CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO RELATÓRIO DA VISITA À CATANDUVAS E FOZ DO IGUAÇU Em atenção aos Requerimentos nº 32/07, de autoria do Deputado William Woo (PSDB/SP), de 17/04/07, que requereu visita da Comissão à Penitenciária Federal de Catanduvas (PR); e n° 43 /2007, de autoria do Deputado João Campos (PSDB/GO), de 09/05/2007, que requereu a realização de visita ao Centro Regional de Inteligência (CRI) em Foz do Iguaçu (PR) e ao Comando de Fronteiras, em Puerto Iguaçu, na Argentina, a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, representada por seu presidente, Deputado João Campos (PSDB/GO) e pelos membros Deputados Pinto Itamaraty (PSDB/MA), William Woo (PSDB/SP), Valtenir Pereira (PSB/MT) e Fernando Melo (PT/AC), e pelo Coordenador Geral de Inclusão, Classificação e Remoção do Sistema Penitenciário Federal, André Luiz de Almeida e Cunha, dirigiu-se às cidades de Catanduvas (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Puerto Iguaçu (Argentina), para cumprir a Missão Oficial. O objetivo era conhecer o sistema e apurar as denúncias contra a Penitenciária Federal de Catanduvas, e em Foz do Iguaçu, visitar as instalações do Centro Regional de Inteligência da Polícia Federal e o Comando de Fronteiras, que é itinerante e atualmente está na Argentina, mas é comandado pelas polícias brasileira, argentina e uruguaia. O avião Brasília da Força Aérea Brasileira, que transportou os integrantes da Comissão, pousou em Cascavel por volta das 11:00 horas do dia 31 de maio. Do Aeroporto, um microônibus da Polícia Federal realizou o transporte até o município de Catanduvas, onde fica localizada a Penitenciária Federal. Na chegada, a Comissão foi recebida pelo então diretor Ronaldo Urbano, e conduzida a uma sala de reuniões do presídio, onde permaneceu por cerca de duas horas. Estavam presentes o juiz e o promotor da Comarca de Catanduvas, Marcos Cunha de Araújo e Rodrigo Leite Ferreira Cabral, além do Delegado da Polícia Federal da Delegacia de Polícia Federal em Cascavel, Guilherme Monseff De CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO Biaggi, e do diretor de transição da Penitenciária, Francisco de Assis Guimarães Sobrinho, já que o atual diretor pediu para ser exonerado. Durante a reunião, foram abordadas as denúncias publicadas pelo Jornal Folha de São Paulo (em anexo), no dia 17 de abril deste ano, e que motivaram a Missão à Penitenciária. Os deputados fizeram uma ampla averiguação em relação às denúncias de tortura, problemas de relacionamento entre os agentes penitenciários e a direção da unidade, agentes com antecedentes criminais e desvios de conduta, falhas de segurança e influência de presos como o traficante Luiz Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-mar”. O presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO), deputado João Campos (PSDB/GO), explicou ao diretor da Penitenciária que a Comissão tem o papel de fiscalizar, e que gostaria que fossem esclarecidas todas as denúncias, além de apontadas sugestões em termos de legislação para auxiliar na melhoria dos processos que regem o sistema prisional. Ronaldo Urbano começou explicando as falhas do primeiro concurso que contratou 250 agentes penitenciários para atuar na Penitenciária de Catanduvas, num regime de 24 por 72 horas. “Quanto à denúncia de agentes com antecedentes criminais, houve falha na realização do concurso, uma vez que não foram levantados os antecedentes dos agentes, embora depois de levantados os dados, tenhamos descoberto que a maioria são crimes banais como brigas, infrações de trânsito, além de serem fatos bem anteriores ao concurso. Apenas dois casos eram mais graves: um acidente de trânsito, homicídio culposo e tráfico de drogas”, explicou o diretor. Este segundo agente, apesar de ter cumprido pena e estar livre do processo, não tem mais contato com os presos e cumpre serviços mais administrativos. Os agentes passaram por um curso de formação que durou três meses e estão habilitados a trabalhar com armas letais (áreas mais externas do presídio) e não letais como balas de borracha, gás e burra (áreas de contato com os detentos). Segundo Urbano, houveram alguns problemas de adaptação entre os agentes, a comunidade dos municípios de Cascavel e Catanduvas, o CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO pessoal da Polícia Federal e a direção, mas que já foram apurados e sanados pela área