ARMADA
Nº 502 • ANO XLV
DEZEMBRO 2015
MENSAL • €1,50
Revista da
EXERCÍCIO
ANÉMONA 2015
MENSAGEM DE NATAL
ALMIRANTE CEMA/AMN
EXERCÍCIO
TRIDENT JUNCTURE 15
ISN - BALANÇO
ÉPOCA BALNEAR
MENSAGEM DE NATAL
Foto 1SAR A Ferreira Dias
DO ALMIRANTE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA
E AUTORIDADE MARÍTIMA NACIONAL
O
Período Natalício é uma época de grande importância na cultura ocidental.
Em Portugal, Nação com uma antiga e enraizada matriz cristã, esta é uma época em que
os valores alicerçados no amor ao próximo,
na valorização e fortalecimento dos laços familiares, na amizade e na solidariedade são
elementos especialmente presentes nos
atos de cada um de nós.
Será assim natural uma primeira palavra
para as famílias e amigos que no cais, com
serenidade e compreensão, aguardam os
que longe, em missão, servem Portugal na
Marinha. Mas a Família Naval passa também
por todos aqueles que por razões diversas
deixaram a Marinha mas que continuam a
partilhar os valores em que acreditamos, alimentando o ideal de ser marinheiro.
É na valorização desta numerosa Família,
de que nos orgulhamos, que encontramos
o alento para continuamente promover os
valores de solidariedade e fraternidade es-
senciais no ultrapassar das tormentas que
se nos depararam nos últimos anos.
O ano de 2015, a exemplo de anos anteriores, foi marcado pela necessidade de
recorrer ao que de melhor há em nós, no
sentido de porfiar no caminho da esperança rumo a um futuro que queremos melhor.
No entanto, este só será possível se formos,
hoje, inteligentes no cimentar da nossa organização, no valorizar dos recursos humanos e, sendo ousados, no procurar de novos
espaços de oportunidade.
É, assim, vital que os valores que cimentam a Família Naval – a Disciplina, a Lealdade, a Honra, a Integridade e a Coragem
– imperem, mantendo a coesão necessária
para garantir “Uma Marinha pronta e credível para defender os interesses de Portugal
no Mar!”.
Esta é uma mensagem de esperança que
vos quero transmitir numa época do ano
em que o espírito de união e compaixão
assumem especial relevância. À Família Naval, na qual incluo todos os que connosco se
reveem numa Marinha que possa honrar as
suas heranças seculares, lanço o desafio de,
juntos, continuarmos a construir um novo
futuro de esperança alicerçado no empenho do momento presente.
Termino manifestando o meu genuíno
sentir de que no ano que agora finda, e
face às adversidades que se nos depararam,
muito foi alcançado. Desta forma, só posso
reafirmar o meu inalterado orgulho em ser
o Comandante ao leme desta valorosa nau
que é a Família Naval.
Um Santo Natal.
Luís Manuel Fourneaux Macieira Fragoso
Almirante
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SUMÁRIO
04
09
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17
20
23
24
25
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28
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31
32
33
34
35
CC
MENSAGEM DE NATAL
DO ALMIRANTE CEMA/AMN
Strategia 17
02
Golfo da Guiné. A Criminalidade Organizada
Seaborder 15
Relembrar a Operação "Mar Verde"
Anémona 2015
Capitão-de-Mar-e-Guerra Baldaque da Silva
06
Bravura, Generosidade e Solidariedade
EXERCÍCIO TRIDENT
JUNCTURE 15
Tomadas de Posse
Entregas de Comando
Notícias
Convívios
Estórias (17)
Vigia da História (79)
INSTITUTO DE SOCORROS
A NÁUFRAGOS
Novas Histórias da Botica (48)
22
Saúde para Todos (30)
Quarto de Folga
Notícias Pessoais / Convívios
Mensagem de Natal
Símbolos Heráldicos
Capa
Combate à poluição – trabalhos na praia.
Anunciantes
LISSA – AGÊNCIA DE DESPACHOS E TRÂNSITOS, LDA.
Publicação Oficial da Marinha
Periodicidade mensal
Nº 502 / Ano XLV
Dezembro 2015
Revista anotada na ERC
Depósito Legal nº 55737/92
ISSN 0870-9343
Diretor
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Chefe de Redação
CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira
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SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho
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4000 exemplares
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DEZEMBRO 2015
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Stratεgia
17
(IN)SEGURANÇA MARÍTIMA:
CANAL DE MOÇAMBIQUE, O PRÓXIMO FOCO
DE PIRATARIA?
INTRODUÇÃO
E
m fevereiro de 2002, ao abordar a falta de provas da existência
de armas de destruição maciça no Iraque, Donald Rumsfeld referiu-se a known knowns (coisas que sabemos que sabemos), known
unknowns (coisas que sabemos que não sabemos) e unknown unknowns (coisas que não sabemos que não sabemos).
Numa perspetiva do conhecimento das ameaças à segurança marítima, os known knowns são inter alia o Corno de África, o Estreito
de Áden, o Golfo da Guiné, o Estreito de Malaca e o mar do sul da
China, áreas em que se detém um bom conhecimento da ameaça.
Na mesma perspetiva, a Líbia é um known unkown, pois sabe-se
que é a origem de várias ameaças à segurança marítima, as quais
ainda não foram integralmente caraterizadas. Nessa linha, é curioso
verificar que a operação projetada pela UE, para mitigar, no ambiente marítimo, os efeitos da crise líbia (operação EUNAVFOR MED),
tenha começado por uma primeira fase de recolha de informações,
exatamente para ultrapassar o desconhecimento existente.
Já os unknown unknowns correspondem a ameaças desconhecidas, relativamente às quais nem sequer nos apercebemos da nossa
ignorância. São ameaças que já se formaram, mas das quais ainda
não temos conhecimento. Até se manifestar de forma visível, em
2013, o autodenominado Estado Islâmico cabia nesta categorização, pois ninguém teria uma verdadeira noção da ameaça que esse
grupo constituía para a segurança e a estabilidade mundiais.
Unknown knowns
Além dos três conceitos referidos por Rumsfeld, podemos
extrapolar um quarto: o dos unknown knowns (coisas que não
sabemos que sabemos). Serão os conhecimentos de que não temos plena consciência, mas que (se devidamente processados)
podem permitir uma prospetiva informada.
Ainda numa perspetiva do conhecimento das ameaças à segurança marítima, o Canal de Moçambique parece ser um unknown
known, pois já existe informação suficiente que permite extrapolar a possibilidade dessa região se poder vir a tornar num foco de
pirataria, mas poucos estarão conscientes desse risco.
CANAL DE MOÇAMBIQUE
Com efeito, considerando que as causas do amanhã existem
já hoje, cumpre recordar alguma informação relevante sobre a
pirataria somali:
4
DEZEMBRO 2015
Mapa com a densidade de tráfego marítimo mundial (Fonte: Universidade de Hofstra)
● Enquanto
se mantiver a pressão vigilante e a abordagem holística da comunidade internacional relativamente à Somália
(incluindo a presença das marinhas no Corno de África e no
Estreito de Áden), a ameaça da pirataria nessa região estará
contida;
● Contudo, as causas (profundas) da pirataria somali permanecem, fazendo com que a ameaça se mantenha;
● Dessa forma, é expectável que a ameaça se desloque para
outras paragens onde se perspetivem maiores probabilidades
de sucesso.
Neste quadro de análise, há um conjunto de fatores que sustentam a possibilidade da ameaça da pirataria somali se deslocar
para a entrada norte do Canal de Moçambique, nomeadamente:
● Existência
crescente de alvos potenciais
O Canal de Moçambique possui das maiores reservas de gás
natural do Mundo, aí se localizando já bastantes plataformas
de exploração off-shore, que implicam um contínuo tráfego
marítimo de apoio e abastecimento.
● Valor crescente destes alvos
O pessoal envolvido nesta indústria possui um elevado valor
para os piratas, resultante da sua afiliação comercial com grandes empresas multinacionais de hidrocarbonetos, permitindo
a reclamação de elevados resgates, em caso de sequestro.
● Multiplicidade de possíveis bases de refúgio e retaguarda
O Canal de Moçambique possui inúmeras possíveis bases, em
zonas escassamente povoadas e relativamente remotas, que
poderão servir de refúgio e retaguarda aos piratas, como, aliás, já aconteceu ao longo da história.
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Abordagem a embarcação suspeita de pirataria por militares espanhóis em 2013, durante a operação
ATALANTA, a cargo da EUNAVFOR, na altura sob comando português
● Incapacidade
das forças de segurança locais
Em termos gerais, os países da região possuem uma componente securitária bastante deficitária, o que favorece o surgimento e o estabelecimento de ameaças como a pirataria.
Além disso, a ideia de que o Canal de Moçambique se poderá
tornar num foco de pirataria em África assenta, também, em casos passados de tentativas de ataque e de ataques concretizados.
De entre eles, o mais mediático até agora foi o do navio de pesca
“Vega 5”, da companhia espanhola Pescanova, atacado e sequestrado por piratas somalis, em 28 de dezembro de 2010, ao largo
de Moçambique – a cerca de 1600 milhas de Mogadíscio, a capital
da Somália! O navio de pesca permaneceu na posse dos piratas
cerca de 3 meses, nos quais foi usado como navio-mãe para outros
ataques a navios mercantes no mar Arábico, acabando por ser capturado pela Marinha Indiana em 12 de março de 2011.
ATUAÇÃO INTERNACIONAL
No auge da pirataria somali, a Organização Marítima Internacional patrocinou a adoção do Código de Conduta do Djibuti, para
repressão da pirataria e assaltos à mão armada contra navios no
oceano Índico oriental e no Golfo de Áden.
Os países do Canal de Moçambique são signatários desse
código, mas tardam em desenvolver as capacidades que aí foram previstas. Dessa forma, face aos incidentes do início desta
década, a Marinha da África do Sul iniciou em 2012 patrulhas
na região, com navios de guerra e aviões de patrulha marítima
(operação COPPER), ao abrigo de um acordo com Moçambique
e Tanzânia (que, entretanto, denunciou o acordo em 2013).
Além disso, a operação ATALANTA da UE (cuja missão inclui, entre outras tarefas, o combate à pirataria e a escolta/defesa de na-
Inspeção de pesca por marinheiros gaboneses, sob supervisão de oficial português, no âmbito da African
Partnership Station 2009
vios mais vulneráveis) tem, desde 2011, estendido pontualmente
a sua presença até perto da entrada norte do Canal de Moçambique. Assim, logo em maio de 2011, i.e. pouco depois do caso “Vega
5” – e numa altura em que a força naval encarregue da operação
(EUNAVFOR) estava sob comando português (Comodoro Silvestre Correia) – o navio almirante (NRP “Vasco da Gama”) visitou
as Seicheles. Nesta visita, foram concretizadas diversas atividades
diplomáticas e de cooperação com o governo e as autoridades
das Seicheles, que incluíram formação e apoio técnico à respetiva
Guarda Costeira. Cerca de dois anos depois (junho de 2013), um
navio da EUNAVFOR visitaria pela primeira vez um porto moçambicano (Pemba): tratou-se do NRP “Álvares Cabral”, navio almirante
da força, então também sob comando português (Comodoro Novo
Palma). Essa visita evidenciou a preocupação com a segurança no
Canal de Moçambique, tendo compreendido exercícios combinados de combate à pirataria no mar e uma conferência sobre segurança marítima.
Não obstante, será sempre importante o papel que os EUA,
como maior potência atual, quiserem desempenhar, nomeadamente em parceria com outros atores reconhecidos na região,
como é manifestamente o caso de Portugal, cujas Forças Armadas desenvolvem em Moçambique vários projetos de Cooperação
Técnico-Militar, que constituem um contributo significativo para
a edificação de capacidades próprias de segurança, num Estado
charneira do Canal de Moçambique.
Até agora, os EUA têm ajudado a financiar a aquisição de embarcações de patrulha e de equipamentos AIS (Automatic Identification System), além de promoverem exercícios de segurança
marítima, no quadro da iniciativa African Partnership Station. Esta
iniciativa, desenvolvida pela US Navy, visa, entre outros objetivos,
apoiar a edificação de capacidades de segurança marítima nos
países africanos, beneficiando da colaboração de outras marinhas
amigas, como tem sido o caso da Marinha Portuguesa desde 2005.
Contudo, as African Partnership Stations têm-se focado essencialmente na costa ocidental africana e, em concreto, no Golfo da Guiné, incidindo apenas esporadicamente no Canal de Moçambique.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face a tudo o que antecede, estará na altura de colocar o Canal
de Moçambique no radar da atenção internacional, de forma a
evitar que este se constitua como o próximo foco da pirataria
marítima, o que poderia acarretar consequências graves para a
comunidade internacional, dada a importância da região para o
abastecimento energético global e para o tráfego marítimo internacional (ver, a propósito, mapa que ilustra este artigo).
Nesse sentido, importará que a comunidade internacional
implemente medidas de segurança que protejam os interesses
que se estão a desenvolver e a concretizar na área, medidas essas que se devem dirigir não só contra a pirataria, mas também
contra outras ameaças e riscos, numa perspetiva de abordagem
integrada que inclua as componentes de security e de safety. Esta
promoção da segurança marítima nunca deverá, ainda, ser desligada de uma ação mais abrangente visando a segurança regional
e o desenvolvimento.
Sardinha Monteiro
CFR
Miguel Ferreira da Silva
Representante Português no African Center for Strategic Studies
de MAR12 a NOV15
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REVISTA DA ARMADA | 502
Foto CPO J. Parracho
TRIDENT JUNCTURE 15
O
maior exercício da história da NATO desde 2002, TRIDENT
JUNCTURE 2015 (TRJE15), realizou-se no período de 3 de
outubro a 6 de novembro. Foi conduzido em Itália, em Espanha
e em Portugal que se ofereceram como nações hospedeiras, e
ainda, materializou-se com ligação a outros exercícios que tiveram lugar na Bélgica, no Canadá, na Alemanha, na Holanda, na
Noruega e, no mar, no Oceano Atlântico e no Mediterrâneo.
O TRJE15 foi um exercício patrocinado pelo Comando Aliado
da Transformação (Allied Command Transformation – ACT), comando estratégico da NATO sediado em Norfolk, EUA, que desenvolve muitas iniciativas destinadas a transformar a estrutura
militar da NATO, as forças, as capacidades e a doutrina. O exercício serviu assim para dar treino de forma independente e avaliar o papel de um quartel-general de uma força-tarefa conjunta
(Joint Task Force Headquarters) para comandar e conduzir uma
operação conjunta de pequena escala predominantemente terrestre (Small Joint Operation – Land Heavy), em resposta a uma
6
DEZEMBRO 2015
crise num estado falhado com ambientes civil e militar complexos, de alta intensidade, assimétrico e envolvendo operações de
combate nas fases iniciais.
O exercício envolveu toda a Estrutura de Comandos da NATO
(NATO Command Structure – NCS), tendo demonstrado a capacidade da NATO para planear, gerar, preparar, projetar e sustentar
as forças e os meios atribuídos. Contou com a participação naval
de cerca de 64 navios e 9 submarinos, num total de 36.000 militares de mais de 30 países da Aliança e dos Parceiros dos vários
ramos das forças armadas. Destaca-se neste âmbito a participação do NRP D. Francisco de Almeida, navio-chefe da Standing
Maritime Group One (SNMG1) sob o comando do CALM Silvestre
Correia. O TRJE15 também serviu para fazer a avaliação e a certificação do Joint Forces Command Brunssum (JFCBS)1 e dos seus
Comandantes das Componentes da NATO Response Force 2016
(NRF)2. Neste sentido, o TRJE15 permitiu treinar e testar a capacidade das forças da NRF, tecnologicamente avançadas, com as
nado, onde fuzileiros portugueses e marines americanos foram
projetados para a Praia da Raposa a partir do USS Arlington4 com
recurso a lanchas LCACs5. Em 5 de novembro, nas Instalações Navais de Troia, realizou-se a Demonstração Marítima e Anfíbia com
a presença nacional do Presidente da República, do Ministro da
Defesa Nacional e do General CEMGFA. A presença internacional
foi honrada com a do Secretário-geral da NATO6 bem como cerca
de 300 representantes militares e civis do NAC/MC7, dos Comandos Estratégicos para as Operações e para a Transformação da
NATO e ainda demais corpos diplomáticos, altos dignatários e
representações nacionais dos membros da NATO e dos Parceiros.
