São [email protected] Revista Acadêmica do Grupo Comunicacional de São Bernardo www.metodista.br/unesco/GCSB/index.htm Ano 2 - nº 3 - (janeiro/junho de 2005) Textos previamente apresentados em reuniões científicas e selecionados pelos membros do comitê editorial Programa Pandorga: a identidade regional preservada no imaginário infantil Carla Pollake jornalista e professora da Universidade Metodista de São Paulo colaboração Bruna Panzarini graduanda em publicidade e propaganda na Universidade Metodista de São Paulo RESUMO Em uma sociedade audiovisual aonde o imaginário infantil está infestado de referências globalizadas, como espaço para a desenhos japoneses, norte-americanos e canais “network”, ainda há elaboração de programas “artesanais”, educativos, sem a presença do capitalismo regendo a relação receptor e emissor? Sim, há. O programa infantil, Pandorga, produzido e exibido na TVE-RS é um exemplo de persistência frente à hegemonia audiovisual. Feito a partir de personagens/bonecos, o programa tem caráter lúdico, estimula a leitura e não exibe desenhos. No ar há 16 anos o programa é exibido duas vezes ao dia e surpreende por sua popularidade. Um exemplo de como a produção regional pode manter-se na zona de interesse e identificação das crianças, mesmo com tantos Dijimons, Pokemons e outros “mons”. Palavras-chave: programa infantil, produção regional, educomunicação 2 Sumário Apresentação.....................................................................................................................3 1. A criança e a TV...........................................................................................................5 2. A programação infantil na TV brasileira.......................................................................6 2.1 Formatos dos programas existentes.................................................................6 2.2 O que é um bom programa infantil?................................................................7 3. O Pandorga e as crianças gaúchas.................................................................................8 3.1 O que é uma pandorga?...................................................................................8 3.2 História do programa Pandorga.......................................................................8 3.3 O Pandroga e as crianças...............................................................................11 4. Considerações Finais...................................................................................................12 5. Referências bibliográficas...........................................................................................14 Apresentação Este artigo, na verdade, é apenas o início, o começo de uma pesquisa maior sobre os programas infantis dentro das grades de programação atuais das emissoras de sinal aberto. Há, e faz muito tempo, uma grande discussão sobre a qualidade dos conteúdos exibidos nas emissoras brasileiras. Discuti-se, de forma exaustiva, o baixo nível de maior parte 3 da programação da tevê. E quando se trata de programação infantil, há uma preocupação maior já que a audiência, aqui, é considerada “indefesa” em relação aos conteúdos a que são expostos. São frequentes estudos que abordem o tema “a criança e a violência na televisão”, que procurem uma relação direta entre o sujeito e a ação. Fora a qualidade dos programas e desenhos que estão constantemente na “berlinda” dos intelectuais, produtores de mídia e educadores de todas as partes. Em tempos de “Estatuto da Criança e do Adolescente”, Midiativa1, Prêmio MídiaQ2, Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, e ainda a atuação constante de institutos como a Andi (Agência Nacional dos Direitos da Infância) não dá para ignorar a as questões levantadas por esta parcela da sociedade que está preocupada diretamente com a ação que a mídia provoca junto ao público infantil e infanto-juvenil. Levanta-se a questão da responsabilidade social que as empresas de comunicação