O Espírito e as Bênçãos Escatológicas do “Agora”: O Selo e o Penhor do Espírito1 Introdução: “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho (eu)agge/lion) da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados (sfragi/zw) com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor (a)rrabw/n) da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.13-14). O Catecismo de Heidelberg (1563), em sua primeira pergunta, lemos: “Qual é o teu único conforto na vida e na morte?” “R. É que eu pertenço – corpo e alma, na vida e na morte – não a mim mesmo, mas a meu fiel Salvador. Jesus Cristo, que com o Seu precioso sangue pagou plenamente todos os meus pecados e me libertou completamente do domínio do Diabo; que Ele me protege tão bem, que sem a vontade de meu Pai no céu nenhum cabelo pode cair da minha cabeça; na verdade, que tudo deve adaptar-se ao Seu propósito para a minha salvação. Portanto, pelo Seu Santo Espírito, Ele também me garante a vida e terna e me faz querer estar pronto, de todo o coração, a viver para Ele daqui por diante” O Reino de Deus é o Reinado de Deus, o governo triunfante de Cristo sobre todas as coisas, visíveis e invisíveis. “O Reino de Deus significa que Deus é Rei e age 2 na história para trazer a história a um alvo divinamente determinado”. Falar no Reino é apontar para a concretização do propósito de Deus em Cristo, libertando os homens do poder de Satanás, conduzindo-os à liberdade concedida por Cristo, o Senhor: “.... até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.14). Esta certeza que emana da Palavra é altamente estimulante e confortadora para a Igreja. Todos os que crêem em Cristo como Seu Senhor e Salvador pessoal recebem definitivamente o Espírito Santo, o “Santo Espírito da Promessa”, sendo selados para o dia do juízo. O Espírito que fora prometido pelo Pai e pelo Filho, agora habita em nós, sendo Ele mesmo o agente do cumprimento das promessas (Ef 1.13/At 1.4,5; 2.33) e parte do cumprimento daquilo que Jesus Cristo prometeu (Jo 14.26; 1 Estudo ministrado na Escola Dominical da Igreja Protestante Reformada de Maringá, Paraná, no dia 4/05/08. 2 G.E. Ladd, The Presence of the Future, Apud A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 64. O Espírito e as Bênçãos Escatológicas do “Agora”: O Selo e o Penhor do Espírito – Rev. Hermisten – 4/5/2008 – 2 3 16.7). O Espírito que é o cumprimento da promessa certamente cumprirá o que 4 Nele foi prometido. Por isso Ele é chamado de Espírito da Promessa, Aquele que 5 nos sela, sendo o nosso penhor; “é o dom da certeza”. Paulo escreve aos Romanos: “.... O amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5.5). Anos mais tarde, exortaria a Timóteo: “Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (2Tm 1.14). 1. O Espírito como Identificador dos que pertencem a Deus: Sabemos pelo Espírito que somos filhos de Deus e, que por maior que seja a nossa pobreza material; por mais insignificantes que sejamos considerados social e economicamente, somos súditos do Reino, sendo herdeiros de Deus, tendo o sinal de nossa cidadania e herança – sinal este concedido por Deus (Rm 8.16,17; Gl 6 4.6,7; Ef 1.14,18; Cl 3.24; Tt 3.7/1Jo 3.1,2). A presença soberana do Espírito é a característica do cristão; o Espírito é a identidade dos que pertencem a Deus – “....se alguém não tem o Espírito de Cristo, 7 esse tal não é dele” (Rm 8.9) –, dos filhos adotivos de Deus (Rm 8.15), que são 8 guiados por Ele (Rm 8.14). Quem tem o Espírito, tem a Cristo; quem não possui o Espírito não tem a Cristo e, de fato, não pertence a Ele (Rm 8.9-10). Assim, participar do Espírito é o mesmo que participar do Filho. O próprio Espírito testifica continuamente em nós que somos filhos de Deus e, portanto, herdeiros de Deus e 9 co-herdeiros com Cristo (Rm 8.16,17). Notemos que esta identidade com Cristo pelo Espírito, é uma identidade de sofrimento e glória; a vida cristã consiste numa identificação com Cristo, em Seus sofrimentos e em Sua glória. “A união com Cristo é a união com Ele na eficácia da sua morte e na virtude da Sua ressurreição – aquele que assim morreu e ressuscitou com Cristo é liberto do 10 pecado, e o pecado não exercerá o seu domínio”. 3 “.... o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). “.... convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7). 4 5 Veja-se: W. Hendriksen, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 1.13), p. 117. Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 209. 