XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 RIO 92 + 10: UM EXEMPLO BEM SUCEDIDO DE COOPERAÇÃO NORTE-SUL NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ÁREA DA CERÂMICA VERMELHA Marina Rodrigues Brochado Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – Cefet/RJ Av. Maracanã, 229 – Bloco E – 5o andar - Pós-Graduação- Rio de Janeiro – RJ [email protected] Cristina Gomes de Souza Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – Cefet/RJ Av. Maracanã, 229 – Bloco E – 5o andar - Pós-Graduação- Rio de Janeiro – RJ – [email protected] Friedrich Wilhelm Grimme Instituto de Tecnologia para os Trópicos – ITT da Universidade de Ciências Aplicadas Betzdorfer Straβe 2 – 50679 – Köln /Alemanha -friedrich.grimme@fh Michael Laar Instituto de Tecnologia para os Trópicos – ITT / Universidade de Ciências Aplicadas Betzdorfer Straβe 2 – 50679 – Köln /Alemanha - [email protected] CEFET/RJ established an exchange program with the University of Applied Sciences Cologne – FH Köln, in Germany to development a reseach about technological tranfer in the energetic efficiency area. The aim of this paper is to present the development and the results of a research project titled “An interdisciplinary approach in the area of technological innovation: a case study of the brick industry”, which was carried out between 1999 and 2001, sponsored by CAPES and the DAAD. This research project focused on the high porosity brick for structural applications, which combines a very low thermal conductivity with low weight, high resistance to pressure and a lower energy input during the production process. All this contributes to higher energetic efficiency in the life cycle of this product. Key words: international cooperation, energetic efficiency, brick industry. 1. INTRODUÇÃO Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972, os cientistas mostraram-se preocupados com o esgotamento, num futuro próximo, de alguns recursos naturais não renováveis, tais como petróleo e cobre. O primeiro relatório do Clube de Roma, denominado “Os Limites do Crescimento”, divulgado em 1971, previa uma incontrolável mortandade da população por volta de 2050, provocado pelo esgotamento dos recursos naturais, como conseqüência do aumento da produção industrial e de alimentos para atender ao crescimento exponencial da população (MEADOWS, 1973). Somente a partir de meados da década de 80 é que começou a se difundir, em muitos países europeus, a consciência de que os danos da atividade cotidiana ao meio ambiente ENEGEP 2002 ABEPRO 1 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 poderiam ser substancialmente reduzidos por meio da prática de negócios ecologicamente corretas. Esta mudança de atitude foi mais radical na Alemanha, onde a sociedade, apoiada pelo movimento ecológico e a mídia, atuou no sentido de pressionar as empresas para que adotassem uma postura pró-ativa em relação ao meio ambiente, como por exemplo, realizar investimentos na melhoria dos seus processos produtivos (REGAZZI FILHO, 2002). Os grandes marcos divisórios do processo de conscientização ecológica que estão influindo na mudança de atitude da sociedade e, deste modo, contribuindo para alavancar as pressões pela responsabilidade ambiental das empresas são: a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972; o Relatório Brundtland, de 1987; e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (RIBEIRO, 2000). Nessa última Conferência, com o objetivo de auxiliar as empresas no planejamento ambiental de suas atividades, foi apresentada pelo World Business Council for Sustainable Development – WBCSD, a proposta da ecoeficiência: “produção de bens e serviços a preços competitivos, que tragam satisfação e qualidade de vida ao consumidor, ao mesmo tempo em que se reduz a geração de poluentes e o uso de recursos, considerando todo o seu ciclo de vida, ao nível que seja no mínimo o que se estima ser suportado pela Terra.” A novidade desta proposta foi a inclusão de uma nova dimensão para a definição da competitividade: produzir mais, com maior eficiência, utilizando menos insumos e gerando menos rejeitos, ficando evidente a necessidade e urgência de se elaborar projetos políticos, sociais, econômicos e culturais destinados à preservação dos recursos naturais, sem no entanto, perder de vista o objetivo de aumentar a qualidade de vida das populações. Sabendo-se da importância do papel que as Universidades e Institutos de Pesquisa têm na produção de conhecimento sobre o meio ambiente e tecnologias de conservação, o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ estabeleceu um intercâmbio