Nesta ocasião, a demonstração mais importante para a Marinha,
foi a do projeto de proteção no porto (HP)8 no âmbito do Smart
Defence9, sob liderança nacional e que conta com a participação
atual de 13 países membros da NATO e dos Parceiros Ucrânia e
Jordânia, tendo recebido rasgados elogios por diversas altas entidades que ali estiveram presentes, o que a todos nos deve orgulhar. Houve também uma demonstração de proteção em ambiente químico, biológico, radiológico e nuclear (CBRN)10 que foi
Foto LA (Phot) JJ Massey
componentes terrestre, marítima, aérea e
de operações especiais, para serem simultânea e rapidamente projetadas para vários pontos do globo com pouco pré-aviso. O exercício representou o último passo desse processo de validação que incluiu a certificação do Batalhão de Infantaria Mecanizado do Exército para a Very
High Readiness Joint Task Force (VJTF) em
2016 e dos F16 da Força Aérea para o ciclo
da NRF do mesmo ano.
Segundo o EMGFA, o TRJE15 marcou
uma alteração da postura da Aliança
Atlântica de grandes operações no terreno, para as de contingência, onde aspetos
como a sustentação e a interoperabilidade das forças passaram a ser os principais
objetivos a atingir. No seu conjunto, representou a maior prova de sempre para
a NATO e para a NRF.
O TRJE15 foi executado em duas fases –
o treino de Posto de Comando (Command Post Exercise – CPX) que
decorreu até 16 de outubro, e o treino real das forças (Live Exercise
– LIVEX), entre 21 de outubro e 6 de novembro. Durante a sua execução, os exercícios aéreos concentraram-se em Itália, os terrestres em Espanha e em Portugal decorreu maioritariamente a componente marítima, tendo havido 3 dias de visitas distintas (DVD)3
para enaltecer estes domínios:
19 de outubro – Demonstração Aérea em Trapani, Itália.
04 de novembro – Demonstração Terrestre em Saragoça, Espanha.
05 de novembro – Demonstração Marítima e Anfíbia em Troia,
Portugal.
A participação portuguesa no TRJE15 totalizou cerca de 6000
efetivos, tendo 940 constituído o contingente nacional da NRF
2016, 2220 empregues em diversas capacidades complementares e cerca de 3000 para garantir o necessário apoio de nação
hospedeira.
Salienta-se a grande visibilidade que o exercício teve nas zonas
de Beja, Santa Margarida, Troia e Grândola. No dia 19 de outubro
teve lugar em Pinheiro da Cruz o Desembarque Anfíbio Combi-
Foto SAJ FZ Horta Pereira
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DEZEMBRO 2015
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combina um programa abrangente de educação, de treino, de
exercício e de avaliação com o uso de tecnologia de ponta para
garantir que as forças aliadas continuem a estar preparadas para
serem empregues de forma cooperativa. Neste âmbito, também
decorreu em Lisboa, entre os dias 19 e 20 de outubro, o Fórum
da Indústria NATO 2015, durante o qual as indústrias de defesa
nacionais tiveram oportunidade de apresentar as principais evoluções tecnológicas com utilidade militar que estão em curso ou
aquelas que estejam já em desenvolvimento para o futuro.
CMG Amaral Mota
IGDN
2 TEN RC Soel Izaque
Relações Públicas da Naval Striking and Support Forces NATO (SFN)
Notas
Comando de nível operacional da NCS, localizado em Brunssum, Holanda.
2
A Força de Reação da NATO é uma força multinacional altamente preparada e tecnologicamente avançada composta pelas componentes marítima, terrestre, aérea
e de forças especiais e que pode ser projetada rapidamente, sempre que necessário. Para além de seu papel operacional, a NRF pode ser usada para uma maior cooperação no treino, formação e no melhor uso da tecnologia.
3
Na NATO são habitualmente referidos como Distinguished Visitors Days (DVD).
4
Navio Polivalente Logístico (LPD – Landing Plataform Dock) da Classe San Antonio
da Marinha dos EUA.
5
Landing Craft Air Cushion, vulgo “hovercraft”.
6
Jens Stoltenberg.
7
NAC/MC – North Atlantic Council / Military Committee.
8
HP – Harbour Protection.
9
Conceito NATO que promove a cooperação entre os membros da Aliança para se
desenvolver, adquirir e manter capacidades militares a fim de lidar com os atuais
desafios de segurança.
10
CBRN – Chemical, Biological, Radiological and Nuclear.
1
Foto 1SAR A Carlos Dias
efetuada por uma Companhia CBRN polaca e um desembarque
anfíbio conduzido pelos Royal Marines a partir do HMS Bulwark.
A execução do TRJE15 nesta região da Europa não foi um processo simples, mas a ação diplomática conjunta de Portugal,
Espanha e Itália, e a compreensão dos Estados Unidos, determinou que o exercício, uma “operação de músculo” da NATO,
se realizasse no flanco sul europeu da Aliança. As capitais do sul
evidenciaram os seus interesses estratégicos que passam, nomeadamente, pela estabilidade do Mediterrâneo, a braços com
problemas do narcotráfico, da pirataria, das migrações irregulares e do terrorismo para além naquilo em que o Golfo da Guiné
se está a transformar e ainda, nas delicadas situações da Líbia e
da Síria. O reforço da atenção de Lisboa, Madrid e Roma com o
sul foi acompanhado de iniciativas com o intuito de reforçar a
legitimidade da preocupação que não se esgota com o Norte de
África e chega a ir até ao Irão. Foi assim interpretado o recente
envio por Portugal de seis F16 da Força Aérea que, juntamente com aeronaves da Alemanha, Espanha, Canadá e Holanda,
participam no policiamento do espaço aéreo do Báltico (Baltic
Air Policing Mission) em regime de rotatividade. Esta é, aliás, a
segunda vez que caças portugueses estão envolvidos nesta operação da Aliança.
Este evento também foi considerado a atividade emblemática da iniciativa de forças conectadas da NATO (Connected Forces
Initiative – CFI) que tem por objetivo reforçar o nível de interligação e interoperabilidade que se pretende alcançar nas operações
entre as forças dos membros da Aliança e dos Parceiros. O CFI
Foto Skyphoto.net
Foto HFw Christian Timmig
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REVISTA DA ARMADA | 502
GOLFO DA GUINÉ
A CRIMINALIDADE ORGANIZADA
parte 2
A Parte 1 deste artigo abordou alguns dos crimes organizados existentes na região do Golfo da Guiné, como os tráficos de droga e de
migrantes. Nesta Parte, a evidência vai para o tráfico de armas e para a pirataria marítima.
OS VÁRIOS TIPOS DE CRIME
ORGANIZADO (CONTINUAÇÃO)
A
venda de armas ilegais tem sido outro
dos negócios ilícitos dos países deste golfo, contudo, atualmente, não é dos
mais florescentes, atendendo ao quantitativo de armas já disseminado por esta
região. Estima-se que possam existir nesta entre 8 a 10 milhões de armas ilegais,
muitas das quais ainda são provenientes
dos países do extinto Pacto de Varsóvia,
sendo a AK-47 (Kalashnikov) a arma predominante. Outras são um legado das
diversas guerras civis que ocorreram em
África há mais de uma década – Libéria,
Serra Leoa, Argélia, etc. No entanto, também se encontram com facilidade armas e
munições mais recentes de fabrico chinês.
O tráfico de armas, nomeadamente de
espingardas de assalto, pistolas, metra- Tráfico de armas (Fonte: www.borderlandbeat.com)
lhadoras ligeiras e pesadas, morteiros,
explosivos, granadas de mão e Rocket Propelled Grenades, assim alguns milhares de sistemas portáteis de defesa aérea (MANPAcomo das respetivas munições, é praticamente todo feito por ter- DS1), pois dos 22 000 que provavelmente existiam antes da quera e passa, muitas das vezes, por centros de tráfico tradicionais da do regime, apenas 5000 foram encontrados a posteriori.
como Agadez, no Níger, e Gao, no Mali. Consta que em 2011,
Devido à existência de uma infinidade de grupos rebeldes atidevido à queda do regime líbio de Gaddafi, poderá ter havido vos, como o Mouvement des Nigeriens pour la Justice, a Front for
um grande fluxo de armas proveniente da Líbia, na ordem das the Liberation of Aïr and Azaouak e a Front for the Liberation of
dezenas de milhares, essencialmente espingardas de assalto, Tamoust, todos no norte do Níger, o Boko Haram, na Nigéria, e
cujo destino provável poderá ter sido a região do Golfo da Guiné. o Mouvement des Forces Démocratiques de Casamance, no SeGrande parte deste armamento poderá ter caído em poder dos negal, entre outros, a instabilidade na área do Golfo e nos países
grupos armados do norte do Mali, como a Al Qaeda do Magrebe vizinhos continuará a ser uma realidade, contribuindo assim de
Islâmico, o Mouvement National pour la Libération de l’Azawad, forma decisiva para a manutenção do tráfico de armas na região.
o Ansar Dine e o Mouvement pour l’Unicité et le Jihad en Afrique
Outro tipo de atividade ilícita que tem vindo paulatinamente a
de l’Ouest, podendo ter contribuído para os recentes aconteci- crescer no Golfo da Guiné, desde o início deste século, é a piramentos neste país. Da Líbia poderão também ter desaparecido taria marítima, contudo não lhe tem sido atribuído um destaque
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Piratas nigerianos (Fonte:www.ideastream.org)
tão acentuado como no “Corno de África”, onde a comunidade
internacional tem feito um esforço permanente para controlar
este tipo de prática.
A pirataria nas águas do Golfo está, sobretudo, orientada para
o roubo da carga dos navios petroleiros e/ou para o sequestro de
tripulantes com vista à obtenção de resgates. O roubo de combustível – bunkering –, normalmente já refinado e que pode chegar aos milhares de toneladas por ataque bem-sucedido, permite
obter, com a sua venda no mercado paralelo, avultadas quantias
de dinheiro. Por outro lado, o sequestro de marítimos vem possibilitar também aos piratas embolsar elevados montantes financeiros resultantes do pagamento dos resgates. Quer um tipo de
ato quer o outro obrigam a alguma complexidade logística, no
primeiro caso para descarregar e vender a carga, no segundo
para assegurar a capacidade de negociação.
Os Estados deste Golfo não têm presentemente qualquer política marítima efetiva e as suas forças navais estão mal equipadas,
pouco treinadas e subfinanciadas para poderem assegurar a autoridade do Estado no mar. Como consequência desta situação, a
pirataria marítima tem vindo a crescer, principalmente nas águas
da Nigéria, na região do delta do rio Níger, onde se tem registado
um considerável número de atos de pirataria desde o início deste
século. O ano de 2007, com 42 ilícitos deste género, foi o pior das
últimas duas décadas.
A pirataria nesta região esteve muitos anos confinada às águas
da Nigéria, contudo, ultimamente, tem-se alastrado às dos paí-
10
DEZEMBRO 2015
ses vizinhos, nomeadamente às do Togo
e do Benim. Este último, situado entre
a Nigéria e o Togo, e com uma costa de
apenas 120 km, registou em 2011 20 atos
de pirataria, o maior surto dos últimos 20
anos. Existem fortes indícios de que os piratas que atuam nestas águas possam não
ser só de origem beninense, mas também
nigeriana. Em outubro de 2011, para combater a pirataria nas águas da Nigéria e do
Benim, foi criado um sistema de patrulhas
marítimas conjuntas, entre estes 2 países,
designado por operação PROSPERIDADE
(PROSPERITY). Esta cooperação bilateral
foi a primeira do género na região e espera-se que futuramente, na sequência
desta, as marinhas do Togo e do Gana
também possam vir a associar-se a estas
patrulhas, tendo em vista o aumento da
vigilância e da segurança nas suas costas.
No que se refere à pirataria nas águas do
Togo, país com apenas 56 km de costa, localizado entre o Gana e o Benim, houve o registo de 15 ataques
piratas durante o ano de 2012, o maior quantitativo das últimas
2 décadas.
ALGUMAS REFLEXÕES
O crime organizado no Golfo da Guiné atingiu uma dimensão tal que dificilmente algum Estado dessa região conseguirá
combatê-lo de forma isolada. É, pois, necessário que as políticas
de cooperação já adotadas, apesar de ainda estarem numa fase
muito embrionária, sejam acompanhadas por um esforço de investigação, planeamento e coordenação ao nível regional e internacional. No entanto, é também indispensável que se assegure
uma boa cooperação, no âmbito da segurança regional, entre as
3 organizações sub-regionais existentes - CEDEAO, CEEAC e CGG
-, quer através da definição de estratégias comuns quer da partilha de informações, com vista a criar e fortalecer sinergias por
forma a estas poderem dar uma boa resposta à criminalidade organizada transnacional.
Compete, sem dúvida, em primeira instância, aos Governos da
região, a definição e implementação de medidas conducentes à
redução das atividades ilícitas que vêm ocorrendo nos seus países. Essas medidas, entre outras possíveis, terão de passar pela
aplicação de reformas nos seus estilos de governação, para que
as políticas sociais sejam, de facto, efetivas e permitam reduzir o
desemprego e a pobreza, dificultando assim o aliciamento e o re-
crutamento de jovens para a criminalidade. Torna-se também necessário envidar
esforços no sentido de tentar controlar a
corrupção, evitando que os políticos e os
funcionários públicos, entre outros, possam ser aliciados por subornos. Para repor a ordem é imperativo combater a impunidade, começando a deter e a julgar os
infratores, à luz dos instrumentos jurídicos quer nacionais quer internacionais, a
fim de condenar todos aqueles que forem
considerados culpados. É de todo conveniente criar as infraestruturas apropriadas
e assegurar o correto balanceamento entre polícias, investigadores, magistrados
do Ministério Público e juízes, assim como
estabelecer acordos interestaduais que
permitam agilizar os processos.
Os países desta região têm que assumir, desde já, que a luta contra o crime
organizado tem de ser uma prioridade do Fragata “Bartolomeu Dias” e o navio-patrulha oceânico “Apa”no OBANGAME EXPRESS 2014.
Estado, sendo para tal necessário desenvolver e implementar estratégias que permitam, pelo menos a O próprio exercício OBANGAME EXPRESS, que se tem realizado
curto prazo, minimizar a ação dos grupos criminosos que atuam anualmente e no qual têm participado, para além dos países
dentro das suas fronteiras. Para isso têm que edificar ou melho- da região, Portugal, a França, a Espanha, a Bélgica, o Brasil, a
rar as suas forças armadas e de segurança, equipando-as com Holanda e os EUA, cujo objetivo é aumentar a capacidade de
os meios que permitam dissuadir ou combater todo o tipo de resposta das marinhas e guardas costeiras do Golfo da Guiné à
atividades ilícitas. Por forma a ter a criminalidade marítima mais pirataria ou a qualquer outro tipo de criminalidade marítima,
controlada é necessário garantir um patrulhamento naval regu- através da melhoria da interoperabilidade das comunicações e
lar, com o possível auxílio da componente aérea, com aeronaves da partilha de informações, tem vindo a mostrar-se bastante
tripuladas ou não, à semelhança do que já vem sendo feito no útil para a segurança marítima nesta região.
“Corno de África”. Esta vigilância dificilmente será efetiva se não
houver a presença permanente de meios navais da comunidade
Portela Guedes
internacional.
CFR
Nos últimos anos têm aparecido algumas potências ocidentais, com interesses na região, que têm apoiado, quer finanBibliografia
ceiramente quer através da troca de conhecimentos, algumas
- Criminalidade Organizada Transnacional na África Ocidental: Avaliação da ameaça.
iniciativas com vista ao aumento da segurança na região. MeEscritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) [2013].
