UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS - CCHEL
CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON
MESTRADO EM GEOGRAFIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESPAÇOS DE FRONTEIRA TERRITÓRIO E AMBIENE
TRABALHO DE CAMPO DA DISCIPLINA: REGIÃO E
FRONTEIRA
Tríplice Fronteira: Brasil, Paraguai e Argentina
Prof. Dr. Edson Belo Clemente de Souza
Mestrandos:
Ademir Luis Kinzler
Beatriz Koefender
Cleunice Dias de Morais
Karl Heins Ewald
Marcela Stuker
Marines Orlandi
Teresa Itsumi Masuzaki
Vanderleia Gemelli
Vânia Dirley Graff
Tríplice Fronteira e os Aspectos Culturais.
(Puerto Iguazu/Argentina, Ciudad del Este/Paraguai e Foz do Iguaçu/Brasil)
Ademir Luis Kinzler
Beatriz Koefender
Marines Orlandi
Andar nas ruas das cidades que compõem a tríplice fronteira, Foz do Iguaçu
(Brasil), Ciudad Del Este (Paraguay) e Puerto Iguazú (Argentina) é ter o privilégio de
poder encontrar e manter diálogo com indivíduos diferentes, seja ele o árabe, o
nordestino, o gaúcho, o paraguaio, o argentino, o libanês, enfim toda uma multidão que
se evidencia por suas diferenças e peculiaridades étnico culturais.
Mas o importante mesmo é que todos conseguem conviver, relativamente bem,
onde conflitos étnicos não são encontrados, ao contrário existem formas muito concretas
de aproximação como, por exemplo, o surgimento de um “idioma”, o portunhol.
Palavras dos dois idiomas, português e espanhol, misturadas facilitando a comunicação
das pessoas e dos turistas, formando quase que um novo idioma, sinal claro de uma
realidade que está sendo vivenciada de uma sociedade diferente, homogênea dentro de
grande heterogeneidade fronteiriça.
Fonte: www.google.com.br
Na medida em que está sendo realizado o processo de globalização que tende a
constituir um mercado global, extrapolando fronteiras geográficas e nacionais, outras
barreiras e fronteiras também são levadas ao desaparecimento.
A convivência com o diferente é, por isso mesmo, absolutamente fundamental,
entendendo que na região da fronteira ela está mesmo colocada como algo no
quotidiano da vida das pessoas.
Convive-se, faze-se comércio, troca-se moedas diferentes (umas mais
valorizadas e outras menos), respeita-se costumes, cresças religiosas, hábitos
alimentares, possibilita-se ônibus urbanos internacionais que atendem diariamente
Puerto Iguazú, na Argentina, Ciudad del Este, no Paraguai e Foz do Iguaçu no Brasil
com vários horários transportando quer trabalhadores, turistas, pessoas que vão realizar
compras, trabalhos de campo/pesquisas etc.
Em Foz do Iguaçu, Ciudad Del Este ou Puerto Iguazu não existem marcas de
segregação visivelmente perceptíveis como bairros, pontos gastronômicos, comerciais
ou religiosos nas cidades exclusivos para determinada etnia, senão que as pessoas vivem
nos locais que escolhem, sem dar importância ao fato de serem descendentes de
quaisquer grupo ou segregação.
Mas as culturas místicas são distintas e marcadas com mesquitas dos ramos
sunitas e xiitas, os costumes e hábitos dos árabes são destacados, como, por exemplo, o
mesmo de jejum e oração conhecido como o ramadã. Podemos descrever também a
partir de entrevistas, fotos e diálogos, que há um considerável número de católicos
existentes na fronteira, sendo a cidade paraguaia composta por aproximadamente 95%
de devotos a Santa Nostra Senhora Del Carmen e praticantes do catolicismo, sendo seu
atual presidente um ex-padre, Fernando Lugo. Na cidade argentina, a religiosidade
presente é muito heterogenia, ocorrendo uma divisão de fiéis entre diversas crenças em
razão da colonização do território argentino estar relacionada a vinda de grandes levas
de alemães e italianos, em sua maioria evangélicos, o que proporcionou formas novas
frentes ecumênicas voltadas ao protestantismo.