devem ter, inclusive da criação de bons programas infantis. Descobrir (e apontar) o que é nocivo na programação televisiva, e sobretudo, na própria programação infantil. A própria globalização é apontada como uma das culpadas pela proliferação de desenhos que incitam violência, além da discussão sobre os efeitos que os desenhos japoneses (pokemon, dijimons etc) tem sobre as crianças, não só do Brasil, já que este tipo de produção é veiculada e faz sucesso por todo o mundo. No entanto, nosso trabalho vai justamente em um caminho diferente. Buscamos um bom exemplo de programa infantil no Brasil, dentro da perspectiva de mídia regional. Tentamos demonstrar que mesmo com a hegemonia da programação nacional das emissoras de televisão, com os formatos exaustivamente iguais de apresentadoras e ____________________ 1 – Midiativa é uma ONG que tem como objetivo educar as novas gerações para a mídia. – Prêmio MídiaQ é um prêmio realizado pela Midiativa em conjunto com a empresa de pesquisa Multifocus para premiar os programas de qualidade assistidos por crianças e adolescentes. 2 desenhos, há opções de bons programas infantis e que a produção regional pode contribuir para a qualidade de conteúdos e uma aproximação maior entre a realidade do telespectador (no nosso caso, as crianças) e o que lhes é apresentado na tevê. Isso, sem perder a mágica e mundo de sonho que faz parte do imaginário infantil. Nosso objeto de estudo é o programa infantil Pandorga, uma produção da TVE do Rio Grande do Sul que já está no ar há 16 anos (sua estréia foi em agosto de 1988) e vai ao ar duas vezes por dia, diariamente. Neste primeiro momento, comparamos o programa aos apresentados pelas emissoras de abrangência nacional em aspectos gerais como o formato. Depois, fazemos apontamentos da participação da audiência junto ao Pandorga. E por último, como o fato de ser um produto regional contribui para que a mensagem gerada no programa seja melhor compreendida pelo público, provocando assim uma aprendizagem. 4 Nosso intuito maior ao apresentar esta proposta de trabalho é gerar uma reflexão no sentido de apontar produções infantis que têm no seu diferencial justamente a questão regional, ou seja, o ponto que demonstra que a diversidade cultural deve ser preservada e respeitada, e que sendo assim, podem gerar boas produções sendo inclusive exemplos de produções baratas e eficazes junto ao público infantil. 1. A criança e a TV É lugar comum dizer que a televisão virou a “babá eletrônica” dos tempos modernos. A televisão está presente em quase todos os lares brasileiros, e segundo dados do Ibge (pnad 2001) existem mais televisores que fogões nas casas. Recente pesquisa realizada pelo instituto Ipsos em dez países3, afirma que as crianças e adolescentes brasileiros são provavelmente os que mais vêem televisão no mundo, e ainda, são os que menos têm o hábito da leitura. Os resultados apontam que no Brasil cerca de 57% das crianças vêem televisão por no mínimo três horas por dia. A pesquisa foi realizada em grandes centros urbanos do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre) e isso deve ser levado em consideração, no entanto os dados são preocupantes e esquenta o debate acerca do papel social que a televisão deve (ou deveria) exercer junto à população e principalmente, junto as crianças. O fato é que a televisão faz parte do cotidiano dos brasileiros e, claro, da maior parte das crianças do nosso país. E por isso torna-se pertinente a preocupação com os conteúdos exibidos em programas destinados aos pequenos, e mesmo em outros programas que não são destinados exclusivamente a este público mas são assistidos por eles. Inclusive, é importante ressaltar que, segundo medição do Ibope4, em agosto/2003 os programas mais assistidos por crianças entre 4 e 11 anos eram “Mulheres Apaixonadas” (na época, novela exibida às 21hs 5 na TV Globo) e “A grande família” (sitcom semanal da TV Globo), programas destinados ao público adulto. É claro que isso pode indicar fatores como: em determinados horários, não há opção de programação infantil nas emissoras de sinal aberto ou, que os pais detém a decisão sobre o que a família vai assistir (pelo menos quando eles estão em casa). ______________________ 3 - A pesquisa foi publicada em matéria de capa do caderno “Folha Ilustrada” do jornal “Folha de S.Paulo” (17/10/2004). 