- Global Report on Trafficking in Persons 2014. United Nations Office on Drugs and
didas como a criação, nos portos do Benim, Cabo Verde, Gana,
Crime - Vienna.
- PIRES, Raúl M. Braga - Maghreb/Machrek: Olhares Luso-Marroquinos sobre a priSenegal e Togo, de algumas unidades conjuntas, especializadas
mavera Árabe. 1ª Ed. Lisboa; Diário de Bordo, Lda. 2013. ISBN 978-989-8554-21-5.
no controlo de contentores, no âmbito do Programa Global de
- Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report 2014. United Kingdom:
ICC International Maritime Bureau [2015].
Controlo de Contentores, já conduziram a grandes apreensões
- International Maritime Bureau. Disponível em: <http://www.icc-ccs.org>. Acesso
em: 10fev. 2015.
de cocaína e de tabaco ilegal. As equipas conjuntas de interdição de aeroportos, estabelecidas desde 2010 nos aeroportos
internacionais de Cabo Verde, Mali, Senegal e Togo, da iniciativa do United Nations Office on Drugs and Crime, da Interpol e
Notas
da Organização Mundial das Alfândegas, no âmbito do Projeto
1
Man-portable air-defense systems.
de Comunicação nos Aeroportos, já começaram a dar frutos.
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11
Foto Marinha Portuguesa
REVISTA DA ARMADA | 502
REVISTA DA ARMADA | 502
SEABORDER 15
D
ecorreu no período de 27 de setembro a 2 de outubro de
2015 o exercício SEABORDER 15 (SB15), no âmbito da Iniciativa “Defesa 5+5”, o qual teve lugar a sul de Portimão. Este
exercício, de natureza conjunta e combinada e conduzido sob a
égide do Estado-Maior General das Forças Armadas, contou com
a participação de meios navais e aéreos de Portugal, Espanha,
França, Marrocos e Tunísia.
A Iniciativa “Defesa 5+5” procura através de medidas concretas de cooperação entre os países da bacia do Mediterrâneo ocidental, da costa norte de África e do sul da Europa,
proporcionar atividades que facilitem e incrementem o clima
de mútua confiança e de franca colaboração entre os dez países que integram esta iniciativa de cooperação1. No plano de
ação no mar, a iniciativa corporiza mecanismos concretos para
a troca de informação entre os centros de operações marítimas
de cada país, através de uma interligação em rede que comprovadamente tem facilitado a comunicação e troca de informação entre Marinhas, proporcionando assim uma linguagem
comum entre elas. De igual modo, esta iniciativa tem permitido
a criação de soluções práticas e eficientes tendo em vista a concretização de ações no mar e em terra, por forma a mitigar os
12
DEZEMBRO 2015
riscos e ameaças comuns nas áreas da defesa e da segurança
marítima.
O SB15, integrado neste conceito de cooperação entre os países da Iniciativa “Defesa 5+5”, permitiu às várias entidades envolvidas exercitarem um espetro alargado de operações no âmbito
de segurança marítima, bem como consolidar procedimentos de
coordenação entre as Forças Armadas e Autoridades Marítimas
com responsabilidades naquelas áreas.
O exercício seaborder15
O exercício dividiu-se em duas fases distintas: uma primeira
fase em terra, realizada em Roma, e uma segunda fase no mar,
organizada por Portugal, que decorreu a sul de Portimão.
Na primeira parte do exercício, que ocorreu de 27 a 30 de setembro, foram testados e validados vários procedimentos de comando e controlo ao nível da interligação entre centros de operações marítimas. Durante esta fase, com os centros interligados
em rede, foram injetados vários contactos simulados de modo a
treinar a disseminação e troca da informação com recurso ao sistema V-RMTC2, utilizado pelos países pertencentes a esta iniciati-
REVISTA DA ARMADA | 502
va, que consiste numa rede virtual que interliga os vários centros
de operações das respetivas Marinhas.
Durante a segunda metade do exercício, de 29 de setembro a 2
de outubro, realizaram-se numa primeira fase, e a bordo dos navios
participantes no exercício, vários grupos de trabalho para debaterem temas tão variados como a intervenção das equipas médicas
no mar em situações de busca e salvamento, ações de abordagem e
de apoio a navios sinistrados, no mar, os quais integraram diversos
representantes daqueles navios. Numa segunda fase, em ambiente de treino, colocaram-se em prática os procedimentos padrão no
âmbito das operações de interdição marítima (Military Interdition
Operations) e de busca e salvamento (Search and Rescue).
Quanto ao cenário idealizado, este consistiu em detetar, intercetar e abordar duas embarcações suspeitas de participarem em ativi-
dades ilícitas no mar (simuladas pela lancha hidrográfica Andrómeda e pela lancha de fiscalização rápida Dragão), que estariam a ser
monitorizadas há vários dias pelos centros de operações marítimas
das Marinhas dos países pertencentes à Iniciativa “Defesa 5+5”.
Participaram no exercício o navio patrulha oceânico Figueira
da Foz, com o comandante da Força Naval Portuguesa e o seu estado-maior embarcados, o submarino Tridente, o navio patrulha
oceânico espanhol Vigia, a fragata francesa Premier Maître L’Her,
o navio patrulha marroquino L.V. Rabhi e uma equipa de abordagem da Tunísia, embarcada no navio francês. O exercício contou
ainda com a participação de meios aéreos, nomeadamente, um
helicóptero da Marinha (Lynx Mk-95), uma aeronave de patrulha
marítima P3-C da Força Aérea Portuguesa, bem como um helicóptero de busca e salvamento e uma aeronave de patrulha marítima da Força Aérea Espanhola.
distinguished visitors day
No dia 1 de outubro decorreu no NRP Figueira da Foz o Distinguished Visitors Day, tendo sido recebido a bordo o Chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas, General Artur Pina
Monteiro, que se fez acompanhar por uma comitiva constituída
pela representante do Ministro da Defesa Nacional, pelos Chefes Militares Portugueses, pelo VALM Comandante Naval e por
diversos representantes e observadores das Forças Armadas dos
países membros da Iniciativa “Defesa 5+5”.
Após o embarque das entidades no Ponto de Apoio Naval de
Portimão, o navio iniciou o trânsito para a área de exercícios
juntando-se às restantes unidades participantes. Durante o período da manhã, os convidados tiveram oportunidade de assistir
a demonstrações de capacidades (recuperação de náufragos e
evacuação médica por helicóptero) e a condução de operações
conjuntas no âmbito da segurança marítima, como a abordagem
a embarcações ilícitas por equipas de abordagem projetadas a
partir de unidades navais e por helicóptero, apoiadas pela ação
furtiva do submarino português Tridente.
Durante todo o exercício, a tarefa de conduzir as operações
no mar foi atribuída ao Comandante da Força Naval Portuguesa,
CMG Gonçalves Alexandre, que, apoiado pelo seu estado-maior,
num total de 11 militares, embarcou pela primeira vez a bordo de
um navio patrulha oceânico da classe Viana do Castelo.
Colaboração do COMANDO DA FORÇA NAVAL PORTUGUESA
Notas
Portugal, Espanha, França, Itália, Malta, Argélia, Marrocos, Tunísia, Líbia e Mauritânia.
Virtual Regional Maritime Traffic Center.
1
2
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13
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RELEMBRAR A OPERAÇÃO
“MAR VERDE”
parte 2
O DOMÍNIO DO AR
O
domínio do espaço aéreo implicava a destruição das aeronaves militares da Guiné-Conacri, de origem soviética, do tipo
MIG-15 e MIG-17.
Este objetivo não foi garantido, uma vez que nenhuma aeronave militar se encontrava estacionada no aeroporto de Conacri,
levando o comandante da operação a considerar que não poderia sustentar o ataque para além do nascer do sol, sob risco
dos navios nacionais poderem ser atacados e afundados, a partir
dessa hora. A equipa que foi encarregada de atacar o aeroporto
perdeu 24 homens, por efeito da deserção iniciada por dois militares africanos. Um oficial da Companhia de Comandos tinha um
irmão militante no PAIGC e quando soube que o alvo da operação
incluía locais onde poderia estar o seu irmão, decidiu desertar,
arrastando consigo um pelotão de praças que, eventualmente,
não saberia desta sua intenção inicial, mas que não hesitou em
segui-lo.
O DOMÍNIO DA TERRA
O domínio do espaço terrestre implicava neutralizar o Exército, a Polícia, a Guarda Nacional e a Milícia Popular, distribuídos
por vários quartéis. A Milícia Popular tinha sido criada pelo presidente Sékou Touré, com o objetivo de contrapor o poder do
Exército e funcionar como força de sua defesa próxima. O presidente receava a realização de um golpe de Estado com origem no
Exército. Por isso, tomou ações que provocaram uma diminuição
significativa das suas capacidades combatentes, a diminuição das
condições de vida dos militares e o acesso condicionado a armamento.
Diversas forças mistas nacionais, constituídas por militares da
companhia de comandos africanos do Exército Português e da
FLNG, foram desembarcadas e assaltaram o quartel-general da
Polícia, Gendarmerie Nationale, o Quartel-General da Defesa Nacional de Samory e o Quartel da Guarda Nacional em Camayenne.
Um dos grupos de assalto, o GA2, do Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 21 atacou o campo da Milícia Popular. O quartel
de Alpha Yaya não seria diretamente atacado, por falta de efetivos da força nacional atacante. O controlo da eventual reação
do Exército Guineense a partir de Alpha Yaya seria realizado
pela equipa “S” responsável pelo assalto ao aeroporto, que te-
14
DEZEMBRO 2015
ria, igualmente, a responsabilidade de cortar a estrada principal
que ligava este quartel ao da Guarda Nacional, e pela equipa “P”
que seria responsável por cortar a circulação rodoviária no istmo
que liga Conacri I a Conacri II, entre os quarteis de Samory e da
Guarda Nacional. Estes dois cortes de circulação não chegaram
a ser efetivados. Desfalcado dos 24 homens que desertaram, a
equipa que assaltou o aeroporto não teve condições de fazer o
corte da estrada junto ao campo Alpha YaYa. Durante a operação,
face à perceção de que alguns objetivos não seriam possíveis de
atingir, foi decidido não desembarcar a equipa “P” que seria responsável pelo corte da circulação no istmo. O facto de não terem
sido realizados estes dois cortes de estradas levou a que os quarteis tomados pelas forças nacionais tivessem que ser defendidos
durante várias horas, contra as unidades militares da Guiné que
se iam aproximando, vindos do campo Alpha Yaya. Estes reforços
do Exército Guineense surgiram sempre em posições muito desfavoráveis e anunciadas, pelo que sofreram um número de baixas
muito elevado e destruição de muitas das viaturas em que se fizeram transportar.
Para além do fator surpresa, habilmente usado na operação,
para tentar garantir o domínio rápido dos três espaços de ação,
era necessário limitar qualquer capacidade de resposta ou organização defensiva dos oponentes. Desta forma, os objetivos táticos
incluíram o corte da energia elétrica da cidade, para manter a dificuldade de deteção visual dos movimentos das forças atacantes
e a confusão na organização da defesa. A figura 1 reconstitui espaço-temporalmente o início do ataque a Conacri. As marcas circulares verdes (dimensão mais reduzida) representam a posição
das diversas equipas de assalto às 01:40 do dia 22 de novembro
de 1970, hora em que o comandante da operação deu a ordem
de ataque. As marcas circulares amarelas (de maior dimensão) representam a posição estimada das equipas de assalto às 02:15.
A esta hora vários objetivos estavam a ser atacados e dois deles
estavam já alcançados: o afundamento ou destruição dos meios
navais e o corte de eletricidade na cidade.
O ataque aos objetivos estratégicos e operacionais no âmbito
do PAIGC foi realizado pelo Destacamento de Fuzileiros Especiais
nº 21, comandado pelo 1TEN FZE Cunha e Silva. Este Destacamento estava organizado taticamente em 4 grupos de assalto (GA).
Estes 4 GA formaram três forças de ataque distintas. Duas destas
forças eram constituídas por 1 GA (subequipas “Z1” e “Z2”) e a
terceira por 2 GA (subequipa “Z3”). A equipa “Z3”, liderada por
REVISTA DA ARMADA | 502
Figura 1 – Reconstituição espaço-temporal do início do ataque a Conacri pelas várias equipas
Cunha e Silva, desembarcou na praia do Clube Miniére, à vista dos
seus frequentadores que não tiveram qualquer reação estranha,
e progrediu cerca de um quilómetro em direção à prisão “La Montaigne” onde estavam os militares portugueses capturados pelo
PAIGC. Num descampado já próximo da prisão desencadeou-se
um tiroteio entre os guardas da prisão e a equipa “Z3”. Depois de
eliminada a resistência, com dois tiros de bazuca fizeram um buraco numa parede, por onde saíram os prisioneiros. A equipa ainda
veria reforços do PAIGC chegarem próximo, mas o surgimento de
baixas levou à fuga dos sobreviventes. O regresso à costa fez-se
pelo caminho inverso ao do ataque e o embarque dos libertados
decorreu como planeado. Um sucesso monumental.
Para além da libertação dos 26 prisioneiros portugueses, as
subequipas “Z” destruíram diversas infraestruturas do PAIGC em
Conacri, que incluíam os paióis de material, as casas dos líderes
Amílcar Cabral e Aristides Pereira, e a prisão. Foram ainda ata-
cados objetivos da República da Guiné, que incluíram a Villa Syli,
residência secundária do seu Presidente, e o campo das Milícias
Populares. Diversas referências designam a residência secundária
de Sékou Touré como “Villa Silly”. Na verdade a designação local
era “Villa Syli”, que significa residência “elefante”. O “syli” ou “elefante” era a moeda da República da Guiné, um símbolo nacional,
e em frente a esta villa foi construída uma rotunda com uma estátua de um elefante.
Tanto o Presidente da República da Guiné como o líder do
PAIGC não foram encontrados nos locais atacados. Amílcar Cabral
encontrava-se em viagem na Europa e Sekou Touré resguardou-se em casa de terceiros, não tendo sido localizado. Não foram
encontrados os locais que tinham os arquivos do PAIGC, a estação emissora (era móvel) nem as infraestruturas de alojamento
e messe dos responsáveis do PAIGC, que se estimava albergarem
30 a 40 indivíduos. Aquando da libertação dos prisioneiros, estes
Figura 2 – Diagrama e imagem satélite com plano de objetivos para o DFE 21
DEZEMBRO 2015
15
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Figura 3 – Objetivos atacados em Conacri I e o quartel da Guarda Nacional em Conacri II
informaram que os locais destes objetivos, referenciados pela
força assaltante, estavam desatualizados.
O ataque aos objetivos governamentais da Guiné foi realizado
por forças mistas da Companhia de Comandos Africanos do Exército e elementos da FNLG. Estas forças deveriam atacar diversos
edifícios estatais e militares, incluindo o palácio presidencial, e
destruir as estações transmissoras de emissões de rádio. Grande
parte destes objetivos foi atingido, mas não se conseguiu controlar ou destruir o edifício da rádio.
Não tendo conseguido localizar, capturar ou aniquilar a cúpula
do poder do PAIGC nem da Guiné-Conacri, o comandante da operação mandou retirar as forças nacionais para bordo dos navios
e iniciar o regresso à Guiné portuguesa. Ao amanhecer, as forças
guineenses fizeram fogo contra uma das lanchas de desembarque. A resposta foi pronta, e em jeito de ameaça foram feitos, a
partir de bordo, tiros de aviso sobre os depósitos de combustível
próximo do porto que, caso atingidos, provocariam danos significativos. A ameaça foi prontamente percebida, tendo as forças
locais interrompido o ataque. Todos os grandes objetivos operacionais tinham sido atingidos, mas os estratégicos tinham ficado
comprometidos.