6 “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus” (Gl 4.67). 7 “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15). 8 “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8.14). 9 “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.16-17). 10 John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 159. O Espírito e as Bênçãos Escatológicas do “Agora”: O Selo e o Penhor do Espírito – Rev. Hermisten – 4/5/2008 – 3 2. As Primícias do Espírito: O “Já” e o “Ainda não”: A presença do Espírito em nós é real, ainda que em parte ou, como disse Calvino (1509-1564) de forma figurada, afirmando que temos apenas “umas poucas gotas 11 do Espírito”. O Espírito faz com que hoje desfrutemos das bênçãos da Era futura, porém, não em toda sua plenitude. O Apóstolo Paulo escreve: “.... nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). As “primícias do Espírito” trazem consigo a promessa da abundante colheita que teremos no futuro e, ao mesmo tempo, é o antegozo dela. Portanto, o Espírito é uma realidade presente que nos fala da nossa salvação passada (justificação) e presente (santificação), indicando também, a consumação futura da nossa salvação (glorificação) (Rm 8.23-24). O Espírito comunica as “primícias” das bênçãos – sendo Ele próprio a principal –, concedidas por Deus, as quais serão plenamente manifestadas na eternidade. É Deus mesmo que por sua “primeira parcela” se compromete a comunicar-nos todas 12 as bênçãos adquiridas para nós em Cristo Jesus. O Espírito em nós revela-nos as venturas futuras que agora, apenas vislumbramos pela fé, e que já desfrutamos apenas embrionariamente. A amostragem que temos hoje, pelo Espírito, indica a superioridade do que teremos no porvir: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser 13 revelada em nós” (Rm 8.18). A Igreja anela, portanto, pela “.... redenção do nosso 14 corpo” (Rm 8.23), quando teremos um “corpo espiritual” (1Co 15.44), que deve ser entendido não como uma incorporeidade, mas, sim, “uma existência humana total, alma e corpo incluídos, que será criada, penetrada e controlada pelo 15 Espírito de Cristo”. Um corpo “totalmente pertencente à nova era, 16 totalmente sob a direção do Espírito”; glorioso, imperecível e totalmente 11 João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 8.23), p. 287. Estejamos atentos à figura de Calvino. Comentando Tt 3.6, diz: “.... uma gota do Espírito, por assim dizer, por menor que seja, é como uma fonte a fluir tão abundantemente que jamais secará” [J. Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 3.6), p. 351]. 12 Cf. William Hendriksen, Efésios, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 1.14), p. 117. 13 “O Espírito Santo, pois, nos foi outorgado a fim de que pudéssemos nutrir algum tipo de idéia quanto ao que nos aguarda quando chegarmos na glória. Deus nos deu as primícias. (...) Por conseguinte, em certo sentido nossa salvação não é completada, mas será completada, e o Espírito nos é conferido a fim de que possamos, não só saber isso com toda certeza, mas também para podermos até começar a experimentá-lo. E tudo o que experimentamos nesta vida, num sentido espiritual, é simplesmente primícias, ou uma prelibação, algo posto por conta, uma espécie de prestação de Deus, a fim de que pudéssemos saber o que nos está por vir” (D.M. Lloyd-Jones, Deus o Espírito Santo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1998, p. 334, 325). 14 ”Sw=ma pneumatiko/n” 15 Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo, Buenos Aires: Junta de Publicaciones de las Iglesias Reformadas/Editorial La Aurora, (1969), p. 120. 16 J.D.G. Dunn, Espírito: In: Colin Brown, ed. ger. Teologia do Novo Testamento,O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. II, p. 144. De igual forma, interpretam: Eduard Schweizer, pneu=ma, etc: In: Gerhard Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. VI, p. 421; A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 88-90; Idem., Criados à Imagem de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 268; W. Hendriksen, A Vida Futura Segundo a Bíblia, São O Espírito e as Bênçãos Escatológicas do “Agora”: O Selo e o Penhor do Espírito – Rev. Hermisten – 4/5/2008 – 4 consagrado a Deus, adequado, assim, à nova vida gerada e preservada pelo 17 Espírito. Ou, nas palavras de Calvino, um corpo no qual “O Espírito será muito 18 mais predominante (...). será muito mais pleno....”