administrativa do DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional. Sobre a possível liderança de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-mar, o diretor da Penitenciária informou que, por exemplo, a respeito da contratação de advogados para outros presos, aluguel de apartamentos para familiares e advogados, além da compra de táxi para transporte dos mesmos, não há nenhum meio legal que possa coibir essa prática. “Quando Beira-mar comprou e mandou entregar 200 livros no presídio, nós os devolvemos, assim como não permitimos as propostas dele para compra de comida, medicamentos, agasalhos para os presos, assistência médica, entre outras. Ele tenta criar liderança de todas as formas, mas estamos coibindo através de um isolamento maior, como por exemplo, o banho de sol, que agora ele faz sozinho”, explicou. Para os deputados, a principal denúncia foi a de tortura. O inquérito policial, que corre em segredo de justiça e ainda não foi concluído, está sob a presidência do Delegado da Polícia Federal da Delegacia de Polícia Federal em Cascavel, Guilherme Monseff De Biaggi, o qual informou que os exames de corpo delito comprovaram que as lesões corporais não foram provocadas pelo próprio detento. “Isso comprova que houve agressão”, afirmou o deputado João Campos. O presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara ainda informou que através do que foi constatado é necessária uma lei que regulamente o procedimento sobre transferência de presos entre presídios estaduais e federais, disciplinando também, com clareza, a competência do juízo da execução nestes casos, além de criar as condições legais para a Defensoria da União atuar. Outros projetos para aperfeiçoar o sistema prisional também terão prioridade na Câmara dos Deputados. O deputado William Woo (PSDB/SP) questionou os altos investimentos, mas ao mesmo tempo afirmou que segurança custa caro. Abordou os erros cometidos no primeiro concurso, os altos salários dos agentes penitenciários, que recebem R$ 4 mil mensais, a possível instalação da CPI do CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO Sistema Penitenciário, a Força Nacional de Segurança e da disposição da comitiva em ouvir sugestões. O deputado Fernando Melo (PT/AC) questionou se existe acompanhamento psicológico para os agentes. Segundo o diretor da Unidade, os agentes apenas recebem palestras orientadoras. Para o deputado Valtenir Pereira (PSB/MT), a falta da Defensoria Pública para atender os detentos foi o principal problema detectado, que deve ser sanado através da PEC da Defensoria Pública que está tramitando na Câmara dos Deputados. Já o deputado Pinto Itamaraty (PSDB/MA), preocupou-se com a atuação de Fernandinho Beira-Mar questionando se o mesmo movimenta dinheiro no presídio. Por parte da administração do presídio não há indício nenhum de movimentação financeira por qualquer detento. Durante a visita, os deputados foram abordados pelo presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Catanduvas, Helder Antônio Jacob dos Santos, que fez algumas reclamações. As principais foram em torno da falta de organização da carreira dos agentes. Segundo ele, a legislação apenas criou os cargos e não disciplinou a carreira. Outra reclamação é que os agentes não possuem carteira funcional, ficando muitas vezes constrangidos em locais públicos. Os agentes penitenciários também não tem livre porte de arma, inclusive da pistola ponto 40, o que dificulta o trabalho deles e também os coloca em situação de risco. O deputado João Campos solicitou ao presidente do Sindicato que formalizasse as reclamações encaminhando ofício à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados. Na seqüência das reuniões, os deputados foram conhecer as instalações da Penitenciária Federal de Catanduvas. Foram identificados e cadastrados pelo sistema datiloscópico utilizado no local, após seguiram inspecionando todas as áreas do presídio que é dividido em quatro blocos. CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO Estiveram tanto nas celas normais, quanto nas celas de RDD, que possuem cama, mesa, banco e prateleiras de concreto fixados nas paredes e no chão, além de colchão à prova de fogo. Não existem tomadas elétricas. A área do banheiro conta com pia, bacia sanitária e um buraco no teto por onde sai a água para o banho, que é feito em dois horários fixos no dia durante cinco minutos. Além disso, os deputados