O saldo da operação foi estruturalmente bastante penoso para
o PAIGC e para a Guiné-Conacri. Para além dos inúmeros estragos de infraestruturas na cidade e nas instalações militares, foram
abatidas várias centenas de elementos inimigos e libertados cerca
de 400 presos políticos. Do lado das forças nacionais, registou-se
a morte de um oficial europeu do Exército e dois soldados comandos africanos, um fuzileiro com um ferimento grave, e a deserção
de um pelotão da companhia de comandos africanos, num total de
24 homens. Destaca-se o facto de se terem destruído as vedetas
torpedeiras do PAIGC e da Guiné-Conacri, o que permitiu manter a
liberdade de ação marítima de Portugal, que era uma linha de ação
estratégica naval fundamental nesta guerra, e a libertação dos 26
prisioneiros portugueses.
16
DEZEMBRO 2015
Logo que o Presidente Sékou Touré voltou a ter o controlo
dos acontecimentos, tomou uma série de medidas com vista a
evitar qualquer nova tentativa interna de golpe de Estado. Os
elementos da FNLG desembarcados e que tomaram conta dos
quarteis militares, foram todos eliminados nos dias seguintes. Os
24 desertores foram enforcados na República da Guiné um mês
depois da operação. Durante mais de um ano foi realizada uma
perseguição política por todo o país, que levou à morte de alguns
milhares de guineenses. O próprio líder do PAIGC, Amílcar Cabral,
viria a ser assassinado por um seu compatriota, junto à sua residência em Conacri, num local muito próximo da Villa Syli, tendo
surgido especulações sobre a eventual autorização de Sékou Touré na sua eliminação.
O DESFECHO
No final da operação os portugueses libertados foram transferidos para Portugal. Por razões de discrição internacional, inicialmente foram condicionados no contacto com os familiares. Portugal nunca reconheceu a realização desta operação, embora já tenham sido publicados livros e entrevistas, e realizados programas
de televisão sobre o assunto. O General Spínola, desiludido com
o facto de não se ter conseguido realizar o golpe de Estado, não
deu seguimento às condecorações propostas para reconhecimento do desempenho, do mérito e da coragem de qualquer militar
que participou na operação “Mar Verde”. A Guiné Conacri erigiu
um monumento dedicado às vítimas da operação que congratula a “derrota” do imperialismo (Portugal) sobre a Guiné-Conacri.
A Guiné-Bissau tornou-se independente em 1974. A operação
“Mar Verde” ainda hoje é referida e analisada nos programas de
estudos avançados de diversas escolas militares internacionais.
Bessa Pacheco
CFR
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ANÉMONA 2015
PLANO MAR LIMPO
A
Resolução do Conselho de Ministros
nº 25/93, de 15 de abril, aprovou o
“Plano de Emergência para o Combate à
Poluição das Águas Marinhas, Portos, Estuários e Trechos Navegáveis dos Rios, por
Hidrocarbonetos e Outras Substâncias Perigosas”, abreviadamente designado por
Plano Mar Limpo (PML).
Este Plano de Contingência Nacional estabelece quatro níveis de atuação (do 4º
para o 1º grau), à medida que a gravidade
e impacto do incidente de poluição do mar
vai aumentando, e a existência de cinco
bases logísticas distribuídas pelo país.
O Plano Mar Limpo e os Planos de Intervenção dão cumprimento ao estabelecido na Convenção Internacional para
a Prevenção, Resposta e Cooperação no
Combate à Poluição por Hidrocarbonetos,
de 1990 (OPRC-90), ratificada por Portugal em 1993. Em 2000, Portugal ratificou
o Protocolo sobre a Prevenção, Atuação
e Cooperação no Combate à Poluição por
Substâncias Nocivas e potencialmente Perigosas, (OPRC-HNS 2000).
direção do combate
à poluição do mar
A DCPM é o organismo da Direção-geral da Autoridade Marítima a quem
compete, nos espaços sob jurisdição da
Autoridade Marítima Nacional, a direção
técnica nacional em matéria de combate
à poluição do mar, competindo-lhe para
tal, designadamente, manter uma cooperação funcional próxima com os órgãos locais daquela Direção-geral.​Tem por isso a
missão de estabelecer os procedimentos
de natureza técnica relativos à vigilância
e combate à poluição do mar, bem como
coordenar e dirigir operações de combate
à poluição do mar.
À DCPM incumbe:
• Executar, em primeira linha, as operações de combate à poluição do mar no
1º grau de prontidão do PML;
• Proceder à inspeção da fase de preparação do PML, com vista a que as várias
entidades responsáveis no âmbito da
resposta e do combate à poluição tenham os meios necessários e o domínio
das técnicas adequadas para a sua boa
execução, designadamente em matéria
organizativa, logística e formativa;
• De acordo com instruções do director-geral da Autoridade Marítima, apoiar
os demais órgãos e serviços da DGAM,
designadamente nas operações de combate à poluição do mar nos 2º e 3º graus
de prontidão do PML, e, nos termos a
definir caso a caso, outras autoridades
do Estado, ou externas, em operações de
combate à poluição do mar fora dos espaços marítimos sob jurisdição da AMN;
• Planear e coordenar a realização de
exercícios periódicos, acionando os
mecanismos e meios previstos nos planos de intervenção, com o objetivo de,
designadamente, treinar o pessoal envolvido nas tarefas que lhe incumbem
e proceder à validação e avaliação dos
planos de intervenção e da eficácia dos
meios e técnicas aplicadas;
• Representar a DGAM e, no aplicável, a
AMN, em reuniões e fóruns internacionais em que sejam analisadas e discutidas matérias relativas à preservação do
meio marinho e ao combate à poluição
DEZEMBRO 2015
17
REVISTA DA ARMADA | 502
do mar, designadamente as entidades
da Comissão da União Europeia, o Marine Environment Protection Committee
da OMI, e assegurar os contactos necessários com os serviços da Agência Europeia de Segurança Marítima;
• Representar a DGAM em exercícios promovidos por entidades estrangeiras no
âmbito de acordos regionais ou de Defesa em matéria de combate à poluição
do mar;
• Representar a DGAM em todas as matérias que versem o Acordo de Lisboa,
nomeadamente na Comissão Técnica
Permanente do Centro Internacional de
Luta Contra a Poluição no Atlântico Nordeste (CILPAN);
• Acompanhar e dar parecer, em matéria
de atividades que sejam desenvolvidas
em espaços integrantes do Domínio Pú-
18
DEZEMBRO 2015
blico Marítimo (DPM) ou em águas sob
soberania ou jurisdição nacional, e que
sejam suscetíveis de ocasionar incidentes de poluição por hidrocarbonetos ou
outras substâncias nocivas;
• Gerir todos os recursos materiais e humanos dedicados ao combate à poluição
do mar, garantindo, respetivamente, a
sua operacionalidade, adestramento e
treino.
• Assessorar o DT e, no aplicável, as Capitanias dos Portos, em matéria de salvação
de navios, embarcações e equipamentos.
ACORDOS INTERNACIONAIS
DE COOPERAÇÃO
Com o objetivo de contribuir para a elaboração e o estabelecimento conjunto de
linhas diretivas, sobre os aspetos práticos,
operacionais e técnicos de uma ação conjunta contra a poluição do meio marinho
por hidrocarbonetos e outras substâncias
nocivas, e de reforçar a capacidade de
assistência recíproca e facilitar a cooperação, em particular nos casos de urgência,
quando o perigo para o meio marinho é
considerado grave, Portugal integra um
conjunto de acordos internacionais de
cooperação em matéria de combate a
grandes incidentes de poluição, donde se
destaca o Acordo de Lisboa.
ANÉMONA 2015
Os exercícios que ocorrem no âmbito do
Plano Mar Limpo têm por objetivo testar
e exercitar procedimentos que contribuam para o garante do estado de prontidão
operacional dos órgãos locais, regionais e
centrais da Autoridade Marítima Nacional
como agentes de Proteção Civil nas suas
áreas jurisdicionais e respetiva articulação com outros agentes e organismos de
Proteção Civil bem como com os restantes
ramos das Forças Armadas.
Assim, desde 1999 que o PML tem vindo a ser testado na vertente operacional,
quer ao nível procedimental quer do comando e controlo ou das comunicações,
através da realização, numa base anual,
de exercícios de simulação de combate
a derrames de hidrocarbonetos no continente e ilhas, envolvendo outros organismos das administrações locais, regionais
e centrais com responsabilidades na área
da proteção civil.
Inserido neste âmbito, o Exercício de
Combate à Poluição do Mar, “Anémona
2015”, promovido pela Autoridade Marítima Nacional, realizou-se no passado dia
14 de maio, em Matosinhos, tendo permi-
REVISTA DA ARMADA | 502
tido às autoridades e organismos com responsabilidade e competências nesta matéria, testar, validar e aperfeiçoar os seus
dispositivos de resposta para fazer face a
incidentes de poluição no mar.
A escolha de Leixões prendeu-se com a
importância estratégica da sua área portuária, em paralelo com as atividades desenvolvidas no terminal de cargas líquidas
da monoboia de Leça (GALP Energia), considerando os fatores de risco das atividades operacionais que lhe estão agregadas.
Este exercício, caracterizado ao nível
do 2º grau de prontidão do PML, integrou
ainda no seu Programa um Colóquio realizado no dia 13 de maio subordinado ao
tema “O Combate à Poluição do meio Marinho e a Preservação do Ambiente”, no
Auditório principal da Administração do
Porto de Leixões, bem como duas ações
de formação para mais de 70 participantes de diferentes organismos.
No exercício “ANÉMONA 2015” simulou-se a contenção e a recolha de 750m3
de petróleo bruto, tipo Sarir, derramado
na sequência de uma falha estrutural no
sistema de descarga do navio que fazia a
trasfega através da monoboia.
Foi um exercício que contou com a participação de cerca de 36 organismos e instituições e que levou mais de 4 meses a
ser preparado.
Tendo em conta a dimensão do derrame, foi simulado na ferramenta CECIS
(Common Emergency Communication and
Information System) um pedido de apoio
internacional aos restantes Estados Membros da EU (este procedimento, por ser
moroso, foi realizado no dia 5 de maio).
Estiveram diretamente envolvidas mais
de 300 pessoas, mais de 100 observadores, 53 dos quais, no mar, 1 avião C295M
da Força Aérea Portuguesa (FAP), 1 navio
da rede de navios de resposta a incidentes de poluição protocolados pela Agência
Europeia de Segurança Marítima, EMSA, 1
navio de combate à poluição da organização espanhola SASEMAR, 2 rebocadores
da empresa “TINITA”, 2 navios da Marinha
para transporte de Observadores (NRP D.
Carlos I e NRP Quanza) e ainda um veículo
aéreo não tripulado (AUV) do grupo TEKEVER. O exercício contou ainda com mais
de 12 embarcações de apoio, cerca de 20
viaturas em ação logística e 33 equipamentos no terreno.
A participação de um conjunto de meios
navais, quer nacionais quer internacionais, bem como a presença do meio aéreo
da FAP, deram uma dimensão, expressão
e projeção de alto relevo a este exercício.
O “Anémona 2015” contou com uma
elevada diversidade de cenários (terra,
praia, área portuária e no offshore) e mul-
tiplicidade de atividades desenvolvidas,
quer ao nível tecnológico e científico (modelação de deriva, voo com drones, etc.)
quer ao nível do socorro de mamíferos ou
de evacuação de feridos.
Os resultados alcançados foram extremamente positivos, tendo-se atingido uma
elevada taxa de sucesso em termos dos objetivos alcançados e que foram previamente estabelecidos para este exercício.
A região Norte ficou mais rica e o mar
mais protegido fruto da articulação, cooperação, criação de sinergias, rede de
contactos e do conhecimento mútuo
que foi obtido entre todas as entidades
envolvidas que, sem dúvida, constituem
um dos maiores fatores de sucesso deste
exercício e pilares para a construção do
futuro.
Colaboração do
SERVIÇO DE COMBATE À POLUIÇÃO DO MAR
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CAPITÃO-DE-MAR-E-GUERRA
BALDAQUE DA SILVA
(1852 - 1915)
BIOGRAFIA
António Artur Baldaque da Silva nasceu em Lisboa a 28 de dezembro de 1852 e assentou praça na Armada como Aspirante Extraordinário a 17 de outubro de 1870.
Tendo embarcado em diversos navios em missão no Continente e no Ultramar, percorreu a África, o Extremo-Oriente e a América do Sul.
Em 24 de agosto de 1878, foi mandado apresentar-se ao Diretor-geral dos Trabalhos Hidrográficos, sendo colocado a coadjuvar os trabalhos geodésicos nacionais. No ano seguinte inicia o
Curso de Engenheiro Hidrógrafo na Escola Politécnica, que conclui em 1881.
Em 1882 publica, às suas custas, a sua primeira obra, Sondas
e Marés, que pretende ser um manual de referência para os levantamentos hidrográficos que eram realizados pelos oficiais de
Marinha durante as suas comissões no Ultramar.
A 8 de abril de 1884, recebe aquela que será a sua primeira
e maior tarefa no âmbito específico da Hidrografia: proceder à
organização do Roteiro das Costas e Portos do Continente do Reino, missão que o vai ocupar durante mais de dois anos. Dos seus
trabalhos resulta a publicação, em 1889, do Tomo I – Roteiro Marítimo da Costa Occidental e Meridional de Portugal, referente à
costa do Algarve.
Entretanto, entre 11 de maio e 7 de setembro de 1886, faz
parte dos trabalhos da Comissão de Limites Luso-Espanhola para
a Zona Marítima e em 25 de Novembro desse ano é mandado
efetuar o levantamento urgente da planta hidrográfica da costa
entre o Cabo Espichel e Setúbal, na parte onde se encontravam
as armações da pesca da sardinha, naquela que foi a sua primeira
tarefa oficial no âmbito das pescas.
Em 4 de junho de 1889 é nomeado vogal da Comissão das Pescarias, onde, durante oito anos e graças, em boa parte, aos profundos conhecimentos na matéria que adquirira nos anos de atividade hidrográfica, desenvolverá um trabalho de reconhecido mérito, organizando os serviços, dirigindo inquéritos e, no âmbito da
elaboração daquela que será a sua obra mais conhecida, o Estado
Actual das Pescas em Portugal (1891), reunindo uma coleção de
modelos de embarcações e de aparelhos de pesca única no País.
Da sua ação, que o credita como uma autoridade nacional indiscutível na matéria, resultará um forte incremento no setor pesqueiro que, nos anos vindouros, não voltará, jamais, a ter paralelo.
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Em 1891, ano em que é promovido a Capitão-Tenente, faz parte
da Comissão das Obras do Porto de Lisboa para modificar o projeto
primitivo, de modo a torná-lo melhor e mais económico (em 1888
publicara no Commercio de Portugal uma série de artigos a criticar
as obras em curso). Não era a sua primeira incursão em projetos
de âmbito portuário, pois já em 1885, fruto do seu levantamento
da costa algarvia (assim como dos seus conhecimentos da ondulação, dos ventos e das correntes marítimas), se apercebera da necessidade de dotar o Algarve de um porto de abrigo, concebendo,
então, o projeto de um porto junto à Ponta do Altar. Começava, já,
a desenvolver uma visão própria para o desenvolvimento integrado do território português, baseada no estabelecimento de uma
cadeia de portos estratégicos (em que viria a incluir, mais tarde, o
projeto de porto oceânico do Cabo Mondego) e de um sistema de
navegação interior (que concebera em 1890).
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Em 1892 organizou a representação marítima portuguesa na Exposição Colombiana de Madrid, onde se inclui, com
grande destaque, a sua coleção de modelos de embarcações
e de aparelhos de pesca. Para a ocasião, de modo a contribuir
para a divulgação dos Descobrimentos Portugueses no exterior e para que estes não surjam apagados face às celebrações
espanholas, apresenta duas obras: O Descobrimento do Brasil
por Pedro Álvares Cabral e Notícia Sobre a Náo São Gabriel em
que Vasco da Gama Foi pela Primeira Vez à Índia. Oito anos
mais tarde efetuaria a coleção e organização da secção de pescarias nacionais da Exposição Universal de Paris.