4 – Dado apurado junto ao Ibope, através de pedido desta autora. 2. A Programação Infantil na tevê brasileira Fala-se, normalmente, que na tevê brasileira (emissoras com sinal aberto) há pouca, ou pouquíssima criatividade. O que se vê é uma repetição imensa de formatos dentro das emissoras concorrentes. Se temos o programa “Mais Você” (TV Globo) voltado para o público feminino no horário da manhã, também podemos ver o Dia Dia (TV Band) e Note Anote (TV Record) do mesmo gênero e às vezes, até no no mesmo formato. Com a programação infantil a constatação não é diferente e ainda possui um agravante: a quantidade de produções é menor em relação a outros gêneros. Quem pode ser considerada exceção dentro desta realidade é a TV Cultura/SP que apresenta uma qualificada programação infantil (inclusive premiada internacionalmente), mas que devido ao alto custo das produções faz da repetição dos programas uma maneira de mantê-los no ar. 2.1 Formatos dos programas existentes A programação das emissoras de televisão (sinal aberto) realmente apresenta poucas produções infantis. E se não consideramos a exibição de desenhos (pura, sem apresentadores) um programa, esse número diminui consideravelmente. Atualmente os programas infantis exibidos são os seguintes5: Emissora/programa Formato do programa horário TV Cultura Rá-tim.bum Cocoricó Teletubbies Castelo Rá-tim-bum Ilha Rá-tim-bum episódio episódio episódio episódio capítulo manhã/tarde manhã/tarde manhã manhã/tarde manhã/tarde SBT Bom dia e Cia Festolândia quadros / desenhos desenhos manhã manhã 6 Chaves episódio Emissora/programa Globo Xuxa no mundo da imaginação Sítio do pica-pau amarelo TV Globinho Formato do programa quadros / game show / desenhos capítulo / seriado apresentação / desenhos Bandeirantes Cavaleiros do Zodíaco apresentação / desenhos Rede TV! Vila Maluca tarde horário manhã manhã manhã tarde episódio tarde PS. A TV Record não apresentou nenhum produção destinada ao público infantil. O programa da Eliana é considerada uma produção para o público juvenil, sendo um game misturado com quis show. Notamos que a maior parte dos programas infantis se concentra na parte da manhã na programação das emissoras. Alguns que são classificados como “tarde” são exibidos no comecinho da tarde (por volta de 12h30), mais ou menos no horário do almoço. Isso mostra uma lacuna existente nos outros períodos (tarde e noite), onde as crianças acabam por assistir uma programação voltada ao público adulto. No que diz respeito aos programas infantis e seus formatos podemos fazer duas considerações. Se nos anos 80 (séc. XX) as “loiras”- apresentadoras (com exceção da baiana Mara Maravilha) era formato de sucesso garantido, hoje já está em desuso e a única “loira” que ainda trabalha para a criançada é Xuxa. Matéria publicada pela Folha de S.Paulo (26/09/2004), intitulada, “o declínio do império das loiras” explora a trajetória dos programas neste formato (apresentadora adulta, quadros e desenhos) e explora as possíveis razões para o declínio dele. Outra questão é, se os desenhos sozinhos (sem apresentadores) são considerados programas. Algumas emissoras apresentam sessões inteiras de desenhos, sem apresentadores. Os japoneses como Pokemón, Dijimón e Yu-gi-oh fazem sucesso junto ao público infantil. O que é um bom programa infantil? O instituto MultiFocus, especilizado em comportamento infanto-juvenil, fez uma pesquisa em São Paulo com 60 pais e filhos de 4 a 17 anos. O estudo indica o que seriam os “dez mandamentos de um programa de qualidade” assistido por crianças e adolescentes. Esses mandamentos seriam: 1) Confirmar valores 2) Incentivar a auto-estima 3) Preparar para a vida 4) Gerar curiosidade 5) Não ser apelativo 6) Ser atraente 7) Despertar o senso crítico 8) Mostrar a realidade 9) Gerar identificação 7 10) Ter fantasia. O problema apontado é que os programas mais vistos por crianças e adolescentes não são feitos para eles, como já dissemos anteriormente. 