UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS - CCHEL CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON MESTRADO EM GEOGRAFIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESPAÇOS DE FRONTEIRA TERRITÓRIO E AMBIENE TRABALHO DE CAMPO DA DISCIPLINA: REGIÃO E FRONTEIRA Tríplice Fronteira: Brasil, Paraguai e Argentina Prof. Dr. Edson Belo Clemente de Souza Mestrandos: Ademir Luis Kinzler Beatriz Koefender Cleunice Dias de Morais Karl Heins Ewald Marcela Stuker Marines Orlandi Teresa Itsumi Masuzaki Vanderleia Gemelli Vânia Dirley Graff Tríplice Fronteira e os Aspectos Culturais. (Puerto Iguazu/Argentina, Ciudad del Este/Paraguai e Foz do Iguaçu/Brasil) Ademir Luis Kinzler Beatriz Koefender Marines Orlandi Andar nas ruas das cidades que compõem a tríplice fronteira, Foz do Iguaçu (Brasil), Ciudad Del Este (Paraguay) e Puerto Iguazú (Argentina) é ter o privilégio de poder encontrar e manter diálogo com indivíduos diferentes, seja ele o árabe, o nordestino, o gaúcho, o paraguaio, o argentino, o libanês, enfim toda uma multidão que se evidencia por suas diferenças e peculiaridades étnico culturais. Mas o importante mesmo é que todos conseguem conviver, relativamente bem, onde conflitos étnicos não são encontrados, ao contrário existem formas muito concretas de aproximação como, por exemplo, o surgimento de um “idioma”, o portunhol. Palavras dos dois idiomas, português e espanhol, misturadas facilitando a comunicação das pessoas e dos turistas, formando quase que um novo idioma, sinal claro de uma realidade que está sendo vivenciada de uma sociedade diferente, homogênea dentro de grande heterogeneidade fronteiriça. Fonte: www.google.com.br Na medida em que está sendo realizado o processo de globalização que tende a constituir um mercado global, extrapolando fronteiras geográficas e nacionais, outras barreiras e fronteiras também são levadas ao desaparecimento. A convivência com o diferente é, por isso mesmo, absolutamente fundamental, entendendo que na região da fronteira ela está mesmo colocada como algo no quotidiano da vida das pessoas. Convive-se, faze-se comércio, troca-se moedas diferentes (umas mais valorizadas e outras menos), respeita-se costumes, cresças religiosas, hábitos alimentares, possibilita-se ônibus urbanos internacionais que atendem diariamente Puerto Iguazú, na Argentina, Ciudad del Este, no Paraguai e Foz do Iguaçu no Brasil com vários horários transportando quer trabalhadores, turistas, pessoas que vão realizar compras, trabalhos de campo/pesquisas etc. Em Foz do Iguaçu, Ciudad Del Este ou Puerto Iguazu não existem marcas de segregação visivelmente perceptíveis como bairros, pontos gastronômicos, comerciais ou religiosos nas cidades exclusivos para determinada etnia, senão que as pessoas vivem nos locais que escolhem, sem dar importância ao fato de serem descendentes de quaisquer grupo ou segregação. Mas as culturas místicas são distintas e marcadas com mesquitas dos ramos sunitas e xiitas, os costumes e hábitos dos árabes são destacados, como, por exemplo, o mesmo de jejum e oração conhecido como o ramadã. Podemos descrever também a partir de entrevistas, fotos e diálogos, que há um considerável número de católicos existentes na fronteira, sendo a cidade paraguaia composta por aproximadamente 95% de devotos a Santa Nostra Senhora Del Carmen e praticantes do catolicismo, sendo seu atual presidente um ex-padre, Fernando Lugo. Na cidade argentina, a religiosidade presente é muito heterogenia, ocorrendo uma divisão de fiéis entre diversas crenças em razão da colonização do território argentino estar relacionada a vinda de grandes levas de alemães e italianos, em sua maioria evangélicos, o que proporcionou formas novas frentes ecumênicas voltadas ao protestantismo. Em todas as instituições ou locais distintos observados, quer sejam escolas, comércios dos mais diversos ramos, igrejas, pontos turísticos, ou alfandegários, onde existe uma determinada participação popular o comum é verificarmos a presença dos vários grupos culturais