Focus BC Focus-BC Geração de Postos de Trabalho por Atividade Econômica 31 de julho de 2007 A publicação da nova série das Contas Nacionais por parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidenciou mudanças significativas na estrutura produtiva brasileira. Os dados atuais estimam um valor do PIB cerca de 10% superior ao anterior, com alterações relevantes na participação dos setores e dos componentes da demanda. O setor de serviços aparece com importância mais expressiva, o mesmo acontecendo com a estimativa de consumo das famílias. Essa nova estrutura da economia traz implicações sobre as inter-relações das variáveis macroeconômicas, em especial sobre a alocação da mão-de-obra. Na atual estrutura, a geração de novos postos de trabalho depende fundamentalmente do setor de serviços, que se mostrou muito mais produtivo (relação valor adicionado por trabalhador) e dinâmico com a nova série. As principais mudanças relativas à participação dos setores no valor adicionado da economia podem ser observadas no gráfico abaixo, para o ano de 2004. Houve aumento da participação dos serviços em detrimento dos setores industrial e agropecuário. Essa nova estrutura mostra que o setor de serviços passou a ter participação de 63% no valor adicionado (10 p.p. acima da estimativa na série anterior), sendo seu comportamento, portanto, decisivo para o desempenho da economia nos próximos anos. Gráfico 1 Participação dos setores no PIB – 2004 (%) Série anterior: referência 1990 Nova série: referência 2000 7% 10% 30% 53% 37% 63% Agropecuária Indústria Serviços Fonte: IBGE Esse texto faz parte da série Focus – BC, que consiste de relatórios de conteúdo informativo, destinados ao público em geral, contendo informações e análises sobre vários aspectos da economia brasileira. Não restringe as ações de política monetária e cambial do Banco Central do Brasil. Questões e comentários para [email protected]. Focus BC Focus-BC O setor de serviços não apenas é o maior da economia, mas inclui também atividades que são geralmente intensivas no fator trabalho. Dessa forma, o comportamento futuro do nível de emprego agregado dependerá em boa medida da capacidade do setor de serviços demandar mão-de-obra suficiente para absorver o contingente de pessoas que procuram o mercado de trabalho. Ainda com base nos dados das contas nacionais, o setor de serviços e a atividade de comércio, entre 1997 e 2004, registraram crescimento da ocupação em ritmo superior ao setor industrial em todos os anos, com exceção de 20041. No caso do crescimento do valor adicionado, o setor industrial superou o crescimento dos serviços em quatro oportunidades (1997, 2000, 2003 e 2004). Observa-se que o setor de serviços e o comércio foram capazes de gerar novos postos de trabalho em todos os anos, ao contrário da indústria, que registrou dois anos de queda na ocupação. Gráfico 2 Crescimento da Ocupação (%) 8 7,6 6,6 7 5,7 6 5,2 4,1 4 3,4 2,3 3,8 3,6 3,1 2,9 2,7 2,5 2 0,9 1 4,7 4,6 5 3 6,1 1,5 1,0 1,1 1,8 0,1 0 -1 -0,6 -1,2 -2 1997 1998 1999 Serviços 2000 2001 Indústria 2002 2003 2004 Comércio Fonte: SCN/IBGE Assim, o setor de serviços e o comércio têm conseguido gerar postos de trabalho mesmo em cenário de expansão moderada do setor industrial, o que evidencia certa autonomia na dinâmica desses segmentos e menor volatilidade no mercado de trabalho. No período analisado, os dois segmentos responderam por 76% dos postos de trabalhos gerados; a indústria, por 17%; e a agropecuária, por 7%. 1 Para a análise do mercado de trabalho, considerou-se o setor de serviços excluindo a atividade de comércio, que tem dinâmica própria no nível de ocupação. 2 Focus BC Focus-BC Os dados conjunturais sobre o mercado de trabalho confirmam a capacidade dos setores de serviços e comércio gerarem postos de trabalho mesmo com ritmo comedido da atividade industrial. As informações da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), do IBGE, e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as duas principais fontes de dados conjunturais sobre a situação do emprego na economia brasileira, são exemplos da atual dinâmica do mercado de trabalho. Os dados consolidados na PME permitem inferir que a geração de novas ocupações nas seis regiões metropolitanas abrangidas pela pesquisa (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) ocorre, atualmente, em ritmo maior nas atividades ligadas ao setor de serviços. A geração de empregos na categoria “serviços prestados à empresa, aluguéis, atividades imobiliárias e intermediação financeira” mostrou crescimento de 32%, entre 2002 e 2007 (até maio), enquanto “serviços domésticos” cresceu 23,3%; “educação, saúde e serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social”, 10,6%; e “outros serviços”, 16%. No mesmo período, a “indústria extrativa e de transformação e produção e distribuição de eletricidade, gás e água” cresceu 11,5%, patamar abaixo do crescimento médio geral, de 14,7%. A construção civil, também ligada ao setor industrial, cresceu 9%. Gráfico 3 Crescimento da Ocupação em 12 meses (%) 5,5 4,5 3,5 2,5 1,5 0,5 fev mai ago nov 04 04 04 04 fev mai ago nov 05 05 05 05 Serviços Indústria fev mai ago nov 06 06 06 06 fev mai 07 07 Comércio Fonte: IBGE 3 Focus BC Focus-BC Em resumo, a análise dos dados da PME mostra que a geração de emprego foi mais intensa no setor de serviços com crescimento superior ao do emprego no setor industrial em todo o período da pesquisa (2002 a 2007)2. Observa-se relativa correlação entre o crescimento da ocupação na indústria e nos serviços, o que difere dos dados mais abrangentes das contas nacionais, onde há maior independência no dinamismo da geração de empregos nesses dois setores. O comércio apresenta comportamento mais diferenciado e registra tendência de aceleração no volume de empregos gerados no período mais recente. Segundo os dados do Caged, que abrangem todo o país, mas consideram apenas o emprego formal, a evolução do emprego na indústria de transformação mostra dinamismo favorável. Desde 2003, apenas em 2006 foi registrado crescimento desse setor abaixo da média da economia, quando o emprego no setor industrial cresceu 3,4%, comparativamente a 4,9% para o total. No comércio, observa-se melhor desempenho no mesmo período, com crescimento acima de 5% em todos os anos, alcançando 7,4% em 2005. Para os serviços, o crescimento do emprego fica abaixo do da indústria de 2003 a 2005, mas, em 2006, prossegue o ritmo de crescimento mesmo com o menor dinamismo do emprego industrial, o que evidencia que o atual crescimento do emprego total tem ocorrido sem que a indústria contribua de forma decisiva para esse desempenho. Gráfico 4 Crescimento do Emprego (%) 8 6,5 6,3 7 5,5 6 5 4 3 7,4 5,6 5,8 6,0 5,3 5,9 4,8 4,7 4,1 3,4 2,9 3,0 2 1 0 2003 2004 Serviços Fonte: SCN/IBGE 2005 Indústria 2006 2007* Comércio *Até maio/2007 2 Serviços inclui as seguintes atividades: serviços prestados à empresa, aluguéis, atividades imobiliárias e intermediação financeira; educação, saúde e serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social; serviços domésticos; e outros serviços (alojamento, transporte, limpeza urbana e serviços pessoais). Indústria inclui: indústria extrativa e de transformação e produção e distribuição de eletricidade, gás e água; e construção civil. 4 Focus BC Focus-BC Confrontando os dados do Caged com os da PME, observa-se discrepância entre os desempenhos das atividades na geração de novos postos de trabalho. De 2003 a 2006, a indústria mostra desempenho robusto segundo o Caged e mais modesto pelos dados da PME. Por outro lado, o setor de serviços é significativamente mais dinâmico na criação de emprego no caso da PME, em comparação com os dados do Caged. Essa aparente discrepância pode ser explicada, parcialmente, pela abrangência geográfica das duas informações. A PME, que abrange apenas as seis principais regiões metropolitanas do País, tem no setor de serviços a atividade mais dinâmica, enquanto o comércio e a indústria têm se dirigido para o interior do país. Gráfico 5 Criação de novos empregos em 2006 - Caged (%) 6 regiões metropolitanas do IBGE 10% Demais localidades 10% 12% 32% 28% 25% 53% 30% Transformação Comércio Serviços Outros Fonte: MTE Esse movimento é observado nos dados do Caged quando se compara a geração de emprego formal nas seis regiões metropolitanas abrangidas pela PME e nas demais localidades. Para 2006, o setor de serviços foi responsável por 53% do total de empregos gerados nas seis regiões metropolitanas, enquanto a indústria de transformação respondeu por 12%. No caso das demais localidades, esses percentuais são de 32% e 28%, respectivamente. Assim, fica evidente o maior dinamismo do setor de serviços nas regiões metropolitanas, que também tendem a concentrar a provisão de certos serviços públicos, em relação às atividades de comércio e indústria. Essas atividades registram expansão mais significativa fora das regiões metropolitanas, impulsionadas pelo deslocamento da atividade fabril para o interior e dos ganhos de renda da população nessas localidades. Além disso, 5 Focus BC Focus-BC há que se considerar que o emprego informal, com maior presença no setor terciário, é captado apenas pela PME. Assim, o maior dinamismo relativo do emprego industrial na pesquisa do Caged pode refletir também o maior grau de formalização neste setor. 6