com o Instituto de Tecnologia para os Trópicos – ITT, da Universidade de Ciências Aplicadas de Colônia – FH Köln, na Alemanha, visando um estudo cooperativo de métodos e procedimentos aplicáveis ao processo de inovação tecnológica e seu impacto na economia, na sociedade e no meio ambiente. Através do referido intercâmbio, que teve início em 1999 e que conta com o apoio da CAPES e do DAAD, foi desenvolvida a pesquisa intitulada “Uma Abordagem Interdisciplinar na Área de Inovação Tecnológica: Estudo da Indústria da Cerâmica Vermelha”. A pesquisa teve como parâmetro o estudo da indústria da cerâmica vermelha – especificamente do bloco estrutural de alta porosidade – que possui em sua composição materiais como serragem, casca de arroz ou outros elementos orgânicos e inorgânicos, utilizados para aumentar a porosidade do bloco e conseqüentemente reduzir tanto a condutância térmica como a energia necessária em seu processo de produção, contribuindo para a melhoria dos índices de desempenho térmico-energéticos. O objetivo do artigo é apresentar os resultados até o momento alcançados da pesquisa em questão, abordando os impactos da absorção dessa tecnologia da indústria da cerâmica vermelha – bloco estrutural de alta porosidade - sobre a preservação ambiental, particularmente no que se refere à eficiência energética. Vale ressaltar, que a pesquisa que inicialmente tinha um caráter puramente acadêmico, acabou se transformando num projeto mais amplo agregando a iniciativa privada, envolvendo mais instituições que lidam com a questão tecnológica e ambiental, e ganhando financiamento de outros órgãos de fomento. ENEGEP 2002 ABEPRO 2 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 2. O CONTEXTO DO PROJETO DE COOPERAÇÃO NA ÁREA AMBIENTAL A pesquisa “Uma Abordagem Interdisciplinar na Área de Inovação Tecnológica: Estudo da Indústria da Cerâmica Vermelha” vem sendo desenvolvida pelo CEFET/RJ e pelo ITT – Instituto de Tecnologia para os Trópicos. O CEFET/RJ é uma instituição que vem realizando ultimamente vários projetos de pesquisa e estudos tecnológicos como condição necessária para manutenção e consolidação do seu curso de Mestrado em Tecnologia, abrangendo 4 linhas de pesquisa: Integridade Estrutural; Modernização dos Processos Tecnológicos; Definição de Perfis; e Inovações Tecnológicas. Em 2000 foi consolidado um grupo de pesquisa Eficiência Energética e Conforto Ambiental, cadastrado no CNPq, agregando vários pesquisadores com atuação na área ambiental, com o objetivo de capacitar recursos humanos e promover a inovação tecnológica no que se refere à eficiência energética e conforto ambiental. O ITT, vinculado à FH Köln, é um instituto de ensino interdisciplinar que pesquisa estratégias de desenvolvimento sustentável para países da faixa tropical abrangendo temas como gestão da informação, transferência de tecnologia, economia e desenvolvimento do meio-ambiente, principalmente no que se refere à arquitetura, urbanismo sustentável e gerenciamento de recursos hídricos e do solo. A pesquisa desenvolvida em parceria pelas duas instituições teve como um dos objetivos principais conhecer o processo alemão de desenvolvimento da tecnologia de cerâmica vermelha – no caso, bloco estrutural de alta porosidade - e analisar o impacto sócio-econômico e ambiental de sua produção e de sua utilização nas edificações locais. Vale ressaltar que, no caso da construção civil, o desenvolvimento e absorção das inovações tecnológicas pelo setor produtivo difere de outros setores industriais: ela exerce poucos efeitos retroativos no plano tecnológico sofrendo, inversamente, o impacto de mudanças introduzidas por aqueles que lhes fornecem os insumos materiais (indústrias de materiais e componentes). A absorção de novas tecnologias no setor esbarra, ainda, em alguns problemas. Por exemplo: as falhas associadas à introdução de novos produtos são bastante freqüentes em função da pequena integração entre fornecedores e empresas de construção fazendo com que novos produtos sejam lançados no mercado, sem informações suficientes quanto às suas propriedades e sobre às formas como devem ser utilizados. Também as orientações presentes nas normas brasileiras, eminentemente prescritivas, descrevem os preceitos qualitativos do produto, porém, não prevêem avaliação do seu desempenho em uso acompanhando o lançamento no mercado. No que diz respeito à indústria de componentes cerâmicos, observa-se que as cerâmicas de pequeno e médio portes atendem à maior parte da produção dos materiais consumidos pela indústria da construção civil, especialmente no Estado do Rio de Janeiro. Os