sem que isso represente qualquer tipo de problema. É entendido como sendo uma coisa normal, natural, todo esse encontro de culturas diferenciadas. Podemos perceber também que a origem desses procedimentos centra-se na concepção do outro como sendo aquele que é diferente de mim mesmo. Essa alteridade ou heterogeneidade é essencial para a manutenção de todo esse processo de globalização, mas parece ser, cada vez mais difícil de se colocar em prática. De qualquer forma essa lateralidade produz um grande enriquecimento cultural e social para os habitantes da Tríplice Fronteira. O próprio fato de conviver com latinos de origem hispânica favorece em muito o aprendizado do espanhol que, ensinado depois nas escolas, acaba se tornando uma segunda língua nacional, ao menos para todos esses habitantes. De alguma forma os habitantes das cidades fronteiriças estão perdendo peculiaridades muito própria e perdendo a sua identidade, não conseguindo reconstituir outra identidade a não ser pelo encontro com grupos diferentes. Mas lenta ou aceleradamente as fronteiras que existiam, marcadas pelo nacionalismo, começam a ceder em função de uma convivência diferente que só é possível nestas cidades. De alguma forma, nem sempre muito clara, deixamos de ser brasileiros, argentinos, paraguaios, árabes etc, nos convertendo para uma nova sociedade que tem outras marcas definidoras, que caminha por outros caminhos e que tem outros objetivos. O fato é que as fronteiras estão sendo diluídas muito mais culturalmente e economicamente falando do que geograficamente. É fato que a existência e o funcionamento do MERCOSUL permite entender que as fronteiras nacionais estão mais abertas para o livre tráfego, especialmente no que diz respeito ao comércio de mercadorias, de forma muito especial dos países membros, isentos que são de taxas de alfândega. Mas no quotidiano estamos vivendo essa perda de identidade, em busca de uma nova forma de nos identificarmos, talvez não tanto como nação e muito mais como formas originais de sociedade, oriundas de novas relações sociais que, nesse imenso laboratório a céu aberto estão sendo testadas. A idéia fundamental é mesmo o sinal dos novos tempos, no sentido de que estamos em um determinado local, essa nossa região, ao mesmo tempo que estamos no mundo. Assim temos consciência que estamos em Foz do Iguaçu, mas já temos relações, convívios que extrapolando a cidade dão uma nova dimensão de regionalidade. Podemos por isso dizer que sob diversas e diferentes formas estamos numa região transfronteiriça, indicativa talvez de tudo aquilo que está ocorrendo no mundo da globalização que está em marcha. As diferenças de hábitos e costumes vão desaparecendo na exata medida em que os personagens sejam eles brasileiros, paraguaios, argentinos, chineses, árabes vão se integrando nessa nova sociedade que está propondo novas relações sociais, que sejam mais harmoniosas e menos conflitivas. Mas que também possibilitem a inovação e a criatividade de novas formas de convivência, novos relacionamentos, posicionamentos quer frente à vida, tanto quanto também respeitando as diversas individualidades. Isso está ocorrendo, nas cidades que compõem a tríplice fronteira, mais do que qualquer lugar é uma vivência que tende a, rapidamente, iniciar processos novos de relacionamentos propondo alternativas em função do processo de globalização que estamos também vivendo. Não se pode mais pensar em termos do passado entendendo que as correntes sociais são separados por fronteiras geográficas, existentes mediante linhas jurídicas propostas em tratados que nos separam. A superação dessa realidade já existe e é visível, na medida em que observamos a formação de uma nova convivência econômica, religiosa e de etnias que caminha sempre mais para maiores e melhores formas de aproximação. A PAISAGEM URBANA NA TRÍPLICE DA FRONTEIRA (Puerto Iguazu/Argentina, Ciudad del Este/Paraguai e Foz do Iguaçu/Brasil) Cleunice Dias de Morais Marcela Stuker Vania Dirley Graff A organização do Espaço Geográfico