visitaram a enfermaria, salas administrativas, salas de projetos sociais, pátio de banho de sol, área para visitas, sala para visitas íntimas, local de espera de visitantes e sala de monitoramento das câmeras. Durante a visita à área de celas, o deputado João Campos indicou uma cela e solicitou aos agentes que abrissem-na para que pudesse conversar com um detento. O pedido foi para constatar a procedência de reclamações aos deputados feitas pela esposa de um dos presos que aguardava para visitar o marido. O deputado João Campos questionou o preso sobre proteções contra o frio como cobertores e roupas, já que o município de Catanduvas tem um inverno bem rigoroso. O detento afirmou e mostrou ao deputado que estava bem protegido do frio, não procedendo então as reclamações da esposa de outro preso. Construída a um custo de R$ 20 milhões, a Penitenciária Federal de Catanduvas foi inaugurada em junho de 2006 e recebeu o primeiro detento, Luiz Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-mar, em 19 de julho do mesmo ano. Com capacidade para 208 presos de alta periculosidade em celas individuais, atualmente a Penitenciária conta com 164 detentos condenados, principalmente, por crimes contra o patrimônio como roubo, latrocínio, seqüestro, extorsão, além do tráfico de drogas. Entre os presos podemos citar Fernandinho Beira-mar; Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco; Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP; Marco Antônio Pereira, o My Thor; Isaías da Costa, o Isaías do Borel; Márcio Cândido da Silva, o Porca Russa; Maurício Hernandez Norabuena; e os policiais que participaram da chacina da Candelária. O custo aproximado, segundo o diretor da Penitenciária de Catanduvas, Delegado aposentado da Polícia Federal, Ronaldo Urbano, é de R$ 5 mil/mês por preso. CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO O sistema é dividido em celas normais e celas de RDD – Regime Disciplinar Diferenciado (isolamento), mas atualmente não existe nenhum preso cumprindo esse regime. O último a ficar numa cela de RDD foi o Marcola. O único contato dos detentos com o mundo exterior é feito através de visitas dos familiares (duas pessoas da família e uma criança), que acontecem duas vezes por semana (quarta e quinta-feira), todas monitoradas e pré-agendadas; visitas dos advogados (utilização do sistema americano com contato através de interfone); livros e cartas dos familiares. Desde sua inauguração até o presente momento, não foi registrado nenhum caso de entrada irregular de aparelho celular no presídio. Quando chegam à Penitenciária, os detentos são identificados eletronicamente, têm seus pertences e roupas recolhidos, recebem um enxoval composto de lençóis, cobertor, agasalho (calça e jaqueta de moletom), touca, luvas, meias, sapatos, cuecas, objetos de uso pessoal, além de serem orientados a não falar sem ser perguntados. Para chegar ao local onde ficam as celas eles têm que passar por 18 portões com grades, dois aparelhos de raio X e cinco detetores de metal, além das diversas câmeras espalhadas pela Penitenciária que monitoram todos os movimentos, tanto dos detentos, quanto dos agentes que trabalham lá. Em Brasília, existe no Departamento Penitenciário Nacional equipamentos que recebem as imagens diretamente de Catanduvas. Segundo averiguado pelos deputados, de todos os equipamentos e normas de segurança previstos, os únicos que não estão em funcionamento ainda são os espectrômetros, que servem para detectar partículas e vapores de dez tipos de explosivos, oito de drogas, nove de armas de guerra química e oito produtos químicos industriais tóxicos. Estes equipamentos estavam retidos no Ministério da Justiça face a questionamentos relacionados ao processo de compra, mas agora, segundo o Coordenador Geral de Inclusão, Classificação e Remoção do Sistema Penitenciário Federal, André Luiz de Almeida e Cunha, do Depen, foram liberados por decisão judicial. CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO Muitos presos, segundo os agentes penitenciários, reclamam do duro regime adotado na Penitenciária Federal, como também da quebra do vínculo familiar em função da distância. Em contrapartida, os detentos têm direito à assistências médica (inclusive com ambulâncias para remoção) e religiosa, projetos sociais como o “Arca das Letras” e o “Pintando a Liberdade” (serigrafia em processo de instalação), banhos duas vezes ao