Em todas as instituições ou locais distintos observados, quer sejam escolas,
comércios dos mais diversos ramos, igrejas, pontos turísticos, ou alfandegários, onde
existe uma determinada participação popular o comum é verificarmos a presença dos
vários grupos culturais sem que isso represente qualquer tipo de problema. É entendido
como sendo uma coisa normal, natural, todo esse encontro de culturas diferenciadas.
Podemos perceber também que a origem desses procedimentos centra-se na concepção
do outro como sendo aquele que é diferente de mim mesmo. Essa alteridade ou
heterogeneidade é essencial para a manutenção de todo esse processo de globalização,
mas parece ser, cada vez mais difícil de se colocar em prática.
De qualquer forma essa lateralidade produz um grande enriquecimento cultural e
social para os habitantes da Tríplice Fronteira. O próprio fato de conviver com latinos
de origem hispânica favorece em muito o aprendizado do espanhol que, ensinado depois
nas escolas, acaba se tornando uma segunda língua nacional, ao menos para todos esses
habitantes.
De alguma forma os habitantes das cidades fronteiriças estão perdendo
peculiaridades muito própria e perdendo a sua identidade, não conseguindo reconstituir
outra identidade a não ser pelo encontro com grupos diferentes. Mas lenta ou
aceleradamente as fronteiras que existiam, marcadas pelo nacionalismo, começam a
ceder em função de uma convivência diferente que só é possível nestas cidades.
De alguma forma, nem sempre muito clara, deixamos de ser brasileiros,
argentinos, paraguaios, árabes etc, nos convertendo para uma nova sociedade que tem
outras marcas definidoras, que caminha por outros caminhos e que tem outros objetivos.
O fato é que as fronteiras estão sendo diluídas muito mais culturalmente e
economicamente falando do que geograficamente. É fato que a existência e o
funcionamento do MERCOSUL permite entender que as fronteiras nacionais estão mais
abertas para o livre tráfego, especialmente no que diz respeito ao comércio de
mercadorias, de forma muito especial dos países membros, isentos que são de taxas de
alfândega.
Mas no quotidiano estamos vivendo essa perda de identidade, em busca de uma
nova forma de nos identificarmos, talvez não tanto como nação e muito mais como
formas originais de sociedade, oriundas de novas relações sociais que, nesse imenso
laboratório a céu aberto estão sendo testadas.
A idéia fundamental é mesmo o sinal dos novos tempos, no sentido de que
estamos em um determinado local, essa nossa região, ao mesmo tempo que estamos no
mundo. Assim temos consciência que estamos em Foz do Iguaçu, mas já temos relações,
convívios que extrapolando a cidade dão uma nova dimensão de regionalidade.
Podemos por isso dizer que sob diversas e diferentes formas estamos numa região
transfronteiriça, indicativa talvez de tudo aquilo que está ocorrendo no mundo da
globalização que está em marcha. As diferenças de hábitos e costumes vão
desaparecendo na exata medida em que os personagens sejam eles brasileiros,
paraguaios, argentinos, chineses, árabes vão se integrando nessa nova sociedade que
está propondo novas relações sociais, que sejam mais harmoniosas e menos conflitivas.
Mas que também possibilitem a inovação e a criatividade de novas formas de
convivência, novos relacionamentos, posicionamentos quer frente à vida, tanto quanto
também respeitando as diversas individualidades.
Isso está ocorrendo, nas cidades que compõem a tríplice fronteira, mais do que qualquer
lugar é uma vivência que tende a, rapidamente, iniciar processos novos de
relacionamentos propondo alternativas em função do processo de globalização que
estamos também vivendo.
Não se pode mais pensar em termos do passado entendendo que as correntes
sociais são separados por fronteiras geográficas, existentes mediante linhas jurídicas
propostas em tratados que nos separam. A superação dessa realidade já existe e é visível,
na medida em que observamos a formação de uma nova convivência econômica,
religiosa e de etnias que caminha sempre mais para maiores e melhores formas de
aproximação.
A PAISAGEM URBANA NA TRÍPLICE DA FRONTEIRA
(Puerto Iguazu/Argentina, Ciudad del Este/Paraguai e Foz do Iguaçu/Brasil)
Cleunice Dias de Morais
Marcela Stuker
Vania Dirley Graff
A organização do Espaço Geográfico se dá através da construção e reconstrução
do mesmo, em uma interação entre a paisagem natural e a paisagem humana. A
paisagem natural corresponde ao meio que ainda não sofreu ou sofreu pouca
intervenção humana, já a paisagem humana sofreu modificações pela a ação do homem.
