através do espaço ou através das relações amorosas, sobretudo
aquelas cujos desfechos são crimes passionais.
PALAVRAS-CHAVE: Trágico; Representação; Literatura Brasil.
Danusa Depes Portas
TITULO: PROTOGRAFIAS – FORMAS QUE PENSAM
RESUMO: Como pensar o mundo contemporâneo buscando a potencia do seu
devir-imagem? A crescente tendência nos estudos das ciências humanas e sociais
pela dimensão transnacional do tráfico e da produção de imagens acompanha o
deslocamento da imagem até o centro dos debates sobre o papel da representação
nas culturas globais. Estas questões poderiam cumprir-se em dois problemaschave fundamentais: a hibridação dos campos disciplinares do cinema, da
literatura, da fotografia, da arte etc.; a relação entre a imagem e o arquivo, com
respeito à memória, à história. Nesse horizonte de problemas, o objetivo desse
trabalho será distinguir o papel constitutivo do operador-imagem na dinâmica da
imaginação ocidental e as funções políticas dos agenciamentos memorialísticos
de que se revelam portadores, valendo-se do projeto 'Protografias' do artista
colombiano Oscar Muñoz como intercessor. Muñoz tem mantido uma relação
estreita com a disciplina fotográfica, todavia, uma relação tangencial, nunca a
utiliza como o resultado final do processo. 'Protografias' mais que ilustrar uma
interpretação pré-existente sobre a transmissão de imagens oferece uma matriz
visual para démultiplier suas demandas possíveis de interpretação. A sua obra
nos interpela acerca do mistério da imagem como resíduo da vida. Sobre esse
estado de imagem, aquilo em que o Outrora encontra o Agora em um instante de
luz. Esta vontade de história é construída sobre si mesma e tonificada como uma
interrupção. O que vem dessa dobra dialética é o que Walter Benjamin chama
uma 'imagem' - montagens de significados e temporalidades heterogêneas. Uma
dialética da imagem que libera toda uma constelação, como um fogo de artifício
de paradigmas, aparecendo no umbral do figurado. Trata-se de uma construção
do pensamento capaz de não se fechar nas estritas categorias lógico-discursivas e
jogar anacronicamente para desmontar, montar e remontar (nossas) imagens de
modo a criar, a partir da visibilidade e da temporalidade, sua legibilidade.
PALAVRAS-CHAVE: cultura visual; imagem dialética; agenciamento.
Darío de Jesús Gómez Sánchez
TITULO: LITERATURA
COLOMBIANAS
E
MEMÓRIA
NAS
CIVILIZAÇOES
PRÉ-
RESUMO: Muito do que hoje conhecemos das denominadas civilizações antigas
é devido a sua criação literária, que é, assim, uma forma de permanência, de
memória de uma cultura. Mas também acontece que a história, a mitologia, a
religião, a memória mesma dessas civilizações acabou convertida em literatura.
Essa dupla relação entre memória e literatura acaba configurando a identidade
de uma cultura e pode ser ilustrada com o que hoje denominamos literaturas pré-
colombianas: registro privilegiado da existência de grandes civilizações na
América antes da chegada dos espanhóis e transformação das práticas
socioculturais dessas civilizações em literatura durante o período da Conquista.
No caso da literatura como memória, e seguindo a Jan Asman, poderíamos falar
de uma memória comunicativa, fundamentada na interação social e nas
lembranças compartilhadas por indivíduos que vivem numa época determinada.
No caso da memória convertida em literatura partimos do conceito de memória
cultural, também de Asman, a qual está cimentada na lembrança de objetivações
solidamente estabelecidas e que contribuem para constituir uma identidade. Mas
tendo presente o processo de transculturação acontecido durante a colônia que
permitiu o registro de muito do que hoje conhecemos por literaturas précolombinas, tal vez seja possível falar, além da memória social e cultural, de uma
memória imposta ou alucinada.
PALAVRAS-CHAVE: literatura; memória; pré-colombiano.
Davi Pessoa Carneiro Barbosa
TITULO: BEATO ANGELICO: O BEATO PROPAGANDISTA DO PARAÍSO
TAMBÉM TOMBA
RESUMO: A tumba de Beato Angelico (1395-1455), em Roma, na Igreja de Santa
Maria sopra Minerva, traz um vestígio paradoxal: o pintor das "semelhanças
dissemelhantes" é retratado em seu túmulo sob o regime da semelhança, seu
rosto feito a partir de sua máscara mortuária. A morada eterna do Beato é a
morada do paradoxo: o artista que passou a vida pintando figuras que operam
uma reversão do olhar, o qual não se encontra mais centrado numa figuraaspecto, imóvel pela própria imobilidade da representação mimética, torna-se
alvo do figurativo. O que antes era tropologia, ciência dos tropos (das figuras),
isto é, dos desvios de sentidos, torna-se o lugar da morada da História. No
entanto, encontramo-nos diante das tumbas implicados na presença de um
acontecimento singular, pois aquele que nos era tão próximo, tão semelhante,
passa a ser, com a mesma força, dissemelhante. Portanto, estar face a face com
uma tumba nos permite pensar o impensável: a morte, ou a vida da morte.
Georges Didi-Huberman destaca o impensável – a morte em vida – que as tumbas
nos permitem pensar. Encontrar-se diante de uma tumba é um acontecimento
singular: a morte não está situada em um além, reservada ao espaço exclusivo do
morto. Quando somos lançados no mundo ocorre uma experiência radical, pois é
também o momento – e cada vez mais em nossos dias, com todas as estratégias
biopolíticas a que estamos submetidos – em que nos distanciamos de nosso
corpo. Portanto, o desafio passa a ser o de operar uma dobra na própria soleira,
em que o interior toca o exterior e vice-versa. Assim, para confrontar tal
discussão, o percurso de leitura da comunicação passa por textos de Elsa
Morante, Roberto Longhi, Giulio Carlo Argan, Yves Bonnefoy, Dante Alighieri,
Giorgio Vasari e Georges Bataille.
PALAVRAS-CHAVE: arte; figura; tropologia.
Davi Santana de Lara
TITULO: RECEPÇÃO E LUGAR DE CAETÉS, DE GRACILIANO RAMOS
RESUMO: Este trabalho realiza uma leitura de Caetés (1933), o primeiro romance
do autor alagoano Graciliano Ramos, tendo em vista a questão do lugar que lhe é
atribuído pela crítica tanto na história da literatura brasileira quanto na tradição
da literatura mundial. Num primeiro momento, buscamos analisar o
desenvolvimento da fortuna crítica do romance em questão com um olhar
panorâmico e, a partir desta análise, duas questões capitais para a compreensão
da obra são destacadas. A essas questões são reservadas duas diferentes
subseções: “Caetés e o romance mundial” e “Caetés e a tradição interna”, cujo
objetivo central é contextualizar a obra em questão dentro destas duas tradições,
que, embora sejam estudadas separadamente, se inter-relacionam de forma
dialética. No primeiro ponto, destacamos a inserção de Caetés com a tradição do
chamado romance de província e observamos que, diferentemente da opinião de
parcela significativa da crítica, essa inserção é mais problemática do que se
supunha. No segundo, analisamos em especial a exclusão do romance do
Romance de 30, buscando observar até que ponto essa exclusão se baseou em
juízos críticos apressados sobre o romance e sobre o romance produzido no
decênio de 1930. Durante todo o trabalho, como o próprio tema sugere, buscamos
travar um diálogo franco com os comentadores da obra de estreia de Graciliano
Ramos, concordando ou discordando deles, conforme o caso, mas buscando
sempre avançar na compreensão da obra a partir do que ela tem de singular.
PALAVRAS-CHAVE: Graciliano Ramos; Caetés; Recepção crítica.
Dayana Crystina Barbosa de Almeida
Raphael Jonatham de Oliveira Soares
TITULO: “AND YOU, TOO, 'STOCK'”: AS APROPRIAÇÕES DE OBRAS DE
OBRAS DE SHAKESPEARE POR ROBERT STOCK
RESUMO: O poeta Robert Stock, um norte americano radicado no Brasil e que
circulou intensamente entre poetas e escritores, na década de 1950, em Belém,
tomou como modelo para sua própria obra o Pound da “Homage to Sextus
Propertius” (de 1917). Para Pound, sua Homage era uma obra autônoma, em que
revivia o poeta latino para o contexto da Inglaterra de seu tempo, com a finalidade
de comparar, segundo o próprio autor, “a imbecilidade inefável do Império
Romano, com a inefável imbecilidade do Império Britânico”. De modo muito
similar, o autor em estudo vai se utilizar de temas e passagens do inglês
Shakespeare (do período elizabetano) para estabelecer críticas ao
comportamento social e militar de seu próprio tempo e país. O presente trabalho
analisa dois poemas de Stock, “And You, Too, Brutus” e “Shakespeare in
Vietnam”, e as apropriações que o autor faz das peças de Shakespeare (Júlio
César/Julius Caesar e Henrique V/Henry V, respectivamente) em sua obra
poética, com a finalidade de pensar seu próprio tempo e país.
PALAVRAS-CHAVE 1: Shakespeare; Tradução; Apropriação.
Deivis Jhones Garlet Bonaldo
Lucas da Cunha Zamberlan
TITULO: O ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ, DE JOSÉ SARAMAGO: UMA
ARQUITETÔNICA DIALÉTICA E UM POSTULADO DEMOCRÁTICO
RESUMO: Este trabalho pretende uma reflexão crítica e analítica da obra Ensaio
sobre a lucidez, de José Saramago, no âmbito da crítica sociológica e dos estudos
comparados em literatura. Partindo de determinados conceitos da teoria
bakhtiniana (sobremaneira os conceitos de meio ideológico; de reflexo e de
refração do ato estético) e da ciência política (como democracia e poder),
efetuamos um diálogo com o objeto de pesquisa com o intuito de elucidar a
hipótese de que a arquitetura narrativa é essencialmente dialética, do incipit ao
explicit, tanto nas partes quanto no todo da obra, desde as categorias narrativas
ou recursos de estilo, até a relação que perpassa toda a ficção e estabelece o
movimento: o conflito, a tensão entre governantes e governados. Percebendo a
dialética como princípio estético, poderemos harmonizar forma e conteúdo, ou
seja, a forma realizando um conteúdo político valorizador da democracia e de
atitudes pautadas pela cidadania, instaurando um posicionamento axiológico no
interior do plano narrativo em conexão recíproca com a realidade concreta, com
o contexto de produção da obra, edificada, então, como um objeto-signo. Desse
modo, esclarecer a arquitetura dialética da narrativa é condição sine qua non para
a compreensão da totalidade da obra de maneira satisfatória, evitando o
escorregar para explicações sociológicas impostas ao texto literário. Para lograr
êxito em nossa proposta, tomamos como referência teórica, na área literária,
textos bakhtinianos (Bakhtin, Volochínov e Medviédev), de Antonio Candido e de
Bourneuf e Oullet; na área da ciência política serão imperiosos os trabalhos de
Giorgio Agamben e de Norberto Bobbio, entre outros. REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Tradução: Iraci Poleti. 2. ed. São Paulo:
Boitempo, 2004. BAKHTIN, M; VOLOCHÍNOV. Marxismo e filosofia da
linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem.
Tradução de Michel Laud et al. 13.ed. São Paulo: Hucitec, 2012. BOBBIO,
Norberto. O futuro da democracia. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. São
Paulo: Paz e Terra, 2000. ___. Estado, Governo, Sociedade: por uma teoria geral
da política. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
BOURNEUF, R; OULLET, R. O universo do romance. Tradução de José Pereira.
Coimbra: Almedina, 1976. CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: Estudos
de Teoria e História Literária. 11.ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010.
MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a
uma poética sociológica. Tradução de Sheila Camargo e Ekaterina Américo. São
Paulo: Contexto, 2012. SARAMAGO, José. Ensaio sobre a lucidez. São Paulo: Cia
das Letras, 2004.
PALAVRAS-CHAVE: Dialética; Democracia; Literatura.
Delma Pacheco Sicsú
TITULO: LEITURAS LITERÁRIAS COMPARTILHADAS: UMA PROPOSTA DE
ENSINO E PRÁTICA DA LEITURA LITERÁRIA COM ALUNOS DA EJA DE
UMA ESCOLA PÚBLICA DE PARINTINS
RESUMO: Literatura é conhecimento; conhecimento de outras épocas; de outros
contextos históricos e culturais que atravessa a história da humanidade e a ajuda
o Homem a enxergar a sua realidade com mais clareza e criticidade. A
contribuição da literatura na formação intelectual, pessoal e até mesmo afetiva
do homem, pode se dar por meio das narrativas que contam histórias de
diferentes épocas, de diferentes espaços, mas trazem como fundo de pano de seus
enredos, temáticas que estão na história da humanidade, levando o leitor a
manter uma relação dialógica entre o texto literário e a sua realidade. O presente
trabalho busca aliar o ensino à extensão no sentido de compartilhar com alunos
da Educação de Jovens e Adultos de Parintins leitura e análise de diferentes
narrativas literárias abarcando obras da literatura brasileira, amazonense,
portuguesa e africana contribuindo assim na formação leitora, intelectual,
cultural e pessoal desses alunos. Propõe-se, portanto, desenvolver as atividades
com alunos da EJA no sentido de suscitar-lhes o gosto pela literatura e a
compreensão de que essa arte, pelo seu caráter atemporal, universal e plural pode
levá-los fazer uma leitura mais significativa e mais crítica da sua própria
realidade. As análises das narrativas são sustentadas na Teoria da Literatura,
tratando do plano de expressão e de conteúdo às luz da Teoria da Recepção e de
outras correntes críticas literárias Para dar sustentação teórica ao projeto tomase os estudos de Culler (1999), Tavares (2002), Filho(2001), Picchio (2004),
Tinoco (2010), Eco (1994), Calvino (1990), Stuart Hall (2011) e outros que
possam contribuir para o desenvolvimento teórico do tema em questão.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Prática; Teoria;
Denise Almeida Silva
TITULO: LITERATURA NEGRA: BRASILEIRA: QUILOMBISMO, TEORIA E
PRAXIS
RESUMO: Em 1980, no II Congresso de Cultura Negras das Américas, no
Panamá, Abdias Nascimento apresentou a comunicação “Quilombismo”, em que
recordava como a memória do afrodescendente brasileiro tem, historicamente,
sido agredida pelas estruturas de poder hegemônica, distorcida e apagada. Daí
por que os negros buscaram, nos quilombos, “genuínos focos de resistência física
e cultural.” A essa prática de afirmação humana, étnica e cultural, a qual gera leva
à uma prática liberatatória e à assunção do comando da própria história,
Nascimento denomina de quilombismo. O ideal de resistência quilombola tem
estado no cerne da pratica ativista e práxis literária negra, como fica evidente, por
exemplo, já na denominação do mais consistente e persistente coletivo negro, o
Quilombhoje, responsável pela manutenção dos Cadernos negros há mais de 30
anos, já na teoria e práxis de escritores negros brasileiros, na qual recorrem a
figura emblemática de Zumbi e o ideal de uma práxis literária quilombola. Esta
submissão propõe-se a estudar a práxis dessa escrita de resistência, lugar
transgressivo de manutencão e difusão da memória e identidade negra a partir
do olhar do negro sobre o negro a partir de textos teóricos de, principalmente,
Abdias Nascimento, Conceição Evaristo e Miriam Alves, exemplificando-a
através de exemplos selecionados da ficcção afro-brasileira contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE: Quilombismo; litratura; resistência.
Denise Dias
Maria Teresinha Martins do Nascimento
TITULO: O CAMINHO DA MULHER EM MAR MORTO E CAPITÃES DA
AREIA, DE JORGE AMADO: CARACTERÍSTICA DA IDENTIDADE E
REPRESENTAÇÃO
RESUMO: Este trabalho analisa os procedimentos estéticos literários através dos
processos de hibridização nos romances: Mar morto e Capitães da areia, de Jorge
Amado. As relações de identidades, de representações são elucidadas pela
contribuição sociológica na ótica da teoria de hibridismo de Homi K. Bhabha,
Mikail Mikhailovitch Bakhtin, Nestor Canclini, Stuart Hall e, da teoria literária,
de Antonio Candido, Alfredo Bosi, Irlemar Chiampi, entre outros. Observado
principalmente, no que se refere à construção das personagens femininas das
obras escolhidas, Lívia e Dora, respectivamente, levando em conta a condição da
mulher na década de 1930. A metodologia de natureza qualitativa apoia-se no
raciocínio por dedução. A reflexão leva à percepção de que a narrativa constrói
um universo literário mesclado, híbrido, que estimula a leitura profunda das
identidades brasileiras contemporâneas e, para interpretá-las é necessária uma
ação intercultural, e interdisciplinar aproximando-as do reflexo da realidade
social, da miscigenação, e do hibridismo cultural.
PALAVRAS-CHAVE: identidade; Jorge Amado; representação.
Denise Regina de Sales
TITULO: A TEORIA LITERÁRIA RUSSA E A SUA TRADUÇÃO PARA O
PORTUGUÊS: REFLEXÕES A PARTIR DE “COMO É FEITO O CAPOTE DE
GÓGOL”
RESUMO: Nesta comunicação, serão apresentados um estudo de termos-chave
de textos russos da área da teoria literária e uma análise de suas traduções para o
português do Brasil. Leitura obrigatória de pesquisadores interessados tanto na
obra de Nikolai Vassílievitch Gógol (1809-1852) quanto no pensamento da Escola
Formalista russa, o artigo “Kak sdielana chiniel Gogolia”, de Boris Mikháilovitch
Eikhenbaum (1886-1959), consistiu no principal objeto de pesquisa. Com base na
leitura das traduções brasileiras e de seu cotejo com o original e levando em conta
considerações feitas por dois autores russos contemporâneos em seus respectivos
livros sobre tradução literária, elaboramos uma lista de termos e expressões que
consideramos essenciais para a compreensão do artigo de Eikhenbaum e de
outros textos dedicados aos estudos de literatura. Em seguida, numa abordagem
descritiva, listamos as traduções encontradas em obras publicadas no Brasil.
Depois tecemos algumas considerações sobre o contexto, a situação de uso e as
peculiaridades dos originais e de suas respectivas traduções.
PALAVRAS-CHAVE: TRADUÇÃO; LITERATURA RUSSA; FORMALISMO
RUSSO.
Dennys da Silva Reis
TITULO: E AS TRADUTORAS DO SÉCULO XIX? (UMA POLIANTEIA
HISTORIOGRÁFICA)
RESUMO: As mulheres tradutoras são mencionadas, majoritariamente, nos
estudos historiográficos de tradução apenas no século XX. Quando lembradas no
século XIX, associamo-las ao consumo das traduções de folhetins realçando
ainda mais os estereótipos da mulher brasileira oitocentista: pertencente a uma
família patriarcal, alheia à vida e aos problemas do país, limitada à função
procriadora, às atividades domésticas e às saídas à igreja e aos lazeres sociais.
Este estudo almeja mostrar que, além de mulheres leitoras, existiam no Brasil do
século XIX as mulheres escritoras e, dentre estas, as tradutoras. Apoiando-nos
em quatro estudos importantes sobre mulheres de letras brasileiras (Dicionário
Mulheres do Brasil – de 1500 até a atualidade de Schuma Schumaher e Érico
Brazil; Dicionário crítico de Escritoras Brasileiras de Nelly Coelho; Escritoras
Brasileiras do século XIX de Zahidé Muzart; Mulheres de Ontem? Rio de Janeiro
– século XIX de Maria Thereza Bernardes), objetivamos mostrar quem são essas
tradutoras, o que traduziram, onde traduziam, para quem traduziam, suas
contribuições mais relevantes e seu legado. Estabelecido o processo, o produto e
o perfil destas tradutoras, o estudo visa estabelecer uma polianteia historiográfica
a fim de criticar a invisibilidade e a minimização da agente feminina de tradução
no século XIX, assim como evidenciar o estudo historiográfico sexista que é
desenvolvido sobre História da Tradução no Brasil no período Oitocentista.
PALAVRAS-CHAVE: Tradutoras; Historiografia; Século XIX.
Derneval Ferreira
TITULO: MAYOMBE E NOITES DE VIGÍLIA: LIMITES E FRONTEIRAS ENTRE
HISTÓRIA, LITERATURA E MEMÓRIA
RESUMO: MAYOMBE E NOITES DE VIGÍLIA: LIMITES E FRONTEIRAS
ENTRE HISTÓRIA, LITERATURA E MEMÓRIA Derneval Andarde Ferreira
(Doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Étnicos e Africanos/
UFBA – Bolsista FAPESB). Orientadora: Profª. Dra. Maria de Fátima Maia
Ribeiro) Pretende-se demonstrar de que forma os escritores angolanos Pepetela
com o romance Mayombe e Boaventura Cardoso, com a obra Noites de Vigília,
relacionam literatura, história e memória, evocando vozes capazes de desvelar
alguns dos sentidos criados pela história oficial. Assim, por meio de histórias,
vivências e experiências vários personagens proporcionam uma reconstituição do
passado, permitindo a (re)construção de novos discursos sobre o sistema
colonialista e anticolonialista, assim como da própria formação histórica de
Angola. Dessa forma, história e ficção parecem cruzar planos, promovendo uma
releitura do passado histórico do povo angolano e os processos memoráveis
identificados nas narrativas podem ajudar na reinterpretação e ressignificação de
fatos, criando novas imagens e linguagens capazes de (re)ensinar e (re)traçar os
caminhos genuínos em direção aos costumes tradicionais como formas de
resistência cultural, política e social de Angola. Apresentando temáticas muito
similares, muito embora com abordagens distintas, as obras mencionadas
apresentam, em grandes partes das narrativas, um regresso ao passado em
movimento da memória a fim da incansável busca pela angolanidade e a favor da
concretização da identidade nacional. Se por um lado Mayombe tenta abordar o
movimento que antecede a independência de Angola, tendo como foco principal
as ações de guerrilhas, Noites de Vigília nasce como uma espécie de revisionismo
desse movimento, proporcionando uma releitura de fatos e acontecimentos a
partir de diferentes olhares e de discursos que não são tomados pelo princípio da
contraditoriedade, apenas apresentam as duas faces de um período que marcou
cultural e politicamente a sociedade angolana.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Memória; História.
Diógenes André Vieira Maciel
TITULO: A DRAMATURGIA EM QUESTÕES DE VESTIBULARES NA
PARAÍBA: AVALIAÇÕES E PROBLEMATIZAÇÃO
RESUMO: Propõe-se uma reflexão em torno de questões encontradas em dois
concursos vestibulares para as universidades públicas da cidade de Campina
Grande, na Paraíba, em torno de textos dramatúrgicos, a saber, Judas em Sábado
de Aleluia (Martins Pena) e As velhas (de Lourdes Ramalho). Justifica-se a
proposta pela necessidade de se refletir, mais detidamente, sobre como as provas
destes concursos articulam os textos dramatúrgicos mediante dimensões
interpretativas ou concernentes a dimensões estéticas e históricas da tradição da
literatura brasileira, com vistas a uma avaliação de conhecimentos do candidato
egresso do Ensino Médio. Pretende-se, mediante esta análise, abrir um
questionamento sobre a focalização nestes instrumentos para textos relevantes a
um entendimento de trânsitos interdisciplinares (relevantes aos PPCs dos cursos
de Letras e para a compreensão de áreas interartísticas), contraditoriamente,
muitas vezes relegados a um lugar marginal nos currículos (tanto do Ensino
Médio quanto das Licenciaturas neste Estado). Assim, se poderá colocar em
perspectiva, pela leitura crítica dos documentos oficiais para a educação e dos
próprios Cursos de Letras das instituições em foco, os impasses verificados por
uma reavaliação necessária de certezas meramente provisórias e tão amplamente
cristalizadas em livros e/ou esquemas didáticos.
PALAVRAS-CHAVE: dramaturgia; avaliação; vestibular.
Diógenes Buenos Aires de Carvalho
TITULO: DO CORAÇÃO DE TELMAH, DE LUIS DILL: DIALÓGOS ENTRE O
IMPRESSO E O DIGITAL
RESUMO: A produção cultural contemporânea proporciona à criança e ao jovem
o contato com uma série de objetos culturais que, por um lado, são criados no
campo da cultura impressa; por outro lado, são produzidos na esfera da
cibercultura. Por conseguinte, observa-se que esse diálogo se concretiza a partir
de percursos realizados do oral ao eletrônico, concretizando possibilidades de
uma literatura eletrônica para o leitor infantojuvenil, e do virtual ao impresso,
expondo as estratégias da literatura infantojuvenil contemporânea para interagir
com o leitor do século XXI ao trazer para o interior do livro impresso ambientes
virtuais. Em vista disso, objetiva-se analisar a obra Do Coração de Telmah: uma
história em 500 tweets, de Luis Dill (2009), que é exemplar no segundo caminho,
ao explorar o jogo narrativo através da interação virtual entre jovens através do
gênero digital tweets, tendo como fundamentação teórica os pressupostos de
Antonio (s/d), Chartier (1991, 1999, 2002), Santaella (1996, 2004), Yoo (2007) e
Zilberman (2008).
PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil; Cibercultura; Cultura impressa.
Dilce Pio Nascimento
TITULO: LITERATURA NO PALCO: DO TEXTO LITERÁRIO AO TEATRO EM
SALA DE AULA
RESUMO: Este artigo faz uma reflexão sobre o estudo do texto literário a partir
de leituras dramáticas, em sala de aula, fazendo dela um espaço democrático e
dinamizador de diferentes habilidades artísticas. A sala de aula oportuniza alunos
e professores a estarem sempre receptivos para aprenderem coisas novas. Na
cidade de Parintins, no Baixo Amazonas, a experiência de leituras dramáticas
vendo sendo desenvolvida, nas escolas públicas, através do projeto “Literatura no
Palco”, tendo como objetivos, no primeiro momento, aplicar oficinas de textos
literários, utilizando romances, narrativas orais e contos amazônicos; no segundo
momento, trabalhar a performance oral do texto a partir de leituras dramáticas e
desenvolver nos alunos técnicas de criação e produção de roteiros para,
posteriormente, apresentar o texto no teatro. No amazonas existe uma produção
teatral formal bem como inúmeras peças informais, sem registros como ocorre
em várias partes do Brasil. Mesmo sem ambiente apropriado para representação
teatral verifica-se que cidades do Baixo Amazonas como Parintins, promove
festivais e mostra de teatro. As oficinas passam a despertar o gosto pela leitura,
proporcionando aos alunos momentos de criação, exploração do seu eu, o
reconhecimento de si mesmo com suas limitações e desejos, pois cada um passa
a contextualizar o objeto em estudo ressignificando-o na vida prática. Em meio a
tantas situações que envolvem o cotidiano escolar, trabalhar os conteúdos
literários em forma de teatro tornou-se uma possibilidade real de aprendizagem
tanto para acadêmicos de Letras quanto para alunos e professores da rede pública
de ensino.
PALAVRAS-CHAVE: teatro; Literatura no palco; Prática docente.
Dimas Evangelista Barbosa Junior
TITULO: POÉTICAS DO ÍNTIMO EM CENA: DIALÓGOS ENTRE DOIS
PERDIDOS NUMA NOITE SUJA, DE PLÍNIO MARCOS, E O ASSALTO, DE
JOSÉ VICENTE.
RESUMO: Plínio Marcos é considerado pela crítica especializada como um dos
responsáveis por sacudir as coordenadas do teatro nacional no começo dos anos
1960. Além de representar o marginal no palco brasileiro, ele desenvolveu uma
linguagem dramática que promovia a investigação do íntimo das suas
personagens. Criaturas desprovidas de consciência política e do anseio
revolucionário, traços privilegiados até então. Sua escrita influenciou uma
geração posterior de dramaturgos, como Leilah Assunção, Consuelo de Castro,
Isabel Câmara, José Vicente etc. Nesta comunicação, escolhemos a obra O assalto
(1969), de José Vicente, para propor um estudo comparado com Dois perdidos
numa noite suja (1966), do escritor santista. O objetivo basilar é averiguar quais
técnicas da linguagem dramática dão complexidade aos personagens, levando em
conta que ambos os textos configuram, cada qual à sua maneira, uma espécie de
desnudamento do espaço interior das mesmas. O assalto rompe com alguns
limites do gênero dramático, acrescentando traços épicos e líricos. Isso nos faz
refletir sobre as possibilidades de inovação que o teatro pode promover.
Possuindo réplicas, monólogos, diálogos, conversações e, às vezes, o abandono
da quarta parede italiana, a peça produz no leitor/espectador o “efeito de
estranhamento”. Já em Dois perdidos numa noite suja predomina-se o conflito
interpessoal, favorecendo o “efeito de ilusão” que é causado tanto pela força
apelativa do seu léxico coloquial quanto pela construção formal que deixa
entrever insinuações psicológicas. Estas, apesar de não serem claramente
articuladas pelos diálogos, deles provêm. Especialmente no protagonista Paco
cujas motivações explícitas e implícitas se contradizem. Apesar das diferenças, as
duas obras apresentam, a nível artístico, uma discussão sobre papéis sociais e a
desconstrução deles. Como embasamento teórico e crítico, utilizaremos os textos
de Ana Lúcia Vieira de Andrade (2005), Peter Szondi (2001), Décio de Almeida
Prado (1967), Jean-Pierre Sarrazac e Paulo Roberto Vieira de Melo (1993).
PALAVRAS-CHAVE: Teatro brasileiro; Plínio Marcos; Teatros íntimos.
Dionisio David Marquez Arreaza
TITULO: A REPRESENTAÇÃO ROMANESCA DO ESTADO EM "TRILOGÍA
SUCIA DE LA HABANA" DE PEDRO JUAN GUTIÉRREZ E "BICENTENAIRE"
DE LYONEL TROUILLOT
RESUMO: O presente trabalho estuda nos romances Trilogía sucia de La Habana
(Pedro Juan Gutiérrez, 1998) e Bicentenaire (Lyonel Trouillot, 2010) a interação
entre personagem e espaço urbano que, no caso cubano, torna visível a carência
material enquanto a escrita reproduz o discurso falocrático oficial e, no caso
haitiano, oscila entre o engajamento nacional e a transfiguração do sonho de
amor. Os antagonismo sociais em cada contexto nacional serão interpretados ou
“reescritos”, no sentido de Fredric Jameson em The Political Unconscious, como
a representação do fracasso do estado onipresente cubano e do estado repressor
haitiano a partir de grupos excluídos de forma social ou partidarista que oscilam
entre a indignação nacional e/ou o apelo à democracia. A partir de uma
perspectiva comparatista, se trata de apreciar o contraste, em cada contexto
nacional, entre o ideário constitucional vindo da independência política e, ao
mesmo tempo, apreciar a viva concorrência pela hegemonia da cultura e, pela sua
vez, da política nacional.
PALAVRAS-CHAVE: romance; estado; América Latina.
Divanize Carbonieri
TITULO: PÓS-COLONIALIDADE E DECOLONIALIDADE EM GRACELAND DE
CHRIS ABANI E CIDADE DE DEUS DE PAULO LINS
RESUMO: Tenho como objetivo neste trabalho estabelecer uma comparação
entre os romances GraceLand do nigeriano Chris Abani e Cidade de Deus do
brasileiro Paulo Lins. Um importante paralelo entre as duas obras é que elas
retratam protagonistas adolescentes vivendo vidas marginais nas favelas de
Lagos e do Rio de Janeiro. O cenário da favela constitui o cronotopo pós-colonial
e decolonial no qual se estabelecem duas narrativas que questionam a
continuidade da colonialidade do poder e da opressão nos dias de hoje. Elvis, em
GraceLand, e Busca-Pé, em Cidade de Deus, tentam superar a pobreza e resistir
à tentação de cometer crimes para sobreviver. No cenário distópico e heterotópico
dos guetos nigerianos e brasileiros, é possível perceber o desenrolar de narrativas
de restauração e redenção, nas quais a arte desempenha um papel significativo,
uma vez que Elvis é um dançarino e imitador e Busca-Pé é um fotógrafo. Ambos
os romances reconstroem o passado para lançar as bases para um futuro mais
promissor. Crescer nas favelas é, então, a experiência que os torna mais fortes e,
ironicamente, mais capazes de resistir à opressão, incluindo a enxurrada
neocolonial de produtos, imagens e valores culturais americanos. Os romances
urbanos de gueto que se passam em espaços afrodiaspóricos como Nigéria e
Brasil também podem ser entendidos como narrativas de situações fronteiriças,
segregando e interconectando realidades diferentes, tais como a cidade e a favela,
o centro e a periferia, o crime e a redenção, a violência e o amor, o passado e o
presente. Entendendo as fronteiras como espaços geográficos ou metafóricos,
pretendo focalizar os modos como Abani e Lins exploram todas as restrições e
atravessamentos relacionados à experiência de se viver nelas. Também
investigarei como uma complexa interrogação decolonial do poder é envolvida na
condição de se viver nas favelas a partir de um ponto de vista situado no futuro.
PALAVRAS-CHAVE: decolonialidade; favela; afrodiáspora.
Duílio Pereira da Cunha Lima
TITULO: A FORMAÇÃO DE UM MODERNO TEATRO NA PARAÍBA E A
QUESTÃO DA FORMAÇÃO DO ARTISTA: RELAÇÕES ENTRE
DRAMATURGIA, TEATRO E ENSINO NA EXPERIÊNCIA DO GRUPO
PIOLLIN.
RESUMO: Partindo das reflexões sobre a formação de um moderno teatro
brasileiro em que a implantação de um renovado projeto estético e artístico
implicava na proposição de um novo modelo de atuação e aprendizado dos seus
artistas, discute-se nesse trabalho como as relações entre teatro e ensino não se
restringem ao espaço da sala de aula tradicional, que o aprendizado de grande
parte desses artistas modernos não aconteceu nas escolas de artes cênicas e que
o fazer teatral dos grupos também envolve uma proposição pedagógica. De modo
mais específico, buscaremos refletir como na experiência do Grupo de Teatro
Piollin, coletivo teatral com atuação na cidade de João Pessoa/PB desde o ano de
1977, desenvolvem-se as relações entre o fazer artístico, a formação do artista e
pensar pedagógico a partir de conceitos como Pedagogia do Teatro, ArtistaDocente e Encenador-Pedagogo. Essas proposições, inerentes às práticas dos
principais formuladores das vanguardas teatrais ao longo do século XX,
redimensionam os campos de interação entre dramaturgia, teatro e ensino, ao
tempo em que podem ajudar a refletir sobre nossas práticas cotidianas seja como
artistas e/ou docentes. Referências bibliográficas: DESGRANGES, Flávio.
Pedagogia do teatro. São Paulo: Hucitec, 2006. HADERCHPEK, Robson Carlos.
A poética da direção teatral: o diretor-pedagogo e a arte de conduzir processos.
Tese (Doutorado em Artes) – Doutorado em Artes do Instituto de Artes da
UNICAMP, Campinas, SP, 2009. PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro
moderno. São Paulo: Perspectiva, 1996. REINALDO, Maria Rejane. Processos
criativos em grupos teatrais. Revista Repertório, Salvador, nº 17, p. 96-126,
2011.2. TELLES, Narciso. Pedagogia do teatro – Práticas contemporâneas na sala
de aula. Campinas: Papirus, 2013.
PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia do Teatro; Teatro Moderno; Dramaturgia.
Dudlei Floriano de Oliveira
TITULO: RECRIANDO EDGAR ALAN POE NO BRASIL DO SÉCULO XXI
RESUMO: Edgar Allan Poe é um dos grandes nomes da literatura por ter
trabalhado com elementos góticos e românticos que, ainda hoje, conseguem
dialogar com um público amplo e diversificado. Este diálogo pode ser observado
pelo fato de que diversos elementos da obra de Poe continuam a ser
constantemente apropriados para diversos filmes, músicas e programas de
televisão, produzidos pelos mais diferentes estúdios, focados nos mais diversos
públicos. Entre estas releituras está a produção televisiva brasileira CONTOS DO
EDGAR, produzida por Fernando Meirelles. Este programa consiste em cinco
episódios baseados em contos de Poe, todos transpostos para a cidade de São
Paulo durante o século XXI. Assim como Poe adapta elementos góticos presentes
na literatura europeia, para o contexto norte-americano da época, Fernando
Meirelles também consegue realizar a adaptação da obra de Poe para o atual
contexto brasileiro. Esta releitura vai além da simples relação de adaptação da
narrativa para elementos mais amplos e universais, como os medos e perigos
coletivos pelos quais a atual população urbana brasileira passa. De acordo com
Linda Hutcheon em UMA TEORIA DA ADAPTAÇÃO, esta série pode ser vista
como uma adaptação, uma vez que a mesma é (1) um produto independente e
autônomo resultante de uma transposição de outras obras e (2) um processo de
criação, na qual os processos de (re-)interpretação e (re-)criação por parte de
Fernando Meirelles e sua equipe interpretam e dão novo significado à obra de
Poe. Ainda citando Hutcheon, pode-se afirmar que esta série passa por um
processo de Adaptação Transcultural por contextualizar a obra de Poe em outro
cenário temporal, cultural e geográfico, onde questões culturais e sociais são
distintas das existentes na obra literária de Poe, exigindo cuidados em sua
transposição que vão além da simples relação entre linguagem literária e
audiovisual. Assim, o objetivo desta comunicação é o de discutir a relação
intertextual existente entre os diversos elementos da obra de Poe e desta
produção televisiva, e como esta consegue discutir com o público do século XXI
os mesmos temas discutidos por Poe no século XIX.
PALAVRAS-CHAVE: CONTOS DO EDGAR; Gótico; Adaptação literária.
Edelcio Americo
TITULO: OSTAP BENDER - HERÓI OU VILÃO
RESUMO: Ostap Bender – herói ou vilão? Ao fazermos qualquer referência à
prosa russa do início do período soviético, logo pensamos em nomes como
Zoshchenko, Bulgákov, Katáev, Platónov, e tantos outros, que, apesar de tantas
diferenças em seus estilos de criação, tinham em comum, além de um elevado
nível cultural, a preocupação constante com a sociedade da época e com a
natureza humana. No período em questão, predominava a sátira, que tinha como
um dos seus principais alvos o regime, a burocracia e as condições de vida em um
período rigidamente totalitário onde não havia classes sociais definidas, apenas
o poder e a servidão. Junto aos autores supramencionados, os anos 20 -30 do
século XX foram os anos do surgimento da coautoria de Ilif e Petrov que rendeu
ao menos duas obras primas: “As doze cadeiras” e “O bezerro de ouro”. Em “As
doze cadeiras”, os autores buscam criar seu herói a partir de um representante do
“romance picaresco”, ou seja, a figura de uma espécie de herói “malandro”
oriundo de uma classe social baixa, que vive por conta de sua astúcia em uma
sociedade corrupta. A ideia principal da comunicação é tentar classificar a figura
do “Grande maquinador”, Ostap Bender, como figura avessa ao conformismo e à
servidão; talentoso, criativo, independente, que conhece as leis para burlá-las,
sabe que não precisa chantagear ou intimidar quem as aplica, mas sim minar os
pontos fracos da lei e das pessoas (fraquezas, medos, ignorância). Bender é um
artista, um filósofo andante, que aprecia “a beleza do jogo” em busca de seu ideal
e dos sonhos, entre eles o de andar de calças brancas nas praias do Rio de janeiro.
“Ninguém gosta da gente, exceto o Departamento de investigação criminal, que
também não gosta.” Ostap Bender.
PALAVRAS-CHAVE: Ostap Bender; herói "picaresco"; sátira soviética.
Edilane Ferreira da Silva
TITULO: “ENTRE FADAS E ECOFEMINISMO”: MULHERES, NATUREZA E
RESISTÊNCIAS EM CONTOS DE FADAS DE MARINA COLASANTI
RESUMO: O gênero conto de fada caracteriza-se, entre outras questões, pela
essência mítica. A sua narrativa distingue-se, especialmente, pela presença de
magias, de personagens-tipo, de metamorfoses e do binarismo homem-mulher.
Entre os mais de 50 livros de autoria da escritora Marina Colasanti, nos gêneros
crônica, (mini)contos, ensaios, artigos, infantil/juvenil e poesia, seis são
classificados como contos de fadas. No entanto, eles são considerados modernos,
renovadores e transgressores, sobretudo nas representações do feminino, que
não se curva diante das opressões exercidas por reis, príncipes e cavaleiros, sejam
eles pais, companheiros ou estranhos. Os contos, além disso, apresentam uma
curiosa metamorfose envolvendo mulheres e animais, quando da resistência às
tentativas de colonização – delas e deles - pela figura masculina, o que demonstra,
apensar da narrativa atemporal, uma profunda ligação com as discussões
(pós)modernistas em torno dos gêneros e da ecologia, num contexto
(pós)colonial. Este trabalho objetiva, portanto, investigar essas resistências a
partir da perspectiva ecofeminista, analisando as relações entre as tentativas de
outrização dirigidas às mulheres e à natureza, protagonizadas por personagens
masculinos. Os escritos de Maria Mies e Vandana Shiva (1993), de Karem J.
Warren (2000), de Patrick D. Murphy (1995) e de Greta Gaard e P. D. Murphy
(1998) são a base teórica para essa crítica ecofeminista em cinco contos de fadas
da escritora: Entre as folhas do verde O; Debaixo da pele, a lua; De torre em torre;
Poça de sangue em campo de neve e Vermelho, entre troncos, respectivamente,
publicados nas obras Uma ideia toda azul (1979), Longe como o meu querer
(1997) e Do seu coração partido (2009). Considera-se que os contos não possuem
um viés apenas feminista, mas ecofeminista, já que a crítica não se limita à
opressão patriarcalista centrada na mulher; questiona a exploração de outros
seres vivos, reconhecendo intersecções entre mulheres e natureza.
PALAVRAS-CHAVE: Ecofeminismo; Contos de Fadas; Resistência.
Edimara Ferreira Santos
TITULO: MRS. DALLOWAY: A DESCENTRALIDADE PSICOLÓGICA DOS
PERSONAGENS
RESUMO: O referido trabalho tem como objetivo discutir a ideia de
descentralidade psicológica a partir das categorias polifonia e pluripessoal
mencionadas por ADORNO (2003) e AUERBACH (1987). Para isso, o romance
Mrs Dalloway (1925), de Virgínia Wollf, se insere no contexto de mudanças da
construção do romance moderno e do mundo, pois personagens como Clarissa
Dalloway, Septimus e Peter Walsh, apresentam-se como sujeitos abalados,
fragmentados, em “pedaços”; inseridos em um jogo simultâneos de
tempo/espaço. Esse jogo destaca a problemática da posição do narrador na obra
literária do século XX, pois “a nova reflexão é uma tomada de partido contra a
mentira da representação, na verdade contra o próprio narrador, que busca, como
um atento comentador dos acontecimentos, corrigir sua inevitável perspectiva”
(ADORNO, 2003). Assim, a descentralidade psicológica desses personagens, por
um lado, questiona o papel do narrador incluso na referida obra que desencadeia,
consequentemente, a crise do romance psicológico; por outro lado, essa discussão
demonstra a relação do homem com o mundo (o mundo como substância); a
subjetividade; a interioridade e as várias identidades construídas pelo homem
moderno.
PALAVRAS-CHAVE: Mrs. Dalloway; Descentralidade; Homem moderno.
Édimo de Almeida Pereira
TITULO: A PRESENÇA DE MULHERES NO COMÉRCIO DO ATLÂNTICO
NEGRO NA ESCRITA DE ANTONIO OLINTO E DE ANA MARIA GONÇALVES
RESUMO: Entre os séculos XVII e XIX uma intensa relação comercial se
estabeleceu entre o Brasil e a Costa Ocidental da África. Não constitui novidade
que grande parte dos produtos que transitavam entre essas fronteiras do
Atlântico Negro era constituída principalmente de mão de obra africana
escravizada. Esta fatia do comércio de carga humana foi ampla e exclusivamente
explorada por homens, que chegaram até mesmo a assumir postos de comando
no continente africano, os então denominados “Chachás”. A abordagem a
respeito deste capítulo da História do Brasil e da África ganha novos contornos
na prosa trazida a efeito por Antonio Olinto, em seu festejado romance A casa da
água (1969) e, anos mais tarde, por Ana Maria Gonçalves, nas linhas do romance
histórico Um defeito de cor (2007). Em evidente processo de inter-relação da
ficção literária com relatos históricos que nos permite refletir não só a respeito da
constituição da população brasileira, como também sobre a influência de
brasileiros na constituição de populações de países africanos da Costa do Benim,
os autores colocam suas respectivas personagens – “Mariana”, a matriarca da
narrativa olintiana, e “Kehinde”, a heroína surgida da lavra ficcional de Ana Maria
Gonçalves – em posição de comerciantes de importância para as comunidades
em que são inseridas. Levando em conta que a autora de Um defeito de cor
enumera entre as referências em que se baseou para a escrita de seu romance a
referida obra de Antonio Olinto, esta comunicação pretende, num exercício
comparativo, estabelecer as relações de proximidade e de afastamento entre as
duas personagens. Neste viés, pretendemos também adentar a discussão acerca
da eventual diferença no delinear de cada personagem, investigando se as cores
utilizadas pelo escritor ubaense para dar forma à protagonista de sua narrativa
seriam em muito diferenciadas daquelas de que Ana Maria Gonçalves fez
emprego.
PALAVRAS-CHAVE : Gênero; História; Literatura comparada.
Edir Augusto Dias Pereira
TITULO: FIGURAS DE ESPAÇO NA LITERATURA PORTUGUESA: ENTRE
FERNANDO PESSOA E GONÇALO M. TAVARES
RESUMO: O presente artigo volta-se para análise das representações espaciais
inscritas nos textos dos escritores portugueses Fernando Pessoa e Gonçalo M.
Tavares a partir de uma perspectiva geográfica. Abordamos figuras de espaço
como paisagem, mundo, natureza e cidade, particularmente no Livro do
Desassossego (Fernando Pessoa) e no livro Uma Viagem à Índia (Gonçalo M.
Tavares), estabelecendo uma reflexão sobre os dispositivos moderno-coloniais
que constituem um regime de representação do espaço constitutivo da literatura
moderna portuguesa desde o início do século XX. Exploramos a forma paradoxal,
intervalar e intersticial de representação do espaço no texto literários desse
autores, através da ambivalência que com empregam e que imprimem as
categorias dualistas e fixas da modernidade. Os autores rasuram a
separação/distinção entre objetivo e subjetivo, interior e exterior, pensar e sentir,
ver e imaginar, alma (espírito) e corpo, real e imaginário, cultura e natureza etc.,
na representação do espaço. O espaço assume nesses textos uma posição
estratégica na construção de sentidos através da criação literária, mostrando as
vinculações entre as mudanças epistemológicas, políticas e materiais que se
estendem desde o século XVI com as grandes navegações. O motor da "conquista"
e da "descoberta" inscritas na construção do sujeito moderno como dotado de um
"olhar viajante" transforma as noções de paisagens, associado à ideia de natureza,
em dispositivos de poder/saber e subjetivação/sujeição do "imaginário modernocolonial" (MIGNOLO, 2005) que desde então impõem uma regime de
representação espacial dominante. Os textos desses autores, ainda que separados
por anos, se unem pela linguagem e pela pátria (portuguesa), pelo lócus de
enunciação geopolítico ocidental moderno, constituindo meios de materialização
de figuras de espaço que definem nossa maneira de ver/dizer e viver o espaço
geográfico.
PALAVRAS-CHAVE: Espaço; Modernidade; Paisagem.
Edma Cristina Alencar de Góis
TITULO: UMA MOLDURA PARA A OBRA: ZONAS DE CONTATO ENTRE
LITERATURA E PINTURA NO ROMANCE MENINO OCULTO
RESUMO: Em “Relatos de Espaço”, Michel de Certeau lembra que, na Atenas
contemporânea, os transportes coletivos se chamam metaphorai. “Para ir para o
trabalho ou voltar para casa, toma-se uma “metáfora” – um ônibus ou um trem”.
A partir disso, o autor diz que os relatos poderiam igualmente ter este nome,
porque todo dia “atravessam e organizam lugares; eles os selecionam e os reúnem
num só conjunto, deles fazem frases e itinerários. São os percursos do espaço”
(CERTEAU, 2008, p.199). Se as estruturas narrativas têm valor de sintaxes
espaciais, significa dizer que todo texto é uma prática de espaço, promovendo
uma viagem a quem a ele tiver acesso. A comunicação proposta, uma metaphorai
aos ouvintes, trata do romance Menino oculto (2005), de Godofredo de Oliveira
Neto, obra que reúne espacialidades em dois planos narrativos: nos relatos do
protagonista, Aimoré e nos quadros por ele pintados. O livro traz duas geografias
de ações, a primeira delas a partir da narração do personagem principal, e a
segunda instaurada nos quadros falsificados por ele, o mais conhecido, espécie
de “obra-prima” do falsário, Menino Morto (1955) de Candido Portinari (19031962). Ele vende cópias desta obra no exterior, alegando sempre se tratar do
“verdadeiro quadro”. Também falsifica obras de Iberê Camargo. Tudo te é falso e
inútil é pintado pelo protagonista 38 vezes, Mesa com cinco carretéis “umas dez
vezes”. Neste romance, nos deparamos com espaços bem delimitados, porém que
se tocam por meio do hibridismo próprio das artes contemporâneas. De um lado,
os espaços da vida do protagonista. Por outro, a geografia dos quadros, cujas
espacialidades silenciosas são possíveis no campo da arte. Pensando na dicção
própria da contemporaneidade, este trabalho tem como objetivo investigar as
zonas de contato entre diferentes manifestações artísticas, pensando hibridismo
e espaço como conceitos de eleição.
PALAVRAS-CHAVE: hibridismo; espaço; interartes.
Edna Carlos de Almeida Holanda
Marcela Magalhães de Paula
TITULO: ORALIDADE E MEMÓRIA NOS CONTOS POPULARES DO BRASIL E
DE PORTUGAL: UMA ABORDAGEM COMPARATIVA ENTRE OS CONTOS DE
EXEMPLO DE CÂMARA CASCUDO E ADOLFO COELHO
RESUMO: A literatura oral, segundo Ayala & Ayala (1995), se nutre de um
processo de mescla e hibridização onde seus componentes mais duradouros se
refletem na cultura popular de um povo, por meio de uma prática lúdica – o
contar de histórias - utilizada pelas camadas mais subalternas da sociedade,
construindo um conhecimento genérico, conservado pelo povo, que passa a fazer
parte da memória social de uma comunidade. Do mesmo modo, Halbwachs
(1990) reforça que as histórias com base oral fazem parte de uma memória
coletiva que recompõe magicamente o passado. Assim, neste trabalho,
buscaremos apresentar uma análise comparativa entre a questão da memória, a
oralidade e o legado cultural dos contos populares do Brasil e de Portugal, através
do exame de alguns “contos de exemplo” extraídos das obras Contos tradicionais
do Brasil, de Câmara Cascudo, e Contos populares portugueses, de Adolfo Coelho.
Os “Contos de Exemplo”, de acordo com Cascudo (2000), são estórias em que há
um dolo contra uma norma de caráter social em que o desfecho conduz para uma
lição de moral, sendo geralmente textos estruturados pelo antagonismo Bem
versus Mal.
PALAVRAS-CHAVE: Oralidade; Brasil; Portugal.
Edna da Silva Polese
TITULO: RECONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA PELA VIA FICCIONAL: A REVOLTA
DOS ALFAIATES NO ROMANCE O TOURO DO REBANHO
RESUMO: O chamado Romance Histórico desde a sua origem clássica (Lukács)
se predispõe a reconstruir, a partir da ficção, as realizações humanas que
marcaram época e sociedade. O modelo se modificou e novos formatos de
realização ficcional tentam estabelecer a reconstrução do passado. Personagens
históricos que não fazem parte da história oficial ou são secundários nesse
contexto, ganham voz e rosto por meio da construção ficcional. O romance O
touro do rebanho cujo subtítulo se apresenta nesses termos: “Memória da sedição
dos alfaiates de 1798 na Bahia, onde se deduz as elementares razões para a pena
de enforcamento e esquartejamento de quatro pobres homens do povo, proferida
por uma corte devassa e corrupta” – debruça-se sobre a famosa Revolta dos
Alfaiates que se configura em mais um momento importante na história nacional
ainda pouco conhecida. De modo a lembrar Carlo Ginzburg em O queijo e os
vermes, o autor de O touro do Rebanho, Krishnamurti Góes dos Anjos, apresenta,
no corpo do texto ficcional, a reprodução de trechos de cartas, ofícios e
requerimentos. Ao final da obra, há um anexo onde estão expostos esses
documentos oficiais utilizados pelo autor do romance, material encontrado na
Biblioteca do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. Assim, ergue-se a
reconstrução do espaço da Bahia do século XVIII onde os ventos da revolução e a
realidade de um país escravocrata se confrontaram. Nessa Babel residencial, para
citar uma imagem do próprio autor, um narrador em primeira pessoa nos narra
os fatos. Esse trabalho se propõe a apresentar as particularidades do romance O
touro do Rebanho e sua configuração como reconstrução da memória nacional.
PALAVRAS-CHAVE: Ficção Histórica; Memória; O touro do rebanho.
Edson Flávio Santos
TITULO: UTOPIA E CRÍTICA SOCIAL NA POESIA DE PEDRO CASALDÁLIGA
E AGOSTINHO NETO
RESUMO: Os poemas selecionados de Pedro Casaldáliga, religioso espanhol que
escreve em Mato Grosso desde a década de 60, e do poeta angolano Agostinho
Neto (1922 – 1979), que ora encontram-se na presente comunicação, foram
analisados a luz das reflexões advindas dos escritos de Benjamim Abdala Junior
(A Escrita Neo-Realista, 1981 ; Vôos e Ilhas: Literatura e comunitarismos, 2003
e Geocrítica, marcas eurocêntricas e comparativismo literário, 2012) e de Ernst
Bloch (Princípio Esperança, 2005). As constatações a serem discutidas aqui
parecem reforçar a ideia de que na construção do fazer literário e linguístico
destes escritores, podemos perceber o poder da palavra que se lê para além da
estrutura formal. A reflexão crítica dessa informação pode nos revelar que os
autores em questão, utilizam-se de seu ofício de poeta lutando pelos direitos do
homem (direito a vida, direito a terra, direito a liberdade...) que sofre as mazelas
de uma sociedade capitalista e exploradora.
PALAVRAS-CHAVE: Comparativismo; Utopia; Crítica Social.
Eduardo Ferraz Felippe
TITULO: APONTAMENTOS SOBRE O DISCURSO SEGUNDO
RESUMO: Tenciono nessa comunicação fazer apontamentos acerca da
atualidade de um “discurso segundo”, o ensaio. Não se trata de dar a formulação
de um conteúdo cristalizado do que se quer debater por um caminho conceitual,
mas reflito acerca da peculiaridade de discursos segundos como prática
discursiva. De forma imediata, todo o leitor pode se remeter ao conteúdo
metahistórico que o levaria a uma matriz de gênero iniciado com Montaigne,
apesar de David Hume também ter reafirmado as ligações entre ensaio e
ceticismo. A memória recente o associa aos seus vínculos com as Ciências Sociais,
por meio do seu hibridismo entre Arte e Ciência. Contudo, a escolha se sustenta
por meio da afirmação de uma tipologia de escrita que se transformou ao longo
dos séculos, mas que contém a particularidade de emergir por meio do diálogo
com textos outros. Não necessariamente uma polêmica, mas que pode polemizar,
a demanda por uma referência primeira abre espaço para o vínculo com o tema
da experiência e do sentido. A partir da leitura de alguns ensaios latinoamericanos, trata-se de desenvolver, mesmo que de forma inicial, um valor para
esse discurso segundo, após a herança de comentários no século XX, e as
categorias que em geral articula (intuição, imaginação, originalidade) por meio
de disputas específicas, em contraposição a outras práticas discursivas
historicizadas como primeiras. Desse modo, acredito poder contribuir para
pensar a “literatura entre discursos”, especialmente no que se refere ao século
XX, em seus modos de entender o passado.
PALAVRAS-CHAVE: Ensaio; experiência; sentido.
Eduardo Gerdiel Batista Graça
TITULO: O CONTRÁRIO DE UM PÁSSARO: A EPISTEME DAS OPOSIÇÕES
BINÁRIAS E AS ALTERNATIVAS RIZOMÁTICAS DA LITERATURA PÓSCOLONIAL
RESUMO: O objetivo deste trabalho é abordar os entrelugares conceituais de
transnaturalidade, transculturalidade e trans-historicidade com base em
romances anglófonos contemporâneos que integram um cânone literário póscolonial. Para tanto, discutiremos o próprio conceito de pós-colonialismo; a
epistemologia ocidental moderna e sua organização por oposições binárias; e as
alternativas epistemológicas rizomáticas que permeiam o material narrativo de
Through the Arc of the rainforest (1990), The Ragdoll Plagues (1992) e Midnight
Robber (2000). Se a episteme estabelecida pelo imperialismo ocidental moderno
se fundamentou em oposições binárias como modernidade/primitivismo,
cultura/barbarismo,
cristianismo/paganismo,
estagnação
rural/avanço
industrial, cientificismo/misticismo, entre outras, movimentos de sincretismo,
hibridismo, assimilação seletiva, reapropriação e adaptação por parte dos povos
e culturas subalternas produziram entrelugares imprevistos pelo binarismo
globalizante moderno, e propiciaram uma multiplicidade de padrões políticos e
culturais que, ao resistirem à modernidade ocidental sem confrontá-la
antagonicamente, podem ser compreendidas em termos de modernidades
alternativas. Tais modernidades alternativas, manifestadas pelas adaptações
locais e subjetivas dos povos invadidos, escravizados, desterrados e subjugados
pelo imperialismo ocidental e desqualificados e demonizados pela episteme
moderna, constituem a matéria-prima de uma produção cultural minoritária que,
se por um lado, denuncia a iniquidade política e a violência social prevalecentes
na contemporaneidade neocolonial, por outro, evidencia a pluralidade de forças,
valores e discursos contra-hegemônicos que emergem das margens dos interesses
dominantes.
PALAVRAS-CHAVE: rizoma; entrelugar; pós-colonial.
Eduardo Henrique Cirilo Valones
TITULO: O ESTUDO DO TEXTO DRAMÁTICO E DAS PEÇAS O AUTO DA
COMPADECIDA E O BERÇO DO HERÓI
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o projeto “O estudo
do texto dramático”, elaborado para o O Programa de Iniciação Científica da
UEPB, campus III, em Guarabira-PB. O referido projeto visa fazer estudos de
textos teatrais brasileiros, com o intuito de promover a participação do discente
no processo de produção científica, bem como o início de sua formação como
pesquisador, através de participações em eventos científicos, apresentando
trabalhos e contribuindo, dessa forma, nas discussões sobre o tema com outros
pesquisadores. A atuação do referido projeto será na área de Literatura, uma vez
que abordaremos o estudo do texto teatral enquanto obra literária. No Brasil, a
reflexão crítica sobre a arte dramática cresceu consideravelmente nas últimas
décadas. As discussões teóricas sobre o teatro e seus diferentes aspectos vêm
começando a ganhar um sentido mais aprofundado, através de algumas teses
universitárias e de alguns estudos críticos por parte de especialistas. Com base
nesse fato, percebemos em nosso campus uma carência de estudos específicos em
dramaturgia, uma vez que lá se encontram graduandos em Letras ansiosos para
desenvolver estudos nessa área, visto que se trata de uma nova perspectiva de
encarar a análise literária. Nosso projeto conta, inicialmente, com dois
pesquisadores, um bolsista e outro voluntário, cada um com um subprojeto em
que analisarão os textos teatrais brasileiros O auto da compadecida, de Ariano
Suassuna e O Berço do herói, de Dias Gomes.
PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; O auto da compadecid; O Berço do herói.
Eduardo Marks de Marques
TITULO: PANEM E O REVERSO DA DISTOPIA: A POLÍTICA DA CRUELDADE
NA SOCIEDADE DO ENTRETENIMENTO NA TRILOGIA JOGOS VORAZES
RESUMO: A partir da sistematização dos estudos de literatura distópica, na
segunda metade do século XX, baseadas nas distopias clássicas de Huxley e
Orwell, convencionou-se, de forma errônea e superficial, que a distopia era
apenas o polo oposto da utopia. Se esta caracteriza-se por construir uma
sociedade supostamente ideal e justa para todos os seus membros, aquela deveria
ser opressora e cruel com todos os cidadãos. No entanto, a partir das noções dos
estudos de utopia crítica, pode-se enxergar que toda distopia foi criada -- e assim
se mantém, ao menos para alguns grupos -- para ser uma utopia. O presente
trabalho busca examinar as confluências e intersecções entre utopia e distopia na
trilogia Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, em que os Estados Unidos são
rebatizados de Panem e divididos entre 12 distritos a partir de suas relações com
o fornecimento de matérias-primas para abastecer a opulência da Capital, que
mantém seu poder lançando mão de uma construção de sociedade do
entretenimento na figura dos Jogos Vorazes, um reality show onde um casal de
adolescentes de cada distrito é sorteado anualmente e lançado em uma arena de
onde apenas uma pessoa pode sair viva. Nos três romances, pode-se perceber as
nuances de uma construção social em que as noções marxistas de infraestrutura
e superestrutura são essenciais para a manutenção de uma sociedade distópica
para uns, mas utópica para outros.
PALAVRAS-CHAVE: Jogos Vorazes; distopias e utopias; marxismo.
Eduardo Neves da Silva
TITULO: ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA E O BRASIL: O DEBATE DE IDEIAS NO
TEATRO ROMÂNTICO DE GONÇALVES DE MAGALHÃES
RESUMO: Pretendemos, neste trabalho, discutir a importância da peça Antônio
José ou o Poeta e a Inquisição (1838), de Gonçalves de Magalhães, tendo em vista
não apenas o seu caráter inaugural no contexto do Romantismo no Brasil, mas
também a intencionalidade pedagógica e o espírito nacionalista que animava o
autor. Considerada pelo próprio Magalhães, como “a primeira tragédia escrita
por um brasileiro e única de assunto nacional”, a obra em questão — para além
de certos arroubos de melodramáticos — carrega, em sua metateatralidade, um
claro propósito de revalorização do fenômeno teatral em nosso país, revelando a
consciência do autor acerca da eficácia do teatro enquanto veículo de divulgação
e de debate de ideias. Dentro do “projeto” nacionalista de Magalhães, é inserida
ficcionalmente a figura de Antônio José da Silva (1705-1739), que nasceu no
Brasil, mas viveu a maior parte de sua vida em Portugal, compondo peças cômicas
de grande sucesso na década de 30 do século XVIII. Nesse sentido, caberá ainda
examinarmos em que medida tratar da vida e da obra de um escritor mais
português que brasileiro de fato constituiria um “assunto nacional”.
PALAVRAS-CHAVE: teatro brasileiro; romantismo; nacionalismo.
Eduardo Sinkevisque
TITULO: A POLÊMICA COMO HISTÓRIA DE LONGA
CICERONIANOS E ANTI-CICERONIANOS DO SÉCULO XVII
DURAÇÃO:
RESUMO: A comunicação demonstra que a questão dos estilos ciceroniano/anticiceroniano concernidos à oratória e à escrita da história, nos séculos XVI/XVII,
pode ser definida como uma polêmica de longa duração, ou longuíssima, em
virtude de atualizar, singularmente, um tipo de debate travado desde a
Antiguidade romana (século I da Era cristã), passando pelo Humanismo, até a
Modernidade. Após definir polêmica como gênero, definir ciceronianismo/anticiceronianismo, a comunicação discutirá exemplos de usos do debate estilístico e
de poder das representações discursivas em alguns dos historiadores, retores e
preceptistas mais significativos do século XVII ibérico-italiano, como Cabrera de
Córdoba (1619), Manuel Severim de Faria (1624), Frei Vicente do Salvador
(1630), Famino strada (1632) e Agostino Mascardi (1636). Neste sentido a
polêmica seiscentista do estilo agudo em história repõe a querela antiga dos
estilos ático/asiático, dos três genera dicendi que a comunicação também
explicará.
PALAVRAS-CHAVE: polêmica; estilo agudo; ciceronianismo.
Edvânea Silva
TITULO: A MELANCOLIA DE JACOBO EM IMAGENS HUMANAS,
DEMASIADAMENTE HUMANAS DE WHISKY
RESUMO: A arte desvela o ser das coisas. O cinema, assim como a literatura, pode
dar a conhecer o nosso ser. Em Whisky (2003), filme de Juan Pablo Rebella e
Pablo Stoll, na única cena em que a palavra é desveladora – Cabrón, la puta madre
que te parió, porque no metes na bandera en el broto, hijo de puta?! –, o pouco
que é dito está longe do dizer da câmera que narra tempos mortos, imagens de
não-acontecimentos, de uma vida cheia de nada. Selecionadas e combinadas, as
imagens possibilitam leituras significativas, reveladoras da condição humana.
Este trabalho propõe-se a analisar a melancolia a partir de imagens silenciosas,
humanas, demasiadamente humanas, com certo ar de abandono, que expressam
o “estado de alma” de Jacobo; dizendo de outro modo, expressam a solidão do
protagonista. O que está por trás dos sentimentos de melancolia e solidão?
PALAVRAS-CHAVE: melancolia; solidão; silêncio.
Edvaldo Santos Pereira
Suellen Monteiro Batista
TITULO: EIS O VERBO: NOTAS SOBRE A CRÍTICA DE BENEDITO NUNES À
OBRA DE CLARICE LISPECTOR
RESUMO: Na obra de Clarice Lispector a palavra adquire um tom que vai além
do relatar; ela permite que os textos configurem-se, segundo Antonio Candido
(1988), como construções verbais que não imitam o mundo, mas como
elaborações que trazem o mundo em seu bojo. Tal aspecto da escritura de
Lispector desloca o olhar do narrado para o dito, por estarmos diante de uma
escrita cuja aproximação ora tende ao ensaio,Crítica ora à filosofia. Destaca-se
dentre seus críticos/leitores o professor Benedito Nunes como um dos mais
importantes analistas de sua obra. Ele é o responsável por uma análise filosófica
à produção clariciana, desde a publicação de O mundo de Clarice Lispector, em
1966, estudo que se tornou notório quando republicado em O dorso do tigre, de
1969, e produziu desdobramentos que culminaram em outras obras como,
Leitura de Clarice Lispector (1979) e O drama da linguagem (1989). Com base
nessas considerações, lança-se aqui a proposta de uma análise da recepção crítica
do tema da palavra fundadora, com enfoque no conto “O ovo e a galinha” e no
romance A paixão segundo GH. Nosso objetivo consiste em traçar um panorama
da crítica produzida por Nunes à obra de Lispector, pontuando os conceitos
fundamentais elencados pelo autor para análise da escritura das narrativas, sob
o princípio de que a função da ficção “não está em oferecer respostas concretas,
mas sim em servir de ponto de orientação da práxis vital e alheia” (STIERLE,
2001, p. 180).
PALAVRAS-CHAVE: Crítica filosófica; Clarice Lispector; Benedito Nunes.
Égide Guareschi
TITULO: (N)OS LIMITES DA PALAVRA: POESIA E FRATURAS EM CAPRONI
E DRUMMOND
RESUMO: Égide Guareschi (UFSC/UTFPR) A expressão poética é um terreno de
múltiplas possibilidades, em que ressoam as palavras, os fonemas, os versos, as
Estéticas e os seus limiares, na fronteira entre a imagem e a palavra. Nessa
perspectiva, este trabalho tem como objetivo refletir sobre alguns aspectos da
poesia de Giorgio Caproni (1912-1990) e de Carlos Drummond de Andrade (19021987). O primeiro autor vê o poeta como um Pastore di parole e as temáticas de
seus poemas mostram um movimento oscilante entre sentimentos, sensações
físicas, espirituais e oníricas. Caproni talhou as palavras e os seus sulcos, como
um pastor a zelar pelas ovelhas, com acuro e empenho. Os seus poemas de
linguagem fragmentada, entrecortada, trazem palavras deslocadas do seu uso
“comum”, as quais formam imagens, cuja força reverbera fraturas, embates,
traumas e subjetividades que evocam a dor e a beleza do/no trabalho com a
linguagem. Suas palavras transparecem também os estilhaços de um homem que
viveu a/na guerra e que sentiu as tensões políticas e ideológicas do início do
século XX. Nessa mesma esteira está o poeta Drummond, contemporâneo de
Caproni e que leu o seu “tempo presente”, em meio aos abalos daquilo que ruiu
com a guerra, ruínas que ainda hoje ecoam no limiar das diferentes manifestações
históricas, literárias e artísticas. Referências: AGAMBEN, Giorgio. La fine del
poema. In: Categorie italiane-studi di poetica e di letteratura. Bari: Laterza, 2010.
ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2007. BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. 8ª. ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000. CAPRONI, Giorgio. L’opera in versi. Milano: Mondadori, 2009.
PAZ, Octavio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1984. TESTA,
Enrico. Dopo la lirica – Poeti italiani 1960-2000. Torino: Einaudi, 2005.
PALAVRAS-CHAVE 1: poesia; fraturas; limites.
Egle Pereira da Silva
Henriqueta do Coutto Prado Valladares
TITULO: ARQUEOLOGIA DE UMA COREOGRAFIA POÉTICA
RESUMO: A presente comunicação tem como ponto de partida o pensamento de
Michel Foucault, mais precisamente, sua noção de literatura – ato de escrever;
invenção moderna; nem obra, nem linguagem (um terceiro termo diferente
destes e exterior a eles); espaço vazio; brancura essencial onde a questão “O que
é a literatura?” se origina; oco aberto em si mesmo e não obra de uma consciência
crítica complementar; fábula dita em linguagem de ausência, assassinato,
duplicação, negação, transgressão, simulacro – para analisar um corpus literário
contemporâneo específico que nos permite entender um certo de tipo de texto
hoje chamado literatura, a saber: ‘White Spaces’ (1980), “Espaços Brancos”, obra
pouco conhecida do escritor norte-americano Paul Auster, definido pelo próprio
como de gênero inidentificável e texto-ponte entre a poesia e a prosa. Ao modo
de uma composição musical, o autor institui uma rítmica que permite um triplo
olhar: sobre a historicidade emergente no século XIX, no campo da literatura; os
sinais indicativos desta; o potencial teórico da ficção de Auster, ainda ignorado
por seus críticos, e muito próximo do entendimento de Foucault acerca da
manifestação literária. Posto isto, delineia-se o objetivo do trabalho: a leitura
comparativa de dois discursos, o filosófico de Michel Foucault e o literário-teórico
de Paul Auster – construído a partir de lentos e progressivos andamentos
musicais – ambos tomados como paradigmas do que é a literatura, em termos
conceituais e ficcionais.
PALAVRAS-CHAVE: Michel Foucault; Paul Auster; Literatura.
Ekaterina Volkova Americo
TITULO: LITERATURA RUSSA NA OBRA DE IÚRI LOTMAN
RESUMO: Pretendemos abordar, nessa apresentação, a presença da literatura
russa na obra do semioticista e estudioso da litetratura e cultura russa Iúri
Lotman (1922-1993). Se, por um lado, as questões literárias são um dos principais
objetos de estudos lotmanianos, por outro elas servem como uma base para
conclusões teórico-filosóficas de caráter mais amplo. A grande parcela dos
trabalhos lotmanianos é dedicada à literatura russa dos séculos XVIII-XIX, sendo
que ele destaca o Iluminismo como uma época chave, graças a qual se tornaram
possíveis todas as conquistas literárias posteriores. Em se falar do século XIX em
que a literatura russa alcançou o seu auge, o "século de prata", Lotman divide os
escritores russos desse período em os que seguiram, em sua obra, o modelo
binário e outros que preferiram o ternário. Pretendemos elucidar esses conceitos.
Além disso, o próprio processo literário aparece como uma alternância
ininterrupta entre os elementos centrais e periféricos, sendo que esse esquema
baseia-se no modelo de automatização-desautomatização sugerido nos anos 1920
por Iúri Tynianov.
PALAVRA-CHAVE: Iúri Lotman; literatura russa; crítica literária.
Elaine Amélia Martins
TITULO: UMA POÉTICA DO COMUM NAS MEMÓRIAS "A IDADE DO
SERROTE", DE MURILO MENDES
RESUMO: Não sou meu sobrevivente, e sim meu contemporâneo. Assim o poeta
Murilo Mendes (1901-1975), já radicado na Itália do pós-guerra e do boom
econômico dos anos 1950-1960, arremata o texto de abertura de sua obra reunida
em "Poesias (1930-1955)", editada em 1959 no Brasil. A década de 1960 marcaria,
porém, o início de experimentações poéticas que podem a representar o que
Edward Said considera “produção tardia”. Uma mostra dessa produção são as
memórias "A Idade do Serrote" (1968), o primeiro livro em prosa do poeta-crítico
agora prosador-crítico. Nelas, desfilam-se episódios e personagens que
compuseram o cenário da infância e adolescência do poeta, uma verdadeira
galeria humana num universo de experiências cotidianas recriadas na idade
madura. Logo no sumário, leem-se títulos com nomes de pessoas, animais,
lugares ou elementos cotidianos; “Pessoas são frases”, lê-se num dos capítulos.
Isso instiga reflexões acerca das figurações do comum. Pretende-se, pois, à luz de
teóricos como Walter Benjamin, Georges Didi-Huberman, Giorgio Agamben, e
Jacques Rancière, uma leitura da prosa poética muriliana a partir de reflexões
envolvendo a escrita criativa e suas relações em torno da experiência, do comum
e seus afins. Essas reflexões e leitura esbarram-se na relação entre tradição e
modernidade e se potencializam neste momento em que a obra completa de
Murilo Mendes começa a ser reeditada no Brasil, figurando nas estantes da
produção literária contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE: Murilo Mendes; A Idade do Serrote; Comum.
Elaine Brito Souza
TITULO: A CRISE DO SUJEITO NA MEMORIALÍSTICA DE LIMA BARRETO
RESUMO: Nesta comunicação, pretendo apresentar resultados parciais de minha
pesquisa de doutorado. O objetivo de minha tese é pensar a memorialística de
Lima Barreto sob a perspectiva da crise do sujeito e da sua representação nas
primeiras décadas do século XX. Compõem o objeto de estudo o Diário íntimo, o
Diário do hospício e O cemitério dos vivos, considerado uma autobiografia
inacabada. Nas três obras, o autor questiona a concepção tradicional de sujeito,
com consequências para as formas autobiográficas. O resultado é uma escrita
íntima que traz inovações na maneira de falar de si. Nesta comunicação,
entretanto, dedico especial atenção ao Diário íntimo, pois através dele é possível
pensar a memória como fragmento, e não como narrativa. Não por acaso, os
manuscritos que deram origem ao Diário íntimo estão arquivados na Biblioteca
Nacional sob o título Retalhos, dado pelo próprio autor. Considerando que Lima
Barreto era leitor de Nietzsche, crítico severo da subjetividade moderna, partimos
de considerações do filósofo sobre sujeito e memória para traçarmos pontos de
contato com a diarística limabarretiana.
PALAVRAS-CHAVE: sujeito; representação; memória.
Elaine Cristina Carvalho Duarte
TITULO: LITERATURA VIRTUAL E A MANIFESTAÇÃO DOS SENTIDOS
RESUMO: McLuhan atesta que os textos impressos são uma forma de se
privilegiar o individualismo, uma vez que cada um lê só e para si mesmo. Já o
ciberespaço é o ambiente da coletividade, do compartilhar, da retribalização.
Nesse sentido a literatura eletrônica estabelece uma nova relação com o leitor, de
interatividade, propiciando um processo de reagrupamento por meio de sites que
buscam partilhar a produção literária de maneira pública, coletiva e interativa.
Assim, é possível discutir e vivenciar o fazer literário de maneira mais totalizante,
aguçando todos os sentidos e explorando os desejos do corpo de vivenciar a poesia
em sua plenitude. O corpo é a materialização de algo que é próprio do homem, é
ele que propicia vivenciar a realidade e estabelece nossa relação com o mundo. O
texto impresso suprimiu o corpo e todos os seus sentidos do processo de leitura,
e valorizou apenas a visão, os demais sentidos ficaram adormecidos,
anestesiados, desejosos de participar do ato de ler. Por essa razão, mesmo quando
lemos silenciosamente um texto impresso, nosso corpo deseja se manifestar, ele
requer a performance do corpo e da voz. Recorremos aos sons, e ao ritmo dos
textos, mesmo que mentalmente apenas, para suprir essa necessidade do corpo
de viver o texto poético. As tecnologias audiovisuais modificaram essa postura de
leitura de maneira relevante. É pelo desejo de união dos sentidos, de integração
do corpo com todas as suas potencialidades, que a poesia contemporânea digital
tem buscado percorrer caminhos que explorem os processos sinestésicos.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia eletrônica; Interatividade; Sentidos.
Eleonora Ziller Camenietzki
TITULO: CACASO EM PROSA E VERSO
RESUMO: Esse estudo pretende abordar a poesia de Cacaso a partir de uma
perspectiva de nossa série literária que inaugura no século XX uma ampla
pesquisa sobre a formalização da fala, da experimentação radical e por vezes
ingênua dos primeiros anos de Modernismo, até a consolidação dessa vertente
em Drummond. Com o principal de sua produção concentrada nos anos de
exceção ( seu primeiro livro é 1967, "A palavra cerzida", e por último, em 1982,
publica ”Mar de mineiro”), pretende-se examinar os modos e impasses que
alcança essa formalização no contexto brasileiro, assim como os limites de uma
"poesia marginal" diante do processo de modernização conservadora que vivia o
país naqueles anos.
PALAVRAS-CHAVE: Cacaso; poesia brasileira; poesia marginal.
Eliana Pires de Almeida
TITULO: UMA HISTORIOGRAFIA DO COLÉGIO ESTADUAL PAES DE
CARVALHO E A EDUCAÇÃO DOS SABERES AMAZÔNICOS PARA ALÉM DA
CIDADE DAS MANGUEIRAS
RESUMO: “Uma historiografia do Colégio Estadual Paes de Carvalho e a
educação dos saberes amazônicos para além da cidade das mangueiras” é um
desdobramento da dissertação intitulada “O lugar dos saberes amazônicos no
ensino da disciplina Literatura”. Pesquisa vinculada à linha dos Saberes Culturais
e Educação na Amazônia, desenvolvida no mestrado em Educação na
Universidade do Estado do Pará, defendida no ano de 2012. Um dos objetivos da
pesquisa foi mapear a historiografia da disciplina literatura, incluindo a literatura
amazônica, no Colégio Estadual Paes de Carvalho ao longo de sua história. A
instituição escolar é a mais antiga do estado e a segunda mais antiga do Brasil, foi
criada em 28 de junho de 1841, originalmente chamada de Lyceu Paraense. Sua
criação atendendo uma diretriz política de descentralização do ensino do governo
central. O ensino de Letras e Humanidades sempre foi uma vocação da instituição
secular, que seguia uma política educacional rígida e voltada para jovens
abastados da sociedade paraense. O referido trabalho teve ainda como mote, o
mapeamento e a identificação da produção literária Amazônica com vista a uma
cartografia literária, aplicado à educação. Com base nos dados coletados,
chegamos a uma experiência didático-pedagógica exitosa na década de 80, com o
livro “Texto e Pretexto – Experiência de educação contextualizada a partir da
literatura feita por autores Amazônicos”.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Saberes Amazônicos; Educação.
Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira
TITULO: LITERATURA BRASILEIRA E AFRICANA EM DIÁLOGO:
REFLEXÕES ACERCA DA REPRESENTAÇÃO DA INFÂNCIA NAS OBRAS
"MEU PÉ DE LARANJA LIMA", DE JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS, E
"COMANDANTE HUSSI", DE JORGE DE ARAÚJO
RESUMO: Objetiva-se neste texto, a partir de estudos teóricos centrados em
formação do leitor crítico, exploração do imaginário e da fantasia na produção
cultural destinada ao jovem, refletir acerca do diálogo que se estabelece entre os
livros Meu pé de laranja lima, do brasileiro José Mauro de Vasconcelos (19201984), e Comandante Hussi, do cabo-verdiano Jorge Araújo (1959-), ilustrado
pelo angolano Pedro Sousa Pereira (1966-). Para a consecução desse objetivo,
constrói-se a hipótese de que as duas obras possuem, na representação da
infância, potencialidades emancipatórias para seu leitor, permitindo-lhe ampliar
seus horizontes de expectativa. Justifica-se esta reflexão, pois ambas narrativas
apresentam uma estrutura de apelo que explora a ternura, a dor e o sofrimento.
Além disso, ambas exploram elementos alegóricos na representação do
imaginário de seus protagonistas. Para a análise dessas obras, os pressupostos
teóricos da Estética da Recepção, bem como os princípios da literatura
comparada serão utilizados, visando reconhecer como seus autores representam
a infância na constituição de seus protagonistas e como projetam seu leitor
implícito. Pela análise da materialidade discursiva de seus enredos, pretende-se,
ainda, compreender como a elaboração artística e literária de ambas efetiva-se,
sobretudo em uma articulação com a formação do leitor estético.
PALAVRAS-CHAVE: Diálogo entre textos; Formação do leitor; Literatura juvenil.
Eliane Fazolo Freire
TITULO: PRÁTICAS LITERÁRIAS NA ESCOLA A PARTIR DA LEITURA DE
ITALO CALVINO
RESUMO: RESUMO Este trabalho concebe a leitura como experiência formadora
da constituição do sujeito, ou seja, em sua dimensão formadora que ultrapassa os
limites do tempo do ler provocando a ação de pensar e refletir criticamente o que
está para além do texto. Estas reflexões se fazem necessárias quando se fala do
homem como um ser social imerso na cultura, produtor de linguagem, construtor
de sua história que, não raramente, se apropria de duas formas de aquisição da
leitura: uma leitura formal, feita sistematicamente, que tem por objetivo o acesso
aos códigos da língua materna e uma forma de apropriação da leitura que é feita
no mundo, na vida, nas relações próprias de cada um com os textos diversos que
encontramos durante o correr da vida. São estas formas de apropriação que, na
realidade, interessam neste texto. As maneiras próprias de cada um ler o mundo
e a literatura buscando resignificar, transformar, reformar a própria experiência.
É a dimensão formadora da leitura; uma leitura que ultrapassa os limites do
tempo do ler; a leitura feita para além dela própria, feita para além do tempo
estabelecido. É o comentário, a viagem interna, a certeza da mudança após cada
texto. É a visita a sentimentos até então adormecidos pela vida da modernidade,
fundamentais para o homem. É a sensação do compartilhar, dividir para somar,
ler com mesmo que seja apenas com o autor e mesmo que apenas internamente.
Procura visualizar o lugar da narrativa na vida moderna e a possibilidade de se
aprender com a literatura ao invés de pela literatura, focalizando a leitura não
como informação, mas sim como formação que leva à trans-formação. O
referencial teórico é delineado com base nos trabalhos de Oswald, Benjamin e
Larossa a partir da obra do autor literário Italo Calvino. Palavras chave: Leitura;
Literatura; Narrativa
PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Narrativa; Literatura.
Elielson de Souza Figueiredo
TITULO: DIZER O OUTRO: TAREFA DA FICÇÃO
RESUMO: Minha contribuição para este simpósio se volta para os Contos do
Imigrante (1956), de Samuel Rawet. Estou convencido de que Rawet construiu
um conjunto de textos em torno de um tema central para a filosofia de Emmanuel
Lévinas: o da responsabilidade com o outro. Corresponder às demandas do outro
depois da shoah tornou-se aspiração irrealizável, ao mesmo tempo um imperativo
para os sobreviventes. Como superstes, os protagonistas de Rawet impõem-se a
culpa do silêncio que pesa sobre os acontecimentos catastróficos e ao mesmo
tempo a obrigação narrativa. O outro, aquilo que escapa ao real embora
experimentado, não é tratado pelos imigrantes que dão título ao volume de contos
como um dado que antecede a linguagem, mas como linguagem inarticulada. O
silenciamento implica menos a ausência que a figuração do real numa linguagem
atravessada por um “Dizer” incompreensível. Então, trata-se de um narrar que
não se comunica como Totalidade de sentido. Proponho que o lugar onde esse
“dizer” toma forma é a ficção, entendida como fronteira que desafia o real ao
subordiná-lo à invenção. Daí a tese de que “aquilo que transcende a
verossimilhança exige uma reformulação artística (SELIGMANN-SILVA), neste
caso, apenas evocação, imaginação (criação de imagens) que tentam dar contorno
ao mais-além, ao incomensurável. Logo, a escrita da catástrofe tem nos recursos
literários uma possibilidade de apontar para o infinito – o Outro – cuja
representação não se submete ao uso ordenado e referencial da palavra. Nos
contos de Rawet, repetições e lacunas passam a ser formas de expressão cujo valor
é menos estilístico e mais ético, recursos em favor do Outro – impensável,
inarticulável. A ficção sinaliza para o Eu-Tu, ou aquela relação em que o leitor é
impelido ao que sempre lhe escapa e, em razão disso, se lhe oferece como
alteridade, rosto e linguagem.
PALAVRAS-CHAVE: Samuel Rawet; Testemunho; Outro.
Elines de Albuquerque Vasconcelos E Oliveira
TITULO: ENTRE O TEATRO E O CINEMA: A INTERFACE DO FIGURINO NO
UNIVERSO SHAKESPEREANO
RESUMO: Profa. Dra. Elinês de Albuquerque V. e Oliveira(UFPB) Entre muitos
diálogos estabelecidos por meio da linguagem teatral, os signos representados
através da aparência do ator são aqueles que se comunicam de forma mais
imediata com o público. Considerados por alguns teóricos como o “cenário
móvel” do teatro, o figurino, de forma combinada com o penteado e com a
maquilagem, é um dos grandes responsáveis pela geração de significados na
encenação de um espetáculo teatral. Presença constante na representação
dramática desde as suas origens, além da função cênica que se encontra vinculada
à ação, o figurino teatral permite também uma leitura da moda e do
comportamento da sociedade de uma determinada época. Entendendo-se a
importância do sistema sígnico do vestuário para a construção de sentido e
também para as (re)significações do texto dramático shakespereano, este
trabalho realizará uma leitura semiótica do figurino da época de Shakespeare em
duas adaptações cinematográficas: Shakespeare Apaixonado (1999) e A
Tempestade (2010). A fundamentação teórica da análise será subsidiada por
FISCHER-LICHTIE(1992), PAVIS (2000) e LAVER(1999).
PALAVRAS-CHAVE: Figurino; Teatro; Cinema.
Elio Ferreira de Souza
TITULO: A “CARTA” DA ESCRAVA ESPERANÇA GARCIA: UMA NARRATIVA
PRECURSORA DA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA
RESUMO: A “Carta” de 6 de setembro de 1770, da escrava Esperança Garcia, a
primeira citação acima, foi endereçada ao Governador da Província do Piauí
(MOTT, 1985, 2010), uma “inusitada reclamação” (MOURA, 2004) por se tratar
de uma escrava que se dirige à principal autoridade do Piauí colonial setecentista.
A “Carta” é certamente um dos registros escritos mais antigos da escravidão no
Brasil, escrito pelo próprio escravo negro, no nosso caso uma mulher negra e
cativa, Esperança Garcia, o que confere à narrativa epistolar citada acima o status
de uma escritura da gênese literária afro-brasileira. A narradora se apropria do
antigo modelo de petição da segunda metade do século XVIII, para assentar nesse
território simbólico da escrita as vozes da narrativa autobiográfica ou da crônica
pessoal e comunitária do sujeito negro num espaço inóspito, a escravidão. Essas
vozes falam da dor humana, da luta e do desespero de uma mulher escravizada,
que fala em nome de si mesma, dos filhos, do marido e dos parceiros do cativeiro,
assumindo o lugar de porta-voz do seu grupo. O relato escrito por Esperança
Garcia envolve a uma rede de acusações e denúncias o Administrador das
fazendas de gado da Coroa de Portugal no Piauí. Esse tipo de experiência é
também recorrente nos relatos de experiência dos escravos ou slave narratives
nos Estados Unidos, cujos autores escreveram e publicaram narrativas
autobiográficas, contando fatos da sua própria vida de escravo e da vida dos
colegas de infortúnio, nos séculos XVIII e XIX (MORRISON, 1987), como
também em Cuba e noutros países das Américas onde o africano fora escravizado.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Afro-Bra; Narrativa escrava; Esperança Garcia.