. A espiritualidade significa 19 um total controle do Espírito Santo; esta é a perspectiva do Novo Testamento. Na eternidade já não haverá a luta contra o pecado e o mal; o Espírito será tudo em todos os salvos. “A vitória total que Cristo imporá sobre Seus inimigos será 20 uma vitória do Espírito Santo”, enfatiza Bavinck. 3. O Selo do Espírito: “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho (eu)agge/lion) da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados (sfragi/zw) com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13). O selo foi realizado definitivamente. A palavra significa também “consignar”, “guardar”, “certificar” e “reconhecer”, indicando a autenticidade e confirmação: (Jr 32.10-11,44; Jo 3.33; 1Co 9.2). Somos verdadeiramente filhos de Deus; possessão: Como a grande importância do selo é jurídica, vemos neste emprego, o fato de pertencermos a Deus, porque fomos comprados com o Seu próprio sangue; somos possessão de Deus; proteção/privacidade: O selo era empregado para garantir uma boa conservação dos documentos e o sigilo de seu conteúdo (Is 29.11; Dn 12.4). Ninguém poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm 8.3839); é Deus mesmo Quem nos preserva intocáveis para o dia da redenção. Notemos que o selo normalmente é externo. Em nosso caso, o selo é interno; fomos selados pelo Espírito que em nós habita. O Espírito em nós é o selo de Deus garantindo a autenticidade e preservação de 21 Sua propriedade até ao resgate final (2Co 1.22; 5.5; Ef 1.13,14/1Pe 2.9). Somos o Templo do Espírito (1Co 3.16; 6.19). Fomos comprados pelo precioso sangue de Jesus e, agora, pertencemos ao Senhor (At 20.28; 1Co 6.20; 7.23; 1Pe 1.18-19). O Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1988, p. 193; Ray Summers, A Vida no Além, 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1979, p. 90-91; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 520; Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo: Editora Os Puritanos, 2000, p. 346349; John Murray, Romanos, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2003, (Rm 8.23). p. 334-335. Charles Hodge, sem aludir ao texto, faz uma distinção entre o céu e o inferno, dizendo: “O céu é um lugar e estado em que o Espírito reina com absoluto controle. O inferno é um lugar ou estado em que o Espírito já não refreia nem controla. A presença ou ausência do Espírito estabelece toda a diferença entre céu e inferno” (Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos Editora, 2001, p. 983-984). 17 Ferguson escreve: “O corpo no qual a vida futura é vivida será tanto Espiritual quanto gloriosa em sua própria constituição” (Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 347). 18 19 J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 15.44), p. 483-484. Vd. John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, p. 184. 20 Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 388. 21 Vd. John Owen, Two Discourses Concerning the Holy Spirit and His Work. The Works of John Owen, [CD-ROM], (Ages Software, 2000), Vol. IV, p. 504ss. O Espírito e as Bênçãos Escatológicas do “Agora”: O Selo e o Penhor do Espírito – Rev. Hermisten – 4/5/2008 – 5 Espírito que hoje é a garantia do não mais domínio de Satanás sobre nós, é, ao mesmo tempo, o sinal da nossa total libertação futura da influência de Satanás, do pecado e da carne. “A nossa redenção ainda não se completou, mas está 22 assegurada”. Comentando o texto de Efésios 1.13, escreveu Calvino: “Os selos imprimem autenticidade tanto aos alvarás como aos testamentos. Além disso, o selo era especialmente usado nas epístolas, para identificar o escritor. Em suma, um selo distingue o que é genuíno e indubitável do que é inautêntico e fraudulento. Tal ofício Paulo atribui ao Espírito Santo, não só aqui, mas também no capítulo 4.30 e em 2 Coríntios 1.22. Nossas mentes jamais se fazem suficientemente firmes, de modo que a verdade prevaleça conosco contra todas as tentações de Satanás, enquanto o Espírito não nos confirme nela. A genuína convicção que os crentes têm da Palavra de Deus, acerca de sua própria salvação e toda religião, não emana das percepções da carne, ou de argumentos humanos e filosóficos, e, sim, da selagem do Espírito, o que faz suas consciências mais seguras e todas as dúvidas removidas. O fundamento da fé seria quebradiço e instável, se porventura ela repousasse na sabedoria humana; portanto, visto que a pregação é o instrumento da fé, 23 por isso o Espírito Santo torna a pregação eficaz”. 