dia, banhos de sol durante duas horas por dia (em pequenos grupos para evitar maiores contatos), visita íntima uma vez por mês, que em breve deve passar para duas vezes ao mês, entre outras. Novas Penitenciárias de Segurança Máxima – Segundo informações do Departamento Penitenciário Nacional, estão previstas mais três penitenciárias federais iguais a de Catanduvas, uma no Rio Grande do Norte, que já está em fase de conclusão, outra em Rondônia e mais uma no Espírito Santo, além da que já está em funcionamento no Mato Grosso do Sul, contemplando assim todas as regiões do País. O investimento total é de R$ 100 milhões. Conclusão O presídio está funcionando adequadamente, atendendo às finalidades a que se destina. A edificação observou as normas relativas a presídios de Segurança Máxima; os equipamentos instalados são adequados e estão em funcionamento. Não há registro de entrada de celulares, as normas internas são rígidas. Não existe nenhum bloco destinado a mulheres presas. A instalação dos espectrômetros ampliará ainda mais os níveis de segurança. O quadro funcional tem remuneração digna e formação específica. O presídio recebe poucas visitas da Justiça Federal e do Ministério Público Federal daquela jurisdição. Uma sugestão seria que os próximos presídios de Segurança Máxima fossem automatizados e construídos em localidades com aeroportos em condições de receber aeronaves até de médio porte (Catanduvas fica há mais ou CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO menos 60 quilômetros de Cascavel, onde está o Aeroporto). Além disso, criar cargos específicos e formar pessoas só para a área de gestão prisional. Comando de Fronteira No Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, composto pelas polícias brasileira, Argentina e Paraguaia, os deputados estiveram em uma rápida reunião. Foram recebidos pelo Comisario Hugo Jose Galarza, Jefe Delegacion Puerto Iguazu Delitos Federales Y Complejos, Policia Federal Argentina e o Subcomisario, Jorge Antonio Moliner; pelo Escuadron XIII de La Gendarmeria Nacional, Comandante Proncipal Gumersindo Cidade; pela Prectura Naval Argentina, Prefecto Principal Jorge Zaracho; além do representante de la Policia Nacional del Paraguay, Comisario Rene Rios, jefe de la IV Zona Policial del Departamento Alto Parana Paraguay. Na oportunidade, a comitiva brasileira recebeu apoio em tanto em Foz do Iguaçu (PR), quanto em Puerto Iguaçu (Argentina), do Cônsul brasileiro na Argentina, César Fleury Curado, e da equipe da Polícia Federal, sob o comando do Chefe da Delegacia de Foz do Iguaçu, Dr. Alessandro Carvalho Liberato de Mattos. Criado em maio de 1996, mediante acordo de operações firmado entre os ministros do Interior da Argentina e do Paraguai e o ministro da Justiça do Brasil, o Comando é itinerante e funciona quatro meses em cada país. O objetivo é desenvolver ações integradas de combate ao crime organizado através de cooperação mútua, principalmente com intercâmbio no âmbito da inteligência. A missão dos países se baseia na cooperação mútua, incremento dos laços de comunicação, fortalecimento da capacidade de prevenção, atuação contra o crime organizado, elaboração de operações programadas e manutenção de um intercâmbio contínuo no âmbito de serviços de inteligência. Os representantes das três polícias que integram o Comando Tripartite afirmaram aos deputados que, apesar da preocupação do governo CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO americano, até a presente data não se verificou a presença de nenhuma célula de terrorismo naquela região. A comissão de deputados concluiu que o Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, com a filosofia de cooperação integrada, tem sido muito importante para o melhor êxito das ações de Segurança Pública na tríplice fronteira. Centro Regional de Inteligência O Centro Regional de Inteligência, localizado em Foz do Iguaçu, ainda não está em funcionamento, e como o tempo estava exíguo, não foi possível a visita, mas os parlamentares receberam um documento contendo todas as informações a respeito do Centro (em anexo). Encerrando Missão Oficial, a Comissão embarcou no avião da Força Aérea Brasileira, às 18h30min., em Foz do Iguaçu (PR), retornando à cidade de Brasília. Brasília - DF, Deputado JOÃO CAMPOS Presidente de julho de 2007. Deputado PINTO ITAMARATY Vice-Presidente Deputado FERNANDO MELO Deputado VALTENIR PEREIRA Deputado WILLIAM WOO