Elisa Helena Tonon
TITULO: ENTRE ACÚMULO, CORTE E NOMEAÇÕES – LEMINSKI
REENCENADO
RESUMO: O crítico argentino Julio Premat, na obra Herois sin atributo, observa
que na Argentina do século XX todo projeto de escrita literária esteve associado
ao projeto de invenção de um autor. Para pensar essa invenção do autor, hoje, é
preciso considerar um espaço/tempo dinâmico em que circulam paralelamente
ao livro uma série de outras mídias e inserções que acompanham sua publicação,
divulgação e recepção (vídeos, fotos, teasers, comentários, entrevistas, resenhas
em revistas e jornais compartilhadas nas redes sociais, exposições em museu,
lançamento de Cd, palestras, etc.) e que afetam de algum modo as leituras do
corpus que se pode reunir sob uma assinatura. Sob esse prisma, pretendo
apresentar uma leitura do corpus Paulo Leminski, levando em consideração as
leituras suscitadas pela reedição de seus poemas pela Companhia das Letras no
volume “Toda poesia” (2013), pela edição de “Catatau” publicada pela Travessa
dos Editores (2004) e pelo vídeo curta-metragem de Cezar Migliorin, “Meu nome
é Paulo Leminski” (2004). Como esses diferentes procedimentos afetam as
leituras de Leminski a partir dos anos 2000? E que leituras e imagens desse
corpus eles nos oferecem? Se o projeto de escrita literária realizado em vida por
Leminski era também o projeto de invenção de um autor em que atuavam
estratégias de visibilidade específicas - como o uso da fotografia, das artes
gráficas, da performatização, da autonomeação - hoje, o processo de invenção
mostra-se incessante com as contínuas leituras e inscrições nesse corpus. Isso
evidencia a sobrevivência dos textos e das imagens que, no entanto, só
sobrevivem enquanto possibilidade de afeto, de transformação, de rasura, de
movimento.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia brasileira; Paulo Leminski; Reedição.
Elisabete Ferraz Sanches
TITULO: ALTERIDADE E DESAMPARO EM PERTO DO CORAÇÃO
SELVAGEM DE CLARICE LISPECTOR
RESUMO: No romance Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector,
acompanha-se os sucessivos abandonos marcantes na história da protagonista
Joana: o desamparo da família, de Deus, do homem, da linguagem, da escrita.
Assim, abre-se um diálogo com a noção freudiana de desamparo (Hilflosigkeit) ,
sendo este muito mais do que um dado biológico relativo à precariedade da
condição humana de ingresso na vida, concebido de forma progressiva e cada vez
mais profunda, mas como a base mesma sobre a qual se desenrola o
funcionamento psíquico. O desamparo se instaura sempre em face de um outro,
aquele em quem se busca o amparo que não existe. Desamparo e alteridade,
portanto, serão pensados a partir das relações de Joana com os outros
personagens , estes últimos incapazes de ajudá-la, deixando-a sem qualquer
apoio, na solidão e abandono. A partir da relação de alteridade, busca-se assinalar
o desamparo da protagonista nesse processo de construção de si perante o olhar
do outro considerando que, assim como Benedito Nunes salienta, as situações de
conflitos intersubjetivos no romance em questão apresentam os outros
personagens como “simples mediadores”, constituindo o que ele chamou de
“polos de atração e repulsa da consciência em crise” da protagonista. Referências
FREUD, Sigmund. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 2006. LISPECTOR,
Clarice. Perto do coração selvagem. 12ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
NUNES, Benedito. O drama da linguagem: Uma leitura de Clarice Lispector. São
Paulo, 1995.
PALAVRAS-CHAVE: Alteridade; Desamparo; Clarice Lispector.
Elisangela Aparecida Lopes
TITULO: A ESCRITA MODERNA DE MACHADO DE ASSIS: APONTAMENTOS
RESUMO: O objetivo desta comunicação surge dos estudos em andamento
referentes ao processo de doutoramento, em curso pela PUC-Minas, no qual se
pretende refletir sobre aspectos que permitem reconhecer a construção de uma
narrativa moderna, em duas obras de Machado de Assis: Memórias Póstumas de
Brás Cubas e Papeis avulsos. Nesta comunicação, serão analisados os elementos
indicadores da prosa moderna (a construção da voz narrativa e a nova forma do
romance) na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, a fim tanto de repensar o
papel do escritor também enquanto leitor e crítico da literatura, bem como
delinear, nessa narrativa, a construção de uma nova forma de se escrever a prosa
de ficção romanesca.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; prosa moderna; Memórias Póstumas.
Elizabete Sanches Rocha
TITULO: O TEATRO DO OPRIMIDO EM SUAS MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES
ESTÉTICAS E PEDAGÓGICAS: UM ESTUDO SOBRE O GRUPO "FORN DE
TEATRE PA'TOTHOM", DE BARCELONA
RESUMO: O Teatro do Oprimido, dramaturgia criada pelo brasileiro Augusto
Boal, é hoje reconhecido em todo o mundo por suas infinitas possibilidades
estéticas e pedagógicas. O envolvimento visceral com as questões políticas e
sociais permite um alargamento desta proposta dramatúrgica que alcança as mais
diversas realidades no Brasil e mundo afora. O objetivo deste trabalho é
demonstrar como se dá a presença do Teatro do Oprimido na Catalunha,
Espanha, cujo principal grupo, chamado "Forn de Teatre Pa'tothom", de
Barcelona, realiza, há mais de uma década, um trabalho muito sensível,
politicamente comprometido e artisticamente profissional, em escolas públicas
catalãs, bem como em associações de bairro e em inúmeros outros espaços
carentes de expressões artísticas e de oportunidades de manifestação política pelo
teatro. O estudo do grupo foi feito "in loco", a partir de entrevistas e de observação
empírica, considerando os diferentes processos de criação pelos quais passam os
atores. A concepção, a escrita e a encenação de cada obra correspondem a um
longo caminho de criação coletiva, que conta com a participação efetiva de atores
profissionais - formados, em sua maioria, pelo próprio grupo, em sua escola de
atores, coordenada pelo ator e diretor teatral, Jordi Forcadas, que foi aluno de
Boal, no Brasil. Trata-se de um caso extremamente interessante porque as ações
não se restringem à elaboração das peças, mas contemplam também a formação
de atores - de todas as faixas etárias - tendo como principais objetivos a
emancipação social e a sensibilização estética de todos os envolvidos direta e
indiretamente com o grupo, alcançando um efeito multiplicador de consciência
político-social em diferentes camadas da sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro do Oprimido; Barcelona; Pa'tothom.
Elizabeth d Penha Cardoso
TITULO: PROXIMIDADES ENTRE O ROMANCE DE 30 E A LITERATURA
JUVENIL CONTEMPORÂNEA. UMA ANÁLISE DE LIS NO PEITO, DE JORGE
MIGUEL MARINHO
RESUMO: É frequente o alijamento da literatura infantil e juvenil do amplo
sistema literário. Como se essas manifestações artísticas e literárias não
estivessem em diálogo com as demais obras, mas sim se realizassem em universo
paralelo, apartado por uma redoma constituída ora por nebulosos critérios de
qualidade, ora por insustentáveis recomendações etárias e na maior parte das
vezes por preconceitos. Este trabalho objetiva indicar e analisar as relações entre
as principais tendências do romance de 30 (“regionalismo” e “intimismo”) e a
literatura juvenil contemporânea. Independente das discordâncias e das falsas
questões que a dicotomia entre “social” e “psicológico” geraram, sabe-se da forte
influência que as correntes regionalista e intimista exercem na prosa brasileira.
Mas qual seria o diálogo estabelecido entre os autores de literatura juvenil e essas
correntes literárias? Aqui será analisada, mais especificamente, a presença do
romance voltado à introspecção na atual prosa para jovens. Depois de delinear a
trajetória e consolidação da prevalência dos afetos na prosa brasileira – de Lúcio
Cardoso, passando por Autran Dourado e Clarice Lispector – chegaremos aos
livros juvenis voltados mais para o que se passa por dentro das personagens do
que aos acontecimentos. A análise textual focará o romance Lis no peito - um livro
que pede perdão, de Jorge Miguel Marinho (2005), não apenas pela
intertextualidade estabelecida com Clarice, mas também pelo modo como o autor
leva jovens personagens e leitores à reflexão íntima e comovente dos afetos. As
principais referências bibliográficas estão fundamentadas nas obras de Candido
e Luís Bueno - base de articulação do Romance de 30. Colomer, Ceccantini, Lajolo
e Zilberman – apoio para as especificidades da literatura juvenil no Brasil. Gotlib,
Olga de Sá e Yudith Rosenbaum – suporte para as leituras de Clarice. A
psicanálise de Freud e Lacan, nos seus encontros com a linguagem, cooperará
com a análise do literário.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil; Romance de 30; Intertextualidade.
Elizabeth de Andrade Lima Hazin
TITULO: AS HORAS QUE DECORREM ENTRE O INÍCIO E O FLORESCER DE
UM RECIFE: REFLEXÃO SOBRE A TEMPORALIDADE EM OSMAN LINS
RESUMO: Existe na Literatura uma especificidade de suma importância a ser
atentamente explorada, precisamente aquela que diz respeito ao fato de seu
significado também repousar nas conexões que consegue acionar com outras
áreas do saber. Em seu artigo intitulado ‘As vias da forma’, o semiólogo italiano
Gian Paolo Caprettini chega a considerar as artes (aí naturalmente incluída a
Literatura) “como um universo em expansão, como ondas que no seu movimento
chegam a tocar pontos cada vez mais distantes”. Centrando-se aqui na narrativa
‘Perdidos e Achados’ inserida em Nove, Novena (1966), de Osman Lins, este
trabalho tem como objetivo maior uma profunda reflexão sobre a temporalidade
no texto osmaniano, vista a partir do enfoque que aí é dado à biocronologia
(subdivisão conceitual da Paleontologia, que estuda o desenvolvimento temporal
dos eventos paleobiológicos) e, dessa maneira, mostrar de que modo o texto
literário pode ser modificado pela experiência de seu trânsito em outras áreas.
PALAVRAS-CHAVE: Osman Lins; Trânsito de saberes; Tempo/temporalidade.
Elza de Sá Nogueira
TITULO: Intertextualidade e compartilhamento: estratégias de letramento
literário no Ensino Básico
RESUMO: Pesquisas sobre os hábitos de leitura no Brasil revelam ao mesmo
tempo o crescente desinteresse pela leitura como atividade espontânea e a
crescente importância da figura do professor como principal influência positiva
relativamente a essa atividade. Além disso, revelam a inclinação de boa parte dos
leitores por best-sellers, como mostra a presença de vários títulos entre as obras
citadas espontaneamente. A partir de uma concepção de leitura segundo a qual a
interpretação é construída socialmente e de evidências segundo as quais o
compartilhamento influencia afetivamente e facilita cognitivamente a leitura,
pesquisadores em Letramento Literário têm proposto que sejam criadas
comunidades de leitores literários nas escolas, a fim de que a leitura literária seja
socializada. Além disso, com base na concepção de literatura como um
polissistema dinâmico, propõem que a formação de repertório se dê através de
redes intertextuais tanto horizontais quanto verticais, perpassando os vários
subsistemas interligados, sem privilegiar um ou outro. Alinhando-nos a essas
propostas, desenvolvemos estratégias de compartilhamento de leituras,
mediadas pelo professor, em turmas de Ensino Fundamental II de duas escolas
públicas de Juiz de Fora, em parceria com professores dessas escolas. Tais
estratégias se desenvolveram sob dois enfoques de pesquisa-ação. Um deles
privilegiou como objeto o próprio compartilhamento como estratégia, se
iniciando no ambiente escolar e se estendendo para além deste, através do uso da
rede social Skoob (com suas ferramentas de compartilhamento de leituras),
propiciando a criação de comunidades de leitores em função de interesses afins,
bem como o uso pedagógico dessas comunidades pelo professor com a finalidade
de expandir o repertório literário dos alunos. O outro tomou como objeto uma
estratégia específica, partindo da criação de uma comunidade de leitores da obra
Percy Jackson (best-seller infanto-juvenil) rumo a uma expansão do repertório
dos alunos através da intertextualidade entre um dos volumes dessa obra e a
Odisseia, de Homero, colocando em diálogo dois subsistemas do polissistema
literário.
PALAVRAS-CHAVE:
Compartilhamento.
Letramento
literário;
Intertextualidade;
Emerson da Cruz Inácio
TITULO: “DO MEU CORPO O CANTO”: O CORPO E A SUA ESCRITURA
RESUMO: A emergência das vanguardas literárias e a decorrente prática que
propuseram não garantiu a normalização de conteúdos como o corpo, o gênero e
a diversidade sexual, no âmbito literário de movimentos como Orpheu e a
Semana de Arte Moderna, que acabaram por conformar literariamente os juízos
morais e estéticos que tanto combateram. Ao par disso, ausente esteve ainda uma
textualidade que desafiasse os gêneros literários na sua compartimentalização.
Somente a revisão estética dos valores modernistas, ocorrida em Portugal e no
Brasil no correr dos anos de 1960, propiciará, em ambos os contextos, o
surgimento de discursos literários que abrangessem os temas-tabu acima
referidos, consonante às demandas políticas em ambos os países. Essa produção,
materializada na produção literária pós-modernista ensejaram uma escritura
que, ao romper com os limites da forma, apontam para a tentativa de traduzir o
corpo no e pelo universo do texto, localizando o corpo nos discursos estéticos da
modernidade tardia.
PALAVRAS-CHAVE: Corpo e Escrita; Generos Literários; Gêneros Sexuais.
Emilie Geneviève Audigier
TITULO: TRADUTORES FRANCESES DE MACHADO DE ASSIS EM GUERRA
RESUMO: O tradutor belga Victor Orban traduziu uma das primeiras antologias
de literatura brasileira (1914), com contos de Machado de Assis em francês.
Décadas depois, o General René Chadebec de Lavalade traduziu novamente
Memórias póstumas de Brás Cubas (1944). Como esses dois defensores tão
singulares das letras brasileiras traduziram durante as duas guerras que
marcaram a Europa e o mundo? Em que suas traduções, em particular as de
Machado de Assis, pertencem a épocas marcadas pela guerra, no plano
intelectual?
PALAVRAS-CHAVE: Guerra; Machado de Assis; Tradutores.
Eneida Leal Cunha
TITULO: ÁFRICA, OUTROS MODOS DE USAR
RESUMO: A comunicação fará uma leitura contrastiva de imagens relativas à
África e à africanide contemplando os dispositivos de conhecimento e controle, a
exemplo da fotografia colonial, as visões veiculadas pelos media atuais e, ainda,
as imagens produzidas como estratégias de empoderamento e experimentos
artístico-visuais contemporâneos. A diversidade de objetos plausíveis para a
reflexão tem como contrapartida organizadora o foco na potência disruptora de
imagens produzidas em confronto com o poder instituinte das imagens que
pautaram a construção, pelo ou no Ocidente, da exterioridade e da inferioridade
africanas.
PALAVRAS-CHAVE: africanidade; imagens; fotografia.
Érika Kelmer Mathias
TITULO: A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA COM O TEXTO LITERÁRIO EM SALA
DE AULA
RESUMO: Esta comunicação é um recorte de um projeto maior de pesquisa que
tem como foco reflexões em torno do Ensino de Literatura, cuja questão central
se pauta no desenvolvimento de tecnologias pedagógicas para a sala de aula, no
que diz respeito a concepções de propostas diferenciadas, que fundamentalmente
tenham por princípio norteador a relevância do aspecto plástico da esfera
estética, sobretudo da literatura. Tecnologia aqui deve ser entendida como a
interseção entre conhecimento (técnico e/ou científico) e a aplicação desse
conhecimento através de sua transformação no uso de ferramentas, técnicas,
processos, métodos e materiais criados e/ou utilizados para resolver problemas
ou, pelo menos, facilitar sua solução. Para tal, tem-se em mente tanto
perspectivas de ensino da leitura do texto literário para alteração do repertório
do aluno e, consequentemente, ampliação de seu universo no sistema literário,
quanto a leitura do texto literário enquanto espaço de transformação do ser, não
somente em seu aspecto social, mas, fundamentalmente, existencial. Assim,
muito mais do que desejar que o aluno saiba falar sobre Literatura (o que não é
de todo negligenciado, pois saber manifestar-se sobre o sistema simbólico
também é relevante para a constituição do ser), nosso foco recai em conceber
estratégias que permitam ao aluno experienciar o efeito estético do espaço
literário. O projeto se fundamenta em Teorias Sistêmicas da Literatura (Schmidt,
Rush, Gumbrecht), Teorias da Recepção e do Efeito Estético (Jauss, Iser) e
Teorias de Letramento com foco em Letramento Literário (Street, Rojo, Soares,
Paulino, Colomer). Para esta comunicação, pretendemos não somente refletir
sobre o aspecto da experiência estética com o texto literário como também
apresentar algumas propostas de trabalho com o texto poético em sala de aula,
sobretudo no Ensino Fundamental.
PALAVRAS-CHAVE: Experiência Estética; Letramento Literário; Ensino de
Literatura.
Érika Pinto de Azevedo
TITULO: REFLEXÕES SOBRE O ANTISURREALISMO
RESUMO: Nascido em 1919, em Paris, enquanto escritura automática (ou
surrealista), o surrealismo cresce, transforma-se e se adensa ao longo dos anos
para, em 1924, constituir-se em grupo e movimento, com um ideário, um
manifesto (de autoria de André Breton), um “Escritório” e um periódico (A
Revolução surrealista). A prática surrealista compreendeu a publicação de textos
(automáticos ou não), a realização de exposições, a afirmação e a vivência dos
valores surrealistas. Ao longo de sua trajetória histórica, não foram raras as
querelas em torno das afirmações de Breton e camaradas, tampouco as
manifestações antisurrealistas ou aquelas centradas na percepção negativa do
outro corporificado no surrealismo ou nos surrealistas. Esta comunicação tem
por objeto o antisurrealismo e, como tal, objetiva analisar alguns discursos,
práticas, grupos ou correntes que materializaram as reações antisurrealistas.
Para fazê-lo, farei uma breve apresentação da gênese desta comunicação que está
localizada na confluência de três atividades de pesquisa: minha tese de doutorado
sobre a escritura surrealista, defendida em 2012 na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul; o grupo de pesquisa “O Surrealismo e seus diálogos com a
modernidade: aproximações interdisciplinares - SURRDIAL”, coordenado por
Robert Ponge (UFRGS); e o Dicionário dos antis: culturas em negativo,
organizado por Luiz Eduardo Oliveira (Universidade Federal de Sergipe) e José
Eduardo Franco (Universidade de Lisboa) e para o qual Robert Ponge e eu
redigiremos o verbete antisurrealismo. Em seguida, procurarei dar uma ideia do
que é o surrealismo, para então situar algumas das manifestações culturais,
literárias, sociais e políticas que configuraram o antisurrealismo, dados iniciais
de sua origem e história. Concluirei com a análise de elementos que indicam que
a apresentação do surrealismo em negativo é oriunda de interesses muito
diversos.
PALAVRAS-CHAVE: século XX; surrealismo; antisurrealismo.
Ermelinda Maria Araujo Ferreira
TITULO: A DUPLA CHAMA: AMOR E EROTISMO NA OBRA DE OSMAN LINS,
FRANCISCO BRENNAND E ARIANO SUASSUNA
RESUMO: Templos de pedra, antigos ritos pagãos, a Grande Deusa, sacrifícios...
todos esses temas perpassam a obra do artista plástico pernambucano Francisco
Brennand, criador de um complexo arquitetônico, escultórico e paisagístico
único, instalado numa velha fábrica de cerâmica herdada de seu pai, no bairro da
Várzea, em Recife. Surpreendente e enigmática, essa obra estabelece diálogos
profícuos com os também monumentais trabalhos literários de dois escritores,
seus conterrâneos e contemporâneos: as iluminogravuras de Ariano Suassuna e
o romance Avalovara, de Osman Lins, nas quais a temática do feminino, do
erotismo, do amor e da morte dialogam num interessante cruzamento de ideias.
PALAVRAS-CHAVE: Erotismo; Literatura; Artes plásticas.
Esequiel Gomes da Silva
TITULO: GALERIA DA OFENSA MÚTUA: O DUELO VERBAL DE ARTUR
AZEVEDO COM CASTRO LOPES
RESUMO: No texto “Crítica a vapor” (1992), Flora Süssekind considera a
polêmica como uma forma de discussão privilegiada utilizada por jornalistas que
vislumbravam angariar prestígio e exibir cultura com pequenos debates
gramaticais e querelas de pouca monta, no Brasil da virada do século XIX.
Enquanto colaborador assíduo da imprensa fluminense e homem envolvido com
as questões de seu tempo, dos jornais em que colaborava, Artur Azevedo
provocou e sustentou algumas polêmicas. Em 1887, época em que foi encenada a
revista de ano Carioca, o crítico maranhense, que já era um dramaturgo
renomado e autor de algumas revistas de ano de sucesso, e seu colaborador
Moreira Sampaio foram acusados, por meio de uma nota publicada no Jornal do
Comércio, de plagiar parte de uma mágica inédita de Eduardo Garrido. A partir
desse episódio, surgiram vários artigos e notas na imprensa a respeito do assunto.
De um lado, estavam os desafetos do cronista e os leitores anônimos que
instigavam a querela, publicando pequenas notas diariamente nos jornais; do
outro, os simpatizantes à causa do acusado, defendendo-o e enaltecendo suas
qualidades; no meio da agitação, numa postura ao mesmo tempo provocativa e
exibicionista o dramaturgo, utilizando-se da sua seção “De palanque”, no Diário
de Notícias, protestava energicamente contra a calúnia e rebatia as acusações.
Nesta comunicação, falarei sobre os desdobramentos desse episódio, levando em
consideração os argumentos utilizados por Artur Azevedo para provar que tudo
não passava de um encontro de ideias.
PALAVRAS-CHAVE: Imprensa; Rio de Janeiro; polêmicas.
Esteban Reyes Celedón
TITULO: LEITURAS DRAMATIZADAS COMO INCENTIVO AO GOSTO PELO
TEXTO CLÁSSICO
RESUMO: Leituras dramatizadas como incentivo ao gosto pelo texto clássico
Esteban Reyes Celedón (UFAM) O presente trabalho é um dos resultados, da
experiência e reflexão sobre a mesma, de um projeto de extensão da UFAM, curso
de Letras, Leitura dramatizada em língua castelhana, que vem sendo realizado
desde 2011. O projeto tem o propósito principal de difundir parte da cultura
literária em língua espanhola e incentivar o aluno pelo gosto da leitura de obras
clássicas, utilizando, para este fim, obras dramaturgas, entremezes, do autor
espanhol Miguel de Cervantes Saavedra. Os alunos do projeto, com a ajuda dos
professores responsáveis, participam de vários ensaios de leitura dramática da
obra escolhida. O momento cume do projeto se dá com a apresentação final da
leitura dramática do entremez escolhido para o público interessado. Pretendemos
ressaltar os resultados positivos que esta experiência vem obtendo com relação à
conscientização, por parte dos alunos, da relevância e satisfação em praticar a
leitura de obras clássicas de uma maneira diferente, divertida e integradora.
Referências ALMEIDA, Nizael & GONÇALVES, C. H. Parré. Leitura dramática:
um olhar literário. Disponível em: www.unigran.br. Acesso em: 11 abr. 2015.
BALL, David. Para trás e para frente – Um guia para leitura de peças teatrais.
Trad. de Leila Coury. São Paulo: Editora Perspectiva, 2005. CANDIDO, Antônio.
“A literatura e a formação do homem”. In: Textos de intervenção. org. Vinicius
Dantas. São Paulo: Duas Cidades/Ed. 34, 2002, p.79. MAGNANI, Maria do
Rosário Mortatti. Leitura, Literatura e escola: sobre a formação do gosto. São
Paulo: Martins Fontes, 2001. ROSA, Gideon Alves. Leitura Dramática: um
recurso para revelação do texto. Dissertação de Mestrado em Escola de Teatro,
Universidade Federal da Bahia. Salvado, 2006.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura dramatizada; Incentivo à leitura; Entremez
cervantino.
Esther Marinho Santana
TITULO: A AFIRMAÇÃO DO TEXTO POR MEIO DO QUESTIONAMENTO DA
LINGUAGEM VERBAL NO TEATRO DE EDWARD ALBEE
RESUMO: Tiny Alice (1964-5), de Edward Albee, é não apenas o título
criticamente mais controverso no teatro norte-americano do século XX, como se
destaca no cânone do autor por sua complexidade textual e sua estrutura cênica
singular. Fundamental para o desenvolvimento do enredo, centrado no
envolvimento do irmão leigo Julian com Miss Alice, que doará milhões para a
Igreja Católica, está uma enigmática miniatura da residência da benfeitora. O
objeto, idêntico ao cenário onde ocorre a ação, é simultaneamente modelo e cópia
da mansão e encerra em si outras miniaturas que, repetindo-se numa sugestão de
infinitude, se meramente se imitam, também originam a novidade e a diferença.
Tornando-se uma espécie de personagem, o artefato é, ao longo da peça,
constantemente citado, observado e analisado, e, ao ocupar uma posição de
destaque no palco, tanto reflete quanto impulsiona os eventos desenrolados. É
também, ainda, o símbolo que deliberadamente desabona processos de
simbolização e o mecanismo explicativo empregado pelo grupo de Miss Alice em
seus ensinamentos religiosos e metafísicos a Julian, cristão conflituoso. É comum
no teatro albeeano o questionamento às limitações e restrições da palavra,
concebida como enganosa, imprecisa ou até mesmo inadequada para a ilustração,
a representação, a investigação e a comunicação. Diferentemente de outras
manifestações teatrais contemporâneas, todavia, a obra de Albee não abandona a
linguagem verbal, nem tampouco confere ao texto dramático importância
secundária diante de recursos cênicos materiais. O estudo da miniatura de Tiny
Alice permite que compreendamos que a desqualificação e o descrédito ao verbo
ali propostos apenas atendem, paradoxalmente, à função de afirmar e confiar nas
potencialidades do mundo verbal, bem como de celebrar o poder do ofício
literário. ALBEE, Edward. Tiny Alice. New York: Atheneum, 1965.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro americano; Edward Albee; Texto dramático.
Eugênia Mateus de Souza
TITULO: FISSURAS E SEQUESTROS DA HISTÓRIA: O EU E O OUTRO EM
MEU QUERIDO CANIBAL
RESUMO: A partir da leitura de Meu querido canibal, de Antônio Torres, mapeiase o imaginário colonial na contemporaneidade, através de uma revisitação da
história, com um olhar pós-colonial direcionado a uma cristalização que se
quebra pelo paradoxo metaficcional, para o encaixe de mais uma peça (versão)
do mosaico que forma a nação/identidade cultural brasileira. O mito de nação,
enquanto fundador de comunidade, gerou um sem-fim de pesquisas e invenções
das mais variadas e adversas possíveis. Torres utiliza-se de mitos e mostra a
narrativa de uma nação desvestida da cor, para reconhecer, em sua identidade, o
híbrido gerado não só do processo de aculturação, mas de algo mais específico,
do processo da transculturação. Vários povos de territórios distintos se
estabelecem num mesmo espaço, desenhando uma história de diversidade
cultural. À literatura cabe a função de recuperar passado/presente, fora/dentro
em atos antropofágicos para expressar a cultura nacional. Nesse mapeamento do
imaginário colonial, amplia-se um universo dentro das singularidades que não
permitem fronteiras, porque estas fronteiras são construídas pelo homem, que
resiste em reconhecer-se no outro. Meu querido canibal representa esse conflito
em reconhecer o outro.
PALAVRAS-CHAVE: Identidade; História; Transculturação.
Evelina Hoisel
TITULO: FLUXOS CONCRETISTAS: DESAFIOS
RESUMO: Com o objetivo de pensar algumas questões relacionadas ao tema
“Escritas Contemporâneas: Desafios ao Comparativismo”, esta comunicação
pretende desenvolver uma reflexão sobre os deslocamentos promovidos pelo
movimento concreto no âmbito crítico-teórico. Ao pôr em pauta uma série de
discussões que apontavam para o caráter dinâmico de um saber interdisciplinar
e intercomunicativo, o movimento concreto não só rasurou limites como também
entrelaçou campos discursivos diversos, promovendo estrategicamente a
dinamização de fecundos entre-lugares em que o híbrido se instalou
vigorosamente. A partir da concepção de que o passado deve ser revisto pelo
presente a fim de que se instaure um movimento de reconfiguração crítica,
Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, ao longo de diversos
ensaios escritos entre meados da década de 50 e meados da década de 60,
impulsionaram a transformação de diversos operadores ligados à episteme
moderna em potentes conceitos que dinamizariam o pensamento
contemporâneo. Assim, no contexto da passagem dos anseios modernos de busca
por um grande sistema renovador para um pensamento crítico-criativo
fragmentado, múltiplo e inter-relacional, as reflexões a serem desenvolvidas no
espaço desta comunicação pretendem investigar as diretrizes gerais do
pensamento crítico-teórico concreto, que, ao considerar o “presente” como eixo
de dinamização de uma atividade crítica transformadora, enfatiza a força de
reconfiguração desse ponto de deslocamento o qual permite a quem o olhe com
atenção redimensionar a história.
PALAVRAS-CHAVE: Movimento concreto; Crítica; Transformação.
Everardo Borges Cantarino
TITULO: AS MARCAS DO REAL EM GEORG TRAKL E MODESTO CARONE
RESUMO: Propomos apresentar um breve estudo do conto "As marcas do real",
de Modesto Carone, publicado em 1979, no livro homônimo no qual a experiência
literária se diferencia de certos modelos de texto predominantes no boom do
conto da década de 1970 no Brasil, e reeditado em 2007, em Por trás dos vidros,
com alterações na tradução dos versos finais do poema "Grodek", reproduzidos
no conto. A linguagem das narrativas breves de Carone é densa, absolutamente
concentrada em sua tensão interna e há uma opção pelo insólito, num
afastamento da mimese, mas com a presença forte das marcas do real que
alimentam o "estranhamento" e ressaltam a experiência de ruptura do indivíduo
com suas referências sociais. O conto "As marcas do real" foi construído a partir
da escolha dos eventos mais essenciais da vida de Georg Trakl, poeta austríaco do
início do século XX, com o propósito de condensar a história real ao extremo a
ponto de ela parecer um ato da imaginação. A linguagem objetiva do conto
vincula-se a uma realidade absurda, devido ao seu momento de desintegração,
desde a desestruturação familiar até a ruína da Donaumonarchie. Todas as
sequências que se sucedem no texto, montadas como fotogramas do resumo da
vida de Trakl, remetem à intensificação do absurdo da realidade diante da
percepção sensível do poeta. É nessa realidade em destruição que o poeta se
constrói. Em dado momento, o narrador reconhece a "experiência do drogado"
nos poemas de Trakl, e conclui: “Isso não impede que a dicção da obra seja clara
e segura, lembrando um mundo complementar à realidade histórica
circundante”. A partir desse personagem extraído da memória da literatura,
Modesto Carone escreve o conto "As marcas do real", ultrapassando os discursos
esquemáticos, para dizer de um mundo complementar, as ruínas da
modernização do capitalismo.
PALAVRAS-CHAVE: Modesto Carone; Modernidade; Crítica literária.
Éversom Pinto Monteiro
TITULO: SEBASTIÃO UCHOA LEITE E O POETA CRÍTICO: DESVENDANDO
O CONTEMPORÂNEO EM UMA ELABORAÇÃO CIRCULAR ENTRE POESIA E
CRÍTICA
RESUMO: A contemporaneidade e sua pluralidade de expressões artísticas
diminui as fronteiras entre o considerado cânone, ou erudito, e a cultura popular.
Ao mesmo tempo, e pelo mesmo motivo, exige que o poeta recupere o prestígio
do trabalho técnico na literatura, diluído pelas novas formas de comunicação.
Nesse contexto, este presente trabalho pretende comentar como o escritor lírico
e poeta pernambucano Sebastião Uchoa Leite (Timbaúba, 31 de janeiro de 1935
— Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2003) tenta desvendar o obscuro do seu
presente produzindo escritos que, enquanto ensaios, se propõem tão complexos
e relevantes como textos críticos, e que exigem tanto esforço criativo como
acontece na elaboração de textos poéticos. O resultado seria um comportamento
circular entre as estratégias de construção e os efeitos de sentido desses escritos,
na ação de quem ele chama de poeta-crítico. Esta personalidade, em diálogo com
a análise e elaboração lírica, estabeleceria assim sua participação na literatura,
deixando sua marca atemporal em seus textos.
PALAVRAS-CHAVE: Sebastião U. Leite; crítica; poesia.
Everton Fernando Micheletti
TITULO: A NAÇÃO "REAL E IMAGINADA" NA LITERATURA DE
BOAVENTURA CARDOSO E DE MIA COUTO
RESUMO: Nas obras do angolano Boaventura Cardoso e do moçambicano Mia
Couto, chama a atenção a relação entre o “real” e o “maravilhoso”, não havendo
muitas vezes uma separação, uma delimitação clara entre ambos, o que vem
sendo apontado há certo tempo por alguns estudiosos e críticos. Os temas da
guerra, da violência e da fome, por exemplo, são representados tanto de modo
“realista” como pelo insólito, seja metaforicamente ou com base em tradições
africanas, entre outros casos. Este trabalho, portanto, visa a contribuir para a
compreensão desse aspecto, com o interesse voltado ao espaço nas narrativas e à
“nação”, trazendo para a leitura e análise os pressupostos teóricos do geógrafo
Edward W. Soja. Em sua abordagem do espaço, Soja problematiza a separação
entre representações objetivas e subjetivas, e defende uma “terceira via” que ele
denomina de “espaço real e imaginado”. Com essa forma de entender o espaço,
propõe-se abordar o conceito de “nação”, pois Anderson, em sua clássica
definição das “comunidades imaginadas”, pergunta-se como algo imaginado
pode gerar sacrifícios reais, como no caso de “milhões de pessoas” que se
dispuseram “não tanto a matar, mas sobretudo a morrer por essas criações
imaginárias” (2008, p. 34). Assim, levanta-se a questão: o espaço “real e
imaginado” nas narrativas de Cardoso e de Couto pode ser considerado como
representação da “nação”, de características e pontos de vista dos povos que
formam Angola e Moçambique, possibilitando pensar a identidade nacional? São
respostas a essa questão, entre outras que possam surgir, que serão analisadas as
obras dos dois escritores.
PALAVRAS-CHAVE: Identidade nacional; Boaventura Cardoso; Mia Couto.
Everton Luis Farias Teixeira
TITULO: A OBRIGAÇÃO DE LEMBRAR: HISTÓRIA E MEMÓRIA NO GRANDE
SERTÃO DE GUIMARÃES ROSA
RESUMO: No caminho aberto pelo comparativismo entre as fronteiras do
estético e do histórico, este trabalho propõe um estudo dos elementos históricos
e da memória inscritos no enredo de Grande sertão: veredas (1956), de
Guimarães Rosa com base, principalmente, nas contribuições teóricas de Pierre
Nora enfeixadas em sua obra Le lieux de mémoire (1993). Neste exame espera-se
demonstrar como a noção de lugares de memória ultrapassa os seus limites
históricos e espaciais, ajudando a forjar uma nova vereda interpretativa para o
romance rosiano, no qual o narrador autodiegético — em sua obstinada vontade
de guardar em seu relato a memória daqueles “lugares em léu” (ROSA, 1956, p.
532) de seu espaço campesino — transforma-se também em um locus da
memória, obrigando-se a reorganizar os restos de um modus vivendi deveras
distante no tempo e marcado por uma espécie de “estado de exceção”. Em outras
palavras, torna-se o narrador um homem-memória capaz de erigir o hinterland
nacional à condição de uma metonímia de todos os lugares em que a violência e
a barbárie se ambientam. Distante, portanto, de um saudosismo sertanejo, o
protagonista Riobaldo faz ecoar em sua narrativa, não somente um réquiem do
jaguncismo nordestino, mas também um lamento pelos episódios que marcaram
a história do Ocidente no século XX, esta infiltrada nas páginas escritas pelo
ficcionista mineiro. Exemplos dessa ressonância da história ocidental abundam,
de maneira simbólica, nesse romance como os grandes fenômenos vivenciados
no século passado, entre estes, a emancipação feminina, a crítica e a ojeriza aos
modelos liberais. Neste giro de lembranças relatadas, amalgamento de oralidade
e de fomento estético, por um ex-jagunço e rico fazendeiro, Guimarães Rosa
termina por transmitir os principais acontecimentos ocorridos no século passado,
comprovando, de um lado, a autoridade universal da história e, de outro, a
negativa da “morte da narrativa” vislumbrada por Walter Benjamin.
PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa; História; Literatura.
Éwerton Silva de Oliveira
TITULO: THE AMERICAN CLOCK, DE ARTHUR MILLER, E HARD TIMES, DE
STUDS TERKEL: ALGUNS ASPECTOS ANALÍTICOS E COMPARATIVOS
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar aspectos da peça The
American Clock [O relógio americano], obra do dramaturgo norte-americano
Arthur Miller (1915-2005). O foco principal desta análise será a relação desta peça
com o livro Hard Times: An Oral History of the Great Depression [Tempos
difíceis: uma história oral da Grande Depressão] (1970), do escritor e radialista
estadunidense Studs Terkel (1912-2008). Assim como The American Clock, que
teve suas primeiras montagens profissionais nos anos 1980, Hard Times aborda
a temática da Grande Depressão econômica que ocorreu nos EUA nos anos 1930.
O livro de Terkel procura coletar depoimentos de sobreviventes deste período
histórico, construindo, desta forma, um tecido de narrativas orais que tem como
objetivo analisar uma década de profundas dificuldades e transformações
políticas, econômicas, sociais e culturais nos EUA. Arthur Miller, por sua vez,
comenta em seus ensaios que as fontes de informações para criar The American
Clock foram as suas próprias memórias dos anos 30 (sendo que, durante esta
década de recessão econômica, o dramaturgo ainda era adolescente), e esta obra
de Studs Terkel. É possível ver, em The American Clock, que pessoas cujo
depoimento foi registrado em Hard Times se tornaram personagens na peça, e
algumas de suas afirmações feitas no livro de Terkel foram convertidas em falas
cenicamente registradas por Miller em Clock. Neste sentido, analisar esta relação
entre The American Clock e Hard Times é de suma importância, uma vez que,
entre outras coisas, esta relação afeta a estrutura formal da peça – o que terá
consequências na representação da Grande Depressão feita pelo dramaturgo
estadunidense.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro dos EUA; Arthur Miller; Studs Terkel.
Expedito Ferraz Júnior
TITULO: UMA ABORDAGEM SEMIÓTICA DO CONTO "A FLOR DE VIDRO" ,
DE MURILO RUBIÃO
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo realizar uma leitura analíticointerpretativa do conto "A flor de vidro" do escritor mineiro Murilo Rubião (19161991). Com esta finalidade, buscamos aporte teórico metodológico na Teoria
Geral dos Signos, de Charles Sanders Peirce, especialmente de sua segunda
tricotomia dos signos, que os distingue em ícones, índices e símbolos. Partindo
da existência de três modos de representação, fundamentados, respectivamente
nessas três categorias semióticas, examinamos como cada uma delas atua na
leitura do conto escolhido e como podemos relacioná-las aos efeitos produzidos
pela intervenção do "fantástico" neste conto.
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Semiótica; Narrativa.
Ezilda Maciel da silva
TITULO: TOPOGRAFIAS DA(S) AMAZÔNIA(S): A POÉTICA DA RELAÇÃO EM
DOIS IRMÃOS, DE MILTON HATOUM
RESUMO: Resumo: A comunicação ampara-se na finalidade de analisar o
romance Dois irmãos (2000). Essa obra será examinada à luz das premissas de
Edward Said, Homi Bhabha, Thomas Bonnici, Édouard Glissant, entre outros. A
proposta é analisar como as movências, as errâncias, os deslocamentos e os
trânsitos migratórios dão visibilidade às diferenças culturais, e como essas são
figuradas no mundo romanesco deste autor manauara. Vista na dianteira dessa
zona diálogica, Dois irmãos mapeia alteridades, corpos, línguas e culturas,
projetando ainda cenas rizomáticas, fronteiriças e errantes. Desse modo,
abordando a questão das cartografias das Amazônias, pretende-se colaborar para
uma compreensão mais ampla e problematizante da diversidade estética/cultural
no âmbito das relações intra-regionais, assim como das interconexões das
(po)éticas da alteridade no contexto da Pan-Amazônia – lugar residual, de
passagens, trocas e mestiçagens várias. Por isso mesmo, desperta tantos
exercícios interpretativos sobre sua cosmogonia e cosmologia em escala
planetária, entrelaçando olhares críticos para traduzir os limites do território das
narrativas literárias Pan- Amazônicas.
PALAVRAS-CHAVE: Poética; Relação; Cartografia.
Fábio Salem Daie
TITULO: NÓS AINDA NÃO MATAMOS NINGUÉM – ESTRATÉGIAS
NARRATIVAS NA FICÇÃO DE LUIS BERNARDO HONWANA
RESUMO: Acossado por um sistema cuja estratégia principal de dominação era
a intensificação dos instrumentos externos da violência (ANDERSON, 1966;
CABAÇO, 2009), o moçambicano Luis Bernardo Honwana traçou na passagem
da década de 1950 a 1960 uma estratégia narrativa original. Sua força reside não
somente na brevidade de seus relatos, onde a forma do conto dá ênfase a conflitos
pontuais que, no entanto, sintetizam a sofrida condição colonial. O poder do livro
Nós Matamos o Cão-Tinhoso também está no universo sui generis construído
pelo autor, em que crianças, mulheres, velhos, loucos e animais, como egressos
do mais degradado nível da submissão, encenam as tragédias que os homens
adultos não poderiam encenar, sob pena de morte. Erguidos à luz da História;
encarados na proporção de suas forças; encontrados na escola, na colheita, no
campinho de futebol, no quintal de casa (e não na frente de batalha); dispostos
em posições privilegiadas – tais quais as personagens histórico-mundiais
(LUKÁCS, 2011) – em meio às tensões polares que se radicalizam rapidamente,
as personagens de Honwana fazem soar o gongo do império pela maneira como
batem em suas rachaduras. Eis que surgem: a relativa condição do atraso
português frente à composição europeia, as tensões latentes da Guerra-Fria, o
positivismo canhestro, impróprio; a arbitrariedade das relações de dominação; a
forças virtuais da resistência colonial e a própria guerra de libertação, que
germina na desobediência civil dos mais fracos. Esta comunicação pretende
mostrar por quais meios Honwana pôde criar uma narrativa da emancipação,
escrevendo ainda sob o regime colonial português. E, como consequencia disso,
quais as características que tornaram clássicas as histórias presentes em Nós
Matamos o Cão-Tinhoso, verdadeiras relíquias da memória colonial e, ao mesmo
tempo, anunciadores da revolução. Referências Bibliográficas ABDALA Jr.,
Benjamin. Literatura, História e Política: Literaturas de Língua Portuguesa no
Século XX. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007. ADORNO, Theodor. Teoría Estética.
Madrid: Ediciones Akal, 2011. ANDERSON, Perry. Portugal e o Fim do
Ultracolonialismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. ARON, Raymond.
As Etapas do Pensamento Sociológico. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2008.
CABAÇO, José Luís. Moçambique: Identidade, Colonialismo e Libertação. São
Paulo, Editora Unesp, 2009. CABRAL, Amílcar. Libertação nacional e cultura.
Sanches, Manuela Ribeiro (org.). In: Malhas que os Impérios Tecem. São Paulo:
Edições 70, 2011. CANDIDO, Antonio. A Educação pela noite. Rio de Janeiro:
Ouro sobre Azul, 2011. CÉSAIRE, Aimé. Cultura e colonização. Sanches, Manuela
Ribeiro (org.). In: Malhas que os Impérios Tecem. São Paulo: Edições 70, 2011.
COUTO, Mia. Pensatempos. Lisboa: Caminho, 2005. FANON, Frantz. Racismo e
cultura. Sanches, Manuela Ribeiro (org.). In: Malhas que os Impérios Tecem. São
Paulo: Edições 70, 2011. _____. Os Condenados da Terra. Juiz de Fora: Editora
da UFJF, 2010. HONWANA, Luís Bernardo. Nós Matamos o Cão-Tinhoso. São
Paulo: Editora Ática, 1980. LABAN, Michel. Moçambique – Encontro com
Escritores (vol. II). Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1998. LUKÁCS,
György. O Romance Histórico. São Paulo: Boitempo Editorial, 2011. THOMAZ,
Omar Ribeiro. Ecos do Atlântico Sul: Representações sobre o Terceiro Império
Português. Rio de Janeiro: Editora da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2002.
PALAVRAS-CHAVE: Honwana; Cão-Tinhoso; Contos.
Fabíola Guimarães Pedras Mourthé
TITULO: RAUL BOPP: POETA CONTEMPORÂNEO
RESUMO: Raul Bopp leva seus leitores a movimentar-se, mobilizando-os e
colocando-os em processo de mudança. É o que ocorre em “Cobra Norato”, obra
que marca uma fase inteira da nossa Literatura, o Modernismo Brasileiro. É
potência que arrasta, provoca e tem a possibilidade de desalojar. Pensando no
conceito de homem comum, que subsiste em devir, refletimos que a poesia
boppiana aposta na potência do devir, pois “resulta do rompimento de fronteiras
entre mundos diversos, bem como da abertura para potências de um modelo
lógico desconhecido.” (MENEZES,2011, p.163). Utilizando como ponto de partida
os argumentos do filósofo Giorgio Agamben (2009), torna-se possível afirmar
que Bopp foi um homem contemporâneo. Pois, o poeta, com seu olhar
contemporâneo, enxerga o escuro e sabe que por trás dele há uma luz que quer
atingi-lo, ao mesmo tempo que olha para o presente vendo as penumbras. Ele
consegue um distanciamento do seu tempo para poder vê-lo, nessa fenda; no
esquizo, nessa instância se dá o contemporâneo. Constatamos ainda, a presença
do narrador sedentário, proposto pelo filósofo alemão Walter Benjamim e
identificamos marcas de oralidade no texto. Enfim, buscaremos mostrar como o
universo boppiano desafia os limites impostos pelos dispositivos disciplinares,
dando voz e inventando o “povo que falta”. Deleuze nomeia-os como povo menor,
“que falta”, seres inferiores, bastardos, mas sempre inacabados em devir
constante; os excluídos, esquecidos que vivem à margem, como o anômalo do
sertão.
PALAVRAS-CHAVE: Raul Bopp; figurações do comum; contemporâneo.
Fabíola Simão Padilha Trefzger
TITULO: A FICÇÃO A CONTRAPELO EM HHHN, DE LAURENT BINET
RESUMO: O romance HHhH (2012), de Laurent Binet, cujo título corresponde
às iniciais da frase em alemão “Himmlers Hirn heiβt Heydrich” (“o cérebro de
Himmlers chama-se Heydrich”), conta a história da “Operação Antropóide”, uma
missão suicida levada a cabo pelo tcheco Jan Kub?s e pelo eslovaco Jozef Gab?ík,
encarregados de matar o segundo homem da SS do governo de Hitler: Reinhardt
Heydrich. A história é construída basicamente sobre dois eixos indissociáveis: o
eixo ficcional, que recria os fatos históricos, e o eixo metaficcional, que coloca em
cena um narrador atormentado pelas implicações éticas decorrentes da
transformação em literatura desse episódio impactante do Holocausto. Minha
proposta de comunicação é analisar essa obra, no limiar entre o autoficcional e a
literatura de testemunho, considerando questões tais como: 1) seria possível
atribuir à ficção uma potência solidária e, portanto, interventiva no registro de
fatos históricos, capaz de proporcionar um redimensionamento dos modos de
contá-los que afetaria tanto a Literatura como a História?; 2) até que ponto o
tratamento estético conferido a certos núcleos duros do real conduz ao impasse
ético diante do inenarrável, provocando o esgarçamento do ficcional, colocado na
berlinda, e, em última instância e a contrapelo, a sua negação mesma?; 3) a
discussão sobre as relações entre Literatura e História, tendo na mira narrativas
como HHhH, que abalam certos pressupostos cristalizados desses campos
discursivos, poderia contribuir para a problematização do componente ficcional
identificado tanto na Literatura como na História? e, por fim, 4) na esteira do
pensamento de Jacques Derrida, poderia a Literatura contra-assinar a História?
A condução do debate proposto contará com postulados de Jacques Derrida,
Walter Benjamin, Giorgio Agamben, François Dosse e Sabina Loriga, dentre
outros.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; História; Ética.
Fabiana Bigaton Tonin
TITULO: AVALIAÇÃO COMO POSSIBILIDADE DE LETRAMENTO: ANÁLISE
DE PRÁTICAS DE LEITURA E CONSTRUÇÃO AUTORAL
RESUMO: A proposta desse trabalho é analisar produções de alunos do 9o ano
de uma escola particular de Campinas/SP, apresentadas como resultado de um
processo de avaliação que contempla leitura e produção de texto. As atividades
de avaliação em questão foram produzidas a partir de leituras obrigatórias
(contos de Machado de Assis) orientadas pelas professoras responsáveis pela
disciplina de Língua Portuguesa e se configuram como uma alternativa que
pretende encaminhar os alunos à produção autoral, rompendo com a
configuração mais tradicional dos processos avaliativos escolares, porém, de
modo a manter critérios importantes no que tange às habilidades de leitura e
escrita. A partir das perspectivas do letramento e do uso de recursos tecnológicos,
foram contemplados gêneros multimodais, de modo a incentivar os alunos a não
só refletirem e se apropriarem dos conteúdos estudados e dos textos discutidos,
mas, sobretudo, a exercitarem um processo autoral de recriação a partir dos
textos lidos. Assim, minha proposta é analisar esse projeto, refletir sobre o
processo de leitura literária desenvolvido na escola, bem como discutir o percurso
desenvolvido pelos alunos, as produções apresentadas como resultado final e a
efetividade desse processo de avaliação.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura; avaliação; leitura fruição.
Fabiana Carneiro da Silva
TITULO: DO TUMBEIRO AO ROMANCE CONTEMPORÂNEO: UMA LEITURA
DE UM DEFEITO DE COR, DE ANA MARIA GONÇALVES, COMO DESAFIO À
CRÍTICA BRASILEIRA
RESUMO: A comunicação pretende compartilhar uma análise crítica (em
processo) do romance Um defeito de cor, publicado em 2006, por Ana Maria
Gonçalves. Parte-se da assunção da relevância desta narrativa para as letras e
para sociedade brasileira, já que, desde uma perspectiva em primeira pessoa
inédita em nossa tradição literária, o romance reelabora a trajetória de vida de
uma escrava liberta ao longo do século XIX. Tendo como base critérios que foram
delimitados pela crítica como parâmetros para a avaliação do gênero romance,
buscaremos identificar em que medida certas “irresoluções formais”
constituintes da obra estão relacionadas ao contexto histórico-social no qual ela
se insere, século XXI, e simultaneamente propõem questões aos referenciais de
valoração estética utilizados. Nessa direção, analisaremos como, ainda que adote
um procedimento estético do qual fazem parte recursos que imprimem à obra
uma negatividade constituinte, vide a variação da distância estética e o
questionamento da referencialidade do texto, a autora circunscreve tais
elementos a uma estratégia narrativa baseada na afirmação dos africanos e
afrodescendentes, sobretudo da mulher negra. Além disso, tentaremos vincular o
surgimento da obra à tradição literária brasileira, refletindo sobre a possibilidade
de que o livro seja lido como um acontecimento isolado, uma ruptura ou uma
continuidade com essa tradição. Com esse gesto, objetivamos formular algumas
hipóteses acerca das condições da crítica literária contemporânea no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Um defeito de cor; Teoria literária; Literatura afro-bras.
Fabiana Gonçalves
TITULO: ARQUIVOS DA CRIAÇÃO E O TÉDIO À (IN) CONTROVÉRSIA DE
MACHADO DE ASSIS. FABIANA GONÇALVES (PROPE/UNESP)
RESUMO: Presente na ficção machadiana, a expressão “tédio à controvérsia”
frequentemente aparece associada à personalidade de Machado de Assis, em
especial, à fase madura do autor. No entanto, ainda no élan da mocidade, a
postura acanhada e inquestionável sociabilidade literária cediam espaço para a
crítica militante, para debates como os registrados pela “Polêmica dos cegos” ou
então pela ensaística destinada à poesia nacional, entre outras expressões mais
agudas. Dentre os ensaios, incluindo-se neste grupo produções realizadas não
apenas na época romântica, “A nova geração” esquematiza em meio aos
comentários acerca da conjuntura literária na segunda metade do século XX um
contra-ataque ao principal algoz da produção em verso de Machado de Assis.
Publicado em 1879, o texto polemiza a predileção poética de Sílvio Romero e, com
isso, esboça um perfil diferente daquele mormente divulgado pelas biografias do
autor fluminense. Nesse ponto, as Americanas (1875), terceiro livro de poesia do
poeta, coadunam com a atitude intelectual de seu mentor. A despeito do
julgamento severo realizado pelo crítico sergipano ou justamente por conta dele,
o poeta aproveitou todos os poemas autorais lançados na primeira montagem da
coletânea nas Poesias completas, edição definitiva publicada em 1901. Talvez,
esse tenha sido o ato mais polêmico de Machado de Assis, poeta. Desse modo,
considerando possíveis intersecções entre as manifestações críticas
experimentadas em textos paralelos à criação literária machadiana, cujos
conteúdos dialoguem com o próprio fazer literário, e a literatura crítica
propriamente dita, sobretudo a representada pela produção em verso,
buscaremos examinar as polêmicas protagonizadas e/ou provocadas por
Machado de Assis. Para tanto, recorreremos à escritos edificados a partir de
discussões declaradas, isto é, veiculadas por textos não-ficcionais, bem como à
questões sugestionadas pela mensagem poética.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; arquivos da criação; debates.
Fabiane Renata Borsato
TITULO: A POESIA SERIAL DE PAULO HENRIQUES BRITTO
RESUMO: Paulo Henriques Britto, poeta, contista, professor e tradutor, lança seu
sexto livro de poesias, Formas do nada, em 2012. Nele promove inovações do
gênero poesia e das formas fixas do texto poético, por meio do diálogo com a
tradição e da reinvenção de formas e temas. A relação da poesia de Britto com a
tradição literária clássica e moderna é aspecto frequentemente abordado pela
crítica. Em seus poemas, o poeta concilia linguagem coloquial e formas canônicas,
sonetos inusitadamente deformados e matrizes clássicas informais. Esses
elementos da poesia de Paulo Henriques Britto são objeto constante de análise da
crítica de sua obra, motivo por que não será prioridade desse estudo. Interessa a
este trabalho analisar os poemas em série da obra Formas do nada e suas relações
com a poesia moderna, especialmente aquela produzida por João Cabral de Melo
Neto, e com a pintura e a gravura e sua tradição seriada. Há insuficientes estudos
sobre o recurso expressivo da seriação na obra de Paulo Henriques Britto, embora
o referido autor o empregue frequentemente. A composição poética seriada
estabelece polissemias e intertextos promotores de intercâmbio de sentidos entre
os poemas. Além disso, a seriação oferece unidade à obra ao fazer de cada poema
um módulo que com outros formará um todo orgânico. Os poemas seriados de
Formas do nada funcionam como módulos que estabelecem relações sintáticas e
imprimem narratividade aos textos. Além disso, a leitura intertextual dos textos
poéticos promove a modalização de valores, tempos e espaços. A obra Formas do
nada apresenta oito séries de poemas que juntas totalizam 37 textos geradores de
importante diálogo entre poesia, história e pintura. No poema “Tríptico com hotel
e sirene”, Paulo Henriques Britto reúne força visual, sonora e sinestésica ao
aproximar o tempo da poesia e o espaço da pintura, diálogo presente na literatura
clássica que é ressignificado na poesia contemporânea de Britto. Compreender o
modo de presença da tradição serial na poesia de Britto e as atualizações
empreendidas pelo autor quando do uso do recurso da seriação na obra Formas
do nada são objetivos deste trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Paulo H Britto; seriação; poesia.
Fabianna Simão Bellizzi Carneiro
TITULO: O IMAGINÁRIO DO SERTÃO GOIANO: MEDO E ASSOMBRAMENTO
EM “A BRUXA DOS MARINHOS E “CAMINHO DAS TROPAS”, DE HUGO DE
CARVALHO RAMOS
RESUMO: Nascido em Goiás, em 1895, Hugo de Carvalho Ramos desde tenra
idade acompanhava seu pai em viagens pelo interior do Estado, em comarcas
vizinhas à sua cidade, Largo do Chafariz. Observador perspicaz da vida do homem
do interior, Ramos deixa uma obra que prima pelas descrições detalhadas das
pessoas e hábitos do sertanejo, desde a maneira como se amilhava a tropa, se
descangavam os bois carreiros, até se aprofundar nas crenças e mistérios do
sertão goiano. Em 1917 publica a coletânea Tropas e Boiadas que reúne, dentre
vários contos, os que serão analisados neste trabalho: “A Bruxa dos Marinhos” e
“Caminho das Tropas”. São contos que dialogam com narrativas góticas
europeias, porém ambientados no sertão goiano e salientando seus males,
superstições e crendices. Portanto objetiva-se, através deste trabalho, perscrutar
a presença de elementos próprios das narrativas góticas europeias, que se
esmeravam em causar medo e terror no leitor. A metodologia deste trabalho se
pauta em pesquisa bibliográfica de teóricos de áreas como Literatura Fantástica,
Literatura Comparada, História e Ciências Sociais. A bibliografia será
devidamente referenciada ao longo do texto.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura comparada; Sertão; Gótico.
Fabiano Cardoso
TITULO: MAS ENTÃO O QUE SERIA A CRÍTICA? MACHADO DE ASSIS E O
DESAFIO DE RENOVAR A CRÍTICA LITERÁRIA NO FINAL DO SÉCULO XIX
RESUMO: O presente trabalho busca refletir sobre o desafio de Machado de Assis
para reformar a crítica literária brasileira na segunda metade do século XIX. Os
seus dois polêmicos artigos do romance O primo Basílio de Eça de Queirós reflete
a importância do pensamento machadiano sobre o dever-fazer da crítica naquele
período, que estava estagnada entre a análise impressionista e as amizades
convenientes. No texto Ideal do Crítico (1865) Machado busca um novo conceito
para a crítica do momento, baseando-se em características que considera
importante: imparcialidade, tolerância, paciência, moderação, urbanidade etc.
Para Machado a crítica deveria ser exercida por pessoas com conhecimento
especializado, e não por aqueles que presumiam ter esse conhecimento. Não é um
puro desejo de fazer crítica, mas esse exercício vem da pesquisa, isto é, do estudo
sistematizado das regras implícitas no texto literário que o crítico encontra numa
leitura atenta e obediente aos princípios que regem a análise da obra. Para
Machado a crítica brasileira precisa se reformular e se refazer para o bem da
própria literatura. Para ele a crítica jamais poderia se firmar em bajulações e
elogios às obras de pouco conteúdo literário, sob pena de rebaixar à própria
literatura. A crítica deve deixar o seu legado para que a literatura seja capaz de
crescer e produzir melhores resultados na sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; crítica literária; Eça de Queirós.
Fabiano Rodrigo da Silva Santos
TITULO: O RETRATO DA MISÉRIA, A MOLDURA DO ESPAÇO E A PELATA
DA MELANCOLIA: UMA LEITURA COMPARATIVA ENTRE “AS CISMAS DO
DESTINO”, DE AUGUSTO DOS ANJOS E O CÃO SEM PLUMAS, DE JOÃO
CABRAL DE MELO NETO
RESUMO: As seguintes considerações propõem uma leitura das relações entre
registro da miséria, paisagem circundante e melancolia, operadas pelos poemas
“As cismas do destino” (Eu, 1912), de Augusto dos Anjos e O Cão sem Plumas
(1950), de João Cabral de Melo Neto. Os dois poemas registram a tentativa de
sintonizar a sensibilidade lírica com uma espécie de fatalidade social, que, em
Augusto dos Anjos é oriunda de uma concepção cósmica e determinista da
miséria humana e em João Cabral de Melo Neto denota um esforço de
engajamento por meio da poesia. A evocação do espaço circundante em “As
Cismas do destino” e O Cão sem Plumas atesta a tentativa de realização de uma
forma de sondagem ontológica dos arrimos do sofrimento e da carência,
empreendida, em “As cismas do destino”, na senda do conflito dialético entre
determinismo e vazio metafísico, e em O Cão sem Plumas, pelo esforço de
configuração de uma lírica participante que irmana a essencialidade do poético à
"espessura" do fenômeno social. Em ambos o espaço é configurado de modo
evocativo e matizado por uma imagética convencionalmente vinculada ao tema
da melancolia, desdobrando-se em uma paisagem fugidia e em devir, que
encontra na linguagem do grotesco e do sublime rebaixado o substrato para
configuração de um quadro sócio-histórico dotado de intenso pathos. No poema
de Augusto dos Anjos, a flaneurie mescla-se às inquietações individuais, em João
Cabral de Melo Neto, a tentativa de plasmar animicamente o Capibaribe confere
ao rio o papel de testemunha consciente e síntese viva das mazelas sociais. Tanto
a Recife de “as cismas do destino”, como o Capibaribe de “O Cão sem Plumas”
configuram-se como instâncias em que a sensibilidade à dor coletiva tinge as
impressões com a nódoa negra da melancolia.
PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Grotesco; Sublime.
Fabio de Carvalho Messa
TITULO: SÍNDROME NARRATIVA EM RUBEM FONSECA: DE BARTLEBY A
ZUCKERMAN
RESUMO: Tomando como base inicial as obras Diário de um Fescenino (Rubem
Fonseca) e The GhostWriter – O Escritor Fantasma (Philip Roth), essa
proposição surge a partir de referências intertextuais fornecidas pelo narrador do
texto do autor brasileiro, para estabelecer similitudes e contrastes não só entre as
duas obras, como também com os textos de Enrique Vila-Matas e Herman
Melville. O narrador de Diário de um Fescenino, ao divagar no metadiscurso
sobre o que escrever e qual a qualidade sobre o que se escreve, menciona algumas
vezes os personagens Bartleby (Melville) e Nathan Zuckerman (Roth), em suas
esquálidas digressões que mostram o anseio da construção de seu Bildunsroman.
Essas referências constituem-se no desafio para uma especulação, no que diz
respeito às fontes primárias de leitura do autor e nos possíveis atravessamentos
decorrentes dessas aproximações. Nesta perspectiva, almeja-se destacar questões
retóricas da ficção contemporânea destes autores, que oscilam entre as tentativas
frustradas de composição de diários inconseqüentes e livros de memórias
permeados por uma tendência ensaísta. A síndrome narrativa pela qual o
narrador atravessa situa-se entre a crise da criatividade e da apnéia do fôlego
narrativo, resultando quase num “prefiro não fazer” de Bartleby, e a repercussão
da matéria narrada à legião de leitores, que repudiam as temáticas e as
abordagens do autor, constituindo-se na síndrome de Zuckerman. O respaldo
teórico para esta reflexão transita entre o fenômeno da intertextualidade,
postulado por Tzvedan Todorov, e dos desdobramentos polifônicos na teoria do
romance em Mikhail Bakhtin.
PALAVRAS-CHAVE: intertextualidade; bildunsroman; polifonia.
Fabio Figueiredo Camargo
TITULO: DARCY PENTEADO E SEUS HOMOSSEXUAIS VIRTUOSOS
RESUMO: O presente artigo estuda cenas de relações homoeróticas pelo fato de
que estas podem dizer muito sobre o seu tempo de produção e da sociedade que
engendra as representações dos corpos e de suas formas de relacionarem-se
sexualmente. O autor escolhido para este artigo específico é Darcy Penteado.
Escritor que participou ativamente dos movimentos gays no Brasil dos anos 1970
e tem uma produção que expressa os desejos e anseios de uma parte excluída da
sociedade daquele momento. O autor participou ativamente do Jornal O lampião
da esquina, que tem sua primeira edição em 1978 e para em 1981. O jornal foi um
importante veículo para a divulgação dos idéias do movimento gay recém-nascido
nas paragens brasileiras naquele momento. Os textos selecionados para análise
pertencem aos livros A meta, 1976, Crescilda e os espartanos, 1977, e
Teoremambo, de 1979, de Darcy Penteado. Nosso artigo centra fogo nas
representações dos sujeitos homoeróticos produzidos por essas narrativas, a
partir das expressões utilizadas para descrever suas relações sexuais. Toma-se
para isso teóricos como Michel Foucault, Beatriz Preciado, Judith Butler, bem
como elementos da Teoria da literatura.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileir; Homoerotismo; Teoria queer.
Fabio Mario da Silva
TITULO: A PRESENÇA FEMININA NA OBRA MEMORIAL DOS MILAGRES DE
CRISTO DE SOROR MARIA DE MESQUITA PIMENTEL
RESUMO: Soror Maria de Mesquita Pimentel (1581-1661) é a primeira mulher a
escrever e publicar uma epopeia em língua portuguesa. Inicialmente, publicou
Memorial da Infância de Cristo e Triunfo do divino Amor em 1639 e deixou no
prelo, em manuscritos, o Memorial dos Milagres e Memorial da Paixão de Cristo,
obras essas objeto de estudo do meu pós-doutorado pela Universidade de São
Paulo. Nosso objetivo neste trabalho é mostrar como e porque é notória a
presença de personagens femininas na segunda parte desta trilogia épica, o
Memorial dos Milagres, avaliando porque a autora utiliza não apenas
personagens bíblicas e históricas, como Maria Madalena e a Virgem Maria, mas
também figuras da mitologia greco-romana para melhor compor o seu canto
épico.
PALAVRAS-CHAVE: personagem feminina; Memorial da Paixão; Soror Maria
Pimentel.
Fabiola Bastos Notari
TITULO: SERGUEI M. EISENSTEIN E SUAS "MEMÓRIAS IMORAIS"
RESUMO: Nesta comunicação propõe-se a análise do livro "Memórias Imorais:
uma autobiografia" de Serguei M. Eisenstein a partir do estudo das características
do gênero autobiográfico e das narrativas de memórias. A essência desta
discussão é a subjetividade dos acontecimentos relatados que acabam tomando
rumos ficcionais e até mesmo didáticos, pois muitos de seus capítulos
apresentam-se em forma de aulas/práticas sobre linguagem, mais
especificamente a cinematográfica. A experiência de vida, seja da infância ou de
momentos críticos da vida adulta, é o cerne da autobiografia de Eisenstein, é o
auge de suas memórias e muitas vezes também de suas produções.
PALAVRAS-CHAVE: Serguei Eisenstein; autobiografia; linguagem.
Feliciano José Bezerra Filho
TITULO: TOM ZÉ E A INVENÇÃO POÉTICA
RESUMO: O cantor e compositor Tom Zé destaca-se como representante singular
da junção criativa entre música e poesia. Pretende-se aqui mostrar como seu
procedimento artístico atende ao critério de invenção ao lidar com os elementos
musicais e poéticos na feitura de suas canções. Por meio de uma abordagem
sincrônica da atuação de Tom Zé, no momento da Tropicália, e, principalmente,
em suas ressonâncias contemporâneas, avaliaremos a linguagem poética,
alegórica e experimental deste compositor, enquanto investida para discutir
novas posturas diante do fazer artístico, diante do modo de lidar com a prática da
canção. A canção como inventário artístico, que, no cruzamento de ideias sonoras
e poéticas, aliadas à performance presentificada do corpo, abrem possibilidades
estéticas antecipadoras para o cenário cultural brasileiro. O texto, ora proposto,
dialoga com o conceito de “cancionista”, desenvolvido pelo compositor e
semioticista Luiz Tatit (1995, 2004), também se serve de Haroldo de Campos
(1977), em suas proposições de poéticas de vanguarda e poéticas sincrônicas,
além de outros autores que sinalizam para a invenção poética como legitimação
do fazer artístico.
PALAVRAS-CHAVE: Cançao popular; Poéticas; Tom Zé.
Felipe Gonçalves Figueira
Frederico Chevrand Pagnuzzi dos Santos
TITULO: DUAS NARRATIVAS SOBRE LAMPIÃO: A VOZ CRÍTICA E
DISSONANTE DE ANTÔNIO FRANCISCO
RESUMO: Em junho de 1927, o grupo do cangaceiro Lampião tenta invadir a
cidade de Mossoró/RN, sendo rechaçado pela defesa armada dos munícipes
organizados pelo prefeito Rodolfo Fernandes. Esse fato histórico tem sido
representado desde então largamente pelos artistas, sejam populares ou não. O
acontecimento é também objeto de dois cordéis do mossoroense Antônio
Francisco (1949 - ). O autor dialoga com a tradição discursiva literária sobre o
evento histórico, reinventando sentidos atribuídos habitualmente ao ocorrido em
1927. A partir disso, em um lúdico e inventivo jogo de espelhos, Antônio
Francisco constrói sua crítica voraz ao tempo presente, propondo uma nova
observação sobre o evento passado como ponto de problematização à atualidade,
construindo um discurso dissonante que tanto questiona as interpretações do
passado quanto as percepções comuns do tempo presente. Para o
desenvolvimento desse trabalho, em um primeiro momento apresento a
descrição histórica, conforme normalmente feita pelos registros historiográficos;
passo em seguida a uma análise da escrita de Antônio Francisco em dois cordéis:
A saga de um prefeito e o bando de Lampião (2011) e O ataque de Mossoró ao
bando de Lampião(2006). Para tal feita, busco analisar as narrativas, procurando
compreender em que medida elas se constituem como discursos dissonantes em
relação à versão oficial dos fatos e em que medida elas também se prestam à
construção de uma crítica contundente ao Brasil atual. O trabalho conta com o
suporte teórico fornecido pelas concepções da filosofia da linguagem
desenvolvidas por Mikhail Bakhtin.
PALAVRAS-CHAVE: Dissonância; Antônio Francisco; Cangaço.
Felipe Wircker Machado
TITULO: AS MUITAS PELES DE CARMEM: NOTAS SOBRE UM PROCESSO DE
CRIAÇÃO EM DANÇA
RESUMO: O presente trabalho consiste em algumas observações acerca do
processo de pesquisa e criação do espetáculo de dança contemporânea Carmem
Salvador. Este, por sua vez, consiste em uma (re)leitura da história de Carmem,
escrita por Prosper Mérimée na primeira metade do século XIX e relida na célebre
ópera de Georges Bizet. A proposta da releitura é criar um espetáculo de dança
afro-contemporânea a partir da fusão de elementos da história escrita e
publicada, da ópera e de outras releituras para uma versão – ou uma visada –
“afro-brasileira” de Carmem¬, sublinhada por questões de gênero, sexualidade e
etnicorraciais, porém, sem a preocupação de uma relação hierárquica entre
“original” e “cópias”. Para isto, a pesquisa consiste tanto na parte mais técnica e
diretamente corporal, na interseção entre técnicas de dança moderna, balé
clássico, dança de salão e danças afro (o que abarca também as danças ditas
“populares”), quanto no aspecto mais teórico e de busca de referências, visando
dar mais consistência ao processo de criação. Este consiste em compreender que
a interseção entre técnicas de dança oriundas de sociedades e culturas distintas é
também uma interseção (não desprovida de tensões) entre modos distintos de
saber e de entender/conhecer/sentir o corpo, o que acaba criando corporeidades
outras. Focaremos, em um primeiro momento, na ópera de Bizet e no romance
escrito para, em seguida, determo-nos no filme de Carlos Saura e em outros
longas do mesmo diretor que se inspiram profundamente na cultura flamenca e
sublinham sua marca árabe, explorando esta interseção. Partir deste primeiro
movimento consiste em um impulso para se pensar e criar uma versão afrobrasileira de Carmem que não deixe de sublinhar a relação deste “afro-brasileiro”
com a fusão árabe-hispânica que é o flamenco e que inspira a história, bem como
a questões de gênero, sexualidade e racialidade inerentes a esse processo de
criação.
PALAVRAS-CHAVE: dança; afro-brasileira; Carmem.
Fernanda Alencar Pereira
TITULO: EXILADOS NA/PELA PRÓPRIA LÍNGUA
RESUMO: “You credentials are excellent, but your accent is crappy.” (Ndibe,
2014, p. 32). Essa afirmação eliminatória é dirigida ao personagem Ike após
entrevistas de emprego, no romance Foreign Gods, INC., do escritor nigeriano
Okey Ndibe. Após concluir os estudos numa universidade estadunidense, e com
pretensões de obter o desejado green card, o sotaque de Ike, a marca identitária
de sua origem, não permite que encontre trabalho formal em sua área de
formação. A aclamada escritora também nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie
comenta, no discurso The Danger of a Single Story (2009), a perplexidade das
colegas que conhece ao chegar nos Estados Unidos, ao ouvirem seu domínio da
língua inglesa. Adichie precisou explicar que o inglês era a língua oficial de seu
país. Herança da colonização, inglês é a língua de expressão de escritores
nigerianos mundialmente conhecidos, como Ndibe e Adichie; assim como
também o é para escritores de gerações anteriores como Chinua Achebe e Wole
Soyinka. Uma diferença importante entre essas gerações de escritores nigerianos
é que os “mais velhos” precisaram construir um terreno literário, como
legitimação identitária. Essa literatura com sotaque diferente foi recebida das
mais diversas maneiras pela crítica antes de ser reconhecida e respeitada. Achebe
e Soyinka são escritores que não tinham a língua inglesa como língua materna, e
alcançam maestria estética transformando a língua do colonizador para nela
caber as especificidades de suas culturas maternas, igbo e iorubá,
respectivamente. São escritores “traduzidos” (Casanova, 2002). A geração de
Adichie e Ndibe não escreve mais a partir do mesmo lugar de seus predecessores,
mas de que modo a crítica os recebe e analisa? Faremos aqui uma leitura na busca
de uma compreensão do lugar paratópico ocupado por esses escritores, suas
línguas e seus personagens, voltando o olhar para o reconhecimento desse
sotaque que “exila”.
PALAVRAS-CHAVE: Nigéria; língua; paratopia.
Fernanda Aquino Sylvestre
TITULO: VICTOR GIUDICE: UM LEITOR DE MAUPASSANT? UMA LEITURA
DO FANTÁSTICO EM “O HORLA” E “O VISITANTE”
RESUMO: Guy de Maupassant, prolífico escritor do século XVIII, renovador da
narrativa curta, dedicou parte de seu trabalho a temas vinculados ao psicológico
e ao insólito. Em um de seus contos mais famosos e antologizados, “O Horla”, o
autor francês aborda a questão do duplo, da loucura e da manifestação de um ser
misterioso denominado Horla, que o perturba, fazendo-o perder o sono e a razão
e pensar na possibilidade de ter enlouquecido. Victor Giudice, escritor brasileiro,
dedicou-se mais especificamente ao gênero conto entre as décadas de 70 e 90.
Muitas de suas narrativas curtas permeiam o insólito, como “O visitante”. Giudice
foi funcionário de um banco e seus primeiros contos, por exemplo, “O arquivo”,
abordam a burocracia em estilo kafkiano. A leitura dos contos “O Horla” e “O
visitante” evidencia o diálogo entre as duas obras literárias, levando-nos a crer
que Giudice tenha sido um leitor de seu predecessor francês, Maupassant.
Embora Giudice tenha como provável fonte para a escrita de sua narrativa a de
Maupassant, os caminhos traçados pelo autor para construir o elemento insólito
que figura como mote da narrativa toma rumos diferentes em “O visitante”.
Partindo dessas considerações, esse trabalho pretende mostrar as relações
intertextuais entre os referidos contos, a forma como o duplo é tratado nas duas
narrativas e como se configura o elemento insólito nos contos mencionados.
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Maupassant; Victor Giudice.
Fernanda Boarin Boechat
TITULO: ENGENHO LITERÁRIO, LITERATURA ENGENDRADA
RESUMO: No presente trabalho, tratamos o discurso literário com produto de
uma comunidade discursiva. O discursivo aqui é visto como interlocução que se
estabelece entre os sujeitos que os conduz a questionamentos. Nesse sentido,
entendemos que o discurso literário integra essa comunidade discursiva
enquanto voz que se manifesta sobre ela e seus temas; não como algo isolado
dessa comunidade, mas como voz ativa de um sujeito integrante de uma
comunidade, que fala da mesma e para a mesma. Assim, o discurso literário não
se encerra em si mesmo, ele é a chave para o elo com outros universos discursivos;
ele é visto como ponte que proporciona àquele que lê a possibilidade de uma visão
de mundo mais ampla. A partir desse entendimento – que dialoga com parte da
obra do romanista Ottmar Ette, do filósofo Jürgen Habermas e do teórico da
literatura Wolfgang Iser –, será observada aqui a relação do narrador personagem
Carlos de Mello com a literatura nos romances Menino de engenho, Doidinho e
Bangüê, de José Lins do Rego. Compreendemos que a relação de Carlos com a
literatura demonstra como o objeto literário pode ser visto como um medium que,
ao fazer uso da linguagem natural e dar-se nas dinâmicas da linguagem natural,
é capaz de incorporar e incentivar transformações no mundo da vida
(Lebenswelt), seja em vista da realidade de ficção, seja em vista da realidade
extraliterária. Assim como tal personagem tem, em interface com a produção
literária existente, condições de ampliar sua visão de mundo ao longo de sua
trajetória nos romances, o leitor situado no mundo extraliterário também tem
potencializada sua capacidade de compreender sua realidade através da
literatura. Entendemos, por fim, que a literatura ultrapassa a lógica do texto
argumentativo, de modo que se corrobora o diálogo dos Estudos Literários com
outras áreas do conhecimento.
PALAVRAS-CHAVE: Discurso literário; José Lins do Rego; Teoria da Literatura.
Fernanda Müller
TITULO: A FICÇÃO CIENTÍFICA E A FORMAÇÃO DO LEITOR DE
LITERATURA
RESUMO: Qual o lugar da literatura na sala de aula hoje? Que práticas são
significativas no processo de formação de leitores críticos e engajados, capazes de
ler não apenas um livro, mas também o mundo, como preconizado por Paulo
Freire? Buscando oferecer alternativas, este trabalho parte de uma análise
histórica da escolarização da literatura para apresentar e problematizar uma
atividade desenvolvida com alunos da Educação Básica. Influenciada fortemente
por concepções greco-latinas, no Brasil a literatura foi primeiramente estudada
sob a forma de poética. Nos primeiros séculos estava inserida nos estudos de
retórica e somente em 1838 receberia estatuto de componente curricular
autônomo. Norma e estilo seguiriam separados, como evidenciam os manuais
publicados por volta da metade do século XX: gramáticas ou coletâneas de
autores clássicos. Certo ranço dessa visão fragmentária persiste ainda hoje,
mesmo após as tentativas de conceber a gramática a partir do texto, nas décadas
de 1950 e 1960, e de pensar o ensino a partir de gêneros do discurso, atentando
ao postulado por Mikhail Bakhtin, na contemporaneidade. Acresçamos,
finalmente, a depreciação da carreira docente que marcou as últimas décadas,
período em que, não por acaso, testemunhamos a ascensão das políticas de
universalização do livro didático nas redes públicas de ensino a par e passo com
as apostilas nas redes privadas. Resulta daí a prevalência no Brasil do trabalho
com livros didatizantes em que, não raro, prioriza-se a periodização literária e a
reprodução de trechos de obras canônicas em que a literatura é mero pretexto
para o ensino de gramática. Em uma atitude de resistência diante do quadro,
ofereço uma proposta de ensino de literatura desenvolvida em parceria com 85
alunos da rede federal de ensino de Florianópolis. Visando integrar saberes de
uma geração que, a depender de aspectos socioeconômicos, nasceu conectada ou
excluída digitalmente, realizamos a leitura das obras Jogos vorazes [Suzanne
Collins, Hunger games, 2008] e 1984 [Georg Orwell, 1948], aprofundando a
concepção de ficção científica, indústria cultural e mídia, chaves de leitura de
outras sagas juvenis e, a bem dizer, de nosso tempo.
PALAVRAS-CHAVE: Ficção científica; Literatura juvenil; Ensino de Literatura.
Fernanda Maria Abreu Coutinho
TITULO: ALICE, ALICES: A SEDUÇÃO DE TRADUZIR O ENIGMA
RESUMO: A importância da literatura infanto-juvenil, como base para a
formação de um público-leitor adulto, consciente do papel estético e
humanizador da escrita literária, vem sendo assinalada de maneira cada vez mais
afirmativa, com a chegada do século XXI. Assim é que se tornou imprescindível a
existência de uma Teoria da Literatura Infantil para respaldar a compreensão do
texto em seus vários ângulos, inclusive, do ponto de vista da recepção, recepção
que se expande até ao movimento migratório das obras literárias, chanceladas
pela tradução. O ano de 2015 marca os 150 anos de publicação de Alice no país
das maravilhas, obra escrita por Lewis Carroll (1832-1898), e livro tutelar do texto
para crianças, e que ainda hoje desafia seus leitores, particularmente, os adultos,
em função principalmente da utilização do nonsense como recurso de
composição. A proposta da presente comunicação é verificar de que maneira as
traduções brasileiras de Alice no país das maravilhas, efetuadas por Nicolau
Svecenko, Ana Maria Machado e Maria Luiza Borges, deixam entrever de foma
mais ou menos explícita o aparato escritural representado pelos comentários,
tanto no âmbito textual quanto no espaço paratextual. Com apoio nas
contribuições teóricas de BERMAN (2002, 2013) e de GENETTE (2009) será
buscado o tônus autoral de cada exercício tradutório e as significações para a
amplificação da leitura das aventuras dessa personagem ricamente sedutora.
PALAVRAS-CHAVE: Alice; tradução; comentário.
Fernanda Valim Côrtes Miguel
TITULO: INVESTIGAÇÕES LITERÁRIAS CONTEMPORÂNEAS A PARTIR DA
ATITUDE TERAPÊUTICA DE LUDWIG WITTGENSTEIN
RESUMO: Nesta comunicação apresentaremos o potencial criador e
transgressivo da terapia de dispersão espectral – tal como a temos denominado e
praticado no campo dos estudos literários contemporâneos – que toma como
referência a atitude terapêutica realizada por Wittgenstein, sobretudo nas
Investigações Filosóficas. A terapia à qual Wittgenstein submete o discurso
filosófico – ainda que a sobre-determinação semântica da palavra “terapia” não
se refira, neste caso, propriamente a uma acepção psicológica ou psicanalítica –
vem sendo por nós ressignificada. Uma terapia de dispersão espectral de um
problema ou tema em consideração parte dos efeitos de sentido suscitados em
atos de leitura de um texto de partida, no qual tal problema ou tema se encontra
literariamente configurado, sobre o corpo de um leitor-terapeuta interessado em
investigar tais efeitos, percorrendo seus rastros de significação dispersos em
outros arquivos culturais nos quais o problema investigado apareça reencenado
em jogos de linguagem transcorridos em diferentes formas de vida. A terapia
descreve e investiga semelhanças de família entre jogos de linguagem que
encenam o problema de diferentes maneiras, transgredindo a noção
comparativista que usualmente se reconhece em determinadas escritas literárias.
A terapia propõe a descompactação do ato narrativo de partida e investiga os
rastros desses efeitos em diferentes jogos de linguagem, não com o intuito de
explicar o texto literário e seus efeitos, nem o de propor uma outra interpretação
para ele. A primazia do corpo que participa das práticas culturais, em diferentes
formas de vida, é aqui também explorada para se pensar o ato de ler e de escrever.
Procuramos destacar, por fim, o papel vital que a literatura desempenha, a partir
desta perspectiva, como um movimento do leitor, desconstruindo hierarquias e
privilégios de sentido a que estão submetidas as práticas culturais e os valores
ético-estéticos atribuídos aos produtos das culturas.
PALAVRAS-CHAVE: Atitude terapêutica; Literatura; Wittgenstein.
Fernando Alves da Silva Júnior
TITULO: POÉTICAS DA FLORESTA: A PERFORMANCE NO CANTO
XAMÂNICO
RESUMO: Quem é o xamã senão aquele que consegue ver? A afirmativa de
Viveiros de Castro pode nos deslocar para a compreensão do pajé indígena
enquanto sujeito que intercambia seu modo de perceber o mundo, sendo que
existe apenas um, o humano. Nesse sentido, Viveiros de Castro explica duas
categorias ontológicas do pensamento ameríndio, o humano e o não-humano. O
primeiro é o ser que se coloca na posição de sujeito, e o segundo, a entidade
cósmica posta em condição de objeto. Não obstante, entre essas duas categorias
está o xamã, figura do entremeio que propicia a comunicação dos mundos
disjuntos que povoam o cosmos (CARNEIRO DA CUNHA). Tendo em vista esse
deslocamento de perspectivas, nos propomos discutir o lugar da performance do
xamã nesse cenário comunicacional, tendo por base a obra “Quando a Terra
deixou de falar”, de Cesarino, flertando, desse modo, com a etnopoesia no canto
xamânico dos marubo. Nesse viés, os espíritos também compreendem a diferença
dos códigos linguísticos e “traduzem seus cantos e falas para a yarã vana (“a nossa
fala”), já que suas línguas são tão diversas quanto são os seus povos”
(CESARINO). Na ausência de tradução impera a não-comunicação, o que leva
Cesarino a afirmar que o xamanismo, para os marubo, é “uma teoria da tradução”.
O xamã reaparece como um poeta, pois a ele é dado a função de criar (ou recriar),
por meio da performance, um ambiente místico e ao mesmo tempo poético, pois
o meio linguístico depende da canção e da evocação (ROTHENBERG). A
performance, nos lembra Zumthor, além de ser uma realização poética na qual se
coadunam gestos e sons, se insere em um contexto circunstancial de enunciação
que remete o ouvinte a uma situação de escuta particular. Assim, é por meio da
performance que o xamã agencia pontos de vistas. Palavras-chave:
Perspectivismo Ameríndio.
PALAVRAS-CHAVE: Canto xamânico; Etnopoesia; Performance.
Fernando Antônio Dusi Rocha
TITULO: O AFOGADO E O RENDIDO: ÍNDICES DE SACRALIZAÇÃO DA
EXPERIÊNCIA HUMANA NOS NOTURNOS DE CECÍLIA MEIRELES E NA
NOITE DE SÃO JOÃO DA CRUZ
RESUMO: A presente comunicação tem por objeto revelar o anseio metafísico do
sagrado, investigando-se os traços da metamorfose do homem interior na escrita
de Cecília Meireles — insinuada no último poema dos Doze Noturnos da Holanda
—, em contraste com percurso abismal da alma no registro poético de São João
da Cruz — notabilizado pelas duas primeiras estrofes da Noite Escura. Busca-se
avistar, nos territórios sempre robustecidos do sagrado, entrelaçamentos
rizomáticos das duas escrituras poéticas, especialmente a partir da episódica
assimilação da figura ceciliana do afogado pelo processo de clarificação do devir
na noite joanina e pela incômoda tarefa na qual a vida do homem é obscurecida
por Deus. Quer-se mostrar que essas aproximações, quando permitem ao eulírico aprofundar-se num discurso de desejo de vida ou de morte, fazem aflorar o
díptico espiritualidade-religiosidade do texto literário — o qual, numa relação
intrincada, propõe e complexifica as demandas do sagrado contra a indiferença
do mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Espiritualidade; S João da Cruz; Cecília Meireles.