se dá através da construção e reconstrução do mesmo, em uma interação entre a paisagem natural e a paisagem humana. A paisagem natural corresponde ao meio que ainda não sofreu ou sofreu pouca intervenção humana, já a paisagem humana sofreu modificações pela a ação do homem. Segundo SANTOS (1997) A paisagem é o resultado de dois elementos, os objetos naturais formados pela natureza e os objetos fabricados pelo homem ao longo de diferentes tempos históricos. A expansão do capital se utiliza de todos os recursos disponíveis, na busca de sua completa efetivação, por meio da formação de novos valores, da indução ao consumo, dos recursos subjetivos da propaganda, moldando a paisagem urbana segundo as características econômicas, históricas, sociais, culturais e tecnológicas da sociedade que nela se insere. Todavia, a sociedade também se impregna dos elementos da paisagem que integram sua vida cotidiana, num processo de intensa interatividade. Como coloca SANTOS (1997) [...] cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e intensidades variadas. O mesmo ocorre em relação ao espaço e a paisagem que se transformam e adaptam-se às novas necessidades da sociedade. Ao analisarmos a paisagem urbana da tríplice fronteira temos que considerar as peculiaridades de cada cidade, uma vez que, estas estão inseridas num contexto de grande projeção turística, atividade essa que traz interferências e conseqüências em todo o entorno urbano, causando carência de planejamento adequado que de conta de satisfazer as necessidades elementares da população local. A forte representatividade econômica expressa no número de estabelecimentos do setor comercial e de prestação de serviços nesta região de fronteira revela uma presença maior de objetos, aspectos relativos a uma economia mais dinâmica e, consequentemente, o fluxo maior de informações e maior circulação financeira, de mercadorias e maior infra-estrutura instalada, conforme podemos visualizar na Figura 1: Fig. 1: Puerto Iguazu/Argentina Os setores econômicos desta região fronteiriça, visto através dos objetos e fluxos interpretam uma realidade dinâmica, ligada à política hegemônica do capitalismo e do circuito superior da economia, o qual é mais especializado e especulativo. A precarização do trabalho, resultante das políticas econômicas do circuito superior, introduz novas formas de especializações, não especulativas denominadas de circuito inferior da economia, por meio de funções e atividades, como as pequenas empresas, os vendedores ambulantes, as atividades de concertos dentre outras, conforme imagens a seguir: na Figura 4 visualizamos um vendedor ambulante do prato típico local (chipa); na Figura 5 temos uma grupo de moto taxi em Ciudad del Este, atividade essa necessária para atender o grande fluxo de turistas e na Figura 6 podemos observar a grande expressividade do comércio ambulante. Fig.4: Puerto Iguazu/Argentina Fig.5: Ciudad del Este/Paraguai Fig.6: Ciudad del Este/Paraguai O processo de urbanização ocorrido principalmente a partir da década de 70 do século XX, provocou uma aceleração no crescimento urbano, sobre esse viés, uma economia em expansão faz uso constante em infra estrutura e planejamento, para as quais o Estado é um elemento importante, provedor de projetos e recursos que visam a viabilização das atividades econômicas e das novas formas de convivência social que se estabelece. Segundo CARLOS, (2009, p. 297) O espaço revela-se como instrumento político intencionalmente organizado e manipulado, um meio e um poder nas mãos de uma classe dominante, num espaço globalizado. A cidade deixou, assim de ser um espaço privilegiado do convívio social de uma vida mais comunitária, onde a população se sinta parte integrante e possa usufruir de uma participação mais ativa dos recursos públicos disponíveis para se transformar num espaço de disputas, tendo em vista a atender as necessidades econômicas. Nessa disputa, o comércio se impõe, ocupando os espaços urbanos de forma desordenada, conforme podemos visualizar