Segundo SANTOS (1997) A paisagem é o resultado de dois elementos, os
objetos naturais formados pela natureza e os objetos fabricados pelo homem ao longo de
diferentes tempos históricos.
A expansão do capital se utiliza de todos os recursos disponíveis, na busca de
sua completa efetivação, por meio da formação de novos valores, da indução ao
consumo, dos recursos subjetivos da propaganda, moldando a paisagem urbana segundo
as características econômicas, históricas, sociais, culturais e tecnológicas da sociedade
que nela se insere.
Todavia, a sociedade também se impregna dos elementos da paisagem que
integram sua vida cotidiana, num processo de intensa interatividade. Como coloca
SANTOS (1997) [...] cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, a
economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e intensidades
variadas. O mesmo ocorre em relação ao espaço e a paisagem que se transformam e
adaptam-se às novas necessidades da sociedade.
Ao analisarmos a paisagem urbana da tríplice fronteira temos que considerar as
peculiaridades de cada cidade, uma vez que, estas estão inseridas num contexto de
grande projeção turística, atividade essa que traz interferências e conseqüências em todo
o entorno urbano, causando carência de planejamento adequado que de conta de
satisfazer as necessidades elementares da população local.
A forte representatividade econômica expressa no número de estabelecimentos
do setor comercial e de prestação de serviços nesta região de fronteira revela uma
presença maior de objetos, aspectos relativos a uma economia mais dinâmica e,
consequentemente, o fluxo maior de informações e maior circulação financeira, de
mercadorias e maior infra-estrutura instalada, conforme podemos visualizar na Figura 1:
Fig. 1: Puerto Iguazu/Argentina
Os setores econômicos desta região fronteiriça, visto através dos objetos e fluxos
interpretam uma realidade dinâmica, ligada à política hegemônica do capitalismo e do
circuito superior da economia, o qual é mais especializado e especulativo.
A precarização do trabalho, resultante das políticas econômicas do circuito
superior, introduz novas formas de especializações, não especulativas denominadas de
circuito inferior da economia, por meio de funções e atividades, como as pequenas
empresas, os vendedores ambulantes, as atividades de concertos dentre outras, conforme
imagens a seguir: na Figura 4 visualizamos um vendedor ambulante do prato típico
local (chipa); na Figura 5 temos uma grupo de moto taxi em Ciudad del Este, atividade
essa necessária para atender o grande fluxo de turistas e na Figura 6 podemos observar
a grande expressividade do comércio ambulante.
Fig.4: Puerto Iguazu/Argentina
Fig.5: Ciudad del Este/Paraguai
Fig.6: Ciudad del Este/Paraguai
O processo de urbanização ocorrido principalmente a partir da década de 70 do
século XX, provocou uma aceleração no crescimento urbano, sobre esse viés, uma
economia em expansão faz uso constante em infra estrutura e planejamento, para as
quais o Estado é um elemento importante, provedor de projetos e recursos que visam a
viabilização das atividades econômicas e das novas formas de convivência social que se
estabelece.
Segundo CARLOS, (2009, p. 297) O espaço revela-se como instrumento
político intencionalmente organizado e manipulado, um meio e um poder nas mãos de
uma classe dominante, num espaço globalizado.
A cidade deixou, assim de ser um espaço privilegiado do convívio social de uma
vida mais comunitária, onde a população se sinta parte integrante e possa usufruir de
uma participação mais ativa dos recursos públicos disponíveis para se transformar num
espaço de disputas, tendo em vista a atender as necessidades econômicas.
Nessa disputa, o comércio se impõe, ocupando os espaços urbanos de forma
desordenada, conforme podemos visualizar nas Figuras 7, 8 e 9, onde o comércio se
apropriou do passeio público, buscando atrair clientes ou simplesmente se estabelecem
no local de maior acesso aos consumidores.
Essa forma desordenada de ocupação espacial provoca muitos transtornos para
os transeuntes, que tem que dividir o espaço da rua com os veículos causando até
mesmo situações de risco para ambos.
Fig.7: Puerto Iguazu/Argentina
Fig.8: Ciudad del Este/Paraguai
Fig.9: Foz do Iguaçu/Brasil
Além da disputa pelo espaço e suas constantes alterações na paisagem, tem-se a
existência de um uso diferenciado do mesmo, quando a paisagem estrutural é utilizada
para mais de uma funcionalidade.
