A IMAGEM DE DEUS – do Caos à Revelação “Num mundo sem Beleza... também o Bem perdeu sua força de atração, a evidência de seu dever-‐ser levado a efeito... num mundo em que não mais se crê capaz de afirmar o Belo, os argumento em favor da verdade perderam sua força de conclusão lógica”. Hans Urs Von Balthasar Este projeto foi sendo gestado aos poucos à medida que fui tomando contato com a reflexão teológica, fazendo emergir uma tênue luz – “se Arte e Teologia sempre caminharam juntas nas várias culturas, por que não dizer o teológico pela arte?” Debruçado em silêncio sobre as vozes de um Tomás de Aquino, Agostinho, Kierkegaard, Evidokimov, Dionísio Aeropagita, Von Balthasar, Schonsborn, Bruno Forte e tanto outros que descreveram sobre o universo espiritual/teológico da Beleza emanada pelas artes, sentir ir consolidando em mim aquela primeira intuição, fazendo fluir um crescente propósito – “a minha linguagem eu sempre a fiz através da arte...” Tinha plena consciência do que iria propor e dos entraves com que iria defrontar, mas já estava decidido a concretizar o fato. A proposta soou como uma surpresa estranha e inusitada para um exame final de Teologia. As exigências surgidas fizeram-‐me assinar um termo de responsabilidade por tudo o que pudesse suceder. Foi assim que o projeto tomou forma. Repassei todas as teses necessárias, chegando a conclusão de que a pura teologia é um labirinto de palavras para dizer da simplicidade de Deus. Optei pela simplicidade da arte... Extraí o essencial e fui organizando um itinerário sobre o mistério divino na história humana. Há situações em que uma lógica racional se torna impotente para dizer do Transcendente... aqui entra o simbólico transpondo limites. Limite em que a linguagem da arte desafia o raciocínio lógico e objetivo e adentra a uma outra realidade. Se apropria do simbólico, do metafísico, da metáfora, da parábola, da imagem, dos sons, da harmonia, proporcionando novas dimensões. Assim fez Cristo ao do Reino – jamais fez uso da linguagem pura lógica e usou da linguagem simbólica, parábolas... a pérola, a semente, o fermento, etc. através de aproximações foi configurando o projeto do Reino. O papel da Beleza foi se constituindo em dizer do todo no fragmento, compete a quem a contempla constituir o sentido. Os quadros reunidos são fragmentos de um projeto, mas cada um – individualmente – contém a sua completude – são etapas da formação da imagem de Deus ao longo do espaço/tempo da história humana, reunidos em seis quadros. AS FASES DO TRABALHO I. Tendo por base as teses do exame, mas sem nelas afixar-‐me, fui sintetizando o que melhor respondia ao projeto. II. Pesquisa sobre significados e simbolismos de imagens do sagrado nas culturas grega e hebraica e Bíblia. III. Estruturar tais imagens dentro de uma composição estética – uso das formas e cores. IV. A execução propriamente da pintura. V. Expor à mesa examinadora do conteúdo e de seu significado. Obs.: Todo projeto levou cerca de oito meses de trabalho. OS QUADROS I. A IMAGEM DO CAOS TEXTOS: Prov. 8, 22-‐31 Cor 1, 15-‐18 -‐ A Forma Quadrada alude a totalidade cósmica, expressão do ordenamento divino sobre toda criação – representação dos quatro elementos primordiais. Inserido no quadrado encontra-‐se o círculo. Princípio e fim da dinâmica vivificante do Sagrado – o Eterno Retorno O Triângulo – impulso ascendente do todo até a unidade superior – sentido espiritual que se sobrepõe às águas primordiais. No centro de toda a criação surge o rosto de Cristo. II e III – A IMAGEM MÍTICA TEXTOS: Jo 1, 1-‐13 Dt 11, 26-‐28 E.E. 116-‐147 Mitos Gregos -‐ O Duplo – quadros iguais na posição vertical são conhecidos como dadófaros sendo o superior o Princípio da Luz e o inferior, das Trevas. Usando de imagens mitológicas de Apolo-‐Deus da Luz que a derrama sobre a humanidade – indicando o caminho superior, emerge das águas, em referência sacramental do Batismo e entrada no Projeto divino do Reino. A imagem inferior refere-‐se a Medusa portadora da morte. Junto de Caronte, barqueiro do Estige – o rio das trevas – que se transporta em seu barco as almas condenadas – o pecado petrifica os corações impossibilitando a salvação. As duas imagens caracterizam as dimensões da graça salvadora para os que acolhem a luz; e a negatividade aqueles que optam pelas trevas. São as duas possibilidades oferecidas por Deus à liberdade humana nas suas escolhas; e menção as “Duas Bandeiras” em Inácio de Loyola. IV. A IMAGEM NO DESERTO – TEXTOS: Gen 12, 1-‐5 Dt. 8, 1-‐5 Is 43, 15-‐21 -‐ Deus que chama e conduz o seu povo através das palavras dos patriarcas e profetas. O caminhar da humanidade pelos desertos da vida e o sentido eclesial do “Povo de Deus” a caminho da terra prometida – itinerário que o Senhor nos oferece continuamente. V. A IMAGEM ANUNCIADA TEXTOS: Ap. 12, 1-‐2 Gal 4, 4-‐7 Rm 8, 18-‐25 -‐ Um Deus que quer habitar junto a humanidade e assume a condição humana em Maria – a Nova Eva – que se despoja de tudo para acolher a luz que vem para todos. A cor encarnada perpassa todo o quadro; toda a realidade da natureza a espera do Senhor. VI. A IMAGEM REVELADA TEXTOS: I Cor 10, 1-‐4 Is 51, 1 Sl 18, 47-‐51 Mt 13, 45-‐46 I Cor 11, 23-‐25 -‐ O Cristo que se liberta dos jugos mortais domina toda a cena e faz par com o rochedo – a rocha que nos salva – a rocha que nos salva. Junto dele se vê a concha com a pérola – símbolo do Reino, e o cálice da nova e eterna aliança – a plena revelação no Filho da imagem do Pai e Deus criador, sob a ação do Espírito. Obs.: Toda a simbologia usada foi pesquisada nas seguintes obras: Dicionário de símbolos – Juan Eduard Cirlot Dizionario Delle Immagini e Dei Simboli Biblici – Manfred Luvker Signal and Symbols – Daniel Beard L´Iconografie Chrétienne – B. D. Montaud O Simbolismo Cristão – Rene Guenon Il Simbolismo Nell´Arte Religiosa – Rene Gilles O Homem e seus Símbolos – Carl Jung Teologia Simbólica – Andre Bernard/ Carlo Martini Il Sacro – Rudolf Otto Teologia Della Bellezza – Pavel Evdokimov