Fernando Antônio Dusi Rocha
TITULO:
O
CORTEJO
DO
CORPO
ETERNAL:
ÍNDICES
DE
DESSACRALIZAÇÃO DA MORTE EM "MARCHA FÚNEBRE", DE OSMAN LINS
RESUMO: A presente comunicação tem por objetivo apurar alguns indicadores
de presença do sagrado que conturbam a noção do corpo belo e incorruptível,
apregoada num dos Casos Especiais escritos por Osman para a televisão,
intitulado Marcha Fúnebre. Pretende-se perquirir, na análise da telenarrativa
osmaniana, a reexpressão do eterno rogo da brevidade da vida numa sociedade
futurista e investigar — num apelo redimensionado do memento mori — a
indiferença diante salvação ou da expiação da alma. Busca-se avistar, tanto nas
afluências tributárias medievais como nos fluxos contemporâneos evidenciados
no teledrama, a pontualização de valores sacros e profanos, tendo como pedra
angular a recusa da morte diante da corrupção da beleza humana, de forma a
revelar o que Osman — desbravadoramente — sugere e prognostica : o
desencanto do mundo diante do excesso de dessacralização. Quer-se, em
perímetros não extremosos, inquirir a (in)adequação contemporânea de uma
morte sem corpo e de um corpo sem morte, projetados no écran da banalização
do corpo vilipendiado. Por fim, mediante a tentativa de desenhar alguns desses
índices, tenciona-se mostrar como o sagrado, no seu elastíssimo campo de
influência, permite uma mistura desordenada de atitudes e de posições diante da
morte que se revelam incapazes de serem harmonizadas.
PALAVRAS-CHAVE: espiritualidade; escrita osmaniana; dessacralização.
Fernando de Sousa Rocha
TITULO: MACHADO E OS LEGADOS DO CORPO AFRO-BRASILEIRO
RESUMO: Talvez uma das frases mais conhecidas de Machado de Assis seja a que
aparece ao final de Brás Cubas, quando o narrador em primeira pessoa, o próprio
Brás Cubas, afirma: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado
da nossa miséria”. Esta “derradeira negativa” constitui, aos olhos do narradorpersonagem, “um pequeno saldo”, ou seja, uma diferença—negativa ou positiva,
quem sabe—mas uma diferença que vem negar, ao menos em parte, a sucessão
de negativas que pareceria levar o narrador-personagem a um aniquilamento
completo, a um desaparecimento que não deixaria traço de si nem para si mesmo
nem para os demais. No entanto, esta diferença, o saldo, vem a constituir um
possível legado, transmissível, ainda que seja o legado do reconhecimento
consciente da impossibilidade e recusa de se deixar um outro legado, aquele que
se inscreve no corpo da prole. Levando-se em consideração os recentes reenquadramentos de Machado de Assis como escritor afro-descendente—tais
como a antologia de Eduardo de Assis Duarte e o estudo de G. Reginald Daniel—
como poderíamos ler a questão do legado, inscrito nos textos de Machado de
Assis, para a literatura e a cultura afro-brasileiras? É esta questão que abordarei
na minha comunicação, partindo justamente deste conceito do “saldo” como uma
tentativa de se negociar a negatividade que, social e historicamente, tende a
circunscrever as experiências afro-brasileiras. É justamente esta tentativa de
negociação—última contradição perante a derradeira negativa—que constitui o
legado que Machado de Assis deixa aos afro-descendentes. Entretanto, como
mencionei anteriormente, este legado do saldo só pode ser compreendido em
toda sua amplitude se lido lado a lado a um outro legado, aquele que se nega
inscrever no corpo afro-brasileiro. A meu ver, tal legado é formulado
exemplarmente numa outra última frase, desta feita encerrando o conto “Pai
contra mãe”.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; afro-descendente; legado.
Fernando José Ivo da Silva
TITULO: POESIA EM TEMPOS DE TWITTER E CONTEMPORANEIDADE:
UMA ANÁLISE A PARTIR DA OBRA DE FABRÍCIO CARPINEJAR
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo investigar a utilização da
ferramenta “twitter” do ambiente virtual, típica das tecnologias da informação e
da comunicação, característicos da sociedade contemporânea, na produção e
divulgação de textos literários, em especial o texto poético. A partir da obra de
Fabrício Carpinejar, poeta, cotejando sua produção virtual do twitter e as
publicações em livro, o trabalho abordará a relação entre a denominada
Twitteratura e as obras em livro impresso, meios através dos quais Carpinejar
publica seus textos. A questão do contemporâneo, segundo AGAMBEN, será
discutida a partir das poesias ou “tweets“ do poeta gaúcho, avaliando a própria
dinâmica da evolução literária ao longo do tempo e sua veiculação no
“microbloging“ com seus possíveis reflexos na estrutura poética, tais como a
fugacidade das publicações, o caráter aforístico e diminuto dos poemas e a relação
direta e mais próxima com o leitor, visto que, no ambiente do Twitter, além do
poeta, o próprio leitor pode “retuitar“ as postagens, servindo, assim, de agente
divulgador dos textos, aspectos contemporâneos das relações entre autor e
leitores nas redes sociais.
PALAVRAS-CHAVE: Twitter; Twitteratura; Contemporaneidade.
Fernando Pimentel Canto
TITULO: LITERATURA DAS PEDRAS: A FORTALEZA DE SÃO JOSÉ DE
MACAPÁ COMO LÓCUS DO IMAGINÁRIO E DAS IDENTIDADES
AMAPAENSES
RESUMO: Os textos literários de escritores amapaenses relacionados à Fortaleza
de São José de Macapá – FSJM (1764-1782) trazem um quadro de reconstrução
memorial sobre o lugar, após a instalação do primeiro governo do Território
Federal do Amapá (1943), quando a capital (Macapá) começava a mudar sua
feição de cidade imersa num tempo lento à margem esquerda do rio Amazonas.
A FSJM foi restaurada e tombada como Patrimônio Histórico (1950), e desde essa
época foi utilizada para atividades governamentais. Considerada a maior
fortificação do período colonial do Brasil, hoje é ícone da cidade e museu. Sua
imagem foi apropriada por instituições sociais e políticas, por meio de brasões,
bandeiras, logotipos e campanhas midiáticas, além de ser referência polissêmica
de linguagens artísticas que expressam a memória individual e coletiva do povo
de Macapá (CANTO, 2013). Os escritores traduzem em seus textos o sentimento
de pertencimento e os valores dos grupos sociais que acompanharam o processo
de urbanização de Macapá e o desenvolvimento do Território Federal até a
contemporaneidade (1943-2014). Nesse contexto objetiva-se analisar a questão
das identidades, buscando uma dimensão dialógica através de três
temporalidades: discurso fundador, período ditatorial e produções ficcionais
contemporâneas. Entender o conceito de memória e de identidade, expressos
pela literatura; como os escritores se posicionam sobre o lugar e por que eles
reconstroem pontos de vista enquanto testemunhas do seu tempo, é tarefa
sociológica a ser realizada com acuidade dentro das dimensões dialógicas aqui
situadas. A observação do escritor, na realidade, é a memória do grupo. E esta a
do escritor (HALBWACHS, 2009). E quando ele compartilha sua produção com
a memória do grupo, dá a esse grupo uma identidade. Através dessa literatura
tenta-se observar o processo que se edifica pelas mãos que escrevem, assim como
pedras sobre pedras na construção das identidades amapaenses.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Fortaleza de Macapá; Identidades.
Filipe Bitencourt Manzoni
TITULO: E COMO NADA VEM DO NADA, DO NADA VEM TAMBÉM O CORPO:
UMA RELEITURA DA POESIA DE CAIO MEIRA A PARTIR DE
“FENOMENOLOGIA PARA A EREÇÃO”
RESUMO: Nosso trabalho se propõe a uma releitura da presença do corpo na
poesia recente de Caio Meira, tomado, especificamente, enquanto instância
possível
de
subversão
de
um
paradigma
moderno
de
afirmatividade/negatividade. Se é possível dizer que a recorrência da
corporalidade na poesia de Caio - mapeável desde seu livro de estreia No oco da
mão (1993), mas cada vez mais enfática em Corpo solo (1998) e Coisas que o
primeiro cachorro na rua pode dizer (2003) - apontava para uma identidade
material entre corpo e cidade, cabe ressaltar que em “Fenomenologia para a
ereção”, bloco final de seu mais recente livro, Romance (2013), o corpo nos
possibilita um novo viés de leitura enquanto cinismo característico de uma
centralidade vazia que não se esgota na face “negativa, nostálgica, culpada” nem
na “afirmação alegre do jogo do mundo”, tal qual a dupla possibilidade apontada
pelos estudos derridianos. Nos oito poemas que compõem “Fenomenologia para
a ereção” o corpo aparece, assim, lido a partir de uma ereção sem desejo,
enquanto materialidade vital e pulsante, íntima ainda que estranha, que não se
orienta a nenhum fim, e se mantém em suspensão no jogo duplo entre o
estranhamento de si mesmo e o vitalismo. Interessa-nos, nesse sentido, ler, no
bloco final de Romance, não uma guinada radical, mas sim a consolidação de uma
imagem para um movimento cínico de suspensão da afirmatividade/negatividade
que pode ser flagrado, retrospectivamente, em diversos momentos da produção
poética de Caio Meira.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia contemporânea; Poesia e Corpo; Caio Meira.
Flávia Cristina Aparecida Silva
TITULO: A LOUCURA EM “O ALIENISTA” E NA “ENFERMARIA Nº 6”
RESUMO: Apresentaremos uma aproximação entre “O Alienista” (1882) de
Machado de Assis e a “Enfermaria nº 6” (1892) de Tchekhov, talvez um dos casos
mais impressionantes de similaridade entre temas da literatura mundial. Mais
espantoso ainda quando lembramos que esta é uma comparação entre obras sem
influência direta, porque é praticamente impossível que Tchekhov tenha lido
Machado de Assis e o contrário é pouco provável. A loucura e os avanços da
Medicina tornaram-se pauta do dia de quase todas as grandes cidades do mundo
entre os séculos XVII e XIX. A doença mental, que sempre figurou nos textos
literários – Shakespeare, Cervantes, Erasmo de Rotterdam – tornou-se tema
frequente de autores que estavam dispostos a apresentá-la como patologia e
demonstrar como ela era concebida pela sociedade da época, expondo qual era o
lugar do louco naquele mundo em transição e o papel da psiquiatria naquele
cenário de descobertas científicas. É nesse contexto que surgem “O Alienista” e a
“Enfermaria nº 6”. Trataremos da abordagem da loucura feita pelo dois autores,
assunto que ganhava, naquele momento, novas interpretações devido aos
avanços científicos, que alteraram definitivamente a relação do homem consigo
mesmo e com os outros. Buscaremos entender sobretudo a construção da loucura
como identidade social.
PALAVRAS-CHAVE: loucura; Machado de Assis; Tchekhov.
Flavia Alexandra Pereira Pinto
TITULO: ESPAÇOS DA MEMÓRIA: PERSPECTIVAS DA MEMÓRIA E DA
PAISAGEM NOS ROMANCES DE JOSÉ SARAMAGO
RESUMO: Esta pesquisa parte da análise da produção literária do escritor
português José Saramago e as possíveis relações que se estabelecem com as
teorias da percepção da paisagem e com o debate contemporâneo sobre memória.
Tem-se como proposta de investigação as representações da memória e da
paisagem nos romances de José Saramago, a partir das relações estabelecidas nos
espaços, sejam eles geográficos ou simbólicos, e experienciadas pelos
personagens centrais nos romances A Jangada de Pedra (1986) e A Viagem do
Elefante (2008). A análise comparativa dos romances, de base interdisciplinar, é
sustentada pelo aporte teórico e epistemológico relacionado à Geografia
humanista cultural, com destaque para Eric Dardel (2011) e Yi-fu Tuan (2003).
No tocante à memória, as reflexões de Maurice Halbwachs (2004), Michael
Pollak (1992) e Paul Ricoeur (2007) também fundamentam este estudo em
associação à leitura analítica do corpus literário. Nesta proposta, a memória não
pode ser entendida apenas como um ato de busca de informações do passado,
tendo em vista a sua reconstituição. Ela deve ser entendida como um processo
dinâmico da própria rememorização. Assim, ficção, história e memória nestes
romances se relacionam a partir da memória enquanto estratégia narrativa, que
recupera o passado, problematizando-o através da ficção.
PALAVRAS-CHAVE: Memória; José Saramago; Paisagem.
Francílio Benício Santos de Moraes Trindade
TITULO: MEMÓRIA DA CAPOEIRA: A RECONSTRUÇÃO DA ALMA AFROBRASILEIRA
RESUMO: Memória da capoeira: a reconstrução da alma afro-brasileira Prof.º
Ms. Francílio Benício Santos de Moraes Trindade - IFMA RESUMO: Neste
trabalho, faz-se uma análise da poesia feita nas rodas de capoeira e estabelece
relações identitárias com a cultura popular, assim como também com a poesia
afro-brasileira contemporânea no processo de construção da memória, da alma
do povo afro-brasileiro, da reterritorialização e da própria cultura
afrodescendente, recriadas pelo Griot, poeta capoeirista, a fim de que seja
reconstruída também a memória da poesia da capoeira, de acordo com temática
abordada em cada poesia, sobretudo, do ponto de vista estético, social e cultural,
revelando, assim, seus valores e costumes que contribuíram para própria história
de resistência cultural, ocorrida no continente americano, brasileiro. Para isso,
há de se recorrer algumas leituras de alguns autores como Aleida Assmann, Stuart
Hall, Élio Ferreira, Édouard Glissant, Franz Fanon, Jair Moura. Carlos Eugênio
Líbano Soares, Frede Abreu, Cloves Moura, Roland Walter, Paul Gilroy entre
outros que contribuíram em revistas, periódico, cd, DVD, documentários entre
outras mídias.
PALAVRAS-CHAVE: Capoeira e Memória; Afro-brasileira; Literatura.
Francisca Luciana Sousa da Silva
TITULO: DE EXÍLIO EM EXÍLIO: UM DIÁLOGO ENTRE EURÍPIDES E CLARA
DE GÓES NA PEÇA MEDEA EN PROMENADE
RESUMO: A presente comunicação traz uma breve análise do texto de Clara de
Góes, Medea en Promenade (2012), a partir da tragédia homônima de Eurípedes,
Medeia, (431 a.C.). O texto de chegada narra o encontro de Glauce, (Jovem),
Medeia (Mulher) e a ama de Medeia (Velha), três mulheres “em uma espécie de
deserto fora do tempo e do espaço”, nas palavras da autora. Pontuando a fala
dessas mulheres, ouvimos a voz do Corifeu, quase sempre à penumbra.
Propomos, assim, uma reflexão crítica, voltando nosso olhar para as
protagonistas dessas poéticas, cujas falas são marcadas por questionamentos:
“Qual meu lugar no exílio? Seria o exílio meu lugar?” Tais perguntas reforçam
uma antiga reivindicação das mulheres, não só de Atenas, mas de muitos outros
lugares, especialmente as estrangeiras. Foi buscando entender essas margens e o
porquê de tantas travessias, muitas delas forçadas, que elegemos o tema do exílio,
haja vista constituir objeto de interesse não só dos Estudos Clássicos, mas
também dos Estudos Culturais, por exemplo. Nosso intuito é mostrar como
ocorre o que ora chamamos “diálogo” entre Eurípides e Clara de Góes, numa
perspectiva comparada, buscando imprimir outra leitura para o mito de Medeia,
paralela ou além da metáfora, especialmente voltada para os constantes
deslocamentos da heroína. Dentre os autores que fundamentam nossa pesquisa,
destacamos: Forsdyke (2005), Gaertner (2007), Agamben (2009), Vernant
(2009) e Vidal-Naquet (2002). E ainda: Queiroz (1998), num vigoroso estudo
sobre literatura do exílio; Jasinski (2012), que trata da condição de estrangeiro e
sua associação à literatura e exílio; e Spivak (2014), que discorre sobre o sujeito
subalterno, em particular a mulher subalterna. Como aporte teórico do teatro –
da tragédia grega à cena contemporânea (ou do mito universal ao drama
particular) –, Lesky (2010), Rommily (2013), Hubert (2013) e Pavis (2008).
PALAVRAS-CHAVE: Drama; Exílio; Medeia.
Francisco Alves Gomes
TITULO: POR UMA HISTORIOGRAFIA DO TEATRO RORAIMENSE
RESUMO: As manifestações culturais em Roraima apresentam uma raiz de
ramificações e tons que aparentemente sempre mostraram-se preocupadas com
a afirmação de uma identidade cultural localmente referenciada. No campo da
música e do texto literário poetas tais como Eliakin Rufino, Walber Aguiar e
Neuber Uchoa propuseram temas na escritura literária relacionados à cor local,
contribuindo de forma imediata com a exteriorização dos aspectos culturais
através do movimento conhecido como Roraimeira. No que tange o teatro, a
questão assume proporções complexas, devido uma série de fatores que dizem
respeito não só ao apelo de uma identidade cultural demarcada, mas ao processo
de construção das propostas que são gestadas pelos grupos teatrais, e que nem
sempre estão ligadas diretamente, ao compromisso de panfletear a importância
dos signos locais/regionais, ocorrendo muitas vezes um profícuo processo de
subversão dos valores ditos regionais pelos universais. Neste sentido, nossa
comunicação apresentará aspectos do teatro produzido em Roraima, tendo como
ponto de partida a atuação das seguintes companhias teatrais: Cia Arteatro e Cia
do Lavrado, dois grupos ativos no cenário local. O primeiro atuante desde o ano
de 1993 e o segundo surgido no ano de 2005. Ao possuírem dramaturgias
específicas, ambos os grupos evidenciam em suas produções, discussões
fundamentais para a sistematização de uma historiografia do teatro local, assim,
urge a necessidade de criação de redes de pensamento sobre o teatro localmente
referenciado, haja vista que não há estudos voltados para essa dimensão cultural
do Estado de Roraima.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Historiografia; Roraima.
Francisco Antonio Ferreira Tito Damazo
TITULO: A METAPOESIA EM JOÃO CABRAL DE MELO NETO E EM PAULO
HENRIQUES BRITO
RESUMO: A metalinguagem como um procedimento na criação poética não é de
agora. Todavia, a atenção voltada para ela, sobretudo para a percepção do poeta
cujo exercício crítico se faz por meio de sua própria produção poética, passou a
ter maior relevância e sistematização na modernidade. O poema pondo em
questão a própria poesia ganha essa dimensão e amplitude principalmente a
partir de poetas como Poe, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé e Paul Valéry. No
Brasil, serão os modernistas quem tornarão esse fazer poemático um
procedimento recorrente. Mas ganhará destaque, em meio a dos demais, a
poética de João Cabral de Melo Neto. Na obra deste poeta, a metapoesia tornarse-á a dominante. Diria mesmo que, como uma certa obsessão, assim se instaura
claramente a partir de A Psicologia da Composição, Fábula de Anfion e Antiode
(1947). E de tal modo que A Educação pela Pedra (1966), sua obra-prima, é um
quase puro suceder-se de metapoemas. Esse procedimento metapoético se
estenderá praticamente como algo natural na poesia das gerações subsequentes.
Na contemporaneidade, desde os anos 1980, chama à atenção a poesia de Paulo
Henriques Brito. E nela, a recorrência ao metapoema especialmente é uma
constante de livro a livro, desde o primeiro, Liturgia da Matéria (1982), até, por
enquanto o mais recente, Formas do Nada (2012). Este trabalho procurará
demonstrar como cada um desses poetas desenvolve sua concepção de poesia
justamente utilizando-se da construção do poema. Procurar-se-á observar em
que medida seus fazeres poético-críticos se aproximam e se distanciam.
PALAVRAS-CHAVE: Metapoesia; João Cabral; Paulo H. Brito.
Francisco dos Santos Nogueira
TITULO: A TRANSA AMAZÔNICA E SUA MARGINALIZAÇÃO SEGUNDO
ALBERTO RANGEL
RESUMO: A marginalidade na qual estou propondo segundo Alberto Rangel,
sobre um olhar mais amazônidas perpassando por uma falsa ideologia ,que nossa
a Amazônia reflete um ar mundialmente vista como o pulmão do mundo.
Segundo Rangel o sentimento do animismo florestal esta sendo deteriorado por
quem deveria protege-la. dessa forma a floresta amazônica, tornar-se uma
verdadeira transa, mais no contexto transação irregular, bandida e assassina.
dentro do contexto irregular de uma amazônia que fora tão literária quantos seus
agressores.da amazônia do látex, da amazônia que oferecera o sustento ao
cabloco, hoje marginalizada pelos seus senhores caboclos,índios e ribeirinhos.
PALAVRAS-CHAVE: floresta; amazônia; transação.
Francisco Ewerton Almeida dos Santos
TÍTULO: CINEMA, LITERATURA E RESISTÊNCIA EM ANGOLA: DA ESTÓRIA
“ O FATO COMPLETO DE LUCAS MATESSO” (1962), DE LUANDINO VIEIRA
AO FILME “MONANGAMBÉ” (1968), DE SARAH MALDOROR
RESUMO: O escritor José Luandino Vieira (Angola, 1935), e a cineasta Sarah
Maldoror (França, 1938) têm sua vida e sua arte marcadas pela resistência anticolonial angolana. Este trabalho situa-se no diálogo entre suas linguagens
criativas, na ocasião em que Maldoror filma a estória “O fato completo de Lucas
Matesso”, pertencente ao livro Vidas Novas (1962) de Luandino Vieira,
resultando no curta-metragem “Monangambé” (1968, 35 mm, pb, 17 mn.).
Compreendendo que, tanto no texto literário quanto no fílmico, há em comum “o
diálogo íntimo, do sujeito angolano silenciado, cuja história é contada numa
perspectiva alternativa e contestatária do colonizador opressor.” (ANTÔNIO;
PIÇARRA. 2014), buscaremos, neste trabalho, interrogar os procedimentos
estéticos de que lança mão a cineasta para traduzir em imagens a escrita militante
de Luandino, produzindo assim, um filme que, tal como o conto, contesta o
momento social em que se insere e testa os limites das linguagens artísticas tal
como é testado o corpo torturado do prisioneiro/protagonista das narrativas. Arte
e militância, ficção e documento, história e memória, mesclam-se e alternam-se
em ambas as obras, em ambas as linguagens.
PALAVRAS-CHAVE: José Luandino Vieira; Sara Maldoror; cinema e literatura
Francisco Humberlan Arruda de Oliveira
TITULO: LIMA BARRETO: UM INTELECTUAL NÔMADE E DISSONANTE
RESUMO: Estes apontamentos constituem um desdobramento sobre o
intelectual Lima Barreto – anteriormente trabalhado em pesquisa de mestrado –
na perspectiva da sua literatura e figura constituírem uma voz dissonante e
nômade tanto na República Velha, como na literatura dos anos iniciais do século
XX. Lima Barreto, tradicionalmente, é visto como uma voz dos marginalizados,
que lutou, por meio da escrita, em defesa dos negros, dos pobres suburbanos e
defendia uma sociedade mais justa. Porém, até que ponto isto é válido? Lima, de
fato, foi essa voz ativa na escrita, entretanto, não é possível defini-lo como um
intelectual suburbano ou tradicional, mas sim que foi um escritor nômade que
transitou entre estes dois mundos, porém sem se encontrar completamente em
nenhum deles. A sua arte era idealizada e pregava a comunhão dos homens,
portanto, as suas críticas à República Velha, a defesa do negro marginalizado, o
desejo de participar da elite republicana, o gosto, e ao mesmo tempo a repulsa
pelo subúrbio, são manifestações daquilo com o que o escritor estava engajado:
com sua arte, em que era preciso não se prender, exclusivamente, em algum
grupo social, mas transitar entre eles, favorecendo, assim de forma utópica, a
união dos homens, a quebra dos preconceitos e a paz por meio da arte.
Procuraremos demonstrar em nosso trabalho - por meio de reflexões que podem
ser dissonantes - que Lima Barreto não fora um intelectual porta-voz de grupos
sociais, mas, sim, um nômade dissonante em vida e obra.
PALAVRAS-CHAVE: Dissonante; Lima Barreto; Nômade.
Francisco José Saraiva Degani
TITULO: AS TRADUÇÕES DAS "NOVELLE PER UN ANNO", DE LUIGI
PIRANDELLO NO BRASIL
RESUMO: Em 1922, Luigi Pirandello começou a organizar sua produção
novelística num Projeto que recebeu o nome de "Novelle per un anno".
Dramaturgo já consagrado, até aquela data Pirandello, enquanto novelista, não
tivera nenhuma de suas novelas publicadas no Brasil. A primeira publicação
conhecida irá acontecer em 1925 com a coletânea "Novellas escolhidas",
traduzidas por Francisco Prati, para a Editora A. Tisi & Cia. Esta publicação,
provavelmente, foi devida à vinda do autor ao Brasil com sua companhia de
teatro, no mesmo ano. Depois disso, outras traduções só seriam publicadas por
volta dos anos 1960. Autor de mais de 240 novelas, Pirandello não teve toda sua
obra novelística publicada no Brasil. Esta comunicação pretende verificar como
está distribuída a tradução da novelística pirandelliana no Brasil, e tentar traçar
um painel da postura dos editores diante da vasta produção novelística do autor.
PALAVRAS-CHAVE: Pirandello; Novelas; Narrativa italiana.
Franco Baptista Sandanello
TITULO: POR UMA SISTEMATIZAÇÃO DO IMPRESSIONISMO LITERÁRIO
NO BRASIL
RESUMO: Se, por um lado, o impressionismo na literatura brasileira não
constituiu escola literária, por outro, muitos de nossos escritores – dentre outros,
Raul Pompéia e Domício da Gama, no século XIX; Adelino Magalhães e Orígenes
Lessa, no século XX; e Menalton Braff, no século XXI – produziram diversas
obras em que os elementos de uma escrita impressionista estão presentes e
constituem importante chave de leitura. De fato, pouco se discute o valor
histórico da prosa impressionista no desenvolvimento da literatura moderna,
sendo os dados literários específicos desta forma ficcional analisados por vezes
como mera repetição de avanços técnicos da pintura. Neste sentido, pretende-se
aprofundar, conceituar e sistematizar, por meio desta comunicação, o veio
impressionista da literatura nacional, observando-se o conteúdo e a significação
específica da obra dos escritores elencados face ao diálogo problematizador com
o Impressionismo pictórico e a "atomização do mundo" (Kronegger; Matz) por
ele representada, comum à obra de pintores como Claude Monet, Pierre-Auguste
Renoir, Alfred Sisley, Berthe Morisot, dentre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Impressionismo; Literatura; Pintura.
Frans Weiser
TITULO: POBREZA POR SUBTRA?ÃO: A FESTA DE IVAN ÂNGELO
RESUMO: Em “Nacional por subtra?ão” (1987), Roberto Schwarz analisa como a
imitação de modelos culturais estrangeiros no Brasil e sua subsequente
(re)avaliação têm representado tentativas de teorizar a identidade nacional
durante o século XX. A noção de subtra?ão de Schwarz se refere ao papel que os
grupos marginais têm tido no discurso dominante, haja vista que este
frequentemente tolhe a participação daqueles. Seguindo o argumento de Schwarz
de que a exclusão do subalterno tem sido um aspecto fundador na teorização da
cultura brasileira por parte dos críticos literários, este ensaio sustenta que A festa
(1976) de Ivan Ângelo, escrito uma década antes da publicação do artigo de
Schwarz, pode ser lido como uma crítica antecedente desses processos
excludentes caracterizados pelo teórico, por sua vez exemplificando o que poderia
ser denominado de “literatura da pobreza por subtração.” O romance, que destaca
tanto a opressão militar em Belo Horizonte contra os retirantes da seca no
nordeste do Brasil como o isolamento social da elite diante da grave realidade
nacional, utiliza estrategicamente a eliminação do discurso da pobreza para
interrogar de que maneira a inclusão social é analisada e discutida em foros
públicos. Ângelo propositadamente chama aten?ão à exclusão das vozes
marginais (uma exclusão que o romance mesmo reproduz de modo irônico),
questionando no processo a interse?ão entre engajamento social e história
literária.
PALAVRAS-CHAVE: Ivan Ângelo; Roberto Schwarz; Pobreza.
Frederico de Lima Silva
Hermano de França Rodrigues
TITULO: RÉQUIEM: O ESPETÁCULO DA DOR
RESUMO: É notório o fato de estarmos vivenciando, em nossa
contemporaneidade, um culto ao sofrimento. Tal fato resulta, quiçá, de um
processo de subjetivação característico da pós-modernidade, marcado por
excessos narcísicos, cujos sintomas mais expressivos são o desamparo e a
violência, os quais conduzem o sujeito a experiências de angústia frente à própria
vida. Essa conjuntura explicita, de certo modo, o apego e o fascínio humanos à
dor, extraindo, das brumas da moralidade, uma dimensão sádica que, antes
dissimulada e encoberta, ganha, doravante, espaço e notoriedade. Somos sujeitos
em busca de referências, de (re)elaborações, e a nossa cultura parece experienciar
um momento de falência ética, que nos impõe um contato mortífero com a dor e
o vazio, chegando, por vezes, à aniquilação do próprio desejo, em decorrência de
um mais gozar. Sem dúvida, essas reflexões nos arremessam à conclusão de que,
em nosso tempo, a Cultura, em sua relação suplementar com a natureza humana,
incorpora de forma desmedida componentes cada vez mais perversos. Assim,
numa integração entre arte e psicanálise, propomo-nos a discutir, por meio da
utilização dos postulados freudianos acerca da perversão, como se tecem os laços
tanáticos no contemporâneo, utilizando, para isso, a metaforização desses
impulsos destrutivos na canção “Assum Preto”, composta por Humberto Teixeira,
e eternizada na voz de Luiz Gonzaga.
PALAVRAS-CHAVE: Assum Preto; Literatura; Psicanálise.
Frederico Oliveira Coelho
TITULO: CONTRACULTURA E EXPERIMENTALISMO NO BRASIL –
RUPTURAS, RELEITURAS E PERMANÊNCIAS
RESUMO: O objetivo desta comunicação é explorar a produção intelectual sobre
(e da) contracultura no Brasil por um ponto de vista renovador dos seus usos ao
longo da nossa história cultural. Um dos pilares da conversa será justamente a
expansão do termo contracultura para além de seus balizamentos históricos e
estéticos convencionais - isto é, os anos 1960/1970. Assim, iremos pôr em
movimento a centralidade política do termo cultura no país e as possíveis formas
transgressoras (contra) que escapam, esburacam ou ampliam o tema. Tal
operação será feita a partir de entrevistas, de textos de invenção e das múltiplas
escritas (expandidas para o cinema, o teatro, a música e as artes visuais) que nos
apresentem um vigor contemporâneo aos dilemas e impasses das ações vistas
como contraculturais. Esta comunicação terá como meta de debate, portanto, a
elaboração de ferramentas críticas e atualizadas para pensarmos representações
que aspiram uma “Modernidade nos trópicos” e toda a carga de alteridade que tal
ideia instaura no tecido sócio-cultural do país. Um projeto em que o Moderno se
descola de suas aspirações normativas de “Ocidente” e se expande para
representações de ruptura que articulam temas desviantes como o rock, o crime,
a revolta, o corpo, o delírio, a margem, a anti-psiquiatria, o cartesianismo tropical
e outros temas decorrentes das leituras que possam surgir ao longo da pesquisa
em andamento.
PALAVRAS-CHAVE: contracultura; modernidade; invenção.
Frederico Silva Santos
TITULO: O POEMA SINFÔNICO COMO UM DIÁLOGO INTERARTÍSTICO:
MARABÁ
RESUMO: A “iluminação mútua das artes” durante a maior parte do século XIX
gerou novas formas e gêneros artísticos em que as fronteiras entre as artes fossem
cada vez mais tênues. Nesse contexto, especificamente na música, surge o Poema
Sinfônico, um dos gêneros mais requisitados pelos compositores românticos e
certamente o grande responsável pelo diálogo entre a literatura, as artes visuais
e a música. Salvo suas especificidades o Poema sinfônico tem como finalidade
estreitar as relações entre as artes envolvidas, e através de evocações sonoras ou
mesmo imitações, direcionam o ouvinte à sua obra de referência. No Brasil, o
Poema Sinfônico foi responsável por elucidar não apenas a corrente nacionalista,
de fins do século XIX, como também o patriotismo de nossos compositores
novecentistas, e até os dias de hoje é um gênero de relevo no catálogo de músicos
de diversas tendências composicionais. Como objeto de análise a escolha do
Poema Sinfônico Marabá se destaca por seu enredo, suas especificidades
composicionais e pela mescla de elementos que de forma imbricata nos remete a
conceitos e critérios de caráter impar para as obras brasileiras de fins do século
XIX. A partir de conceitos imanentes ao tema, nosso aporte teórico será
estabelecido a partir da sedimentação de diálogos entre Aumont (1993), Cluver
(1997), (2000), (2001), Hoek (1995), entre outros pensadores, que servirão de
alicerce para a fundamentação do presente trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Poema Sinfônico; Gonçalves Dias; Francisco Braga.
Gérson Luís Werlang
TITULO: DOIS GATOS PRETOS: VIAGEM, MÚSICA E MEMÓRIA EM DOIS
LIVROS DE VIAGENS DE ERICO VERISSIMO
RESUMO: Nosso estudo propõe a análise da Literatura de Viagens do escritor
brasileiro Erico Verissimo a partir da presença da música. Para tanto, serve-se
dos livros Gato Preto em Campo de Neve e A Volta do Gato Preto, ambos da
década de 1940, relatos de viagens que o escritor fez aos Estados Unidos. As
relações entre música e memória, assim como a observação acurada dos estilos
musicais característicos dos locais por onde passa, reforçam a presença da música
como uma das marcas definidoras de sua Literatura de Viagens. A Literatura de
Viagens, conquanto exista desde a antiguidade, apenas agora começa a encontrar
seu nicho na crítica literária. A produção de relatos de viagens tem perpassado
toda a história ocidental e foi responsável pela mudança da visão de mundo em
diferentes épocas. Segundo Fernando Cristóvão “a Literatura de Viagens (...) é
um subgênero compósito, em que a Literatura, a História e a Antropologia, em
especial, se dão as mãos para narrar acontecimentos diversos relativos a viagens”.
Dentre os escritores brasileiros, o gaúcho Erico Verissimo destaca-se também
pela frequência com que abordou as narrativas de viagens. “Desde criança fui
possuído pelo demônio das viagens”, diz o escritor em suas memórias. Esse
“demônio” foi responsável pela produção de diversos livros dedicados às viagens
que o escritor fez pelo mundo. Neles, o ficcionista dá lugar ao viajante interessado
em praticamente qualquer aspecto da existência. As narrativas de Gato Preto em
Campo de Neve e A Volta do Gato Preto apresentam uma sucessão de quadros
descritivos dos lugares por onde o escritor passa, e essas imagens são
deflagradoras de múltiplos elementos da memória de seu autor. Na dança das
descrições, surge a música como presença fundamental, variada e agregadora.
PALAVRAS-CHAVE: Erico Verissimo; Viagens; Música.
Gínia Maria Gomes
TITULO: MEMÓRIAS ESTILHAÇADAS EM MAR AZUL, DE PALOMA VIDAL
RESUMO: A proposta desta comunicação é realizar a análise do romance Mar
Azul (2012), de Paloma Vidal, na perspectiva da memória. Pretende-se mostrar
os artifícios a que a personagem-narradora recorre para resgatar o seu passado,
cujos fiapos vão sendo transcritos no verso dos cadernos do pai, os quais são lidos
concomitantemente à sua escrita. Circunstâncias relativas ao pai, à amiga Vicky,
a R, namorado da adolescência, e Luiz, jovem que conheceu em uma viagem, são
desencadeadas por algum dado do cotidiano e transpostas para o seu texto de
forma fragmentária. Objetiva-se perscrutar os vazios, silêncios e mistérios que
permeiam a narrativa, que instigam o leitor a desvendar esse mosaico que é
complexificado pelas referências esparsas à ditadura militar, responsável por
vários dos destinos do romance. Os textos Espaços da recordação, de Aleida
Assmann, A memória, a história o esquecimento, de Paul Ricoeur, e Lete: arte e
crítica do esquecimento, de Harald Weinrich, entre outros, serão o subsídio
teórico desse estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Romance brasileiro; Silêncio; Memória.
Gabriel Dória Rachwal
TITULO: TÉDIO ÉPICO E IMAGINÁRIO ÉPICO
RESUMO: Bernardo Soares, o semi-heterônimo de Fernando Pessoa que é autor
do Livro do desassossego, e Bloom, o herói de Uma viagem à Índia (2010), de
Gonçalo M. Tavares, têm experiências diferenciadas do tédio. O primeiro leva a
vida tão-somente em Lisboa, inclusive residindo e trabalhando na mesma rua, a
Rua dos Douradores, mas pode ser considerado, porém, um viajante. A viagem
desse lisboeta do início do século XX se faz no plano do imaginário e, ao lado dela
figura, de forma insisistente, o tédio. Como costuma se dar em Soares, os temas,
a cada novo fragmento que compõe sua obra, ganham perspectivas diferentes,
mas pode-se dizer que, de um modo geral, o tédio é sintoma da necessidade de
agir, de se lidar com questões práticas da vida, tidas como entrave para a fruição
de Soares da sua própria capacidade de realizar viagens no plano da intelecção,
no qual ele enxerga uma possibilidade de se fazer um argonauta, um desbravador
que, estranhamente, parece ter o tédio como aliado. Já o Bloom de Tavares,
também lisboeta, realiza a viagem no seu sentido físico, geográfico, partindo para
a Índia numa reedição, no século XXI, da expedição de Vasco da Gama. Apesar
dos ares épicos, este itinerário da “Melancolia contemporânea”, conforme vai no
subtítulo da obra, desemboca em tédio. Essa espécie de turista que é também um
amálgama da tradição literária ocidental, na sua busca pelo Espírito – em clave
de estereótipo, o que prenuncia os resultados –, não encontra mais do que o
mesmo que já tinha antes de partir, do que se pode depreender um tédio épico
que se opõe, eis uma hipótese, ao imaginário épico de Soares. O presente
trabalho, portanto, se debruça sobre possíveis aproximações e distanciamentos
entre os dois. Referências: PESSOA, Fernando. Livro do desassossego. (org.
Richard Zenith) São Paulo: Companhia das Letras, 1999. TAVARES, Gonçalo M.
Uma viagem à Índia. São Paulo: Leya, 2010.
PALAVRAS-CHAVE: Imaginário; Tédio; Viagem.
Gabriela Lírio Gurgel Monteiro
TITULO: CENA EXPANDIDA: NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO
DO TEATRO
RESUMO: A comunicação abordará o ensino do teatro na universidade, tomando
como foco o conceito de cena expandida. Nos anos 90 e, mais acentuadamente,
no começo do novo milênio, assistimos à emergência de cenas híbridas criadas a
partir da interação de linguagens distintas no ambiente universitário, como o
audiovisual, a performance, a fotografia, a literatura. A interdisciplinaridade e o
hibridismo compõem uma nova cartografia de criações teatrais, em que as
especificidades das artes dão lugar a novos modos de produção e circulação de
objetos artísticos. Analisarei a produção teatral contemporânea desenvolvida na
UFRJ, através do desenvolvimento de novas práticas pedagógicas que privilegiam
a interseção e o diálogo entre as artes. O uso de dispositivos, de novos suportes e
a ocupação de espaços não convencionais serão abordados como estratégias para
criação de objetos artísticos no ambiente acadêmico. Como último aspecto,
investigarei, em concomitância à cena expandida, a categoria de artistapesquisador, refletindo sobre sua atuação na universidade, sobretudo nos cursos
de pós-graduação.
PALAVRAS-CHAVE: cena expandida; artista-pesquisador; práticas pedagógicas.
Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade
TITULO: O IMAGINÁRIO POP: JACARÉS URBANOS
RESUMO: O trabalho "O imaginário pop: jacarés urbanos" buscará analisar o
romance "Mastigando Humanos" (2013) de Santiago Nazarian, pensando como
o imaginário do cinema circunda a vida e a literatura contemporânea. O livro
narra a história de um jacaré que sai da natureza e vai parar nos esgotos de uma
grande metrópole. Ao chegar à cidade, o seu corpo se transforma, e o animal
ganha capacidades cognitivas humanas: pensar, falar e escrever. Partindo da
premissa do romance e da ideia de que a "mise-en-scène" do cinema e da
“realidade” misturam-se, isto é, o mundo é lido e vivido forma cinematográfica, o
presente texto fará um panorama do surgimento do imaginário sobre jacarés que
moram nos subterrâneos das cidades, partindo de uma reportagem dos anos 1930
do The New York Times e chegando aos filmes hollywoodianos de 2015. Em
seguida, será discutido o conceito de imaginário urbano a partir da perspectiva
de Nestor Garcia Canclini, o qual afirma que este é construído através de
repertórios iconográficos produzidos pela mídia e pelos meios eletrônicos.
Também será preciso pensar como a apropriação do imaginário sobre o jacaré
pela cultura de consumo relaciona-se com a perspectiva de Zygmunt Bauman. O
autor afirma que tudo é substituível no mundo líquido, pois há uma necessidade
de consumir produtos novos. No entanto, Mastigando Humanos é um produto de
consumo diferenciado. O livro utiliza as referências da indústria cultural para
criticar a lógica de consumo do mundo globalizado. Para pensar essa diferença,
será utilizado o conceito de Simulacro de Gilles Deleuze, buscando pensar como
a literatura fissura e põe em dissimilitude o modelo do imaginário urbano e
cinematográfico, mesmo apropriando-se deste, e como a mastigação dos restos
da cultura de consumo e da iconografia pop modificaram o mundo e o corpo de
Victório, protagonista do romance.
PALAVRAS-CHAVE: Santiago Nazarian; Literatura Pop; Cinema.
Gabriela Rodella de Oliveira
TITULO: “PORQUE ASSIM, SE A ESCOLA NÃO PEDIR, TEM GENTE QUE NÃO
VAI LER”
RESUMO: Partindo-se da perspectiva de que “é preciso utilizar aquilo que a
norma escolar rejeita como suporte para dar acesso à leitura na sua plenitude,
isto é, ao encontro de textos densos e mais capazes de transformar a visão do
mundo, as maneiras de sentir e pensar” (Chartier, 1999), propõe-se uma reflexão
sobre o papel da escola no desenvolvimento de práticas diversas de leitura
literária e de apropriação da literatura, a partir da análise de entrevistas com
alunos do primeiro ano do ensino médio de quatro escolas da cidade de São Paulo,
parte do corpus de tese defendida na FEUSP em 2013. As entrevistas evidenciam:
1) o forte apelo da cultura de massa, presente nas escolhas espontâneas de leitura
de best-sellers realizadas pelos adolescentes; 2) a consideração, por parte dos
alunos, das leituras escolares como compulsórias e a desconsideração, por parte
dos agentes escolares, das leituras praticadas espontaneamente pelos alunos; 3)
as diferenças radicais existentes na criação, efetiva ou não, de um acesso àquilo
que pode ser considerado “uma literatura de proposta” (Paes, 2001) ou “alta
literatura” (Perrone-Moisés, 1998). De modo geral, pode-se afirmar que os
adolescentes de todos os extratos sociais estão imersos no universo da cultura
digital, são impelidos à leitura de sagas transmidiáticas (Jenkins, 2009) e fazem
leituras tensas das obras indicadas pela escola, em função da obrigatoriedade, de
sua dificuldade e dos prazos nelas implicados. Ainda assim, os dados também
apontam para apropriações muito diferentes da “cultura legítima” (Bourdieu,
1996) e de obras do cânone escolar, dependentes das condições de formação dos
diversos sujeitos leitores (Rouxel, 2013): para uns, o aprendizado produz “uma
relação familiar (...) com a cultura como um bem de família” (Bourdieu, 2003);
para outros, ele significa a impossibilidade de acesso ao “bem cultural” e sua
consequente desvalorização, principalmente devido à falta de mediação.
PALAVRAS-CHAVE: práticas de leitura; ensino de literatura; cânone X bestseller.
Gabriela Soares da Silva
TITULO: VASSILI AKSIÓNOV: UMA POÉTICA AUTOBIOGRÁFICA
RESUMO: Vassili Aksiónov (1932-2009) é considerado um dos escritores mais
representativos do “degelo” soviético por sua escrita inovadora e dotada de
contrastes profundos com a literatura de sua época. Entre as principais
características de sua obra está a incorporação de um vasto corpo autobiográfico
motivado, muitas vezes, pelo histórico das perseguições políticas vivenciadas por
sua família. Esse fator teve impacto essencial nas relações entre literatura e
história, ficção e realidade na obra do autor. A maneira como Aksiónov utiliza
esse recurso caracteriza o que podemos chamar de uma poética autobiográfica.
Porém, essa poética não representa uma mera reprodução dos fatos ocorridos em
sua vida, mas ao incorporá-los, Aksiónov os transforma num debate mais amplo,
em que os conflitos excedem a realidade do autor e conduzem a uma relação de
tensão entre indivíduo e sociedade. Esta comunicação pretende mostrar a
problemática autobiográfica retratada pelo escritor e de que maneira ela se
apresenta na sua prosa, especificamente em uma de suas obras iniciais, Zviozdnyi
bilet, de 1961. Neste romance, Aksiónov retrata alguns aspectos da intelligentsia
do “degelo”, da sua própria geração, por meio da representação da juventude da
época e incorporando temáticas e influências culturais de seu grupo, como a
linguagem, a música e a literatura, por exemplo. Pretende-se, então,
compreender de que maneira as disputas individuais que impulsionam a
narrativa são transpostas para o campo da desindividualização e,
consequentemente, a uma crítica à sociedade e à cultura de sua época.
PALAVRAS-CHAVE: Vassili Aksiónov; Literatura russa; Literatura soviética.
Gabrielle Paulanti de Melo Teixeira
TITULO: A MEMÓRIA FORMALIZADA NOS NARRADORES DE VOZ
FEMININA EM BRACHER E HATOUM
RESUMO: Esse trabalho debruça-se sobre a Memória recriada esteticamente
através de narrativas memorialísticas em âmbito ficcional. A recriação/invenção
do processo narrativo autobiográfico faz emergir as questões de gênero como
delineadoras da forma literária, não como eleição, recorte ou aspecto, mas como
fundamento da figuração da voz nos narradores femininos. Os romances Azul e
Dura, de Beatriz Bracher, e Relato de um certo oriente, de Milton Hatoum,
apresentam narradoras que reconstroem suas trajetórias por meio de seus
relatos, sempre marginais, através de cartas e diários. Evidencia-se a existência
das memórias submersas, que não figuram no mesmo nível do discurso oficial,
mas permanecem alijadas e resistentes, à espera do momento de aflorar à
superfície. Esse processo de emersão de vozes marginais se dá por instâncias
trágicas, evidenciando o silenciamento e o impulso inevitável da enunciação.
Nessas narrativas, os relatos apresentam-se através de uma linguagem cindida,
como representação das tensões entre o desejo, a necessidade (incumbência) do
narrar e a interdição imposta pela violência simbólica que é marco dos dois
romances.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Brasilera; Memória; Voa feminina.
Galvanda Queiroz Galvao
TITULO: A MENINA ANOLIMOC, A VOZ, O TRAÇO
RESUMO: A Menina Anolimoc, A Voz, O Traço nos percursos, pés, asas a cidade,
uma narrativa que reverbera as artes, os fazeres, o cotidiano em deterioração, as
cores desprendidas do preto, do branco, o monocromático. O avesso da palavra,
a escritura em curso. Perguntas sobre o inusitados, sobre o cotidiano, a marca
gravada, o corte, precisão, a inteira parte. A narrativa, a voz, latência e silencio, a
dissonância, cumplicidade e voracidade, a prosa, a poesia nas mãos da meninamulher-homem-menino, percepções transformadoras que potencializam os
sentidos, as invenções, a fantasia em meio ao choque. "O pé, o ouvido", a
inverossímil realidade, o movimento a abrir caixas, caminhos, num traço que a
gravura permeia em “cores”. Interrogações coladas contaminam a imaginação.
Perplexidade e encantamento, os sons da resistência em imagens que se descolam
do papel, conversam, contrapõem o próprio Fazer, O Tempo em metamorfose de
Benjamin de Ricoeur, no antes primevo, nos pré-socrático.
PALAVRAS-CHAVE: narrativa, a voz; inscriçao; contraposiçao.
Gean Paulo Gonçalves Santana
TITULO: (DES)ALINHAVANDO O CANTO-POEMA DAS CANTADORAS
QUILOMBOLAS DO EXTREMO SUL DA BAHIA
RESUMO: Esta comunicação tem como objeto de estudo os cantos-poemas, uma
expressão poética oral do quilombo de Helvécia, no Extremo Sul da Bahia. Estes
cantos-poemas, construídos a partir de experiências intersubjetivas, e
vocalizados por negras cantadoras, ora são respostas, ora são questionamentos
às circunstâncias históricas, socioafetivas e aos confrontos da vida cotidiana.
Descrever e analisar essa poética no que traz de expressões que lidam com a
representação da herança africana, suas identidades, ressignificações e
resistência se constituem objetivos norteadores dessa comunicação. Os cantospoemas, como instrumento poético, de lutas e sacralidade, acionam memórias do
tempo vivido e do contado e, quando vocalizados pelas cantadoras ao toque do
tambor deitado, ganham corpo, ritmo e significação nas performances do batebarriga, do embarreiro, ao explicitarem histórias ancestrais, conflitos, amores e
trabalho. Contextualmente, os cantos-poemas ilustram o sentido da voz em
Helvécia, negociações, reflexões e lutas pela cidadania e pela liberdade desde a
Colônia Leopoldina, uma sesmaria constituída em 1818 e da qual se originou o
quilombo de Helvécia. Destaca-se nessa comunicação, o papel que o canto-poema
revela, a partir de seus discursos poéticos e vozes sociais, em relação a helvécia,
sua história e sua gente, suas identidades.
PALAVRAS-CHAVE: Cantos-poemas; poética oral; Identidade.
Geni Mendes de Brito
TITULO: "BANZO- FADOS E MORNAS: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL NA
LITERATURA.
RESUMO: O estudo proposto tem por base a busca dos elementos literários que
relacionam o ‘banzo - fado e morna’, numa temática privilegiada para as análises
comparatistas, pois contempla a investigação das inter-relações da literatura com
outras expressões, neste caso, o banzo, o fado e as mornas, desde suas origens
constituindo um estudo interdisciplinar rico em contrastes e nuances.
PALAVRAS-CHAVE: Banzo; Fados; Mornas e literatura.
Genilda Azerêdo
TITULO: “POR QUE DEUS PERMITE QUE AS MÃES VÃO-SE EMBORA?”: MÃE
E FILHO, A DOR DA SEPARAÇÃO
RESUMO: O propósito deste trabalho é discutir o filme Mãe e filho (1997), de
Alexander Sokúrov, com ênfase na relação afetiva entre mãe e filho e no
enfrentamento da morte. O filme dramatiza o momento de despedida dos dois –
mas como um filho pode despedir-se para sempre de uma mãe? Como
materializar, esteticamente, o desamparo e a dor inerentes à consciência da
morte? Sokúrov o faz através de uma plasticidade eloquente, capaz de captar a
densidade melancólica do momento; os planos podem ser apreciados como se
fossem quadros ou pinturas, tamanhas sua força e beleza visual. A hipótese aqui
colocada é que esse filme tem seus significados atrelados ao diálogo com outras
linguagens semióticas, a exemplo da poesia, da fotografia e da pintura,
constituindo-se inovador quanto ao modo de narração audiovisual, sobretudo
quando pensamos na morte e em seus efeitos devastadores.
PALAVRAS-CHAVE: narrativa audiovisua; afeto; dor.
George Luiz França
TITULO: ANTOLOGIAS, IDENTIDADES,
RESUMO: Os livros didáticos brasileiros podem ser pensados como filhos mais
ou menos distantes das antologias - uma tradição que, no Brasil, poderia ser
remontada ao trabalho de Francisco Adolfo de Varnhagen e seu "Florilégio da
poesia brasileira", de 1850, que no bojo do Romantismo buscou dar uma lei e um
discurso ao conjunto multifário e assombrado pela morte de nossa poesia (numa
metáfora antiga, de nossas flores). Filhos, portanto, de uma tradição que remonta
ao século XIX, esses materiais continuam, em alguma medida, subordinados a
certos princípios nomológicos que ainda a ele podem ser remontados mormente, as premissas da identidade nacional e da cronologia. Este trabalho
pretende contrastar diferentes princípios organizativos que os autores de livros
didáticos de Ensino Médio aprovados no último PNLD têm adotado em suas
abordagens, na medida em que conseguem ou não se relacionar com a
multifariedade dos objetos culturais da contemporaneidade e, ainda, pensar
dispositivos de leitura diferentes da simples cronologia ou repetição de rotulações
ligadas a "nomes de escola". O enfoque serão os livros do segundo ano do Ensino
Médio, série na qual tradicionalmente se aborda a Literatura do século XIX, e que
oferece dificuldades adicionais ao trabalho na medida em que as leituras se
afiguram fundamentais em avaliações de larga escala, porém muito distantes do
repertório linguístico e cultural da maioria dos estudantes. Em contrapartida,
pretendo, a partir de práticas realizadas como professor da Educação Básica no
Colégio de Aplicação da UFSC, discutir possibilidades de práticas que
possibilitem pensar uma abordagem da literatura no Ensino Médio menos
preocupada com o panorama, a homogeneização das interpretações e a
reafirmação do discurso da identidade nacional e mais abertas a um currículo
não-padronizador e focado na experiência de leitura como reescritura e na
abertura aos sentidos, ao plural, ao aberto, ao advento do texto (Barthes).
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Literatura; Ensino Médio; Livro didático.
Geovanna Marcela da Silva Guimarães
TITULO: TRADUÇÃO E ANTROPOFAGIA EM HAROLDO DE CAMPOS E
HERBERTO HELDER
RESUMO: Em “O eco antropofágico: reflexões sobre a transcriação e a metáfora
sanguíneo-canibalesca” (2013), Marcelo Tápia discute como a tradução e a
antropofagia são processos equivalentes de apropriação, desconstrução, troca e
diálogo. Para enfatizar tal equivalência, o autor tomará a tradução, no que
concerne a sua aproximação com a antropofagia, como transfusão sanguínea,
onde texto original e texto traduzido serão profundamente transformados,
metamorfoseados e modificados. Partindo dessa perspectiva, o objetivo desse
trabalho é mostrar como tradução e antropofagia ocorrerão como metáfora
sanguíneo-canibalesca em Haroldo de Campos e Herberto Helder. Para isso, a
transfusão precisa ser concebida não apenas como troca entre texto original e
texto traduzido, mas sim como diálogo e abertura à diferença, conseguidos a
partir do momento que o tradutor, para se encontrar com o outro, o estrangeiro,
abandona sua identidade.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Antropofagia; Identidade.
Germana Henriques Pereira de Sousa
TITULO: TRADUZINDO OS TROPISMOS, DE NATHALIE SARRAUTE
RESUMO: Tropismes – a obra – é uma série de XXIV poemas em prosa, escritos
por Nathalie Sarraute, durante o decênio de 1930 e reunidos numa publicação
pela Denoël, em 1939. Concluída desde 1937, Denoël foi o único editor que aderiu
ao projeto de escritura tropismal de Sarraute, ao publicar dezenove fragmentos,
sendo que o primeiro foi escrito em 1932 e os últimos em 1937. Em 1957, as
Éditions de Minuit publica uma segunda edição na qual são acrescentados seis
novos textos e retirado o Tropismes VI, da edição Denoël (TADIÉ, 1996).
Tropismes – sensações subterrâneas, são esses “esses pequenos atos larvários que
nenhuma linguagem interior expressa, que se precipitam às portas da
consciência, reúnem-se em grupos compactos e surgem de repente, se desfazem
logo depois, se combinam de outro modo e reaparecem sob uma nova forma”
(SARRAUTE, 1956, minha tradução). Esta pesquisa busca refletir sobre a
tradução desses tropismos e, por aí, encontrar uma linguagem capaz de renovar
os efeitos obtidos a partir da mescla de discurso e narração, língua falada e língua
escrita, banalidades e estranhezas, metáforas, imagens recorrentes. A estratégia
de tradução da qual lanço mão é aproximar ao máximo a verbalização em
português do texto sarrautiano por meio da pontuação, das pausas, das inversões,
das metáforas, do efeito marcante da linguagem compósita, mescla de erudição e
língua falada, familiar. A obra de Nathalie Sarraute alia o tropismo com a
sensação nova, não ainda gasta pela banalidade das trocas sociais, veiculadas pela
linguagem, aqui denunciada como portadora de estereótipos e coerções, que
podam a criatividade e a liberdade artística e humana. O tropismo é aliado
também à escrita do fragmentário, do limite, do antiestético, daquilo enfim que
na vida e na arte representa o mesmo, o idêntico, pois o poético também pode ser
uma armadilha da convenção. Traduzir essa linguagem é enfrentar o desafio das
banalidades e da coisificação do homem e da arte.
PALAVRAS-CHAVE:
comentada.
Nathalie
Sarraute;
Tradução
literária;
Tradução
Gerson Rodrigues de Albuquerque
Raquel Alves Ishii
TITULO: JUDAS AHSVERUS: O FANTÁSTICO “REAL” EM EUCLIDES DA
CUNHA
RESUMO: O objetivo que norteia a presente comunicação é apresentar algumas
reflexões sobre a presença do fantástico em “Judas-Ahsverus”, de Euclides da
Cunha, publicado em “À margem da história” (1967). Nessa narrativa, um
espantalho, tecido pelas mãos de “seringueiros do Alto-Purus” para ser malhado
no sábado de Aleluia, é esculpido à imagem de seu demiurgo, o homem da
existência “monótona, obscura, dolorosa”, que habita o “chão de barro” dos
territórios engravidados de vida de uma certa Amazônia. Judas Ahsverus é um
ser fantástico, fruto de um olhar que, por sobre os “sertões” amazônicos, projeta
leituras de outros “sertões”. Brotando de uma estética margeada pela forte
presença do romantismo europeu e por uma perspectiva secular operando com
noções de ruína e progresso, a prosa de Euclides da Cunha engendra nos olhos –
e na imaginação – dos leitores palavras carregadas de significados impactantes,
transitando entre as fronteiras porosas das “realidades” e das ficções de seu autor.
Nessa escrita “vingadora”, Euclides transfigura o corpo do seringueiro, tomado
ele próprio como imagem e reflexo de seu espantalho: sua “existência imóvel”,
seus repetidos “dias de penúrias”, suas “tristezas” e “pesares” intermináveis, suas
“fatalidades” e “desditas”, sua “figura desengonçada e sinistra” metamorfoseia-se
no grotesco e fantasmagórico Judas que esculpi, entalhando-lhe
meticulosamente cada traço de sua auto-imagem. A poética prosa de Euclides não
economiza na formulação de alegorias, em rudes/belas imagens do monstruoso
que se torna homem ou do homem que cria o monstro à sua imagem e
semelhança. Euclides da Cunha projeta sua imaginação como imaginação
daquele homem, segundo ele, à margem da escrita e do moderno, portanto da
história da nação. Nessa imaginação da imaginação uma figura demoníaca e
errante desce o rio Purus, de bubuia, feito os homens e mulheres de tal lugar,
“fantasmas vagabundos” penetrando imensos “recintos de águas mortas”.
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Euclides da Cunha; Amazônia.
Gilles Jean Abes
TITULO: TRADUÇÃO DO GÊNERO EPISTOLAR: HISTÓRIA E FORTUNA DA
CORRESPONDÊNCIA DE BAUDELAIRE.
RESUMO: Esta comunicação procura apresentar as especificidades do gênero
epistolar, que vem aliás suscitando grande interesse editorial no Brasil, assim
como diferentes perspectivas de abordagem das cartas de autores, artistas ou
músicos. Classificado entre os gêneros híbridos, a correspondência não permite
uma catalogação unívoca, o texto da carta oscilando entre ficção e documento
testemunhal, situação que exige um olhar atento por parte do leitor/tradutor. Em
seguida, descrevemos o percurso da publicação das cartas do poeta Charles
Baudelaire, traçando um histórico de suas missivas, cuja riqueza, ainda pouco
explorada, é de grande valor para os pesquisadores. Finalmente, passamos a
dificuldades encontradas na tradução de uma seleção de cartas do poeta Charles
Baudelaire para o português. A correspondência do autor das Flores do mal ainda
permanece, em grande parte, inédita em língua portuguesa. Antoine Berman, em
A tradução e a letra ou o albergue do longínquo, nos lembra que, “O romance, a
carta, o ensaio, não são menos rítmicos do que a poesia” (2006, p.55), trazendo
assim à tona desafios similares ao texto literário que qualquer tradutor deverá
enfrentar. Traduzir a correspondência de um autor do século XIX apresenta
várias dificuldades. Primeiro, há uma noção de tempo, em relação à língua, que
acarreta desafios de vocabulário, tom e estruturas sintáticas próprias à época.
Segundo, deparamo-nos com uma linguagem singular empregada pelo autor,
com o seu ritmo, pontuação (daquele tempo e preferências pessoais), entre outros
elementos que exigem reflexão. De um ponto de vista teórico, nossa análise se
embasará no conceito de letra de Antoine Berman, visto como espaço de jogo no
qual atua uma tradução simultaneamente ética, poética e pensante. No mais, é
preciso destacar que as cartas que não desapareceram, rasgadas, queimadas ou
perdidas, foram preservadas graças à riqueza de seus textos, ao interesse dos
destinatários, à resistência da tinta e ao esforço de pesquisadores. Sua fortuna, ao
mesmo tempo em que é sinônima de riqueza, desposa também os acasos do
destino – a boa e a má fortuna. Este trabalho ingressa na fortuna de sua tradução.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Baudelaire; Cartas.
Gisele Gemmi Chiari
TITULO: O DIÁLOGO COM A LITERATURA GÓTICA EM LEONOR DE
MENDONÇA DE GONÇALVES DIAS
RESUMO: Em sua obra Goethe, Schiller e Gonçalves Dias, o crítico teatral
Ruggero Jacobbi observa que o drama Leonor de Mendonça de Gonçalves Dias
incorpora o byronismo de temática neo-elisabetiana, mística ou sádica, dos
ingleses e, sobretudo, dos alemães, dentro de uma técnica ainda “clássica e
aristotélica”. Considerando a assertiva do diretor de teatro, o presente texto
investiga quais características da literatura gótica são aproveitadas na obra
gonçalvina colaborando para a efetividade dramática da peça. Sopesou-se
também a singularidade com que os paradigmas desse gênero foram empregados
pelo dramaturgo brasileiro. Vale lembrar que a literatura gótica e a romântica são
cronologicamente próximas e dividem alguns temas, como o do herói
transgressor, cujo processo mental interior é explorado em detrimento das ações
exteriores. Nesse sentido, a exposição da interioridade das personagens avança
tornando-as mais complexas. Os caracteres assumem um caráter ambíguo,
muitos deles, por exemplo, expressam grandeza de caráter, mas devido às
circunstâncias, essa superioridade é empregada para fazer o mal. O vilão-herói
vai sempre contra a norma estabelecida e é sempre contrastado a outra
personagem que, contrariamente, representa essa ordem. O leitor é, ao mesmo
tempo, repelido pelo sadismo e envolvido pela trágica história de vida de figuras
como Frankenstein, Heathcliff e Ahab. Assim, no drama gonçalvino infere-se que
a literatura gótica se reverbera na figura do herói apaixonado que desafia as
convenções sociais e se autodestrói, na feição um pouco demoníaca de um duque
sedento por sangue. Em Leonor, a vítima, como estereótipo advindo dos
romances góticos da “perseguida”. Na atmosfera de morte fortemente marcada
nas falas e na caracterização do ambiente, bem como no adensamento do pathos
com a sensação de escoamento do tempo.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura gótica; Romantismo; Gonçalves Dias.
Gisele Novaes Frighetto
TITULO: BRASILIDADE E COSMOPOLITISMO EM QUATRO ROMANCES
BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS
RESUMO: A multiplicidade da prosa de ficção brasileira pós-moderna a insere
num contexto de convivência, ou tensão, entre tradição e renovação, quando o
poder homogeneizador da globalização econômica e cultural entra em conflito
com os ideais de afirmação de identidade cultural ou nacional (RESENDE, 2008).
Ademais, se a pós-modernidade remete a um período histórico no qual são
questionados os fundamentos filosóficos das ciências e das artes, é inevitável que
semelhantemente sejam questionados os fundamentos nos quais se colocam o
local e o universal (EAGLETON, 2001). O cerne da questão se encontraria em
uma concepção dialética da oposição local e universal, na qual coexistem o
cosmopolita e o nacionalista. Também cabe um questionamento da noção de
universal como critério de consagração e como ideologia, baseada na tradição da
cultura hegemônica que oculta a ordem mundial desequilibrada e desigual da
qual o local está impregnado (SCHWARZ, 2012). Consideramos que essa
dualidade assume diversos matizes na ficção brasileira contemporânea, na qual
coexistem textos com maior ou menor adesão a uma brasilidade, e evidencia a
necessidade de consideramos apropriada uma perspectiva onde a
transculturação (RAMA, 2008) e os processos de hibridação (CANCLÍNI, 2006),
enquanto fenômenos culturais sincréticos, são estetizados a partir de uma
concepção dialética de pós-modernismo, na qual coadunam a ruptura e a
permanência (JAMESON, 2007). Essas questões serão problematizadas partir do
estudo de quatro romances que tematizam a construção da memória de
imigrantes e seus descendentes: Dois irmãos (2000), de Milton Hatoum;
Mamma, son tanto felice (2005), de Luiz Ruffato; O sol se põe em São Paulo
(2007), de Bernardo Carvalho e Diário da queda (2011), de Michel Laub.
PALAVRAS-CHAVE: nacional; pós-modernismo; transculturação.
Giseli Cristina Tordin
TITULO: O EXCESSO E O RESTO EM SILVINA OCAMPO E LUIS MARTÍNSANTOS
RESUMO: Procuro apresentar a correlação entre espaço, corpo e subjetividade a
partir de uma seleção de trechos de três obras: uma peça teatral, “Festa”, baseada
no conto “Las fotografías”, de Silvina Ocampo, e encenada pela companhia de
teatro Shiva, “Los traidores”, teatro escrito por Silvina Ocampo e J.R. Wilcock, e
uma narrativa de Luis Martín-Santos, “Condenada belleza del mundo”, inspirada
em um filme espanhol, “El próximo otoño” (1963). “Condenada belleza del
mundo” assemelha-se a um roteiro no qual se relata como a personagem deve
evidenciar ao espectador que os encontros que alcança não provocam uma
transformação em sua vida, exceto uma desidentificação. Já “Los traidores”
centra-se na história da família imperial romana, no ano 211 d.C. A impostura de
um dos filhos de Septimio Severo, Basiano, o Caracalla, gera realidades outras.
Apenas os traidores sabem algumas verdades, como o assassino do imperador e
de seu outro filho, e Basiano dificilmente reconhecerá o próprio mundo que criou.
Em “Festa”, é a posição do corpo do ator que provoca tanto o efeito das diferentes
sensações de realidade quanto a indiferença em relação ao outro, a que provém
de um excesso do “eu” que transforma este outro em objeto ou desloca-o a um
lugar de indiferença. O mal-estar que o corpo do ator capta, mas não sente, é
devolvido ao espectador. Assim, o objetivo principal é compreender nas
fronteiras do cinema, teatro e literatura as diferentes espessuras da realidade
transvasadas ao corpo: como os corpos que estão no espaço da cena, corpos que
ganham o plano através da visualidade háptica e os corpos que estão além dos
corpos, na sua virtualidade circunstancial, permitem outros reconhecimentos ao
modificar a postura do espectador/leitor. Esse reconhecimento constrói-se a
partir do que não podemos nomear, dos subterfúgios que, a partir do outro,
percebemos como nossos.
PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Subjetividade; Espaço.
Gislene Teixeira Coelho
TITULO: ANTÓNIO LOBO ANTUNES E O ESPLENDOR DE PORTUGAL:
IDENTIDADE, CRISE, DESMONUMENTALIZAÇÃO
RESUMO: Este trabalho objetiva desenvolver um estudo da relação história e
literatura, partindo das obras As naus e O esplendor de Portugal, do escritor
português António Lobo Antunes, as quais corroboram uma leitura atualizada do
conceito de historiografia e de como literatura e história, conjuntamente, têm
auxiliado na reformulação da historiografia moderna portuguesa. Ressaltar-se-á
o tratamento que a ficção de Antunes destina aos monumentos portugueses, em
que se verifica uma performance de desmonumentalização da memória e da
tradição portuguesa. Em ambos os trabalhos, alude-se, ironicamente, ao
"esplendor de Portugal", contrastando a imagem de grandeza e glória do passado
com uma forte sensação de crise e fracasso no presente. Nessa revisitação, o autor
recorre a recursos narrativos que expressam um profundo mal-estar dos
personagens, que parecem estar submetidos a uma espécie de maldição, a saber,
identidades
incompletas,
vidas
infelizes,
fracassos
e
decepções.
Sintomaticamente, um discurso igualmente maldito/mal-dito expressa essas
vidas em crise, utilizando, por exemplo, quebras de estruturas narrativas,
nonsenses, confusão de vozes e tempos narrativos, recursos textuais que auxiliam
na construção de um pensamento crítico acerca da identidade dos personagens
de Antunes e que contribuem para o entendimento e problematização da
identidade portuguesa contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE: Portugal; crise; desmonumentalização.
Gizelle Kaminski Corso
Josiele Kaminski Corso Ozelame
TITULO: LITERATURA, MUITO PRAZER!...
RESUMO: O tema do ensino da literatura na escola já vem, há algum tempo,
gerando férteis debates entre os estudiosos da área, uma vez que não há como
falar sobre literatura sem mencionar a leitura. Muitas vezes, o ensino tendencioso
de proclamar a literatura apenas como fonte de prazer acaba por se tornar vago,
uma vez que ela é, sim, exercício de pensamento, fonte de conhecimento que
promove ação, que deve ser pensada e polemizada. Portanto é perigoso centrar
seu o estudo apenas no prazer, pois não há garantia de que é possível ensinar o
outro a sentir o belo, porque este é gerado a todo instante, seja na observação de
uma paisagem, no toque de um objeto, na contemplação de um momento
(JOUVE, 2012). Nossa motivação ocorre em virtude de uma série de fatos, dentre
eles, o quesito “experiências” – experiência no sentido atribuído por Jorge
Larrosa Bondía (2002), daquilo que nos fica, nos passa, e não daquilo que,
simplesmente, fica ou passa. Experiências vivenciadas na condição de
professoras, cursistas, estudiosas, pesquisadoras e, principalmente, de leitoras.
Neste sentido, nossa proposta de discussão, embasada especialmente em Barthes
(2002), Compagnon (2009), Machado (2011) e Jouve (2012), é tangenciada pelas
especificidades já impostas a partir do título, mas com o intuito de questioná-las,
melhor dizendo, indagar a respeito de se justificar a leitura da literatura
simplesmente pelo prazer. Pretendemos, portanto, apresentar reflexões sobre o
esvaziamento dessa resposta.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino; Literatura e prazer; Escola.
Gleidys Meyre da Silva Maia
TITULO: MEMÓRIA E OBVIEDADE: O RECONHECIMENTO DAS CULTURAS
AFRICANAS NO CONHECIMENTO DAS LITERATURAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA
RESUMO: Urge que reconheçamos de antemão nossa mais completa ignorância
sobre a África. Não falo da África continente. Falo da África que habita
cotidianamente nossos lares e cidades e nos preenche com uma diversidade
cultural tão heteróclita, ao ponto de acharmos que é original e única. Quero nesse
artigo discutir de que maneira as literaturas africanas de língua portuguesa
devem ser inseridas no processo de reconhecimento e aprendizagem das
tradições africanas e afrobrasileiras nas escolas brasileiras. As literaturas
africanas de língua portuguesa, a saber, a literatura angolana, cabo-verdiana e
moçambicana, promovem aqui o deslocamento da cena pitoresca e exótica para
a obviedade do cotidiano, através do reconhecimento da língua, da gastronomia,
e mais importante, do modo de ser e de ver. Embora considere o texto como a
“coluna vertebral” do ensino da literatura, defendo que deverá ser «produzida e
transmitida informação transtextual», ou seja, deverão ser fornecidas as bases de
sustentação históricas, culturais e sociais que possibilitem uma leitura do texto
mais dinâmica, mais integrada e, por isso, mais completa. Assim, o ensino da
literatura na escola deve ser rediscutido a partir das bases curriculares
introduzidas pela lei 10369/03.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura Africana; Ensino da Literatura; Literaturas
Africana.
Graciane Cristina Mangueira Celestino
TITULO: O ENSINO DE LITERATURA E A REPRESENTAÇÃO IDENTITÁRIA
DO SUJEITO LEITOR
RESUMO: A presente pesquisa teve o objetivo de compreender as abordagens,
procedimentos e técnicas, utilizados para estimular a formação das competências
e habilidades leitoras nos jovens. Ao refletir sobre o Ensino de Literatura nas
escolas, tomaram-se por base as concepções dos seguintes autores: DALVI,
REZENDE e JOVER-FALEIROS (2013), JOUVE (2012), BORGES (2011) e
BAKHTIN (2003). Foi analisado o ensino-aprendizagem de literatura em uma
escola pública, que atende o ensino fundamental séries finais, procurando
compreender como são pontuadas as representações e construções significativas
de aprendizagem, pois essa é uma das questões que mais afloram durante o
ensino de literatura na escola. A pesquisa que se apresenta foi direcionada em
oficinas literárias nas aulas de Língua Portuguesa, tendo como elemento
norteador o papel desempenhado pela leitura e construção da identidade leitora.
Define-se, desse modo a não existência de uma única e permanente cultura
literária, mas várias e variáveis. A representação literária e a dicotomia do sujeito
leitor, reveste-se de uma cultura viva e concebida de uma dimensão social, parte
integrante dessa formação.DALVI, REZENDE e JOVER-FALEIROS (2013),
JOUVE (2012), BORGES (2011) e BAKHTIN (2011) traduzem a leitura literária
como representação da história, cultura e tradição de um povo ou nação e nessa
perspectiva surgiria a pesquisa que se apresenta. Referências Bibliográficas
BAKHTIN. Mikhail Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas
fundamentais do método sociológico da linguagem. 13ª ed.São Paulo: Hucitec,
2009. BORGES, Jorge Luís, 1899-1986.Oral &Sete Noites/Jorge Luís Borges;
tradução Heloisa Jahn. – São Paulo: Companhia da Letras, 2011. JOUVE,
Vincent. Por que estudar literatura?/ Vincent Jouve; Marcos Bagno e Marcos
Marcionilo, tradutores. – São Paulo: Parábola, 2012. Maria Amélia DALVI, Neide
Luzia de REZENDE e Rita JOVER-FALEIROS, orgs. Leitura de Literatura na
Escola. São Paulo, SP: Parábola, 2013
PALAVRAS-CHAVE: Ensino-aprendizagem; Representação; Sujeito leitor.
Graciela Beatriz Cariello
TITULO: OS CONFUNDIDOS E O SABER LINGUÍSTICO
RESUMO: Os confundidos e o saber linguístico. Graciela Cariello - UNR A
comunicação, como desenvolvimento de uma parte do meu livro Jorge Luis
Borges y Osman Lins. Poética de la lectura, aborda as relações entre a narrativa
Os confundidos, de Osman Lins e a teoria da enunciação formulada por E.
Benveniste. É evidente que um saber linguístico (consciente e racional, ou apenas
intuitivo) orienta as escolhas formais (gramaticais, lexicais) de todo escritor. No
entanto, a hipótese deste trabalho é que no relato Os confundidos, de Nove
Novena, um saber linguístico específico age como base da estrutura narrativa, do
conteúdo temático, e até mesmo do seu objetivo ideológico. O escritor consegue
elaborar um texto baseado em um saber da linguística teórico-formal, criando
com isso uma obra de arte. Analiso o texto osmaniano com o olhar comparativo
da leitura cruzada com os textos de Benveniste (publicados na mesma época de
Nove Novena), visando provar que o linguista e o romancista tinham chegado a
descobertas semelhantes quanto à instância da enunciação. A partir dessas
descobertas, um deles (Lins) revolucionou a arte da narração e o outro
(Benveniste) a ciência da linguagem. A análise é realizada, nessa perspectiva, com
o contributo de reformulações da teoria da enunciação, como as propostas por D.
Maingueneau, J-P. Bronckart e J.L. Fiorin. REFERÊNCIAS: BENVENISTE, É.
Problèmes de linguistique général II. Paris: Gallimard, 1974 BENVENISTE, É.
Problèmes de linguistique général. Paris: Gallimard, 1966. BRONCKART, J-P.
Activité langagière, textes et discours. Lausanne: Delachaux et Niestlé, 1997.
CARIELLO, G. Jorge Luis Borges y Osman Lins: poética de la lectura. Rosario:
Laborde, 2007. FIORIN, J.L As astúcias da enunciação. S. Paulo: Ática, 2001.
LINS, O. Nove novena. 2a. ed., São Paulo, Melhoramentos, 1975 (1966).
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de
Souza, Décio Rocha. S. Paulo: Cortez, 2002.
PALAVRAS-CHAVE: narrativa; linguística; enunciação.
Graciela Raquel Ortiz
TITULO: DEAMBULANDO POR CIDADES ESTRANGEIRAS. VIDA INTERIOR
E CHRONIQUE DE LA DÉRIVE DOUCE
RESUMO: Na presente comunicação abordarei os relatos Vida interior (2008) do
escritor argentino Federico Jeanmaire e Chronique de la dérive douce (1994) do
escritor haitiano-quebequense Dany Laferrière, com o intuito de comparar os
modos em que as experiêcias das viagens vivenciadas pelos seus protagonistas
inscrevem-se na forma mesma das narrativas. No romance Vida interior, um
escritor já consagrado vai a Oaxaca, México, para se encontrar com a sua
namorada finlandesa. Ela fica doente durante os três dias que permanecem na
cidade deixando o protagonista só e livre para passar o tempo deambulando pelas
ruas e praças, observando os habitantes, tentando entender muitos dos seus
costumes. Porém, esse olhar em perspectiva, que se quer às vezes panôptico, traça
uma elipse para acabar escrutando os labirintos da interioridade do próprio
protagonista. Em Chronique de la dérive douce, os motivos da viagem são bem
diferentes. O jovem protagonista do relato, jornalista em Porto Príncipe,
empreende uma viagem obrigada fugindo da morte decretada pelo ditador Baby
Duvalier. O ponto de chegada é a cidade quebequense de Montreal. Laferrière
relata, como uma viagem de aprendizagem, as vivências que o jovem migrante
experimentou ao longo do primeiro ano do exílio em Montreal: a solidão, a fome,
o racismo assim como o prazer da liberdade e da descoberta de muitos dos
autores que acompanharão a vida toda do escritor, pois o livro acaba com a
decisão do protagonista de se dedicar só a escrever. Comparar-se-ão essas duas
viagens, divergentes tanto nos seus motivos quanto nos modos de experimentálas e de narrá-las, porém convergentes pois ambas compartilham o fato de serem
realizadas por protagonistas escritores que narram, com traços autobiográficos,
as suas deambulações em duas cidades estrangeiras.
PALAVRAS-CHAVE: narração; autobiografia; viagens.
Grazielle Furtado Alves da Costa Devaux
TITULO: A VOZ DA DIFERENÇA LATINO-AMERICANA NA LITERATURA
SUDACA DE DIAMELA ELTIT – UMA LEITURA DE EL CUARTO MUNDO
RESUMO: O artigo tem por objetivo discutir como Diamela Eltit, em El Cuarto
Mundo, constrói um discurso transgressor das vozes uníssonas sobre a
experiência de ser latino-americano no final dos anos 1980. A partir das caóticas
narrativas de dois irmãos gêmeos (um menino e uma menina), o romance em
fluxo de inconsciência se apropria da visão dominante sobre as identidades de
gênero para ressignificá-la no contexto de uma leitura perturbadora do processo
de mestiçagem e das possibilidades de resistência cultural na América Latina. A
dificuldade de interação verbal entre os irmãos (a separação na linguagem)
contrasta com a simbiose dos corpos presos em uma relação de mútua
dependência no espaço doméstico (no útero da mãe, no quarto da casa, no Chile
do período de Transição, na América Latina do final da Guerra Fria, na periferia
sudaca do sistema internacional). Tais corpos vivem a ambivalência do cuidado,
entre gozo e sofrimento, loucura e lucidez, grito e silêncio, opressão e
emancipação. A conexão sufoca o ser que busca autonomia, poder e segurança
para formar-se sujeito. Ao mesmo tempo, a separação (o mundo de fora)
confronta o sujeito com suas limitações e medos, levando-o de volta ao outro, que
é também self. No quarto mundo (que abriga o desejo confinado no espaço
sobreposto pelos corpos diferentes), desenham-se relações de poder que limitam
as vozes de sujeitos que se oprimem e se libertam uns aos outros. Estas vozes
imaginadas no espaço da literatura subversiva de Eltit expressam-se fora das
semânticas e sintáticas conservadoras, reformistas e revolucionárias,
desestabilizando qualquer ideia pré-concebida sobre emancipação nos discursos
políticos, econômicos, culturais e estéticos que circulavam sobre e desde a
periferia dos sistemas de poder vigentes.
PALAVRAS-CHAVE: Diamela Eltit; Gênero na Literatura; América Latina.
Gregório Foganholi Dantas
TITULO: A FICCIONALIZAÇÃO DO AUTOR EM TÃO LONGO AMOR TÃO
CURTA A VIDA, DE HELDER MACEDO
RESUMO: Helder Macedo, escritor e crítico literário, é personagem comum em
seus próprios romances, seja como narrador autobiográfico de Partes de África,
seja como um personagem aludido mas não nomeado em Sem nome e Natália.
Pretendemos investigar como esse procedimento de ficcionalização do autor se
coaduna com um movimento desenvolvido nos seus quatro primeiros romances,
o da simulação, na diegese, da emancipação dos personagens em relação ao
autoritarismo do narrador, emancipação alcançada através do gradual acesso
desses personagens à voz narrativa, e que metaforiza questões históricas, como o
advento da Revolução dos Cravos (em Pedro e Paula) ou a revisão do mito
sebastianista (em Vícios e virtudes). Consequentemente, pretendemos
demonstrar como a ficcionalização do autor em seu último romance, Tão longo
amor tão curta vida, promove um movimento de reação à emancipação dos
personagens nos romances anteriores, através da retomada da voz narrativa por
parte do personagem Helder Macedo. A partir daí, é preciso refletir sobre a
ficcionalização do autor como um procedimento irônico de revisão de sua obra, e
como um desdobramento do olhar metaficcional desenvolvido nos romances
anteriores. No caso específico de Tão longo amor tão curta vida, quase um
romance-síntese da obra de Macedo, construído sobre glosa contínua de todos os
temas e procedimentos macedianos ?a relação entre literatura e história, os jogos
metaficcionais e as referências intertextuais, as antinomias sintáticas e narrativas
?, será necessário recorrer comparativamente a Sem nome, compreendido como
principal fonte de referência intertextual, a começar pela revisitação do tema do
duplo. Os romances macedianos são narrativas autoconscientes e reflexivas, que
promovem um debate sobre seu próprio estatuto e o papel da literatura na
contemporaneidade, indicando seus impasses e contradições.
PALAVRAS-CHAVE: Romance português; Metaficção; Helder Macedo.
Gregory Magalhães Costa
TITULO: AS QUESTÕES DA NARRATIVA ROSIANA MODERNA EM QUESTÃO
RESUMO: A literatura é a criação de outro mundo que melhor explica o nosso
mundo. Essa pode ser uma das tantas definições de literatura, como também de
ficção. É Guimarães Rosa quem diz defender o altíssimo primado da intuição
contra a megera cartesiana. Contra a matemática estática, Rosa utiliza o princípio
metamórfico de composição e a técnica da expectativa desiludida, quebrando com
a mera lógica. Porém, a razão não está totalmente ausente de sua obra, uma vez
que, junto ao vigor de criação, Rosa usa o rigor de composição e de reflexão
crítica. Essa reflexão se dá por meio de espécies de parábases aristofânicas,
expressas no "Grande Sertão: veredas" naquele momento em que o antigo
narrador popular Riobaldo se dirige diretamente ao seu moderno culto
interlocutor oculto, simultaneamente ao leitor, ironizando e muitas vezes
zombando de si, dos personagens, do interlocutor e do leitor: estilo carnavalesco
do Bufão subvertendo a seriedade oficial, instituindo o conhecimento novo. Sua
representação da modernidade está centrada no poder de mando e comando
exercido pelos jagunços, deuses heroicos, modos de ser, símbolos. É justo esse
poder hierárquico, o diabo, que Riobaldo quer exorcizar. Depois de sair ao Sertão
qual Quixote atrás da música popular, a canção de Siruiz, através do pacto
fáustico, também Riobaldo assimila o poder de mando e se torna chefe jagunço,
o último, aquele que testemunhou seu apocalipse. As relações no Sertão moderno
são complexas uma vez que os personagens vão assimilando os modos e
concepções de mundo uns dos outros. Agora, só assimilando todos os sete
aspectos do Sertão, fazendo a travessia da divisão diabólica ao símbolo divino, a
união do erudito com o popular, Riobaldo pode se tornar o homem integral e
exorcizar sua dor pela morte de Diadorim e o diabo, o homem enclausurado em
sua mera subjetividade egoísta.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura moderna; Reflexão crítica; Ironia rosiana.
Greicy Pinto Bellin
TITULO: RESSIGNIFICAÇÃO PARÓDICA E MODERNIDADE LITERÁRIA EM
MACHADO DE ASSIS E CAMILO CASTELO BRANCO
RESUMO: Linda Hutcheon (1985) afirma que a paródia se apresenta como
estratégia própria da literatura moderna, em que um texto é retomado por outro
texto com a finalidade de gerar autorreflexividade e autoconsciência, apropriação
esta que assume um caráter problematizador e leva o leitor a repensar e a
reavaliar determinadas convenções estéticas e até mesmo, culturais. Mikhail
Bakhtin (2002) percebe a paródia como um gênero literário de caráter
interdiscursivo, dialógico e paradoxal, com alcance político, cultural e ideológico,
o que reforça a ideia de que ela poderia ser a via através da qual os escritores
exerceriam críticas das mais variadas em relação aos contextos nos quais se
inseriam. Com base em tais noções, o objetivo da presente comunicação é analisar
comparativamente os romances Coração, cabeça e estômago (1862), de Camilo
Castelo Branco, e Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de
Assis, levantando a tese de que ambos os escritores, cada um à sua maneira,
parodiavam os discursos advindos de um modelo literário alicerçado em uma
mentalidade romântica convencional, caracterizada, entre outros aspectos, pela
ênfase no sentimento amoroso como elemento regenerador do caráter do sujeito
e pela inacessibilidade da mulher amada. Os procedimentos paródicos
empregados tanto por Machado quanto por Camilo conduziriam a uma
verdadeira ressignificação de seus textos, geradora de um humor, de um
sarcasmo e de uma ironia que nos permitem interpretá-los como veiculadores de
uma crítica em relação ao modelo romântico de construção francesa, que se
encontrava desgastado quando da publicação das Memórias póstumas. No caso
de Camilo, a crítica se construiria no sentido de problematizar as relações entre
autor, receptor e contexto literário oitocentista, tendo em vista que ele, assim
como outros de seus contemporâneos, era escritor profissional, o que geraria uma
maneira muito própria de se perceber a dinâmica literária da qual era um dos
principais integrantes.
PALAVRAS-CHAVE: paródia; modernidade; ironia.