Em 29 de novembro de 1892, recebe guia para o Ministério
das Obras Públicas, onde permanecerá em comissão especial
até ao fim da sua carreira de Marinha. No mesmo mês, é nomeado para a recém-criada Comissão Central de Piscicultura,
onde, durante cinco anos, organiza os serviços, desempenha
as funções de relator do regulamento de pesca em águas interiores e de inspetor dos Serviços de Exploração das Águas
Interiores, e concebe a primeira estação aquícola em Portugal:
a estação aquícola do Ave (que será construída em 1898). É
nomeado inspetor dos Serviços Aquícolas em 1909.
Por decreto de 16 de março de 1910 foi promovido ao posto
de Capitão-de-Mar-e-Guerra, com efeitos retroativos desde
27 de novembro de 1908. No entanto, a sua saúde debilitava-se, pelo que a 11 de dezembro de 1911 requereu a reforma
por motivos de doença. Continuou, porém, em funções no Ministério das Obras Públicas.
Proclamada, entretanto, a República, e uma vez reformado
da Marinha, Baldaque da Silva é convidado pela delegação do
partido Republicano da Figueira da Foz a assumir uma postura
política mais ativa. Passa, então, a discursar frequentemente
em congressos e reuniões do partido, onde revela os seus dotes de orador e a sua capacidade de galvanizar as multidões. É
por esta altura que apresenta ao Congresso da República um
projeto de construção de um porto oceânico no Cabo Mondego, projeto esse incluído num plano de desenvolvimento
integrado da Região Centro, que, infelizmente, nunca verá a
luz do dia.
Em 1914, colocado à frente da Comissão Municipal Republicana, foi eleito senador do Congresso pelo distrito de Coimbra.
Na sequência da sua doença, viria a falecer, em Lisboa, a 21
de agosto de 1915.
celebrar baldaque da silva
A figura de Baldaque da Silva já foi alvo de algumas homenagens, das quais se destacam a atribuição do seu nome a um navio
hidrográfico (1949), a um curso da Escola Naval (1988) e a uma
rua de Lisboa (2005). Em 2002, ano em que se completaram 150
anos sobre a data oficial do seu nascimento, foram adquiridos pela
Comissão Cultural de Marinha os originais das aguarelas reproduzidas na sua obra-prima O Estado Actual das Pescas em Portugal,
as quais foram colocadas em exposição no Museu de Marinha. No
ano seguinte, a Câmara Municipal da Figueira da Foz dedicou-lhe
uma sessão solene, durante a qual foi lançada a sua biografia, Baldaque da Silva: um Olhar Completo1.
No entanto, nunca é de mais evocar a sua vida e obra, sobretudo na altura em que se assinala um século passado sobre a data
do seu desaparecimento físico. Num país que, mais do que nunca,
precisa de reencontrar-se com o seu mar, é útil recordar um homem que teve uma visão para o desenvolvimento integrado da
terra em que nasceu, a qual passava pelo fomento das pescas, pela
exploração de novas atividades económicas de índole marítima,
pelo melhoramento da infraestrutura portuária e pela abertura de
novas vias de comunicação através da rede hidrográfica nacional.
Deste vasto legado, ficam, em jeito de súmula, as palavras com
que o curso que o tem por patrono assinalou, em outubro de 2013,
numa placa de bronze, os 25 anos da sua entrada na Escola Naval:
“Seguindo o sonho do Homem que, por amar a sua terra, a quis
unir ao Mar”.
Moreira Silva
CFR
Para saber mais…
• SILVA, Jorge Manuel Moreira, Baldaque da Silva: um Olhar Completo, C.
M. Figueira da Foz, Cadernos Municipais (38), 2003.
• SILVA, Jorge Manuel Moreira, “Tributo a um Herói Esquecido”, Revista
da Armada, nº 360, Janeiro de 2003, pp. 10-13.
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
Notas
Entretanto esgotada, mas que pode ser consultada na Biblioteca Nacional, na Biblioteca Central de Marinha ou na biblioteca da Escola Naval.
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INSTITUTO DE SOCORROS A NÁUFRAGOS
BALANÇO DA ÉPOCA BALNEAR
N
o passado dia 1 de outubro, o Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) apresentou o balanço da época balnear de
2015, onde realçou a envolvência dos diversos projetos desenvolvidos com os parceiros institucionais na vertente da
responsabilidade social, nomeadamente a Fundação Vodafone, a SIVA e o LIDL. Estes parceiros contribuíram decisivamente para que Portugal, na vertente da segurança balnear, se
encontre novamente posicionado nos primeiros dez países do
mundo com as menores taxas de mortalidade por afogamento, nas suas zonas balneares de jurisdição marítima.
Com o apoio da Fundação Vodafone, foram desenvolvidas
54 ações de sensibilização nas praias e escolas de ensino básico. Outro dos apoios, a rede VPN (Virtual Private Network)
para os nadadores-salvadores, permitiu a comunicação entre
estes e as autoridades locais, contribuindo para uma maior
eficácia na assistência a banhistas. As motos de água e as motos 4x4 doadas pela Vodafone permitiram o empenhamento
dos nadadores-salvadores em 126 operações de salvamento,
583 assistências de primeiros socorros e 39 buscas com sucesso a crianças perdidas nos areais.
Com o apoio do Lidl Portugal, foi possível realizar 61 ações
de “Surf Salva”, que vieram contribuir para que a comunidade
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dos surfistas, cerca de 150 mil praticantes, estivesse mais preparada para salvar em segurança.
O apoio que o ISN recebeu da SIVA Portugal, complementado com o apoio da Marinha à Autoridade Marítima através da
disponibilização de 82 militares Fuzileiros para operarem as
viaturas Amarok cedidas temporariamente, possibilitou que
fossem desenvolvidas várias ações destacando-se 595 intervenções de assistência a banhistas, 742 assistências de primeiros socorros e 62 buscas com sucesso a crianças perdidas
nos areais.
Neste ano há a registar um total de sete acidentes mortais,
sendo apenas um caso em praia vigiada e os restantes seis
casos em praias não vigiadas, ou seja, os resultados obtidos
são semelhantes aos da época transata.
Para que a época balnear decorresse normalmente, foi necessário certificar previamente os nadadores-salvadores; neste propósito, durante o ano de 2015, o ISN certificou 2671
novos nadadores-salvadores para o acesso à profissão de
nadador-salvador, oriundos de 93 cursos ministrados por estabelecimentos de ensino reconhecidos pelo ISN.
Colaboração do ISN
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BRAVURA, GENEROSIDADE
E SOLIDARIEDADE
É
na orla marítima que os naufrágios mais impressionam, pelo
dramatismo das situações daqueles que necessitam de salvamento e pela bravura, generosidade e solidariedade dos que
prestam socorro.
Embora tenha abordado este tema há anos na Revista da Armada, resolvi recuperar alguns breves extractos do texto então
publicado, para salientar a notável acção de salvamento realizada pelo Agente 1ª Classe da Polícia Marítima (PM) Silva Santos,
no dia 6 de Outubro de 2015, à entrada do porto da Figueira da
Foz, onde naufragou a embarcação de pesca “Olívia Ribau”.
Os grandes heróis do salvamento de náufragos sempre foram
Homens extremamente determinados, altruístas e caridosos.
Quando se tratou de auxiliar o seu semelhante, sob
condições adversas de mar e correndo sérios riscos de
vida, realizam façanhas de ímpar valentia, que os imortalizam, não só pelo esforço, pelo sentimento de amor
e pela fidelidade que demonstraram, mas, também,
pela firme obediência que revelam à obrigação de proteger quem, num momento de suprema aflição, deles
necessitou. Muitas vezes, quando outros recuaram, eles
decidiram fazer-se ao mar em pequenas embarcações,
liderando com firmeza e saber o seu pessoal, no salvamento daqueles que já perderam a esperança de ser
socorridos.
Estes actos excepcionais só são realizados por pessoas com uma invulgar vontade, firmeza de propósito e
resolução. Também exigem extraordinários sentimentos altruístas, fundados na bondade e na sensibilidade
para a iminência do fim trágico de vidas e para o desejo
inquebrantável de o evitar. Tais gestos só são possíveis
a quem, como o Agente PM Silva Santos, por amor à condição
humana, sente o ímpeto moral de salvar os outros, sem esperar
outra recompensa para além da satisfação do dever cumprido.
Encontrando-se na Costa de Lavos, de licença na sua residência, ao tomar conhecimento, pelo Comando Local da Polícia Marítima da Figueira da Foz, do acidente da embarcação “Olívia Ribau”, disponibilizou-se, de imediato, para participar na acção de
socorro aos náufragos. Ciente de que não era essa a sua estrita
obrigação funcional, mas consciente, também, de que o resgate
de uma vida se tem que sobrepor, em qualquer momento, circunstância ou cenário, ao estrito enquadramento estatutário que
configura uma profissão, o Agente Silva Santos soube, no imediato, dar prioridade ao interesse público e à acção que era requerida, e que correspondia a uma situação em absoluto estado de
necessidade.
Perante a gravidade da situação, com uma balsa salva vidas na
água, na boca da barra, e com o arrastão já afundado junto à
extremidade do molhe exterior sul, considerou reunidas as condições mínimas para resgatar náufragos, e solicitou o transporte
para o local de estacionamento da mota de água da Polícia Ma-
rítima da Figueira da Foz, a fim de a utilizar na acção de salvamento.
O seu trabalho foi complexo e arriscado, forçando à realização
de várias tentativas de aproximação à balsa salva vidas, tendo sentido dificuldades no seu avistamento, face à forte e alterosa ondulação no local do acidente e à reduzida visibilidade, por ser já de
noite. Repetidas vezes foi forçado a regressar ao abrigo de entre os
molhes da barra, face à violência do mar. Porém, de forma corajosa e abnegada, a actuar no limite do risco pessoal, o Agente PM
Silva Santos conseguiu alcançar a balsa salva vidas e recolher dois
tripulantes, ainda com vida, tendo-os resgatado para terra, sãos
e salvos.
Nesta complexa e arriscada acção de salvamento, demonstrou
uma serena valentia. Serena, porque prudente nas acções realizadas e no espírito imperturbável diante do perigo. Valentia,
porque não receou pela sua vida quando afrontou o mar muito
alterado.
A responsabilidade moral evidenciada pelo Agente PM Silva
Santos foi extraordinária!
Tudo subordinou ao movimento impetuoso e entusiástico da
sua alma para salvar vidas humanas, num gesto supremo de bravura, generosidade e solidariedade em prol dos náufragos.
António Silva Ribeiro
VALM
DGAM/CGPM
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
O Agente PM Silva Santos foi condecorado no dia 9NOV2015
com a Medalha de Coragem, Abnegação e Humanidade,
grau ouro, do Instituto de Socorros a Náufragos.
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TOMADAS DE POSSE
CONSELHO SUPERIOR DE DISCIPLINA DA ARMADA
P
residida pelo Almirante
CEMA, realizou-se no passado dia 6 de outubro, no salão
nobre do GABCEMA, a cerimónia de tomada de posse do
Conselho Superior de Disciplina
da Armada (CSDA), que passou
a ser composto pelo VALM RES
José Alfredo Monteiro Montenegro, que preside, CALM RES
José Carlos da Palma Mendonça,
CALM RES Henrique Lila Morgado, CALM Aníbal José Ramos Borges e
CALM RES José Arnaldo Teixeira Alves.
Lido o despacho de nomeação, o novo
Presidente proferiu uma alocução, salientando que o CSDA não atua diretamente sobre a disciplina no seu sentido
orgânico ou material, mas antes num
quadro mais afim dos princípios legais e
regulamentares em matéria disciplinar,
e que o seu fim último é apoiar os atos
decisórios do ALM CEMA/AMN que preveem o envolvimento do Conselho. Concluiu, afirmando, em nome de todos os
membros, que o CSDA está pronto e disponível para prestar ao ALM CEMA todo
o apoio que lhe seja requerido.
No uso da palavra, o ALM CEMA/AMN
relevou a importância do CSDA para a
Marinha, salientando que uma das suas
preocupações é garantir que as suas decisões nesta matéria tenham elevado
sentido de justiça, contando para tal com
o apoio do CSDA. Por fim agradeceu o
empenho do Presidente cessante, VALM
RES Oliveira Viegas, e desejou boa sorte
ao novo CSDA.
O VALM RES José Alfredo Monteiro Montenegro ingressou na EN em 1971, especializou-se em Artilharia, frequentou o International Principal Warfare Officer Course, no
Reino Unido, o CGNG, o Senior Course do Colégio de Defesa NATO e o Curso de Promoção
a Oficial General.
Como oficial subalterno, serviu durante 11
anos a bordo de várias UN’s, nas quais exerceu funções de Chefe de Serviço, Chefe de
Departamento de Operações e Imediato.
Em terra, no âmbito da Esquadra, foi Instrutor de Tática Naval, Chefe da Secção de
Instrução e Treino do CN, em acumulação
com o cargo de Oficial de Ligação ao Flag Officer Sea Training. Comandou a Esquadrilha de
Helicópteros de 1996 a 1999.
No mar, comandou o NRP Honório Barreto e o NRP Corte Real, com o qual integrou a
Standing Naval Force Atlantic como navio-almirante. Foi ainda Chefe do Estado-Maior da
European Maritime Force (EUROMARFOR).
Foi adjunto da Marinha na Missão Militar
NATO em Bruxelas. Em setembro de 2006,
assumiu funções como Chefe da Divisão de
Informações do EMA.
Como oficial general, exerceu os cargos de
Chefe do Gabinete do CEMA e de Comandante Naval.
SUBDIRETOR DO ABASTECIMENTO
N
o dia 29 de setembro tomou
posse como Subdiretor do
Abastecimento, o CMG AN Alves
Domingos, em cerimónia que
decorreu na Direção de Abastecimento (DA), presidida pelo CALM
Diretor do Abastecimento, tendo
contado com a presença de outros oficiais generais, ex-diretores, oficiais, convidados militares,
civis e toda a guarnição da DA.
A cerimónia iniciou-se com a leitura do
louvor concedido ao Subdiretor cessante,
CMG AN Dias Gonçalves, pelo CALM Diretor do Abastecimento, publicado na Ordem do Dia à Unidade. Após a leitura da
ordem, o Subdiretor empossado usou da
palavra, referindo alguns pontos cruciais
da atividade da DA.
“Na envolvente atual de progressiva escassez de recursos humanos e financeiros,
a DA tem evidenciado ser uma organização dinâmica e flexível, capaz de incorporar novos processos que potenciam o seu
desempenho, mantendo-a num patamar
que a permite referenciar como um orga-
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nismo de excelência nas diferentes funções do Abastecimento.”
“A evolução de uma cadeia logística assente em volumes de stocks elevados para
uma mais dinâmica, em parte induzida
pela escassez de recursos financeiros que
impossibilita a manutenção de níveis elevados de existências, deve continuar a ser
conduzida de forma inteligente, garantindo a satisfação atempada das necessidades da Esquadra.”
De seguida o CALM Diretor do Abastecimento proferiu um discurso. A cerimónia
terminou com a apresentação de cumprimentos individuais ao novo Subdiretor.
O CMG AN Nelson Alves Domingos ingressou na EN em 1984, tendo sido promovido a
Guarda-marinha em 1989. Entre 1989 e 1995
desempenhou funções de Chefe do Serviço
de Abastecimento a bordo de navios operacionais, tendo participado na receção do NRP
Bérrio e integrado a 1ª guarnição do navio.