24 O selo do Espírito nos distingue de tudo o mais. O Espírito é a autenticação 25 definitiva, verdadeira e inviolável de nossa salvação. Ele é o sinal do futuro em nós 26 e a garantia de sua consumação. No selo vemos exemplificada a autoridade de seu autor e a garantia de que o conteúdo do que foi selado seja preservado em segurança (Vejam-se: Mt 27.66/Dn 6.17; Rm 15.28 [ARA: “Consignado”]). Deus nos concedeu o Espírito como um selo de inviolabilidade e preservação. O Espírito mesmo é Quem constitui os Presbíteros para pastorearem o rebanho do Sumo Pastor que é Deus, até que Cristo volte (At 20.28/1Pe 5.1-4). Notemos, portanto, que ao mesmo tempo em que Ele age em nós individualmente, atua por meio de Seus servos para a edificação e preservação do povo de Deus. 22 Walter T. Conner, A Obra do Espírito Santo, Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1961, p. 114. 23 João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.13), p. 36. 24 Paulo fala que os crentes em Corinto se constituem no “selo”, a legitimação do seu apostolado: “Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo (sfragi/j) do meu apostolado no Senhor” (1Co 9.2/1Co 4.14-15; 2Co 3.1-3; 6.13). 25 “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo (sfragi/j): O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor” (2Tm 2.19). 26 Cf. Gordon D. Fee, Paulo, o Espírito e o Povo de Deus, Campinas, SP.: Editora United Press, 1997, p. 59-60. O Espírito e as Bênçãos Escatológicas do “Agora”: O Selo e o Penhor do Espírito – Rev. Hermisten – 4/5/2008 – 6 O Espírito em nós, é a garantia presente e maravilhosamente real, de que 27 participaremos da plenitude da Sua herança reservada para os Seus. Assim, podemos dizer com H. Berkhof que, “o Novo Testamento nada sabe de uma escatologia futurista ou de uma escatologia realizada, senão de uma 28 escatologia em realização”. 4. O Penhor do Espírito: “Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, que também nos selou (sfragi/zw) e nos deu o penhor (a)rrabw/n) do Espírito em nosso coração” (1Co 1.21-22). 29 O Espírito é também chamado de penhor (a)rrabw/n) da nossa salvação (2Co 1.22; 5.5; Ef 1.14) – indicando assim, o “primeiro pagamento”, “depósito”, o “sinal” de 30 compra com o compromisso solene de efetivar a transação. O Espírito é o sinal e penhor daquilo que teremos no futuro. O Espírito é o adiantamento da compra já efetivada e que não será desfeita. Este símbolo permanece até consecução de toda a transação: “…. Espírito de Deus, no qual fostes selados (sfragi/zw) para o dia da 31 redenção” (Ef 4.30). O Espírito é a garantia de que os eleitos o são para sempre; ninguém pode nos arrancar das mãos de Deus. Paulo fortalece a idéia de propriedade, autenticidade e inviolabilidade. Ambas as figuras – “penhor” e “selo” –, assinalam o fato de que pertencemos a Deus e, que a Obra que Ele mesmo iniciou será plenamente cumprida em nós (Fp 1.6). Desta forma, o “penhor” e o “selo” do Espírito têm implicações escatológicas, porque apontam para o futuro, quando a Obra do Deus Triúno será concluída em nós (1Pe 1.3-9). Objetivamente considerando, o penhor assinala a garantia oferecida pelo próprio Deus a respeito de nossa salvação, tendo como sinal de entrada, o próprio Espírito em nós. O penhor é da mesma essência da herança. Hoje nós já temos uma amostragem do que será a nossa vida com Cristo, quando o Espírito será tudo em todos nós, os que cremos. Subjetivamente, temos a certeza que o Deus onipotente e fiel cumprirá as Suas promessas, preservando-nos até o fim. O selo e o penhor são sinais de nossa condição transitória; no céu, o Espírito será tudo em todos para sempre. “Enquanto vivemos neste mundo, necessitamos de um penhor, porque combatemos em 27 Vd. A.A. Hoekema, Salvos pela Graça, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997, p. 38. 28 Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo, Buenos Aires: Junta de Publicaciones de las Iglesias Reformadas/Editorial La Aurora, (1969), p. 118. Do mesmo modo entende Morris: "Uma escatologia puramente 'realizada' é calamitosa, tanto por não se ajustar à mensagem do Novo Testamento como por suas trágicas conseqüências" (Leon Morris, A Doutrina do Julgamento na Bíblia: In: Russel P. Shedd & Alan Pieratt, eds. Imortalidade, São Paulo: Vida Nova, 1992, p. 53). 29 Palavra tomada emprestada do hebraico. 30 “A presença do Espírito Santo é a primeira prestação dos benefícios da redenção de Cristo, concedidos àqueles para quem foram adquiridos, e assim a garantia e penhor da consumação dessa redenção no devido tempo” (Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 328). 