Guilherme Augusto dos Santos Póvoa
TITULO: DES-AUTORIZANDO HISTÓRIAS: O CASO DE SALMAN RUSHDIE E
AMERICAN MCGEE
RESUMO: A virada dos últimos anos trouxe novamente à superfície a perigosa,
porém inevitável fragmentação dos territórios como conhecíamos. As guerras e
invasões, bem como a crise econômica na Europa e nos Estados Unidos da
América, acentuaram-nos a percepção de que, em um mundo onde a aceleração
da realidade cria novas formas a cada dia, fronteiras nada mais são que
imaginárias. Como consequência, isso não é só aplicado ao chão físico, mas
também ao chão das ideias. Partindo desse cenário instável, nos focamos em dois
objetos: um romance de Salman Rushdie, Luka e o Fogo da Vida (2010), e um
jogo de videogame, Alice Madness: Returns (2011), de American McGee. O
objetivo deste trabalho é, assim, analisar a constituição do sujeito traduzido sob
dois pontos fundamentais: o da fluidez da linguagem e o das vozes do discurso.
Como poderemos notar, esses pontos terão um impacto tanto na formação dos
autores e na criação de seus projetos artísticos quanto nas identidades propostas
para as personagens nas obras escolhidas. Essas produções e personagens,
entendidas como frutos de múltiplos discursos, efeitos de linguagem, estão
sempre na eminência de serem des-feitas a todo o momento, bem como os
territórios em que elas circulam. Sendo assim, elas se tornam essenciais para
analisarmos a proposta pós-moderna da escrita de Rushdie e McGee:
descentrada, plural e paradoxal. Dessa maneira, eles tornam-se os protagonistas
dentro do palco que é o texto literário – produto de complexas relações
linguísticas imbuídas de poder. Através de uma mistura de histórias antigas e
contemporâneas, canonizadas ou não por instituições ou pelas sociedades, os
autores migrantes fazem uma revisitação pós-moderna de diversos temas e
histórias em textos que, enquanto híbridos, atravessam diversos códigos
linguísticos, campos do saber e linguagens midiáticas.
PALAVRAS-CHAVE: Territórios; Intertextualidade; Fluidez da linguagem.
Gustavo Moura Bragança
TITULO: SOB O SIGNO DE SATURNO: O FRACASSO DA REPRESENTAÇÃO
NAS MARGENS DA FICÇÃO EM W.G. SEBALD
RESUMO: Propõe-se um ensaio construído ao redor das marcas da melancolia
na prosa do alemão W.G. Sebald - destacando-se, entre suas quatro longas prosas,
passagens de "Os Anéis de Saturno" e as quatro partes de "Os Emigrantes",
sobretudo a quarta parte desta obra habitada por fantasmas errantes, de onde se
extrai a imagem emblemática do ateliê do pintor Max Aurach (ou Ferber), cenário
onde se concentram os despojos do embate entre o artista e sua tela, no esforço
deceptivo da representação, terreno em que se lançam os rastros da tinta que se
desprende do suporte como rasura, mas que se afirmam - nas palavras
melancólicas do pintor-fantasma emigrado a uma cidade igualmente
fantasmagórica - como a verdadeira obra, a única possível ou a impossibilidade
da obra: o resultado (que não é um êxito) não é o que se inscreve na tela, mas
aquilo que resta às margens, como rastro, resto, detrito, excreção. Imagem
alegórica do fracasso que se reverbera na reflexão fingida do narrador ao expor a
íntima relação de sua escrita com a rasura, testemunhando o trabalho do escritor
como esforço falhado, insistentemente fracassado - o que não implica
imobilidade, desistência ou silenciamento. Através da observação atenta das
estratégias narrativas de Sebald, pretende-se pôr em jogo a literatura como tarefa
falhada: busca melancólica pelo objeto que lhe escapa, a própria literatura,
compreendida em sua impropriedade. O trabalho buscará como interlocutores de
investigação autores como Susan Sontag, Evelyne Grossman, Giorgio Agamben,
Walter Benjamin, Friedrich Nietzsche, Marie-Claude Lambotte, Jacques
Rancière, Manuel Gusmão (trazendo-nos a via paralela de uma u-topia falhada
em contraponto suplementar à figura da melancolia) estabelecendo ainda breves
diálogos transversais com as escrituras de Antonin Artaud, Fernando Pessoa,
Pedro Nava e Thomas Bernhard.
PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Escrita; Rasura.
Gustavo Rodrigues da Silva
TITULO: O ESTILO TARDIO LOS CUERNOS DE DON FRIOLERA
RESUMO: Quem consagra a noção de Estilo Tardio é o autor Theodor Adorno em
seu ensaio El estilo tardío de Beethoven (2008). De acordo com Adorno, uma
Obra Tardia é única porque ela causa uma ruptura no cenário literário da época,
pois traz novidades impensadas até então. Essa ruptura não é compreendida em
um primeiro momento por muitos leitores, que só com um exame detido da obra
em questão, como nos propomos nessa comunicação, conseguem captar a
grandeza de uma Obra Tardia. Ela é atemporal, pois se distancia do passado pela
inovação, se diferencia do presente pelo estranhamento e prenuncia um futuro,
dado as suas inovações ser consideradas como referências literárias para obras
futuras. Logo, cada Obra Tardia tem um Estilo Tardio único. O autor espanhol
Ramón María del Valle-Inclán (1866-1936) tem uma vasta obra literária, com
várias peças teatrais. Segundo o autor John Lyon, em sua obra The theatre of
Valle-Inclán (2009), o ápice do teatro daquele autor espanhol são os esperpentos.
Quando analisamos o Esperpento Los cuernos de don Friolera (1990),
percebemos que a obra apresenta algumas inovações literárias para a época, que
podem ser enquadradas na noção teórica de Estilo Tardio. Logo, vamos provar o
estilo tardio do Esperpento Los cuernos de don Friolera quando comentarmos as
suas inovações quanto à forma e ao conteúdo como a grande variação de possíveis
sequencias de leitura, a combinação de duas paródias de movimentos literários
espanhóis diferentes dentro do mesmo esperpento, a antecipação da sequência
de enquadramentos e descrições de personagens do cinema ocidental moderno,
entre outros aspectos. Esse caráter tardio do esperpento citado reflete o
exaurimento das formas literárias existentes e questiona o status de obra ficcional
no começo do século XX, além de ditar novos rumos para a literatura espanhola
e, quiçá, ocidental.
PALAVRAS-CHAVE: Teoria Literária; Estilo Tardio; Literatura Espanhola.
Gustavo Rodrigues Penha
TITULO: A ESCRITA POR PERSONAGENS EM PASSIONNÉMENT (1948) DE
GHÉRASIM LUCA E RÉCITATIONS (1978) DE GEORGES ARPEGHIS
RESUMO: Música e poesia operam cada uma com seus próprios meios, mas não
deixam de se contagiar mutuamente e se afetar uma à outra por e através de seus
próprios modos de pensar artisticamente. Além disso, há estratégias
composicionais que não pertencem exclusivamente a nenhuma arte em
particular, mas que transitam entre as diferentes práticas artísticas produzindo
sensações e efeitos os mais plurais. Uma dessas estratégias composicionais é a
escrita por personagens, ou composição por personagens, que aqui será tratada a
partir de singulares processos criativos poéticos e musicais. A escrita por
personagens não aponta para o desenvolvimento ou as aventuras de um
personagem num contexto narrativo linear, mas sim para as forças de tensão e
deformação que atuam sobre um personagem na relação com outros
personagens, em seus entrelaçamentos de velocidades variáveis, nas sequências
e simultaneidades em que são postos, etc. (FERRAZ, 2004). Essa estratégia
composicional foi explorada, por exemplo, por Ghérasim Luca em
Passionnément (1948), poema em que sílabas e fragmentos de palavras tornamse eles mesmos personagens que se chocam, se modulam, se reagenciam e se
tensionam por meio de repetições gaguejantes deslocadoras dos sentidos
linguísticos e deformadoras do fluxo sonoro tradicional de leitura de um poema.
Já na música, a composição por personagens pode ser observada em algumas das
Récitations (1978) de Georges Aperghis, em que por um processo de repetição e
acumulação dos materiais sonoros, o compositor faz com que fonemas, sílabas,
palavras, sonoridades e gestos vocais se tornem personagens potencialmente
manipuláveis por linhas de variação musical. O objetivo dessa apresentação é,
portanto, abordar a estratégia da escrita por personagens enquanto
estabelecedora de um campo de ressonância entre música e poesia fecundo à
criação de novas conexões e sensações. APERGHIS, Georges. Récitations. Paris:
Éditions Salabert, 1982[1978]. DELEUZE, Gilles. Critique et clinique. Paris:
Minuit, 1992. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mille Plateaux. Paris:
Minuit, 1980. FERRAZ, Silvio e MALUFE, Annita Costa. “Poema-em-música ou
a imersão nas palavras” in: Synergies Brésil, v. 09. São Paulo: USP, 2012
FERRAZ, Silvio. “Composição por personagens: a escrita de Casa Tomada e Casa
Vazia” in: Em Pauta, v.15, nª24. Porto Alegre: UFRGS, 2004 LUCA, Ghérarim.
“Passionnément” in: Héros-limite. Paris: Éd. Le soleil-noir, 1953[1948].
MALUFE, Annita Costa. “Descolacamentos do sentido em Deleuze: implicações
para a leitura” in Alegrar, v. 8. Campinas: 2011.
PALAVRAS-CHAVE: personagens; poesia; música.
Gustavo Silveira Ribeiro
TITULO: INVENTÁRIO LÍRICO DO HORROR - LEITURA DA "ANTOLOGIA DA
MEMÓRIA POÉTICA DA GUERRA COLONIAL"
RESUMO: Trabalho feito cuidadosamente a quatro mãos, a organização da
"Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial" (Afrontamentos, 2011), por
Roberto Vecchi e Margarida Calafate Ribeiro, estabeleceu um fato
verdadeiramente novo no cenário da cultura lusófona sobre o conflito colonial,
uma vez que consegue oferecer um panorama amplo, ao mesmo tempo íntimo e
impessoal, da catástrofe que que se abateu sobre Portugal e as nações africanas
que, submetidas, lutavam por sua independência política e social. A recolha de
vozes anônimas, de materiais até então invisíveis para os estudiosos da literatura
da guerra colonial (os poemas dispersos em cartas, diários, canções), de mistura
com o trabalho de seleção e análise cuidadosa da produção canônica em torno do
conflito, dão à 'Antologia' um caráter único e uma dimensão efetiva de arquivo
subjetivo da violência colonial. Diante disso, o presente trabalho pretende
oferecer uma leitura da ‘Antologia’ a partir de um dos seus elementos decisivos:
a multiplicidade, aqui desdobrada em duas frentes distintas: a) a multiplicidade
ideológica que o caracteriza – com textos que cobrem o amplo espectro das
discussões sobre o conflito e a questão colonial no mundo português, contra e a
favor, em perspectiva interna e externa; e b) a multiplicidade de formas e
discursos que a constitui – em referência à heterogeneidade de uma cultura que
relegou ao subterrâneo e à marginalidade, no momento específico dos
acontecimentos, a elaboração dos traumas e interditos da empreitada colonial.
PALAVRAS-CHAVE: Roberto Vecchi; Interdito; Guerra colonial.
Haidê Silva
TITULO: FICÇÃO, HISTÓRIA E MEMÓRIA EM ALMEIDA GARRETT E JOSÉ
SARAMAGO
RESUMO: O objetivo do presente trabalho é analisar as relações entre Ficção,
História e Memória na novela Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett e no
romance Viagem a Portugal, de José Saramago. Escrito no século XIX, Viagens
na Minha Terra é considerado um romance paradigma da primeira fase do
Romantismo em Portugal, cuja proposta literária era justamente ser “a crônica
do passado, a história do presente, o programa do futuro”, de acordo com o
próprio autor- narrador. E, através da viagem pelo interior de seu país, o autornarrador busca o sentido do que é ser português em um momento de drásticas
mudanças no país, já que o romance tem como contexto histórico a Revolução
Liberal. Viagem a Portugal, por sua vez escrito no final do século XX, é resultado
de uma viagem que o autor fez por Portugal, com o intuito de descobrir novos
caminhos, para além daqueles que todos conhecem e identificam, conforme as
palavras do próprio autor “Não sei por onde vou, só sei que não vou por ai”, é o
lema da viagem. O diálogo que se estabelece entre as obras aparece
explicitamente na dedicatória de Saramago “A quem me abriu portas e mostrou
caminhos – e também em lembrança de Almeida Garrett, mestre de viajantes”.
Tal diálogo vai muito além do fato de ambas serem relatos de viagem, uma vez
que a “viagem” faz referência a uma série de reflexões políticas, históricas,
filosóficas e existenciais que as personagens protagonistas tratam cada uma a seu
modo, e ao tecer essas reflexões, estabelecem-se relações entre ficção, história e
memória.
PALAVRAS-CHAVE: Ficção; História; Memória.
Haline Fernanda Silva Melo
Neusa Gonzaga de Santana Pressler
TITULO: LER E VER A LITERATURA NO SMARTPHONE: UM ESTUDO DOS
ADOLESCENTES DE GOIANÉSIA DO PARÁ (PA) E A LEITURA NOS MEIOS
DIGITAIS.
RESUMO: Este trabalho é parte da pesquisa do projeto de dissertação
desenvolvida no Programa de Mestrado em Comunicação, Linguagem e Cultura
da Universidade da Amazônia - UNAMA. Nele, são descritas algumas
experiências com o universo do adolescente, literatura e práticas interacionais de
comunicação no ensino médio. O objetivo deste artigo é refletir, em que medida
e de que forma, a mediação dos meios digitais podem contribuir para o ensino e
aprendizagem de literatura do adolescente estudante de Goianésia do Pará (PA).
Para tanto, com uma visão interdisciplinar, este estudo articula-se entre as
categorias “Ensino de Literatura” – Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro Silva,
“Mediação” - Martín-Barbero (2009) e “Novas Tecnologias da Informação e
Comunicação (NTIC)” - Mark Warschauer (2006). A pesquisa final revelou um
recorte interessante para análise, uma vez que os meios digitais motivam as
práticas interacionais entre os adolescentes discentes e docentes no ensino de
literatura no cenário do sudeste paraense.
PALAVRAS-CHAVE: Adolescentes; Meios Digitais; Literatura.
Harley Farias Dolzane
TITULO: ENTRE LEÕES: ABEL E O ACOLHIMENTO DO DESTINO COMO
ABERTURA PARA SER LIVRE
RESUMO: Trata-se de interpretar o fio narrativo ou tema "T - Cecília entre os
Leões" que compõe, com outros sete, o romance Avalovara de Osman Lins. No
referido tema narra-se o envolvimento de Abel, protagonista do romance, com
Cecília, personagem que configura uma confluência de opostos, nunca
dicotômicos, e realiza, por seu desempenho na trama, a própria passagem de Abel
para acercar-se da plenitude criativa-amorosa-existencial que a construção do
romance elabora e propõe ao leitor que com ele se dispõe a dialogar. Reforçam
essa interpretação as figurações de Hermes, Janus e Afrodite, em Hermelinda,
Hermenilda e na própria Cecília, uma hermafrodita. No amar Cecília, no
atravessar e ser atravessado pelos seres que nela confluem, abre-se a
possibilidade de ser livre como aprendizagem: aprendizagem de um paradoxo em
que, tanto mais se é livre, quanto mais se acolhe criativamente o destino. Isto
implica um exercício da compaixão a que o título do romance alude ao reverberar
o nome da divindade Avalokiteshvara. Compaixão (com-pathos) que é a dor de
ser que a todos envolve e que Abel começa a reconhecer ao longo do tema T.
PALAVRAS-CHAVE: Avalovara; Destino; Liberdade.
Haroldo André Garcia de Oliveira
TITULO: NEM DAMA, NEM VALETE: O DESBUNDE E O CORPO MILITANTE
DOS DZI CROQUETTES
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo geral investigar a presença de um
corpo militante na produção teatral do grupo Dzi Croquettes e seus reflexos no
cenário artístico contemporâneo brasileiro, a partir do documentário homônimo
de Tatiana Issa e Raphael Alvarez (2009). Buscamos identificar os momentos de
elaboração e afirmação do termo "homoerótico" e analisar suas principais
características no corpus apresentado. O resultado deste estudo assinala a
abertura para a reflexão das múltiplas possibilidades de exercício da sexualidade
humana e promove o corpo como um instrumento de visibilidade à diversidade
de gênero sexual. Neste sentido, consideramos o desbunde, o movimento
contracultural dos anos 60 e 70, que sobrevive como simulacro, expresso nos
corpos e na dança de artistas como Ney Matogrosso.
PALAVRAS-CHAVE: antropologia; corpo; desbunde.
Heidrun Krieger Olinto
TITULO: IMAGENS RETOCADAS NA ESCRITA DE SI
RESUMO: A reflexão proposta focaliza questões de autenticidade e referência nas
fronteiras de textos autobiográficos e autoficcionais e de suas formas híbridas,
produzidos por autores que se confrontam, no início do século 21, com as sombras
do passado. O estranhamento diante da descoberta de cenas e eventos da vida,
esquecidos, sublimados ou ocultados, motiva as minhas indagações acerca da
memória e de processos de rememorização que, na ótica retrospectiva e no
horizonte de determinadas intenções, filtram, inventam e articulam, em imagens
compósitas e dissonantes, experiências e condutas perturbadoras do passado. Os
efeitos da distância temporal em construções identitárias distintas serão
analisados, de modo exemplar, na escrita de si de escritores, intelectuais e
historiadores que, participando de momentos históricos complexos ou retirandose para o exílio interior, tentam interpretar as próprias vivências, posturas, atos
e sentimentos na forma de exames de consciência, justificativas,
questionamentos políticos ou éticos que, em seu conjunto, traduzem visões
contraditórias de mundos em tensão nas constelações referenciais plurais de suas
realidades históricas, sociais e culturais. Neste âmbito, a minha contribuição
oferece ainda um pequeno recorte do espectro de variações estratégicas na
configuração escritural de discursos autobiográficos recentes – em primeira,
segunda e terceira pessoa – que expressam a expansão dos próprios conceitos de
literatura e autobiografia.
PALAVRAS-CHAVE: Escrita de si; Autoficção; Memória.
Helio Castelo Branco Ramos
TITULO: CONCEPÇÕES DE LÍNGUA(GEM) E PRÁTICAS DE LETRAMENTO
LITERÁRIO
RESUMO: Entre as críticas que vêm sendo feitas ao ensino de Literatura (Aguiar
e Bordini, 1993; Lajolo, 1994; Pinheiro, 2009; Cosson, 2009), destacamos a
ênfase dada à identificação de elementos estruturais e estilísticos que remetem a
uma noção abstrata e generalista sobre as diferentes estéticas literárias. Toda
prática de letramento literário encerra em seus pressupostos teóricometodológicos uma concepção de língua(gem), que orienta o modo como
concebemos o fenômeno literário e seu ensino. Assim, partindo da concepção de
língua(gem) saussuriana e também promovendo uma ruptura com estudos
filológicos e biográficos, os formalistas russos “reduziram” a obra literária aos
seus aspectos formais, de modo que ela se tornaria distinta de uma suposta
língua(gem) cotidiana. Como o processo de transposição didática passa também
por uma assimilação das pesquisas acadêmicas, cremos que essa ênfase dada à
forma da obra literária contribuiu para que o ensino da compreensão leitora do
texto literário ficasse restrito à identificação de aspectos estruturais e estilísticos.
Retomando as contribuições do Formalismo Russo, o Círculo de Bakhtin, com
base numa concepção dialógica de língua(gem), defende que os aspectos
estruturais e estilísticos de um texto literário são uma dimensão do fenômeno
literário. Para o Círculo, o discurso literário é antes de tudo um dizer que se insere
numa cadeia discursiva, por isso, sua compreensão não pode ser reduzida a um
processo de análise estrutural-estilístico. Com base nos pressupostos do Círculo,
propomos uma análise dividida em dois momentos. Inicialmente, fazemos uma
reflexão sobre a relação entre o conceito de língua(gem), de literatura e de ensino
de leitura literária através das concepções de língua(gem) saussuriana e dialógica.
Em seguida, apresentamos uma proposta de sequência didática construída a
partir do poema O homem; as viagens, de Drummond, que busca promover o
letramento literário na interface com o letramento de gêneros discursivos não
literários.
PALAVRAS-CHAVE: Noções de línguagem; Letramento literário; Círculo de
Bakhtin.
Helio Rodrigues da Rocha
TITULO: HISTÓRIA, MITO E FICÇÃO: MADAME GODIN EM THE LOST LADY
OF THE AMAZON, DE ANTHONY SMITH
RESUMO: O presente texto tem como objetivo central mostrar um exemplo de
como as personagens históricas Isabela de Grandmaison y Bruno, uma jovem
peruana casada com Jean Godin des Odonais, um geógrafo francês membro da
expedição de Charles-Marie La Condamine, aos Andes Peruanos, nos idos de
1735, migram das páginas da história emergindo no discurso literário como
protagonistas de The lost lady of the Amazon: the story of Isabela Godin and her
epic journey (2003), último romance do escritor inglês Anthony Smith (1926 2014). As duas personagens, pertencentes a mundos díspares, enfrentam duas
décadas de separação antes de sua união definitiva. Personagens importantes no
contexto hispano-americano, Isabela e Jean Godin não podem libertar-se de um
mundo complexo, obscuro e ambivalente que constitui a memória. O romance,
ao que parece, desmistifica as dificuldades físicas e geográficas e abre as
possibilidades de se reescrever e repensar e ressignificar a história dessa região
da América do Sul.
PALAVRAS-CHAVE: História e Literatur; romance histórico su; Isabela e Jean
Godin.
Heloísa Helena Siqueira Correia
TITULO: PERSONAGENS DE
HUMANAS E NÃO HUMANAS
ANDARA:
FANTÁSTICAS,
INSÓLITAS,
RESUMO: O presente trabalho procura abordar a dimensão fantástica/insólita
dos personagens humanos e não-humanos das narrativas de Viagem à Andara, o
livro invisível, de Vicente Franz Cecim. Seres naturais e míticos, animais, pessoas
e objetos são personagens que agem de modo inusitado e potencializam o
processo de delineamento do que o autor denomina literatura fantasma. Na obra
do autor entram em cena os movimentos de construção, fragmentação e
evanescimento de Andara, região possuidora de loci fantásticos, campo
movediço, amazonia imaginária e concreta, local de lances sublimes mas também
da violência e do ininteligível. Andara ora é habitada concretamente pelos seres
humanos e não-humanos, ora é lugar devastado e selvagem ou, ainda, é sítio que
surge como entrelugar entre Santa Maria do Grão e a floresta. Nosso objetivo é
analisar a dimensão fantástica/insólita dos surpreendentes personagens de
Andara, tais como pássaros que se tornam terra, um morto que volta à vida, uma
mulher que possui asas, animais misteriosos e fantasmas, enfocando também os
aspectos históricos e os dados sociais que dividem, com o insólito, a tarefa de
articular o invisível. Para tanto dialogaremos, de um lado, com as teorias do
insólito e do fantástico literário (ROAS, ALAZRAKI, GARCIA), de outro com os
estudos animais (DERRIDA, MACIEL, NASCIMENTO) e a ecocrítica
(GARRARD).
PALAVRAS-CHAVE:
Fantástic.
Vicente
Cecim;
Literatura
Fantasma;
Personagem
Hermano de França Rodrigues
TITULO: A FACE OCULTA DE NARCISO: ECOS DA MELANCOLIA NA LÍRICA
MEIRELIANA
RESUMO: A literatura, enquanto gesto criativo, predica o vazio, a dor, a
melancolia. Dos seus significantes, o poeta extrai o bálsamo com o qual busca,
desesperadamente, suportar as perdas, tantas vezes inconscientes, sobrevindas
da singularidade de sua existência. Os amores, que lhes são sempre estrangeiros,
quando o desamparam, não se compadecem de seu drama, apresentando-lhe, na
crueza da separação, a amargura e a tristeza, em cujos braços esquálidos encontra
o alento para vivificar os ideais e euforias. O melancólico revive, assim, sem
perceber, o destino trágico de narciso. Todavia, inclina-se não para sua própria
imagem (frágil em seus contornos), mas declina-se ao ser tomado pela sombra do
objeto amado, sorvida de maneira canibalesca para, desse modo, permanecer
aprisionada ao seu amante insatisfeito. Como nos diz Kristeva (1989, p.11), “não
há escrita que não seja amorosa; nem imaginação que não seja, aberta ou
secretamente, melancólica. Partindo dessa colocação, acreditamos que a lírica
produzida por Cecília Meireles conclama, na hiância do simbólico, a morte e os
seus afetos, de modo a erigir uma poética dissolvida nas catexias
(des)estruturantes da melancolia, onde Eros revela-se intragável e repulsivo. Esta
pesquisa almeja decifrar, a partir de uma ótica psicanalítica, forjada nas
teorizações de Sigmund Freud e Melanie Klein, os enigmas da melancolia que
percorrem a poesia meireliana, colorindo-a de nuances fortes e hipnotizantes.
Certa parcela da crítica literária oferta-lhe, com frequência, um tímido não-lugar,
sem reconhecê-lo naquilo que o condiciona, sem compreendê-lo
verdadeiramente em sua dimensão estética. O eu, vivo e efêmero da poética de
Cecília Meireles, faz da transitoriedade da vida o elemento a partir do qual revela
a fragilidade da palavra, a precariedade do ser vivente e, ao mesmo tempo, sua
insistência em resgatar certos fantasmas de plenitudes intocáveis. Referências
FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia [1915]. In: Obras Completas. Rio de
Janeiro: Imago, 1976. KLEIN, Melanie. Inveja e Gratidão – e outros trabalhos.
Rio de Janeiro: Imago, 1991. KRISTEVA, Julia. Sol Negro – depressão e
melancolia. Rio de Janeiro: Rocco, 1989. LAMBOTTE, Marie-Claude. O discurso
melancólico. Rio de Janeiro: Cia de Freud, 1997. PERES, Urania Tourinho.
Melancolia. São Paulo: Escuta, 1996.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Psicanálise; Melancolia.
Hilario Antonio Amaral
TITULO: ANDREA CAMILLERI, A NARRATIVA POLICIAL ENTRE A IMAGEM
E A PALAVRA
RESUMO: O comissário Salvo Montalbano é um personagem célebre, seja através
dos livros ou da série de episódios produzidos para o cinema e TV. Camilleri, por
sua vez, depois de muita resistência por parte da crítica, é um autor reconhecido
e admirado na Itália e no exterior. Seu sucesso coloca-nos diante de um “caso
literário” sem precedentes na Itália. Uma leitura atenta da sua obra revela-nos
alguns fatores fundamentais para o seu sucesso, como a ausência de uma
“letteratura di intrattenimento alto”; a leitura fluida dos textos, onde se destaca a
facilidade com que o autor cria os diálogos entre as personagens (capacidade
desenvolvida durante os anos de trabalho como diretor de teatro e roteirista); o
otimismo fundamental das histórias que reproduzem uma Sicília capaz de reagir
às injustiças e aos abusos de poder; uma linguagem livre que possibilita a criação
de situações de altíssima comicidade através da mistura de italiano e dialetos.
PALAVRAS-CHAVE: narrativa policial; literatura; cinema.
Hiran de Moura Possas
TÍTULO: MÍSTICA: LITERATURA EM ENTRELACES
RESUMO: Das simbioses da literatura com outras linguagens e do cotidiano com
o imaginário resultam experimentações ilimitadas, uma delas a mística nascida
nas “trincheiras” dos movimentos sociais. Entendendo a vida como mistério,
rememoriza-se, no entrelace do real com o maravilhoso, da música com o poema
e da vocalidade com o escrito, o percurso histórico de sujeito políticos
antagônicos às “lógicas” de predação do homem e da natureza. Migrando da vida
para a Academia, especialmente no curso de Licenciatura em Educação do Campo
da Universidade do Sul e Sudeste do Pará, a mística evoca histórias de vidas
confinadas no esquecimento das memórias “paradigmáticas”. Nos seus devires,
sem fim, a Literatura é tomada por corpos epistêmicos “estranhos”, religando,
talvez, as linhas fraturadas pelas fronteiras abissais impostas pelos processos
ininterruptos de “ocidentalização”. Um olhar para essas experiências
“misteriosas” é também tentativa de reconhecimento, mesmo parcial, desses
sujeitos e de suas historicidades.
PALAVRAS-CHAVE: Mística; Literatura; Campo.
Horst Rolf Nitschack
TITULO: LA AMÉRICA DE LAS ‘TRES RAZAS’. EL DILEMA DE UN MITO
FUNDACIONAL
RESUMO: En los años 20 y 30 del siglo pasado surgieron paralela e
independientemente propuestas importantes de pensar una América Latina
desde su propio pasado y con un propio futuro. Estos discursos reconocen que la
historia de América no solamente está hecha por el conquistador y colonizador
blanco, sino que la contribución de los habitantes originarios, los indígenas, y de
los migrantes forzados de África, los esclavos, es fundamental (el “mito de las tres
razas” (Roberto DaMatta)). El futuro prometedor del continente, igualmente,
dependería de una convivencia productiva entre estos actores (mestizaje) en la
cual sus prácticas culturales se complementarían y garantizarían no solamente el
bienestar de esta América, sino la superación del imperialismo del hemisferio del
norte. La ponencia se propone analizar e interpretar críticamente tres de las
propuestas más destacadas, La raza cósmica (1925) de José Vasconcelos, Siete
ensayos de interpretación de la realidad peruana (1928) de José Carlos
Mariátegui y Casa grande e senzala (1933) de Gilberto Freyre desde su contexto
histórico y político con la hipótesis que los tres ensayos, a despecho de todas sus
diferencias, comparten una sobrevaloración de la temática racial en su
interpretación del pasado y del futuro de América Latina.
PALAVRAS-CHAVE: América Latina; raza; convivencia.
Humberto Fois-Braga
Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves
TITULO: AS MOTIVAÇÕES DE VIAGEM NA COLEÇÃO AMORES EXPRESSOS
(CIA. DAS LETRAS)
RESUMO: Entendemos a viagem enquanto uma faceta da mobilidade dos
sujeitos em deslocamento físico, desdobrando-se em um processo de subjetivação
da experiência que envolve um ritual de passagem no antes, durante e após este
trânsito de um ponto territorial a outro (KRIPPENDORF, 2000; LEED, 2008).
Por sua vez, o sujeito da viagem, o viajante, é representado, principalmente, a
partir de seus motivos de deslocamento: turistas, imigrantes, refugiados e
exilados são, em termos gerais, as principais categorias (ROCHE, 2003;
GIDDENS, 2005). Já o conceito de estrangeiro se vincula à situação desses
viajantes referenciados a partir do seu local de chegada, o que faz com o que o
termo traga em si a ideia de deslocamento não somente físico, mas também social
e subjetivo. Dentro dessas premissas, a comunicação proposta dividir-se-á em
dois momentos. No primeiro, derivando os argumentos de Pires (2014) que nos
diz ser os deslocamentos uma das “vertentes” da literatura brasileira,
pretendemos compreender o significado das viagens na ficção nacional, com foco
nos romances contemporâneos. Já no segundo momento, propomos uma macroanálise dos motivos de viagem nos dez romances da Coleção Amores Expressos,
cujos autores passaram um mês em uma cidade no exterior para, posteriormente,
escrever um história de amor que envolvessem estas urbanidades que estão para
além da fronteira brasileira. Para tal discussão, partimos do pressuposto de que
os enredos de amor em tais romances estão atrelados aos motivos de viagem, e
estes são compreendidos a partir da dialética entre as fugas e buscas dos
personagens viajantes. Derivando destas motivações, dividiremos os romances
em duas categorias - as viagens circulares e as viagens de retorno suspenso -,
percebendo, com isso, que a própria viagem enquanto processo positivado de
transformação e aprendizado é desconstruída, sendo convertida no locus
privilegiado para um anti-bildungsroman.
PALAVRAS-CHAVE: Motivações de viagem; Anti-bildungsroman; Amores
Expressos.
Idemburgo Pereira Frazão Félix
TITULO:
NAS
MARGENS
DA
FICÇÃO:
REFLEXÕES
SOBRE
MARGINALIDADES NAS NARRATIVAS DE CONCEIÇÃO EVARISTO
RESUMO: Principalmente após o surgimento das importantes discussões
suscitadas pela obra da crítica indiana Gayatri Spivak, "Podem os subalternos
falar", aumentaram as produções de textos sobre a problemática da
“subalternidade” (ou da marginalidade na literatura). Remontando a reflexões
como as de Silviano Santiago e Roberto Schwarz, respectivamente, relativas às
“coisas fora de lugar” e “entre-lugar”, refletir sobre o lugar das marginalidades na
literatura brasileira significa adentrar um “lucus” nada “amoenus”, remetendonos, aqui, ao “locus amoenus” da antiguidade clássica. Ao contrário, tratar da
problemática da marginalidade exige, além de um cuidado especial com sua
conceituação,que se utilize o termo marginalidade, no plural. Trata-se, então, não
de marginalidade, mas de marginalidades, pois as próprias margens individuais
e/ou coletivas podem levar a paragens diversas, dispersas, inclusive, em campos
disciplinares também diversos. Da problemática dos portadores de vitiligo aos
moradores de comunidades carentes, passando pela questão dos preconceitos
raciais, sexuais, dentre inúmeros outros, o estudo das marginalidades não
permite simplificações e sempre se corre o risco de se perder em meio a
generalizações difíceis de serem contidas. Na literatura, a confusão provocada no
trato das marginalidades se apresenta, paradoxalmente, como um campo fértil e
de necessário aprofundamento. O presente trabalho intenta estudar a questão das
marginalidade nas narrativas de Conceição Evaristo, com ênfase na trajetória das
personagens femininas negras. A relação entre a vivência em “espaços de
marginalidade” - sejam os mesmos relativos à pobreza das comunidades carentes
ou ao sofrimento provocado pelo preconceito em relação aos negros e às mulheres
– a literatura e a memória é um dos principais eixos das reflexões sobre literatura
e marginalidade nas margens das narrativas de Conceição Evaristo.
PALAVRAS-CHAVE: Marginalidades; Conceição Evaristo; Narrativas.
Ilmara Valois Bacelar Figueiredo Coutinho
TITULO: ELES ERAM MUITOS CAVALOS: LIMIARES DE CONFLITOS E
RESISTÊNCIAS
RESUMO: O presente texto discute o entrelaçar de linguagens e realidades
patentes ao romance Eles eram muitos cavalos, de Luiz Rufato, enquanto palavra
que molda espaços simbólicos, moldando também espaços sociais, culturais,
políticos e existenciais. A tessitura narrativa traz episódios dignos de um
colecionador benjaminiano, um colecionador disposto a fazer exposições
(des)ordenadas de estilhaços-vidas, de fragmentos-mundos, com base em cacos
de uma realidade metonímica, não totalitária para a cidade e suas contradições.
As fragmentações na forma, na perspectiva narrativa e nos conteúdos literários
materializam territorialidades nômades, reconfigurando zonas fronteiriças entre
o mundo letrado e suas formas-poder de representação. Rasuradas a
transparência do real, da linguagem, da existência, bem como a feitura de
histórias “belas” a camuflar a ambiguidade do ser humano, o romance traça o
abismo que se coloca entre vidas (des)enredadas na solidão das grandes cidades.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica fundamentada por autores como: Giorgio
Agamben, Maurice Blanchot, Regina Dalcastagnè, George Steiner, Walter
Benjamin, entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Contemporâneo; Conflitos; Resistência.
Ilton Ribeiro dos Santos
TITULO: A MELANCOLIA DE D. CELESTE, EM PASSAGEM DOS INOCENTES,
DE DALCÍDIO JURANDIR
RESUMO: O escritor paraense Dalcídio Jurandir (1909 – 1979) é autor do ciclo
Extremo Norte, dez romances, publicados entre os anos de 1941 e 1978, os quais
narram vivências de personagens embriagados tanto no espaço geográfico e
cultural da Ilha do Marajó quanto nos espaços citadinos de Belém do Pará. Esses
personagens são apresentados em uma atmosfera de agitação, aturdimento
psíquico, expansão das possibilidades de experiência e destruição. Destarte para
o romance Passagem dos Inocentes (1963) em que dois importantes personagens,
Alfredo, menino que vem estudar em Belém, e D. Celeste, sua prima e acolhedora,
moradora da Passagem dos Inocentes, no bairro Umarizal (Belém). A
personagem vive momentos em que se instala atmosfera melancólica, ora presa
em seu tempo presente, ora presa na memória de sua grande a ventura, a fuga no
vapor Trombetas. A personagem tem consciência das mudanças de seu tempo, do
desmoronamento econômico de sua família, e de sua calamitosa vida no subúrbio
de Belém. Essas situações provocam certos espaços meditativos e melancólicos.
O objetivo desse estudo é analisar os momentos em que a melancolia é constituída
no estado meditativo da personagem D. Celeste, desde os instantes em que
empreende a fuga no vapor Trombetas até sua difícil moradia na periferia da
capital. Os teóricos que darão sustentação a nossa análise serão Berman (1998)
que entende a experiência da vida como um evento perigoso; em Lages (2007) e
Assmann (2011) que auxiliarão na análise dos espaços melancólicos no romance.
Procurar entender a melancolia de Celeste nesta narrativa ajuda a compreender
as diferentes tensões de grandes transformações que aconteceram e acontecem
na estética literária, sobretudo a partir da década de 1960, como também no
espaço de uma cidade na Amazônia.
PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Passagem dos Inocent; Transformações.
Imara Bemfica Mineiro
TITULO: "UNE BOUTEILLE À LA MER": O LUGAR DO COMPONENTE ‘AFRO’
NA PROPOSTA VANGUARDISTA DA REVUE INDIGÈNE (HAITI, 1927)
RESUMO: Nas primeiras décadas do século XX, os países da América Latina
assistiram à emergência de variadas propostas vanguardistas as quais, a despeito
da heterogeneidade de seu conjunto, podem ser notadas a partir do gesto comum
de (re)pensar e (re)significar as identidades coletivas. Nesse contexto surge
Revue Indigène, no Haiti, cuja proposta é difundir as “artes e letras” próprias à
cultura nacional, buscando identificar uma “autenticidade” que servisse de
suporte para as gerações futuras. É, pois, a partir dessa publicação que se
pretende discutir questões concernentes ao esforço de significação de uma
cultura haitiana, bem como o papel confiado à literatura como “instrumento de
conhecimento” dessa cultura. Nesse esforço empreendido pela Revue Indigène se
faz presente o diálogo com outras produções intelectuais latino-americanas e a
avaliação a respeito da proximidade e do distanciamento entre o Haiti e as
colônias hispânicas ou portuguesa na América. As noções de raça e de
mestiçagem encontram-se no cerne dessa avaliação, assim como a identificação
de semelhanças históricas de seus passados coloniais. O objetivo da presente
proposta é, pois, de analisar o lugar atribuído ao componente ‘afro’ na
ressignificação da identidade coletiva alimentada pela revista. Tal análise é
proposta a partir do manifesto que inaugura o primeiro número da Revue
Indigène, em 1927, e do corpus literário que ela mobiliza apostando no potencial
literário de formular “paisagens interiores” a partir da poesia nacional.
PALAVRAS-CHAVE: Afro-antilhanismo; Revue Indigène; Vanguarda literária.
Inara Ribeiro Gomes
TITULO: DEJETOS DE UM TEMPO FALHADO: FICÇÃO E HISTÓRIA EM
CINZAS DO NORTE, DE MILTON HATOUM
RESUMO: Se toda história é narrativa, mesmo quando pretende se afastar das
regras da intriga, a narrativa ficcional só pode ser histórica, na medida em que
carrega a marca indelével da dimensão social e coletiva dos materiais humanos
de que é formada, por mais que o referente extraliterário seja negado, fracionado
ou subjetivado na consciência dos entes ficcionais. Em qualquer caso, de acordo
com a tese de Paul Ricoeur, ela é mediação entre o ser humano e o tempo –
refigurando-o e recuperando o vivido. A recuperação do memorável depende da
posição do sujeito que o enuncia no seu presente histórico. Na narrativa literária,
os modos de apreensão da experiência são variáveis e problematizados, dada a
amplitude de possibilidades de perspectivas que se oferecem ao narrador. Os
romances de Milton Hatoum exploram a posição periférica do narrador na
reconstrução sempre lacunosa de acontecimentos dos quais não foram os
protagonistas, mas que são impelidos a narrar por meio da escrita. Assim em
Cinzas do Norte, em que os eventos ficcionais aparecem tensionados pela história
recente do Brasil, coincidindo com o período da ditadura militar e com o processo
de modernização devastadora da cidade de Manaus. São esses aspectos que
pretendemos desenvolver na leitura do romance, acompanhando a atividade
narrativa do personagem-narrador na reelaboração das relações violentas de
personagens enredados na história – e de como ele assim supera sua inação em
relação à realidade sociopolítica do tempo que lhe coube viver.
PALAVRAS-CHAVE: ficção e história; Milton Hatoum; Cinzas do Norte.
Irenísia Torres de Oliveira
TITULO: A NECESSIDADE DE CRIAR(-SE): OS PRIMEIROS ESBOÇOS DE
FICÇÃO DE LIMA BARRETO E O CONTEXTO PÓS-ABOLIÇÃO NO BRASIL.
RESUMO: Os primeiros esboços de ficção de Lima Barreto encontram-se no
Diário Íntimo e acompanham pari passu o exercício de criação de si mesmo no
diário. Este trabalho pretende mostrar como modelos similares de concepção da
subjetividade atuam na percepção/construção do eu e na criação destas primeiras
tentativas de personagens. Longe da acusação de “personalismo” que lhe fez a
crítica da época, e até contrariamente a ela, a intenção é pensar como uma certa
noção de subjetividade funcionou como vaso comunicante entre a experiência
individual, fortemente enraizada no contexto histórico pós-abolição no Brasil, e
a ficção de Lima Barreto. Devido a isso, o autor seria o primeiro a produzir ficção
no Brasil juntando, ao mesmo tempo, o estudo e a denúncia dos problemas que
ele enfrentava diretamente no cotidiano (o romance como forma de
conhecimento de si e do mundo contemporâneo) e o ânimo polêmico do
humanismo iluminista, perceptível na atitude e dicção críticas. A conclusão é que
Lima Barreto foi o primeiro escritor no Brasil que fez romances sociais para
atender a inquietações próprias, tendo incorporado como nenhum outro até
então – por afinidade, não apenas por influência -- aquela atitude que levou os
melhores escritores românticos europeus ao romance.
PALAVRAS-CHAVE: Lima Barreto; Primeira República; Romance.
Irene Corrêa de Paula Sayão Cardozo
TITULO: REESCRITAS FANTÁSTICAS E FANTASMÁTICAS DO “EU” EM
MARIE NDIAYE
RESUMO: A fim de problematizar oposições intransponíveis entre o real e o
fictício, estranho e familiar, natural e sobrenatural, buscarei pensar as estratégias
narrativas empregadas pela escritora francesa Marie NDiaye nos romances Mon
coeur à l’étroit e Autoportrait en vert para subverter os modelos da literatura realnaturalista através de diversas manifestação do insólito. Trata-se de mostrar
como os romances resistem à transparência (do “eu” social) visando à parte mais
rebelde do sujeito interno (o “eu” íntimo), seus fantasmas, delírios e recalques.
Procurarei analisar como a construção ou a desintegração da realidade – que vão
de duplicações/ desdobramentos e anuviamentos do “eu” às inusitadas
manifestações do insólito no mundo exterior – afetariam a busca identitária e a
expressão da alteridade das narradoras, sinalizando para uma impossibilidade de
realização plena no mundo real. Para tal fim, tomarei como referências teóricas
as reflexões sobre o fantástico de Tzvetan Todorov e seus desdobramentos e
contrapontos nas abordagens de Irène Bessière, Renato Prada Oropeza e
Bellemin-Noël. Ademais, o presente artigo tem em conta a abordagem
psicanalítica do insólito através da interpretação freudiana do “estranho” e do
“fantasma”, bem como dos conceitos de “Real” e de “estádio do espelho” (para
pensar o fenômeno do duplo) elaborados por Jacques Lacan. Nessa perspectiva
psicanalítica, a narrativa fantástica pode ser pensada como a relação entre a
realidade do mundo que habitamos e a realidade do mundo que habita em nós.
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Psicanálise; Insólito.
Irene Izilda da Silva
Marcio Jean Fialho de Sousa
TITULO: TECENDO NOVOS CAMINHOS E NOVOS OLHARES PARA O
ENSINO DE LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
RESUMO: Este trabalho propõe uma reflexão acerca do contexto de vivências a
partir de uma (re) significação de África e a construção de um novo olhar sobre a
população africana e a diáspora afro-brasileira, dialogando com um viés literário
como uma das propostas da Lei 10639/2003, e do Parecer 003/2004, que
discorrem acerca das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira,
além de buscar refletir sobre como essas Orientações têm sido colocadas em
prática nas salas de aula de Ensino Básico. Como recorte de análise foi proposta
a leitura da obra “O gato e o escuro”, de Mia Couto como contextualização das
experiências de ensino e de práticas culturais de modo a estabelecer diálogos
entre o Brasil e Países Africanos de Língua Portuguesa. Essa leitura e reflexão
foram apresentadas, ainda, em um evento de Formação Continuada de
Professores oriundos de um curso de Pós-graduação em Alfabetização e
Letramento, de uma Instituição Privada de Ensino Superior do Estado de São
Paulo, no qual os professores presentes puderam vivenciar rodas de conversa
recontadas sobre a perspectiva de professores-pesquisadores brasileiros
buscando auxiliar os presentes na compreensão da África e na aproximação entre
o Brasil e a Diáspora.
PALAVRAS-CHAVE: Formação Continuada; Relações; Literaturas.
Isa Ferreira Martins
TITULO: A LITERATURA DE JOVENS ESCRITORES NA ESCOLA: LEITURAS
E ESCRITAS EM DIÁLOGOS
RESUMO: As discussões sobre a literatura na escola têm avançado (COLOMER,
2007). Entretanto, ainda predominam aulas tradicionais. Nesse debate, estão
envolvidas questões curriculares e políticas, como exames e avaliações externas.
No setor particular, persegue-se os primeiros lugares no ranking para o
marketing da escola. Na rede pública, a elevação das notas resulta em mais verbas
para Secretarias de Educação e esporádicos bônus salariais para professores de
uma rede que caminha para a meritocracia. Assim, impera a aula tradicional
como um caminho seguro para o “bom” desempenho dos alunos nas avaliações
dentro e, principalmente, fora da escola. Como agregar a exigência institucional
a um trabalho que traga para a aula novas experiências e diálogos? Na tentativa
de contribuir para tal, partimos do pressuposto de Cosson (2012) de que através
da prática tanto da leitura quanto da escrita de textos literários se tem um
desvelar das arbitrariedades dos discursos mais que padronizados e uma
apropriação da linguagem. Nesse sentido, propomos discussões sobre a inserção
de textos literários de jovens escritores nas aulas de literatura, sendo o trabalho
com os respectivos textos retomados, em diálogo, nas de produção textual. Para
trabalho inicial, elegemos “Por encomenda: contos e outras histórias” (BRASIL,
2012), escrito, na época, por alunos do Ensino Médio, orientados pela professora
organizadora. O livro convida a refletir sobre leituras e escritas de estudantes,
como, por exemplo, as da jovem autora que assim se apresenta: “Até hoje aprendi
três coisas: a falar sem rodeios e desamparos, aos gritos e sussurros; a ler, para
desfolhar todos os acordes do mundo; e a escrever, existindo num espetáculo por
vezes solitário e que encontra redenção nos leitores” (p. 17). E completa:
“protagonizar a literatura é essa existência incoerente, prazerosa, desmedida. Cá
estou, uma Ananda que estuda Ciências Sociais, piauiense e cheia de histórias
travadas em contos” (idem).
PALAVRAS-CHAVE: Leitura literária; Jovens escritores; Produção textual.
Isabel Jasinski
TITULO: ESCRITA NÓMADE E AÇÃO LITERÁRIA: ESCRIBIR SIN ESCRIBIR
DE MARIO BELLATIN
RESUMO: Mario Bellatin é uma ficção, sua existência e sua inserção no real se
dão como linguagem, prótese, instrumento de múltiplas formas: palavra, imagem
e ação. Literatura, cinema e performance são expressões dessa linguagem que se
encontram em um mesmo espaço, seja porque Bellatin concebe seu processo
artístico como um limiar entre as linguagens, seja porque articula os aspectos
diferenciais dessas expressões em obras singulares, como Lecciones para una
liebre muerta (2005), El gran vidrio (2007), Las dos Fridas (2008) ou La clase
muerta (2011). A escrita se apresenta como ação literária orientada para a criação,
interesse explícito no projeto Escribir sin escribir (2014), que inclui o “Congresso
de duplos de Paris” entre outros. Nessa perspectiva, a criação é ato, manifestação
política que provoca e ao mesmo tempo implica os meios oficiais, promovendo
novas políticas de sensibilidade, segundo Jacques Rancière em Políticas do
sensível (2005). Essa concepção nômade de escrita dissemina os dispositivos ao
confrontá-los aos meios artísticos, convertidos em dispositivos de des-controle,
ao esquivar o modelo, promovendo um modo de ver a obscuridade, conforme
considera Agamben sobre o que é o contemporâneo (2009). Assim, a arte pode
ser vista como fractal no processo de criação de sentido, onde a literatura
experimenta a excrita, de acordo com Nancy em El sentido del mundo (2003). A
escrita nômade se excreve em um movimento fractal de sentido, corresponde à
plasticidade do espaço de ação da linguagem, seus modos de posicionamento
no/sobre o mundo, definindo um processo de percepção e concepção que Bident
permite avaliar em Les mouvements du neutre (2010). Um modo de percepção
nos limites da percepção estabelece o movimento na direção do outro por meio
da relação entre diferentes linguagens artísticas. Bellatin elabora, na sua obra,
uma incisão no real que escapa ao hábito. REFERÊNCIAS AGAMBEN, Giorgio.
O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius Nicastro
Honesko. Chapecó: Argos, 2009. BELLATIN, Mario. Lecciones para una liebre
muerta. Madrid: Anagrama, 2005. _____. El gran vidrio: tres autobiografías.
Barcelona: Anagrama, 2007. _____. Las dos Fridas. México: Lumen, 2008.
_____. La clase muerta. México: Alfaguara, 2011 _____. Obra Reunida II.
México DF: Alfaguara, 2014. BENJAMIN, Walter. O caráter destrutivo. In
Documentos de cultura. Documentos de barbárie (Escritos escolhidos). São
Paulo: Cultrix⁄Edusp, 1986. p. 187, 188. BIDENT, Christophe. Les mouvements
du neutre. Alea. Volume 12. Número 1. Rio de Janeiro, Pós-graduação em Letras
Neo-latinas da UFRJ, Jan/Jun 2010, p. 13-33. BORREIL, Jean. La raison
nomade. Paris: Payot, 1993. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs.
Capitalismo e esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. V.1.
Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. LINK, Daniel. Fantasmas: imaginación y
sociedad. Buenos Aires: Eterna Cadencia Editora, 2009. MITCHELL, W. J. T.
Image, Space, Revolution: The Arts of Occupation. Critical Inquiry, Vol. 39, No. 1
(Autumn 2012), University of Chicago Press, pp. 8-32. NANCY, Jean-Luc. El
sentido del mundo. Trad. Jorge Manuel Casas. Buenos Aires: La marca, 2003.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo:
Editora 34, 2005.
PALAVRAS-CHAVE: Mario Bellatin; Escrita Nômade; Lit. contemporânea.
Isabella Santos Mundim
TITULO: A FÃ TRADUZ O TEXTO EM NARRATIVA: RUMO A UMA POÉTICA
RESUMO: Este trabalho visa analisar a prática e produção típicas de quem
declara-se fã, com ênfase no processo em que ela se engaja quando “lê” o texto
(literário, fílmico, televisivo) favorito e o traduz numa outra narrativa, para
publicação posterior na internet. Nessa perspectiva, a ficção de fã - fan fiction que propõe alternativas ao cânone textual nos interessa particularmente. Uma
história que desloca a voz dos “autores legítimos”, o retratar os personagens num
viés surpreendente, o desenvolver a trama de maneira tal que sua progressão
desafia a expectativa do leitor ou espectador médio, até mesmo o criticar o
discurso oficial acerca de gênero e sexualidade, tudo isso constitui o foco da
presente análise. Para tanto, valemo-nos de fan fictions distintas, escritas por fãs
diversas e baseadas em textos de literatura, filmes ou televisão em circulação.
Cumpre apontar, ainda, que há que atentarmos para o contexto em que a
produção da fã acontece: afinal, seu pertencimento à comunidade de pares, o fato
dela criar segundo os interesses desse grupo (em convergência com os seus), o
fato dela levar adiante uma tradição de narrar bastante particular orientam sua
atuação desde sempre e informam o modo como lê e escreve.
PALAVRAS-CHAVE: práticas de leitura; práticas de escrita; fan fiction.
Isamabéli Barbosa Candido
TITULO: A VOZ QUE NÃO QUER CALAR: SUBALTERNIDADE
MARGINALIDADE EM QUERÔ: UMA REPORTAGEM MALDITA
E
RESUMO: É necessário atravessar a obra Querô: uma reportagem maldita
(2003), de Plínio Marcos, com um olhar de quem tenta compreender as formas
de vida contidas na escrita deste autor que “potencializam os pobres”. Plínio
causa uma transformação com seus escritos por enfrentar o que considera um
tempo mau e, além disso, representar os socialmente excluídos e marginalizados
como ele. Um grupo de menor abandonado, cafetina, prostituta que faz eclodir
uma “multidão”, nos termos de Justino (2015), antes silenciada pelas classes
dominantes. O presente artigo pretende incitar um debate teórico para entender
a “potência do pobre” na obra pliniana, como também apresentar a posição do
intelectual que se considera único porta-voz do “sujeito subalterno”, termo caro
a Spivak (2010), a partir de uma análise-interpretação dos modos de vida
presentes na obra, uma vez que Plínio Marcos além de se posicionar em espaços
periféricos decide falar e conceder à multidão e aos sujeitos considerados
“subalternos da subalternidade”, a voz.
PALAVRAS-CHAVE: sujeito subalterno; multidão; potência dos pobres.
Ivana Teixeira Figueiredo Gund
TITULO: A COLEÇÃO DO ESCRITOR: ENTRE O SINGULAR E O ACÚMULO
RESUMO: O trabalho pretende observar as fotografias dos espaços do escritor,
em especial as imagens dos escritórios de Haroldo de Campos e Luis Fernando
Veríssimo, publicadas no livro O lugar do escritor, de Eder Chiodetto, a fim de
destacar neles a presença de suas coleções particulares. O escritório - lugar de
criação e território do escritor - apresenta marcas de individualidade. Por isso
essas fotografias nos revelam mais que uma simples imagem, porque nos contam
singularidades e histórias. Nesse sentido, o trabalho fará uma leitura das
referidas fotografias que apontam para o destaque das coleções de canetas e lápis
de Veríssimo e dos livros de Campos. Tudo nelas indica a relevância do detalhe:
o enquadramento, o foco de luz, o zoom e a perspectiva escolhida. O valor
sentimental dado a cada um dos objetos que se tornam parte de um ambiente,
remete-nos ao texto Notes concernant les objets qui sont sur ma table de travail,
do escritor francês Georges Perec. Para ele, os objetos do ambiente do escritor
nem sempre obedecem a uma lógica precisa. São ressignificados na medida em
que se deslocam de seus valores comuns para tomar sua individualidade dentro
do todo da coleção, ampliando-se na dimensão do gosto pessoal, das escolhas e
lembranças do colecionador. Se as imagens, como os relatos – conforme nos diz
Alberto Manguel – nos brindam informações e o que vemos nelas é um quadro
reduzido a nossa própria experiência, arrisco-me neste trabalho a fazer uma
leitura muito particular das imagens fotográficas acima citadas, percebendo nelas
aspectos das coleções particulares como o valor de cada objeto e o desejo de
acúmulo de itens da coleção.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Fotografia; Espaço de criação.
Izabela Guimarães Guerra Leal
TITULO: O “PRIMITIVO COMPLEXO”: APONTAMENTOS SOBRE
ETNOPOÉTICA EM JEROME ROTHENBERG E HERBERTO HELDER
RESUMO: Em 1968, o poeta norte-americano Jerome Rothenberg, criador do
termo etnopoesia, publicou o seu primeiro livro de tradução de poemas de
culturas ditas primitivas, intitulado Technicians of the sacred, contendo uma
variada seleção de manifestações literárias e rituais. Também em 1968, o poeta
português Herberto Helder publica um livro intitulado O bebedor nocturno, no
qual estão presentes muitos textos oriundos de tradições não europeias. Pretendo
discutir em que medida esses projetos de tradução convergem e divergem entre
si, atentando para questões que se estendem à obra poética dos autores em
questão. Como fator de convergência, pode-se ressaltar desde já o fato de ambos
repensarem o sentido das antologias, mas resta saber até que ponto há ou não
convergências na forma de encarar a tradução desses materiais, bem como na
teorização que essas traduções demandam.
PALAVRAS-CHAVE: antropofagia; tradução; alteridade.
Izenete Nobre Garcia
TITULO: JORNAIS-ROMANCES E SUA INSERÇÃO NA DIFUSÃO
INTERNACIONAL DE TEXTOS EM PROSA DE FICÇÃO NO BRASIL
RESUMO: No final da década de 1830, na França e na Inglaterra, periódicos
dedicados à impressão de prosa de ficção tornaram-se um empreendimento
atrativo para o mercado editorial europeu. Esse jornal-romance, como ficou
conhecido na França, logo expandiu-se internacionalmente, sendo possível
encontrá-lo em várias partes do continente europeu e americano. Justificando-se
como instrumento para entreter e instruir propagou textos em prosa de ficção de
um lado a outro do oceano. A partir do estudo de um desses veículos, o jornal
Espelho Fluminense, esta comunicação demonstrará como esse jornal-romance
atuou na circulação e difusão de textos em prosa de ficção estrangeiros no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Espelho Fluminense; Jornal-romance; Circulação.
Júlia Reyes
TITULO: LITERATURA E CONHECIMENTO: UMA LEITURA DE RENÉ
GIRARD
RESUMO: Literatura e conhecimento: uma leitura de René Girard Júlia Reyes
Neste trabalho, discutiremos a idéia da literatura como um discurso que produz
conhecimento e cujo horizonte é sempre interdisciplinar. O teórico francês René
Girard (1923 -), autor de uma teoria que ele denominou teoria mimética, inicia
suas pesquisas e reflexões através da leitura de romances modernos. A partir dos
romances O Vermelho e o Negro, de Stendhal, Em busca do tempo perdido, de
Proust, Madame Bovary, de Flaubert e Dom Quixote, de Cervantes, Girard
percebe na literatura desses autores um enfoque particular que dispara sua teoria
sobre o desejo humano. Nos romances dos referidos autores, o desejo das
personagens não é apresentado como um desejo autônomo, fruto de uma
subjetividade auto-centrada e auto-suficiente, e sim a partir de uma subjetividade
que implica o desejo de um Outro, que o personagem elegeu como modelo e de
quem copia o desejo. Configura-se então uma relação triangular entre um sujeito,
um modelo e o objeto que esse modelo deseja, que é então também desejado pelo
sujeito; relação percebida, por exemplo, nos triângulos amorosos que envolvem
certas personagens. Ao separar escritores românticos de escritores romanescos,
Girard inicia, em seu primeiro livro, Mentira romântica, verdade romanesca
(1961) uma longa reflexão estendida por toda a sua obra, dialogando com a
antropologia, a psicanálise e a filosofia a partir de uma intuição sobre o desejo ser
fundamentalmente mimético que ele extrai da leitura de romances. Essa forma
de trabalho interdisciplinar de Girard implica, em sua obra, diálogos entre a
literatura e a filosofia, entre a literatura e a antropologia e entre a literatura e os
estudos bíblicos, revelando no campo literário uma dimensão interdisciplinar que
será discutida e debatida enfocando a literatura como produtora de
conhecimento.
PALAVRAS-CHAVE: René Girard; literatura; conhecimento.
Júlia Vasconcelos Studart
TITULO: NUNO RAMOS NUM JOGO COM A ARTE, A FORMA FRACA
RESUMO: Goethe expande o seu pensamento a partir de uma Urplanze: um
encontro com a forma, intuição e antecipação da forma viva. Para ele, intuir a
natureza é um modo de intuir a si próprio diante da mutação das formas, as
‘metamorfoses’. Assim, por exemplo, principia um projeto de inscrição do mundo
a partir da metamorfose das plantas ou do jogo das nuvens. Noutra ponta do jogo
com as formas da arte, quando o mundo resiste a toda inscrição, entre a expansão
de uma ideia de limite como material proteico, Nuno Ramos persegue alguns
gestos de composição do lugar e de interferência no espaço a partir de um instável
duo que sugere em dois de seus trabalhos: a instalação-intervenção “Minuano” e
a narrativa “Minha Fantasma”. Como ler o simultâneo que vem na anotação
[alteração, limite, alquimia e eclosão] e as metamorfoses entre natureza e artifício
[corpo, doença, animalidade]?
PALAVRAS-CHAVE: metamorfose; anotação; forma fraca.
Júlio Constantino Neto
Agnaldo Rodrigues da Silva
TITULO: ENTRE O ROMANCE E O FILME: RUPTURAS E CONTINUIDADES
EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO
RESUMO: Esta pesquisa coloca em discussão as relações entre a literatura e o
cinema, quando propõe confrontar semelhanças e dessemelhanças entre o
romance Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago e o filme Ensaio sobre
a Cegueira (2002, Brasil/Japão/Canadá), dirigido por Fernando Meirelles. Nessa
direção, a investigação estabelecerá relações de proximidades e afastamentos
pela perspectiva da teoria do romance e da tradução cinematográfica. Entra em
questão, portanto, o processo de construção narrativa, por meio de duas
representações distintas, sendo a primeira (literatura) o ponto de partida à
construção da segunda (cinema), com resultados que sensibilizam o ser humano
pela provocação aberta que certeiramente questionam o sistema socioexistencial
e cultural vigente. A cegueira construída por Saramago em seu romance, tão bem
representada no filme (outra representação cultural), constitui uma metáfora que
inclui todos aqueles que se deixam alienar frente às problemáticas de seu tempo.
Como suporte teórico, a pesquisa recorrerá a Lukács (Teoria do Romance),
Bakhtin (Questões de Literatura e de Estética), Diniz (Literatura e Cinema – da
Semiótica à Tradução), Aumont (A estética do filme), Hauser (História Social da
Arte e da Literatura), entre outros autores que discutem as relações do homem
com o meio, entre os quais: Foucault, Sartre e Nietzsche.
PALAVRAS-CHAVE: Teoria do Romance; Cinema; José Saramago.
Júlio de Souza Valle Neto
TITULO: CRÍTICA LITERÁRIA E ENSINO DE LITERATURA: CONCEITOS,
PRÁTICAS E POSSIBILIDADES
RESUMO: Teoria, História e Crítica literárias, como se sabe, apresentam
fronteiras disciplinares permeáveis, não sendo raro observar interpenetrações,
como aponta Roberto Acízelo de Souza (2003, p. 146), entre as duas últimas (sob
a forma, por exemplo, de um corpus historiográfico delimitado por escolhas de
ordem estética). Nem por isso, contudo, deixa de ser possível circunscrever os
seus respectivos campos de investigação preferenciais. É o que faz Antoine
Compagnon, descrevendo a Teoria numa dupla chave investigativa (“crítica da
ideologia, análise linguística”), a História enquanto prática fortemente ancorada
no contexto (donde o interesse pela “concepção” ou “transmissão das obras”) e a
Crítica, finalmente, como um discurso que “aprecia” e “julga”, estando por isso
mesmo vinculada a operações de valoração artística (COMPAGNON, p. 21 e 22,
2014). Balizando-se por esses limites, fica claro o quanto a escola privilegia, no
estudo da literatura, os dois primeiros campos em detrimento do último. A Teoria
comparece abundantemente nos livros didáticos, por seu turno, sob a forma do
instrumental propício à “análise linguística”. Já a História, apesar das recorrentes
restrições a seu uso nesse âmbito, mantém-se firme enquanto eixo de estudo
hegemônico da disciplina: o Guia de Livros Didáticos PNLD 2015 testemunha o
quanto a organização cronológica e a tipificação de estilos de época caracterizam
a quase totalidade das obras selecionadas. Lateral e assistemática, a Crítica
apresenta-se na transcrição de ocasionais juízos de valor emitidos por
especialistas, sem maiores inquirições acerca das motivações que os inspiram.
Esta comunicação pretende, de um lado, refletir sobre as possíveis razões dessa
desproporção, assim como, de outro, propor a incorporação da crítica ao ensino
de literatura no Nível Médio, privilegiando nesse processo estudos de caso
específicos e pedagogicamente justificáveis. Pretende, ainda, apontar desvios
desse padrão num livro didático selecionado (TAKAZAKI, 2005) e em práticas
correntes na Internet.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura e Ensino; Crítica e Ensino; Práticas de ensino.
Júlio França
TITULO: PERVERTIDOS E ALIENADOS – ÁLVARES DE AZEVEDO, ALLAN
POE E A INCOMPREENSÃO DA CRÍTICA AO GÓTICO NAS AMÉRICAS
RESUMO: Álvares de Azevedo foi um do primeiros escritores brasileiros em cuja
prosa podemos perceber o uso explícito de estratégias narrativas para a produção
do medo como um efeito estético. Tendo conhecido a língua inglesa desde muito
jovem, não seria uma especulação temerária supor que a presença em sua obra
de temas “mórbidos”, “crepusculares”, “lúgubres” e “macabros”, nos termos
empregados pela crítica tradicional, possa estar relacionada ao seu conhecimento
da literatura gótica. Para descrever quais são os elementos góticos da prosa
azevediana, propõe-se uma análise comparatista entre a recepção crítica ao
escritor brasileiro e a Edgar Allan Poe, com o intuito de demonstrar como ambos,
ao tomarem a tradição europeia como ponto de partida para novos modos do
gótico, foram alvos de críticas semelhantes, baseadas ou em critérios biográficos,
ou em critérios políticos. Suas obras foram tomadas ora como sintoma de
distúrbios e idiossincrasias psicológicas de seus autores, ora como algo
estrangeiro e alheio às realidades culturais de seus respectivos países. A crítica
brasileira e a norte-americana, portanto, ao privilegiarem aspectos miméticos e
expressivos, perderam de vista as convenções literárias com as quais as obras de
Azevedo e Poe dialogavam, além de terem desprezado o papel da literatura como
produtora de efeitos de recepção – duas características fundamentais da tradição
literária gótica, aqui entendida como uma poética da modernidade que conjuga
uma linguagem artística altamente estetizada e uma visão de mundo negativa.
PALAVRAS-CHAVE: Crítica Literária; Século XIX; Narrativa.
Júnio César Batista de Souza
TITULO: ENTRE O PALCO E A LITERATURA:
EMPODERAMENTO NA APRENDIZAGEM
QUESTÕES
DE
RESUMO: Este trabalho denominado “Entre o Palco e a Literatura: Questões de
Empoderamento na Aprendizagem” é um recorte de uma pesquisa de doutorado
em sua fase preliminar. O estudo propõe uma reflexão acerca da utilização dos
Jogos Dramáticos e do Texto Dramático como instrumento de Empoderamento
no Ensino Aprendizagem de Línguas e Literaturas. Baseado em uma perspectiva
transdisciplinar dos estudos linguísticos, literários e pedagógicos, aborda teóricos
como Freire (2011) no que tange a proporcionar possibilidades para que o
aprendiz seja capaz de construir seu próprio conhecimento; Bakhtin (2000)
considerando o texto dramático como um gênero situado entre o oral e o escrito;
Spolin (1987) sobre as técnicas e habilidades pessoais necessárias para os jogos
teatrais; Ryngaert (1996) na utilização dos jogos dramáticos trabalhando a
“materialidade” da palavra pela exploração do texto em suas várias
potencialidades do dizer; e por fim Zumthor (2007) referindo-se a performance
ou leitura bem como suas consequências no ato de comunicar. A pesquisa
contempla ainda em seu escopo autores como Pupo (2001) e Boal (1997) no
tocante a vocalização do texto dramático. O presente trabalho dialoga com
estudos que possuem interface com a Educação e Ensino, propondo a prática de
um dos objetivos da LBD, o desenvolvimento do educando como ser humano,
aliada à formação ética e o processo de construção da autonomia intelectual e do
pensamento crítico.
PALAVRAS-CHAVE: Jogos Dramáticos; Texto Dramático; Literatura.
Jacqueline de Cassia Pinheiro Lima
TITULO: MUSEUS, MEMÓRIA E LITERATURA: PERTENCIMENTO E
ESQUECIMENTO COMO CONSTITUTIVO DE MEMÓRIA EM ITALO
CALVINO
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo perceber como os Museus se
constituem objetos de memória e como estes são, ou não, considerados no âmbito
da literatura. Esta investigação tem seu início a partir de uma pesquisa sobre o
Museu Ciência e Vida no Municipio de Duque de Caxias – RJ, que caracteriza a
noção de pertencimento deste espaço como “lugar-de-memoria” da Cidade. A
partir de entåo, as leituras foram conduzindo não somente à adequação deste
espaço na memória dos transeuntes, mas também nas referências aos Musesu,
como categoria, nos escritos literários. Neste sentido, trabalharemos aqui, com
esta relação Museu – Memória – Literatura a partir do texto de Ítalo Calvino, O
Museu dos Queijos, que aborda memória e esquecimento como posibilidades de
se constituir um espaço indentitário, entendendo que a lembrança, ou o que fica
do passado, não é exatamente o conjunto do que passou, mas o que se escolheu
para ser recordado. O que deve ser ou não re-acordado pelo tempo e por quem
trabalha com ele. Além dessa escolha, encontra-se o que foi deixado como
herança do passado, os conhecidos monumentos, que são “um legado à memória
coletiva”. (LE GOFF, 1996:536).
PALAVRAS-CHAVE: Museus; Memória; Literatura.
Jade Pena Magave Uchôa
TITULO: CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA DO MATERIAL DE LITERATURA DO
SISTEMA MACKENZIE DE ENSINO: EM BUSCA DE UMA APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA DA LITERATURA
RESUMO: A comunicação apresentará uma análise da concepção pedagógica do
material didático de literatura do Sistema Mackenzie de Ensino (SME), tendo
como foco a articulação entre a Teoria da Aprendizagem Significativa (AUSUBEL,
2000) e seu desdobramento metodológico no ensino de literatura. A Teoria da
Aprendizagem Significativa estabelece como requisito essencial para a
aprendizagem a interação entre ideias potencialmente significativas, isto é,
culturalmente relevantes) e o conhecimento prévio do aluno (subsunçores). Tal
teoria, que tem sido seguida na coleção de livros didáticos do SME, começa
recentemente a ser aplicada ao material de literatura. A ênfase nas ideias
culturalmente relevantes fez surgir, no livro de literatura, o desenvolvimento de
temas culturais em conexão ao estudo dos movimentos literários o que, por sua
vez, tem apontado para a necessidade de uma abordagem didática que vá além da
historiografia literária. Por outro lado, vivenciar o processo de produção editorial
de um material didático nos faz notar claramente a persistência de um modelo de
ensino pautado em uma tradição historiográfica na abordagem do texto literário,
a qual se vê na escrita dos autores dos livros e na própria organização do quadro
de conteúdos, pautado na sequência histórica das escolas literárias. Como fazer
para superar tal perspectiva? Diante desse questionamento, essa comunicação
trará exemplos de algumas opções metodológicas adotadas no material que,
pautadas na Teoria da Aprendizagem Significativa, abrem espaço para outras
possibilidades de leitura do texto literário. Ao mesmo tempo, a análise do
substrato pedagógico do material e do percurso editorial, será colocada nesta
comunicação como um ponto de partida para a troca de experiências e expansão
das concepções teóricas referentes ao ensino de literatura. Referências
AUSUBEL, David. The acquisition and retention of knowledge: a cognitive view.
New York: Springer, 2000. COSSON, Rildo. Letramento literário – teoria e
prática. São Paulo: Contexto, 2012. LAJOLO, Marisa. Literatura: Leitores &
Leitura. São Paulo: Moderna, 2007. LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A
Formação da Leitura no Brasil. 2ed. São Paulo: Ática, 1998. MACCULLOUGH,
Marti. Filosofia Educacional. In Fundamentos Pedagógicos – ACSI. São Paulo:
Imprensa da Fé, 2005. MASINI, Elcie F. Salzano; MOREIRA, Marco Antônio.
Aprendizagem Significativa: condições para ocorrência e lacunas que levam a
comprometimentos. 1. ed. São Paulo: Vetor, 2008. MOREIRA, M.A.
Aprendizagem significativa e sua implementação em sala de aula. Brasília:
Editora da Universidade de Brasília, 2006.
PALAVRAS-CHAVE: significado; temas culturais.
Jair Zandoná
TITULO: PAISAGENS LITERÁRIAS: ENTRE GUETOS, AFETOS E OSSOS. RELEITURA(S) SOBRE O IMAGINÁRIO LITERÁRIO DE MARCELINO FREIRE
RESUMO: "Nossos ossos", de Marcelino Freire, transita pelas memórias e
experiências do dramaturgo Heleno. Nascido em Sertânia, no interior de
Pernambuco, cidade bastante pequena onde vivia com seus pais e irmãos,
namorou, quando jovem, Carlos. Com a partida deste para São Paulo, não vê
outra alternativa senão seguir o amor de sua vida. Parece que a felicidade não lhe
pertence, pois ao chegar na cidade de ferro, Carlos evita-o a todo custo.
Dramaturgo, faz das peças catarse. Vive – ou confina-se – à margem. Esta
comunicação pretende investigar a relação entre essas/algumas figuras
apresentadas no romance e como se constroem/são construídas por/nesses
espaços invisibilizados: o gueto, a rua à noite, hotéis baratos, metrôs e outros
lugares de trânsito nos quais a existência do outro se dilui com o ritmo
desenfreado da cidade grande – entre as zonas fantasmas e os espaços de fluxos
(BAUMAN, 2009) – e as violências recorrentes nessas paisagens. Tais
personagens, gays, garotos de programa, travestis, idosos, jovens, que (se)
transformam no decorrer dos anos, (des)construindo suas identidades,
reinventam seus corpos, lindam (também) com as violências invisíveis
(MISKOLCI, 2009). São sujeitos igualmente invisíveis, vistos como pessoas
supérfluas, se fizermos uma leitura mais abrangente sobre o exposto por Bauman
quanto às pessoas que vivem nessas zonas fantasmas.
PALAVRAS-CHAVE: Marcelino Freire; Invisibilidade(s); Diversidades.
Jakeline Fernandes Cunha
TITULO: LITERATURA E OUTRAS ARTES EM O TURISTA APRENDIZ:
ENQUADRAMENTOS DA PAISAGEM AMAZÔNICA
RESUMO: É na fronteira das artes que se deu a formação intelectual de Mário de
Andrade. O autor modernista, de olhar sempre interessado na realidade e cultura
do país, no arranjo das paisagens do diário de viagem O Turista Aprendiz deslizou
de um domínio artístico para o outro. Seguindo nosso estudo ainda em
andamento no que se refere à tese de doutorado – realizada no Departamento de
Teoria Literária e Literatura Comparada da USP –, averiguamos que esse viajante
na criação das paisagens amazônicas assimilou e atualizou padrões artísticos da
tradição, tais como: a perspectiva filosófica do Sublime e o método pictórico da
janela usado para enquadrar, isolar e selecionar partes do objeto. Para a discussão
no Simpósio, escolhemos o clássico recurso da janela que, no diário, adquire
formas diversas. No início da primeira viagem, o olhar crítico do autor paulistano
demarcou a natureza do Rio de Janeiro através dos quadros de Debret que
funcionam como janelas para seu olhar que, segundo ele, “se processa quase
sempre pelo processo comparativo”. Diferentemente, no enquadramento da
natureza da bacia do Rio Amazonas ele utilizou instrumentos da arte da fotografia
e do cinema. O recurso artístico das “janelas-lentes” lhe permitiu elaborar
quadros que, através de suas estruturas ambíguas, retratam o problema da
paisagem brasileira. Contudo, nos momentos em que o viajante dispensou o
enquadramento da janela e até mesmo o apoio da bengala, artifícios usados para
o equilíbrio do olhar/das sensações, a entrega ao imenso espaço torna-se evento
inadiável. Com isso, o encontro espiritual ou sexual com a natureza sublime o
obrigou a compor quadros de paisagem segundo o molde romântico e universal.
É nessa tensão, portanto, que as paisagens do diário O Turista Aprendiz vão
sendo projetadas pelo olhar que pouco descansa de Mário de Andrade. Por fim,
ressaltamos que essa pesquisa é subsidiada pelo CNPQ e conta também com
estágio na Universidade de Évora, Portugal, apoiado pela CAPES.
PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade; paisagem; janela.
Jaqueline Castilho Machuca
TITULO: NOMADISMO E ESVAZIAMENTO DE IDENTIDADE EM TRÊS
OBRAS DE JOÃO GILBERTO NOLL
RESUMO: João Gilberto Noll tece narrativas que desconstroem fronteiras
espaciais e temporais com o intuito de ter, como produto final, um enredo no qual
o desnudamento dos personagens resulta em um esvaziamento completo de
projetos e de identidade, já que os personagens-nômades parecem estar à mercê
dos eventos que cruzam seus caminhos, numa espécie de casualidade que vai de
situações aparentemente esdrúxulas a eventos do cotidiano. O trabalho aqui
proposto, fruto de reflexões iniciais da tese de doutoramento, visa analisar, à luz
das teorias sobre pós-modernidade, três romances de Noll: Bandoleiros (1985),
Berkeley em Bellagio (2002) e Lorde (2004). O fio norteador da análise
comparada das obras em questão é o fato de os três protagonistas serem
escritores, embora pouco exerçam a função. Além disso, tais personagens
anônimos partem para empreitadas fora do Brasil e os percalços, junto a
sensações diversas decorrentes desses deslocamentos, são descritos por esses
narradores em primeira pessoa que, de alguma forma, buscam o desconhecido no
exterior e no próprio exercício da escrita (que pouco acontece, haja vista a
dificuldade de produção encontrada por eles). Essa busca constante, através do
desenraizamento do que seria familiar, é tema recorrente em Noll, assim como o
transbordamento da sexualidade via relações fugazes. A presentifição do tempo
também é visível na obra do escritor gaúcho, tema discutido através de reflexões
sobre pós-modernidade contidas na obra Pós-modernismo: ou A lógica cultural
do capitalismo tardio (1990), de Fredric Jameson.
PALAVRAS-CHAVE: João Gilberto Noll; escrita; nomadismo.
Javier Uriarte
TITULO: NATUREZA E CULTURA NA AMAZÔNIA DE WILLIAM HENRY
HUDSON: UMA LEITURA DE GREEN MANSIONS (1904)
RESUMO: Nesta comunicação, irei discutir as formas que o deslocamento e a
natureza adoptam no romance Green Mansions (1904), de William Henry
Hudson. Esse romance se passa na Amazônia venezuelana do final do século XIX,
e narra a relação do narrador com Rima, uma mulher intimamente ligada à
natureza e que, apresenta um caráter etéreo, intangível e incorpóreo para o
narrador. A partir dos estudos de Akeel Bilgrami, sugiro neste romance uma
separação fundamental entre homem e natureza, uma rivalidade essencial entre
esses dois termos. O homem é o primeiro destruidor da natureza, ou pelo menos,
um ser que não chega a compreender (e aprehender) o espaço natural amazônico.
No olhar do narrador, essa separacao essencial entre homem e natureza inclui os
índios que moram nesse espaço. Eles são barbarizados pelo narrador e procuram
a destruição de Rima, o único personagem (não claramente humano) que pode
entender e dialogar intimamente com a natureza. O índio é violento, é quase
monstruoso, mas não é parte do espaço natural, não é identificado com ele. Essa
separação notável entre espaço e índio expressa uma ruptura com as narrativa de
progresso que comumente justificam a extinção indígena pela incapacidade que
o índio teria de produzir e se diferenciar de seu espaço. Proponho que a presente
“barbarização” do índio neste romance se apresenta de modo paradoxal: de um
lado, ele é aproximado do homem chamado “civilizado” (pois compartilham da
lógica destrutiva da natureza e a não compreensão dela), de outro, essa
barbarizacao é coerente com o anti-progressismo romântico que irão marcar as
outras obras de Hudson. Irei discutir também as muitas formas que a ideia da
casa incorpora nesse texto, e do “homecoming”, tendo em vista que a natureza e
o próprio retorno à origem representam uma das obsessões do próprio William
Henry Hudson.
PALAVRAS-CHAVE: Deslocamento; Retorno; Natureza.
Jayme Soares Chaves
TITULO: A EMERGÊNCIA DE UM GÊNERO: MATRIZES DA FICÇÃO
CIENTÍFICA CONTEMPORÂNEA
RESUMO: Nesta comunicação, pretendemos propor uma nova abordagem para
o gênero "ficção científica". Proporemos a seguinte hipótese: a ficção científica
emerge como um discurso a meio caminho entre a literatura e a ciência. Para
discutir tal hipótese, retomaremos a origem do conceito, proposto em 1926 por
Hugo Gernsback. Além disso, destacaremos as principais matrizes ficcionais
responsáveis pela delimitação do gênero, destacando sempre o contraste entre as
diversas opções discursivas.
PALAVRAS-CHAVE: ficção científica; polêmica; discurso.
Jean Pierre Chauvin
TITULO: A CRÍTICA MACHADIANA A PARTIR DE 1970: CRITÉRIOS
ESTÉTICOS, HISTÓRICOS E CULTURAIS
RESUMO: Por mais de vinte anos, Alfredo Bosi e Roberto Schwarz
protagonizaram algumas polêmicas intelectuais em torno da obra de Joaquim
Maria Machado de Assis (1839-1908). Elas poderiam ser pinçadas em uma série
de ensaios redigidos pelos críticos, em particular em dois de seus estudos de
maior fôlego: Um mestre na periferia do capitalismo, publicado por Schwarz em
1990; e O enigma do olhar, editado por Bosi em 1999. Alguns pressupostos e
posicionamentos de ambos os comentadores da obra machadiana passaram a ser
reproduzidos pelos demais pesquisadores, o que conferiu aos estudos um caráter
polarizado, em que o respaldo sociológico – comum a ambos os autores –
respaldou-se ora nas motivações de cunho predominantemente ideológico, no
caso de Schwarz, ora em motivações de cunho filosófico-moralizante, no caso de
Bosi. Em 2010, com a publicação de O altar e o trono, Ivan Prado Teixeira parece
ter trilhado um caminho alternativo às correntes existentes. Sem negar os
critérios ideológicos e estéticos, Teixeira aclimatou no Brasil a hipótese do
estadunidense Stephen Greenblatt, que defende a necessidade de se estudar os
textos literários à luz da poética cultural, situados no seu contexto histórico. Em
suas investigações, Ivan Teixeira ressaltou os diálogos entre o texto e a imagem –
evidentes, por exemplo, em A Estação e O Jornal das Famílias -, considerando o
formato dos vários periódicos em que Machado colaborou. Ele sugeriu uma nova
visão sobre o romancista fluminense: a de que, além de polígrafo, ele também
tenho sido um de nossos primeiros e mais competentes editores de publicações
seriadas, no Segundo Império.
PALAVRAS-CHAVE: Alfredo Bosi; Roberto Schwarz; Ivan Prado Teixeira.
Jeanne Sousa da Silva
TÍTULO: DOM QUIXOTE DE LA MANCHA PARA LEITORES JUVENIS: UMA
LEITURA DA ADAPTAÇÃO DE FERREIRA GULLAR DO CLÁSSICO DE
MIGUEL DE CERVANTES
RESUMO: Esta pesquisa aborda a tradução adaptada de Dom Quixote de La
Mancha, de Miguel de Cervantes, realizada por Ferreira Gullar. O estudo centrase na análise das estratégias utilizadas pelo adaptador para tornar o clássico
cervantino mais próximo do jovem leitor. Dessa forma, foi imprescindível o
aporte teórico da estética da recepção, de Hans Robert Jauss (1994), por dois
fatores: o primeiro porque a referida teoria tem como princípio geral a
experiência do leitor como fonte primordial para a compreensão dos fatos
literários, tanto em sua configuração estética quanto histórica; nesse sentido, o
segundo fator sustenta-se na noção de que a modalidade de texto em estudo
configura-se com uma forma explícita de recepção, o que torna possível verificar
os horizontes de leitura tanto do leitor de Cervantes, quanto do leitor de Gullar.
Para compreender de que maneira o adaptador maneja o texto com vistas a
concretizar sua recepção, foi necessário trilhar também pela teoria da tradução
de Even-Zoar (1990) e André Lefevere (2007), bem como pelos estudos de
Diógenes Buenos Aires de Carvalho (2006), Mário Feijó B. Monteiro (2010),
Lauro Amorim (2005), por discutirem conceitos e apontarem para a iminência
de uma teoria da adaptação. Com base nesses preceitos teóricos, buscou-se
evidenciar ainda, que as escolhas do adaptador tiveram, dentre outros objetivos,
o de favorecer a emancipação de seu público-leitor.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução/adaptação; Dom Quixote; Estética da Recepção.
Jecilma Alves Lima
TITULO: MEMÓRIAS DO ANARQUISMO E DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA
EM LA HIJA DEL CANÍBAL
RESUMO: Na década de noventa, o romance espanhol foi renovado pela
confluência de diversas tendências, entre elas uma marcada pelo interesse na
memória da Guerra Civil e na ditadura franquista. Este interesse peculiar pode
ter sido despertado, segundo Macciuci (2010), pela chegada ao governo do
partido popular e pelo clima político marcado pela inquietação acerca das
questões democráticas. O romance La Hija del caníbal (1997), de Rosa Montero,
é um dos que se apresenta como organizador e guardião da memória na medida
em que permite transformar o conceito abstrato das recordações em algo
material, uma trama dialógica na qual se cruzam as vozes de diferentes gerações
que sofrem, de maneiras distintas, os efeitos da Guerra Civil. Uma das mensagens
subjacentes no romance é a necessidade de compreender a história como um
todo, inclusive em seus aspectos não contados na história oficial, evidenciando a
fragilidade da memória e as consequências do esquecimento, proposital ou não,
de pontos de vista e acontecimentos, para a construção do processo narrativo e a
constituição da identidade. Em La hija del caníbal a história do anarquismo se faz
presente através do relato oral da personagem Félix Roble. A recuperação da
história oral, comum nos romances históricos mais recentes que tratam de
revoluções populares se realiza aqui em um processo narrativo que parte da
escuta de um testemunho e passa pela reelaboração escrita realizada pela
interlocutora. A autora demonstra a necessidade de resgatar memórias
importantes que sofrem não só com o esquecimento, mas com o risco de serem
representadas de forma equivocada, a partir de um olhar parcial. O relato de Félix
tem a função de reorganizar a história do anarquismo espanhol e, com base nas
suas vivências pessoais, resgatar as qualidades ideológicas e morais do ideário
operário anarquista. REFERÊNCIAS MONTERO, Rosa. La hija del caníbal.
Madrid: Espasa e Bolsillo, 1998. BONATTO, Adriana Virgínia. La recuperación
del anarquismo y problemas de representación en La hija del caníbal de Rosa
Montero. Anai do IX Congresso Argentino de Hispanistas. LaPlata, 2010.
Disponível
em
http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar/trab_eventos/ev.1037/ev.1037.pdf
COLMEIRO, José F. Vásquez. La crisis de la memoria. Revista Anthropos: huellas
del conocimiento. Barcelona: Anthropos, 2000, nº 189-190, p. 221-227.
MACCIUCI, Raquel. La memoria traumática en la novela del siglo XXI. Esbozo
de un itinerario. In: Entre la memoria propia y la ajena. Tendencias y debates en
la narrativa española actual, La Plata: ediciones del lado de acá, 17-49, 2010.
RESINA, Joan Ramón. Disremembering the Dictatorship. The Politics of
Memory in the Spanish Transition to Democracy. Amsterdam/Atlanta: Rodopi,
2000.