nas Figuras 7, 8 e 9, onde o comércio se apropriou do passeio público, buscando atrair clientes ou simplesmente se estabelecem no local de maior acesso aos consumidores. Essa forma desordenada de ocupação espacial provoca muitos transtornos para os transeuntes, que tem que dividir o espaço da rua com os veículos causando até mesmo situações de risco para ambos. Fig.7: Puerto Iguazu/Argentina Fig.8: Ciudad del Este/Paraguai Fig.9: Foz do Iguaçu/Brasil Além da disputa pelo espaço e suas constantes alterações na paisagem, tem-se a existência de um uso diferenciado do mesmo, quando a paisagem estrutural é utilizada para mais de uma funcionalidade. Conforme Milton Santos (1997, p. 69): “[...] as mutações da paisagem podem ser estruturais ou funcionais. Ao passarmos numa grande avenida, de dia ou à noite, contemplamos paisagens diferentes, graças ao seu movimento funcional. A rua, a praça, o logradouro funcionam de modo diferente segundo as horas do dia, os dias da semana, as épocas do ano. Dentro da cidade e em razão da divisão territorial do trabalho, também há paisagens funcionalmente distintas. A sociedade urbana é uma, mas se dá segundo formas-lugares diferentes”. Um exemplo dessa afirmação pode ser verificada na Figura 10, onde a varanda de uma lanchonete que durante a noite é um espaço de lazer e consumo, durante o dia é utilizada pelos vendedores ambulantes (hippies) para fabricar e vender seus produtos. Fig.10: Puerto Iguazu/Argentina O aumento do fluxo de pessoas e mercadorias nas cidades analisadas, também provocam problemas em relação ao meio ambiente, como o aumento da produção de lixo. Algumas cidades não possuem a estrutura necessária e suficiente para atender a demanda desta produção, ocasionando o acumulo de lixo nas calçadas, fato que além de provocar doenças, interfere na harmonia da paisagem. Neste sentido, comparando as imagens 12 e 13, podemos observar que a cidade de Foz do Iguaçu (Brasil), apresenta uma maior organização e melhor estrutura com relação à capacidade de coleta de lixo. Fig.12: Ciudad del Este/Paraguai Fig. 13: Foz do Iguaçu/Brasil Considerando a infra estrutura urbana, cada cidade apresenta suas peculiaridades e se diferencia em relação as demais, no entanto as diferenças podem ser visualizadas tanto entre cidades como entre espaços diferenciados de uma mesma cidade. Existem inúmeras diferenças, dentre as quais, podemos visualizar e destacar aspectos relativos a falta de sinalização e utilização inadequada das calçadas como estacionamento de motocicletas na figura 14. Na figura 15, em Ciudad del Este (Paraguai), podemos visualizar a presença de vias para locomoção de motocicletas, no entanto estas vias não estão presentes em todos os locais da cidade. Já na figura 16, cidade de Foz do Iguaçu, observa-se a existência de arborização urbana, como elemento diferenciador da paisagem entre as demais cidades analisadas. Fig. 15: Ciudad del Este/Paraguai Além das fotografias, durante visita às cidades da Tríplice Fronteira, foram feitas observações indiretas e entrevistadas 11 pessoas (apenas duas mulher) quanto à percepção da paisagem urbana desta região. Foi realizada análise de conteúdo das entrevistas referente às relações humanas e suas interações com o espaço, os significados e as valorações desses grupos diante da paisagem urbana da Tríplice Fronteira. O objetivo foi verificar quais os aspectos são mais observados, se positivos (topofílicos1) ou negativos (topofóbicos) e, com isso, discutir acerca das semelhanças e diferenças entre as três cidades: Puerto Iguazu, Ciudad Del Este e Foz do Iguaçu. O termo percepção, derivado do latim perception, é definido na maioria dos dicionários da língua portuguesa como: ato ou efeito de perceber; combinação dos sentidos no reconhecimento de um objeto; recepção de um estímulo; faculdade de conhecer independentemente dos sentidos; sensação; intuição; idéia; imagem; representação intelectual (MARIN, 2008). Para Ferrara (1993) apud Pacheco e Silva (2010), a percepção ambiental é definida como