blocoss furados, telhas, manilhas e outros elementos cerâmicos são geralmente obtidos em instalações rudimentares, semi-mecanizadas e de média capacidade de produção, enquanto que as usinas de grande porte, que empregam processos automatizados, são em número insuficiente. Particularmente no que se refere à cerâmica vermelha ou cerâmica estrutural, a situação se torna ainda mais crítica uma vez que cerca de 90% das empresas que atuam nesse setor ou são micro-empresas familiares com atividades essencialmente manuais constituindo as chamadas olarias, ou são empresas de pequeno e médio porte utilizando, em sua grande maioria, tecnologia desenvolvida há mais de cinqüenta anos. Essa defasagem tecnológica faz com que a produtividade e qualidade dos produtos sejam inferiores se comparado com às indústrias cerâmicas estrangeiras. Nesse momento de globalização da economia, não havendo mais exigência de participação nacional na ENEGEP 2002 ABEPRO 3 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 formação de joint-ventures, corre-se o risco de assistirmos a “quebra” de muitas empresas brasileiras. Paralelamente à inovação tecnológica, discute-se muito a questão ambiental onde conceitos como ecologia, durabilidade, baixo consumo de matérias-primas e racionalidade de recursos, são importantes para a consolidação de um desenvolvimento sustentável. Além da tendência de se buscar práticas produtivas cada vez menos predatórias e mais restauradoras, existe grande preocupação com os aspectos energéticos, não só no que tange ao processo de produção, como também ao consumo de energia necessário à uma melhor qualidade de vida da população, o que envolve, entre outros fatores, a eficiência energética das edificações. Enquanto países desenvolvidos conseguiram atingir índices de desempenho térmicoenergéticos - que estabelecem limites para as perdas e ganhos térmicos e para o consumo de energia - que levaram a diminuição de consumo de energia em até 80%, nas edificações brasileiras, ao contrário, tem se verificado um consumo crescente de energia. Como o desempenho energético global de uma edificação pode ser melhorado, entre outros fatores, pela especificação e uso adequado de materiais capazes de contribuir para o conforto ambiental e conseqüente redução de utilização de equipamentos mecânicos, existe hoje uma demanda por novos conhecimentos tecnológicos nessa área. A cerâmica vermelha especificamente o bloco estrutural de alta porosidade, que tem em sua composição materiais como serragem, casca de arroz ou outros elementos orgânicos e inorgânicos, apresenta uma redução tanto da condutância térmica como da energia necessária em seu processo de produção. Essa tecnologia, cujo estado da arte encontra-se na Alemanha, tem como uma de suas principais características a conservação de energia, contribuindo para a melhoria dos índices de desempenho térmico-energéticos e conseqüentemente do conforto ambiental. 3. A TECNOLOGIA DO BLOCO CERÂMICO DE ALTA POROSIDADE NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL O bloco estrutural alemão de alta porosidade - "Dammziegel" - foi desenvolvido por centros de pesquisa com auxílio das organizações de classe empresariais do setor cerâmico alemão e das Universidades. Essa tecnologia foi a mais aceita e tornou-se padrão no país devido ao seu baixo consumo energético no processo de produção e na melhoria do desempenho térmico-energético das edificações. Blocos cerâmicos, lajes e telhas são produzidos a partir de um processo que, no decorrer de 10 anos, reduziu em 40% o consumo energético médio do setor (WIENEBERGER, 1999). A questão ambiental também foi decisiva na adoção deste padrão. Estudos alemães apontam a cerâmica como um material que se integra e resguarda o meio ambiente tanto na sua produção quanto no uso, principalmente após medidas que regulamentaram a exploração das lavras de argila e o uso de gás como o principal combustível para a etapa de queima do processo. Além disso os materiais cerâmicos não geram resíduos tóxicos e são inertes ao contato para seres humanos. A tecnologia de alta porosidade se baseia na redução da densidade do material cerâmico pela mistura de materiais orgânicos na massa básica de argilas. Estes materiais após o processo de queima, aonde se chegam a temperaturas de 850 a 1000o C (WAGNER, 1998), se extinguem e geram espaços vazios. Os interstícios de ar baixam a condutividade térmica da cerâmica o que, aliado a um desenho específico dos furos do bloco, retardam consideravelmente o fluxo térmico, conforme ilustrado na Figura 1. ENEGEP 2002 ABEPRO 4 