Conforme Milton Santos (1997, p. 69):
“[...] as mutações da paisagem podem ser estruturais ou funcionais.
Ao passarmos numa grande avenida, de dia ou à noite, contemplamos
paisagens diferentes, graças ao seu movimento funcional. A rua, a
praça, o logradouro funcionam de modo diferente segundo as horas do
dia, os dias da semana, as épocas do ano. Dentro da cidade e em razão
da divisão territorial do trabalho, também há paisagens
funcionalmente distintas. A sociedade urbana é uma, mas se dá
segundo formas-lugares diferentes”.
Um exemplo dessa afirmação pode ser verificada na Figura 10, onde a varanda
de uma lanchonete que durante a noite é um espaço de lazer e consumo, durante o dia é
utilizada pelos vendedores ambulantes (hippies) para fabricar e vender seus produtos.
Fig.10: Puerto Iguazu/Argentina
O aumento do fluxo de pessoas e mercadorias nas cidades analisadas, também
provocam problemas em relação ao meio ambiente, como o aumento da produção de
lixo. Algumas cidades não possuem a estrutura necessária e suficiente para atender a
demanda desta produção, ocasionando o acumulo de lixo nas calçadas, fato que além de
provocar doenças, interfere na harmonia da paisagem. Neste sentido, comparando as
imagens 12 e 13, podemos observar que a cidade de Foz do Iguaçu (Brasil), apresenta
uma maior organização e melhor estrutura com relação à capacidade de coleta de lixo.
Fig.12: Ciudad del Este/Paraguai
Fig. 13: Foz do Iguaçu/Brasil
Considerando a infra estrutura urbana, cada cidade apresenta suas peculiaridades
e se diferencia em relação as demais, no entanto as diferenças podem ser visualizadas
tanto entre cidades como entre espaços diferenciados de uma mesma cidade. Existem
inúmeras diferenças, dentre as quais, podemos visualizar e destacar aspectos relativos a
falta de sinalização e utilização inadequada das calçadas como estacionamento de
motocicletas na figura 14. Na figura 15, em Ciudad del Este (Paraguai), podemos
visualizar a presença de vias para locomoção de motocicletas, no entanto estas vias não
estão presentes em todos os locais da cidade. Já na figura 16, cidade de Foz do Iguaçu,
observa-se a existência de arborização urbana, como elemento diferenciador da
paisagem entre as demais cidades analisadas.
Fig. 15: Ciudad del Este/Paraguai
Além das fotografias, durante visita às cidades da Tríplice Fronteira, foram feitas
observações indiretas e entrevistadas 11 pessoas (apenas duas mulher) quanto à
percepção da paisagem urbana desta região. Foi realizada análise de conteúdo das
entrevistas referente às relações humanas e suas interações com o espaço, os
significados e as valorações desses grupos diante da paisagem urbana da Tríplice
Fronteira. O objetivo foi verificar quais os aspectos são mais observados, se positivos
(topofílicos1) ou negativos (topofóbicos) e, com isso, discutir acerca das semelhanças e
diferenças entre as três cidades: Puerto Iguazu, Ciudad Del Este e Foz do Iguaçu.
O termo percepção, derivado do latim perception, é definido na maioria dos
dicionários da língua portuguesa como: ato ou efeito de perceber; combinação dos
sentidos no reconhecimento de um objeto; recepção de um estímulo; faculdade de
conhecer independentemente dos sentidos; sensação; intuição; idéia; imagem;
representação intelectual (MARIN, 2008).
Para Ferrara (1993) apud Pacheco e Silva (2010), a percepção ambiental é
definida como a operação que expõe a lógica da linguagem que organiza os signos
expressivos dos usos e hábitos de um lugar. Já Ianni (1999), diz que é a representação
de uma população sobre seu meio ambiente. Para Tuan (1980) a percepção ambiental
“[...] é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atitude proposital,
na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a
sombra ou são bloqueados”.