Prestou funções na DA, primeiro como Chefe da Secção de Contratos Especiais e depois
como Chefe Interino da Repartição de Obtenção. Tendo destacado em finais de 1999 para
a Chefia do Serviço de Apoio Administrativo
(CSAA), foi Chefe da Repartição de Contabilidade e Finanças. Em 2001 foi nomeado para
o Departamento Marítimo da Madeira, em
acumulação com o Comando da ZMM, onde
desempenhou as funções de Chefe dos Serviços Administrativos e Financeiros. Em 2004,
na CSAA, assumiu o cargo de Chefe da Repartição do Património e, mais tarde, o de Chefe da
Repartição de Vencimentos e Abonos. Entre
2008 e 2010 foi docente na EN das cadeiras da
área de Logística e Abastecimento. Desempenhou funções no EMGFA, como Chefe da Repartição de Finanças, onde participou no grupo de trabalho “Nova Estrutura de Comandos
NATO”. Em 2014, dirigiu a Direção de Auditoria
e Controlo Financeiro da Marinha.
Possui o curso “Foreign Officers Supply
Course” da “US Navy Supply Corps School”
(1995), o Curso Geral Naval de Guerra (1998)
e o Curso de Promoção a Oficial General
(2014/2015). Em 2002 obteve o grau de mestre em Estudos Africanos, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.
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ENTREGAS DE COMANDO
ESQUADRILHA DE ESCOLTAS OCEÂNICOS
N
o dia 7 de setembro, decorreu na
Esquadrilha de Escoltas Oceânicos a
cerimónia de entrega de comando desta
unidade, presidida pelo Comandante Naval, VALM Pereira da Cunha. Assistiram à
cerimónia diversas entidades da Marinha,
incluindo alguns ex-comandantes desta
esquadrilha.
O comandante cessante, CMG Gonçalves Alexandre, exerceu o comando da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos durante
33 meses, tendo acumulado, desde 16 de
outubro de 2014, as funções de Comandante da Força Naval Portuguesa (COMPOTG). No seu discurso, manifestou o seu
reconhecimento às diversas entidades da
Marinha que colaboraram com a esquadrilha no aprontamento e sustentação logística das unidades navais dependentes.
Seguiu-se a alocução do comandante
empossado, CMG Oliveira Silva, tendo salientado a honra e satisfação pessoal que
sentia por ter sido nomeado para este
novo cargo, quer pela confiança que lhe
foi depositada quer pela proximidade à
esquadra.
Usou ainda da palavra o VALM Comandante Naval, que evidenciou os desafios
que se avizinham com a restruturação na
área do Comando Naval, nomeadamente
com a criação da nova Esquadrilha de Navios de Superfície, que juntará as atuais
Esquadrilhas de Escoltas Oceânicos e Esquadrilha de Navios Patrulhas.
FORÇA NAVAL PORTUGUESA
E
m 16 de outubro, presidida pelo Comandante Naval, VALM Pereira da
Cunha, ocorreu a bordo do NRP Vasco da
Gama, na BNL, a cerimónia de entrega
de comando da Força Naval Portuguesa
(FNP) e do Grupo Tarefa 443.20, do CMG
Gonçalves Alexandre ao CMG Oliveira Silva. Das diversas entidades civis e militares
presentes, destacam-se os representantes
do Comando Conjunto Para as Operações
Militares, incluindo o comandante da Força de Reação Imediata, comandantes de
unidades navais, de fuzileiros e mergulhadores que integram atualmente este Gru-
po Tarefa, bem como antigos Comandante da Força Naval.
Após um ano de comando, o CMG Gonçalves Alexandre, no seu discurso de despedida, agradeceu aos organismos e unidades que apoiaram a força naval e ao seu
estado-maior, relembrando as principais
atividades operacionais executadas pela
FNP, em especial a concretização inédita
do processo de certificação do seu estado-maior, primeira prioridade que estabelecera quando foi empossado neste cargo.
Após receber o “comando, ordens e
instruções”, o CMG Oliveira Silva usou da
O CMG Carlos Manuel Parreira Costa Oliveira Silva nasceu em 1964, em Lisboa, tendo
ingressado na EN em 1981, concluindo o curso
de Marinha em 1986. Especializado em Comunicações e Guerra Eletrónica, desempenhou
funções de Chefe do Serviço de Comunicações
dos NRP´s General Pereira D’Eça, Afonso Cerqueira e Vasco da Gama, de Chefe do Departamento de Operações do NRP Álvares Cabral
e comandou o NRP Bérrio. Desempenhou as
funções de Chefe do Estado-Maior da força naval da União Europeia na missão de combate à
pirataria no Oceano Índico.
Fez parte do estado-maior embarcado do
Comandante da Força Naval Portuguesa entre 1997 e 1999, tendo ainda participado nas
operações CRUZEIRO DO SUL (Angola), SHARP
GUARD (Mar Adriático), CROCODILO (Guiné-Bissau) e ATALANTA (Oceano Índico), bem
como em três ações de treino operacional no
Reino Unido sob a égide do Flag Officer Sea
Training.
Em unidades em terra, prestou serviço na
ETNA, CITAN, EMA, Comando Naval, Supreme
Headquarters Allied Powers Europe (Bélgica) e
Allied Joint Force Command Lisbon.
palavra referindo a importância crescente da FNP na componente operacional
do sistema de forças orientada para missões de natureza individual ou conjunta
para o cumprimento de eventuais ações
militares autónomas de âmbito nacional,
reafirmando a necessidade de elevar os
padrões e nível de ambição desta força.
No final, o VALM Comandante Naval
transmitiu ao CMG Oliveira Silva a total
confiança na ação de comando da FNP, referindo as suas prioridades para a esquadra e consequentemente para este Grupo
Tarefa que decorrem da conjuntura internacional atual e dos objetivos da política
de defesa nacional estabelecidos.
Terminada a cerimónia, seguiu-se um
Porto de Honra, onde foram reiterados os
votos de maiores sucessos.
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NOTÍCIAS
DIA DO FUZILEIRO 2015
A
sétima comemoração do “Dia do Fuzileiro” realizou-se na Escola de Fuzileiros (EF) a 4 de julho, contando com mais
de mil participantes. Sob o lema “Fuzileiro
uma vez, Fuzileiro para Sempre!”, é uma
oportunidade de regresso à Casa Mãe de
todos os que serviram nos Fuzileiros desde 1961, acompanhados de familiares e
amigos.
Como sempre, foi disponibilizada a prática da Pista de Lodo, local icónico da EF, e
ainda passeios de LARC, botes e LAR.
Com o apoio da Associação de Fuzileiros,
sob o tema “A Educação Física na Escola de
Fuzileiros”, foi inaugurada uma Placa Toponímica no (agora renovado) Ginásio e uma
exposição fotográfica, homenageando o
primeiro responsável pela Educação Física
na EF, o Cmdt. Santos Patrício.
No Museu do Fuzileiro, com o apoio
da Associação de Modelismo de Almada,
decorreu uma exposição e um workshop
de modelismo, relacionados com os Fuzileiros e a Marinha. Com a colaboração
da Direção de Transportes decorreu ainda
uma exposição de viaturas
museológicas da Marinha.
Antecedendo a missa decorreu a Cerimónia Militar.
Em parada estavam a Fanfarra da Armada, o Bloco
de Estandartes Nacionais
do Corpo de Fuzileiros, os
Guiões das antigas e atuais
Unidades de Fuzileiros, do
Batalhão Ligeiro de Desembarque, da Associação de
Fuzileiros e suas Delegações, a Companhia de Apoio
de Fogos, a dois pelotões e
um pelotão de antigos combatentes da
Associação de Fuzileiros. Foram homenageados os que servem e serviram o Corpo
de Fuzileiros, seguindo-se a Cerimónia de
Homenagem aos Mortos em Defesa da
Pátria, com deposição de coroa de flores
no monumento do Fuzileiro, lembrando
os camaradas que nos deixaram.
No seu discurso, o Presidente da Associação de Fuzileiros, CMG FZ António
Ruivo, referiu: “Comemoramos hoje, …
na “Casa Mãe”, …por onde entrámos para
servirmos Portugal na Marinha e nos Fuzileiros". O Comandante do Corpo de Fuzileiros, CALM Sousa Pereira, disse que
“O Dia do Fuzileiro é sobre pessoas: …Ser
fuzileiro é ser Homem, define um grupo e
descreve uma missão na vida.
Colaboração da ESCOLA DE FUZILEIROS
CURSO "D. DUARTE DE ALMEIDA" | 60 ANOS
R
ealizou-se no dia 8 de outubro a comemoração de entrada na Escola Naval (EN) há 60 anos dos cadetes do curso
“D. Duarte de Almeida”.
À chegada, os antigos 14 cadetes
acompanhados de dois dos seus professores, CALM ECN Rogério d´Oliveira e
CMG Limpo Serra, foram surpreendidos
com um diaporama alusivo ao curso.
Recebidos pelo CALM Bastos Ribeiro,
Comandante da EN, acompanhado do
Corpo Docente, os ex-cadetes, na sala
AORN, assinaram o Livro de Honra e
consultaram a documentação do Curso
na sua passagem pela EN. Na ocasião, o
VALM Brito e Abreu obsequiou a Escola
com um estojo de medalhas comemorativas alusivas à vela, apresentando, em
nome do Curso, os cumprimentos ao Comandante da EN.
Foi celebrada missa pelo capelão, em
intenção dos nove elementos já falecidos, entre os quais o comandante Oliveira e Carmo. No átrio do internato descerrou-se a placa comemorativa. Foram
visitados a Biblioteca e o Museu Escolar.
26
DEZEMBRO 2015
No auditório, o Comandante
da EN referiu a missão, organização, cursos ministrados,
valências e ligações aos diversos programas curriculares
de universidades nacionais e
estrangeiras. Seguiu-se a visita ao moderno simulador de
navegação.
Seguiu-se uma alocução
dirigida ao Corpo de Alunos,
pelo CALM Pereira Germano, em formatura na parada,
salientando que a opção e
a escolha de servir o país na
Armada recolhe desta instituição valores, princípios e uma
forte cultura organizacional, valores esses que por certo como cadetes trazeis
convosco e que devereis reforçar e mesmo exibir. Cadetes: sejam diferentes, assumi a verticalidade como estatuto que
hoje falta em grande parte da sociedade.
A terminar, exorto-vos para sempre respeitarem e cumprirem os princípios da
ética castrense ao longo da vossa carrei-
ra. Seguiu-se o desfile do Corpo de Alunos em continência ao Comandante da
EN e aos ex-cadetes visitantes.
A visita terminou com um almoço. O
CALM Joel Pascoal, em nome do curso,
agradeceu o empenho colocado na organização do evento.
Colaboração do CURSO "D. DUARTE DE ALMEIDA"
REVISTA DA ARMADA | 502
N
o âmbito do protocolo de colaboração de 30 de abril de 2015 entre a
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a
Marinha, iniciaram-se em agosto os trabalhos na Capela de São Roque.
A intervenção abrange a pintura mural,
a madeira e talha dourada, os azulejos,
os estuques e a pedra e tem conclusão
prevista para maio de 2016. A fiscalização
técnica está a cargo da Direção de Infraestruturas e da Direção-Geral do Património
e Cultura.
A construção iniciou-se em 1761, após
o terramoto de 1755, por ordem do Marquês de Pombal (projeto do arquiteto
Eugénio dos Santos e Carvalho) inserida
no edificado do então Real Arsenal da
Marinha. Em 1913 foi desafeta do culto e
passou a pertencer à Associação dos Socorros Mútuos, instalando-se nela o Cofre
da Providência dos Artistas Arsenalistas
(1928 a 1955). Em 1952 foi decidida a sua
reafetação, o que ocorreu em 1955. Em
1999 sofreu uma beneficiação
exterior (eliminação das infiltrações de água) substituindo-se as
janelas da fachada e a cobertura
e recuperando a porta. Em 2013
restaurou-se a tela a óleo atribuída a José da Costa Negreiros.
A Capela apresenta uma configuração singular, com uma
planta de reduzidas dimensões
e um acentuado desenvolvimento vertical, rematado superiormente em abóbada de barrete de
clérigo, com molduras de estuque trabalhado e pinturas marmoreadas. O interior
é dominado pelo altar realçado pelo retábulo em talha dourada, destacando-se
nas paredes diversos elementos compositivos de pintura decorativa.
O seu estado de conservação apresenta
alguma degradação, em especial os estuques e pintura. A parede que dá para o exterior é a situação mais grave. Os painéis
Foto SMOR L Almeida Carvalho
CONSERVAÇÃO E RESTAURO DA CAPELA DE SÃO ROQUE
de azulejo e de madeira estão, globalmente, em bom estado.
Este trabalho insere-se num projeto de
maior dimensão, já referenciado em números anteriores desta revista, no qual
a Marinha, com o apoio de terceiros,
pretende ver requalificados os espaços
culturais das Instalações Centrais de Marinha.
Colaboração do COMANDO DA UAICM E DI
CONVÍVIOS
NRP COMANDANTE JOÃO BELO
R
ealizou-se no dia 19 de setembro, na BNL, o 3º Encontro Nacional de Marinheiros que integraram as guarnições da fragata Comandante João Belo entre 1967 e 2008. Estiveram presentes 79 marinheiros das diversas guarnições, acompanhados de
familiares e amigos. Foi um dia de muitas alegrias e, para aqueles
que não se viam há décadas (alguns mais de quatro) foi um dia
pleno de emoções. Um dos pontos altos deste evento foi a visita patrocinada pela Marinha à fragata Vasco da Gama, onde os
convivas puderam perceber a grande evolução, especialmente
tecnológica, da Marinha moderna.
"FILHOS DA ESCOLA" SETEMBRO DE 1962
R
ealizou-se no dia 26 de setembro o convívio
do 53º aniversário da incorporação dos “Filhos da Escola” de setembro de 1962.
O convívio iniciou-se com a concentração na
BNL, seguida de uma visita aos NRP’s Bartolomeu Dias e Vasco da
Gama.
Antes do almoço, que decorreu no Restaurante “Quinta do Cor-
deiro”, em Vale de Milhaços, foi prestada uma homenagem a todos
os Marinheiros já falecidos.
De referir a presença de três camaradas que, pela primeira vez, estiveram presentes, bem como a despedida de um “Filho da Escola”,
radicado na Irlanda que, durante 15 anos, esteve sempre presente.
O convívio decorreu em ambiente de sã camaradagem onde não
se deixou de recordar os bons tempos passados na Briosa.
DEZEMBRO 2015
27
REVISTA DA ARMADA | 502
ESTÓRIAS
17
"SENHOR IMEDIATO!
NÓS VAMOS BUSCAR O RAPAZ."
E
sta exclamação não diz nada, não faz sentido. Contudo, ainda
hoje, passados 65 anos, ela me ocorre com o mesmo efeito então
produzido. Eu explico:
Açores, Ponta Delgada. Contratorpedeiro NRP Dão em comissão
de serviço. Era seu Comandante o CTEN Jerónimo Henriques Jorge e
Imediato o 1TEN Alfredo de Oliveira Baptista, oficial muito dinâmico,
andar desenvolto, pelo que a guarnição o apodava de Fred Astaire.
É sabido que os imediatos fazem as guarnições e esta era uma boa
guarnição.
Corria o ano de 1950. Fins de Maio. Uma chamada urgente para irmos ao encontro da Sagres que se encontrava a cerca de quatrocentas milhas para Sudoeste, em viagem de instrução de cadetes, e tinha
a bordo um grumete que necessitava de urgente hospitalização.
E lá fomos ao seu encontro. Sob uma baixa pressão, o tempo apresentava-se muito feio, com vaga larga, cavada e chuva forte tocada a
vento de força 7 a 8, na escala de Beaufort.
O encontro fez-se por volta das 02h00. A Sagres estava já perto de
nós, por bombordo, a não mais de um quarto de milha. Estava em
árvore seca e, tal como nós, aproando à vaga.
Tirando o pessoal de serviço às máquinas, caldeiras, centrais e
ponte, a maioria da guarnição estava toda a bombordo agarrada aos
vergueiros da balaustrada e ao cabo de vaivém, indiferente à chuva
intensa que a castigava e na expectativa de ver chegar o doente que
a Sagres nos viria entregar.
Muitas comunicações pelos projectores de sinais e depois a notícia, dada pelo Imediato, de que a Sagres não arriscava o transbordo
do doente, dadas as péssimas condições do tempo.