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 Figura 1: Fluxo térmico resultante dos furos do bloco de alta porosidade Estes materiais orgânicos também contribuem, durante o processo de queima, na geração de calor de forma endotérmica, uma vez que entram em combustão entre 250 e 300o C, proporcionando a redução do ciclo de queima em alta temperatura para um período de 2:00 h (WAGNER, 1998). Na cerâmica vermelha convencional esse ciclo é de 8:00 h, o que representa uma diferença de 6:00 h. Por sua vez, o ciclo total de queima é de 24:00 h, enquanto o da cerâmica vermelha convencional no Brasil é, em média, de 48:00 h (SEBRAE, 1997). A mistura básica é de 85% de argilas e 15% de material orgânico (WIENEBERGER, 1999), sendo uma parte de materiais extra-finos e parte de materiais com dimensões maiores. Normalmente são usados serragem, cinzas de chaminés, palha de arroz ou trigo e EPS. Associado a isto é feito um rigoroso controle das etapas do processo, principalmente no que tange à umidade e granulometria do material, de forma a reduzir o consumo energético dos equipamentos de preparação da massa. Este conjunto de procedimentos garante sua qualidade e alta resistência para o uso como bloco estrutural. No Brasil a indústria da cerâmica vermelha vem sendo alvo de programas de conservação de energia em função do significativo consumo demandado no processo de produção. Estima-se que 40 a 50% do custo de um bloco recai sobre o gasto energético de sua fabricação, incluindo nesse percentual o combustível para a queima e a energia elétrica para alimentação dos equipamentos característicos do processo (SEBRAE, 1997). A quantidade de energia necessária em uma indústria brasileira para a produção de 1.000.000 de peças ou 2000 t, é da ordem de 75.000 kWh de energia elétrica, 100.000 Kg de óleo combustível e 300 m3 de lenha. Aplicando-se equivalentes energéticos em calorias, conclui-se que gasta-se 678 Kcal por cada Kg de material produzido (SANTOS, 1999). Na Alemanha esta cifra cai para 400 Kcal (WAGNER, 1998), ou seja, no Brasil se consome até 70% a mais de energia na produção da mesma quantidade de material. Quanto ao uso, os materiais de construção apresentam características também bastante variadas, notadamente a maior, em relação ao consumo de energia. Os principais parâmetros são a condutividade térmica (K ou λ) cuja unidade é W/m.K , e a transmitância térmica (U) cuja unidade é W/m2.K . A condutividade térmica é absoluta em função apenas das características do material. No caso da cerâmica vermelha os valores variam, no Brasil, em torno de 0,7 chegando a mínimos de 0,65 W/m.K (LAMBERTS, 1997). No caso do bloco alemão que utiliza a tecnologia de alta porosidade, os valores mais elevados são da ordem de 0,33 chegando até 0,15 W/m.K (WIENEBERGER, 1999). Trata-se de variável relacionada diretamente à densidade do material de modo que os materiais de densidade mais elevada tendem a ter a condutividade mais alta. A transmitância térmica, ou K-wert em alemão, têm relação com o conjunto dos materiais que compõem a parede e sua espessura. O conjunto de materiais com variados valores de condutividade (K) podem alterar para mais ou menos o valor final da ENEGEP 2002 ABEPRO 5 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 transmitância (U). As paredes emboçadas com cimento por exemplo tendem a ter valores U mais elevados pois o cimento têm um valor K alto, em torno de 1,15 W/m.K. Tome-se um exemplo de uma parede com 12,5 cm de espessura sendo 3,5 cm de camadas de cimento e 9 cm de cerâmica vermelha. Nesse caso, a transmitância é da ordem de 2,49 W/m2.K (LAMBERTS, 1997). Uma parede típica de alvenaria estrutural alemã com blocos de alta porosidade com 28,5 cm de espessura, sendo 4,5 cm de camadas de cimento e 24 cm de espessura de cerãmica vermelha, tem uma transmitância de 0,51 W/m2.K (WIENEBERGER, 1999). Assim sendo, considerando-se as mesmas condições de insolação e cor dos revestimentos, a quantidade de calor transmitida por metro quadrado no padrão brasileiro é 4,8 vezes maior. As condições climáticas alemães são muito mais rigorosas do que a brasileira, chegando a serem considerados gradientes de temperatura de até 45oC (-20oC de temperatura externa para 25oC de temperatura interna). Já a diferença de gradiente no Brasil é de até 20oC, com 45oC no ambiente externo para 25oC no ambiente interno. Porém, diferentemente do caso alemão, que precisa necessariamente de um sistema auxiliar de condicionamento para efeito de aquecimento, no Brasil seria possível, com a adoção dos padrões alemães, praticamente eliminar os sistemas de condicionamento de ar, principalmente