3. O Pandorga e as crianças gaúchas 3.1 O que é uma pandorga? Pandorga é um nome de um brinquedo artesanal feito de papel , bambu e corda. Somente no Rio Grande do Sul é chamado assim; em outros estados conhecemos o mesmo brinquedo com o nome de pipa ou papagaio. A escolha de uma palavra de sentido regional é bem apropriado o nome de uma produção regional e esse foi um dos motivos para a escolha do nome para um programa infantil. Mas o motivo principal da escolha do nome Pandorga é que ele propõe uma metáfora para mostrar o que é o programa e qual a sua função, ou seja o brinquedo pandorga nada mais é que uma simbologia do que é programa, artesanal, realizado com poucos recursos. A pandorga é um brinquedo muito antigo e até hoje é sinônimo de brincadeira para as crianças, assim como o programa Pandorga que está a mais de 16 anos no ar, e até hoje5 é o único programa infantil regional do Rio Grande do Sul. 3.2 História do Programa Pandorga O programa infantil Pandorga da TVE do Rio Grande do Sul , teve sua estréia no ano de 1988 , com o projeto aprovado pelo MEC. Ele foi criado para ocupar o espaço televisivo onde as crianças do estado pudessem assistir e participar de uma programação com características regionais muito fortes. _____________________ 5 - Outubro de 2004. O ideal do programa é a aproximação do veiculo junto ao receptor. O programa é feito (apresentado) por bonecos e não tem a inserção de desenhos animados. A idealizadora e produtora do programa, a pedagoga Maria Inês Falcão, tem como objetivo passar às crianças, através dos bonecos (a Nina, o Tinta, etc), estímulo para o processo criativo, despertar a consciência crítica, colocar a criança como participante ativa do processo de comunicação, informando, divertindo e entretendo ao mesmo tempo: 8 O projeto justamente quer mostrar para a criança a capacidade que o ser humano tem em modificar o seu contexto social, o incentivo ao processo , a consciência criativa , a participação da criança no processo de comunicação , a interatividade da criança com o veiculo é isso que nós estamos conseguindo através destes 16 anos de Pandorga. Maria Inês FalcãoDiretora do Programa)6 O conteúdo abordado é contrário ao apelo do consumo, à banalização da violência e da sexualidade e trata assuntos de crianças, como criança. As dúvidas, as vontades, desilusões e sonhos que os telespectadores mirins possuem são iguais às dos personagens do programa, que também são crianças. Situações cotidianas do ambiente infantil são retratados nas historinhas dramatizadas pelos bonecos. Os roteiros do programa procuram mostrar como solucionar os problemas da melhor e mais ética maneira, com isso acaba existindo uma interação entre receptor e emissor. È neste momento que a relação sai do “universo TV” e entra para o universo lúdico infantil. O público-alvo do programa são crianças em fase de alfabetização; o target são crianças alfabetizadas de 7 a 10 anos, das classes C, D, E. A exibição do programa é feita duas vezes ao dia com duração de 25 minutos cada. Inicialmente o Pandorga tinha uma exibição por dia. A partir de muitas cartas recebidas pela produção, que pediam que o programa fosse apresentado pela manhã e tarde em função dos horários escolares das crianças, os produtores decidiram passar o mesmo programa (episódio)em dois horários por dia. ____________________ 6 – declaração tirada da monografia de graduação “História do Programa Pandorga”, Unisinos, 2004. Autores: Adriana Machado, Ana Melão, Ana Paula Mohr e Raquel Verardi. Desde sua estréia, o projeto Pandorga ganhou prêmio Ari , em Porto Alegre/RS em 1992. Também participou e concorreu de muitos eventos ligados a televisão em vários países: Uruguai, Argentina, Chile, México, Alemanha, Slovak