PALAVRAS-CHAVE: Mémória; Literatura espanhola; anarquismo.
Jefferson Agostini Mello
TITULO: OS INTELECTUAIS FRANCESES E A AMÉRICA
RESUMO: Se a representação dos Estados Unidos, em "America" (1986), de Jean
Baudrillard, ainda é ambígua, misto de fascínio e crítica, não se pode dizer o
mesmo do livro de Marc Fumarolli, "Paris-New York et retour" (2009). Escrito
duas décadas depois do primeiro, também por um intelectual francês, cristalizase nele a oposição entre uma Europa humanista e uma América fútil, cuja cultura
da imagem e do consumo invade até mesmo as paradas de ônibus de Paris, com
sua publicidade incisiva. Como se sabe, ao longo dos séculos XVIII e XIX, as
Américas, seja por conta de sua natureza exuberante e paisagens vastas, seja por
sua democracia, serviram não só de modelo de utopia à Europa que se
industrializava, mas também como forma desta fazer a sua autocrítica. Mais
ainda, elas eram vistas e descritas pelos viajantes europeus como terras de
promissão, tanto para se habitar quanto para se explorar economicamente, no
caso, à distância. Atualmente, em um momento de crise dos valores humanistas
e de migração do poder econômico para os Estados Unidos, a imagem deste país
passa a ser remodelada pelos intelectuais viajantes europeus. Assim como um
conjunto relativamente expressivo de textos críticos franceses sobre o fim ou a
crise da cultura e da literatura, o relato de viagem de Fumarolli torna-se,
novamente, uma forma de falar de si a partir deste Outro. Este, porém, não é mais
idealizado, senão questionado, talvez porque inevitavelmente próximo.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura de viagem; América; França.
Jefferson Cleiton de Souza
TITULO: A MELANCÓLICA MODERNIDADE DE ASCENSO FERREIRA E
MANUEL BANDEIRA
RESUMO: Tomando por base a reflexão da filósofa Marcia Tiburi – presente no
livro Filosofia Cinza: a melancolia e o corpo nas dobras da escrita (2004) – de que
a produção filosófica e artística é resultante da “pulsão” melancólica, a presente
comunicação objetiva discutir como os poetas Manuel Bandeira e Ascenso
Ferreira inscreveram seus desencantos com a modernidade em suas respectivas
poéticas. Especificamente, por meio das análises dos poemas Recife, O cacto e
Minha terra – de Bandeira – e Os bêbados, Cabra-cabriola, Black-out e Cinema –
de Ascenso –, objetiva-se investigar em que medida eles lançaram mão dos
expedientes da memória e da imaginação para demarcar discursivamente uma
reação aos impactos gerados pela modernidade nos seus respectivos campos de
experiências culturais, sociais e afetivos. Para tanto, além de dialogarmos com a
ideia de Marcia Tiburi de que há uma relação indissolúvel entre o estado
melancólico, a subjetividade e a prática da escrita, recorremos também à noção
de imaginação produtiva desenvolvida pelo filósofo francês Paul Ricoeur no livro
Do texto à ação (1986). No tocante à memória, buscamos subsídios ainda na
filosofia de Paul Ricoeur, mas, agora, em diálogo com o seu livro A memória, a
história e o esquecimento (2000) e também nas reflexões desenvolvidas por Éclea
Bosi em seu livro Memória e sociedade: lembranças de velhos (1979). Já, no que
se refere às considerações acerca da modernidade, lançaremos mão das reflexões
de Marshall Berman, desenvolvidas em seu livro Tudo que é sólido desmancha
no ar: aventura da modernidade (1982) e no livro (Des)cantos modernos:
histórias da cidade do Recife na década de vinte (1997), do historiador Antonio
Paulo Rezende.
PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Modernidade; Memória.
Jeronimo Duarte Ayala
TITULO: FALSAS DEMANDAS DE UMA MENTE ALUCINADA – COLISÕES
ENTRE ADOLFO BIOY CASARES E CHARLIE KAUFMAN
RESUMO: O presente trabalho aproxima as linguagens literária e
cinematográfica como forma de compreender processos de sofrimento psíquico
de personagens. Para tanto foram escolhidos dois diferentes perfis, o primeiro,
do romance A Invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, e o segundo do filme
O Brilho eterno de uma mente sem lembranças, do roteirista Charlie Kaufman.
Este dois autores, mesmo separados em um determinado tempo histórico,
criaram personagens desabonados do inconsciente. Nas narrativas, suas
demandas são sempre de amor, e o que eles pedem é mais um gadget. São falsos
investimentos libidinais, desejos frustrados em situações em que Real,
Imaginário e Simbólico intercalam-se de forma alucinada. Um é fugitivo, o outro
é amargurado. Seus mundos desagregados são narrados oniricamente,
repetindo-se incessantemente. Seus distintos delírios expressam de que forma
suas realidades psíquicas estão peculiarmente estruturadas e manifestam-se no
âmbito fenomênico. O trabalho, ao aproximar Literatura e Cinema, procura
mostrar, a partir de um viés psicanalítico, como a arte pode contribuir para a
formação do analista. A atenção flutuante e as associações de ideias devem ouvir
o delírio como uma forma de linguagem que tenta organizar o sentimento de
fragmentação do corpo.
PALAVRAS-CHAVE: delírio; cinema; literatura.
João Augusto de Medeiros Lira
TITULO:
MEMÓRIA
E
PERFORMATIVIDADE
FICCIONAL:
RESSEMANTIZAÇÃO E CONTRADISCURSIVIDADE IDEOLÓGICA NA
DRAMATURGIA DE JOÃO DENYS ARAÚJO LEITE
RESUMO: Dentro de uma perspectiva memorialística de abordagem da criação
ficcional, uma série de aspectos se entrelaçam no jogo dialógico que configura a
incidência da memória no processo criador da obra artística, qualquer que seja a
sua forma e natureza. Este trabalho tem por objetivo abordar a utilização do
paradigma da memória, enquanto potência e força imanente, propulsora de
deslocamentos, deformações, distorções, revalorações, e renovações; tomando
como objeto de análise o texto dramático A Pedra do Navio do escritor e
encenador potiguar João Denys Araújo Leite (que toma como referencial um
trágico acidente ocorrido em sua cidade natal, em que um ônibus desgovernado
atingiu uma multidão de fiéis que acompanhava uma procissão religiosa,
vitimando dezenas de devotos e resultando em um fato de clamor extremo em
que a dor, o luto e o desespero maculou a coletividade social, impingindo-lhe
cicatrizes irreparáveis), ressaltando como o autor ressemantiza o universo
conflituoso e traumático de sua origem sertaneja através da instrumentalização
transfiguradora dos artifícios de seu processo de recordação, empreendida pelo
jogo performativo das tematizações e motivações da engenhosidade criadora do
seu discurso ficcional de cunho antinaturalista e contraideológico. Em sua
dramaturgia, a memória penetra como uma semente prestes a desabrochar de
forma inventiva, como um elemento de composição, um estilo a se fazer, como
um mote para singulares dilatações poéticas, críticas, e identitárias.
PALAVRAS-CHAVE: Memória; Performatividade; Dramaturgia.
João Batista Pereira
TITULO: A OPUS DEI DA VIOLÊNCIA EM A HORA E A VEZ DE AUGUSTO
MATRAGA.
RESUMO: Este artigo objetiva refletir sobre a configuração da violência no conto
A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. Ao delinear os
condicionantes históricos como marcos que concorrem para entender os sertões
mineiros na modernidade são requisitados novos parâmetros para apreender o
caráter brutal que emoldura seu protagonista. No livro Origem do drama barroco
alemão, Walter Benjamin vislumbra o recurso alegórico como instância
explicativa para expressar as incertezas desse novo tempo, caracterizando-o
como uma verdade oculta que não representa as coisas como elas são, mas oferece
uma versão de como elas foram ou poderiam ser. Como ressonância dos
fundamentos implicados em nossa leitura, adotamos a alegoria como categoria
analítica que, em conjunto com a perspectiva dialética, fundamenta a leitura da
narrativa rosiana. Concluímos que a atmosfera de violência que envolve o campo
ficcional no qual se plasma o conto denuncia um espaço dominado pela desordem
e injustiça social, realidade que alcança a estética exigindo novas abordagens e
perspectivas críticas na contemporaneidade.
PALAVRAS-CHAVE: Alegoria; Guimarães Rosa; Walter Benjamin.
João Batista Teixeira
TITULO: A PRESENÇA SUBVERSIVA DE MARIAMAR: VOZ FEMININA EM A
CONFISSÃO DA LEOA, DE MIA COUTO
RESUMO: A Presença da mulher nas Literaturas contemporâneas tem passado
por uma transformação de papéis sociais tendo em vista as realidades em que as
mesmas se inscrevem. Tempos de insegurança mundial, de queda e aproximação
das fronteiras culturais, a representação do feminino se mostra nas vozes
daquelas que reclamam por seus espaços sociais, que não aceitam mais o processo
de subalternização e inferiorização imposta pelos anos de colonização,
patriarcado e cultura judaico-cristã. Cotejamos a Obra A confissão da Leoa(2012)
do moçambicano Mia Couto a partir do olhar e fala subservisa da personagem
Mariamar, que divide o protagonismo da obra com outro narrador (masculino).
Sendo o romance narrado sob o olhar feminino e masculino. Nos interessa em
especial caso a forma de observar o mundo e as falas desse personagem narrador
feminino, a insatisfação com uma sociedade sempre regida e determinada pelo
poder masculino. Amparamos as discussões em autores que discutem temas
como colonização e descolonização, o feminino em África a partir de autores
como Thomas Bonnici(2000), Homi Bhabha(1998), Bezerra(1997) Bezerra e
Souza(2014), Chabal(1994), Spivak(2010) entre outros autores que discutem as
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e os temas acima citados e também a
importância da difusão do texto literário na sala de aula como espaço para a
discussão de temas voltados a cidadania, direitos humanos, fronteiras culturais e
ordens socioculturais na perspectiva da literatura e o do ensino como educação e
quebra de discursos totalitaristas. É importante observar as práticas de ensino de
literatura na Educação Básica e Ensino Médio em especial caso, sendo esse um
momento de transição do aluno para a academia e outros espaços de linguagens
diversas, entre elas o conhecimento da literatura como suporte de compreensão
do sociocultural do mundo que o cerca e do mundo como aldeia global. Os temas
da humanidade sendo o tecido da literatura, permite ao indivíduo um
entendimento e agenciamento de ideias acerca da política, das lutas da sociedade
e os instantes e interstícios da história represados na leitura e discussão do texto
literário, não apenas como escapismo da realidade, mas de fato como imersão na
mesma para que esse mesmo cidadão se sinta ou não representado pela literatura
de sua terra, e os diálogos que a mesma possa sugerir com outras realidades e
literaturas.
PALAVRAS-CHAVE: Subversão feminina; Literatura Africana; Subalternização..
João Cesário Leonel Ferreira
TITULO: PERIÓDICOS E O INÍCIO DO SISTEMA LITERÁRIO PROTESTANTE
NO BRASIL DOS OITOCENTOS: O JORNAL IMPRENSA EVANGÉLICA
RESUMO: Esta comunicação procura responder a algumas das questões
propostas pelo Simpósio Cultura escrita e leitura literária nos periódicos dos
séculos XVIII e XIX, tais como: “O que se publicava nos periódicos brasileiros e
portugueses nos séculos XVIII e XIX? Quem publicava? [...] Quais os gêneros?
[...] Quais textos não canônicos também circulavam em periódicos e jornais?”
Para tanto, delimita o corpus do trabalho à produção literária protestante
brasileira dos Oitocentos, praticamente inexplorada nos meios acadêmicos, de
modo particular ao jornal Imprensa Evangélica, primeiro periódico protestante
brasileiro (1864-1892). Além do aspecto cronológico, a escolha do jornal se
justifica por haver nele literatura própria do protestantismo que, diferindo
daquela presente nos demais periódicos comerciais do período, colabora com a
identificação da amplitude de temas constantes nos jornais brasileiros do século
XIX. Nesse sentido, faz-se o reconhecimento da presença de gêneros literários
variados que visavam a atender os poucos convertidos ao protestantismo, como
também atingir de forma mais ampla os leitores católicos. Os autores dos textos,
ainda que anônimos nos primeiros números do jornal, por serem norteamericanos e europeus em sua maioria, permitem reconhecer, no contexto
particular do protestantismo, a circulação atlântica e transatlântica de impressos.
Há no jornal igualmente anúncios de venda de livros, indicações de pontos de
venda de literatura religiosa que se espalham pelo território nacional e notícias
do surgimento de outros periódicos protestantes no país. Dessa forma, temos
elementos que admitem propor que o jornal Imprensa Evangélica se transforma
no eixo a partir do qual surge o sistema literário protestante brasileiro. Para o
desenvolvimento da análise, são utilizados os referenciais teóricos da História do
Livro e da Leitura e elementos da História do Protestantismo brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Imprensa Evangélica; protestantismo; sistema literário.
João Escobar Cardoso
TITULO: A RETÓRICA ILUMINADA EM TEMPOS DE TREVAS NA COLÔNIA
RESUMO: Com as Reformas Pombalinas da Instrução Pública, os intelectuais
ilustrados passaram a dedicar uma intensa atenção às línguas vivas, empregandoas amplamente na educação e formação da juventude. A consolidação dos
idiomas nacionais e a inserção da literatura num lugar de destaque em termos de
formação pedagógica levaram a literatura e as línguas vivas a alcançarem um
valor cultural independente (FALCON, 1993). Nesse contexto, a disciplina de
retórica, reformulada sob os preceitos iluministas e utilitários propostos por
Verney, adquiriu um destaque inédito. Assim, este trabalho procura fazer um
breve percurso dos ecos que tiveram as Reformas Pombalinas no Brasil através
das ações pedagógicas de Silva Alvarenga, um egresso de Coimbra e primeiro
professor régio oficial de retórica no Brasil e Miguel Joaquim de Almeida Castro,
professor de retórica do Seminário de Olinda e um dos líderes da Revolução
pernambucana de 1817, homens que se tornaram verdadeiros arautos das
reformas pedagógicas do Conde de Oeiras nas terras do além-mar em uma época
caracterizada pedagogicamente pela desorganização e decadência.
PALAVRAS-CHAVE: Reformas Pombalinas; Silva Alvarenga; Padre Miguelinho.
João Evangelista do Nascimento Neto
TITULO: UM PASSEIO PELO REINO DA PICARDIA: AS PERIPÉCIAS DE
LÁZARO E JOÃO GRILO NO DIÁLOGO ENTRE O LAZARILLO DE TORMES E
O AUTO DA COMPADECIDA
RESUMO: Neste artigo, discute-se a constituição do herói pícaro, através da
comparação entre o protótipo da literatura picaresca, o personagem Lázaro, do
texto anônimo Lazarillo de Tormes, publicado no século XVI, na Espanha, com o
texto do teatro brasileiro, Auto da Compadecida, do autor paraibano Ariano
Suassuna, classificado como a mais popular peça do teatro nacional do século XX.
O João Grilo, protagonista do texto suassuniano, bebe das fontes da picardia
espanhola ao procurar justificação por seus atos de vilania e trapaça. Nascidos
em um meio social excluído das benesses sociais, os dois personagens usam a
única arma que possuem: a inteligência, a fim de sobreviver em meio a uma
realidade que lhes é injusta e vingar-se das classes mais privilegiadas. Ao
arquitetarem seus planos, no entanto, esboçam estar inseridos no mesmo
processo de reificação que combatem. Seu caráter, ou seu não-caráter, é formado
pela lei da vantagem sobre o Outro. Tal estudo baseia-se nos pressupostos
teóricos de Antunes (1981), Cândido (1970), Damattta (1997), González (1988),
Guidarini (1992), Lázaro Carreter (1972), Palma-Ferreira (1981), Queiroz (2003),
dentre outros, que dialogam com a temática.
PALAVRAS-CHAVE: Picardia; Herói; Diálogo.
João Felipe Assis de Freitas
TITULO: ACHEBE E ADICHIE: AS DESCOLONIALIDADES LITERÁRIAS NO
ROMANCE AFRICANO DE LÍNGUA INGLESA
RESUMO: A ampliação dos estudos culturais na pós-colonialidade é,
provavelmente, um dos traços mais marcantes das atuais discussões em torno dos
conceitos de hibridização e de transculturação das nações americanas, europeias
e africanas. Como consequência disso, fluxos e negociações afrodiaspóricas
parecem (re)definir concepções e posições heterogêneas de romancistas oriundos
das ex-colônias britânicas. Nesse sentido, Chimamanda Ngozi Adichie, autora de
Purple Hibiscus (2003), Half of a Yellow Sun (2006), The Thing Around Your
Neck (2009) e Americanah (2013), constrói narrativas, nas quais as personagens
cosmopolitas, conscientes da relevância do desenvolvimento constante de
estratégias de sobrevivência, transitam por territórios tanto geográficos quanto
ideológicos distintos entre si. Por influência literária de Chinua Achebe (19302013) desde a mais tenra infância, a escritora nigeriana, ao mesmo tempo em
quem aperfeiçoa sua escrita a cada nova veiculação de seus textos, consolida seu
nome como um dos principais expoentes de sua geração. Desse modo, o objetivo
da presente comunicação é propor uma reflexão acerca das heranças descoloniais
de Achebe na produção contemporânea de Adichie por meio da observação crítica
dos principais temas de suas obras.
PALAVRAS-CHAVE: Achebe; Adichie; Descolonialidades.
João Jairo Moraes Vansiler
Izabela Leal
TITULO: DUAS TRADUÇÕES D’AS ELEGIAS DE DUÍNO [DUINESER
ELEGIEN] DE RILKE ATUALIZANDO A SUA FICCIONALIDADE LITERÁRIA
RESUMO: Resumo: Esta comunicação visa refletir acerca da produtividade
textual na obra poética Duineser Elegien [As Elegias de Duino] de R. M. Rilke
(1875 – 1926) gerada a partir de duas traduções brasileiras comentadas. A
primeira, feita de forma partilhada entre o antropólogo e escritor alemão Peter
Paul Hilbert (1914 – 1989) e o poeta e tradutor brasileiro Paulo Plínio Abreu (1921
– 1958) na década de 1950, mas publicada apenas em 1978; a outra é a tradução
publicada pela poeta e tradutora Dora Ferreira da Silva (1918 – 2006) em 1972.
Procuraremos examinar alguns aspectos semânticos e retóricos nas escolhas
tradutórias dos tradutores em questão, considerando as implicações dos distintos
períodos em que foram empreendidas, bem como os seus respectivos projetos de
tradução. Para tanto, partiremos da compreensão de “projeto de tradução”
pensado por Antoine Berman (1995) em Pour une critique des traductions, no
sentido de pensarmos a contemporaneidade dessas traduções dentro do que o
teórico francês refletiu como uma “crítica positiva” de tradução literária. Outro
referencial para este exame é a reflexão de Wolfgang Iser (1996) em torno dos
“vazios” do texto literário a serem ocupados pelos leitores. Assim, considerando
a tradução uma atividade de leitura crítica, cujos leitores-tradutores no “jogo do
texto”, em suas traduções (leituras críticas), ao mesmo tempo em que atualizam
a obra original, potencializam a sua ficcionalidade literária.
PALAVRAS-CHAVE: Rilke; leitura crítica; tradução de poesia.
João José Veras de Souza
TITULO: A AMAZÔNIA EM UM CERTO RELATO DE VIAGEM NO SÉCULO
XXI: AINDA AS MARCAS DICUSSIVAS DA COLONIALIDADE
RESUMO: Os espaços geográficos e epistêmico da região amazônica têm sido
descritos como aquele lugar distante do mundo (fora dele) de que se tem notícias,
as mais variadas, desde os primórdios da sua ocupação pelos europeus. São
relatos de um mundo fantástico da imaginação, de um local paradisíaco, de um
ambiente infernal, de uma terra de riquezas/reservas de recursos naturais. Essa
Amazônia plural tem sido desenhada por aqueles que detém o poder de difundir,
em nome de certos ganhos, impressões e discursos como esquemas
interpretativos que buscam a modelizar epistêmica e ontologicamente. Todos
interessados em seu uso pelas vias dos campos literário, sociológico,
científico/tecnológico e, sobretudo, econômico. É predominante em todas essas
visões externas, que têm sido reproduzidas também internamente, a confecção
de uma percepção discursiva, posta pelos narradores, de caráter eminentemente
colonial. Sob este prisma, a Amazônia – espaço tido por tais esquemas
interpretativos como originalmente selvagem e atrasado - será sempre um lugar
a ser explorado, colonizado e, mais que tudo, modernizado. Por esta leitura
histórica, mesmo sentido se mantém se trocarmos Amazônia por América Latina.
Pelos relatos de viajantes contemporâneos, a exemplo do produzido por Afonso
Romano de Sant’Anna – em sua crônica No Caminho da Floresta (2013) podemos facilmente colocar a palavra Acre no lugar de Amazônia/América
Latina. O presente trabalho objetiva apontar e problematizar as
marcas/epistemes - reproduzidas pelo poeta e escritor brasileiro - do sentimento
da modernidade eurocêntrica historicamente construído para a manutenção do
padrão colonial de poder (ou colonialidade, no dizer de Aníbal Quijano) que ainda
vigora fortemente nestes espaços de vidas e de sentidos latino americanos,
amazônicos e acreanos.
PALAVRAS-CHAVE: Amazônia; Crônica; Colonialidade.
João Luís Cardoso Tápias Ceccantini
TITULO: DE VENTO EM POPA: A PRODUÇÃO DE LITERATURA JUVENIL NO
BIÊNIO 2013-2014
RESUMO: A literatura juvenil é um segmento do mercado editorial brasileiro que
vem crescendo a passos largos nos últimos anos, seja do ponto de vista
quantitativo, seja do ponto de vista qualitativo. Um exame mais específico dos
números disponíveis associados a esse subsistema literário no biênio 2013-2014
revela com muita nitidez o vigor desse setor no país. Se certos dados levantados
junto ao setor, como o número de títulos de literatura juvenil em circulação em
2013 (1.685) ou o número de exemplares comercializados no mercado
(20.315.473), são, por si, muito expressivos, também o aumento recente do
número de lançamentos de títulos juvenis nacionais inscritos para a seleção anual
da FNLIJ, que passa de 120, em 2013, a 140, em 2014, precisamente quando os
lançamentos nas demais categorias estão em fase de retração, muito
possivelmente devido à crise econômica, é um índice bastante relevante da força
que a categoria jovem adquiriu no presente. Assim, pretende-se aqui comentar e
analisar brevemente algumas obras juvenis que entraram em circulação no
período, na correlação com o potencial de formação de leitores que possam
manifestar.
PALAVRAS-CHAVE: literatura juvenil; leitura; literatura e mercado.
João Luiz Peçanha Couto
TITULO: AS CIDADES VISÍVEIS: MEMÓRIA E AFETO EM ESPAÇOS
ESTÉTICOS CONTEMPORÂNEOS
RESUMO: Trataremos de um conceito preliminar de cidade, entendida como a
tradicional urbe primeiro-mundista moderna, em seguida estendendo-o para
uma releitura da “cidade”, compreendida no contexto de obras identificadas com
as “literaturas periféricas”: a urbe aberta à Relação, mar adentro, compósita,
refratando a miríade de possibilidades culturais nascidas no encontro de línguas
e hábitos, encontro característico de nosso cenário topsecular, espelho das
“modernidades alternativas” de Bill Ashcroft. Ou seja, uma cidade-comunidade
erigida a partir de uma estética da transgressão não somente urbanística, mas
igualmente no que respeita a trânsitos humanos, relacionais, ontológicos e
simbólicos. O título da comunicação inverte o título da obra de Calvino, As
cidades invisíveis, pois objetiva compreender os espaços urbanos periféricos
contemporâneos como lugares onde possa existir/persistir o exercício
estético/poético. Para isso, as cidades abordadas necessariamente deverão ser
observadas como são: precárias em suas dimensões formais, estruturais,
urbanísticas, econômicas, políticas, ontológicas e simbólicas. Entretanto, e
apesar disso, constituem organismos / sistemas pulsantes. Para esta empresa,
provocaremos o diálogo com as obras Cidade de Deus, de Paulo Lins, e Texaco,
do escritor martinicano Patrick Chamoiseau. As obras dialogam diretamente com
tais espaços contemporâneos periféricos; nenhuma delas se processa numa
linearidade temporal que não seja a presente. Antes, lembremos Glissant, para
quem a cultura de um povo está intimamente ligada à sua paisagem, a
construções simbólicas geo-orientadas, a partir das quais são criadas as
comunidades, identidades, nacionalidades e transnacionalidades: “O indivíduo,
a comunidade, o país são indissociáveis do episódio constitutivo de sua história.
A paisagem é um personagem desta história” (GLISSANT, 1981, p. 199). Foi por
conta desse vínculo entre paisagem e identidade que surgiu a questão dos
conceitos de cidade que perpassam as discussões da pós-modernidade: a cidade
é a paisagem articulada com a cultura – com produtos gerados a partir da ação
cultural humana.
PALAVRAS-CHAVE: modernidades; memória; espaço.
João Tavares Bastos
TITULO: A MELANCOLIA E A RENOVAÇÃO POÉTICA EM BAUDELAIRE
RESUMO: Os sentimentos de melancolia e ennui expressam a inadequação ou
oposição à positividade e impulsionam a renovação da poesia a partir da segunda
metade do século XIX. Manifestos da unicidade pessoal e do repúdio ao processo
produtivo industrial, esses motivos poéticos adquirem novos matizes ao início da
modernidade e se tornam centrais na revitalização da forma poética. A melancolia
e o ennui evidenciam, segundo acreditamos, o ressentimento do literato com sua
nova condição na sociedade burguesa. Realocado em uma estrutura produtivista,
o escritor, como afirma Jean-Paul Sartre em Que é literatura?, se encontra em
uma marginalização objetiva e subjetiva. Na nova organização social, ao contrário
do que ocorria no Antigo Regime, é preciso equacionar a busca ao belo à
necessidade de subsistir, o que termina por levar a literatura ao mercado. A arte,
tornada mercadoria, passa a ser dirigida pela demanda, isto é, pelos ditames do
gosto. Autores como Baudelaire e Heine, ao se sentirem oprimidos pela
necessidade e incompreensão do público, concebem uma nova estratégia de
produção literária, em que escrevem simultaneamente para e contra seus leitores.
Chamado por Dolph Oehler, em Quadros parisienses, de estética antiburguesa,
esse estratagema se fundamenta no uso da ironia e das ambiguidades. E, através
dele, emergem os agentes responsáveis pela renovação poética: a ironia
(instrumento de corrosão da positividade consagrado por Sócrates) e o poema em
prosa (gênero híbrido e desprovido de raízes clássicas, desenvolvido com vistas
aos desafios do lirismo na modernidade). Em nossa comunicação, pretendemos
observar como Baudelaire, a partir de um posicionamento atrelado à
negatividade, usa a ironia e o poema em prosa para perfazer um jogo de luz e
sombra em que atua como espião ou conspirador e aponta para o que considera
torto ou falso na existência.
PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Baudelaire; Poema em prosa.
João Vianney Cavalcanti Nuto
TITULO: ELEMENTOS DE CARNAVALIZAÇÃO EM "A RAINHA DOS
CÁRCERES DA GRÉCIA"
RESUMO: Mikhail Bakhtin caracteriza a carnavalização da literatura pelo uso
intenso da paródia envolvendo os mais diversos tipos de discurso; a presença do
realismo grotesco; o riso ambivalente; o maravilhoso com função de
experimentação de ideias; os estados psicológicos anormais; o clima de
familiaridade; a ênfase no baixo material e corporal a inversão das hierarquias e
a contraposição entre cultura oficial e cultura não oficial. Diversos desses traços
estão presentes em A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins,
especialmente nas referências e citações do romance que o personagem narrador
analisa. No entanto, por conta da maneira sutil como são apresentados, envoltos
por uma série de questões metalinguísticas nesse romance em que o riso cômico
popular não se encontra em primeiro plano como em outras obras da literatura
brasileira, incluindo Lisbela e o prisioneiro do próprio Osman Lins, o conjunto
dos aspectos carnavalescos tem sido relativamente pouco estudado. Este trabalho
pretende analisar os diversos elementos carnavalescos do romance incluindo a
associação do caráter cosmológico da imagem grotesca com saberes marginais
como a quiromancia; a paródia de discursos oficiais, como o Direito e a Medicina;
e também o dialogismo entre discursos como a crítica erudita e manifestações da
cultura popular como o Carnaval, como também da cultura de massa, como
programa de rádio.
PALAVRAS-CHAVE: Osman Lins; Mikhail Bakhtin; carnavalização.
Joabson Lima Figueiredo
TITULO: QUEM PRECISA DE BAIANIDADE(S)?
RESUMO: Busca-se nesse estudo refletir sobre a construção definida como
baianidades e a sua importância hoje no mundo cosmopolita e fragmentado, e
que não podemos olvidar os seguintes questionamentos à própria subjetivação
que o discurso apresenta em sua formulação: quem precisa definir-se dentro de
uma ou várias identidades baianas? E que baianidades estamos falando? E como
não pensar em baianidades quando temos a pertença aos Territórios Identitários
Culturais tão divergentes? Muitas perguntas, que se buscará aqui refletir às
possíveis respostas. Sabe-se que, como discurso representativo, a problemática
se apresenta desde os primeiros viajantes europeus no século XVI e teve sua
emergência no século XIX, e sua definição sempre foi vinculada a identidade
construída e significada à Bahia do Recôncavo sendo a vitrine principal a capital
baiana – Salvador. Cidade-síntese dessa identidade, principalmente por ser
vinculada a cultura afro-luso-baiana. No entanto, a Bahia, geográfica e
antropologicamente, e porque não dizer também por razões históricas, tem no
seu espaço geopolítico divergências culturais que a identidade do Recôncavo não
se impõe ou justifica seu lastro por todo o Estado, que se originou da província e
de três capitanias hereditárias – a primeira divisão geopolítica do território – ou
seja, praticamente ¼ da colônia portuguesa na América. Com efeito, essas
identidades representam um espaço de atualidade ao termo, justamente porque
ainda não se resolveu sua problemática operatória ao termo, nem se esgota ao
final desse texto, apenas uma primeira reflexão de pensar uma invenção para
além do estereótipo e suas representações. Um debate que surge da proveniência
ao conceito e suas capilaridades através do contemporâneo. Em síntese que as
baianidades são forças potencializadoras de discurso, que se erige nos poderes
simbólico e politico, e precisam-se usar agenciamentos para entra-se no mundo,
e provocar novas rupturas e recortes culturais ao local, o regional e o cosmopolita.
PALAVRAS-CHAVE: memória Cultural; baianidades; História.
Joana de Fátima Rodrigues
TITULO: CRÔNICAS JORNALÍSTICAS NOS SÉCULOS XX E XXI: UMA
MIRADA DO BRASIL PARA AMÉRICA LATINA E CARIBE SOB OS OLHARES
DE RUFFATO, HATOUM, VILLANUEVA CHANG E GARCÍA ROBAYO
RESUMO: Como vem se comportando a crônica jornalística nos séculos XX e XXI
na América Latina e no Caribe a partir da perspectiva brasileira? Para atender
este questionamento inicial que subsidiará a pesquisa intitulada Narrativas da
Vizinhança: mapeamento crítico de cronistas-escritores apresentarei uma leitura
de crônicas dos autores brasileiros Luiz Ruffato e Milton Hatoum; do mexicano
Juan Villoro, do chileno Julio Villanueva Chang e da colombiana Margarita
García Robayo, sob a luz de um movimento que aponta para o reflorescimento do
gênero, reunindo em sentido de mão dupla, escritores consolidados deslocandose para a produção desse gênero híbrido, publicando seus textos em jornais e
revistas; e no sentido contrário, uma nova geração, iniciada nas crônicas
jornalísticas que está partindo para as narrativas de ficção, em romances e
contos.Embora esses cronistas-escritores venham compartilhando de dois
espaços públicos: a imprensa impressa e o ambiente virtual da web, no entanto,
o que se observa é a ausência de contato e de diálogo literário junto à essa
vizinhança, que sob o pensamento de Ángel Rama, poderia ser entendida como
uma vizinhança transculturadora.
PALAVRAS-CHAVE: crônica jornalística; séculos XX e XXI; América Latina.
Joana Luíza Muylaert de Araújo
TITULO: TEMPO, LINGUAGEM E ETERNIDADE EM DOIS CONTOS DE
BORGES
RESUMO: Tempo, linguagem e eternidade em dois contos de Borges As questões
centrais dos contos abordados já se anunciam nos seus títulos. Em “História da
eternidade” (1936) e em “Nova refutação do tempo” (1946), Jorge Luis Borges
nega o tempo, necessariamente humano, e afirma a eternidade do mundo,
indiferente ao destino dos homens. O que está em questão nesses contos/ensaios
é o tempo irreversível e sucessivo, percebido e sentido como “miséria intolerável”,
“intolerável opressão”. Imprópria para pensar o “eterno”, a linguagem - de
“índole sucessiva” - só nos devolveria uma representação ilusória do tempo e da
eternidade. Não dispondo, contudo, de outro recurso que a linguagem precária
de que é feito, o escritor não tem outra saída senão “relatar” uma “experiência
pessoal” que, nesse passo, identifica-se com a sua “teoria da eternidade”,
esvaziada de sentido humano. O mencionado relato descreve sensações de um
tempo passado, talvez na infância, despertado no presente, “por acaso”. Mas essa
lembrança antes acentua a sua sensação de morte, de um tempo para sempre
perdido. Para Borges, o que nos resta é o “destino”, “férreo e irreversível” do
tempo que passa. Quanto à eternidade, tratar-se-ia apenas de mais uma outra
palavra, de “sentido reticente ou ausente”. Explorando as contradições que o
próprio escritor admite no Prólogo à “Nova refutação do tempo” (como dizer que
o tempo não existe se estamos falando dele?), proponho discutir a pertinência
desses “jogos verbais” (assim denomina um dos contos o próprio autor) para os
problemas relacionados à narrativa contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE: Jorge Luis Borges; memória; narrativa.
Joana Matos Frias
TITULO: APESAR DAS RUÍNAS, TANTO TEMPO NENHUM: JOAQUIM
MANUEL MAGALHÃES, LUÍS QUINTAIS E RUI PIRES CABRAL
RESUMO: Procurando problematizar os princípios evidenciados no tema do
simpósio no que respeita à constituição de uma estética decadentista finissecular
em língua portuguesa na passagem do século XIX para o século XX, este trabalho
pretende apresentar uma reflexão sistematizante sobre algumas questões
decisivas da poesia portuguesa das últimas décadas do século XX, a partir da
abordagem articulada das obras poéticas de três autores (Joaquim Manuel
Magalhães, Luís Quintais e Rui Pires Cabral) que produziram livros e estudos
críticos determinantes no período que marca a transição entre os séculos XX e
XXI. Neste sentido, e a partir da leitura crítica concentrada fundamentalmente
em produções dos anos 80-90, o estudo visará uma perspectivação integrada de
certas especificidades discursivas, temáticas e poetológicas das obras, com vista
a uma ponderação mais alargada que coloque em destaque os traços próprios de
uma certa linhagem da poesia portuguesa do final do século XX, de
consequências notórias na constituição da poesia portuguesa do início do século
XXI. Crise e crítica, história e decadência, o lugar e a morada, música e
melancolia, restos e ruínas: eis alguns dos motivos que atravessam e estruturam
os versos destas três obras, e que se revelarão cruciais para a análise da função
que elas desempenham no panorama da literatura portuguesa do final do século
XX.
PALAVRAS-CHAVE: poesia; ruína; lugar.
Joana Souto Guimarães Araújo
TITULO: A FIGURA DO “MURO” NA POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS E A
ESCRITA RENOVADA DA TRADIÇÃO
RESUMO: Em uma época marcada pela atitude radical de revisão e renovação da
literatura, como foi a da geração de Orpheu, a poesia de Fernando Pessoa
desdobra-se criticamente, explicita e automiza suas dimensões a fim de analisálas. No macroplano da obra, o jogo heteronímico expõe uma infinidade de estados
psíquicos em interação, compondo as multifacetas de uma personalidade autoral
aberta e em construção. Na condição de texto que são, os heterônimos pretendem
ainda discutir, através de uma “poligamia literária” (COSTA, 2008, p. 786),
diversas vertentes e movimentos assimilados de maneira contraditória à sua
obra, seja nas tonalidades futuristas, cubistas ou vorticistas, seja no classicismo
modernizante, ou nas discussões em torno do saudosismo e do decadentismo.
Através da justaposição irônica dessas vertentes, Pessoa soube construir uma
reputação assente em uma sólida personalidade literária definida pelo jogo
ordenado de sua obra, formulados, não raro, por meio de contradições plantadas
a fim de encenar os caminhos paradoxais e os impasses enfrentados pela poesia
portuguesa no início do século XX. Na poesia de Álvaro de Campos, a qual
pretendemos analisar, certas figuras espaciais e urbanas, como a do “muro”, por
exemplo, dramatizam tal postura dialogante, instaurando uma série de
dificuldades frente às noções de “tradição” e “ruptura” ? universalizadas como
critério de valoração e periodização literárias a partir do século XIX.
PALAVRAS-CHAVE: Álvaro de Campos; tradição; ruptura.
Joanna da Silva
TITULO: RELAÇÕES DE GÊNERO NOS ROMANCES "RELATO DE UM CERTO
ORIENTE" E "DOIS IRMÃO", DE MILTON HATOUM
RESUMO: A literatura enquanto mecanismo de representação sociocultural
constitui-se como importante ferramenta no processo de discussão e
problematização dos mais diversos conceitos de poder e hegemonia. Desta forma,
a presente pesquisa busca investigar, através das complexas relações entre
homens e mulheres, interseccionadas a questões de classe e etnia, como se
constroem as relações de poder no seio familiar relacionadas à representação de
gênero nos romances “Relato de um certo Oriente” (1989), e “Dois Irmãos”
(2000), do prestigiado escritor amazonense Milton Hatoum. A abordagem
privilegia a categoria de análise “gênero” nas diversas temáticas atreladas a esta
questão, sem abrir mão de conceitos e categorias como patriarcado, póspatriarcado, classe social e etnia. Para tanto, os referenciais teóricos são buscados
na teoria crítica feminista, particularmente em autoras como Simone de Beauvoir
(1980), Joan Scott (1995), Linda Nicholson (2000), Marta Lamas (1995), Audre
Lorde (1997), Eleieth B. Saffioti (2005), Adriana Piscitelli (2005), entre outros.
Aponta-se no contexto das relações de gênero no romance hatouniano a
emergência de um novo regime, que Juliet F. MacCannell (1991) denomina “póspatriarcal”, centrado na figura do “irmão”, em que os arranjos de poder na
constelação familiar redefinirão os papéis sexuais, gerando complexas formas de
exclusão da mulher.
PALAVRAS-CHAVE: Gênero; exclusão feminina; romance hatouniano.
Joao Carlos Felix de Lima
TITULO: CONTOS QUE SE CANTAM. A VIOLENTA VOZ DAS RUAS CALADAS,
UMA LEITURA DE CONTOS NEGREIROS, DE MARCELINO FREIRE
RESUMO: O racismo de cada um, mediado pela expressão amenizada pela voz de
branqueamento, lido em formas furtivas de socialização, é o que se quer mostrar
na apresentação. "Contos negreiros", livro capital na obra já extensa de Marcelino
freire, dá voz à experiência nada abstrata das ruas e da intimidade pública. Nesses
contos, desvela-se, com todo vigor e ironia, a violência secreta, calada e etérea,
lida e sentida nos espaços de convivência brasileiros.
PALAVRAS-CHAVE:
brasileiro.
Marcelino
Freire;
Literatura
Contempor;
Racismo
Joao-Manuel Neves
TITULO: NO PAÍS DOS OUTROS: A POESIA DE RUI KNOPFLI NAS
FRONTEIRAS DO TEMPO COLONIAL
RESUMO: Até ao início dos anos 1940 o campo literário de Moçambique
apresenta três espaços textuais distintos: a literatura colonial; a atividade literária
dos círculos crioulos; e a produção dos círculos relacionados com correntes
literárias metropolitanas. Desde o final da Segunda Guerra, indiretamente
filiadas nestes dois últimos espaços, surgem por um lado uma escrita em rutura
com a colonialidade (Noémia, Amaral, Craveirinha), e por outro lado uma poesia
elaborada em simultâneo no interior e nas fronteiras do tempo colonial onde se
destaca sobretudo Rui Knopfli. Segundo as suas próprias palavras, Knopfli situase no negativo desse mundo mas nunca conseguirá romper com um modelo
estético de modernidade ocidental. Nesta comunicação propomos um percurso
através de um corpus integrando cerca de 50 poemas. Desde a recolha inicial
intitulada de forma explícita “No país dos outros”, a obra knopfliana evolui no
interior de um espaço dilacerado, num tempo crepuscular, sob o signo de uma
saudade tornada impossível, afirmando a permanência da escrita através da
invenção de uma temporalidade mítica. Esta abordagem da obra de Knopfli
revela uma poética complexa, inscrita nas margens do terceiro império
português.
PALAVRAS-CHAVE: Moçambique; tempo colonial; tempo colonial.
Joatan David Ferreira de Medeiros
TITULO: TRAÇOS DE HISPANIDADE EM TEXTOS DE LUÍS DA CÂMARA
CASCUDO
RESUMO: Num esforço de regionalização e universalização da cultura, a obra de
Luís da Câmara Cascudo, construída a partir de uma grande rede de
especializações, nos conduz pelos horizontes mais diversos. Este trabalho propõe
uma reflexão sobre os encontros e diálogos do escritor potiguar com o mundo
hispânico. Parte, assim, de acontecimentos da sua vida, bem como de registros
em livros, periódicos e cartas que refletem sua aproximação com as tradições, as
letras, os povos e com a atividade intelectual das nações de língua espanhola, mais
especificamente as do continente americano. Verificou-se que no seu exercício de
leitura, crítica literária, traduções, correspondências e ensaios Câmara Cascudo
discutiu e divulgou temas do orbe hispânico, ao passo que projetou o dado local
numa perspectiva transnacional. Desse modo, este estudo dialoga com as
reflexões de Candido (1989, 1993, 2006), Rama (2001) e Pizarro (2004) sobre a
realidade da produção literária e cultural do continente latino-americano. Um
primeiro contato com os textos do autor potiguar nos permitiu identificar uma
dinâmica de sociabilização e integração entre ele e os artistas e intelectuais
nacionais e estrangeiros.
PALAVRAS-CHAVE: Câmara Cascudo; Hispanidade; América Latina.
Joel Cardoso
Wagner de Lima Alonso
TITULO: ADAPTAÇÕES DE "DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA"
RESUMO: É difícil precisar quando o ato de adaptar textos pré-existentes foi
introduzido efetivamente nas produções artísticas. O certo é que as migrações de
uma linguagem para outra, de um suporte para outro já vêm de longa data. No
contexto atual, este recurso é quase um hábito, a tal ponto que, agora, torna-se
difícil precisar quando um texto não está conectado de algum modo a outros
muitos textos. Nesse artigo, ocupamo-nos de quatro autores – Alberto Moravia e
Plínio Marcos da literatura, e Braz Chediak e José Joffily do cinema. Tais autores
nos interessam, sobretudo, pelas as relações intersemióticas que se estabelecem
nos processos adaptativos que partem de um conto de Moravia, "O terror de
Roma", mas ganham, a nosso ver, especial importância em Plínio Marcos com a
peça "Dois perdidos numa noite suja". Tomando como base as teorias que tratam
das traduções intersemióticas, preconizadas, entre outros, por Julio Plaza, Isaias
Latuf Mucci, indubitavelmente as adaptações, aqui consideradas como processos
geradores de novas obras, independentes em sua nova unidade, mas relacionadas
em sua intertextualidade, não comportam mais comparações hierarquizantes no
âmbito de valores, mas, se contrapostas, podem, no âmbito da recepção,
indubitavelmente propiciar uma leitura conjunta enriquecedora.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro e Cinema; Plínio Marcos; Dois perdidos.
John Milton
TITULO: AS TRADUÇÕES DE MONTEIRO LOBATO FORA DO BRASIL
RESUMO: Este trabalho continua minha investigação sobre a tradução na obra
de Monteiro Lobato. A primeira parte da pesquisa examinou as adaptações de
Lobato de Peter Pan, Don Quijote e as Fábulas de La Fontaine em português, em
que as histórias são recontadas por Dona Benta, dando Lobato a oportunidade de
inserir sua própria ideologia e opiniões, particularmente seu desgosto pela a
ditadura de Getúlio Vargas (1930-1945) (The Resistant Translations of Monteiro
Lobato. In: Maria Tymoczko, (ed) Translation, Resistance, Activism (Amherst:
Univ Massachusetts Press, 2010). Este artigo analisa a tradução das obras de
Lobato para outras línguas, especialmente as traduções em espanhol de suas
obras infantil, publicadas a partir de 1919 em Buenos Aires. E, de 1945 a 1946
Lobato passou um ano em Buenos Aires, durante o qual todas as suas obras para
crianças foram (re)impressas. E em 2010 as obras infantis de Lobato foram
reimpressas, com Prefácio da Presidente de Argentina, Cristina Kirchner, que,
como criança, era fã de Lobato. O artigo também analisou a escassez de traduções
de obras de Lobato para outros idiomas, especialmente inglês, para o qual apenas
um pequeno número de seus contos foram traduzidos e publicados nos Estados
Unidos. A razão inicial parece ser a rejeição de sua tentativa de publicar em inglês
nos Estados Unidos O Presidente Negro ou O Choque das Raças (1926), que foi
considerado racista e controverso.
PALAVRAS-CHAVE: Lobato inglês; Lobato espanhol; Tradução infantil.
Jonas Jefferson de Souza Leite
TITULO: A CONTROVERSA RECEPÇÃO LITERÁRIA DA OBRA DE FLORBELA
ESPANCA: A MISTIFICAÇÃO DE UMA ESCRITORA
RESUMO: As primeiras apropriações da obra de Florbela se deram como intuito
de justificar, em sua escrita, aquilo que a sociedade e a crítica já haviam pontuado
sobre a imagem pública dessa autora: era ela uma mulher que contrariava a
ordem tradicionalista daquele período em seu país, sendo, para o Salazarismo, o
“antimodelo do feminino, da concepção da mulher” (DAL FARRA, 2012, p. 20).
Dessa maneira, a vida da escritora propiciou, ou melhor, deu condições para que
sobre ela pairassem movimentos favoráveis e contrários à sua obra literária e,
principalmente, à sua pessoa. “Justificavam-se”, assim, os “delitos” que tinha
cometido e/ou “alimentava-se” um imaginário de que a poetisa era uma mulher
mais adiantada que sua época, conforme a ideologia feminista e, ainda, que ela só
seria tomada como “exemplo” a não ser seguido, bem ao gosto dos preceitos
vigentes àquela altura. Assim, segundo Klobucka (1992, p.51), Florbela é um dos
poucos casos da história da literatura portuguesa de mistificação de uma
personalidade literária e o único a acontecer com uma mulher. Com finco nisso,
o presente trabalho pretende discutir como, em um primeiro momento, a obra de
Florbela teve grande impacto negativo sobre a cena literária, justamente pela sua
condição de mulher-escritora – posição inadequada naquele contexto – e,
posteriormente, as recepções que se seguiram sem o ranço do extremo
tradicionalismo que norteou, no início do século XX, os estudos em torno da obra
da poetisa. Também se enfatizará as motivações históricas, biográficas e
contextuais que desencadearam o processo de mistificação da escritora e as
marcas decorrentes disso para a constituição do que Florbela Espanca representa
hoje para um cenário mais amplo da literatura portuguesa.
PALAVRAS-CHAVE: Recepção Literária; Florbela Espanca; Mistificação.
Jorge Alves Santana
TITULO: REPRESENTAÇÕES DA VELHICE E ESTRATÉGIAS DE CUIDADOS
PESSOAIS NA POESIA DE ADÉLIA PRADO
RESUMO: A poetisa mineira Adélia Prado trata de vários temas do cotidiano em
sua obra. Destacamos, aqui, algumas representações do envelhecimento e da
velhice nos aspetos pertinentes ao seu conhecimento, ao seu manuseio em nossa
sociedade, bem como as estratégias de cuidados que podem ser criadas e usadas
quanto a essa fase existencial. Poemas como Resumo, Páscoa, A despropósito e
Dona Doida, presentes em sua Poesia Reunida (1991), trazem-nos contextos e
personagens inseridos no envelhecimento ou já na velhice instalada. Tais
circunstâncias, tratadas de modo poético, giram em torno da velhice vista como
condição da qual não podemos fugir e com a qual temos de nos conciliar, apesar
dos notórios ônus sócio-políticos que ela nos cobra. Predomina, nessas
construções líricas, a reflexão sobre possíveis estratégias de cuidados que
preservam o bem-estar da pessoa idosa frente aos tabus e desafios que essa fase
acarreta. Assim, mais do que temer e sofrer com a chegada da velhice, a poetisa
aponta para possibilidades de fortalecermos valores nos quais o respeito à
diferença, a memória intergeracional, o conhecimento das capacidades do corpo
envelhecido, o auxílio interpessoal que essa fase exige, possam fomentar ações e
circunstâncias criadoras da velhice natural e digna. Para tais reflexões sobre a
representação da velhice nos poemas citados, usamos, ao lado dos Estudos
Literários, as reflexões dos Estudos Culturais de Félix Guattari (2009), no que diz
respeito à rede ontológica que une os seres em sua equilibração de ecologia social,
individual e ambiental; as de Leonardo Boof (1999), na questão do cuidado como
ética do ser humano; e as de Pierre Bordieu (2003), no que diz respeito ao campo
artístico, aqui no caso da literatura, que também pode atuar na desconstrução de
hábitos de exclusão e nas ações de intervenção em nossas realidades pragmáticas.
PALAVRAS-CHAVE: Adélia Prado; Velhice; Cuidados.
Jorge Luis Verly Barbosa
TITULO: OS ANOS 1970 EM CANÇÕES DE UM “VELHO BANDIDO”: SÉRGIO
SAMPAIO E SEU OBLÍQUO TESTEMUNHO SOBRE UM “FILME DE TERROR”
CHAMADO BRASIL
RESUMO: Nos anos 1970, momento mais cruel e sanguinário da ditadura militar
no Brasil, o compositor capixaba Sérgio Sampaio fez de certas canções um
engenhoso (e oblíquo) testemunho acerca das angústias, agruras e, por que não
dizer, esperanças que permearam o debate da cultura brasileira naqueles idos. Na
contramão tanto da canção engajada e assumidamente crítica do regime, como
das fórmulas de cooptação maquinadas pela indústria cultural, Sampaio realiza
aquilo que Jaime Ginzburg, em Crítica em tempos de violência, discute como
sendo trabalho de linguagem a partir do trauma, não pela via do engagement,
mas pela construção de uma obra de arte eivada pelo que Theodor Adorno, em
Teoria estética, define como conteúdo de verdade. Assim, pretendemos
apresentar um pequeno panorama da obra sampaiana à luz de propostas tanto da
Teoria Crítica (Aufklärung, arte autêntica e estética contra a barbárie) como de
propostas teóricas afins ao testemunho na produção artística. Algumas canções –
como “Filme de terror” e “Labirintos negros”, ambas do disco Eu quero botar é
botar meu bloco na rua, de 1973 – serão analisadas mais detidamente,
considerando o contexto histórico e o conceito de testemunho.
PALAVRAS-CHAVE: Testemunho; Ditadura militar; Arte e Verdade.
Jorge Paulo de Oliveira Neres
TITULO: ENTRE ROMANCE POLÍTICO, ROMANCE PSICOLÓGICO E
METAFICÇÃO HISTÓRICA: UMA LEITURA DE AMORES EXILADOS, DE
GODOFREDO DE OLIVEIRA NETO TA
RESUMO: A presente proposta de Comunicação propõe-se analisar o romance
Amores exilados, de Godofredo de Oliveira Neto, buscando caracterizar a
modalidade de gênero em que se insere a narrativa. Em primeiro lugar, aventase sua classificação no subgênero romance político, uma vez que, conforme
HOWE (1998, p.5) [...] Por romance político entendo um romance no qual ideias
políticas tem papel dominante, ou no qual o milieu político é o cenário dominante
– embora seja novamente necessária uma qualificação, pois a palavra
“dominante” é mais do que questionável [...]. Em Amores exilados, narrativa que
trata da militância e angústia de dois exilados políticos brasileiros – Fábio e
Lázaro -, em Paris, de maneira geral tem como leitmotiv a oposição ao regime
ditatorial implantado no Brasil , em 1964, acrescido pela participação de ambas
as personagens na luta armada, sendo predominantemente político. Por outro
lado, a construção narrativa de Godofredo é profundamente assinalada pela
ficcionalidade, patenteada no caráter da aventura verbal inventiva, na qual o
elemento histórico torna-se engrenagem da construção ficcional, muitas vezes
determinando perfis e comportamentos das personagens. Em outras palavras, a
ficção e a realidade histórica empírica, enquanto linguagens distintas tornam-se
permeáveis. Daí sua marca de metaficção histórica. A densidade e as tensões da
narrativa espelham a dramaticidade das personagens, marcadas pelas incertezas,
angústias e paixões que, ao final, conferem intensas marcas psicológicas ao
romance.
PALAVRAS-CHAVE: Ficção; Política; História.
José Batista de Sales
TITULO: O FAZEDOR DE VELHO - ENTRE A FORMAÇÃO E A IRONIA
JUVENIL
RESUMO: A literatura para jovens sempre forçada por varias correntes críticas
em busca de uma (im)possível catalogação sem crise, continua ainda a enriquecer
o espectro editorial brasileiro com obras que podem ter o condão de realimentar
a discussão do próprio "genero". Portanto, a partir da concepção de romance de
formação, pretende-se discutir as relações em tensão entre a tradição do
Romance de formação, com suas componentes escolar, moralista e cristão - sem
deixar de lado a contribuição de ordem burguesa, e os elementos modernos e
questionadores de um conjunto de valores presentes na concepção de gosto, de
valores e de visão de mundo na contemporaneidade.
PALAVRAS-CHAVE: Romance De Formação; Crítica; Leitor.
JOSÉ CARLOS FELIX
TITULO: L`ART C`EST MOI: O APAGAMENTO DAS FRONTEIRAS ENTRE O
CINEMA, A ÓPERA E O TEATRO EM M. BUTTERFLY DE DAVID
CRONENBERG
RESUMO: A apropriação de elementos estilísticos de um meio artístico por outro
foi sempre compreendida pela crítica como uma característica intrínseca ao
próprio processo de criação artística. Desde sua invenção, o cinema desenvolveu
uma imbricada relação com várias artes, incorporando inovações estilísticas
advindas de diversas expressões artísticas como a literatura, a música e o teatro.
Partindo da premissa de que, nesse processo dialógico, o cinema não apenas
modifica sua linguagem, mas também redimensiona e produz uma multiplicidade
de sentidos nas outras artes, o presente trabalho propõe uma discussão das
relações entre o cinema, o teatro e a ópera a partir do filme M. Butterfly [1993],
do cineasta canadense David Cronenberg, baseada na peça homônima do
dramaturgo David Hwang [1988], e livremente inspirada na ópera de Puccini
[1904], a fim de verificar de que maneira os princípios estéticos e os protocolos
envolvidos no processo de adaptação cinematográfica absorvem inovações tanto
estéticas quanto temáticas encontradas na matéria artística a partir da qual tal
filme se constrói. Duas formas de apropriação características da arte pósmoderna serão o foco metodológico de exame: a apropriação de componentes
estruturais (narrativa/personagens/música), enquanto procedimento de diluição
de uma estrutura total; a apropriação de detalhes (mise en
scène/ambientação/fotografia) que, ao interagirem na estrutura do filme, criam
uma tensão dialética, ao mesmo tempo em que são subsumidos pelo conjunto das
convenções do idioma cinematográfico. Por fim, o trabalho valer-se-á de reflexões
acerca de como, em M. Butterfly, Cronenberg retorna a um tema recorrente em
sua filmografia: a potencialidade do cinema como veículo de criação artística. No
caso de M. Butterfly, a arte evocada pelo cinema é muito mais o teatro do que a
literatura, capaz de, por meio de elementos como a performance e música, se
converterem em mecanismos criativos dotados de uma força imaginativa capaz
de diluir profundamente as dimensões mais recônditas da subjetividade humana.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema; Ópera; Teatro.
José Dino Costa Cavalcante
TITULO: O TEXTO DRAMÁTICO E A SALA DE AULA
RESUMO: Machado de Assis, em Literatura Brasileira: Instituto de
nacionalidade, escrito em 1873, afirmou: “Esta parte pode reduzir-se a uma linha
de reticência. Não há atualmente teatro brasileiro, nenhuma peça nacional se
escreve, raríssima peça nacional se representa. As cenas teatrais deste país
viveram sempre de traduções, o que não quer dizer que não admitissem alguma
obra nacional quando aparecia.” (ASSIS, 1994). O que o autor de Lição de
botânica disse no século XIX sobre as condições do teatro nacional, poderia ser
aplicado, certamente, em 2015, ao uso do texto dramático na sala, isto é, à leitura
do gênero nas aulas de literatura no Ensino Médio. Basta observar os principais
livros didáticos adotados nas escolas brasileiras para se constatar a veracidade
dessa afirmação. São poucos os autores que são objetos de análise, entre eles Gil
Vicente, em Portugal, em Martins Pena, no Brasil. O presente trabalho pretende
investigar a relação entre o ensino de Literatura e o texto dramático em três dos
principais livros adotados nas escolas maranhenses de Ensino Médio. Serão
investigados os autores, os textos, os excertos, a metodologia apresentada pelo
autor (do livro didático), os elementos da obra dramática destacados, entre outros
aspectos. Para compreender as nuances do texto dramático, serão analisados os
autores, Décio de Almeida Prado, André Gomes, Sábato Magaldi, entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Teatro; Sala de Aula.
José Francisco da Silva Queiroz
TITULO: LEITURA, CITAÇÃO E APROPRIAÇÃO EM “PARA TER ONDE IR
(1992)”
RESUMO: Diversas são as referências imagéticas e filosóficas encontradas em
Para ter onde ir (1992), um dos últimos livros de Max Martins. A leitura de suas
obras produzidas na década de 1980 reforça a percepção de um longo trabalho de
pesquisa empreendido na busca de decifrar a cultura do Oriente por meio da
poesia. A publicação de Para ter onde ir demarca a culminância de um período
muito importante para a poesia de Max Martins, nessa década o poeta publicou
quatro livros e, entre 1986 e 1989, escreveu os versos que dariam corpo ao seu
livro menos conhecido. Esta obra nasceu do ato da leitura que se apropriou dos
ensinamentos depreendidos a partir da consulta ao oráculo chinês, o I Ching. O
processo de composição empregado retomou o simbolismo expresso pelos
hexagramas reutilizando suas metáforas para criar grande parte dos poemas.
Nossa proposta de análise busca compreender os efeitos estéticos das imagens
“recortadas”, dos ensinamentos “assimilados” e das “citações” feitas pelo poeta
de sua própria obra reconstruída à luz de um jogo profético.
PALAVRAS-CHAVE: poesia; citação; leitura.
José Guilherme dos Santos Fernandes
TITULO: ETNOTRADUÇÃO
RESUMO: O antropólogo Clifford Geertz (1989) afirma que a etnografia
pressupõe uma descrição densa no sentido de estabelecer uma hierarquia
estratificada de estruturas significantes. Por isso, o etnógrafo é um intérprete de
sistemas simbólicos (culturas) e os textos antropológicos são interpretações, que
o autor designa como “ficções” – “algo construído”, “algo modelado”. Partindo-se
dessa premissa, intento compreender o texto etnográfico – aqui visto, em sentido
amplo, como qualquer produção escrita em que são representados fatos e
modelos sociais, sejam textos literários ou não literários – como uma tradução
comentada, em que existe a transplantação de um “texto nativo”, entendido como
valores e práticas culturais, em outra cultura “estrangeira”. Mesmo com a
pretensa funcionalidade e subordinação do texto de destino ao texto de origem, o
que se quer problematizar, nessa relação etnográfica, é a descontinuidade
impetrada pelo tradutor-etnógrafo, dadas as contingências espaço-temporais e
socioculturais que orientam sua interpretação-ficção. Tornam-se, muitas vezes,
mais autores do que escritores/escribas, por serem fundadores de discursividade,
de novas possibilidades e regras de formação de textos (GEERTZ, 2005) como
“primeiros tradutores”, implicando sua tarefa em demonstrar, explicar e instruir,
apanágios estes de uma autêntica tradução-comentada “intercultural”. Essas
reflexões serão retratadas em duas obras consideradas, aqui, como etnografias: o
romance Marajó (1947), do literato paraense Dalcídio Jurandir, e o relato de
viagem Nuevo decubrimiento del gran río de las Amazonas (1639), do religioso
espanhol Cristóbal de Acuña, situados no espaço-tempo da Amazônia. Em ambos
os textos, é possível observar tanto traduções em primeira mão quanto
retraduções, em exercício de redução, ampliação e adaptação entre textos e
realidades. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC,
1989. GEERTZ, Clifford. Obras e vidas: o antropólogo como autor. Rio de
Janeiro: Ed.UFRJ, 2005.
PALAVRAS-CHAVE: Etnografia; Tradução; Interculturalidade.
José Horácio de Almeida Nascimento Costa
TITULO: ENSAIO DE AUTO-INTERPRETAÇÃO: O LIVRO DOS FRACTA (1990)
E QUADRAGÉSIMO (1994)
RESUMO: Dando continuidade à elaboração de ensaios auto-interpretativos, que
tratam de situar a escritura seqüencial de meus livros de poesia desde a
publicação de 28 poemas 6 contos (1981), a partir da análise, nela, de temas e
modi escriturais afetos à situação da homossexualidade enquanto identidade
subjetiva e vetor composicional-poético, no presente texto analiso os dois livros
em epígrafe, publicados primeiramente em espanhol e a posteriori em português,
como um intento de suprir a ausência do vetor homoerótico na crítica à minha
obra poética até o momento. Nesse sentido, retomarei as “Notas de releitura: The
Very Short Stories”, apresentadas no VII congresso internacional da Associação
Brasileira de Estudos da Homocultura-ABEH (2014) e a “Auto-análise sobre
diferença, diversidade e cânone literário”, escritas em função da reunião do GT
“Homocultura e Linguagens” (ANPOLL, 2012).
PALAVRAS-CHAVE: poesia brasileira; homoerotismo; cânone literário.
José Maurício Saldanha Alvarez
TITULO: MEMÓRIA, HISTÓRIA E NARRATIVA NA [RE] CONSTRUCÃO DO
HUMANO PÓS-APOCALITICO: O LIVRO DE ELI
RESUMO: Esta comunicacão analisa a [re] construção do humano num espaco
sem tempo, espaco ou memória, que sucedeu a pós-modernidade na película o
Livro de Eli (Sony, 2010). Ambientada num mundo pós-apocalíptico e destruído
por uma guerra nuclear foi dirigida pelos irmãos Albert e Allen Hugues. A
revolução anárquica projetada no filme faz surgir uma sociedade que Giddens
denominou de alto risco onde a mediação é sucedida pela violência do grupo
contra o indivíduo que é sozinho e vulnerável. A produção humana é quase zero
porque a modernização cessante esgotou suas possiblidades destruindo,
conforme U Beck, as bases da sociedade industrial. O herói da película, Eli,
interpretado por Denzel Washington, detentor de memória social, conforme
Maurice Halbwachs, emprega práticas astuciosas de sobrevivência no ambiente
hostil elaborando uma habitabilidade possível e [re] construindo sua
humanidade. Atendendo a um chamado interno, Eli conduz a ultima copia da
Bíblia, versão rei James, para o Oeste. Sua diegese operada num ambiente de alto
risco resultou no que Giddens denominou de o retorno do recalcado. Entra em
confronto com Carnegie, um vilão astucioso, cuja ambição é dispor da Bíblia
como instrumento do poder pessoal. Na película, os jovens não possuem nem
memória ou história vivendo presentificados e [des] humanizados. Como para
Ortega y Gasset o homem não tem natureza e sim história, o apocalipse nuclear
ambiental que a tudo interrompeu, não permitiu se processar o que Paul Ricoeur
denominou de “sequência geracional” e que assegura uma transição entre os
diversos tempos da história, da memória e assegura a [re] construção do humano.
PALAVRAS-CHAVE: Memória; História; Território.
José Roberto de Andrade
TITULO: GULA E LITERATURA: DIÁLOGO GASTRONÔMICO COM A OBRA
DE EÇA DE QUEIRÓS
RESUMO: O escritor Eça de Queirós (1845-1900) não se destacou pelas
habilidades culinárias, mas marcou a cozinha portuguesa. Sua obra literária e
jornalística revela que Eça escolheu representar, também pela perspectiva do
estômago, a sociedade portuguesa de sua época, aproximando escritor do
cozinheiro. Neste artigo, comentam-se textos jornalísticos do escritor português
e faz-se a leitura de um jantar de O Primo Basílio para destacar a possibilidade de
diálogos entre a obra do escritor e a gastronomia e a importância deste tema como
chave interpretativa dos textos ecianos.
PALAVRAS-CHAVE: Eça de Queirós; Gastronomia; Literatura.
Jose Rosa dos Santos Junior
TITULO: MEMÓRIA AUTORAL: MODULAÇÕES BIOGRÁFICAS EM MANOEL
DE BARROS
RESUMO: Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu no Beco da Marinha, beira
do Rio Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, em 19 de dezembro de 1916 e “virou
árvore” no dia 13 de novembro de 2014, aos 97 anos, em Campo Grande, capital
sul-mato-grossense. Publicou seu primeiro livro, Poemas concebidos sem
pecado, em 1937, mas o reconhecimento do público só aconteceu 43 anos mais
tarde, nos anos 80. Assim como Guimarães Rosa, Manoel arquitetou uma dicção
inovadora, plena de neologismos e, ao mesmo tempo, apresentando a língua
portuguesa em suas ascendências mais profundas e primitivas. É do lócus
existencial, o Pantanal vivido, sentido e experimentado e o Pantanal
poeticamente representado, que Manoel de Barros herdou um gosto pelas águas
e pelas coisas do chão. Para ele, a puerícia habitada no Pantanal lhe permitiu um
lastro que só pode ser matéria de poesia se embaralhado com certo anseio de
mexer com os vocábulos que adquiriu no colégio. As vivências, no pantanal do
Mato Grosso, do cidadão Manoel consubstanciam e matizam, de maneira
incisiva, a obra literária do poeta. Tais informações nos permitem afirmar que a
obra poética de Manoel de Barros possui um caráter autobiográfico que o
singulariza exatamente por se manifestar por meio de suas “memórias
inventadas”. Tais memórias, parcialmente inventadas como toda e qualquer
memória, dão o tom e a cor à produção poética do autor. Dessa forma,
objetivamos refletir, por meio do corpus poético, o quanto a memória e as
reminiscências ocupam um lugar no processo escritural de Manoel de Barros.
Reminiscências, que se convertem em modulações autorais, de uma infância
vivida no Pantanal, mas ressignificada pelos ditames da imaginação criativa.
PALAVRAS-CHAVE: Memória; Autoria; Manoel de Barros.
Julia Scamparini
TITULO: O NARRADOR AUTOFICCIONAL
RESUMO: No conhecido e cultuado ensaio "O narrador", ao examinar a obra de
Nikolai Leskov, Walter Benjamin lança observações sobre uma arte de narrar
clássica que em seu tempo já se mostrava praticamente extinta. A pobreza das
experiências, matéria principal da narrativa, transmissíveis a futuras gerações
pela sabedoria nelas contidas, já era constatável antes mesmo da 2a guerra. Além
deste grande trauma, novas práticas sociais, como a do trabalho fragmentado em
etapas após a consolidação da indústria, e a da imprensa e as leituras de massa,
como a informação, fizeram emergir um tipo de narrador que se reconhecia em
uma nova forma, o romance. Mais complexo e paradoxal, o romance era quase
que necessário para que as pessoas pudessem encontrar, num novo mundo,
entendimentos sobre a a vida. Benjamin associa um novo sujeito, moderno, a um
novo narrador, também moderno, integrando vida e arte através do romance, de
um modo distinto de como se fazia pela autêntica arte de narrar, que descreve de
forma elogiosa. Em “O narrador pós-moderno”, Silviano Santiago estuda alguns
contos de Edilberto Coutinho, nos quais identifica um narrador atento à
experiência não própria, mas daquele que observa. Esse narrador age, portanto,
como espectador mais do que como quem experimentou uma vivência, dando
“palavra ao olhar lançado ao outro para que se possa narrar o que a palavra não
diz” (Santiago, 1989: 41). Analogamente ao que faz Benjamin, Santiago não se
limita a uma discussão sobre o autor que estuda ou sobre o narrador enquanto
instância literária, mas efetua uma análise sobre a própria arte de narrar no fim
do século XX, quando não mais se pode pensar um sujeito que não seja
constituído principalmente por imagens. Nesta virada de século, assistimos à
consolidação da narrativa autoficcional tanto na literatura como no cinema.
Como autoficção se entende a narrativa que conta com a presença do autor na
mídia, através da doação do nome do autor ao protagonista de um romance, ou
da mostração da figura do diretor cinematográfico em um documentário
subjetivo. Ricardo Lísias é um autor que escreve autoficções, fomenta a discussão
sobre este gênero narrativo e participa da crítica à forma que ele mesmo pratica
– se entendida nos termos indicados acima. A proposta desta comunicação é
comentar os romances O céu dos suicidas (2012) e Divórcio (2013), de Lísias, à
luz dos ensaios de Benjamin e Santiago, numa tentativa de investigar um tipo
atual de narrador, que chamamos autoficcional. As análises indicam a virada
afetiva como essencial a este retorno do sujeito, que é inédito porque
problematiza concepções como as de ficção e realidade, de documento e objeto
estético, de escrita de si e biografia, entre outras, conferindo-lhes novos
contornos, desenhados pela possibilidade de entrada do sujeito nas mídias e
direcionados a um pensamento original sobre as artes narrativas.
PALAVRAS-CHAVE: autoficção; narrador; subjetividade.
Juliana Caetano da Cunha
TITULO: A NARRATIVA MODERNA E A NÃO LINEARIDADE: A LITERATURA
NA PERSPECTIVA DAS TESES SOBRE O CONCEITO DE HISTÓRIA DE
WALTER BENJAMIN
RESUMO: Barthes contrapõe a escrita de prazer à escritura de gozo, ou seja, o
conforto ao intenso “perder-se” orgástico; a isto, relacionamos o que na sociedade
é a conformidade, de um lado, e a revolução, de outro. Observamos que essa
relação linguagem-sociedade é indissociável do grande processo de
questionamento, crises, rupturas, movimentos, vanguardas e, enfim,
transformações definitivas que a arte sofreu no desenvolvimento do capitalismo,
ou seja, na Modernidade. Colocar a linguagem em xeque resultou numa alteração
intransponível da forma como vemos a arte, da concepção que temos dela;
resultou, finalmente, na libertação da arte das obrigatoriedades formais e
temáticas a que vinha amarrada. Socialmente, isto se relaciona novamente com a
oposição entre dar continuidade ao curso do “progresso” ou interrompê-lo. O que
Benjamin defende é a explosão da história; e o que vemos ao final do século XX é
que a verdade única e a supremacia da lógica perderam espaço. Nas Teses sobre
o conceito de História, o autor faz a crítica do progresso, debatendo a não
linearidade do tempo histórico, a não verdade da história contada pelos
vencedores e a necessidade de interromper o rumo que a humanidade vem
tomando, que é a rota para a barbárie. Neste trabalho, relacionamos tal debate a
narrativas literárias que romperam com a linearidade e com o tempo cronológico,
que desafiaram a lógica cartesiana, como a de Joyce e a do brasileiro Paulo
Leminski, no Catatau. Explodir a história e explodir a narrativa literária se
encontram num mesmo tempo descontinuo e potencialmente revolucionário, não
de conformidade, mas de gozo.
PALAVRAS-CHAVE: Walter Benjamin; História; Narrativa.
Juliana Cristina Salvadori
TITULO: CRÍTICA E TRADUÇÃO COMO POIESIS: O PROJETO CRÍTICOLITERÁRIO-ANTROPOFÁGICO CONCRETISTA
RESUMO: Este texto propõe discutir as propostas crítico-pedagógicas postas pela
modernidade, à luz de diversos autores, ressaltando como estas acabam por
convergir para uma concepção da feitura literária, crítica e tradutória como
poeisis, isto é, como téchne/ars em que os limites entre texto literário e
crítico/texto-tradução, leitura e escrita, poeta e crítico, poeta e tradutor acabam
por se apagar, seja porque, como concebem os românticos alemães via
interpretação benjaminiana, o crítico e o tradutório se tornam textos criativos que
desdobram o potencial – estético e de significação – do texto literário per se; seja
porque, como na proposta concretista, em movimento contrário, o texto literário
– e o texto-tradução – acaba por se tornar o espaço da crítica e da teoria,
desdobramento da crítica. Nesse movimento entre textos, a poesia concreta
propõe , como parte de sua estratégia discursivo-pedagógica da crítica literária a
tradução como texto por excelência do diálogo, prática articuladora e
estruturante do projeto crítico-literário. Neste artigo, nos concentraremos nas
traduções efetuadas por Augusto de Campos da obra de E. E. Cummings, tarefa
tradutória que se inicia em 1956, passa por 4 edições – 10 poemas, 20 poem(a)s,
40 poem(a)s, Poem(a)s e tem sua última edição, Poem(a)s, em 2011, edição base
dos textos analisados.
PALAVRAS-CHAVE: Poiesis; Antropofagia; Tradução literária.
Juliana Estanislau de Ataide Mantovani
TITULO: LITERATURA E FOTOGRAFIA: AS RELAÇÕES INTERARTÍSTICAS
EM NADJA, DE ANDRÉ BRETON
RESUMO: A fotografia, longe das discussões sobre sua condição de arte, alterou
e criou novas possibilidades para a natureza artística, conforme discutem e
demonstram teóricos como Walter Benjamin, Philippe Dubois e Susan Sontag. E,
certamente, o advento da fotografia, dessa forma de representação técnica
aguardada pela sociedade industrializada do século XIX, configurou-se como
uma possibilidade de realização de um forte desejo da humanidade: a fixação
artística e técnica dos momentos da existência, a fixação do instante que passa.
De fato, os finais do século XIX e o século XX configuram-se como um tempo que
se converteu na sequência de instantes fragmentados. E, diante de uma realidade
moderna e fragmentada, a linguagem literária também se fragmentou para poder
apropriar-se e ser capaz de abarcar essa realidade. Nesse contexto, a linguagem
fotográfica tem a oferecer à linguagem literária o seu caráter de captura, de
tomada da realidade instantânea. Partindo-se de uma aproximação do
automatismo e da liberdade propostas pelo Surrealismo e a técnica da fotografia,
não é forçoso sugerir a relação entre a estética da liberdade, do inconsciente e do
automatismo e a arte fotográfica, sendo a fotografia uma possibilidade de
realização do instantâneo, do espontâneo poético sugerido pelo movimento
surrealista. Assim, este trabalho propõe discutir a relevância e a significação da
inserção da fotografia na composição literária e analisar seus significados e
implicações no movimento surrealista. Para isso, o trabalho parte de reflexões
sobre a obra surrealista Nadja, de André Breton, romance em cuja composição
inovadora consta a inserção do recurso fotográfico, mas no qual a representação
da fotografia ultrapassa o caráter de ilustração. Busca-se, portanto, analisar as
relações entre o princípio fotográfico e os propósitos surrealistas, sobretudo a
partir da leitura dessa obra literária, bem como trazer análises do papel de
relevância que fora dado pelo movimento surrealista à arte fotográfica.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Fotografia; Surrealismo.
Juliana Florentino Hampel
TITULO: A MÁQUINA E A LOUCURA EM ROMANCES DE GONÇALO M.
TAVARES
RESUMO: Esta comunicação vai abordar a correspondência existente entre dois
dos livros da Tetralogia O Reino, do escritor português Gonçalo M. Tavares, a
saber o 2º e 3º volumes: A máquina de Joseph Walser e Jerusalém, procurando
apontar de que maneira o autor trata da pós-modernidade como o momento em
que as rupturas e a ânsia por novos mundos nos quais máquina e a tecnologia
estão inseridas no cotidiano do homem podem levá-lo a estados de insanidade e
violência. Autor que situa seu texto num não-lugar, Gonçalo M. Tavares não
remete suas questões identitárias ao espaço lusitano, mas, como afirma Miguel
Real, faz parte de uma corrente de escritores contemporâneos nos quais houve
uma processo de internacionalização, imbuído de caracaterísticas como a
fragmentação, o cosmopolitismo e o timbre lúdico, afastando sua narrativa do
universo pós-colonial ou pós-ditatorial, ainda comum em escritores do período.
O uso de uma linguagem proveniente da lógica matemática promove justamente
esse tom sarcástico, irônico e que provoca o riso em sua narrativa, que, buscando
descrever eventos e sentimentos com um vocabulário técnico, mostra o absurdo
da realidade num contexto de guerra de forma absurda e assustadora.
PALAVRAS-CHAVE: máquina; loucura; pós-modernidade.
Juliana Gervason Defilippo
TITULO: TODAS IGUAIS: A REPRESENTAÇÃO DA PERSONAGEM
HOMOSSEXUAL FEMININA NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA
RESUMO: A literatura nos ensina sobre sua sociedade e a sociedade nos ensina
sobre sua literatura. A produção atual tem muito o que dizer a respeito do mundo
que vivemos, seja no campo cultural, seja no campo econômico, político ou
religioso. Estudar essa produção é uma forma de compreender a sociedade
brasileira, mas sobretudo os caminhos que essa sociedade está construindo.
Autores, leitores e editores estão, cada um à sua maneira, ditando algumas regras
na literatura que, diferente das gerações passadas, hoje não se restringe apenas à
um meio, mas circula em todos e é definida por todos. Se em nosso passado
literário tivemos momentos cuja produção supria apenas um desses grupos, hoje
percebemos que os três dialogam em uma constante permuta, ora para suprir as
demandas editoriais, ora para corresponder com as solicitações do público.
Aquém das demandas e das solicitações, está a produção literária identificada
como LGBT. A professora e pesquisadora Regina Dalcastagnè em sua obra
Literatura brasileira contemporânea: um território contestado aponta que
atualmente a porcentagem de personagens heterossexuais é imensamente
superior à de homossexuais e bissexuais: respectivamente, 81%, 3,9% e 2,4%. De
posse desses dados, pretende-se, através da análise das obras Duas Iguais (1998)
e Todos nós adorávamos caubóis (2013), discutir como é a representação da
personagem homossexual feminina a partir da perspectiva de duas autoras
contemporâneas: Cíntia Moscovich e Carol Bensimon.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura queer; Contemporaneidade; Homossexualidade.
Juliana Maia de Queiroz
TITULO: APRECIAÇÕES CRÍTICAS NA IMPRENSA PORTUGUESA DO
SÉCULO XIX: A PRESENÇA DA LITERATURA BRASILEIRA NO PERIÓDICO
O BRASIL
RESUMO: A relação entre a literatura e a imprensa permite aos pesquisadores
um novo olhar sobre a historiografia literária, uma vez que o exame do periódico
enquanto suporte de diferentes textos revelam insuspeitadas relações editoriais,
políticas e sociais que ultrapassam os dados geralmente apresentados nos
manuais de história literária. O objetivo da presente comunicação é, portanto,
analisar de que maneira a presença de apreciações críticas sobre a literatura
brasileira no periódico O Brasil, publicado em Portugal na década de setenta do
Oitocentos e distribuído tanto neste país quanto em algumas províncias
brasileiras, contribuiu, primeiro, para que a literatura brasileira passasse a ser
mais conhecida na sua antiga metrópole e, em segundo plano, para uma maior
aproximação entre esses dois países.
PALAVRAS-CHAVE: O Brasil, periódico; lit. brasileira; recepção crítica.
Juliana Pádua Silva Medeiros
Joana Marques Ribeiro
TITULO: PELA MÃO DA FANTASIA: UM OLHAR-MENINO SOBRE A
REALIDADE DURA E CRUA
RESUMO: Pelas vias de acesso dos estudos comparados, este trabalho propõe um
olhar investigativo sobre duas obras contemporâneas de literatura juvenil:
"Minha irmã mora numa prateleira", de Annabel Pitcher, publicada pela Rocco
Jovens Leitores em 2013, e "O menino do pijama listrado", de John Boyne,
lançada pela Companhia das Letras em 2007. Tal exame, por meio do eixo
temático, vislumbra desvelar interfaces entre os livros a partir do olhar-menino
dos protagonistas, visando, assim, discorrer sobre a leitura como uma experiência
humanizadora capaz de promover o exercício da reflexão, o afinamento das
emoções, a capacidade de penetrar os problemas da vida, a percepção sobre si
mesmo e o mundo. Nessa esteira, à luz de uma leitura crítica, busca-se traçar uma
rede de sentidos em torno dos exemplares literários supracitados, visto que
abordam, sob uma atmosfera de inocência e realismo, temas complexos, tais
como: morte, violência, intolerância, preconceito, bullying, amizade, medo e
coragem.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; Literatura Juvenil; Leitura.
Juliano Ricci Jacopini
TITULO: DRAMATURGIA
CORPOGRAFIA
DA
MEMÓRIA:
UM
ESTUDO
SOBRE
A
RESUMO: Este estudo traz uma reflexão sobre as possibilidades do atordramaturgo que tece uma composição cênica durante seu(s) processo(s)
criativo(s), que toma como base de possível pesquisa à Corpografia – busca de
um corpo dramático e dramatúrgico sob as práticas de treinamento nãoexpressivo de ator e os processos de composição cênica, a fim de desenvolver
práticas direcionadas à criação coletiva dramatúrgica de um corpo que cria em
cena pela decodificação de memórias e de matrizes corporais. Como objeto de
análise, têm-se os processos criativos em desenvolvimento pela Cia. Labirinto de
Teatro, grupo da cidade de Matão/SP, do qual participo como ator/ pesquisador.
Nas investigações, o objetivo é refletir sobre as possibilidades da construção de
um corpo que escreve, no ato da criação, uma dramaturgia da cena e uma cena
dramatúrgica, usando para isto referenciais externos e pessoais, no caso, a
memória, como elemento que potencializa os processos criativos e que, ao acessála, estamos lidando com um campo de propriedade, portanto, um lugar de rico
material para construção cênica, compondo molduras que serão forças que
determinam, no caso, o fluxo criativo dos atores/ pesquisadores em processo da
tessitura do drama. A tessitura do drama se dá pelo presente, já que é o presente
que determina a memória. No processo, são colhidas suposições de imagens
advindas da memória e reverberadas no corpo, e sustentadas não para criação de
uma imagética real, mas para um referencial real para o atuador que pode chegar
de outra forma para o espectador, em estados metafóricos, vividos ou não, para
ambos. Um processo desenvolvido sobre estes prismas abre caminhos para novas
discussões e reflexões do ator-dramaturgo que compõe corpo e memória, corpo
em memória.
PALAVRAS-CHAVE: ator-dramaturgo; memória; dramaturgia
Kátia Carvalho da Silva
Gilberto Freire de Santana
TITULO: NARRANDO BRÁS CUBAS: QUANDO O ROMANCE SE FAZ
IMAGEM, O QUE PENSAR DO NARRADOR?
RESUMO: Em se tratando da obra de Machado de Assis, é inequívoco se concluir
o caráter de permanência, confirmado, em parte, pelos inúmeros intertextos e
diálogos estabelecidos por outras manifestações estéticas, na tentativa de
fomentar novas possibilidades de leituras. O cinema, desde seu nascedouro,
trilhando por esta seara, muitas vezes buscou através de sua linguagem múltipla
se aproximar do literário, e este diálogo não só originou obras, que mesmo diante
da impossibilidade, procuraram a todo custo reeditar o texto fonte, como também
despontaram leituras que tomaram caminhos bem diversos e até inusitados. Esta
proposta de estudo quer discutir e analisar as adaptações cinematográficas Brás
Cubas, de Júlio Bressane (1985) e Memórias Póstumas de Brás, de André Klotzel
(2001), objetivando investigar quais são as estratégias narrativas empregadas
pelos cineastas para recriar a narrativa literária e, sobretudo, como se figura o
narrador em cada um dos filmes. Para tanto, esta proposta se assenta nos estudos
contemporâneos sobre adaptação cinematográfica, principalmente nas reflexões
de Robert Stam, Linda Hutcheon, Randal Jonhson, André Gaudreault e François
Jost.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Adaptação; Narração.
Kall Lyws Barroso Sales
TITULO: A TRADUÇÃO DAS ORALIDADES NA LITERATURA BEUR: AZOUZ
BEGAG E A TRADUÇÃO DE LE GONE DU CHAÂBA
RESUMO: Azouz Begag é um dos mais notórios escritores de expressão francesa
de origem magrebina. Com a língua francesa como instrumento, e com seu humor
crítico, ele consegue levar ao leitor francófono as dificuldades experenciadas
pelos argelinos na turbulenta década de 60. Suas obras têm como característica a
presença da oralidade árabe em seus escritos, bem como as experiências vividas
pelos imigrantes da Argélia. A utilização da linguagem escrita para representar
oralidades na literatura beur faz parte da evidencia das culturas que estão
presentes no solo francês e, ao representar essas oralidades, os autores beurs
elaboram um desafio para os tradutores. Assim, torna-se proposta deste trabalho
apresentar o livro Le gone du Chaâba de 1986 e o desafio de manutenção das
características orais atribuídas à identidade magrebina na tradução em
português. A tradução integral do romance faz parte de minha pesquisa de
doutorado e serviu de corpus para esta comunicação. Para tanto, foram
analisadas as passagens do romance nas quais estão presentes elementos
linguísticos que atestam o diálogo das culturas francesas e argelinas e suas
respectivas propostas de tradução para o português do Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Azouz Begag; Oralidade.
Karen Luz Basaure Guerrero
TITULO: "MEMORIAS DEL OLVIDO": REPRESENTACIONES POLÍTICAS EN
EL TEATRO CONTEMPORÁNEO CHILENO Y BRASILEÑO
RESUMO: Tanto el teatro chileno como el brasileño de las décadas del 70’y 80’
presentaron autores que se distinguieron en sus características, que se refieren a
una definición de voces sociales, de espacios marginales e inquietudes propias del
momento de producción de estos escritores. El dramaturgo chileno Juan
Radrigán y el brasileño Plinio Marcos, trabajaron las pequeñas historias,
revelando tensiones contingentes entre las clases sociales marginadas y
desvelando el proceso histórico común de ambos países. Así, el objetivo se
presenta como un mapa de la producción autoral, entre las décadas del 70’y 80’,
definido por un encuadre sociocultural y comparatista, con la finalidad de
especificar las influencias que ejercen estos dramaturgos en el teatro
contemporáneo de ambos territorios, específicamente en la dramaturgia de Luis
Barrales en Chile y Mario Bortolotto en Brasil. Así, comprenderemos los procesos
de creación y sus recorridos, la gestualidad en relación a lo visual, social y político,
así como sus influencias y consecuencias en la actualidad. Partiendo de la
afirmación realizada por Jaques Ranciére de que “la literatura hace política en
cuanto literatura”, se tratará de indagar y cuestionar el tratamiento de los
referentes utilizados en las dramaturgias contemporáneas de ambos países.
PALAVRAS-CHAVE: Postdictadura; Política; Teatro.