a operação que expõe a lógica da linguagem que organiza os signos expressivos dos usos e hábitos de um lugar. Já Ianni (1999), diz que é a representação de uma população sobre seu meio ambiente. Para Tuan (1980) a percepção ambiental “[...] é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atitude proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados”. Cerca de metade dos entrevistados (6) é brasileira, dois que nasceram em Foz do Iguaçu, dois turistas do Nordeste do país, um paranaense de Apucarana e um gaúcho (que se denomina “gauchinho da feirinha”), mas que foi morar aos três anos em Puerto Iguazu e se considera Argentino. Apenas um é natural da Argentina, entretanto de Córdoba, dois paraguaios nascidos na região e dois de outros países, um uruguaio, vendedor de artesanato (hippie) que mora atualmente (e passageiramente) em Puerto Iguazu e um chinês que mora em Foz do Iguaçu, mas possui comércio em Ciudad Del Este. Verificando a procedência já é possível realizar paralelos em relação à identidade da região fronteiriça, influenciada por diversas culturas e vínculos. A diversidade cultural foi ressaltada por um dos entrevistados quando perguntado por que mora em Foz do Iguaçu: Por causa da quantidade de, da multiculturalidade que tem aqui, me interesso por isso, acho bacana. (F., homem, 22 anos). A oportunidade de trabalho na fronteira parece ser algo importante para as pessoas e pode ser percebido tanto pela diversidade de funções desempenhadas, como foi evidenciado nas fotografias, como no relato das pessoas, onde 54% citaram esse aspecto (Fig.17). Seguem abaixo dois relatos: 1 Topofílico vem de Topofilia, termo cunhado por Yi-Fu Tuan (1980), para designar o vínculo afetivo positivo entre a pessoa e o lugar. Topofobia, ao contrário, seria o vínculo afetivo negativo. É um paraíso viver na fronteira pode fazer o que quiser, tem muito trabalho se quiser trabalhar, pode estudar, trabalhar, pescar, tudo. (C., homem, 22 anos). Por causa de alá no tiene más trabalho, e tiene que viver acá para poder viver. (C.A., homem, 53 anos). Figura 17: Percentual de respostas para a pergunta “Por que está aqui?”. Grande parte dos entrevistados (73%) conhece todas as cidades da fronteira e todos conhecem Foz do Iguaçu (Fig.18). A cidade parece representar o maior vinculo topofílico para as pessoas, pois quando perguntados “Qual paisagem você mais gosta?”, 63% dos entrevistados responderam Foz do Iguaçu e, ao responderem por que (Fig.19), citam a limpeza, a organização e o cuidado, como os aspectos mais importantes. Também foi citada a presença da natureza em Foz, a qualidade turística, o povo acolhedor e educado: Cultura, brasileiro sí, es limpio y ordenado, pero aquí en Paraguai y Argentina tiene mucha gente de Paraguai que vive aquí, están sucios, no cuidan de su hogar. (C,, homem, 26 anos). Parte de higiene e limpeza, por exemplo, isso ai é fundamental, a gente vê ainda situações como essa aqui, tinha que mudar o aspecto das instalações. Vê a água correr em céu aberto, essas coisas básicas que a gente gosta de ver, em Foz do Iguaçu é mais evoluído nesse sentido. (R., homem, 53 anos). Foz do Iguaçu eu gosto porque é bonita, mais organizada, a organização urbana dela é boa e tem ponto turístico, é bem cuidada. (C., homem, 22 anos). Foz, a natureza de Foz ela muito privilegiada, para quem mora nessa região tem muito verde, a natureza é bonita mesmo. (P, mulher, 41 anos). Gosto mais de Foz, tem tudo, tem um povo acolhedor, carinhoso, educado (S., mulher, 35 anos). Figura 18: Percentual relativo às respostas dos entrevistados quanto à paisagem que mais gostam. Outras citações que refletem a topofilia das pessoas em relação à Foz do Iguaçu possuem conteúdo referente ao maravilhamento com a cidade: Eu amo Foz do Iguaçu, trocaria acho que ela por nada, passearia, mas trocar ela não. (S., mulher, 35 anos). Paisagem tem muito no Brasil más lindo. Cataratas é um lindo lugar en Brasil. (C.A., homem, 53 anos). Fig.19: Categorias de resposta para a pergunta “Por que gosta