31 Veja-se: João Calvino, Efésios, (Ef 1.14), p. 38. O Espírito e as Bênçãos Escatológicas do “Agora”: O Selo e o Penhor do Espírito – Rev. Hermisten – 4/5/2008 – 7 esperança; mas quando a possessão mesma se manifestar, então cessará a 32 necessidade e o uso do penhor”. 5. Selados em Santidade: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados (sfragi/zw) para o dia da redenção” (Ef 4.30) O Espírito se entristece com os nossos pecados, manifestando o Seu desagrado, de modo externo: por intermédio da Palavra de Deus.Interno: por meio de nossa consciência. Todas as vezes que agimos de forma contrária aos ensinamentos da Palavra de Deus, entristecemos ao Espírito que em nós habita. O Espírito também se entristece conosco, quando caminhamos de modo contrário ao propósito de Deus para nós, que é a santificação (1Ts 4.3/2Ts 2.13), quando as obras da carne estão cada vez mais evidentes em nossa vida e o fruto do Espírito parece mais distante do nosso procedimento (Gl 5.16-26). O entristecimento do Espírito, se por um lado revela o nosso pecado, por outro, fala-nos do Seu invencível amor, que não se intimida nem se acomoda com a nossa desobediência, antes se expõe, nos atraindo para Si em amor. “Podemos magoar ou irar alguém que não nos tem afeição, mas 33 entristecer podemos só quem nos ama”. O Espírito aplicou os méritos salvadores de Cristo em nosso coração e, nos preserva íntegros até o fim; nele fomos “selados para o dia da redenção” (Ef 4.30). Pelo fato do Espírito ser Santo, Ele nos quer preservar em santidade até o dia da redenção (Ef 1.13-14). 6. “Venha o Teu Reino” A Igreja anela pela concretização plena das virtudes eternas, das quais ela já tem a amostra (Rm 14.17; 15.13; 1Ts 1.6/Gl 5.22,23). É neste espírito que a Igreja ora: “Venha o Teu Reino”. Quem ora pela vinda do Reino, é porque já o conhece, já 34 usufrui das suas riquezas, já provou da sua bem-aventurança (Rm 14.17). Somente um cidadão do Reino pode dizer de forma consciente: “Venha o teu Reino”. Por isso, ele ora para que o Reino já presente venha em toda a sua plenitude sobre todos. Como temos visto, o selo e o penhor não têm um fim em si mesmos, antes apontam para o nosso resgate definitivo (Ef 1.13-14). 32 33 34 João Calvino, Efésios, (Ef 1.14), p. 37. Billy Graham, O Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 123. Esta é a experiência da Igreja: Ela é na presente era a manifestação do Reino: “A igreja é o centro vivo e ardente do reino, uma testemunha de sua presença e poder, e um precursor de sua vinda final” (Enrique Stob, Reflexiones Éticas: Ensayos sobre temas morales, Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L., 1982, p. 68). O Espírito e as Bênçãos Escatológicas do “Agora”: O Selo e o Penhor do Espírito – Rev. Hermisten – 4/5/2008 – 8 O Evangelho, como “palavra da verdade”, modifica a nossa vida neste estado de existência e, também, tem implicações escatológicas. Pelo Evangelho ouvido e crido, temos a certeza da nossa salvação; é o Espírito Santo quem nos garante isso. Algo maravilhoso para nós é saber que temos um Deus que cuida de nós, que se compromete com a salvação de Seu povo, nos garantindo e nos concedendo esta certeza. Palmer colocou a questão nestes termos: “É uma grande bênção ter um Deus que não é uma Pessoa senão três. Constitui uma Trindade abundante. Porque não só um Pai que nos ama e cuida de nós, senão também um Cristo que trouxe salvação e intercede por nós e um Espírito Santo que mora dentro 35 de nós e aplica a salvação à nossa vida”. A consumação do Reino se dará quando Cristo voltar. Nós que temos as primícias do Espírito, – usufruímos, portanto, ainda que parcialmente as delícias do Reino –, pelo Espírito, oramos de forma coerente e ardorosa: “Venha o Teu 36 Reino”. “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22.17,20). Amém. Maringá, 4 de Maio de 2008. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa 35 Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Edinburgh: El Estandarte de la Verdad, (s.d.), Edição Revista, p. 14 36 “Nós estamos no Reino e, mesmo assim, aguardamos sua manifestação completa; nós compartilhamos de suas bênçãos, mas ainda aguardamos sua vitória total; nós agradecemos a Deus por ter-nos trazido para o Reino do Filho que Ele ama, e ainda assim continuamos a orar: ‘Venha o teu reino’.” (A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 72).