Republic. O programa já passou por várias fases e formatos, tais como, substituições de bonecos e cenários; modificações de seu formato: cada dia um episódio distinto, episódios com continuidade similar a novela e o formato de revista, que hoje é o que prevalece. No entanto sua essência, que tem bases alicerçadas em princípios como o da Educomunicação7. O Pandorga atualmente é um programa em formato revista, composto por dez quadros, que são gravados nos estúdios da TVE gaúcha, e algumas vezes na semana em locações externas. Após 16 anos no ar o Pandorga passa por uma transformação, seus apresentadores ( bonecos) cresceram: Samuca, Tinta , Jura, Tuca, Beti, Nina e Zé Cão, se transformam em pré-adolescentes e trocam a infância pela idade das espinhas. Os quadros que atualmente são exibidos são: 9 Seção Correspondência: O personagem Tinta lê e responde as cartas dos telespectadores, crianças. Galeria de Artes: Os bonecos visitam uma galeria fictícia que expõe os desenhos dos telespectadores. Cantando História : O personagem Samuca resume livros infantis. Bicho de Estimação : ensinam as crianças a tratarem do seus bichinhos de estimação. Hora da Merenda: Um especialista contracena com um boneco e ensina receitas de fácil elaboração Diário da Nina: A personagem mostra momentos cotidianos, conhecendo coisas, lugares e pessoas. Tinta Repórter : O personagem realiza matérias jornalísticas de cunho ecológico e cultural. Jornal Legal: os personagens (atores) Carlos@, Anete Email e Giga Byte apresentam um telejonal. _______________________ 7 – este conceito será trabalho de maneira mais específica em uma segunda fase da presente pesquisa. A Dica: sugestões para programas culturais nos finais de semana Músicas e Clips: Texera e Texerão, dupla nativa, e Corvo e Corvão, roqueiros. A partir agosto de 2004 a TV Brasília também exibe o Programa Pandorga diariamente. 3.3 O Pandorga e as crianças A maior prova do sucesso do programa é o retorno que seu público dá. O pandorga recebe diariamente uma média de cinco a sete cartas. Geralmente são desenhos das crianças e mensagens aos seus bonecos preferidos. A produtora Maria Inês diz8 que o Pandorga, por estar há 16 anos no ar, já tem ex-crianças que hoje são mães e estimulam os filhos a assistirem ao programa: “muitas mães vem com seus filhos visitar aqui o estúdio ou trazer ‘cartinhas’ e acabam se emocionando, relembrando bonecos que assistam quando elas eram crianças também”. Enquanto estávamos9 na sala de produção do programa, entrevistando a equipe, tivemos a oportunidade de presenciar este fato. Uma mãe, trouxe seu filho de 6 anos (Bruno) para entregar um desenho para a “Nina” (um dos bonecos do programa). Quando entrou, falou com a produtora que assistia ao programa quando era criança e ia apontando todos os bonecos que ela via e conhecia. Parecia mais empolgada que o próprio filho. Um dos fatores que garante o sucesso do programa, além da sua abordagem lúdica e abordagem inteligente, é o fator regional. “As crianças vêem os bonecos falando com o teu sotaque, das coisas da tua cidade, que estão próximas. Mostramos as feiras de livros que são 10 ali na praça da cidade ou damos dicas de teatro infantil que estão acontecendo por aqui. É tudo mais real e mais próximo à criança. Ela pode vivenciar o que vê na tevê”, afirma Maria Inês. O programa Pandorga já promoveu eventos próprios. Em 1999, por exemplo, distribuiu durante o 11º aniversário do programa, uma revista com os bonecos e os personagens do programa que foi chamado “Almanaque Pandorga”. Nele havia historinhas, enigmas, sugestão de livros. Outras realizações e eventos foram feitas: _______________________ 9 – enquanto entrevistávamos a produtora do programa, Maria Inês, no dia 02/09/2004, em Porto Alegre. em praças públicas em comemoração ao Dia das Crianças, eventos em escolas, promoção de debates, concurso de desenhos entre outros. Acreditamos que estas atividades aproximam as crianças do seu mundo imaginário. Dividir espaço