Karima Bezerra de Almeida
TITULO: GONÇALVES DIAS E EMILY DICKINSON: CONTESTAÇÃO
ATRAVÉS DA MUSICALIDADE NO SÉCULO XIX
RESUMO: Emily Dickinson e Gonçalves Dias contestaram através de suas obras
inovadoras, tal como outros artistas do século XIX o fizeram; enfrentando as
barreiras dos isomorfismos históricos e derivando para outros polos, muito
embora, naturalmente, embasados nos modelos clássicos que os precederam. A
utilização da musicalidade como ferramenta de contestação aproxima estes dois
poetas, porém há um distanciamento sociocultural e histórico relevante entre
Brasil e Estados Unidos na época em que viveram. Este trabalho tem como
objetivo expor obras de Emily Dickinson e Gonçalves Dias que possam
demonstrar estas proximidades e distanciamentos, considerando exclusivamente
os recursos eufônicos que utilizaram. Emily Dickinson utilizou a rima perfeita e a
quebra dela para expressar sua inquietação aos preceitos da Igreja
congressionalista; ao tradicionalismo social; àquilo julgado moral; e,
particularmente, às restrições que circunscreviam a condição da mulher, mortal
e poeta. Gonçalves Dias voltou-se contra o fluxo em sua obra poética,
emoldurando-se na temática “americana”, com assuntos e paisagens brasileiros.
Enxergou o índio, e o valorizou, presenteando a primeira geração do Romantismo
no Brasil com uma perspectiva nunca antes explorada, o Indianismo, atrelado a
vocabulário e ritmos característicos, como o som do boré, enraizados na cultura
brasileira pós-colonialista. Seus poemas serão visualizados lado a lado, e seus
ritmos, métricas e rimas, dentre outros, e a quebra deles, serão discutidos, tendo
em vista o contexto, a linguagem, o simbolismo e a poética de suas obras. Este
trabalho pretende atender às expectativas da linha de pesquisa dos Estudos
Comparados de Literaturas de Línguas Modernas, no tocante de abordagens
comparativo-críticas, compreendendo campos interdisciplinares das literaturas e
outras artes (como as traduções do pernambucano José Lira à poesia de
Dickinson), bem como outros saberes como história, sociedade, cultura e
antropologia.
PALAVRAS-CHAVE: Emily Dickinson; Gonçalves Dias; Musicalidade poética.
Karin Volobuef
TITULO: DESTINO, MORTE E SUPERAÇÃO EM CONTOS DOS IRMÃOS
GRIMM
RESUMO: Desde tempos imemoriais o Homem se indaga sobre sua boa ou má
sorte, e os contos de fadas coletados pelos Irmãos Grimm na Alemanha
(1812/1815) retornam insistentemente a questões envolvendo vida e morte,
ventura e desventura, o sagrado e o diabólico. A análise de alguns contos de fadas
menos conhecidos, como “O rei da montanha de ouro” e “Os três fios de cabelo
do diabo”, permitirá uma discussão dessas narrativas em termos de sua
perspectiva mítica e profundamente simbólica.
PALAVRAS-CHAVE: Maravilhoso; Grimm; Contos de fadas.
Karina Lima Sales
TITULO: TRAÇOS DA PERIFERIA: CENAS DE ESCRITA EM PRODUÇÕES
LITERÁRIAS MARGINAIS CONTEMPORÂNEAS
RESUMO: O texto propõe reflexões sobre a literatura marginal contemporânea a
partir da análise de representações de espaços em contos dos livros Cela forte, de
Luís Alberto Mendes, e 85 letras e um disparo, de Sacolinha e de poemas do livro
De passagem mas não a passeio, de Dinha. A literatura constitui-se como um
campo de disputas pelo acesso à voz, pela possibilidade de difusão de
representações do mundo, pelo reconhecimento do público e dos pares, segundo
Dalcastagnè e Da Mata (2012). Essa questão aponta para o funcionamento, na
acepção de Bourdieu (1996), do campo literário, espaço em que ocorre um
conjunto de relações e práticas sociais relacionadas aos agentes envolvidos com a
produção, consumo e reprodução da literatura, que geram critérios de
legitimidade e prestígio do texto literário. O estudo insere-se nessa chave de
concepções. As produções literárias delimitadas foram publicadas pela Global
Editora, na Coleção Literatura Periférica, cujos autores moram e têm origem na
periferia. O termo Literatura Periférica associa-se diretamente a outro, Literatura
Marginal, que em contexto contemporâneo tem sido empregado em relação à
produção de escritores que pertençam a grupos de excluídos, os quais tentam se
fazer ouvir, buscam superar a condição de exclusão social que vivenciam. Nos três
livros podem ser observadas representações de si, do outro e de espaços diversos,
marginalizados ou marginalizantes. Ao publicizarem essas representações,
relativas a vidas e vozes periféricas, silenciadas, os autores permitem que elas
ganhem voz, em consonância com discussão de Foucault (1992). Os traços da
periferia a que alude o título estão presentes duplamente nessas escritas: tanto
por meio da origem dessas vozes, marginalizadas, que buscam legitimar sua
dicção, quanto por meio do espaço basilar que origina o traçado – a periferia,
múltipla, revisitada, posta em meio a embates com outros espaços.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Marginal; Cenas de escrita; representações.
Karla Menezes Lopes Niels
TITULO: ESPAÇO GÓTICO E CONSTRUÇÃO DO FANTÁSTICO EM
NARRATIVAS DE ÁLVARES DE AZEVEDO E FAGUNDES VARELA
RESUMO: O fantástico é um gênero que se configura a partir da hesitação
comungada entre personagem e leitor acerca da naturalidade de um dado
acontecimento narrativo. Nisso concordam a maioria dos teóricos do gênero.
Para que tal hesitação seja alcançada é necessário uma série de estratégias
narrativas, entre elas a ambiência. Daí a importância da construção do espaço
ficcional para o gênero. Marisa Martins Gama-Khalil comenta que Edgar Allan
Poe, autor de contos no gênero, “valoriza o espaço ficcional como base do efeito
desencadeado pelo texto literário”, em especial o espaço fechado (GAMAKHALIL, 2012, p.31); para os teóricos Louis Vax (1972) e Felipe Furtado (1980)
o espaço híbrido, ou seja, o jogo entre ambientações fechadas e abertas propicia
não só surgimento do insólito, como mantêm a ambiguidade narrativa tão crucial
para o fantástico. O Romance gótico, pai do gênero em causa, catalisou imagens,
temas e ambiências verdadeiramente tensas, escuras, lúgubres e claustrofóbicas
que foram retomados pelo gênero fantástico. A ambientação gótica surge a
serviço da construção e manutenção da ambiguidade narrativa, bem como da
formulação da hesitação essencial à configuração do gênero fantástico. O
presente trabalho, portanto, pretende analisar a construção do espaço gótico e
sua importância para a deflagração daquilo que Todorov (2012) chamou de
“efeito fantástico” em contos de Álvares de Azevedo e Fagundes Varela.
PALAVRAS-CHAVE: fantástico; gótico; romantismo.
Kate Constantino Pinheiro de Andrade Oliveira
Luiz Eduardo Meneses de Oliveira
TITULO: A LITERATURA FRANCESA NA INSTRUÇÃO SECUNDÁRIA
RESUMO: Este trabalho pretende analisar o modo como a literatura francesa é
representada e ensinada nos capítulos a ela referentes em livros de história
literária produzidos para o ensino secundário, sobretudo para o Colégio Pedro II,
entre 1873 e 1940. Para tanto, servimo-nos da historiografia política e
educacional relacionada a cada época, bem como da legislação referente ao
ensino de línguas e literaturas correspondentes. Assim, levamos em conta não
somente as correntes teóricas e metodológicas defendidas ou adotadas pelos
autores, mas também o lugar institucional por eles ocupados e as condições de
produção, publicação e circulação de compêndios escolares no período recortado.
Tal recorte justifica-se pelos anos de publicação do Resumo de História Literária
(1873), do Cônego Fernandes Pinheiro, com o qual iniciamos nossa análise, por
considerarmos ser esse o livro que inicia, por assim dizer, a historiografia
brasileira da literatura francesa, e de Noções de História das Literaturas (1940),
de Manuel Bandeira, último livro do gênero a ser publicado durante a vigência da
reforma do ministro do Estado Novo Gustavo Capanema, que mantinha tal
conteúdo no currículo da instrução secundaria. A sua supressão dar-se-á com
uma reforma educacional de 1951, passando o ensino da literatura francesa a
restringir-se aos cursos superiores de Letras.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Literatura; Literatura Francesa; História da
Educação.
Kedma Janaina Freitas Damasceno
TITULO: VANGUARDA POÉTICA NO
CONCRETISMO – POEMA/PROCESSO
RIO
GRANDE
DO
NORTE:
RESUMO: Durante a segunda metade do século XX, os artistas nordestinos
procuraram acompanhar os movimentos vanguardistas oriundos das inovações
das formas poéticas que aconteciam principalmente no Sudeste do país e, dessa
forma, buscaram também consolidar a região como um dos centros de
desenvolvimento da poesia de vanguarda. Alguns poetas cearenses, por exemplo,
participaram ativamente do movimento de poesia concreta dos anos 50, tendo
como principais representantes José Alcides Pinto, Antônio Girão Barroso, Pedro
Henrique Saraiva Leão, Horácio Dídimo, entre outros. Neste trabalho,
procuraremos mostrar como os poetas do Rio Grande do Norte se inseriram neste
contexto de inovações poéticas. Em 1966, aconteceu a exposição “Dez Anos de
Poesia Concreta” em Natal, comemorativa da I Exposição Nacional de Arte
Concreta (MAM de São Paulo - 1956). Nesta exposição foram reapresentados
poemas de Décio Pignatari, A. e H. Campos, Wlademir Dias-Pino, Ronaldo
Azeredo, Edgar Braga, Osmar Dillon e José Lino Grunewald. Nesta edição foram
lançados os poetas do Rio Grande do Norte: Nei Leandro de Castro, Dailor Varela,
Luiz Carlos Guimarães, João Bosco de Almeida, Anchieta Fernandes e o critico
Moacy Cirne . Um ano depois, em 11 de dezembro de 1967, simultaneamente com
o Rio de Janeiro, acontecia em Natal a primeira exposição do Poema/Processo.
Essa nova vertente da vanguarda poética tinha suas bases teóricas alicerçadas nos
poemas espaciais de Wlademir Dias-Pino, “Ave” e “Sólida”, que já participara, 10
anos antes, do movimento da Poesia Concreta, ao lado de Haroldo e Augusto de
Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo, José Lino Grunewald, dentre outros.
Nesse contexto, será investigado através da análise de poemas, entrevistas,
debates e manifestos como se deu a transição do Concretismo para o PoemaProcesso no estado do Rio Grande do Norte. É digno de nota ainda que o período
em que o movimento aconteceu foi o da ditadura militar, o que não o impediu de
driblar a censura repressora daquele momento e atuar como um importante
mecanismo de inovação poética no Nordeste e no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Vanguarda; Concretismo; Poema/Processo.
Kelcilene Grácia Rodrigues
Paulo Eduardo Benites de Moraes
TITULO: A POÉTICA SUBVERSIVA DE MANOEL DE BARROS: DA
MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE
RESUMO: A poesia de Manoel de Barros é construída de rupturas, frases
fragmentadas, montagens insólitas, metáforas complexas, inusitadas e
incongruentes. A gramática, nas mãos do poeta, é subvertida. Ao estabelecer
relações inesperadas entre as palavras, libertando-as das grades que as revestem
e as limitam, Barros desestabiliza os sentidos, extravasa os limites do dizível e
transforma em substância poética a realidade do mundo natural que o circunda.
Trata-se de uma linguagem que abre novos caminhos e se deixa conformar pelo
estranho. Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em 19 de dezembro de 1916, Barros,
na adolescência, estudou em colégios internos no Rio de Janeiro. Sua formação
está assentada na literatura clássica portuguesa (Bernardim Ribeiro, Camões,
Frei Luís de Sousa, Padre Vieira), voltando-se também para a Literatura Francesa
(Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud). Quanto aos autores brasileiros, estudou, entre
outros, Oswald, Drummond, Bandeira, Rosa, Cabral. Em todos, descobria
caminhos para sua escrita poética inconfundível. Tendo como pressuposto a
localização histórica, crítica e teórica, que marcam algumas linhas de força do
pensamento filosófico, estético e artístico desenvolvidos pelos poetas da
modernidade e que, ao longo da história, foram rejeitadas, negadas, revisitadas
e/ou reconfiguradas originando questões que foram importantes para a
configuração do que se pode chamar de poesia contemporânea, o objetivo do
presente trabalho consiste em localizar cerne do projeto poético, estético e
artístico de Manoel de Barros que, ao longo de seu percurso, após ter sido
influenciado por seus precursores, assume uma postura de assimilar sua herança
e de constituir, como voz questionadora de sua época que rejeita, nega, revisita e
reconfigura a tradição, um projeto poético original, pessoal e singular na poesia
brasileira contemporânea. Interessa-nos notar como, na tessitura de sua poesia,
tais questionamentos se tornam elementos centrais internos à obra. Referências:
BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: Um lírico no auge do capitalisto. Trad.
José M. Barobosa e Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989.
(Obras escolhidas; v. 3). BORGES, Jorge Luis. “Kafka e seus precursores”. In:
___. Obra completa. São Paulo: Globo, 1999, p. 96-98. CHIAMPI, Irlemar.
(Coord.). Fundadores da modernidade. São Paulo: Ática, 1991. ELIOT, T. S. “A
tradição e o talento individual”. In: Ensaios de doutrina crítica. Trad. Fernando
de Mello Moser, s.l., Guimarães, s.d., p. 21-35. JUNQUEIRA, Ivan. Baudelaire,
Eliot, Dylan Thomas: Três visões da modernidade. Rio de Janeiro: Record, 2000.
PAZ, Octávio. Os filhos do barro. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
PALAVRAS-CHAVE: Ars Poetica; Dissonância; Poesia contemporânea.
Kelly Benoudis Basilio
TITULO: A CRIATIVIDADE NARRATOLÓGICA DE URBANO TAVARES
RODRIGUES
RESUMO: Verifica-se em Urbano Tavares Rodrigues uma vontade constante de
aderir exacta e profundamente ao nosso tempo, vontade que sempre foi
acompanhada de uma preocupação de renovação, senão de inovação, formal.
Urbano sempre diversificou a estrutura dos seus romances, nunca repetindo a
mesma fórmula, relevando sempre a sua narrativa de uma arte singularmente
cuidada e sábia da composição, bem como de uma inesgotável criatividade na
produção do interesse romanesco. Urbano sabe pôr o romance ao serviço do seu
talento caleidoscópico, sendo o romance o único género que permite a integração
de outros géneros. Desta forma, o romancista pode incorporar, por vezes numa
mesma obra, o romance policial, o romance epistolar, reformulado até pelo email, o diário - o tradicional mas também o novo diário electrónico - e ainda a
crónica, regular escapadela extra-diegética, para não nos deixar esquecer o que
por esse mundo fora acontece. Pois um romance do nosso tempo não é senão a
sua crónica completa : a local e a global. A local na global. Em suma, nele se
entrelaçam a pequena e a Grande História. Mas o romance pode sobretudo
incorporar outros géneros do discurso, e singularmente, neste amante do verbo,
o discurso poético, sendo a sua escrita sempre poética. Finalmente, realcemos o
que será talvez mais difícil de acertar num romance: o diálogo, a arte do diálogo
em Urbano. Sublinhemos essa sua espantosa faculdade de absorção e
impregnação das formas e usos linguísticos apanhados na própria “crista da
onda”, como hoje se diz, o que resulta num verdadeiro manancial de autênticos
guiões para os cineastas da actualidade.
PALAVRAS-CHAVE: Narrativa; Criatividade; Modernidade.
Kenedi Santos Azevedo
TITULO: ADÍLIA LOPES E AL BERTO: ESPELHO, ESPELHO M(EU)
RESUMO: Escrever sobre Adília Lopes e Al Berto é presenciar a fragmentação do
sujeito poético, a dinamicidade da linguagem prosaica e a expressão lírica do
desejo presentes em suas obras. A poetisa portuguesa assume, para assinar seu
projeto literário, um pseudônimo e desenvolve uma escrita cifrada, marcada pelo
jogo das palavras, dispostas, enfatizadas e, em muitos casos, reiteradas, num
processo cujo agente civil confunde-se com o ente ficcional, desdobrando-se em
muitos eus na própria esfera poética. O medo é o mote delineador para a
produção poética de Al Berto. Esse estado emocional resultante da consciência de
perigo e ameaça que o mundo impõe, infiltram-se nas malhas textuais do poeta
lusitano fazendo com que se desperte o desejo de autorreflexão e
autoconhecimento. É deste modo que os temas como a morte, o desassossego, o
homoerotismo e a utilização do corpo na escrita, imperam, manifestando a
perturbação, a tensão e a construção do ser, nos textos, a ponto de torná-lo
abstrato, fragmentado, exercendo, em certo sentido, uma ruptura com o universo
extratextual. A articulação entre corpo e texto, corpo e imagem, será um contínuo
na lírica adiliana e al-bertiana, no limite máximo de se ter a própria poetisa e o
poeta determinando um protocolo poético cujas linhas se ajustam aos parâmetros
do sistema que então se forma na contemporaneidade. Diante de tais conjecturas,
invocam-se, para fins esclarecedores, as palavras de Manuel Frias Martins (1983),
ao comentar a infiltração do sujeito no discurso literário; à constituição dessa
instância nos textos “chamemos-lhes autor, escritor, poeta, ela não é de maneira
nenhuma uma ausência como querem alguns, mas, antes, o sujeito vivo e activo
do facto literário”, é o próprio sujeito da enunciação se pondo como agente
responsável pela interpelação da sua realidade, ainda que seja por intermédio da
imaginação criadora “– mesmo quando são os conteúdos subjetivos do próprio
sujeito que parecem ser o único objeto interpelável” (p. 28, 29). Tal condição do
ser, nos poemas de Adília Lopes e Al Berto, demonstra o desejo excessivo de busca
da compreensão de si mesmo. Há, parece, na escrita, um subterfúgio em que o
eu-poético se depara com o eu-biográfico, a ponto de dialogarem sobre seus
afetos, seus amores, seus questionamentos, dissabores, saudades ou, em todo
caso, sobre si mesmos. Esta comunicação desenvolve-se a partir do perímetro que
enquadra a poesia desses escritores portugueses e os instantes em que essas vozes
se alternam ou se respondem, na tessitura lírica de cada poema, como lugar que
se constitui na contemporaneidade.
PALAVRAS-CHAVE: Adília Lopes; Al Berto; Eu.
Keynesiana Macêdo Souza
TITULO: BELMIRO BORBA: UM PERSONAGEM EM CONFLITO SOB O
PRISMA DA MELANCOLIA
RESUMO: Este trabalho se propõe a correlacionar literatura e melancolia a partir
da escritura de Cyro dos Anjos (1906-1994) na obra O amanuense Belmiro (1937),
tendo como objetivo principal analisar como alguns aspectos da melancolia
perpassam toda a narrativa desse livro ímpar no panorama literário brasileiro.
Trata-se de uma obra atípica dentro da ficção da década de 1930 por ser uma voz
dissonante comparada às produções regionais e sociais da época. Sua temática
aborda a relação do homem com a vida; o presente e o passado; o amor e as
frustrações e o herói em busca de si. Belmiro Borba, narrador-personagem, é um
homem sentimental e tolhido pelo excesso de vida interior, que resolve escrever
um livro e assim registrar no papel suas histórias, lembranças, sentimentos,
meditações e ilusões. Nessa perspectiva, este estudo visa trazer à tona questões
relacionadas à estética da melancolia, principalmente, sua relação com o processo
criativo; existente na escritura belmiriana em seu fazer literário. Ao longo de
nossa abordagem, recorreremos aos estudos realizados por Aristóteles (1998),
Benjamin (2011), Kristeva (1989), Lambotte (2000), entre outros teóricos para
articular pontos pertinentes à melancolia, à subjetividade e à criação
artística/literária como fuga e refúgio do narrador-personagem, Belmiro Borba.
PALAVRAS-CHAVE: Cyro dos Anjos; O amanuense Belmiro; Melancolia.
Klara Maria Schenkel
TITULO: A MENINA E O LOBO: A PROSA SELVAGEM DE CLARICE
LISPECTOR E HERMANN HESSE.
RESUMO: A subjetividade dissecada através de uma escrita aparentemente
descuidada, a sequência incerta dos acontecimentos, cenários que evocam
paisagens mentais descoladas da “realidade”, enfim, a subversão das estruturas
da narrativa que Clarice Lispector revelou ao público brasileiro por ocasião do
lançamento de Perto do Coração Selvagem, em 1943, extrapolava os critérios
estéticos que norteavam o cânone da chamada Grande Literatura. Apesar dos
experimentalismos modernistas, a prosa brasileira se mantivera, até então,
relativamente mais comportada que a poesia. Antônio Cândido, um dos primeiros
críticos que, na época, assumiram o risco de acenar positivamente para o romance
“selvagem” da escritora estreante, não o fez sem certo temor: estaria ele
reconhecendo um real talento literário, ou cometendo a grande gafe de sua
carreira? O tempo responderia. Inspirada por Hermann Hesse – cujo romance O
Lobo da Estepe, de 1927, a jovem escritora tentara confessadamente imitar no
começo de carreira – o estilo que Clarice desenvolveria posteriormente, além de
constituir constante desafio para a crítica literária, apontou para as limitações de
classificação do material literário conforme categorias rigorosas de
pertencimento a determinada escola de determinada fase histórica, ou a
determinado gênero textual. Limitações estas enfrentadas pela historiografia
literária brasileira há tempos e que, inevitavelmente, levariam a disciplina a
romper, por volta da década de 50, com os paradigmas (sociológico-positivistas e
histórico-estéticos) da crítica do século XIX. Como avaliar ou classificar o estilo
literário de autores deliberadamente avessos a qualquer herança estética? Para
iluminar esta problemática, a discussão sobre “transferências culturais”
(ESPAGNE, 1999) nos servirá como referencial para a análise de paratextos,
cartas, notas de jornal etc, relativos à recepção de ambas as obras, cujo objetivo é
verificar possíveis aproximações entre a narrativa poética de Clarice e de Hesse autores que, apesar da distância de seus contextos de produção, revelam
evidentes afinidades de projeto e estilo literários.
PALAVRAS-CHAVE: narrativa poética; estilo literário; recepção.
Kleiton de Sousa Moraes
TITULO: AS COISAS ESTÃO NOS LIVROS: A LIVRARIA DO POVO E A
FORMAÇÃO DO PÚBLICO LEITOR NO BRASIL
RESUMO: Esta pesquisa tem por objetivo investigar a formação de um público
consumidor de livros no Brasil através da análise das publicações da Editora
Quaresma nas três primeiras décadas do século XX. Focado num projeto editorial
de ampliação do público leitor, a Editora – também conhecida como Livraria do
Povo –, através do seu proprietário Pedro Quaresma, se propôs a publicar livros
que alcançassem um público maior que o já consolidado público leitor de
romances. A publicação de livros infantis, de modinhas e de diversos manuais
participavam desse esforço. Esses livros procuravam contribuir para a construção
de atitudes consideradas modernas e “civilizadas” para os diversos papeis sociais
que se transformavam àquele período – como o leitor, o escritor, o trabalhador,
a criança e mesmo o amante. Era através dessas publicações que,
concomitantemente em que se criava um público consumidor de livros, o novo
leitor era inserido num mundo onde o ato da leitura era, ele mesmo, uma parte
fundamental na pedagogia do homem moderno e no qual o livro era o objeto
central nesse processo de aprendizado e representação.
PALAVRAS-CHAVE: Livros; Práticas Letradas; Modernidade.
Kleyton Ricardo Wanderley Pereira
TITULO: HISTÓRIAS, MEMÓRIAS E IDENTIDADES NOS CONTOS DE LESLIE
MARMON SILKO, JAMAICA KINCAID E PAULINE MELVILLE
RESUMO: A partir dos anos 1970, a crítica feminista contribuiu para que a
mulher ocupasse um lugar na sociedade que se fez refletir no resgate e na
produção de uma literatura de autoria feminina. No caso específico das Américas,
essa perspectiva contribuiu para as discussões sobre o conceito de suas
identidades através das lutas e resistências diante de uma sociedade marcada
pelo longo histórico colonial e dos rígidos valores patriarcais em que a condição
da mulher ficava à margem das decisões importantes para o próprio destino e,
principalmente, o da nação. Neste trabalho, objetivamos analisar a representação
da identidade feminina a partir da produção contística das seguintes autoras das
literaturas de língua inglesa: Leslie Marmon Silko (EUA), Jamaica Kincaid
(Antígua e Barbuda) e Pauline Melville (Guiana Inglesa). Dessa forma,
procuramos não só contribuir com o fortuna crítica do tema e das autoras através
do diálogo comparativo entre a produção literária interamericana, mas também
rastrear a construção dos vetores socioculturais e identitários das personagens.
Com isso, acreditamos que a representação das figuras femininas nos contos
selecionados mostra a luta constante da mulher contra as formas de dominação
que agem através das forças do patriarcalismo e do colonialismo. Para tanto,
orientam nossas análises o pensamento teórico de Judith Butler (1990), Ania
Loomba (1998), Elaine Showalter (1985), Gayatri Spivak (1988), entre outras.
PALAVRAS-CHAVE: Mulher e Literatura; Literatura Comparada; Literatura
Americana.
Lídia Carla Holanda Alcantara
TITULO: "MENTIRAS E VERDADES NO MESMO CHÃO": UM ESTUDO SOBRE
OS GÊNEROS LITERÁRIOS NO CONTO DE MARIA LÚCIA MEDEIROS
RESUMO: Maria Lúcia Medeiros escreveu narrativas que nem sempre parecem
prosaicas. Trabalhou as palavras criando textos originais, nos quais mesclou
características genéricas diversas. Sua escrita joga com os princípios de
composição artística moderna, seus textos apresentam a forma intensa e sintética
que abraça, ao mesmo tempo, os mais variados matizes e concilia o lírico e o
dramático, o poema e a prosa. Sendo assim, os contos da escritora paraense Maria
Lúcia Medeiros podem ser considerados híbridos em relação aos gêneros
literários, pois possuem traços poéticos ou líricos, configurando-se ora em prosa
poética, ora em verdadeiros poemas em prosa. Os textos da contista
caracterizam-se pelo lirismo, na fusão entre o eu-poético e o objeto de
contemplação, como preconizava Emil Staiger. Partindo, assim, da hipótese de
que os textos de Maria Lúcia Medeiros são híbridos quanto à presença dos
gêneros clássicos, este estudo tem como objeto de análise o conto “Mentiras e
verdades no mesmo chão”. Pretende-se mostrar como se encontram
entrelaçados, em um texto em prosa, elementos genéricos diversos, mostrando a
transformação e hibridização dos gêneros, conceituando-os e interpretando-os.
Na leitura crítica do texto, portanto, utilizaremos teóricos que falaram sobre os
gêneros literários, como Northrop Frye, Emil Staiger, Kate Hamburger
PALAVRAS-CHAVE: Maria Lúcia Medeiros; Conto; Gêneros Literários.
Lígia Guimarães Telles
TITULO: O FIO DA VIDA QUE SE CORTA, O FIO DA ESCRITA QUE PERSISTE:
ANOTAÇÕES SOBRE A ESCRITORA JUDITH GROSSMANN
RESUMO: Como uma das vertentes da Literatura Comparada na cena
contemporânea, a crítica biográfica brasileira, a partir das últimas décadas do
século XX, vem promovendo articulações e embates entre biografemas de
produtores de discurso e seus textos, pondo em rasura pacíficas relações entre
vida e obra, como anteriormente estabelecidas. No campo literário, narrativas
metaficcionais acentuam outros desdobramentos, produzidos nas rasuras entre
os discursos literário e teórico-crítico, especificamente por ficcionistas
integrantes de instituições de ensino superior no Brasil. Retomando a feliz
metáfora de Silviano Santiago no artigo “Epílogo em 1ª pessoa: eu & as galinhasd’angola”, diríamos: atingidos pelo “mal-de-docente que ronda, infecta e prostra
o artista pós-moderno.” (2004, p.246).Tendo em vista a proposta do Simpósio
“Escritas contemporâneas: desafios ao comparativismo”, objetivamos pôr em
atrito relações entre a escrita ficcional e depoimentos e entrevistas da escritora
Judith Grossmann, focalizando as estratégias que nelas se apresentam e apontam
ora para um exercício de controle do leitor ora para uma pretensão a confundi-lo,
a driblar possíveis “achados” de leitura. Desviando-nos de fronteiras estáveis
entre territórios discursivos, consideramos que este recorte crítico intenciona
embaralhar as peças localizadas em espaços definidos por uma tradição de
estudos literários.As sendas aqui indicadas têm como elemento deflagrador a
morte recente de Judith Grossmann, seus gestos e atitudes finais, a partir dos
quais torna-se oportuna uma revisão da leitura e do estudo de seus textos. Desse
modo, elegemos a cena de final de vida da escritora como possibilidade de
entrecruzamento de textos vividos, escritos e lidos, e dos espaços público e
privado, na qual o sujeito crítico-leitor também escava seu lugar de inserção.
PALAVRAS-CHAVE: Judith Grossmann; Crítica biográfica; Comparativismo.
Lígia Regina Máximo Cavalari Menna
TITULO: MEMÓRIAS DE INFÂNCIA, EXPERIÊNCIAS DE LEITURA E
LITERATURA: JOSÉ SARAMAGO E ELIAS CANETTI
RESUMO: Esta comunicação tem entre seus objetivos refletir sobre as primeiras
experiências de leitura apresentadas nas obras Pequenas memórias, de José
Saramago e A língua absolvida, de Elias Canetti. Nessas memórias de infância,
por meio dos relatos de um narrador-personagem adulto sobre seus a primeiros
contatos com a literatura infantil e a efabulação de histórias, é possível verificar
diferentes concepções de infância e diferentes percursos da literatura infantil e
juvenil. Há de se considerar que o estudo dos gêneros confessionais, entre eles as
memórias e autobiografias, envolve muitas polêmicas, desde a falta de clareza
quanto à nomenclatura dos gêneros, até o tênue limite entre o literário e o
histórico, o imaginário e o factual. Contudo, para se pensar em uma história da
infância, incluindo-se a história da literatura infantil e juvenil, o registro de
memórias individuais tem sido considerado, entre outros documentos, uma rica
fonte de pesquisa, retratando diferentes contextos, apontando diferentes
concepções de infância, elucidando novas perspectivas. Vale esclarecer que a
infância é uma construção social, condicionada a questões culturais, filosóficas,
econômicas e por muitas vezes religiosas, assim, a partir de uma perspectiva
social e histórica, podemos dizer que não existe somente uma infância, mas
várias.
PALAVRAS-CHAVE: memórias; literatura infantil; infância.
Lígia Rodrigues Balista
TITULO: LITERATURA, TEATRO E REPRESENTAÇÕES DO BRASIL: O
CAIPIRA NA DRAMATURGIA DE CARLOS ALBERTO SOFFREDINI
RESUMO: Doutorado sobre a figura do caipira na obra do dramaturgo Carlos
Alberto Soffredini. De acordo com o debate proposto pelo simpósio, sobre a falta
de atenção que o drama e a tradição dramatúrgica brasileira recebem nos estudos
literários, e na academia de maneira geral, proponho aqui uma exposição sobre
um autor de relevância na produção cênica brasileira, desde a da década de 60,
mas que é pouco estudado e ainda não tem suas obras publicadas. Busco entender
como se constrói a imagem do caipira brasileiro na produção literária do final do
século XX, através do estudo de três peças de Soffredini: “Na Carrêra do Divino”
(1979), “Auto de Natal Caipira”, (1992), e “A Madrasta”, (1995). Reconhecido pelo
trabalho com cultura popular, cabe avaliar como constroem, nessas peças, os
personagens, o dialeto e música caipira, além de outros aspectos da chamada
cultura popular. Interessa-me, assim, pensar essa representação no âmbito da
discussão de identidades nacionais: como o homem rural pode ser uma
representação significativa de nossa história e de um conceito de Brasil. É
possível, inclusive, traçar um percurso histórico dessa representação, cabendo
portanto avaliar também as mudanças na construção dessa imagem em relação
às representações no início do século XX – em especial, com referência à figura
do Jeca construída por Lobato, que se torna paradigmática para a produção
literária brasileira, mas também pensando na produção de Valdomiro Silveira,
Cornélio Pires e, especificamente no teatro, Jorge de Andrade e Cesário Motta Jr.
Enfatizarei, nessa apresentação, a primeira peça, que usa textos científicos como
referência (artigos de Lobato, a pesquisa de Antonio Candido, "Os parceiros do
Rio Bonito", e "O Dialeto Caipira" de Amadeu Amaral) e traz o homem caipira no
centro da representação; e a terceira, que utiliza textos ficcionais (contos
populares) para pesquisa e apresenta uma mulher caipira como protagonista.
PALAVRAS-CHAVE: caipira; C. A. Soffredini; Jeca.
Lívia Santiago Moreira
TITULO: A POTÊNCIA MELANCÓLICA: DA MORTIFICAÇÃO AO GÊNIO
CRIATIVO
RESUMO: A apropriação por Freud de um termo tão antigo não é desavisada. A
psiquiatria do início do século XIX relegou o termo para os poetas e filósofos
substituindo-o por lipomania ou mono mania triste. Pouco depois, na Alemanha,
Emil Kraepelin integrou a melancolia à psicose, relação que encontramos até hoje
na “psicose maníaco-depressiva” que recentemente foi redefinida no DSM-IV
como “transtorno bipolar” – diagnóstico epidêmico na contemporaneidade que
retira do sujeito a “positividade” de sua postura negativista. Ao localizarmos o
melancólico e sua fala característica “não quero nada, qual sentido há nisto?” em
nosso contexto histórico contemporâneo, podemos identificar nesses sujeitos
uma resistência ativa aos modelos sociais oferecidos e às ofertas da sociedade de
consumo. O melancólico sabe sobre a impostura do sistema e denuncia a
alienação dos sujeitos às ofertas identificatórias das mercadorias. A ironia
melancólica contesta exatamente como os modos de descontentamento são
semblantes de uma outra coisa, mais radical, de uma ausência de sentido. Ele tem
o poder de reconhecimento da estrutura e também do abismo para além da
estrutura, o que o coloca em um impasse. O melancólico sabe da verdade, mas
pode ficar paralisado no momento niilista de sua vivência. A ética da verdade do
melancólico pode não conseguir achar uma saída que não seja a da mortificação,
do esforço para tentar parar o tempo que a tudo devora. Neste trabalho
pensaremos com Freud, Agamben, Benjamin como a arte se apresenta como uma
das saídas possíveis – mas não sem riscos – para o encontro com a verdade
vivenciada pelo sujeito melancólico.
PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Verdade; Arte.
Lívia Santiago Moreira
TITULO: RISCOS DO DESAPARECIMENTO DE SI – JOGOS ENTRE PONTES
SOBRE O ABISMO, DE FREUD A FLUSSER
RESUMO: Judeu de Praga, único sobrevivente de sua família na Segunda Grande
Guerra, Vílem Flusser, após uma breve passagem pela Inglaterra, se exila no
Brasil, tomando o português como sua “segunda língua materna”. De acordo com
o filósofo, a experiência de ser banido poderia ser um fator que nos tornaria mais
humanos. Esta vivência do entre-lugar do eu, entre línguas e culturas, será
transposta através das pontes que este construirá a partir de uma nova realidade
da linguagem. Flusser é um dos pensadores do século XX que mais conseguiu
extrair força da catástrofe. Se num primeiro momento o exílio é sinônimo de
melancolia – dor relacionada ao traumatismo de uma abrupta separação, de
saber-se sozinho, e, consequentemente, de existir – num segundo momento, esse
estado de perda do solo e de si é o ponto de partida para uma nova forma de estar
no mundo. De um lado temos o negativismo melancólico e a impossibilidade do
luto, de outro, temos a denúncia da ficção da identidade e sua potência
desterritorializadora. Pensamos que a melancolia seja o primeiro movimento de
deslocamento da noção de eu para uma abertura ao outro que não seria apenas
da ordem de um traumatismo, mas de uma expansão. A “falta de fundamento”
(Bodenlos) que justifica e possibilita a “virada do punhal” para Flusser, parece
reproduzir a dinâmica que encontramos na problemática melancólica. A vida e
obra do filósofo se mostram produtivas na elaboração de uma crítica à noção de
identidade, motivo de sofrimento do homem contemporâneo. A figura do exilado
aparece como um novo modelo de estar no mundo, o qual é constituído pelo fluxo
e não pelo suposto caráter estático da cultura e da língua. Nesta ponte entre Freud
e Flusser, tradutor, exilado e melancólico são figuras de uma mesma
problemática: o encontro com a outridade.
PALAVRAS-CHAVE: Flusser e Freud; elogio do exílio; melancolia.
Lúcia Amaral de Oliveira Ribeiro
TITULO: REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO NOS CADERNOS DE VIAGEM DE
FLAUBERT E DELACROIX
RESUMO: Em minha comunicação, pretendo comparar textos de Flaubert de sua
viagem para o Oriente às anotações dos cadernos ilustrados da viagem de
Delacroix para o Marrocos. Tomando por base a representação do espaço,
pretendo estabelecer correspondências entre questões de ordem estética que
permeiam as artes de escrever e pintar no século 19. Ao abordar o Oriente de
Flaubert, Isabelle Daunais propõe que o espaço não existe para ele como
realidade referencial e sim como geometria, estilização. Trata-se de um espaço
delimitado em que o visível depende das condições de observação. Por volta da
segunda metade do século 19, a pintura perde a perspectiva fixa. Assim, a
paisagem e os objetos deixam de se organizar em torno de um ponto fixo. As
anotações de viagem de Flaubert e de Delacroix evidenciam o mesmo tipo de
olhar descentralizado. Referências Bibiográficas: DAUNAIS, Isabelle. L’Art de la
mesure ou l’invention de l’espace dans les récits d’Orient (XIXe siècle). SaintDenis, Montréal: PUV, 1996. DELACROIX, Eugène. Journal. Tomo I. Ed. de
Michelle Hannoosh. Paris: Corti, 2009. ______. Le voyage au Maroc. Ed.de
Maurice Arama. Paris: Sagittaire, 1992, vol. 5. ______. Desenho 89-004245-02;
inventário: RF1712bis fo 23v-24r. Álbum da África do Norte e da Espanha, 1832.
Paris, museu do Louvre. Direitos autorais da fotografia: RMN-Grand Palais /
Michèle Bellot. FLAUBERT, G. Œuvres complètes. Tomo II. 1845-1851. Pléiade.
Ed. de Claudine Gothot-Mersch. Paris: Gallimard, 2013. ______. Voyage en
Orient (1849-1851). Ed. de Claudine Gothot-Mersch. Paris: Gallimard, 2006.
______. Caderno 4 (viagem ao Oriente) f° 11v° e f° 12, Biblioteca Histórica da
cidade de Paris. Manuscrito inédito. RIBEIRO, Lúcia Amaral de Oliveira.
Imagens e paleta de cores nos textos de Flaubert da viagem ao Oriente. Tese
(Doutorado em Língua e Literatura Francesa). USP, São Paulo, 2014, inédita.
Disponível
em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde21012015-175516>.
PALAVRAS-CHAVE: Flaubert, Gustave; Delacroix, Eugène; Anotações de
viagem.
Lúcia Ricotta Vilela Pinto
TITULO: LÍRICA DA TERRA: VIAGENS DE GONÇALVES DIAS
RESUMO: O objeto desta apresentação é a elaboração lírica e histórica do espaço
por Gonçalves Dias. Pretende-se retomar os percursos de suas viagens pelo Ceará,
pela Província do Pará e do Amazonas entre os anos de 1859 e 1861, a partir do
confronto de suas cartas, diário e anotações com suas ficções de poesia e com um
conjunto de trabalhos do poeta ligado às suas atividades de “homem de letras” no
Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Gonçalves Dias chefiou a Secção de
Etnografia da Comissão Científica de Exploração do Ceará, elaborada no âmbito
de uma política imperial civilizatória, que procurou nacionalizar as coordenadas
históricas do território brasileiro, incumbindo-se da tarefa de distinguir as “raças
humanas” pelo estudo das “línguas”, das “tradições históricas” e da caracterização
“intelectual e moral” dos índios desta região. Tal tarefa representou a
continuidade dos estudos indigenistas sumarizados em seu Brasil e Oceania, a
cuja escrita dedica-se nos anos que vão de 1850 a 1852. Ao final da Comissão do
Ceará, Gonçalves Dias realizou ainda incursões nas regiões e rios amazônicos, em
1861, aproximando-se de uma síntese interpretativa do Brasil que dizia respeito
à relação por ele tensionada entre a história dos índios e o passado nacional, entre
o território e a temporalidade brasileira. Sob a percepção gonçalviana dos vazios
deixados pela força das águas na Amazônia em, por exemplo, cito-o – “a terra
falta, desaparece”, quando “o rio cobre majestosamente [os] espaços” –, esta
comunicação terá alcançado seu objetivo se revelar a tensão em Gonçalves Dias
entre o vazio passadológico dos índios e os espaços à margem da história destes
homens para quem efetivamente falta a terra.
PALAVRAS-CHAVE: Gonçalves Dias; Indios; História.
Laísa Marra de Paula Cunha Bastos
TITULO: OS PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DE
RESUMO: O trabalho objetiva compreender os modos de produção de
autobiografias best-sellers de mulheres muçulmanas. Como corpus
representativo, selecionamos os livros "Infiel", de Ayaan Hirsi Ali; "Princesa", de
Jean Sasson/Sultana; e "Eu sou Malala", de Malala Yousafzai/Christina Lamb.
Usando metodologia de Bourdieu, para quem uma obra literária não deve ser
estudada apenas por seu texto, mas também por sua inserção e circulação nos
diversos campos (literário, político, social), partimos da hipótese de que essas
narrativas de vida, uma vez que fabricadas no Ocidente com base nas lógicas da
indústria cultural de massa e da literatura de grande produção, são apresentadas
ao público circunscritas pelos discursos neo-orientalistas do choque de
civilizações. Referimo-nos aos discursos veiculados no pós-11 de setembro de
2001, que, reiterando o discurso orientalista, dividiram o mundo em Ocidente
superior versus Oriente inferior. Assim sendo, investiga-se as implicações dos
discursos da Guerra ao Terror para o interesse comercial em narrativas pessoais
de mulheres muçulmanas. Além disso, problematizamos os pressupostos e a
importância do gênero autobiográfico e dos conceitos de verdade e autenticidade
para a ascensão desses livros, bem como as relações de coautoria presentes em
tais narrativas. Entendemos que os modos de produção de um livro têm muito a
dizer sobre seus significados. Pensando nisso, analisamos o discurso editorial –
presente nas capas, contracapas e abas dos livros – a fim de tornar visíveis suas
atuações na construção de um texto. Objetiva-se, assim, problematizar os limites
e as possibilidades da auto-representação do sujeito subalterno em contextos
marcados por desigualdade de forças e por agenciamentos da fala.
PALAVRAS-CHAVE: Autobiografia; Subalternidade; Neo-orientalismo.
Laile Ribeiro de Abreu
TITULO: ÁUREA PIRES DA GAMA: ESCRITA FEMININA ANGRENSE NA
IMPRENSA BRASILEIRA
RESUMO: Áurea Pires da Gama nasceu em 1876, em Angra dos Reis, Rio de
Janeiro, e faleceu em 1949, no Rio de Janeiro. Foi participante ativa em diversos
periódicos do Rio de Janeiro e contribuiu, significativamente, para a presença da
escrita feminina no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, publicação feita
entre 1851 a 1932, que contou com a participação de quase seiscentas mulheres
de todas as regiões do Brasil. A contribuição da autora angrense ao Almanaque
foi de cerca de cinco poemas, no período de 1899 a 1902. Além dos textos
esparsos, a autora publicou as coletâneas "Flocos de Neve" (1898)," Indiana"
(1902), "Pétalas" (1908), "Paquetá" (1919), "Entre o Mar e a Floresta" (1922). Essa
comunicação pretende, portanto, discutir a obra de Áurea Pires da Gama,
reunidas nas coletâneas, em especial, os textos cuja publicação inicial dera-se
pelo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Áurea Pires da Gama; Imprensa brasileira; Almanaque.
Larissa Drigo Agostinho
TITULO: O INFINITO TURBULENTO DE MICHAUX
RESUMO: A literatura tem uma longa história com as drogas, ela data do advento
da própria modernidade, com Baudelaire e jamais desaparece do horizonte
literário reaparecendo gloriosamente na loucura de Artaud ou nas experiências
de Michaux. Procuraremos aqui pensar esta relação com o intuito de responder a
uma acusação tão longa quanto a história da literatura e das drogas na
modernidade, a de transgressão. Seria a literatura uma simples extravagância,
uma busca por paraísos artificiais que tendem a fechá-la ainda mais sobre si
mesma, afastando-a de toda experiência real? Seria a droga o sintoma de um
desejo de fuga e evasão, ou desejo autodestrutivo de uma arte que já não tem mais
nada a dizer sobre e para o mundo que a rodeia? Ou ainda estaria este desejo de
transgressão exprimindo o hedonismo de uma arte que se reduz a uma simples
busca pelo prazer? O recuso as drogas pode parecer, num primeiro momento, um
simples desejo de transgressão que ao romper com os limites impostos pela
normatividade social sempre reforça a lei que transgride ou afirma sua estrita
dependência em relação a esta. Mas não é assim que Deleuze pensa esta relação.
Pretendemos neste artigo a partir das ideias de Deleuze e Guattari pensar
“L’Infini turbulent” de Michaux e a importância das drogas na constituição de
uma percepção para além da experiência ordinária, para podermos assim definir
a natureza da experiência literária. L’infini turbulent é um verdadeiro manual de
fabricação de um corpo sem órgãos, uma nova figura de “sujeito” não mais uno e
sim divisível, atravessado por forças moleculares e invisíveis que o forçam a
alcançar territórios virgens nunca antes explorados pela percepção e pela razão.
A experiência de Michaux, como veremos, leva a literatura a conquistar um
espaço novo e sem limites, infinito.
PALAVRAS-CHAVE: corpo sem órgãos; molecular; infinito.
Larissa Leal Neves
TITULO: UTOPIAS MELANCÓLICAS: A CRÍTICA DA MODERNIDADE EM
CRÔNICAS DE RUBEM BRAGA E HAROLDO MARANHÃO
RESUMO: O presente trabalho visa mostrar a melancolia na literatura brasileira
contemporânea, especificamente em Rubem Braga e em Haroldo Maranhão,
analisando crônicas da metade do século XX, que falam sobre o cotidiano do Rio
de Janeiro em uma perspectiva pouco destacada: a de um melancólico sobre a
modernidade. Ora, se o melancólico é aquele que não consegue se desprender do
passado, e se a modernidade, enquanto tempo histórico regido pela cultura
capitalista, é dominada pelo valor do sempre novo e do presenteísmo, então, mais
do que nunca, o melancólico sofre na marginalidade. É esse ser melancólico que
aparece nas crônicas escolhidas. A linha de raciocínio que seguimos é a de Walter
Benjamin (1989, 2012), para quem a melancolia está intrínseca na modernidade,
pois esta desvaloriza a consciência histórica enquanto sabedoria, substituindo-a
por uma ideia de progresso que anda “no interior de um tempo vazio e
homogêneo” (2012, p. 249), causando o sem-sentido. Já para o melancólico o
progresso não existe, porque sua consciência histórica se define em torno de idas
e vindas, tendo a memória como elo. Assim, se por um lado a melancolia pode ser
perigosa, porque causadora de inércia, por outro lado, quando aparece no artista
pode ser o motor propulsor da arte, tornando-a símbolo-ação de resistência à
cultura auto-destruidora moderna. É essa leitura de mundo que aparece nas
crônicas aqui estudadas: os narradores do presente moderno criticam a
centralidade do progresso na vida das pessoas, na transformação da paisagem e
na modificação de valores, em favor de um olhar para o passado, em busca de
sabedoria, e para o futuro, em busca de alguma utopia. Muitas vezes, passado,
presente e futuro se entrelaçam em nome de uma percepção una de tempo, um
exercício que tranquiliza o melancólico, em sua idealidade, e o angustia, na
comparação com a realidade.
PALAVRAS-CHAVE:
moderna.
crônica
literária;
modernidade
históric;
literatura
Larissa Silva Freire Spinelli
TITULO: NO ENTRE ASPAS DAS VANGUARDAS: O INTENSIVISMO
RESUMO: A relação entre as vanguardas latino-americanas e as culturas
populares remete ao jogo das vanguardas do Intensivismo e às poéticas de
Benedito Sant’Ana da Silva Freire e Wlademir Dias Pino. O Intensivismo foi um
movimento que se situou na tensão de forças pela renovação político-literária
durante o Modernismo no Estado de Mato Grosso, Brasil, na segunda metade do
século XX. Ocorreu na cidade de Cuiabá, centro geodésico da América do Sul,
entre 1948 a 1952. A despeito da pouca visibilidade nacional e adeptos, foi
propulsor da Poesia Concreta (1956) e de outros movimentos de vanguarda,
desaguando, posteriormente, na eclosão do Poema//Processo (1967). Composto
por um grupo de jovens intelectuais, em sua maioria poetas, que lançaram suas
produções em uma sequência de periódicos em formato de revistas e jornais
(Arauto de Juvenília, Sacy, Sarã e Ganga). Dentre os poetas de maior expressão
deste movimento estão: Dias Pino e Silva Freire. O “Manifesto” conceituado por
Dias Pino e publicado no jornal Sarã, n. 04, em 22 de julho de 1951, assim o
apresenta: “O Intensivismo é, certo, um simbolismo duplo. Além da imagem está
outro significado poético” (DIAS PINO 1982). Uma definição desconfiada que se
encontra entre aspas, mas que pode perdê-las conforme sua repetição está a nos
dizer por meio de princípios antropofágicos e de estratégias de guerrilha que a
leitura é mais importante do que a inscrição. A leitura intensivista convoca o
regional na forma sem ser folclore, trabalha com a sinuosidade, a cultura
cuiabana e as regras da natureza. No caso da obra freireana, Leite (2009) afirma
que se transforma em um quase culto das manifestações populares e das
tradições, sem abrir mão da experimentação, e realização, com a linguagem e suas
potencialidades.
PALAVRAS-CHAVE: Vanguarda; Literatura; Intensivismo.
Laura Taddei Brandini
TITULO: A CHINA OS OLHOS DE ROLAND BARTHES
RESUMO: Em 1974 Roland Barthes, François Wahl, Philippe Sollers, Julia
Kristeva e Marcelin Pleynet passam um mês na China de Mao Tsé-Tung. O “grupo
de Tel Quel”, como era visto, visita fábricas, escolas, museus, monumentos
históricos, vai ao cinema e ao teatro: tudo perfeitamente organizado pela Agência
Luxingshe, que também providencia dois guias e tradutores para acompanhar os
visitantes. Tendo por fio condutor os Cadernos da viagem à China ([1974] 2009)
e o artigo “Alors, la Chine?” (1974) de Barthes, procurarei identificar, descrever e
interpretar a presença do estrangeiro chinês aos olhos do escritor francês, por
meio de suas formulações espacial e linguística, bem como das descrições dos
chineses nos textos analisados. O ponto de vista de Barthes será contraposto aos
de seus colegas de viagem, que também reportaram suas impressões uma vez de
volta à França. Kristeva escreveu Des Chinoises em 1974, Pleynet, Le Voyage en
Chine. Chroniques du journal ordinaire 11 avril – 3 mai 1974, lançado em 1980 e
Sollers e Wahl publicaram vários artigos em que expressam suas opiniões sobre
o país. Como a China é apreendida pela trama textual das narrativas de viagem e
pelo discurso dos artigos dos membros do grupo? Quais aspectos convergem e
quais divergem nesses múltiplos olhares sobre o mesmo objeto, o estrangeiro,
particularmente, chinês?
PALAVRAS-CHAVE: Estrangeiro; Literatura Comparada; Roland Barthes.
Leila Cristina de Melo Darin
TITULO: KATHERINE MANSFIELD NA VOZ DE ANA CRISTINA CESAR:
PROCEDIMENTOS ANTROPOFÁGICOS
RESUMO: O estudo da íntima relação entre escrita e reescrita literária comprovada pela prática da tradução de escritores e poetas-, incita e propicia o
exame dos procedimentos pelos quais o tradutor se apropria, via processo de
transcriação e recriação (HAROLDO DE CAMPOS, 1977), dos recursos estéticos
do texto de partida e os transforma crítica e criativamente, inserindo o novo texto
no sistema literário da língua-cultura de chegada, no interior do qual estabelecerá
relações e tensões. Para discutir as estratégias de devoração do outro empregadas
pela prática da tradução literária, propomos analisar a tradução para o português
do conto “Bliss” (1918), da escritora neozelandesa Katherine Mansfield, realizada
pela poeta brasileira Ana Cristina Cesar. O percurso tradutório de “Bliss” a
“Êxtase” (1981) foi objeto de sua dissertação de Mestrado em Teoria e Prática de
Tradução Literária (Universidade de Essex, Inglaterra, 1981). A publicação
póstuma de sua tradução comentada (Escritos da Inglaterra, 1988), que consiste
em 80 notas sobre o trabalho de recriação, oferece um rico material para a
percepção das transformações operadas pela tradutora, cujo discurso revela uma
posição autoral, guiada pela interpretação subjetiva do conto e por princípios
tradutórios afins com as concepções de tradução literária de Manuel Bandeira e
dos irmãos Campos.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução literária; Bliss; Êxtase.
Leila Cristina de Melo Leila Darin
TITULO: KATHERINE MANSFIELD NA VOZ DE ANA CRISTINA CESAR:
PROCEDIMENTOS ANTROPOFÁGICOS
RESUMO: O estudo da íntima relação entre escrita e reescrita literária comprovada pela prática da tradução de escritores e poetas-, incita e propicia o
exame dos procedimentos pelos quais o tradutor se apropria, via processo de
transcriação e recriação (HAROLDO DE CAMPOS, 1977), dos recursos estéticos
do texto de partida e os transforma crítica e criativamente, inserindo o novo texto
no sistema literário da língua-cultura de chegada, no interior do qual estabelecerá
relações e tensões. Para discutir as estratégias de devoração do outro empregadas
pela prática da tradução literária, propomos analisar a tradução para o português
do conto “Bliss” (1918), da escritora neozelandesa Katherine Mansfield, realizada
pela poeta brasileira Ana Cristina Cesar. O percurso tradutório de “Bliss” a
“Êxtase” (1981) foi objeto de sua dissertação de Mestrado em Teoria e Prática de
Tradução Literária (Universidade de Essex, Inglaterra, 1981). A publicação
póstuma de sua tradução comentada (Escritos da Inglaterra, 1988), que consiste
em 80 notas sobre o trabalho de recriação, oferece um rico material para a
percepção das transformações operadas pela tradutora, cujo discurso revela uma
posição autoral, guiada pela interpretação subjetiva do conto e por princípios
tradutórios afins com as concepções de tradução literária de Manuel Bandeira e
dos irmãos Campos.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Antropofagia; Ana Cristina César.
Leila Cunha Raposo
Luciana Helena Cajas Mazzutti
TITULO: O FILHO DE MIL HOMENS E ALGUNS RASTROS DA HOMOFOBIA
RESUMO: Em O filho de mil homens, publicado em 2011, do escritor português
Valter Hugo Mãe, há a representação de uma personagem homossexual –
Antonino – em meio a uma sociedade interiorana e tradicional. Em sua trajetória,
o rapaz sofre desesperadamente em razão da incompreensão social e familiar das
quais é vítima. Interessa-nos analisar o modo como essa personagem é
representada, em sua condição sexual, a fim de observarmos o que se pode
compreender sobre o comportamento dos múltiplos sujeitos que compõem a
pequena vila portuguesa em que mora. O presente estudo, eminentemente
bibliográfico, fundamenta-se em Michel Foucault (1984; 2004), José Luis
Foureaux de Souza Júnior (2007), Antonio de Pádua Dias da Silva (2011), João
Silvério Trevisan (2011) e Fabrício Longo (2014). Como resultados mais
relevantes, afirma-se a possibilidade de perceber nos textos formas múltiplas de
violência, tanto no que dizem respeito ao sentimento de inadequação que
acompanha Antonino quanto ao modo homofóbico da maioria dos moradores do
espaço representado no interior do romance.
PALAVRAS-CHAVE: Homocultura; Homossexualidade; Literatura Portugues.
Lenita Maria Rimoli Esteves
TITULO: ANTOLOGIAS DE LITERATURA BRASILEIRA EM INGLÊS - UM
OLHAR PANORÂMICO
RESUMO: O trabalho pretende fazer uma primeira abordagem de várias
antologias de literatura brasileira em língua inglesa, desde a primeira, publicada
em 1922, por Isaac Goldberg, passando pela antologia organizada por Érico
Veríssimo (1945), por "Marvellous Journey" de Samuel Putnam (1948), por uma
coleção de prosa lançada na época da ditadura militar. Além das já citadas, serão
apresentadas também antologias de editoras universitárias, como a "Brazilian
Literature", edição em três volumes publicada pela Georgetown University Press
e organizada por Claude Hulet (1974) e a "Oxford Anthology of the Brazilian Short
Story", organizada por k. David Jackson e publicada pela Oxford University Press
em 2006. Não sendo exatamente uma antologia, e sendo de difícil classificação,
o "Babel Guide to Brazilian Fiction", organizado por David Treece e Ray Keenoy
(1994/2001) faz uma boa divulgação de nossa literatura com algumas resenhas e
excertos das obras, além de uma lista completa de todas as obras publicadas entre
1865 e 2000. Essas obras são um retrato da época em que foram lançadas, e
podem iluminar vários aspectos da divulgação da literatura brasileira no mundo
de língua inglesa, como quais foram as obras escolhidas, quais os gêneros
preferidos e quais autores foram mais populares em cada época.
PALAVRAS-CHAVE: Tradução literária; Literatura traduzida; Literatura
Brasileir.
Leny da Silva Gomes
TITULO: O UNICÓRNIO NAS TEIAS DA LINGUAGEM HERMÉTICA
RESUMO: Segundo Hans Sedlmayr, em A revolução da arte moderna (s/d), livro
anotado por Osman Lins, a arte do início do século XX, em sua busca da pureza,
eliminou a inter-relação das várias formas de expressão. Assim, foram eliminados
na arquitetura os elementos pictóricos e escultóricos; na pintura os escultóricos
e tectônicos. Osman Lins encaminhou-se na contramão de uma “arte pura”,
fazendo do espaço verbal literário uma teia de relações em que real e imaginário
se misturam, tempos e espaços se confundem em mútuas penetrações. Seguindo
uma tradição milenar, associada a Hermes psicopompo, a linguagem denotativa
da realidade concreta converte-se em linguagem hermética, sujeita a analogias, a
hermenêuticas instauradoras de mediações entre o eterno e o temporal. Em
Ubonius e o Unicórnio, publicado na Revista Colóquio/Letras (1972), objeto desta
comunicação, interpenetram-se os dados do processo de busca da solução ao
problema imposto pelo senhor ao escravo, com o espaço e o tempo da ordem
psicossocial e os “anseios místicos de Ubonius”. A mobilidade da linguagem
repercute no trânsito do conto ao romance Avalovara, tema S – A Espiral e o
Quadrado. Fragmentado e acrescido de substantiva reflexão metaliterária,
Ubonius e o Unicórnio instala o Unicórnio nas páginas do romance. Referências
LINS, Osman. Avalovara. Apres. Antonio Candido. 2. ed. São Paulo:
Melhoramentos, l974. ____. Ubonius e o Unicórnio. In: Colóquio/Letras.
Portugal: Fund. Calouste Gulbenkian. n. 6, mar. 1972, p. 46-51. JOSSUA, JeanPierre. La Licorne: images d’un couple. 2. ed. Paris: Ed. du Cerf, 1994.
SEDLMAYR, Hans. A revolução da arte moderna. Trad. Mário Henrique Leiria.
Lisboa: Livros do Brasil, s/d.
PALAVRAS-CHAVE: Unicórnio; Ubonius; Avalovara.
Leomir Silva de Carvalho
TITULO: A LINGUAGEM LITERÁRIA E TENSÃO CRÍTICA EM JOÃO
GUIMARÃES ROSA
RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo analisar o conflito entre
inovação literária e tradição em textos críticos de Wilson Martins sobre João
Guimarães Rosa. Martins atuou como crítico literário e escreveu os sete volumes
referentes à série História da inteligência brasileira. Nos artigos intitulados
“Radiografia de Sagarana” (1979) e “Um novo Valdomiro Silveira” (1991), Martins
mostra-se reservado quanto ao valor do autor mineiro, revelando estranheza em
relação à sua linguagem considerada entre os regionalistas apenas uma expressão
menor do pitoresco. Toma-se o conceito de quebra de horizonte de expectativa
estabelecido por Hans-Robert Jauss, em A história da literatura como provocação
à teoria literária (1994) e no ensaio posterior “A estética da recepção: colocações
gerais” (1979), para analisar como as propostas estéticas de Guimarães Rosa
interferem na tradição. Os textos em que o autor mineiro comenta sua prática
literária são: 1. O prefácio “Pequena palavra” (1957); 2. A entrevista que
Guimarães Rosa concedeu ao jornalista alemão Günter Lorenz (1973); 3. E o
prefácio “Hipotrélico”, de Tutaméia (1967). Neles o neologismo é compreendido
em sua perspectiva estética com ênfase na quebra da regularidade do idioma, o
que acontece por meio do uso de mecanismos de dentro e de fora da língua do
falante e por meio do estímulo à prática das habilidades criativas de seleção e
elaboração. Sob esse ponto de vista, as palavras tornam-se capazes de transmitir
emoção não só pelo seu significado, mas pela maneira inesperada como se
apresentam. Para Guimarães Rosa a palavra deve ser explorada em seu potencial
criativo responsável por aprofundar a percepção de sua materialidade sonora,
visual e de composição. Assim, nos textos escritos pelo próprio autor constata-se
que a língua é concebida como jogo e como expressividade, capaz de exceder o
aspecto estritamente linguístico e modificar a experiência cotidiana, provocando
o indivíduo a ampliar seu horizonte.
PALAVRAS-CHAVE: Linguagem literária; Tradição; João Guimarães Rosa.
Leonardo Augusto Bora
TITULO: CARNE DE CARNAVAL: REPRESENTAÇÕES DE O GUARANI EM
"GOITACAZES... TUPI OR NOT TUPI, IN A SOUTH AMERICAN WAY!"
RESUMO: O trabalho, expansão do capítulo "Peri beijou Ceci ao som d’O
Guarani..." da dissertação "A Antropofagia de Rosa Magalhães", defendida em
2014, na Faculdade de Letras da UFRJ, investiga diferentes discursos e símbolos
observáveis na fragmentada narrativa do enredo "Goitacazes... Tupi or not Tupi,
in a South American Way!", escrito e visualmente desenvolvido por Rosa
Magalhães para o desfile da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, no
carnaval de 2002. O tema da apresentação, a antropofagia, é trabalhado a partir
do diálogo interartes com a literatura, a música, o cinema, o teatro e as artes
plásticas, dos viajantes que primeiro descreveram o canibalismo ao Manifesto de
Oswald de Andrade e aos desdobramentos neoantropofágicos (as canções
tropicalistas, o Cinema Novo). Aqui, deixa-se de lado a representação do texto
seminal da Antropofagia de 28 para que seja enfocado o enredo (e a tradução –
ou transcrição - visual deste enredo no enredo da agremiação) do romance O
Guarani, de José de Alencar. Um dos pilares do romantismo indianista brasileiro,
o texto alencariano deu origem a um setor marcado pelo hibridismo, entre a
pompa do universo operístico italiano (onde o romance virou libreto) e as feras
selvagens brasileiras - em específico, a onça-pintada, símbolo antropofágico nas
narrativas de matriz indígena, conforme as pesquisas de Maria Cândida Ferreira
de Almeida, Eduardo Viveiros de Castro (no caso dos Araweté) e Aparecida Vilaça
(no caso dos Wari). A interpretação plástica dada pela artista aos capítulos de
Alencar (nos quais a antropofagia ou é tratada de maneira velada ou abertamente
vilanizada – contraponto às notas de Ubirajara, onde se pode apreciar um certo
relativismo: a comparação com a comunhão católica) é o centro desta reflexão
que, necessariamente, dialoga com a antropologia e a filosofia da arte,
exercitando o “olhar dialético” de Didi-Huberman e a “crítica criativa” de
Eduardo Prado Coelho.
PALAVRAS-CHAVE: Carnaval; Antropofagia; Hibridismo.
Leonardo Munk
TITULO: DE CORPOS E COISAS: FISSURAS ENTRE OS NOVOS ESPAÇOS E AS
DINÂMICAS DO OLHAR
RESUMO: Poder-se-ia, inicialmente, ver a ausência da figuração em detrimento
da presença da figura como uma recusa de retratar aquilo que não pode ser
retratado. Essa impossibilidade de dizer [de representar], esse enriquecimento
do silêncio, no dizer do ensaísta Alberto Manguel, é um fenômeno inerente ao
século XX. Esse abandono da linguagem abriria espaço ao absurdo da existência
humana, que, no período do pós-guerra, foi ilustrado de modo pungente pelos
campos de concentração. Não foi casual, portanto, a recusa em admitir a
apreensão da barbárie pela língua. Tal foi o caso já sobejamente citado de
Theodor Adorno e, posteriormente, sua aceitação da permanência da arte
possibilitada pelo desafio à interpretação de Paul Celan e Samuel Beckett. A
crítica à impossibilidade de representação dos campos efetuada por Jacques
Rancière em texto recente já havia, de certo modo, sido levada a cabo pelo próprio
Adorno. No caso da artista colombiana Doris Salcedo, no entanto, bem como no
trabalho tardio de Beckett, da década de 1980, e de outros artistas [Miroslaw
Balka, Anselm Kiefer, Peter Eisenman], o recurso à tensão entre matéria e
ausência se revela menos como um meio de interdição da representação, e mais
como a aceitação de uma estratégia para a apreensão sensível daquilo que está
para além de um claro entendimento. Como observa Anne Cauquelin, “a arte é
um lugar onde se manifesta uma exigência de “imaterialidade”, ao mesmo tempo
que uma exigência de corporalidade”. Essa presentificação de um vácuo de
entendimento deixa falar os objetos, cujo papel, segundo Beckett, reside no
resgate do silêncio [e do invisível].
PALAVRAS-CHAVE: Representação; Interpretação; Corporalidade.
Leonardo Nahoum Pache de Faria
TITULO: O CASO DO REI DA CASA PRETA, DE GANYMÉDES JOSÉ SANTOS
DE OLIVEIRA: BREVE ANÁLISE DE UM LIVRO INFANTIL
AUTOCENSURADO POR SUA EDITORA DURANTE A DITADURA MILITAR
RESUMO: A série de mistério "A Inspetora", de Ganymédes José (1974-1988,
Ediouro), teve 38 títulos publicados e um mantido inédito. As histórias
infantojuvenis da Patota da Coruja de Papelão giravam em torno de casos
envolvendo ladrões, contrabandistas e todo tipo de injustiça. Ao se examinar as
primeiras prensagens da série, encontra-se menção ao título O Caso do Rei da
Casa Preta (e “casa” aqui, embora se refira ao tabuleiro de xadrez, reveste-se de
certa ambiguidade que implica “Casas Reais” e facções de poder). Ainda que
planejado como quinto da série, o livro nunca foi editado… A coleção foi corrigida
e menções ao Rei da Casa Preta desapareceram completamente; por 40 anos, seu
texto permaneceu silenciado. A recuperação do livro nos arquivos da editora
revelou uma história onírica com elementos de Alice no País das Maravilhas e A
Fantástica Fábrica de Chocolate: uma das crianças investigadoras, Bortolina,
após abusar dos ingredientes que usava ao preparar bombons de licor, cai no sono
e passa por fantástica aventura envolvendo peças gigantes de xadrez feitas de
chocolate que lutam pelo controle da fazenda onde mora a Patota. A história
possui inúmeras alusões a lutas pelo poder, prisões arbitrárias, pessoas
desaparecidas e até mesmo tortura, o que reforça a hipótese de que essa foi a
razão para o livro ter sido cancelado pela Ediouro. Embora a censura no Brasil
tenha se ocupado mais com revistas, jornais e outros veículos de massa, mesmo
quando proibiu livros ela não chegou a tocar nos infantojuvenis – nesse universo,
a repressão era muito mais autoinfligida, com autores e editores evitavam temas
potencialmente perigosos que pudessem afrontar o regime militar. Acreditamos
ser essa a primeira evidência documentada acerca dos efeitos da atmosfera
política brasileira nos anos 70 sobre a circulação não só de livros, mas de ideias,
no âmbito da literatura infantojuvenil.
PALAVRAS-CHAVE: Ganymédes José; Literatura infantil; Autocensura.
Lilian Barbosa
TITULO: REINALDO ARENAS, PROSADOR DA MARAVILHA
RESUMO: Baseado em nossos estudos e por meio da leitura crítica de teóricos da
literatura fantástica, pretendemos ler os romances O reino alucinante e Celestino
antes do amanhecer do escritor cubano Reinaldo Arenas para incorporá-lo ao rol
de escritores desta verve e apontar seus distanciamentos, que o aproximam ao
modo de escrita do realismo maravilhoso surgido nos limites do território latino
americano.
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Realismo Maravilhoso; Insólito.
Liliane Machado
TITULO: FORMANDO LEITORES LITERÁRIOS: ROMANCE POLICIAL
CONTEMPORÂNEO NA SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO
RESUMO: Esta comunicação apresenta o relato da sequencia didática de uma
experiência bem sucedida para a formação de leitores literários críticos, a partir
do trabalho com o romance de suspense “Dias perfeitos” (Cia das Letras, 2012),
do escritor Raphael Montes. Nascido da necessidade de se encontrarem soluções
para tornar atrativa – e efetiva - a leitura de livros de narrativa de ficção propostos
pela escola, o projeto buscou aliar-se à literatura contemporânea, produzida por
um jovem escritor, já de projeção nacional e internacional. O trabalho pedagógico
incluiu 240 alunos de classe média-alta, que cursavam a 2ª série do Ensino
Médio, em um colégio privado, tradicional e renomado, da cidade do Rio de
Janeiro. Resistentes, em sua maioria, às propostas de leitura escolarizada, e
usuários contumazes das estratégias substitutivas da experiência literária - tais
como a consulta aos resumos e análises de livros disponíveis na Internet – esses
alunos trocaram a indiferença ou o mau julgamento do que seria “literatura”, pela
dedicação, durante dois meses a atividades de leitura, debates, encontros com o
autor do romance e produção de fanfictions. Dentre as estratégias utilizadas para
a sedução dos alunos, além de uma íntima parceria com o autor, lançou-se mão
das redes sociais, normalmente concorrentes desleais da criação do hábito da
leitura literária. Sem a utilização de avaliações quantitativas (provas, testes ou
trabalhos), que atribuíssem nota, como forma compensatória pela aquisição do
conhecimento acadêmico, os alunos leram pelo prazer da recepção literária. Ao
final do processo pedagógico, os alunos passaram a se considerar melhores
leitores, compreendendo a literatura como uma manifestação artístico-cultural
de seu tempo e fazendo de sua fruição um hábito constante e consciente, além de,
muitos deles, constituírem-se como produtores de seus próprios textos ficcionais.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino; Literatura; Leitura.
Lisa Carvalho Vasconcellos
TITULO: SOBRE VÍTIMAS E VITIMIZADOS: PARADOXOS DA LITERATURA
PRISIONAL PORTUGUESA
RESUMO: Os temas da violência e da vítima é um dos mais urgentes no âmbito
do pensamento contemporâneo. A vítima é o herói de nosso tempo, diz Giglioli.
Mas se inúmeros concordam que a vítima é um ser inatacável, com o qual
naturalmente nos identificamos, ela também é um ser silente. Spivak nos lembra
a impossibilidade da fala dos verdadeiramente subalternos, dos que estão numa
situação de vitimização extrema. Primo Levi ressalta que é dever da testemunha
falar pelas verdadeiras vítimas, que se caracterizam justamente pela
impossibilidade de falarem por si mesmas. No Brasil, Márcio Seligmann-Silva e
no exterior Jean Améry ressaltam, a partir de diferentes pressupostos, as
dificuldades e os limites da transmissão do saber das vítimas. Na cultura
portuguesa, como também na brasileira, a questão da vítima se torna ainda mais
pungente quando o contexto é o da violência de Estado. A invisibilidade dos
oprimidos e a dificuldade de reconhece-los promove a manutenção de sua
condição oprimida. Tanto em Portugal com no Brasil uma instituição promoveu
o ocultamento das vítimas de encarceramento e violência de estado: as IlhasPrisão, instituições carcerárias isoladas, mantidas fora do continente, onde
vigorava o estado de exceção. Ilha Grande, Fernando de Noronha, Tarrafal ou
Angra do Heroísmo são algumas delas. Mas se essas prisões procuravam fugir do
olhar público para instituir práticas repressivas extremas, elas também tinham,
paradoxalmente, o intuito de se apresentarem como modelo punitivo. Alçadas a
um lugar de exemplaridade, essas ilhas procuravam instituir o medo e o terror na
população civil justamente através de seu caráter de violência modelar. É
justamente desse ambíguo lugar de fala, onde o apagamento convive com a total
visibilidade, que surgem as obras de autores como António Jacinto e Luandino
Vieira, ex-encarcerados e objetos deste trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: vítima; literatura cárcere; Tarrafal.
Livia Grotto
TITULO: FIGURAÇÕES DO ESCRITOR-TRADUTOR
RESUMO: Este trabalho busca apresentar um projeto de pós-doutorado
submetido à FAPESP em março de 2015. Seu objetivo é explorar os metadiscursos
sobre tradução produzidos por escritores hispano-americanos que também
atuaram como tradutores: Alfonso Reyes, Jorge Luis Borges, Octavio Paz, Juan
Villoro e Fabio Morábito. Todos eles escreveram ensaios sobre a tradução
literária nos quais, direta ou indiretamente, requerem para si a figura do tradutor.
Borges e Morábito, além disso, elaboraram contos nos quais os tradutores são
personagens principais. Entre os questionamentos que pautam esta pesquisa
podem-se incluir: quais são e como se desenvolvem as relações entre escrita
criativa e tradução? A emergência do metadiscurso sobre tradução é
consubstancial ao apagamento dos limites de gênero literário na modernidade?
Existem modelos que inspiram a escrita a respeito da tradução em cada um dos
autores ou que ajudam a compor as figurações de si como escritor-tradutor? Em
que medida os topoi que aparecem nas discussões sobre tradução são retomados,
assinalando continuidades e descontinuidades em relação à tradição? Essas
questões ancoram-se, sobretudo, na evolução do valor atribuído à figura do
tradutor, que tem passado, nos últimos tempos, da invisibilidade ao
protagonismo de romances e contos, tornando-se, igualmente, o tema principal
de ensaios.
PALAVRAS-CHAVE: Teorias da tradução; Ensaios; Hispano-América
Livia Laene Oliveira Drummond
TITULO: GEORGES BATAILLE: POR UMA LITERATURA INFORME
RESUMO: O escritor francês Georges Bataille (1897 – 1962) adentrou no mundo
das letras com a publicação da polêmica novela História do olho em 1928,
assinada pelo pseudônimo Lord Auch. Próximo dos grupos artísticos de
vanguarda do início do século XX, especialmente do movimento surrealista, não
cessou de confrontar a literatura modernista francesa. Por se tratar de um escritor
que exercita suas reflexões em diversas modalidades de discursos é quase
impossível enquadrá-lo em uma única categoria. Sua produção teórica e literária
fragmentárias, articuladas em uma operação de tráfico de conceitos, abre
perspectivas para a análise da própria produção da escrita contemporânea. Uma
escrita inclassificável no qual temas (tais quais interdito, transgressão, erotismo
e morte) giram em torno de si mesmo, repetindo-se e desdobrando-se,
infinitamente, praticando, como lhe é peculiar, um vertiginoso e fragmentário
exercício estilístico. Exemplos das experimentações literárias bataillianas se
multiplicam. Dessa forma, encontraremos textos cujas reflexões filosóficas são
assaltadas por devaneios poéticos, por críticas literárias e por reflexões sobre o
ato de escrever (cf. Le coupable); ou ainda textos cuja intrigante prosa poética é
atravessada por súbitas reflexões filosóficas (cf. Madame Edwarda). Sua escrita
funcionaria como uma bomba que implode os conceitos evocados, seja o de obra,
seja o de sujeito, seja o de escrita, colocando-os a nu e evidenciando os seus “non-
sens”. Para Bataille, a experiência da escrita deve tensionar os limites da
linguagem no próprio gesto da escrita que aí se produz enquanto gagueira,
operando uma fissura na concepção da escrita literária. As reflexão sobre os
conceitos supracitados estão presente em grande parte da produção literária
batailliana, no entanto, interessa-nos, nesse trabalho, percorrer as obras
L’impossible (1962), Madame Edwarda (1941) e Le coupable (1944) observando
como esses escritos colocam a literatura em crise e jogam com noções caras aos
estudos literários.
PALAVRAS-CHAVE: Escrita Moderna; obra; Autoria.
Livia Santos de Souza
TITULO: A LITERATURA DO CARIBE HISPÂNICO NOS EUA: MEMÓRIA E
ENTRE-LUGAR NA OBRA DE JUNOT DIAZ
RESUMO: Dominicano radicado desde a infância nos Estados Unidos, Junot Diaz
é um dos nomes mais representativos da literatura da diáspora dominicana na
contemporaneidade. Seus livros, o volume de contos Drown (1996), o romance
The brief wondrous life of Óscar Wao (A fantástica vida breve de Óscar Wao,
2007) e seu título mais recente, de classificação bastante difícil, This is how you
lose her (É assim que você a perde, 2012) constroem um rico retrato da
experiência da migração transnacional e das complexas configurações
identitárias por ela propiciadas. No presente trabalho, pretende-se refletir sobre
a representação dessa experiência nas narrativas de Diaz para dessa forma tentar
identificar o papel desempenhado pela memória, em especial por suas
manifestações vicárias e mediadas, na elaboração do imaginário identitário do
entre-lugar dominicano-americano. Para tanto, serão explorados os conceitos de
migração transnacional, na perspectiva trabalhada pelo intelectual uruguaio
Abril Trigo (2003), as reflexões sobre memória e memória vicária elaboradas por
Beatriz Sarlo em Tempo passado (2007), e as considerações sobre as literaturas
elaboradas em contextos de migrância de Eurídice Figueiredo (2010).
PALAVRAS-CHAVE:
interamericanismo.
literatura
migrante;
narrativa
caribenha;
Lourdes Nazaré Sousa Ferreira
TITULO: ÓRFÃOS DO ELDORADO: TRAÇOS DO ROMANCE MODERNO EM
ANÁLISE
RESUMO: RESUMO: O estudo busca tecer algumas reflexões, a respeito da
escritura moderna e do herói problemático na perspectiva de representação nos
entrelaces observados na obra Órfãos do Eldorado (2008) de Milton Hatoum,
determinantes para a construção da imagem de uma personagem como Arminto
Cordovil que a sua maneira busca incessantemente lidar com situações limites da
experiência humana. Nesse artigo, priorizar-se-á um diálogo possível entre
algumas vertentes teóricas dos estudos literários, tais como teorias da
modernidade e do romance moderno. A escolha desta novela de Milton Hatoum
deve-se ao enquadramento do herói em fragmentos construído na modernidade,
visto que o subjetivismo do narrador-protagonista é singular, visto que este
promove uma constante tentativa de reconciliação com o mundo e consigo
mesmo, bem como, as semelhanças no que se refere às características do romance
moderno na obra. Para tanto, serão examinados os textos de Roger Chartier
(1990), bem como, da percepção do romance moderno por Anatol Rosenfeld
(1973), Georg Lúkacs (1962), Milan Kundera (2002).
PALAVRAS-CHAVE: Romance; Modernidade; Herói.
Luís Cláudio Ferreira Silva
TITULO: O ROMANCE LÍRICO NA NARRATIVA MODERNA: REFLEXÕES
SOBRE LAVOURA ARCAICA, DE RADUAN NASSAR E LUGAR, DE RENI
ADRIANO
RESUMO: O romance é o gênero burguês por excelência, fruto da modernidade.
Ele é a representação artística do nascimento de um novo herói, rompendo com
a tradição. A sociedade burguesa na modernidade é que sustenta, basicamente, a
formação e ascensão do romance, sobretudo na afirmação do indivíduo face ao
coletivo. Os enredos épicos tradicionais perdem força dentro dessa sociedade,
pois não conseguem representar o indivíduo. Assim sendo, o romance é o modelo
de gênero que mostra fortemente essa mudança de pensamento, do coletivo para
o individual, que vem desde o Renascimento, que foi de extrema importância para
essa reorientação, uma vez que privilegiava o antropocentrismo. Entretanto, com
a velocidade e o turbilhão modernos, já emprestando termos de Bauman (2001),
era impossível que o romance permanecesse um gênero intocado, fixo e acabado.
Evidentemente recebeu influências e se metamorfoseou. Como o romance
apregoa um mundo individual, não é à toa que muitas de suas narrativas
passassem do plano externo para o plano interno, que o mundo mostrado nas
narrativas não fosse apenas o mundo ipsis litteris, objetivo. A subjetividade
auxilia numa construção de mundo pela visão perspectívica. O sujeito agora é
fragmento, perdendo sua unidade. Entendemos que na contemporaneidade a
fragmentação das coisas se intensifica (assim como sua liquefação) e a linguagem
segue esse caminho. Porém, também se acredita que nessa fragmentação,
algumas coisas acabam se reconfigurando justamente na junção com outros
fragmentos. É o que se chama de hibridismo. A própria prosa poderia recorrer a
outras ferramentas, tais como o lírico para sua nova composição. É justamente
na fusão com o lírico que nasce uma nova forma de romance. Para o presente
trabalho, escolhemos Lavoura Arcaica de Raduan Nassar e Lugar de Reni Adriano
para tentar entender o processo de fragmentação e a adoção do lírico no romance
contemporâneo.
PALAVRAS-CHAVE: Romance; Modernidade; Lírico.
Luís Fernando Prado Telles
TITULO: A UNIVERSIDADE: INSTÂNCIA LEGITIMADORA LITERATURA?
RESUMO: Quando se coloca o debate a respeito da relação entre literatura e
ensino, uma das questões que se apresentam em primeiro plano, via de regra, é a
polêmica acerca do cânone literário. Para ter sua existência garantida, a literatura
canônica dependeria, segundo a perspectiva de alguns de seus comentadores e
críticos, daquilo que estes designam como sendo as instâncias de legitimação. Os
atores de tais instâncias frequentemente invocados são os órgãos de imprensa
especializada; intelectuais renomados; associações e academias literárias, bem
como os meios e instrumentos da universidade. Sobre esta última, cabe uma
atenção especial, pois, frequentemente, lança-se mão de um pressuposto de que
o lugar da universidade teria a prerrogativa do “toque de midas canônico”. Em
geral, os argumentos que pressupõem a universidade como uma instância
privilegiada de legitimação do literário e de estabelecimento do cânone se
constituem quase que como uma petição de princípio, sobre a qual não restaria
necessidade comprovação. O pressuposto é tomado de modo bastante genérico e,
portanto, carente de elementos objetivos. O que a presente comunicação pretende
é inserir elementos objetivos que possam municiar a discussão sobre a
universidade como o lugar, por excelência, de instância legitimadora da literatura
e do cânone. Para tanto, são trabalhados dados quantitativos e qualitativos
relativos aos currículos, programas de ensino e produção de pesquisa em nível de
pós-graduação (dissertações de mestrado e teses de doutorado), no campo da
literatura, em duas importantes universidade do Brasil, a Universidade de São
Paulo e a Universidade Estadual de Campinas. Tais dados derivam de uma
pesquisa mais abrangente, desenvolvida inicialmente em nível de pós-doutorado
(USP/FAPESP), cujo projeto inicial procurou investigar o estabelecimento da
literatura como área de ensino e de pesquisa nas universidades brasileiras.
Bibliografia: CAMPOS, Ernesto de Souza. História da Universidade de São Paulo.
São Paulo: Edusp, 2004. CASTILHO, F. O conceito de universidade no projeto da
UNICAMP. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2008. CULLER, Jonathan.
Teoria Literária: uma introdução. São Paulo: Becca, 1999. CUNHA, Luiz Antônio.
A universidade reformada: o golpe de 1964 e a modernização do ensino superior.
São Paulo: Editora da Unesp, 2007. ________ A universidade crítica: O ensino
superior na república populista. São Paulo: Editora da Unesp, 2007.
PALAVRAS-CHAVE: Universidade; Literatura; Cânone.
Luana Barossi
TITULO: DE EMELINA A LUDO: DESTERRITORIALIZAÇÃO DOS
DISPOSITIVOS QUE REGEM A SANIDADE POR PERSONAGENS LITERÁRIAS
FEMININAS EM OBRAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
RESUMO: O conceito deleuzeano de desterritorialização, diretamente
relacionado aos processos de subjetivação propostos por Michel Foucault,
propicia uma discussão interessante à questão da diferença. Desterritorializar-se
pode significar criar linhas de fuga aos dispositivos de poder e controle que ditam
identidades pré-fabricadas socialmente. Tal ação se dá a partir da produção de
afetos alegres (como elaborados na Ética de Spinoza) e do desejo como uma
instância do inconsciente produtivo (como proposto por Deleuze e Guattari). A
partir desta perspectiva, proponho a leitura de algumas obras em Língua
Portuguesa que apresentam personagens femininas que se desterritorializam ou
criam linhas de fuga aos dispositivos que servem como recurso para a redução de
sua potência de ação, ao classificá-las como insanas. Duas dessas personagens
são Emelina, de Ventos do apocalipse (Paulina Chiziane) e Ludo, de Teoria geral
do esquecimento (Agualusa). A primeira recebe de uma parcela significativa dos
críticos o epíteto “a louca”; e a segunda é classificada como agorafóbica pela
perspectiva psicanalítica. Por considerar essas leituras redutoras e formadoras de
novos dispositivos de controle, proponho uma leitura dessas personagens a partir
dos conceitos de processo de subjetivação e desterritorialização, bem como um
diálogo com a força e a natureza dos afetos de Spinoza.
PALAVRAS-CHAVE: desterritorialização; subjetivação; distopia.
Luana Ferreira de Freitas
TITULO: UMA ANÁLISE DO PARATEXTO
ROMANCES MACHADIANOS PARA O INGLÊS
NAS
TRADUÇÕES
DOS
RESUMO: O paratexto, de maneira paradoxal, potencia o alcance do texto sem
fazer parte dele, fazendo a mediação entre texto e público. O paratexto é, dessa
forma, de uma maneira geral, um satélite do texto, tangenciando-o nesta
mediação que faz. Esta mediação apoia o texto na medida em que lhe dá acesso
em maior ou menor grau. Machado estreia em língua estrangeira com a tradução
de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1902, para o espanhol. Em inglês, o
escritor é lançado com os contos “O enfermeiro”, “Viver” e “A cartomante” na
antologia Brazilian Tales, em 1921. O primeiro romance de Machado traduzido
para o inglês foi Memórias póstumas de Brás Cubas [Epitaph of a Small Winner]
de William Grossman, em 1952. Além de Memórias póstumas, Ressurreição, A
mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia, Quincas Borba, Dom Casmurro e Memorial de
Aires foram não apenas traduzidos como retraduzidos para o inglês. Partindo da
análise de notas e prefácios nas traduções dos romances de Machado de Assis
para o inglês, a comunicação que proponho pretende examinar possíveis
variações da inserção do autor na cultura anglo-americana e a autoria dos
tradutores nos paratextos apresentados ao longo dos 63 anos de existência de
Machado em língua inglesa.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; tradutor; paratexto.