Cerca de metade dos entrevistados (6) é brasileira, dois que nasceram em Foz
do Iguaçu, dois turistas do Nordeste do país, um paranaense de Apucarana e um gaúcho
(que se denomina “gauchinho da feirinha”), mas que foi morar aos três anos em Puerto
Iguazu e se considera Argentino. Apenas um é natural da Argentina, entretanto de
Córdoba, dois paraguaios nascidos na região e dois de outros países, um uruguaio,
vendedor de artesanato (hippie) que mora atualmente (e passageiramente) em Puerto
Iguazu e um chinês que mora em Foz do Iguaçu, mas possui comércio em Ciudad Del
Este. Verificando a procedência já é possível realizar paralelos em relação à identidade
da região fronteiriça, influenciada por diversas culturas e vínculos. A diversidade
cultural foi ressaltada por um dos entrevistados quando perguntado por que mora em
Foz do Iguaçu:
Por causa da quantidade de, da multiculturalidade que tem aqui, me
interesso por isso, acho bacana. (F., homem, 22 anos).
A oportunidade de trabalho na fronteira parece ser algo importante para as
pessoas e pode ser percebido tanto pela diversidade de funções desempenhadas, como
foi evidenciado nas fotografias, como no relato das pessoas, onde 54% citaram esse
aspecto (Fig.17). Seguem abaixo dois relatos:
1
Topofílico vem de Topofilia, termo cunhado por Yi-Fu Tuan (1980), para designar o vínculo afetivo
positivo entre a pessoa e o lugar. Topofobia, ao contrário, seria o vínculo afetivo negativo.
É um paraíso viver na fronteira pode fazer o que quiser, tem muito
trabalho se quiser trabalhar, pode estudar, trabalhar, pescar, tudo. (C.,
homem, 22 anos).
Por causa de alá no tiene más trabalho, e tiene que viver acá para
poder viver. (C.A., homem, 53 anos).
Figura 17: Percentual de respostas para a pergunta “Por que está aqui?”.
Grande parte dos entrevistados (73%) conhece todas as cidades da fronteira e
todos conhecem Foz do Iguaçu (Fig.18). A cidade parece representar o maior vinculo
topofílico para as pessoas, pois quando perguntados “Qual paisagem você mais gosta?”,
63% dos entrevistados responderam Foz do Iguaçu e, ao responderem por que (Fig.19),
citam a limpeza, a organização e o cuidado, como os aspectos mais importantes.
Também foi citada a presença da natureza em Foz, a qualidade turística, o povo
acolhedor e educado:
Cultura, brasileiro sí, es limpio y ordenado, pero aquí en Paraguai y
Argentina tiene mucha gente de Paraguai que vive aquí, están
sucios, no cuidan de su hogar. (C,, homem, 26 anos).
Parte de higiene e limpeza, por exemplo, isso ai é fundamental, a
gente vê ainda situações como essa aqui, tinha que mudar o aspecto
das instalações. Vê a água correr em céu aberto, essas coisas básicas
que a gente gosta de ver, em Foz do Iguaçu é mais evoluído nesse
sentido. (R., homem, 53 anos).
Foz do Iguaçu eu gosto porque é bonita, mais organizada, a
organização urbana dela é boa e tem ponto turístico, é bem cuidada.
(C., homem, 22 anos).
Foz, a natureza de Foz ela muito privilegiada, para quem mora nessa
região tem muito verde, a natureza é bonita mesmo. (P, mulher, 41
anos).
Gosto mais de Foz, tem tudo, tem um povo acolhedor, carinhoso,
educado (S., mulher, 35 anos).
Figura 18: Percentual relativo às respostas dos entrevistados quanto à paisagem que
mais gostam.
Outras citações que refletem a topofilia das pessoas em relação à Foz do Iguaçu
possuem conteúdo referente ao maravilhamento com a cidade:
Eu amo Foz do Iguaçu, trocaria acho que ela por nada, passearia, mas
trocar ela não. (S., mulher, 35 anos).
Paisagem tem muito no Brasil más lindo. Cataratas é um lindo lugar
en Brasil. (C.A., homem, 53 anos).
Fig.19: Categorias de resposta para a pergunta “Por que gosta mais dessa paisagem?” referente à
Foz do Iguaçu.
Puerto Iguazu também foi citada neste item, sendo a tranqüilidade, o principal
aspecto topofílico (Fig.20).
Fig.20: Categorias de resposta para a pergunta “Por que gosta mais dessa paisagem?”
referente à Puerto Iguazu.