nas edificações residenciais. Vale ressaltar que a ventilação e o condicionamento de ar são responsáveis por 25 a 50% do consumo global de uma edificação. Para o Estado do Rio de Janeiro estes valores chegam a 10% nas edificações residenciais e 50% nas comerciais (LAMBERTS, 1997). No caso alemão também se considera as espessuras de paredes mais largas em função de suas propriedades estruturais. O padrão de espessura para paredes de alvenaria estrutural com cerâmica vermelha é da ordem de 24 cm chegando em alguns casos a 42 cm (WIENEBERGER, 1999). No Brasil a cerâmica de vedação tem 9 cm de largura e a cerâmica estrutural chega até 19 cm. Esta observação é pertinente no sentido de que há uma economia considerável na adoção de sistemas de alvenaria estrutural, da ordem de 30%, em comparação com os sistemas de concreto armado (ANICER, 1999), e que tende a aumentar em função de que estes sistemas ainda não são tão desenvolvidos no Brasil. Os índices de condutividade de um produto brasileiro não precisam ser necessariamente os mesmos do produto alemão, pois nossas condições climáticas são diferentes. Reduzindo-a para 0,4 W/m.K, isto é 20% a mais do que o bloco alemão de pior condutividade, e usando-se paredes estruturais de pelo menos 25 cm de espessura, reduzirse-ia a transmitância térmica para 1,53 W/m2.K Isto equivale a transmissão de 40% a menos de calor por metro quadrado de parede opaca em relação aos padrões brasileiros atuais. A redução de consumo energético para 550 Kcal/Kg de material produzido, ou seja, ainda 38% a mais do que na Alemanha, geraria somente na produção, uma economia energética equivalente a 138,6 Gcal por mês, se aplicada apenas em 20% das indústrias cerâmicas do Estado do Rio de Janeiro. Este valor se traduz ainda em 12,8 t de óleo combustível ou 161,2 MWh. 4. CONCLUSÕES Apesar de todo o discurso em torno das discussões acerca do desenvolvimento sustentável, na forma da Agenda 21, a tecnologia, ou seja, aplicação do conhecimento científico à solução de problemas práticos, não tem se mostrado suficientemente ágil, pelo menos até o momento, em buscar alternativas para o impacto ambiental resultante do uso extensivo de suas inovações e descobertas. Tentando mudar essa realidade, o CEFET/RJ em parceria com o ITT, vem desenvolvendo uma pesquisa com o objetivo de analisar os impactos da absorção da ENEGEP 2002 ABEPRO 6 XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 tecnologia do bloco de alta porosidade que contribui para a preservação ambiental no que se refere à eficiência energética, tanto a nível de produção quanto de utilização do produto. A pesquisa em questão possibilitou a interação técnico-científica entre várias outras instituições brasileiras que têm interesse e que desenvolvem projetos na área, tais como SEBRAE/RJ, SENAI e INT. A iniciativa privada através das indústrias do setor cerâmico e suas entidades de classe como ANICER - Associação Nacional das Indústrias Cerâmicas e ABC - Associação Brasileira de Cerâmica, têm procurado subsídios para produção da cerâmica vermelha estrutural de alta porosidade, o que mostra que a pesquisa encontra-se bem direcionada e que as indústrias demandam desenvolvimento tecnológico atrelado à preservação ambiental. Trata-se de uma postura pró-ativa do CEFET/RJ que tem consciência da importância do papel que representa na produção de conhecimento sobre o meio ambiente e tecnologias de conservação, respaldado no conceito de interdisciplinaridade em que se baseia a questão ambiental. Espera-se que, com os resultados da próxima Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio 92+10), a ser realizada em setembro de 2002, em Joanesburgo, África do Sul – onde está previsto a avaliação do progresso dos programas da Agenda 21 -, sejam estabelecidos programas que estimulem uma maior cooperação entre países de diferentes estágios de desenvolvimento para que haja efetivamente a transferência de tecnologias dentro de um conceito de ecoeficiência. 5. BIBLIOGRAFIA ANICER. (1999). Anais do XXVIII Encontro da ANICER, Fórum da Indústria da Cerâmica Vermelha 02 a 04 de setembro de 1999. Salvador, Bahia. BROCHADO, Marina R., TAVARES, Sergio F., SOUZA, Cristina G., LAAR, Michael. (2000) Estudo sobre os Impactos da Tecnologia Poroton na Indústria da Cerâmica no Estado do Rio de Janeiro. XX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. São Paulo – SP. GUIMARÃES, J.C.B. (1985). Análise energética na construção de habitações. Dissertação de mestrado, PPE/COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro. 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