com seus companheiros diários (os bonecos) é uma experiência que, acreditamos, acarreta uma aprendizagem maior na foram de lazer, de diversão. E essa proximidade é uma questão que faz a diferença. Um programa infantil pensado para uma rede de tevê não leva em consideração as particularidades regionais, os sotaques. Podemos exemplificar pelo próprio nome: “Pandorga” perderia o sentido em outro estado e poderia ser não compreendido. O universo infantil tende a ser homogeneizado por estes programas de alcance nacional. Os desenhos são bastante utilizados (em sua maioria, produções estrangeiras) e relação do apresentador com o telespectador (criança) geralmente não passa da tela. A produção regional permite que as crianças possam, se sentirem necessidade e quiserem, manter um contato com seu próprio imaginário. E isso é sem dúvida, um diferencial importante para o processo de recepção. 4. Considerações Finais Em um país como o Brasil, onde grande parte da população se encaixa nas classes C, D e E, e ainda se tem o pouco hábito da leitura, compreendemos que as pessoas acabam aprendendo (e às vezes reproduzindo) o que vêem na televisão. Somos um país de cultura televisiva e não literária, por exemplo. Assim, supomos que muitas as crianças também acabam tendo na televisão uma fonte para produzirem seus processos comunicativos e mais, tendo sua noção de sociedade através do meio. Elas aprendem com a televisão, e não só com programas infantis. O pesquisador Guilherme Orozco diz que as pessoas aprendem com qualquer tipo de programa de televisão; aprendem pela telenovela, pelo jogo de futebol, por programas de detetives ou com desenhos animados. (In: GOMES; COGO, 2001, p. 99) 11 Sabendo o quanto a tevê está presente no cotidiano das crianças brasileiras, acreditamos ser importante que produtores (de uma maneira geral e não somente de programas infantis) se preocupem com a forma e o conteúdo que estão passando para milhares de pessoas. E claro, que aqui, damos uma ênfase especial aos programas infantis já que nossa preocupação maior é com a formação de conceitos, cultura e referências que as crianças estão construindo. Nosso trabalho quis enfatizar que talvez a produção regional de televisão possa nos auxiliar na criação de programas infantis que tenham como sua principal vertente a educação e a informação. Esses conceitos, atrelado à proximidade do meio ao receptor (às crianças) pode transformar a experiência da aprendizagem em algo prazeroso e divertido. Foi isso que tentamos mostrar com o Pandorga, para nós, um exemplo de a criança pode (e tem direito) a programas bons, informativos e divertidos, e que não precisam custar caro. O Programa Pandorga, para nós, é um bom de exemplo de como a didática pedagógico e a criatividade podem superar a hegemonia cultural e reforçar a cultura particular de cada região, afinal, como diz o ditado “educação e cultura se adquire na infância”. 5. Referências Bibliográficas ANDI. Remoto controle: linguagem, conteúdo e participação nos programas de televisão para adolescentes. São Paulo : Cortez, 2004. GALVÃO, Maria Inês. Programa Pandorga. Entrevista concedida a Carla Pollake da Silva, em 02 de setembro de 2004, em Porto Alegre, RS. 12 GOMES, Pedro Gilberto; COGO, Denise. Televisão, escola e juventude. Porto Alegre : Mediação, 2001. SOUZA, José Carlos Aronchi. Gêneros e formatos na televisão brasileira. São Paulo : Summus, 2004. VERARDI, Raquel; MOHR, Ana Paula; MELÃO, Ana Maria; MACHADO, Adriana. História do Programa Pandorga. Monografia de Graduação em Jornalismo. São Leopoldo, Unisinos, 2004. Artigos de jornais CASTRO, Daniel. Os dez mandamentos. Caderno Folha Ilustrada. Folha de S.Paulo, 15 de março de 2004. CASTRO, Daniel. Superligados na TV. Caderno Folha Ilustrada. Folha de S.Paulo, 17 de outubro de 2004. MATTOS, Laura. O declínio do império das loiras. Caderno Folha Ilustrada. Folha de S.Paulo, 26 de setembro de 2004. PEREIRA, Eliane. Bons, bonitos e bem-feitos. Meio & Mensagem. pág. 34. Edição Agosto/2004.