Ciudad Del Este não foi citada nesse item, em contraste, foi incluída na maior
parte de relatos quando questionados “Qual paisagem você menos gosta?”,
evidenciando o viés topofóbico das pessoas quanto ao lugar (Fig. 21). O que coloca a
cidade nesta posição são os aspectos contrários aos que colocam Foz do Iguaçu com
maior topofilia: sujeira, bagunça e poluição, além da precária organização de veículos e
do temor quanto à segurança (Fig.22). Seguem abaixo diferentes relatos que citam essas
características:
Essa questão dessa passagem a gente já percebe a sujeira tanto na
saida de Foz quanto aqui no Paraguai. (P, mulher, 41 anos).
O más ruim que tem nessa cidade é quando passa mercadoria, tem
tiroteio. (C., homem, 22 anos).
Acá es que tiene na ciudad mucho movimiento de vehiculo. (C.A.,
homem, 53 anos).
A entrada para o Paraguai é tumultuada. Talvez buscar uma maneira
de melhorar né. Acha que o próprio governo paraguaio poderia
melhorar muito essa circulação em Ciudad del Este. Ter uma
regulamentação maior das coisas, você vê que os carros circulam
muito abotoalhadamente, isso pode até provovar um acidente e causar
situação trágica. (E.B., homem, 53 anos).
Dá medo, fico pensando, será que vou conseguir voltar
tranquilamente? Ou será que vão me prender aqui?. (P, mulher, 41
anos).
Fig. 21: Percentual relativo às respostas dos entrevistados quanto à paisagem que mais
gostam.
Fig.22: Categorias de resposta para a pergunta “Por que gosta menos dessa paisagem?”
referente à Ciudad Del Este.
Outras citações comparam as três cidades:
São três países da fronteira que son bem diferentes do outro. Aqui na
Argentina é um lugar tranquilo, pode vir passar a noite, o dia, tomar,
comer, tudo, não tem problema viu? Agora Ciudad del Este depois das
17h da tarde não dá para ficar, é feio ali. E Foz do Iguaçu a gente
gostava de ir também passear de noite, mas como muitos amigos
contam que é "brabo" então a gente não vai, mas durante o dia a gente
sabe que é muito bom. (O., homem, 53 anos).
De Puerto Iguazu e Foz tem muitas árvores aqui e lá, acho gostoso, dá
um clima bom, muitas das outras cidades que já passei tem muitas
construções tem um clima cinza, abafado. Em Ciudad pelo fato de ter
muito carro e manutenção desses carros nem sempre tá em dia, lá é
muito quente, tem muito carro, o ar é mais difícil de respirar. (F.,
homem, 22 anos).
Falta de estrutura de crescimento das cidades daqui, elas crescem sem
estrutura. Tem muito trabalho paralelo, laranja porque não tem
estrutura para essas pessoas. (F., homem, 22 anos).
Ainda nesta questão, um relato
interessante foi sobre a Aduana
Brasil/Argentina. O entrevistado diz que a mesma representa a divergência entre as
pessoas: “Entre as pessoas tudo legal, tudo bem, o único problema é a fronteira, é o que
faz dividir nós, atrapalha muito, é só isso que atrapalha. O resto é tudo amizade”, (O.,
homem, 53 anos).
Ao serem questionados sobre “O que melhoraria na paisagem?” (Fig.23), a
maior parte dos entrevistados respondeu aspectos relacionados à Ciudad Del Este,
referentes à limpeza e organização, o que vai de acordo com a transformação do laço
topofóbico representado pela sujeira. Outros aspectos apontados referem-se à
organização das ruas de Ciudad Del Este permitindo melhor circulação de veículos, á
segurança, condição social e saúde (Foz do Iguaçu). Duas pessoas na Argentina
apontaram que não mudariam nada, de acordo com O. (homem, 53 anos): “Aqui na
argentina gosto de tudo rústico, simples, não melhoraria nada, estando asi está bom, só a
Aduana para ter freguês”.
Fig.23: Categorias de resposta para a pergunta “O que melhoraria?”.
Em síntese, a entrevista, mesmo que com um número reduzido de pessoas,
evidenciou diferentes aspectos quanto à paisagem urbana na Tríplice Fronteira,
ressaltando aspectos topófílicos da paisagem como a importância da limpeza e
organização, bem como dos aspectos topofóbicos, relacionados à sujeita e
desorganização. Esses itens também foram observados nas fotografias das três cidades.