mais dessa paisagem?” referente à Foz do Iguaçu. Puerto Iguazu também foi citada neste item, sendo a tranqüilidade, o principal aspecto topofílico (Fig.20). Fig.20: Categorias de resposta para a pergunta “Por que gosta mais dessa paisagem?” referente à Puerto Iguazu. Ciudad Del Este não foi citada nesse item, em contraste, foi incluída na maior parte de relatos quando questionados “Qual paisagem você menos gosta?”, evidenciando o viés topofóbico das pessoas quanto ao lugar (Fig. 21). O que coloca a cidade nesta posição são os aspectos contrários aos que colocam Foz do Iguaçu com maior topofilia: sujeira, bagunça e poluição, além da precária organização de veículos e do temor quanto à segurança (Fig.22). Seguem abaixo diferentes relatos que citam essas características: Essa questão dessa passagem a gente já percebe a sujeira tanto na saida de Foz quanto aqui no Paraguai. (P, mulher, 41 anos). O más ruim que tem nessa cidade é quando passa mercadoria, tem tiroteio. (C., homem, 22 anos). Acá es que tiene na ciudad mucho movimiento de vehiculo. (C.A., homem, 53 anos). A entrada para o Paraguai é tumultuada. Talvez buscar uma maneira de melhorar né. Acha que o próprio governo paraguaio poderia melhorar muito essa circulação em Ciudad del Este. Ter uma regulamentação maior das coisas, você vê que os carros circulam muito abotoalhadamente, isso pode até provovar um acidente e causar situação trágica. (E.B., homem, 53 anos). Dá medo, fico pensando, será que vou conseguir voltar tranquilamente? Ou será que vão me prender aqui?. (P, mulher, 41 anos). Fig. 21: Percentual relativo às respostas dos entrevistados quanto à paisagem que mais gostam. Fig.22: Categorias de resposta para a pergunta “Por que gosta menos dessa paisagem?” referente à Ciudad Del Este. Outras citações comparam as três cidades: São três países da fronteira que son bem diferentes do outro. Aqui na Argentina é um lugar tranquilo, pode vir passar a noite, o dia, tomar, comer, tudo, não tem problema viu? Agora Ciudad del Este depois das 17h da tarde não dá para ficar, é feio ali. E Foz do Iguaçu a gente gostava de ir também passear de noite, mas como muitos amigos contam que é "brabo" então a gente não vai, mas durante o dia a gente sabe que é muito bom. (O., homem, 53 anos). De Puerto Iguazu e Foz tem muitas árvores aqui e lá, acho gostoso, dá um clima bom, muitas das outras cidades que já passei tem muitas construções tem um clima cinza, abafado. Em Ciudad pelo fato de ter muito carro e manutenção desses carros nem sempre tá em dia, lá é muito quente, tem muito carro, o ar é mais difícil de respirar. (F., homem, 22 anos). Falta de estrutura de crescimento das cidades daqui, elas crescem sem estrutura. Tem muito trabalho paralelo, laranja porque não tem estrutura para essas pessoas. (F., homem, 22 anos). Ainda nesta questão, um relato interessante foi sobre a Aduana Brasil/Argentina. O entrevistado diz que a mesma representa a divergência entre as pessoas: “Entre as pessoas tudo legal, tudo bem, o único problema é a fronteira, é o que faz dividir nós, atrapalha muito, é só isso que atrapalha. O resto é tudo amizade”, (O., homem, 53 anos). Ao serem questionados sobre “O que melhoraria na paisagem?” (Fig.23), a maior parte dos entrevistados respondeu aspectos relacionados à Ciudad Del Este, referentes à limpeza e organização, o que vai de acordo com a transformação do laço topofóbico representado pela sujeira. Outros aspectos apontados referem-se à organização das ruas de Ciudad Del Este permitindo melhor circulação de veículos, á segurança, condição social e saúde (Foz do Iguaçu). Duas pessoas na Argentina apontaram que não mudariam nada, de acordo com O. (homem, 53 anos): “Aqui na argentina gosto de tudo rústico, simples, não melhoraria nada, estando asi está bom, só a Aduana para ter freguês”. Fig.23: Categorias de resposta para a pergunta “O que melhoraria?”