Lucas da Cunha Zamberlan
Deivis Jhones Garlet Bonaldo
TITULO: A UTILIZAÇÃO DE SOBRAS CULTURAIS EM ELES ERAM MUITOS
CAVALOS: EXPLORANDO OS LIMITES DO LITERÁRIO
RESUMO: O presente trabalho pretende promover uma reflexão, de natureza
comparatista, sobre a utilização de sobras culturais como elemento estético no
romance Eles eram muitos cavalos (2013), de Luiz Ruffato. Nos sessenta e nove
capítulos da obra, há uma organização de textos variados, como horóscopos,
seção de classificados, listas de vagas de empregos que permite com que o livro
transponha as barreiras do literário e comunique-se com outras artes e mídias.
Para lograrmos êxito na nossa pesquisa, utilizamos uma abordagem
metodológica que principiou pela consideração do autor do texto literário como
um bricoleur, na acepção de Compagnon (2010), que elabora o seu trabalho
lançando mão da colagem, do ajuste de fragmentos e da reformulação de ideias
passadas. Em seguida, recorremos à fortuna crítica acerca da assimilação de
sobras culturais e resíduos da cultura de massa pela literatura, trabalhada
principalmente por Moser (1999), a fim de avaliar de que modo os objetos da
contemporaneidade, marcada pela acumulação e pela saturação, se constitui no
corpo do romance em questão e quais são as origens desse processo no âmbito
das artes. A partir dos elementos trabalhados, avaliamos que Eles eram muitos
cavalos (2013) não só inscreve-se como um romance contemporâneo, no sentido
que Agamben (2009) trabalha o conceito, mas também como um texto de fruição,
que reflete de forma profunda a relação do homem envolvido pelo espaço urbano
e as coisas que o rodeiam. Ruffato ao buscar o limite, encontra a essência da
escritura. REFERÊNCIAS AGAMBEN, Giorgio. O que é contemporâneo? e outros
ensaios. Chapecó: Editora Argos, 2009. BARTHES, Roland. O prazer do texto.
São Paulo: Perspectiva, 1987. COMPAGNON, Antoine; tradução Cleonice P.B.
Mourão. O trabalho da citação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. ECO,
Humberto. História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2010. HOSSNE, Andrea
Saad. Degradação e acumulação: considerações sobre algumas obras de Luiz
Ruffato. In: HARRISON, Marguerite Itamar (org). Uma cidade em camadas.
Vinhedo: Horizonte, 2007. MILK, Janis. Duchamp: A arte como contra-ataque.
Singapura: Paisagem, 2006. MOSER, Walter. Restos e reciclagem: da temática
romanesca à economia da produção. In: BERND, Zilá; CAMPOS, Maria do Carmo
(org.).
Literatura
e
americanidade.
Porto
Alegre:
Editora
da
Universidade/UFRGS, 1995. ________. Spätzeit. In: MIRANDA, Wander Melo
(org). Narrativas da modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. PAZ,
Octavio. Marcel Duchamp: Castelo da pureza. São Paulo: Perspectiva, 1990.
REMAK, Henry. Literatura Comparada: Definição e Função. In: Literatura
Comparada – Textos Fundadores (Orgs. Eduardo Coutinho e Tânia Franco
Carvalhal). Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 175-190. RUFFATO, Luiz. Eles eram
muitos cavalos. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
PALAVRAS-CHAVE: EEMC; sobras culturais; limites do literário
Lucas Oliveira
TITULO: (RE)CRIAÇÃO LITERÁRIA NAS PERIFERIAS DE SÃO PAULO
RESUMO: À medida que as disputas pelos espaços urbanos e seus sentidos
ganham centralidade, tanto mais a paisagem cultural da cidade torna-se objeto e
cenário de interesses diversos. Nesse contexto, as margens, que se manifestam
sócio-espacialmente no fenômeno da periferia, ocupam posição de destaque no
debate, pois redefinem e resignificam os pontos de interseção entre arte e
urbanismo. O objetivo da comunicação é expor resultados de minha pesquisa,
“Experiências estéticas em movimento: a produção literária nas periferias de São
Paulo”, sobre a análise de instâncias de criação, difusão e consumo de bens
literários, os chamados saraus, que há mais de uma década vem ecoando nas
periferias paulistanas e modificando, assim, as dinâmicas artísticas desses
espaços. Esse movimento foi determinante para a expansão da recente literatura
marginal e tem como força propulsora, justamente, experiências culturais no
espaço urbano, a partir das quais algumas comunidades periféricas ressignificam
a cidade através da criação literária. A questão que busco explorar é que, embora
não se enquadrem nas hierarquias simbólicas e nos locais mais tradicionais de
consagração, os saraus parecem exercer, hoje, papel determinante na formação e
projeção de novos escritores oriundos de bairros pobres da capital. Esses novos
atores sociais vêm assumindo cada vez mais dinamicamente um papel central de
mediação em cenários de tensão no espaço urbano, servindo como instrumento
de confronto em que a experiência pessoal atua como base para interpretar a
experiência coletiva. Logo, o próprio fazer artístico desse grupo de escritores
parece ser uma ruptura com o labor cultural de praxe, pois critica e combate o
fato de que a voz do marginalizado sempre esteve intermediada pela voz de outro
– que, ocupando posição privilegiada no espaço público e no campo literário,
apresenta e representa o indivíduo periférico, até então excluído do processo
produtivo de sua autorrepresentação.
PALAVRAS-CHAVE: Produção Literária; Saraus; Periferias.
Luci Ruas Pereira
TITULO: ROMANCE ILUSTRADO: UM ENCONTRO ENTRE AS PALAVRAS DE
TEOLINDA E A PINTURA DE MAIA, NUM TEMPO LIMIAR
RESUMO: Em 2000, publica-se uma edição especial do romance A Árvore das
Palavras (1997), de Teolinda Gersão, ilustrada com maestria pela pintora
moçambicana Celeste Maia. Entre a primeira edição e a publicação especial fazse um intervalo de quatro anos, justamente na virada do século XX para o XXI.
Trata-se, portanto, de um romance de fim-de-século, cuja preocupação
evidentemente memorialística, tem na árvore seu símbolo fundamental. Neste
trabalho, propõe-se uma leitura crítica do romance, buscando estabelecer um
diálogo entre literatura e pintura. Na narrativa de Teolinda Gersão, as palavras
se fazem árvore, mergulhando na cultura popular moçambicana, através das
descrições e da ação de personagens locais que contracenam com a jovem
personagem de origem portuguesa que passa a viver no solo africano,
apresentadas no discurso narrativo pelo exercício criativo da memória. As cores
das tintas que pintam as telas de Maia fazem brotar dos signos pictóricos as
matrizes de uma cultura revelada nas danças, nos objetos que refletem a vida
doméstica, no encontro tenso das culturas, a permanência das raízes culturais,
necessárias para garantir a identidade de um país independente, em tempo de
dissolução de fronteiras e de identidades estilhaçadas. “Na escrita há sempre uma
descida ao fundo de nós mesmos. Nada fácil. Mas sem isso nunca entenderemos
os outros nem o mundo” – afirma Teolinda, atenta à ideia de que a memória é
dinâmica e está em permanente construção. Maia interpreta os signos que
compõem a árvore feita de palavras. Aí os discursos se encontram, diferenciados
pelo modo como os olhares incidem sobre a paisagem. Aí também pretendemos
interferir, fazendo cruzarem-se os diferentes olhares, em busca de uma via de
leitura crítica que ponha em evidência o lugar onde esses discursos se
(des)encontram.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Diálogo Interartes; Pintura.
Lucia Fatima Fernandes Nobre
TITULO: A DOR DE SI E A DOR DO OUTRO: UMA REFLEXÃO NO ROMANCE
ATONEMENT, DE IAN MCEWAN
RESUMO: O romance Atonement (2001), do escritor inglês Ian McEwan,
contextualiza sua narrativa na Segunda Guerra Mundial, precisamente no
episódio da retirada de Dunquerque, ocorrido em 1940. O romance, regido por
uma estética metaficcional, retrata as inquietações humanas face à crise
circunstancial, à violência e à morte, o que resulta tanto no conhecimento, quanto
no encontro com o outro. Com a finalidade de investigar o confronto entre a dor
de si e a dor do outro, destacamos, como recorte, uma passagem extraída da Parte
3 do romance, onde a protagonista, exposta às atrocidades da guerra, vê-se face a
face com a morte. A relevância da passagem em foco dá-se pelo momento de
epifania vivenciado pela personagem e seus desdobramentos, que resvalam no
nível ideológico da narrativa. Adotaremos uma postura eclética quanto à
fundamentação teórica, principalmente no que diz respeito ao o eixo temático
proposto, e daremos ênfase aos pressupostos apontados por Linda Hutcheon no
que concerne às teorias da metaficção.
PALAVRAS-CHAVE: dor; alteridade; Atonement.
Lucia Granja
TITULO: RUBRICAS E ESPAÇOS NOS JORNAIS DO XIX: A CRÔNICA
RESUMO: O crescimento em importância e a circulação cada vez maior da
imprensa no século XIX teve como consequência a instauração de algumas
práticas derivadas da circulação de ideias e das trocas materiais e simbólicas.
Assim, um gênero jornalístico desenvolvido na França passou, no Brasil, a ocupar
a imaginação e atenção de escritores-jornalistas e leitores, de modo a se tornar
cada vez mais presente nos jornais, cada vez mais frequente como produção dos
escritores, cada vez mais literário. Nessa esteira, este texto aprofundará uma
discussão que vimos fazendo com o objetivo de melhor conhecer o
desenvolvimento do gênero “crônica” no Brasil. Para isso, propomos um estudo
de alguns impressos impressos no XIX, especificamente dos jornais, dando
destaque ao papel que o bas de page/rodapé tiveram nesse processo. Esses
espaços determinaram rubricas e serão aqui analisados, justamente, como locus
de publicação dos textos, tanto em suas matrizes textuais quanto naquilo que diz
respeito ao à configuração plástica da página no rodapé. Acompanhando
sistematicamente a configuração desse espaço no Jornal do Commercio, no
século XIX, principalmente em sua primeira metade, discutiremos como a
flexibilidade do bas de page/rodapé, onde era possível a coexistência de textos de
natureza diferente (críticos, ficcionais, de variedades) é constituinte da crônica
brasileira, em suas especificidades.
PALAVRAS-CHAVE: Crônica; Literatura/ Imprensa; Jornalismo Literário.
Lucia Maria Moutinho Ribeiro
TITULO: ANTÔNIO NOBRE: UMA RELEITURA
RESUMO: Antônio Nobre: uma releitura Lucia Maria Moutinho Ribeiro
Detenhamo-nos na poesia memorialística do poeta português do século XIX
Antônio Nobre, registrada no Só, segundo o próprio autor (1976, p. 10), "o livro
mais triste que há em Portugal". Publicado em Paris pelo editor Léon Vanier (o
mesmo dos simbolistas franceses Verlaine, Rimbaud e Mallarmé), foi escrito sob
o signo da memória, da morte e do desalento, embora a doença que vitimou o
poeta tenha sido diagnosticada três anos depois do lançamento em 1892. Por isso,
podemos classificar essa produção finissecular e simbolista como neorromântica
e autobiográfica também, porque, narcisista, relata passos da vida coincidentes
com a biografia de Guilherme de Castilho: desde o escavar do passado, traduzido
em inúmeras imagens ao longo dos poemas, como “Moreno coveiro, tocando
viola,/ A rir e a cantar!/ Empresta bom homem, a tua sachola,/ Eu quero cavar”
(António, 1976, p. 13 – [todas as citações ao Só serão extraídas desta edição e
doravante referidas pelo título do poema e número de página]) , e da infância, até
a menção ao nome "António" pelo eu-lírico; as pessoas com quem convivera,
todas nomeadas em poesia – os pais, a avó, a babá Carlota, os amigos Manuel e
George, a noiva Purinha, a namorada inglesa Miss Charlotte que lhe deu o apelido
de "Anto" e que ele incorporou à sua poética ; os lugares que percorreu – a praia
de Leça-a-Palmeira, a Universidade de Coimbra que o reprovou duas vezes e o
levou a concluir o curso em Paris, os Estados Unidos; as preferências literárias,
sobretudo Garrett e Shakespeare: “Mas uma coisa que lhe faz ainda pior,/ que o
faz saltar e lhe enche a testa de suor/ É um grande livro que ele traz sempre
consigo,/ E nunca o larga: diz que é o seu melhor amigo,/ E lê, lê, chama-me:
“Carlota, anda a ouvir!”/ Mas ... nada oiço. Diz que é o Sr. Shakespeare” (Males
de Anto, p. 209). O jeito dândi de ser, as viagens (mencionadas com local e data
no fim dos poemas) e as figuras populares de pescadores e romeiros ... e do
assaltante Zé do Telhado, entre outras referências, não escapam a esse enumerar
do fluxo da consciência, vazado em verso, rima e métrica, tão diluídos que o
aproximam da estética modernista, de modo que o próprio Manuel Bandeira lhe
dedicou um texto, revelando Antônio Nobre como fonte de inspiração do seu A
cinza das horas de 1917. Abordemos os poemas nobrianos “Os sinos” (pp. 85-88)e
“Os cavaleiros” (PP. 121-124), que evocam respectivamente o paralelismo
medieval galego-português e o romanceiro ibérico. Se dialogamos com a tradição
literária, convém lembrar os preceitos definidos pela renomada filóloga italiana e
professora de língua portuguesa e de literaturas de língua portuguesa, Luciana
Stegagno Picchio (1920-2008), no ensaio "Teoria, questões de método: o método
filológico (comportamentos críticos e atitude filológica na interpretação de textos
literários)", da obra A lição do texto. Filologia e literatura. Idade Média, lançada
em Lisboa, em 1979, pela Editora 70.
PALAVRAS-CHAVE: poesia; nobriana; memória.
Lucia Vieira Sander
TITULO: OUVIR SILÊNCIOS OU O QUE SHAKESPEARE NÃO CONTOU
RESUMO: Como conduzir os estudos de dramaturgia no ambiente acadêmico
atentando para a dupla injunção literária e cênica do teatro tem sido uma
pergunta que venho me fazendo há muitos anos, uma vez que os estudos de
dramaturgia e das artes cênicas têm se realizado separadamente em diferentes
Departamentos de universidades brasileiras (Letras e Artes Cênicas ou Teatro).
Essa esquizofrenia do ensino do teatro tem me motivado a buscar soluções
pedagógicas e a realizar experimentos que possam integrar as duas faces da
experiência teatral. Chamo de “Crítica em Performance” um experimento que
sigo levando à universidades brasileiras e de outros países (Argentina e
Dinamarca) em que, em vez de escrever um ensaio acadêmico convencional sobre
uma peça ou sobre a obra de um/a dramaturgo/a, eu produzo um roteiro a ser
encenado no palco e, assim, crio um espetáculo em vez de uma explicação, um ato
crítico em cena, e convido a uma reflexão sobre o teatro em seu próprio território,
utilizando a sua própria linguagem e todo o elenco dos demais recursos cênicos.
Meu experimento mais recente, que proponho apresentar neste Simpósio e que
leva o título “Ouvir Silêncios ou O que Shakespeare não contou”, se utiliza de
outro formato de análise crítica do texto dramático e se constitui em uma
Palestra/Performance que combina o discurso da escrita crítica acadêmica e sua
posta em cena. Ou seja, a leitura ou exposição da análise crítica do texto
dramático é acompanhada da encenação proposta pelo discurso crítico. Sendo
assim, o teatro é examinado simultaneamente em ambos os domínios, literário e
cênico, que constituem o universo dramático.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Palestra; Performance.
Lucia Wataghin
TITULO: EDIÇÕES BRASILEIRAS DOS DIÁRIOS DE VIAGEM DE EDMONDO
DE AMICIS
RESUMO: Há cerca de quatro anos, um grupo formado por pesquisadores da USP
e da UFSC está empenhado num amplo trabalho de levantamento e mapeamento
da literatura italiana traduzida no Brasil. Parte dos dados levantados pelo grupo
já foi colocada on-line, à disposição do público, na forma de um dicionário
bibliográfico das obras traduzidas. Entre os dados observados, destacamos os
números de obras traduzidas, os autores e os títulos mais traduzidos, as
flutuações nas tendências editorias em decadas diferentes, os tradutores, as
editoras empenhadas especialmente no mercado da literatura italiana traduzida.
No âmbito do projeto da literatura italiana traduzida, destacam-se alguns estudos
de casos, importantes para refletirmos sobre as razões e as condições que
determinam a publicação e o tipo de edição destinado a cada obra. Há situações
aparentemente dominadas por fatores aleatórios (como o estranho caso da
tradução, em dois volumes, do romance Il mulino sul Po, de Riccardo Bacchelli)
e outras em que a publicação parece determinada por fatores políticos e
ideológicos ativos no contexto de chegada. Nesta perspectiva, há casos
especialmente curiosos, como o do diário de viagem Marrocos, de Edmondo de
Amicis, cujas esplêndidas e luxuosas edições brasileiras fazem justiça ao
indubitável, envolvente talento do escritor, verdadeiro mestre no gênero da
reportagem aventurosa e exótica. Por outro lado, merece atenção a ausência de
crítica, especialmente por parte do mercado brasileiro, em relação às
manifestações de etnocentrismo e eurocentrismo expressas nesse livro do autor
italiano. O tema das viagens, em forma de reportagem (Spagna, 1873, Olanda,
1874, Marocco, 1876, Costantinopoli, 1878-79), ligado por vezes ao tema da
emigração (no romance Sull´oceano, no famoso conto “mensal” Dagli Appenini
alle Ande) é central na obra de De Amicis, autor também do clássico da literatura
para a infância, Cuore.
PALAVRAS-CHAVE: Edmondo De Amicis; tradução; recepção literatura.
Luciana Araujo Marques
TITULO: PACTO DE VEROSSIMILHANÇA, ENTRE O AUTOBIOGRÁFICO E O
ROMANESCO: O TESTEMUNHO COMO MISSÃO NAS MEMÓRIAS DE
GRACILIANO RAMOS E NO ROMANCE DE ESTREIA DE FERRÉZ
RESUMO: Em texto de 1957, sobre a incumbência de organizar uma antologia,
Graciliano Ramos declara: “Depois da tentativa falha, isento-me de apresentar a
alma de um criminoso, a de um seringueiro, almas que desejei expor, não vistas
de fora para dentro, mas de dentro para fora, lançadas por gente pequenina,
rebotalho social. Infelizmente os prisioneiros e os trabalhadores da borracha não
escrevem” (RAMOS, Graciliano. “Prefácio a uma antologia”, Linhas tortas.
Record: Rio de Janeiro, 1989, p. 259). Esse esforço para dar voz a vivências
caladas, marca do alagoano, acentua-se pós-cárcere (1936-37). Vidas secas (1938)
evidencia seu papel mediador, uma vez que Graciliano pertence a um grupo
social, mas se empenha na representação não distanciada de outro. Saber na pele
é condição da escrita na passagem da ficção à confissão, em que sua missão éticoestética culmina no desdobrar-se em matéria da própria arte. O passado
presentificado nas memórias de Infância (1945) recupera o olhar do infante sobre
o que se tentou aniquilar na história dos sem fala, como ele. Em cada episódio, o
eu mais íntimo é social, assinalado pelo traumático em uma ordem social
violenta. Tais aspectos de Infância, objeto de minha pesquisa de doutorado na
Unicamp, podem ser atualizados na leitura de Capão pecado (2000) ao se refletir
sobre o teor testemunhal como representação. A estreia de Ferréz se dá em um
contexto no qual “gente pequenina, rebotalho social” enfim escreve e publica. A
missão de porta-voz dos “manos” resulta em uma formalização mediada pelo que
chamei de pacto de verossimilhança a partir do confronto entre o romance e a
bibliografia sobre a literatura de testemunho (MARQUES, Luciana Araujo. Pacto
em Capão Pecado: das margens para o centro do texto, do texto para o interior do
homem. Dissertação de mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada.
São Paulo: USP, 2010).
PALAVRAS-CHAVE: Graciliano Ramos; Ferréz; trauma.
Luciana Barreto Machado Rezende
TITULO: VISIONÁRIO E IMPOTENTE, O ANJO DA HISTÓRIA EM
AVALOVARA
RESUMO: Seja figurando proteção e acolhida, seja simbolizando tentação e
transgressão, a presença do anjo – esse etéreo habitante das legiões entremundos – atravessa o imaginário bíblico e de outras tradições religiosas
irradiando significados diversos, que ultrapassam a guarda e a condução a eles
confiadas, ao aportar também a angustiante e impotente condição do homem em
seu tempo. Nesta comunicação, pretendo demonstrar como a reflexão de Walter
Benjamin, disposta em sua nona tese em 'Sobre o conceito da história', a partir
do célebre quadro 'Angelus Novus', do pintor moderno Paul Klee, aproxima-se da
representação empreendida por Osman Lins, em seu romance' Avalovara', na
qual a função e o papel desses entes celestiais - em geral, ocupantes do posto de
mensageiros divinos e interventores do Bem – afastam-se de seu propósito
originariamente messiânico e redentor, sendo expostos em sua queda e
imobilidade, pois confrontados com os temíveis e ameaçadores ventos da
História e da Opressão.
PALAVRAS-CHAVE: Avalovara; Paul Klee; Walter Benjamin.
Luciana Cristina Corrêa
TITULO: O DIÁLOGO ENTRE A LITERATURA E A HISTÓRIA, EM NOITES DE
VIGÍLIA, DE BOAVENTURA CARDOSO
RESUMO: O presente trabalho procura expor como ocorre a representação da
memória coletiva, em Noites de Vigília (2012), o mais recente romance publicado
do escritor angolano Boaventura Cardoso. A rememoração dá-se partir do relato
de dois personagens, os amigos Quinito e Saiundo, que se reencontram após um
período de 23 anos em que se mantiveram afastados por seguirem em frentes de
lutas opostas, em Angola. A reaproximação de ambos os personagens representa,
num espaço narrativo marcado por uma luta de libertação, no período
imediatamente anterior à independência de Angola, o próprio desejo de
reconciliação da comunidade nacional. Assim, através do recurso do diálogo e da
presença do fluxo de consciência nos relatos pessoais de cada personagem, o
leitor pode deduzir que ambos aguardam uma possível conciliação social e que,
mesmo tendo seguido caminhos diversos em uma sociedade pluricultural
marcada pela opressão colonial, seguem contribuindo para a consolidação de
uma identidade nacional.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; memória; Boaventura Cardoso.
Luciana de Moraes Rayol
TITULO: CACASO E O BEIJO ANTITÉTICO
RESUMO: Antônio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso, foi o principal articulador
e teórico da poesia marginal. Ao ler os poemas de seu terceiro livro, Beijo na Boca
(1975), temos a sensação de que os versos são antitéticos em relação ao título (e a
capa) do livro, evidência da voz criativa do escritor mineiro. O amor está presente
em todo o livro, de múltiplas maneiras: adjetivado, verbalizado, sentido,
pluralizado, contudo não há lugar para o amor idealizado. Trata-se muito mais de
uma fragmentada lírica de desamor, construída com poemas curtos – tão curtos
que muitas vezes os títulos também figuram como versos – e permeada de humor,
conflitos e ironia. Tendo como base os ensinamentos acerca da Literatura
Brasileira, o artigo se concentra em estudo bibliográfico, fundamentais para o
desenvolvimento de uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, dando
ênfase à análise do papel feminino nos poemas escolhidos – namoradas, exnamoradas, amores passados e futuros.
PALAVRAS-CHAVE: Feminino; Marginal; Poesia.
Luciana Duenha Dimitrov
Lilian Cristina Corrêa
TITULO: A COR PÚRPURA: VIOLÊNCIA REVISITADA NA ADAPTAÇÃO
CINEMATOGRÁFICA
RESUMO: Dentre os temas expostos por Alice Walker em A Cor Púrpura (1982),
a mutilação das fictícias mulheres da tribo Olinka talvez seja um dos que mais
desconforta o leitor. Quando encarado sob a perspectiva proposta por Marco Abel
(2007), em que este atenta ao fato de que é a própria obra de arte que propicia
um contexto que nos permite entender adequadamente uma dada situação
histórica, a atrocidade proposta pela romancista (e reiterada por Steven Spielberg
em sua adaptação homônima de 1985) se torna, ironicamente, aceitável. Vivendo
na África há décadas, em uma das cartas que escreve à protagonista Celie, Nettie
pesarosamente revela à irmã a incapacidade dos missionários em ter “(...)
ajudado a parar (...) a marcação ou corte tribal nas faces das jovens mulheres
[Olinka]” (WALKER, 1982, p.177). Os trechos desta e de outras cartas em que a
mutilação e suas consequências são descritas trazem à tona imagens violentas que
acabam por se tornar positivas, ao se considerar o quão precisamente refletem o
mundo que representam, assim como o contexto dentro do qual a dada violência
ocorre (ABEL, 2007, p.xii). Ao serem adaptadas, essas imagens, que trazem
consigo “(...) seus próprios códigos de interação com o espectador, diversos
daqueles que a palavra escrita estabelece com o seu leitor” (PELLEGRINI, 2003,
p.16), se mostram deveras eficientes, apesar de sua violência original. Dentro do
exposto, propõe-se, neste breve estudo, a reflexão acerca da reapresentação da
violência proposta por Spielberg, considerando, para isso, confluências e
divergências evidenciadas no cotejo entre os trechos que expõem o tema e ambas
as obras.
PALAVRAS-CHAVE: A Cor Púrpura; Adaptação; Violência.
Luciana Ferreira Leal
Fernando Rodrigues de Oliveira
TITULO: A MORTE E A REDENÇÃO COMO DESFECHOS EM NARRATIVAS
TRÁGICAS: ESTUDO COMPARADO DE O ABRAÇO (1995) E SAPATO DE
SALTO (2006), DE LYGIA BOJUNGA
RESUMO: Nesse texto, pretende-se estudo comparativo entre a representação
trágica contida em O Abraço e Sapato de Salto. Busca-se compreender como o
trágico, associado às experiências sexuais das protagonistas, resulta em desfechos
completamente opostos.Em O Abraço, o sofrimento da protagonista tem origem
na violência sexual vivida na infância. Em seu aniversário de oito anos, Cristiana
sofre um estupro pelo “Homem da água”.Inicialmente, a lembrança dolorosa
manifestava-se somente em sonhos, mas depois o inconsciente impede a
manifestação até no meio onírico. Entretanto, certo dia, em um circo, o palhaço
desperta as lembranças adormecidas no inconsciente e o trauma da infância se
manifesta em toda a sua crueza. Cristina reconhece, na figura do palhaço, o
“Homem da água” e, em vez de repudiá-lo, sente-se atraída pelo seu
agressor.Sapato de Salto retrata a trajetória de Sabrina, criada em orfanato, que
é resgatada para trabalhar como babá na casa de uma família burguesa. A menina,
com apenas 11 anos, pensa ter encontrado uma família, até sofrer estupros
recorrentes pelo patrão. No decorrer da narrativa, aparece a verdadeira família
de Sabrina, na figura da Tia Inês e de sua avó, entretanto, o ex-namorado de Inês
a assassina. Para não voltar ao orfanato e sustentar a avó, Sabrina se prostitui,
mas acaba encontrando na família de André Doria o apoio que
necessitava.Aspectos do trágico, como hybris, presságios e patético, fazem-se
presentes nas duas narrativas em questão. No entanto, o trágico de que é
acometida Cristina, em O Abraço, a leva à degradação, cujo caminho que lhe resta
é a morte. Em Sapato de Salto, ainda que o trágico também tenha conduzido
Sabrina à degradação de si, o desfecho é outro: ela reverte o seu destino trágico
para a reconstrução de sua vida.
PALAVRAS-CHAVE: Lygia Bojunga; Trágico; Literatura juvenil.
Luciana María di Leone
TITULO: DAR E RECEBER: ECONOMIA E AFETOS EM ALGUNS POEMAS
CONTEMPORÂNEOS
RESUMO: Nas últimas décadas, ou nos últimos anos, boa parte da crítica de arte
concentrou os seus esforços de leitura na reflexão sobre o viés relacional das
produções contemporâneas, chegando a ser identificado este interesse, mas
também aquilo que estava se produzindo na arte, como sintoma de um “giro
afetivo”. Isto ocorreu também em parte significativa da crítica de poesia, e própria
produção de poesia, que insistia em encenar um endereçamento, uma vontade de
sair de si, uma intenção de envio – para utilizar o conceito derridiano. Em outras
palavras a poesia colocava em evidência uma característica que lhe seria própria
(e não circunstancial)- ir ao encontro de um Outro, seja o leitor, seja outras
linguagens, um encontro que implicaria o poder de afetar e ser afetado. Esse
investimento na afetividade, no entanto, muitas vezes foi associado a certa
gratuidade da poesia, a uma doação, numa visão que negaria uma política de
trocas, que retira de forma até certo ponto romântica a poesia das lutas de poder.
Meu texto se propõe conduzir a discussão em torno dos afetos em direção a uma
reflexão econômica (ou melhor, oikonomica); uma reflexão que não oblitere as
dinâmicas de troca, a vontade de ordem e domínio muito particulares, que
estariam presentes no poema e na sua forma de ter lugar no mundo. Para isso, a
partir da leitura de alguns poemas do livro Lógica dos acidentes, de Nurit
Kasztelan (Editorial VOX, 2013), analisaremos a economia de trocas e suas falhas
e insuficiências, e como essa troca econômica é inseparável de uma lógica afetiva.
PALAVRAS-CHAVE: afeto; oikonomia; poesia.
Luciana Marino do Nascimento
TITULO: A VIDA EM LISBOA: CARTOGRAFIAS DO IMAGINÁRIO
RESUMO: O espaço urbano foi uma das grandes inovações de fins do século XIX.
O espetáculo das ruas, as novas formas de sociabilidade e o imaginário civilizador,
portador de ideias de progresso e da crença na modernidade, na técnica e na
ciência, suscitaram inúmeras leituras desse novo espaço, tanto por parte dos seus
planejadores, políticos, médicos como também dos seus escritores, tanto na
Europa como em outras partes do mundo. A literatura do século XIX tematizou
as ruas, os personagens anônimos, lançando diferentes olhares sobre as cidades,
na incessante busca de lê-las como mapas textuais. Nesse sentido, tendo como
base a leitura que Walter Benjamin (1994) faz das relações acerca entre literatura
e experiência urbana, identificando uma literatura das fisionomias urbanas.
Nesse sentido, propomos, neste trabalho realizar uma leitura da obra A Vida em
Lisboa – Romance contemporâneo (1857), do escritor português Júlio Cesar
Machado, tendo como horizonte a representação da cidade de Lisboa na segunda
metade do século XIX, num momento, em especial, em que a sociedade lisboeta
busca um ideal de progresso, não obstante, uma boa parte dos intelectuais
estivesse debatendo a decadência e a condição da “miséria portuguesa.” Angel
Rama, em Cidade das Letras afirma que as cidades desenvolvem uma linguagem,
abrangendo dois espaços sobrepostos: o físico, que o caminhante percorre até
perder-se na sua travessia e o simbólico que reordena e relê a cidade. (RAMA,
1985). Que cartografia simbólica de Lisboa nos traça Júlio Cesar Machado em A
Vida em Lisboa – Romance contemporâneo?
PALAVRAS-CHAVE: Modernidade; Literatura; Lisboa.
Luciana Wrege Rassier
Davi Silva Gonçalves
TITULO: TRADUÇÃO LITERÁRIA
INTERAMERICANO
E
HUMOR
NO
CONTEXTO
RESUMO: Este estudo concerne à minha pesquisa de doutorado em andamento,
sendo que esta engloba a análise e tradução comentada do romance Canadense
de Stephen Leacock "Sunshine Sketches of a Little Town" (1912). Escrita há mais
de um século, entendo que esta narrativa precisa ser (re)contextualizada na
minha versão traduzida para promover a compreensão e manutenção do humor
através de uma ponte entre as distintas culturas que agora se encontram. Leacock
faz diversas referencias humorísticas à eventos históricos essenciais para o
desenvolvimento da identidade Norte-americana e Canadense e à figuras
históricas significantes que contribuíram positivamente ou negativamente dentro
deste cenário de estabelecimento nacional; e, inevitavelmente, o uso que Leacock
faz da ironia pode não ser tão evidente para o meu público alvo tendo em vista o
distanciamento espacial e temporal da obra original. Tendo isto em vista, uma
tradução comentada do livro parece ser a opção mais frutífera para sua
manutenção, já que, através dela, os leitores podem entrar em contato com
muitas idiossincrasias do texto de Leacock – as quais, de outro modo, poderiam
ser ignoradas. É aqui, então, que eu recorro ao conceito de americanidade, que
traz à tona a noção de hibridização e movimento – uma oportunidade de moldar
a continentalidade americana através da tradução literária de artefatos
humorísticos. Charron e Flotow (119) enfatizam o papel da tradução dentro de tal
contexto de pontes interamericanas, afirmando que é justamente o foco da
tradução na questão de movimento que pode promover um contato transcultural
entre texto original e texto traduzido. A tradução literária, sendo assim, parece
emergir como o pilar dos diálogos e contatos culturais necessários para a
manutenção do humor e do riso promovidos na obra de Leacock – e é exatamente
esta preocupação que permeia tanto minha análise quanto proposta de tradução
de seu romance.
PALAVRAS-CHAVE: Humor; Literatura; Tradução;
Luciano Carvalho do Nascimento
TITULO: LITERATURA: A IMPERIAL CA(N)DEIA DE SÓFOCLES ONDE
POSSO E “PRECISO ME ENCONTRAR”
RESUMO: Crítica cultural, tragédia grega, telenovela, teoria literária, samba. Que
diálogos se podem estabelecer entre esses elementos? Que têm em comum: i) o
“Conhece-te a ti mesmo” délfico; ii) o “Preciso me encontrar” de Candeia,
expoente atemporal do samba carioca; iii) a morte do comendador José Alfredo
de Medeiros, protagonista da novela “Império”, da TV Globo; iv) o “Édipo-rei” de
Sófocles (2008); e v) aquilo que, para Compagnon (2012), a literatura enseja: o
“tornar-se quem se é”, “a formação de si mesmo e o caminho em direção ao
outro”? Em tempos de “literatura em translação” (DINIZ, 2008), na confluência
de tantas fontes, partindo da observação atenta de possíveis motivações para a
escolha da referida composição de Candeia para trilha sonora da cena da morte
do protagonista da produção global, a comunicação propõe um exercício de
elucidação da intertextualidade intergenérica verificável entre o clássico
atemporal da dramaturgia (e da cultura) grega, o parricídio na trama global
contemporânea, o samba de Candeia e o caráter que Compagnon atribui à
literatura. Pretende-se, ainda, refletir sobre o valor e os meios para igualmente se
aplicar tal estratégia de “elucidação” no afã de fomentar o “letramento literário”
(COSSON, 2014) em salas de aula do Ensino Médio regular em nossas escolas.
REFERÊNCIAS: COMPAGNON, Antoine. Literatura para quê? Belo Horizonte:
UFMG, 2012. COSSON, Rildo. Letramento literário – teoria e prática. São Paulo:
contexto, 2014. DINIZ, Júlio C. V. Literatura em translação. In: GIUMBELLI,
Emerson; DINIZ,Júlio C. V.; NAVES, Santusa C. Leituras sobre música popular
– reflexões sobre sonoridades e cultura. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, p. 213219. SÓFOCLES. Édipo Rei. São Paulo: Martin Claret, 2008.
PALAVRAS-CHAVE: Crítica cultural; Letramento literário; Samba.
Luciano Penelu Bitencourt Pacheco
TITULO: “A ARMADILHA”, “O PROCESSO” E A PARÁBOLA MODERNA:
FRAGMENTOS DE UMA INCOMPLETUDE
RESUMO: Os contos de Murilo Rubião (1916-1991) contribuem para a construção
do exíguo panorama da literatura fantástica brasileira. Sob diversos aspectos,
suas narrativas dialogam com o realismo fantástico de Franz Kafka e com o
existencialismo, no pensamento de Sartre, na obra ficcional e ensaística de Albert
Camus e, em linhas gerais, com o sentimento de desamparo e angústia que foi
marcante em parte significativa dos intelectuais europeus na primeira metade do
século passado. No âmbito dos estudos comparados, este trabalho pretende
analisar o conto “A armadilha”, de Rubião, e o romance O processo, de Kafka.
Ambas narrativas colocam o leitor diante de situações similares, observando a
trajetória de personagens que enfrentam um destino que não podem reverter. A
imposição de um incompreensível fardo e de uma pesarosa condição humana são
tematizadas nas obras dos dois autores, que, ademais, operam também um
retorno ao mundo mítico, apresentando de maneira distorcida a figura do herói,
problematizado em uma esfera de modernidade.
PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Franz Kafka; Murilo Rubião.
Ludimila Moreira Menezes
TITULO: TEMPO DE APELOS E PERJÚRIO: A QUESTÃO DO TESTEMUNHO
EM CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA, DE LÚCIO CARDOSO
RESUMO: Essa comunicação pretende analisar a questão do testemunho no
romance Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso que senão instaura o
perjúrio aciona a ambiguidade do texto, os estratos de cada revelação comportam
quiasmas, recusas da preservação de um espaço imaculado. Mesmo sob o influxo
das narrativas epistolares o romance não herda ou recupera um trabalho de
iconicidade, aqui o testemunho rasura a assinatura do autor e impõe uma lei
sinestésica na interpretação dos planos real e ficcional. É neste âmbito de
assombramentos e riscos catalisados pelo texto-pensamento de Crônica que essa
comunicação desde os estudos derridianos e barthesianos sobre a linguagem
literária interessa-se com o portar nostálgico do acontecimento lutuoso, o gesto
da escritura como abertura radical ao outro. Um romance imerso na questão do
testemunho, àquela em torno do segredo, acossados pelo trabalho inelutável do
luto que devasta um outro que não cessa de se encriptar, persistindo na escrita.
PALAVRAS-CHAVE: testemunho; perjúrio; luto.
Luis Alberto Flores Lucini
Noeli Reck Maggi
TITULO: BARTHES E FREUD:
MELANCOLIA
APROXIMAÇÕES
SOBRE
LUTO
E
RESUMO: O ser na instância da melancolia encontra-se atravessado e alvejado
pelo interdito primário de determinado investimento libidinal, enquanto que no
luto, tais investimentos sucumbem em processo e são reinvestidos em outro
objeto. O corpo carrega, em seu silêncio orgânico, as tortuosas trajetórias das
pulsões, assim como, se faz palco e protagonista dos desejos objetivados e
recalcados do sujeito. O arcaico inscrito no inconsciente se reinscreve
corporeamente, gera e engendra sensações organicistas que conjugadas às
relações e interpretações do mundo circundante forjam uma imagem de corpo à
um sujeito, que em movimento reverso se reconhece neste fantasma. A escrita,
como reflexo da psique, evoca e carrega um corpo como representatividade: suas
rupturas, suas euforias e suas angústias. Freud se vale da literatura para ilustrar
e compor a teoria psicanalítica. Na análise no percurso do escrever literário
constrói uma via, ponte de acesso ao sujeito autor. A obra Fragmentos de um
discurso amoroso, (Roland Barthes, 2003), pode ser interpretada para além da
intencionalidade do discurso afetivo. Na perspectiva freudiana, no que concerne
à melancolia, o crítico e filósofo francês, em suas escrituras e estilo (na concepção
barthesiana), deixa escapar quantias de incompletude e dilaceramento de seu ser
desejoso. A insatisfação pelo que falta ao sujeito, assim como a angústia e a
melancolia fazem morada em determinadas linhas e entrelinhas de sua
escrituração. Se objetiva neste exame fazer uma breve análise de excertos da
referida obra de Roland Barthes a fim de realçar, pela lente da teoria freudiana, o
que pode ser correlativo e abarcado no conceito de melancolia do pai da
psicanálise.
PALAVRAS-CHAVE: Roland Barthes; Sigmund Freud; Melancolia.
Luis Fernando Protásio
TITULO: POR UMA HISTÓRIA SEM RESERVAS, A TRADUÇÃO CONTRA A
CORRENTE
RESUMO: A necessidade da história e, para fazer justiça a sua natureza de lugar
de embate de práticas fundamentalmente políticas, também a necessidade de se
narrar a história, resistem à sistematização que, não com pouco grau de
comprometimento, os sujeitos que a escrevem irão forjar. É essa a medida que a
aventura de Nancy Huston, ao tecer e retecer até o ponto da ficção um Samuel
Beckett sem reservas, oferece em seu Limbes/Limbo (1998); é esse o peso que
Walter Benjamin, reiterando até o ponto da paixão a narrativa de uma história
sem reservas (2011), calcula. Em que pese a tradução e seu atributo de
intervenção na cultura, como compreende Pym (2010), há uma demanda por
metodologias próprias que vem, com maior ou menor sucesso, sendo
considerada, em especial a partir do surgimento, nos anos 1980, de um front em
defesa da tradução. Com efeito, é o fato de a tradução ser entendida nesses termos
que coloca em pauta a necessidade de enfrentar o que parece ser fundamental
agora, quando a batalha por um lugar institucional dá sinais concretos de vitória
e o passo seguinte começa a se impor: o problema pedagógico da transmissão da
tradução. É nesse contexto que a história da tradução ganha relevo. No entanto,
para além de responder às perguntas que D’hulst (2001) propõe – perguntas que,
embora coloquem em pauta uma discussão autêntica, inscrevem-se numa
corrente (os estudos descritivos da tradução) e subscrevem a uma prática (a
científica) que merecem, ainda, serem testadas –, é preciso pensar uma história
da tradução que, como performance, realize seu próprio objeto – a tradução. Em
outras palavras, uma história da tradução como tradução, cujas metodologias
próprias, contra a corrente, comemorem, como sugere Christopher Rundle
(2012), o que a tradução diz sobre a história, e não o contrário. Referências
bibliográficas BECKETT, Samuel. Worstward Ho. In. ___: Nohow On: Company,
Ill Seen Ill Said, and Worstward Ho. New York: Grove Press, 2014. BENJAMIN,
Walter. Sobre o conceito da História. In.:___. Magia e técnica, arte e política:
Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. Vol. 1. Tradução
de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2011. D’HULST, Lieven. Why
and How to Write Translation Histories. Crop (FFLCH-USP), n° 6, 2001, Número
especial: Emerging Views on Translation History in Brazil. Org. John Milton, p.
21-32. HUSTON, Nancy. Limbes/Limbo: Un hommage à Samuel Beckett. Paris:
Actes Sud, 1998. RUNDLE, Christopher. Translation as an approach to history.
In.: Translation Studies, Vol. 5, No. 2: Special Issue: Rethinking Methods in
Translation History. p. 232-248. PYM, Antony. Exploring Translation Theories.
London & New York: Routledge, 2010.
PALAVRAS-CHAVE: autotradução; história da tradução; ensino da tradução.
Luiz Carlos Gonçalves Lopes
TITULO: CLARICE LISPECTOR: A LITERATURA E O COMUM
RESUMO: Neste estudo pretendemos aproximar a obra da escritora brasileira
Clarice Lispector (1920-1977) do pensamento de alguns teóricos contemporâneos
como Giorgio Agamben, Jean Luc-Nancy e Georges Didi-Huberman. Partimos do
conceito do comum para pensar de que modo esse fio condutor das diversas
discussões contemporâneas aparece em textos como A hora da estrela e algumas
crônicas reunidas no volume A descoberta do mundo. Além disso, pretendemos
também analisar e discutir como se apresenta essa perspectiva do comum nos
textos claricianos por meio de diferentes figurações, o que significa dizer que há
algo de singular no seu próprio texto. Cabe dizer também que desejamos,
sobretudo, aproximarmos dos textos da autora não buscando uma
correspondência filosófica, mas pontos de contato e distanciamento. Por fim,
relacionaremos a noção do comum a outras questões que reverberam na ficção
clariciana e também se encontram no centro do pensamento dos autores
supracitados, a saber, a do viver junto, a do prosaico, a do cotidiano, rasurando
qualquer tentativa de manutenção de princípios como o de identidade e o de
essência.
PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector; Literatura; Comum.
Luiz Carlos Santos Simon
TITULO: HOSTILIDADES EM REDE: A CRÔNICA E A INDIGNAÇÃO CONTRA
PRÁTICAS VIOLENTAS
RESUMO: HOSTILIDADES EM REDE: A CRÔNICA E A INDIGNAÇÃO
CONTRA PRÁTICAS VIOLENTAS Luiz Carlos Simon (UEL) Os textos de Eliane
Brum, assim como as crônicas em geral, exibem grande versatilidade no que diz
respeito a assuntos abordados. No caso específico desta autora, acrescenta-se,
ainda, sua reconhecida condição de repórter, o que pode pôr em xeque o perfil de
cronista para caracterizá-la. O texto aqui selecionado apresenta a peculiaridade
de ser um libelo contra a violência, manifestado inicialmente em reação a uma
reportagem policial transmitida em programa sensacionalista de televisão,
constituindo um exercício de desaprovação a colegas de ofício. O discurso
indignado da autora desdobra-se, porém, em alvos variados: um deles é a
condição ambivalente de um dos protagonistas da reportagem, que é negro, pobre
e ladrão, acusado de cometer estupro e ao mesmo tempo objeto do escárnio dos
repórteres, portanto, réu e vítima. Do episódio em si, a autora parte para o exame
de diversas situações contaminadas pela atmosfera da violência: do desempenho
truculento da imprensa a manifestações do público que o endossa, passando por
instituições governamentais e seus agentes não apenas na contemporaneidade
mas também em momentos recentes como na ditadura militar. Pretende-se,
neste trabalho, avaliar como se constrói essa expressão da indignação diante da
violência e que significados ela carrega como produção escrita contemporânea,
além de apreciar as formas de interpretação e articulação das práticas violentas
com questões como a cor da pele, a masculinidade e o trânsito de textos pelas
redes sociais.
PALAVRAS-CHAVE: crônica; negro; masculinidade.
Luiz Eduardo Oliveira
TITULO: DO ESPLENDOR AO OCASO: ASCENSÃO E QUEDA DA
LITERATURA NA ESCOLA BRASILEIRA (1837-2002)
RESUMO: O ensino de literatura no Brasil foi instituído em meados do século
XIX, após uma reformulação do conteúdo de Retórica no Colégio de Pedro II.
Todavia, o modo de ensinar literatura permaneceu o mesmo na escola, motivo
pelo qual a sua disciplinarização, depois de consolidada pela tradição da história
literária, é hoje tão contestada. No Brasil, as Orientações Curriculares para o
Ensino Médio referentes aos “conhecimentos de literatura”, publicadas em 2006
– foram produzidas com intenções explícitas de confronto em relação aos
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, de 2002, que pôs em
questão o próprio lugar da literatura no Ensino Médio, ousando comparações
entre Machado de Assis e Paulo Coelho, motivo pelo qual o documento de 2006
assumiu a postura de uma defesa da especificidade da literatura, reivindicando a
sua presença no currículo e sua condição de disciplina escolar, o que dá ao
documento um aspecto saudosista de uma época em que a disciplina gozava de
um status privilegiado ante as demais, pois significava, sobretudo, um “sinal
distintivo de cultura”. Por outro lado, os estudos históricos sobre disciplinas
escolares têm sido unânimes em detectar, como uma espécie de estrutura
paradigmática, um processo de surgimento, ascensão, decadência e morte de
certas disciplinas que faziam sentido no currículo somente em determinados
contextos sócio-históricos, ou que, a despeito de manterem a mesma designação,
mudaram radicalmente o seu sentido e propósitos. Este texto busca
problematizar o lugar da literatura no currículo escolar como uma entidade
cultural específica, concebendo a escola, do ponto de vista histórico, como uma
instância a partir da qual os saberes – inclusive os literários, ou oriundos da
história literária – são elaborados, ensinados e aprendidos, uma vez que
precedem, em muitos casos, a sua constituição como conhecimento acadêmico ou
científico.
PALAVRAS-CHAVE: ensino de literatura; história da educação; história literária.
Luiz Guilherme Ribeiro Barbosa
TITULO: SUJEITOS À LITERATURA: O DIREITO, A FORÇA E O CURRÍCULO
NO TRABALHO COM O TEXTO LITERÁRIO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
RESUMO: A partir da experiência com oficinas literárias desenvolvidas no
Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, com alunos do ensino médio, esta
comunicação se propõe a pensar o lugar da literatura no currículo da escola
básica, considerando-se as contribuições da Teoria Literária no tensionamento
dos discursos hegemônicos. Assim, será considerada a reflexão de Tzvetan
Todorov acerca do ensino de literatura, atentando-se para a dificuldade em
aplicar tais reflexões à realidade brasileira. Se, no contexto francês, cabe a crítica
de Todorov a uma teoria que se evidencia demasiado no ensino da literatura em
escolas, parece-nos que no contexto brasileiro o intuito de transformar a teoria
numa "ferramenta invisível" já ocorre, mas com base na tradição crítica
constituída a partir das reflexões de Antonio Candido e sua institucionalização
em universidades brasileiras e, em consequência, na formação dos professores e
na produção dos livros didáticos. A nossa hipótese é de que é nessa dificuldade
de transpor as reflexões de Todorov ao contexto brasileiro que reside o campo de
reflexão teórica dedicado ao ensino da literatura no Brasil, marcado, por um lado,
pela reflexão de Antonio Candido com base na categoria dos direitos humanos, e
por outro pelas diversas teorias da Linguística Textual que embasam os
documentos oficiais acerca do ensino da literatura nas escolas, a exemplo dos
Parâmetros Curriculares Nacionais. É necessário empreender uma crítica a tais
discursos caso se deseje lidar com a literatura no ensino básico como uma força
de constituição subjetiva dos alunos.
PALAVRAS-CHAVE: Oficina literária; PCNs; Força.
Luiz Manoel da Silva Oliveira
TITULO: INTERTEXTUALIDADE, PARÓDIA E NARRATIVA DE DISRUPÇÃO
EM WISE CHILDREN, DE ANGELA CARTER
RESUMO: Com ênfase principal nos efeitos dos entrelaçamentos entre
intertextualidade e paródia e na consequente narrativa de disrupção e
afastamento das temáticas e formas mais tradicionais de se conceber o gênero
literário "romance", que Wise Children da escritora inglesa contemporânea
Angela Carter apresenta, pretende-se fazer com este trabalho uma série de
reflexões acerca da diversidade dos papéis dialógicos intertextuais e parodísticos
que os textos ficcionais mantêm entre si, para a reconfiguração de temáticas, o
desafio ao cânone literário tradicional e a desestabilização das conceituações mais
ortodoxas que sempre se cristalizaram em torno da conceituação de "romance".
Com o concurso das concepções sobre intertextualidade e paródia que teóricos
como Julia Kristeva, Roland Barthes, Gérard Genette, Linda Hutcheon, dentre
outros/as, oferecem, intenta-se compreender algumas das contribuições que
esses recursos narrativos oferecem para a reconsideração e a problematização do
próprio romance como gênero literário polifônico e propugnador de temáticas
inusitadas, de instituição de vozes marginalizadas e antes silenciadas e de
potencialidades desafiadoras da hegemonia patriarcal sobre a narrativa, as
temáticas e as formas de se conceituar “romance”. Nesse sentido, também se
apreciarão, em consequência, os resultados que o deslocamento da hegemonia
androcêntrica patriarcal acarretará nas temáticas, nos traços da narrativa e nas
formas de desconstrução de “romance”, graças às contribuições de aspectos
relevantes das teorias feministas.
PALAVRAS-CHAVE: Intertextualidade; Paródia; Disrupção.
Luiza Franco Moreira
TITULO: HABITAR O VÁCUO: RESSONÂNCIAS ENTRE ROSA DO POVO E
CLARO ENIGMA
RESUMO: Esta comunicação se volta para dois livros de Carlos Drummond de
Andrade publicados na metade do século XX. Como se sabe, entre 1945, quando
Drummond publica A rosa do povo, e 1954, quando sai Claro enigma, o poeta
rompe com o comunismo. A crítica costuma compreender a diferença entre o tom
dos dois livros no contexto desta mudança política. Quero chamar atenção para a
maneira como Claro enigma dialoga com A rosa do povo, retomando imagens e
motivos para desenvolvê-los em direções divergentes. Esta retomada irônica fica
bem evidente no tratamento que o espaço da cidade recebe: a “cidade prevista”
de uma solidariedade universal, que se afirma em A rosa do povo retorna, no livro
seguinte, através de uma interrogação angustiada: “povoações/ surgem do
vácuo./ Habito alguma?”
PALAVRAS-CHAVE: Carlos D. de Andrade; Rosa do Povo; Claro Enigma.
Luz Adriana Sánhez Segura
TITULO: MEMORIAL DE AIRES, O MAL-ESTAR NO ACONTECIMENTO DA
ESCRITA MEMORIALÍSTICA
RESUMO: Memorial de Aires (1908), último romance de Machado de Assis, foi
lido por décadas como sintoma da reconciliação de seu autor com a vida, sendo
identificados em seu protagonista os traços mais característicos de sua
maturidade. Posteriormente, foi objeto de uma leitura concentrada na relação
entre ficção e história, caracterizada pela identificação e corroboração de fatos
acontecidos no Brasil, na transição do Segundo Império à República. Sob essas
duas vertentes de leitura, o romance foi valorizado em suas possibilidades de
representação de uma determinada realidade, isto é, como testemunho, sendo
assim desconsiderada sua potência como texto ficcional. Tentaremos aqui uma
interpretação do romance à luz de Memórias póstumas de Brás Cubas (1880) e
Dom Casmurro (1899), romances também narrados por seus protagonistas, sem
a intervenção de qualquer outro narrador. Os três protagonistas, Brás, Bento
Santiago e Aires, expressam através de suas escritas as contradições da sociedade
carioca oitocentista, o mal-estar de uma nação modernizada às pressas graças à
aceleração econômica e suportada em uma estrutura social colonial-escravista.
Os três são homens abastados, filhos de proprietários, que encaram a escrita
como uma tarefa aparentemente desinteressada, isto é, cujos efeitos estariam
restritos aos seus próprios produtores; uma atividade, contudo, surgida no clima
paradoxal de uma sociedade liberal sustentada material e simbolicamente pela
exploração do trabalho escravo e daquele realizado pelos homens brancos
desprovidos de capital, esses homens livres/homens-cosa expropriados,
“escravos” também da dinâmica do favor (Cf. FRANCO, 1997). Em sintese, uma
interpretação que procura ver no Memorial um romance que sob a transparência
do diário como tipo textual cria um jogo, extremadamente sutil, entre o real e o
ficcional, que problematiza conceitos associados à leitura do romance como um
livro cujo valor estaria concentrado na representação de uma determinada
verdade histórica e/ou biográfica.
PALAVRAS-CHAVE: memória; escrita; abolição.
Luzia Rodrigues da Silva
TITULO: O TEXTO LITERÁRIO NA SALA DE AULA: A FORMAÇÃO DO
LEITOR EM QUESTÃO
RESUMO: Neste trabalho, apresento recortes de uma pesquisa – de caráter
metodológico qualitativo e etnográfico – realizada em uma escola pública do
Ensino Básico. Demonstro eventos de letramento da sala de aula – gravados em
áudio e transcritos – e analiso como os textos literários são estudados nas aulas
de Língua Portuguesa e em que medida tal estudo contribui para que as/os
estudantes desenvolvam seu potencial crítico e sua capacidade para agir e
interagir em diferentes domínios e práticas sociais. Concebendo a linguagem
como parte irredutível das práticas sociais (FAIRCLOUGH, 2003), apoio-me nos
pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso Crítica
(FAIRCLOUGH, 2003 e CHOULIARAKI) e nos fundamentos que ancoram os
Novos Estudos do Letramento (STREET, 1984, 1993; BARTON e HAMILTON,
1998). Essas duas abordagens visam a práticas sociais concretas, fortalecedoras e
transformadoras. Desse modo, podem contribuir para uma nova prática de
ensino que possibilita às/aos estudantes uma visão crítica da realidade,
fortalecendo suas identidades como indivíduos e como grupo. O resultado deste
estudo indica que as professoras, sujeitos da investigação, lidando com os textos
literários como fenômenos culturais, contribuem para o processo de
humanização dos indivíduos (CÂNDIDO, 1995). Elas, assim, rompem com uma
prática pedagógica tradicional e adotam um letramento como prática social, o que
instaura eventos comunicativos socialmente situados, contribuindo, desse modo,
para a formação de leitores/as críticos/as, abertos/as a questionamentos e
mudanças em relação a crenças e valores e, mais profundamente, a mudanças de
práticas sociais.
PALAVRAS-CHAVE: Letramento; sala de aula; Textos literários.
Lyanna Costa Carvalho
TITULO: TENSÕES E CONTRADIÇÕES DAS NARRATIVAS DA NAÇÃO: O
PROJETO DE APAZIGUAMENTO DO PASSADO ESCRAVISTA
RESUMO: Este trabalho procura, a partir de uma perspectiva teóricometodológica dos atuais estudos da Literatura Comparada, observar, no discurso
intelectual das últimas décadas do século XIX, a construção do lugar do exescravo negro na sociedade brasileira. Assis Chateabriand, em 1922, compara o
contexto brasileiro ao estadunidense para explicar que, no Brasil, o ex-escravo,
“praticamente da família”, encontrara parca resistência em sua inserção social
após o 1888. Assim como Chateaubriand, vários intelectuais brasileiros, como
Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Afonso Celso, debruçaram-se sobre o assunto, e
partimos de alguns destes textos para verificar o tratamento deste tema do
escravo recém liberto por estes intelectuais como exemplo de uma característica
das "narrativas" (Bhabha, 1990) típicas do "colonialismo interno" (Mignolo,
2002). Especificamente, levantamos a hipótese de que uma espécie de ideologia
do negro inserido, presente em diversas perspectivas nestes textos, não só silencia
uma tensão histórica entre, de um lado, a importação de valores liberais em uma
pretensão universalista, e, de outro, a sua incorporação na lógica específica da
colônia, como fortalece os contornos do que passa a caracterizar as relações
específicas de dominação resultantes desta lógica, em situações como o
clientelismo, o apadrinhamento, e uma série de interações sociais calcadas no
"favor" (Schwarz, 2000). Referências bibliográficas BHABHA, Homi K. Nation
and narration. London, New York: Routledge, 1990 CHATEAUBRIAND, Assis.
“El Brasil politico y social”. LA NACIÓN. Un homenaje al Brasil en la fecha de su
primer centenario. Buenos Aires: La Nación, 1922. MIGNOLO, Walter.
“Introduction to Volume II”. VALDÉS, Mario e KADIR, Djelal. Literary Cultures
of Latin America: A Comparative History. NewYork: Oxford, 2002. SCHWARZ,
Roberto. Ao vencedor as batatas: Forma literária e processo social nos inícios do
romance brasileiro. São. Paulo: Ed. 34, 2000.
PALAVRAS-CHAVE: narrativas nacionais; inserção do negro; abolição.
Márcia dos Santos do Nascimento
TITULO: ETNOPOÉTICAS E ETHOS CULTURAL: A REPRESENTAÇÃO DO
CORPO NEGRO NA ESCRITA, NA PAISAGEM E NA DIÁSPORA AFRICANA
RESUMO: Este artigo propõe os resultados parciais obtidos na pesquisa de pósdoutorado sobre uma das vertentes do campo sócio-político nas representações,
figurações e subjetividades contemporâneas na diáspora africana, qual seja, a
representação do corpo negro na escrita e na paisagem. Por meio de um
instrumental teórico baseado nos conceitos em construção de etnopoéticas, ethos
cultural, autoetnografia (auto = sujeito; etno = sujeito inserido no grupo cultural;
grafia = escrita), interpretação de culturas e tradução cultural. Parte-se da
hipótese que tais literaturas, ao lidar com questões de formação de identidades e
seus respectivos sistemas culturais, constroem um sentimento coletivo de
comunhão étnica, teoria de Max Weber, partilhando um sentimento subjetivo de
comunidade e uma ação política em comum. Tal ação coletiva ajuda a construir o
conceito de identificação de grupo social e a noção de pertencimento a um lugar
de afeto. Ao lidar com uma geografia da guerra, por exemplo, violenta e
traumática, reelaboram seus repertórios poéticos/narrativos dando voz aos
silenciamentos, o que os remete ao método dialógico da autobiografia ou
autoficção, um modo novo de “contar” ou “narrar” as ações do passado, do
presente ou do futuro que inscreva, através de uma “assinatura negra” ou
“autoridade etnográfica”, a dimensão de raça/etnia na superfície plana da página
escrita ou das palavras proferidas. Pretende-se apresentar a análise comparativa
no percurso poético de Edimilson Pereira e Ruy Duarte em três dominantes
culturais: 1) Teorias literárias da modernidade: estudos sobre as poéticas da
modernidade e teorias pós-colonialistas no circuito cultural afro-luso-brasileiro;
2) Paisagens etnopoéticas: estudos sobre a exclusão ou inclusão de negros no
processo de construção e formação das literaturas da diáspora negra; 3)
Etinicidades, metamorfoses e performances: estudos sobre o tratamento literário
da questão do corpo social negro-africano.
PALAVRAS-CHAVE etnopoética; comunhão étnica; corpo social negro.
Márcia Eliza Pires
TITULO: EQUIVALÊNCIAS - MELANCOLIA E SOLIDÃO EM CECÍLIA
MEIRELES E BAUDELAIRE
RESUMO: No inventário poético de Cecília Meireles (1901-1964) melancolia e
solidão (em grande parte das vezes) estiveram unidas, em constante estado de
complementariedade. Essa fiel parceria promoveu o assentamento de muitos
aspectos do eu lírico ceciliano: a preferência pelo afastamento da turba, a escolha
pela relação com as coisas e seres ao redor por meio da percepção subjetiva
(dotada, por sua vez, de intensa inventividade e autonomia). Numa espécie de
defesa da célebre sentença latina "In vino veritas", o eu lírico ceciliano - no poema
"Vinho" por exemplo, adere ao refinamento de ideias suscitado pela bebida, em
especial o aprofundamento do contato com as diversas porções de sua
personalidade cindida. Sorvendo o vinho, num misto de lucidez e desespero, o eu
ceciliano inicia a tentativa de unificar os inúmeros fragmentos vislumbrados. A
paradoxal noção de mostrar-se lúcido por meio da embriaguez, confere ao sujeito
poético de Cecília consonâncias com o “moi lyrique” de Baudelaire (1821-1867)
presente nos poemas Énivrez-vous e “À une heure du matin”. Tal qual o eu lírico
ceciliano, o sujeito poético de Baudelaire é dado às horas solitárias, aos espaços
ermos (reais e inventados), à apreciação das bebidas que inspiram constatações
vindas com o refinamento das ideias. De nossa parte, propomos justamente
observar as similaridades entre essas duas geniais vozes líricas: a poetisa carioca
Cecília Meireles e o francês Baudelaire.
PALAVRAS-CHAVE: Cecília Meireles; Baudelaire; solidão
Márcia Elizabeti Machado de Lima
TITULO: CAPITÃES DA AREIA E CINCO BALAS CONTRA A AMÉRICA:
ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO DA VEROSSIMILHANÇA
RESUMO: O presente trabalho configura-se em pequena mostra da pesquisa de
Doutorado em andamento intitulada Capitães da Areia e Cinco Balas Contra a
América: Arte Engajada ou Populismo Literário? A obra Capitães da Areia, do
brasileiro Jorge Amado, produzida em 1937, traz à cena romanesca personagens
juvenis que travam lutas diárias pela sobrevivência, no contexto de SalvadorBahia. Quanto a Cinco Balas Contra a América, do cabo-verdiano Jorge Araújo,
traz personagens juvenis colocados a serviço do PAIGC (Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde). A produção é de 2009, mas remete-se e
recria a realidade sócio-histórica das lutas por independência, no espaço da
cidade de Mindelo, em Cabo Verde. No presente recorte da pesquisa focamos a
atenção nas estratégias de construção da verossimilhança empregadas pelos dois
autores. Em relação a Jorge Amado, procuramos desvendar como o narrador,
supostamente, referencia a realidade na abertura da narrativa, nas cartas
endereçadas ao Jornal da Tarde. Em Jorge Araújo centramos a atenção em como
o narrador tece a conclusão da trama, com a biografia de cada um dos
personagens, em que informa ao leitor o destino que tiveram. Tendo um deles,
inclusive, o nome de um Ditador português, o qual repudiava e fazia questão de
ser chamado pelo apelido de um revolucionário mexicano. Nosso trabalho
vincula-se à Literatura Comparada, por compreender a investigação literária que
joga luzes sobre a forma e o conteúdo de duas ou mais literaturas. Ampliamos o
olhar sob as lentes teóricas e críticas dos autores: (ABDALA Jr, 1989; 2007);
(BERGANO, 2008); (BENOIT, 2002); (SARTRE, 1999); (BALIBAR &
MACHEREY, 1976), entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; Verossimilhança ; Personagem.
Márcia Ivana de Lima e Silva
TITULO: NOTAS SOBRE O ROMANCE BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
RESUMO: Tendo em vista o predomínio de narradores em primeira pessoa,
narrador-protagonista, no romance contemporâneo brasileiro, o presente
trabalho aborda duas questões centrais: 1. De que modo esta opção narrativa afeta
a matéria narrada, a saber, a representação da realidade brasileira? 2. O que esta
marca de narração pode apontar em termos de capacidade de representação do
romance contemporâneo no Brasil? A partir de tais questões norteadoras, serão
analisados alguns romances, publicados no Brasil entre 2000 e 2011, tentando
verificar sua proposta de renovação ou de repetição da tradição romanesca
brasileira, tendo como base as reflexões teóricas de Beatriz Sarlo, de Christopher
Lasch, de Paul Ricoer.
PALAVRAS-CHAVE: Romance contemporâneo; Representação; Narrador.
Márcia Maria Oliveira Silva
TITULO: REALIDADE SÓCIO-HISTÓRICA, IDENTIDADE CULTURAL E
SUBALTERNIDADE: MAPEANDO O INDIVÍDUO PÓS-COLONIAL EM
JAMAICA KINCAID, DIONNE BRAND E CONCEIÇÃO EVARISTO
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar três romances que criam
espaços para uma consciência pós-colonial a partir de três realidades distintas
(Estados Unidos, Canadá e Brasil). Mulheres escritoras que apresentam em seus
textos uma conexão com o contexto pós-colonial geralmente abordam questões
socioculturais significativas para a reflexão e o entendimento de temáticas como
etnicidade, raça, poder, sexo, gênero e classe social. Com objetivo de concretizar
o sonho de descolonização (SANTOS & MENESES, 2010) Jamaica Kincaid
(Estados Unidos), Dionne Brand (Canadá) e Conceição Evaristo (Brasil) traçam
em seus romances Mr. Potter, At the Full and Change of the moon e Becos da
Memória (respectivamente) uma jornada de descolonização de corpos, mentes e
culturas baseada na percepção que a identidade é fruto de uma negociação
constante (POLLAK, 1992; FIGUEIREDO, 2010) e que memória, espaço e
identidade são responsáveis por interpelar a realidade sociocultural dos
indivíduos num processo ininterrupto. As interpelações se desenvolvem a partir
das experiências das personagens, frutos das sociedades ‘multiculturais’ que não
escondem uma ‘consciência colonial/imperial’ como fator para o estabelecimento
das relações sociais, revelando as nuances da colonialidade do poder (QUIJANO,
1997) e a subalternidade (SPIVAK, 2010). Referências Bibliográficas: BRAND,
Dionne. At the full and change of the moon. New York: Grove Press, 1999.
EVARISTO, Conceição. Becos da Memória. Belo Horizonte: Ed. Mulheres, 2013.
FIGUEIREDO, Eurídice. Representações de etnicidade: perspectivas
interamericanas de literatura e cultura. Rio de Janeiro: Editora 7 letras, 2010.
KINCAID, Jamaica. Mr. Potter. New York: Farrar, Straus & Giroux, 2002.
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Rio de Janeiro: APDOC, 1992.
QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder, cultura y conocimiento en América
Latina. Anuario Mariateguiano, v. 9, n. 9, 1997. SANTOS, Boaventura de Sousa &
MENESES, Maria Paula (orgs.). Epistemologias do Sul. Rio de Janeiro: 2010.
SPIVAK, Gayatri. Pode o Subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
PALAVRAs-CHAVE: Jamaica Kincaid; Dionne Brand; Conceição Evaristo.
Márcia Plana Souza Lopes
TITULO: O "EU" NA POESIA DE ARNALDO ANTUNES
RESUMO: A comunicação trata-se do estudo sobre a poética de Arnaldo Antunes,
num reflexo de como se lendo Arnaldo Antunes se chega a uma diversidade de
autores de diversas época. Um estudo que explora o “eu” na poesia
contemporânea, pauta inclusive no século XXI, em que elementos tecnológicos,
científicos e artísticos avançam num tempo que se exige rapidez e marca
transtornos socioculturais. É neste espaço e tempo que o artista Antunes se
apropria do fazer (poiésis). Seus trabalhos são realizados pelo código verbal em
interação com as múltiplas linguagens artísticas como a música, a pintura, a
arquitetura, a fotografia, o desenho, o cinema, além da poesia, desde a década de
oitenta. Para refletir, o “eu” que se desmistifica em ser lírico e/ou não lírico no
corpo da poesia que se configura como “signo de” ao ser “coisa viva” que tenciona
as palavras como corpo estranho no mundo da linguagem, que pende a outras
artes sem deixar de obter o teor poético.
PALAVRAS-CHAVE: poesia; trânsito; linguagem.
Márcia Rejany Mendonça
TITULO: O ENSINO DE LITERATURA ÀS VOLTAS COM O PRAZER E A
OBRIGAÇÃO
RESUMO: Em textos de autores que discutem sobre as funções e o ensino da
Literatura, lemos, frequentemente, que o papel essencial de uma obra literária é
o de “construir e reconstruir a palavra que nos humaniza” e que a literatura é uma
forma de compreensão do mundo. Efetivamente ela contribui para
desenvolvimento crítico e humano do leitor, pois nela há um aprendizado de
caráter subjetivo que quando alcançado auxilia, significadamente, no modo do
leitor perceber e apreender o mundo. Desse ponto de vista compartilham Cosson
e Compagnon. Para Cosson (2011, p. 120), a “proposta de letramento literário
mostra o caminho que percorremos para fazer da literatura na escola aquilo que
ela é também fora dela: uma experiência única de escrever e ler o mundo e a nós
mesmos”. Para Compagnon (2009), a literatura favorece a reflexão sobre as
relações que permeiam a natureza humana através do diálogo entre texto e leitor.
Nesse sentido, acreditamos que durante os instantes que nos dedicamos ao texto,
desejamos, em nosso íntimo, ser transportados para o mundo imaginário
construído pela narrativa, e que ao término, fique em nosso interior, algo da
experiência vivida durante a leitura. Ler, nesse caso, torna-se um aprendizado
complexo, pois, a percepção do leitor, ampliada pela leitura seja em relação a
aspectos subjetivos ou práticos, repercute nos âmbitos social e cognitivo. Mas,
considerando a Literatura como matéria educativa, o ambiente de sala de aula, o
modo de avaliar as leituras de obras literárias e o que se entende por Literatura
cria-se um embate entre o prazer e a obrigação. Neste trabalho, pretendemos
refletir sobre as leituras solicitadas aos alunos pelo professor e aquelas que os
alunos realizam por “livre escolha”, numa tentativa de amenizar o caráter da
obrigatoriedade que se reveste a leitura de obras canônicas no ambiente de sala
de aula.
PALAVRAS-CHAVE: Letramento Literário; Literatura; Ensino.
Márcia Rios da Silva
TITULO: TRAMAS E NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS PARA CONTINUAR
AMADO
RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma reflexão
preliminar acerca das estratégias atuais de divulgação dos romances de Jorge
Amado para a manutenção de sua recepção de público. Toma-se como divisor
temporal o período que sucede o falecimento do escritor, ocorrido em 2001, para
se proceder a um levantamento das formas de divulgação de sua produção
literária, sobretudo aquelas promovidas pela Fundação Casa de Jorge Amado e a
casa editorial que passa a publicá-lo a partir de 2008. Essa investigação será
desenvolvida considerando o contexto contemporâneo de expansão de meios e
mediações (BARBERO, 2003) na divulgação de produções artísticas e literárias,
particularmente com a ampliação das plataformas digitais, que impõe um
redimensionamento da “partilha do sensível” (RANCIÈRE, 2009).
PALAVRAS-CHAVE: recepção; contemporaneidade; Jorge Amado.
Márcia Valéria Martinez de Aguiar
TITULO: “MEU GRANDE TRADUTOR E CARO AMIGO”: JEAN-JACQUES
VILLARD, TRADUTOR DE GUIMARÃES ROSA
RESUMO: Em 1961, sai na França o primeiro livro de Guimarães Rosa lançado
no exterior, “Buriti”, na tradução de Jean-Jacques Villard. Entusiasmados,
críticos importantes como Armand Guibert e Hubert Juin saúdam a tradução.
Poucos autores estrangeiros, diz Juin, “beneficiaram-se de uma tradução
comparável à de Villard”, que, completa Guibert soube “deixar intacta a poesia do
livro”. Paulo Rónai, reconhecendo os méritos das versões de “Grande sertão:
veredas” de Jean-Jacques Villard e de Curt Meyer-Clason, observa que o tradutor
alemão possui “uma ‘Grundlichkeit’ digna de todo o respeito”, mas que o tradutor
francês é muitas vezes mais engenhoso que ele. Ao contrário, porém, de Curt
Meyer-Clason, reconhecido pelos estudiosos da tradução brasileiros como o
grande tradutor alemão de Guimarães Rosa, nada sabemos de Jean-Jacques
Villard. Muitas vezes reduzido à alcunha ambígua de “tradutor profissional”, suas
traduções são frequentemente rechaçadas sem um exame mais acurado. Esta
comunicação pretende resgatar, a partir de sua correspondência com Guimarães
Rosa, um pouco da história desse tradutor do português, inglês, alemão, holandês
e espanhol, a quem devemos não apenas as traduções de “Grande sertão: veredas”
e “Corpo de baile”, mas de “Barca dos homens”, de Autran Dourado e de “Sobre
héroes y tumbas” de Ernesto Sabato.
PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa; Jean-Jacques Villard; Tradução.
Márcio Matiassi Cantarin
TITULO: NOTAS SOBRE UMA “REBELIÃO DE SELVAGENS”:
REENCENAÇÕES DA GUERRA COLONIAL NA OBRA DE LÍDIA JORGE E
MARGARIDA CARDOSO
RESUMO: O romance A costa dos murmúrios (1988), de Lídia Jorge e o filme
homônimo (2004), realização de Margarida Cardoso, reencenam, de modo
diverso, como não poderia deixar de ser, uma vez que é diverso o registro tomado
por literatura e cinema, alguns aspectos do conflito entre portugueses e
moçambicanos por ocasião da chamada “guerra do ultramar”. Ambas as obras
encaminham suas reflexões a partir do olhar de mulheres, para quem o conflito
bélico está fisicamente mais distante e chega filtrado pelo discurso oficial.
Resguardadas as especificidades de cada gênero, este trabalho objetiva cotejar as
duas obras a fim de compreender como cada uma delas representa, dentro do
quadro mais amplo das violências experimentadas no período, a violência
particular experimentada pelas mulheres dos militares portugueses.
Compreender de que maneira essas mulheres revisitam os traumas do passado
para elaborarem suas perdas ajuda a compreender o papel que tiveram nos
processos de descolonização de África e de si mesmas.
PALAVRAS-CHAVE: pós-colonialismo; Feminismo; Guerra do ultramar.
Mário Cezar Silva Leite
TITULO: UM ROMANCE CUIABANO-NEOBARROCO? “O SALÁRIO DOS
POETAS” E A MEMÓRIA DAS DITADURAS LATINO-AMERICANAS.
RESUMO: Em linhas entre-tramas, neste trabalho, observou-se as possíveis
relações, conexões, transvergências, entre a produção literária brasileira/matogrossense, com o romance “O Salário dos Poetas”, de Ricardo Guilherme Dicke, e
o pensamento crítico latino-americano Alejo Carpentier, Antônio Candido, Hugo
Achugar, Alberto Moreiras, Walter Mignolo, Julio Cortazar. Na trama principal,
o romance sobre ditaduras e ditadores. Na trama de entrelaces, o pensamento
latino-americano sobre a produção literária e artística, sobre ser latino
americano, por pensadores, escritores e intelectuais latino-americanos. A
investigação debruçou-se sobre a relação entre as concepções e teorias sobre o
pensamento latino-americano, e sua narrativa, configurado ou não, de modo
geral, no romance, nas poéticas, sobre as ditaduras latino-americanas. Importou,
centralmente, verificar as medidas, ou “desmedidas”, que o autor encontrou, a
partir de uma possível forma de pensar latino-americana, as epistemes, para
elaborar artística e ficcionalmente períodos e regimes de exceção e violência.
PALAVRAS-CHAVE: Neobarroco; Ditaduras; Romance.
Mírian Sousa Alves
Maria do Rosário Alves Pereira
TITULO: POESIA E LIBERDADE: O PERSONAGEM-ESCRITOR E AS
POTENCIALIDADES DA REDE
RESUMO: Este trabalho propõe uma análise da construção de dois personagens
ficcionais que veem a internet como possibilidade de escape. O primeiro deles é
Simon, personagem do filme “As confissões de Henry Fool” (EUA, 1997), de Hal
Hartley e o segundo, é o protagonista do romance de Bernardo Carvalho,
intitulado “Reprodução” (BR, 2013). Tratam-se de personagens que parecem
viver entre o delírio e a vida cotidiana, exibida como um painel sórdido e
decadente. Por diferentes razões, ambos encontram-se presos em seus cotidianos
e a escrita na rede se oferece como possível saída. Como referencial teórico, a
análise utiliza o trabalho de Rainer Guldin, “Pensar entre línguas – a teoria da
tradução de Vilém Flusser”, como principal pilar. Outros autores que investigam
as relações entre língua e identidade também iluminam a análise, tais como
Arlindo Machado (O sujeito na tela) e Vilém Flusser (Língua e realidade). O
resultado é a percepção das diferenças e semelhanças que se delineiam na
construção desses personagens que marcam a passagem do período em que a
internet ainda estava em seus primórdios (Henry Fool) aos dias atuais, aqui
percebido no romance de Bernardo Carvalho.
PALAVRAS-CHAVE: literatura; vida social; escrita na rede.
Mónica Fabiola González García
TITULO:
TRANSCULTURACIÓN,
TRANS-AMERICANIDAD
Y
TRANSEPISTEMOLOGÍA: PARADIGMAS DE TRÁNSITO Y TRANSGRESIÓN
EN LAS AMÉRICAS
RESUMO: Cuando Fernando Ortiz escribió Contrapunteo cubano del tabaco y el
azúcar en 1940, no pensó que su neologismo “transculturación” experimentaría
tantas apropiaciones y corolarios en décadas posteriores. En la época, Ortiz
intentaba superar el paradigma antropológico de la “aculturación” utilizado por
Bronislaw Malinowski para entender la imposición forzada de una cultura sobre
otra. Más allá que la recepción pasiva de una cultura instalada por coerción y/o
seducción sea una noción superada, las yuxtaposiciones de razas y culturas
propias de un territorio sucesivamente colonizado, han dado lugar a nuevas
maneras de pensar la resistencia. Los espacios abiertos por el tránsito entre
formaciones culturales americanas—continente-síntesis del planeta a partir de
1492 y continente-antonomasia de las dialécticas de jerarquización cultural y
racial que Aníbal Quijano e Imnanuel Wallerstein resumen en el concepto
“americanidad”—son examinados por los Estudios Trans-americanos, cuya
óptica global visibiliza viejos y nuevos mecanismos de desigualdad cultural,
racial, política y económica en nuestro continente, identificando formas diversas
de resistencia. Este patrón de análisis busca desmantelar las estructuras de poder
que afectan a diversas subalternidades del continente. En este marco, propongo
pensar la resistencia actual desde el tránsito entre constelaciones que determinan
nuestra manera de concebir el mundo y que Michel Foucault llama “episteme”.
Con el neologismo “trans-epistemología” busco identificar los saberes críticos
que, como Gayatri Spivak espera del intelectual postcolonial, cuestionan las
epistemes hegemónicas con el fin de desmantelar las formas de opresión creadas
por la colonialidad de poder en las Américas y exportadas mediante la
americanidad—si seguimos a Quijano y Wallerstein—al resto del planeta. En
consecuencia, examino las potencialidades teóricas de la transculturación, la
trans-americanidad y la transepistemología a partir de sus aplicaciones a la
literatura de José María Arguedas (Rama), la autohistoriateoría de Gloria
Anzaldúa (Saldívar) y a la antropofagia de Oswald de Andrade.
PALAVRAS-CHAVE: transculturación; transamericanidade; transepistemología.
Mônica de Menezes Santos
TITULO: FRAGMENTOS DA INFÂNCIA EM "AQUELA ÁGUA TODA", DE JOÃO
ANZANELLO CARRASCOZA
RESUMO: Através da leitura do livro de contos "Aquela água toda" (2013), do
escritor paulista João Anzanello Carrascoza – rubricado na ficha catalográfica
como obra juvenil –, pretende-se, neste trabalho, discutir como esse autor, por
intermédio de uma prosa poética e delicada, pasma em cada um dos contos da
obra, a partir de fragmentos aparentemente simples do cotidiano de personagens
infantis, o olhar de uma criança descortinando o mundo: a descoberta do
primeiro amor e o primeiro beijo; o reencontro de um menino com o mar e o seu
encantamento com aquela imensidão; um simples acordar em um dia de domingo
em família; a primeira decepção com um amigo na escola; uma discussão entre
os pais por conta do atraso do aluguel etc. O objetivo é discutir como o autor
subverte no livro o mito da infância como momento da inocência e da felicidade
e nos indica novas maneiras de se olhar para as crianças.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil; João Anzanello Carra; Imagens da
infância.
Madalena Aparecida Machado
TITULO: A ANGÚSTIA DA BUSCA PÓS-MODERNA NA OBRA CERIMÔNIAS
DO SERTÃO DE RICARDO DICKE
RESUMO: Este trabalho pretende investigar as nuances do pensamento na
literatura do escritor Ricardo Guilherme Dicke (1936-2008). O mato-grossense
expõe na sua escrita narrativa, a problematização do presente no que tange ao
homem se encontrar num momento de angústia, por não se identificar no mundo
moldado pela submissão às coisas, ao senso comum. Questão premente desde os
primórdios da literatura, no entanto, em Dicke, o pensamento toma forma de
uma indagação voltada à transcendência, saber que o homem não se reduz à
matéria. Nessa literatura, o corpo pensante é o homem narrativa marcado pelo
não situar em meio ao consumo, denúncia de exploração do homem à natureza,
ao semelhante, o que causa um processo de indagação ao não se encontrar entre
as coisas. Busca entre a incessante movimentação do corpo, a aquietação do
silêncio, propício à reflexão do sensível, a música, procura pela beleza, o saber de
si conhecendo o outro. Assim, o romance Memórias do sertão (2011) investiga
uma humanidade que se coloca em questão desde a busca empreendida por saber
da beleza, provavelmente encontrada na mulher, natureza, um tratado de
filosofia entre outros. Nosso trabalho se pauta em compreender teoricamente as
angústias da pós-modernidade na literatura de Ricardo Dicke, com Zigmunt
Bauman, Ética pós-moderna (1997), Giorgio Agamben, O que é o
contemporâneo? (2009), contrastando com as refutações de Terry Eagleton na
obra, As ilusões do pós-modernismo (1998).
PALAVRAS-CHAVE: angústia; pós-modernidade; busca.
Magali dos Santos Moura
TITULO: A FANTÁSTICA "HISTÓRIA DO DR. J. FAUSTO" OU DE COMO SE
DOMESTICAR O CORPO E A MENTE
RESUMO: O presente trabalho se deterá na análise da narrativa renascentistamoderna História do Dr. Fausto, editada por Spies em 1587, cujo tema é
conhecido pelo público brasileiro sobretudo através do Fausto de Goethe. Com
ela é inaugurada a tradição narrativa em torno dessa figura histórico-literária que
surge em uma época limítrofe. Despedindo-se da cultura medieval, começava-se
a abraçar um novo modo de pensar que punha de lado um mundo povoado por
seres e ações extraordinárias, necessariamente ininteligíveis, clamando-se, a
partir de então, pelo uso da razão como força de dominação, tanto de si como do
mundo. Hoje nos encontramos em meio a outro tipo de magia – a do clique do
mouse que nos transporta, em um piscar de olhos, para outros mundos. Este feito,
aparentemente mágico, é fruto direto do pensar matemático, base do mundo
moderno. Em paralelo à expansão globalizante da rede mundial de computadores
e do sistema econômico neoliberal, narrativas recheadas de mundo fantásticos
grassam nas listas de livros mais vendidos e insistem em causar um contrafluxo
ao mundo ordenado e aparentemente em evolução. Assim nos vemos entre razão
e fantasia, entre engenho e sensação – mesmo dilema que transparece na história
do pactário e que dela nos aproxima. Saindo da vida e adentrando na imaginação,
a saga desse anti-herói leva o leitor ao “âmago do fantástico” (TODOROV 2006,
p. 147), mas, insolitamente, nos remete a questões próprias do mundo real. Nesse
sentido, a análise privilegiará a discussão do uso de formas da narrativa fantástica
que servem de chave para o entendimento da realidade. As intenções declaradas
do editor da "História", de mostrar através de Fausto uma forma de conduta,
revelam o quão fulcral é a necessidade de domesticação do pensar e do corpo para
a introdução daquele então novo modo de pensar o mundo, modelo do qual nos
sentimos reféns. Referências bibliográficas: SPIES, Johann. Historia von D.
Johann Fausten. Stuttgart: Reclam, 2006. [Trad. Magali Moura. Versão em
manuscrito.] TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo:
Perspectiva, 2006.
PALAVRAS-CHAVE: Fausto; literatura comparada; fantástico.
Magda Medeiros Furtado
TITULO: LITERATURA, HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO DE DISCURSO CONTRAHEGEMÔNICO
RESUMO: Partindo de uma prática de leitura que coloca em relação dialógica o
ensino de literatura e o de história na abordagem de textos contemporâneos,
pretendemos trabalhar no viés de uma construção de discurso contrahegemônico provocada pelo texto literário. Essa provocação é uma estratégia de
análise através da recepção crítica e criativa de obras literárias do XX que
transitam na construção de imagens da História, considerando os movimentos da
sociedade com os quais dialogam essas obras. Nesse sentido, consideramos a obra
literária na interação com o seu tempo e espaço – o cronotopo, na definição de
Mikhail Bakhtin - , na recepção contemporânea do escritor e de seu tempo
histórico, e na interação com os jovens leitores de outra temporalidade, nesses
velozes tempos de internet em que dez anos configuram um suficiente
distanciamento crítico do momento histórico da escrita. Rubem Fonseca e seu
hiper-realismo feroz contemporâneo se afigura como o narrador de uma cidade
violenta e sedutora para uma caminhada por suas paisagens chocantes em sua
crueza, formatadas pela hegemonia discursiva da beleza e do caos domesticado.
Em sua obra a história contemporânea desafia a violência do cotidiano
naturalizada pelas doses cavalares de choque diante do esgarçamento dos valores
humanistas, requerendo um leitor crítico que vá além das primeiras impressões
que as “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” podem fornecer. As divisões
de classe se configuram nas fronteiras que delimitam o universo dos personagens,
seu itinerário urbano, suas roupas e hábitos, seu discurso e sobretudo suas
interações sociais . A capacidade crítica dos jovens leitores é desafiada por uma
obra bastante sedutora como entretenimento, mas que representa um desafio
para a construção de discursos contra-hegemônicos diante dos impasses da
contemporaneidade representados pelos narradores de Rubem Fonseca.
PALAVRAS-CHAVE: contemporaneidade; contra-hegemonia; Rubem Fonseca.