Os resultados mostram como a fronteira é um local singular para estudos sobre a região
inserida num contexto diversificado em diferentes pontos de vista: cultural, político,
econômico, social e ambiental.
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS:
IANNI, A.M.Z. A produção social do ambiente na periferia da metrópole: o caso da
capela do Socorro, São Paulo. In: JACOBI, P.R. Ciência ambiental: os desafios da
interdisciplinaridade. São Paulo: Annablume - Fapesp, 2000.
CARLOS, A.F.A. A “ilusão” da transparência do espaço e a “fé cega”no planejamento
urbano:os desafios de uma geografia urbana crítica. In r
Revista Cidades, vol.6 n10, 2009, pg.289-306.
MARIN, A.A. Pesquisa em educação ambiental e percepção Ambiental. Pesquisa em
Educação Ambiental, Rio Claro, v. 3, n. 1, p. 203-222, 2008. Disponível em:
http://www.epea.tmp.br/revipeafiles/revipeav3n1a11.pdf. Acesso em: 20 de Novembro
de 2010.
PACHECO, E; SILVA, H.P. Compromissos epistemológicos do conceito de
percepção ambiental. In: VII Congresso de Ecologia do Brasil, 2005, Caxambu, MG.
Disponível em: http://www.ivt-j.net/sapis/2006/pdf/EserPacheco.pdf. Acesso em: 08
out. 2010.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. Fundamentos teóricos e
metodológicos da geografia. 5. ed., São Paulo: Hucitec, 1994 e 1997.
TUAN, Yu-fu. Topofilia. São Paulo: DIFEL, 1980.
ASPECTOS ECONÔMICOS NA TRÍPLICE FRONTEIRA
(Puerto Iguazu/Argentina, Ciudad del Este/Paraguai e Foz do Iguaçu/Brasil)
Karl Heins Ewald
Teresa Itsumi Masuzaki
Vanderleia Gemelli
Aos 24 dias de novembro de 2011 realizou-se trabalho de campo na região da
Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, enquanto desdobramento da
disciplina Região e Fronteira do Mestrado em Geografia da Unioeste, campus de
Marechal Cândido Rondon. Foram visitadas respectivamente as cidade de Puerto Iguazu
na Argentina, Ciudad del Este no Paraguai e Foz do Iguaçu no Brasil.
Quanto aos aspectos econômicos referentes às essas três localidades, pode-se
fazer alguns apontamentos que seguem:
A atividade econômica de maior destaque desenvolvida nessas cidades é o
comércio através da venda de produtos em geral, com destaque portanto para o setor
terciário.
Quanto ao valor dos produtos pode-se perceber que as três Cidades oferecem
produtos a um valor baixo se comparado a outras regiões do Brasil. No entanto, Ciudad
del Este apresenta uma diversificação de produtos maior que as outras duas, o que
justifica a maior procura pela compra nessa localidade. O fluxo de pessoas que se
deslocam à Ciudad del Este para fazer compras é maior que o fluxo que se desloca a
Puerto Iguazu e a Foz do Iguaçu.
De acordo com os comerciantes argentinos em Puerto Iguazu e os paraguaios e
brasileiros em Ciudad del Este, os dias em que o fluxo de pessoas é maior são aos
sábados e nos dias que correspondem aos feriados brasileiros.
Em Puerto Iguazu além do comércio lojista, há uma feira de produtos
alimentícios e bebidas, onde trabalham em sua maioria argentinos. De acordo com
entrevistas realizadas, a feira existe a aproximadamente 20 anos, sendo que a prefeitura
disponibiliza gratuitamente água e energia. O horário de funcionamento da feira se
estende das 7:00 horas da manhã até as 23:30 horas, durante todos os dias da semana. A
seguir imagens da feira extraídas a campo.
Imagem 1 – Produtos alimentícios da Feira em Puerto Iguaçu – Argentina
Imagem 2 - Produtos alimentícios da Feira em Puerto Iguaçu - Argentina
Imagem 3 - Bebidas na Feira em Puerto Iguaçu - Argentina
Quanto ao horário de trabalho no comércio, na Argentina este estende-se das
8:00 horas da manhã até as 13:00 horas, reabrindo as 16:00 horas até as 21:00 horas. No
Paraguai este estende-se das 7:00 horas da manhã até as 16:00 horas. No Brasil, das
8:00 horas da manhã até as 18:00 horas.