Desapontamento e preocupação totais. E agora? É então que um
marinheiro artilheiro, visivelmente agitado, exclama: “Senhor Imediato! Nós vamos buscar o rapaz”.
De um pulo, o Imediato subiu à ponte de onde, sem demora,
trouxe um afirmativo e logo deu as ordens. Muita movimentação,
apitos do Mestre do navio, vivióóóóóó… vivióóóóóó…, e num instante a baleeira estava guarnecida, por primeiros e segundos marinheiros, que aquilo não era da competência de grumetes, numa
voluntariedade de que só gente camarada é capaz. Não houve escolha, género: tu, tu e tu. Lição de solidariedade e de fraternidade
que me ensinou a diferenciar logo ali, entre o que a respeito é dito
e escrito, banalidades, e o sentido real, o que é interiorizado para
todo o sempre.
Num ápice estavam os turcos fora e a baleeira a ser arriada, nos
cabos todos deram a mão, oficiais, sargentos e praças, num “todos
por um” e o apito do Mestre do navio a comandar a manobra. Baleeira a bater na água, num sobe e desce assustador, o desengate
das talhas em simultâneo, pois se falhasse um dos gatos, ou à proa
ou à popa, eram todos despejados.
Corri para o projector, estabeleci o arco voltaico, abri o diafragma e do seu espelho de 90 cm saíram projectados o equivalente a
5 milhões de velas que rasgaram a noite… e fez-se dia.
28
DEZEMBRO 2015
Não vou descrever, porque não o saberia fazer, mas apenas dizer que a baleeira ora desaparecia para tornar a aparecer, numa sequência arrepiante, de medo, de lágrimas que a chuva disfarçava.
A chegada à Sagres, o transbordo do doente, encharutado na sua
maca, o mesmo sofrimento no regresso, a chegada, a mesma preocupação com o engatar nas talhas e, finalmente, o içar da baleeira
com tal gana que os turcos estremeceram com o choque dos cadernais. O alívio.
Felizmente tudo acabou bem. O doente para a enfermaria, uns
abraços, umas palmadas fraternais, na verdadeira acepção da palavra. Satisfação geral. Dever e missão cumpridos.
Quem foi o patrão?, quem ia aos remos?, o proeiro? Os seus nomes? Já se varreram da minha memória, mas os seus rostos, não.
Esses, tenho-os ainda bem presentes. Visivelmente eufórico, orgulhoso, muito comovido e incontido, proferiu o Imediato estas belas,
justas e inesquecíveis palavras dirigidas àqueles bravos: “Pudesse eu
e para cada um de vocês mandaria erigir um monumento”. Palavras que arrepiaram todos à sua volta.
Sabe bem ouvir palavras certas no momento certo. Foi outra lição
de humildade dada pelo Imediato à sua guarnição. Sem esquecer o
nosso Comandante, pela rápida decisão humanista, por acreditar
nos seus marinheiros, e ainda a desapercebida acção dos homens do
leme e dos telégrafos, mantendo o navio nas melhores condições para
as manobras ora efectuadas e com este desfecho feliz. Chegados a
Ponta Delgada foi o doente levado para o hospital.
Todos temos lido algo sobre fraternidade, solidariedade, camaradagem e ficamos, julgamos nós, a saber o que isso quer dizer. Puro
engano. Esses atributos não passam do papel. A grande lição, a grande aula que foi dada, aliada à demonstrada naquela noite, não a li.
Foi real. Vivi-a. Porque só nos momentos difíceis se aprende a discernir estas diferenças.
Por tudo isto, o meu “muito obrigado” à Marinha onde me fiz homem, pelo que vi e aprendi no contacto com valentes “Filhos” de
todas as mães e de todas as “Escolas”, competentes, responsáveis,
honestos, camaradas, por ter navegado em todos os mares e pisado
todos os continentes habitáveis, pelo que sofri e, sobretudo, pelos
bons momentos. Que saudades… do mar.
Teodoro Ferreira
1TEN SG REF
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA | 496
MAIO 2015
27
REVISTA DA ARMADA | 502
79
VIGIA DA HISTÓRIA
SOCORROS A NÁUFRAGOS
Como é sabido, a criação, em 1858, na
cidade do Porto, da Real Casa Asilo dos
Náufragos resultou da constatação da
existência de muitos naufrágios na área
do Porto, naufrágios esses que, em muitos dos casos, acarretavam a perda de
muitas vidas humanas. Alguns anos depois, em 21 de Abril de 1892, a criação
do Real Instituto de Socorros a Náufragos
tinha como objectivo congregar todos os
serviços de Socorros a Náufragos existentes nos portos nacionais, e bem assim de
todos os que viessem a ser criados.
Estou em crer que ao eventual leitor
não lhe passará pela cabeça a existência
de serviços de Socorros a Náufragos em
locais que não sejam os portos nacionais
mas, no entanto, eles existiram e, contrariando o estipulado na Lei, fora da alçada
do Instituto de Socorros a Náufragos.
Na verdade, ainda em pleno século XX,
funcionava em Santarém o Grémio de Socorros a Náufragos cuja missão consistia,
especialmente durante as cheias anuais
do Tejo, no socorro a pessoas e bens afectados.
É importante, desde já, salientar a quase impossibilidade havida na obtenção de
elementos sobre esse organismo; no Instituto de Socorros a Náufragos o assunto
era totalmente desconhecido e na Câmara Municipal de Santarém muito pouco foi
possível saber do organismo em causa.
Analisada a situação de Santarém, com
um tráfego fluvial bastante significativo,
até porque grande parte das ligações com
a capital eram então garantidas através do
Tejo, sujeito a grandes inundações periódicas, a existência de um serviço de Socorros a Náufragos parece não ser de todo
descabida, muito antes pelo contrário.
Foi a dimensão do tráfego fluvial que levou a autarquia, em data que não foi possível conhecer, a criar um serviço de transporte entre as margens do Tejo, serviço
esse garantido por barcas, sendo as taxas
cobradas por tal serviço efectuadas na
Casa da Passagem. Eram exactamente essas barcas que, na ocorrência das cheias,
30
DEZEMBRO 2015
passavam a prestar socorro às pessoas e
bens por elas afectados.
Extinto que foi o serviço de passagem
entre as margens do Tejo, passaram as
barcas e os respectivos barqueiros a integrar o Grémio de Socorros a Náufragos
unicamente com a missão de socorro e
salvamento a náufragos, especialmente
aquando da ocorrência das cheias anuais.
Não foi possível conhecer qual a data
em que o Grémio deixou de funcionar,
nem tão pouco conhecer qualquer relato
das suas actividades e salvamentos efectuados, que deveriam ter existido, pois de
outro modo não teria grande justificação
a criação de um organismo para o efeito.
O leitor interessado poderá confirmar
parte do que se referiu consultando as
páginas da revista Ilustração Portuguesa
do ano de 1912, aí encontrando uma fotografia de Santarém, na qual se assinala
o Grémio dos Socorros a Náufragos; aí encontrará igualmente fotografias de vária
navegação, inclusive navios a vapor, na
Ribeira de Santarém.
Com. E. Gomes
Nota : O edifício do Grémio dos Socorros a
Náufragos ainda existe (em 2010), sendo
até há bem pouco tempo o local onde decorriam os ensaios do Rancho Folclórico da
Ribeira de Santarém.
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
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NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA
48
TODAS AS FORMAS
E TAMANHOS DO BEM...
“O meu preceito é este: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei. Ninguém tem maior amor que o daquele que dá a vida por seus amigos”
In Evangelho de São João, capítulo 15, versículo 12
C
onheci-o na minha breve passagem pela Escola Naval, há já
muitos anos. Era, percebi imediatamente, uma pessoa diferente. Uma personalidade cativante, mesmo admitindo que era um
sacerdote fardado… um capelão…
Desde então falámos durante muitos anos de muitas coisas, do
Bem e do Mal, da Humanidade e de coisas triviais (de que a vida
é perene) e, também, da Marinha. Acompanhou-me sempre, baptizou os meus três filhos. Telefonava regularmente a propósito do
meu filho diferente. Durante internamentos e tormentas, sempre
esteve lá, uma voz amiga, no seu jeito divertido, inigualável. Admito que foi esta a sua postura, ao longo de toda a sua vida Naval,
não era um padre, era um amigo – independentemente do posto,
ou lugar que na vida cada um ocupava. Acabava sempre por nos
conhecer profundamente. Era nele em quem confiávamos a alma,
na bonança e na tormenta…
Esta forma de fazer o Bem já bastaria. Contudo, uma das muitas
capacidades do Capelão Amorim, era de se adaptar às múltiplas
matizes do Bem e às formas de o por em prática. Ora estivemos
os dois em Timor. O Capelão visitou-nos pelo Natal na Vasco da
Gama. Quis rezar missa em Manatuto, acompanhado por um conjunto representativo de voluntários – entre os quais eu próprio,
como fotógrafo…
A missa decorreu ao ar livre, num ambiente diferente daquilo
que eu, e provavelmente o Capelão Amorim, alguma vez havíamos
sentido. As pessoas, novas e velhas, crianças aos magotes, compareciam na sua roupa remendada, mas limpa. Muitos de chinelos
de enfiar o dedo, ou mesmo descalços sobre pedra batida. O nosso
capelão, do altar de bambu, não pôde deixar de sentir a Fé de toda
aquela gente, simples, a quem dava a comunhão. A emoção foi
tanta que o fotógrafo apanhou o Padre Amorim, com uma lagrimita no olho. Foto que terá corrido o mundo… Escusado será dizer,
que todos os marinheiros presentes sentiram o mesmo e até o fotógrafo sentiu uma emoção profunda, da qual nunca se separará,
quando desta memória der conta…
Lembro-me de ter pensado que, naquele dia, o nosso Amorim,
deu corpo à sua Fé, à sua vocação… exactamente na mesma medida em que os médicos e enfermeiros, puderam, em Timor, dar
conta da sua verdadeira alma, da sua verdadeira missão…
A bordo o Capelão Amorim desdobrava-se entre o Refeitório
das Praças e as Câmaras de Sargentos e Oficiais. Participou, nas
celebrações da Véspera de Natal e Missa na Manhã do dia de Natal. Todos a uma só voz apreciaram a sua visita. O nosso Amorim
deixava a sua marca, por onde andou, quer pela chalaça pública sempre apropriada, quer pelo conselho privado, adequado a
cada alma…
Outros marinheiros, mais antigos ou mais modernos, terão outras tantas histórias envolvendo o Capelão Amorim. Contudo acredito, e penso que nunca terá mesmo acontecido, que o nosso capelão alguma vez tenha questionado alguém sobre a intensidade
da sua Fé, ou sobre a regularidade da sua prática católica… este era
um dos seus encantos e ainda outra forma de fazer o Bem…
Soube do seu sofrimento e também soube que, na despedida,
o nosso padre marinheiro, preferiu algum isolamento, certamente para não perturbar os amigos. Se pudesse ter falado com ele
dir-lhe-ia, se a coragem me não faltasse, que gostávamos dele e
que íamos ter muitas saudades. As mesmas que temos quando um
membro mais chegado da nossa família parte para a outra margem
do rio da verdade…
Ele, a sorrir, responderia humildemente, que não mereceria tanta preocupação, tanto elogio. Contudo, tomo-o por certo, o nosso
Capelão Amorim cumpriu o preceito máximo do seu “chefe celestial” (expressa claramente na citação acima): dedicou a vida aos
seus amigos – todos nós, que tivemos a felicidade de o conhecer.
Teve uma vida cheia, preenchida pelas necessidades de outros…
Ora o vazio que agora sentimos é uma medida da sua dedicação, que certamente não será esquecida pela Marinha. Ficaremos
sempre com as fotos que com ele tirámos ou a memória da sua voz
amiga. Quando isso nos parecer pouco, teremos que aceitar que tivemos a felicidade de conviver com alguém que nos trouxe todas as
formas e tamanhos do Bem…um privilegio que se reserva a poucos…
O Amorim, esse estará feliz, a sorrir, outra vez, desta e doutras
histórias, que circulam e circularão para sempre entre aqueles a
quem dedicou a sua vida…
Doc
DEZEMBRO 2015
31
REVISTA DA ARMADA | 502
SAÚDE PARA TODOS
30
CANCRO
O cancro é uma das causas mais frequentes de mortalidade e morbilidade. Em Portugal o cancro é atualmente responsável por
cerca de 25% do total da mortalidade, número este só ultrapassado pelas doenças do aparelho circulatório. Contudo, a incidência de
cancro tem tendência a aumentar. Uma previsão realizada pela International Agency for Research on Cancer aponta um incremento
de 13,7% novos casos de cancro na próxima década. O envelhecimento da população é uma das causas atribuídas a este fenómeno,
mas também alguns fatores externos, conhecidos como carcinogénicos, podem justificar este aumento.
T
odos os organismos são constituídos por
células, que são as suas unidades estruturais e funcionais. O crescimento e a morte das
células é um mecanismo altamente regulado e
só ocorre se imensas condições se verificarem.
É uma forma do organismo se auto-proteger.
Por isso, habitualmente, este é um processo
controlado e com poucas falhas. Se porventura algo corre mal, podem formar-se células novas, sem que o organismo necessite delas, ou
as células velhas não morrerem. Este conjunto
de células extra formam um tumor.
Os tumores podem ser benignos ou malignos. Os tumores benignos têm um crescimento autolimitado, não invadem tecidos
adjacentes, não têm a capacidade de se disseminar/espalhar para outros órgãos à distância
(metastização) e, regra geral, podem ser removidos e, portanto, os doentes curados. São
exemplos de tumores benignos os lipomas,
miomas, adenomas e fibromas. Os tumores
malignos, também chamados de neoplasias
malignas ou cancro, caracterizam-se pela alteração da aparência das células que deram
origem ao tumor, ou seja, como as células
malignas se reproduzem muito rapidamente
elas vão perdendo a semelhança com a célula-mãe que lhe deu origem e tornam-se indiferenciadas. Têm então capacidade para invadir
os tecidos/órgãos em seu redor e, numa fase
mais tardia da sua evolução, a disseminarem-se pelo sangue ou linfa, para locais distantes.
Os órgãos, ao terem as suas células normais
substituídas por células malignas, deixam de
funcionar adequadamente, levando à morte
do doente. Posto isto, o cancro é uma doença grave e deve ser diagnosticada e tratada
precocemente, pois numa fase mais avançada
pode não ser possível eliminar totalmente o
tumor, a probabilidade de já existirem metástases noutros órgãos aumenta e a taxa de
mortalidade é maior. Alguns exemplos de cancros são os carcinomas, melanomas, linfomas
e leucemias.
O cancro afeta pessoas de todas as idades
e é mais frequente nos homens. Dados da
Organização Mundial de Saúde de fevereiro
32
DEZEMBRO 2015
de 2015 revelam que no sexo masculino os
cancros mais frequentes são os do pulmão, da
próstata, colorretal, gástrico e do fígado. No
sexo feminino destacam-se o cancro da mama,
colorretal, pulmão, colo do útero e gástrico.
Existe muita investigação científica a decorrer na tentativa de explicar porque é que uma
pessoa desenvolve cancro e outra não. Até ao
momento já foram encontrados alguns fatores
de risco que aumentam a probabilidade de
uma pessoa vir a desenvolver cancro. Os fatores internos, não modificáveis, são o envelhecimento e a genética. Os fatores externos, que
devemos tentar reduzir/abolir, denominam-se
agentes carcinogénicos e dividem-se em três
categorias: carcinogénicos físicos, tais como os
raios ultravioleta do sol e os raios-X; carcinogénicos químicos, tais como o tabaco, álcool,
asbestos e aflatoxinas; carcinogénicos biológicos, tais como a bactéria Helicobacter pylori e
os vírus da hepatite B, hepatite C, do papiloma humano, da imunodeficiência humana e
Epstein-Barr. Uma lista detalhada de todos os
carcinogénicos, atualizada regularmente, encontra-se disponível em http://monographs.
iarc.fr/ENG/Classification.