Maira Moreira Mesquita
TITULO: OS GESTOS DA MORTE EM HILDA HILST
RESUMO: Pondo em diálogo diferentes expressões artísticas, quais sejam, a
poesia, a dança, o teatro e a música, o corpo adquire, em nossa pesquisa, estatuto
privilegiado. Isso porque nosso recorte de análise são alguns poemas da escritora
Hilda Hilst, cujo jogo literário é o eterno corpo-a-corpo com a linguagem. Este
trabalho tem como objetivo analisar o vocabulário relacionado às gestualidades
do corpo na obra 'Da morte. Odes mínimas', da referida poeta brasileira. Para
tanto, debruçamo-nos sobre os movimentos corporais do eu lírico e de sua morte.
Dada a complexidade do texto, não constitui nosso propósito apresentar um
estudo exaustivo, mas antes possibilidades de leitura. A bem dizer, buscaremos
identificar as simbioses de forma e movimento do corpo da morte na obra em
estudo, destacando assim uma das particularidades da escrita de Hilst, a
teatralidade do texto poético. Vale ressaltar que tal pesquisa tem sido realizada
com a finalidade de criar tanto uma partitura cênica, quanto uma musical para a
obra 'Da morte. Odes mínimas', de maneira que possamos levá-la à cena.
PALAVRAS-CHAVE: Hilda Hilst; poesia brasileira; corpo e literatura.
Manlio de Medeiros Speranzini
TITULO: A NOÇÃO DE ‘AMADOR’ NAS NARRATIVAS FENDIDAS DE
GEORGES PEREC E CHRISTIAN BOLTANSKI
RESUMO: Tomando o sentido do amor dado por Badiou como ‘o mundo
experimentado a partir do ‘2’’, esta Comunicação propõe uma noção em formafendida que nomearemos ‘AmaDor’ – pensando com isso indicar, tanto o gesto
do artista contemporâneo enquanto sutura para o que foi rompido (Amar + Dor),
como o que permite a esse artista trabalhar oposições (Amar x Dor). Ainda
acompanhando as idéias de Badiou que entende que, por amar amar, aquele que
ama reconhece a diferença entre ele e o outro, vivencia conflitos e continua
repetindo o que sustenta seu estado amoroso (sentimento barthesiano) - sua
infelicidade -, nós nos apoiaremos em duas narrativas fendidas para a exploração
da noção proposta: no livro W ou le souvenir d’enfance (1975), de Georges Perec
(1936-1982), e no livro de artista La vie impossible (2002), de Christian Boltanski
(1944). Se no livro de Perec a fratura se dá entre dois textos alternados, um de
lembranças e o outro uma ficção, na obra de Boltanski uma lista de lembranças
se contrapõe às fotografias de um arquivo pessoal. O objetivo será então de
circunscrever a noção de ‘AmaDor’ e atestar a potência da sua produtividade
enquanto mecanismo de compreensão expandida para certa produção artística
contemporânea. Referências: BADIOU, Alain. What is Love? In: Umbr(a) – a
Journal of the Unconsious, nº 1, 1996, pp. 37-53. BARTHES, Roland. Fragmentos
de um Discurso Amoroso. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986. BELLOS, David.
Georges Perec – une vie dans les mots. Paris: Seuil, 1994. BOLTANSKI, Christian.
La vie impossible. Colônia: Buchhandlung König, 2002. DERRIDA, Jacques.
Memórias de Cego. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. GRENIER,
Catherine; BOLTANSKI, Christian. La vie possible de Christian Boltanski. Paris:
Seuil, 2007. LEJEUNE, Philippe. La Mémoire et L’Oblique – Georges Perec
autobiographe. Paris: POL, 1991. PEREC, Georges. W ou le souvenir d’enfance.
Paris: Denoël, 2003.
PALAVRAS-CHAVE: Amador; Georges Perec; Christian Boltanski.
Manoel Ricardo de Lima Neto
TITULO: LUFTMENSCH: LER/VER O ROSTO COM JORGE MOLDER
RESUMO: A partir das figurações do rosto em dois trabalhos de Jorge Molder, "A
Escala de Mohs" e "Pinocchio", abre-se uma série de perspectivas do político 'para
a arte' e 'com a arte', seguindo uma sugestão de João Pinharanda: a de que “as
imagens de Molder nunca ilustram nada e nunca ocupam o lugar das palavras –
do mesmo modo que as palavras nunca ocupam o próprio lugar da vida que
constroem.” e de que o “palhaço é um poeta em ação, quando ele é a história que
desempenha, sempre a mesma e eterna história”. Diante desse impasse e
perseguindo uma trajetória anacrônica e saltada, de Giordano Bruno a Franco
Farinelli e Giorgio Agamben, por exemplo, a ideia é tentar ler/ver quando a
literatura ainda é uma circulação 'do' e 'com' o pensamento - como uma atenção
- para tocar a causa do OUTRO.
PALAVRAS-CHAVE: rosto; política; literaturas.
Manuela Chagas Manhaes
TITULO: A CONSTITUIÇÃO DE PERSONAGENS FEMININOS NA MÚSICA
POPULAR BRASILEIRA
RESUMO: Pretende-se neste presente trabalho analisar os diferentes
personagens femininos construídos nas letras petadas da música popular
brasileira. Tais construções são de suma importância para que possamos pensar
e analisar as diferentes conotações que a mulher é representada na realidade
social estando repletas de sentidos, significações e representações que
transcendem a linguagem artística musical e tem se alicerçado no contexto sócio
cultural da sociedade brasileira. Ora vistas como musas ora vistas como vilãs
representam papéis sociais legítimos ou imorais, profanos ou sagrados, podendo
estar presentes não só na veia criadora do letrista, mas em suas aspirações,
ideologias e vivenciados em suas distintas dinâmicas sociais, estando atrelado aos
costumes, hábitos valores pertencentes a cultura brasileira sendo, então,
traduzidos na música popular brasileira uma maneira como uma maneira de dar
visibilidade ao que está implícito na constituição da própria atribuição dos papéis
sociais . Estes personagens femininos hoje se tornam imagens que traduzem a
forma em a mulher foi sendo constituída e se constituiu nas relações sociais em
diferentes contextos sócio políticos históricos em que a práxis social favoreceu a
mudança do rumo da história e do próprio movimento social que tem-se a mulher
como sujeito social que age no meio social e reflete diferentes maneiras de se
perceber enquanto mulher entre o feminino e sua feminilidade.
PALAVRAS-CHAVE: UNIVERSO SIMBÓLICO; FEMININO; SOCIEDADE
BRASILEIRA.
Manuella Miki Souza Araujo
TITULO: POESIA E PROSA DE SANTOS SEM NICHO
RESUMO: No poema em prosa “Intuições”, parte da obra "Evocações", de Cruz e
Sousa, observa-se a mescla entre poesia e ensaio, no qual se desenvolve uma
reflexão acerca da noção de verdade e realismo simbolistas, ancorada em
considerações sobre a criação shakespeariana e a noção de religião da arte. As
duas questões são articuladas na teorização da prosa no Simbolismo e a
sondagem de uma nova forma, dotada de “outra elasticidade”, capaz de mobilizar
verso e prosa, as duas “cordas vibráteis” do artista. Em “Intuições”, este último é
concebido como uma “harpa exótica” dedicada a buscar a “virginal originalidade
das formas inquietas’. Ali, a sensibilidade poética surge duplicada em duas figuras
que caminham juntas e adentram o princípio da noite, dirigindo-se ao “majestoso
Vaticano da Arte”. Para Roger Bastide, na prosa de Cruz e Sousa a noite simbolista
se encontra com a noite africana, fazendo coincidir a noção de originalidade
criadora com a sondagem da origem ancestral do artista assinalado. O fiat
primevo da Criação se desdobra no primitivo e no desconhecido emanados da
"terrae incognitae" da arte, como sugere Charles Baudelaire. Criador secular, o
poeta simbolista afastado do sopro divino se aproxima do modelo alquímico ao
discutir a prosa em “Intuições”, forma cuja musicalidade não deriva do cantar do
pássaro, e sim apenas do “encanto aéreo dos voos, só com o ritmo leve, fino, das
aves simples e venturosas...”. O sacerdote moderno da arte já não canta, mas fala
“clarividentemente pelo Salmo austero da prosa”, esse “milagre” segundo
Baudelaire, capaz de ser musical sem recorrer ao ritmo ou à rima, música interior,
abstrata e silenciosa. Para Cruz e Sousa em “Intuições”, ela é “sideral serpente” e
“eloquente mudez das estrelas”.
PALAVRAS-CHAVE: poema em prosa; religião da arte; música.
María Emilia Vico
TITULO: A TRADUÇÃO EM OSMAN LINS: CONVOCAÇÃO DE CAMPOS DO
SABER
RESUMO: O presente trabalho visa apresentar quais os saberes que se convocam
na tradução da obra de Osman Lins do português ao espanhol. Neste caso,
trabalharemos com o conto Perdidos e achados, publicado no livro Nove, novena
de 1966. Além do conhecimento das duas línguas que todo tradutor literário deve
ter, no trabalho de tradução devem ser recuperadas essas outras áreas de saber
do escritor que se trasladam no texto na língua alvo e que o tradutor deve poder
identificar na leitura, conhecer e estudar os detalhes para poder espalhar no novo
texto. No conto Perdidos e achados são convocados saberes como a oceanografia
na exaustiva descrição da escuridão dos mares e a geografia da cidade de Recife,
cenário do conto. Quais as dificuldades perante essa confluência de linguagens?
Como materializá-las na outra língua? O que fazer perante os chamados
intraduzíveis? Refletiremos sobre essas problemáticas através do pensamento de
Paulo Rónai quem afirma que traduzir pode levar-nos a dois processos diversos:
"Conduzir uma obra estrangeira para outro ambiente linguístico significa querer
adaptá-la ao máximo aos costumes do novo meio, retirar-lhe as características
exóticas [ou] conduzir o leitor para o país da obra que lê [mantendo o que] tem
de estranho, de genuíno, e acentuar a cada instante a sua origem alienígena"
(RÓNAI, 2012, 24), ou como diria Walter Benjamin: a tradução possui o eco do
original. Referências Bibliográficas BENJAMIN, Walter. La tarea del traductor.
In: VEJA, M. A. Textos clásicos de teoría de la traducción. Madrid: Cátedra, 1994.
p. 285-296. LINS, O. Nove novena: narrativas. 4.ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994. RÓNAI, P. A tradução vivida. 4. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio
Editora, 2012.
PALAVRAS-CHAVE: tradução; Perdidos e achados; português-espanhol.
Mara Lúcia Barbosa da Silva
TITULO: O TESTEMUNHO EPISTOLOGRÁFICO DE CAIO FERNANDO
ABREU
RESUMO: No prólogo de Escrita de si, escrita da História, Angela de Castro
Gomes trata sobre uma nova forma de pensar a correspondência e da relevância
que lhe passou a ser dada. Gomes afirma que a escrita autorreferencial ou escrita
de si integra um conjunto de modalidades do que se convencionou chamar
produção de si no mundo moderno ocidental e considera que essa denominação
pode ser mais bem entendida a partir da ideia de uma relação que se estabeleceu
entre o indivíduo moderno e seus documentos. Essas práticas de produção de si,
para a pesquisadora, englobariam um diversificado conjunto de ações, desde as
ligadas à escrita de si até a constituição de uma memória pessoal através do
recolhimento de objetos materiais que criariam um “teatro da memória”.
Levillain (apud Gomes) afirma que se o ato de escrever sobre vidas é muito antigo,
a ideia de que a vida é uma história é bem recente. Os tempos modernos
consagrariam, então, o lugar do indivíduo na sociedade e essa nova categoria de
indivíduo faz com que se transformem as noções de memória, documento,
verdade, tempo e história. A escrita epistolar de Caio Fernando Abreu pode ser
inserida nessas categorias, assumindo por vezes o papel de memória, de
documento, de história e ao longo da qual podemos perceber uma resistência
permanente contra as imposições do status quo, seja ele de que ordem for.
Através da análise da correspondência ativa de Caio F. pretendemos pensar esse
material à luz de um paradigma testemunhal utilizando como corpus de pesquisa
o livro organizado por Ítalo Moriconi, Caio Fernando Abreu: cartas, e
correspondências que fazem parte do acervo do autor no Delfos - Espaço de
documentação e memória cultural da PUCRS.
PALAVRAS-CHAVE: Caio Fernando Abreu; Epistolografia; Testemunho.
Marcela Miller
TITULO: TENSÕES SOBRE O GELO: POLÍTICA E IDEOLOGIA NA
LITERATURA POLICIAL NÓRDICA CONTEMPORÂNEA
RESUMO: Com sua imagem sempre lembrada como países exemplares do bom
desenvolvimento do capitalismo, os países nórdicos enfrentam tensões sociais
que vêm à tona em episódios violentos muitas vezes tratados na mídia
internacional como acontecimentos isolados. A internacionalização do mercado
editorial permitiu à literatura policial nórdica revelar ao mundo a real
profundidade e extensão das tensões sociais que estes países têm enfrentado,
muitas vezes de forma velada, trazendo importantes discussões políticas e
ideológicas sobre a eficácia do projeto moderno ao debater questões de gênero,
étnicas, de classe, e mesmo acertos de conta históricos envolvendo questões que
remontam ao pós-guerra. A literatura policial nórdica tem se apresentado como
uma forma narrativa capaz de realizar uma revisão crítica do projeto moderno
nessas sociedades, cujos rumos vêm sendo colocados em xeque pela insegurança
crescente promovida pela falência do Estado de Bem-Estar e pela crise da
representação política no contexto do capitalismo tardio e do projeto da União
Europeia. Trata-se de uma literatura que revela o quanto desse projeto ficou por
construir mesmo nessas sociedades tantas vezes retratadas como exemplo das
conquistas capitalistas.
PALAVRAS-CHAVE: literatura policial; ideologia; modernidade.
Marcelino Rodrigues da Silva
TITULO: TORCEDORES E PERNAS-DE-PAU: O HOMEM COMUM, A
BIOGRAFIA E A HISTÓRIA
RESUMO: A partir de pequenos perfis biográficos de personagens do mundo
esportivo publicados pela imprensa brasileira, pretende-se discutir os sentidos
das narrativas de vida de pessoas comuns – sejam elas ficcionais ou reais – para
a reflexão sobre as fronteiras entre a literatura e a história. Com esse objetivo,
serão mobilizadas referências teóricas sobre a narrativa e a biografia, colhidas
tanto no campo da História quanto nos Estudos Literários. No trabalho de
historiadores como Hayden White e Sabina Loriga, buscaremos a percepção do
caráter narrativo do discurso histórico e das diferentes formas de articular
experiência individual e experiência coletiva, projetadas em ideias como as do
“homem partícula”, do “homem problemático”, da “biografia modal” e da
“biografia coral”. Do campo literário, traremos ao debate o conceito de “ficção
biográfica”, materializado em obras como Vidas imaginárias, de Marcel Schwob,
e Vidas minúsculas, de Pierre Michon, por meio do qual se coloca em questão a
tradição heróica da biografia histórica e a dimensão ficcional de toda narrativa
biográfica. Pelo diálogo entre esses dois campos, evidencia-se o reconhecimento
da narrativa como uma forma lacunar e local de saber, aliado à percepção de que
o real só se deixa tocar pelo recurso à ficção.
PALAVRAS-CHAVE: biografia; homem comum; ficção.
Marcella Abboud
TITULO: ANA: O DRAMA MUDO DE LAVOURA ARCAICA
RESUMO: Lavoura Arcaica (1975) é um livro cuja linguagem tem forte caráter
imagético. Não à toa, sua adaptação para o cinema, consideravelmente elogiada,
tem respaldo – ainda que guardem-se os louros aos produtores cinematográficos
– na capacidade de escrita de Raduan Nassar. O enredo narra a história de André
que, depois de se envolver incestuosamente com a irmã Ana, vai embora da casa
dos pais. A Lavoura, tão repressora e hierárquica, é locus de dor e sofrimento para
o protagonista, e Ana é a fonte de pathos para o narrador. Aos olhos do
protagonista, Ana parece inclusive figurar como o próprio pathos pela sua
simples existência. A irmã, sem fala e gritante, é a maior força dramática do livro
e manifesta-se no silêncio, evidenciando o que há de mais patriarcal e violento na
Lavoura. Pretende-se aqui, por meio da estrutura que remonta a Sófocles, em
Édipo Rei, compreender como o drama, especialmente na personagem Ana, se
constrói, haja vista que fazemos a hipótese de que o mito grego é reproduzido e
atualizado: Ana é objeto de pai e de filho, e joguete na disputa patriarcal pela
herança da Lavoura.
PALAVRAS-CHAVE: Lavoura Arcaica; Édipo-rei; pathos.
Marcelo Almeida Peloggio
TITULO: OS CÁRCERES DA MEMÓRIA EM GRACILIANO RAMOS
RESUMO: O artigo procura mostrar como a atividade espiritual, ao tratar a
memória como instrumento de denúncia, na obra as Memórias do cárcere, de
Graciliano Ramos, enfrenta o desafio de interagir com elementos que a podem
fazer prisioneira de si mesma na seleção e aplicação de imagens no processo de
criação literária; com efeito, elementos como o automatismo carcerário, o
egotismo e a adesão cega à realidade exterior. De tal forma que se faz bastante
necessária, no sentido de se oferecer uma abordagem mais penetrante acerca dos
usos da memória, uma possível articulação entre o automatismo carcerário e dois
outros princípios formais de as Memórias do cárcere, que são o não desejo de
nomeada, o que significa dizer: a refutação do mero falar de si (o qual inexiste em
Graciliano Ramos, mas que pode ser sugerido como pura crítica epistemológica)
e a posição altamente humanitária da obra em razão do seu libelo esclarecedor.
PALAVRAS-CHAVE: Graciliano Ramos; Memória; Automatismo.
Marcelo Chiaretto
TITULO: O CANÔNICO E O NÃO-CANÔNICO NA FORMAÇÃO DO LEITOR: O
CASO DE ALLAN SANTOS DA ROSA E A LITERATURA DA PERIFERIA
RESUMO: Como meta principal, esta comunicação pretende demonstrar como a
obra literária do escritor Allan Santos da Rosa, um autor do movimento de
literatura da periferia paulistana em vigor na contemporaneidade, pode estimular
a formação de novos leitores literários no ensino da literatura. Tal obra será
representada, nesta oportunidade, pelo conto “Pérola”, publicado originalmente
na coletânea Literatura marginal: talentos da periferia (2005). Como metas
secundárias deste estudo, serão investigados alguns procedimentos estéticoliterários que fazem da obra do autor paulistano algo que destoa de outras
publicações do grupo de autores intitulados “marginais” ou “periféricos” e que o
aproxima de uma produção ficcional brasileira contemporânea já consagrada e
de certa forma canônica. Como conclusões da comunicação percebe-se que, de
modo dissonante com toda uma produção intitulada como “periférica” e
“marginal”, em Santos da Rosa não há o apelo panfletário, não há orientação
política, não há uma preocupação didática que visa apresentar ao leitor passivo o
quadro de miséria a ser condenado e denunciado. Em contraposição, “Pérola”,
assim como outras produções do autor, recorre a uma sensibilidade
antimaniqueísta, a um lirismo difuso e à construção narrativa com recortes sutis
e intrigantes ao leitor. Santos da Rosa, com sua habilidade expressiva, opta assim
pela estética a fim de resguardar sua obra do contraproducente ímpeto acusatório
e doutrinário. Em suma, verifica-se que na obra literária de Santos da Rosa
representada pelo conto em questão é possível encontrar, assim, o mesmo viés
naturalista perceptível em um grupo considerável de escritores brasileiros
contemporâneos, um viés que bem explorado em sala de aula pode ser muito mais
instigante e produtivo para formar novos leitores que uma perspectiva menos
estética e mais pedagógica.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Periferia; Formação do leitor.
Marcelo da Rocha Lima Diego
TITULO: POÉTICAS DA LATÊNCIA: AUSÊNCIA, AFETO E MEMÓRIA EM
JOSÉ LUÍS GONZÁLEZ E CILDO MEIRELES
RESUMO: Em 1954 o escritor porto-riquenho José Luis González (1926-1996)
publicou, na coletânea En este lado, o conto "Una caja de plomo que no se podía
abrir". A ação se passa em plena Guerra da Coreia (1950-1953), em um subúrbio
de San Juan, e gira ao redor da chegada de uma urna funerária – inexpugnável,
conforme se lê já no título – contendo os restos mortais de um dos filhos do lugar,
que fora enviado para a guerra. Para além das temáticas da ausência e da perda,
estão em jogo na narrativa as tensões e os conflitos entre o centro e a periferia –
no caso, entre o poder do Estado norte-americano e um Porto Rico reduzido, em
muitos aspectos, ao status de colônia. Menos de vinte anos depois, em uma série
de obras feitas a partir da década de 1970 – durante os anos de chumbo da
ditadura cívico-militar brasileira (1964-1984) –, o artista plástico brasileiro Cildo
Meireles (1948-) mobilizou um repertório imagético semelhante ao utilizado por
González no conto de 1954: caixas que não podem ser abertas; facas que possuem
apenas as lâminas, sem local apropriado para o manuseio; correntes compostas
por elos de chumbo e de papel; esferas fabricadas com diferentes materiais,
porém idênticas ao olhar; moedas de zero centavo e notas de zero dólar, entre
outras. São obras que se inserem em uma perspectiva conceitual e que refletem,
no campo do estético, as contradições da situação política em que foram geradas,
sem necessariamente referi-las. Esta comunicação propõe uma leitura
comparada do conto de González e das obras de Meireles, na qual estas
funcionam como elemento mediador para chegar-se àquele. Procura-se, assim,
aproximar o autor caribenho do leitor brasileiro por meio de uma estratégia na
qual o estabelecimento de associações entre os contextos tem papel tão relevante
quanto a tradução do texto.
PALAVRAS-CHAVE: José Luis González; Cildo Meireles; EstudosPós-Coloniais.
Marcelo dos Santos
TITULO: “NESTA TERRA POR ONDE DEUS NUNCA ANDOU”: ALUÍSIO
AZEVEDO E SUA CORRESPONDÊNCIA INTERNACIONAL
RESUMO: O estudo da correspondência de escritores tem contribuído para o
alargamento da ideia de obra literária, promovendo a discussão sobre aspectos
por vezes não privilegiados pela historiografia literária. A epistolografia põe em
cruzamento obra, vida literária e processo de escrita, auxiliando na construção do
perfil do escritor como intelectual diante do complexo contexto de produção e
recepção de seus escritos. Nesse sentido, o presente artigo pretende contribuir
para a fortuna crítica sobre Aluísio Azevedo, ao analisar a correspondência do
escritor no momento em que este assume seu posto nos quadros da diplomacia
brasileira, no início do século XX. A correspondência de Aluísio Azevedo, ainda
não publicada integralmente, pode revelar de forma mais definida o trânsito
entre o romancista, inserido na vertente naturalista de nossa literatura
finissecular, e o intelectual diplomata, chancelado pela academia, às portas do
novo século. Com esse trânsito, a escrita de Aluísio Azevedo pode ser percebida a
partir de outros contextos e funções, especificamente compreendendo-a como
formadora de um pensamento sobre o país, a literatura brasileira e a língua,
pensamento construído em contraste com outras situações geopolíticas. A partir
da análise da correspondência internacional do escritor, especificamente aquela
realizada com o escritor Graça Aranha na primeira década do século XX – hoje
depositada na Fundação Casa de Rui Barbosa –, propõe-se reavaliar o alcance do
olhar do escritor sobre o mundo europeu no momento singular em que, por meio
do nascente ideário republicano, este olhar deve ajudar a configurar a imagem do
intelectual brasileiro, moldada pelo ímpeto modernizador próprio da época e
delineada no fluxo que instaura um “conhecimento do mundo”.
PALAVRAS-CHAVE: Epistolografia; Aluísio Azevedo; Graça Aranha.
Marcelo Ferraz de Paula
TITULO: (DES)CONFIGURAÇÕES DO TESTEMUNHO NA POESIA LÍRICA:
UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO
RESUMO: As investigações sobre a complexa relação entre literatura e
testemunho têm se consolidado gradativamente no Brasil nas últimas décadas.
Grupos de pesquisa, dossiês temáticos, publicações de livros, eventos e teses
confirmam o interesse que o assunto vem despertando atualmente. Os trabalhos
destacam, por exemplo, a necessidade/obsessão do sobrevivente de grandes
catástrofes históricas, ou da vítima de violências institucionais, em preservar a
memória do sofrimento, denunciando o horror vivido para evitar que ele se repita
– isto é, aceitando o compromisso ético de “manter o passado ativo no presente”
(Seligmann-Silva, 2013, p. 48). Partindo dessas contribuições, nossa proposta
reivindica uma presença maior da poesia lírica nos debates sobre o testemunho.
Se fora do Brasil a poesia frequentemente foi levada em conta, como mostra a
inequívoca presença de Paul Celan em um implícito "cânone do testemunho", em
nosso país a ênfase dos estudos recaiu quase que exclusivamente na prosa. Assim,
partimos da perspectiva já consagrada por autores como Alfredo Bosi (2000) e
Adorno (2006) de que a poesia apresenta forte componente social e, em vez de
ser exclusivamente zona de escape para emoções subjetivas, é também capaz de
ponderar sobre dilemas históricos e, consequentemente, sua estrutura não é
imune ou hostil à escrita do testemunho. Julgamos que através desse diálogo
parte significativa da poesia do século XX pode ser revisitada, com ganho para a
compreensão dessas obras. Com um enfoque teórico, estabeleceremos uma
discussão a respeito das particularidades do testemunho ao se manifestar na
linguagem poética, colocamos em questão os problemas que certa “poesia de
testemunho” impõe à teoria moderna do gênero lírico, tal como formulada desde
Hegel (1998). Para ilustrar essa análise, comentaremos poemas de alguns autores
latino-americanos que viveram situações-limite do século XX: prisão, guerra,
exílio, clandestinidade, tortura, processos revolucionários. Dentre eles,
destacamos Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar e
Thiago de Mello.
PALAVRAS-CHAVE: Lírica; Testemunho; Teoria literária.
Marcelo Henrique de Souza
TITULO: KIU e CuS: COMPREENDENDO ASPECTOS DA MILITÂNCIA LGBT
NA UNIVERSIDADE
RESUMO: Pensar na discussão sobre a importância dos movimentos
homossexuais é uma questão emergente na sociedade contemporânea. Assim, o
objetivo desta pesquisa é contribuir no sentido de ampliar essa discussão dentro
da própria academia, que nos séculos XX e XXI, proporcionaram a fomentação e
formação de grupos acadêmicos LGBT. Para tanto, apresenta-se, nesta pesquisa,
aspectos históricos que explicitam a luta efetivada pela comunidade LGBT,
tentando dar visibilidade às múltiplas identidades que constituem esses grupos,
particularizando o grupo KIU - Coletivo Universitário pela Diversidade Sexual de
Salvador e o grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CuS). Vários motivos
propiciaram o surgimento do grupo KIU, dentre eles, a crítica às ONGs
(“ongueirização”), que “dominavam” todo tipo de iniciativa cível desde os anos
1980. Já o CuS, o objetivo era, e ainda é, produzir pesquisas e atividades de
extensão com professores, alunos de pós-graduação e graduação que tenham
interesses em estudar as relações entre cultura, gênero e sexualidade, a partir e
com os estudos queer. A metodologia utilizada é o estudo de caso, que pretende
buscar um conhecimento mais aprofundado sobre o surgimento e a militância
LGBT dentro da Universidade, a partir de relatos de militantes de dois grupos
específicos, o KIU e o CuS, numa tentativa de comparar como surge a militância
na UFBA a partir dos dois grupos. Nesta pesquisa, a partir das leituras de Bento
(2011), Miskolci (2011), Simões (2009) e Facchini (2005) faço uma discussão
sobre a militância LGBT, na universidade. A partir desta discussão darei ênfase
ao KIU, formado unicamente por estudantes, e ao CuS, formado por professores
e alunos da graduação e pós-graduação. Destacarei, particularmente, as razões
que levaram ao surgimento dos dois grupos na universidade.
PALAVRAS-CHAVE: Militância; LGBT; Universidade.
Marcelo Jacques de Moraes
TITULO: PODE-SE COMER UM FIGO DE PALAVRAS?
RESUMO: Ao preparar a tradução brasileira de "Comment une figue de paroles
et pourquoi", do poeta francês Francis Ponge, hesito um pouco em relação ao
título. Se o traduzo palavra por palavra (literalmente?), tenho Como um figo de
palavras e porquê. Ora, se a palavra “como” é, de fato, aquela que, em português
equivale ao advérbio “comment” do ponto de vista da etimologia, ela é também a
primeira pessoa do verbo “comer” – o que não é absolutamente o caso em francês.
O título teria, portanto, em português, ao mesmo tempo, e de maneira
indecidível, dois sentidos: “De que maneira um figo de palavras e porquê” e “Eu
como um figo de palavras e porquê”. Essa homonímia acidental – uma vez que
não é o efeito de uma genealogia interna à língua portuguesa – impõe uma
oscilação de sentido que me parece, entretanto, interessante na medida em que
ela não é sem relação com o poema: neste, o figo de palavras se faz de fato devorar,
ainda que deixe um resto “irredutível”, seu “pequeno botão de desmame”, que, tal
como uma letra estrangeira, se faz mascar e remascar infinitamente. Partirei,
portanto, dessa tradução “luciferina” – e que nos permite, talvez, dizer que não
pode haver tradução “literal” – para discutir a dimensão performativa da poesia
de (em) Ponge em sua relação com o problema da literalidade.
PALAVRAS-CHAVE: Francis Ponge; tradução; literalidade.
Marcelo Lachat
TITULO: OS SÉCULOS XVI E XVII: NEM "CLÁSSICO" NEM "BARROCO"
RESUMO: A noção de “estilo literário” é historicamente determinada, mas seu
emprego se mostra frequentemente anacrônico, classificando-se obras e autores
segundo critérios estilísticos que se almejam atemporais. Assim, o descompasso
entre os “estilos literários” e os tempos por eles classificados gera períodos
literários estilizados, que desistoricizam as especificidades históricas dos textos,
lidos fora do tempo, porque apreendidos a partir de características supostamente
universais. Desse modo anacrônico é que se apreendem, por exemplo, aqueles
poemas líricos ditos de Camões ao inseri-los, antes mesmo de serem
propriamente lidos, no “classicismo” da “literatura portuguesa”; ou, ainda,
aqueles textos da produção retórica e poética luso-brasileira do século XVII e
começo do século XVIII ao denominá-los, acriticamente, “barrocos”. Buscandose refletir acerca dessa concepção de “estilo literário”, que se arrogando universal
se faz anacrônica, propõe-se esta comunicação, na qual serão discutidas
particularidades das práticas letradas portuguesas e luso-brasileiras dos séculos
XVI e XVII. Essas peculiaridades são, muitas vezes, apagadas ante generalidades
de supostos estilos de época: “clássico” e “barroco”. Por isso, pretende-se, neste
trabalho, mostrar antes ruínas letradas (em particular, dos anos Quinhentos e
Seiscentos) do que construções atemporais anacronicamente idealizadas. Em vez
de classificar, dedutivamente, autores e obras como “clássicos” ou “barrocos”, o
que se almeja é recorrer àquilo que enforma os textos quinhentistas e
seiscentistas seguindo as marcas de seus tempos em ruínas, em especial, às
technai retórica e poética e às matérias elaboradas tecnicamente. É propósito
desta comunicação, enfim, questionar o emprego dos termos “clássico” e
“barroco”, enquanto “estilos literários de época”, frente às especificidades das
produções retóricas e poéticas dos séculos XVI e XVII, em Portugal e na (então
chamada) “América Portuguesa”. Assim se faz à procura de uma melhor
compreensão dessas ruínas letradas em seus próprios tempos, mesmo que, para
tanto, sejam ruídos edifícios literários supostamente atemporais.
PALAVRAS-CHAVE: Séculos XVI e XVII; Clássico; Barroco.
Marcelo Magalhães Leitão
TITULO: ALGUMAS TENDÊNCIAS DO LIRISMO MODERNISTA ENTRE
REFLEXÕES SOBRE ARTES PLÁSTICAS: UT PICTURA POESIS
MARIOANDRADIANO
RESUMO: De Diderot a Baudelaire, e deste ao esprit nouveau de Apollinaire, as
reflexões sobre as artes plásticas constituíram fórum fértil e imaginativo sobre a
lírica moderna. Em uma espécie de reformulação da doutrina do Ut pictura
poesis, desenvolvida a partir do Renascimento sobre uma interpretação
equivocada das palavras de Horácio (65 a.C.−8 a.C.), esses pensadores e poetas
promoveram reveladoras aproximações entre reflexão sobre artes plásticas e
reflexão sobre o lirismo e a poesia. Alguns desses nomes e muitas dessas ideias
foram mobilizados por Hugo Friedrich (1956), em seu estudo fundamental sobre
a lírica moderna. O estudo que propomos aqui pretenderá refletir acerca das
concepções de um novo lirismo, eventualmente modernista, que Mário de
Andrade esboçou em alguns de seus textos dedicados às artes plásticas,
especialmente aqueles dedicados à pintura e ao desenho. Propõe-se portanto uma
espécie de Ut pictura poesis marioandradiano, em que as reflexões sobre
elementos plásticos servem a uma apreensão do fenômeno lírico no panorama
modernista, assim como sugestões de "lirismo visual", como já sugerira
Apollinaire.
PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade; lirismo moderno; Ut pictura poesis.
Marcelo Paiva de Souza
TITULO: “UMA DESCARADA JANELA JUDIA”: W?ADYS?AW SZLENGEL,
CRONISTA DO GUETO DE VARSÓVIA
RESUMO: A amargura irônica de “Okno na tamt? stron?”/“Uma janela para o
lado de lá”, poema coligido em Co czyta?em umar?ym/O que eu lia para os
mortos, de W?adys?aw Szlengel (1914-1943), faculta um vislumbre
dolorosamente nítido, presta testemunho dos mais eloquentes da vida precária
que se terá vivido, às vésperas da Endlösung, por trás dos muros do Gueto de
Varsóvia. O sujeito poético, judeu polonês proibido pelo meticuloso arbítrio
nazista de achegar-se à janela com vista para o restante da cidade, espera pela
noite; olha então com avidez através da vidraça, buscando, para além das “árvores
arianas” do belo parque defronte, “um contrabando sentimental”: os vultos e
contornos da urbe adormecida que ainda chama de sua – porém já não é.
Descortinar um pouco do que se vê dessa “descarada janela judia”, examinando,
a partir dela, o lado de fora e, sobretudo, o lado de dentro do Gueto, dar a
conhecer no Brasil alguns versos e alguma prosa de Szlengel, apresentando-o,
traduzindo-o e comentando-o, será nosso objetivo nesta comunicação.
PALAVRAS-CHAVE: W?adys?aw Szlengel; Gueto de Varsóvia; lit. pol. em trad.
Marcelo Vieira da Nóbrega
TITULO: SUJEITOS, PARDAIS CINZENTOS NO CONCRETO ARMADO: UM
OLHAR SOBRE A CONSTITUIÇÃO DAS POTÊNCIAS MARGINAIS NA
MULTIDÃO A PARTIR DA SAGA DE VALDIRENE EM PELAS FRESTAS DO
TELHADO, DE MÁRCIO RIBEIRO LEITE
RESUMO: Da perda trágica da irmã - brutalmente assassinada pelo próprio pai
– até a diáspora hibridizante e forçada do sertão à cidade, a saga de Valdirene
Gomes e sua família em Pelas Frestas do Telhado, de Márcio Ribeiro Leite,
culmina, nos anos iniciais, com um misto de dor, morte, vácuo existencial, fome,
abandono, resistências e muita cooperação. Ressurgem na miséria de um buraco
fétido – lugar onde moraram, na cidade grande, inicialmente - porque são
potências, rizomas, típicos da multidão, segundo o olhar de Deleuze e Guattari
(1997), Virno (2013) e Martín-Barbero (2003). É nesta perspectiva que se propõe
este artigo: investigar - à luz da saga de fome e abandono a que são submetidos
Valdirene Gomes e família, na cidade, – de que forma a obra literária em análise,
do ponto de vista estético, media relações humanas que imbricam solidariedade,
cooperação, poder, luta, sofrimento, opressão, (des)territorialização e afeto,
sempre com um olhar nas multidões, nos marginais margeantes. Para tal, buscase, à luz do conceito de multidão, enquanto potência, rizoma, de Deleuze e
Guattari (1997), refletir, sobremaneira, acerca das cooperações e resistências que
impõem e contingenciam as ações de Valdirene e suas irmãs mais velhas a
sobreviverem em meio à multidão, entendida esta, segundo Benjamim (1975),
como “trama, entrelaçamento de submissões e resistências, impugnações e
cumplicidades.” Partindo-se de uma metáfora, proposta pela própria Valdirene –
ao prenunciar a morte de uma de suas irmãs: “A névoa do pântano da morte nos
envolveu outra vez. Uma tristeza inundou meu espírito. Vi o pouso
desconcertante de um pardal no parapeito de minha janela” – denota-se serem
Valdirene e suas irmãs pardais, urubus urbanos, marginais, os malditos, ameaças
constantes, resistentes e predadores, cinzas como o concreto das edificações
urbanas, mas solidários e cooperantes, jogadas no coração dos espaços de poder
que, juntos, reagirão.
PALAVRAS-CHAVE: Resistência; Marginalidade; Multidão.
Marcia Cristina Xavier
TITULO: DO POEMA A TELA: A POESIA DE BANDEIRA E A METAFICÇÃO
(REPRESENTAÇÃO/DIALOGISMO INTERTEXTUAL) EM O POETA DO
CASTELO DE JOAQUIM ANDRADE
RESUMO: No curta metragem de Joaquim Andrade, O poeta do Castelo
encontramos o próprio poeta Manuel Bandeira apresentando sobre si, através de
trechos e de alguns de seus poemas, tais como Belo, Belo II, Testamento e Vou
me embora pra Pasárgada. Neste contexto, trechos e poemas recitados e
encenados pelo poeta, apresentam não só aspectos de “dialogismo intertextual”
com o texto literário, mais também a representação da realidade encenada
configuram uma criação metaficcional ao vídeo, pois o aspecto biográfico destas
poesias que são declamadas e o fato do poeta utilizar seus textos para mostrar se
e ou contar se como artista, traz ao documentário uma reconstrução do texto
literário como uma referência ao poeta e sua poesia. Para esta análise será
utilizado alguns teóricos como podemos citar: Gustavo Bernardo, o livro da
metaficção e Linda Hutcheon em sua obra Narcissistic narrative: the
metafictional paradox. Para estudar as relações referente a representação da
realidade utilizaremos Aristóteles e Erick Auerback e quanto ao dialogismo
intertextual, autores como Robert Stam será referenciado, bem como outros
teóricos que trabalham a relação intersemiótica.
PALAVRAS-CHAVE: metaficção; poesia; curta metragem.
Marcia Heloisa Amarante Gonçalves
TITULO: ANO UM: ULTRASSONOGRAFIA DA UTOPIA ESTADUNIDENSE NA
ERA PRÉ-NIXON EM "O BEBÊ DE ROSEMARY"
RESUMO: A minha tese propõe um estudo das narrativas de medo nos Estados
Unidos, as classificando como obras ficcionais que privilegiam o espaço íntimo
dos seus personagens como espelhamento, ora sincrônico, ora destoante, do
contexto social em que se enquadram. Com o intuito de defender a sua
pertinência e permanência como um subgênero do horror, examino a vocação
arquetípica de tais narrativas, em geral oriundas da combinação de dois
ingredientes essencialmente estadunidenses: a geração e manutenção de pânicos
políticos e a perene crença no excepcionalismo americano. O monstro, dentro
desta perspectiva, atuaria como um psicopompo, um guia sombrio da alma,
aquele que executa o misterioso translado do inconsciente ao consciente. Para
discutir o tema no presente trabalho, selecionei o romance “O Bebê de Rosemary”
(1967) e sua respectiva adaptação cinematográfica (1968). Uma análise do
panorama político e cultural dos Estados Unidos faz-se oportuna para a
compreensão da narrativa selecionada, bem como uma reflexão sobre o
desdobramento da insegurança coletiva em obras de ficção da década de 1960 nas
quais o núcleo nevrálgico do medo incide no ambiente privado. Interessa-me em
particular estabelecer um paralelo entre o nascimento do suposto Anticristo no
romance com os fatores políticos – nacionais e internacionais – que conduziram
à eleição de Richard Nixon em 1968. Reconhecendo o impacto do apelo visual na
memória do público, procurei esmiuçar a versão fílmica do romance para
aprofundar a minha análise. Percebo romance e filme como arquétipos em sua
capacidade de operar como manifestações de instintos humanos por meio de
representações simbólicas, cartografando paisagens utópicas do sonho
americano e concentrando-se em instantes nos quais a vulnerabilidade do lar e
do corpo pareciam refletir os pesadelos recorrentes de uma trajetória histórica
marcada por mudanças, inseguranças e um crescente movimento de simultâneo
fascínio e pânico em relação ao novo.
PALAVRAS-CHAVE: Horror; Narrativas de Medo; Pânico Político.
Marcia Horacio Barbosa
TITULO: A AMÉRICA DE GALEANO: NOSSA AMÉRICA
RESUMO: Tantos povos e culturas. Etnias e crenças. Uma língua que se adapta,
molda, assume significados. A língua do colonizador é a mesma língua do
colonizado. Eduardo Galeano apresenta o continente americano aos americanos
do sul. Afinal, aqueles que vivem no hemisfério norte conhecem bem o território,
suas riquezas e fraquezas. Aos americanos do sul coube um papel de
subserviência incondicional. A síndrome do vira-lata que ronda constantemente
nossos domínios e avanços. O escritor uruguaio contextualizou a história dos
povos da América do Sul. Ressaltou nomes e contou sobre as resistências
silenciadas ao longo dos tempos. Um livro apaixonado, jovem e, como ele mesmo
declarou, ingênuo... Passados mais de trinta anos, a América Latina ainda sangra
suas riquezas. O povo manifesta-se e declara suas necessidades e anseios. O que
podemos considerar utopia naquele ano de 1971, ano da primeira edição da obra
Veias Abertas da América Latina? O que podemos trazer de novo à América de
2015???
PALAVRAS-CHAVE: Eduardo Galeano; América Latina; Reflexões.
Marcio Jean Fialho de Sousa
TITULO: O NOVO DE UM VELHO DIABO: UM DÂNDI, UM PACTO, UM
DESEJO
RESUMO: Ainda que o Portugal da segunda metade do século XIX já tivesse
passado por diversas revoluções com motes de modernidade e ruptura com os
modelos tradicionais de sua cultura, reminiscências do período medieval podiam
ainda ser encontradas em diversos aspectos de sua produção intelectual e de seus
costumes populares. Essas marcas tradicionais caracterizam certa ironia no
exercício do fazer intelectual português, pois estando a Europa passando pelo
processo de modernização, o que se via no Portugal da época era uma forte ligação
com costumes religiosos. Exemplo desse fenômeno pode ser encontrado nas
obras de Eça de Queirós, nas quais figuras fantasmagóricas e míticas se fazem
presentes com maior ou menor enfoque, tal como em O Mandarim. Nessa novela,
duas figuras fantasistas se fazem presente, a primeira é a personificação de Ti
Chin-Fu, como consequência de uma consciência “pesada” e acusadora de
Teodoro, e a segunda figura se apresenta com o aparecimento, sem nenhuma
justificativa, da figura do diabo a quem vale especial atenção. Segundo Óscar
Lopes, “É o diabo como ‘delicioso terror da nossa infância católica’, o que ao meu
ver revela a base de todo o enfeitiçamento de Eça pelo diabolismo das literaturas
germânicas, que tanto perpassa sua obra.” (LOPES, 1997, p. 464) Dessa forma, o
que se pretende durante a exposição dessa comunicação é analisar a figura do
diabo, como reminiscente medieval, presente em O Mandarim, de que modo essa
personagem apresenta valores da modernidade e como poderia ser relacionada
ao Dândi descrito por Charles Baudelaire (1868) e representado nas telas de
Constantin Guy (1802-1892), além de buscar a estabelecer diálogo com a tradição
católica portuguesa, por meio de estruturas irônicas, peculiares a Eça de Queirós.
PALAVRAS-CHAVE: Diabo; Dândi; Ambições.
Marcio Markendorf
TITULO: A ARQUITETURA NO CINEMA DE HORROR E OS CENÁRIOS DA
LITERATURA GÓTICA
RESUMO: A literatura de estética gótica, assim categorizada por um conjunto de
obras seminais do século XVIII, produziu um forte impacto na fantasia do horror.
Ao remeter-se a determinados cenários, francamente associados ao período
medieval, tais como castelos, abadias, igrejas e outras edificações de
comunidades cristãs, a ficção estabeleceu um tipo de imaginário que persistiu em
períodos subsequentes. A construção ampla – muitas vezes em ruínas ou
abandonada –, dotada de imensos corredores, labiríntica, opressora, com
passagens ocultas, imersa em um universo oscilante entre o sobrenatural e a
loucura, prevalece no design dos cenários contemporâneos. Com a renovação do
ciclo cinematográfico do horror em fim dos anos 1960, inspirado por obras
literárias responsáveis pelo deslocamento do medo para o espaço urbano – tal
como se dá com "O bebê de Rosemary" (The Rosemary’s baby, Roman Polanski,
1968), "O exorcista" (The exorcist, William Friedkin, 1973) e "Horror em
Amityville" (The Amityville horror, Stuart Rosenberg, 1978) –, o velho modelo do
castelo medieval gótico sofre um achatamento arquitetônico para adaptar-se a
um contexto capitalista e citadino. Na compressão espacial dessas novas
edificações, o cenário é dotado de casarios com porão e sótão empoeirados e
abarrotados, corredores e lances de escadas desorientadores, cômodos ocultos,
garagens e abrigos afastados. Com algumas variações, o modelo expandido
também é passível de ser encontrado, algo como o Hotel Overlook de "O
Iluminado" (The shining, Stanley Kubrick, 1980), ou a versão ainda mais
compacta, situada fora dos limites da cidade, representada por cabanas na
floresta, ao modo de "Uma noite alucinante - a morte do demônio" (Sam Raimi,
1981). Esta proposta de trabalho pretende investigar esse processo de
manutenção, compactação e adaptação dos cenários góticos a contextos mais
contemporâneos, com a análise de uma amostragem de diferentes filmes de
horror produzidos entre os anos 1970 e os 2010.
PALAVRAS-CHAVE: cinema de horror; literatura gótica; arquitetura.
Marco Anselmo Vasques
TITULO: A LITERATURA DRAMÁTICA NO CORPO DA ESCOLA
RESUMO: A leitura, via de regra, entra na escola como ingrediente utilitário,
como tarefa a ser cumprida. Obedece a uma estrutura que, em sua maioria, não
privilegia o mundo do leitor-alvo, isto é, o aluno. A partir da experiência como
professor de literatura e diretor teatral em escolas públicas, em Joinville, uma das
maiores cidades do estado de Santa Catarina, pretendo discorrer sobre como a
leitura dramática, e mesmo a encenação de textos dramáticos entre os alunos,
pode mexer e alterar o corpo da escolar e o corpo do bairro em que os agentes
escolares estão inseridos. Ler o corpo, ler sua rua, ler seu núcleo familiar, ler seu
bairro, enfim, ler o mundo para reler outros mundos. Tratar a leitura como ato
intempestivo, na acepção de Agamben de intempestivo, e provocar, perguntar,
interrogar, muito mais que responder, que estratificar. Tal qual a escola, o
mercado editorial e as feiras de livros, por exemplo, também tratam a leitura
como ato utilitário e comercial. Ler como ato de perdição, ato nômade. A leitura
dramática no corpo da escola, da maneira como foi experienciada, tem como
principal ponto navegar nas fissuras, nas dobras, nas fraturas do corpo que vive,
muito aparentemente, na sóbria e sombria estratificação.
PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; Corpo escolar; Leitura.
Marco Antonio Saraiva
TITULO: METAMORFOSES DE JORGE DE SENA
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo principal analisar a obra do
poeta português Jorge de Sena intitulada "Metamorfoses", buscando depreender
as relações de sua poética com as diversas artes produzidas no Ocidente, a partir
da gênese mitológica dos seus primórdios, universo poético que abarca objetos de
arte desde os séculos VII a.C. e atingem a contemporaneidade, criando um
vínculo constante com a trajetória histórica da produção artística, expandindo,
da mesma forma, os significados dos poemas, e adentrando no universo, social e
político. Revelando, em primeiro, que a sequência cronológica que vai se
formando, legitima com isso o próprio fenômeno que nomeia o livro, o
encadeamento sugere a metamorfose de um tema para outro, de um universo
artístico, histórico, social, político e econômico em um novo, que eclode em
seguida, num périplo artístico de transformações na própria linguagem. Assim
Jorge de Sena mostra o aspecto evolutivo e a relação das artes plásticas e
pictóricas com a linguagem poética entre o fim do século XIX e ao longo do século
XX em sua escrita.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Metamorfoses.
Marcos Eduardo de Sousa
TITULO: GRANDES NARRATIVAS COBERTAS POR ‘ZONAS CINZENTAS’:
NARRATIVAS LEMBRADAS/ESQUECIDAS EM ‘OS ANÉIS DE SATURNO’ DE
W. G. SEBALD
RESUMO: A construção narrativa de ‘Os anéis de Saturno’ de W. G. Sebald (2010)
estrutura-se pelas viagens do narrador, nas quais a medida em que ele visita
lugares que outrora possuíam algum tipo de relevância social ou econômica ele
rememora fatos que relacionam-se ao local – emergem memórias individuais,
coletivas e culturais. Nesse trabalho evidenciamos duas características ou mesmo
formas pelas quais a memória está implicada na constituição da narrativa: 1) a
relação de tensão entre memória e esquecimento na escolha seletiva de episódios
a serem abordados/esquecidos; e, 2) o processo de pensar a literatura como
memória da cultura. O narrador estrutura a obra nessa grande ‘zona cinzenta de
lembrança’ (HUYSSEN, 2004) selecionando, arbitrariamente, elementos
culturais a serem desenvolvidos. Um evento que exemplifica muito bem essa
situação é o Shoah, pois, apesar de não haverem referências textuais explícitas,
há, pelo menos, dois eventos que retomam o episódio. Nesses interstícios entre
memória e literatura, é importante pensar, como Renate Lachamann (2004), na
literatura enquanto memória da cultura, na função mnemônica da literatura
como recurso intertextual inestimável. Afinal, os recursos lançados mão por
Sebald na obra, a inserem na vasta trama intertextual da memória da literatura e
a literatura ao ser vista como a memória da cultura (ou pelo menos como um dos
epicentros dessa cultura) carrega em seu repertório virtualmente todos textos
escritos, potencializando as possibilidade de significação que um leitor imerso
nesse aparato cultural pode suscitar. Referências HUYSSEN, Andreas. Gray Zone
of Remembrance. In: WELLBERY, David E.; RYAN, Judith; GUMBRECHT, Hans
Ulrich (eds.). A new history of German literature. Cambridge: Harvard University
Press, 2004. p. 970–975. LACHMANN, Renate. Cultural memory and the role of
literature. European Review, v. 12, n. 2, p. 165–178, 2004. SEBALD, W. G. Os
anéis de Saturno: uma peregrinação inglesa. São Paulo: Companhia das Letras,
2010.
PALAVRAS-CHAVE: memória; esquecimento; viagem.
Marcos Estevão Gomes Pasche
TITULO: PAULO HENRIQUES BRITTO: RECUSA E DISSONÂNCIA
RESUMO: Este trabalho intenta fazer um mapeamento crítico da obra poética de
Paulo Henriques Britto. A fim de destacar, por um lado, variações e, por outro, a
consolidação de certas linhas de força de tal poética noutros gêneros, o presente
estudo também observará, no autor de Trovar Claro, elementos significativos de
sua atuação como contista, tradutor e ensaísta, abordando obras como Paraísos
artificiais, de narrativas fictícias, e A tradução literária, da lavra ensaística. Tendo
como corpus o percurso bibliográfico que vai de Liturgia da matéria a Formas do
nada, o estudo dará especial destaque ao que em Paulo Henriques Britto figura
como recusa e dissonância, seja em relação a determinadas concepções do fazer
poético contemporâneo, seja acerca dos discursos que se disseminam como
pronta promessa de felicidade individual. Dessa forma, pretende-se colocar em
relevo a singular posição de Paulo Henriques Britto no atual cenário da poesia
brasileira, sublinhando-lhe o discreto e denso teor crítico.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia Brasileira; Crítica literária; Dissonância.
Marcos Vinícius Scheffel
TITULO: MULTILETRAMENTOS E O LETRAMENTO LITERÁRIO: UMA
CONVIVÊNCIA POSSÍVEL?
RESUMO: Nas últimas décadas, assistiu-se a mudanças significativas naquilo
que se consideravam os conteúdos e as abordagens de ensino de língua
portuguesa e literatura. A gramática normativa passou a ser questionada e o texto
foi apontado como o eixo em torno do qual as aulas de Português deveriam se
desdobrar. Mais recentemente, essa ênfase textual ganhou novo reforço com a
necessidade de promover os multiletramentos, os letramentos multissemióticos
e de questionar os letramentos hegemônicos (ROJO 2009). Toda essa
multiplicidade textual que converge para aula de língua portuguesa traz em seu
bojo uma série de questões: é possível trabalhar com essa variedade textual e
ainda achar tempo para o letramento literário? a literatura pode contribuir na
formação desse leitor de textos tão diversificados da práxis social? quais são os
lugares do texto e da literatura na escola? O presente trabalho debate essas
questões procurando também apresentar algumas possibilidades e
impossibilidades de se conciliar a perspectiva dos multiletramentos com
formação do leitor literário.
PALAVRAS-CHAVE:
Multiletramentos.
Letramento
literário;
Ensino
de
literatura;
Marcus Ramusyo de Almeida Brasil
TITULO: MARANHÃO 669: CINEMA, POESIA, FILOSOFIA E PERFORMANCE
POR UMA OUTRA HISTÓRIA DA POLÍTICA
RESUMO: Tento encontrar possíveis conexões e diálogos entre o cinema de
Glauber Rocha, com sua estética e seu fluxo temporal próprios, e o pensamento
filosófico de Walter Benjamin, principalmente no tocante às técnicas de
montagem e à utilização de alegorias como forma de encontrar uma imagem
dialética latente. A proposta foi criar uma revisitação do filme Maranhão 66
(1966) a partir da problematização crítica do cinema de Glauber, da perspectiva
teórica de Benjamin e das poesias de Celso Borges, num procedimento de
montagem dialética entre-linguagens. Desse processo reflexivo surgiu outro
filme, o Maranhão 669, um ensaio audiovisual que se propôs como uma imagem
que possibilitou analisar o Maranhão atual à luz do seu passado político, por isso
o 9, que, ao se colocar ao lado do 6 compõe uma imagem reflexo (ou real) [69],
mitigando uma reflexividade histórica tal como uma imagem de espelho,
opticamente refletida e invertida sobre o próprio eixo, que questiona, assim, a
ordem linear do espelho como um duplo e a recoloca sob a lógica de um espectro,
de uma sombra, de um vestígio, de um fantasma. A ideia é que o cinema
revolucionário de Glauber possa refletir-se nos dias atuais para, como disse
Benjamin, podermos "... escovar a história a contrapelo." (2012, p. 13). Tudo isso
na perspectiva glauberiana, para quem: "O cinema deve ser um método ao mesmo
tempo que uma expressão." (ROCHA, 2004 p. 103) A presente proposta é ter o
cinema como método (méthodus - caminho), para novamente buscar os
imbricamentos entre arte e política, a partir da poesia de Celso Borges e da
filosofia de Walter Benjamin. BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Belo
Horizonte: Autêntica, 2012. _________________. Passagens. Belo
Horizonte: UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial, 2009. BORGES, Celso. Persona
non grata. São Paulo: Edições Guarnicê, 1988. _____________. Belle Époque.
São Luís: Pitomba, 2009. _____________. Música. Curitiba: Medusa, 2006.
Maranhão 66. Direção e produção: Glauber Rocha. Som direto: Eduardo Escorel.
Rio de Janeiro: Mapa Filmes, 1966. ROCHA, Glauber. Revolução do cinema novo
/ Glauber Rocha. São Paulo: Cosac Naify, 2004. XAVIER, Ismail. Cinema
brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001. _____________. Alegorias
do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo e cinema marginal. São
Paulo: Cosac Naify, 2012.
PALAVRAS-CHAVE: Arte-Política; Walter Benjamin; Glauber Rocha.
Marcus Vinicius de Freitas
TITULO: GUERRA COM TESTEMUNHA: CARTAS DE OSMAN LINS A
MURILO RUBIÃO
RESUMO: O trabalho apresenta e analisa um conjunto de cartas de Osman Lins
dirigidas ao escritor mineiro Murilo Rubião, datadas entre 1965 e 1969, que
integram o fundo documental do autor de o “O Ex-Mágico” no Acervo de
Escritores Mineiros da UFMG. O período das cartas coincide com a atividade de
Murilo como criador e diretor do Suplemento Literário de Minas Gerais (de 1966
a 1969), e com a escrita de Guerra sem testemunhas, publicado em 1969, livro no
qual Osman Lins tematiza e discute o ofício do escritor, tarefa também cara a
Murilo Rubião, em especial na sua correspondência com escritores.
PALAVRAS-CHAVE: Murilo Rubião; correspondência; ofício do escritor.
Marcus Vinicius Nogueira Soares
TITULO: A CRONICA OITOCENTISTA E A TRADIÇÃO RETÓRICA
RESUMO: Em crônica de 30 de setembro de 1854 publicada na série “Ao correr
da pena” do diário carioca Correio Mercantil, José de Alencar, remetendo à
tradição greco-latina, associa a crônica ao “monstro de Horácio” e a Proteu, onde
o primeiro explicaria a suposta falta de unidade do gênero e o segundo a sua
volubilidade. Como se não bastasse, em outra crônica, agora de 3 de dezembro de
1854, o autor de Lucíola volta à Arte poética do poeta latino, mais propriamente
ao preceito da necessidade da longa maturação do texto, apresentando-o,
paradoxalmente, como solução à potencial dispersão do trabalho cronístico. A
despeito do tom satírico dos textos alencarianos, que poderia até certo ponto
minimizar o alcance reflexivo de suas afirmações, proponho investigar de que
forma a tradição retórica, assentada sobretudo em Horácio, é abalada pela
específica dinâmica da produção jornalística, em especial pela escrita de crônicas,
na medida em que as dimensões espacial e temporal do texto com as quais o
escritor lida são alteradas: de um lado, pela diminuta parcela da página do jornal
ocupada pela crônica; de outro, pelo arco de tempo que vai do registro histórico
do presente ao compromisso inadiável de publicação.
PALAVRAS-CHAVE: Crônica oitocentista; Jornalismo; retórica.
Mariângela Alonso
TITULO: A MATEMÁTICA DOS ESPELHOS: CLARICE LISPECTOR E
RAYMOND QUENEAU
RESUMO: O conto A quinta história, de Clarice Lispector, apresenta em sua
forma a iteração obsessiva de uma mesma história encaixada, o acréscimo de
novas imagens e a multiplicação de títulos. A autora constrói, em poucos
parágrafos, variações sobre um mesmo argumento, uma espécie de
desdobramento de histórias que se sucedem, a partir de um mesmo ponto: como
matar baratas. Segundo Lucien Dallenbach (1977), a reduplicação ad infinitum
presente nesta construção permite ao texto incidir-se especularmente na sua
própria imagem. Nesse sentido, a matéria, fluida e elíptica, surge geminada e é
submetida a um processo eternamente desdobrável, dialogando com as
observações de Gilles Deleuze em A dobra: “O múltiplo é não só o que tem muitas
partes, mas o que é dobrado de muitas maneiras” (DELEUZE, 2007, p. 14). Essa
forma peculiar de elaboração implica no desnudamento de uma escrita lúdica à
semelhança da lógica das matrioskas e das caixas chinesas, acopladas umas
dentro das outras, em sinal de infinita retomada. A ludicidade da narrativa
clariciana permite estabelecermos uma reflexão em torno da proposta do grupo
artístico francês OU.LI.PO (Ouvroir de Littérature Potentielle), conhecido por
viabilizar uma escrita ligada à matemática. Dentre as publicações do grupo,
destacamos Exercices de style (1947), de Raymond Queneau, obra que apresenta
o desenvolvimento serial de noventa e nove variações de uma mesma história,
cujo mote é a discussão entre dois passageiros a bordo de um ônibus. Embora o
sentido inicial seja mantido, os exercícios permitem novas e curiosas tonalidades,
potencialmente dispostas numa cadeia de elementos espelhados. Nessa
perspectiva, importa-nos refletir acerca da construção formal das obras
mencionadas, buscando empreender um possível caminho de análise.
PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector; Raymod Queneau; mise en abyme.
Maria Alice Gonçalves Antunes
TITULO: HISTORIA DA AUTOTRADUÇÃO: O CASO DOS BRASILEIROS JOÃO
UBALDO RIBEIRO E ANA MARIA MACHADO
RESUMO: A decisão de traduzir o próprio texto pode ser atribuída a um vasto
número de razões. Entre elas, podem-se incluir o desejo de atingir um público
leitor maior, o desejo de possuir controle total sobre o texto, o exílio voluntário
ou involuntário em país estrangeiro, a censura. As consequências dessa decisão,
por outro lado, não variam muito. O escritor pode tornar-se mais popular no
polissistema literário estrangeiro e/ou, pode tornar-se mais respeitado no
polissistema literário de origem. Nesta comunicação, discutiremos as razões que
levaram os escritores brasileiros à tradução do próprio texto e as consequências
de tal decisão para suas carreiras no Brasil e no exterior. Nessa discussão,
responderemos a questões, tais como: que consequências a tradução do próprio
original traz para a obra do escritor e para a sua carreira? Que papel os escritores
brasileiros exercem no polissistema literário estrangeiro (depois da publicação da
obra autotraduzida)? O texto autotraduzido é apresentado a seus leitores como
uma tradução ou como um novo original? Ao responder essas questões,
estaremos apresentando nossa contribuição ao preenchimento de um "espaço em
branco" dos Estudos da Tradução e também ao estudo de formas usadas por
escritores brasileiros para atravessar fronteiras e assim construir imagens da
literatura e do povo brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: autotradução; polissistema; imagem.
Maria Alice Sabaini de Souza
TITULO: ENTRE O AJUSTAR-SE E O REVELAR-SE: UMA LEITURA DA
IDENTIDADE FEMININAS EM DOIS CONTOS CLARICIANOS
RESUMO: A presente comunicação tem como objetivo discutir, através de análise
comparativa, o papel do feminino bem como sua representação nos contos
Devaneios e embriaguez de uma rapariga e Feliz aniversário, atentando-se para a
questão do gênero como possível definidor da condição submissa e, até mesmo
marginal que as personagens femininas desses contos vivenciam mediante o
contato com o outro gênero. Em ambos os contos é perceptível a insatisfação e a
angustia das personagens que tentam se afirmar como sujeitos em uma sociedade
patriarcal. Para tanto, elas se valem de seus gestos, de um discurso, na maioria
das vezes, interrompido e de seus pensamentos que nos sãos apresentados via
narrador por meio do monólogo interior e do fluxo de consciência presentes na
obra clariciana. É interessante observar como, aparentemente, as identidades se
revelam e se modificam a partir da perspectiva e do contato com o marido, os
filhos, os netos e os amigos. Essas identidades são dinâmicas e fragmentadas, pois
estão a todo o tempo tentando se ajustar ao que a sociedade patriarcal espera das
mulheres. No entanto, nesses contos, esse ajuste é sempre conflituoso, pois
apesar do aparente desejo de se ajustar existe a necessidade de se afirmar como
sujeito. O embasamento teórico dessa comunicação será: Hall (2006), Bonicci
(2005), Bourdier (2011), Zolin (2009), Nunes (1969), Foucault (1984), Beauvoir
(1980), Perrot (2005) entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Identidade; Gênero; Personagens.
Maria Amélia Dalvi
TITULO: A EDUCAÇÃO NA FICÇÃO: EM BUSCA DE ESCOLAS,
PROFESSORES, ALUNOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA LITERATURA
RESUMO: Estuda-se a presença de escolas, professores, alunos e práticas
pedagógicas – especialmente aquelas mediadas pela presença do escrito – em
diferentes textos literários brasileiros. O interesse central está nas representações
do sistema educacional (com suas instituições, agentes e práticas) no bojo da
ficção, entendendo-se que a história da lida pedagógica com a questão da leitura
e da escrita é componente inextrincável da cultura literária. Na sistematização de
considerações a respeito do tema, consideram-se mais detidamente as narrativas
“Conto de escola”, de Joaquim Maria Machado de Assis; “Arábia feliz”, de
Reinaldo Santos Neves; e O fazedor de velhos, de Rodrigo Lacerda; e os conjuntos
de poemas intitulados “Primeiro colégio” e “Fria Friburgo”, publicados em
Boitempo,
de
Carlos
Drummond
de
Andrade.
Agenciam-se,
complementarmente, reflexões críticas de Edmir Perrotti e Regina Zilberman a
respeito das relações entre escolarização, leitura e sociedade burguesa, e noções
conceituais advindas dos estudos de Michel de Certeau e de Roger Chartier, no
que tange às relações entre livros, leitores e literatura, no contexto das culturas
do escrito. Nas considerações finais, pontua-se que a defesa histórica que se faz
da presença da ficção na educação formal e não formal não pode prescindir de
uma reflexão crítica sobre como o sistema educacional vem sendo compreendido
pelas comunidades culturais que constituem e atravessam o sistema literário.
PALAVRAS-CHAVE: educação literária; culturas do escrito; história cultural.
Maria Analice Pereira Da Silva
TITULO: DE TEORIA A MÉTODO
RESUMO: Método de análise e método de ensino de literatura podem ser
considerados dois eixos que se entrecruzam no sentido de promover a leitura de
romances entre os estudantes do nível médio. Nesse sentido, problematiza-se
aqui a seguinte questão: de que maneira podemos fazer de nossos conhecimentos
teóricos bases de sustentação para a elaboração de um método de análise e de
ensino de literatura mais eficiente? Para tanto, torna-se imprescindível uma
discussão sobre a teoria do romance, aqui formalizada por pensadores como
George Luckács, Lucien Goldmann, T. W. Adorno, Walter Benjamin, Marte
Robert bem como sobre o romance brasileiro em seus aspectos histórico-críticos,
a partir de estudos de Antonio Candido, Alfredo Bosi, Silviano Santiago, Carlos
Nelson Coutinho, além de questões mais específicas acerca do ensino de literatura
e da formação do leitor e suas problematizações. Assim sendo, o trabalho ora
apresentado tem por objetivo mostrar que as duas ações humanas aqui discutidas
– análise e ensino de literatura – dependem, em alto grau, da metodologia
adotada e desenvolvida; que essa metodologia depende de um aporte teórico; e
que tal aporte teórico não deve ser algo meramente aplicável, nem discussão a
priori do objeto que ele discute, deve, sim, ser o instrumento por meio do qual
possamos discutir melhor e com mais propriedade o texto literário e questões
relativas ao seu ensino, conforme preconiza Tzvetan Todorov.
PALAVRAS-CHAVE: Romance; Ensino; Metodologia.
Maria Andrade dos Santos
TITULO: AS DIVERSAS FACES DE DRUMMOND “ E AGORA, JOSÉ?”
NAVEGAR É PRECISO
RESUMO: AS DIVERSAS FACES DE DRUMMOND - “ E AGORA, JOSÉ?” –
NAVEGAR É PRECISO MARIA ANDRADE DOS SANTOS –UPM/FIESI/SENAI
Este trabalho tem por finalidade apresentar o caminho de uma obra literárira
como E agora José? (autor-obra-leitor) através do tempo multissincrônico
(sincrônico e assincrônico), dos espaços reais e virtuais (livro-site) que se
apresentam. Através da obra de Drummond, considerado pela crítica um dos
maiores poetas e/ou escritores brasileiros do século XX, mostrar como um autor
(canon) e sua obra podem perdurar pelo tempo e novos suportes que se
apresentam, enfatizando a internet (ciberpoeta-ciberpoema-ciberleitor).
Drummomd poeta, escritor de jornal e revista, homenageado em escola de sampa,
musicado em versos, declamado (re)conhecido e acessado em um site popular,
tão acessado pelos jovens, como youtube. Surgem então locutores e alocutários
interagindo e mudando de papel a todo instante, surge uma literatura (um novo
discurso literário) não mais unilateral, ainda que esta não deva ser deixada de
lado, uma literatura abrangente, talvez agora mais transformadora, mais
includente ainda sem fronteiras. E é a partir deste novo conceito que se fez a
presente comunicação. ANDRADE, Carlos Drummond de. Confissões de Minas (Ensaios e Crônicas). Rio de Janeiro. 1944. LAJOLO, M. Literatura, leitores e
leitura. São Paulo: Ed. Moderna. 2001 Lajolo, M ; Zilberman, R. A formação da
leitura no Brasil . São Paulo: Ed. Ática. 1ª. ed.1996 Site https://www.youtube.com/watch?v=CaexXJ6UFnw acessado em 07/fev.2015
(na voz de Drummond.(418.459 acessos)
PALAVRAS-CHAVE: Drummond; ciberliteratura; multissincrônico.
Maria Angélica Deângeli
TITULO: ESCREVER, TRADUZIR, NARRAR: (...) COMO UMA FORMA DE SE
DIZER NA LÍNGUA DO OUTRO
RESUMO: Ao retratar o cenário de uma Argélia devastada pela onda de ataques
terroristas nos anos 90, a escritora argelina Assia Djebar, em seu livro Oran,
langue morte (1997), procura revelar em que sentido a literatura se constitui
como terreno de combate plurilíngue na medida em que traduzindo para a língua
do outro, no caso, a língua francesa, as particularidades de um universo em
desarranjo, ela (a literatura) representa a promessa de hospitalidade dos
discursos em língua estrangeira e, consequentemente, da política de passagem ao
outro. Para Assia Djebar, o imperialismo de uma “língua só” é evidência de uma
“língua morta”, sobretudo quando esta língua silencia o dizer daqueles que não
reclamam nada mais a não ser a poesia da própria escrita. O objetivo desta
comunicação é o de mostrar, a partir de uma leitura mais detalhada do conto
intitulado “La femme en morceaux” – conto que, com outras narrativas e novelas,
compõe o conjunto da obra – como a escrita enquanto fenômeno de condução
das línguas permite, no cerne de sua intraduzibilidade e entre os restos de quase
nada, de uma língua propriamente morta, recuperar a possibilidade de se dizer,
de se dizer em línguas e graças à tradução.
PALAVRAS-CHAVE: Assia Djebar; intraduzível; silêncio.
Maria Aparecida Nogueira Schmitt
TITULO: O DUPLO COMO DESENCADEADOR DE MOMENTOS EPIFÂNICOS
EM A RAINHA DOS CÁRCERES DA GRÉCIA E EM O JOGO DA AMARELINHA
RESUMO: O DUPLO COMO DESENCADEADOR DE MOMENTOS
EPIFÂNICOS EM A RAINHA DOS CÁRCERES DA GRÉCIA E EM O JOGO DA
AMARELINHA Profa. Dra. Maria Aparecida Nogueira Schmitt (CES/JF) No
estabelecimento do diálogo textual entre A rainha dos cárceres da Grécia, de
Osman Lins, em O jogo da amarelinha, de Júlio Cortázar, a circularidade infinita
de linguagens, defendida por Barthes, constitui-se como traço comum a ambas as
obras e se faz objeto deste estudo. Por meio da narrativa heráldica, num processo
de mise-en-abyme, personagens se apresentam duplicados o que, por caminhos
distintos, confere momentos epifânicos às respectivas tessituras narrativas. O
leitor ativo constitui elemento fundamental para que se promova a aproximação
de dois escritores comprometidos com a desestruturação das formas arquetípicas
do romance tradicional na literatura latino-americana. De acordo com a
concepção de Lukács a respeito do herói problemático, em constante busca, em A
rainha dos cárceres da Grécia, este é o próprio romance à procura do seu
desembaraço da narrativa tradicional e, para tanto, se desdobra no narrador, que
se procura em Júlia Marquezim Enone, que se projeta em Maria de França, que
se completa em Ana da Grécia. Por sua vez, em O jogo da amarelinha, Horácio
Oliveira, narrador e protagonista, se busca em seu duplo Morelli como espelho da
consciência crítica. Maga, o oposto de Oliveira, procura no seu duplo, Talita, a
parte que lhe falta para completar totalmente Oliveira, o que a leva ao processo
catártico de descoberta. Palavras-chave: Duplo. Personagem. Busca. Epifania.
PALAVRAS-CHAVE: Duplo; Personagem; Epifania.
Maria Aracy Bonfim
TITULO: ARCANOS EM ROTA: AVALOVARA E O TARÔ
RESUMO: A dimensão simbólica, imagética do romance Avalovara, de Osman
Lins é indiscutivelmente percebida quando a leitura avança. E dentre tantos
temas ligados à essa dimensão, um em especial será abordado nesse trabalho: a
aparição das imagens do Tarô disseminadas em diversos trechos da narrativa.
Trata-se uma revisitação a este tema, em que busco adicionar algo que soma meus
estudos sobre Avalovara e seus símbolos com a minha experiência pessoal e
estudos prévios sobre o baralho do Tarô – seus aspectos simbólicos e
arquetípicos. Para tantos, considerado oráculo e, de qualquer modo,
intensamente ligado ao imaginário cultural e literário geral e que, obviamente,
produz efeito representativo forte, revigorando na literatura a capacidade da
criação. Faz parte desse trabalho um diálogo com a análise da Prof.ª Drª Leny da
Silva Gomes em sua tese “Avalovara: uma cosmogonia literária” (UFRGS, 1998),
acerca da presença simbólica da imagem de alguns dos Arcanos Maiores do Tarô
no romance. Exercitando, portanto, a possibilidade hermenêutica e que pode
colher em outros saberes enriquecimento aos estudos literários, minha análise
procura traçar seu curso acedendo (além da fortuna crítica literária) a textos, tais
como os de Papus, Elisabeth Haich, Wilfred Houdoin, Sally Nichols, além dos
estudos sobre simbologia.
PALAVRAS-CHAVE: Avalovara; Tarô; Símbolos.
Maria Aurinívea Sousa de Assis
TITULO: A EXPERIÊNCIA DO FORA EM TUTAMÉIA
RESUMO: O presente trabalho visa estudar Tutaméia, de João Guimarães Rosa,
publicado em 1967, enfocando uma experiência do fora que ela propõe,
destacando aspectos como a problematização da dicotomia dentro/fora, a ordem
alfabética que viola o infinito de possibilidades ao qual a obra remete, obra que
escapa a qualquer tentativa de enumeração. O autor assinala a virtualidade da
conclusão do livro, pensa a obra a partir de seus interstícios, capaz de conter
potencialmente todos os livros, instaurando o devir nas suas Terceiras Estórias
que escolheram a dúvida e o não fechamento como métodos de trabalho, o
nascimento constante da palavra originária como sua matéria e um conjunto de
seres andarilhos como seus agentes. Considera-se que, nas narrativas rosianas, a
linguagem literária e sua capacidade de desdobramento infinito atinge a
materialidade do objeto livro. É um livro escrito no limiar de suas possibilidades
e que põe entre aspas as fronteiras edificadas para o livro e para a leitura. Este
exemplar rosa-mallarmaico é encarado aqui como objeto que, no esgarçamento
de sua concretude finita, problematiza acerca do infinito que é a obra de um autor.
Maurice Blanchot, Gilles Deleuze, e Michel Foucault são as principais referências
para estas reflexões, bem como análises recentes sobre os autores, como a
proposta por Tatiana Salem Levy.
PALAVRAS-CHAVE: Experiência do fora; Livro; Linguagem infinita.
Maria Betânia Almeida Pereira
TITULO: ENTRE O CÁRCERE E A INFÂNCIA: O VALOR ENORME DAS
PALAVRAS
RESUMO: A pesquisa parte da análise das obras Infância (1945) e Memórias do
Cárcere (1953) de Graciliano Ramos no intuito de investigar a tessitura narrativa
das memórias desse autor que, ao resgatar suas vivências da meninice no sertão
nordestino e experiências no período em que esteve preso, ganha contornos
ficcionais. Procura-se investigar de que maneira o relato memorialístico é
construído, quais os meios empregados numa escrita de si que transforma as
experiências vividas em matéria literária, não ficando resumidas a simples relatos
autobiográficos. O livro Infância é elaborado no período pós-cárcere, momento
em que o escritor está ainda debilitado pelas agruras da prisão. Sua pena não
escamoteia as penas vividas no presente e estas não se diferenciam das penas do
passado, se atentarmos para o universo de violência e opressão em que vivia o
menino. Dessa forma, neste trabalho, procuramos rever como o menino de
Infância dá a mão ao adulto das Memórias do Cárcere e vice-versa; é um jogo
ambíguo e ao mesmo tempo revelador de uma escrita singular, cujo compromisso
artístico e ideológico do autor se desvela na urdidura dos textos.
PALAVRAS-CHAVE: memória; infância; ficção.
Maria Camargo Sipionato
TITULO: A PRESERVAÇÃO
TCHUKÓVSKAIA
DA
MEMÓRIA
NA
OBRA
DE
LÍDIA
RESUMO: Apesar das obras literárias produzidas no período stalinista, após a
imposição do Realismo Soviético, serem controladas pela censura, alguns artistas
conseguiram transpor esse engessamento e fizeram obras significativas nas quais
podemos encontrar traços do cotidiano soviético e dos abusos do regime
stalinista. Essas obras trazem marcas importantes que não só caracterizam o
período, como nos traz à luz detalhes de uma realidade pouco conhecida que nos
leva a reavaliar os limites entre Literatura e História. Podemos encontrar na obra
de Lídia Tchukóvskaia, Sofia Petrovna, descrições da sociedade soviética dos anos
1930. A obra preserva a memória dessa sociedade em um período de constante
manipulação e apagamento da História, servindo como importante instrumento
de denúncia do Grande Terror stalinista. Caberá apresentar como a narrativa de
Tchukóvskaia é capaz de mostrar as mazelas dessa sociedade, a preservação do
cotidiano soviético a partir da ação das personagens, marcando episódios
históricos importantes. A partir das ações das personagens é possível identificar
os traços sociais do país em construção, como é notável em alguns exemplos: o
novo tipo de hierarquia estabelecida por meio de um jogo de poder muito frágil
que colocava os cidadãos em alerta constante quanto à estabilidade de seus
empregos e as suspeitas que poderiam ser levantadas contra eles; o novo tipo de
relação da época: um apartamento comunal, dividido com outras famílias, as
pessoas vivem em estado de constante vigilância; a moral estabelecida é julgar e
desconfiar do outro, os laços sociais de amizade e confiabilidade são extintos;
verifica-se a formação da juventude com os valores aprendidos nas escolas e nas
organizações políticas, como a Komsomol, a exclusão social, representando o
estigma daqueles que tinham um passado não aceito pelo regime. Desse modo,
podemos estabelecer uma reflexão importante do modo como a preservação da
memória se faz presente na Literatura.
PALAVRAS-CHAVE: Memória; Literatura russa; Tchukóvskaia.
Maria Candida Ferreira de Almeida
TITULO: ¿ES POSIBLE ESCRIBIR CON UN DILDO?: APELANDO A UNA
LITERATURA QUEER
RESUMO: Esta ponencia busca provocar una reflexión con los asistentes sobre
los límites y posibilidades de crear una literatura queer, considerando que el
lenguaje es sexista, patriarcal y la enseñanza igualmente impide la escritura fuera
las reglas gramaticales y sociales, lo que nos pone permanentemente la pregunta
cuando buscamos escribir “de fuera”: ¿es posible escribir con un dildo?
PALAVRAS-CHAVE: Cuerpo; queer; escritura.
Maria Carolina de Godoy
TITULO: DO TEN AO QUILOMBO: REGISTROS HISTÓRICOS E LITERÁRIOS
DE ABDIAS DO NASCIMENTO
RESUMO: O interesse desta proposta de comunicação origina-se no estudo de
autores afro-brasileiros desenvolvido no projeto de pesquisa “Literatura afrobrasileira e sua divulgação em rede”, apoiado por CNPq e Fundação Araucária, e
tem o propósito de refletir sobre a produção de Abdias do Nascimento. De um
lado, propõe-se a reflexão sobre o papel do TEN (Teatro Experimental do Negro)
na divulgação dos interesses e das questões relativas ao percurso histórico de
conquistas sociais e políticas do movimento negro pelo viés artístico. Desse modo,
a recuperação histórica do TEN, fundado por Abdias do Nascimento e que contou
com a contribuição de diversos dramaturgos, dentre eles Nelson Rodrigues, fazse necessária para compreensão do modo como ocorreram as primeiras tentativas
de inserção de debates sobre a condição do negro brasileiro no espaço do
espetáculo. Para esse estudo, tomam-se por base as peças Sortilégio (1961) e
Sortilégio II (1979). De outro lado, pretende-se abordar o jornal Quilombo (2011),
dirigido por Abdias e publicado entre dezembro de 1948 e julho de 1950,
principalmente no que se refere às matérias sobre a atividade do TEN neste
período. Referências NASCIMENTO, Abdias do Nascimento. “Sortilégio:
mistério negro”. In:____.Drama para negros e prólogo para brancos: antologia
de teatro negro-brasileiro. Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro, 1961.
______. Sortilégio II: mistério negro de Zumbi redivivo. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1979 (Coleção Teatro) ______. Quilombo: vida, problemas e aspirações
do negro/Edição fac-similar do jornal dirigido por Abdias do Nascimento. São
Paulo: Editora 34 e FUSP, 2011.
PALAVRAS-CHAVE: literatura afro; Abdias; teatro.
Maria Castanho Caú
TITULO:
O
ROTEIRISTA
COMO
CINEMATOGRÁFICO COMO LITERATURA
ESCRITOR,
O
ROTEIRO
RESUMO: O mercado editoral da contemporaneidade parece cada vez mais
tentar alavancar vendas apoiando-se na (ainda sólida) popularidade do cinema,
essa arte cuja essência, segundo Bazin, funda-se justamente sobre seu caráter
radicalmente popular. O apelo comercial da sétima arte há anos impulsiona
vendas, em geral dos títulos adaptados para as telas com sucesso, que ressurgem
nas prateleiras das livrarias em coordenação com os novos lançamentos. Nos
últimos anos, a quantidade de volumes ligados ao universo da dita sétima arte
vem se ampliando constantemente, ao mesmo tempo em que os roteiros
cinematográficos parecem ter finalmente encontrado seu espaço enquanto
“gênero literário” em crescente expansão (cf. Figueiredo 2010). Nota-se que este
panomara de construção e popularização de uma “nova” demanda de leitura, com
seus códigos e público específicos, parece ecoar o cenário da popularização das
publicações de teatro segundo o apresenta Chartier (2002). Problematiza-se
assim o conceito de literatura, pensando de que forma o renovado interesse pela
publicação de roteiros representa um reflexo do novo status cultural dessas obras.
Partindo do estudo de caso proporcionado por alguns dos roteiros publicados por
Ingmar Bergman (um dos pioneiros nesse sentido), tentaremos entender as
implicações desse novo fenômeno editorial e (re)posicionar o roteirista como
autor no âmbito da literatura contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema e Literatura; Roteiro; Ingmar Bergman.
Maria Catarina Rabelo Bozio
TITULO: EL DESPOJO E PEDRO PÁRAMO, DRAMA E LITERATURA: AS
TEMÁTICAS E DE JUAN RULFO RECORRENTES EM ESTRATÉGIAS
DISTINTAS
RESUMO: A análise de El despojo, em paralelo a Pedro Páramo, mostra-se como
uma estratégia necessária e inovadora para compreender a produção de Juan
Rulfo em sua totalidade. O curta-metragem, que tem direção de Antonio Reynoso
e foi capturado conforme orientações de Juan Rulfo, traz reflexões profundas e
novas possibilidades para o contexto cinematográfico e dramatúrgico do México
de 1960, por isso, uma reflexão atenta sobre a temática e a estrutura que
apresenta torna-se tão imprescindível para compreender a capacidade da
construção dramática do autor na narrativa. O escritor, ao indicar diálogos
durante as filmagens – já que não havia um roteiro prévio – colaborou para uma
dramatização espontânea, ainda que sem a consciência desse resultado e
assumiu, no âmbito cinematográfico, função análoga à de dramaturgista. A obra
audiovisual foi, posteriormente, transformada em roteiro com base nos diálogos
originais - texto atualmente disponível nas compilações da obra do autor e do
qual lançamos mão para análise. Essa peculiaridade fomenta possibilidades de
reflexão exclusivamente relativas ao drama, mas também fortalece os meios para
a aproximação desse material com outras produções e possibilita o diálogo dessa
proposta com as demais obras, por exemplo, com Pedro Páramo, produção de
mais fôlego do autor mexicano. Ambas, por exemplo, tornam possível a percepção
da perspectiva do fantasmagórico, característica recorrente na obra de Rulfo e
que torna a se repetir nessa produção audiovisual.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Dramaturgia; Juan Rulfo.
Maria Celeste de Souza Cardoso
TITULO: CONTEXTUALIZAÇÃO
LITERÁRIO NA ESCOLA
DE
OBRAS
CLÁSSICAS:
O
TEXTO
RESUMO: Sabe-se da dificuldade encontrada por professores da rede pública de
ensino para fazer com que seus alunos da Educação Básica, principalmente dos
últimos anos do Ensino Fundamental e Médio, tenham interesse pela leitura. E,
se essa leitura for por obras clássicas, a dificuldade aumenta. Assim, com esse
trabalho almeja-se apresentar resultados de um projeto aplicado em três escolas
públicas estaduais da cidade de Parintins. O projeto está inserido no
PIBID/LETRAS e tem por objetivo o incentivo da leitura de obras clássicas,
enfatizando o uso do texto literário nas aulas de Língua Portuguesa. Para isso,
fez-se necessária a escolha de obras clássicas inseridas na grade curricular dos
estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e das três séries do Ensino Médio,
tais como: Vidas Secas, de Graciliano Ramos; O Quinze, de Rachel de Queiros;
Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto; O Cortiço, de Aluísio
Azevedo; Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto; e outras escolhidas
de acordo com a série onde o projeto for aplicado. Essas obras são apresentadas
aos estudantes pelos acadêmicos do curso de Letras, após a apresentação, partese para a leitura e discussão em pequenos grupos, em seguida assiste-se a filmes
ou documentários sobre a obra lida, depois atividades incluindo os gêneros
textuais são desenvolvidas com a turma, assim como a dramatização e o
documentário contextualizando a temática das obras com a realidade dos alunos
são realizados de forma bem criativa. Como resultado, os estudantes junto com
seus supervisores e os acadêmicos de Letras, têm apresentado diversidade de
atividades desenvolvidas m sala de aula, tais como: produção textual, teatro,
musical, etc. Todas essas atividades demonstram a importância de se levar o texto
literário para a sala de aula e fazer com que os alunos se interessem por esse
gênero textual, principalmente se essa leitura for trabalhada de forma bem
criativa.
PALAVRAS-CHAVE: Texto literário; Contextualização; Escola.
Maria Cláudia Rodrigues Alves
TITULO: EPÍGRAFES: OS “OUTROS” NO “EU”
RESUMO: O uso de texto alheio em literatura, como epígrafe, por exemplo,
transforma o autor epigrafado em estrangeiro malgré lui. Estrangeiro no texto de
outro. Texto estrangeiro que migrou e, uma vez extirpado de sua origem,
permanece durante o percurso até o novo texto, exilado, numa zona de ainda nãopertencimento. Sua presença encabeçando novo texto, apadrinha-o inicialmente
e, em seguida, paira em seu interior em diferentes níveis. Interessa-nos discutir a
relação de autor/texto a autor/texto: a motivação de tal procedimento e seu
percurso. Buscamos verificar a sua presença do texto alheio/estrangeiro no
paratexto literário, a apropriação desse fragmento, sua recontextualização,
Download

Caderno de Resumos - XIV Congresso Internacional da Associação