No que se refere à nacionalidade dos comerciantes, pode-se perceber através das
entrevistas realizadas nas três cidades, a seguinte realidade: em Puerto Iguazu trabalham
argentinos e muitos brasileiros; em Ciudad del Este as etnias se multiplicam, existem
árabes, indianos, coreanos, chineses, brasileiros, dentre outras, sendo que o comércio
não legalizado (camelôs) em sua maioria é praticado por paraguaios, enquanto que os
lojistas legalizados se multiplicam entre as diversas etnias; em Foz do Iguaçu na região
de comércio próxima à Ponte, bairro Vila Portes, existem além dos comerciantes
brasileiros, muitos árabes, e na região central da cidade a maioria são brasileiros.
De forma geral, fazendo um comparativo entre as três cidades, pode-se apontar
que Ciudad del Este é onde o comércio apresenta um fluxo de procura pelos produtos
maior que Puerto Iguazu e Foz do Iguaçu. Um dos fatores que pode justificar essa
realidade é a maior diversificação dos mesmos, já que o comércio no Paraguai
corresponde a lógica capitalista concorrencial em escala mundial, com a produção de
mercadorias com baixo valor agregado em países como China, Taiwan, Indonésia e
outros, conseguem adentrar fronteiras de países com economia e sistema tributário
menos estruturado. Neste sentido, o sistema tributário paraguaio facilita a venda de
mercadorias a preços inferiores aos praticados no Brasil, atraindo grande fluxos de
consumidores, em especial, brasileiros.
Assim, há grande número de brasileiros trabalhando no comércio em Ciudad del
Este. Conforme um trabalhador paraguaio, dominar a língua portuguesa se torna um
requisito básico ao perfil de trabalhador exigido pelos lojistas. Brasileiros e paraguaios
encontram-se em condições muito precárias de trabalho. Em nossas entrevistas pudemos
identificar formas precárias de contrato, contrato informal, trabalho intenso até aos
sábados, domingos e feriados sem direito às horas extras ou banco de horas, apenas
doze dias de férias (ou sem direito às férias), entre outros.
Pelas entrevistas percebemos que o sistema previdenciário é muito precário,
mesmo que ainda pelo sistema público, há ainda um grande desafio para o governo
paraguaio. Pela fala dos trabalhadores, notamos o difícil acesso à aposentadoria, que se
restringe aos que chamam de “trabalhadores oficiais”, aos funcionários públicos.
Comparando os direitos básicos do trabalhador no Paraguai em relação ao Brasil,
percebemos que as conquistas ainda são muito incipientes, como o direito de 12 dias
férias com o prazo mínimo de um ano de serviço, a inexistência da política do décimo
terceiro salário e de um seguro desemprego.
No trabalho de campo nas três fronteiras, notamos indicadores que comprovam
que com as políticas de mercado voltadas para a livre concorrência, têm reduzido os
espaços públicos em prol da arbitrariedade privada. Como na Argentina, trabalhadores
relataram que a metade dos trabalhadores formais estão inseridos no sistema
previdenciário privado. No Paraguai, o conflito entre empregador e trabalhador se dá
por intermédio de um contador (custeado pela empresa), que tem o papel de resolver os
problemas atendendo os interesses de ambas as partes.
Neste sentido, a expansão comercial em que se destaca Ciudad Del Este em
relação as outras duas cidades quanto a sua quantidade de shoppings e comerciantes em
geral, não necessita apenas das mercadorias produzidas com baixo valor agregado, das
vantagens nos acordos alfandegários e tributários, de uma mão de obra barata para
trabalhar no comércio, mas também a necessidade de despertar nas pessoas o desejo de
adquirir mercadorias e facilitar o consumo, através das estratégias de marketing, como
outdoors e abordagens na rua. A seguir algumas imagens do comércio nas três cidades:
Imagem 4 – Comércio em Puerto Iguazu – Argentina
Imagem 5 – Comércio em Ciudad del Este – Paraguai
Imagem 6 – Outdoors em Ciudad del Este
Imagem 7 – Comércio na Vila Portes em Foz do Iguaçu - Brasil
Imagem 8 – Comércio na Vila Portes em Foz do Iguaçu
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Região e Fronteira