. Em síntese, a entrevista, mesmo que com um número reduzido de pessoas, evidenciou diferentes aspectos quanto à paisagem urbana na Tríplice Fronteira, ressaltando aspectos topófílicos da paisagem como a importância da limpeza e organização, bem como dos aspectos topofóbicos, relacionados à sujeita e desorganização. Esses itens também foram observados nas fotografias das três cidades. Os resultados mostram como a fronteira é um local singular para estudos sobre a região inserida num contexto diversificado em diferentes pontos de vista: cultural, político, econômico, social e ambiental. REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS: IANNI, A.M.Z. A produção social do ambiente na periferia da metrópole: o caso da capela do Socorro, São Paulo. In: JACOBI, P.R. Ciência ambiental: os desafios da interdisciplinaridade. São Paulo: Annablume - Fapesp, 2000. CARLOS, A.F.A. A “ilusão” da transparência do espaço e a “fé cega”no planejamento urbano:os desafios de uma geografia urbana crítica. In r Revista Cidades, vol.6 n10, 2009, pg.289-306. MARIN, A.A. Pesquisa em educação ambiental e percepção Ambiental. Pesquisa em Educação Ambiental, Rio Claro, v. 3, n. 1, p. 203-222, 2008. Disponível em: http://www.epea.tmp.br/revipeafiles/revipeav3n1a11.pdf. Acesso em: 20 de Novembro de 2010. PACHECO, E; SILVA, H.P. Compromissos epistemológicos do conceito de percepção ambiental. In: VII Congresso de Ecologia do Brasil, 2005, Caxambu, MG. Disponível em: http://www.ivt-j.net/sapis/2006/pdf/EserPacheco.pdf. Acesso em: 08 out. 2010. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. Fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. 5. ed., São Paulo: Hucitec, 1994 e 1997. TUAN, Yu-fu. Topofilia. São Paulo: DIFEL, 1980. ASPECTOS ECONÔMICOS NA TRÍPLICE FRONTEIRA (Puerto Iguazu/Argentina, Ciudad del Este/Paraguai e Foz do Iguaçu/Brasil) Karl Heins Ewald Teresa Itsumi Masuzaki Vanderleia Gemelli Aos 24 dias de novembro de 2011 realizou-se trabalho de campo na região da Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, enquanto desdobramento da disciplina Região e Fronteira do Mestrado em Geografia da Unioeste, campus de Marechal Cândido Rondon. Foram visitadas respectivamente as cidade de Puerto Iguazu na Argentina, Ciudad del Este no Paraguai e Foz do Iguaçu no Brasil. Quanto aos aspectos econômicos referentes às essas três localidades, pode-se fazer alguns apontamentos que seguem: A atividade econômica de maior destaque desenvolvida nessas cidades é o comércio através da venda de produtos em geral, com destaque portanto para o setor terciário. Quanto ao valor dos produtos pode-se perceber que as três Cidades oferecem produtos a um valor baixo se comparado a outras regiões do Brasil. No entanto, Ciudad del Este apresenta uma diversificação de produtos maior que as outras duas, o que justifica a maior procura pela compra nessa localidade. O fluxo de pessoas que se deslocam à Ciudad del Este para fazer compras é maior que o fluxo que se desloca a Puerto Iguazu e a Foz do Iguaçu. De acordo com os comerciantes argentinos em Puerto Iguazu e os paraguaios e brasileiros em Ciudad del Este, os dias em que o fluxo de pessoas é maior são aos sábados e nos dias que correspondem aos feriados brasileiros. Em Puerto Iguazu além do comércio lojista, há uma feira de produtos alimentícios e bebidas, onde trabalham em sua maioria argentinos. De acordo com entrevistas realizadas, a feira existe a aproximadamente 20 anos, sendo que a prefeitura disponibiliza gratuitamente água e energia. O horário de funcionamento da feira se estende das 7:00 horas da manhã até as 23:30 horas, durante todos os dias da semana. A seguir imagens da feira extraídas a campo. Imagem 1 – Produtos alimentícios da Feira em Puerto Iguaçu – Argentina Imagem 2 - Produtos alimentícios da Feira em Puerto Iguaçu - Argentina Imagem 3 - Bebidas na Feira em Puerto Iguaçu - Argentina Quanto ao horário de trabalho no comércio, na Argentina este estende-se das 8:00 horas da manhã até as 13:00 horas, reabrindo as 16:00 horas até as 21:00 horas. No Paraguai este estende-se das 7:00 horas da manhã até as 16:00 horas. No Brasil, das 8:00 horas da manhã até as 