Todas as pessoas podem contribuir para diminuir o impacto da doença oncológica, principalmente através da evicção da exposição a
fatores carcinogénicos, praticando desporto
regularmente, ingerindo uma dieta variada e
saudável (rica em frutas e vegetais, pobre em
carnes vermelhas e processadas, bem como
gorduras) e participando em rastreios. O objetivo dos rastreios em saúde é fazer uma deteção precoce, mesmo antes de a pessoa ter sintomas. Alguns dos rastreios disponíveis são o
do cancro do colo do útero (teste de Papanicolau), cancro da mama (mamografia), e cancro
colorretal (pesquisa de sangue oculto nas fezes
ou colonoscopia). Mas para que se possa fazer
um diagnóstico precoce, além dos rastreios, é
crucial que cada indivíduo recorra a consultas
médicas regularmente, onde através da avaliação da história clínica pessoal e familiar, e do
exame físico, pode ser levantada a suspeita de
cancro. Nessas situações habitualmente são
solicitados exames complementares (análises
clínicas, exames de imagem, biópsias) para
excluir a existência de lesões malignas ou
pré-malignas. Os sintomas que acompanham
com maior frequência os diferentes tipos de
cancro e para os quais deve estar atento são:
nódulos duros; perda de peso não justificada;
feridas, dor, febre, fadiga, tosse ou rouquidão
persistentes; alteração nos hábitos digestivos,
urinários ou intestinais; hemorragia na expectoração, fezes, urina ou vaginal (excluindo a
menstruação).
Após o diagnóstico de cancro e conforme
o tipo, localização e estado de evolução do
mesmo, os tratamentos passam habitualmente por remoção cirúrgica, quimioterapia e/ou
radioterapia. Se o estado de saúde do doente
estiver debilitado ao ponto de não tolerar os
tratamentos, se o cancro for detetado numa
fase avançada, ou se o cancro for resistente
aos tratamentos, o prognóstico é mau e deve
ser garantido ao doente o máximo de conforto
nesta fase final da sua vida. Está demonstrado que os cuidados paliativos levam ao alívio
de 90% dos problemas físicos, psicossociais e
espirituais. Mas nesta doença, como em qualquer outra doença crónica terminal, a minha
opinião é que são a família e os amigos que
realmente desempenham um papel fundamental nesta fase, através da disponibilidade
na prestação de cuidados básicos, de uma
atitude positiva no quotidiano e ao fazerem o
doente sentir-se amado.
Ana Cristina Pratas
1TEN MN
www.facebook.com/participanosaudeparaodos
[email protected]
REVISTA DA ARMADA | 502
QUARTO DE FOLGA
JOGUEMOS O BRIDGE
E-W vuln. S abre em 2ST e N fecha a partida naturalmente em 3ST, recebendo a saída a ♥D. S conta
8 vazas rápidas, faltando-lhe portanto 1 para cumprir o seu contrato. Como deve S jogar para a
encontrar?
OESTE (W)
V D D V
7 VV8
6 1010 5
8
8 6 A 10
5 4R6
263
5
3
ESTE (E)
♠ ♥ ♦ ♣
D 9 9 D
10 89
9 74
4 5 2
SUL (S)
♠ ♥ ♦ ♣
A A 7 A
R R4R
3 327
2
SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 187
Fácilmente se constata que a solução é clássica e estará em dar um “golpe em branco” a ♦, e se estiverem 3-2 até vai
fazer vaza a mais. Todavia, a situação pode não ser assim tão simples, devendo admitir que os ♦ possam estar 4-1, como
é o caso. Vejamos então como deve tecnicamente jogar: faz a saída de A ou R e joga ♦ para um golpe em branco, fazendo
E o 9; o ataque é naturalmente a ♥ que deixa fazer e pega a seguir, permitindo-lhe verificar que ficou apenas mais uma
♥ de fora; assim sendo não corre qualquer perigo em assegurar o contrato com mais um golpe em branco a ♦, mesmo
que isso signifique perder uma vaza caso estejam 3-2, mas precavendo-se contra a distribuição 4-1, que realmente é a
que se verifica.
A utilização desta técnica de carteio do “golpe em branco” surge frequentemente, mas por vezes carece de algum
cuidado e atenção, como é o caso neste problema…nada de precipitações para não se queixar do azar!
NORTE (N)
♠ ♥ ♦ ♣
♠ ♥ ♦ ♣
Problema nº 188
Nunes Marques
CALM AN
PALAVRAS CRUZADAS
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
1
2
3
Problema nº 470
HORIZONTAIS: 1 – Emulações. 2 – Compadecera-se. 3 – Palpite; nome próprio fem.; símb. quím. do níquel
(Inv). 4 – Insípido (Bras.); arma branca (Poét.); bigorna de ourives (Inv.). 5 – Espécie de palmeira do Brasil;
pequena embarcação achatada, usada na pesca do bacalhau. 6 – Desaba; é quase acre. 7 – Título dos
descendentes de Mafoma; parte do cordão umbilical. 8 – Rio português; no princípio de omofago; falta
um para ser nene. 9 – Consoante dobrada; gosta muito; isis na confusão. 10 – Negociada. 11 – Que
merece agradecimento.
4
5
VERTICAIS: 1 – Emprego e aplicação do radiómetro. 2 – Copia; aguardente obtida pela fermentação e
destilação dos melaços de cana sacarina (Inv.). 3 – Cidade e município do est. de Pernambuco, Brasil;
aspecto. 4 – Rei de Judá, de 944 a 904 a. C.; rio Suiço, que banha Berna; nome de letra. 5 – Observa;
levanta (Inv.) pessoa astuciosa (Inv.). 6 – No início de iracundo; desprenda-se. 7 – Prejuízo; espaço de doze
meses; duzentos romanos. 8 – Lavra; seiscentos e cinco romanos; três romanos. 9 – Entrega; diz-se de
certa espécie de veados de casta pequena (Inv.). 10 – Sigla da Rádio Televisão Italiana (Inv.); a partir de.
11 – Santanário.
6
7
8
9
10
11
SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 470
HORIZONTAIS: 1– RIVALIDADES. 2- AMISERARA. 3- DICA; ANA; IN. 4- ITE; ACO; SAT. 5– OANACU; DORI. 6– CAI; ACR. 7EMIR; ENVIDO. 8– TUA; OMO; EEN. 9– RR; AMA; ISSI. 10– AGENCIADA. 11– AGRADECIVEL.
VERTICAIS: 1– RADIOMETRIA. 2- IMITA; MUR. 3– VICENCIA; AR. 4- ASA; AAR; AGA. 5–LE; ACI; OMED. 6- IRACU; EMANE;
7– DANO; ANO; CC. 8- ARA; DCV; III. 9– DA; SORIESAV. 10– IAR; DESDE. 11– SANTIMONIAL.
Carmo Pinto
1TEN
SUDOKU
Problema nº 20
FÁCIL
37
DIFÍCIL
2 4
1 96
1
45
3
3 4
9
29
73
45
9
8
1
6
59
6
5
5
6
2
32
8
6
5
34
92
67
7
8
4
6 73
95
6
92
85
4
SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 20
FÁCIL
DIFÍCIL
9
92
7
DEZEMBRO 2015
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REVISTA DA ARMADA | 502
NOTÍCIAS PESSOAIS
COMANDOS E CARGOS
FALECIDOS
CMG RES César Martinho Gusmão Reis Madeira, Diretor do
Museu de Marinha ● CMG António Luís Teixeira Pereira, Comandante da Zona Marítima do Norte ● CFR José Zacarias da Cruz
Martins, 2º Comandante da Zona Marítima dos Açores ● CFR
Humberto Renato da Silva Rocha, Capitão do Porto da Figueira
da Foz.
●
RESERVA
● SMOR
L Luís Pedro Mendonça Domingos ● SMOR T Luís Manuel
Egas Tarquínio ● SAJ V Joaquim Gouveia dos Santos Cascão ● 1SAR
C António José Carias Florindo ● CAB CM Vasco Manuel Ferreira
de Pinho.
● 59778
CALM CAP REF Manuel da Costa Amorim ● 27258 CMG
M REF Luís Manuel de Medeiros Ferreira ● 42662 CMG M REF
Fernando Sanches Oliveira ● 329753 1TEN OT REF João Francisco
Gavinho Santos ● 314253 1TEN OTT REF Albano Mendes Cabral ●
817162 SMOR FZ Octávio Augusto Teixeira ● 119964 SMOR MQ
REF António José Alfredo ● 478657 SCH R REF Manuel Ramires de
Sousa ● 420456 SAJ R REF José Rocha Gonçalves ● 285541 SAJ CM
REF José Marques ● 258341 SAJ H REF Carlos de Almeida Andrade
● 133045 SAJ CM REF Joaquim José Ferreira ● 158246 1SAR CM
REF Mário Nunes ● 300447 1SAR CM REF Eduardo Pereira Muge ●
78369 1SAR H REF António Martins Gonçalves ● 316281 CAB CM
RES Augusto Manuel Guilhermino Faia ● 100770 CAB TFP REF Emídio dos Anjos Diogo ● 23664 1MAR DFA FZ REF João Miguel Mirassol ● 36000481 FAROL 1CL QPMM REF António Manuel Fidalgo.
CONVÍVIOS
INCORPORAÇÕES DE 1985 | 30º ANIVERSÁRIO
E
m 8 de agosto, um grupo de marinheiros, acompanhados das respetivas famílias, rumou à BNL, para assinalar os 30 anos de incorporação
na Briosa.
O programa comemorativo iniciou-se com uma visita ao NRP Álvares
Cabral, onde foi visionado um video alusivo à missão da Marinha. Seguiu-se uma visita à ETNA, onde foi servido o almoço, que decorreu em
ambiente de sã camaradagem, visitando-se depois o Departamento de
Formação Geral, antiga Escola de Marinharia. A organização agradece à
Marinha a forma calorosa como acolheu o grupo.
1ª GUARNIÇÃO DO NRP VASCO DA GAMA | 25 ANOS
R
ealiza-se no dia 23 de janeiro, na Messe de Sargentos da BNL,
um almoço-convívio da 1ª guarnição do NRP Vasco da Gama.
Para inscrições e aquisição da medalha, contactar:
Ativo e na reserva na efetividade de serviço:
SAJ L Cunha Lemos - E-mail: [email protected]
T. Interno: 327670 - TM 96 507 1382
Reserva fora da efetividade de serviço ou na reforma:
CALM Silva Castro - E-mail: [email protected]
TM 91 647 6300
"FILHOS DA ESCOLA" | JANEIRO DE 1973
Para comemorar o 43º aniversário do ingresso na Briosa dos “Filhos da Escola” de janeiro de 1973, realiza-se em 16 janeiro um convívio na zona de Fátima, na Quinta Casalinho Farto, Rua do Capucho, Casalinho Farto.
GPS 39º34'33.70N 8º 37'39.93 W. Os interessados devem contactar: SMOR E José Armada TM 967620636; SCH E
Manuel Pais TM 936 265 993; SCH FZ João Marques TM 966 877 631; SAJ MQ Jeremias Moura TM 965855564.
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DEZEMBRO 2015
Um Anjo apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma contigo o
menino e sua mãe e foge para o Egito e fica lá até que eu te avise pois Herodes vai procurar o menino para o matar. José levantou-se, partiu para o Egito
e ali permaneceu até à morte de Herodes»
Mt. 2, 13-15.
NATAL: UM APELO HUMANIZADOR
O conceito de Natal também é rico do ponto de vista interpretativo.
Nesta nossa intervenção, não pretendemos ser exclusivistas, mas
também não queremos ficar numa visão redutora que se contenta
em definir esta quadra como um evento rodeado de neve e de presentes e que serve para animar todo o tipo de festas.
Gostávamos que à nossa proverbial solidariedade, aos gestos mais
simples de uma maior proximidade física e sentimental com a família
e com os outros em geral, tentássemos juntar algo mais.
E isto, quer sejamos crentes, não crentes ou descrentes.
De facto, o mundo (essa tal “aldeia global”) vive nos dias de hoje
a maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial, sendo já considerada uma das maiores crises de refugiados de que há memória.
Há mais de um ano, milhares de pessoas estão em fuga de países
em guerra. Não interessa as suas convicções religiosas, mas muitos
até são cristãos.
Foram escorraçados das suas casas e das suas ideias ficando sem
nada e vivendo agora em contentores.
São famílias inteiras que, no meio do pó da estrada, buscam um
asilo em algum sítio.
No meio de tudo isto, há milhares de pessoas que são subjugadas
por traficantes a quem deram tudo.
Dizem que no rescaldo da II Guerra Mundial, com uma Europa totalmente destroçada, era frequente ver no meio das ruas carregadas
de ruínas, milhares de pessoas vagueando e de mãos vazias.
Hoje, nos alvores do século XXI, o cenário repete-se.
São aos milhares os que buscam na Europa uma vida com alguma
dignidade.
Vêm de muitos sítios: da Líbia, da Eritreia, do Iraque, da Síria, do
Afeganistão…
É gente que transparece claramente um clima de pânico e medo
evidentes. E sempre de mãos vazias e com lágrimas nos olhos.
As lágrimas têm o mesmo sabor das que vemos em imagens do
fim da II Guerra Mundial.
Mas são de pessoas como nós. Homens, mulheres e crianças.
Sei que este é um fenómeno complexo, que não deve ser analisado de ânimo leve, mas deixamos a pergunta:
“E se fôssemos nós?”. E se um dia formos nós a ter de fugir?
Eles andam perdidos, mas nós não os podemos perder e não fazer
nada é ausentar-nos por omissão. E isso não é virtude.
Muitos países têm-lhes fechado as portas, mas muitos outros dão-lhes o direito de sobreviver.
A história do cristianismo está repleta de histórias de refugiados.
Segundo a Bíblia e a tradição cristã mais genuína, Jesus recém-nascido acompanhado da sua família – por razões que tiveram a ver
com a sua própria sobrevivência – tornou-se um dos mais famosos
refugiados da história, sendo na altura o Egito a terra que O acolheu.
E ao longo de muitos séculos, o saber acolher foi sempre uma das
imagens de marca do cristianismo.
Não basta ficarmos sentados no sofá e enchermo-nos de pena
quando certas imagens nos entram pela porta adentro.
Alguns deles já chegaram a Portugal. Quem sabe, alguns até virão
a ser nossos vizinhos.
Quando nos cruzarmos com eles e os soubermos acolher, acontecerá Natal.
Aí sim, cumprir- se - á Belém, porque verdadeiramente natalício, é
ter atitudes de autêntico humanismo.
A todos os membros da família naval, de um modo especial os que
passarão este Natal longe de casa por imperativos militares, endereçamos os votos de que nos tornemos mais próximos pela construção
da verdade e da paz.
E viveremos, igualmente, as saudades dos que nos deixaram pela
morte.
Na aurora do “Ano da Misericórdia” (o Papa Francisco assim o
quis), façamos nossa a esperança de todos aqueles que, apesar de
tudo, acreditam que o amanhã pode ser melhor.
Um santo Natal para todos.
Fernandes da Costa
CMG CAP
SÍMBOLOS HERÁLDICOS
CAPITANIA DO PORTO DE LEIXÕES
DESCRIÇÃO HERÁLDICA
Escudo de prata com quatro faixas ondadas de verde. Em abismo brocante um escudete de vermelho carregado com uma âncora de
prata, assaltado por dois golfinhos de negro, realçados de prata. Coronel naval de ouro forrado de vermelho. Sotoposto listel ondulado
de prata com a legenda em letras negras maiúsculas, tipo elzevir, «CAPITANIA DO PORTO DE LEIXÕES».
SIMBOLOGIA
O ondado de verde e prata e os golfinhos de negro são inspirados nas armas municipais de Matosinhos, concelho onde se encontra
sediada a Capitania do Porto de Leixões. A âncora, sinónimo de perseverança, firmeza e segurança, sublinha a ligação ao mar e à
Autoridade Marítima.
* Brasão adaptado a partir de um original da autoria do mestre Bénard Guedes (1931-2012).
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