18:00 horas. No que se refere à nacionalidade dos comerciantes, pode-se perceber através das entrevistas realizadas nas três cidades, a seguinte realidade: em Puerto Iguazu trabalham argentinos e muitos brasileiros; em Ciudad del Este as etnias se multiplicam, existem árabes, indianos, coreanos, chineses, brasileiros, dentre outras, sendo que o comércio não legalizado (camelôs) em sua maioria é praticado por paraguaios, enquanto que os lojistas legalizados se multiplicam entre as diversas etnias; em Foz do Iguaçu na região de comércio próxima à Ponte, bairro Vila Portes, existem além dos comerciantes brasileiros, muitos árabes, e na região central da cidade a maioria são brasileiros. De forma geral, fazendo um comparativo entre as três cidades, pode-se apontar que Ciudad del Este é onde o comércio apresenta um fluxo de procura pelos produtos maior que Puerto Iguazu e Foz do Iguaçu. Um dos fatores que pode justificar essa realidade é a maior diversificação dos mesmos, já que o comércio no Paraguai corresponde a lógica capitalista concorrencial em escala mundial, com a produção de mercadorias com baixo valor agregado em países como China, Taiwan, Indonésia e outros, conseguem adentrar fronteiras de países com economia e sistema tributário menos estruturado. Neste sentido, o sistema tributário paraguaio facilita a venda de mercadorias a preços inferiores aos praticados no Brasil, atraindo grande fluxos de consumidores, em especial, brasileiros. Assim, há grande número de brasileiros trabalhando no comércio em Ciudad del Este. Conforme um trabalhador paraguaio, dominar a língua portuguesa se torna um requisito básico ao perfil de trabalhador exigido pelos lojistas. Brasileiros e paraguaios encontram-se em condições muito precárias de trabalho. Em nossas entrevistas pudemos identificar formas precárias de contrato, contrato informal, trabalho intenso até aos sábados, domingos e feriados sem direito às horas extras ou banco de horas, apenas doze dias de férias (ou sem direito às férias), entre outros. Pelas entrevistas percebemos que o sistema previdenciário é muito precário, mesmo que ainda pelo sistema público, há ainda um grande desafio para o governo paraguaio. Pela fala dos trabalhadores, notamos o difícil acesso à aposentadoria, que se restringe aos que chamam de “trabalhadores oficiais”, aos funcionários públicos. Comparando os direitos básicos do trabalhador no Paraguai em relação ao Brasil, percebemos que as conquistas ainda são muito incipientes, como o direito de 12 dias férias com o prazo mínimo de um ano de serviço, a inexistência da política do décimo terceiro salário e de um seguro desemprego. No trabalho de campo nas três fronteiras, notamos indicadores que comprovam que com as políticas de mercado voltadas para a livre concorrência, têm reduzido os espaços públicos em prol da arbitrariedade privada. Como na Argentina, trabalhadores relataram que a metade dos trabalhadores formais estão inseridos no sistema previdenciário privado. No Paraguai, o conflito entre empregador e trabalhador se dá por intermédio de um contador (custeado pela empresa), que tem o papel de resolver os problemas atendendo os interesses de ambas as partes. Neste sentido, a expansão comercial em que se destaca Ciudad Del Este em relação as outras duas cidades quanto a sua quantidade de shoppings e comerciantes em geral, não necessita apenas das mercadorias produzidas com baixo valor agregado, das vantagens nos acordos alfandegários e tributários, de uma mão de obra barata para trabalhar no comércio, mas também a necessidade de despertar nas pessoas o desejo de adquirir mercadorias e facilitar o consumo, através das estratégias de marketing, como outdoors e abordagens na rua. A seguir algumas imagens do comércio nas três cidades: Imagem 4 – Comércio em Puerto Iguazu – Argentina Imagem 5 – Comércio em Ciudad del Este – Paraguai Imagem 6 – Outdoors em Ciudad del Este Imagem 7 – Comércio na Vila Portes em Foz do Iguaçu - Brasil Imagem 8 – Comércio na Vila Portes em Foz do Iguaçu